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i Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE REGIMES DE ESCOAMENTO - ENSAIO DE REYNOLDS Daniel Luís de Andrade Ribeiro Itatiba – São Paulo – Brasil Dezembro de 2008

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Curso de Engenharia Mecânica – Automação e

Sistemas

BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE REGIMES DE

ESCOAMENTO - ENSAIO DE REYNOLDS

Daniel Luís de Andrade Ribeiro

Itatiba – São Paulo – Brasil

Dezembro de 2008

i i

Curso de Engenharia Mecânica – Automação e

Sistemas

BANCADA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE REGIMES DE

ESCOAMENTO - ENSAIO DE REYNOLDS

Daniel Luís de Andrade Ribeiro

Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Engenharia Mecânica – Automação e Sistemas da Universidade São Francisco, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Júnior, como exigência parcial para conclusão do curso de graduação. Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Júnior

Itatiba – São Paulo – Brasil

Dezembro de 2008

i i i

Bancada didática para estudo dos regimes de

escoamento Ensaio de Reynolds

Daniel Luís de Andrade Ribeiro Monografia defendida e aprovada em 16 de dezembro de 2008 pela Banca Examinadora assim constituída: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Junior (Orientador)

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP. Prof. Dr. Eduardo Balster Martins (Membro Interno)

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP. Prof. Ms. Paulo Eduardo Silveira (Membro Interno)

USF – Universidade São Francisco – Itatiba – SP.

i v

“ A m e l h o r d e t o d a s a s c o i s a s é a p r e n d e r . O d i n h e i r o p o d e s e r p e r d i d o o u r o u b a d o , a s a ú d e e f o r ç a p o d e m f a l h a r , m a s o q u e v o c ê d e d i c o u à s u a m e n t e é s e u p a r a s e m p r e . ”

(Louis L’Amour)

v

Dedicatória

A o s m e u s p a i s J o r g e e S i r l e i , m e u s m a i o r e s m o t i v a d o r e s . À m i n h a e s p o s a A d r i a n a , q u e c o m s u a p a c i ê n c i a e a m o r s e m p r e c o m p r e e n d e u m i n h a f a l t a d e t e m p o . S o u e t e r n a m e n t e g r a t o a t o d o s .

v i

.Agradecimentos

P r i m e i r a m e n t e a g r a d e ç o a D e u s , s e n h o r d a m i n h a v i d a , q u e p e r m i t i u q u e e u c o m e ç a s s e e s t e c u r s o e c o n c e d e u -m e s a ú d e p a r a c o n c l u i - l o . A g r a d e ç o a o P r o f e s s o r P a u l o R . T a r d i n , m e u o r i e n t a d o r , q u e d e d i c o u s e u t e m p o p a r a m e d i r e c i o n a r e e n r i q u e c e r e s t e t r a b a l h o . A g r a d e ç o t a m b é m a o P r o f e s s o r J o s é R o b e r t o C o q u e t t o e a o T e c n ó l o g o O s v a l d o M a s s e l l i d a F A T E C - S P q u e c o m i m e d i a t a s o l i c i t u d e c o n t r i b u í r a m e n o r m e m e n t e c o m s u a s i d é i a s . A g r a d e ç o a o s t é c n i c o s d a U S F C e l s o e A b r a ã o , q u e p o r v á r i a s v e z e s m e a j u d a r a m n a m o n t a g e m d o a p a r a t o e x p e r i m e n t a l . A g r a d e ç o a o s m e u s p a i s J o r g e e S i r l e i q u e s e m p r e m e m o t i v a r a m n ã o d e i x a n d o q u e e u e s m o r e c e s s e m e s m o n o s m o m e n t o s d e m a i o r e s p r e s s õ e s . E m e s p e c i a l à m i n h a e s p o s a A d r i a n a q u e a b r i u m ã o d e m u i t o s m o m e n t o s d e l a z e r e c o m g r a n d e p a c i ê n c i a e c a r i n h o e s t e v e s e m p r e a o m e u l a d o . A o s m e u s a m i g o s C a s s i a n o , A n a e I e d a , q u e t a m b é m d e d i c a r a m s e u p r e c i o s o t e m p o p a r a m e a j u d a r n a e l a b o r a ç ã o d e s t e t r a b a l h o . M i g u e l , G i l s o n , V a l m i r , J a i m e e J o s é F i a l h o , m e u s c o l e g a s d e t r a b a l h o , c a d a u m c o m s u a s h a b i l i d a d e s e s p e c í f i c a s , c o n t r i b u í r a m e n o r m e m e n t e n o p r o j e t o d a b a n c a d a . A g r a d e ç o s i n c e r a m e n t e a t o d o s .

v i i

RESUMO

Um dos maiores obstáculos ao ensino da mecânica dos fluidos está na

impossibilidade de visualização de muitos dos fenômenos físicos envolvidos. Na

intenção de amenizar este inconveniente, o presente trabalho apresenta o projeto e a

construção de uma bancada didática para que os alunos dos cursos de Engenharia da

Universidade São Francisco, campus Itatiba, realizem estudos dos regimes de

escoamento da água em condutos circulares e cálculo do Número de Reynolds. O

Número de Reynolds tem muitas aplicações cotidianas, tais como, no estudo dos

lubrificantes, que são de suma importância para o funcionamento dos equipamentos

mecânicos, na indústria aeronáutica através do estudo da aerodinâmica e também

nas especificações de sistemas de bombeamento. O aprendizado destes conceitos

físicos é melhorado quando ocorre por meio da prática do aluno aliada à teoria

apresentada em sala de aula, por isso esta bancada didática visa estimular o processo

cognitivo dos alunos de Engenharia propiciando o conhecimento das interações

homem-natureza, foco do profissional deste campo de atuação. O trabalho

desenvolvido permitiu a visualização dos três regimes distintos de escoamento da

água em condutos e a análise comparativa entre os dados experimentais e a

classificação adotada por Reynolds e pela ABNT que demonstraram as dificuldades

em se conseguir a condição ideal para alcançar o regime laminar com Número de

Reynolds elevado. Como considerações para futuros estudos são sugeridas melhorias

na estrutura da base da bancada, projeto de um sistema de nível constante,

adequação da borda do tubo de vidro e alteração do tipo de registro de controle da

vazão.

Palavra chave: ensaio de Reynolds, aparato de Reynolds, escoamento, fluxo.

v i i i

ABSTRACT

One of the biggest difficulties to teach fluid mechanics is due to be impossible

the visualization of too many physics phenomenon. In the intention to become that fact

easier, the present work shows the project and build one of didactic apparatus to study

the water’s flow regimes inside pipes and determination of the Reynolds Number, by

the Engineering students from São Francisco University, in Itatiba. The Reynolds

Number has many quotidian applications, such as in the study of lubricants, which are

very important to mechanics equipments work well, in the aeronautic industry with the

study of aerodynamic and also in the design of pumps systems. The learning of those

physics concepts is improved when is made by the practical of student connected with

the theory showed in the classroom. The goal of this didactic apparatus is to stimulate

the student’s cognitive process giving them the knowledge of interactions man-

environment, the goal of the professional in this area of work. The developed work

allowed the visualization of the three distinct water’s flow regimes inside of pipes and

the analysis of comparison between the experimental and theoretical data showed the

difficulties to reach the ideal situation to see the laminar regime with high Reynolds

Number. As regards to the future works are indicated improvements in apparatus’s

structure, design a constant water level, to adapt the extreme of pipe and change the

kind of flow control valve.

Key word: Reynolds experiment, Reynolds apparatus, flow regimes

i x

SUMÁRIO R E S U M O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v i i A B S T R A C T . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v i i i S U M Á R I O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i x 1 I N T R O D U Ç Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.1 Objetivo ...................................................................................................................... 2 1.2 Justificativa ................................................................................................................ 2

2 R E V I S Ã O B I B L I O G R Á F I C A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.1 A Mecânica dos Fluidos .......................................................................................... 4 2.2 O Número de Reynolds ........................................................................................... 5 2.3 Aparato Experimental de Reynolds ....................................................................... 9

2.3.1 Bancada Didática ............................................................................................... 10 3 A S P E C T O S T E Ó R I C O S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 3

3.1 Fluido Newtoniano.................................................................................................. 13 3.2 Viscosidade ............................................................................................................. 14 3.3 Escoamento Viscoso Incompressível ................................................................. 15 3.4 Velocidade Média ................................................................................................... 17 3.5 O Ensaio de Reynolds ........................................................................................... 18

3.5.1 O Número de Reynolds – Grupo Adimensional................................................. 18 3.5.2 Escoamentos Laminar e Turbulento.................................................................. 20

4 M A T E R I A I S E M E T O D O L O G I A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1 4.1 O Protótipo .............................................................................................................. 21 4.2 A Bancada Didática Definitiva .............................................................................. 21

4.2.1 Reservatório de Vidro ........................................................................................ 22 4.2.2 Tubo de Vidro..................................................................................................... 23 4.2.3 Injetor ................................................................................................................. 24 4.2.4 Corante .............................................................................................................. 24 4.2.5 Reservatório do Corante .................................................................................... 25 4.2.6 Registro de Controle da Vazão .......................................................................... 25 4.2.7 Bomba Reposição de Água ............................................................................... 26 4.2.8 Tubulação .......................................................................................................... 26

5 R E S U L T A D O S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 7 5.1 Implementação ....................................................................................................... 27 5.2 Testes Realizados.................................................................................................. 27

5.2.1 Visualização dos Escoamentos ......................................................................... 27 5.2.2 Valores Experimentais x Classificação Reynolds e ABNT ................................ 29 5.2.3 Discussão........................................................................................................... 30

6 C O N C L U S Ã O E C O N S I D E R A Ç Õ E S P A R A F U T U R O S E S T U D O S . . . 3 3 7 A P Ê N D I C E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 4

7.1 APÊNDICE A - DESENHOS ................................................................................ 34 7.1.1 CONJUNTO 1 .................................................................................................... 34 7.1.2 CONJUNTO 2 .................................................................................................... 34 7.1.3 MONTAGEM INJETOR ..................................................................................... 34 7.1.4 RESERVATÓRIO DE VIDRO ............................................................................ 34 7.1.5 TUBO DE VIDRO............................................................................................... 34 7.1.6 MANCAL 1 ......................................................................................................... 34 7.1.7 MANCAL 2 ......................................................................................................... 34 7.1.8 TUBULAÇÃO DE DESCARGA.......................................................................... 34 7.1.9 INJETOR............................................................................................................ 34

7.2 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO ................................ 34 7.3 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO ............................................... 34

8 R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5 A P Ê N D I C E B - P L A N I L H A D E C U S T O S D O P R O J E T O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 6 A P Ê N D I C E C - R O T E I R O D O E X P E R I M E N T O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7

1

1 INTRODUÇÃO

O Número de Reynolds, um dos principais termos para compreensão de muitos

dos fenômenos da mecânica dos fluidos, tornou possível uma análise, de certa forma,

quantitativa, dos dois tipos existentes de escoamento, o laminar e o turbulento.

Quando o fluido escoa a baixas velocidades se faz presente o fluxo laminar, e as

forças que governam este tipo de escoamento são as forças viscosas. Quando a

velocidade aumenta, o fluxo laminar se transforma em fluxo de transição e as forças

de inércia começam a se sobrepor sobre as viscosas e por fim, quando as forças de

inércia se tornam dominantes em função da velocidade do fluido, surge o fluxo

turbulento. O parâmetro que caracteriza os tipos de fluxos e que relaciona as forças

de inércia e viscosas é a variável adimensional conhecida como Número de Reynolds.

O Número de Reynolds foi determinado em 1883, pelo Professor Irlandês

Osborne Reynolds quando publicou uma das suas mais famosas teses chamada “An

experimental investigation of the circumstances which determine whether motion of

water shall be direct or sinuous and of the law of resistance in parallel channels”. Esse

grupo adimensional facilitou o entendimento do comportamento da dinâmica dos

fluidos que permitiu grandes avanços nas diversas áreas da engenharia, tais como,

aeronáutica, transporte de fluidos, tribologia (estudo das interações de superfícies em

movimento relativo, que incorpora o estudo de lubrificantes), entre muitas outras.

O presente trabalho apresenta o projeto e a montagem de uma bancada didática

para reprodução do ensaio de Reynolds, permitindo a visualização e o estudo dos

regimes de escoamento. Visa gerar uma oportunidade da aplicação prática dos

conceitos aprendidos em sala de aula e auxiliar no aprendizado da disciplina Mecânica

dos Fluidos os estudantes dos cursos de Engenharia Industrial e Mecânica, da

Universidade São Francisco, campus Itatiba.

2

1.1 Objetivo

O objetivo deste trabalho é o projeto e a montagem de uma bancada didática

que apresentará visualmente os regimes de escoamento, laminar, de transição e

turbulento de um corante em meio a água. Objetiva também permitir o levantamento

dos valores experimentais de Reynolds os quais serão comparados com os valores

aceitáveis atualmente para cada regime apresentado.

A bancada ficará disponível no laboratório de mecânica dos fluidos do campus

Itatiba da Universidade São Francisco para uso das futuras turmas dos cursos de

Engenharia.

1.2 Justificativa

A experimentação foi a ferramenta utilizada por Reynolds para entendimento da

física envolvida no fenômeno de escoamento e por isso a efetividade desta técnica foi

a motivação para a elaboração do presente trabalho.

A importância da prática para aplicação da teoria é tratada por diversos autores

que abordam a teoria da aprendizagem, entre os quais se destacam Piaget, Dewey,

Lewin e Kolb que deu origem ao ciclo desta aprendizagem.

Nesse contexto, conforme Kury e Giorgetti(1993), Kolb desenvolveu um estudo

na Brigham Young University em Utah, Estados Unidos, que deu origem ao famoso

Ciclo de aprendizagem. Estudo este que tem como proposta o desenvolvimento do

processo de aprendizado dividido em quatro etapas. Cada etapa possui

características próprias imprescindíveis à aquisição de capacidades pelos alunos e

tem como intenção que o professor transmita a teoria através da experimentação

utilizando as quatro etapas mencionadas, com o intuito de atender todos os perfis de

alunos.

Ainda, segundo Kury e Giorgetti(1993), Kolb apresenta as quatro etapas

consideradas fundamentais para o aprendizado: a) sentir: é a maneira como o aluno

adquire uma nova informação, incluindo a interação entre o professor e o aluno e

seus valores pessoais, é a chamada experiência concreta; b) observar: é a maneira

como o aluno processa a informação, o momento em que ele separa a experiência e

3

observa o novo acontecimento sob vários pontos de vista – é a denominada

observação reflexiva; c) pensar: é a organização das informações através de

conceitos, teorias e princípios transmitidos pelo professor, também denominada de

conceitualização abstrata; d) fazer: é nesta etapa que o aluno realiza os testes para a

obtenção de respostas, trabalhando o real para obter resultados práticos, chamada

experimentação ativa.

Para Chaves (2002), “a teoria educacional considera o homem como um ser

integrado à natureza, capaz de aprender de sua experiência e da reflexão consciente

sobre ela, e motivado pelos seus propósitos”. Isto os leva a concluir que o

aprendizado ocorre por meio de experimentação da vivência do aluno aliada aos

conceitos teóricos apresentados em sala de aula, portanto o ciclo de Kolb é um

método adequado para proporcionar a interação entre teoria e experiência do aluno.

Com base nesta justificativa é possível afirmar que o presente trabalho

proporciona um ganho na cognição dos estudantes no aprendizado destes fenômenos

físicos.

4

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Mecânica dos Fluidos

A Mecânica dos Fluidos é, sem dúvida, umas das mais importantes disciplinas

da engenharia, pois seus princípios estão aplicados em diversas áreas do nosso

cotidiano, desde o estudo do escoamento de sangue nos capilares (que apresentam

diâmetro da ordem de poucos microns) até o escoamento de petróleo através de um

oleoduto (que pode apresentar diâmetro igual a 1,2 m), passando pelas áreas de

projetos de avião, aeroespacial, navios, irrigação, entre muitas outras.

Para que estes conhecimentos atingissem nosso tempo, muitos estudos foram

conduzidos por brilhantes personagens de nossa história que, antes de tudo,

observaram a prática para então aplicar suas teorias. “Se tens de lidar com água,

consulta primeiro a experiência, e depois a razão.” (LEONARDO da VINCI, 1452-1519

apud GRASSIA, 2007, p. 3).

Alguns dos problemas que estimularam o desenvolvimento da mecânica dos

fluidos foram o desenvolvimento dos sistemas de distribuição de água potável e para

irrigação, o projeto de barcos e navios e também de dispositivos para a guerra (como

flechas e lanças). Estes desenvolvimentos foram baseados no procedimento de

tentativa e erro e não utilizaram qualquer conceito de matemática ou da mecânica.

Entretanto, a acumulação de tal conhecimento empírico formou a base para o

desenvolvimento que acorreu durante a emergência da civilização grega antiga e

depois na ascensão do império romano. Alguns dos primeiros escritos, que podem ser

considerados sobre a mecânica dos fluidos moderna, são os de Arquimedes

(matemático e inventor grego, 287 – 212 AC) que descrevem, pela primeira vez, os

princípios da hidrostática e da flutuação. Os romanos construíram sistemas de

distribuição de água bastante sofisticados entre o quarto século AC até o período

inicial cristão e Sextus Julius Frontinus (engenheiro romano, 40 – 103 DC) os

descreveu detalhadamente. (MUNSON, YOUNG, OKIISHI, 1997, p. 25). Entretanto,

segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997), não foi possível identificar, durante a

idade média (também conhecida como a idade das trevas), qualquer tentativa para

adicionar algum conhecimento novo sobre o comportamento dos fluidos.

5

Ainda segundo Munson (YOUNG, OKIISHI, 1997), “Leonardo da Vinci (1452-

1519) descreveu, através de esquemas e escritos, muitos fenômenos envolvendo

escoamentos e os trabalhos de Galileu Galilei (1564 – 1642) marcaram o início da

mecânica experimental. Após o período inicial da renascença, e durante os Sécs. XVII

e XVIII, nós encontramos muitas contribuições importantes. Entre estas, encontramos

os progressos teóricos e matemáticos associados aos nomes famosos de Newton,

Bernoulli, Euler e d’Alembert. Durante o Séc. XIX, as equações diferenciais gerais que

descrevem os movimentos dos fluidos e que são utilizadas na mecânica dos fluidos

moderna foram desenvolvidas.” (MUNSON, YOUNG, OKIISHI, 1997, p. 25). E foi

neste período que Osborne Reynolds (1842–1912), segundo Munson (YOUNG,

OKIISHI, 1997, p. 25), descreveu experimentos originais em muitos campos –

cavitação, similaridade de escoamentos em rios, resistência nos escoamentos em

tubulações e propôs dois parâmetros de similaridade para escoamento viscoso;

adaptou a equação do movimento de um fluido viscoso para as condições médias dos

escoamentos turbulentos e definiu o Número de Reynolds.

2.2 O Número de Reynolds

O número de Reynolds, também chamado de módulo ou coeficiente de

Reynolds [Re], é resultado de um grupo adimensional que relaciona as forças inerciais

com as forças de viscosidade de um fluido, sendo fundamental no projeto de sistemas

de bombeamento, de tubulações industriais, asas de avião, sistemas aerodinâmicos,

entre muitos outros, pois através dele é determinado o regime de escoamento de um

fluido sobre uma superfície.

Em 1839, em experiências independentes e simultâneas, efetuadas por Hagen

(1797 – 1884) e por Poiseuille (1799 – 1869) sobre o movimento de líquidos em tubos

de pequeno diâmetro, foi observado que a pressão diminui com o valor da velocidade

de forma linear, quando a velocidade é baixa. Também observaram que essa lei de

variação não é válida para altas velocidades. Notaram ainda a dependência do

diâmetro do tubo e da temperatura do líquido nesse fenômeno. Segundo Munson

(YOUNG, OKIISHI, 1997), Poiseuille estava interessado no escoamento de sangue

nos vasos capilares e deduziu experimentalmente as leis de resistência ao

escoamento laminar em tubos.

6

Em 1877, Osborne Reynolds (1842–1912), físico e engenheiro irlandês,

descreveu métodos para tornar os movimentos de um líquido visíveis por meio de

faixas de cores. Esta mesma técnica de visualização foi usada novamente em seu

estudo de fluxo laminar e turbulento em tubos. (JACKSON, LAUDER, 1997)

Em 1883, Reynolds desenvolveu o aparato experimental esquematizado na

figura 2-1 e com mais detalhes na figura 2-2, que consiste de um tubo transparente

inserido em um recipiente de vidro cheio d’água e à entrada deste tubo é interligado

um capilar que injeta corante no seu centro, proveniente de um reservatório externo.

Ao abrir a válvula de haste longa, observa-se a formação de um filete retilíneo de

corante e ao abrir mais a válvula a velocidade aumenta e o filamento se difunde na

água.

Figura 2-1 – Ilustração do Aparato Experimental de Reynolds (sem escala)

(http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf).

Figura 2-2 – Esquema do Aparato Experimental de Reynolds

(http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf).

7

Com este aparato, Reynolds (1883) demonstrou a existência de dois tipos de

escoamentos: “o primeiro onde os elementos do fluido seguem ao longo de linhas de

movimento e que vão da maneira mais direta possível ao seu destino, e outro em que

se movem em trajetórias sinuosas da maneira mais indireta possível”, seguindo a

redação original de seu relato (REYNOLDS, 1883 apud JACKSON, LAUNDER, 1997).

Mais tarde foram chamados de escoamento laminar e o escoamento turbulento.

No regime laminar, a estrutura do escoamento é caracterizada pelo movimento

em lâminas ou camadas. A estrutura do escoamento no regime turbulento é

caracterizada pelo movimento tridimensional aleatório das partículas do fluido

sobreposto ao movimento da corrente. (FOX & McDONALD, 2001).

Após várias investigações teóricas e experimentais, Reynolds concluiu que o

critério mais apropriado para se determinar o tipo de escoamento de uma canalização

não se atém exclusivamente ao valor da velocidade, mas a uma expressão

adimensional na qual a viscosidade do fluido também é levada em consideração. Este

adimensional passou a ser conhecido como Número de Reynolds. Segundo Rott

(1990), em 1908 Arnold Sommerfeld apresentou um artigo sobre estabilidades

hidrodinâmicas no 4th International Congress of Mathematicians em Roma e na

equação conhecida hoje como a equação de Orr-Sommerfeld, a qual introduziu o

número R e o chamou de número de Reynolds. Terminologia que não se alterou até

hoje e se disseminou para todos os ramos da mecânica dos fluidos.

O número de Reynolds é expresso da seguinte maneira:

µ

ρVD=Re (1)

Onde,

ρ - massa específica do fluido

V - velocidade média de escoamento

D - diâmetro interno da tubulação

µ - viscosidade dinâmica do fluido

Sendo,

ρ

µν =

8

Onde,

ν - viscosidade cinemática do fluido

Temos,

ν

VD=Re (2)

Onde V é dado por:

2

4

D

QV

π= (Q é a vazão) (3)

Com os resultados de seus estudos, Reynolds estabeleceu que:

→≤ 2000Re tem-se o escoamento laminar

→<< 2400Re2000 tem-se o escoamento de transição

→≥ 2400Re tem-se o escoamento turbulento

A classificação atual estabelecida pela ABNT difere um pouco da estabelecida por

Reynolds e é a seguinte:

→≤ 2000Re tem-se o escoamento laminar

→<< 4000Re2000 tem-se o escoamento de transição

→≥ 4000Re tem-se o escoamento turbulento (IGNÁCIO, 2008)

Para Fox e McDonald (2001), muito embora para 2300Re > o escoamento seja

quase sempre turbulento e para 2300Re < o escoamento seja laminar, não há, na

verdade, um valor definido para o número de Reynolds no qual o escoamento muda

de laminar para turbulento. Há uma gama de valores de Re na qual o escoamento irá

mudar de laminar para turbulento. Assim, faz mais sentido falar em um limite inferior

do número de Reynolds, Re inferior, abaixo do qual o escoamento será sempre

laminar, e um limite superior, Re superior, acima do qual o escoamento será sempre

turbulento, independente do diâmetro de entrada da tubulação.

9

Vale ressaltar que Shames (1973) afirma que sob condições experimentais

cuidadosamente controladas, usando um tubo bem liso e permitindo que o fluido

permanecesse sem perturbações no tanque principal por longos períodos antes do

ensaio, verificou-se que o escoamento laminar pode ser mantido para números de

Reynolds até cerca de 40.000. Todas as experiências até o momento indicaram que

abaixo de 2.300 pode existir escoamento apenas laminar. Assim, acima de 2.300 pode

ocorrer uma transição, dependendo da extensão das perturbações locais. Este valor é

chamado de número de Reynolds crítico. Abaixo do número de Reynolds crítico, o

amortecimento presente é suficiente para eliminar os efeitos de qualquer perturbação

local e, desta forma, o escoamento é sempre bem ordenado. Nos problemas práticos,

usualmente existe suficiente perturbação local para provocar a turbulência sempre

que se ultrapasse o número de Reynolds crítico.

2.3 Aparato Experimental de Reynolds

O aparato experimental projetado e construído por Osborne Reynolds, o qual

utilizou para demonstrar os escoamentos laminar e turbulento em 1883, mostrado na

figura 2-3, pode ser visto atualmente na University of Manchester, na Inglaterra. Suas

dimensões básicas são C, A, L, 1,83m x 0,45 m x 0,45 m.

Figura 2-3 – Aparato Experimental Original de Reynolds

(http://www.annualreviews.org).

1 0

2.3.1 Bancada Didática

Para que se pudesse reproduzir posteriormente o experimento de Reynolds,

novos aparatos foram construídos, entre eles as bancadas didáticas, utilizadas

principalmente em Universidades para auxílio no processo de aprendizagem.

Na Inglaterra, a Empresa Cussons Technology Ltd., fundada no final do século

XIX, produz equipamentos didáticos para ensino da Engenharia, tendo como um dos

produtos o “Osborne Reynolds Apparatus”, mostrado na figura 2-4. Dimensões

básicas C, A, L, 1,0m x 0,50m x 0,50m.

Figura 2-4 – Bancada Didática para Ensaio de Reynolds mod. P 6248

(http://www.cussons.co.uk).

Outra forma construtiva do aparato experimental de Reynolds é a fabricada pela

Empresa Inglesa, Armfiel Inc., que pode ser visualizada na figura 2-5. Com sua

construção que direciona verticalmente o fluxo, objetiva-se compensar o efeito de

alguma variação na densidade relativa entre o pigmento e o fluido principal ou de

trabalho. Suas principais dimensões são: 1,63m de altura x 0,61m de diâmetro.

1 1

Figura 2-5 – Aparato Experimental Vertical para Ensaio de Reynolds

(http://www.armfield.co.uk).

Na revisão bibliográfica realizada, não foi encontrada no Brasil empresa que

produza de forma seriada a bancada didática para o ensaio de Reynolds, o que leva a

concluir que muitas universidades utilizam bancadas construídas artesanalmente

como as mostradas nas figuras 2-6, 2-7 e 2-8.

Figura 2-6 – Bancada Didática da Universidade Federal de Santa Catarina (http://www.labtermo.ufsc.br/Link.html).

1 2

Figura 2-7 – Bancada Didática da Universidade Santa Cecília

(http://www.unisanta.br/laboratorios/mecanica/laboratorio_mecanica_fluido.htm).

Figura 2-8 – Bancada Didática da FATEC-SP

Baseado no exposto, comprova-se que a experiência de Osborne Reynolds

muito contribuiu para o entendimento da mecânica dos fluidos, que por sua vez é

disciplina básica para o desenvolvimento tecnológico de quase todas as áreas de

atuação humana.

1 3

3 ASPECTOS TEÓRICOS

3.1 Fluido Newtoniano

Para Fox e McDonald (2001) um fluido é uma substância que se deforma

continuamente sob a ação de uma tensão de cisalhamento.

Fluidos para os quais a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à

taxa de deformação são denominados fluidos newtonianos. Água, ar e gasolina são

exemplos de fluidos que possuem comportamento muito próximo ao newtoniano.

(FOX & McDONALD, 2001).

A figura 3-1 ilustra o comportamento de um elemento de fluido entre duas placas

infinitas.

Figura 3-1 – Deformação de Um Elemento de Fluido

(Fox & McDonald, 2001)

Conforme Fox e McDonald (2001), a placa superior movimenta-se a velocidade

constante, δu, sob a influência de uma força aplicada constante, δFx. A tensão de

cisalhamento, τyx, aplicada ao elemento de fluido é dada por

dAy

dFx

Ay

FxAyyx

== →δ

δτ δ 0

lim (4)

onde δAy é a área do elemento de fluido em contato com a placa. No incremento de

tempo, δt, o elemento de fluido é deformado da posição MNOP para a posição

M’NOP’. A taxa de deformação do fluido é dada por

taxa de deformação = dt

dx

t

xt =→

δ

δδ 0lim (5)

1 4

O fluido é newtoniano se

dt

dyx

ατ ∝= (6)

Cálculo da tensão de cisalhamento, τyx, para a figura 3-1: a distância δl entre os

pontos M e M’ é dada por

tul δδδ =

δαδδ yl ≈

Equacionando-se estas duas expressões para δl, resulta

y

u

t δ

δ

δ

δα=

e, ao tomar-se o limite de ambos os lados da igualdade, obtém-se

dy

du

dt

d=

α

Assim, se o fluido da figura 3-1 é newtoniano,

dy

duyx

µτ = (7)

A tensão de cisalhamento age num plano normal ao eixo dos y.

3.2 Viscosidade

Conforme Fox e McDonald (2001), ao considerar-se a deformação de dois

fluidos newtonianos diferentes, digamos, glicerina e água, sabe-se que eles irão

deformar-se a taxas de deformação distintas sob a ação da mesma tensão de

cisalhamento aplicada. A glicerina possui uma resistência muito maior à deformação

do que a água. Por isso, diz-se que ela é muito mais viscosa. A constante de

proporcionalidade na Eq. 7 é a viscosidade absoluta (ou dinâmica), µ. Assim, em

termos das coordenadas da figura 3-1, a lei da viscosidade de Newton é dada por

1 5

dy

duyx

µτ = (8)

Em mecânica dos fluidos, aparece seguidamente a razão entre a viscosidade

absoluta, µ, e a massa específica, ρ. A este quociente é dado o nome viscosidade

cinemática, que é representada pelo símbolo υ. (FOX & McDONALD, 2001).

3.3 Escoamento Viscoso Incompressível

Escoamentos completamente limitados por superfícies sólidas isto é,

escoamentos em dutos, são chamados de escoamentos internos.(FOX &

McDONALD, 2001). Os escoamentos no interior de tubos, dutos e bocais são

exemplos de escoamentos internos.(SHAMES, 1973).

Segundo Fox e McDonald (2001), em qualquer escoamento viscoso, o fluido em

contato direto com uma superfície limite sólida possui a mesma velocidade que a

própria superfície.

Mesmo a velocidade do fluido numa superfície sólida estacionária em um fluido

em movimento sendo nula, mas o fluido como um todo está se movendo, gradientes

de velocidade e, conseqüentemente, tensões de cisalhamento devem estar presentes

no escoamento. As tensões de cisalhamento, por sua vez, afetam o movimento. (FOX

& McDONALD, 2001).

A figura 3-2 ilustra o escoamento laminar na região de entrada de uma

tubulação circular. O escoamento é uniforme na entrada do tubo com velocidade U0.

Devido à condição de não-deslizamento na parede, sabe-se que a velocidade na

parede deve ser zero ao longo de todo o comprimento do tubo. Uma camada limite se

desenvolve ao longo das paredes do canal. A superfície sólida exerce uma força de

cisalhamento retardante sobre o escoamento. Assim sendo, a velocidade do fluido na

vizinhança da superfície é reduzida. (FOX & McDONALD, 2001).

1 6

Figura 3-2 – Perfil de Velocidade para um Escoamento Laminar em um Tubo

(http://www.exatec.unisinos.br)

Para Ignácio (2008), um dado escoamento é considerado incompressível,

quando para a variação de pressão observada ao longo do escoamento, tem-se uma

variação de volume desprezível. Considerando que neste tipo de escoamento existem

variações pequenas de temperatura, pode-se afirmar que tanto a massa específica,

como o peso específico, permanecem constantes ao longo do mesmo.

Conforme Fox e McDonald (2001), para escoamento incompressível, a

velocidade na linha central do tubo deve aumentar com a distância, a partir da

entrada, de modo a satisfazer a equação da continuidade. Entretanto, a velocidade

média numa seção qualquer

∫=área

udAA

U1

deve ser igual a U0; assim,

.0

cteUU == (9)

Suficientemente afastada da entrada do tubo, a camada limite desenvolvendo-se

na parede do tubo alcança a linha central deste. A distância a jusante da entrada até o

local em que a camada limite atinge a linha central é chamada de comprimento de

entrada. Além do comprimento de entrada, o perfil de velocidade não mais varia com

a distância x, e o escoamento encontra-se completamente desenvolvido. A forma real

do perfil de velocidade completamente desenvolvido depende de o escoamento ser

1 7

laminar ou turbulento. Na figura 3-2, o perfil é mostrado de forma qualitativa para um

escoamento laminar. (FOX & McDONALD, 2001).

Segundo Fox e McDonald (2001), o comprimento de entrada, L, é uma função

do número de Reynolds,

Re06,006,0 ≈≅µ

ρ DV

D

L (10)

3.4 Velocidade Média

Como já citado anteriormente, a velocidade em uma seção do escoamento

varia de 0, junto a parede, até Vmáx, no eixo do conduto, conforme ilustrado pelo

perfil de velocidade na figura 3-2.

Considerando um ponto fluido e levando-se em conta a hipótese do contínuo,

temos o que demonstra a figura 3-3:

Figura 3-3 – Esquema Velocidade do Ponto Fluido

(http://www.escoladavida.eng.br)

Segundo Ignácio (2008), é possível determinar a vazão através da seção

transversal considerada integrando-se ambos os membros da equação constante na

figura 3-3, o que resulta:

∫=Q (função da velocidade).dA

S e ç ã o S e ç ã o S e ç ã o S e ç ã o T r a n s v e r s a l d e T r a n s v e r s a l d e T r a n s v e r s a l d e T r a n s v e r s a l d e u m C o n d u t o u m C o n d u t o u m C o n d u t o u m C o n d u t o

F o r ç a d oF o r ç a d oF o r ç a d oF o r ç a d o

1 8

Através das equações AUQ .= e ∫=Q (função da velocidade).dA, obtêm-

se a expressão utilizada para o cálculo da velocidade média em condutos.

∫=A

U1

(função da velocidade).dA (11)

3.5 O Ensaio de Reynolds

3.5.1 O Número de Reynolds – Grupo Adimensional

A experiência clássica de Osborne Reynolds, publicada em 1883, ainda é usada

para evidenciar a diferença qualitativa entre o escoamento laminar e o turbulento.

Segundo Fox e McDonald (2001) nesta experiência Reynolds descobriu que o

parâmetro

υµ

ρ DVDV==Re

é um critério pelo qual o estado de um escoamento pode ser determinado. Mais tarde,

experiências demonstraram que o número de Reynolds é também um parâmetro-

chave em outros casos de escoamento. Assim, em geral

υµ

ρ VLVL==Re

onde L é um comprimento característico descritivo do campo de escoamento.

O significado físico do número de Reynolds pode ser percebido mais facilmente

ao ser reescrito na forma

2

22

)/(/

1Re

LLV

LV

LLL

L

V

VVLVL

µ

ρ

µ

ρ

µ

ρ=== (12)

Na sua forma final, esta expressão pode ser interpretada da seguinte maneira:

1 9

~22 LVρ (pressão dinâmica) x (área) ~ força de inércia

Ainda que a força de inércia seja definida pela segunda lei de movimento de

Newton ou Princípio da Proporcionalidade ou Lei de Força - "Ponto material sujeito à

ação de uma força F adquire aceleração a, de mesma direção e sentido que a força e

módulo |a| proporcional à intensidade de F; o coeficiente de proporcionalidade é um

escalar essencialmente positivo que 'mede' a inércia do ponto - sua massa -":

F = m.a (13)

Considerando:

(a) a massa é uma grandeza escalar;

(b) a massa é sempre um escalar positivo;

(c) a massa - como indicativo da inércia do ponto material - é o 'coeficiente de

resistência da matéria' ao movimento ou à variação de movimento que se lhe quer

comunicar;

(d) a massa caracteriza a inércia de cada tipo de matéria e sua particular substância;

(e) a massa de um sistema de pontos materiais (rígido ou não) é a soma das massas

dos pontos que definem o sistema;

~2L

L

Vµ(tensão viscosa) x (área) ~ força viscosa

e

~Re forças de inércia (14) forças viscosas

Assim, o número de Reynolds pode ser considerado como um quociente entre

as forças de inércia e as forças viscosas.

2 0

3.5.2 Escoamentos Laminar e Turbulento

Pode-se demonstrar pela experiência clássica de Reynolds a diferença

qualitativa entre as naturezas dos escoamentos laminar e turbulento. (FOX &

McDONALD, 2001).

Sendo um tubo de vidro no qual a água escoa com uma certa velocidade média,

no centro do tubo introduz-se, mediante um tubo capilar, um fino jato de corante

solúvel em água, de modo que se injeta um filamento delgado do corante na água; a

velocidade da corrente de corante é igual à da água no ponto de injeção. Quando a

velocidade é baixa, o filamento de corante retém a sua identidade na corrente de

água, e tem uma ligeira tendência a alargar-se em virtude da difusão molecular.

Quando a velocidade média da água é um pouco maior, o filamento do corante

fraciona-se em um número finito de turbilhões de grande tamanho. Mais para a

jusante do fluxo, os turbilhões se subdividem e o corante injetado tende a ficar

homogeneamente dispersado. Em velocidade média muito mais elevada, a atividade

dos turbilhões fica extremamente violenta e a região da coloração homogênea

aproxima-se do ponto de entrada do corante, (FOUST at al., 1982). conforme verifica-

se na figura 3-4.

Figura 3-4 – Comportamento do Corante nos Tipos de Escoamento (http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf).

2 1

4 MATERIAIS E METODOLOGIA

Conforme demonstrado existem vários modelos de bancadas e aparatos para

realização dos ensaios de visualização dos regimes de escoamento, cada um com

suas características específicas. Para o presente trabalho o modelo projetado tem

como referência o aparato original construído por Reynolds em 1883.

4.1 O Protótipo

Por questões práticas e financeiras optou-se pela construção de um protótipo da

bancada utilizando materiais alternativos e de baixos custos para testar a efetividade

do modelo escolhido, conforme mostrado na figura 4-1.

Figura 4-1 – Vista Geral do Protótipo da Bancada Didática

O teste com o protótipo apresentou resultados satisfatórios quanto à

visualização distinta dos tipos de escoamento e possibilitou a verificação de pontos a

serem melhorados para a bancada definitiva, tais como, vedação do injetor (tubo de

inox x agulha), registro com maior precisão na tubulação de descarga e redução no

comprimento do tubo de vidro.

4.2 A Bancada Didática Definitiva

Com os resultados positivos do protótipo, o trabalho foi continuado com o projeto

e a elaboração do desenho de conjunto da bancada definitiva, conforme mostrado na

figura 4-2 e mais detalhadamente no apêndice A, e também com o levantamento da

2 2

lista de materiais, a qual foi apresentada à Coordenação do curso de Engenharia

Mecânica – Automação e Sistemas, cujo custos estão mostrados no apêndice B,

sendo aprovada a compra dos seus itens.

Figura 4-2 – Desenho de montagem do aparato definitivo

4.2.1 Reservatório de Vidro

Das formas usuais de se armazenar a água nos aparatos para ensaio de

Reynolds, a caixa de vidro é uma das mais eficientes, pois reduz consideravelmente

um problema crucial para análise dos regimes de escoamento, a turbulência ou

formação de vórtice na água após contato com algum anteparo ou obstáculo, pois o

tubo de visualização fica dentro do reservatório de vidro e submerso, fazendo com

que a entrada da água ocorra com poucas perturbações, conforme figura 4-3.

1 2 3

4

5

6

1 - R e s e r v a t ó r i o d e V i d r o 2 - T u b o d e V i d r o 3 - T u b u l a ç ã o d e D e s c a r g a 4 - H a s t e U n i v e r s a l 5 - F u n i l d e S e p a r a ç ã o 6 - I n j e t o r

2 3

Figura 4-3 – Reservatório de Vidro

O reservatório possui um volume de 49 litros o que permite, no mínimo, a

visualização de um tipo de escoamento por vez, sendo necessária a reposição do

nível para a realização da próxima visualização. As medidas do reservatório são:

510mm de comprimento, 300mm de largura e 320mm de altura com espessura do

vidro de 6mm.

4.2.2 Tubo de Vidro

O diâmetro do tubo de vidro escolhido precisava permitir uma boa visualização

do escoamento aliada a uma velocidade do fluxo tal que permitisse alcançar número

de Reynolds dentro dos três tipos de escoamento, laminar, de transição e turbulento.

Para isso o tubo de vidro temperado foi dimensionado simulando em uma planilha

eletrônica o número de Reynolds alcançado com a fixação do tempo de escoamento

em 20 segundos, conforme mostra tabela 4-4.

Com base na simulação, a especificação determinada para o tubo de vidro foi:

diâmetro interno de 20mm, espessura da parede de 2mm e comprimento 550mm.

νννν Vol t D v Re

m2/s ml s mm cm/s Visualização

(1)

10-6 1300,0 20,0 20,0 20,7 4138 Turbulento

10-6 800,0 20,0 20,0 12,7 2546 Transição

10-6 400,0 20,0 20,0 6,4 1273 Laminar (1) Conforme classificação atual ABNT.

Tabela 4-4 – Simulação Número de Reynolds para Determinação do Diâmetro do Tubo

2 4

4.2.3 Injetor

Para a construção do injetor do corante foi utilizada uma agulha do tipo

veterinária em aço inoxidável, com 25 mm de comprimento e com furo de diâmetro

1mm, conforme figura 4-4. Para a condução do corante do reservatório até a agulha,

foi utilizado um tubo em aço inox 316L com diâmetro interno de 4 mm e espessura de

parede de 1 mm. A opção pelo inox 316L foi pela disponibilidade deste material,

porém, poderia ter sido utilizado tubo em aço inox 304, que apresenta um menor custo

e resistência suficiente ao ataque químico considerando o fluido água a temperatura

ambiente.

Figura 4-4 – Injetor do Corante com Detalhe da Agulha

4.2.4 Corante

O corante mais utilizado para a realização do ensaio de Reynolds é o

permanganato de potássio, encontrado no mercado em forma de pó e que

proporciona uma coloração arroxeada intensa quando dissolvido em água, essa

característica garante um bom contraste, contudo a desvantagem deste material

reside no entupimento do injetor que pode ser causado com a decantação das

pequenas partículas sólidas existentes neste corante, além de manchar o interior do

tubo de vidro exigindo limpeza periódica. Para evitar estes inconvenientes foi utilizado

neste projeto corante alimentício líquido na cor vermelha, totalmente solúvel em água.

2 5

4.2.5 Reservatório do Corante

Para armazenamento do corante foi utilizado um funil de separação em vidro

com válvula em polipropileno, de volume de 250ml, conforme figura 4-5.

Figura 4-5 – Reservatório do Corante

4.2.6 Registro de Controle da Vazão

O controle da vazão da água é realizado por um registro típico de chuveiro bitola

25mm , marca Tigre código 27.95.219.4, em material plástico (PVC e ABS), conforme

figura 4-6. A escolha de um registro que permite uma regulagem fina da vazão é de

grande importância no ajuste da visualização do Reynolds crítico.

Figura 4-6 – Registro de Controle da Vazão

2 6

4.2.7 Bomba Reposição de Água

A bomba mostrada na figura 4-7 da marca Sarlo, Modelo Better 250, com motor

110V, e vazão 280 l/h tem a função de repor o nível de água dentro do reservatório de

vidro.

Figura 4-7 – Bomba Marca Sarlo para Reposição de Água

4.2.8 Tubulação

O sistema de tubulação foi feito em PVC e mangueira cristal. Estes materiais de

baixos custos têm resistência suficiente para trabalho com água à temperatura

ambiente. Os materiais utilizados para a montagem da tubulação foram:

• 1m tubo de PVC Ø externo 25mm

• 1m mangueira cristal Ø ¾”;

• 1 luva de PVC Ø interno 25mm;

• 1 joelho de PVC Ø interno 25mm;

2 7

5 RESULTADOS 5.1 Implementação

A bancada implementada está mostrada na figura 5-1.

Figura 5-1 – Visão Geral da Bancada Didática

5.2 Testes Realizados

5.2.1 Visualização dos Escoamentos

Para avaliação do funcionamento da bancada foram realizados testes e

simulações os quais demonstraram que a visualização dos três tipos de escoamento

foi alcançada com sucesso, como se pode observar na figura 5-2 o escoamento

laminar, na figura 5-3 o escoamento de transição e o escoamento turbulento na figura

5-4.

2 8

Figura 5-2 – Visualização do Escoamento Laminar

Figura 5-3 – Visualização do Escoamento de Transição

Figura 5-4 – Visualização do Escoamento Turbulento

2 9

5.2.2 Valores Experimentais x Classificação Reynolds e ABNT

Para cumprimento da segunda parte do objetivo deste trabalho foram levantadas

experimentalmente as vazões para várias aberturas do registro, das quais foram

calculadas as respectivas velocidades e então determinados os valores de Reynolds

para comparação com a classificação estabelecida por Osborne Reynolds, em sua

famosa experiência, como também com os valores estabelecidos pela ABNT, como se

pode verificar nas figuras 5-5 e 5-6, respectivamente.

Obs.: Foi adotada para os cálculos a viscosidade cinemática da água à

temperatura 20ºC, ou seja, 1,00 x 10-6 m²/s.

Figura 5-5 – Velocidade vs. Nº de Reynolds – Gráfico Comparativo Entre a Visualização Experimental e Parâmetros Conforme Osborne Reynolds

Visualização EscoamentosExperimental x Reynolds

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

1 251 501 751 1001 1251 1501 1751 2001 2251 2501 2751 3001 3251 3501 3751 4001 4251 4501 4751 5001 5251 5501 5751

Nº de Reynolds

Vel

oci

dad

e [c

m/s

]

Laminar

Transição

Turbulento

conforme Reynolds

Experimental

Laminar

Transição

Turbulento

R e C r í t i c o 1 6 0 4

R e C r í t i c o 2 3 7 2

3 0

Figura 5-6 – Velocidade vs. Nº de Reynolds – Gráfico Comparativo Entre a Visualização Experimental e Parâmetros Conforme ABNT

5.2.3 Discussão

Para as duas comparações, as figuras 5-5 e 5-6 mostram claramente que nos

ensaios experimentais a faixa de Reynolds para o regime laminar foi menor do que se

esperava. Isto significa que existiram algumas fontes de interferência durante a

obtenção dos dados. Estas fontes podem ser atribuídas à não estabilidade total da

água dentro do reservatório de vidro, o que demandaria um longo tempo para

alcançá-la, à falta de uma estrutura de base mais rígida do que a mesa de madeira e

um registro de controle da vazão sem ajuste preciso.

Outro fato relevante é a diminuição da coluna d’água acima do tubo de vidro que

vai ocorrendo durante a realização do ensaio e que apesar de não ter influenciado na

visualização dos regimes, influenciou nos valores do número de Reynolds. O cálculo

do número de Reynolds, feito com o registro de controle de vazão 100% aberto

mostrando um escoamento turbulento, demonstra com clareza esta interferência. A

primeira medição foi realizada com o reservatório de vidro no seu nível máximo e a

Visualização EscoamentosExperimental x ABNT

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

1 251 501 751 1001 1251 1501 1751 2001 2251 2501 2751 3001 3251 3501 3751 4001 4251 4501 4751 5001 5251 5501 5751

Nº de Reynolds

Vel

oci

dad

e [c

m/s

]

Laminar

Transição

Turbulento

conforme ABNT

Laminar

Transição

TurbulentoExperimental

R e C r í t i c o 1 6 0 4

R e C r í t i c o 2 3 7 2

3 1

segunda no nível mínimo e resultaram nos seguintes valores para Reynolds: 3905 e

2928, respectivamente.

Por isso foi necessário estabelecer o limite mínimo do reservatório de vidro. Este

limite foi estabelecido após várias medições que indicaram a menor coluna d’água

necessária para a realização do ensaio sem grande interferência na visualização dos

regimes. Estes limites estão mostrados na figura 5-7.

Figura 5-7 – Detalhe das Indicações dos Níveis Máximo e Mínimo do Reservatório

Importante também é conseguir a equalização das velocidades do corante com

a água dentro do tubo de vidro, a fim de se evitar o efeito jet mixing, que gera um fluxo

turbulento do corante mesmo com mínimas vazões devido à diferença de velocidade

entre os fluidos. Para isso é necessário um ajuste cuidadoso da válvula do funil de

separação, aplicando a esta uma pequena abertura.

Quanto à diferença na visualização dos regimes experimentais de transição e

turbulento, quando comparados aos parâmetros estabelecidos pela ABNT, é possível

afirmar que as mesmas fontes que causam a interferência no regime laminar, citadas

anteriormente, podem explicar as diferenças.

No entanto, quando comparamos com a classificação realizada por Reynolds

em 1883, verificamos a faixa experimental de transição maior e a faixa de regime

3 2

turbulento praticamente igual, o que leva a concluir que o fato de se utilizar um

aparato experimental similar ao de Reynolds, trouxe resultados aproximados.

Os valores médios experimentais de Reynolds crítico laminar-para-transição e

transição-para-turbulento, foram 1604 e 2372, respectivamente. Já os valores da

classificação estabelecida por Reynolds, são 2000 e 2400. Daí pode-se concluir que a

bancada didática possibilitou resultados com variação de 20% e 2%, respectivamente.

Ou ainda, 20% e 41% de variação quando comparados com a classificação atual da

ABNT.

3 3

6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS

O legado de Osborne Reynolds no campo da mecânica dos fluidos, em

particular o estudo dos regimes de escoamento, facilitou o entendimento dos

complexos fenômenos relacionados ao movimento dos fluidos. Uma frase atribuída à

Galileu Galilei (1564-1642) mostra a dimensão desta complexidade “Mais fácil me foi

encontrar as leis com que se movem os corpos celestes, que estão a milhões de

quilômetros, do que definir as leis do movimento da água, que escoa frente aos meus

olhos.” (GALILEU GALILEI, 1564-1642 apud GRASSIA, 2007, p. 7).

O trabalho desenvolvido e os resultados alcançados permitiram afirmar que os

objetivos propostos foram atingidos, a visualização dos três regimes distintos de

escoamento da água em condutos foi conseguida e a análise comparativa entre os

dados experimentais e a classificação estabelecida por Reynolds e pela ABNT

confirmaram o que foi citado na revisão bibliográfica a respeito das dificuldades em se

conseguir uma situação ideal para alcançar o regime laminar com Número de

Reynolds elevado. O maior índice alcançado na bancada didática foi 1867 para regime

laminar, ainda que a classificação da ABNT e de Reynolds indique para esta situação

Número de Reynolds igual a 2000.

Assim, a bancada didática com o auxilio do roteiro experimental mostrado no

apêndice C, permitirão aos alunos das futuras turmas dos cursos de Engenharia do

campus Itatiba da Universidade São Francisco, o uso de uma ferramenta prática para

facilitar o aprendizado da teoria exposta em sala de aula e motivará uma análise

critica das diferenças encontradas, o que é de grande importância nesta área do

conhecimento, como foi mostrado no inicio do presente trabalho.

Como considerações para os futuros estudos são sugeridas melhorias na

estrutura da base da bancada, tornando-a mais rígida e dessa forma mais resistente a

perturbações externas, desenvolvimento de sistema de nível constante da água dentro

do reservatório de vidro, uso de boca de sino no tubo de vidro diminuindo os vórtices

que causam turbulência na entrada da água e utilização de um registro que possibilite

um controle mais preciso da vazão da água, possivelmente uma válvula do tipo

agulha.

3 4

7 APÊNDICE

7.1 APÊNDICE A - DESENHOS 7.1.1 CONJUNTO 1 7.1.2 CONJUNTO 2 7.1.3 MONTAGEM INJETOR 7.1.4 RESERVATÓRIO DE VIDRO 7.1.5 TUBO DE VIDRO 7.1.6 MANCAL 1 7.1.7 MANCAL 2 7.1.8 TUBULAÇÃO DE DESCARGA 7.1.9 INJETOR

7.2 APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO

7.3 APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO

3 5

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVES Ana Paula P. Dinâmicas de Grupo: uma contribuição teórica para uma prática banalizada, 2002, Disponível em: <www.anped.org.br>. Acesso em: 09 de jul. 2008. FOUST at al. Princípios das Operações Unitárias. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois S.A., 1982.

FOX, R. W.; MCDONALD, A. T. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 504 p.

GRASSIA, T. T. Perda de carga ao longo das tubulações. Análise das equações de Churchill, Swamee – Jain e Haaland na determinação do fator de Darcy-Weisbach. São Bernardo do Campo, 2007. p. 3.

IGNÁCIO, R.F. Curso Básico de Mecânica dos Fluidos. Disponível em: <www.escoladavida.eng.br>. Acesso em: 28 de mar. 2008.

IGNÁCIO, R.F. Mecânica dos Fluidos para Eng. Química. Disponível em: <www.escoladavida.eng.br>. Acesso em: 28 de mar. 2008.

JACKSON, Derek; LAUNDER Brian. Osborne Reynolds and the Publication of His Papers on Turbulent Flow. Disponível em: <www.annualreviews.org>. Acesso em: 08 de abr. 2008.

KURI, Nídia P. e GIORGETTI, Marcius F. Metodologia de Ensino de Engenharia – estilos de Aprendizagem e Estilos de Ensino. São Paulo: USP, 1993. MUNSON, B. R.; YOUNG, D. F.; OKIISHI, T. H. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1997. 408 p. ROTT, N. Note on The History of the Reynolds Number. Disponível em: <www.annualreviews.org>. Acesso em: 02 de abr. 2008. SHAMES, I. H. Mecânica dos Fluidos. Análise de Escoamentos. 1. ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1973. 2 v. 533 p. Tradução Amorelli, M. O. C.

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APÊNDICE B - PLANILHA DE CUSTOS DO PROJETO

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APÊNDICE C - ROTEIRO DO EXPERIMENTO

UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

ENGENHARIA MECÂNICA E INDUSTRIAL

ROTEIRO DE EXPERIMENTO

LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS

EXPERIÊNCIA

ENSAIO DE REYNOLDS Autor: Graduando Daniel Luís de Andrade Ribeiro Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Tardin Jr.

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BEM VINDOS! Prezados Alunos, Este material tem o intuito de guiá-los através das práticas disponíveis no nosso Laboratório de Mecânica dos Fluidos. O mundo dos experimentos é sempre surpreendente e periodicamente nos revela o quão à realidade pode diferir de nossos modelos mentais. Espero que possam aliar a teoria à prática e absorver o conhecimento necessário para obter resultados em sua vida profissional. Divirtam-se! Abraço, Paulo R Tardin Jr.

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1. INTRODUÇÃO A bancada experimental é constituída de um reservatório de vidro para água, tubo de vidro, injetor em aço inox, reservatório do corante, tubulação de pvc e bomba para reposição de água. Cuidados a serem tomados:

� Somente ligar a bomba com água no reservatório. A bomba danificará se trabalhar à seco.

2. OBJETIVOS A experiência tem por objetivo a visualização dos três tipos de escoamento, o laminar, de transição e o turbulento. Objetiva também o cálculo do Número de Reynolds para cada tipo de escoamento visualizado. Após o levantamento dos dados e cálculo, o aluno deve comparar os dados experimentais obtidos no ensaio com os parâmetros teóricos, fazendo-se necessária as devidas justificativas caso não haja semelhança entre os dados teóricos versus experimentais. 3. TEORIA 3.1. O Número de Reynolds O Número de Reynolds, um dos principais termos para compreensão de muitos dos fenômenos da mecânica dos fluidos, tornou possível uma análise, de certa forma, quantitativa, dos dois tipos existentes de escoamento, o laminar e o turbulento. Quando o fluido escoa a baixas velocidades se faz presente o fluxo laminar, e as forças que governam este tipo de escoamento são as forças viscosas. Quando a velocidade aumenta, o fluxo laminar se transforma em fluxo de transição e as forças de inércia começam a se sobrepor sobre as viscosas e então por fim, quando somente as forças de inércia se tornam presentes, em função da velocidade do fluido, surge o fluxo turbulento. O número que caracteriza os tipos de fluxos e que relaciona as forças de inércia e viscosas é a variável adimensional conhecida como Número de Reynolds. O Número de Reynolds foi determinado em 1883, pelo Professor Irlandês Osborne Reynolds O número de Reynolds, também chamado de módulo ou coeficiente de Reynolds [Re], é um número adimensional que foi determinado em 1883 pelo Professor Irlandês Osborne Reynolds, sendo fundamental no projeto de sistemas de bombeamento, de tubulações industriais, asas de avião, sistemas aerodinâmicos, entre muitos outros. Reynolds desenvolveu o aparato experimental esquematizado na figura 1, que consiste de um tubo transparente inserido em um recipiente de vidro cheio d’água e à entrada do tubo transparente é interligado um capilar que injeta corante no centro do tubo transparente, proveniente de um reservatório externo, que ao abrir a válvula de haste longa, observa-se a

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formação de um filete retilíneo de corante e ao abrir mais a válvula a velocidade aumenta e o filamento se difunde na água.

Figura 1 – Ilustração do Aparato Experimental de Reynolds (sem escala)

(http://meusite.mackenzie.com.br/eangelo/Exp_Reynolds.pdf). Com este aparato Reynolds demonstrou a existência de dois tipos de escoamentos: “o primeiro onde os elementos do fluido seguem-se ao longo de linhas de movimento e que vão da maneira mais direta possível ao seu destino, e outro em que se movem em trajetórias sinuosas da maneira mais indireta possível”, seguindo a redação original de seu relato (REYNOLDS, 1883 apud JACKSON, LAUNDER, 1997). Mais tarde foram chamados de escoamento laminar e o escoamento turbulento. No regime laminar, a estrutura do escoamento é caracterizada pelo movimento em lâminas ou camadas. A estrutura do escoamento no regime turbulento é caracterizada pelo movimento tridimensional aleatório das partículas do fluido sobreposto ao movimento da corrente. (FOX & McDONALD, 2001). Após várias investigações teóricas e experimentais, Reynolds concluiu que o critério mais apropriado para se determinar o tipo de escoamento de uma canalização não se atém exclusivamente ao valor da velocidade, mas a uma expressão adimensional na qual a viscosidade do fluido também é levada em consideração. Este adimensional passou a ser conhecido como Número de Reynolds. O número de Reynolds é expresso da seguinte maneira:

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υ

VD=Re

Onde, V - velocidade média de escoamento D - diâmetro interno da tubulação υ - viscosidade cinemática do fluido, que no caso da água a temperatura 20ºC é igual 1,00 x 10-6 m²/s.

Onde V é dado por:

2

4

D

QV

π=

(Q é a vazão) Com os resultados de seus estudos, Reynolds estabeleceu que:

→≤ 2000Re tem-se o escoamento laminar →<< 2400Re2000 tem-se o escoamento de transição

→≥ 2400Re tem-se o escoamento turbulento A classificação atual estabelecida pela ABNT difere um pouco da estabelecida por Reynolds e é a seguinte:

→≤ 2000Re tem-se o escoamento laminar →<< 4000Re2000 tem-se o escoamento de transição

→≥ 4000Re tem-se o escoamento turbulento (IGNÁCIO, 2008) 1. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E RESULTADOS ESPERADOS O experimento deve ser executado conforme passos a seguir:

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a. Certifique-se que o registro da tubulação de descarga do reservatório encontra-se fechado.

b. Encha o reservatório de vidro com água até a indicação de nível máximo.

Importante: Após o enchimento do reservatório manter o sistema sem grandes vibrações, pois tais perturbações interferem na visualização dos escoamentos. c. Prepare a solução do corante. Dissolva algumas gotas (10 a 15 gotas) em 200ml de água. d. Coloque a solução do corante no funil de separação.

Cuidados: 1. Certifique-se que a válvula do funil esteja fechada; 2. Durante a realização da experiência deixe o funil sem a tampa para que permita a equalização da pressão e o escoamento do corante.

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a. Posicione o cronômetro na posição indicada na figura acima. b. Abra a válvula do funil de separação. Importante: Para evitar a ocorrência do efeito jet mixing (velocidade do corante maior que a do escoamento da água), abra com cuidado esta válvula posicionando-a na menor abertura possível que permita o escoamento do corante. c. Abra vagarosamente o registro da tubulação de descarga do reservatório e ajuste a abertura

até visualizar o escoamento laminar.

Escoamento Laminar

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a. Posicione a proveta na saída da tubulação de descarga e ao mesmo tempo acione a partida do cronômetro.

b. Após 15 s retire a proveta e anote o volume de água. c. Repita os passos g, h e i para visualização do regime de escoamento de transição e

turbulento, consecutivamente.

Escoamento de Transição Escoamento Turbulento Importante: Os experimentos só devem ser realizados quando o nível do reservatório de água estiver entre as marcações existentes. A realização do experimento com a água abaixo do nível mínimo gerará interferência indesejável nos resultados.

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a. Para reposição do nível de água no reservatório, utilizar a bomba posicionada logo atrás,

transferindo a água do reservatório secundário para o principal evitando assim grandes perturbações. ATENÇÃO: Somente ligue a bomba se o reservatório secundário estiver com água, a bomba danificará se trabalhar a seco.

1. ANÁLISE DOS DADOS b. Com os dados e resultados obtidos preencha a tabela abaixo, � Dados: Viscosidade Cinemática da água a 20º C => ν =1,00 x 10-6 m²/s. � Diâmetro interno do tubo de vidro: 20mm. � Faça as conversões de unidades necessárias e determine os parâmetros (Q, v e Re).

Ensaio Tentativa Visualização Vol (ml) t (s) Q (L/min) v (cm/s) Re

1 Laminar

2 Transição

3 Turbulento

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� Analise os resultados encontrados e responda as questões abaixo.

a. A visualização desejada foi alcançada ? b. Quais as maiores dificuldades encontradas na realização do ensaio ?

c. Compare os valores do Número de Reynolds teórico tanto o estabelecido por Reynolds

quanto os valores da ABNT com aquelas encontradas experimentalmente calculadas na tabela acima. Comente as diferenças entre elas.

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6. BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA INDICADA

Títulos da Bibliografia Básica MUNSON B. R.; YOUNG, D. F.; OKIISHI, T. H. Fundamentos da Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1997. 408 p.

FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T. Introdução à mecânica dos fluidos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 504 p.