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 www.apostilasnet.com.br CURSO ROBORTELLA www.apostilanet.com.br  Av. Paulista, n.º 1776 - 11º and. Fone: 251-3533 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Carreiras do Trabalho Prof. Darlan Barroso Todos os direitos reservados. 2002. CURSO ROBORTELLA Copyright 2002 Design: WLD

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    CURSO ROBORTELLA www.apostilanet.com.br Av. Paulista, n. 1776 - 11 and. Fone: 251-3533

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL Carreiras do Trabalho

    Prof. Darlan Barroso

    Todos os direitos reservados. 2002. CURSO ROBORTELLA Copyright 2002 Design: WLD

  • Curso Robortella Direito Processual Civil Darlan Barroso

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    Carreiras do Trabalho

    DARLAN BARROSO

    Advogado militante, especialista em Direito Processual Civil pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC/SP, professor na Universidade Paulista UNIP,

    Curso Robortella e no Curso Legale. Autor do livro: Manual de Direito Processual Civil teoria geral e processo de conhecimento, vol. I, Editora Manole.

    SUMRIO

    1. Direito Processual Civil

    2. Ao

    3. Jurisdio

    4. Competncia

    5. Atos processuais

    6. Litisconsrcio

    7. Interveno de terceiros

    8. Petio inicial

    9. Resposta do Ru

    10. Instruo processual

    11. Sentena e coisa julgada

    12. Teoria geral dos recursos

    13. Recursos em espcies

    14. Processo nos Tribunais

    15. Processo de execuo

    16. Embargos do devedor

    17. Teoria geral processo cautelar

    18. Mandado de segurana

    19. Ao civil pblica e ao popular

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    1. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    1.1. Conceito Direito Processual Civil compreende o conjunto de normas e princpios que regulam a

    atividade jurisdicional do Estado brasileiro e a relao que se desenvolve entre as partes, seus procuradores e os agentes da jurisdio, por meio do processo.

    importante dizer, tambm, que o Direito Processual Civil cincia e ramo do Direito

    Pblico, concernente prpria atividade do Estado na busca da soluo dos conflitos, manuteno do imprio da ordem jurdica, com a imposio da vontade da lei1 ao caso concreto.

    1.2. Evoluo do Direito Processual Civil brasileiro

    Com a independncia do Brasil, por Decreto imperial determinou-se a aplicao das normas

    portuguesas ao novo pas, ou seja, foram mantidas em vigor as Ordenaes Filipinas (promulgadas por Felipe I, em 1603, baseadas nos direitos romano e cannico).

    Regulamento 737 com o advento do Cdigo Comercial, isso em 1850, o processo das

    causas comerciais passou a ser disciplinado pelo regulamento 737 (posteriormente o regulamento 763 estendeu o regulamento 737 s causas civis). O processo segundo os regulamentos foi marcado por caractersticas de simplicidade, economia e livre apreciao das provas.

    Cdigos estaduais a Constituio de 1891 estabeleceu a distino entre justia federal e

    estadual, conferindo aos Estados o poder de editar seus prprios cdigos de processo. Ressalte-se que a maioria dos cdigos dos Estados eram cpias do cdigo federal, com exceo dos Estados da Bahia e So Paulo que eram inspirados no cdigo de processo civil moderno europeu.

    Cdigo unitrio de 1939 com a promulgao da Constituio de 1934 foi restabelecido o

    sistema de cdigo unitrio para toda a repblica, e em 18 de setembro de 1939 foi editado um novo Cdigo de Processo Civil, em parte moderno, segundo influncia do cdigo de processo da Itlia e Alemanha, em parte fiel ao antigo Direito Portugus.

    Cdigo atual aps trabalho realizado pelos juristas Alfredo Buzaid, Jos Frederico

    Marques, Jos Carlos Moreira Alves, entre outros, em 11 de janeiro de 1973 foi promulgado o Cdigo de Processo Civil que se encontra em vigor atualmente, seguido de inmeras reformas que modificaram bastante o ordenamento original.

    1.2. Princpios

    Como em todo ramo do Direito, o Direito Processual Civil tambm regido por princpios,

    alguns previstos na Constituio da Repblica aplicveis a todo o ordenamento jurdico, especialmente pelo fato de o processo ser uma atividade estatal e outros princpios internos do Processo Civil.

    1.2.1. Princpios constitucionais

    A Constituio da Repblica, ao regular a atividade do Estado e estruturar o Poder Judicirio, dispe sobre os direitos fundamentais dos cidados, estabelecendo os seguintes princpios aplicveis ao processo civil: 1 Humberto Theodoro Jnior. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, vol. 1, 31 ed., p. 6, 2000.

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    a) Princpio da acessibilidade ao Poder Judicirio art. 5, XXXV

    XXXV a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito

    Tambm conhecido por princpio do direito de ao, este texto contm dois

    sentidos fundamentais ao Estado Democrtico de Direito: o primeiro probe o legislador de criar lei que dificulte o acesso ao Poder Judicirio. O segundo quer dizer que todos tm direito de movimentar a mquina judiciria para solucionar um conflito de interesses, evitando efetivar a leso ao direito ou, ainda, a sua reparao.

    No texto da Constituio anterior no havia uma meno expressa defesa contra a

    ameaa a direito, mas to-somente a acessibilidade como forma de reparao ao direito lesado (apesar de a jurisprudncia entender perfeitamente possvel a preveno).

    Na Carta de 1998, o constituinte houve por bem determinar que dever do Estado

    evitar a ocorrncia de leso ao direito, e no apenas reparar o direito j lesado; acreditamos estar inserido neste dispositivo constitucional o poder geral de cautela dos rgo do Poder Judicirio, pelo qual dever institucional do rgo jurisdicional conferir uma tutela eficaz para evitar a leso do bem jurdico.

    b) Princpio do devido processo legal art. 5, LIV

    LIV ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal

    Por esse princpio, a Constituio determina que todo ato de privao de liberdade

    ou de constrio de bens (de qualquer espcie de liberdade humana e de bens) apenas poder ocorrer aps a regular observncia do processo legal, previsto em lei para obter a tutela jurisdicional especfica lide.

    O reconhecimento e a satisfao de qualquer direito devem acontecer segundo uma

    estrita observncia do processo justo, do modo de agir sobre os litgios de acordo com a lei. O detentor do direito no pode utilizar-se de meios estranhos queles previstos pela lei para fazer valer o seu direito.

    Outro aspecto importante desse princpio repousa tambm na observncia precisa

    do trmite (procedimento) previsto em lei, sendo defeso ao rgo jurisdicional e s partes a modificao ou inveno de ritos, ou seja, o processo deve seguir rigorosamente o procedimento previsto pela lei, sob pena de violao do devido processo legal.

    c) Princpio do juiz natural art. 5, XXXVII e LIII

    LIII ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente

    XXXVII no haver juzo ou tribunal de exceo

    A Constituio determina que os processos apenas sero conduzidos validamente

    pela autoridade competente, que aquela investida de jurisdio pelo Estado e com

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    competncia para atuar na forma prevista em lei (Constituio Federal, Lei de Organizao Judiciria e Cdigo de Processo Civil).

    Nesse ponto, importante lembrar que no basta ao magistrado estar investido de

    jurisdio, mas ele tambm deve ter recebido competncia legal para conduzir o processo (competncia de juzo e de foro), o que se denomina juiz natural (previsto na lei como competente).

    Por outro lado, o texto constitucional veda, expressamente, a existncia de tribunais

    ou juzos de exceo que, conforme ensinamento2 de De Plcido e Silva entende-se: Em oposio ao sentido comum, ou ordinrio, tribunal de exceo, entende-se o que se estabelece, ou se institui, em carter especial ou de exceo, para conhecer e julgar questes excepcionalmente ocorridas e suscitadas.

    Assim, os rgos jurisdicionais devem preexistir aos litgios, constituindo tribunais de

    exceo aqueles criados especialmente para um fato j ocorrido ou determinada pessoa.

    O tribunal de exceo no instrumento do Estado Democrtico de Direito, pois impede que os jurisdicionados conheam, previamente, os rgos investidos de poder para julgamento, bem como possibilita a formao de rgos imparciais conforme a vontade do poder dominante e de seus interesses (j que criado aps a ocorrncia do fato).

    d) Princpio do contraditrio art. 5, LV

    LV aos litigantes, em processo judicial e administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios

    e recursos a ela inerentes

    O contraditrio constitui o direito de as partes apresentarem as suas verses sobre os fatos do processo que lhes so imputados pela outra parte litigante. Por contraditrio entende-se o direito de contradizer, direito que a parte tem de se opor e impugnar os atos praticados pela parte adversa.

    Em alguns casos, como forma de harmonizao com outros princpios, como do

    acesso justia e o da tutela eficaz, o contraditrio pode ser postergado para um momento futuro do processo.

    exatamente o que ocorre com a antecipao dos efeitos da tutela antes da citao,

    nas cautelares, dos procedimentos especiais com previso de liminares e no processo de execuo. Nestes casos, o contraditrio no foi suprimido, mas apenas transferido para um momento posterior, sob pena de frustrar o resultado da tutela pretendida.

    e) Princpio da ampla defesa art. 5, LV

    Alm do direito de expor as suas verses sobre os fatos do processo, tambm assegurado ao litigante o direito de realizar as provas de suas alegao, o direito amplo de demonstrar os fatos que alega em seu favor.

    2 Vocabulrio Jurdico.Rio de Janeiro, Editora Forense, 12 ed., p. 419, 1996.

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    No entanto, a ampla defesa sofre restries no prprio texto constitucional, j que so inadmissveis no processo as provas obtidas por meios ilcitos, nos termos do inciso LVI do artigo 5.

    f) Princpio do duplo grau de jurisdio

    H muita controvrsia na doutrina sobre o referido princpio. Alguns entendem tratar-se de um princpio implcito na Constituio, e outros, no sentido contrrio, consideram o referido princpio como expresso na Carta Maior.

    Entendemos, com o devido respeito s demais posies, se tratar de um princpio

    expresso na Constituio da Repblica, pelo fato de estar contido no inciso LV, do artigo 5, o direito de ampla defesa com garantia dos recursos a ela inerentes.

    Por outro lado, quando criou e estruturou os rgos do Poder Judicirio, a prpria

    Constituio tambm instituiu rgos de primeira, de segunda e de instncias superiores, como forma de resguardar o direito reviso dos atos judiciais por rgo hierarquicamente superior quele que proferiu a deciso prejudicial. Portanto, considerando a estrutura do Poder Judicirio organizado em graus de hierarquia podemos dizer que nessa organizao est implcito o princpio do duplo grau de jurisdio.

    Como sabemos, o Estado Democrtico de Direito no compartilha da possibilidade

    de atos arbitrrios do Poder sem a existncia de remdios legais para impugn-los. inconcebvel em um Estado de Direito a existncia de atos judiciais decisrios que no possam ser impugnados por recursos, se tal fato ocorresse facilitaria a aplicao errada do direito posto, a corrupo e o autoritarismo dos magistrados, que estariam certos de que suas decises no seriam revistas.

    g) Princpio do dever de fundamentao das decises judiciais art. 93, IX

    Art. 93. ........................................... IX todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e fundamentadas todas as decises, sob pena de nulidade, podendo a lei, se

    o interesse pblico o exigir, limitar a presena, em determinados atos, s prprias partes e a seus advogados, ou somente a estes

    Como conseqncia do princpio do contraditrio e do duplo grau de jurisdio, a

    Constituio impe aos magistrados o dever de motivao de suas decises, de forma a externar s partes e a toda a sociedade as razes de seu convencimento, a interpretao da lei ao caso concreto.

    Certamente, seria muito difcil impugnar um ato do qual no se sabe o fundamento,

    no qual no esto expressas as razes do convencimento do juzo. impossvel parte motivar o seu recurso sem o conhecimento dos fundamentos da deciso recorrida.

    h) Princpio da publicidade dos atos processuais art. 93, IX

    Outra caracterstica do Estado Democrtico de Direito a publicidade dos atos do Poder, especialmente com a finalidade de exercer controle sobre os atos arbitrrios.

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    Com efeito, prev a Constituio da Repblica, no inciso IX do artigo 93, que todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos quando houver interesse pblico; no caso de ser necessria a preservao da intimidade, a publicidade ficar limitada s partes e seus procuradores. 1.2.1. Princpios internos do Processo Civil a) Princpio da imparcialidade e igualdade

    No obstante o direito fundamental de igualdade estar previsto na Constituio da Repblica, o Cdigo de Processo Civil, em seu artigo 125, impe ao magistrado o dever institucional de assegurar s partes igualdade de tratamento.

    Isso significa que o juiz dever permanecer eqidistante das partes (manter a mesma

    distncia de ambas as partes), fazendo prevalecer a isonomia de tratamento em relao aos litigantes.

    Em relao igualdade prevista na Carta Maior, alertam3 os professores Leda

    Pereira da Mota e Celso Spitzcovsky que este princpio consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.

    De fato, a inteno do constituinte foi evitar a quebra da isonomia entre pessoas que

    se encontram na mesma situao, por isso no haver igualdade se tratarmos com a mesma medida pessoas que se encontram em situaes distintas.

    Por outro lado, nota-se a caracterstica de imparcialidade da jurisdio, pois, como sabemos, pressuposto de validade do processo a inexistncia de interesse pessoal do magistrado na soluo da lide.

    A garantia ao jurisdicionado de fiel aplicao do direito ao caso concreto e a

    confiabilidade no sistema judicirio so conquistadas apenas com a absoluta ausncia de comprometimento ou interesse do rgo jurisdicional no deslinde do litgio.

    Assim, esto previstas nos artigos 134 e 135 as hipteses em que a pessoa do

    magistrado se encontra vinculada ao objeto da lide, situaes de impedimento e suspeio que determinam o afastamento do juiz de forma a permitir a existncia e o desenvolvimento vlido da relao jurdica processual. b) Princpio dispositivo e inquisitivo

    Por expressa determinao legal, art. 2 do Cdigo de Processo Civil, a jurisdio somente se desenvolve depois de provocada pelo interessado, sendo vedado ao Estado intervir nos litgios sem prvio requerimento da parte pelo direito de ao.

    Essa inrcia do rgo jurisdicional chama-se princpio do dispositivo. Contudo, apesar de o processo apenas ter incio depois da provao da parte

    interessada, o seu impulso, com a prtica de atos que o levem ao objetivo (soluo da lide), de natureza oficial, e recebe o nome de princpio do inquisitivo. 3 Curso de Direito Constitucional. So Paulo, Editora Juarez de Oliveira, 5 ed., p. 325, 2000.

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    A esse respeito, prescrevem os artigos:

    Art. 125. O juiz decidir o processo conforme as disposies deste Cdigo,

    competindo-lhe: II velar pela rpida soluo do litgio

    Art. 130. Caber ao juiz, de ofcio ou a requerimento da parte, determinar as provas necessrias instruo do processo, indeferindo as diligncias

    inteis ou meramente protelatrias

    O processo apenas se inicia por provocao do autor, mas se desenvolve por impulso oficial (do Estado-juiz), e dever do juiz zelar para que o processo chegue soluo do litgio, estabelecendo s partes a promoo de atos que evitem a paralisao injustificada do processo, determinar de ofcio os atos meramente administrativos (como citao, intimaes, remessa ao Ministrio Pblico, designao de audincias, etc.), e determinar de ofcio a realizao de provas. c) Princpio da verdade formal

    A verdade formal consiste no dever do magistrado de formar a sua convico somente com os fatos que se encontrarem documentados no processo. a verdade formalizada nos autos da relao jurdica processual. Ao contrrio da verdade formal, vislumbramos a verdade real, que consiste na aceitao de qualquer evidncia ftica, independentemente de estar ou no no processo ou da iniciativa de sua produo, como meio hbil para convencimento do magistrado.

    O princpio da verdade formal no significa dizer que o juiz deve se contentar apenas

    com a verdade levada aos autos que pode corresponder verdade falsa mas tem ele o poder, pelo princpio do inquisitivo, de determinar, ex officio, as provas que entender necessrias comprovao da verdade. Todavia, apenas poder formar sua convico com os elementos que foram levados aos autos pelas partes (verdade formalizada).

    d) Princpio da instrumentalidade das formas

    O processo composto por uma srie de atos processuais que, geralmente, devem ser praticados com observncia da formalidade prevista na lei.

    No entanto, o prprio ordenamento processual, em seu artigo 154, transcrito abaixo,

    determina:

    Art. 154. Os atos e termos processuais no dependem de forma determinada seno quando a lei expressamente a exigir, reputando-se vlidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade

    essencial. Infere-se, assim, que fundamental para a existncia e validade do ato processual

    que se atinja a sua finalidade essencial, independentemente da forma utilizada (desde que lcita), desvinculando-se, por esse princpio, do formalismo exacerbado que dificulta a efetividade do processo.

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    importante lembrar aos profissionais que manipulam o processo civil, a realidade de que o processo apenas instrumento para a realizao do direito, e mais, que o processo no encontra fim em si mesmo, apenas configura meio para a prestao da tutela jurisdicional e no o seu fim, razo pela qual devemos considerar vlido o ato que atingiu sua finalidade, independentemente da forma empregada. O processo instrumento e no o fim.

    e) Princpio da fungibilidade

    Fungibilidade o princpio pelo qual se admite o recebimento de um ato ou instituto processual no lugar de outro, em poucas palavras, significa trocar uma coisa por outra.

    inquestionvel a existncia de fungibilidade entre as aes possessrias em que,

    por expressa determinao legal4 art. 920 do CPC predomina a regra segundo a qual o juzo dever conhecer o pedido de uma ao possessria mesmo quando proposta em lugar de outra (que o magistrado entende cabvel), desde que presentes os requisitos para a outra medida correta.

    Seria o caso, por exemplo, da propositura de ao de manuteno da posse, quando

    o magistrado entende que a ao correta seria a ao de reintegrao na posse. Neste caso, havendo requisitos para a concesso da medida, o rgo jurisdicional dever conhecer a ao de manuteno como se fosse de reintegrao, aplicando a fungibilidade entre as aes.

    Em outra anlise, no muito tranqila na jurisprudncia e na doutrina, encontramos a

    fungibilidade entre as aes cautelares e a fungibilidade recursal, esta cabvel desde que5 exista dvida objetiva sobre qual recurso seria o correto e a inexistncia de m-f da parte (tema tratado no captulo destinado aos recursos).

    f) Princpio da economia processual

    O princpio da economia processual decorre de uma interpretao sistemtica do ordenamento processual, e consiste na idia de que o processo deve transcorrer em menor tempo (prazo) e com menor gasto financeiro possveis.

    Durante o processo devem ser repudiados os atos meramente protelatrios ou os

    que no tenham utilidade para a soluo da lide, visando entregar ao jurisdicionado a soluo rpida do conflito e com custo financeiro mnimo.

    g) Princpio da eventualidade e precluso

    Todo processo desenvolve-se por meio de atos processuais que esto dispostos em uma forma lgica (um ato aps o outro) e em determinado tempo ou prazo legal; cada ato do processo tem o seu momento oportuno para ser praticado.

    4 Art. 920. A propositura de uma ao possessria em vez de outra no obstar a que o juiz conhea do pedido e outorgue a proteo legal correspondente quela, cujos requisitos estejam provados. 5 H posies no sentido de que apenas se aplica a fungibilidade quando o recurso errado foi interposto no prazo do recurso certo, o que nos parece errado (assunto debatido a seguir no captulo destinado Teoria Geral dos Recursos).

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    Assim, deparamo-nos com o princpio da eventualidade, pelo qual a parte deve esgotar totalmente o ato processual no momento oportuno, sob pena de ocorrncia de precluso.

    o caso, por exemplo, da defesa do ru. no momento da contestao que o ru

    deve alegar TODA matria de fato e de direito em seu favor, pois, consumado este ato, geralmente ele no poder faz-lo de novo, operando-se assim a precluso consumativa.

    O fenmeno processual da precluso consiste na perda da capacidade de dar

    continuidade ao ato processual por: decurso do prazo (precluso temporal), consumao ou esgotamento do ato (precluso consumativa), ou pela prtica de atos incompatveis entre si (precluso lgica, como, por exemplo, pedir justia gratuita e simultaneamente recolher as custas, interpor recurso e concomitantemente cumprir a obrigao).

    h) Princpio da lealdade processual e boa-f

    Trata-se de um dever imposto s partes, aos serventurios da justia, aos magistrados e aos membros do Ministrio Pblico, segundo o qual todos devem agir com urbanidade, respeito, lealdade e boa-f na conduo do processo e na relao uns com os outros.

    Em relao s partes, os artigos 14 a 18 do Cdigo de Processo Civil determinam os

    deveres das partes, dos seus procuradores e as hipteses de litigncia de m-f. Alm de estabelecer as hipteses de conduta ilegal no processo, o Cdigo fixa as conseqncias quando h desrespeito ao referido princpio do processo civil.

    importante citar que, por meio da Lei n. 10.358, de 27 de dezembro de 20016, foi

    introduzido o seguinte mandamento:

    Art. 14. So deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:

    ............................................... V cumprir com exatido os provimentos mandamentais e no criar

    embaraos efetivao de provimentos judiciais, de natureza antecipatria ou final.

    Pargrafo nico. Ressalvados os advogados que se sujeitam

    exclusivamente aos estatutos da OAB, a violao do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatrio ao exerccio da jurisdio, podendo o

    juiz, sem prejuzo das sanes criminais, civis e processuais cabveis, aplicar ao responsvel multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e no superior a vinte por cento do valor da causa;

    no sendo paga no prazo estabelecido, contado do trnsito em julgado da deciso final da causa, a multa ser inscrita sempre como dvida ativa da

    Unio ou do Estado.

    Acerca deste novo dispositivo legal, temos a observar o seguinte:

    6 Que entrar em vigor trs meses aps a data de sua publicao.

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    a) O caput do artigo 14 foi alterado para constar o dever de lealdade processual no s para as partes, como na redao antiga, mas tambm para todos os que se relacionam com o processo: magistrados, serventurios, advogados e terceiros;

    b) foi introduzido no sistema processual o dever de cumprir as ordens mandamentais7, como dever de lealdade processual, em resposta grande m vontade e resistncia das autoridades de administrao pblica em cumprir liminares e sentenas de mandados de segurana;

    c) foi estabelecida multa pelo descumprimento da ordem judicial, incidente sobre a pessoa da autoridade impetrada, devida independentemente do mrito da causa, que ser creditada ao Poder Judicirio.

    1.4. Direito material e direito processual

    Para finalizar o estudo sobre este tema, no se pode deixar de destacar as diferenas entre o direito processual e o direito material.

    Em brilhante obra8 o professor Cndido Rangel Dinamarco, ao referir-se ao direito

    processual, ensina: Ele no cuida de ditar normas para a adequada atribuio de bens da vida aos indivduos, nem de disciplinar o convvio em sociedade, mas de organizar a realizao do processo em si mesmo. A tcnica da soluo de conflitos pelo Estado,ou seja, o processo, est definida nas normas integrantes de um especfico ramo jurdico, que o direito processual civil. Ao estabelecer como o juiz deve exercer a jurisdio, como pode ser exercida a ao por aquele que pretende alguma providncia do juiz e como poder ser a defesa do sujeito trazido ao processo pela citao, o direito processual no estabelece norma alguma, destinada a definir o teor dos julgamentos; nem fixa critrios capazes de definir qual dos litigantes tem direito ao bem da vida pretendido (direito tutela jurisdicional) e qual deles h de suportar a derrota.

    O direito processual no se presta proteo dos bens da vida, mas, to-somente

    disciplina a atividade jurisdicional, impondo regras de conduo do processo como meio de garantir a aplicabilidade e realizao do direito material (bens da vida humana).

    exatamente por isso que afirmamos que o direito processual no encontra fim em

    si mesmo, sendo o verdadeiro meio de realizao do direito material. O processo o meio para a efetivao do direito material, que o fim.

    As normas processuais no disciplinam as relaes entre as pessoas na vida

    comum, conseqentemente, no criam, no modificam nem extinguem direitos ou obrigaes no plano material (bens da vida), elas apenas regulam a atividade da jurisdio.

    7 A situao chegou ao absurdo, pois, mesmo que no constasse expressamente o dever de se cumprir qualquer deciso judicial, sabemos que isso uma conseqncia lgica do poder da jurisdio, e o descumprimento a uma ordem mandamental caracteriza crime de desobedincia. 8 Instituies de Direito Processual Civil, So Paulo, Editora Malheiros, vol. I, 1 ed., 2001.

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    2. JURISDIO

    2.1. Conceito

    Jurisdio o poder do Estado de dizer o direito ao caso concreto, com a finalidade de pr fim a um conflito de interesse (lide), segundo conceito exposto por Carnelutti.

    Atravs da etimologia da palavra jurisdio, originria do latim, podemos obter o

    seguinte conceito:

    Dessa forma, a jurisdio caracteriza um poder, uma forma de substituio da ao dos litigantes pela atividade de um determinado rgo alheio ao conflito, ou seja, a lide passa a ser solucionada por pessoa estranha em relao disputa do bem jurdico.

    No Brasil a atividade jurisdicional exclusiva do Estado, e exercida atravs dos

    rgos do Poder Judicirio (arts. 92 a 135 da Constituio da Repblica), sendo, absolutamente, repudiada a atividade de justia privada, uma vez que a prpria Carta Maior, ao organizar a atividade do poder, instituiu o princpio do juiz natural9.

    Ressalte-se que a manuteno de um Estado Democrtico de Direito cujas

    obrigaes e direitos esto previstos em instrumentos normativos, elaborados por representantes eleitos pelos prprios cidados pressupe a existncia de um rgo estatal dotado de poder para garantir a aplicabilidade do Direito s situaes reais da vida em sociedade. 2.2. Caractersticas a) Substituio a jurisdio tem como caracterstica substituir a vontade dos litigantes pela

    vontade da lei pronunciada pelo Estado-juiz. A resoluo do conflito exercida pelo Estado e no pelas partes, independentemente da vontade destas.

    b) Imparcialidade a jurisdio desinteressada e o exerccio de sua atividade mantm-se eqidistante da vontade das partes. O interesse do Estado estranho pretenso dos demandantes, no guardando qualquer vnculo com o objeto da lide.

    c) Instrumentalidade a jurisdio tem por finalidade viabilizar a atuao prtica do Direito, caracterizando o verdadeiro instrumento pblico para a administrao de interesses privados.

    d) Existncia de lide como regra, a atividade jurisdicional apenas se justifica quando existem conflitos de interesses a serem solucionados.

    e) Definitividade o produto da atividade jurisdicional tem natureza de definitivo, ou seja, a matria decidida pela jurisdio, como regra, gera coisa julgada e impede a repetio da jurisdio no mesmo conflito.

    9 Art. 5....................... LIII ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente.

    jurisdio = juris (dizer) + dictos (direito) = dizer o direito, aplicar a norma ao caso concreto.

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    f) Atividade pblica no Estado brasileiro, por mandamento constitucional, a jurisdio exercida, exclusivamente, pelo Poder Judicirio, no se admitindo, salvo excees, a atividade privada de aplicao do Direito.

    2.3. Princpios a) Princpio do juiz natural e investidura

    A Constituio da Repblica, em seu artigo 5, inciso LIII, instituiu o princpio do juiz natural, segundo o qual ningum ser processado e julgado seno pela autoridade judiciria competente, vedando a existncia de tribunais ou juzos de exceo.

    Por esse princpio entende-se que os rgos jurisdicionais devem preexistir ao

    conflito, e os limites da jurisdio devem estar previstos legalmente antes da existncia da lide (juiz natural).

    Em sentido contrrio, o que vedado pela Constituio seria a possibilidade da existncia de um tribunal ou juzo de exceo, que so rgos jurisdicionais institudos para julgar determinada situao ou pessoa aps a ocorrncia do fato. Por exemplo, a delegao de um juzo certo para julgamento de um fato especfico aps a sua ocorrncia.

    Cabe ressaltar, neste ponto, que a prpria Constituio abriu exceo para admitir

    uma espcie de tribunal ou juzo de exceo quando criou as Comisses Parlamentares de Inqurito CPIs, j que tm poderes prprios dos rgos do Poder Judicirio.

    Portanto, podemos concluir que a jurisdio apenas pode ser exercida por rgo

    do Poder Judicirio que tenha recebido competncia legal para a aplicao do Direito ao caso concreto e investido de poder pela Constituio da Repblica.

    b) Improrrogabilidade e indelegabilidade.

    Os limites do exerccio da jurisdio esto previstos na Constituio da Repblica, no se admitindo modificao ou delegao entre os rgos do poder (executivo, legislativo e judicirio). c) Indeclinabilidade e inafastabilidade

    Por declinar entende-se afastar a jurisdio, ou ainda, quando investido deste poder, recusar-se em prest-la na forma da lei.

    Pelo referido princpio o rgo jurisdicional investido de poder pela Constituio, e

    competente nos termos da lei, no pode recusar-se a dizer o direito ao caso concreto, sob pena de negativa do direito fundamental de ao (art. 5, XXXV da CF). O juiz no pode alegar falta ou omisso legal para a soluo do conflito. d) Inevitabilidade

    Da mesma forma que o magistrado no pode recusar-se prestao jurisdicional quando competente para tanto, tambm o jurisdicionado no tem a faculdade de recusar submisso aos efeitos da jurisdio. O poder da jurisdio e seus efeitos no dependem da vontade das partes, mas to-somente da vontade do Estado.

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    e) Aderncia ao territrio

    A investidura do poder de jurisdio ocorre em relao a determinados territrios. O rgo jurisdicional exerce sua funo dentro do territrio estabelecido pela Constituio Federal e pelas normas de organizao judiciria.

    O ilustre professor Moacyr Amaral Santos ensina10 que a jurisdio no pode ser

    exercida fora do territrio fixado por lei ao juiz no possvel ao magistrado extrapolar a base territorial de sua jurisdio. f) Inrcia

    O Estado apenas intervm nas relaes entre os particulares para solucionar

    disputa acerca de um bem jurdico, quando provocado por um dos interessados, o que significa que a jurisdio no espontnea, mas absolutamente inerte.

    A esse respeito o legislador houve por bem positivar o referido princpio, nos

    seguintes termos do Cdigo de Processo Civil:

    Art. 2. Nenhum juiz prestar a tutela jurisdicional seno quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.

    2.4. Poderes da jurisdio a) Poder de polcia e documentao no exerccio da jurisdio o Estado-juiz tem fora

    institucional para presidir todo o processo, inclusive documentar a realizao dos atos processuais.

    b) Poder de deciso poder de formao e imposio de um juzo de mrito, funo tpica do magistrado de emitir juzo de razo sobre o objeto central da lide ou questes incidentes.

    c) Poder de coero fora capaz de impor respeito ordem judicial, poder de obrigar o cumprimento contra a vontade da parte ou de terceiro.

    2.5. Espcies de prestao da tutela jurisdicional

    No estudo das espcies de jurisdio necessrio ressalvar que a jurisdio UNA11, ou seja, dentro do Estado brasileiro no existem diversas jurisdies, mas apenas um nico Poder Judicirio com diferentes atribuies e meios de prestao da tutela jurisdicional.

    Assim, a classificao a seguir no se presta para dividir ou classificar jurisdies,

    mas sim para sistematizar a atividade jurisdicional, considerando no caso concreto a natureza da lide, o objeto, a hierarquia do rgo e os sujeitos que sero atingidos.

    10 Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. So Paulo, Editora Saraiva, vol.I, 21 ed., p.72, 1999 Ed. Saraiva, So Paulo, p. 72. 11 Humberto Theodoro Jnior. Curso de Direito Processual Civil, Forense, Rio de Janeiro, vol. I, 31 ed., p.34, 2000.

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    2.5.1. Jurisdio comum e especializada

    Neste ponto, objeto de anlise a matria da lide que ser submetida jurisdio. Para maior eficincia da tutela, a Constituio da Repblica, ao criar e organizar o Poder Judicirio, estabeleceu:

    Jurisdio especializada: em matria trabalhista, eleitoral ou militar. Jurisdio comum: critrio residual (o que no for matria especializada), por

    exemplo, civil e penal. Da mesma forma, utiliza-se um critrio de excluso, o que no for matria penal ser objeto da jurisdio civil (inclusive direito comercial, administrativo, constitucional, direito do consumidor, etc.).

    2.5.2. Jurisdio voluntria e contenciosa

    Como afirmamos anteriormente, a jurisdio atua sobre a lide (conflito de interesse qualificado por uma pretenso resistida).

    No entanto, em algumas hipteses, decorrentes da natureza e importncia do

    bem jurdico, o Estado reclamou para si o poder de administr-los. o que ocorre, por exemplo, com o instituto civil do casamento: para ser

    contrado firmado perante o juiz de paz, mas sua dissoluo (mesmo que consensual) exige interveno do rgo jurisdicional.

    O mesmo ocorre com a alienao de bens de incapazes, alienao judicial,

    inventrio de bens, abertura de testamento, alvars, separao consensual, administrao de bens de ausentes e das coisas vagas, curatela dos interditos, organizao e fiscalizao das fundaes, especializao da hipoteca legal (arts. 1103 a 1210 do CPC), e outras tutelas no previstas em lei, mas cuja natureza determina a interveno judicial.

    Dessa forma, a atividade jurisdicional civil pode ser: contenciosa: para a soluo de um litgio; voluntria: para a administrao estatal de um determinado bem jurdico

    (administrao pblica de interesses privados).

    Jurisdio voluntria Jurisdio contenciosa

    Administrao pblica de interesses privados Soluo de conflitos de interesses

    Ausncia de lide Existncia de lide

    Requerentes ou interessados Partes litigantes: autor e ru

    Sentena meramente homologatria Sentena de mrito

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    Desconstituio por meio de ao anulatria (ao de conhecimento

    em 1 grau de jurisdio), a qualquer tempo (prescrio

    comum).

    Desconstituio da sentena apenas por ao rescisria,

    proposta diretamente no tribunal competente, em at 2 anos

    contados do trnsito em julgado. 2.5.3. Jurisdio individual e coletiva

    A evoluo das relaes sociais gerou a existncia de conflitos envolvendo a

    coletividade ou grupo de indivduos, diferente da concepo tradicional de lide singular ou individual.

    Com efeito, para acompanhar a evoluo de tais relaes e prestar uma tutela

    eficiente, o Estado houve por bem criar instrumentos processuais para a prestao de tutelas coletivas, e para a defesa de bens coletivos, difusos ou individuais homogneos.

    Podemos citar como interesses transindividuais, por exemplo, o patrimnio pblico

    em geral, o meio ambiente, o direito do consumidor, ou seja, bens jurdicos que transcendem ao interesse individual ou singular, mas que de importncia para toda a sociedade. Hipteses em que a jurisdio realiza uma atividade para a prestao de uma tutela que atingir toda a coletividade.

    Assim, existem instrumentos processuais para efetivar essa atividade jurisdicional

    coletiva, como: substituio processual (art. 6 do CPC), ao civil pblica, ao popular, mandado de segurana coletivo.

    Observa-se, por fim, uma importante diferena entre a jurisdio individual e a

    coletiva: enquanto na primeira os efeitos do processo apenas sero percebidos pelas partes envolvidas, na outra poder ocorrer o efeito erga omnes, ou seja, os efeitos do processo sero percebidos e devero ser respeitados por todos (mesmo por pessoas que no foram parte no processo).

    2.6. Substitutivos da jurisdio

    Em casos excepcionais, a legislao permite a substituio da atividade jurisdicional do Estado pela atividade particular, como nos seguintes casos:

    Transao: instituto de Direito Civil que, por concesses recprocas das partes, tem

    por finalidade prevenir ou afastar o litgio, uma espcie de acordo realizado fora do processo. Se a transao ocorrer antes de iniciada a ao, ser causa de impedimento de sua propositura (art. 267 do CPC), caso acontea aps a propositura ser homologada pelo juiz e encerrar processo (art. 269, III).

    Conciliao: a transao realizada no bojo do processo e perante o magistrado. Em ambos os casos a jurisdio afastada pela vontade das partes, uma vez que o magistrado apenas homologa o acordo, limitando-se a uma anlise das condies do ato jurdico (capacidade civil, legitimidade, objeto lcito e forma legal), no havendo qualquer juzo de valor ou de justia do negcio.

    Juzo arbitral Lei n. 9.307/96 que consiste na renncia, pelas partes, do meio judicirio para a submisso a um rbitro de futuro e eventual litgio. A arbitragem apenas possvel quando se tratar de interesses patrimoniais ou disponveis de capazes (no se admite arbitragem em relao a direitos no patrimoniais ou de incapazes).

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    3. AO

    Apesar de ser um tema extremamente terico e um pouco alm da vida prtica do

    profissional do Direito, o instituto da ao e suas teorias tm sido objeto de questionamento nos concursos das carreiras do Direito do Trabalho, razo pela qual, de forma simplificada, abordamos o assunto em nosso trabalho. 3.1. Conceito e teorias

    O instituto do Direito denominado ao sofre grande transformao conceitual no curso da evoluo histrica do Direito Processual Civil, passando por diversas teorias e alteraes na busca da formulao de um conceito mais adequado em relao sua efetividade.

    Dessa forma, tiveram grande contribuio para a conceituao da ao as seguintes

    teorias: a) Teoria clssica, imanetista ou civilista. Por estes estudos, elaborados especialmente por Savigny, a ao era concebida

    como uma qualidade do direito material, concebendo-se que, quando violado um bem da vida, a ao reagiria contra tal agresso.

    Os professores Ada Pellegrini Grinover, Cndido Rangel Dinamarco e Antonio Carlos

    de Arajo Cintra citam12 as seguintes conseqncias (caractersticas) dessa teoria:

    no h ao sem direito; no h direito sem ao; a ao segue a mesma natureza do direito.

    b) Polmica entre Windscheid e Muther

    Havia uma grande controvrsia sobre a teoria civilista entre Windscheid e Muther, este ltimo fazia distino entre o direito lesado e o direito de ao.

    Para Muther a ao dividia-se em dois direitos: 1) direito do ofendido contra o

    Estado, para pleitear uma tutela; 2) do Estado contra o ofensor, na busca da soluo do conflito.

    c) Teoria da ao como direito autnomo e concreto O estudo de Wach (acompanhado por Bulow, Schmidt e Hellwing) resultou na

    afirmao de que a ao um direito autnomo em relao ao direito material, no entanto, ele sustentava que o direito de ao deveria corresponder a uma proteo concreta (ou efetiva) do Estado, existindo direito de ao apenas quando houvesse direito a uma sentena favorvel (de procedncia).

    12 Teoria Geral do Processo . So Paulo, Editora Malheiros, 17 ed., p. 250, 2001.

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    Seguindo esta mesma linha de raciocnio, Chiovenda formulou a teoria da ao como

    direito potestativo, segundo a qual a ao corresponde ao direito daquele que tem razo contra o indivduo que no tem. Em outras palavras, a ao consistia em um direito concreto (sentena favorvel).

    d) Teoria da ao como direito autnomo e abstrato Teoria desenvolvida por Degenkolb, acompanhada de grande parte da doutrina

    contempornea, que desenvolveu a idia de que a ao autnoma em relao ao direito material, sendo dois direitos distintos e independentes entre si.

    Essa teoria diverge da anterior pois conceituou a ao como direito abstrato13: direito

    de ao independe da existncia ou no do direito material invocado, podendo haver ao mesmo com sentena desfavorvel.

    De fato, a teoria da ao encontra razo como direito autnomo e abstrato. Como bem sabemos, para assegurar todo o direito material existe uma ao, no

    entanto, no foi positivado o sentido contrrio desta expresso: a toda ao corresponde um direito, expresso que d conotao de ao como direito concreto e no abstrato.

    O direito de ao existe mesmo quando a sentena for desfavorvel, a

    improcedncia refere-se ao direito material pleiteado e no ao direito de movimentar a mquina judiciria em busca de uma tutela.

    Curiosamente, muitos profissionais do Direito, mesmo sem qualquer noo do que

    esto falando, na prtica utilizam-se da teoria da ao como direito concreto, quando afirmam: a ao foi julgada procedente, requer a procedncia da ao.

    O direito de ao no se confunde com o mrito da lide, conseqentemente, a ao

    sempre ser considerada procedente quando o autor preencher as condies de existncia desse direito (interesse de agir, possibilidade jurdica do pedido e legitimidade), diferentemente do pedido, este sim relacionado com o direito material e que julgado procedente ou improcedente na sentena de mrito.

    Ademais, confundindo a ao com o mrito do litgio, estaramos negando a

    possibilidade de existirem aes declaratrias negativas. Quando se afirma, erroneamente, que o juiz julgou improcedente a ao, estamos

    dizendo que o autor no preenchia requisito para movimentar a mquina judiciria. O que no verdade. Em outras palavras, independentemente de ter obtido xito no resultado da lide, o autor teve garantido o seu direito de ao (existe processo mesmo quando a sentena improcedente).

    Ora, como conceber a ao que objetiva a declarao de inexistncia de relao

    jurdica se o direito de ao no fosse abstrato? Pelas teorias civilista e concreta esta ao no seria possvel, pois se o direito no existe tambm no existe ao.

    13 Teoria Geral do Processo . ob. cit. p. 252.

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    Assim, podemos definir ao como direito subjetivo, abstrato e independente em relao ao direito material, de movimentar a mquina judiciria com o objetivo de obter uma tutela (manifestao do Estado-juiz) acerca de um bem jurdico litigioso.

    Ou ainda, como ensina14 Ada Pellegrini Grinover: o direito ao exerccio da atividade

    jurisdicional (ou o poder de exigir esse exerccio). Mediante o exerccio da ao provoca-se a jurisdio, que por sua vez se exerce atravs daquele complexo de atos que o processo.

    Por outro lado, no podemos deixar de lembrar que o direito de ao de

    provocao e acesso ao Poder Judicirio elevado categoria de direito fundamental do indivduo, assegurado na Constituio da Repblica (art. 5, inciso XXXV) como premissa intangvel diante de qualquer poder (art. 60, 4, IV).

    3.2. Espcies de aes

    As espcies de aes, via de regra, so definidas pelo legislador infraconstitucional que, na busca de maior efetividade na soluo do conflito, para cada tipo de tutela pretendida pelo autor determina uma ao diferenciada com processo e procedimentos prprios.

    Ressalte-se que a escolha da espcie de ao incumbncia do autor, durante a

    elaborao de sua inicial. No entanto, tal faculdade no permite que ele se utilize de meio inadequado para obter sua pretenso. A ao no est apenas disposio das partes, devemos lembrar que instituto pblico, no qual o Estado tem interesse que o seu desenvolvimento e resultado transcorram de modo regular.

    Infere-se, portanto, que o autor deve optar por ao cujo processo e procedimento

    sejam capazes de oferecer uma tutela compatvel com a sua pretenso, sob pena de incorrer em falta de interesse de agir e a conseqente extino do processo sem julgamento do mrito.

    Podemos citar um exemplo muito comum: geralmente, na hiptese de o autor possuir

    ttulo executivo, no lhe resta condio da ao (interesse de agir) para a propositura de uma ao de conhecimento15.

    Dessa forma, as aes16 previstas no ordenamento so as seguintes: a) Ao de conhecimento ou cognio

    14 Ob. cit., p. 248. 15 Parte da doutrina tem exposto pensamento que, mesmo havendo ttulo executivo, o demandande poder utilizar-se da ao de conhecimento para se beneficiar das chamadas medidas de apoio do artigo 461 do CPC, observando que na ao de conhecimento a tutela especfica poder ser mais eficaz do que o processo de conhecimento, uma vez que no ocasiona embargos com efeito suspensivo neste caso. 16 Alguns doutrinadores classificam as denominadas sentenas executivas lato sensu como uma espcie de ao, ao lado das aes de conhecimento. No entanto, tal instituto no uma espcie de provimento jurisdicional diferenciado do provimento das tutelas declaratrias, constitutivas ou condenatrias, mas apenas refere-se aos efeitos dessa tutela, considerando que todas as tutelas executivas, lato sensu , no dependem de ao de execuo para que a parte se beneficie de seus efeitos (por Exemplo, deciso de tutela antecipada, ao de despejo, aes mandamentais, etc.).

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    A ao de conhecimento tem por finalidade obter um provimento jurisdicional sobre a existncia ou inexistncia de um direito, obrigao ou relao jurdica, impondo as medidas necessrias satisfao do reconhecimento alcanado na ao.

    De fato, esta ao tem por objeto, aps a realizao de uma cognio aprofundada

    sobre as questes da lide fatos apresentados pelo autor e pelo ru, colheita de provas e apreciao do direito a prolao da vontade da lei ao caso concreto, determinando a tutela e qual das partes tem razo no litgio e, conseqentemente, outorgando ou negando o pedido do autor.

    As aes de conhecimento resultam nas seguintes espcies de tutelas: Declaratrias As aes de conhecimento que visam tutelas declaratrias tm por finalidade

    simplesmente obter a manifestao do Estado-juiz acerca da existncia ou inexistncia de determinado fato, direito ou obrigao, limitando-se o juiz simples declarao.

    O juiz conhece o litgio e se manifesta sobre da existncia ou no do direito ou

    relao jurdica, sem que esse ato intervenha, modificando o direito material. Por exemplo, em uma ao de investigao de paternidade o juiz no condena o ru a ser pai, tampouco constitui (cria) o estado de paternidade, mas to-somente limita-se a declarar a existncia da relao de parentesco entre as partes.

    importante ressaltar que as tutelas das aes declaratrias, como regra, tm efeito

    ex tunc, retroagindo os efeitos da declarao data da ocorrncia do fato ou advento do direito reclamado. Como citamos na ao de investigao de paternidade: com a sentena o ru ser considerado pai desde o momento da concepo de seu filho, e no apenas da data da prolao da declarao.

    As tutelas declaratrias resultam na afirmao da existncia (declarao positiva) ou

    inexistncia (declarao negativa) de uma relao jurdica, direito ou obrigao. Nesta espcie de tutela incluem-se os provimentos de improcedncia do pedido da

    ao que, naturalmente, emitem uma manifestao de declarao negativa da existncia do fato ou direito pleiteado pelo autor.

    Condenatrias As aes condenatrias tm por finalidade obter um comando imperativo em face da

    parte contrria, ou seja, emitir uma sentena contendo uma determinao em relao ao demandado para que cumpra a sua obrigao (pague uma dvida, entregue uma coisa ou cumpra uma obrigao de fazer ou no fazer).

    Evidentemente, toda sentena condenatria necessita de prvia declarao de

    existncia ou inexistncia do direito, por essa razo dizemos que as aes condenatrias tm, implicitamente, uma carga de declaratria. Por exemplo: antes de impor ao ru o pagamento de uma quantia, o magistrado dever concluir pela existncia ou inexistncia do dbito.

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    Nota-se, ainda, que as sentenas condenatrias apenas so instrumentos para se obter a satisfao do direito. A sentena apenas declara a obrigao, e a condenao, por si s, no tem o poder de satisfazer, como regra; salvo as sentenas executivas lato sensu, dependem de outra ao (de execuo) para coagir o devedor a cumprir a obrigao a que foi condenado. das aes de conhecimento que emanam ttulos executivos judiciais que podero instruir a ao de execuo.

    Quanto aos efeitos desse provimento, no resta dvida de que a condenao

    retroage no tempo ex tunc primeiro pelo fato de que se presta para o reconhecimento de obrigaes no cumpridas espontaneamente pelo devedor, portanto, passadas. Alm disso, determinada a incidncia de juros desde a constituio do devedor em mora (citao ou outro momento anterior) e correo monetria desde a propositura da ao.

    Constitutiva So aes de conhecimento destinadas criao, modificao ou extino de uma

    relao jurdica ou direito. No se trata de uma mera declarao ou condenao de fatos e direitos, mas nesta tutela a interveno do Estado-juiz tem a funo de alterar a relao jurdica de direito material.

    As tutelas constitutivas podem ser: a) constitutiva negativa: tende desconstituio

    de uma relao jurdica ou obrigao (por exemplo, o divrcio, a resciso contratual, etc.); ou constitutiva positiva: entendida como aquela que cria a relao jurdica.

    Por exemplo, quando a parte prope ao visando rescindir um contrato pretende,

    como certo, uma tutela desconstitutiva (constitutiva negativa), pela qual o ato judicial colocar fim relao jurdica (o contrato). Ao contrrio, no ocorre alterao da relao jurdica quando declarada a nulidade de uma clusula contratual abusiva, nesta hiptese o juiz no modifica o estado apresentado pelas partes, mas limita-se apenas a declarar uma nulidade que sempre existiu.

    Os provimentos constitutivos tero efeito ex nunc, ou seja, no retroagiro no tempo;

    o novo estado jurdico criado, modificado ou extinto pela sentena ser somente observado aps o trnsito em julgado (ou por meio de provimento de urgncia).

    b) Ao de execuo Nas aes de execuo, o detentor de um direito previamente reconhecido, por meio

    da fora coercitiva do Estado, visa obrigar o devedor a cumprir a obrigao, satisfazendo, plenamente, o direito previsto no ttulo executivo (judicial ou extrajudicial).

    Nesta espcie de ao o direito j se encontra reconhecido seja por prvia ao de

    conhecimento seja por documento ao qual a lei confere fora executiva pretendendo o exeqente apenas a satisfao deste direito.

    c) Ao cautelar As aes cautelares tm a finalidade de dar segurana eficcia e ao objeto da

    tutela definitiva de outro processo futuro ou pendente de julgamento (de conhecimento, execuo ou mesmo especial).

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    As cautelares apenas se prestam para dar segurana, ou seja, so aes autnomas destinadas preservao de bem jurdico que se encontra litigioso, no se discutindo na cautelar o mrito do litgio principal, mas to-somente a necessidade ou no de proteger o bem ameaado de perecimento.

    A medida cautelar apenas coloca o bem jurdico em segurana, sendo que a lide

    ser resolvida em outro processo, justificando-se a tutela de urgncia para evitar o perecimento do bem devido demora na prestao da tutela jurisdicional definitiva.

    Por estas razes que, geralmente, as cautelares no so satisfativas, apenas do

    proteo ao bem jurdico sem definir ou solucionar a lide, sua eficcia depende do resultado de um outro processo17.

    Ao dissertar sobre as tutelas de urgncia, das quais faz parte a cautelar, o professor

    Cndido Rangel Dinamarco, citando Carnelutti, explica18: O tempo s vezes inimigo dos direitos e o seu decurso pode les-los de modo irreparvel ou ao menos compromet-los insuportavelmente.

    Aes mandamentais Uma grande controvrsia estabeleceu-se na doutrina acerca da natureza jurdica das

    denominadas aes mandamentais mandado de segurana, habeas corpus, habeas data e mandado de injuno.

    Os provimentos oriundos dessas demandas, em especial do mandado de segurana,

    surgem aps o reconhecimento jurisdicional da violao por autoridade do Estado a um direito lquido e certo, tendo como efeito prtico da tutela a expedio de uma ordem (um mandamento) de cessao da leso ou ameaa ao direito.

    Assim, aparentemente estas aes tm natureza declaratria e condenatria, existe

    reconhecimento da leso ao direito lquido e certo e a conseqente determinao (condenao) para que a autoridade deixe de praticar o ato.

    Em uma obra memorvel19 sobre mandado de segurana, Lcia Valle Figueiredo

    afirma: A sentena proferida no mandado de segurana pode ser constitutiva, condenatria e, at mesmo declaratria, em casos especialssimos. De qualquer forma, a declaratividade da certeza ou no do direito ser pressuposto necessrio para sentena constitutiva ou declaratria. Preferimos alinhar-nos queles com a vnia devida ao ilustre Pontes de Miranda que no vem necessidade de acrescer o tipo mandamental. Na verdade, o mandamento seria o objeto da prpria sentena condenatria (a ordem emanada autoridade administrativa)

    Apesar das demais teses que incluem a ao mandamental como uma quarta espcie de ao, ao lado das aes condenatrias, declaratrias e constitutivas maior razo

    17 Existem cautelares que no se revestem de carter de preservao de direitos, sendo denominadas assim por mera localizao no Cdigo de Processo Civil, mas no guardam natureza de cautelar, por exemplo, as notificaes judiciais. 18 Instituies de Direito Processual Civil. So Paulo, Editora Malheiros, vol. I, 1 ed., p. 160, 2001. 19 Mandado de Segurana, Editora Malheiros, 3 ed., p. 188, 2000.

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    encontram os autores que dispensam nova classificao para inclu-la no rol tradicional, na qualidade de ao de conhecimento.

    Ressaltamos, ainda, que, mesmo emanando tutelas condenatrias, constitutivas ou

    declaratrias, as aes mandamentais possuem procedimento diferenciado (ao de rito especial), bem como sua sentena que por caracterizar uma ordem dispensa processo de execuo. 3.3. Condies da ao

    A existncia do direito de ao est condicionada ao preenchimento dos seguintes elementos:

    a) Interesse de agir O interesse de agir consiste na necessidade e utilidade do provimento jurisdicional

    pleiteado. Em outras palavras, o autor apenas tem interesse de movimentar a mquina

    judiciria quando tem absoluta necessidade da interveno do Estado para a soluo do litgio e, alm disso, a espcie de provimento requerido deve ser capaz de sanar o conflito.

    b) Legitimidade Esta condio refere-se legitimidade para a causa legitimidade ad causam que

    o vnculo existente entre a parte litigante e o direito material litigioso. Como regra, pelo disposto no artigo 6 do Cdigo de Processo Civil, algum apenas

    pode figurar em um dos plos da demanda, quando o objetivo for pleitear ou defender direito prprio. No existe legitimidade ativa ou passiva quando o sujeito no est vinculado ao direito material posto em juzo.

    Por outro lado, o prprio artigo 6 prev uma exceo legitimidade ordinria,

    admitindo, nos casos estabelecidos pela legislao, a possibilidade de algum pleitear, em nome prprio, direito alheio, o que denominamos legitimidade extraordinria ou substituio processual.

    A substituio processual ocorre, por exemplo, nos casos previstos na Constituio

    da Repblica para a impetrao de mandado de segurana coletivo (art. 5, inciso LXX). As hipteses de legitimao extraordinria previstas no ordenamento jurdico versam, principalmente, sobre a defesa dos direitos transindividuais ou coletivos20, podendo citar, por

    20 Constituio Federal Art. 5 ........................ LXX o mandado de segurana coletivo pode ser impetrado por: a) partido poltico com representao no Congresso Nacional; b) organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda h pelo menos um ano, em

    defesa de seus membros ou associados. Art. 8 ........................ III ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou administrativas;

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    exemplo, a legitimidade das associaes, sindicatos, rgos de classes, partidos polticos, Ministrio Pblico, etc., que substituem os verdadeiros titulares do direito litigioso.

    c) Possibilidade jurdica do pedido A possibilidade jurdica do pedido, muito confundida pelos aplicadores do Direito, no

    guarda qualquer relao com a existncia ou no do direito material requerido, mas refere-se quanto possibilidade, em abstrato, da concesso pelo Poder Judicirio da tutela requerida.

    Diante da pretenso do autor dever ser formulada a seguinte pergunta: a tutela

    pretendida pelo autor pode ser conferida pelo Poder Judicirio? Ressalte-se que a possibilidade jurdica do pedido no se vincula existncia ou no

    do direito invocado, mas sim quanto existncia de previso legal para a tutela pretendida. Por exemplo: em um contrato as partes estabelecem que, em caso de

    inadimplemento, a parte infratora seria punida com castigos fsicos. Ocorrendo a mora, a parte credora ingressa em juzo pleiteando o cumprimento do contrato. Se analisarmos friamente, o credor tem razo no seu pedido (a outra parte inadimplente), no entanto, o judicirio no poder conferir ao credor a tutela pleiteada, logo, o seu pedido juridicamente impossvel o ordenamento brasileiro no permite castigos fsicos.

    A esse respeito, o mestre Moacyr Amaral Santos ensina21: O direito de ao

    pressupe que o seu exerccio visa a obteno de uma providncia jurisdicional sobre a pretenso tutelada pelo direito objetivo. Est visto, pois, que para o exerccio do direito de ao a pretenso formulada pelo autor dever ser de natureza a poder ser reconhecida em juzo. Ou mais precisamente, o pedido dever constituir numa pretenso que, em abstrato, seja tutelada pelo direito objetivo, isto , admitida a providncia jurisdicional solicitada pelo autor.

    Carncia de ao

    A ausncia de qualquer uma das condies da ao denominada carncia de

    ao, o que equivale a dizer que o autor no detm o direito de ao, direito de movimentar o Judicirio para obter um provimento jurisdicional.

    Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8078/90) Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vtimas poder ser exercida em juzo individualmente, ou a ttulo coletivo. Art. 82. Para os fins do art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente: I o Ministrio Pblico; II a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal; III as entidades e rgos da administrao pblica, direita ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo; IV as associaes legalmente constitudas h pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Cdigo, dispensada a autorizao assemblear. Ao Civil Pblica (Lei n. 7347/85): art. 5. Ao Popular (Lei n. 4717/65): art. 1 legitimidade do cidado para pleitear anulao de ato lesivo ao patrimnio pblico. 21 Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. So Paulo, Editora Saraiva, vol.I, 21 ed., p.170, 1999.

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    Sobre este assunto, o professor Arruda Alvim explica22: As condies da ao so as categorias lgico-jurdicas, existentes na doutrina e, muitas vezes, na lei, como em nosso Direito positivo, que, se preenchidas, possibilitam que algum chegue sentena de mrito.

    Por sua vez, a carncia de ao impede a existncia e o desenvolvimento vlido do

    processo, sendo que, faltando uma das condies, o magistrado no poder conhecer a pretenso do autor e sobre ela proferir um juzo de mrito, sendo imperiosa a extino do feito nos termos do artigo 267, inciso VI do Cdigo de Processo Civil.

    importante consignar que a carncia de ao vcio insanvel do processo,

    caracterizando, ainda, questo de ordem pblica que pode (e deve) ser conhecida de ofcio pelo magistrado e em qualquer grau de jurisdio, nos termos do artigo seguinte:

    Art. 267. .....................................................................

    3. O juiz conhecer de ofcio, em qualquer tempo e grau de jurisdio, enquanto no proferida a sentena de mrito, da matria constante dos ns. IV, V e VI, todavia, o ru que a no alegar, na primeira oportunidade em que

    lhe caiba falar nos autos, responder pelas custas de retardamento.

    Por se tratar de vcio insanvel do processo pela inexistncia do direito de ao mesmo que decidida em instncias ordinrias, a matria poder ser reapreciada, de ofcio ou por requerimento das partes, em novas oportunidades do processo, dado o fato de no ocorrer a precluso23.

    3.4. Elementos da ao As aes possuem elementos objetivos e subjetivos que as identificam, como: a) Partes: na ao sempre dever haver algum que pede (parte autora) e outro que

    se sujeita ao pedido (ru). b) Causa de pedir (causa petendi): so os fundamentos fticos e de direito que

    motivam o autor a movimentar a mquina judiciria. A causa de pedir remota so os fatos (por exemplo, o acidente) e causa prxima a conseqncia jurdica do fato (o dever de indenizar pelos danos experimentados).

    c) Pedido24 (petitum): a providncia jurisdicional requerida na ao, sendo certo que o pedido compreende duas partes: a) pedido imediato, que equivale espcie de tutela jurisdicional pretendida pelo Autor (como a declarao, a condenao ou a constituio negativa ou positiva), b) o pedido mediato corresponde aos efeitos prticos da tutela jurisdicional pretendida (por exemplo: pagamento de determinada quantia, entrega de coisa, etc.).

    A identificao dos elementos da ao mostra-se relevante para a prpria

    determinao da competncia jurisdicional e verificao da existncia de coisa julgada, litispendncia, conexo e continncia.

    22 Manual de Direito Processual Civil. So Paulo, Editora Revista dos Tribunais, col. 1, 7 ed., p. 408, 2001. 23 Em se tratando de condies da ao, no ocorre precluso, mesmo existindo explcita deciso a respeito. (VI Encontro Nacional dos Tribunais de Alada concluso n. 7). 24 Ser abordado em captulo prprio, adiante.

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    4. PROCESSO

    4.1. Conceito e natureza jurdica

    Pela definio da doutrina tradicional, processo a relao jurdica formada entre autor e ru, perante rgo investido de jurisdio, para solucionar um conflito de interesses, ou ainda podemos dizer que processo o instrumento pelo qual o Estado exerce a jurisdio para manifestar a lei ao caso concreto e resolver a lide.

    Processo pode ser definido como meio, tcnica ou mtodo para a aplicao do

    Direito ao caso concreto. Existe uma relao em cadeia, na qual a lide (conflito de interesses) gera a ao do

    autor para movimentar a jurisdio, que exerce a sua funo atravs do processo, prestando uma tutela de soluo da lide.

    Como sabemos, o processo uma relao subjetivamente triangular: o autor pleiteia

    a tutela perante o Estado-juiz, e este exerce sua atividade em face do ru. Juiz

    Autor Ru

    Por essa razo relao triangular a doutrina tem entendido que existe processo somente aps a citao do demandado, momento em que o ru passa a integrar a relao jurdica processual que antes caracterizava apenas direito de ao (por ser linear ou bilateral).

    Assim, a citao constitui elemento de existncia e validade do processo.

    4.2. Pressupostos processuais

    A existncia e o desenvolvimento vlido do processo esto subordinados ao preenchimento de pressupostos legais, indispensveis para que o magistrado possa conhecer o mrito da lide e proferir uma sentena. So eles:

    de existncia ou de desenvolvimento vlido Pressupostos processuais objetivos ou subjetivos

    Lide Ao Jurisdio Processo Tutela do Estado

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    Pressupostos processuais25 a) capacidade de ser parte Em relao s partes b) capacidade processual c) capacidade postulatria Subjetivos a) rgo investido de jurisdio Em relao ao juiz ou b) competente (funcional) juzo c) imparcial (no impedido ou

    suspeito arts. 134 e 135) a) litispendncia b) coisa julgada Extrnsecos relao: c) transao inexistncia de fatos d) compromisso impeditivos e) perempo Objetivos f) falta de pagamento das despesas previstas no artigo 267, V a) petio inicial apta Intrnsecos relao: devido a processo legal b) citao vlida c) procedimento legal 4.2.1. Capacidade de ser parte

    A capacidade de ser parte inerente titularidade de direitos e obrigaes no campo do direito material. Em outras palavras, podemos dizer que toda pessoa, jurdica ou fsica, de Direito Pblico ou Privado, sujeito de direitos e obrigaes na esfera do direito material.

    4.2.2. Capacidade processual

    A capacidade processual consiste na aptido para a prtica de atos da vida civil, ou ainda a capacidade para a prtica de atos jurdicos conforme previsto no artigo 3 a 5 do atual Cdigo Civil.

    So absolutamente incapazes, portanto devero ser representadas em juzo, as

    seguintes pessoas (art. 3 do CC): a) menores de dezesseis anos; b) os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio

    discernimento para a prtica de atos da vida civil; c) os que, por causa transitria, no puderem externar livremente as declaraes de

    vontade. 25 SANTOS, Moacyr Amaral. Ob. cit., p. 324.

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    Por outro lado, so considerados relativamente incapazes (que sero assistidos em

    juzo): a) os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos; b) os brios habituais (pessoas encontrada habitualmente alcoolizada), os viciados em

    txicos, os deficientes mentais que tiveram reduzida a sua capacidade de discernimento;

    c) os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; d) os prdigos (pessoas que dissipam seus bens). Por sua vez, em se tratando de pessoa jurdica, para a validade da capacidade

    processual observa-se (art. 12 do CPC): A Unio, os Estados e o Distrito Federal sero representados por seus procuradores. Os Municpios sero representados por seus prefeitos ou procuradores. A massa falida ser representada pelo sndico. A herana jacente ou vacante ser representada por seu procurador. O esplio ser representado pelo seu inventariante. O condomnio ser representado pelo seu administrador (sndico). As pessoas jurdicas sero representadas pela pessoa designada no contrato ou no

    estatuto social. As sociedades sem personalidade jurdica sero representadas pela pessoa a quem

    couber a administrao. A pessoa jurdica estrangeira poder ser representada pelo gerente, representante ou

    administrador no pas. Ressalte-se que o vcio de capacidade processual incapacidade ou irregularidade de

    representao quando no possvel ser sanado (ou, se intimada, a parte no o sanar), poder acarretar (art. 13 do CPC):

    a) Caso o vcio seja no plo ativo: o juiz decretar a nulidade do processo. b) Sendo o vcio no plo passivo: o juiz decretar revelia. c) Ocorrendo o vcio em relao ao terceiro: este ser excludo do processo.

    Curador especial

    O Cdigo de Processo Civil, em seu artigo 9, determina que o juiz dever conferir curador especial s seguintes pessoas:

    a) ao incapaz, se no tiver representante ou se os interesses deste colidirem com os

    daquele; b) ao ru preso; c) ao revel citado por edital ou com hora certa.

    4.2.3. Capacidade postulatria

    Por capacidade postulatria entende-se a aptido de se dirigir ao rgo jurisdicional para requer uma providncia ou tutela especfica.

    No Brasil, a capacidade postulatria foi conferida, com exclusividade, aos

    advogados bacharis em Direito aprovados e, regulamente, inscritos nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil nos termos do artigo 36 do Cdigo de Processo Civil. A advocacia considerada pela Constituio como instituio indispensvel a administrao da justia.

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    Todavia, temos que ressaltar as seguintes excees necessidade de advogado para a implementao da capacidade postulatria, ou seja, situaes em que a prpria parte detentora dessa capacidade, quais sejam:

    a) para a impetrao de habeas corpus; b) para a pessoa fsica, na primeira instncia dos Juizados Especiais, quando o

    valor da causa no ultrapassar o valor de 20 salrios mnimos (para a interposio de recurso para os colgios recursais necessria a presena de advogado);

    c) pelo reclamante, em ao trabalhista; d) nas aes de alimentos, o alimentado (aquele que pede os alimentos), poder

    formular o pedido diretamente no cartrio competente, sem a necessidade de advogado. Quando exercida por advogado, a prova da capacidade postulatria depende da

    exibio do instrumento de mandato, negcio jurdico pelo qual a parte confere ao advogado os poderes para represent-la em juzo. Geralmente o advogado no admitido no processo sem a prova do mandato, todavia, h previso no artigo 37 e no artigo 5 do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil da possibilidade, em caso de urgncia, de o advogado atuar sem procurao, protestando pela juntada, no prazo de 15 dias, prazo este prorrogvel por mais 15 dias mediante deciso do juiz.

    Por outro lado, a legislao processual admite a postulao em causa prpria

    quando a parte tiver habilitao para o exerccio da advocacia. Com relao aos poderes do mandato, podemos classific-los em:

    Poderes para o foro em geral clusula ad judicia: habilita o advogado para praticar todos os atos do processo, com exceo dos poderes especiais.

    Poderes especiais (devem ser expressos): para receber citao, confessar,

    reconhecer a procedncia do pedido, transigir, desistir da ao, renunciar ao direito sobre o qual se funda a demanda, receber, dar quitao, firmar compromissos e substabelecer.

    Sobre a procurao, inclusive por ser questo enfrentada pelo Superior Tribunal de

    Justia, surgiu a controvrsia a respeito da necessidade de reconhecer a assinatura do outorgante por oficial de registro civil e, tambm, a forma de instrumento pblico para as procuraes outorgadas por menores pberes (16 a 21 anos).

    A controvrsia citada tem origem na redao do artigo 1.289 do Cdigo Civil que

    prev a obrigatoriedade de se reconhecer a firma do outorgante ( 3) e a possibilidade de utilizar o instrumento particular apenas por pessoas capazes.

    No entanto, a jurisprudncia dominante26 tem firmado entendimento para afastar as

    formalidades do Cdigo Civil, sob o fundamento de que a nova legislao processual e o 26 PROCESSO CIVIL. PROCURAO JUDICIAL. PODERES GERAIS PARA O FORO E ESPECIAIS. ART. 38, CPC. RECONHECIMENTO DE FIRMA. DESNECESSIDADE. PRESUNO DE VERACIDADE. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. RECURSO DESPROVIDO. I O art. 38, CPC, com a redao dada pela Lei n. 8.952/94, dispensa o reconhecimento de firma nas procuraes empregadas nos autos do processo, tanto em relao aos poderes gerais para o foro (clusula ad judicia), quanto

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    Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil no fazem nenhuma exigncia quanto obrigatoriedade de instrumento pblico e reconhecimento de firma. A legislao processual, ao tratar do instrumento de mandato, deve prevalecer sobre o Cdigo Civil por ser norma especfica e posterior.

    De fato, no se justifica a formalidade exacerbada para o instrumento de mandato,

    vez que a legislao posterior ao Cdigo Civil, ao regulamentar a matria, no determinou tais procedimentos.

    4.2.4. Substituio processual quando da alienao do bem litigioso

    Alm da substituio prevista no artigo 6 legitimao extraordinria poder ocorrer a alterao do plo passivo quando da alienao do objeto da demanda.

    Nesse sentido, o artigo 42 do Cdigo de Processo estabelece a regra segundo a

    qual a alienao da coisa litigiosa no curso da ao no tem o poder de alterar a legitimidade. Como exceo regra, o prprio artigo 42 autoriza a substituio da parte para

    a retirada do cedente e incluso do cessionrio quando houver anuncia da parte contrria. No havendo concordncia da parte adversa, o cessionrio poder ingressar na

    demanda como assistente litisconsorcial, uma vez que ele tem interesse na causa na condio de titular do direito material litigioso.

    Curiosamente, mesmo no havendo a substituio do cedente pelo cessionrio,

    ou mesmo que este no seja assistente, estar sujeito aos efeitos do processo27 (sentena), conforme dispe o 3 do artigo 42. em relao aos poderes especiais (et extra) previstos nesse dispositivo. Em outras palavras, a dispensa do reconhecimento de firma est autorizada por lei quando a procurao ad judicia et extra utilizada em autos do processo judicial. II A exigncia ao advogado do reconhecimento da firma da parte por ele representada, em documento processual, quando, ao mesmo tempo, se lhe confia a prpria assinatura nas suas manifestaes, sem exigncia de autenticao, importa em prestigiar o formalismo em detrimento da presuno de veracidade que deve nortear a prtica dos atos processuais e o comportamento dos que atuam em juzo. III A dispensa da autenticao cartorria no apenas valoriza a atuao do advogado como tambm representa a presuno, relativa, de que os sujeitos do processo, notadamente os procuradores, no faltaro com os seus deveres funcionais, expressos no prprio Cdigo de Processo Civil, e pelos quais respondem. (STJ, 4 Turma, RESP 264228/SP, julg. 05/10/2000, rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, v.u.). ADVOGADO. PROCURAO ''AD JUDICIA'' EM QUE FIGURAM COMO OUTORGANTES MENORES PBERES, COM ASSISTNCIA DA ME, LAVRADA POR INSTRUMENTO PARTICULAR. PRETENDIDA CONTRARIEDADE AO ART. 1.289 DO CDIGO CIVIL, POR INOBSERVNCIA DA EXIGNCIA DE INSTRUMENTO PBLICO. ALEGAO REJEITADA ANTE A EXISTNCIA DE NORMAS ESPECFICAS, NO RESTRITIVAS, QUANTO AO MANDATO ''AD JUDICIA''. RECURSO ESPECIAL PELA LETRA ''A' NO CONHECIDO. (STJ, 5 Turma, RESP 25482/SP, julg. 15/03/1993, rel. Min. Assis Toledo, v.u.). 27 Art. 42. A alienao da coisa ou do direito litigioso, a ttulo particular, por ato entre vivos, no altera a legitimidade das partes. 1 O adquirente ou o cessionrio no poder ingressar em juzo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que consista a parte contrria. 2 O adquirente ou cessionrio poder, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou ao cessionrio. 3 A sentena, proferida entre as partes originrias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionrio.

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    Substituio por morte da parte

    A morte da parte tem o poder de modificar a legitimidade da causa. O falecimento da parte transfere a titularidade do direito material ao seu esplio, salvo se a ao versar sobre direito personalssimo, conforme artigo 267, inciso IX, do Cdigo de Processo Civil. 4.2.5. Pressupostos processuais referentes ao rgo jurisdicional

    Em relao ao rgo jurisdicional, so pressupostos processuais: a) investidura b) competncia funcional (em razo da matria, hierarquia ou pessoa que

    ocupa um dos plos da ao). c) imparcialidade: inexistncia de impedimento ou suspeio Ao tratarmos do tema jurisdio, verificamos que apenas o Estado que

    detm poder para o processamento e a emisso de tutelas sobre conflitos, conseqentemente, o processo apenas ter validade quando proposto perante rgo investido de poder jurisdicional pelo Estado princpio do juiz natural.

    No basta que o rgo tenha jurisdio, mas ele dever, tambm, ser

    competente para processar e julgar a causa, lembrando que ningum ser julgado ou processado seno pela autoridade competente.

    Alm disso, o rgo jurisdicional competente deve estar absolutamente

    isento de qualquer interesse no objeto da lide, a pessoa do magistrado deve ser imparcial em relao ao.

    A imparcialidade deixa de existir quando o magistrado est impedido ou

    suspeito, nos termos estabelecidos nos artigos 134 e 135 do Cdigo de Processo Civil. Observando-se que o impedimento vcio insanvel do processo, e que acarreta a sua nulidade, podendo ser alegado a qualquer momento e inclusive por meio de ao rescisria; o mesmo no ocorre com a suspeio que, se no for alegada oportunamente pela parte interessada, o vcio ser considerado sanado e a imparcialidade ser considerada inexistente.

    4.2.6. Pressupostos objetivos Inexistncia de fatos impeditivos O prprio ordenamento processual, em seu artigo 267 e incisos, determinou

    as hipteses em que o processo no tem condies de ter o seu mrito apreciado, consistindo em fatos impeditivos o desenvolvimento regular do feito, sendo:

    a) Litispendncia (art. 301, V): quando proposta ao idntica a outra que

    ainda se encontra em curso. b) Coisa julgada: efeito inerente s sentenas de mrito que impedem a

    reapreciao da lide j decidida definitivamente. c) Transao: constitui o acordo, formalizado fora do processo, com a

    finalidade de prevenir litgio.

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    d) Compromisso: representa a clusula contratual que determina a submisso de eventual litgio a um rbitro, com excluso da atividade do Poder Judicirio.

    e) Perempo: propositura de ao que j havia sido extinta, por trs vezes, em decorrncia da inrcia28 da parte em dar andamento aos processos anteriores.

    f) Falta de pagamento das custas previstas no art. 267, inciso V: quando uma ao termina sem o julgamento do mrito, a parte apenas poder intentar nova ao depois do pagamento das custas da ao anterior.

    Por outro lado, existem pressupostos intrnsecos prpria relao jurdica

    processual, em especial, relacionados com a observncia do devido processo legal: a) Petio inicial apta: o processo apenas pode se desenvolver quando o

    autor elaborou sua petio inicial com observncia dos requisitos legais genricos previstos no artigo 282 e especficos para as aes especiais.

    b) Citao vlida: a relao jurdica processual apenas passa a existir quando o ru chamado a integr-la, sem a citao o processo no existe.

    c) Procedimento legal29: a validade do processo depende da regular observncia dos procedimentos previstos em lei, sendo vedado ao magistrado e partes a criao de um modus operandi diverso daquele fixado pela lei. O devido processo legal garantia constitucional de que o processo se desenvolve, unicamente, segundo o rito previsto em lei.

    A inexistncia de pressupostos processuais causa de nulidade do

    processo e de sua extino sem julgamento do mrito, conforme determina o artigo 267, inciso IV, devendo o juiz reconhecer de ofcio, em qualquer grau de jurisdio, o defeito que impede o julgamento e processamento do feito.

    4.3. Procedimento

    O procedimento no se confunde com o processo, vez que, enquanto este constitui o instrumento do Estado para a prestao da tutela jurisdicional, aquele caracteriza o rito pelo qual os atos processuais sero praticados dentro do processo, dentro de uma seqncia lgica (um ato praticado aps outro em ordem prevista na lei).

    O procedimento caracteriza o modo e a forma para a prtica dos atos processuais

    dentro do processo30.

    28 A extino do processo em razo por outras causas previstas no art. 267 no enseja a perempo, que apenas ocorre se o processo tiver sido extinto, por trs vezes, em razo da inrcia da parte autora. A inrcia do ru no gera perempo. 29 muito comum o fato de alguns magistrados determinarem a realizao de atos processuais no existentes na lei e fora do momento processual adequado. J vimos casos em que, para a apreciao de pedido de liminar isto antes da citao e apresentao de contestao o magistrado determinou a apresentao de defesa prvia, obviamente este ato processual no existe no procedimento do processo civil (ele criou um rito). 30 THEODORO JR., Humberto, op. cit. p. 292.

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    Assim, o rito ou procedimento poder ser: a) ordinrio ou comum; b) sumrio; c) especial.

    4.3.1. Rito ordinrio

    No processo de conhecimento o rito ordinrio constitui o procedimento comum, ou seja, a regra geral que se aplica para todas as causas que no foram submetidas ao rito especial ou sumrio.

    O procedimento ordinrio constitudo pelas seguintes fases e atos principais: a) fase postulatria: petio inicial, despacho inicial (recebimento, emenda da

    petio inicial ou extino liminar), citao e defesa do ru; b) fase saneadora: verificao dos pressupostos processuais, extino do

    processo sem julgamento do mrito, julgamento antecipado, especificao das provas;

    c) fase de tentativa de conciliao: antes do incio da produo de provas, em se

    tratando de direitos disponveis, realizada audincia para tentativa de conciliao (art. 331 do CPC);

    d) fase instrutria: fase da dilao probatria, momento da colheita de provas,

    audincia de instruo: oitiva das partes em depoimento pessoal ou interrogatrio, oitiva de testemunhas ou dos esclarecimentos dos expertos.

    e) fase decisria: aps o encerramento da instruo o juiz proferir sentena;

    f) fase recursal: a parte sucumbente poder interpor recurso prprio. Com o

    esgotamento dos recursos haver o trnsito em julgado. 4.3.2. Rito sumrio

    O procedimento sumrio, em tese mais clere do que o procedimento ordinrio, tem previso no artigo 275 do Cdigo de Processo Civil, delimitando o seu cabimento em razo do valor da causa ou da matria.

    O rito sumrio caracterizado pela concentrao de atos processuais (por

    exemplo, a contestao apresentada na audincia apenas aps frustrada a tentativa de conciliao, as provas devem ser requeridas e especificadas na prpria petio e contestao, sob pena de precluso).

    4.3.2.1. Hipteses de cabimento do rito sumrio Em razo do valor da causa

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    O rito sumrio aplicvel s causas cujo valor no exceder 60 (sessenta) vezes o maior salrio mnimo vigente no pas, nos termos do artigo 275, inciso I, do Cdigo de Processo Civil, observando-se que este dispositivo foi alterado31 pela Lei n. 10.444/02. Em razo da matria

    Por outro lado, tambm se aplica o procedimento sumrio, seja qual for o valor, s seguintes causas:

    a) de arrendamento rural e parceria agrcola; b) de cobrana de quaisquer quantias devidas a condomnio; c) de ressarcimento por danos em prdio urbano ou rstico;

    d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veculo de via terrestre;

    e) de cobrana de seguro relati