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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Wendel Peixoto dos Santos AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO REÚSO DE ÁGUAS CINZAS EM EDIFICAÇÕES DOMICILIARES Monografia apresentada como parte dos requisitos necessários a obtenção do título de Engenheiro Civil, do curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana. Orientadora: Selma Cristina Silva Feira de Santana 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Wendel Peixoto dos Santos

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO REÚSO DE ÁGUAS CINZAS EM EDIFICAÇÕES DOMICILIARES

Monografia apresentada como parte dos requisitos

necessários a obtenção do título de Engenheiro

Civil, do curso de Graduação em Engenharia Civil

da Universidade Estadual de Feira de Santana.

Orientadora: Selma Cristina Silva

Feira de Santana 2008

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“Há uma ligação em tudo.

O que ocorre com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a trama da vida, ele é apenas um de seus fios.

Tudo que fizer ao tecido fará a si mesmo”.

Cacique Seattle, numa carta de 1854.

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Aos meus pais, Laura e Feliciano,

Aos meus irmãos, Wellington e William,

A minha noiva Márcia,

Aos meus avós, Isabel;

Manoel e Dina (em memória).

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AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO REÚSO DE ÁGUAS CINZAS EM EDIFICAÇÕES DOMICILIARES

RESUMO

Empreendimentos imobiliários em nível mundial vêm experimentando mudanças

tecnológicas a fim de se enquadrar aos padrões de sustentabilidade ambiental. Aliado a

isso, a escassez de água nos grandes centros urbanos, onde a crescente demanda tende a

superar a oferta já é motivo de alerta. Uma alternativa para economia desse insumo é o seu

reúso planejado. O objetivo deste trabalho é mostrar os aspectos técnicos e econômicos

associados ao reúso urbano de água cinza (não potável) para descarga em vasos sanitários,

com vistas à redução do consumo em edificações. Verificou-se, com base na literatura, que

para a implantação de um sistema de reúso das águas cinzas é necessário além de um

sistema duplo de distribuição de água, também um tratamento adequado. As análises

químicas, físicas e biológicas demonstram que estas águas apesar de serem menos

contaminados que as águas negras necessitam de tratamento para serem reutilizadas com

segurança. Nos exemplos citados o tratamento é feito “in loco” com a implantação de

Estações de Tratamento de Águas Cinzas com reduzida demanda operacional e de

manutenção. O custo médio mensal com a implantação do sistema de reúso num hotel foi

de R$ 4.419,20 aportando uma economia média mensal de R$ 834,41 ou 16% em relação

ao sistema convencional. A economia de água gerada com o reúso implantado nas

edificações é significativa podendo superar os 30%. Devem ser incentivadas medidas

imediatas tais como aprovação de projetos com rede dupla de distribuição, medição

individualizada e tratamento pelos órgãos competentes com vistas ao reúso.

Palavras-chaves: reúso de água, água cinza, fontes alternativas.

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EVALUATION THE VIABILITY ECONOMIC OF THE REUSE OF GRAY WATERS IN THE BUILDINGS RESIDENTIAL

ABSTRACT

Real estate enterprises in world level are trying technological changes in order to

frame to the standardizations of environmental sustainability. Ally to that, the shortage of

water in the great urban centers, where to growing demand it tends to overcome the offer it

is already reason of alert. An alternative for economy of that input is your planned

reutilization. The objective of this work is to show the technical and economical aspects

associated to the urban reuse of gray water (not drinkable) for discharge in toilets, with

views to the reduction of the consumption in constructions. It was verified, with base in the

literature, that is necessary besides a double system of distribution of water for the

implantation of a system of reuse of the gray waters, also an appropriate treatment. The

chemical analyses, physics and biological they demonstrate that these waters in spite of

they be less polluted than the black waters need treatment for they be reused with safety. In

the mentioned examples the treatment is made “in loco" with the implantation of Stations

of Treatment of Gray Waters with reduced operational demand and of maintenance. The

monthly medium cost with the implantation of the reutilization system in a hotel was of R$

4.419,20 contributing a monthly medium economy of R$ 834,41 or 16% in relation to the

conventional system. The economy of water generated with the reutilization implanted in

the constructions it is significant could overcome the 30%. They should be motivated such

immediate measures as approval of projects with double net of distribution, individualized

measurement and treatment for the competent organs with views to the reuse.

Key words: water reuse, gray water, gray water systems.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO MUNDO. .............................................................. 10

FIGURA 2: PERCENTUAL DE ÁGUA CONSUMIDA SEGUNDO SEUS USOS NO MUNDO E NOS

CONTINENTES. ...................................................................................................................... 12

FIGURA 3: CONSUMO DE ÁGUA POR TIPO DE ALIMENTO........................................................ 13

FIGURA 4: DIFERENÇAS ENTRE ÁGUAS NEGRAS E ÁGUAS CINZAS. ........................................ 25

FIGURA 5: OPÇÕES PARA REÚSO DE ÁGUAS CINZAS. ............................................................. 26

FIGURA 6: ESQUEMA DE REÚSO DE ÁGUA EM UMA RESIDÊNCIA. (WENZEL, 2003)................ 27

FIGURA 7: ASPECTO DA ÁGUA POTÁVEL VERSUS ÁGUA CINZA TRATADA............................... 34

FIGURA 9: IDENTIFICAÇÃO DA ÁGUA DE REÚSO UTILIZADA NAS DESCARGAS SANITÁRIOS DE

UM HOTEL............................................................................................................................. 37

FIGURA 10: FACHADA DO ED. RESIDENCIAL ROYAL BLUE................................................... 38

FIGURA 11: FLUXOGRAMA DO SISTEMA DE TRATAMENTO DO EDIFÍCIO ROYAL BLUE. ........ 39

FIGURA 12: TANQUES DA ETAC - EDIFÍCIO ROYAL BLUE. .................................................. 40

FIGURA 13: ASPECTO DA ÁGUA EM CADA FASE DO TRATAMENTO NA ETAC........................ 40

FIGURA 14: DISTRIBUIÇÃO DO ACRÉSCIMO GERADO PELO SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS

CINZAS.................................................................................................................................. 42

FIGURA 15: COMPARAÇÃO DO CUSTO FINAL COM E SEM O SISTEMA DE REÚSO. .................... 42

FIGURA 16: TEMPO DE RETORNO PARA A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE REÚSO SEM

INFLUÊNCIA DO BDI. ............................................................................................................ 43

FIGURA 17: TEMPO DE RETORNO PARA A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE REÚSO COM BDI. . 44

FIGURA 18: HOTEL COMFORT SUÍTES MACAÉ...................................................................... 46

FIGURA 19: FLUXOGRAMA DA ETAC DO HOTEL COMFORT SUÍTES MACAÉ. ....................... 47

FIGURA 20: CAIXA REGULADORA DE VAZÃO (GONÇALVES, 2005). ..................................... 48

FIGURA 21: CONSUMO MENSAL DE ÁGUA - COMFORT SUÍTES MACAÉ/RJ. ........................... 50

FIGURA 22: AMORTIZAÇÃO DO CUSTO DE INVESTIMENTO. .................................................. 50

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. ÍNDICES DE ATENDIMENTO DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO POR REGIÕES....... 15

TABELA 2. NORMAS INTERNACIONAIS PARA REÚSO DE ÁGUAS EM DESCARGA SANITÁRIA.... 29

TABELA 3. ECONOMIA GERADA PELO SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS CINZAS........................ 45

TABELA 4. OPÇÃO 1 - SEM SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS CINZAS. ................................... 49

TABELA 5. OPÇÃO 2 - COM SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS CINZAS. .................................. 49

TABELA 6. CUSTO MÉDIO MENSAL COM O SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUAS CINZAS................ 51

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. PAÍSES COM MAIOR VOLUME DE ÁGUA PER CAPITA DO MUNDO........................... 11

QUADRO 2. RANKING DA QUALIDADE DE ÁGUA NO MUNDO. ................................................ 12

QUADRO 3. NECESSIDADE DE ÁGUA PARA ALGUMAS INDÚSTRIAS NO MUNDO...................... 14

QUADRO 4. TIPOS DE REÚSO. ................................................................................................ 20

QUADRO 5 NÍVEIS DE QUALIDADE VERSUS TIPOS DE USO. ..................................................... 23

QUADRO 6. LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS QUE REGULAMENTAM A UTILIZAÇÃO DE FONTES

ALTERNATIVAS DE ÁGUA. ..................................................................................................... 30

QUADRO 7: VANTAGENS E DESVANTAGENS DO REÚSO DAS ÁGUAS CINZAS. ......................... 31

QUADRO 8. PARAMETRIZAÇÃO DO CONSUMO DE ÁGUA NAS EDIFICAÇÕES DOMICILIARES.... 32

QUADRO 9. SIMULAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE CONSUMO DE UMA FAMÍLIA BRASILEIRA DE

QUATRO PESSOAS.................................................................................................................. 33

QUADRO 10: ACRÉSCIMO NO CUSTO COM A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE REÚSO.............. 41

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................ IV

ABSTRACT .........................................................................................................................V

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................................... VI LISTA DE TABELAS......................................................................................................................... VII LISTA DE QUADROS........................................................................................................................ VII

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1

1.1. JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................... 4 1.2. OBJETIVOS.............................................................................................................................. 6 1.2.1. OBJETIVO GERAL.................................................................................................................. 6 1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................................... 6 1.3. METODOLOGIA...................................................................................................................... 7

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .....................................................................................8

2.1. O PROBLEMA DA ESCASSEZ............................................................................................... 8 2.1.1. DISPONIBILIDADE E CONSUMO DE ÁGUA NO MUNDO .................................................................. 9 2.1.2. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO BRASIL.................................................................................... 14 2.1.3. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL.............................................................................................. 15 2.1.4. COMBATE AO DESPERDÍCIO DE ÁGUA NAS EDIFICAÇÕES........................................................... 17 2.2. REÚSO DE ÁGUA.................................................................................................................. 18 2.2.1. HISTÓRICO ............................................................................................................................... 19 2.2.2. TIPOS DE REÚSO ....................................................................................................................... 20 2.2.3. NÍVEIS DE QUALIDADE DO EFLUENTE A SER REUTILIZADO........................................................ 22 2.2.4. PROGRAMAS DE CONSERVAÇÃO DE ÁGUA NO BRASIL COM VISTAS AO REÚSO DE ÁGUA........... 23 2.2.5. O REÚSO DE ÁGUAS CINZAS...................................................................................................... 25 2.2.5.1. POSSIBILIDADES PARA USO DAS ÁGUAS CINZAS................................................................ 26 2.2.5.2. LEGISLAÇÃO SOBRE REÚSO DE ÁGUAS SERVIDAS ............................................................. 28 2.2.5.3. ASPECTOS QUANTITATIVOS .............................................................................................. 32 2.2.5.4. ASPECTOS QUALITATIVOS ................................................................................................ 33 2.2.5.5. MODIFICAÇÕES NECESSÁRIAS NAS EDIFICAÇÕES PARA O REÚSO ...................................... 35

3. RESULTADOS E AVALIAÇÃO FINANCEIRA ....................................................38

3.1. 1º CASO - EDIFÍCIO RESIDENCIAL ROYAL BLUE ....................................................................... 38 3.1.1. SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUA DO EDIFÍCIO. ............................................................................... 39 3.1.2. ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA ..................................................................................... 41

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3.2. 2º CASO - HOTEL COMFORT SUÍTES MACAÉ............................................................................. 45 3.2.1. DESCRIÇÃO DA EDIFICAÇÃO ..................................................................................................... 45 3.2.2. SISTEMA DE REÚSO DE ÁGUA DO HOTEL................................................................................... 46 3.2.3. ESTUDO DE VIABILIDADE FINANCEIRA ..................................................................................... 49 3.3. VANTAGENS E DESVANTAGENS REÚSO DAS ÁGUAS CINZAS EM EDIFICAÇÕES........................... 31

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO........................................................52

5. REFERÊNCIAS...........................................................................................................55

ANEXO I - Planta de localização do HOTEL COMFORT SUÍTES MACAÉ ............59

ANEXO II – Layout da ETAC do HOTEL COMFORT SUÍTES MACAÉ ................60

ANEXO III – Lei Municipal N° 10.785/03.que criou o PURAE ....................................61

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1. INTRODUÇÃO

Esse trabalho enfoca o gerenciamento de águas cinzas nas edificações, com ênfase

no reúso. Os principais aspectos abordados são: tipos, características qualitativas e

quantitativas de sua geração, formas de tratamento e potencial de reúso de água cinza em

edificações domiciliares.

A intenção inicial desta pesquisa era fazer um estudo de caso sobre um edifício

residencial na região de Feira de Santana que apresentasse um sistema de reúso de águas

cinzas implantado ou em implantação. Infelizmente não foi possível, por se tratar de uma

prática incipiente no Brasil, onde ainda não existe experiência consistente e passível de ser

universalizada sobre o gerenciamento destas águas nas edificações, incluindo-se aí o

licenciamento, a operação e a manutenção do sistema (GONÇALVES et al, 2006).

Todavia os estudos já realizados revelam que o reúso de águas cinzas pode resultar

em economia de água potável, economia de energia elétrica e menor produção de esgoto

sanitário na escala das edificações. Em uma escala maior, resulta em preservação dos

mananciais de água, por diminuir a quantidade de água captada e por reduzir o lançamento

de esgoto sanitário pelas áreas urbanas, além de reduzir o consumo de energia elétrica nas

estações de tratamento.

Por esta razão, houve persistência em continuar com o tema e modificar a

metodologia de trabalho, partindo em busca de possíveis dados levantados por outros

pesquisadores que pudessem comprovar ou não as hipóteses levantadas.

Durante a pesquisa então foi encontrado o trabalho do PROSAB (Programa de

Pesquisas em Saneamento Básico), do pesquisador Prof. Dr. Ricardo Franci Gonçalves da

Universidade Federal do Espírito Santo sobre uso racional de água, com um capítulo

enfocando o gerenciamento de águas cinzas. Havia destaque também para sistemas de

reúso de águas cinzas em descarga sanitárias, a partir do tratamento feito “in loco” com a

implantação de Estações de Tratamento de Águas cinzas (ETAC) nas edificações.

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O tratamento das águas cinzas e o seu reúso exigem cuidados especiais, devido não

só a questões técnicas, mas também humanas. O risco associado ao reúso de água tem

ditado o padrão para o reúso e as possíveis tecnologias a serem aplicadas.

Em função de suas características físico-químicas e biológicas, as águas cinzas

podem ser tratadas por processos de tratamento semelhantes aos utilizados em estações de

tratamento de esgoto sanitário. Entretanto, deve se atentar para o fato de que as exigências

quanto à qualidade do efluente tratado são muito superiores no caso de reúso de águas

cinzas, sobretudo quando se trata de reúso em edificações (RAPOPORT, 2004).

A água, que nos primórdios da civilização era utilizada apenas para a manutenção

da vida humana, foi conquistando lugares cada vez mais importantes, sendo utilizada hoje

no desenvolvimento de diversas atividades econômicas. Ela é parte essencial no processo

de produção industrial e de alimentos, nas atividades de agricultura e de pecuária, geração

de energia elétrica e no lazer, entre outras, trazendo conseqüências inerentes ao seu uso,

cuja disposição final pode causar poluição, geração de resíduos, desperdício e escassez.

Até pouco tempo atrás a água era um exemplo de "bem não econômico", ou seja,

aquele que é tão abundante e inesgotável que não tem, portanto, valor econômico. Porém,

nos últimos anos este quadro vem mudando. A escassez de água nos grandes centros

urbanos é iminente devido ao crescimento acelerado das populações, ao lançamento de

efluentes sem tratamento que poluem os corpos d’água e a necessidade cada vez maior de

uso deste insumo nas indústrias e na agricultura, impulsionada pelo crescimento

econômico do país.

Diante deste quadro, onde a demanda cada vez maior tende a suplantar a oferta, a

água já não pode mais ser considerada como um bem tão abundante e inesgotável. Aliado a

isso, tarifas baixas ou mesmo pífias impedem as companhias de abastecimento de se

capitalizarem, para expandir a rede de abastecimento, realizar manutenção preventiva e

corretiva nas redes hidráulicas existentes e estimular as pessoas a combater o desperdício.

A falta de manutenção efetiva, as redes com tubulações antigas e o baixo preço da

água geram vazamentos e incentivam o desperdício que permanece quase sempre

generalizado nos lares, nas indústrias e na agricultura (NOGUEIRA, 2007).

Ainda segundo esse autor, a quantidade de água doce no mundo estocada em rios e

lagos, pronta para o consumo, é suficiente para atender de 6 a 7 vezes o consumo mínimo

anual que cada habitante do planeta precisa. Mas, apesar de parecer abundante, esse

recurso é escasso: pois, apenas 0,5% da água do mundo está disponível nos corpos d'água

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superficiais que é facilmente poluída. Enquanto que a maior parte, ou seja, 95% se

encontram no subsolo, o que dificulta significativamente o acesso.

A escolha de fontes alternativas de abastecimento de água e o seu reúso é um

caminho viável para combater a escassez do produto. A reutilização ou reúso da água, ou

uso de águas residuárias, não é um conceito novo e tem sido praticado de variadas formas

há muitos anos. Há, por exemplo, relatos de sua prática na Grécia Antiga, China, e

América Andina. A demanda crescente atualmente por água e a escassez de recursos

hídricos têm feito do reúso planejado da água um tema atual e de suma importância.

Neste sentido, deve-se considerar a reutilização da água como parte de uma

atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende

também o controle de perdas e desperdícios, a minimização da produção de efluentes e do

consumo deste bem esgotável.

A possibilidade de substituição do uso de parte da água potável em uma edificação,

por uma água não potável, reduz a demanda sobre os sistemas de abastecimento de água.

Sendo assim, essa monografia visa verificar se há viabilidade econômica no reúso de águas

servidas de edifícios domiciliares para fins não nobres, visando à economia da água

potável e a sustentabilidade dos recursos hídricos.

Procurando contribuir para a redução das perdas e reduzir o consumo de água

potável para usos que não requerem água com níveis de qualidade elevada, buscou-se neste

trabalho avaliar a viabilidade econômica do reúso de águas cinzas em edificações

domiciliares.

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1.1. JUSTIFICATIVA

A água, quando passa pelo processo de depuração natural, é um recurso limpo e

seguro. Contudo, as atividades antrópicas contribuem para deterioração de sua qualidade.

A água que recebemos em nossas casas, proveniente da rede de abastecimento público é

tratada e apresenta grau de potabilidade exigido pela Portaria 518/05 do Ministério da

Saúde.

Contudo, quando utilizada a água perde a sua potabilidade, passando a ser chamada

de água residuária pelo grau de impureza que apresenta, havendo a necessidade de

tratamento e reutilização a fim de minimizar a escassez, que muitas regiões do mundo já

vêem enfrentando.

As águas residuárias tratadas podem ser usadas para diversos fins, tais como: rega

de jardins, lavagem de veículos e ruas, nos vasos sanitários e em atividades da agricultura e

indústrias.

O aumento no volume de esgotos adequadamente tratado e a redução do

lançamento nos corpos hídricos têm um papel fundamental no planejamento e na gestão

dos recursos hídricos. O reúso planejado como substituto ao uso de águas destinadas a

agricultura, de irrigação e produção industrial, entre outros, libera as fontes de água de boa

qualidade para o abastecimento público e outros usos prioritários, além de contribuir para a

conservação dos recursos, acrescentando uma dimensão econômica ao planejamento dos

recursos hídricos.

O crescimento acelerado das populações e das atividades econômicas aumenta a

demanda pelos recursos hídricos. Isso tem contribuído para o aumento da escassez no

abastecimento mundial. Muitos países têm adotado a escolha de fontes alternativas de

abastecimento e o reúso de águas servidas como um meio de reduzir esta demanda.

Atualmente, que os temas como: mudanças climáticas, aquecimento global e falta

d’água tomaram as manchetes do mundo inteiro, sustentabilidade dos recursos hídricos

torna-se peça-chave, despertando o interesse de todos os setores de produção. Isto porque

os recursos naturais, essenciais à sobrevivência da vida na Terra, não estão sendo

suficientes para atender a demanda crescente.

Atender as demandas do presente sem comprometer as possibilidades das futuras

gerações atenderem às suas próprias necessidades é uma das definições mais abrangentes

conceito de sustentabilidade. Para ser sustentável, portanto, qualquer empreendimento

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humano deve ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e

culturalmente aceito.

Na busca cada vez mais necessária pela sustentabilidade na aplicação dos recursos

naturais, surgiu o conceito dos “Edifícios verdes” ou “Green building”. Estas edificações

são responsáveis pela redução do consumo de recursos naturais, o que diminui a pressão

sobre a infra-estrutura local, reduz os gastos operacionais e melhoram a qualidade de vida,

além de valorizar o imóvel com vantagens publicitárias.

No Brasil, a prática do reúso de águas servidas é aplicada, normalmente, naqueles

locais em que já se encontram em situação de escassez de água. Por enquanto esta prática é

mais aplicada na agricultura e nas indústrias.

As industriais, devido a grande demanda e ao aumento no preço da água, têm

adotado providencias no sentido da substituição das águas brutas por águas de reuso para

suprir suas necessidades, impulsionadas principalmente pela necessidade de desonerar os

produtos finais e atender as exigências da legislação ambiental (Resolução CONAMA

n.357/05).

O reúso planejado de águas servidas, em especial o de águas cinzas, é um tema

recente que começa a ser aplicado também nas edificações. Reutilizar as águas cinzas

resulta em economia de água potável, economia de energia elétrica e menor produção de

esgoto sanitário nas edificações. Em uma visão macro, resulta em preservação dos

mananciais, por diminuir a quantidade de água capitada e por reduzir o lançamento de

esgoto pelas áreas urbanas, além de reduzir o consumo de energia elétrica no tratamento da

água e do esgoto (GONÇALVES et al, 2006).

Portanto, justifica-se este estudo que visa propó-lo como uma alternativa viável de

substituição das águas potáveis por águas cinzas (não potável) para aplicação em fins não

nobres nas edificações domiciliares.

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1.2. OBJETIVOS

1.2.1. OBJETIVO GERAL

Analisar os aspectos técnicos e financeiros associados ao reúso urbano de água

cinza (não potável) para uso em aparelhos de descargas sanitárias, enfatizando o uso

racional de água e a redução do consumo em edificações domiciliares.

1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar os principais condicionantes, benefícios e limitações sobre reúso

de água.

Mostrar projetos que priorizem a conservação e uso racional de água em

edificações através do reúso.

Avaliar a viabilidade do reúso planejado da água cinza para uso em

descargas sanitárias em novas edificações.

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1.3. METODOLOGIA

A primeira parte da pesquisa traz uma revisão bibliográfica com informações sobre

os cenários da escassez de água no mundo e no Brasil, os riscos à saúde humana e ao meio

ambiente oferecidos pela prática do reúso de águas cinzas, as possibilidades de reúso de

água em edificações residenciais e por fim alguns exemplos de programas de conservação

e uso racional de água no Brasil. A pesquisa foi realizada por meio de bibliografia,

matérias e sítios da internet relacionados com o tema, na busca de informações atualizadas.

Na segunda etapa são apresentados dados de estudos de caso sobre o reúso de águas

cinzas em descarga para vasos sanitários a partir do tratamento feito “in loco” com a

implantação de Estações de Tratamento de Águas cinzas - ETAC (GONÇALVES et al,

2006).

Os estudos foram desenvolvidos em duas edificações residenciais. O Edifício Royal

Blue da Construtora Lorenge, construído na cidade de Vitória do Espírito Santo. O edifício

possui dois apartamentos por andar, cada um com quatro quartos, sendo duas suítes, três

garagens, além de contar com área de lazer completa (CONSTRUTORA LORENGE,

2008).

A segunda edificação foi o Hotel Comfort Suítes Macaé, situado na Avenida

Atlântica, 3036 em Macaé no Rio de Janeiro. O edifício de cinco pavimentos é composto

de 126 apartamentos com 28m² de área privativa, 2 salas de convenções com 80m² cada,

dois restaurantes, fitness center, sala de descanso e sala de reuniões, além de uma piscina

na cobertura.

Em seguida, os dados obtidos foram analisados e discutidos e por fim foram feitas

considerações finais sobre os resultados e as conclusões.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. O PROBLEMA DA ESCASSEZ

Em termos globais, a distribuição da água doce é irregular no território. Os fluxos

estão concentrados nas regiões intertropicais que possuem 50% do escoamento das águas.

Nas zonas temperadas estão 48% e nas zonas áridas e semi-áridas apenas 2%. Além disso,

as demandas de uso também são diferentes, sendo maiores nos países desenvolvidos

(CLARKE, 2005).

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), são necessários

aproximadamente 2 litros por pessoa por dia de água potável para garantir a sobrevivência

humana. O acesso à água torna-se cada vez mais difícil, especialmente pelo fato de o

homem contaminar, de diversas formas, essa pequena quantidade de água que se tem

disponível. O consumo varia de local para local, um beduíno no deserto sobrevive com 3

litros por dia, ao passo que, para um habitante de Nova York há necessidade de 1000 litros

por dia (considerando todos os usos e atividades). Nas capitais brasileiras, o consumo

médio é da ordem de 300 a 450 litros por dia, usando-se a água para todos os serviços, e

essa a demanda aumenta ano a ano (ROCHA, 2001).

O cenário de escassez de água se deve não apenas à irregularidade na distribuição

da água, mas também a poluição e ao aumento das demandas. Outro foco de dificuldades é

a distância entre as fontes e os centros consumidores. É o caso da Califórnia (EUA), que

depende para seu abastecimento até de neve derretida no distante Colorado. Outro exemplo

é cidade de São Paulo, que, embora nascida na confluência de vários rios, viu a poluição

torná-los inaceitáveis para consumo humano, e tem que captar água de bacias distantes,

alterando cursos de rios e a distribuição natural da água na região. Na última década, a

quantidade de água distribuída aos brasileiros cresceu 30%, e quase dobrou a proporção de

água sem tratamento (de 3,9% para 7,2%) e o desperdício ainda assusta: 45% de toda a

água ofertada pelos sistemas públicos (BRANCO, 2003).

A preocupação com o meio ambiente tem aumentado mais e mais a cada dia. Na era

da globalização e dos avanços tecnológicos tornou-se mais evidente o que muitos já

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sabiam: as questões ambientais têm dimensão mundial. Problemas como o aquecimento

global, a desertificação, a emissão de poluentes no solo, no ar e na águas atingem, ainda

que de forma diferenciada, países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Devido à grande concentração urbana resultante do desenvolvimento brasileiro,

vários conflitos têm sido gerados nas cidades do País e geralmente, a causa principal

desses problemas se encontra nos aspectos institucionais relacionados com o

gerenciamento dos recursos hídricos e do meio ambiente urbano. De acordo com Tucci et

al (2003), os maiores causadores desses conflitos são:

(a) degradação ambiental dos mananciais;

(b) aumento do risco das áreas de abastecimento com a poluição orgânica e química

(c) contaminação dos rios pelos esgotos domésticos, industriais e pluviais;

(d) enchentes urbanas geradas pela inadequada ocupação do espaço e pelo

gerenciamento inadequado da drenagem urbana;

(e) falta de coleta e de disposição do lixo urbano.

Nos últimos 50 anos, a degradação da qualidade da água aumentou em níveis

alarmantes. Há uma crescente contaminação das águas superficiais e subterrâneas por

causa da deficiente infra-estrutura do sistema de esgotamento sanitário, ausência de

sistemas de tratamento de esgotos domésticos e industriais, e inadequado tratamento dos

resíduos sólidos. Atualmente, grandes centros urbanos, com áreas industriais e áreas de

desenvolvimento agrícola com uso indiscriminado de adubos químicos e agrotóxicos já

enfrentam a falta de qualidade da água, o que pode gerar graves problemas de saúde

pública e ambiental.

2.1.1. Disponibilidade e consumo de água no mundo

De acordo com projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2025

teremos dois terços da população mundial (5,5 bilhões de pessoas) vivendo em locais que

sofrem com algum tipo problema relacionado à água. Os riscos a saúde são grandes, já que

muitas doenças que levam a morte, como cólera e leptospirose, são de veiculação hídrica.

Até 2050 o saldo deficitário de recursos hídricos será grave em mais de 60 paises.

Pelo menos três bilhões de pessoas têm de se servir de águas contaminadas, principalmente

nos paises em desenvolvimento, onde cerca de 90% do esgoto é jogado “in natura" nos

cursos d’água. Ainda, em países em desenvolvimento, 50% da água potável é desperdiçada

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por causa de vazamentos e sistemas ilegais. Além disso, cerca de 90% do esgoto e 70% do

lixo industrial são jogados nas águas sem tratamento adequado (BIO, 2001).

Na atualidade, a metade dos seis bilhões de habitantes do mundo carece de água

com tratamento adequado, e mais de um bilhão de pessoas não tem acesso à água potável

(BIO, 2001). A Figura 1 mostra a disponibilidade de água no mundo, e a diminuição na

quantidade de água, em mil metros cúbicos por habitante, em cada continente nos anos de

1950 e 2000.

Figura 1: Disponibilidade de água no mundo (Fiori, 2005).

Observamos que ao longo destes anos a população mundial tem crescido a passos

largos, enquanto que a disponibilidade de água doce no planeta só tem diminuído.

Entretanto alguns paises são privilegiados quanto à disponibilidade de água, ao passo que

outros vivem em situação crítica, a exemplo da Índia.

O Quadro 1, a seguir, mostra os países com maior volume de água per capita no

mundo. O Brasil é o 23º país com 48.314m³ de água disponível por pessoa, de acordo com

um ranking divulgado no primeiro "Relatório sobre o Desenvolvimento da Água no

Mundo" da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura -

UNESCO. O ranking classifica 180 países e territórios de acordo com a quantidade de

fontes renováveis disponíveis anualmente per capita, ou seja, a quantidade total de água

que circula na superfície, no solo ou no subsolo.

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Quadro 1. Países com maior volume de água per capita do mundo (Adaptado da UNESCO, 2004).

PAISES VOLUME

Guiana Francesa 812.121 m³

Islândia 609.319 m³

Guiana 316.689 m³

Suriname 292.566 m³

Congo 275.679 m³

Papua Nova Guiné 166.563 m³

Gabão 133.333 m³

Ilhas Salomão 100.000 m³

Canadá 94.353 m³

Nova Zelândia 86.554 m³

Já no Oriente Médio a situação é crítica, pois nove entre quatorze paises vivem em

situação de escassez, assim como Índia, Bangladesh, México e Estados Unidos, entre

outros. Os países com maior oferta de água são: a Guiana Francesa, a Islândia e a Guiana.

O cálculo volume per capita levou em conta a sazonalidade e os regionalismos.

O relatório também classifica 122 países de acordo com a qualidade da água, assim

como o seu compromisso na luta contra a poluição. O país que lidera o ranking é a

Finlândia, seguida pelo Canadá. A Bélgica ficou na pior posição, principalmente por causa

da menor quantidade e qualidade das águas subterrâneas em seu território, além das altas

taxas de poluição e dos baixos índices de tratamento.

Os países pobres são os mais afetados. De acordo com o relatório, 50% da população

nas nações em desenvolvimento estão expostas a águas contaminadas e de má qualidade.

Os dez primeiros do ranking podem ser observados no Quadro 2, onde são listados em

ordem decrescente de qualidade da água.

Segundo as Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO,

a maior parte da água utilizada no mundo é destinada à agricultura representando 69% do

total consumido. Os maiores usuários são os países pertencentes aos continentes africano e

asiático, com percentuais, respectivamente, de 90% e 85% do total mundial.

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Quadro 2. Ranking da qualidade de água no mundo (Adaptado da UNESCO, 2004).

Países com maior índice de água de boa qualidade

Países com menor índice de água de boa qualidade

Finlândia Bélgica Canadá Marrocos Nova Zelândia Índia Reino Unido Jordânia Japão Sudão Noruega Níger Rússia Burkina Fasso Coréia do Sul Burundi Suécia República Centro-Africana França Ruanda

O ranking baseia-se em fatores como quantidade e qualidade da água, sistemas existentes de tratamento e questões legais.

O setor industrial também demanda grandes quantidades de água, cerca de 23% do

total de toda água doce consumida. Nota-se segundo os dados da Figura 2 que o consumo

de água para irrigação é menor no continente europeu, onde se localizam países de maior

renda per capita e altamente industrializados. Nesse continente o setor industrial é o maior

consumidor de água.

Figura 2: Percentual de água consumida segundo seus usos no mundo e nos continentes

(Braga, 2006).

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e ág

ua c

onsu

mid

a

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O setor agrícola é o que demanda maior quantidade de água no mundo. Como em

todos os setores, na agricultura irrigada há perdas devidas não só a evapotranspiração, mas

também aos vazamentos no sistema de distribuição e ao desperdício. Estes tipos de perdas

acontecem principalmente em países em desenvolvimentos, que chegam a destinar cerca de

40% de sua água doce para irrigação (CLARKE, 2005).

A Figura 3 mostra a quantidade mínima de água utilizada na produção de um quilo

de alimento, considerando a produção de vários alimentos. A produção de alimentos gera

grandes benefícios financeiros, mas também consome grande quantidade de água. São

necessários mais de 1900 litros de água para cultivar apenas um quilo de arroz, o principal

alimento para grande parte da população mundial. A carne de frango é ainda mais cara,

pelo volume de água empregado para produzir a ração que alimenta os animais, além da

própria água que ingerem e é gasta no processo produtivo e no congelamento (FAO, 2005).

Figura 3: Consumo de água por tipo de alimento (FAO, 2005).

O Quadro 3 apresenta a demanda por água de várias indústrias em diferentes paises

do mundo. As indústrias de celulose (papel) são as maiores consumidoras. Nos processos

industriais, determinadas atividades, requerem grandes volumes de água e a demanda é

sempre crescente.

Litro

s po

r qui

lo

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Quadro 3. Necessidade de água para algumas indústrias no mundo (Adaptado de Sautchuk

et al, 2004).

Indústria (produto) e país Unidade de produção Necessidade de água por

unidade de produção (litros)

Pães e massas — EUA 2.100 a 4.200 Pies e massas — Bélgica 1.100 Pães — Chipre 600 Vegetais enlatados — Bélgica 8.000 a 80.000 Carne embalada — EUA ton. de carne preparada 23.000 Carne embalada— Canadá ton. de carne preparada 8.800 a 34.000 Fábrica de salsicha — Chipre 25.000 Fábrica de salsicha—Finlândia 20.000 a 35.000 Peixe fresco e congelado— Canadá 30.000 a 300.000 Frangos — EUA por ave 25 Perus — EUA

Açúcar — Dinamarca

por ave

ton. de beterrabas

75

4.800 a 15.800

Açúcar—França ton. de beterrabas 10.000 a 20.000 Açúcar — Alemanha ton. de beterrabas 10.400 a 14.000 Açúcar — China ton. de cana-de-açúcar 15.000 Açúcar — EUA ton. de beterrabas 3.200 a 8.300 Cerveja—EUA 1000 litros 15.200 Cerveja—Israel 1000 litros 13.500 Whisky — EUA 1000 litros 2.600 a 76.000 Vinho — França 1000 litros 2.900 Papel para impressão — China 340.000 Papel para impressão — Suécia 500.000 Papel jornal - China 190.000 Papel jornal - Canadá 165.000 a 200.000 Papel fino — Suécia 900.000 a 1.000.000 Gasolina— EUA 1000 litros 7.000 a 10.000 Gasolina - China 1000 litros 8.000 Gasolina sintética — EUA 1000 litros 377.000 Tingimento de tecidos — Bélgica 200.000 Tingimento de tecidos — França 52.000 a 560.000 Indústria automobilística — EUA veículo produzido 38.000 Lavanderias — Chipre ton. de roupas lavadas 45.000 Lavanderias - Suécia ton. de roupas lavadas 30.000 a 50.000

2.1.2. Disponibilidade de água no Brasil

Apesar de estar entre os países mais ricos do mundo em termos de disponibilidade

dos recursos hídricos, o Brasil também enfrenta problemas de escassez, seja pela falta de

água para abastecimento público ou pela disponibilidade de água de má qualidade.

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O abastecimento de água tem evoluído satisfatoriamente no Brasil. Todavia, os

serviços de tratamento e disposição final adequada dos esgotos ainda são pequenos em

relação à distribuição, como é mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Índices de atendimento dos serviços de água e esgoto por regiões (Fiori, 2005).

Segundo a ANA (2006), o Brasil concentra em torno de 12% da água doce do

mundo disponível em rios e abriga o maior rio em extensão e volume do planeta, o

Amazonas. Além disso, mais de 90% do território brasileiro recebe chuvas abundantes

durante o ano e as condições climáticas e geológicas propiciam a formação de uma extensa

e densa rede de rios, com exceção do Semi-Árido, onde os rios são “pobres de água” e

temporários, ou seja, intermitentes.

Essa água, no entanto está distribuída de forma irregular, apesar da abundância em

termos gerais. Na região Norte, a Amazônia, onde estão as mais baixas concentrações

populacionais, possui 78% da água superficial. Enquanto que no Sudeste, onde há a maior

concentração populacional a disponibilidade é de apenas 6% (ANA, 2006).

Todavia, o problema da escassez não se deve à falta d’água doce, mas sim à falta de

preservação dos recursos hídricos e de um instrumento de regulação do desperdício.

Outro ponto importante, é que o Brasil vem apresentando um quadro de

desenvolvimento urbano, industrial e do setor agrícola que certamente vem acompanhado

de um aumento da demanda de água.

2.1.3. Sustentabilidade ambiental

A raiz da maior parte dos problemas do inundo está relacionada com o meio

ambiente. E não somente a questão da preservação das florestas e dos animais, e sim de

recursos essenciais à sobrevivência do homem. Grande parte destas disputas se deve ao

Região Água (%) Esgoto (%) Norte 62,7 4,1 Nordeste 90,9 21,4 Sul 93,4 23,7 Sudeste 91,9 58,0 Centro-Oeste 90,7 45,7

Brasil 90,6 38,5

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fato de que as necessidades do homem são ilimitadas, enquanto os recursos naturais são

limitados.

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser aquele apresentado no

Relatório Bruntland, como: O Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem

às suas próprias necessidades” (Gro Brundtland, presidente da Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento - Relatório Nosso Futuro Comum), e deve ser visto

como uma alternativa ao conceito de crescimento econômico, o qual está associado ao

crescimento material, quantitativo, da economia.

É evidente que a sustentabilidade perfeita não pode ser efetivada, tendo em vista

que os estragos feitos ao meio ambiente, bem como a perda de capital natural, são

consideráveis. Mas o conceito de sustentabilidade pode servir para frear uma destruição

mais acelerada dos recursos naturais.

Segundo o manual “Conservação e economia de água” (FIESP/CIESP, 2004), o

desenvolvimento sustentável apresenta os seguintes benefícios:

BENEFÍCIOS AMBIENTAIS:

• Redução do lançamento de efluentes domésticos e industriais em cursos d’água,

possibilitando melhorar a qualidade das águas interiores das regiões mais urbanizadas e

industrializadas;

• Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma

situação as ecológica mais equilibrada;

• Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como

abastecimento público, hospitalar, etc.

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS:

• Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais estabelecidos,

possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos mercados internacionais.

• Mudanças nos padrões de produção e consumo das indústrias;

• Redução dos custos de produção;

• Aumento da competitividade do setor industrial;

• Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da

cobrança uso da água.

BENEFÍCIOS SOCIAIS:

• Ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de

serviços e equipamentos, e em toda a cadeia produtiva;

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• Ampliação na geração de empregos diretos e indiretos;

• Melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com reconhecimento

de empresas socialmente responsáveis.

O desenvolvimento sustentável é representado pela conciliação entre o

desenvolvimento, a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida, e

deveria ser aplicada no território nacional em sua totalidade, área urbana e rural.

2.1.4. Combate ao desperdício de água nas edificações

O consumo total de água tarifada, independentemente da tipologia de edifício, é

composto por uma parcela efetivamente utilizada e outra desperdiçada. A água utilizada é

aquela necessária para a realização das diferentes atividades, sendo que a desperdiçada

pode ser decorrente do uso excessivo e/ou perdas. Então, dentro de uma edificação, o

consumo de água medido pode ser dividido em duas parcelas: desperdício e uso.

Segundo Oliveira (1999), o desperdício é toda a água que está disponível em um

sistema e que é perdida antes de ser utilizada para uma atividade fim ou quando é utilizada

de forma excessiva para a realização desta. Dessa maneira, o desperdício engloba perda e

uso excessivo.

A perda definida como sendo toda a água que escapa antes de ser utilizada para

uma atividade fim pode ocorrer devido a:

vazamento: fuga de água de um sistema hidráulico, por exemplo, em:

tubulações; tubos e conexões; componentes de utilização; reservatórios; conjunto motor

bomba etc.;

mau desempenho do sistema: por exemplo, um sistema de recirculação de

água quente operando de modo inadequado, ou seja, com longo período de espera, gerando

perda de água antes de ser utilizada pelo usuário; e,

negligência do usuário: por exemplo, torneira deixada aberta ou mal fechada

após o uso por displicência ou porque o usuário não quer trocar a torneira.

uso excessivo, por sua vez, ocorre quando a água é utilizada de modo

inadequado em uma atividade. Constituem-se exemplos de uso excessivo:

procedimentos inadequados: banho prolongado, varredura de passeio

público com mangueira (vassoura hidráulica);

mau desempenho do sistema: onde os pontos de utilização de água sejam

projetados para vazões superiores às necessárias para a realização das atividades que

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envolvam o uso da água como, por exemplo, torneiras com vazões elevadas que geram

desperdício e causam desconforto aos usuários devido aos respingos d’água.

Todos os exemplos citados englobam a problemática do combate ao desperdício de

água nas edificações. Para a redução do desperdício de água nos edifícios, Oliveira (1999),

propõe se implementar três níveis de ações:

ações econômicas: através de incentivos e desincentivos econômicos. Os

incentivos podem ser alcançados através de subsídios para aquisição de sistemas e

componentes economizadores e redução de tarifa, já os desincentivos podem ser

implementados com a elevação das tarifas de água;

ações sociais: através de campanhas educativas e de sensibilização do

usuário, que impliquem em redução de consumo devido à realização de procedimentos

adequados com relação ao uso da água nas atividades e da mudança do comportamento

individual;

ações tecnológicas: através da substituição de sistemas e componentes

convencionais por economizadores de água, da implementação de sistemas de medição

setorizada do consumo de água, da detecção e correção de vazamentos, do

reaproveitamento de água e da reciclagem de água servida.

Ressalta ainda que seja de grande importância à implementação dos três tipos de

ação e a conscientização do usuário para não desperdiçar água, para que se obtenham

resultados desejáveis e a redução de consumo de água seja permanente.

2.2. REÚSO DE ÁGUA

A crescente demanda por água tem feito do reúso planejado de água um tema atual

e de grande importância, principalmente na nova política nacional de recursos hídricos (Lei

n. 9433/97). Isto porque os recursos naturais, essenciais a nossa sobrevivência, não estão

sendo suficientes para atender a demanda crescente (MACHADO, 2004).

A água, mesmo poluída, pode ser recuperada e reutilizada para diversos fins. Para

que a água possa ser reutilizada, ela deve satisfazer os critérios recomendados ou os

padrões legais que tenham sido fixados para o determinado uso e, para isso, é necessário se

conhecer então as características físicas, químicas e biológicas das águas residuárias.

As possibilidades e formas potenciais de reúso também dependem, evidentemente,

além das características, das condições e fatores locais, tais como: decisão política,

esquemas institucionais, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais e culturais.

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Reúso de Água é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais

vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos,

inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou

não planejadas (FILHO, 1987).

Ainda segundo Lavrador Filho (1987), reciclagem de água é o reúso interno da

água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de

disposição para servir como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um

caso particular do reúso direto.

2.2.1. Histórico

Asano e Levine apud Philippi Jr (2003), dividem a história do conhecimento

humano sobre reúso de água em três segmentos de tempo. O primeiro compreendido entre

3000 a.C. e o ano de 1850, refere-se às primeiras notícias que se têm sobre o

reaproveitamento dos esgotos e encerra-se com o famoso Relatório Chadwick que defende

“a chuva para os rios e os esgotos para o solo”. O segundo segmento, que começa com

trabalhos na Inglaterra, encerra-se em 1950 após um fato notável, ocorrido por volta de

1930 na Califórnia, que foi a regulamentação do uso de esgotos na agricultura. Esse

segmento foi denominado por Asano e Levine como o despertar sanitário. A época

seguinte, denominada por esses autores como a “era de recuperação, reciclagem e reúso, é

a que estamos vivendo”.

Para Costa (2004), não há atividade humana que não cause impactos à natureza,

Então o ideal seria investir em recursos e materiais de construção que minimizem esses

efeitos. No projeto de uma casa, por exemplo, a sustentabilidade começa na escolha da

localização do terreno, respeitando a topografia, alterando o mínimo possível no solo,

evitando a retirada da mata nativa do lote, e otimizando o uso da água.

Reúso de água caracteriza-se pela utilização da mesma, por duas ou mais vezes,

após tratada ou não. É usada com diferentes propósitos, para minimizar os impactos

causados pelo lançamento de esgotos sem tratamento nos corpos d’água, a fim de se

preservar os recursos hídricos existentes e garantir a sustentabilidade, a exemplo do que é

feito pela natureza através do ciclo hidrológico. Em vários países do mundo, o reúso

planejado da água já é uma solução adotada com sucesso em diversos processos.

Neste sentido, deve-se considerar o reúso de água como parte de uma atividade

mais abrangente que é o uso racional e/ou eficiente da água, o qual compreende também o

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controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo

de água.

A racionalização do uso aliada ao reúso de água geram um instrumento de gestão

ambiental dos recursos hídricos, detentor de tecnologias já consagradas para a sua

adequada utilização. Com a sua utilização o Brasil estará apto ao enfrentamento

sustentável da escassez iminente.

2.2.2. Tipos de reúso

Segundo o “Manual de reúso de água” da USEPA (2003), existem várias

possibilidades de reúso (Quadro 4).

Quadro 4. Tipos de reúso de água (USEPA, 2003).

Urbano

Usos não potáveis em áreas urbanas como irrigação de parques públicos e centros de recreação, jardins de escolas, residências e campos de futebol, golfe; uso comercial como lavagem de veículos, lavagem de janelas, água de mistura para pesticidas, herbicidas e fertilizantes líquidos; uso em jardins ornamentais e decorativos; controle de poeira e produção de concreto em projetos construtivos; Águas de combate a incêndio; Descargas em bacias sanitárias em banheiros comerciais e industriais; irrigação de áreas de acesso restrito.

Industrial

Água de resfriamento como torres de resfriamento, sistemas de recirculação e resfriamento; Água de alimentação de caldeira; Água de processo industrial como indústria têxtil, química, petrolífera, de papel, mecânica, de cimento.

Agrícola

Irrigação superficial ou por aspersão de algum grupo de alimento processados comercialmente e não processados comercialmente, inclusive grupo de alimento consumido cru; Irrigação superficial de jardins, pomares e vinhedos; Grupos de alimentos para animais como pasto para animais de ordenha, alimento de animais (como gado, cavalos ou ovelhas), fibras e grãos.

Recreação Pesca, navegação, outros usos de recreação.

Ambiental Banhados, pântanos, habitat de animais selvagens, aumento no

fluxo de rios.

Potável Aumento no suprimento de águas potáveis.

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Lavrador Filho (1987), define que o reúso planejado de água ocorre quando ele é

resultado de uma ação humana consciente, a jusante do ponto de descarga do efluente a ser

usado. O reúso planejado das águas pressupõe a existência de um sistema de tratamento de

efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo novo uso que se deseja dar a

água. O reúso planejado também pode ser denominado “reúso intencional da água”,

podendo acontecer de forma direta ou indireta.

Ainda segundo esse autor, o reúso da água pode ser classificado como:

Reúso indireto planejado de água: ocorre quando os efluentes, depois de

convenientemente tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos d’água

superficiais ou infiltrados no solo, indo para o lençóis subterrâneos, para serem utilizados a

jusante em sua forma diluída e de maneira controlada, no intuito de algum uso benéfico.

Reúso indireto não planejado de água: ocorre quando a água, já utilizada uma ou

mais vezes em alguma atividade humana é descarregada no meio ambiente e novamente

utilizada à jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada.

Nesse caso, o reúso da água é um subproduto não intencional da descarga de montante.

Após sua descarga no meio ambiente, o efluente será diluído e sujeito a processos como

autodepuração, sedimentação, entre outros, além de eventuais misturas com outros

despejos advindos de diferentes atividades humanas.

Reúso direto planejado de água: ocorre quando os efluentes, após devidamente

tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso.

Assim, sofrem em seu percurso os tratamentos adicionais e armazenamentos necessários,

mas não são, em momento algum, descarregados no meio ambiente. Portanto não pode

existir o reúso direto não planejado de água.

O reúso de água também pode ser classificado em duas grandes categorias: potável

e não potável. Essa classificação foi adotada pela Associação Brasileira de Engenharia

Sanitária e Ambiental (ABES) e são definidas a seguir:

Reúso potável direto: quando o esgoto recuperado, por meio de tratamento

avançado, é diretamente injetado no sistema de água potável.

Reúso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto na

coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e

subseqüente captação, tratamento e finalmente utilizado como água potável.

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22

As águas consideradas não potáveis podem servir para fins agrícolas, industriais,

recreacionais, domésticos, para manutenção de vazões, aqüicultura e recarga de aqüíferos

subterrâneos.

Quando, por exemplo, em uma casa se direcionar a água servida de lavatórios,

chuveiros, tanque, máquinas de lavar roupa e louça e da cozinha para um tratamento e uma

redistribuição para descargas, irrigação de jardins, lavagem de pisos, ou seja, atividades

que não demandam água potável, estamos fazendo reúso direto planejado de água.

Dentro dessa ótica, os esgotos tratados têm um papel fundamental no planejamento

e na gestão sustentável dos recursos hídricos como um substituto para o uso de águas

destinadas a fins que podem prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade,

entre outros.

2.2.3. Níveis de qualidade do efluente a ser reutilizado

Para estabelecer-se um sistema de reúso de água, primeiro deve-se definir qual o

tipo de reúso desejado. Para cada tipo é possível utilizar um ou mais processos de

tratamento potencialmente adequados (SANTOS, 2003).

De acordo com Mancuso (1988), quando se trata de reúso de água, dada a grande

variabilidade da fonte que vai desde esgoto bruto até despejos razoavelmente diluídos,

como a própria finalidade a que se destina o efluente tratado ou tipo de reúso pretendido, é

grande também a variedade de sistemas ou seqüências de processos possíveis de ser

concebidos.

A definição dos componentes de um sistema de tratamento para reúso pode ser

estabelecida pela experiência anterior, por ensaios de laboratório, por informações

bibliográficas ou pela combinação desses fatores. Segundo Richard apud Mancuso (2003),

propõe que, partindo de esgotos urbanos brutos de origem predominantemente doméstica,

utilizem-se seqüências de tratamentos que resultam num efluente com características

determinadas, em razão do desempenho previsto para cada processo unitário.

Os níveis de qualidade sugerem níveis de tratamento (Quadro 5) a que os esgotos

urbanos brutos de origem predominantemente doméstica devem ser submetidos para

atingir os usos apontados em busca de uma qualidade cada vez melhor para o efluente

final.

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23

Quadro 5. Níveis de qualidade versus tipos de uso (Mancuso, 2003).

NÍVEL 1 Rega de forragens, fibras têxteis, sementes, pomares e vinhedos

NÍVEL 2 Rega de pastagem para gado leiteiro e de corte, campos de golfe, jardins públicos, canteiros de rodovias, bosques urbanos e de lagos ornamentais

NÍVEL 3 Similar ao nível anterior

NÍVEL 4 Aplicações onde à remoção de nitrogênio se faz necessária

NÍVEL 5 Aplicações agrícolas para produtos comestíveis, em parques e jardins escolares e para enchimento de lagos para recreação de contato primário

NÍVEL 6 Similar ao nível anterior

NÍVEL 7 Similar ao nível anterior

NÍVEL 8 Piscicultura

NÍVEL 9 Culturas alimentícias, parques, play grounds, irrigação de pátios escolares gramados e para lagos recreacionais de acesso irrestrito

NÍVEL 10 Recarga de lençóis por injeção no solo e recarga de lençóis por meio de bacias de recarga

NÍVEL 11 Torres de resfriamento, água de processo, caldeiras e geradores de vapor

NÍVEL 12 Torres de resfriamento, água de processo, caldeiras e geradores de vapor

A qualidade da água utilizada e o objetivo específico do reúso estabelecerão os

níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados e os custos

de capital e de operação e manutenção associados. O reúso de água, para qualquer fim,

depende de sua qualidade física, química e microbiológica. A maioria dos parâmetros

físico-químicos de qualidade é bem compreendida, tornando possível estabelecer critérios

de qualidade que sejam orientadores para o reúso da água.

O reúso da água busca principalmente evitar o consumo de água potável em

procedimentos onde seu uso é totalmente dispensável, podendo ser substituída, com

vantagens inclusive econômicas, nas indústrias e grandes condomínios residenciais e

comerciais.

2.2.4. Programas de conservação de água no Brasil com vistas ao reúso de água

A seguir são apresentados os escopos de algumas experiências brasileiras no

sentido da conservação e uso racional de água através da implantação de programas

institucionais segundo informações retiradas dos respectivos sites.

O Programa de Uso Racional de Água - ÁGUAPURA, implementado pela

Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem como principais objetivos: reduzir o consumo

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24

de água na UFBA através da minimização das perdas e desperdícios; difundir em toda a

comunidade universitária conceitos do uso racional da água e a implantação de

Tecnologias Limpas.

O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água – PNCDA é

principal programa brasileiro voltado para a conservação de água potável, coordenado pela

Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República. Foi

instituído no ano de 1997.

O objetivo principal do PNCDA é promover o uso racional da água de

abastecimento público nas cidades brasileiras, como suporte às ações de saúde pública, de

saneamento ambiental e de eficiência dos serviços. Busca permanentemente definir e

implementar um conjunto de ações e instrumentos tecnológicos, normativos, econômicos e

institucionais, que contribuam para a conservação de água nas áreas urbanas.

Isto é feito através da realização de estudos específicos e a organização de uma

documentação técnica para dar suporte às atividades do Programa. Esta documentação

pode ser obtida através do site: www.pncda.gov.br.

O Programa de Uso Racional da Água – PURA/SABESP tem como

principal objetivo garantir o fornecimento de água e a qualidade de vida da população.

Seus principais objetivos específicos são:

• Mudar vícios de uso abusivo de água no cotidiano das pessoas.

• Implementar leis, regulamentos e normas para a utilização racional da água e uso

dos equipamentos economizadores em prédios de órgãos públicos.

• Implementar normas sobre o desenvolvimento tecnológico e padronização de

equipamentos economizadores de água.

• Mudar projetos de instalações prediais de água fria e quente, de parâmetros

hidráulicos e de código de obra.

• Introduzir o programa no currículo das escolas das redes de ensino estadual e

municipal de São Paulo, através de programas específicos.

O Programa de Conservação de Água da Unicamp (Pró-Água UNICAMP)

iniciou-se com o objetivo de aumentar a eficiência do uso da água nos edifícios localizados

no campus de Campinas em 1999. Um projeto de melhorias da infra-estrutura de pesquisa

foi financiado pela FAPESP, tendo sido implementado a partir de então em duas fases:

• Fase I: Levantamento cadastral, Detecção e Conserto de Vazamentos, Implantação

de telemedição, Instalação de componentes economizadores e avaliação do desempenho

pelos usuários.

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25

• Fase II: Análise de tecnologias economizadoras para usos específicos e

implantação de sistema de gestão dos sistemas prediais no campus. Etapa 1: Análise de

tecnologias economizadoras para usos. Etapa 2: Implantação de sistema de gestão dos

sistemas prediais.

2.2.5. O reúso de águas cinzas

Águas cinzas são águas servidas provenientes dos diversos pontos de consumo de

água na edificação como: lavatórios, chuveiros, banheiras, pias de cozinha, máquina de

lavar roupa e tanque, ou seja esgoto primário, excetuando-se água residuária proveniente

dos vasos sanitários, classificadas como esgoto secundário (GONÇALVES et al, 2006).

Christova-Boal et al (1996) e Nolde (1999) citados por Gonçalves et al (2006), consideram

a água residuária proveniente de cozinhas como águas negras, devido às elevadas

concentrações de matéria orgânica e de óleos e gorduras nelas presentes.

De acordo com Hespanhol (2003), a água proveniente de pias, lavatórios e

chuveiros, podem ser utilizadas para descarga de bacias sanitárias e lavagem de pisos, e

também, a água originaria de efluentes com resíduos de bacias sanitárias (águas negras) só

pode ser utilizada novamente para os mesmos fins após tratamento.

As diferenças entre as águas cinzas e as águas negras (esgoto da bacia sanitária) são

significativas, como se pode observar na Figura 4. Para Lindstrom (2004), 40% do esgoto

sanitário é constituído por águas negras e 60% por águas cinzas, e as duas águas devem ser

tratadas e estudadas sempre separadamente.

Figura 4: Diferenças entre águas negras e águas cinzas (Lindistrom, 2004).

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2.2.5.1. Possibilidades para uso das águas cinzas

Como já visto anteriormente, os principais usos da águas recicladas não potáveis

são: a utilização urbana tais como lavagem de vias públicas, pátios, veículos, irrigação de

áreas verdes, desobstrução de rede coletora, desobstrução de galerias de águas pluviais,

abastecimento de fontes e jardins, banheiros, incêndios; doméstica como lavagem de

roupas, calçadas, veículos, irrigação de áreas verdes, descarga em vasos sanitários, entre

outros; para usos industriais como torres de resfriamento, caldeiras e água de

processamento; em meio rural para irrigação e subterrâneo para recarga do lençol freático.

Entre esses usos, as águas cinzas são mais comumente utilizadas nas residências

em: descarga de vasos sanitários e irrigação de jardins (GONÇALVES et al, 2006). É

possível também tratar a água cinza até atingir características compatíveis com qualquer

tipo de reúso, inclusive potável direto, como no caso da estação espacial internacional

(BARRY & PHILLIP, 2006).

Muitos laboratórios trabalham com a NASA atualmente no desenvolvimento de

soluções para o gerenciamento da água em condições que suportem a vida durante a

exploração espacial. Nesses casos, cada gota de água é imprescindível, o que exige o

aperfeiçoamento de sistemas em circuito fechado que reaproveitem todo e qualquer tipo de

água, inclusive as águas cinzas. Todavia, em função dos condicionantes técnico-

financeiros, a quase totalidade das aplicações disponíveis hoje em dia diz respeito ao reúso

não potável (Figura 5).

Figura 5: Opções para reúso de águas cinzas (Gonçalves et al, 2006).

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27

Segundo Bakir apud Mancuso (2003), a prática do reúso de água cinza (grey water)

para finalidades não potáveis, como jardinagem e descarga em bacias sanitárias, deve ser

incentivado como forma de diminuir o porte das instalações das estações de tratamento. O

Chipre é um dos países do MENA, região da África que abriga 300 milhões de pessoas e

possui apenas 1% do estoque anual de água renovável do planeta, onde vigora um

programa subsidiado para os domicílios que desejam instalar sistemas de reúso dos

efluentes secundários para descarga de vasos sanitários.

Sem aplicação de tecnologias complexas e com baixos riscos para a saúde do

usuário é possível executar um projeto que utiliza o conceito da automontagem, com

materiais de fácil obtenção, que podem resultar num rápido retorno financeiro para

residências com consumos mais elevados, acima de 25m³/mês (MOTA et al, 2006).

Conforme Wenzel (2003), um sistema de reúso de águas cinzas poupa até 40% do

fornecimento de água tratada das companhias locais, e também a utilização de cisternas

para captação de água de chuva economiza até 50% deste mesmo fornecimento. A variável

que necessita um ajuste especial é a do tratamento da água que contem o sabão e matéria

orgânica humana que, se parada por alguns dias, inicia um processo de decomposição. A

Figura 6 ilustra o reúso de água numa residência unifamiliar.

Figura 6: Esquema de reúso de água em uma residência (Wenzel, 2003).

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Onde: 1. Água da chuva: Captada nas calhas, passa por um filtro e segue para o

reservatório subterrâneo. Impulsionada pela bomba, vai para um reservatório paralelo ao

de água potável. De lá, segue para as descargas e para uso em áreas externas. Também

abastece a máquina de lavar roupa (se a cidade for muito poluída, a máquina deve ter um

filtro especial); 2. Água potável: Fornecida pela companhia local, abastece a pia da

cozinha, o lavatório do banheiro e os chuveiros; 3. Entrada de água potável; 4. Água de

reúso: O fluxo que sai da cozinha passa pela caixa de gordura (A), que retém esse material,

e segue para a primeira caixa de inspeção (B), para onde também se direciona a água dos

banheiros e da lavanderia. No tanque séptico (C), bactérias decompõem a matéria orgânica

presente no esgoto. A água sai 50% mais limpa. Numa espécie de filtro biológico aeróbio e

anaeróbio (D), ocorre a etapa final do tratamento. A maior parte da matéria orgânica é

eliminada da água, que sai filtrada e com até 98% de pureza para reúso em descargas,

irrigação e áreas externas (WENZEL, COSTA, 2003, 2004).

2.2.5.2. Legislação sobre reúso de águas servidas

Várias normas estrangeiras condicionam o reúso deste tipo de água servidas nas

residências à obediência a padrões de qualidade, a procedimentos construtivos e a conduta

específicas por parte dos usuários. Em todos esses fatores o foco principal é proteger a

saúde dos usuários e o meio ambiente. Por essa razão, os parâmetros microbiológicos são

os que receberam a maior atenção nas diversas regulamentações de reúso de água (USEPA,

2004).

Os padrões de reúso de água variam bastante de acordo com o local. Uma

quantidade significativa de países desenvolvidos estabeleceu diretrizes conservadoras e

com baixo risco, através de tecnologias de alto custo, como é o caso dos padrões

californianos (Tabela 3).

Porém, outros países em desenvolvimento optam por estratégias de baixo custo para

o controle dos riscos à saúde, através de tecnologias recomendadas pela Organização

Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, tudo isso nem sempre garante um baixo risco, em

virtude da falta de experiência operacional.

O reúso de águas residuárias para fins não potáveis em edificações é uma prática

relativamente recente, sobretudo no Brasil. Segundo Gonçalves et al (2006), a legislação

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29

específica pode ser de dois tipos: legislação que regulamenta a aplicação da prática de

reúso; ou legislação que determina limites de qualidade para a água a ser reutilizada.

Em âmbito nacional, o reúso de águas servidas ou água resultante do processo de

tratamento esgotos é regulado pelas instruções contidas na Norma ABNT 13.969/1997 e da

resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH n. 54/05, a qual estabelece

regras para o reúso direto não potável de água, que foi publicada no Diário Oficial da

União de 09 de março de 2006.

Tabela 2. Normas internacionais p/ reúso de águas em descarga sanitária (Gonçalves et al, 2006).

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30

De acordo com a NBR 13969/97, o reúso local é a utilização local do esgoto

tratado, de origem essencialmente doméstica ou com características similares, com

diversas finalidades, exceto para o consumo humano. O esgoto tratado deve ser reutilizado

para fins que exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como,

irrigação de jardins, lavagem de pisos e de veículos automotivos, na descarga de bacias

sanitárias etc.

O uso local de esgoto tem a vantagem de evitar problemas como a ligação com a

rede de água potável, flexibilidade nos graus de qualidade das águas a serem reusadas

conforme a necessidade local .

A NBR 13.969/97 indica o grau de tratamento necessário para uso de esgoto tratado

e classifica a água de reúso como classe 3, própria para reúso nas descargas dos vasos

sanitários. Estas águas devem apresentar turbidez inferior a 10 e concentração de

coliformes fecais inferior a 500 NMP/100ml.

Normalmente, as águas de enxágüe das máquinas de lavar roupas satisfazem a este

padrão, sendo necessário apenas uma cloração. Para casos gerais, um tratamento aeróbio

seguido de filtração e desinfecção satisfaz ao padrão exigido. O Quadro 6 mostra algumas

legislações locais que regulamentam o uso de fontes alternativas de água.

Quadro 6. Legislações brasileiras que regulamentam a utilização de fontes alternativas de água.

(Gonçalves et al, 2006).

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31

Em Curitiba-PR foi sancionada a Lei Municipal n.10785/03 que criou o Programa

de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PURAE (Anexo 3).

2.3. Vantagens e desvantagens reúso das águas cinzas em edificações.

Após a análise dos dados apresentados até aqui podemos montar um quadro

comparativo entre os aspectos positivos e negativos reúso das águas cinzas em edificações

(Quadro 7).

Quadro 7: Vantagens e desvantagens do reúso das águas cinzas (Produção do autor).

VANTAGENS DESVANTAGENS

O reúso das águas cinzas em

edificações é perfeitamente possível, desde

que seja concebida para este fim (FIORI,

2005);

É uma prática ainda incipiente no

nosso país. No ambiente institucional a

situação ainda está desorganizada

(GONÇALVES et al, 2006);

Redução acentuada do consumo

mensal de água potável, reduzindo

significativamente o valor das contas

mensais, uma vez que o esgoto é tarifado

na mesma conta (RAPOPORT, 2004);

A falta de regulamentação no país

gera um clima de insegurança por parte dos

empreendedores e os sistemas de reúso já

implantados funcionam sem fiscalização

(GONÇALVES et al, 2006);

Preserva a água potável, pela

redução no seu consumo, reservando-a

exclusivamente para o atendimento das

necessidades que exijam a sua potabilidade

(RAPOPORT, 2004);

Existem riscos a serem considerados

com o reúso de águas cinzas, no que diz

respeito à saúde pública, uma vez que esta

água não está isenta de contaminação

(RAPOPORT, 2004);

Amortização do valor investido pode

ser conseguido em aproximadamente 4

anos (GONÇALVES et al, 2006), se

considerado apenas o valor pago pela água;

Os aspectos estéticos da água de

reúso são fator determinante do sucesso

desta prática para que se evite problemas

com os usuários, é de grande importância

que o tratamento garanta estes aspectos

(GONÇALVES et al, 2006);

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32

2.3.1.1. Aspectos quantitativos

De acordo com Santos (2002), considerando que o chuveiro tenha uma vazão de

0,10 l/s e que o mesmo seja acionado apenas uma vez por dia durante 10 minutos, o

volume consumido de água seria de 60 litros. Considerando também que o usuário utilize

cinco vezes por dia o lavatório, durante 30 segundos, cada utilização com vazão especifica

de 0,10L/s, o volume consumido de água é de 15 litros.

Logo, o volume diário per capita no lavatório e no chuveiro é de 75 litros.

Considerando esse volume, como volume potencial de água cinza, e admitindo perdas de

aproximadamente 5% no sistema predial de água cinza, o volume disponibilizado seria em

torno de 71 litros.

Em contrapartida, a descarga da bacia sanitária consome em média de 10 a 12 litros

de água potável cada vez que é acionada e supondo que o usuário a utilize quatro vezes ao

dia, o consumo é de 48 litros de água. Conclui-se então, que se a água cinza puder ser

reutilizada em lugar da água potável na descarga da bacia sanitária, já existiria a

possibilidade de uma economia de 48 litros/dia de água potável restando, ainda 23 litros

para outros fins não nobres.

As características como vazão específica dos aparelhos sanitários, associados à

realidade de seus usos (freqüência e duração de uso), permitem estimar a vazão diária de

água cinza a ser produzida (SANTOS, 2002).

Dados publicados sobre a parametrização do consumo de água na edificação,

mostram uma hierarquia baseada na magnitude do consumo no intuito de identificar

prioridades das ações de economia de água, conforme Quadro 8 a seguir, com dados da

American Water Works Association(AWWA) e o Programa Nacional de Combate ao

Desperdício de Água (PNCDA).

Percebe-se então, para as edificações investigadas naquele ano, que somando-se os

efluentes do chuveiro, lavatório e pia da cozinha com os advindos da máquina de lavar

roupas, chegamos a um total de 92% das águas cinzas.

Quadro 8. Parametrização do consumo de água nas edificações domiciliares (Santos, 2002)

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33

Entretanto, uma estimativa mais recente desta natureza é apresentada por Gonçalves

e Bazzarella (2005), tendo como premissa dados de consumo publicados no site da

empresa DECA (www.deca.com.br) e os dados de ocupação residencial apresentam um

total de 86% na vazão diária de águas cinzas (Quadro 9).

Quadro 9. Simulação de distribuição de consumo de uma família brasileira de quatro pessoas.

(Gonçalves e Bazzarella 2005).

Considerando que a produção de água cinza em uma residência típica de classe

média no Brasil fica claro que a produção de água cinza excede essa demanda específica,

podendo ser usada na irrigação de jardins, na lavagem e calçadas,. Portanto, o

dimensionamento do sistema de reúso deve considerar esse desequilíbrio, prevendo:

tratamento e reúso: para a fração correspondente à demanda de água para reúso e descarte

para o excesso de água cinza (GONÇALVES & BAZZARELLA, 2005).

2.3.1.2. Aspectos qualitativos

Embora a utilização das águas cinzas como alternativa em tempos de escassez de

água esteja sendo proposta, cabe ressaltar que estas águas devido a suas origens são de

difícil caracterização devido à diversidade de produtos químicos utilizados e ao fato delas

poderem estar ou não contaminadas por micro organismos patogênicos (RAPOPORT,

2004).

A água cinza contém componentes decorrentes do uso de sabão ou de outros

produtos para lavagem do corpo, de roupas ou de limpeza em geral. Suas características em

termos de quantidade e de composição variam de acordo os seguintes fatores: localização,

nível de ocupação da residência, faixa etária, estilo de vida, classe social e costumes dos

moradores e com o tipo de fonte de água cinza que está sendo utilizado (lavatório,

chuveiro, máquina de lavar etc.).

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Do ponto de vista qualitativo, se o objetivo principal for o uso em descargas

sanitárias, a água de reúso produzida a partir de água cinza deve possuir baixa turbidez, cor

reduzida e ausência de odor desagradável, obedecendo às legislações vigentes. A utilização

de água cinza bruta em descargas sanitárias ou na irrigação de jardins é uma prática

vigente em alguns países, como Chipre, EUA e Israel.

Outros fatores que também contribuem para as características da água cinza são: a

qualidade da água de abastecimento e o tipo de rede de distribuição, tanto da água de

abastecimento quanto da água de reúso (ERIKSSON, 2002).

O aspecto da água de reúso não tratada é relativamente desagradável. Porém os

efluentes normalmente utilizados nas edificações são devidamente tratados e possuem

aparência discretamente diferenciada da água potável (Figura 7).

Figura 7: Aspecto da água potável versus água cinza tratada.

Para Gonçalves et al (2006), os aspectos estéticos da água de reúso são um fator

determinante do sucesso desta prática. Para que se evitem problemas com os usuários, é de

grande importância que a água de reúso apresente além de baixa turbidez, cor

imperceptível, ausência de odor e de qualquer substância ou composto que lhe confiram

aspecto desagradável.

ÁGUA POTÁVEL ÁGUA CINZA

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35

2.3.1.3. Modificações necessárias nas edificações para o reúso

A infra-estrutura necessária para a implantação de um sistema de reúso inclui uma

rede dupla de abastecimento, necessária para trasportar a água potável e a água de reúso, e

uma coleta separada da água cinza, incluindo as unidades complementares de

bombeamento e reservação da água de reúso.

Edificações que comportam sistemas de reúso de água cinza para descarga de vasos

sanitários devem ser projetadas e executadas com sistemas hidráulicos prediais

independentes, sendo um para água de reúso atendendo vasos sanitários e mictórios e outro

para água tratada, atendendo pias, chuveiros, tanques, máquina de lavar, etc. Além disso,

devem possuir também uma Estação de Tratamento para Águas Cinzas (ETAC).

A configuração básica de um sistema de utilização de águas cinzas seria o sistema

de coleta da água servida, do subsistema de condução da água (ramais, tubos de queda e

condutores), da unidade de tratamento da água (por exemplo, gradeamento, decantação,

filtro e desinfecção) e do reservatório de acumulação. É necessário ainda um sistema de

recalque, um reservatório superior e a rede de distribuição da água reutilizada totalmente

isolada da distribuição de água potável (SANTOS, 2002).

Segundo Gonçalves et al (2006) é recomendável que as válvulas e os registros de

cada rede possuam abertura e fechamento diferenciados. No caso de falta de água de reúso,

os vasos sanitários devem ser abastecidos com água potável.

Uma representação esquemática de um sistema de reúso de água cinza com suas

tubulações e reservatórios independentes do sistema de água potável e a localização da

estação de tratamento para as águas cinzas pode ser vista na Figura 8.

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36

Figura 8: Sistema de reúso de água cinza: tubulações e reservatórios independentes do sistema de água potável (Gonçalves et al, 2006).

Para Fiori (2005), o reúso das águas cinzas em edificações é perfeitamente possível,

desde que seja concebida para este fim, respeitando todas as diretrizes, ou seja, evitando

que a água reutilizada seja misturada com a água tratada e não permitir o uso da água

reutilizada para consumo direto, preparação de alimentos e higiene pessoal. Porém, a

qualidade necessária para atender aos usos previstos deve ser rigorosamente avaliada para

a garantia da segurança sanitária dos seus usuários.

A correta sinalização de que se trata de água de reúso (águas cinzas tratadas) no

interior da edificação (Figura 9) também é fundamental em prédios públicos, pois os

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37

usuários devem ter consciência de que existe um sistema de reúso e dos locais onde ela

esta sendo utilizada.

Figura 9: Identificação da água de reúso utilizada nas descargas sanitários de um hotel

(Gonçalves et al, 2006).

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3. RESULTADOS E AVALIAÇÃO FINANCEIRA

Após a coleta de dados da aplicação do reúso das águas cinzas em edificações,

passamos agora a analisar e discutir a informações levantadas e os resultados alcançados,

além de apresentar os sistemas de reúso de água aplicados em cada edifício, bem como, a

descrição de cada um deles.

3.1. 1º Caso - Edifício Residencial Royal Blue

O edifício Residencial Royal Blue da Construtora Lorenge, localiza-se na Praia do

Canto em Vitória do Espírito Santo e nele reside uma população de alto padrão econômico.

A edificação possui 30 unidades em 15 pavimentos tipo, cada apartamento com 4 quartos,

sendo duas suítes, lavabo e varanda ampla, totalizando 174,5 m². Possui ainda área de lazer

na cobertura com piscina, sauna, salão de festas, ginástica e quadra de squash. Foi

inaugurado em junho de 2007 (Figura 10).

Figura 10: Fachada do Ed. Residencial Royal Blue

(Lorenge Construtora, 2007).

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3.1.1. Sistema de reúso de água do edifício.

Para produzir água de reúso inodora e com baixa turbidez, uma ETAC composta

por vários níveis de tratamento foi instalada no prédio. Para se assegurar baixas densidades

de coliformes termotolerantes, o tratamento também prever desinfecção. Com base nessas

diretrizes a estação de tratamento do prédio é composta pelas etapas apresentadas no

fluxograma abaixo (Figura 11).

Figura 11: Fluxograma do Sistema de Tratamento do Edifício Royal Blue (Gonçalves, 2005).

As principais características da Estação de Tratamento de Águas cinzas (ETAC) do

Edifício Royal Blue são:

Caixa de passagem com gradeamento fino;

Tratamento anaeróbio para redução de DBO5;

Tratamento aeróbio para a redução de cor, turbidez, DBO5 e sulfetos;

Desinfecção;

Reduzida demanda operacional e de manutenção.

A Estação de Tratamento pode ser inserida em pequenas áreas do prédio, sem

prejudicar a funcionalidade da edificação. Os equipamentos que ocupam o maior espaço

são os tanques de 2000 litros cada, utilizados nas etapas de tratamento e como

reservatórios de lodo e de água de reúso (Figura 12).

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40

Figura 12: Tanques da ETAC - Edifício Royal Blue.

À medida que o efluente avança através das etapas do tratamento, a água cinza vai

ficando mais límpida e menos impura. Isso pode ser visualizado na seqüência de amostras

apresentadas na Figura 13 a seguir.

Figura 13: Aspecto da água em cada fase do tratamento na ETAC.

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41

3.1.2. Estudo de viabilidade financeira

A decisão de instalar-se um sistema de reúso de águas cinzas numa edificação tem

impactos financeiros sobre variadas etapas do empreendimento, desde o projeto das

instalações elétricas e hidrossanitárias até a implantação e manutenção da Estação de

Tratamento de Águas Cinzas (ETAC).

Contudo, quando relacionamos os custos da edificação com e sem a implantação de

sistema de reúso verificou-se que estes impactos não são tão significativos em relação ao

custo total do edifício. No caso do Edifício Royal Blue o acréscimo no custo da construção

com o sistema de reúso comparado a construção sem o sistema foi de 1,56%, conforme

apresentado no Quadro 10. Vale ressaltar que para esta avaliação não se incluiu os valores

da taxa de Bonificação e Despesas Indiretas (BDI) e do custo de terreno, os quais são

usados na formação do preço de venda do imóvel.

Quadro 10: Acréscimo no custo com a implantação do sistema de reúso

Fazendo uma análise da influência no custo total de implantação com o reúso em

cada etapa, temos que o maior acréscimo de custo é fruto da instalação da ETAC

propriamente dita, com o valor de R$ 55.000,00 correspondente a 0,99% do total, seguido

da superestrutura e paredes, com valor de R$ 14.456,00 correspondentes ao percentual de

acréscimo de 0,26%.

R$ % R$ % % R$ %Projetos 224.340,00 4,08% 1.190,00 1,39% 0,02% 225.530,00 4,04%Instalações provisórias e máquinas 229.380,00 4,17% - - - 229.380,00 4,11%Adm. canteiro de obras e escritório 556.270,00 10,12% - - - 556.270,00 9,97%Transporte / limpeza permanente 117.847,00 2,14% - - - 117.847,00 2,11%Infra-estrutura 411.830,00 7,49% - - - 411.830,00 7,38%Supra-estrutura e paredes 1.322.513,00 24,06% 14.456,00 16,85% 0,26% 1.336.969,00 23,95%Esquadrias e vidro 531.834,00 9,68% 1.045,00 1,22% 0,02% 532.879,00 9,55%Coberturas / impermebilizações 78.587,00 1,43% 1.732,00 2,02% 0,03% 80.319,00 1,44%Revestimento paredes 1.421.009,00 25,86% 3.340,00 3,89% 0,06% 1.424.349,00 25,52%Instalação elétrica / telefônica 126.844,00 2,31% 857,00 1,00% 0,02% 127.701,00 2,29%Inst. hidro-sanitário - água/esgoto 92.996,00 1,69% 4.668,00 5,44% 0,08% 97.664,00 1,75%Instalação de gás / incêndio 20.458,00 0,37% - - - 20.458,00 0,37%Instalações mecânicas 165.904,00 3,02% 2.280,00 2,66% 0,04% 168.184,00 3,01%Instalação da ETAC - - 55.000,00 64,12% 1,00% 55.000,00 0,99%Louças / metais e bancadas 180.410,00 3,28% 1.182,00 1,38% 0,02% 181.592,00 3,25%Revisão / decoração 15.494,00 0,28% 32,00 0,04% 0,00% 15.526,00 0,28%TOTAL 5.495.716,00 100,00% 85.782,00 100,00% 1,56% 5.581.498,00 100,00%

Acréscimo no Custo Total com ReúsoGRUPO DE SERVIÇOS

Custo Total de Implantação com Reúso

Custo de Implantação sem o Reúso

Acréscimo no Custo devido a Implantação do Reúso

(Gonçalves, 2005).

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42

Todas as etapas impactadas e seus devidos acréscimos com a distribuição do custo

total para cada uma delas com instalação do sistema de reúso são menos significativas e

estão discriminadas na Figura 14. A Figura 15 traz uma comparação do custo final com e

sem o sistema de reúso.

Figura 14: Distribuição do acréscimo gerado pelo sistema de reúso de águas cinzas

Figura 15: Comparação do custo final com e sem o sistema de reúso

(Gonçalves, 2005).

(Gonçalves, 2005).

% d

e de

scon

to

% d

e de

scon

to

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43

Nota-se que o acréscimo nos custos foi praticamente imperceptível nas etapas onde

são considerados valores com e sem a implantação do sistema de reúso, com exceção da

etapa de instalação da ETAC.

Cálculo do tempo de retorno do investimento

Para efeito do cálculo do tempo de retorno do investimento foram analisados dois

cenários distintos. Cenário 1 - diz respeito ao tempo de retorno para a implantação do

sistema de reúso sem levar em consideração a aplicação da taxa de Bonificação e Despesas

Indiretas (BDI); Cenário 2 se incluiu nos custos o BDI.

No Cenário 1 o tempo de retorno sem influência do BDI resultou num período de

55 meses ou 4,5 anos. O gráfico da Figura 16 apresenta a evolução mês a mês do capital

investido com relação ao tempo de retorno para a implantação do sistema de reúso sem

influência do BDI.

Figura 16: Tempo de Retorno para a implantação do sistema de reúso sem influência do

BDI (Gonçalves, 2005).

Verifica-se pela Figura 16 que após os 4,5 anos, o investimento começa a ser

positivo, ou seja começa a dar retorno financeiro.

Considerando o Cenário 2 o tempo de retorno é de 103 meses ou 8,5 anos,

conforme o gráfico apresentado na Figura 17. Esse período é praticamente o dobro do

tempo calculado no Cenário 1. No entanto, como o preço de venda dos imóveis inclui

Qtde. de Meses

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obrigatoriamente o lucro do investidor e as despesas indiretas (BDI), o período de retorno

que se deve levar em consideração é do Cenário 2, ou seja, 103 meses ou 8,5 anos.

A primeira vista pode parecer muito tempo, mas este período se torna pequeno

quando comparado ao tempo mínimo de vida útil de um edifício que é de 50 anos e que o

tempo médio de moradia do proprietário é de 15 anos.

Todavia, nos dados analisados não há indicações de que os custos levaram em conta

a vida útil do sistema de reúso. Por isso é possível que os ganhos financeiros se tornem

pequenos ao longo deste tempo, mas o ganho ambiental é liquido e certo e deve ser

considerado.

Figura 17: Tempo de Retorno para a implantação do sistema de reúso com BDI

(Gonçalves, 2005).

Aliado a isto, temos uma economia gerada pela reutilização da água cinza em

detrimento da compra de água tratada da concessionária, além da redução no lançamento

de esgoto que normalmente é taxado numa percentagem de 80% a 100% do volume de

água consumido.

Segundo Gonçalves (2005), o consumo médio mensal do prédio de água de reúso é

de 432 m³/mês. Sendo o consumo médio mensal de água tratada igual a 31.200 l/d, ou

seja, 936m³ por mês, e a tarifa cobrada pela concessionária local, CESAN, igual a: R$ 3,50

para a água e R$ 2,66 para o esgoto, temos um total de R$ 6,16/m³ sem o sistema de reúso.

Como a soma de todas as despesas com a ETAC são R$ 563,42, temos que o custo

da água de reúso é de R$ 1,30/m³ (Tabela 3). Então temos um custo pago pela água de

Qtde. de Meses

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reúso e esgoto igual a R$ 4,86, equivalente a uma redução de 26,75% do preço pago a

concessionária.

Tabela 3. Economia gerada pelo sistema de reúso de águas cinzas (Gonçalves, 2005).

Considerando os consumos médios mensais de 936m³ de água da CESAN e de

432m³ de água da ETAC constantes, temos uma economia de R$ 561,60/mês, pois se

pagava R$ 5.765,76 a CESAN antes do reúso, e após o reúso a conta é de 5.204,16. Ao

final de um ano a economia total com as tarifas chega de R$ 6.739,20.

Certamente que os ganhos financeiros não tão atrativos assim, mas o aspecto mais

importante do reúso planejado está ponto de vista ambiental, onde o retorno ecológico é

imediato, pois a redução no consumo de água para abastecimento público e no lançamento

de esgotos diminuirá a pressão sobre a infra-estrutura das cidades, reduzindo os gastos

operacionais.

Por outro lado, os clientes que têm poder econômico para adquiri estes imóveis,

normalmente são mais críticos em relação aos problemas ambientais e procuram empresas

que atuem com responsabilidade social e que respeitam o meio-ambiente, esta prática traz

um diferencial ecológico que valoriza o imóvel e traz vantagens publicitárias garantindo as

vendas ao seu público alvo.

3.2. 2º Caso - Hotel Comfort Suítes Macaé.

3.2.1. Descrição da edificação

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O Hotel Comfort Suítes Macaé, situado na Avenida Atlântica, 3036 em Macaé no

Rio de Janeiro, é um edifício composto de 126 apartamentos com 28m² de área privativa, 2

salas de convenções, cada uma com 80m², 2 restaurantes, fitness center, sala de descanso e

sala de reuniões, além de uma piscina na cobertura. A Figura 18 apresenta a fachada do

edifício e o salão do restaurante.

Figura 18: Hotel Comfort Suítes Macaé.

3.2.2. Sistema de reúso de água do Hotel.

O sistema de reúso do Hotel Comfort Suítes Macaé trata em média 1320m³/mês de

águas cinzas, provenientes dos lavatórios e chuveiros numa estação denominada Estação

de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC).

Esta estação apresenta um reduzido consumo de energia e é bastante compacta. No

hotel a ETAC foi instalada no subsolo, sob a rampa de acesso da edificação numa área de

aproximadamente 80m², incluindo o sistema de tratamento de águas negras ou fecais.

A ETAC é resultado da combinação de processos biológicos anaeróbio-aeróbio de

alta taxa, sendo constituído de Reator Anaeróbio Compartimentado (RAC) associado a um

filtro biológico aerado submerso (FBAS). O polimento do efluente é realizado em um filtro

terciário de tela (FT) e a desinfecção feita com Clorador de pastilha no próprio reservatório

de reúso (Figura 19).

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47

Nos anexos I e II constam a Planta de localização da ETAC no subsolo do Hotel

Comfort Suítes Macaé e um detalhamento de seu layout, dando a real dimensão do espaço

ocupado.

Figura 19: Fluxograma da ETAC do Hotel Comfort Suítes Macaé

Após passar pelo tratamento a água de reúso é bombeada para um reservatório

elevado específico e utilizada nas descargas sanitárias e mictórios através de tubulações

independentes, resultando em menor consumo de água potável e na redução no lançamento

de águas residuárias.

O lodo produzido no Decantador Secundário (DEC) é recirculado para o primeiro

compartimento do Reator Anaeróbio Compartimentado (RAC) através de um sistema

simples de controle que utiliza um temporizador. A operação é repetida em intervalos de

hora em hora com um ciclo de bombeamento de 1 min por hora. O filtro terciário de tela é

lavado diariamente por um sistema automatizado.

Conforme foi visto no item 2.2.5.3, a produção de água cinza excede a demanda

específica para utilização nas descargas sanitárias. Portanto, tanto o excesso de águas

(Gonçalves et al, 2006).

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cinzas como as águas de lavagem do filtro são destinadas ao sumidouro. O volume

destinado ao tratamento na ETAC é controlado por uma Caixa Reguladora de Vazão

(Figura 20).

Figura 20: Caixa Reguladora de Vazão (Gonçalves, 2005).

A lavagem é realizada com inserção de fluxos de água e ar ascendente por um

período de 20 minutos. Os equipamentos que compõem a ETAC são:

• 01 compressor de ar de 1 CV;

• 02 bombas centrífugas de ½ CV; e

• 1 rotâmetro de fluxo de ar.

O sistema é automatizado, composto de um painel elétrico de comando e a

demanda operacional é de aproximadamente 2,5h/dia. O consumo médio de água é de

44m³/d e a demanda dos vasos sanitários são de 13,3m³/d (bacia sanitária de 8L/descarga).

A instalação do sistema de reúso proporciona ao hotel uma economia mensal de 30% do

consumo de água potável da edificação.

Água Cinza para a ETAC.

Excesso para o Sumidouro. Sumidouro

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49

3.2.3. Estudo de viabilidade financeira

No estudo de viabilidade realizado para implantação do sistema de reúso no hotel,

foram consideradas, para efeito de comparação, duas situações distintas: Opção 1 – SEM

Sistema de Reúso (Tabela 4) e Opção 2 – COM Sistema de Reúso (Tabela 5). A

concessionária responsável pelo abastecimento do hotel é a CEDAE.

Tabela 4. OPÇÃO 1 - Sem Sistema de Reúso de Águas cinzas

Na a situação 1, ou seja, consumo de água sem o sistema de reúso, o hotel gastava

por dia um valor de R$ 5.236,00. Este custo caiu 43,3% na comparação direta,

considerando–se o consumo médio diário, pois o valor pago a concessionária de água

baixou para R$ 3.665,58 (Tabela 6).

Tabela 5. OPÇÃO 2 - Com Sistema de Reúso de Águas cinzas

No custo operacional do sistema estão inclusos os serviços de: mão-de-obra, que

não necessariamente precisa ser qualificada, com gasto médio de 2,5 h/dia; de gestão do

lodo incluindo sua retirada e transporte; de manutenção de equipamentos; de suprimentos

de materiais tais como as pastilhas de cloro e do gasto com a energia elétrica.

O consumo de energia mensal na operação da ETAC é 408,5 KWh/mês a um custo

unitário de R$ 0,39/KWh, sendo resultado do uso dos seguintes equipamentos:

Bomba de recirculação de lodo + lavagem (2 x ½ CV) x 0,4h/d = 8,9 KWh /mês

Compressor de ar (1 CV) x 18h/d = 399,6 KWh/mês

A tarifa da concessionária para fornecimento de água é de R$ 3,98/m³ e atualmente

o consumo médio de água é de 1320m³/mês. Os dados foram obtidos na conta de água do

(Gonçalves et al, 2006).

(Gonçalves et al, 2006).

(CEDAE)

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50

hotel, emitida pela concessionária local, a CEDAE. A Figura 21 ilustra a redução

significativa do consumo mensal de água potável com o uso do sistema de reúso em

comparação aos meses de uso sem o sistema.

Figura 21: Consumo mensal de água - Comfort Suítes Macaé/RJ

A amortização do custo de investimento pode ser observada na Figura 22. No

cálculo da amortização, o saldo a amortizar de R$41.500,00 foi deduzido da diferença de

valor entre a opção 1 e 2, que representa a economia mensal pela opção com sistema de

reúso de águas cinzas.

Figura 22: Amortização do Custo de Investimento

(Gonçalves et al, 2006).

(Gonçalves et al, 2006).

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O custo de implantação do sistema de reúso correspondeu a 0,34% do valor

investido na construção do hotel, estimando-se que este valor será amortizado em 50

meses, o correspondente a aproximadamente 4 anos. A partir deste período, começa-se a

obter o retorno do investimento, resultando economia ao empreendedor e também a

preservação do meio ambiente.

A prova disto é o custo médio mensal com a implantação do sistema de reúso de

R$ 4.419,20 (Tabela 6) aportando uma economia média mensal de R$ 834,41 ou 16% em

relação ao sistema convencional.

Visto que a vida útil de projeto para as edificações é de 50 anos o que corresponde a

600 meses, este é um investimento que trará significativa economia ao longo desse tempo.

Se considerarmos constante o consumo médio mensal, a economia na compra de água seria

de R$ 500.646,00 ao final da vida útil do prédio.

Tabela 6. Custo médio mensal com o Sistema de Reúso de Águas cinzas.

* caminhão limpa-fossa: R$270,00(6m²). (Gonçalves et al, 2006).

** pastilha de cloro: R$ 4,20/und.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

No estudo de viabilidade financeira foi avaliado o custo de implantação e operação

versus o retorno do investimento necessário para cada uma das edificações estudadas. Cabe

salientar que os estudos econômicos aqui apresentados são casos distintos que servem de

orientação ao meio técnico. Contudo, para cada caso particular é preciso um estudo

detalhado da demanda por água e do espaço físico necessário, além das taxas de juros,

financiamentos disponíveis e potencial de investimento de cada empreendedor.

Para cada uma dessas alternativas, analisou-se os custos de investimentos, as tarifas

da concessionária e o custo de operação e manutenção própria do empreendimento. Nos

dois casos, os resultados indicam economias significativas dos sistemas com reúso de água

em termos de redução acentuada do consumo mensal reduzindo o valor das contas

mensais, retorno do investimento inferior a 8,5 anos, além do fato de promover

preservação do meio ambiente e contribuir para a sua sustentabilidade.

Recondicionar águas cinzas para utilização em descargas sanitárias é tecnicamente

possível e relativamente simples. Porém, devem ser considerados dois pontos: a disposição

dos usuários em utilizar a água reciclada e o seu respectivo custo-benefício.

A aceitação pelos usuários, no caso específico da utilização em descargas sanitárias,

pode ser conseguida com uma demonstração do desenvolvimento tecnológico, da

confiabilidade e segurança do sistema. Em meio às previsões de problemas ambientais, a

prática tem um apelo ambiental significativo.

A questão do custo final da água reusada tem a ver com o uso pretendido. Neste

caso a prática que vem se difundindo é a do reúso de água cinza (não potável) para uso em

aparelhos de descargas sanitárias em edificações multifamiliares. Como discutido nos

estudos de caso. Comprovou-se que a técnica traz vantagens econômicas.

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No caso do edifício Royal Blue, o custo pago pela água de reúso somado a tarifa de

esgoto é igual a R$ 4,86, a uma redução de quase 27% no preço pago a concessionária,

gerando ao final de um ano uma economia que passa dos R$ 6.700,00.

Outra grande vantagem da utilização da água de reúso é a de preservar a água

potável, pela redução no seu consumo, reservando-a exclusivamente para o atendimento

das necessidades que exijam a sua potabilidade, principalmente para o abastecimento

humano, ou seja, a substituição de uma água de boa qualidade por outra inferior, mas que

atende aos requisitos necessários.

É relevante ainda destacar que o reúso reduz a descarga de esgotos nas águas

superficiais, já que a água recebe um tratamento e os produtos resultantes do processo

(lodo) são destinados para locais adequados.

Como a prática envolve assuntos relacionados com saúde pública, controle da

poluição ambiental e procedimentos construtivos de edificações, carecendo ainda de

regulamentação no país, há um clima de insegurança por parte dos empreendedores e os

sistemas de reúso já implantados funcionam sem fiscalização.

Apesar disso, incentivar as pessoas a usarem a água com parcimônia e disseminar o

reúso planejado das águas servidas, constituem uma real opção para gestão da demanda de

água e para a redução na geração de esgoto sanitário nas áreas urbanas. Esse incentivo

passa por medidas simples de serem adotadas como, por exemplo:

Utilização do efluente da máquina de lavar roupas na descarga das bacias

sanitárias;

Fechamento do chuveiro, por ocasião do banho, na hora de se ensaboar;

Fechamento da torneira enquanto se escova os dentes;

Usar a descarga da bacia sanitária somente após dois usos, quando a mesma é

utilizada para urinar;

Vigilância constante, para a detecção e solução de vazamentos.

Contudo, no que se refere ao uso racional da água nas indústrias, na agricultura e

nas residências, ainda é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, na

implantação de sistemas de tratamento avançado de efluentes, em sistemas de conservação,

em redução de perdas e no reúso da água.

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54

A disseminação da prática do reúso de aguas cinzas em nossas edificações levará a

significativos ganhos ambientais, sociais e econômicos. Ao liberar as fontes de água de boa

qualidade para abastecimento público de água potável e outros usos prioritários, o reúso

planejado da água contribui para a conservação dos mananciais e, também, acrescenta uma

dimensão econômica ao planejamento dos recursos hídricos.

O reúso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da

água potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito discutida,

já utilizada em muitos países desenvolvidos, é baseada no conceito de substituição de

mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso

específico.

Não obstante, a implantação de um sistema de reúso de águas servidas nas

edificações requer um planejamento detalhado do processo, tecnologia adequada para cada

situação particular e um investimento inicialmente alto se considerarmos a utilização

unifamiliar, além das modificações hidrossanitárias necessárias.

Ainda assim, a aplicação desta prática é um bom caminho para que a sociedade

alcance a tão buscada sustentabilidade dos recursos hídricos. É sim possível alcançar uma

economia moderna e sustentável, aonde através da reciclagem e da reutilização de

materiais e produtos, juntamente com a proteção ambiental e o gerenciamento de recursos,

chega-se ao desenvolvimento sustentável.

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5. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13.969: Tanques sépticos – unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos – projeto, construção e operação. Rio de Janeiro: ABNT, 1997.60p. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. Disponível em: http://www.ana.gov.br. >. Acesso em: maio de 2007. BARRY, P.L. e PHILLIP, T. - Water on the Space Station. Artigo publicado em: <http://spaceflight.nasa.gov/living/factsheets/water.html>, 2006. Acesso em janeiro de 2007, 4 p. BIO - REVISTA BRASILEIRA DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE. Economia de água. ABES, nº18, Ano XI, p. 29-34, abr./jun. Rio de Janeiro, 2001. BRAGA, C. dos S. O ambiente construído e o uso da água. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós Graduação Executiva em Meio Ambiente) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro. BRANCO, S. M. Água – Origem, uso e preservação. 19 ed. São Paulo, SP: Moderna, 2003. CLARKE, R e KING, J. O Atlas da Água – O mapeamento completo do recurso mais precioso do planeta. São Paulo, SP: Publifolha, 2005. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução n.° 357, de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, mar. 2005. CURITIBA. Lei nº10.785, de 29 de março de 2003. Cria no município de Curitiba, o programa de conservação e uso racional de água nas edificações - PURAE. Disponível em: <http://www.arce.ce.gov.br/download/legis-uso-agua_csb.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2007. LORENGE CONSTRUTORA E INCORPORADORA LTDA. Disponível em: <http://www.lorenge.com.br>. Acesso em: jun. de 2007. COSTA, D. Com todo respeito, aproveite a natureza. Revista Arquitetura e Construção, São Paulo: Editora Abril, ano 20, n. 11, p. 74-77, nov. 2004. ERIKSSON, E. H. Potential and problems related to reuse of water in households. Tese de Doutorado. Technical University of Denmark. Environment & Resources DTU, 2002.

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ANEXOS

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ANEXO I - Planta de Localização do Hotel Comfort Suítes Macaé

Fonte: Paes Erlacher Engenharia Ltda.

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ANEXO II – Layout da ETAC do Hotel Comfort Suítes Macaé

Fonte: Paes Erlacher Engenharia Ltda.

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ANEXO III – Lei municipal N° 10.785/03.que criou o PURAE

Lei nº.10.785 de 18 de setembro de 2003

Município de Curitiba, Paraná.

Cria no Município de Curitiba o Programa de Conservação e Uso Racional da Água

nas Edificações – PURAE.

A CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA, CAPITAL DO ESTADO DO

PARANÁ, aprovou e eu, Prefeito Municipal, sanciono a seguinte lei:

Art. 1º. O Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações -

PURAE tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e

utilização de fontes alternativas para captação de água nas novas edificações, bem como a

conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água.

Art. 2º. Para os efeitos desta lei e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes

definições:

I – Conservação e Uso Racional da Água - conjunto de ações que propiciam a

economia de água e o combate ao desperdício quantitativo nas edificações;

II – Desperdício Quantitativo de Água – volume de água potável desperdiçado pelo

uso abusivo;

III - Utilização de Fontes Alternativas – conjunto de ações que possibilitam o uso

de outras fontes para captação de água que não o Sistema Público de Abastecimento.

IV - Águas Servidas – águas utilizadas no tanque ou máquina de lavar e no

chuveiro ou banheira.

Art. 3º. As disposições desta lei serão observadas na elaboração e aprovação dos

projetos de construção de novas edificações destinadas aos usos a que se refere à Lei n.

9.800/00, inclusive quando se tratar de habitações de interesse social, definidas pela Lei n.

9802/00.

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Art. 4º. Os sistemas hidráulico-sanitários das novas edificações serão projetados

visando o conforto e segurança dos usuários, bem como a sustentabilidade dos recursos

hídricos.

Art. 5º. Nas ações de Conservação, Uso Racional e de Conservação da Água nas

Edificações, serão utilizados aparelhos e dispositivos economizadores de água, tais como:

a) bacias sanitárias de volume reduzido de descarga;

b) chuveiros e lavatórios de volumes fixos de descarga;

c) torneiras dotadas de arejadores.

Parágrafo único. Nas edificações em condomínio, além dos dispositivos previstos

nas alíneas “a”, “b” e “c” deste artigo, serão também instalados hidrômetros para medição

individualizada do volume de água gasto por unidade.

Art. 6º. As ações de Utilização de Fontes Alternativas compreendem:

I - a captação, armazenamento e utilização de água proveniente das chuvas e,

II - a captação e armazenamento e utilização de águas servidas.

Art. 7º. A água das chuvas será captada na cobertura das edificações e encaminhada

a uma cisterna ou tanque, para ser utilizada em atividades que não requeiram o uso de água

tratada, proveniente da Rede Pública de Abastecimento, tais como:

a) rega de jardins e hortas,

b) lavagem de roupa;

c) lavagem de veículos;

d) lavagem de vidros, calçadas e pisos.

Art. 8º. As Águas Servidas serão direcionadas, através de encanamento próprio, a

reservatório destinado a abastecer as descargas dos vasos sanitários e, apenas após tal

utilização, será descarregada na rede pública de esgotos.

Art. 9º. O combate ao Desperdício Quantitativo de Água, compreende ações

voltadas à conscientização da população através de campanhas educativas, abordagem do

tema nas aulas ministradas nas escolas integrantes da Rede Pública Municipal e palestras,

entre outras, versando sobre o uso abusivo da água, métodos de conservação e uso racional

da mesma.

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Art. 10. O não cumprimento das disposições da presente lei implica na negativa de

concessão do alvará de construção, para as novas edificações.

Art. 11. O Poder Executivo regulamentará a presente lei, estabelecendo os

requisitos necessários à elaboração e aprovação dos projetos de construção, instalação e

dimensionamento dos aparelhos e dispositivos destinados à conservação e uso racional da

água a que a mesma se refere.

Art. 12. Esta lei entra em vigor em 180 (cento e oitenta dias) contados da sua

publicação.

PALÁCIO 29 DE MARÇO, em 18 de setembro de 2003.

Cássio Taniguchi

PREFEITO MUNICIPAL