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_____________________________________________________________ ______ CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA DIREITO PROCESSUAL PENAL

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

DIREITO PROCESSUAL PENAL

__________________________________________________________________

Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010

Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

MÓDULO I

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. PRINCÍPIOS GERAIS INFORMADORES DO PROCESSO

1.1. Princípio da Imparcialidade do Juiz

O Juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo).

Para assegurar sua imparcialidade, a CF estipula garantias (art. 95) e vedações (art.

95, par. ún.) e proíbe tribunais de exceção (art. 5.º, XXXVII).

1.2. Princípio da Igualdade Processual

As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazerem valer suas

razões.

No processo penal, esse princípio sofre alguma atenuação, devido ao princípio

constitucional do “favor rei”, segundo o qual o acusado goza de alguma prevalência e

contraste com a pretensão punitiva.

1.3. Princípio do Contraditório

É identificado na doutrina pelo binômio “ciência e participação”.

O Juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que o direito preexistente

foi devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à outra o direito

de manifestar-se em seguida.

1.4. Princípio da Ampla Defesa

Implica o dever do Estado de proporcionar a todo acusado a mais completa defesa,

seja pessoal, seja técnica (art. 5.º, LV, da CF/88), seja o de prestar assistência jurídica

integral e gratuita aos necessitados (art. 5.º, LXXIV, CF).

Decorre a obrigatoriedade de se observar a ordem natural do processo, de modo que

a defesa se manifeste sempre em último lugar.

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.5. Princípio da Disponibilidade e da Indisponibilidade

Disponibilidade é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos.

No processo penal, prevalece o princípio da indisponibilidade, pelo fato do crime

ser considerado uma lesão irreparável ao interesse coletivo.

Decorre algumas regras, tais como:

impossibilidade de a autoridade policial arquivar o inquérito policial (art. 17 do

CPP);

o Ministério Público não pode desistir da ação (art. 42 do CPP), nem do recurso

interposto (art. 576 do CPP).

A CF abranda essa regra, ao permitir a transação em infrações de menor potencial

ofensivo. E também nos casos de ação penal privada e ação penal condicionada à

representação ou à requisição do Ministro da Justiça.

1.6. Princípio da Verdade Material ou da Manifestação das Provas

É característico do processo penal.

Consiste no dever de o Magistrado esgotar todas as possibilidades para se alcançar a

verdade real dos fatos, para servir de fundamento na sentença.

Regra: o que não está nos autos, não está no mundo.

1.7. Princípio da Publicidade

É uma garantia de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade do

Juiz.

Exceção: casos em que o decoro ou o interesse social aconselham que eles não

sejam divulgados.

1.8. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo

Juiz de primeiro grau.

Não é tratado de forma expressa em nenhum texto legal, nem na Constituição.

Decorre da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela CF.

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1.9. Princípio do Juiz Natural

Previsto no art. 5.º, LIII, da CF/88, que dispõe que “ninguém será sentenciado senão

pelo Juiz competente”.

Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de

competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que lhe

assegurem absoluta independência e imparcialidade.

Decorre também a proibição de criação de tribunais de exceção, art. 5.º, XXXVII,

CF.

1.10. Princípio do Estado de Inocência

Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal

condenatória (art. 5.º, LVII, da CF/88).

Desdobra-se em três aspectos:

prova: deve ser valorada em favor do acusado quando houver dúvida;

instrução processual: inverte-se o ônus da prova, i. e., o réu não precisa provar

que é inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;

no curso do processo: trata-se de entendimento expresso na Súmula n. 9/STJ:

“A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia

constitucional da presunção de inocência”.

1.11. Princípio do “favor rei”

A dúvida sempre beneficia o acusado.

Alguns recursos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos

infringentes).

Só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).

1.12. Princípio da Ação ou Demanda

Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função

jurisdicional.

A jurisdição tem como característica a inércia – impede que o Juiz instaure o

processo por iniciativa própria, visando a manutenção de sua imparcialidade; por 3

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conseqüência, a movimentação da máquina judiciária exige a provocação do interessado.

1.13. Princípio da Oficialidade

Significa que os órgãos incumbidos da persecutio criminis não podem ser privados.

A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado deve ser

deduzida por agentes públicos (arts. 129, I, e 144, § 4.º, da CF c.c. art. 4.º do CPP).

Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada subsidiária da

pública – quando da inércia do órgão do MP – e a ação penal popular – na hipótese de

crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da República e por Ministros

do STF (arts. 41, 58, 65 e 66 da Lei n. 1.079/50).

1.14. Princípio da Oficiosidade

As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem

necessidade do assentimento de outrem.

Ressalvam-se os casos de ação penal privada (art. 5.º, § 5.º, do CPP) e ação penal

pública condicionada.

Trata-se de um princípio geral relacionado a todas as autoridades que participam do

procedimento criminal, e diferencia-se do princípio do impulso oficial, referente ao

magistrado.

1.15. Princípio do Impulso Oficial

Também denominado princípio do impulso processual, atribui ao Juiz a ativação do

procedimento fase a fase em direção à decisão definitiva. Embora a jurisdição seja inerte, o

processo, uma vez instaurado, terá continuidade até o exaurimento da função jurisdicional.

1.16. Princípio da Verdade Formal ou Dispositivo

Implica na regra de que o Juiz depende da iniciativa das partes, quanto às provas e

às alegações, para fundamentar sua decisão.

É principio próprio do processo civil que vem sendo mitigado, permitindo ao Juiz

uma posição mais ativa, impulsionando o andamento da causa, determinando provas de

ofício e reprimindo condutas abusivas e irregulares. 4

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.17. Princípio da Persuasão Racional do Juiz

Situa-se entre o sistema da prova legal, em que os elementos probatórios possuem

valor prefixado, e o sistema do julgamento secundum conscientiam, em que o Juiz pode

decidir com base na prova dos autos, mas também sem provas e, até mesmo, contra a

prova.

No princípio da persuasão racional, o Juiz é vinculado às provas e elementos

existentes nos autos, mas sua apreciação não depende de critérios legais preestabelecidos.

A avaliação ocorre segundo parâmetros críticos e racionais.

Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do Juiz

deve ser motivado.

1.18. Princípio da Motivação das Decisões Judiciais

Previsto nos arts. 93 da CF e 381 do CPP. Sua finalidade é aferir em concreto a

imparcialidade do Juiz e a legalidade e justiça das decisões.

1.19. Princípio Lealdade Processual

Consiste no dever de verdade, reprovando a conduta da parte que se serve de

artifícios fraudulentos.

A fraude destinada a produzir efeitos no processo penal foi tipificada no art. 347 do

CP.

1.20. Princípio da Economia Processual

Preconiza o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego

possível de atividades processuais. São exemplos da aplicação desse princípio os casos de

conexidade e continência (arts. 76 e 77 do CPP).

Corolário da economia processual é o princípio do aproveitamento dos atos

processuais ou da instrumentalidade das formas, em que os atos imperfeitos só serão

anulados se o objetivo não for atingido, pois o que interessa é o objetivo, e não o ato em si

mesmo. Tal regra segue o brocardo pas de nullite´sans grief.

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1.21. Princípio do Promotor Natural

Deflui da norma contida no art. 5.º, inc. LIII ,da CF, em que ninguém será

processado senão pelo órgão do MP com atribuições previamente fixadas e conhecidas.

O STF vedou a designação casuística de promotor pela chefia da Instituição para

promover a acusação em caso específico, pois tal procedimento chancelaria a figura do

chamado “promotor de exceção” (HC n. 67.759/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, RTJ

150/123).

2. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL

2.1. Princípio da Verdade Real

É princípio próprio do processo penal, indica que o Juiz deve perscrutar a realidade,

não se conformando com o que é apresentado nos autos (verdade formal). Como exemplo,

pode ser citado o art. 156 do CPP, que permite ao Juiz determinar diligências de ofício para

dirimir dúvida sobre ponto relevante.

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2.2. Princípio da Legalidade

Impõe a observância da lei pelas autoridades encarregadas da persecução penal, que

não possuem poderes discricionários para apreciar a conveniência e oportunidade da

instauração do processo ou do inquérito.

2.3. Princípio da Autoritariedade

Confunde-se com o princípio já analisado no item 1.13. (princípio da oficialidade).

2.4. Princípio da Indisponibilidade

Significa que o órgão do MP não pode desistir (dispor) da ação penal pública, nem

do recurso interposto (arts. 42 e 576 do CPP).

A exceção é encontrada no art. 76 da Lei n. 9.099/95, que trata da transação penal.

Sendo esta aceita pelo réu, afasta a incidência do processo penal.

2.5. Princípio da Iniciativa das Partes

Decorrência do princípio da ação, em que o Juiz não pode iniciar o processo sem a

provocação da parte. São legitimados para a ação penal o MP, nas ações públicas (art. 129,

inc. I, da CF), e o ofendido ou seu representante legal, nas ações privadas ou subsidiárias

da pública (arts. 5.º, LIX, da CF e 29 e 30 do CPP).

2.6. Princípio ne eat judex ultra petita partium

Indica que o Juiz deve ater-se ao pedido feito na peça inaugural, não podendo

pronunciar-se sobre o que não foi requerido.

Não constitui julgamento ultra ou extra petita a permissão trazida pelos arts. 383

(emendatio libelli) e 384 (mutatio libelli) do CPP.

O art. 383 do CPP possibilita ao Juiz dar ao fato definição jurídica diversa da

constante na denúncia ou queixa; e o art. 384 do CPP trata da mudança na acusação,

sempre que os fatos narrados na denúncia ou queixa tiverem de ser modificados em razão

de prova nova surgida no curso da instrução criminal.

2.7. Princípio da Identidade Física do Juiz7

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Dispõe que o Juiz encontra-se vinculado ao processo que presidiu a fase instrutória,

devendo decidi-lo. Este princípio não vigora no processo penal.

2.8. Princípio do Devido Processo Legal

Previsto pelo art. 5.º, inc. LIV, da CF, o due process of law assegura à pessoa o

direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens sem a garantia de um processo

desenvolvido de acordo com a lei.

A expressão “processo” trazida pela norma constitucional engloba não só os

processos judiciais, mas também os procedimentos administrativos e militares.

2.9. Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos

Também previsto no art. 5.º, LVI, da CF/88. A ilegalidade de uma prova pode advir

da contrariedade de uma norma de direito material (sendo chamada de prova ilícita) ou de

direito processual (sendo chamada de prova ilegítima). A Constituição proíbe tanto uma

quanto outra.

A doutrina e a jurisprudência rechaçam as provas ilícitas por derivação (teoria dos

“frutos da árvore envenenada” – fruits of the poisonous tree); são aquelas produzidas a

partir de outra ilegalmente obtida. Exemplos trazidos pelo Prof. Fernando Capez, Curso de

Processo Penal, 6.ª ed., Saraiva, 2001, pág. 31: confissão extorquida mediante tortura;

interceptação telefônica clandestina.

Não se admite, em regra, a prova advinda de práticas ilegais, ainda que lícita em si

mesma. Ex.: informação sobre o local do cativeiro obtida por tortura. Em hipóteses

extremas (como a citada), vem sendo aceita a prova lícita resultante de uma ilegalidade.

2.10. Princípio da Brevidade Processual

Verificando-se uma divergência, deve-se adotar a decisão mais célere, de acordo

com o que normalmente acontece, conforme exemplifica o Prof. Fernando Capez na obra

já citada: na dúvida entre tráfico internacional ou nacional, os autos devem ser remetidos à

justiça estadual; surgindo fato novo, em razão da matéria, modifica-se a competência.

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MÓDULO II

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO

A lei processual aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a

vigência da lei anterior (art. 2.º do CPP).

Vige, no processo penal, o princípio da aplicação imediata, com a ressalva de que os

atos anteriores serão preservados.

2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território

brasileiro, sem prejuízo das convenções, tratados e regras de Direito Internacional.

Algumas exceções à territorialidade do CPP:

Código Processual Militar;

Código Eleitoral;

Lei de Tóxicos;

Lei de Imprensa;

Lei dos Juizados Especiais Criminais.

3. IMUNIDADES

3.1. Imunidades Diplomáticas

Quem comete crime no Brasil responde por ele no Brasil. Como exceção a essa

regra, temos: Chefe de Governo Estrangeiro, Embaixadores e seus familiares, funcionários

estrangeiros de embaixadas etc.

Admite-se a renúncia à garantia da imunidade diplomática.

3.2. Imunidades Parlamentares

São de duas espécies:

material (absoluta): alcança os Deputados Federais e Senadores, garantindo-lhes a

inviolabilidade por suas palavras, opiniões e votos. Para alguns, trata-se de

causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa funcional de isenção de pena. 9

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É irrenunciável. Estende-se também aos Vereadores se o crime foi praticado no

exercício do mandato e na circunscrição do Município;

processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por

flagrantes de crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não

alcança os Vereadores.

4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

4.1. Espécies

4.1.1. Quanto ao sujeito que elabora

Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da

lei. Pode ser:

– contextual: feita pelo próprio texto legal;

– posterior: feita após a entrada em vigor da lei.

Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores do Direito. Obs.: as

exposições de motivo constituem forma de interpretação doutrinária, uma vez

que não são leis.

Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.

4.1.2. Quanto aos meios empregados

Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das palavras.

Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à

sua posição dentro do ordenamento jurídico.

4.1.3. Quanto ao resultado

Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua vontade.

Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse mais

do que queria.

Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse menos

do que queria.

4.2. Interpretação da Norma Processual Penal10

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A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo

versando sobre direito de punir.

Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em

flagrante), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo quando se tratar de

regras de natureza mista.

5. ANALOGIA

Consiste em aplicar, a uma hipótese não regulada por lei, disposição relativa a um

caso semelhante.

5.1. Fundamento

Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo Direito).

5.2. Natureza Jurídica

Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supressão de lacunas.

5.3. Distinção

Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser aplicada

norma que trata de hipótese semelhante.

Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas esta não

menciona expressamente sua eficácia.

Interpretação analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz uma

formulação genérica. A norma regula o caso de modo expresso, embora

genericamente.

5.4. Espécies de Analogia

In bonam partem – em benefício do agente.

In malam partem – em prejuízo do agente.

6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 11

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É de onde provém o Direito.

6.1. Espécies

Material ou de produção: aquela que cria o Direito.

Formal ou de cognição: aquela que revela o Direito. Pode ser:

– imediata: lei;

– mediata: costumes e princípios gerais do Direito.

MÓDULO III

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. INQUÉRITO POLICIAL

1.1. Conceito

É o conjunto de diligências investigatórias realizadas pela polícia judiciária visando

a apuração do crime e sua respectiva autoria.

1.2. Natureza Jurídica

O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e

natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial.

É um procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade.

Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.

Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e começa

oficialmente com a instauração do inquérito policial. Também conhecido como informatio

delicti.

1.3. Finalidade

Segundo leitura dos arts. 4.º e 12 do CPP, conclui-se que o inquérito visa a apuração

da existência de infração penal e a respectiva autoria para fornecer ao titular da ação penal

elementos mínimos para que este possa ingressar em juízo.

A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato 12

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criminoso. Apurar a autoria consiste em a autoridade policial desenvolver a necessária

atividade visando descobrir, conhecer o verdadeiro autor da infração penal.

1.4. Jurisdição e Competência

O art. 4.º, caput, do CPP usava inadequadamente o termo “jurisdição”.

A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” (limites

territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas funções).

O parágrafo único do citado artigo dispõe que: “a competência definida neste artigo

não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma

função”. Porém, a autoridade policial não tem competência, mas sim atribuições.

O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estado, em substituição

às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.

O termo competência deve ser entendido como poder conferido a alguém para

conhecer determinados assuntos, não se confundindo com competência jurisdicional, que é

a medida concreta do Poder Jurisdicional.

A atribuição para presidir o inquérito policial é conferida aos Delegados de Polícia,

com raríssimas exceções (art. 144, §§ 1.º e 4.º, da CF/88), conforme as normas de

organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, quer pelo lugar da

consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma (ratione materiae).

A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de

sua circunscrição, sendo necessário:

se for em outro país: carta rogatória;

se for em outra comarca: carta precatória;

se for no DF ou em circunscrição diferente, mas dentro da mesma comarca, não

precisa de nenhuma carta (art. 22 do CPP).

1.5. Autoridade Competente para Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante

O flagrante deve ser lavrado no local em que se efetivou a prisão. Não havendo

Delegado de Polícia, na circunscrição mais próxima (arts. 290 e 308, ambos do CPP).

Concluído, o flagrante será enviado ao juízo competente, ou seja, devem os atos

subseqüentes ao da prisão serem praticados pela autoridade do local em que o crime se 13

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consumou.

Obs.: tem-se entendido que a falta de atribuição de competência da autoridade

policial não invalida os seus atos, ainda que se tratem de prisão em flagrante, pois a

Polícia, ao exercer a atividade jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional

ratione loci. O inquérito policial “é peça meramente informativa, cujos vícios não

contaminam a ação penal” (jurisprudência STF e STJ).

O art. 5.º, LIII, da CF/88 não se aplica às autoridades policiais, visto que estas não

processam nem sentenciam. Não foi adotado pelo referido artigo constitucional o princípio

do Delegado de Polícia Natural.

1.6. Inquéritos Extrapoliciais (art. 4.º, par. ún., do CPP)

Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira

(art. 144, § 4.º, da CF/88), mas o art. 4.º, par. ún., do CPP deixa claro que o inquérito

realizado pela polícia judiciária não é a única forma de investigação criminal.

Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outros que não o

Delegado de Polícia de Carreira. Ex.:

Inquérito judicial por crime falimentar (presidido pelo Juiz);

Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3.º, da CF/88);

Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado

Federal (Súmula n. 397 do STF –“O poder de polícia da Câmara dos Deputados

e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências,

compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a

realização do inquérito”);

Inquérito civil público (presidido pelo representante do MP; tem a finalidade de

promover a ação civil pública, art. 129, III, da CF/88);

Inquérito policial militar.

1.7. Valor Probatório do Inquérito Policial

O inquérito policial tem conteúdo informativo, visa apenas fornecer elementos

necessários para a propositura da ação penal.

Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos 14

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sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.

1.8. Dispensabilidade do Inquérito Policial

O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase

obrigatória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o MP ou ofendido tiver

elementos suficientes para promover a ação penal.

No art. 12 do CPP a expressão “sempre que” é uma condição.

O art. 27 do CPP refere-se à delatio criminis postulatória, onde qualquer um do

povo poderá fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo,

o lugar e os elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem

suficientes não é necessário o inquérito policial.

Segundo o art. 39, § 5.º, do CPP, o órgão do MP dispensará o inquérito se forem

apresentados elementos suficientes para a propositura da ação.

O art. 46, § 1.º, do CPP nos alerta para mais uma hipótese de dispensabilidade do

inquérito policial.

1.9. Características do Inquérito Policial

procedimento escrito: conforme demonstra o art. 9.º do CPP;

procedimento sigiloso (art. 20 do CPP): é uma garantia para o indiciado,

resguardando-se, assim, seu estado de inocência (art. 5.º, LVII, da CF/88). O

sigilo não alcança o advogado (Lei n. 8.906/94, art. 7.º, XIII a XV, e § 1.º, do

Estatuto da OAB);

procedimento inquisitivo: não há acusação, não há contraditório; não pode ser

argüida suspeição da autoridade policial (art. 107 do CPP). O art. 14 do CPP diz

que a autoridade policial poderá indeferir qualquer pedido de diligência. O art.

184 do CPP trata de uma diligência que não pode ser indeferida, o exame de

corpo de delito;

oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou

legalidade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade

tem o dever de promover o inquérito policial ex officio, independente de qualquer

espécie de provocação;15

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oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso,

a autoridade policial.É uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais;

indisponibilidade: uma vez instaurado, não pode ser arquivado pela autoridade

policial (art. 17 do CPP), é indisponível;

autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência

constitucional (art. 144, § 4.º, da CF/88).

10. Incomunicabilidade

Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar o

desenvolvimento da investigação.

Mediante despacho fundamentado pelo Juiz a partir da representação da autoridade

policial ou de requerimento do MP, poderá ser decretada a incomunicabilidade do

indiciado pelo prazo de até 3 dias, por conveniência da investigação ou interesse da

sociedade (art. 21 do CPP).

Somente o Juiz pode decretar a incomunicabilidade. O despacho será

fundamentado. A incomunicabilidade não poderá ultrapassar 3 dias. É decretada por

representação da autoridade ou requerimento do MP. Não alcança o advogado.

O Prof. Fernando Capez entende que a incomunicabilidade não foi recepcionada

pela nova ordem constitucional. O art. 21 do CPP foi revogado pela CF de 1988, pois em

seu art. 136, § 3.º, IV, proíbe a incomunicabilidade durante o estado de defesa. Logo, se a

CF proíbe o mais, também proíbe o menos. Em sentido contrário: o Prof. Damásio de Jesus

entende que a proibição está relacionada com crimes políticos ocorridos durante o estado

de defesa.

Predomina o entendimento de que o art. 21 do CPP é inconstitucional. Nos

concursos, porém, devemos considerá-lo constitucional.

1.11. Notitia Criminis

1.11.1. Conceito

É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso

pela autoridade policial.16

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1.11.2. Espécies

Notitia Criminis de cognição direta, imediata, espontânea: ocorre quando a

autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas

atividades rotineiras. Ex.: policiamento, imprensa, pelo encontro do corpo de

delito ou até pela delação anônima. A delação anônima (apócrifa) é chamada de

notitia criminis inqualificada.

Notitia Criminis de cognição indireta, mediata: quando a autoridade policial

toma conhecimento por meio de alguma comunicação oficial. Também é

chamada de notitia criminis de cognição provocada ou qualificada, quando a

autoridade policial toma conhecimento do fato por requisição do MP ou

autoridade policial. Sendo a comunicação feita por meio de algum ato jurídico de

comunicação formal do delito, temos como exemplo a delactio crimini que é o

requerimento feito pela vítima ou por qualquer um do povo, contendo a narração

do fato com todas as circunstâncias, a individualização do suspeito e a indicação

das provas. É subscrita pelo requerente (notitia criminis qualificada).

A delactio criminis se divide em:

- simples: só comunica o fato;

- postulatória: além de comunicar o fato, postula providências.

Notitia Criminis de cognição coercitiva: ocorre com a prisão em flagrante, em

que a notícia ocorre com a apresentação do autor.

1.12. Início do Inquérito Policial

1.12.1. Nos crimes de ação pública incondicionada

De ofício, mediante portaria ou por despacho do Delegado de Polícia, que

deverá conter o esclarecimento das circunstâncias conhecidas e a capitulação

legal da infração. Necessário sempre para a instauração do inquérito policial, a

existência de justa causa.

Por requisição do Juiz (art. 40 do CPP) ou Promotor de Justiça (art. 129, VIII,

da CF/88 e art. 5.º, II, do CPP). A autoridade policial não pode se recusar a

instaurar o inquérito, pois a requisição tem natureza de determinação, de ordem,

muito embora inexista subordinação hierárquica.17

Page 19: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Pela delactio criminis, quando a comunicação de um crime é feita pela vítima ou

qualquer um do povo. Caso a autoridade policial indefira a instauração de

inquérito, caberá recurso ao Secretário de Estado dos Negócios da Segurança

Pública ou ao Delegado Geral de Polícia (art. 5.º, § 2.º, do CPP). A delactio

criminis é mera faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a atividade

repressiva do Estado. Contudo, há algumas pessoas que, em razão do seu cargo

ou da sua função, estão obrigadas a notificar no desempenho de suas atividades

(art. 66, I e II, da LCP; art. 45 da Lei n. 6.538/78; arts. 104 e 105 da Lei de

Falências).

1.12.2. Nos crimes de ação pública condicionada

Por representação do ofendido ou de seu representante legal. A representação é

simples manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, não há

exigência formal para a sua elaboração.

Requisição do Ministro da Justiça, que deve ser encaminhada ao chefe do MP, o

qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.

1.12.3. Nos crimes de ação privada

Requerimento do ofendido, de seu representante legal ou sucessores, conforme

disposto no art. 5.º, § 5.º, do CPP c.c. os arts. 30 e 31 também do CPP.

Para o Prof. Fernando Capez, o art. 35 do CPP não foi recepcionado pela CF/88,

tendo em vista o art. 226, § 5.º, da CF/88, podendo a mulher casada requerer a instauração

do inquérito policial independentemente de outorga marital. Nada obstante, a Lei n. 9.520,

de 27.11.1997, revoga expressamente a norma contida no art. 35 do CPP.

O art. 19 do CPP dispõe que, nos crime em que não couber ação pública, os autos do

inquérito serão remetidos ao juízo competente.

Obs. 1: O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante

nos três casos. Nos crimes de ação pública condicionada e de ação privada, o ofendido

deverá ratificar o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).

Obs. 2: A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa

causa. Porém, o desconhecimento da autoria ou a possibilidade do sujeito ter agido sob a 18

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

proteção de alguma excludente da ilicitude não impede a instauração do inquérito

MÓDULO IV

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inquérito Policial

1. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL

O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência

imutável de atos. O art. 6.º do Código de Processo Penal traz o roteiro pela qual

normalmente se procede.

1.1.Primeira Providência

Dirigir-se ao local do crime e preservar o estado de coisas até a chegada da perícia.

Qualquer alteração no estado de coisas pode comprometer as provas a serem produzidas.

O art. 169 do Código de Processo Penal cuida da chamada perícia de local (esta é a

regra). Exceção: acidente automobilístico em que os veículos devem ser deslocados com a

finalidade de desobstruir a via pública (Lei n. 5.970/73).

1.2.Segunda Providência

Apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela perícia (art. 11 do

CPP – instrumentos e objetos do crime apreendidos serão anexados ao inquérito policial).

Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão,

que pode consistir em busca e apreensão domiciliar. Pode ser realizada em qualquer dia,

porém devem ser respeitadas as garantias de inviolabilidade domiciliar (art. 5.º, XI, da

CF/88).

À noite, só se pode entrar no domicílio alheio em quatro situações:

a convite do morador;

flagrante delito;

para prestar socorro;

em caso de desastre.

E durante o dia:19

Page 21: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

nas quatro situações acima citadas;

mediante prévia autorização judicial, corporificada em instrumento denominado

mandado de busca e apreensão.

Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo

com esta, não podia entrar à noite. Aplicava-se o art. 172 do Código de Processo Civil por

analogia, contudo, em dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada. Não é

mais possível sua aplicação.

Critério físico: dia é o período que medeia entre o romper da aurora e o crepúsculo

solar; entre o nascer e o pôr-do-sol; das 6 às 18h.

Domicílio (art. 150, § 4.º, do CP) é qualquer compartimento habitado; aposento

ocupado por habitação coletiva; compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce

profissão ou atividade. Ex.: quarto de hotel, motel.

Escritório de advogado, na parte aberta ao público, não é domicílio, mas sua sala é.

Balcão de bar é domicílio.

Automóvel não é domicílio.

A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa. Independe de mandado, bastando a

fundada suspeita. Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a pessoa

estiver em seu domicílio.

1.3.Terceira Providência

Ouvir o ofendido e as testemunhas.

Podem ser conduzidos coercitivamente se o ofendido ou a testemunha desatenderem

ao mandado (princípio da autoritariedade – art. 201, par. ún., do CPP). O ofendido e

testemunha podem cometer crime de desobediência (art. 219 do CPP e art. 330 do CP).

A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de crime de falso testemunho

(art. 342 do CP). O ofendido, mesmo mentindo, não comete crime de falso testemunho. No

caso do representante do Ministério Público e do Magistrado como testemunhas, estes

podem marcar antecipadamente dia e hora para sua oitiva.

1.4. Quarta Providência20

Page 22: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Indiciamento: consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, na imputação a

alguém, em inquérito, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáveis indícios de

sua autoria. “É o rascunho da denúncia” (Pitombo). É um ato abstrato, um juízo de valor da

autoridade policial que vai reconhecer alguém como principal suspeito.

O ato seguinte é a identificação criminal, que seguirá as regras da Lei n. 10.054/00.

1.5. Quinta Providência

Reprodução simulada dos fatos (reconstituição). Há duas limitações:

não pode atentar contra a moral e os bons costumes;

não pode atentar contra o direito de defesa.

Se o indiciado, portanto, nega a autoria de um crime, ele não será obrigado a realizar

a reconstituição ou realizá-la de forma diferente do que afirmou.

1.6. Sexta Providência

Encerramento do inquérito policial com o relatório, que é a narração objetiva das

diligências feitas pela autoridade. A autoridade somente pode fornecer a classificação

jurídica do fato, sem emitir qualquer juízo de mérito, e esta não vincula o Ministério

Público.

2. INTERROGATÓRIO

O interrogatório extrajudicial será assinado pelo delegado de polícia, pelo escrivão,

pelo indiciado e por duas testemunhas, podendo se socorrer das testemunhas

instrumentárias - são aquelas que, em vez de deporem sobre os fatos, depõem sobre a

regularidade do procedimento. Exemplo: testemunhas de leitura.

O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo, só valerá se confirmado

por outros elementos de prova.

A Constituição Federal consagrou o direito de silêncio ao indiciado. A autoridade

policial, portanto, deve informá-lo desse direito (art. 5.º, inc. LXIII, da CF), não podendo

mais adverti-lo de que seu silêncio poderá prejudicar sua própria defesa, conforme art. 186

do Código de Processo Penal, já que este não foi recepcionado pela Constituição Federal.21

Page 23: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para acompanhar o

ato, muito menos nomear-lhe um.

No interrogatório do indiciado relativamente incapaz (dos 18 aos 21 anos), a

autoridade deverá nomear um curador. Não observada essa regra, a ação penal não será

afetada, pois o inquérito policial é mera peça informativa e seus vícios não maculam

aquela.

Como conseqüência haverá a perda da credibilidade do contraditório. Se houve

prisão em flagrante, esta será relaxada por vício formal.

Se o interrogatório for judicial, a ausência de curador gerará sua nulidade (art. 564,

III, “c”, do CPP). Qualquer pessoa pode ser nomeada curador. A jurisprudência faz, no

entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois estes têm interesse na investigação.

A idade do relativamente incapaz a ser considerada é a do dia do interrogatório

(tempus regit actum).

Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado deverá atender à

intimação e comparecer ao ato, sob pena de condução coercitiva.

3. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Deve ser encerrado no prazo de 30 dias a partir da instauração (recebimento da

notitia criminis), se o indiciado estiver solto. Não terminado no prazo é possível que a

autoridade policial requeira a prorrogação por mais 30 dias.

Se o indiciado estiver preso, o prazo será de 10 dias, contados da data da efetivação

da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.

O prazo é de Direito Processual (conta-se a partir do primeiro dia útil seguinte). O

decurso não acarretará a perda do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão. A

jurisprudência tem entendido, no entanto, que, embora se trate de prazo processual, como

se cuida da restrição da liberdade, deve ser contado conforme o Direito Penal (conta-se o

dia do começo e exclui-se o do final). É um prazo processual que se conta como penal.

Obs.: Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça Federal, o prazo será de 15

dias, prorrogável por mais 15 se o indiciado estiver preso. Se o indiciado estiver solto, o

prazo é de 30 dias, com a possibilidade de prorrogação por mais 30 dias.

No caso de crime previsto na Lei de Tóxicos, o prazo para conclusão do inquérito 22

Page 24: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

com o indiciado preso será de 5 dias se o crime estiver previsto nos arts. 15, 16 e 17, e de

10 dias se previsto nos arts. 12, 13 e 14.

No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o

indiciado preso ou não.

4. ARQUIVAMENTO

Só pode ser determinado pelo juiz se houver pedido do Ministério Público. Se o Juiz

discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no art. 28 do Código de Processo

Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:

designar outro Promotor de Justiça para oferecer a denúncia (princípio da

independência funcional). O Promotor de Justiça designado não pode recusar,

pois quem está denunciando é o Procurador-Geral; e aquele estará apenas

executando (trata-se de delegação);

devolver os autos para diligências complementares;

insistir no arquivamento. Neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar do

arquivamento.

Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada subsidiária

da pública e não cabe recurso contra esta decisão. Porque, arquivado o inquérito, só poderá

ser reaberto com novas provas (Súmula n. 524 do STF).

Exceções (recurso contra decisão de arquivamento):

em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (art. 7.º

da Lei n. 1.521/51);

no caso das contravenções previstas nos arts. 58 e 60 do Decreto-lei n. 6.259/44,

quando caberá recurso em sentido estrito.

Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido ao

Procurador-Geral.

Se o promotor de justiça requerer a devolução dos autos à polícia para diligências

complementares, o juiz deverá, caso discorde, aplicar, por analogia, o art. 28 do Código de

Processo Penal, e não determinar a volta dos autos ao Promotor de Justiça para promover a

denúncia. Se assim fizer, caberá correição parcial.23

Page 25: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Não existe arquivamento em ação privada, pois o pedido de arquivamento feito pela

vítima significa renúncia (extinção da punibilidade).

MÓDULO V

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DA AÇÃO PENAL

1.1. Conceito

Ação penal é o instrumento pelo qual o Estado busca, por intermédio de seu

representante, a imposição de uma sanção para o acusado que pratica ato tipificado como

crime ou contravenção na legislação penal pátria.

1.2. Classificação

Segundo o artigo 100 do Código Penal, que traça diretrizes básicas sobre a

classificação da ação penal, esta pode ser pública ou de iniciativa privada.

1.2.1. Ação penal pública

A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o Ministério

Público (art. 129, inc. I, da CF/88). Para identificação da matéria incluída no rol de

legitimidade exclusiva do Ministério Público, deve-se observar a lei penal. Se o artigo ou

as disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as expressões “somente se

procede mediante representação” ou “somente se procede mediante requisição do Ministro

da Justiça”, apenas o Órgão Ministerial poderá propor a denúncia (peça inicial de toda a

ação penal pública). Vale lembrar que, apesar de a matéria constar no rol de legitimidade

exclusiva do Ministério Público, ante a sua inércia (se o parquet não oferecer a denúncia

no prazo legal), pode o ofendido ou seu representante legal ingressar com ação penal de

iniciativa privada subsidiária da pública (art. 5.º, inc. LIX, da CF/88).

A ação penal pública subdivide-se em ação penal pública incondicionada e ação

penal pública condicionada.

a) Ação penal pública incondicionada24

Page 26: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

O Ministério Público independe de qualquer condição para agir. Quando o artigo de

lei nada mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada. É regra no Direito Penal

brasileiro.

b) Ação penal pública condicionada

Apesar de o Ministério Público ser o titular de tal ação (somente ele pode oferecer a

denúncia), depende de certas condições de procedibilidade para ingressar em juízo. Sem

estas condições, o Ministério Público não pode oferecer a denúncia.

A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisição do

Ministro da Justiça.

Representação do ofendido: Representação é a manifestação do ofendido ou de

seu representante legal, autorizando o Ministério Público a ingressar com a ação

penal respectiva.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão

“somente se procede mediante representação”, deve o ofendido ou seu

representante legal representar ao Ministério Público para que este possa

ingressar em juízo. A representação não exige formalidades, deve apenas

expressar, de maneira inequívoca, a vontade da vítima de ver seu ofensor

processado. Pode ser dirigida ao Ministério Público, ao Juiz de Direito ou à

autoridade policial (art. 39 do CPP). Pode ser escrita (regra) ou oral, sendo que,

neste caso, deve ser reduzida a termo.

A representação tem natureza jurídica de condição de procedibilidade.

A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses da data do

conhecimento da autoria (e não do crime) para ofertar sua representação (art. 38

do CPP). Tal prazo é contado para oferta da representação e não para o ingresso

do Ministério Público com a ação penal, podendo este oferecer a denúncia após

os seis meses. Tal prazo não corre contra o menor de 18 anos, ou seja, após

completar 18 anos, a vítima terá seis meses para representar ao Ministério

Público. Em qualquer caso, tal prazo é de direito material (segue as regras do art.

10 do CP – computa-se o dia do começo e não se prorroga no último dia).

Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante legal pode 25

Page 27: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

oferecer a representação. Se maior de 18 e menor de 21 anos, tanto ela como seu

representante legal têm legitimidade, com prazos independentes (Súmula n. 594

do STF), podem oferecer a representação e, caso haja conflito entre os interesses

de ambos, prevalece a vontade de quem quer representar.

Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante

legal, será nomeado um curador especial, que verificará a possibilidade ou não

da representação.

Segundo o artigo 25 do Código de Processo Penal, pode o ofendido

retratar-se (ou seja, desistir da representação) até o oferecimento da denúncia.

Pode haver a retratação da retratação (a pessoa retira a representação e

depois a oferece de novo – sempre dentro dos seis meses da data do

conhecimento da autoria).

A representação não vincula (obriga) o Ministério Público a ingressar com

a ação; o Ministério Público só oferecerá a denúncia se vislumbrar a

materialidade do crime e os indícios da autoria, senão poderá pedir o

arquivamento do feito.

A representação é autorização para a persecução penal de um fato e não de

pessoas (eficácia objetiva).

Requisição do Ministro da Justiça: requisição é o ato político e discricionário

pelo qual o Ministro da Justiça autoriza o Ministério Público a propor a ação

penal pública nas hipóteses legais.

Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão

“somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”, para que o

Ministério Público possa oferecer a denúncia, é necessária tal formalidade. Tem

natureza jurídica de condição de procedibilidade e, como a representação, não

vincula o Ministério Público a oferecer a denúncia, este pode requerer o

arquivamento.

A requisição é autorização para a persecução penal de um fato e não de

pessoas (eficácia objetiva).

O Ministro da Justiça não tem prazo para oferecer a requisição, pode fazê-lo

a qualquer tempo (não se sujeita aos seis meses de prazo como na representação).26

Page 28: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A lei silencia sobre a possibilidade de retratação. Sobre o assunto, a doutrina

apresenta duas orientações:

segundo o Prof. Damásio de Jesus, entre outros, deve-se aplicar a analogia com o instituto

da representação (art. 25 do CPP), sendo, portanto, possível a retratação;

segundo outra parte da doutrina, a requisição é irretratável, pois o art. 25 do Código de

Processo Penal não prevê tal possibilidade.

2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA

2.1. Princípio da Oficialidade

Somente o Ministério Público pode oferecer a denúncia (art. 129, I, da CF/88). Esse

princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme, também chamado de

“jurisdição sem ação” (verificava-se nas contravenções penais - art. 26 do CPP; nas lesões

corporais culposas e no homicídio culposo). Nesses casos, o Juiz, por meio de portaria,

iniciava a ação penal (não havia denúncia por parte do MP).

2.2. Princípio da Obrigatoriedade

O Ministério Público tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação penal

pública, quando concluir que houve um fato típico e ilícito. Como o Órgão Ministerial tem

o dever de ingressar com a ação penal pública, o pedido de arquivamento deve ser

motivado (art. 28 do CPP). Esse princípio foi mitigado (restrito) com a entrada em vigor da

Lei n. 9.099/95 (arts. 74 e 76). Antes de oferecer a denúncia, o Ministério Público pode

oferecer a transação, um acordo com o autor do fato - princípio da discricionariedade

regrada.

2.3. Princípio da Indisponibilidade da Ação Penal Pública

Depois de proposta a ação, o Ministério Público não pode dela desistir (art. 42 do

CPP). O artigo 564, inciso III, “d”, do Código de Processo Penal prevê que o Ministério

Público deve manifestar-se sobre todos os termos da ação penal pública. Também foi

mitigado pela Lei n. 9.099/95 (referente a crimes de menor potencial ofensivos e nas

contravenções penais - art. 61), o Ministério Público pode propor ao acusado a suspensão 27

Page 29: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

condicional do processo, art. 89.

2.4. Princípio da Indivisibilidade

O Ministério Público não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar.

Decorre do princípio da obrigatoriedade.

2.5. Princípio da Intranscendência

A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe. Somente estes

podem ser processados (não pode ser contra os pais ou representante legal do autor ou

partícipe).

2.6. Observação

Tanto a ação penal pública incondicionada como a condicionada norteiam-se por

tais princípios. Quando se tratar, porém, de ação penal pública condicionada, deve ser

observada a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça (condições

de procedibilidade).

MÓDULO VI

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. AÇÃO PENAL PRIVADA

1.1. Conceito

É a ação proposta pelo ofendido ou seu representante legal.

1.2. Substituição Processual

O Estado é o titular exclusivo do direito de punir. Nas hipóteses de ação penal

privada, ele transfere ao particular a iniciativa da ação, mas não o direito de punir. O

ofendido, portanto, em nome próprio, defende interesse alheio (legitimação extraordinária).

Na ação penal pública, ocorre legitimação ordinária porque é o Estado soberano, por meio

do Ministério Público, que movimenta a ação.28

Page 30: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3. Espécies de Ação Penal Privada

Ação penal exclusivamente privada: é aquela proposta pelo ofendido ou seu

representante legal, que permite, no caso de morte do ofendido, a transferência

do direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação ao cônjuge, ao ascendente,

ao descendente ou ao irmão (art. 31 do CPP).

Ação penal privada personalíssima: é aquela que só pode ser promovida única e

exclusivamente pelo ofendido. Ex.: adultério (art. 240 do CP), induzimento a

erro essencial (art. 236 do CP).

Ação penal privada subsidiária da pública: aquela proposta pelo ofendido ou

por seu representante legal na hipótese de inércia do Ministério Público em

oferecer a denúncia.

1.4. Prazo

Em regra, o prazo para o oferecimento da queixa é de 6 meses a contar do

conhecimento da autoria. É um prazo decadencial, pois seu decurso leva à extinção do

direito de queixa. A decadência não extingue o direito de punir (o que leva tal direito à

extinção é a prescrição e não a decadência). A decadência extingue o direito de ação

(queixa) e o direito de representação (nas ações públicas condicionadas).

Trata-se de prazo de direito material contado de acordo com o Código Penal,

computando-se o dia do começo e excluindo-se o do final; não se prorroga se terminar no

domingo ou feriado. Interrompe-se com o oferecimento da queixa, e não com o seu

recebimento. O recebimento interrompe a prescrição.

No caso da ação privada subsidiária da pública, o prazo decadencial é de 6 meses

também, contudo, conta-se a partir do encerramento do prazo para oferecimento da

denúncia. A decadência do direito de queixa subsidiária não extingue a punibilidade, só

extingue o direito de ação, portanto, o Ministério Público pode oferecer a denúncia a

qualquer tempo – não estando restrito aos 6 meses, pois a ação privada subsidiária da

pública conserva sua parte pública.

1.5. Princípios da Ação Penal Privada

29

Page 31: Direito Processual Penal.doc

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1.5.1. Princípio da conveniência ou oportunidade

O ofendido tem a faculdade, não o dever de propor a ação penal.

1.5.2. Princípio da disponibilidade

O ofendido pode desistir ou abandonar a ação penal privada até o trânsito em

julgado da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (arts. 51 e 60 do

CPP, respectivamente). A desistência com a aceitação do ofendido equivale ao perdão.

1.5.3. Princípio da indivisibilidade

O ofendido é obrigado a incluir na queixa todos os ofensores. Não é obrigado a

apresentar a queixa, mas, se o fizer, é obrigado a interpor contra todos (art. 48 do CPP). A

exclusão voluntária na queixa-crime de algum ofensor acarreta a rejeição da peça inicial

em face da ocorrência da renúncia tácita no tocante ao não incluído – esta causa extintiva

da punibilidade comunica-se aos querelados (art. 49 do CPP).

1.5.4. Princípio da intranscendência

Trata-se de princípio constitucional de direito penal que impõe que a ação penal só pode

ser ajuizada contra o autor do fato e nunca contra os seus sucessores.

1.6. Denúncia e Queixa

1.6.1. Requisitos da denúncia (art. 41 do CPP)

Endereçamento: o endereçamento equivocado caracteriza mera irregularidade,

sanável com a remessa dos autos ao juiz competente.

Descrição completa dos fatos em todas as circunstâncias: no processo penal, o

réu defende-se dos fatos, sendo irrelevante a classificação jurídica destes. O que

limita a sentença são os fatos; sua narração incompleta acarreta a nulidade da

denúncia, se a deficiência inviabilizar o exercício do direito de defesa. Na

hipótese de concurso de agentes (co-autoria e participação), é necessária a

descrição da conduta de cada um. Exceções: 30

Page 32: Direito Processual Penal.doc

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crimes de autoria coletiva (praticados por multidão);

delitos societários (diretores se escondem atrás da pessoa jurídica).

Classificação jurídica dos fatos: não é essencial, pois o réu se defende dos fatos

e não da acusação jurídica (juria novit curia – o Juiz conhece o direito).

O juiz não pode, ao receber a denúncia, dar uma classificação jurídica

diversa da contida na exordial porque a fase correta para isso é a sentença (art.

383 do CPP); o recebimento é uma decisão de mera prelibação, sem o exame

aprofundado da prova; não há ainda prova produzida pelo crivo do contraditório.

Qualificação do denunciado: individualizar quem está sendo acusado. Não

havendo dados para a qualificação do acusado, a denúncia deverá fornecer seus

dados físicos (traços característicos), desde que possível.

Rol de testemunhas: a denúncia é o momento oportuno para o arrolamento das

testemunhas, sob pena de preclusão. Perdida a oportunidade, o rol poderá ser

apresentado aguardando-se que o juiz proceda a oitiva considerando as

testemunhas como suas.

Pedido de condenação: não se exige fórmula sacramental (“peço a

condenação”), basta que fique implícito o pedido. A falta acarreta mera

irregularidade.

Nome, cargo e posição funcional do denunciante: só haverá nulidade quando

essa falta inviabilizar por completo a identificação da autoria da denúncia.

Assinatura: a falta não invalida a peça se não houver dúvidas quanto a sua

autenticidade.

Denúncia alternativa é a descrição alternativa de fatos, de maneira que, não

comprovado o primeiro fato, pede-se a condenação do segundo subsidiariamente (princípio

da eventualidade). A denúncia alternativa é inepta, pois inviabiliza o direito de defesa.

Segundo a Súmula n. 1 das mesas de Processo Penal da USP, a denúncia alternativa não

deve ser aceita.

1.6.2. Requisitos da queixa

São os mesmos requisitos da denúncia, acrescida a formalidade do art. 44 do Código 31

adilson m., 03/01/-1,
O que “não é comprovado primeiro”??? Não seria: “....., não comprovadA A primeirA (a denuncia/descrição), pede-se a condenação pelA SegundA (denuncia/descrição) subsi.......”???
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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

de Processo Penal. Na procuração, devem constar o fato criminoso e o nome do querelado.

1.7. Causas de Rejeição da Denúncia ou Queixa

1.7.1. Quando o fato narrado evidentemente não constituir crime

O juiz rejeitará a denúncia quando da leitura do fato concluir que este é atípico ou

que está acobertado por causa de exclusão de ilicitude, porque falta uma condição da ação

– uma verdadeira impossibilidade jurídica do pedido. O art. 43, inc. I, do Código de

Processo Penal faz coisa julgada material (não pode ser oferecida a denúncia novamente).

1.7.2. Quando já estiver extinta a punibilidade do agente

Falta uma condição da ação, que é o interesse de agir. Faz coisa julgada material

(art. 43, inc. II, do CPP).

1.7.3. Ilegitimidade de parte

Quando se verifica impertinência subjetiva da ação (art. 43, inc. III, do CPP).

1.7.4. Quando faltar condição de procedibilidade

Ex.: apresentar a denúncia sem representação quando esta for exigida por lei (art.

43, inc. III, 2.ª parte, do CPP).

1.7.5. Quando faltar justa causa para a denúncia

É preciso um mínimo de lastro da existência do crime ou sua autoria (art. 648, inc. I,

do CPP).

1.8. Renúncia

É a abdicação do direito de oferecer queixa ou representação. Só é possível

renunciar a uma ação penal privada ou a uma ação penal pública condicionada, tendo em

vista que o Ministério Público jamais pode renunciar a qualquer ação pública.

A renúncia é unilateral, ou seja, não depende da aceitação do réu, sendo causa

extintiva da punibilidade. A renúncia, no entanto, é extraprocessual, só poderá existir antes 32

Page 34: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

da propositura da ação.

Existem duas formas de renúncia:

expressa: quando houver uma declaração assinada pela vítima;

tácita: quando a vítima praticar ato incompatível com a vontade de processar

(ex.: o casamento da vítima com o agressor).

A renúncia concedida a um réu estende-se a todos, ou seja, quando houver vários

réus, a renúncia com relação a um deles, implica, obrigatoriamente, renuncia a todos.

No caso de dupla titularidade para propositura da ação, a renúncia de um titular não

impede a propositura da ação pelo outro.

Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela ocorre

antes da propositura da ação e esta depois da propositura da ação. A única situação de

desistência da ação está prevista no art. 522 do Código de Processo Penal.

1.9. Perdão do Ofendido

É possível somente na ação penal privada, tendo em vista que o Ministério Público

não pode perdoar o ofendido. O perdão obsta o prosseguimento da ação, causando a

extinção da punibilidade. Verifica-se o perdão após o início da ação, pois, tecnicamente, o

perdão antes da ação configura renúncia. Admite-se o perdão até o trânsito em julgado

final.

Existem duas formas de perdão:

expresso: quando houver uma declaração assinada pelo querelante;

tácito: quando o querelante praticar ato incompatível com a vontade de

processar.

O perdão é bilateral, depende sempre da aceitação do querelado. Caso não haja

aceitação, o processo prosseguirá. A aceitação do querelado poderá ser:

expressa: quando houver uma declaração assinada;

tácita: se não se manifestar em três dias.

O perdão concedido a um co-réu estende-se a todos, entretanto, se algum dos co-33

Page 35: Direito Processual Penal.doc

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réus não o aceitar, o processo seguirá somente para ele. É possível o perdão parcial (p. ex.:

perdoar por um crime e não perdoar por outro), previsão doutrinária, pois a lei não trata a

respeito.

No caso de dupla titularidade, o perdão concedido por um titular, havendo oposição

do outro, não produzirá efeitos, e o processo prosseguirá.

1.10. Perempção

Significa a “morte” da ação penal privada em razão da negligência do querelante.

São hipóteses de perempção:

quando o querelante deixa de promover o andamento do processo por 30 dias

seguidos, a perempção é automática;

quando morre o querelante e nenhum sucessor aparece para dar prosseguimento

à ação, em 60 dias;

quando o querelante deixa de comparecer a ato em que deveria pessoalmente

estar presente;

quando o querelante deixa de pedir a condenação do querelado nas alegações

finais;

quando o querelante é pessoa jurídica que se extingue sem deixar sucessor;

quando morre o querelante na ação penal privada personalíssima.

MÓDULO VII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. AÇÃO CIVIL EX DELICTO

Ação Civil ex delicto é a ação cível que pode ser proposta pelo ofendido, seu

representante legal ou seus herdeiros em razão da ocorrência de um delito. Sua finalidade é

a obtenção da reparação do dano. Está disposta nos arts. 63 a 67 do CPP. É proposta no

juízo cível contra o autor do crime ou seu responsável civil.

Dispõe o par. ún. do art. 64 do CPP, in verbis: “Intentada a ação penal, o Juiz da

ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela”.

Se a ação penal, portanto, ainda estiver em curso, a vítima poderá entrar com a ação 34

Page 36: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

civil no juízo cível para requerer a indenização. Como poderá ocorrer, no entanto, o

conflito de decisões, o Juiz da ação civil poderá suspender o curso dessa ação até

julgamento final da ação penal.

Em regra, a absolvição do réu no juízo criminal não impede a ação civil de

indenização, que poderá ser proposta quando não tiver sido categoricamente reconhecida a

inexistência material do fato. Também não impedirão a propositura da ação civil:

o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;

a decisão que julgar extinta a punibilidade;

a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.

Não cabe ação civil:

quando o Juiz criminal reconhecer a inexistência do fato;

quando o Juiz criminal reconhecer que o sujeito não participou do fato;

quando o Juiz criminal reconhecer uma causa excludente da antijuricidade

(legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito ou estrito

cumprimento do dever legal). Nesta hipótese, entretanto, pode haver exceção em

que caiba ação civil nos casos previstos nos arts. 1.519 e 1.520 do CC (estado de

necessidade agressivo quando há ofensa a um inocente) e no art. 1.540 do CC

(legítima defesa real com aberratio ictus, ou seja, erro de alvo cometido pelo

agente do crime).

1.2. Execução Civil

A sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, poderá ser executada no

juízo cível, mas como o Juiz criminal não fixa o quantum, é necessário que se faça a

liquidação da sentença. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32,

§§ 1.º e 2.º, do CPP), a execução da sentença condenatória (art. 63 do CPP) ou a ação civil

(art. 64 do CPP) será promovida, a seu requerimento, pelo MP.

MÓDULO VIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Jurisdição e Competência

35

Page 37: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1. PRINCÍPIOS GERAIS DA JURISDIÇÃO

Jurisdição é a função por meio da qual o Estado-Juiz aplica o Direito ao caso

concreto.

Características:

Inércia: a jurisdição não age de ofício, depende de provocação das partes, pois,

caso contrário, sua imparcialidade ficaria abalada, ne procedat iudex ex oficio.

Indelegabilidade: a jurisdição não pode ser delegada a nenhum outro órgão. O

Judiciário é um Poder Constituído, que recebeu sua função do Poder

Constituinte, previsto na CF/88. “Não se pode delegar o que se recebeu por

delegação”, dellegatur dellegare non potest.

Investidura: apenas aquele legalmente investido no exercício da função

jurisdicional é que pode exercê-la.

Inevitabilidade: consiste em sujeição do réu ao processo e sujeição de ambas as

partes à decisão.

Inafastabilidade ou indeclinabilidade: a lei não pode excluir a apreciação de

lesão ao Direito. O legislador não pode produzir leis restringindo o acesso ao

Judiciário e o próprio Judiciário não pode deixar de julgar, não pode declinar de

sua função. Está expresso na CF/88 no art. 5.º, inc. XXXV.

Aderência ao território: a jurisdição é reflexo do poder soberano do Estado, atua

dentro do território nacional. Para a jurisdição atuar em outro país, é preciso que

o outro país a aceite. Ex.: carta rogatória.

1.1. Competência

Competência é a medida da jurisdição, é a quantidade de jurisdição cujo exercício é

atribuído por lei a um órgão ou grupo de órgãos. Os arts. 69 e ss. do CPP estabelecem os

critérios de competência. São eles:

I – o lugar da infração;

II – o domicílio ou residência do réu;

III – a natureza da infração;

IV – a distribuição;

V – a conexão ou continência;36

Page 38: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

VI – a prevenção;

VII – a prerrogativa de função.

Obs.: a conexão e a continência não são critérios de fixação de competência, são

critérios de modificação de competência.

1.2. Determinação da Competência – Foro Competente

Foro é o território dentro do qual determinado órgão judicial exerce sua parcela de

jurisdição.

Âmbito Estadual – 1.ª instância – comarca e 2.ª instância – TJ/TACrim.

Âmbito Federal – 1.ª instância – seção ou subseção judiciária e 2.ª instância – TRF.

1.2.1.Competência pelo lugar da infração (art. 69, I, do CPP)

Usa-se como regra, para fixar a competência, o lugar da infração. O CPP, no art. 70,

utilizou o local onde ocorreu a consumação ou, no caso de tentativa, o lugar em que foi

praticado o último ato de execução. O domicílio do réu é um critério subsidiário que só

será utilizado se for impossível determinar o lugar da infração.

Atenção! Não confundir:

Art. 4.º do CP – Tempo do crime, teoria da atividade – considera-se praticado o crime no

momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Importante

para identificar a lei penal aplicável ao caso, a idade do agente ao tempo da infração etc.

Art. 6.º do CP – Lugar do crime, teoria da ubiqüidade – considera-se praticado o crime no

lugar em que ocorreu a ação ou omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir-

se o resultado. Importante para identificar se a lei penal brasileira será aplicada ao fato

criminoso. Se a ação ou o resultado ocorreram aqui no Brasil, a lei penal pátria será

aplicada.

Art. 70 do CPP – Lugar do crime para a fixação da competência, teoria do resultado, o local da

consumação será o foro competente para iniciar a ação penal.

1.2.2. Casos especiais

a) Estelionato mediante a emissão de cheque sem fundo (art. 171, § 2.º, VI, do 37

Page 39: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

CP)

O crime se consuma quando o banco sacado recusa o pagamento. O foro competente

será o do banco sacado que recusou o pagamento do cheque.

É esse o entendimento das Súmulas n. 521 do STF e n. 244 do STJ (1.2.2001).

b) Estelionato (art. 171, caput, CP)

Foro competente: local do prejuízo. Ex.: Adonilza encontra uma folha de cheque na

rua, vai até uma loja e faz uma compra, fazendo-se passar por titular do cheque, o lojista

enganado entrega a mercadoria. O foro competente para a ação penal será o do local do

prejuízo – Súmula n. 48 do STJ.

c) Crimes qualificados pelo resultado (Ex.: art. 129, § 2.º, V, lesão corporal

qualificada pelo resultado aborto)

O local da consumação do resultado agravador será o foro competente para a

propositura da ação penal.

d) Falso testemunho praticado mediante precatória

O foro competente será o Juízo deprecado. O local onde ocorreu a oitiva da

testemunha será o competente.e) Homicídio doloso consumado

A jurisprudência entende que o foro competente será o do local da ação e não do

resultado, pois, dessa forma, o réu será julgado pelos seus pares, além de facilitar a

produção de provas, já que as testemunhas que não residem na mesma comarca onde se

processa a ação não têm obrigação de comparecer.

e) Crime de extorsão mediante seqüestro

Crime permanente, sua fase consumativa se prolonga no tempo. Está consumado o

crime com a privação da liberdade por tempo juridicamente relevante. Ex.: um empresário

seqüestrado em São Paulo é levado para cativeiro em Campinas, depois o cativeiro é

mudado para Americana. A consumação desse crime ocorreu em todos esse lugares. A

competência, nesse caso, fixa-se pela prevenção .

38

Page 40: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

f) Crime que se consuma na divisa entre duas cidades

O foro competente será qualquer uma das cidades; fixa-se pela prevenção.

g) Tentativa

O foro competente será o do último lugar da execução, onde ocorreu o último ato.

h) Crimes a distância, iter criminis ocorre entre dois países

Ex.: execução no Brasil e consumação em outro país, ou execução em outro país e

consumação no Brasil. Foro competente será o lugar do último ato de execução ou o lugar

onde o crime se consumou ou deveria ocorrer a consumação.

Ex. 1: terrorista envia carta-bomba da Argentina para explodir em São Paulo, sendo

que a explosão não vem a acontecer. O foro competente para propor a ação será São Paulo.

Ex. 2: brasileiro mata empresário em Nova York. A execução e a consumação do

crime ocorreram no exterior, entretanto será julgado pelas leis brasileiras em razão da

extraterritorialidade da lei penal. O foro competente para processar a ação será a Capital do

Estado do último domicílio do réu. Se o réu nunca teve domicílio no Brasil, será

processada a ação no DF.

i) Crime praticado a bordo de embarcação

Embarcação nacional pública: em qualquer lugar que esteja e ocorrer o crime, este

será julgado perante as leis pátrias. Se a embarcação for nacional privada, quando se

encontrar no mar territorial ou em alto mar, os crimes a bordo ocorridos serão julgados

pela lei nacional. O foro competente para propor a ação será o local do porto nacional onde

ocorreu o primeiro atracamento após o crime ou o porto de onde a embarcação saiu do

Brasil para o exterior. Para os crimes cometidos a bordo de aeronave, utiliza-se a mesma

regra da embarcação, sendo que o foro competente para propor a ação será o local do

aeroporto onde ocorreu o primeiro pouso após o crime ou o aeroporto de onde saiu a

aeronave antes do crime.

j) Crimes de competência da Lei n. 9.099/95

A doutrina diverge quanto ao foro competente para processar a ação.

1.ª corrente: Profª. Ada Pellegrini Grinover – foro competente será o local da ação, teoria 39

Page 41: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

da atividade.

2.ª corrente: Prof. Mirabete – foro competente será o local da ação ou do resultado, teoria

da ubiqüidade.

3.ª corrente: Prof. Tourinho – foro competente será o local do resultado, teoria do

resultado.

Como a competência é relativa, pode-se usar qualquer uma delas.

1.2.3. Domicílio ou residência – critério subsidiário

Conforme o art. 72 do CPP, não sendo conhecido o lugar da infração, a competência

regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. Ex.: uma passageira de um ônibus que

fazia o percurso São Paulo/Bahia, ao desembarcar, percebe que teve sua carteira furtada. O

ônibus esteve o tempo todo em trânsito, não há como precisar o local da infração. A ação

será proposta no local do domicílio ou residência do réu. Se o réu tiver mais de um

domicílio, conforme o art. 72, § 1.º, do CPP, a competência firmar-se-á pela prevenção, e

caso o réu não tenha domicílio certo, ou seja ignorado seu paradeiro, será competente o

Juiz que primeiro tomou conhecimento do fato.

Na ação penal privada, o ofendido poderá preferir o foro do domicílio ou residência

do réu, mesmo quando conhecido o lugar da infração. O critério é optativo, de acordo com

o art. 73 do CPP.

1.3. Natureza da Infração

Conforme a natureza do delito, a ação será julgada por uma determinada justiça

competente.

Organização da Justiça Penal:

Especial – Eleitoral (art. 121 da CF/88) e Militar (art. 124 da CF/88).

Comum – Federal e Estadual (a Justiça Estadual também é conhecida como

residual; para ela resta o que não for da competência das Justiças Eleitoral,

Militar e Federal).

1.3.1. Justiça Eleitoral

STF (Brasília)40

Page 42: Direito Processual Penal.doc

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Tribunal Superior Eleitoral (Brasília)

Tribunal Regional Eleitoral (capital do Estado)

Juiz Eleitoral (Juízes de Direito da Justiça Estadual)

Tem competência para julgar:

crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral;

crimes eleitorais previstos nas leis extravagantes.

1.3.2. Justiça Militar

Superior Tribunal Militar (Brasília – 2.ª instância) e Auditorias Militares (1.ª

instância).

Estadual: Tribunal de Justiça Militar ou Tribunal de Justiça (para os Estados que

não possuem TJM – 2.ª instância) e Auditorias Militares (1.ª instância).

Serão Julgados pela Justiça Militar Federal:

civis que pratiquem crime definido como militar;

integrantes das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que pratiquem

crime definido como militar.

Serão julgados pela Justiça Militar Estadual (art. 125, § 4.º, da CF/88): os policiais

militares e os bombeiros militares, nos crimes definidos em lei como militares.

Súmula n. 53 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil

acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais”.

Crimes Militares:

Propriamente militar ou próprio – aqueles definidos no Código Penal Militar

(Dec.-lei n. 1.001/69), sem equivalente na justiça penal comum. Ex.: motim,

dormir em serviço, insubordinação.

Impropriamente militar ou impróprio – aqueles crimes definidos na legislação

militar com equivalente na lei penal comum. Ex.: estupro, roubo, furto. Se o

crime for praticado pelo militar em serviço, será utilizado o CPM, se o militar

não estiver em serviço, será utilizado o CP.41

Page 43: Direito Processual Penal.doc

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A Lei n. 9.299/96 alterou a competência da Justiça Militar. Alguns crimes que eram

da Justiça Militar passaram para a competência da Justiça Comum. Antes dessa lei, os

crimes praticados por militar fora do serviço, mas com arma da corporação, eram definidos

como crimes militares; agora, se o militar estiver fora do serviço, com ou sem a arma da

corporação, será julgado pela Justiça Comum Estadual. Os crimes dolosos contra a vida

praticados por militar contra civil durante o serviço também passaram a ser da competência

da Justiça Comum, julgados pelo Tribunal do Júri. Se o militar em serviço pratica crime

definido apenas no CP, será julgado pela Justiça Comum. Ex.: abuso de autoridade – Lei n.

4.898/65.

Súmula n. 6 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito

decorrente de acidentes de trânsito envolvendo viatura militar, salvo se autor e vítima

forem policiais militares em situação de atividade”.

Súmula n. 75 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o

policial militar acusado de facilitação de fuga de preso em estabelecimento penitenciário”.

Súmula n. 78 do STJ: “O policial militar será julgado pela Justiça Militar Estadual

de seu Estado, ainda que o crime seja praticado em outro Estado”.

1.3.3. Justiça Federal

Compete à Justiça Federal processar e julgar os casos previstos no art. 109 da

CF/88. O art. 109, IV, da CF/88 trata das infrações penais praticadas em detrimento de

bens ou interesses da União. Conforme a Súmula n. 38 do STJ, as contravenções praticadas

em detrimento de bens ou interesses da União serão julgadas pela Justiça Comum Estadual.

Crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício

da função, são julgados pela Justiça Federal, conforme a Súmula n. 147 do STJ. Os crimes

de tráfico de entorpecentes e de crianças, se internacionais, serão da competência da Justiça

Federal; se internos, a competência é da Justiça Comum. Também compete à Justiça

Federal processar e julgar os crimes a distância previstos em tratado ou convenção

internacional e os crimes praticados a bordo de navio ou aeronave (Atenção! Não é o foro

competente, mas a Justiça competente). As embarcações de pequeno porte são de

competência da Justiça Comum.

42

Page 44: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3.4. Observações finais

A natureza da infração, portanto, serve para fixar a competência.

Existindo mais de um Juízo igualmente competente, a competência será determinada

pela prevenção ou pela distribuição. Ocorre a prevenção quando um Juízo, antecipando-se aos

demais, pratica algum ato processual ou medida relativa ao processo. Ex.: decretação de prisão

preventiva, determinação de busca e apreensão. Não havendo a prevenção, usa-se a

distribuição, que é o sorteio da ação perante os Juízes competentes, determinando qual atuará

no processo.

MÓDULO IX

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

1.1. Conexão e Continência

A conexão e a continência (art. 69, inc. V, do CPP) são critérios de modificação da

competência e não de fixação.

O art. 76 do CPP estabelece quando a competência será determinada pela conexão.

Haverá conexão quando existir um liame subjetivo (entre as pessoas) ou objetivo (entre os

delitos) unindo duas ou mais infrações penais. Nesse caso, as ações serão reunidas e

julgadas em conjunto, simultaneus processus.

A conexão pode ser:

Art. 76, inc. I, do CPP – intersubjetiva – quando as infrações houverem sido

praticadas:

– ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas;

– por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar;

– por várias pessoas, umas contra as outras (reciprocidade).

Art. 76, inc. II, do CPP – objetiva – quando as infrações houverem sido

praticadas:

– para facilitar ou ocultar outras;

– para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas.

43

Page 45: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A conexão objetiva conseqüencial compreende os casos acima descritos, e a

conexão objetiva teleológica é aquela que ocorre quando um crime é praticado para

facilitar ou assegurar a execução de outro crime.

Art. 76, inc. III, do CPP – instrumental ou probatória:

– quando a prova de uma infração ou qualquer de suas circunstâncias

elementares influir na prova de outra infração; tem fins probatórios.

O art. 77 do CPP estabelece quando a competência será determinada pela

continência.

A continência pode ser:

Art. 77, inc. I, do CPP – subjetiva – quando duas ou mais pessoas forem

acusadas pela mesma infração, configurando-se concurso de agentes. Atenção! –

na conexão intersubjetiva são duas infrações, na continência subjetiva há apenas

uma infração.

Art. 77, inc. II, do CPP – objetiva – nos casos dos artigos:

– art. 70, 1.ª parte, do CP – concurso formal;

– art. 73, parte final, do CP – aberratio ictus (erro na execução);

– art. 74, parte final, do CP – aberratio criminis (resultado diverso do

pretendido).

O art. 78 do CPP determina qual o foro prevalente em caso de conexão e

continência:

I – Competência do Júri e de outro órgão da jurisdição comum: prevalecerá a

competência do Júri. Obs.: se o crime for eleitoral e doloso contra a vida, os processos

serão julgados separadamente, não haverá a reunião de processos, pois a competência de

ambos é fixada na CF/88.

II – Concurso de jurisdições de mesma categoria:

prepondera o local da infração à qual for cominada pena mais grave (reclusão > 44

Page 46: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

detenção > prisão simples. Se a pena máxima for igual, usa-se a que tem a maior

pena mínima);

sendo iguais as penas, prevalece o local onde foi praticado o maior número de

crimes;

se nenhum desses casos fixar a competência, utiliza-se o critério da prevenção

(ver módulo VIII, item 1.3.4).

III – Concurso entre jurisdições diversas: prevalece a mais graduada. Ex.: TJ e Juiz

singular – prevalece o TJ. Se a conexão for entre crime de competência da Justiça Estadual

e da Justiça Federal, para o Prof. TOURINHO são jurisdições de mesma categoria; para a

jurisprudência, a Justiça Federal é especial em relação à Justiça Estadual. A Súmula n. 122

do STJ decidiu a questão, determinando que: “Compete à Justiça Federal o processo e

julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se

aplicando a regra do art. 78, inc. II, ‘a’, do CPP”.

IV – Concurso entre Jurisdição Comum e Jurisdição Especial (Militar e Eleitoral):

prevalecerá a Especial.

Não serão reunidos os processos para julgamento em conjunto nos casos do art. 79

do CPP:

I – concurso entre jurisdição comum e militar – Súmula n. 90 do STJ – “Compete à Justiça

Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à Comum pela

prática do crime comum simultâneo àquele”.

II – concurso entre Justiça Comum e Justiça da Infância e Juventude.

§ 1.º Superveniência de doença mental a um dos co-réus;

§ 2.º Co-réu revel que não possa ser julgado à revelia (infração inafiançável, não

comparece no Tribunal do Júri, citação por edital) e na cisão do julgamento durante a

sessão plenária do Júri (art. 461 do CPP).

O art. 80 do CPP determina os casos em que a separação dos processos é facultativa,

apesar da conexão e continência:

se as várias infrações forem praticadas em diferentes condições de tempo e 45

Page 47: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

lugar;

se excessivo o número de acusados ou para evitar o prolongamento do tempo de

prisão provisória;

se, por outro motivo relevante, o juiz julgar conveniente a separação (o juiz tem

discricionariedade para determinar isso).

1.2. Perpetuação da Competência (Perpetuatio Jurisdicionis – art. 81 do CPP)

A vis atractiva, efeito principal da conexão e continência, desloca para a

competência de um mesmo julgador os crimes conexos aos de sua competência. Se o juiz

ou o Tribunal absolver ou desclassificar o crime de sua competência, continuará

competente para o julgamento das demais infrações. Ex.: concurso de agentes – juiz e

escrivão cometem crime de furto. Os dois serão julgados pelo TJ – vis atractiva. Se o juiz

for absolvido, o escrivão continua a ser julgado pelo TJ.

Exceção: no Júri, se o juiz desclassificar, impronunciar ou absolver o acusado, de

maneira que exclua a competência do Júri, remeterá o processo ao juiz competente (art. 81,

par. ún., do CPP).

Os crimes conexos ao do Tribunal do Júri, não dolosos contra a vida, serão julgados

pelo Juiz Presidente e não pelos jurados (posição predominante da jurisprudência).

1.3. Art. 82, CPP – Avocação de Processos

Se, mesmo ocorrendo conexão ou continência, foram instaurados vários processos, a

autoridade prevalente deve avocar para si os processos que corram perante outros juízes, se

ainda não foram julgados em sentença definitiva. Se já houver sentença definitiva, isto é,

julgamento de mérito, a unificação dos processos se dará posteriormente, na execução, para

efeitos de soma ou unificação das penas.

1.4. Art. 83, CPP – Prevenção

Concorrendo dois juízes, igualmente competentes, fixa-se a competência pela

prevenção. Ocorre a prevenção quando um dos juízes anteceder aos outros na prática de

algum ato do processo ou medida referente a esse, ainda que anterior ao oferecimento da

denúncia ou queixa.46

Page 48: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.5. Art. 84, CPP – Prerrogativa de Função

A competência pela prerrogativa de função é do STF e dos Tribunais de Justiça,

relativamente às pessoas que devam, perante eles, responder por crime comum ou de

responsabilidade.

O foro por prerrogativa de função não é privilégio pessoal, mas sim em razão da

função que exerce. Extinguindo-se a função, extingue-se a prerrogativa. A razão da

prerrogativa de função é garantir a sociedade de eventual parcialidade do julgador, que

estaria vulnerável a eventuais pressões.

A Lei n. 8.038/90 dispõe sobre o procedimento para os processos perante o STJ e

STF.

Antes de receber a denúncia ou a queixa, o Tribunal deve notificar a autoridade para

apresentar, em 15 dias, a defesa preliminar. É oportunidade de defesa para a autoridade. O

Tribunal pode, além de receber ou rejeitar a inicial, julgar improcedente a acusação. Não é

possível interposição de recurso visando ao reexame de prova.

Fases do procedimento no Tribunal: 1) oferecimento da denúncia ou queixa; 2)

defesa preliminar; 3) recebimento da denúncia ou queixa, com fundamentação; 4) citação;

5) interrogatório; 6) depoimento; 7) audiência de instrução; 8) diligências; 9) alegações

finais; 10) sentença.

Se a infração for cometida:

Por quem tem prerrogativa de função (ex.: prefeito) e uma pessoa sem qualquer

prerrogativa, ambos serão julgados pelo TJ, pela continência.

Por duas pessoas que têm prerrogativa de função, p. ex., prefeito (TJ) e senador

(STF). São competências fixadas pela CF/88, não podendo ser reunidas para o

julgamento em conjunto, pois a continência prevista no CPP é

infraconstitucional; ocorrerá, portanto, a disjunção.

A competência para oferecer a denúncia é do Procurador-Geral da República (PGR),

quando for competente o STF, e do Procurador-Geral da Justiça (PGJ), quando for

competente o TJ.

Se um agente com prerrogativa de função comete crime doloso contra a vida, terá 47

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

dois foros estabelecidos na CF/88. Prevalece o da prerrogativa de função, pela

especialidade. Se for prerrogativa de função estabelecida em Lei Ordinária, prevalece o

Júri, que é previsto na Constituição.

A Constituição Estadual fixa que a competência para julgar o Vice-Governador será do

TJ. Se Vice-Governador comete crime doloso contra a vida (competência prevista na CF/88),

qual competência prevalece? Há duas posições:

prevalece a competência do Júri, conforme previsto na CF/88;

o STF entende que há um paralelismo entre a regra fixada na Constituição

Estadual e na Constituição Federal. A CF/88 prevê para o Vice-Presidente a

competência do STF, logo, para o Vice-Governador a competência é do TJ.

Vice-Presidente – STF – autoridade federal.

Vice-Governador – TJ – autoridade estadual.

Importante:

A prerrogativa de função vigora enquanto durar o exercício do cargo ou de função,

independentemente do momento em que foi praticado o delito. Ex. 1: uma pessoa pratica

um crime, o processo se inicia perante juiz comum. O infrator, então, é eleito deputado

federal. O processo, já em andamento, será remetido para o STF. Se o processo não alcança

seu fim e acaba o mandato, retorna para o juiz comum. Ex. 2: se um deputado federal,

durante o exercício do mandato, comete um crime, será julgado pelo STF. Se o processo

não alcança seu fim e o mandato acaba, será remetido para o juiz comum.

Ainda que o crime seja praticado em outra unidade da Federação, a competência

continua sendo a do Tribunal que tem competência para julgá-lo.

1.6. Tribunal Competente para Julgar Crimes Comuns

O STF tem competência para julgar em todas as infrações penais (crimes e

contravenções) e em crimes eleitorais:

Presidente e Vice-Presidente da República;

Ministros de Estado;

Ministros de Tribunais Superiores e Tribunal de Contas da União;

Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica;48

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Parlamentares federais;

Agentes diplomáticos;

Procurador-Geral da República.

O Advogado-Geral da União não está relacionado no art. 102 da CF/88, mas a

doutrina entende que seu cargo tem a mesma hierarquia dos Ministros de Estado, portanto,

também deve ser julgado pelo STF. Hoje, Medida Provisória já decidiu que tem foro

especial.

O STJ tem competência para julgar em todas as infrações penais, salvo nos crimes

eleitorais (nesse caso, cabe ao TSE apreciar a questão):

Governador;

Desembargadores;

Membros do TRF, TRE e TRT, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de

Contas do Município, MP da União que oficiem perante Tribunais.

O TRF tem competência para julgar em todas as infrações penais, salvo nos crimes

eleitorais:

Juízes federais da área de sua jurisdição;

Juízes do Trabalho;

Juízes militares;

Prefeito Municipal, nos crimes de competência da Justiça Federal;

os membros do Ministério Público da União.

Ao TRE compete julgar, nos crimes eleitorais:

Juízes federais e estaduais;

Membros do MP da União e dos Estados;

Prefeitos, nos crimes eleitorais.

O TJ tem competência para julgar:

Juízes de Direito;49

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Juízes da Justiça Militar estadual e juízes de Alçada;

Membros do MP estadual, salvo nos crimes eleitorais;

Prefeitos municipais.

Atenção:

Prefeito Municipal:

TJ – crime comum;

TRE – crime eleitoral;

TRF – crimes de competência da Justiça Federal.

Juiz de Direito e MP estadual:

TJ – crime comum;

TRE – crime eleitoral.

Juiz federal:

TRF – crime comum;

TRE – crime eleitoral.

A Constituição Estadual de São Paulo estabelece foro especial no TJ para:

Vice-Governador;

Deputado estadual;

Secretário de Estado;

Procurador-Geral de Estado – PGE;

Comandante-Geral da Polícia Militar;

Delegado-Geral.

Todas essas autoridades, se cometerem crime federal, serão processadas no TRF. É

o entendimento do STF.

Tribunal de Justiça Militar tem competência para julgar em crimes militares –

Constituição Estadual de São Paulo:

Comandante-Geral da Polícia Militar;50

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Chefe da Casa Militar.

O MP do Distrito Federal atua perante a Justiça Distrital. Se um de seus membros

comete um crime, será julgado pelo TRF da 1.ª Região; isso porque é ramo do MP da

União, apesar de atuar na Justiça Distrital.

1.7. Exceção da Verdade ou Defesa da Verdade (art. 85 do CPP)

Nos processos por crime contra a honra, em que o querelante tiver foro especial no

STF ou no TJ, a esses caberá o julgamento da exceção da verdade. Não cabe a oposição de

exceção da verdade:

Na calúnia:

se o fato imputado a alguém for crime de ação penal privada, e ele não for

condenado;

fato imputado a Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro;

se, do crime imputado, embora de ação penal pública, o ofendido foi absolvido

por sentença irrecorrível.

A exceção da verdade é questão prejudicial homogênea, pois é anterior ao mérito e

pode ser objeto de processo autônomo.

Deve ser oposta quando da defesa prévia; mas para alguns esse prazo não é fatal,

pois é questão de mérito, e o prazo fatal caracterizaria o cerceamento de defesa. Há

posicionamentos contrários.

Oposta a exceção, o querelante tem dois dias para contestá-la. Poderá arrolar no

máximo oito testemunhas. Se na queixa já tiver arrolado quatro testemunhas, poderá

arrolar mais quatro na contestação da exceção, até completar o número legal. Isso porque,

embora o crime seja punido com detenção, o rito é ordinário.

Conforme o art. 85, do CPP, a exceção será julgada pelo Tribunal competente. Se o

Tribunal julga procedente a exceção, o mérito será julgado improcedente. Se julga

improcedente a exceção, o mérito será julgado procedente ou improcedente. Obs.: o

Tribunal só faz o julgamento da exceção, as testemunhas são ouvidas em 1.ª instância.

Depois de julgar a exceção, o Tribunal devolve o processo para ser julgado, em 1.ª 51

Page 53: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

instância, o mérito.

MÓDULO X

DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES

O Código de Processo Penal fala inicialmente das questões incidentes e

posteriormente do processo incidente. Regula, na realidade, apenas uma espécie de

questão incidente, prevista nos arts. 92 a 94 do Código de Processo Penal – as

denominadas questões prejudiciais.

Questões prejudiciais são todas as questões de fato e de direito que, por necessidade

lógica, devem ser analisadas antes da questão principal e podem, em tese, ser objeto de

processo autônomo.

Etimologicamente “prejudicial” significa pre-iudicate, isto é, julgar primeiro. A

questão deve ser julgada em primeiro lugar, antes da questão principal. Ex: um acusado de

bigamia (art. 235 do CP) alega que seu casamento é nulo. A validade ou não do casamento

é a questão prejudicial que deve ser decidida antes do mérito, pois influi diretamente na

decisão.

A questão prejudicial condiciona a questão prejudicada; a prejudicada está

irrecusavelmente subordinada à prejudicial.

Características da questão prejudicial:

Anterioridade lógica: a questão prejudicial é sempre anterior à prejudicada. Não

porque surgiu primeiro na discussão processual, mas por ser logicamente

anterior. Primeiro decide-se ou aguarda-se a decisão da questão incidente e,

posteriormente, julga-se o mérito.

Necessariedade: a questão prejudicial sempre subordina o exame da questão

principal. O mérito não pode ser decidido sem antes enfrentar a questão

prejudicial.

Autonomia: a questão prejudicial sempre pode ser, em tese, objeto de processo

autônomo.

52

Page 54: Direito Processual Penal.doc

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Questão preliminar é diferente de questão prejudicial. Questão preliminar é toda

alegação que versa sobre pressupostos processuais ou condições da ação. O professor

MIRABETE nos ensina que ambas são espécies do gênero ‘questões prévias’. Apresentam

características em comum: anterioridade lógica e necessariedade. Mas apresentam

diferenças importantes: a questão prejudicial refere-se a direito material e a preliminar

refere-se a direito processual. Também se diferem no tocante à autonomia. Somente as

prejudiciais podem ser objeto de processo autônomo, as preliminares não. Ex: falta de

citação é uma questão preliminar – não se ajuíza processo autônomo para discutir.

Classificação das questões prejudiciais:

a) Quanto ao grau: total ou parcial

A questão prejudicial total é aquela que condiciona a existência da questão principal.

Refere-se a uma das elementares da infração penal. A questão prejudicial parcial se refere a

circunstâncias do tipo penal.

b) Quanto ao caráter: homogênea ou heterogênea

A questão prejudicial homogênea é aquela do mesmo ramo do Direito da questão

principal. A questão prejudicial heterogênea é aquela que pertence a ramo do Direito

distinto da questão principal.

c) Quanto aos efeitos: obrigatória ou facultativa

Obrigatória: é a questão que, uma vez presente, obriga a suspensão do processo

até o julgamento da questão incidental. Sempre versa sobre questão de estado

civil das pessoas.

Facultativa: é aquela que não obriga a suspensão do processo principal, mas há

nela controvérsia de difícil solução. Ex: acusado de crime contra o patrimônio

alega ser o legítimo possuidor. São características da prejudicial facultativa que

não estão presentes na obrigatória: existência de ação civil em andamento;

inexistência de limitação à prova, na lei civil, acerca da questão prejudicial.

53

Page 55: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Observações:

Se a prejudicial for obrigatória o processo penal ficará suspenso por tempo

indeterminado. Se facultativa, o juiz deverá estabelecer prazo para suspensão que

poderá ser prorrogado a seu critério.

Durante a suspensão do processo, fica suspenso o prazo prescricional.

Apesar da suspensão do processo, o juiz criminal poderá inquirir testemunhas ou

determinar produção de provas que considere urgente.

A decisão que determina a suspensão do processo por questão prejudicial

comporta recurso em sentido estrito. (art. 581, inc. XVI, CPP). Se a decisão

indefere o pedido de suspensão e a prejudicial for obrigatória, cabe correição

parcial ou habeas corpus; se for questão prejudicial facultativa, o juiz tem

discricionariedade para decidir.

As questões prejudiciais devem causar no juiz dúvida séria e fundada.

2. EXCEÇÕES

Exceção é a defesa indireta do processo penal, que visa extinguir a ação penal ou

retardar seu exercício. Recai sobre os pressupostos processuais ou as condições da ação.

Se a exceção visar extinguir a ação penal, é denominada peremptória. Se visar

retardar seu julgamento, é denominada dilatória.

2.1. Exceção de Suspeição (Dilatória)

Se o juiz da causa se enquadrar em uma das situações de suspeição, previstas no art.

254 do Código de Processo Penal, e não se declarar suspeito espontaneamente, a parte

pode argüir a exceção de suspeição. Se existir alguma causa de impedimento (art. 252 do

CPP) ou incompatibilidade (art. 253 do CPP), também deve ser argüida por meio de

exceção.

A exceção pode ser argüida também contra o membro do Ministério Público e os

sujeitos processuais secundários (perito, intérprete, serventuário da Justiça).

Procedimento da exceção de suspeição: 54

Page 56: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Inicia-se por petição em que devem constar os motivos e as provas da suspeição.

Tem legitimidade para argüir: o autor, quando do oferecimento da denúncia ou a

queixa, e o réu (ou seu defensor com poderes especiais), no momento da defesa. Se a

suspeição for superveniente, a parte tem que se manifestar, nos autos, no primeiro

momento em que puder. A parte não argüir no momento oportuno equivalerá a reconhecer

a capacidade moral do juiz.

P: O assistente de acusação tem legitimidade para argüir a suspeição do juiz?

R: O art. 271 do CPP relaciona as funções do assistente e nada fala sobre essa

possibilidade. Para o Professor MIRABETE, o rol é taxativo, não podendo argüir. Para

TOURINHO, o assistente tem interesse processual na imparcialidade do juiz, devendo ser

reconhecida a ele essa possibilidade.

Depois de argüida a suspeição em petição inicial, os autos são encaminhados ao

juiz, que pode reconhecê-la ou não.

Se o juiz reconhece, remete os autos para seu substituto legal, anulando os atos já

praticados. O processo volta a correr perante o novo juiz.

Se o juiz não reconhece, determina a autuação da exceção. O juiz excepto terá três

dias para contestar a exceção, juntando testemunhas e ouvindo testemunhas. Os autos são

remetidos ao TJ, em 24h, para serem julgados pela Câmara Especial.

Caso o TJ decida pela improcedência do pedido, irá indeferir liminarmente a

exceção. Se decidir pela relevância da argüição, determinará o processamento da exceção.

O Tribunal comunicará o excepto e o excipiente, ouvirá as testemunhas arroladas e

julgará, independente de novas alegações.

Se o Tribunal julgar procedente a exceção, remeterá os autos ao substituto legal,

determinará a anulação dos atos já praticados e, se entender que houve erro inescusável

(indesculpável) do juiz excepto, poderá condená-lo nas custas da exceção. Obs: no Estado

de São Paulo a Lei Estadual n. 9452/85 isenta o pagamento de custas no processo penal.

Se o Tribunal de Justiça julgar improcedente, determinará a continuidade normal do

processo e condenará o excipiente ao pagamento de multa, se agiu de má-fé visando

tumultuar o processo.

Súmula n. 234, Superior Tribunal de Justiça: “A participação de membro do MP na 55

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o

oferecimento da denúncia.”

Se o Promotor foi testemunha, não pode participar da ação penal.

2.2. Exceção de Suspeição de Jurado

Instalada a sessão de julgamento com 15 jurados no mínimo, 7 formarão o Conselho

de Sentença.

No Júri as partes podem recusar jurados. Podem fazer três recusas peremptórias, isto

é, sem justificação, e poderão recusar tantos quanto necessário, desde que justificado. Se o

juiz não aceitar a recusa, o jurado tomará parte no Conselho de Sentença.

2.3. Suspeição de Autoridade Policial

Conforme determina o art. 107 do Código de Processo Penal, as partes não podem

argüir a suspeição de autoridade policial. Isso porque o inquérito policial é um instrumento

inquisitivo. O próprio delegado, entretanto, poderá declarar-se suspeito.

Atenção! Enquanto se processa a exceção, o processo principal flui normalmente.

Exceção: diante da exceção de suspeição, se a parte contrária considerar relevante a

argüição, o processo será suspenso. Ex.: a defesa concorda que a argüição de exceção de

suspeição feita pelo Ministério Público é plausível, tem fundamento. Sob pena de ser

declarada posteriormente a nulidade dos atos já praticados, o processo será suspenso.

2.4. Exceção de Incompetência do Juízo

O Código não distingue se a incompetência é absoluta ou relativa.

Há dois sistemas para argüir a incompetência do Juízo:

perante o próprio juiz ,e esse declina sua competência;

perante o órgão superior para que esse, decidindo a questão, iniba a participação

daquele juiz no processo e remeta ao juiz competente.

No Brasil, vigora o primeiro sistema. O próprio juiz vai declinar de sua

competência. O art. 109 do Código de Processo Penal determina que, se em qualquer fase 56

Page 58: Direito Processual Penal.doc

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do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos,

haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior.

A incompetência absoluta e a relativa podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz.

A incompetência absoluta tem um regime jurídico mais severo por versar sobre

questões de interesse público. A incompetência relativa se preocupa em atender a

conveniência da parte. Ex: o lugar da consumação do delito facilita busca de provas. Não é

só interesse da parte. Há também interesse público.

A exceção de incompetência do Juízo só pode ser argüida pela defesa, pois foi o

autor quem ajuizou a ação perante o Juízo incompetente. Se o Ministério Público percebe

que o processo foi distribuído para um Juízo incompetente, deve pedir a declinação do juiz

e não oferecer a denúncia. Argüirá na condição de fiscal da lei.

A argüição deve ser feita no prazo de três dias da defesa prévia. Se a incompetência

for absoluta, poderá ser feita posteriormente.

Procedimento da exceção de incompetência:

A exceção é autuada em apartado.

Ouve-se o representante do Ministério Público.

juiz decide. Se pela procedência, remete os autos ao juiz competente. Dessa decisão cabe

recurso em sentido estrito (art. 581, inc. III, do CPP). Não interposto recurso, os autos são

remetidos ao juiz competente. Esse novo juiz não é obrigado a concordar com essa

declinação, podendo também ele suscitar o conflito de jurisdição ou competência. Se

decidir pela improcedência, não caberá recurso. Caberá habeas corpus ou argüição em

preliminar de apelação (futuramente).

Conforme o art. 567 do Código de Processo Penal a incompetência do Juízo anula

somente os atos decisórios. Dessa forma somente os atos instrutórios serão ratificados pelo

juiz competente, os atos decisórios serão anulados.

Atenção! A Jurisprudência entende que o recebimento da denúncia ou da queixa

não tem carga decisória; pode, portanto, ser ratificado. Princípio da conseqüencialidade: se

o recebimento da denúncia ou da queixa fosse nulo, todo o processo estaria perdido. A

Jurisprudência, por isso, admite tranqüilamente a ratificação do recebimento da denúncia 57

Page 59: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

ou queixa.

O recebimento da denúncia ou queixa interrompe a prescrição. Se foi recebida pelo

juiz incompetente e depois ratificada pelo juiz competente, qual interrompe a prescrição?

A ratificação do juiz competente é que interrompe a prescrição. Essa regra aplica-se

para qualquer incompetência, inclusive ratione materiae.

Se a regra de competência violada estiver disposta na Constituição Federal de 1988,

os atos praticados perante o juiz incompetente são considerados inexistentes. Não tem

como ratificar.

A decisão que julga procedente a exceção é recorrível. Cabe recurso em sentido

estrito. Salvo a decisão que decide exceção de suspeição, a qual é irrecorrível.

2.5 Exceção de Ilegitimidade de Parte

São partes ilegítimas em Processo Penal:

Ministério Público, se oferecer denúncia em crime de ação penal privada.

querelante, se oferecer queixa em crime de ação penal pública.

querelante incapaz (a vítima deve ser maior de 18 anos).

Alguém que se diz representante do ofendido em crime de ação penal privada, mas não é.

A ilegitimidade pode ser ad causam ou ad processum. A ilegitimidade ad causam

refere-se a condição da ação, ocorre se o Ministério Público oferece queixa e o querelante

oferece denúncia. A ilegitimidade ad processum ocorre se o querelante é incapaz ou o

representante do ofendido não é o representante legal.Tratando-se de ilegitimidade de

causa ou de processo, o instrumento para argüir é exceção de ilegitimidade.

O reconhecimento da ilegitimidade ad causam acarreta a nulidade absoluta do

processo. O reconhecimento da ilegitimidade ad processum acarreta a nulidade relativa do

processo, admitindo a convalidação, nos termos do art. 568 do Código de Processo Penal.

2.6. Exceção de Litispendência e Coisa Julgada

A exceção de litispendência e coisa julgada baseia-se na proibição de uma mesma

pessoa ser processada mais de uma vez pelos mesmos fatos (nen bis in idem ).

Será argüida a exceção de coisa julgada quando o réu já foi julgado em definitivo

sobre um fato e é proposta nova ação com base no mesmo fato já julgado.

Será argüida exceção de litispendência quando existirem duas ações penais em 58

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curso, processando o mesmo réu pelo mesmo fato. Se um mesmo fato é apurado em dois

inquéritos penais, não há litispendência.

Instaurado inquérito policial com ação já em curso, sem ser por requisição do juiz

ou do Ministério Público, para colher diligências complementares, caracteriza-se

constrangimento ilegal, sanável por habeas corpus.

Havendo duas ações iguais, uma delas será excluída. Exclui-se a segunda. Para

determinar qual é a primeira ação, usa-se o critério do art. 219, Código de Processo Civil,

examinando em qual delas ocorreu primeiro a citação válida.

O Supremo Tribunal Federal definiu que, se alguém é absolvido como autor, poderá

ser novamente denunciado como partícipe. Desde que não sejam alegados os mesmos fatos

pelos quais já foi acusado; a descrição fática deve ser outra.

Há quem entenda que, se alguém foi absolvido, não pode ser pelo mesmo crime

novamente processado. Leva-se em conta o fato concreto, não importa a conduta descrita;

se foi absolvido pelo fato, não pode novamente ser processado.

Para fins de concurso público, usar a posição do Supremo Tribunal Federal.

3. CONFLITO DE JURISDIÇÃO

O correto seria dizer conflito de competência. A própria Constituição Federal de

1988 fala dessa maneira. O objetivo é preservar o juiz natural. Há dois tipos de conflito de

jurisdição:

Conflito positivo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou

Tribunais se consideram ao mesmo tempo competentes para o exame de

determinada causa.

Conflito negativo de competência: ocorre quando dois ou mais Juízos ou

Tribunais se consideram ao mesmo tempo incompetentes para o exame de

determinada causa.

Também ocorre conflito de jurisdição quando houver divergência quando à unidade

de processo, seja sua junção ou sua separação.

O conflito de competência pode ser suscitado:

pelas partes, por requerimento – art. 115, do Código de Processo Penal;59

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por representação do juiz.

O conflito deve ser suscitado de forma escrita e fundamentado, com cópias da

alegação, art.116, do Código de Processo Penal . O relator recebe o processo, determina

que os Juízos envolvidos prestem informações. Com as informações, colhe o parecer do

Ministério Público em segunda instância (Procurador Geral). O conflito então é julgado.

Para o conflito positivo, o procedimento tem forma própria, por meio de

instrumento que é remetido ao Tribunal. Como o processo continua tramitando, a

suspensão ou não dos atos processuais depende do relator do Tribunal. No conflito

negativo, os próprios autos nos quais se suscita o conflito são encaminhados ao Tribunal. O

processo fica suspenso até a decisão do Tribunal.

Competência para julgar os conflitos:

Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito envolvendo Tribunais

Superiores. Se envolver o próprio Supremo Tribunal Federal e outro Tribunal,

não há conflito; o Supremo Tribunal Federal dá palavra final. Se o conflito

envolver Tribunais Superiores ou um Tribunal e um juiz , cabe também ao

Supremo Tribunal Federal dirimir. Ex.: Superior Tribunal de Justiça X juiz de 1.º

grau, Superior Tribunal de Justiça X Tribunal Regional Federal.

Cabe ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito envolvendo Tribunal

Estadual ou Tribunal Regional Federal e um Juízo a ele não vinculado. Ex.:

Tribunal de Justiça de São Paulo X juiz do Rio de Janeiro.

Cabe ao Tribunal Regional Federal dirimir conflitos entre juízes federais da

mesma região. Se for região diferente, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça.

Cabe também ao Tribunal Regional Federal julgar conflito entre juiz federal e

juiz estadual com competência federal (ex.: art. 27 da Lei n. 6.368/76) – Súmula

n. 3 do STJ .

Cabe ao Tribunal Regional Eleitoral dirimir conflito envolvendo Juízos eleitorais

do mesmo Estado. De Estados diferentes, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral.

Cabe ao Tribunal de Justiça dirimir conflitos entre juízos estaduais do mesmo

Estado e Tribunal de Alçada (no âmbito penal só cabe ao Tribunal de Alçada

Criminal), ou Tribunal e juiz.60

Page 62: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Entre Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada Criminal, não há conflito.

Conforme dispõe a Súmula n. 22 do Superior Tribunal de Justiça (“não há

conflito de competência entre o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do

mesmo Estado-membro”), a competência é do Tribunal de Justiça.

Cabe ao Tribunal de Alçada Criminal resolver conflitos entre Juízos de primeiro

grau quando for sua a competência recursal.

4. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL – ART. 149, DO CÓDIGO DE

PROCESSO PENAL

O incidente de insanidade mental é instaurado quando houver dúvida sobre a saúde

mental do acusado. Pode ser instaurado no inquérito policial ou na ação penal, mas

somente é instaurado por ordem judicial.

A perícia psiquiátrica realizada no inquérito policial só pode ser instaurada pelo juiz.

Se o delegado percebe a insanidade, representa à autoridade judiciária o incidente de

insanidade mental, conforme art. 149, § 1.º, do Código de Processo Penal.

O incidente pode decorrer do requerimento das seguintes pessoas:

Ministério Público;

defensor;

curador;

cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

Observação: O incidente pode também ser instaurado de ofício.

P: No interrogatório o juiz percebe a insanidade mental do acusado. Seu defensor junta ao

processo a interdição, no cível, do acusado; ainda assim deve-se realizar o incidente de

insanidade mental?

R: O incidente é instaurado quando há dúvida sobre a saúde mental e para verificar se na

época dos atos era o indivíduo imputável ou inimputável, conforme art. 26, par. ún. do

Código Penal. Não basta a doença mental, precisa saber se em virtude dela, ao tempo da

ação ou omissão, era incapaz de entender o caráter ilícito da infração. A interdição no cível

é irrelevante para o processo penal. A perícia penal visa verificar a imputabilidade.

61

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Procedimento do incidente de insanidade mental:

O incidente é autuado em apartado (art. 153, CPP), o juiz expede portaria de

instauração e nomeia curador. Se já houver processo em andamento, esse ficará suspenso

até julgamento do incidente. Determina o juiz que as partes elaborem quesitos. Com os

quesitos, é realizada a perícia psiquiátrica. O prazo para realização do exame é de 45 dias,

prorrogável por igual período, conforme. art. 150, § 1.º, Código de Processo Penal. As

partes examinam o laudo, se estiver regular, o juiz homologará. A homologação do laudo

não significa concordância. A homologação diz respeito somente quanto aos aspectos

formais. O juiz não está vinculado ao laudo, em razão do princípio do livre convencimento

do juiz.

O laudo pode concluir pela:

imputabilidade;

semi-imputabilidade, cf. art. 151, do Código de Processo Penal;

inimputabilidade, art. 151, do Código de Processo Penal;

doença mental superveniente, cf. art. 152, do Código de Processo Penal.

Se o laudo decidir pela imputabilidade, prossegue o processo que estava suspenso,

dispensando-se o curador que foi nomeado. Se concluir pela semi-imputabilidade, o

processo segue com o curador nos autos. Concluindo pela doença mental superveniente, o

processo continuará suspenso. A prescrição continuará até sobrevir o prazo prescricional

ou sanar a doença mental.

A falta de nomeação de curador gera nulidade absoluta.

MÓDULO XI

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DA PROVA

1.1. Conceito

Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz ou pelas partes, destinado a

62

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comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a veracidade de uma afirmação.

Sua finalidade é fornecer subsídios para a formação da convicção do julgador.

1.2. Objeto de Prova

São objetos de prova os fatos principais e secundários capazes de influenciar a

responsabilidade criminal do réu, a aplicação da pena e a medida de segurança. Alguns fatos,

entretanto, não podem ser objetos de prova. São eles:

o direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece; salvo se for direito

consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal;

os fatos axiomáticos, isto é, aqueles fatos evidentes. O fato axiomático é

diferente do fato notório, que é aquele de conhecimento geral, que faz parte da

história e refere-se a fatos políticos, sociais ou fenômenos da natureza;

os fatos irrelevantes, aqueles incapazes de influenciar a responsabilidade

criminal do réu, no caso concreto.

os fatos sobre os quais incida presunção absoluta iuris et de iure. Ex.: o

inimputável recebe medida de segurança, absolvição imprópria. Tem como

pressuposto a periculosidade, pois a medida de segurança é aplicada apenas aos

réus perigosos. Não há necessidade de perícia para confirmar sua periculosidade.

No Processo Penal, os fatos incontroversos também são objetos de prova; não se

aplica a regra do Processo Civil, pois o que se discute no Direito Penal é o direito à

liberdade.

1.3. Classificação das Provas

Prova Direta: refere-se diretamente ao tema probandu. Ex.: testemunha

presencial, exame de corpo de delito.

Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Ex.: álibi apresentado

pelo acusado.

Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Ex.: interrogatório,

testemunha.

Prova Documental: a prova é produzida por escrito. Ex.: laudo pericial.63

adilson m., 03/01/-1,
Página: 1 Idem
Page 65: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Prova Material: refere-se a objetos. Ex.: instrumentos do crime, arma do crime.

Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.

Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a

decisão de pronúncia, aceita-se a prova não plena, mas para a condenação é

necessária a prova plena.

1.4. Meios de Prova

Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pode ser levada ao

processo. Os meios de prova podem ser:

nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de pessoas e objetos,

interceptação telefônica, interrogatório. São todos os meios de prova previstos na

legislação;

inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos expressamente

na legislação. Ex.: juntar fita de vídeo, com um programa de TV em que o

acusado aparece, para mostrar aos jurados.

1.5. Sujeitos da Prova

Os sujeitos da prova são as pessoas incumbidas de levar ao juiz os meios de prova.

São as testemunhas, com o depoimento; o réu, com o interrogatório; e o perito, com o

laudo.

1.6. Princípios Relativos à Prova

Princípio da Comunhão da Prova: uma vez trazida aos autos uma prova, ela se

incorpora ao processo. Por essa razão, a prova trazida por uma das partes, pode

ser usada pela parte contrária. Além disso, uma vez admitida a prova, para que a

parte desista dela, deve haver anuência da parte contrária.

Princípio da Audiência Contraditória: à parte contrária sempre deve ser dado o

direito de impugnar a prova produzida pelo ex adverso.

Princípio da Liberdade dos Meios de Prova: no Processo Penal são admitidos

todos os meios de prova, nominados ou inominados, salvo as provas ilícitas ou as

provas ilegítimas.64

Page 66: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Prova ilícita é a prova produzida com desrespeito à regra de direito material. Ex.:

confissão mediante tortura. Prova ilegítima é a prova produzida com desrespeito à regra de

Direito Processual. Ex.: exibição em plenário de documento do qual não foi dado ciência à

parte contrária, com pelo menos três dias de antecedência.

Teoria sobre as provas ilícitas: “A árvore dos frutos envenenados”. A prova, ainda

que lícita, mas decorrente de outra prova ilícita, também é considerada ilícita. Ex.: o réu,

mediante tortura, confessa e aponta três testemunhas. Essas testemunhas são chamadas a

Juízo. A oitiva dessas testemunhas, apesar de lícita, será considerada ilícita, pois originou-

se de uma prova ilícita. Não poderá ser aceita.

1.7. Ônus da Prova

O ônus da prova é o encargo que recai sobre as partes, impondo-lhes o dever de

provar algo, sob pena de suportar uma situação processual adversa.

A acusação deve fazer prova da autoria e da materialidade do delito. Deve fazer

prova plena desses elementos. Compete, ainda, à acusação fazer prova do elemento

subjetivo, isto é, do dolo da ação ou do elemento normativo, ou seja, a culpa: provar que o

agente agiu com imprudência, negligência ou imperícia.

A defesa deve provar os fatos impeditivos (excludentes de ilicitude), extintivos

(causas de extinção da punibilidade) ou modificativos (desclassificação ou causas de

diminuição da pena) do direito do autor. A defesa não precisa produzir prova plena, basta o

juízo de probabilidade.

1.8. Sistema de Apreciação da Prova

Sistema Primitivo (hoje já está abandonado). Utilizavam-se dois sistemas: o sistema

religioso e o sistema étnico-pagão. O sistema religioso invocava a divindade para apreciar

as provas, qualquer que fosse o julgamento. No sistema étnico-pagão, a apreciação das

provas era feita de forma empírica, sem qualquer regra.

Sistema Moderno. São três os sistemas modernos:

Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do julgador. Nesse sistema, a decisão

ficava a cargo do juiz, que decidia com base em regras, porém, não havia necessidade 65

Page 67: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

de fundamentação do julgamento. Ensejou abusos.

Sistema da prova legal ou da certeza moral do legislador. Nesse sistema, a lei

preestabelecia os critérios para julgamento. Preestabelecia o valor de cada prova.

Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional do juiz. Nesse sistema,

o julgador tem liberdade para decidir, porém, com a obrigação de fundamentar seu

julgamento.

No Brasil, o Código de Processo Penal adota o sistema do livre convencimento

motivado. A exceção é para o Tribunal do Júri. Os jurados, quando julgam, não justificam,

sob pena de ser anulado o Júri.

1.9. Provas em Espécie

1.9.1. Provas periciais

A perícia é um exame realizado por quem tem conhecimento técnico, científico ou

artístico. Natureza jurídica: é um meio de prova nominado. Seu valor probatório é idêntico ao

dos demais meios de prova. A perícia pode ser realizada a qualquer momento, desde o

Inquérito Policial até a execução. A perícia realizada no inquérito é determinada pela

autoridade policial, salvo a perícia de insanidade mental, que somente pode ser determinada

pelo juiz. A perícia realizada na instrução processual é determinada pela autoridade judicial.

O perito é um sujeito processual secundário. Não podem ser peritos: os menores de

21 anos, os analfabetos, aqueles sujeitos à interdição temporária de direitos, aqueles que já

se manifestaram sobre o objeto da perícia.

O perito pode ser um funcionário público concursado. É o perito oficial. Ou pode

ser o perito particular, nomeado para fazer uma determinada perícia, chamado de perito

não-oficial ou perito louvado. Em regra, as perícias são feitas pelos peritos oficiais, apenas

em sua ausência é que a perícia é realizada pelo perito louvado.

O perito louvado é nomeado pela autoridade policial ou judiciária. Assim que

assume o encargo, o perito deve prestar o compromisso de bem e fielmente cumprir suas

funções. Deve portar diploma de curso superior, de preferência na área do exame.

As partes não podem interferir na nomeação dos peritos. Não há no Processo Penal a 66

Page 68: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

figura do assistente técnico. As partes podem requerer, particularmente, uma perícia e

juntá-la aos autos.

Na perícia realizada por precatória, quem nomeia o perito é o juiz deprecado. Salvo na

Ação Penal Privada em que, havendo acordo entre querelante e querelado, a nomeação será feita

pelo juiz deprecante (art. 177 do CPP).

O laudo pericial deve conter: introdução, histórico, informações que antecedem à

perícia, descrição minuciosa do objeto, fundamentação, respostas aos quesitos e conclusão.

Sempre a perícia deve ser realizada por dois peritos.

O juiz, ao apreciar o laudo pericial, não é obrigado a acatá-lo, mas, para afastá-lo,

deve fazê-lo fundamentadamente.

O Exame de Corpo de Delito é o exame pericial obrigatório, destinado a comprovar a

materialidade das infrações penais que deixam vestígios, isto é, infrações não transeuntes. Sua

falta acarreta a nulidade absoluta do processo. Pode ser: direto, quando examina diretamente

os vestígios do crime (ex.: cadáver); ou indireto, quando se analisa outra prova que levará à

mesma conclusão (ex.: os peritos não examinam a vítima, mas a ficha hospitalar).

Excepcionalmente, na falta do corpo de delito, esse exame pode ser suprido pela prova

testemunhal. A confissão nunca supre a falta do exame de corpo de delito.

O Exame Necroscópico é o exame pericial realizado em cadáver. Seu objetivo é

determinar a causa da morte. Só pode ser realizado seis horas após o óbito. Será dispensado

em caso de morte natural ou morte violenta.

Laudo ou exame complementar é qualquer perícia que vise complementar a perícia

anteriormente realizada. No caso de lesão corporal grave, a perícia complementar deve ser

realizada logo depois dos 30 dias da ocorrência do delito.

1.9.2. Interrogatório

Interrogatório é o ato processual por meio do qual o acusado é ouvido pelo juiz.

Envolve o direito de presença e o direito de audiência.

O direito de presença é o direito de acompanhar os atos processuais, e o direito de

audiência é o direito de ser ouvido.

Para o réu presente, o interrogatório é um ato indispensável e sua falta acarreta a

nulidade absoluta. Réu presente sem interrogatório, somente nos casos do Código Eleitoral 67

adilson m., 03/01/-1,
Página: 1 Essa forma é comum de ser usada para o CJDJ?
adilson m., 03/01/-1,
Página: 1 Dúvida: corpo DE delito (o exame) ou corpo do delito (o cadáver do delito)?
Page 69: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

e na Lei de Imprensa, em que o réu só será interrogado se desejar.

O interrogatório é público, oral (salvo para o mudo, o surdo e o surdo-mudo),

personalíssimo, individual e privativo entre o juiz e o réu.

O réu tem o direito constitucional (art. 5, inc. LXIII, da CF/88) de permanecer em

silêncio. Se optar por responder, não estará obrigado a dizer a verdade. Pode mentir sobre

fato. A mentira do réu só será considerada crime se fizer auto-acusação falsa.

Conforme o Provimento n. 84 do Conselho Superior da Magistratura do Estado

de São Paulo, o réu pode ser citado e interrogado por precatória. O interrogatório será

feito pelo juiz deprecado. Válido somente no Estado de São Paulo.

O interrogatório on line ainda é visto com cautelas, pois o interrogado pode estar

sofrendo algum tipo de coação que o juiz pode não perceber. A jurisprudência já aceitou,

excepcionalmente.

No interrogatório do menor de 21 anos, doente mental ou silvícola inadaptado, será

necessária a presença de um curador.

1.9.3. Confissão

A confissão ocorre com a admissão, pelo réu, da autoria dos fatos a ele imputados.

A confissão não é meio de prova, é a própria prova. Não se prova a materialidade do delito

pela confissão. A confissão se refere apenas à autoria. A confissão perante a autoridade

judicial configura uma atenuante.

A confissão pode ser:

simples: o réu admite a autoria de fato único;

complexa: quando o réu admite autoria de fato múltiplo;

qualificada: o réu admite autoria dos fatos a ele imputados, mas alega algo em

seu benefício;

judicial: feita em Juízo;

extrajudicial: qualquer confissão feita fora do Juízo, no Inquérito Policial;

explícita: admite a autoria dos fatos;

implícita: não admite a autoria, mas realiza atos que levam indiretamente à

conclusão que ele é o autor do delito. Ex.: paga indenização à vítima, repara os

danos causados.68

Page 70: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A confissão é um ato personalíssimo, livre, espontâneo, divisível (o juiz não é

obrigado a acatar a confissão como um todo, podendo acatá-la parcialmente) e retratável.

Ocorre a confissão delatória quando um co-réu, no interrogatório, imputa a outro

acusado a responsabilidade pela prática do crime.

1.9.4. Prova testemunhal

Testemunha é toda pessoa, estranha ao processo e eqüidistante das partes, chamada

em Juízo para depor sobre os fatos que caíram sobre seus sentidos.

A testemunha pode ser:

direta ou de visu: depõe sobre os fatos que presenciou – teve contato direto;

indireta ou de audito: depõe sobre os fatos que tomou conhecimento por

terceiros – ouviu dizer;

própria: presta depoimento acerca do tema probandu, do fato objeto da prova;

imprópria ou instrumentária: é a testemunha chamada a presenciar a prática de

atos processuais ou pré-processuais;

referida: são aquelas citadas no depoimento de outra testemunha; serão ouvidas

como testemunhas do Juízo;

informante: são as testemunhas que não prestam compromisso;

numerária: testemunha que entra no cômputo legal;

extra-numerária: não entra no cômputo legal. São as referidas, informantes,

testemunhas que nada souberam a respeito dos fatos.

Características da prova testemunhal:

retrospectividade: é uma declaração retrospectiva, depõe sobre fatos passados;

oralidade: a prova testemunhal é oral, exceto para o surdo, o surdo-mudo e

o mudo. Podem responder por escrito: o Presidente e o Vice-Presidente da

República, os Senadores, os Deputados Federais, os Ministros de Estado, os

Governadores, os Secretários de Estado, os Prefeitos, os Deputados

Estaduais, os Membros do Judiciário, os Membros do Tribunal de Contas da

União e os Membros do Tribunal Marítimo.

A testemunha não pode trazer o depoimento por escrito, sendo permitida a consulta 69

Page 71: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

a apontamentos. O depoimento da testemunha deve ser objetivo, não deve emitir opiniões

pessoais.

As testemunhas são notificadas por mandado. O preso e o militar são notificados por

requisição. O sistema de inquirição das testemunhas é o presidencialista: apenas o juiz faz

as perguntas às testemunhas; salvo no plenário do Júri, em que a inquirição das

testemunhas é direta, e a acusação e a defesa podem fazer perguntas.

A testemunha tem o dever de:

comparecer: se o desrespeitar, a testemunha pode ser conduzida coercivamente,

pode responder por crime de desobediência e pagar multa fixada pelo juiz.

depor e dizer a verdade: algumas pessoas, como cônjuge, ascendente,

descendente e irmão do réu, são, por lei, dispensadas de depor. Elas têm a

obrigação de comparecer, mas não de depor. Se vierem a depor, não prestam

compromisso.

Algumas pessoas, em razão da função (atividade de natureza pública), ofício (atividade

manual), ministério (atividade de cunho eclesiástico ou assistencial) ou profissão (atividade

predominantemente intelectual) são proibidas de depor. Poderão depor, se forem desobrigadas

do sigilo e quiserem depor.

As informantes são as testemunhas que não prestam compromisso e não têm a

obrigação de dizer a verdade. São os menores de 14 anos e os deficientes mentais.

MÓDULO XII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. INTERROGATÓRIO

1.1. Conceito

Interrogatório é o ato processual pelo qual o acusado é ouvido pelo juiz sobre a

imputação contra ele formulada. O interrogatório possibilita ao acusado o exercício de

autodefesa.

A natureza jurídica do interrogatório é matéria controversa. O Código de Processo

Penal tratou o interrogatório como verdadeiro meio de prova. Já para a doutrina, o 70

Page 72: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

interrogatório tem caráter misto, é meio de prova e também meio de defesa, pois o acusado

pode exercer sua autodefesa.

O princípio constitucional da ampla defesa (art. 5.º, inc. LV, da CF/88) constitui-se

de: defesa técnica, que é aquela realizada pelo defensor do acusado, pelo causídico; e

autodefesa, que é ato exclusivo do acusado.

A autodefesa pode ser renunciada pelo acusado. Constitui-se a autodefesa de: direito

de presença, que é o direito do acusado acompanhar a realização dos atos processuais,

depoimentos das testemunhas; e direito de audiência, que é o direito do acusado ser

ouvido, participando da formação do livre convencimento do juiz. O réu também tem a

garantia constitucional de permanecer calado em seu interrogatório, sem que qualquer

sanção lhe seja aplicada.

O interrogatório do réu presente é ato indispensável. Sua falta acarretará a nulidade

absoluta do processo. Exceção: poderá haver processo de réu presente sem interrogatório

nos crimes constantes do Código Eleitoral e da Lei de Imprensa. Para o réu revel (citado

pessoalmente que não comparece nem constitui advogado), o interrogatório será

dispensado. Se comparecer no decorrer da instrução, espontaneamente ou preso, será

interrogado.

Para o interrogatório, é indispensável a citação do réu.

O art. 188 do Código de Processo Penal estabelece o roteiro das perguntas que

devem ser feitas no interrogatório.

1.2. Características do Interrogatório

Ato público.

Ato processual oral. Exceções: para o surdo, as perguntas serão feitas por escrito

e respondidas oralmente; para o mudo as perguntas serão feitas oralmente e

respondidas por escrito; para o surdo-mudo as perguntas e as respostas serão

feitas por escrito. Se o réu for estrangeiro ou surdo-mudo e analfabeto, será

nomeado um intérprete que funcionará também como curador.

Ato personalíssimo. Só o réu pode ser interrogado. Havendo defensor

constituído, esse deverá ser notificado a comparecer; não havendo, será

nomeado um dativo para o réu.71

Page 73: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Ato individual.

Ato privativo entre juiz e réu. As partes não podem fazer reperguntas. O

defensor poderá, entretanto, zelar pela regularidade formal do processo. Para o

menor de 21 anos, a presença do curador é indispensável, sob pena de nulidade.

1.3. Momento do Interrogatório

Como regra, o momento do interrogatório é posterior à citação e anterior à defesa

prévia. Mas como o Código de Processo Penal não fixou prazo, entende-se que o

interrogatório pode ser realizado a qualquer momento. É ato não preclusivo. Pode realizar-

se inclusive após a sentença, desde que antes do trânsito em julgado. Assim, se o réu

comparecer em Juízo antes do trânsito em julgado e manifestar o desejo de ser ouvido, o

juiz deverá interrogá-lo. Caso já exista apelação, o julgamento deverá ser convertido em

diligência para que o réu seja ouvido, sob pena de cerceamento da defesa. Em situações

excepcionais, entende-se ser o interrogatório – após a sentença – facultativo, dispensável

quando, por exemplo, for possível antever a absolvição do acusado.

Caso o juiz entenda necessário, o réu já interrogado poderá ser novamente

interrogado.

No procedimento da Lei n. 9.099/95, o momento do interrogatório é posterior à

oitiva das testemunhas.

1.4. Direitos do Réu no Interrogatório

O réu, durante o interrogatório, tem o direito de permanecer em silêncio, conforme

art. 5.º, inc. LXIII, da Constituição Federal de 1988. O réu que responde ao interrogatório

não está obrigado a dizer a verdade, poderá mentir sem sofrer qualquer sanção. A mentira

do réu no interrogatório só será considerada crime se fizer auto-acusação falsa, conforme

art. 341 do Código Penal.

O réu ainda tem o direito de entrevistar-se com seu advogado antes do

interrogatório. Esse direito vem previsto no Pacto de San José da Costa Rica, do qual o

Brasil é signatário.

1.5. Interrogatório por Precatória72

Page 74: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

O provimento CXCI (1984) do Conselho Superior da Magistratura de São Paulo

possibilita a realização de interrogatório por precatória, pois, no processo penal, não vige o

princípio da identidade física do juiz. O provimento vige somente no Estado de São Paulo.

No tocante ao interrogatório on line, sistema de vídeo conferência, a doutrina questiona sua

validade pela ausência física de um juiz, pois o interrogado poderá estar sofrendo alguma

coação e essa não ser percebida. A jurisprudência o admite excepcionalmente.

1.6. Interrogatório do Menor de 21 anos

Se o réu for menor, o interrogatório será feito na presença de um curador. A omissão

gera nulidade relativa, devendo ser demonstrado o prejuízo, sob pena de convalidação. A

idade do menor deverá ser considerada na data da realização do ato e não na do

cometimento da infração penal. A Súmula n. 352 do Supremo Tribunal Federal dispõe que

não é nulo o processo penal por falta de nomeação de curador ao réu menor que teve a

assistência de defensor dativo. A idade do acusado é provada por meio de documento

hábil, como a certidão de nascimento ou a carteira de identidade. Não haverá nulidade do

processo se o réu mentir acerca de sua idade. Também será necessário a nomeação de

curador para o interrogatório do silvícola inadaptado e do doente mental.

2. CONFISSÃO

2.1. Conceito

Confissão é a admissão pelo réu da autoria dos fatos a ele imputados em um

processo penal. A confissão refere-se à autoria do fato. A materialidade do delito não é

objeto da confissão. A confissão feita perante a autoridade judicial configura atenuante

genérica, art. 65, III, “d”, do Código Penal. A confissão não é mais considerada a rainha

das provas; ao magistrado caberá apreciar a confissão em consonância com as demais

provas produzidas.

2.2. Espécies de Confissão

Simples: quando o réu admite a autoria de fato único, atribui a si a prática de

infração penal.

Qualificada: quando o réu admite a autoria dos fatos a ele imputados, mas alega 73

Page 75: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

algo em seu benefício, opõe um fato modificativo ou impeditivo, por exemplo:

excludente de antijuridicidade, culpabilidade.

Complexa: quando o réu admite a autoria de fato múltiplo.

Judicial: é a confissão prestada perante o juiz competente, no próprio processo.

Extrajudicial: é a confissão prestada no Inquérito Policial, ou fora dos autos da

ação penal.

Explícita: quando o acusado reconhece espontaneamente ser o autor da infração.

Implícita: quando o acusado procura ressarcir o ofendido dos prejuízos causados

pela infração.

2.3. Características da Confissão

A confissão é ato personalíssimo do réu. É ato livre e espontâneo.

A confissão é um ato retratável, isto é, o acusado pode desdizer a confissão

prestada. A confissão é ainda um ato divisível, isto é, o juiz poderá cindir a confissão feita

pelo acusado, acatando-a em parte ou no todo.

2.4. Confissão Ficta

A confissão ficta ou presumida não se verifica no processo penal, em virtude da

verdade real que norteia o processo penal. Ainda que o processo corra à revelia do réu, não

haverá presunção de veracidade dos fatos alegados pela acusação.

2.5. Confissão Delatória ou Chamada de Co-Réu

Ocorre quando um réu, no interrogatório, imputa a terceiro a responsabilidade pela

prática do crime, além de confessar sua própria participação. No tocante a imputação a

terceiro, seu valor equivale à prova testemunhal, havendo a possibilidade de reperguntas

pelas partes.

MÓDULO XIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DOS SUJEITOS PROCESSUAIS74

Page 76: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Os sujeitos processuais dividem-se em principais e secundários. Principais são

aqueles cuja ausência torna impossível a existência ou a complementação da relação

jurídico-processual: são o juiz e as partes. O juiz é o sujeito processual imparcial e as

partes são os sujeitos processuais parciais, representados pela acusação, que é o Ministério

Público ou o querelante, e pela defesa, que é o réu ou o querelado. Secundários são aqueles

que não são indispensáveis ao processo, mas que nele intervêm de alguma forma: são os

órgãos auxiliares da justiça, os serventuários, os peritos e os intérpretes.

O assistente de acusação é também chamado de parte contingente, pois não é um

integrante necessário da relação jurídico-processual.

1.1. Juiz

O juiz exerce o papel de maior relevo no processo. A lei confere-lhe os poderes

necessários para zelar pelo processo e solucionar a lide. Para tanto, são necessários alguns

pressupostos processuais subjetivos relativos à função de juiz. São eles:

Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem tenha sido regularmente

investido na autoridade de juiz, atualmente pela aprovação em concurso público

de provas e títulos, observando-se nas nomeações a ordem de classificação (art.

93, inc. I, da Constituição Federal).

Imparcialidade: o juiz deve estar, no processo, acima e eqüidistante das partes,

super et inter partes. Se presentes algumas das causas de suspeição (art. 254 do

Código de Processo Penal), impedimento (art. 252 do Código de Processo

Penal) ou incompatibilidade (art. 253 do Código de Processo Penal), o juiz

deverá ser afastado do processo. Nos casos de impedimento, o juiz tem algum

vínculo com uma das partes; são causas graves que afetam a imparcialidade,

acarretando a inexistência do ato realizado pelo juiz impedido. Na suspeição, o

juiz tem interesse no resultado do processo. Esta gera a nulidade absoluta do

processo. Para parte da doutrina, o rol que trata do impedimento e da suspeição,

por ser restritivo de direitos, é um rol taxativo que não pode ser ampliado.

Obs: O Código de Processo Civil, em seu art. 135, par. ún., permite que o

magistrado se afaste da causa argüindo motivo de foro íntimo. O Código de Processo Penal

não faz essa previsão. Poderá, mesmo assim, o juiz do processo penal fazê-lo?75

Page 77: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

R: Sim. No processo penal, o juiz também pode declinar de sua atuação por motivo

de foro íntimo.

Competência: o juiz deve ser o competente para julgar a lide, segundo as regras

de competência previstas na Constituição Federal e no Código de Processo

Penal.

1.2. Acusador

O acusador, no processo penal, é representado pelo Ministério Público, no caso da

ação penal pública, e pelo querelante (ofendido ou seu representante legal), no caso de

ação penal privada ou ação penal subsidiária da pública. O Ministério Público atuará

sempre no processo penal, seja como parte na ação penal pública, seja como custus legis,

isto é, fiscal da lei na ação penal privada.

Conforme o art. 68 do Código de Processo Penal, o Ministério Público também tem

legitimidade para promover a ação civil ex delicto em nome do ofendido. Nesse caso, o

Ministério Público atua como substituto processual.

A Constituição Federal, no art. 129, relaciona as funções institucionais do

Ministério Público e prevê, no § 2.º, que essas funções só podem ser exercidas por

integrantes da carreira. A Constituição Federal vedou a possibilidade do promotor ad hoc,

isto é, a nomeação de uma pessoa que faça as vezes do promotor para algum ato

processual.

O Ministério Público, porque exerce a acusação pública, possui algumas

peculiaridades, como a possibilidade de impetrar habeas corpus e de recorrer em favor do

réu; além disso, seus membros estão sujeitos à disciplina das suspeições e impedimentos,

entre outras. Uma vez que atuam em nome da instituição e não em nome próprio, podem

ser substituídos no curso do processo, proibindo-se, entretanto, designações discricionárias

feitas pelo Procurador-Geral de Justiça.

Os membros do Ministério Público não se encontram subordinados, quer ao Poder

Executivo, quer ao Judiciário, possuindo total independência.

1.3. Acusado

O acusado é aquele contra quem se dirige a pretensão punitiva. É o sujeito passivo 76

Page 78: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

da relação jurídico-processual. O acusado deve ser identificado com o nome e com os

demais dados. O Código de Processo Penal permite a propositura da ação penal somente

com a descrição das características físicas do indivíduo.

É necessário que o acusado tenha capacidade para ser parte (sujeito de direitos e

obrigações) e capacidade para estar em juízo em nome próprio, o que advém com a idade

de 18 anos. Ao acusado menor de 21 anos, será nomeado curador, que poderá ser advogado

ou outra pessoa idônea. Se o acusado teve a assistência de defensor dativo, a falta de

curador não anula o processo, conforme a Súmula n. 352 do Supremo Tribunal Federal.

Não podem ser acusadas as pessoas que dispõem de imunidade parlamentar ou

diplomática.

O acusado que, citado pessoalmente, não comparecer ao interrogatório, será

considerado revel.

A Constituição Federal previu a possibilidade de a pessoa jurídica ser o sujeito

passivo da infração penal nos casos de crime contra a economia popular, contra a ordem

econômica e financeira e nas condutas lesivas ao meio ambiente.

A Constituição Federal prevê uma série de garantias ao acusado no processo penal,

entre as quais:

o direito ao respeito à integridade física e moral;

o direito ao devido processo legal;

o direito ao contraditório e à ampla defesa, que inclui a autodefesa e a defesa técnica

feita por defensor;

o direito ao silêncio.

O acusado poderá, sem o defensor: impetrar habeas corpus, interpor recurso,

interpor revisão criminal, pagar fiança arbitrada pelo juiz e argüir suspeição.

1.4. Advogado

O defensor não é sujeito processual, mas sim o representante do acusado, que age

em nome e no interesse dele. Exerce a defesa técnica do acusado, que é tão importante e

indisponível que poderá ser exercida ainda que contra a vontade do representado ou mesmo

na sua ausência. No processo penal, o contraditório e a ampla defesa são efeitos. A ciência 77

Page 79: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

e a participação são necessárias.

A ampla defesa, no processo penal, constitui-se de autodefesa, feita pelo próprio

acusado no interrogatório, e de defesa técnica, desempenhada por pessoa legalmente

habilitada, o advogado (art.133 da Constituição Federal).

Se o acusado não possuir defensor constituído, também chamado de procurador, o

juiz irá nomear-lhe um defensor, chamado de defensor dativo. Se o acusado possuir

habilitação técnica, ele mesmo poderá defender-se.

A constituição do defensor faz-se por meio de outorga de procuração com cláusula

ad judicia. A constituição do defensor pode ser também apud acta, isto é, o próprio

acusado em seu interrogatório indica quem é seu defensor.

Para a realização de alguns atos no processo, o defensor precisa de poderes

especiais, como poderes para argüir a suspeição, argüir falsidade de documento e

concordar com perdão do querelante.

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o defensor dativo não tem a

obrigação de recorrer, mas, se o acusado interpuser recurso, o defensor dativo tem a

obrigação de arrazoar o recurso.

A intimação do defensor dativo é feita pessoalmente e a intimação do defensor

constituído é feita por publicação na imprensa oficial. A Lei n. 1.060/50, art. 5.º, § 5.º,

que trata da assistência judiciária, prevê o prazo em dobro para o defensor público. A

jurisprudência estende a prerrogativa do prazo em dobro ao defensor dativo e aos

advogados com convênio na Procuradoria-Geral do Estado.

A falta do defensor, ainda que motivada, não implica adiamento do ato processual,

devendo o juiz nomear ao réu um substituto ad hoc para o ato.

1.5. Assistente do Ministério Público

O assistente de acusação é parte contingente no processo. Podem intervir no

processo, como assistentes do Ministério Público, o ofendido, seu representante legal, ou,

na falta, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do ofendido, por intermédio de

advogado, para reforçar a acusação e acautelar a reparação civil. Atualmente tem sido

admitida a intervenção como assistente da(o) companheira(o) do ofendido.

Atenção: O Estado pode intervir como assistente da acusação?78

Page 80: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Para os Profs. TOURINHO e MIRABETE, o Estado não pode intervir, pois o

Ministério Público já defende o interesse público. Não há necessidade de o Estado

participar como assistente da acusação.

Para o Prof. VICENTE GRECO, é possível a intervenção do Estado, pois o

Ministério Público, quando atua, defende interesse público primário (sociedade), e o

Estado, quando se habilita como assistente da acusação, vai defender interesse público

secundário (patrimonial).

O Decreto-lei n. 201/67, que trata da responsabilidade dos prefeitos, prevê

expressamente a possibilidade de o Estado atuar como assistente da acusação.

O assistente da acusação intervém em todos os termos da ação penal, logo, não toma

parte do inquérito policial e da execução. Intervém a partir do recebimento da denúncia até

o trânsito em julgado da decisão. Intervém no processo no estado em que ele se encontra;

assim, não pode pretender a renovação de atos processuais sobre os quais já ocorreu a

preclusão.

O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente.

Manifesta-se sobre a legalidade. No tocante à avaliação pelo Ministério Público acerca da

conveniência ou oportunidade para a intervenção do assistente, existem duas posições:

Para os Profs. TOURINHO e MIRABETE, o Ministério Público somente examina a

legalidade da intervenção.

Para os Profs. MAGALHÃES NORONHA e TORNAC, além da legalidade, o

Ministério Público pode manifestar-se sobre a conveniência e a oportunidade da

intervenção do assistente.

Atualmente vigora a primeira posição.

Da decisão que admite ou não o assistente de acusação não cabe recurso, podendo,

entretanto, ser impetrado mandado de segurança ou correição parcial.

Qual o real interesse do assistente de acusação em ingressar no processo penal?

Para o Prof. TOURINHO, a intervenção do assistente fundamenta-se

exclusivamente em interesse na obtenção de uma sentença penal condenatória, que será um

título executivo judicial a ser executado no juízo cível, reparando os danos decorrentes do

ato ilícito.79

Page 81: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Para uma segunda posição, dominante na doutrina e na jurisprudência, além do

interesse citado acima, o assistente também tem o interesse de auxiliar o Ministério Público

na busca da realização da justiça. Um dos principais expoentes dessa corrente é o Prof.

VICENTE GRECO.

Em razão dessa questão, levanta-se uma nova polêmica:

Se, no processo, foi aplicado ao réu o sursis penal e o Ministério Público se

conforma, o assistente de acusação poderá recorrer, interpondo apelação?

Novamente surgem duas posições:

Para o Prof. TOURINHO, o assistente já alcançou seu objetivo, a sentença penal

condenatória, restando executá-la no juízo cível.

Para o Prof. VICENTE GRECO, o assistente quer também a realização da justiça, a

correta aplicação da lei ao caso concreto, podendo, portanto, interpor apelação.

O art. 271 do Código de Processo Penal relaciona os poderes do assistente no

processo penal. É um rol taxativo:

Propor meios de prova. O assistente poderia arrolar testemunhas, já que esse é

um meio de prova?

O momento para a acusação arrolar testemunhas de acusação é no oferecimento da

denúncia, e o assistente intervém no processo após o recebimento da denúncia, quando,

portanto, já ocorreu a preclusão. Há, no entanto, duas posições:

Para o Prof. TOURINHO, o momento para arrolar testemunhas já precluiu,

não sendo possível posteriormente propor tal meio de prova.

Para o Prof. MIRABETE, é possível, desde que dentro do número legal de

testemunhas que serão ouvidas, ou não, a critério do juiz.

Requerer perguntas às testemunhas, sempre posteriores às do Ministério

Público.

Aditar o libelo, usando o prazo de 48h por analogia.

Oferecer alegações finais, sempre posteriores às do Ministério Público.

Participar dos debates orais.

Arrazoar seus próprios recursos e os recursos interpostos pelo Ministério

Público. Pode também oferecer contra-razões aos recursos da defesa. O Código

de Processo Penal só permite ao assistente de acusação interpor recurso de 80

Page 82: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

apelação no procedimento do júri e no juízo singular e recurso em sentido

estrito contra decisão de impronúncia e que julga extinta a punibilidade.

Conforme a Súmula n. 210 do Supremo Tribunal Federal, o assistente pode

recorrer, inclusive extraordinariamente (e especial), contra acórdãos que

julguem apelação ou recurso em sentido estrito. Da decisão concessiva de

habeas corpus, o assistente de acusação não pode recorrer, conforme a Súmula

n. 208 do Supremo Tribunal Federal. O prazo para o assistente interpor recurso

em sentido estrito é de 5 dias, se ele já estiver habilitado nos autos, ou de 15, se

não estiver habilitado, pois, nesse caso, não é intimado da decisão. O termo

inicial para o assistente interpor recurso é supletivo e inicia-se no primeiro dia

subseqüente ao término do prazo do Ministério Público. Se o Ministério Público

já interpôs recurso, não cabe ao assistente propor novamente. Se o Ministério

Público só recorreu de parte da decisão, o assistente pode recorrer da parte não

recorrida.

Atenção: O co-réu pode ser assistente de acusação? Ex: lesões corporais recíprocas.

Não há, nesse caso, legítima defesa. Ambos são denunciados pelo mesmo delito. Serão ao

mesmo tempo réu e vítima. Um deles poderá habilitar-se como assistente de acusação?

O art. 270 do Código de Processo Penal dispõe que o co-réu no mesmo processo não

poderá intervir como assistente do Ministério Público, concluindo-se, portanto, pela

impossibilidade da intervenção do co-réu como assistente da acusação. A doutrina,

entretanto, observa a seguinte possibilidade: no processo, um deles é absolvido, o

Ministério Público conforma-se com a decisão e esta transita em julgado, enquanto o outro

é condenado e apela de sua decisão. Aquele que foi anteriormente absolvido

posteriormente pode intervir como assistente da acusação, pois não é mais co-réu.

O assistente que não tiver legítimo interesse ou que perturbar deliberadamente a

acusação poderá ser afastado. O assistente que faltar injustificadamente a um ato do

processo não será intimado dos demais.

81

Clarissa Niciporciukas, 01/03/-1,
posteriormente
Page 83: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

MÓDULO XIV

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DA PRISÃO E DA LIBERDADE PROVISÓRIA

1.1. Conceito

Prisão consiste na privação da liberdade de locomoção, mediante clausura,

decretada por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, ou

decorrente de flagrante delito. Conforme o art. 5.º, inc. LXI, da Constituição Federal,

ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem escrita e fundamentada de

autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime

propriamente militar, definidos em lei.

A prisão será efetuada sem o respectivo mandado somente nos casos de prisão em

flagrante, transgressão militar, durante estado de sítio e no caso de recaptura do evadido.

O Código Eleitoral prevê que, 5 dias antes e 48h depois do dia da eleição, não

podem ser cumpridos mandados judiciais de prisão processual. Tal disposição visa

assegurar o exercício do direito político. Podem, entretanto, ser efetuadas as prisões em

flagrante e as decorrentes de sentença penal condenatória com trânsito em julgado.

1.2. Espécies

As espécies de prisão são:

Prisão Penal ou Prisão com Pena. É a prisão decorrente de sentença penal

condenatória transitada em julgado, irrecorrível.

Prisão Processual, Provisória ou Cautelar. É a prisão decretada no curso do

processo. Como tem natureza cautelar, precisam estar presentes o fumus boni

iuris e o periculum in mora para ser decretada. São espécies de prisão

processual:

prisão em flagrante;

prisão preventiva;

prisão temporária;

prisão para apelar;

prisão por sentença de pronúncia.

82

Page 84: Direito Processual Penal.doc

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Prisão Civil. A Constituição Federal não permite a prisão civil por dívida,

salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de

obrigação alimentícia e a do depositário infiel, conforme art. 5.º, inc. LXVII, da

Constituição Federal.

Prisão disciplinar. É a prisão para as transgressões militares e os crimes

propriamente militares.

Prisão administrativa. Com a Constituição Federal de 1988, a autoridade

administrativa não pode mais aplicar a pena de prisão, sendo necessária a

decretação pelo Poder Judiciário, respeitando-se o devido processo legal.

1.3. Mandado de Prisão

O Código de Processo Penal, nos arts. 285 e ss., trata do mandado (ordem) de

prisão. Conforme dispõe esse diploma, a autoridade judicial que ordenar a prisão expedirá

o respectivo mandado, que será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade

competente. Além de designar pelo nome ou sinais característicos a pessoa a ser presa, o

mandado mencionará a infração penal que motivou a prisão, declarará o valor da fiança, se

afiançável o delito, e será dirigido a quem tenha qualidade para executá-lo. O mandado

será apresentado em duplicata, e o preso passará recibo em uma das vias. A execução do

mandado será realizada em qualquer dia e horário, guardadas as disposições sobre

inviolabilidade de domicílio. Na prisão em flagrante, não há inviolabilidade de domicílio.

Exemplo: guardar entorpecentes em casa é um crime permanente, sua consumação se

prolonga no tempo. A prisão em flagrante pode ocorrer a qualquer momento.

1.4. Prisão em Domicílio e em Perseguição

A prisão decorrente de mandado deve respeitar a inviolabilidade do domicílio,

prevista no art. 5.º, inc. XI, da Constituição Federal. O mandado de prisão só poderá ser

cumprido durante o dia, compreendido o interregno das 6 às 18h. Alguns entendem que o

direito ao cumprimento do mandado de prisão se inicia com a aurora e se encerra com o

crepúsculo. Nesse período, a prisão pode ser efetuada ainda que sem o consentimento do

morador, podendo o executor arrombar as portas se preciso, conforme art. 293 do Código

de Processo Penal. O morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua casa cometerá 83

Page 85: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

o crime de favorecimento pessoal, art. 348 do Código Penal. Estão excluídos o cônjuge,

ascendente, descendente e irmão (cadi) do réu.

Durante a noite, o mandado de prisão só será cumprido se houver concordância do

morador. A recusa, nesse caso, não configura crime, é um exercício regular do direito. Se

não houver concordância do morador, como cautela, as saídas devem ser vigiadas,

tornando a casa incomunicável. Ao amanhecer será efetuada a prisão.

No caso de perseguição, passando o réu para outra Comarca, o executor da prisão

poderá prendê-lo onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade policial

local, que lavrará o auto de prisão em flagrante, se for o caso, e providenciará sua remoção

para apresentação ao juiz que determinou a prisão.

1.5. Prisão Especial

Algumas pessoas, em razão de sua função, cumprirão a prisão processual em celas

especiais ou quartéis – tal prisão só vigora até a sentença condenatória definitiva. É

assegurado: alojamento condigno, alimentação, recreio, uso de vestuário próprio,

assistência do advogado, assistência religiosa, assistência médica particular, visita de

parentes e amigos em horário previamente fixado, visita de parentes próximos durante o

expediente, sem horário determinado, recepção e transmissão de correspondência

livremente, salvo casos especiais, e transporte diferenciado. O art. 295 do Código de

Processo Penal relaciona aqueles que têm direito à prisão especial. Além desses, há outros

previstos em leis especiais também.

Se não houver estabelecimento adequado, poderá ser concedido o regime de prisão

provisória domiciliar, na própria residência, de onde o preso não poderá se afastar sem

prévio consentimento judicial.

Conforme art. 86, § 3.º, da Constituição Federal, o Presidente da República não

estará sujeito à prisão enquanto não sobrevier sentença condenatória transitada em julgado.

1.6. Prisão em Flagrante

A palavra ‘flagrante’ vem do latim, significando ‘queimar’. Flagrante delito é o

crime que ‘ainda queima’, isto é, que está sendo cometido ou acabou de sê-lo. A prisão em

flagrante é uma medida restritiva da liberdade de natureza processual e cautelar. Consiste 84

Page 86: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

na prisão – independente de ordem escrita e fundamentada de juiz competente – de quem é

surpreendido enquanto comete ou acaba de cometer a infração penal. Aplica-se também à

contravenção.

1.6.1. Espécies de flagrante

Flagrante próprio: é o flagrante propriamente dito, real ou verdadeiro. O agente

é preso enquanto está cometendo a infração penal ou assim que acaba de

cometê-la– art. 302, incs. I e II, do Código de Processo Penal.

Flagrante impróprio: é o flagrante irreal ou “quase-flagrante”. O agente é

perseguido logo após cometer o ilícito, em situação que faça presumir ser ele o

autor da infração– art. 302, inc. III, do Código Penal.

Flagrante presumido: é o flagrante ficto ou assimilado. O agente do delito é

encontrado, logo depois, com papéis, instrumentos, armas ou objetos que fazem

presumir ser ele o autor do delito– art. 302, inc. IV, do Código de Processo

Penal.

Flagrante compulsório: as autoridades policiais e seus agentes têm o dever de

efetuar a prisão em flagrante, não possuindo qualquer discricionariedade.

Flagrante facultativo: é a faculdade que qualquer um do povo tem de efetuar ou

não a prisão em flagrante, conforme os critérios de conveniência e oportunidade.

Flagrante preparado ou provocado: é o delito de ensaio, delito de experiência,

delito putativo por obra do agente provocador. Ocorre quando alguém, de forma

insidiosa, provoca o agente à prática de um crime e, ao mesmo tempo, toma

providências para que ele não se consume. No flagrante preparado, o policial ou

terceiro induz o agente a praticar o delito e o prende logo em seguida, em

flagrante. O Supremo Tribunal Federal considera atípica a conduta, conforme a

Súmula n. 145.

Flagrante esperado: essa hipótese é válida. O policial ou terceiro esperam a

prática do delito para prender o agente em flagrante. Não há qualquer

induzimento.

Flagrante prorrogado: é o flagrante previsto no art. 2.º, inc. II, da Lei n.

9.034/95, que trata das organizações criminosas. O policial tem a 85

Page 87: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

discricionariedade para deixar de efetuar a prisão em flagrante no momento da

prática delituosa, tendo em vista um momento mais importante para a

investigação criminal e para a colheita de provas. Só é possível nesses crimes.

Flagrante forjado: é o flagrante maquinado, fabricado ou urdido. Policiais ou

terceiros criam provas de um crime inexistente para prender em flagrante.

Exemplo: o policial, ao revistar o carro, afirma ter encontrado drogas, quando na

verdade foi ele quem colocou a droga dentro do carro, visando a incriminação.

Apesar da dificuldade de sua prova, quando ela se dá é considerado crime

inexistente, e o policial responde por abuso de autoridade.

O flagrante em crime permanente pode ocorrer enquanto não cessar a permanência

do delito. No tocante ao flagrante em crime habitual, surgiram duas correntes:

A primeira entende que o crime habitual exige a reiteração de condutas, logo,

não cabe a prisão em flagrante.

A segunda afirma que, se já existe prova da habitualidade, pode ocorrer a prisão

em flagrante.

A ação penal privada não impede a prisão em flagrante, desde que o ofendido

autorize a lavratura do auto ou a ratifique no prazo da entrega da nota de culpa, ou seja, em

24h.

Não podem ser presos em flagrante:

Menor de 18 anos (menor é apreendido).

Diplomatas estrangeiros.

Presidente da República.

Agente que socorre a vítima de trânsito– art. 301 da Lei n. 9.503/97.

Aquele que se apresenta espontaneamente à autoridade após o cometimento

do delito. Nada impede, entretanto, que lhe seja decretada a prisão preventiva,

se necessário.

Podem ser presos em flagrante apenas nos crimes inafiançáveis:

membros do Congresso Nacional;86

Page 88: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

deputados estaduais;

magistrados;

membros do Ministério Público;

advogados no exercício da profissão.

A autoridade policial competente, para lavrar o auto de prisão, será aquela do local

onde se efetivou a prisão. Se for local diferente de onde ocorreu o delito, os autos devem

ser posteriormente para lá remetidos a fim de instauração do inquérito policial e

propositura da ação penal. Se se desrespeitar essa regra, o auto será válido, haverá mera

irregularidade.

No caso de infração militar, o auto de prisão em flagrante é lavrado pela autoridade

oficial militar. Nos crimes cometidos no interior da Câmara ou do Senado, a Mesa da

Câmara ou outra autoridade competente, designada no regimento interno, lavrará o auto.

Se o fato foi praticado contra autoridade ou em sua presença, ela própria, desde que

investida de suas funções, poderá lavrar o auto.

Como o prazo para a entrega da nota de culpa ao preso é de 24 horas, por dedução

lógica, o prazo para lavratura do auto também é de 24 horas.

Etapas da prisão em flagrante

Comunicação ao preso de seus direitos, dentre eles os de permanecer em

silêncio no interrogatório. Deve-se também comunicar sua família ou seu

advogado sobre a prisão. O direito do preso é o de comunicar e não o de ser

assistido.

Iniciam-se as oitivas do condutor do preso e depois, no mínimo, de duas

testemunhas. Na falta de uma testemunha, o próprio condutor poderá ser a

testemunha. Não havendo testemunhas, devem ser ouvidas duas testemunhas

que presenciaram a apresentação do preso à autoridade policial – são as

testemunhas instrumentárias. Se for possível, ouve-se também a vítima.

Interrogatório do preso. Segue os mesmos requisitos do interrogatório

judicial. Se o acusado for menor de 21 anos, ser-lhe-á nomeado um curador, sob

pena de relaxamento do flagrante.87

Page 89: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Após 24 horas, deve ser entregue ao preso a nota de culpa, que é o

instrumento que informa ao preso os motivos da prisão. Deve ser assinado pelas

testemunhas. A falta da nota de culpa também acarreta o relaxamento da prisão.

Encerrada a lavratura do auto, a prisão é comunicada ao juiz, que dará vistas

ao Ministério Público. Com essa comunicação, a autoridade policial se

desincumbe da sua obrigação.

Prisão Preventiva

A prisão preventiva é uma prisão processual de natureza cautelar. Pode ser

decretada desde o inquérito policial até antes do trânsito em julgado da sentença penal

condenatória. Como é exceção, só pode ser decretada quando demonstrado o fumus boni

iuris e o periculum in mora.

Será decretada a requerimento do Ministério Público, por representação da

autoridade policial, ou de ofício pela autoridade judicial, tanto em ação penal pública como

em ação penal privada.

Se o Ministério Público, ao invés de oferecer a denúncia, devolver os autos para

diligências complementares, não poderá ser decretada a preventiva, pois não estão

caracterizados os indícios da autoria – falta o fumus boni iuris.

A apresentação espontânea do acusado não impede a decretação da preventiva.

A decisão que denega o pedido de prisão preventiva comporta recurso em sentido

estrito, conforme art. 581, inc. V, do Código de Processo Penal. A decisão que concede

pedido de prisão preventiva comporta o pedido de habeas corpus.

A prisão preventiva não pode ser decretada nas infrações penais em que o réu se

livra solto.

Pressupostos para decretação da prisão preventiva:

Fumus boni iuris: Prova da materialidade e indícios de autoria.

Periculum in mora:

Garantia da Ordem Pública (GOP): Visa impedir que o agente, solto,

continue a delinqüir ou acautelar o meio social. Maus antecedentes e

reincidência evidenciam provável prática de novos delitos. Também cabível 88

Page 90: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

quando o crime se reveste de grande violência e crueldade.

Conveniência da Instrução Criminal (CIC): Visa impedir que o agente

perturbe ou impeça a produção de provas.

Garantia da Aplicação da Lei Penal (GALP): Há iminente risco de o

acusado fugir, inviabilizando a aplicação da lei penal. Cabível principalmente

nos casos do agente não ter residência fixa ou ocupação lícita.

Garantia da Ordem Econômica (GOE): Foi introduzida pela lei antitruste

(Lei n. 8.884/94), visando coibir graves crimes contra a ordem econômica,

ordem tributária e o sistema financeiro.

Só se admite a decretação da preventiva nos crimes dolosos:

punidos com reclusão;

punidos com detenção, se o acusado for vadio ou de identidade duvidosa;

se o réu foi condenado por outro crime doloso em sentença transitada em

julgado.

Prisão Temporária

A prisão temporária não está prevista no Código de Processo Penal, mas na Lei n.

7.960/89. Suas principais características são:

Somente é decretada durante o inquérito policial.

Nunca pode ser decretada de ofício, somente por requerimento do Ministério

Público ou representação da autoridade policial.

Tem prazo determinado. Esgotado o prazo, o acusado deve ser solto. Em regra,

o prazo é de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 em caso de extrema e comprovada

necessidade. Nos crimes hediondos e assemelhados (Lei n. 8.072/90), o prazo é

de 30 dias prorrogáveis. Apesar de ter prazo predeterminado, pode ser revogada

antes disso.

É uma prisão de natureza cautelar, só tem razão de ser quando necessária. Após

esgotado o prazo, o acusado pode continuar preso, se houver a conversão da

prisão temporária em prisão preventiva.89

Page 91: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

O art. 1.º da Lei n. 7.960/89 determina os requisitos necessários para a decretação da

prisão temporária. São eles:

quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos

suficientes para sua identificação;

quando houver fundadas razões– provas de o agente ser autor ou ter

participado dos seguintes crimes:

atentado violento ao pudor;

crimes contra o sistema financeiro nacional;

extorsão;

extorsão mediante seqüestro;

estupro;

epidemia com resultado morte;

envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal,

qualificados por morte;

genocídio;

homicídio doloso;

quadrilha ou bando;

roubo;

rapto violento;

seqüestro ou cárcere privado;

tráfico de drogas.

O rol do art. 1.º, inc. III, da Lei n. 7.960/89 é taxativo, mas não se esgota ali; a Lei

n. 8.072/90 o complementa.

Os requisitos do art. 1.º, incs. I a III, são alternativos ou cumulativos?

Posições:

Uma primeira corrente, sustentada pelos Profs. TOURINHO e MIRABETE, afirma

que os requisitos são alternativos.

Uma segunda, sustentada pelo Prof. SCARANCE, estabelece que os requisitos são

cumulativos e que todos devem estar presentes para que seja decretada a 90

Page 92: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

temporária. Inviabiliza, na prática, a aplicação da lei..

Uma terceira corrente, sustentada pelo Prof. VICENTE GRECO FILHO, entende

que os requisitos são alternativos, porém, o juiz só poderá decretar a prisão

temporária se presentes os fundamentos da preventiva (GOP, GOE, GALP,

CIC).

Uma quarta, sustentada pelos Profs. DAMÁSIO DE JESUS e MAGALHÃES GOMES

FILHO, sustenta que, como em toda prisão cautelar, devem estar presentes o

fumus boni iuris e o periculum in mora. Na temporária, o periculum in mora é o

requisito do art. 1.º, incs. I ou II, da Lei n. 7.960/89; e o fumus boni iuris é o

requisito do art. 1.º, inc. III, da Lei 7.960/89. O juiz, portanto, no caso concreto,

vai decretar a temporária se estiverem presentes:

o inc. III combinado com o inc. I;

o inc. III combinado com o inc. II.

É a posição dominante e acolhida pela jurisprudência.

MÓDULO XV

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DA PRISÃO E DA LIBERDADE PROVISÓRIA (TOMO II)

1.1. Prisão por Sentença Condenatória Recorrível (Prisão para Apelar)

O art. 393, inc. I, do Código de Processo Penal dispõe que um dos efeitos da

sentença condenatória recorrível é ser o réu preso ou conservado na prisão, seja no caso de

infrações inafiançáveis, seja nas afiançáveis – enquanto não prestar fiança. O art. 594 do

Código de Processo Penal dispõe que o réu não poderá apelar sem estar recolhido à prisão

ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes– assim reconhecido na

sentença condenatória– ou condenado por crime de que se livre solto. Em virtude desses

dispositivos, são requisitos da prisão por sentença condenatória recorrível:

Condenação, por sentença condenatória recorrível, a pena privativa de liberdade não

suspensa e não substituída (inexistência de sursis penal ou pena alternativa).

91

Page 93: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Ser o réu reincidente ou primário de maus antecedentes. Se for primário e de bons

antecedentes poderá apelar em liberdade.

Ser a infração for inafiançável ou, se afiançável, não tiver sido paga.

A prisão por sentença condenatória recorrível não é decretada no caso de infrações

em que o réu se livra solto, em que não é aplicada pena privativa de liberdade ou quando o

máximo da pena privativa de liberdade não exceder a 3 meses (art. 321 CPP).

1.1.1. Regras específicas

A Lei n. 8.072/90 (crimes hediondos), no art. 2.º, § 2.º, e a Lei n. 9.613/98 (lavagem

de capitais), no art. 3.º, determinam que o juiz decidirá, fundamentadamente, se o réu

apelará em liberdade ou não.

A Lei n. 6.368/76 (tóxicos), no art. 35, e a Lei n. 9.034/95 (organizações

criminosas), no art. 9. º, vedam a possibilidade de o réu apelar em liberdade.

Na visão da doutrina, o réu só poderá ser preso por força de sentença condenatória

recorrível quando o encarceramento se mostrar necessário. Isso ocorre quando presentes os

fundamentos da prisão preventiva (fumus boni iuris, que é a sentença condenatória

recorrível; e o periculum in mora, garantia da ordem pública, garantia da ordem

econômica, conveniência da instrução criminal, garantia da aplicação da lei penal).

Deve-se compatibilizar essa prisão com o princípio do estado de inocência. Só os

requisitos do art. 594 do Código de Processo Penal não podem determinar a prisão, pois

seria execução provisória da pena.

Quanto à jurisprudência, há duas posições:

Parte dela aplica o art. 594 do Código de Processo Penal in totum.

Para outra parte, o tratamento depende de como o réu respondeu o processo, se

preso ou solto. Se durante o processo o réu estava solto, não há porquê prendê-lo

para recorrer da sentença. Se estava preso durante o processo, não há razão para

soltá-lo;ele permanecerá preso, ainda que primário e com bons antecedentes.

1.2. Prisão por Pronúncia

O art. 408 do Código de Processo Penal dispõe que o juiz, se convencido da 92

Page 94: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

existência do crime e de indícios de que o réu seja o seu autor, deverá pronunciá-lo,

indicando os motivos do seu convencimento. Conforme o § 1.º, a sentença de pronúncia

indicará o dispositivo legal em cuja sanção for julgado incurso o réu, e o recomendará na

prisão em que se achar, ou expedirá ordem para sua captura. Dispõe o § 2.º que, se o réu

for primário e de bons antecedentes, poderá o juiz deixar de decretar-lhe a prisão ou

revogá-la, caso já se encontre preso.

Em virtude desses dispositivos, são pressupostos para que o réu seja preso por

sentença de pronúncia:

réu pronunciado;

réu reincidente, ou primário com maus antecedentes;

ser o crime inafiançável ou, se afiançável, o réu não ter pago fiança (nos

crimes dolosos contra a vida, são afiançáveis o infanticídio, art. 123 do CP, e o

aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento, art. 124 do CP);

a prisão ser necessária para não violar o princípio da presunção de inocência.

Para a doutrina, são necessários os requisitos da prisão preventiva. Para a

jurisprudência, se permaneceu solto durante o processo, continuará em liberdade.

Se já estava preso durante o processo, permanecerá preso, ainda que primário e

com bons antecedentes.

1.3. Liberdade Provisória

Aplica-se a liberdade provisória para a prisão em flagrante (salvo se houver

irregularidade ou nulidade que enseje o relaxamento da prisão em flagrante), para a prisão

por pronúncia (art. 408, § 2.º, do CPP) e para a prisão para apelar (sentença condenatória

recorrível, art. 594 do CPP). Para a prisão preventiva e para a temporária, pede-se a

revogação da prisão.

A liberdade provisória é uma contra-cautela que vigora até o trânsito em julgado da

decisão final, quando haverá a execução da pena, aplicada no caso de condenação, ou a

liberdade definitiva, no caso de absolvição.

A Liberdade Provisória é obrigatória nas infrações penais em que o réu se livra

solto– as apenadas exclusivamente com multa e as apenadas com pena privativa de

liberdade que não exceda 3 (três) meses (art. 321, incs. I e II, do CPP).93

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

A Liberdade Provisória é permitida nas infrações em que há o pagamento de fiança.

De acordo com o art. 322 do Código de Processo Penal, são afiançáveis as infrações

punidas com detenção ou prisão simples (fiança concedida pelo juiz ou pela autoridade

policial) ou punidas com reclusão cuja pena não exceda 2 (dois) anos (fiança concedida

somente pela autoridade judicial e fundamentadamente).

A Súmula n. 81 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que, em caso de concurso

material, para se determinar a afiançabilidade ou não no caso concreto, as penas devem ser

somadas.

Até 1977, obtinha-se a liberdade provisória somente mediante o pagamento de

fiança. Em 1977, a Lei n. 6.416 acrescentou um parágrafo único ao art. 310 do Código de

Processo Penal, criando-se a possibilidade da obtenção da liberdade provisória sem fiança,

sempre que estiverem ausentes os motivos da prisão preventiva, até mesmo nos crimes

inafiançáveis.

São inafiançáveis conforme os arts. 323 e 324 do Código de Processo Penal:

crimes punidos com reclusão, em que a pena mínima for superior a dois anos;

contravenções de mendicância e vadiagem;

crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade, se o réu for reincidente;

crimes punidos com reclusão e que provoquem clamor público, ou que tenham sido

cometidos com violência contra a pessoa, ou que envolvam grave ameaça;

quebra de fiança anteriormente concedida, ou infringência de obrigação imposta;

prisão por mandado do juiz cível – disciplinar, administrativa ou militar;

o réu estiver no gozo de suspensão condicional da pena ou de livramento

condicional;

quando presentes os motivos que autorizam a preventiva.

Nesses casos, o juiz deverá fazer o seguinte raciocínio: se o réu estivesse solto,

haveria motivos para ser decretada a prisão preventiva?

Se houver motivos, não se concede a liberdade provisória.

Se não houver motivos, concede-se a liberdade provisória.

A liberdade provisória independente de fiança criou, na prática, uma situação

injusta. Se não é o caso de prisão preventiva e o delito é afiançável, a liberdade provisória 94

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

somente poderá ser concedida mediante o recolhimento de fiança. Se o delito é

inafiançável, a liberdade provisória poderá ser concedida sem qualquer pagamento. Ex.: o

juiz recebe um processo de furto simples, cuja pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos e que

admite a fiança. Arbitrada e paga a fiança, é concedida a liberdade provisória. Em outro

processo de roubo simples, com a pena de 4 (quatro) a 10 (dez) anos de reclusão – em pena

mínima superior a 2 (dois) anos não cabe fiança –, conclui o juiz que, se o réu estivesse

solto, não seria o caso de decretação da prisão preventiva e, então, concede também a

liberdade provisória. Percebe-se uma injustiça da lei: no crime menos grave há o

pagamento de fiança; no mais grave, não. Na prática, por razões de política criminal, o

juiz, verificando o preenchimento dos requisitos, concede a liberdade provisória

independente do pagamento de fiança em ambos os processos.

A Lei n. 8.035/90 determinou que, nos crimes contra a economia popular e de

sonegação fiscal, a liberdade provisória somente será concedida mediante recolhimento de

fiança.

A liberdade provisória é vedada:

nos crimes hediondos e assemelhados, salvo em caso de tortura que, apesar

de inafiançável, admite a liberdade provisória;

no art. 7.º da Lei n. 9.034/95, que trata das organizações criminosas;

no art. 3.º da Lei n. 9.613/98, que trata da lavagem de bens e capitais.

P.: A vedação da liberdade provisória é inconstitucional?

R.: Não, pois a Constituição prevê que “ninguém será levado à prisão ou nela

mantido quando a lei admitir a liberdade provisória com ou sem o pagamento de fiança”,

logo, nos casos em que a lei não admita a liberdade provisória, pode-se vedá-la.

1.4. Fiança

Fiança é a caução destinada a garantir o cumprimento das obrigações processuais

por parte do réu. Sua natureza jurídica é a de caução. Pode ser prestada pelo acusado ou

por terceiro em seu favor, nas modalidades de depósito ou hipoteca.

São infrações inafiançáveis, além das previstas nos arts. 323 e 324 do Código de

Processo Penal:95

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

o crime de racismo, o crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de

entorpecentes, terrorismo e a ação de grupos armados civis e militares contra a

ordem constitucional e o estado democrático de direito;

a contravenção de aposta em corrida de cavalo fora do hipódromo (art. 9.º, §

2.º, da Lei n. 7.291/84);

os crimes contra o sistema financeiro, se estiver configurada situação que

autorize a prisão preventiva (art. 31 da Lei n. 7.492/86);

os crimes contra a fauna (art. 34 da Lei n. 5.197/67).

A autoridade policial pode arbitrar a fiança nas infrações punidas com detenção e

prisão simples; nos demais casos, compete ao juiz (art. 322, do CPP).

1.4.1. Obrigações do réu sob pena de quebramento da fiança

Comparecimento a todos os atos processuais a que for intimado.

Obrigação de comunicar ao Juízo qualquer mudança de endereço.

Não se ausentar da Comarca por mais de 8 dias sem autorização do juiz.

A fiança é cabível desde o inquérito policial até o trânsito em julgado da sentença.

Consistirá no depósito de bens, valores, pedras preciosas, títulos da dívida pública

ou na hipoteca de imóvel.

1.4.2. Valor da fiança

O valor da fiança será fixado pela autoridade, conforme o disposto no art. 325 do

Código de Processo Penal (questão do concurso n. 172 da magistratura!). Será de 1 (um) a

5 (cinco) salários mínimos quando a pena privativa de liberdade for de até 2 (dois) anos; de

5 (cinco) a 20 (vinte) salários mínimos quando a pena privativa de liberdade for de, no

máximo, 4 (quatro) anos; de 20 (vinte) a 100 (cem) salários mínimos quando a pena

privativa de liberdade for superior a 4 (quatro) anos.

Conforme a situação econômica do réu, o valor da fiança pode ser reduzido até o

máximo de dois terços ou aumentada até o décuplo (art. 325, § 1.º, incs. I e II, do CPP).

Para determinar o valor da fiança, será levado em consideração:

natureza da infração;96

Page 98: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado;

circunstâncias indicativas da periculosidade do agente;

importância provável das custas do processo até o final do julgamento.

1.4.3. Reforço da fiança

Poderá ser necessário o reforço da fiança, nos casos previstos pelo art. 340 do

Código de Processo Penal; não sendo reforçada, a fiança ficará sem efeito e o réu será

recolhido à prisão. Será exigido o reforço quando:

por engano, for tomada a fiança em valor insuficiente;

houver inovação na classificação do delito;

houver depreciação do objeto da fiança.

Se o juiz verificar que é impossível ao réu prestar fiança, por motivo de pobreza,

poderá conceder-lhe a liberdade provisória, sujeitando-o ao cumprimento das obrigações,

que, se não cumpridas, acarretarão a revogação do benefício, conforme o art. 350 do

Código de Processo Penal. Esse dispositivo é anterior ao surgimento da possibilidade da

liberdade provisória sem fiança.

As atenuantes e as agravantes não são levadas em conta para a fixação da fiança,

pois não alteram o mínimo e o máximo da pena.

1.4.4. Cassação da fiança

A fiança será cassada quando se verificar, posteriormente, que não era cabível. Se a

fiança foi concedia por autoridade policial, compete a juiz cassá-la; se foi concedida por

juiz, será cassada por tribunal mediante recurso da acusação.

1.4.5. Quebra da fiança

Haverá quebra da fiança nos seguintes casos:

quando o réu descumprir suas obrigações processuais;

quando o réu estiver, mediante fiança, no gozo da liberdade provisória e

praticar nova infração penal.

São conseqüências do quebramento da fiança:97

Page 99: Direito Processual Penal.doc

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perda da metade do valor da fiança;

obrigação de recolher-se à prisão;

impossibilidade de concessão de nova fiança no mesmo processo.

Quando o réu deixar de recolher-se à prisão, sendo isso necessário, perderá todo o

valor depositado a título de fiança.

O recurso adequado para as decisões sobre fiança será o recurso em sentido estrito

(art. 581, incs. V e VII), decisão que concede, cassa, julga inidônea, decreta o seu

quebramento, nega, arbitra e declara perdido o seu valor.

O Ministério Público não precisa ser ouvido para concessão de fiança; deverá,

contudo, ser intimado da decisão, para interpor recurso se achar necessário.

Se o réu não for condenado, o valor da fiança lhe será restituído, deduzido eventual

montante declarado perdido.

Se o réu for condenado, o valor da fiança será destinado ao pagamento das custas

processuais (no Estado de São Paulo não há custas processuais no processo penal), ao

pagamento de multa criminal e ainda pode ser revertido no pagamento de indenização civil

ex delicto.

Nas infrações penais de competência do Juizado Especial Criminal, não se imporá

prisão em flagrante nem se exigirá fiança, se o autor do fato for imediatamente

encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer (art. 69, par. ún.,

da Lei n. 9.099/95).

MÓDULO XVI

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. CITAÇÃO

1.1. Conceito

A citação é o ato processual por meio do qual é oferecido ao acusado conhecimento

oficial acerca do teor da acusação, abrindo-se oportunidade para que ele produza sua

defesa, triangularizando-se, assim, a relação jurídico-processual. Até o momento anterior à

citação, a relação era angular (autor e juiz).

98

Page 100: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

É determinada pelo juiz e cumprida pelo Oficial de Justiça.

A falta de citação no processo penal causa nulidade absoluta do processo (art. 564,

III e IV, do CPP), pois contraria os princípios constitucionais do contraditório e da ampla

defesa. Exceção: o art. 570 do Código de Processo Penal dispõe que se o réu comparece

em juízo antes de consumado o ato, ainda que para argüir a ausência de citação, sana a sua

falta ou a nulidade. Nesse caso, o juiz ordenará a suspensão ou o adiamento do ato.

O Código de Processo Penal tratou da citação em um título próprio, compreendendo

os arts. 351 ao 372.

A citação pode ser de duas espécies:

citação pessoal;

citação ficta (por edital).

No processo penal não há citação ficta por hora certa. A citação ficta é somente a

editalícia.

1.2. Diferença entre Citação, Intimação e Notificação

Citação é o ato processual por meio do qual se chama a juízo o réu para comparecer

e defender-se.

Intimação, segundo o Prof. Mirabete, é a ciência dada à parte, no processo, da

prática de um ato, despacho ou sentença.

Notificação é a convocação para o comparecimento ou a prática de ato futuro.

O Código de Processo Penal não diferencia intimação e notificação, referindo-se a

uma quando deveria aludir a outra.

1.3. Quem Deve Ser Citado

Somente o acusado pode ser citado, ainda que seja menor de 21 anos ou

mentalmente enfermo, a citação não poderá ser feita na pessoa do representante legal.

Exceção: se já houver sido instaurado incidente de insanidade mental e a perturbação for

conhecida do juízo, a citação se fará na pessoa do curador do acusado.

Se a perturbação mental ainda não for conhecida do juízo, mas o Oficial de Justiça a

constata por ser aparente, deverá certificar a ocorrência no verso do mandado, a fim de que

o juiz possa determinar a instauração do incidente de insanidade mental.

As pessoas jurídicas deverão ser citadas na pessoa de seu representante legal.99

Page 101: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.4. Conseqüências do Não-atendimento à Citação

O réu regularmente citado, pessoalmente ou por edital, mas com defensor

constituído que não comparece, permanecendo inerte ao chamado, pratica a “contumácia”,

ausência injustificada.

O efeito da contumácia é a revelia. O processo prosseguirá sem a presença do

acusado que, citado ou intimado, deixou de comparecer ou, no caso de mudança de

endereço, não comunicou o novo endereço ao juízo (art. 367 do CPP).

Em virtude do princípio da verdade real, sobre ele não recairá a presunção de

veracidade quanto aos fatos que lhe forem imputados. O réu poderá retornar ao processo a

qualquer momento, independente da fase em que esteja.

1.5. Efeitos da Citação Válida

No processo penal, o único efeito da citação válida é o de completar a relação

jurídica processual. Com ela se instaura o processo e passam a vigorar todos os direitos,

deveres, ônus e princípios que regem o processo penal.

A citação válida no processo penal não torna prevento o juízo, não interrompe a

prescrição e não induz à litispendência.

1.6. Citação Real ou Pessoal (espécies e comentários)

1.6.1. Citação pessoal

A citação pessoal é aquela realizada na própria pessoa do réu por meio de mandado

citatório, carta precatória, carta rogatória, carta de ordem e requisição. Há a certeza da

realização da citação.

A citação por mandado (prevista nos arts. 352 ao 357 do CPP) é cumprida por

Oficial de Justiça. Destina-se à citação do réu em local certo e sabido dentro do território

do juiz processante. O mandado de citação indicará o nome do juiz, do qual emanou a

ordem; o nome do réu ou querelante; sua residência, se for conhecida; o fim para que é

feita a citação; o juízo; o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer; a

subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.100

Page 102: Direito Processual Penal.doc

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O Oficial de Justiça deverá ler ao citando o mandado e entregar-lhe a contrafé, na

qual são mencionados dia e hora da citação, ato que o Oficial deverá declarar na certidão,

bem como a aceitação ou recusa do réu.

A citação pode ser realizada em qualquer tempo, dia e hora, inclusive domingos e

feriados, durante o dia ou à noite. Não se deve, todavia, proceder à citação: de doente,

enquanto grave o seu estado; de noivos, nos três primeiros dias de bodas; de quem estiver

assistindo ato de culto religioso; de cônjuge ou outro parente de morto (consangüíneo ou

afim, em linha reta ou colateral, em segundo grau) no dia do falecimento e nos sete dias

seguintes.

Entre a citação e o interrogatório deve haver um prazo mínimo de 24 horas.

1.6.2. Citação por requisição

A citação por requisição é destinada à citação do militar e do preso. É feita mediante

ofício requisitório expedido pelo juiz ao comandante (chefe de serviço), no caso da citação

do militar, ou ao diretor do estabelecimento prisional, no caso do preso, requisitando sua

apresentação em juízo, no dia e hora designados, cabendo a esses e não ao Oficial de

Justiça a citação.

A requisição deve conter os mesmos requisitos do mandado de citação.

Se o militar ou o preso se encontrar em outra comarca, o juiz processante expedirá

carta precatória, cabendo ao juiz deprecado a expedição do ofício requisitório. Conforme a

Súmula n. 351 do Supremo Tribunal Federal, se o réu estiver preso na mesma Unidade da

Federação do juiz processante, será nula sua citação por edital, sendo válida, portanto, a

citação por edital do réu preso em outra Unidade da Federação diversa daquela do juiz

processante.

1.6.3. Citação por carta precatória

A citação por precatória destina-se à citação do réu que está em lugar certo e sabido,

porém fora da jurisdição do juiz processante (art. 353 do CPP). A precatória indicará o juiz

deprecante e o deprecado, suas respectivas sedes, o fim da citação e o juízo do lugar, dia e

hora em que o réu deverá comparecer.

A principal característica da citação por precatória no processo penal é o seu caráter 101

Page 103: Direito Processual Penal.doc

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itinerante (art. 355, § 1.º, do CPP). Se o juiz deprecado verificar que o réu se encontra em

território sujeito à jurisdição de um terceiro juiz, a este remeterá os autos para a efetivação

da citação, desde que haja tempo.

1.6.4. Citação por carta rogatória

A citação por carta rogatória destina-se à citação do réu que se encontra em lugar

certo e sabido, mas no estrangeiro ou em legações estrangeiras (embaixadas).

Anteriormente, o réu que estava no estrangeiro era citado por edital. Hoje, com a Lei

n. 9.271/96, a citação é pessoal, através de rogatória. Exceção: se o Estado estrangeiro se

recusar a cumprir a rogatória do Brasil, o réu será citado por edital. Nesse caso, considera-

se que ele está em local inacessível (art. 363, I, do CPP).

Como o trâmite da rogatória é demorado, o Código de Processo Penal autoriza a

suspensão do processo e do curso do prazo prescricional até a efetivação da citação (art.

368 do CPP).

1.6.5. Citação por carta de ordem

A citação por carta de ordem tem disciplina idêntica à da citação por precatória. É

expedida por um órgão superior para ser cumprida por órgão inferior. Em geral são

determinadas pelos tribunais nos processos de sua competência originária. Ex.: o TJ pede

para o juiz de primeira instância cumprir um mandado citatório de um réu residente em sua

comarca e que goze de prerrogativa de foro.

1.6.6. Citação do funcionário público

O funcionário público será citado por mandado (atenção: somente são citados por

requisição o preso e o militar), mas é necessária a expedição de um ofício ao chefe da

repartição onde o citando trabalha, notificando-o do dia, hora e lugar em que o funcionário

deverá comparecer (art. 359 do CPP). Visa possibilitar a continuidade do serviço público,

providenciando-se a substituição do funcionário. A falta da expedição desse ofício não

invalida a citação. Se o citando for magistrado, deverá ser comunicado ao Presidente do

Tribunal de Justiça; se for membro do Ministério Público, deverá ser comunicado ao 102

Page 104: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Procurador-Geral de Justiça.

1.7. Citação por Edital ou Ficta e a Lei n. 9.271/96

A citação por edital é medida excepcional, só sendo utilizada quando frustradas as

possibilidades de citação pessoal, por ser impossível localizar o réu (art. 361 do CPP).

Será feita a citação por edital nos seguintes casos:

quando réu está em lugar incerto e não sabido (“LINS”), o prazo será de 15 dias;

quando for incerta a pessoa do réu a ser citada, o prazo será de 30 dias (art. 363,

inc. II, do CPP);

quando o réu estiver se ocultando para não ser citado, o prazo será de 5 dias (art.

362 do CPP);

quando o réu estiver em lugar inacessível, em virtude de epidemia, de guerra ou

por outro motivo de força maior, o prazo será de 15 a 90 dias (art. 363, inc. I, do

CPP).

O edital será afixado na porta do juízo e será publicado na imprensa, onde houver.

A Lei n. 9.271/96 trouxe grandes inovações para a citação editalícia. Anteriormente,

se o réu citado por edital não comparecesse nem constituísse advogado, o processo tinha

prosseguimento normal. Muitas vezes, o réu nem tomava conhecimento de que fora

processado e condenado à revelia. A lei alterou o art. 366 do Código de Processo Penal e

determinou que se o réu citado por edital não comparecer nem constituir advogado, o

processo ficará suspenso e também será suspenso o prazo prescricional (atenção: se o réu

foi citado pessoalmente e não comparecer nem constituir advogado, será decretada sua

revelia).

O juiz, mesmo aplicando o art. 366 do Código de Processo Penal, se presente os

motivos, poderá decretar a prisão preventiva do acusado. Poderá também determinar a

produção das provas consideradas urgentes. Se o fizer, nomeará um defensor dativo.

O processo e o prazo prescricional ficarão suspensos por prazo indeterminado até

que o réu seja encontrado. Como a Lei n. 9.271/96 não estabeleceu um limite máximo para

a suspensão do prazo prescricional, poderia ser criado no caso concreto um crime

imprescritível. Somente a CF pode, no entanto, prever crimes imprescritíveis (que são o

racismo e a ação de grupos armados civis ou militares contra o Estado Democrático de 103

Page 105: Direito Processual Penal.doc

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Direito e a Ordem Constitucional – art. 5.º, incs. XLII e XLIV).

Para compatibilizar a Lei n. 9.271/96 com a Constituição Federal, a doutrina

concluiu que o juiz deverá, nos processos em que aplicar o art. 366 do Código de Processo

Penal, estabelecer um prazo máximo para a suspensão da prescrição, que deverá

corresponder ao prazo da prescrição da pretensão punitiva em abstrato, conforme a tabela

do art. 109 do Código Penal. Essa posição é a predominante na jurisprudência e tem como

um de seus expoentes o Prof. Damásio de Jesus.

Essa regra do art. 366 do Código de Processo Penal é híbrida, isto é, tem

dispositivos de direito processual (quando trata da suspensão do processo) e dispositivos de

direito penal (quando trata da suspensão do prazo prescricional). Em normas híbridas, a

parte que trata de direito material comanda a retroatividade ou não da norma, pois afeta o

direito do Estado de punir. Nesse caso, como a norma estabelece uma situação pior para o

réu, ela não se aplica aos processos existentes antes de sua publicação, pela proibição da

reformatio in pejus.

Da decisão que aplica o art. 366 do Código de Processo Penal cabe recurso em

sentido estrito por analogia ao art. 581, inc. XVI, do Código de Processo Penal. Há

acórdãos entendendo que interposta a apelação, essa poderá ser recebida em razão do

princípio da fungibilidade.

1.8. Intimação

Intimação é o conhecimento dado à parte de um ato já praticado no processo.

Conforme o art. 370 do Código de Processo Penal, nas intimações dos acusados,

testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, serão

observadas as regras previstas para as citações. A intimação também pode ser feita pelo

escrivão – o que não é permitido nas citações – por despacho em petição que servirá de

mandado, por termos nos autos, pela publicação no órgão oficial e pelo correio.

As intimações judiciais são duplas, ou seja, é necessária a citação do réu e de seu

defensor dativo ou constituído, permitindo-se a intimação dos advogados pela imprensa

oficial.

A intimação do defensor nomeado, do réu, das testemunhas e do Ministério Público

será pessoal (art. 370, § 4.º, do CPP). 104

Page 106: Direito Processual Penal.doc

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As intimações poderão ser realizadas no curso das férias forenses, pois os prazos

correm da data da intimação. Conforme a Súmula n. 310 do Supremo Tribunal Federal,

quando a intimação tiver lugar na sexta-feira ou a publicação com efeito de intimação for

feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver

expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.

MÓDULO XVII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. SENTENÇA

Conceito

Sentença em sentido estrito é a decisão que julga o mérito da causa.

1.2. Classificação das Decisões em Processo Penal

As decisões em processo penal classificam-se em:

a) Despachos: são os atos judiciais sem carga decisória, incapazes de trazer

prejuízo às partes e que determinam a marcha do processo. Os despachos, em

regra, são irrecorríveis; excepcionalmente admite-se correição parcial ou mesmo

habeas corpus.

b) Decisões interlocutórias:

simples: resolvem questões incidentes no processo sem ingressar no mérito da

causa, como, por exemplo, concessão de liberdade provisória e relaxamento da

prisão em flagrante. As decisões interlocutórias simples são, via de regra,

irrecorríveis; porém, se houver previsão no art. 581 do Código de Processo

Penal, caberá recurso em sentido estrito.

mistas:

- não-terminativas: encerram uma fase, uma etapa processual, sem pôr fim ao

processo. Ex.: decisão de pronúncia.

- terminativas: encerram o processo sem julgamento do mérito. Ex.: decisão

de impronúncia.105

Page 107: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

As decisões interlocutórias mistas (assim como as sentenças terminativas de mérito)

são recorríveis. É cabível o recurso em sentido estrito se estiver previsto no rol do art. 581

do Código de Processo Penal, ou apelação, caso prevista no art. 593 do Código de Processo

Penal.

c) Sentenças:

terminativa de mérito: é a decisão que julga o mérito sem condenar ou absolver

o réu, como, por exemplo, extinção da punibilidade. É recorrível via recurso em

sentido estrito, ou apelação;

absolutória:

- própria: julga improcedente a pretensão punitiva e não impõe qualquer

sanção penal;

- imprópria: proferida para o réu inimputável, não acolhe a pretensão

punitiva, mas reconhece o cometimento da infração penal e impõe medida

de segurança (art. 386, par. ún., inc. III).

O juiz, ao absolver o réu, deverá mencionar na parte dispositiva a causa,

reconhecendo (art. 386 do CPP):

- a inexistência do fato;

- a ausência de prova da existência do fato;

- o fato não constituir infração penal (ser atípico);

- não haver prova do réu ter concorrido para a infração penal;

- existir circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena;

- não existir prova suficiente para a condenação.

condenatória: julga procedente no todo, ou em parte, a pretensão punitiva.

As sentenças absolutórias e as condenatórias são apeláveis. Exceção ao recurso

cabível contra a absolvição sumária do Tribunal do Júri é o em sentido estrito.

Quanto ao sujeito, as sentenças podem ser:

subjetivamente simples: sentença proferida por órgão monocrático, juiz de

primeiro grau;

subjetivamente plúrima: sentença proferida por órgão colegiado homogêneo, 106

Page 108: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

tribunais;

subjetivamente complexa: sentença proferida por mais de um órgão, como o

Tribunal do Júri, que decide o crime e a autoria, e o juiz, que decide a pena a ser

aplicada.

Chama-se sentença suicida aquela cuja fundamentação conflita com o dispositivo.

1.3. Requisitos da Sentença

a) Requisitos intrínsecos:

relatório: deve conter o nome e a qualificação das partes, a exposição sucinta da

acusação e da defesa e o resumo dos atos incidentes processuais. É a maneira de

se comprovar que o juiz examinou o processo e tem conhecimento de seu

conteúdo. O relatório é imprescindível, pois assegura o contraditório. Sua falta

acarreta a nulidade absoluta da sentença. A exceção encontra-se na Lei n.

9.099/95, que admite sentença proferida sem relatório.

fundamentação: é uma obrigação constitucional a fundamentação das decisões

(art. 93, inc. IX, da CF). A fundamentação da sentença relaciona-se com o

princípio da apreciação da prova (livre convencimento motivado, ou a persuasão

racional do juiz). A fundamentação garante a atuação equilibrada e imparcial do

juiz, controla a legalidade das decisões e garante que os argumentos da partes

foram examinados. A sentença sem fundamentação é nula, salvo a do Tribunal

do Júri – o veredicto é absolutamente sigiloso não podendo ser fundamentado.

Fundamentação per relatione ocorre quando o julgador, em sua decisão, adota como

razões de decidir a fundamentação utilizada em manifestação anterior no processo. Ex.:

quando o Tribunal adota a fundamentação do juiz de primeiro grau. Alguns doutrinadores

criticam essa possibilidade, afirmando que nesse caso é como se não houvesse

fundamentação. O Supremo Tribunal Federal e a jurisprudência, no entanto, aceitam essa

prática. O julgador pode utilizar as razões do Ministério Público se este atuou como custos

legis.

107

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dispositivo: contém a substância da sentença, o julgamento da pretensão

punitiva. Extrai-se do dispositivo os limites objetivos da coisa julgada.

A pretensão punitiva pode ser julgada procedente no todo ou em parte

(condenatória), ou improcedente (absolutória). Mesmo a pretensão punitiva sendo julgada

improcedente, muitas vezes verifica-se o interesse recursal, como no caso da absolvição

imprópria em que se impõe medida de segurança ou no caso da absolvição própria para

evitar uma ação civil ex delicto (quando não fundamentada nos incs. I, IV e V do art. 386

do CPP).

A sentença sem dispositivo é inexistente. Também é inexistente a sentença

elaborada por juiz sem jurisdição (em férias, licenciado, afastado, aposentado).

b) Requisitos extrínsecos: são a publicação e a intimação da sentença.

A publicação da sentença é uma formalidade de suma importância; enquanto não for

publicada, a sentença não pode ser considerada como um ato processual. A publicação da

sentença ocorre:

com a entrega da sentença ao escrivão do cartório;

quando proferida em audiência como no Tribunal do Júri, no momento de sua

leitura.

A sentença penal tem o efeito de interromper a prescrição, o que ocorre na data da

sua publicação.

Após a publicação da sentença, segue-se a intimação das partes.

A intimação do Ministério Público e do defensor dativo é pessoal.

A intimação do querelante e do assistente de acusação é feita pessoalmente ou na

pessoa do advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do Juízo, a

intimação acontecerá por edital com prazo de 10 dias (art. 391 do CPP).

A intimação da sentença deverá ser feita pessoalmente ao réu e seu defensor. Se não

forem encontrados, serão intimados por edital.

A regra trazida no art. 370, §§ 1.º e 2.º, do Código de Processo Penal (intimação do

defensor constituído pela imprensa) não é verificada para a sentença, que possui disposição 108

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específica no art. 392 do Código de Processo Penal.

A fluência do prazo recursal se inicia a partir da última intimação (do réu ou de seu

defensor), ou, se por carta precatória, da juntada da carta cumprida aos autos. O prazo do

edital será de 90 dias se a pena privativa de liberdade imposta for igual ou superior a um

ano, e de 60 dias nos demais casos. O prazo da apelação correrá após o término do prazo

fixado no edital.

1.4. Princípio da Correlação

Exige que, entre a sentença e o pedido, haja uma correlação, não admitindo decisões

de modo diverso, além ou aquém (extra, ultra ou citra petita) do que consta na denúncia

ou queixa.

Trata-se de uma garantia fundamental da defesa, que oferece resistência àquilo que

foi descrito na peça inicial.

Tal princípio decorre da inércia da jurisdição, que limita o julgador aos termos da

provocação. Se desbordar essa restrição, o juiz estará violando a imparcialidade.

1.5. Emendatio Libelli e Mutatio Libelli

A emendatio libelli, prevista no art. 383 do Código de Processo Penal, ocorre

quando a denúncia ou a queixa descreve perfeitamente o fato concreto de determinado

crime, mas dá a ele classificação jurídica diversa. Ex.: a denúncia narra um furto mas

classifica o delito como roubo. O juiz, então, na sentença, pode “emendar” a denúncia ou

queixa, dando ao fato definição jurídica diversa da que consta na exordial, mesmo que, em

conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. Não ofende a ampla defesa do réu, que se

defende dos fatos e não da classificação jurídica do delito.

A mutatio libelli, art. 384 do Código de Processo Penal, ocorre quando o juiz, na

sentença, reconhece a possibilidade de dar ao fato descrito na inicial nova caracterização –

não se trata de classificação jurídica diversa, mas sim de modificação (mutatio) dos fatos

narrados na acusação, em virtude de:

provas produzidas nos autos;

circunstância elementar não contida explícita ou implicitamente na denúncia ou

na queixa ( exs.: qualificadoras, causas de aumento e diminuição, agravantes e 109

Page 111: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

atenuantes).

A nova classificação do fato pode ensejar uma pena menor, igual ou maior que a

anteriormente prevista.

Se a pena for menor ou idêntica à anterior deve-se observar o disposto no art. 384,

caput, do Código de Processo Penal. O juiz deve baixar os autos para a manifestação da

defesa, que no prazo de 8 dias deverá produzir provas, podendo arrolar até 3 testemunhas.

Se a pena for maior que a anterior, deve ser observado o art. 384, par. ún., do

Código de Processo Penal. O juiz deve baixar os autos para o Ministério Público aditar a

denúncia no prazo de 3 dias (usa-se por analogia o prazo do art. 46, § 2.º, do CPP). Em

seguida, abre-se o prazo de 3 dias para a defesa se manifestar, arrolar até 3 testemunhas, e

requerer a produção de provas.

No art. 384, caput, do Código de Processo Penal, o prazo da defesa é maior porque

impõe a produção da prova; no parágrafo único, o prazo é menor porque serve apenas para

a parte requerer a produção das provas.

1.5.1. Observações sobre a mutatio libelli

Se o promotor perceber que é caso de aditamento, pode aditar a qualquer

momento, não precisando esperar o juiz se manifestar na sentença.

O juiz, ao baixar os autos para o Ministério Público aditar a denúncia e a defesa

se manifestar, deve ser cauteloso para não antecipar o julgamento. Ex.: não pode

afirmar “não foi furto, foi roubo”. O juiz também não pode ser lacônico a ponto

de não indicar às partes a razão pela qual aplica o art. 384, par. ún., do Código

de Processo Penal, devendo, por exemplo, dizer: “... baixem-se os autos nos

termos do art. 384, par. ún., do CPP, em virtude das declarações prestadas a

fls...”

Se o Ministério Público recusa-se a aditar a denúncia, deve ser usado por

analogia o art. 28 do Código de Processo Penal (que determina a remessa dos

autos ao Procurador-Geral).

P.: O art. 384, par. ún., do Código de Processo Penal aplica-se também à ação penal 110

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privada?

R.: O art. 384, caput, do Código de Processo Penal é aplicável à ação penal privada.

O parágrafo único do Código de Processo Penal aplica-se à queixa na ação penal privada

subsidiária da pública; quanto à ação penal privada propriamente dita, a doutrina diverge:

- Sim, aplica-se por analogia, já que o processo penal permite a

utilização da analogia (Prof. Tourinho).

- Não, não se aplica porque a lei exclui essa possibilidade. Não foi

esquecimento do legislador, foi omissão proposital. Se fosse possível a

aplicação do parágrafo único do art. 384 do Código de Processo Penal à ação

penal privada, estar-se-ia admitindo a possibilidade de o juiz obrigar o

querelante a aditar a queixa, ampliando a acusação, o que seria incompatível

com o princípio da disponibilidade da ação penal privada. O juiz não pode

obrigar o ofendido a iniciar a ação, nem a aditar a queixa. O querelante, por

iniciativa própria, pode fazê-lo, mas não pela aplicação do art. 384, par. ún., do

Código de Processo Penal.

Se durante a instrução descobre-se que o autor praticou outros crimes, além do

descrito no processo, ou que mais pessoas concorreram para a prática do delito, não se

aplica o art. 384 do Código de Processo Penal; será preciso nova acusação, que pode ser

feita:

- com o oferecimento de nova denúncia;

- com o aditamento da denúncia, realizando-se nova citação,

interrogatório, defesa prévia, audiência de instrução, diligências, alegações

finais e sentença.

1.5.2. Súmulas

Súmula n. 453 do Supremo Tribunal Federal: proíbe a aplicação do art. 384,

caput, e parágrafo único do Código de Processo Penal, em segunda instância.

Visa garantir o duplo grau de jurisdição. Se o Tribunal reconhecesse e

condenasse pelo outro delito, estaria suprimindo o primeiro grau de jurisdição.

Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal: o Tribunal não pode reconhecer 111

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de ofício, em prejuízo da defesa, nulidade não argüida no recurso da acusação,

mesmo que seja nulidade absoluta. Ex.: processa-se por furto e, durante a

instrução, apura-se que o delito cometido foi roubo. O Tribunal percebe que era

caso da aplicação do art. 384 do Código de Processo Penal, mas, como ninguém

argüiu:

não pode manter a condenação por furto;

não pode condenar por roubo, pois violaria o princípio da correlação;

não pode aplicar o art. 384 do Código de Processo Penal, pois violaria o duplo

grau de jurisdição;

não pode anular a sentença porque não pode reconhecer de ofício nulidade

prejudicial à defesa que não foi argüida pela acusação.

O Tribunal, então, deverá absolver o réu, instaurando-se novo processo para o crime

de roubo, se esse ainda não prescreveu.

Se, por exemplo, o réu foi processado por dano simples (ação penal privada) e

durante a instrução verifica-se que o bem não era particular, e sim público o dano torna-se

qualificado e a ação penal pública incondicionada. Pela modificação da natureza da ação

penal, o processo não deveria ter sido instaurado por queixa, mas sim por denúncia. A

solução é anular a ação penal desde o início pela ilegitimidade ad causae.

1.6. Efeitos da Sentença

Os efeitos da sentença variam conforme sua natureza.

1.6.1. Sentença absolutória (art. 386, par. ún., do CPP)

Será o réu posto em liberdade, se for o caso.

As penas acessórias provisoriamente aplicadas serão cessadas.

Se cabível, será aplicada medida de segurança.

1.6.2. Sentença condenatória (art. 393 do CPP)

Ser o réu preso ou conservado na prisão nas infrações inafiançáveis, ou nas

afiançáveis enquanto não prestar fiança.112

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Ser o nome do réu lançado no rol dos culpados.

São também efeitos da sentença condenatória os previstos nos arts. 91 e 92 do

Código Penal.

MÓDULO XVIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO

Processo é o conjunto dos atos processuais interligados pelo vínculo da relação

jurídica processual.

Procedimento é a uma seqüência de atos processuais, com ordem lógica, dirigida à

prolação da sentença.

O Código de Processo Penal divide o processo em:

Comum: constituído de regras gerais aplicáveis sempre que não houver

disposição em contrário, abarca os procedimentos ordinário e sumário.

Especial: afasta-se do procedimento comum, engloba o procedimento nos crimes

funcionais, falimentares, contra a honra, contra a propriedade imaterial, o

procedimento do Júri, procedimentos previstos nas leis de abuso de autoridade

(Lei n. 4.898/65), Lei de Economia Popular (Lei n. 1.521/51), Lei de Tóxicos

(Lei n. 6.368/76) e Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67).

Obs.: para parte da doutrina, que diverge da classificação do Código de Processo

Penal, o procedimento do Júri é comum e o procedimento sumário é especial.

1.1. Procedimento Ordinário

O procedimento ordinário é cabível para todos os crimes punidos com reclusão,

ressalvadas as hipóteses de procedimento especial.

Visão geral:

recebimento da denúncia ou queixa;

citação do réu;

interrogatório do réu;113

Page 115: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

defesa prévia (prazo de 3 dias);

audiência de oitiva das testemunhas de acusação;

audiência de oitiva das testemunhas de defesa;

diligências (art. 499 do CPP – prazo de 24 horas);

alegações finais (art. 500 do CPP – prazo de 3 dias);

sentença (prazo impróprio de 10 dias).

1.1.1. Recebimento da denúncia ou queixa

No recebimento da denúncia ou queixa, o juiz deve verificar se estão presentes os

seguintes requisitos (art. 41 do CPP):

exposição do fato criminoso;

qualificação do acusado;

classificação do crime;

rol de testemunhas.

O momento para a acusação arrolar as testemunhas é a denúncia.O número

máximo de testemunhas é oito. As que excederem esse número poderão ser ouvidas como

testemunhas do Juízo, a critério do juiz.

O juiz não fundamenta o recebimento da denúncia ou da queixa, pois não há carga

decisória nesse ato. Além disso, se fundamentasse, correria o risco de antecipar o

julgamento.

Em algumas hipóteses, entretanto, é necessária a fundamentação. Conforme a

Súmula n. 564 do Supremo Tribunal Federal, o despacho que recebe a denúncia nos crimes

falimentares e nos crimes de competência originária dos tribunais exige fundamentação.

Nesses procedimentos se estabelece um contraditório prévio ao recebimento da exordial,

permitindo a lei que a ação penal seja julgada improcedente no despacho liminar (na fase

do recebimento).

O recebimento da denúncia ou queixa não enseja a interposição de qualquer recurso.

Ao contrário, se o juiz rejeitar essas peças, cabe a interposição de recurso em sentido

estrito, conforme o art. 581, inc. I, do Código de Processo Penal. No caso de não existir 114

Page 116: Direito Processual Penal.doc

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justa causa para a ação penal, é cabível o habeas corpus.

A Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67), no entanto, prevê que do recebimento da

denúncia ou da queixa cabe o recurso em sentido estrito. Do despacho que rejeita a

denúncia cabe apelação no prazo de 5 dias. A Lei n. 9.099/95 prevê que do despacho que

rejeita a denúncia cabe apelação no prazo de 10 dias.

A denúncia será rejeitada parcialmente se ao réu for imputado mais de um crime e o

juiz receber a denúncia apenas com relação a um deles.

1.1.2. Citação

A citação do militar e do preso é feita por requisição. O funcionário público é citado

por mandado com expedição de ofício, sendo notificado o chefe da repartição. O réu que

não for encontrado para ser citado pessoalmente será citado por edital, suspendendo o

processo e o curso da prescrição (art. 366 do CPP).

Obs.: sobre o tema citação rever o Módulo XVI.

1.1.3. Interrogatório

A principal característica do interrogatório é a judicialidade, ou seja, o ato é

privativo do juiz. Admite-se a realização do interrogatório por carta precatória, conforme

provimento do Conselho Superior da Magistratura de São Paulo. Tratando-se de réu preso,

o interrogatório deve realizar-se em 8 dias. Se o réu não comparecer ao ato, será

considerado revel. O juiz nomeará defensor dativo tanto ao réu que não comparecer ao ato

como ao réu que comparecer mas não indicar advogado.

O efeito da revelia é a não-intimação do réu para os demais atos do processo.

Não há contraditório nesse ato. Terminado o interrogatório, abre-se o tríduo para

defesa prévia.

1.1.4. Defesa prévia

Na defesa prévia não há o ônus da impugnação específica como no Processo Civil.

O prazo é de 3 dias. Nesse ato deverão ser arroladas as testemunhas de defesa, no máximo

oito para cada fato criminoso e para cada réu, e ser requeridas as diligências necessárias. O 115

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defensor público goza da prerrogativa do prazo em dobro. Em razão do princípio da ampla

defesa, se a defesa prévia não for apresentada no prazo, a jurisprudência, por

complacência, aceita a apresentação posterior.

Início do prazo da defesa prévia:

réu sem advogado: a partir da notificação da nomeação de um advogado dativo;

réu que se apresenta com advogado: a partir do interrogatório, se o advogado dele

participou;

réu com advogado que não participou do interrogatório: a partir da intimação do

defensor para a apresentação da defesa prévia (intimação pela imprensa).

A defesa prévia tem por finalidade:

arrolar testemunhas de defesa;

requerer diligências;

formular pedidos;

juntar documentos (de acordo com o art. 400 do CPP, é possível juntar

documentos em qualquer fase do processo).

A defesa prévia é o último momento para:

argüir exceção de suspeição;

argüir exceção de incompetência relativa.

A defesa prévia é peça de apresentação facultativa. Mas, se não for apresentada por

falta de oportunidade, há nulidade absoluta.

1.1.5. Audiência de oitiva de testemunhas

A ordem de oitiva das testemunhas é a seguinte:

testemunhas de acusação;

testemunhas de defesa.

A inversão dessa seqüência gera nulidade se ficar demonstrado o prejuízo para a

parte – a nulidade é relativa, pois depende da demonstração do prejuízo.

As testemunhas que se encontram fora da comarca serão inquiridas por carta

precatória. A precatória não suspende o processo e é estabelecido prazo para o seu

cumprimento.116

Page 118: Direito Processual Penal.doc

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A Súmula n. 155 do Supremo Tribunal Federal determina que causa nulidade

relativa a não intimação das partes acerca da expedição da carta precatória: basta que o juiz

comunique às partes a expedição da carta; não será preciso comunicar a data marcada para

a oitiva da testemunha; à parte incumbe acompanhar seu trâmite.

Se a testemunha, em seu depoimento, refere-se a uma terceira pessoa, essa pode ser

ouvida como testemunha do Juízo (testemunha referida).

Em uma mesma audiência podem ser ouvidas todas as testemunhas presentes, desde

que respeitada a ordem de oitiva: primeiro acusação, depois defesa.

As testemunhas não encontradas podem ser substituídas no prazo de 3 dias.

1.1.6. Diligências

O art. 499 do Código de Processo Penal impõe o prazo de 24 horas para que a

acusação e depois a defesa requeiram as diligências. As partes podem nessa fase reiterar o

pedido de diligência não-realizada ou não-concedida.

O assistente do Ministério Público pode manifestar-se, nessa fase, após a

manifestação do promotor.

O Código de Processo Penal determina que o prazo do art. 499 corre para a defesa

em cartório, independente de intimação. A jurisprudência, todavia, não aplica essa regra

por considerar que viola o princípio do contraditório, da ampla defesa e da isonomia entre

as partes.

1.1.7. Alegações finais

O prazo para a apresentação das alegações finais é de 3 dias – art. 500 do Código de

Processo Penal. Cabe aqui um alerta: não confundir com as alegações do Júri, cujo prazo é

de 5 dias (art. 406 do CPP).

A ordem para a apresentação das alegações finais é: primeiro a acusação, depois a

defesa.

A apresentação das alegações finais é obrigatória para o Ministério Público, em

razão do princípio da indisponibilidade da ação penal pública. Mas o promotor não é

obrigado a pedir a condenação do réu, porque tem independência funcional e age conforme

sua convicção. Se o promotor não apresenta as alegações finais, o juiz utiliza o art. 28 do 117

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Código de Processo Penal por analogia – remete os autos ao procurador-geral para que

apresente ou designe outro promotor para apresentar a peça.

O querelante não é obrigado a apresentar alegações finais, mas a sua não-

interposição traz conseqüências, quais sejam:

se a ação penal é privada, ocorre a perempção;

se a ação penal é privada subsidiária da pública, o Ministério Público reassume

a titularidade da ação.

A apresentação das alegações finais pela defesa é obrigatória, salvo no

procedimento do Júri. Para não ocorrer nulidade processual é preciso que seja dada a

oportunidade de apresentação da peça (princípio do contraditório e da ampla defesa). O

juiz deve intimar, ainda que pessoalmente, o defensor e o réu para se manifestarem sobre a

ausência das alegações. Se a defesa é omissa, o juiz nomeia defensor dativo para suprir sua

falta.

Nas alegações finais devem ser argüidas as nulidades relativas; é o último momento

para essa argüição, sob pena de sanar o vício, conforme o art. 571 do Código de Processo

Penal. (Obs.: esse artigo é de alta incidência nos concurso do Ministério Público).

A inversão da ordem de apresentação das alegações finais gera a nulidade absoluta,

por violar o princípio do contraditório.

1.1.8. Sentença

Sentença é o ato processual pelo qual o juiz põe fim ao processo, decidindo ou não o

mérito da causa.

(Obs.: para maior aprofundamento rever o Módulo XVII).

O prazo para a sentença é de 10 dias, mas é prazo impróprio. O juiz pode, antes da

sentença, determinar diligências adicionais.

1.1.9. Prazos

Como regra, o prazo do procedimento ordinário é de 81 dias, compreendendo o

período que vai do inquérito policial até o encerramento da prova de acusação. No caso do

réu preso, os prazos não podem ser excedidos sob pena de constrangimento ilegal, 118

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possibilitando a impetração do habeas corpus. Não se considera excesso de prazo se

houver justo motivo como, por exemplo, pluralidade de réus, exame de insanidade mental,

retardamento causado pela própria defesa (Súmula n. 64 do STJ).

2. PROCEDIMENTO SUMÁRIO

O procedimento sumário previsto nos arts. 531 e ss. do Código de Processo Penal

aplica-se a todos os crimes apenados com detenção, excluindo-se aqueles que possuem

procedimento especial e as infrações penais de menor potencial ofensivo.

O procedimento sumário é idêntico ao procedimento ordinário até a audiência de

oitiva das testemunhas de acusação (recebimento da denúncia ou queixa, citação,

interrogatório, defesa prévia, audiência de oitiva das testemunhas de acusação).

Após essa audiência, o juiz profere um despacho saneador, em que verifica se há

nulidade a ser sanada e diligência importante a ser realizada, designando em seguida data

para audiência de instrução, debates e julgamento. Esse despacho não tem caráter de

decisão interlocutória.

Na audiência de instrução são ouvidas as testemunhas de defesa, ocorrem os debates

orais (cada parte tem 20 minutos, prorrogáveis por mais 10) e o julgamento.

Os debates podem ser substituídos por memoriais, sendo a sentença prolatada em 5

dias (prazo impróprio); havendo debates orais, a sentença será proferida em audiência.

O número de testemunhas para o procedimento sumário é de no máximo cinco.

3. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (Lei n. 9.099/95)

Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais foram instituídos pela Lei n. 9.099/95.

Contrariando os princípios da indisponibilidade e da obrigatoriedade que norteiam a ação

penal pública, essa lei introduziu no sistema penal o princípio da oportunidade ou da

conveniência para o início ou prosseguimento da ação penal, com propostas de suspensão

do processo, composição dos danos e penas alternativas.

O processo perante o Juizado Especial orienta-se também pelos critérios da

oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, visando sempre à reparação

dos danos sofridos e à aplicação de pena não-privativa de liberdade.

Uma importante alteração trazida pela lei foi a de que as ações penais, nos crimes de 119

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lesão corporal leve e culposa, passam a depender de representação no prazo decadencial de

6 meses.

A Lei n. 9.099/95 traz normas mistas ou híbridas, ou seja, que possuem ao mesmo

tempo natureza processual e material. Nesses casos deve prevalecer o cunho penal da

norma, retroagindo quando for mais favorável ao acusado. São normas mistas :

renúncia tácita ao direito de queixa ou representação, na hipótese de composição

dos danos civis (quando a ação penal for pública condicionada à representação,

ou privada);

proposta de pena restritiva de direitos ou multa, feita pelo Ministério Público

(transação penal);

proposta de suspensão condicional do processo, quando do oferecimento da

denúncia;

representação nos crimes de lesão corporal leve e culposa.

O art. 90 da Lei dos Juizados Especiais traz a seguinte redação: “As disposições

desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada.”

Ocorre, porém, que na lei encontram-se algumas disposições penais benéficas, e o

art. 5.º, inc. XL, da Constituição Federal prevê: “A lei penal não retroagirá, salvo para

beneficiar o réu”. Verifica-se que o art. 90 da Lei n. 9.099/95 viola o referido preceito

constitucional.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil intentou Ação Direta de

Inconstitucionalidade (n. 1719) e o Supremo Tribunal Federal, interpretando o art. 90 da

Lei dos Juizados conforme a Constituição, definiu o alcance da expressão disposições

contida na norma. As disposições da lei que não se aplicam aos processos penais com

instrução iniciada são as normas materiais que agravam a situação do réu e as normas

processuais. Os dispositivos benéficos contidos no sistema dos Juizados Especiais devem

ser aplicados aos processos cuja instrução já estiver iniciada – por força do art. 5.º, inc. XL,

da Constituição Federal.

Ao Juizado Especial Criminal compete processar e julgar as contravenções e os

crimes cujas penas máximas não excedam 1 ano – são os denominados crimes de menor

potencial ofensivo –, exceto aqueles que tenham procedimento especial (artigo 61 da Lei n. 120

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9.099/95).

A Lei n. 10.259, de 12.7.2001, criou os Juizados Especiais Criminais na Justiça

Federal, competente para julgar feitos de competência da Justiça Federal relativos às

infrações de menor potencial ofensivo (artigo 2.º, “caput”). Essa lei ao conceituar infrações

de menor potencial ofensivo o faz no parágrafo único do artigo 2.º: “Consideram-se

infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei, os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.”

Observe-se que a Lei n. 9.099/95 fixa a pena máxima cominada aos crimes em

quantidade não superior a um ano e a Lei n. 10.259/01 determina que a pena máxima não

pode ser superior a dois anos.

As duas leis conceituam “infração de menor potencial ofensivo”. Diante dessa

afirmação, surge a questão: a Lei n. 10.259/01 derrogou a Lei n. 9.099/95? Entendemos

que sim. Essa é a posição do Professor Damásio de Jesus. Se esse entendimento não for

adotado, poderão ocorrer na prática, em prejuízo de princípios constitucionais, alguns

absurdos. Citamos como exemplo o crime de paralisação do trabalho (artigo 201 do

Código Penal) o qual é de competência Federal quando o fato atinge a organização do

trabalho como um todo (art. 109, inc. VI, da CF). Quando individual, a competência é da

Justiça Comum. Não se acatando a nossa posição, o crime mais grave, que atinge a

coletividade, seria considerado de menor potencial ofensivo, enquanto o crime menos

lesivo, por atingir somente um indivíduo, teria qualificação de maior potencial ofensivo.

A Lei n. 9.099/95 ao conceituar crime de menor potencial ofensivo, excepciona os

casos em que a lei prevê procedimento especial. A Lei n. 10.259/01 silencia a respeito

dessa exceção. Assim, a lei nova, além de ampliar o rol dos delitos de menor potencial

ofensivo por meio da elevação da pena máxima abstrata cominada ao crime, estende mais

ainda o conceito de infrações de menor potencial ofensivo, pois não traz a exceção da lei

anterior. Entendimento diverso acarretaria situações de desigualdade jurídica, como por

exemplo o crime de abuso de autoridade, previsto na Lei n. 4.898/65, o qual tem rito

processual especial: o crime seria de menor potencial ofensivo se o autor fosse autoridade

federal, e de maior potencial ofensivo se tratando de autoridade estadual.

Em suma, entendemos que o parágrafo único do artigo 2.º da Lei n. 10.259/01

derrogou o artigo 61 da Lei n. 9.099/95, devendo ser considerados delitos de menor 121

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potencial ofensivo aqueles aos quais a lei comine, no máximo, pena detentiva não superior

a dois anos, ou multa, ainda que tenham procedimento especial.

Cumpre ressaltar que o Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo

recomendou aos integrantes do Ministério Público, por meio do Aviso n.º 74/02, de

6.2.2002, a não incidência da Lei dos Juizados Federais Criminais no âmbito estadual.

Utilizando-se a teoria da atividade, é competente o Juizado do local da execução do

ato criminoso (art. 63 da Lei n. 9.099/95). Para alguns doutrinadores, o foro competente é o

do local da consumação. A divergência não tem relevância tendo em vista tratar-se de

competência territorial, que, por ser relativa, não acarreta nulidade.

Afasta-se a competência do Juizado Especial quando não obtida a citação pessoal do

réu (porque a Lei n. 9.099/95 não prevê a citação por edital) e quando a complexidade ou

as circunstâncias do caso indicarem a necessidade de deslocamento da causa à Justiça

Comum.

Não há inquérito policial nesse procedimento: a autoridade policial lavra apenas um

termo circunstanciado e encaminha ao Juizado o autor do fato e a vítima. Se o autor do

fato for imediatamente encaminhado ao Juizado, ou prestar o compromisso de a ele

comparecer, não será imposta prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (art. 69, parágrafo

único, da Lei n. 9.099/95). A Lei n.º 10.455, de 13 de maio de 2002, alterou a redação do

parágrafo único, conferindo ao juiz a possibilidade de determinar, como medida de cautela,

o afastamento do autor do fato de seu lar, domicílio ou local de convivência com a vítima,

em casos de violência doméstica.

3.1. Procedimento

3.1.1.Audiência preliminar

Se o autor da infração e a vítima foram encaminhados de imediato, junto com o

termo circunstanciado, ao Juizado:

- realiza-se a audiência preliminar;

- se, por qualquer razão, não for possível a realização da audiência, designa-

se uma determinada data, da qual saem cientes as partes.

Se o autor do delito não for encaminhado, junto com o termo circunstanciado, à

Secretaria do Juizado (cartório), ao recebê-lo, o juiz designará data para 122

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audiência preliminar e mandará intimar as partes.

O art. 68 da Lei dispõe que na intimação do autor do delito deve constar a

necessidade de comparecimento com advogado, com a advertência de, na falta desse, ser

nomeado dativo.

No dia designado, devem estar presentes (art. 72):

- o representante do Ministério Público;

- o autor do fato e a vítima – se menores, acompanhados de seus responsáveis;

- o juiz;

- os advogados das partes.

As fases na audiência preliminar dependem da ação penal prevista para o delito

cometido.

a) Se o crime for de ação privada (dano simples)

a.1.Tentativa de composição civil dos danos

Se vítima e autor do delito chegarem a um acordo, esse é submetido à

homologação do juiz – que pode não homologar se o entender desfavorável à

vítima.

Homologado o acordo, automaticamente ocorrerá renúncia ao direito de queixa e

extinção da punibilidade – art. 74, parágrafo único.

Se o autor da infração não honrar sua parte no acordo, o procedimento criminal não

pode ser reaberto (porque houve extinção da punibilidade), restando à vítima execução

civil do acordo homologado (que é título executivo judicial - art. 584, inc. III, do CPC).

Se infrutífera a composição civil, a advogado da vítima oferecerá queixa

imediatamente de forma oral ou, se preferir, poderá apresentá-la por escrito em

momento posterior – desde que dentro de prazo decadencial.123

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Pelo texto legal, não cabe transação na ação penal privada; entretanto, a

jurisprudência vem admitindo essa possibilidade.

O art. 104, par. ún., do Código Penal, dispõe que a reparação civil do dano não obsta

a ação penal, mas no Juizado é diferente: havendo acordo, a conseqüência automática é a

renúncia ao direito de queixa.

b) Se o crime for de ação pública condicionada à representação

b.1. Tentativa de composição civil

Se frutífera, implica renúncia ao direito de representação e extingue a

punibilidade.

É hipótese de renúncia (instituto exclusivo da ação privada) aplicável na ação penal

pública.

Se infrutífera, a vítima pode oferecer representação oral, reduzida a termo, ou

posteriormente, dentro do prazo decadencial.

Oferecida a representação na audiência, o Ministério Público deve analisar as

provas existentes no termo circunstanciado:

- se não há indícios suficientes, o promotor deve requerer o arquivamento do

feito;

- se o promotor entender que há necessidade de novas diligências para

complementação da prova (art. 77, § 2.º), requererá o envio dos autos à

Justiça Comum para requisição de inquérito policial;

- se o promotor verificar que existem provas para o oferecimento da

denúncia, antes de fazê-lo analisará se é possível a transação penal.

Presentes os requisitos da transação, o Ministério Público deve fazer a proposta

de aplicação de pena de multa ou restritiva de direitos (especificando seu valor

ou a espécie de restritiva).

- se o autor da infração aceitar a proposta, será submetida à homologação do

juiz.124

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P.: Pode o juiz alterar o acordo feito entre as partes?

R.: Como regra, não; porém existe exceção: quando em abstrato for prevista apenas

multa para aquela infração penal, o juiz pode reduzir o valor pela metade (art. 76, § 1.º).

Homologado o acordo, será aplicada a pena avençada. Se o juiz não homologar a

transação, por entender ser caso de denúncia, a lei é omissa, e aplica-se por analogia o art.

28 do Código de Processo Penal.

Se o autor da infração não aceita a proposta do Ministério Público, é oferecida

denúncia oral, reduzida a termo – não pode ser apresentada por escrito porque a

lei não a prevê como queixa.

P.: Em que hipóteses é oferecida a denúncia?

R.: Quando não estão presentes os requisitos para transação; quando o autor do

delito recusa a proposta de transação; quando o autor da infração, intimado para audiência

preliminar, não comparece nem justifica sua ausência.

O fato de o autor da infração ter aceitado a transação não implica reconhecimento de

culpa; portanto, se a vítima quiser ser indenizada, precisará ingressar com ação de

conhecimento na esfera civil.

A transação não retira a primariedade do autor do delito e não constará de certidões

para serem utilizadas extrajudicialmente.

Requisitos para transação (art. 76, § 2.º ):

- que o autor da infração não tenha sido condenado pela prática de crime à pena

privativa de liberdade (portanto, em caso de contravenção, qualquer que seja a

pena, cabe transação se preenchidos também os demais requisitos);

- que o acusado não tenha sido beneficiado por outra transação penal, no prazo de

5 anos;

- requisitos subjetivos: personalidade do agente, conduta social etc., suficientes à

adoção da medida.

125

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c) Se o crime for de ação pública incondicionada

Tentativa de composição civil, mesmo sendo ação pública incondicionada,

porque vale como título judicial evitando a discussão no cível.

Havendo homologação ou não, passa-se para fase de transação, porque, por ser

ação pública incondicionada, mesmo ocorrendo acordo, a punibilidade não se extingue.

3.1.2.Disposições comuns

Se o agente estava presente na audiência, recebe uma cópia da denúncia ou queixa e

com isso estará citado, com ciência de que deve comparecer à próxima audiência com

advogado, sob pena de ser-lhe nomeado dativo.

P.: É possível a citação do acusado antes do recebimento da denúncia ou queixa?

R.: Sim, no Juizado Especial.

Se o acusado não estava presente na audiência preliminar, será citado por mandado,

na forma da legislação comum.

Se não for encontrado para citação pessoal, os autos serão remetidos para a Justiça

Comum para citação por edital, que não é prevista pela Lei dos Juizados.

3.1.3.Audiência de instrução, debates e julgamento

Se o autor da infração não compareceu à audiência preliminar e comparece nessa,

devem ser observadas as regras da audiência preliminar (composição cível, transação), com

todas as suas conseqüências.

Fora dessa hipótese:

- é dada a palavra ao advogado do réu para, oralmente, sustentar a rejeição da

denúncia ou queixa;

- o juiz recebe ou rejeita a denúncia ou queixa;

- oitiva da vítima;

- oitiva das testemunhas da acusação, arroladas na denúncia;

- oitiva das testemunhas da defesa, que o réu levará à audiência independente de

intimação ou das quais apresentará rol em cartório, com 5 dias de antecedência,

para serem intimadas; o número máximo de testemunhas é três, conforme

dispõe a parte civil da lei; porém, alguns doutrinadores entendem ser cinco, de 126

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acordo com o procedimento sumário; outros, oito, utilizando analogia com o

procedimento comum ordinário;

- interrogatório do réu;

- debates orais, por 20 minutos, prorrogáveis por mais 10;

- sentença.

3.1.4.Recursos

Os recursos são julgados por Turmas Recursais compostas por juízes de primeiro

grau, na forma estabelecida na legislação estadual.

A lei trata apenas da apelação e dos embargos de declaração. Porém, não é por esse

motivo que só cabem esses dois recursos: os demais também são aplicados (recurso em

sentido estrito, recurso especial, mandado de segurança, habeas corpus etc.). A lei apenas

citou os dois para trazer regras específicas para eles.

Não cabe recurso especial porque esse é cabível de decisão de tribunal (art. 105, inc.

III, da CF), e o recurso no Juizado é julgado por Turma Recursal (art. 82 da Lei dos

Juizados Especiais). Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça

consubstanciado na súmula 203.

Da decisão que rejeita a denúncia ou queixa e da sentença de mérito cabe apelação.

O prazo é de 10 dias, e as razões acompanham a interposição.

Os embargos de declaração possuem prazo de 5 dias, e a interposição suspende o

prazo para interposição de outros recursos.

3.2. Observações Finais

Aplicada pena de multa na sentença, se o condenado não pagar, cabe execução,

persistindo a polêmica da competência para execução da multa.

P.: Aplicada pena de multa na transação penal, se o autor da infração não pagar, o

que deve ser feito?

R.: A questão é divergente:

- executa-se a multa;

- com o descumprimento do acordo por parte do acusado, o Ministério Público

também pode descumpri-lo, oferecendo a denúncia para prosseguimento do 127

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processo, porque a homologação da transação fez apenas coisa julgada formal.

Há julgado nos dois sentidos.

P.: E, se na transação for aplicada pena restritiva de direitos, como executá-la?

R.: Nesse caso, a única solução é o oferecimento da denúncia.

P.: A lesão leve passou a ser delito de ação penal pública condicionada. Como ficam

as vias de fato – contravenção cuja ação penal é pública incondicionada?

R.: As vias de fato constituem infração menos grave do que a lesão leve; logo, a

ação passou a ser também pública condicionada à representação. Fundamento, analogia in

bonam partem.

P.: Se o promotor denunciar, classificando o fato como tentativa de homicídio, e o

Júri desclassificar para lesão corporal leve, como proceder?

R.: Transitando em julgado a desclassificação, designa-se audiência preliminar para

que sejam cumpridas as fases previstas na Lei dos Juizados Especiais.

P.: E, se tiver ocorrido decadência, caberá decurso do prazo de 6 meses para

representação?

R.: Duas posições:

- a vítima perde o direito de representar;

- a vítima não pode ser prejudicada; cabe a representação, e o prazo de 6 meses

tem início com a intimação da vítima da desclassificação do delito.

MÓDULO XIX

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Procedimentos Especiais

1. PROCEDIMENTO DOS CRIMES FUNCIONAIS

O procedimento dos crimes funcionais é aplicado a todos os crimes em que a

condição de funcionário público funcione como elementar ou circunstância do tipo penal.

Ex.: o Título XI, Capítulo I, do Código Penal aborda os crimes praticados por funcionário

público contra a Administração Pública, e o Capítulo IV trata dos crimes praticados contra

as finanças públicas.

O procedimento dos crimes funcionais segue o rito ordinário após o recebimento da 128

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denúncia ou queixa subsidiária; a peculiaridade que o torna especial é a possibilidade de o

funcionário apresentar defesa preliminar antes do recebimento da peça inicial.

Para tanto, o acusado é notificado com prazo de 15 dias para se defender (art. 514

do CPP). Se não for encontrado, ser-lhe-á nomeado defensor dativo para exibir a resposta

preliminar.

O próprio acusado pode apresentar a defesa preliminar, mesmo não sendo advogado.

Descumprida essa formalidade prévia, a nulidade é relativa (anulam-se os atos

seguintes mediante comprovação de prejuízo). Essa é a orientação do Supremo Tribunal

Federal. Nada obstante, consigna-se a posição minoritária do Professor Tourinho a favor da

existência de nulidade absoluta pela violação do contraditório e da ampla defesa.

O objetivo da defesa preliminar é evitar que ocupantes de cargos públicos sejam

alvo de acusação infundada, tendo aplicação apenas aos crimes funcionais afiançáveis (são

inafiançáveis o excesso de exação e a facilitação do contrabando e descaminho – arts. 316,

§ 1.º, e 318, do CP).

P.: Há algum meio para garantir a apresentação da defesa preliminar?

R.: Sim, pela correição parcial, caso o juiz não conceda a oportunidade para a sua

apresentação.

P.: Se o funcionário público, aposentado ou exonerado, for processado por um fato

que praticou enquanto exercia a função de funcionário público, terá direito a defesa

preliminar?

R.: O entendimento atual é no sentido de não ter direito à defesa preliminar, em

razão da revogação da Súmula n. 394 do Supremo Tribunal Federal. A súmula não se

refere a esse procedimento, mas o fundamento de sua revogação é o mesmo dessa questão.

A súmula determinava que: “Cometido o crime durante o exercício funcional,

prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito policial

ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício”.

Com o cancelamento dessa súmula, os fatos ocorridos durante a existência do foro

especial são processados após o término dessa prerrogativa na primeira instância e não no

foro especial, pois este existe em razão da função que a pessoa desempenha (do cargo), não 129

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se tratando de um privilégio individual.

Ex.: se um funcionário público pratica um crime durante o exercício de sua função,

mas só vem a ser processado quando já estava aposentado ou exonerado, não será adotado

o procedimento que permite a defesa preliminar, mas sim o procedimento comum.

Verificado o concurso de agentes no crime, os co-autores e partícipes, que não

sejam funcionários públicos, não serão notificados para a apresentação da defesa

preliminar – pois não possuem essa faculdade.

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, o recebimento da denúncia

ou da queixa deve ser fundamentado. Isso porque os crimes funcionais têm o contraditório

antecipado na defesa preliminar. Trata-se de exceção, pois, em regra, no despacho que

recebe ou rejeita a denúncia ou a queixa não há fundamentação.

Recebida a denúncia ou a queixa, o acusado é citado – seguindo-se o procedimento

ordinário.

2. CRIMES CONTRA HONRA (ARTS. 519 A 523 DO CPP)

Trata-se de procedimento subsidiário previsto para os crimes contra honra, cuja ação

penal é privada. O art. 519 do Código de Processo Penal ratifica ao descrever que o rito

será observado no processo “para o qual não haja outra forma estabelecida em lei

especial”. Ex.: crimes cometidos pela imprensa, Lei n. 5.250/67; pessoas que gozam de

foro especial pela prerrogativa de função, se a competência for do Superior Tribunal de

Justiça ou do Supremo Tribunal Federal, Lei n. 8.038/90.

Apesar do Título II, Capítulo III, do Código de Processo Penal, referir-se somente à

calunia e à injúria, esse procedimento também é aplicável à difamação pela utilização da

analogia (art. 3.º do CPP).

O emprego da analogia pressupõe a omissão involuntária do legislador, porque se a

omissão foi proposital, não cabe o uso do instituto. A lacuna do art. 519 do Código de

Processo Penal não foi espontânea; o Código Penal em vigor na época em que o Código de

Processo Penal foi criado era o de 1890, e previa os crimes contra honra em dois artigos,

encontrando-se a difamação descrita no parágrafo do tipo da calúnia (como sua espécie e

não como crime autônomo).

Em regra, os crimes contra a honra são de ação penal privada, iniciando-se 130

Page 132: Direito Processual Penal.doc

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mediante queixa-crime. Exceções:

a ação penal será pública incondicionada se da injúria real resultar lesão

corporal.

será pública condicionada à representação nos crimes contra a honra de

funcionário público, em razão de sua função.

será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça nos crimes contra

a honra do Presidente da República ou de Chefe de Governo estrangeiro.

2.1. Peculiaridades do Procedimento dos Crimes Contra a Honra

a) Audiência de reconciliação (ou conciliação): o objetivo dessa audiência é que

autor e réu se reconciliem (art. 520 do CPP).

Deve ocorrer após o oferecimento da denúncia e antes do seu recebimento.

O juiz ouvirá cada uma das partes isoladamente; percebendo a possibilidade de

conciliação, chamará as partes e seus advogados e tentará o acordo na audiência, que, se

frutífero, será homologado. O querelante assinará termo de desistência da ação com a

conseqüente extinção da punibilidade.

Não havendo acordo, será frustrada a conciliação e o juiz chamará à conclusão os

autos para receber ou não a queixa.

Recebida a queixa, apesar de o crime ser o de detenção, adota-se o procedimento

ordinário.

P.: Qual a causa extintiva da punibilidade para a hipótese de conciliação?

R: Não é a renúncia, porque essa ocorre quando o querelante não exerce seu direito

de oferecer a queixa, e no caso em estudo já houve o oferecimento da exordial. Também

não é a perempção, pois a ação penal ainda não se iniciou. Portanto, a causa extintiva da

punibilidade é a desistência – que não está prevista no rol do art. 107 do Código Penal, mas

esse é exemplificativo e não taxativo (art. 522 do CPP).

Para grande parte da doutrina, a falta da audiência de reconciliação gera nulidade

absoluta.

O não-comparecimento do querelado à audiência preliminar indica desinteresse na 131

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conciliação. Não acarreta sanção; o juiz passa a analisar se é caso de receber ou rejeitar a

queixa.

O não-comparecimento do querelante, posição minoritária, gera a perempção, pois

deixa de comparecer a um ato fundamental (art. 60 do CPP). Esse entendimento é falho,

pois ainda não houve o recebimento da queixa, e, assim, não há que se falar em perempção.

Posição majoritária na doutrina, na jurisprudência e no Superior Tribunal de Justiça, indica

desinteresse na conciliação.

b) Exceção da verdade (art. 523 do CPP): é a possibilidade do querelado provar que

o alegado é verdadeiro. Admite-se nos crimes de calúnia, salvo o expresso no art. 138, §

3.º, do Código Penal:

se, constituindo o fato crime de ação penal privada, o ofendido não foi

condenado por sentença irrecorrível;

se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no inc. I do art. 141 do

Código Penal (Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro);

se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por

sentença irrecorrível.

Também é cabível nos crimes de difamação, quando a vítima for funcionário

público, por fato relativo a suas funções (art. 139, par. ún., do CP).

O momento da apresentação da exceção da verdade é o mesmo da defesa prévia (art.

395 do CPP – logo após o interrogatório ou no prazo de três dias).

O querelante tem dois dias para contestar, podendo arrolar testemunhas, desde que

com esse novo rol não se ultrapasse o número legal. Ex.: na queixa foram arroladas quatro

testemunhas; poderá o querelante na contestação da exceção da verdade oferecer mais

quatro testemunhas.

Todas as testemunhas, inclusive as da exceção da verdade, serão ouvidas durante a

audiência de instrução.

O juiz, antes de analisar o mérito, na própria sentença decide a exceção da verdade.

Obs.: parte da doutrina sustenta que o prazo da exceção da verdade não é fatal em

nome da ampla defesa. Ainda que apresentada após o lapso previsto no art. 395 do Código 132

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de Processo Penal, poderá ser aceita e julgada na sentença.

Atenção: conforme determina o art. 85 do Código de Processo Penal, se o querelante

for pessoa que goze de foro especial, a exceção da verdade será julgada pelo tribunal

competente para processar originariamente o querelante. Ex.: querelante é deputado

federal; torna-se vítima de calúnia e oferece queixa na primeira instância. O querelado

apresentará a exceção da verdade que será julgada no Supremo Tribunal Federal. Obs.: a

exceção da verdade é processada e instruída na primeira instância e remetida para o

tribunal competente apenas para o julgamento.

c) Pedido de explicações em Juízo (art. 144 do CP): é uma medida preliminar,

utilizada quando a ofensa é equívoca, dúbia. Ex.: alguém se referindo a uma moça diz que

ela é muito cara. Essa frase possibilita duplo entendimento: ou a moça é muito especial,

com valiosas qualidades, ou é uma meretriz que cobra caro por seus trabalhos.

A situação que conduz ao duplo entendimento, permite o pedido de explicações em

Juízo, que não é obrigatório. Visa esclarecer as dúvidas para que a queixa fique bem

fundamentada.

Ajuizado o pedido de explicações, o autor da frase é notificado para prestar

esclarecimentos. Com ou sem as respostas, os autos do pedido são entregues ao requerente.

O juiz é um intermediário, não analisa o mérito. Configura um elemento a mais para

o exame da justa causa para o recebimento da queixa.

O prazo de seis meses para oferecer a queixa é peremptório e decadencial; não se

suspende nem se interrompe com o ajuizamento do pedido de explicações.

O pedido de explicações torna prevento o Juízo.

O querelado somente será condenado na ação penal privada, nunca no pedido de

explicações em Juízo.

3. PROCEDIMENTO NOS CRIMES FALIMENTARES

Os crimes falimentares classificam-se em:

antefalimentares: a conduta se realiza anteriormente à sentença declaratória de

falência;

pós-falimentares: a conduta se verifica após a sentença declaratória de falência. 133

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O crime falimentar prescreve em dois anos, a contar do encerramento da falência

(art. 199 da Lei n. 7.661/45). A Súmula n. 147 do Supremo Tribunal Federal determina

que: “A prescrição do crime falimentar começa a correr da data em que deveria estar

encerrada a falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou que julgar

cumprindo a concordata”.

Mas quando deveria se encerrar a falência?

Conforme a regra do art. 132, §1.º, da Lei n. 7.661/45, a falência deve encerrar-se

em dois anos, a contar da data de sua declaração.

A prática de crime falimentar é apurada no inquérito judicial presidido pelo próprio

juiz da falência, baseado na exposição circunstanciada apresentada pelo síndico da

falência. A exposição é instruída com o laudo do perito, encarregado de examinar as

escriturações do falido. Podem requerer a instauração do inquérito judicial o síndico ou

qualquer credor interessado.

O falido terá o prazo de cinco dias para contestar as alegações do inquérito judicial.

Encerrado esse prazo, os autos serão conclusos ao juiz que, em 48 horas, deferirá a

produção de provas.

Realizadas as provas, os autos serão remetidos ao Ministério Público que, no prazo

de cinco dias, poderá oferecer a denúncia ou requerer o apensamento dos autos aos autos

da falência, arquivando o inquérito judicial. Se o juiz não concordar com o apensamento,

remeterá as peças ao Procurador-Geral, para os fins do art. 28 do Código de Processo

Penal.

Quaisquer dos credores ou mesmo o síndico poderá oferecer a queixa subsidiária,

caso o Ministério Público não ofereça nem requeira sem apensamento dentro do prazo. Se

o Ministério Público oferecer a denúncia, o seu recebimento deve ser fundamentado sob

pena de nulidade (Súmula n. 564 do STF).

Os autos, então, serão remetidos ao Juízo criminal, onde a ação penal prosseguirá

pelo rito ordinário, independentemente de ser o crime de reclusão ou de detenção. No

Estado de São Paulo, por força da Lei Estadual n. 3.947/83, o Juízo da falência tem

competência universal, inclusive para o julgamento dos crimes falimentares. O

recebimento da denúncia impede a concessão da concordata suspensiva.134

Page 136: Direito Processual Penal.doc

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Diverge a doutrina com relação à natureza jurídica da sentença declaratória da

falência. O Professor Fernando Capez elenca os entendimentos:

“1.ª) é elementar do tipo falimentar, segundo José Frederico Marques;

2.ª) Nelson Hungria entende que é condição objetiva de punibilidade (adotada);

3.ª) Trata-se de condição de procedibilidade, embora em alguns casos possa

constituir elementar do tipo. Como exemplo, os arts. 186, inc. III, e 189, inc. II, ambos da

Lei de Falências.

4.ª) Segundo Mirabete, trata-se de ‘condição objetiva de punibilidade quanto aos

crimes antefalimentares, e pressuposto quanto aos crimes pós-falimentares, excluídos os

crimes em que é a quebra elemento do próprio fato típico’.”

4. PROCEDIMENTO DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL

Os crimes contra a propriedade imaterial são os que ferem os direitos autorais (arts.

184 e 185 do CP) e os direitos da propriedade industrial (Lei n. 9.279/96).

São, em regra, crimes de ação penal privada, pois processam-se mediante queixa;

porém, também há previsão de ação penal pública, de acordo com o art. 186 do Código

Penal.

O procedimento desses crimes varia, conforme o delito deixe ou não vestígios.

Se o crime deixar vestígios, crime não-transeunte, a denúncia ou a queixa será

recebida se instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito

(art. 525 do CPP).

O autor deve comprovar seu direito à ação (art. 526 do CPP). Para tal deve requerer,

antes da queixa ou da denúncia, a busca e apreensão e perícia, apresentando os quesitos.

A diligência será realizada por dois peritos do Juízo, que farão a vistoria e apreensão

de objetos suficientes para a prova da infração. Caso o laudo seja contrário aos interesses

do autor, este poderá impugná-lo.

Encerradas as diligências, o juiz homologa o laudo pericial sem examinar o mérito.

Homologado o laudo, o autor será intimado para, em 30 dias, oferecer a queixa-crime

instruída com a perícia, sob pena de sua ineficácia.

Com o recebimento da denúncia, passa-se para o rito ordinário.

Se o crime não deixar vestígios, crime transeunte, o rito será o ordinário, ainda que a 135

Page 137: Direito Processual Penal.doc

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pena seja a de detenção.

5. PROCEDIMENTO NOS CRIMES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS

TRIBUNAIS

Algumas pessoas, em razão do cargo que ocupam, se cometerem uma infração

penal, devem ser processadas e julgadas originariamente nos tribunais, na instância

superior. Trata-se de uma prerrogativa da função. Ex.:

Prefeito é processado e julgado no Tribunal de Justiça;

Governadores, Desembargadores, membros do Tribunal de Contas dos

Estados, entre outros, são julgados no Superior Tribunal de Justiça;

Presidente da República, Vice-Presidente, membros do Congresso

Nacional e o Procurador-Geral da República são julgados pelo Supremo

Tribunal Federal.

O rito é previsto na Lei n. 8.038/90: oferecida a denúncia ou a queixa perante o

tribunal competente, o acusado é notificado para apresentar uma resposta prévia antes do

recebimento da petição inicial.

O relator do tribunal pedirá dia para que o tribunal decida sobre o recebimento ou

não da denúncia ou da queixa, ou ainda sobre a improcedência da acusação (art. 6.º da lei).

Recebida a denúncia ou a queixa, passa-se para o interrogatório do acusado, a defesa

prévia (com prazo de cinco dias), a instrução etc., observando-se o procedimento comum.

O julgamento será na forma prevista no regimento interno de cada tribunal.

Obs.: para maior aprofundamento sobre esse tema é interessante rever o módulo

VIII, que trata da competência.

MÓDULO XX

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Do Procedimento do Júri

1. HISTÓRICO136

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O Procedimento do Júri, apesar de estar disposto no Código de Processo Penal na

parte do procedimento comum, é um rito especial.

Tem a sua origem na Magna Carta , os homens deveriam ser julgados pelos seus

pares. No Brasil, surgiu na lei de 18.6.1822, que criava o julgamento pelo Júri para os

crimes de imprensa. Depois, a Constituição Imperial de 1824 passou a prevê-lo como um

órgão do Poder Judiciário e ampliou sua competência para julgar causas cíveis e criminais.

A Constituição de 1891 manteve o Júri como instituição soberana.

O “período obscuro do Tribunal do Júri” foi o de 1937; a Constituição Federal de

1937 não se manifestou a respeito do instituto, o que tornou possível a um decreto (o Dec.

n. 167) suprimir a soberania dos veredictos do Júri. Tal decreto permitiu que os tribunais

alterassem o julgamento do Júri. Atualmente, se o Júri condena, o Tribunal não pode, ao

rever a decisão, absolver. Esse princípio suprimido foi restabelecido na Constituição de

1946 e, a partir de então, não mais deixou de ser previsto.

2. O JÚRI NA ATUAL CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Constituição Federal prevê o Júri em seu art. 5.º, inc. XXXVIII. É um dos direitos

e garantias individuais de todas as pessoas. Desse dispositivo, extrai-se os quatro princípios

fundamentais da instituição do Júri, quais sejam : plenitude de defesa; sigilo nas votações;

soberania dos veredictos; competência mínima para julgamento dos crimes dolosos contra

a vida, tentados ou consumados.

a) Plenitude de defesa

A plenitude de defesa significa mais que a ampla defesa e ocasiona os seguintes

reflexos:

O advogado tem liberdade para elaborar a defesa do réu, podendo alegar o que

melhor lhe aprouver, ainda que sem aparo jurídico. Ex.: na tréplica, o advogado

alega que o crime foi praticado há 11 anos; depois disso, o réu arrumou um

emprego, teve sete filhos, tornou-se líder comunitário etc.

Se o juiz constata que a defesa desenvolvida em plenário é inepta, pode

dissolver o conselho de sentença declarando o réu indefeso (art. 497, inc. V, do

CPP).137

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O juiz deve quesitar, além das alegações desenvolvidas pela defesa técnica,

aquelas alegadas pelo réu em sua autodefesa, mesmo que incompatíveis. Ex.: o

réu, no seu interrogatório em plenário, alega que agiu em legítima defesa. O

defensor considera que é difícil convencer os jurados da legítima defesa e então

sustenta outra tese; alega que o réu não conhece o instituto da legítima defesa,

argumenta que as qualificadoras não existiram e que há um privilégio. O juiz irá

quesitar as duas defesas alegadas: legítima defesa e privilégio. Obs.: esse

entendimento não é unânime, mas é o dominante.

b) Sigilo nas votações

Trata-se de princípio informador específico do Júri; a ele não se aplica o disposto no

art. 93, inc. IX, da Constituição Federal (princípio da publicidade).

O Código de Processo Penal prevê várias maneiras de manter o sigilo nas votações,

cabendo citar, entre outras:

Incomunicabilidade dos jurados: os jurados não podem emitir qualquer opinião

sobre o processo. Podem conversar entre eles, desde que não seja sobre o caso.

Os jurados são impedidos de se comunicar com qualquer terceiro estranho ao

processo. A comunicação dos jurados com o mundo externo ocorre somente

através do oficial de justiça.

O julgamento é feito em sala secreta: isso evita que uma das pessoas que esteja

no plenário perceba qual foi o voto dos jurados e, também, qualquer tipo de

constrangimento.

O julgamento feito pelos jurados tem por base a íntima convicção: Assim, não

há fundamentação da decisão. É exceção à regra do livre convencimento

motivado.

c) Soberania dos veredictos

Conceito do Professor. José Frederico Marques: “A soberania consiste na

impossibilidade dos juízes togados se substituírem aos jurados na decisão da causa.”

O mérito no Júri é decidido exclusivamente pelos jurados. Como todo princípio, não

é absoluto, ou seja, encontra limitações. 138

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O art. 593, inc. III, “d”, do Código de Processo Penal, permite a apelação das

decisões do Júri quando consideradas manifestamente contrárias às provas dos autos. A

apelação é julgada pelo tribunal. Se o tribunal der provimento à apelação, determina a

realização de novo julgamento. O tribunal não decide o mérito. A apelação com esse

fundamento só pode ser interposta uma vez.

“Na revisão criminal a mitigação desse princípio é ainda maior, porque o réu,

condenado definitivamente, pode ser até absolvido pelo tribunal revisor, caso a decisão

seja arbitrária. Não há anulação nesse caso, mas absolvição, isto é, modificação direta do

mérito da decisão dos jurados.”1

Observações: 1. A absolvição sumária ocorre quando provado excludente de

ilicitude ou de culpabilidade. Nesse caso, o réu não vai a Júri, e sim o juiz togado julga o

mérito.

2. A revisão criminal é a ação rescisória de coisa julgada penal.

Sempre em favor do réu, nunca pro societate. No caso de Júri, interposta a revisão

criminal, ela será julgada por 10 desembargadores (normalmente o recurso é julgado por

três) e os juízes togados decidirão o mérito nesse caso.

Esses dois casos são as limitações da soberania dos veredictos, já que nenhum

princípio é absoluto. Os veredictos do Júri são soberanos apenas e tão-somente enquanto

garantirem o direito de liberdade do cidadão.

d) Competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

tentados ou consumados

Os crimes dolosos contra a vida são:

- homicídio (art. 121 do CP);

- induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);

- infanticídio (art. 123 do CP);

- aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento e aborto provocado

por terceiro (arts. 124 a 126 do CP).

Esses são os crimes de competência do Júri; todavia, este pode vir a ter sua

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.139

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competência ampliada por lei ordinária. Já existe uma lei ordinária ampliando: o art. 78,

inc. I, do Código de Processo Penal prevê que também é da competência do Júri o

julgamento dos crimes conexos com os crimes do Júri.

Atenção:

1. A competência para julgar o latrocínio é do juiz singular, pois é um crime contra

o patrimônio ( Súmula n. 603 do STF).

2. A competência para julgar o genocídio (crime contra a humanidade) é do juiz

singular da justiça federal.

3. O policial militar, que pratica crime doloso contra a vida, ainda que em serviço,

será julgado pelo Júri.

3. ORGANIZAÇÃO DO JÚRI

O Júri é um órgão da justiça comum. Pode ser o Júri estadual ou federal.

A competência do Júri federal é para julgamento de:

crimes dolosos contra a vida de funcionários públicos federais, em razão de suas

funções;

crimes dolosos contra a vida praticados a bordo de navio ou aeronave.

3.1. Características do Júri

São as seguintes as características do Júri:

Colegiado: o Júri é composto por um juiz togado e 21 jurados leigos.

Atenção: 21 jurados formam o tribunal do Júri; 15 jurados presentes, no mínimo,

instalam a sessão de julgamento; 7 jurados formam o conselho de sentença.

Heterogêneo: é composto por órgãos de natureza distinta, juiz togado e jurados

leigos.

Horizontal: não há hierarquia entre os jurados e o juiz-presidente do Júri. O que

existe são divisões de competência.

Temporário: os jurados são sempre renovados.140

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Compete ao juiz-presidente organizar a lista geral dos jurados, baseado em

informações fidedignas ou conhecimento pessoal (art. 439 do CPP). Normalmente, o juiz

requer listas com nomes em repartições públicas, sindicatos de classes, empresas.

No mês de novembro de cada ano, o juiz publica uma lista provisória com o nome

dos jurados que irão atuar no próximo ano. A quantidade de nomes varia entre 80 a 500,

conforme a necessidade de julgamento. Na segunda quinzena de dezembro, o juiz publica a

lista definitiva (art. 439, par. ún., do CPP).

Enquanto a lista não é definitiva, qualquer pessoa pode impugná-la. O juiz decide

sobre aquele pedido de exclusão de nome da lista. Se o juiz indefere o pedido e inclui o

nome, aquele que argüiu a exclusão pode interpor recurso em sentido estrito no prazo de 20

dias (normalmente o recurso em sentido estrito tem prazo de cinco dias), conforme o art.

581, inc. XIV, e art. 586, par. ún., ambos do Código de Processo Penal.

Da lista definitiva são sorteados os 21 nomes que formarão o tribunal do Júri, sendo

renovados a cada reunião periódica. O sorteio é realizado em audiência pública e um

menor de 18 anos realiza o sorteio (presume-se a pureza do menor).

As qualidades da pessoa para ser jurado são as seguintes:

ser brasileiro (nato ou naturalizado);

estar no gozo dos direitos políticos;

ser maior de 21 anos;

ser residente na comarca onde acontecerão os julgamentos;

ter notória idoneidade moral.

A lei prevê expressamente nos arts. 434 e 436, par. ún., do Código de Processo

Penal aqueles que são isentos do serviço do Júri. Entre eles estão os maiores de 60 anos, os

que já exerceram a função de jurado por um ano, ministros de confissão religiosa, parteiras,

entre outros.

Um cidadão convocado a prestar o serviço do Júri, não estando no rol dos isentos,

não pode recusar-se a essa obrigação. Poderá, todavia, por razões de convicção filosófica,

política ou de crença religiosa, invocar em seu favor a denominada escusa de consciência.

O art. 435 do Código de Processo Penal ( determina que aquele que alega escusa de 141

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consciência para não prestar o serviço do Júri perde os direitos políticos) não foi

recepcionado pela Constituição Federal, estando, portanto, revogado.

Segundo a Constituição Federal, aquele que invoca escusa de consciência para se

livrar de obrigação a todos imposta, deverá prestar um serviço social alternativo. Havendo

a recusa da prestação alternativa, ocorrerá a perda dos direitos políticos (arts. 5.º, inc. VIII,

e . 15, inc. IV, da CF/88). Essa obrigação alternativa deve ser prevista em lei; porém, ainda

não existe lei que regulamente essa obrigação.

O exercício efetivo da função de jurado, segundo o art. 437 do Código de Processo

Penal, é considerado um serviço público relevante. O jurado terá as seguintes

prerrogativas:

presunção de idoneidade moral;

prisão especial em caso de crime comum até o julgamento definitivo;

preferência em igualdade de condições em concorrências públicas.

Os jurados poderão ser responsabilizados criminalmente por concussão, corrupção e

prevaricação.

4. JUDICIUM ACCUSATIONIS

O procedimento do Júri é bifásico ou escalonado. É o procedimento mais solene do

Código de Processo Penal.

A primeira fase do Júri é denominada sumário da culpa ou judicium accusationis.

Inicia-se com o recebimento da denúncia ou da queixa (ação penal privada subsidiária da

pública) e termina com o trânsito em julgado da pronúncia. Essa fase tem por objetivo

verificar a admissibilidade da acusação e verificar se há requisitos mínimos para a

acusação. Os atos dessa fase são quase os mesmos do procedimento ordinário,

apresentando poucas diferenças. São eles:

recebimento da denúncia ou da queixa;

citação do réu;

Interrogatório;

defesa prévia;

oitiva das testemunhas de acusação e de defesa (número máximo de oito).

alegações finais (art. 406 do CPP).Aqui atenção: o prazo é de cinco dias para 142

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cada parte.

P.: As partes são obrigadas a apresentar as alegações do Júri?

R.: O Ministério Público é obrigado a apresentar as alegações devido ao princípio

da indisponibilidade da ação penal. A defesa não tem obrigação de apresentar,

podendo preferir falar sobre o mérito apenas em plenário (é técnica de defesa). No

rito ordinário as partes são obrigadas a apresentar as alegações finais por ser a

última oportunidade de manifestação antes da sentença. No Júri, essa não é a última

manifestação.

Obs.: nessa fase fica proibida a juntada de qualquer documento pelas partes. Novo

documento só será apresentado posteriormente no libelo ou nas contra-razões do

libelo (art. 406, § 2.º, do CPP).

Sentença: nessa fase do processo podem ser proferidos quatro tipos de decisão:

- decisão de pronúncia;

- decisão de impronúncia;

- desclassificação;

- absolvição sumária (depende de reexame necessário é condição de eficácia).

Todas essas decisões podem ser impugnadas através do recurso em sentido estrito

(art. 581, incs. II, IV e VI, do CPP).

4.1. Pronúncia

Trata-se da decisão que entende existir prova da materialidade e indícios suficientes

de autoria. Julga admissível a acusação, submetendo o réu a julgamento pelo Tribunal do

Júri.

“Na fase da pronúncia vigora o princípio in dúbio pro societate, uma vez que há

mero juízo de suspeita, não de certeza. O juiz verifica apenas se a acusação é viável,

deixando o exame mais acurado para os jurados. Somente não serão admitidas acusações

manifestamente infundadas, pois há juízo de mera prelibação”.2

2 CAPEZ, Fernando. Op. cit.143

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Essa decisão, na verdade, não é uma sentença, pois não julga o mérito. Tem a

natureza jurídica de decisão interlocutória mista não-terminativa. O Código de Processo

Penal fala em sentença porque a decisão de pronúncia deve seguir os mesmos requisitos da

sentença (relatório, fundamentação e dispositivo).

O dispositivo da decisão de pronúncia contém o julgamento da admissibilidade da

acusação, da pretensão punitiva (ex.: “... julgo admissível a acusação e pronuncio o réu.”).

A fundamentação não precisa analisar com profundidade o mérito da causa como na

fundamentação da sentença, sob pena de influenciar na decisão dos jurados. Deve ter uma

linguagem comedida e cautelosa para pronunciar, sem referir-se a culpado ou inocente,

pois levaria à nulidade da decisão.

São efeitos da pronúncia:

Submeter o réu a julgamento pelo Júri.

Fixar a classificação jurídica do fato.

Obs.: o art. 416 do Código de Processo Penal permite a mudança da classificação

quando ocorrer circunstância superveniente que altere a mesma. Ex.: o réu é pronunciado

por tentar matar a vítima. A vítima que estava na UTI vem a falecer. O réu deverá ser

julgado por homicídio consumado. Altera-se a pronúncia.

Interromper a prescrição. A Súmula n. 191 do Superior Tribunal de Justiça

determina que a pronúncia é causa interruptiva da prescrição ainda que ocorra a

desclassificação do crime pelo Júri. Essa súmula veio pacificar os

entendimentos, pois alguns defendiam que se os jurados desclassificassem para

o procedimento comum ordinário,onde nada interrompe a prescrição, muitas

vezes o crime já estaria prescrito.

Decretação da prisão, se for o caso (art. 408, § 2.º, do CPP).

Não há mais o lançamento do nome do réu no rol dos culpados. O dispositivo que

determinava essa providência não foi recepcionado pela Constituição Federal em razão do

princípio da presunção de inocência.

O juiz, na pronúncia, pode excluir a qualificadora incluída na denúncia se for

manifestamente improcedente, arbitrária ou se não houver qualquer prova nos autos sobre

ela.

P.: Se a denúncia foi oferecida por homicídio simples, e na instrução apura-se que 144

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há uma qualificadora, o juiz pode incluir essa qualificadora na pronúncia?

R.: São duas as posições. Para parte da doutrina o juiz pode incluir a qualificadora

na pronúncia aplicando o art. 384 do Código de Processo Penal, mutatio libelli sob pena de

violar a ampla defesa. Já o Supremo Tribunal Federal entende que o juiz pode incluir

qualificadora na pronúncia, independentemente da aplicação do art. 384 do Código de

Processo Penal, por força da regra específica prevista no art. 408, § 4.º, do Código de

Processo Penal.

Essa regra acima analisada também se aplica nas hipóteses de desclassificação de

crime doloso menos grave contra a vida para outro crime doloso mais grave contra a vida.

Ex.: desclassificação de infanticídio para homicídio.

Ao juiz é vedado manifestar-se na pronúncia sobre:

causas de aumento de pena;

causas de diminuição de pena;

circunstâncias agravantes;

circunstâncias atenuantes.

As causas de aumento de pena só serão incluídas no libelo. As circunstâncias

agravantes vão ser incluídas no libelo ou nos debates durante a sessão de julgamento.

A única agravante que deve constar na pronúncia é a reincidência, pois irá interferir

na prisão ou na liberdade do réu.

Conforme dispõe a Súmula n. 21 do Superior Tribunal de Justiça, pronunciado o

réu, fica superada a alegação de excesso de prazo na instrução criminal.

A intimação da decisão de pronúncia varia conforme a situação do réu:

Se o réu está preso, será intimado pessoalmente.

Se o réu está solto, será intimado pessoalmente. Caso não seja encontrado, a

intimação será feita por edital, dependendo da natureza da infração:

- Se o crime é afiançável, a intimação será feita por edital.

- Se o crime é inafiançável, o réu só pode ser intimado pessoalmente. Ficando

o réu em local incerto e não sabido o processo ficará parado até que aquele

seja localizado. Nesse caso, ocorre a chamada crise de instância, isto é, há o

estancamento da marcha processual. Nesse caso, o juiz pode decretar a 145

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prisão preventiva do réu para assegurar a aplicação da lei penal.

4.2. Impronúncia

A decisão de impronúncia julga inadmissível a acusação. Não há prova da

materialidade e nem o menor indício de autoria. A decisão de impronúncia tem natureza

jurídica de decisão interlocutória mista terminativa. Não julga o mérito.

Essa decisão só faz coisa julgada formal. Surgindo novas provas, o processo poderá

ser reaberto se o crime ainda não prescreveu.

Exceção: a decisão de impronúncia fará coisa julgada material nos seguintes casos:

atipicidade do fato (o fato narrado não constitui crime);

comprovação da inexistência material do fato (não houve crime).

No que se refere à competência para o julgamento dos crimes conexos em caso de

desclassificação, há dois entendimentos na doutrina. Alguns defendem que todos os delitos

passarão para a esfera do juiz togado, pois, se o Júri reconhece que não tem competência

para julgar o crime principal, seria um contra-senso que decidisse os demais. Outros

afirmam que, mesmo ocorrendo a desclassificação, o Júri continuaria competente para

julgar os crimes conexos ante o disposto no art. 81, caput, do Código de Processo Penal.

4.3. Despronúncia

É a decisão judicial que revoga uma decisão de pronúncia. Pode ocorrer se houver

interposição de recurso e o tribunal revogar a decisão ou se o próprio juiz da causa, no

juízo de retratação, voltar atrás e impronunciar o réu.

4.4. Desclassificação (art. 410 do Código de Processo Penal)

A desclassificação ocorre quando o juiz do Júri se convence de que o réu não

cometeu um crime doloso contra a vida, e sim cometeu um crime diverso, da competência

do juiz singular.

Se o juiz tiver dúvida entre tentativa de homicídio ou lesão corporal, deverá

pronunciar o réu e deixar que o Júri decida se houve ou não o animus necandi, isto é,

intenção de matar. Visa preservar-se, assim, a competência constitucional do Júri. Se o Júri

decidir que o réu não teve intenção de matar, o processo será remetido ao juiz competente.

O Júri não se manifesta sobre agravantes ou qualificadoras, nem menciona para qual delito 146

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o crime foi desclassificado, caso se manifeste acerca disso, não estará vinculando o juiz,

que será competente.

Atenção: se o juiz do Júri desclassifica o crime e as partes não recorrem (é cabível

recurso em sentido estrito), a decisão transita em julgado e o processo é remetido ao juiz

singular.

Se o juiz singular, ao receber o processo, concluir que o juiz do Júri se equivocou, e

que o réu deveria ter sido pronunciado, qual medida deve tomar? O juiz para o qual o

processo foi remetido nada poderá fazer. Não pode suscitar conflito de competência, pois a

decisão de desclassificação já transitou em julgado. Se ele se convencer que era mesmo o

crime doloso contra a vida, ainda que tentado, deverá absolver o réu.

A desclassificação é decisão interlocutória mista não terminativa.

4.5. Absolvição Sumária

É a absolvição do réu pelo juiz em razão de estar comprovada a existência de causa

de exclusão da ilicitude (ex.: legítima defesa) ou da culpabilidade (ex.: inimputabilidade).

É uma sentença, pois nela há o julgamento do mérito. Faz coisa julgada material.

Para ter eficácia deve ter o reexame necessário.

A Súmula n. 423 do Supremo Tribunal Federal determina que, enquanto não houver

o recurso de ofício, a absolvição não transita em julgado.

P.: se o Juiz tem certeza da excludente de culpabilidade (há laudo que comprova a

inimputabilidade do réu) e tem dúvida sobre a excludente de ilicitude (há dúvida quanto à

legítima defesa) ele deve absolver ou pronunciar o réu?

R.: O Juiz não pode reconhecer a legítima defesa e absolver o réu no sumário da

culpa, pois esta não restou provada. Deverá pronunciar o réu, pois o Júri pode reconhecer a

legítima defesa e absolver o réu. Se o juiz no sumário da culpa reconhecer a excludente de

culpabilidade terá de dar a absolvição imprópria, impondo ao réu uma medida de

segurança. No caso dele pronunciar, o réu terá uma chance de o Júri reconhecer a legítima

defesa e o absolver; ou, na pior das hipóteses, será condenado e receberá uma medida de

segurança pela inimputabilidade já comprovada.

A segunda fase do Júri é denominada juízo da causa ou judicium causae. Inicia-se 147

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com o oferecimento do libelo e termina com a sessão de julgamento. Essa fase julga o

mérito, ou seja, verifica a culpabilidade do acusado.

Obs.: o Módulo XXI tratará desse tema.

MÓDULO XXI

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Do Procedimento do Júri

1. JUDICIUM CAUSAE

1.1. Desaforamento

A segunda fase do procedimento do júri, após a sentença de pronúncia, é o juízo da

causa ou judicium causae, o qual inicia-se com o oferecimento do libelo pela acusação.

Durante essa fase é possível que ocorra o pedido de desaforamento (art. 424 do

CPP). Desaforamento é o deslocamento da competência territorial do júri. Somente a

sessão de julgamento é que se desafora. Os demais atos são praticados na Comarca onde

corre o processo.

É impossível o pedido de desaforamento durante o sumário da culpa, pois nessa fase

ainda não há certeza de que haverá julgamento pelo júri. Só a pronúncia transitada em

julgado dá a certeza do julgamento pelo júri.

O desaforamento deve ser sempre para a Comarca mais próxima, desde que nela não

existam os mesmos motivos que ensejaram o desaforamento. Assim, por exemplo, um

crime que causou revolta em toda uma região, não adianta desaforar para uma cidade

vizinha.

São causas do desaforamento:

a) motivos de ordem pública;

b) dúvida a respeito da imparcialidade dos jurados (Atenção: a dúvida não é sobre a

imparcialidade do juiz – essa enseja exceção de impedimento ou suspeição);

c) risco à segurança do réu;

d) quando, passado um ano do recebimento do libelo, o julgamento não tiver se

realizado.

148

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Tem legitimidade para pleitear o desaforamento:

qualquer das partes, por requerimento;

o juiz, por representação; salvo no último caso (d), em que só as partes podem

requerer.

O pedido é formulado no Tribunal de Justiça; a Câmara Criminal com competência

para julgar os recursos do júri irá decidir, ouvindo sempre o Procurador-Geral de Justiça.

O desaforamento pode ser pedido até um dia antes da sessão do julgamento. Por não

ter efeito suspensivo, deve ser requerido o quanto antes.

P.: Concedido o pedido de desaforamento, é possível requerer um segundo

desaforamento?

R.: Sim. É possível novo desaforamento desde que, na nova Comarca, surjam novos

motivos.

Reaforamento é a volta do julgamento para ser realizado pelo Júri da Comarca de

origem, sendo necessário que ali tenham desaparecido os motivos que provocaram o

desaforamento e que novos motivos (problemas que não mais existem na de origem)

tenham surgido na Comarca para onde o julgamento fora remetido. Portanto, em tese,

admite-se o retorno do julgamento para a Comarca de origem.

1.2. Libelo

O libelo é a “peça inaugural do judicium causae, consistente em uma exposição

escrita e articulada do fato criminoso, contendo o nome do réu, as circunstâncias

agravantes e todas as demais que influam na fixação da sanção penal. (...) O libelo é

composto de três partes: introdução, articulado e pedido. Na introdução, consta a menção

ao processo-crime, a designação do acusador, pelo seu cargo, e o nome do réu (exemplo:

‘Por libelo-crime acusatório, diz a Justiça Pública, por seu Promotor de Justiça infra-

assinado, nos autos do processo-crime 428/90, que move contra o réu Ernestino de Souza,

o seguinte: (...)’). No articulado, o fato criminoso e suas circunstâncias vêm expostos em

artigos sintéticos e objetivos (exemplo: ‘Que provará: 1) que o réu efetuou disparos de

arma de fogo contra a vítima, produzindo-lhe os ferimentos descritos no laudo de fls.; 2)

que esses ferimentos foram a causa da morte da vítima; 3) que o réu é reincidente’). No

pedido, a acusação deve requerer a procedência da ação, com o recebimento do libelo e a 149

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condenação do acusado pelo júri, como incurso no tipo incriminador, pelo qual foi

pronunciado (exemplo: ‘Isto posto, requeiro seja o presente libelo recebido, e o réu levado

a julgamento perante o júri, como incurso no art. 121, caput, do Código Penal, a fim de ser

condenado’)”3.

O libelo é oferecido pela acusação (Ministério Público) somente contra o réu que foi

intimado da decisão de pronúncia. A pronúncia só transita em julgado após a intimação do

réu.

O libelo é totalmente vinculado à pronúncia. Isto é, no libelo o Ministério Público

não pode alterar a classificação jurídica do crime constante na pronúncia. “A pronúncia

condiciona o libelo”. Também não pode o Ministério Público incluir, no libelo,

qualificadora que não conste da pronúncia. Se a acusação não concorda com a pronúncia,

deve recorrer, mas não inovar no libelo.

O Ministério Público pode incluir agravantes no libelo.

P.: Se o Ministério Público não incluir no libelo as agravantes, pode fazê-lo em

momento posterior?

R.: No dia do julgamento, nos debates, a acusação pode alegar as agravantes, mas

não as causas de aumento da pena.

O libelo é uma peça articulada, ou seja, deve ser escrita na forma de artigos. Se

houver mais de um crime na pronúncia, deverá ser elaborada uma série de artigos para

cada crime. Se houver mais de um réu, deve ser realizado um libelo para cada réu.

No libelo, a acusação vai requerer a juntada de documentos, as diligências ainda não

realizadas e apresentar o rol de testemunhas, no máximo cinco, que serão ouvidas em

plenário.

P.: Se o Ministério Público não juntar documentos no libelo, pode requerer a juntada

posteriormente?

R.: Sim. No processo penal é possível a juntada de documentos a qualquer

momento, cientificando a parte contrária. O limite temporal no judicium causae à juntada

3 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 580150

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de documentos é dado pelo art. 475 do Código de Processo Penal. Segundo esse

dispositivo, os documentos a serem exibidos em plenário devem ser juntados e

comunicados à parte contrária com antecedência de, pelo menos, três dias do julgamento.

As testemunhas podem ser arroladas em caráter de imprescindibilidade. A parte que

arrolou a testemunha com esse caráter pode se recusar à realização do julgamento se essa

não comparecer. O julgamento será adiado. Para desistir de testemunha imprescindível no

julgamento, deve haver anuência da parte contrária.

O não-comparecimento da testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade

não impedirá a realização do julgamento, nos seguintes casos:

se a testemunha estiver em lugar incerto e não sabido;

se a testemunha residir em Comarca diversa da jurisdição do Júri.

Prazo para o oferecimento do libelo:

cinco dias (a contar da intimação pessoal para o oferecimento) para o Ministério

Público, na ação penal pública;

dois dias para o querelante, tanto no caso de queixa subsidiária quanto no de

queixa exclusivamente privada.

Se o Ministério Público não oferece o libelo, o juiz não pode mais nomear promotor

ad hoc para apresentá-lo, já que essa figura desapareceu com a Constituição Federal de

1988. Hoje, o juiz utiliza o art. 28 do Código de Processo Penal, por analogia.

Se o querelante não oferecer o libelo, ocorre o seguinte:

na ação penal exclusivamente privada – a perempção;

na ação penal privada subsidiária da pública – o Ministério Público reassume a

ação.

(Observação: pode haver libelo em ação exclusivamente privada, em caso de

litisconsórcio ativo entre querelante e Ministério Público.)

O fenômeno do lançamento do libelo ocorre quando o querelante, na ação penal

privada subsidiária da pública, apresenta o libelo intempestivamente, fora do prazo legal. O

Código de Processo Penal determina que ele seja lançado dos autos (art. 420 do CPP), quer

dizer, seja excluído dos autos. Os autos serão remetidos ao Ministério Público.151

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Oferecido o libelo, esse será examinado pelo juiz, que poderá ou não recebê-lo.

Caso não o receba, o juiz deverá notificar o Ministério Público para que apresente outro em

48 horas (art. 418 do CPP).

Recebendo o libelo, o juiz, nesse mesmo despacho, deve determinar a entrega de

cópia ao réu em três dias e notificar a defesa para apresentar a contrariedade ao libelo, no

prazo de cinco dias.

A falta da entrega da cópia do libelo ao réu e da notificação para a apresentação da

contrariedade gera nulidade, evidentemente relativa (art. 564, inc. III, “f”, do CPP),

segundo entendimento do Professor Fernando Capez4.

1.3. Contra Libelo

O contra libelo segue as mesmas regras do libelo. Deve ser apresentado no prazo de

cinco dias. A defesa deve requerer a juntada de documentos, a realização de diligências e

apresentar o rol de testemunhas, em número máximo de cinco, que irão depor em plenário.

As testemunhas da defesa também podem ser arroladas em caráter de imprescindibilidade.

Para a defesa é uma peça de apresentação facultativa, assemelhando-se à defesa

prévia. Deve ser dada a oportunidade de apresentação, mas, caso a parte não apresente, não

causa nulidade, porque pode ser uma técnica da defesa só se manifestar em plenário.

1.4. Saneador

Apresentados o libelo e o contra libelo, o juiz determina a realização das diligências

necessárias. Após isso, profere um despacho saneador e marca a data para a sessão de

julgamento.

2. JULGAMENTO EM PLENÁRIO

A sessão de julgamento em plenário é composta pelas seguintes fases:

instalação da sessão;

formação do Conselho de Sentença;

atos instrutórios;

debates;

4 Op. cit. p. 583.152

Page 154: Direito Processual Penal.doc

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julgamento.

2.1. Instalação da Sessão

Presente o Ministério Público, no dia e na hora designados para a reunião do júri, o

juiz-presidente da sessão verifica se a urna contém as cédulas com os nomes dos 21 jurados

sorteados, e determina que o escrivão faça a chamada. Declarará instalada a sessão se

comparecerem no mínimo 15 jurados. Caso contrário, convoca nova sessão para dia útil

imediato (art. 442 do CPP).

O juiz anuncia o processo que será submetido a julgamento e ordena ao porteiro que

apregoe as partes e as testemunhas.

Observação: Esse é o momento para a argüição de nulidade relativa, ocorrida após a

pronúncia sob pena de convalidação (art. 571, inc. V, do CPP). Se ocorrer nulidade após

esse momento, deverá ser argüida imediatamente a sua ocorrência, sob pena de preclusão

(art. 571, inc. VIII, do CPP).

Apregoado o réu e esse comparecendo, o juiz pergunta-lhe o nome, idade e se tem

advogado. Deverá nomear-lhe curador – se for menor e não o tiver – e defensor, se for

maior. Nesse caso, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido.

2.1.1. Ausências

a) Se o réu regularmente intimado não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado.

Ausência injustificada:

- se a infração for inafiançável, o julgamento somente se realiza com a

presença do réu e, nesse caso, o juiz pode decretar a prisão preventiva para

assegurar a aplicação da lei penal;

- se a infração for afiançável, o julgamento será realizado à revelia do réu.

b) Se o advogado não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado.

Ausência injustificada: o juiz deverá adiar a sessão de julgamento, 153

Page 155: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

nomear por cautela um advogado dativo e oficiar à OAB o ocorrido. Se no dia

do novo julgamento o antigo advogado comparecer, é ele quem participa do

julgamento.

c) Se o Ministério Público (acusação) não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado.

Ausência injustificada: o juiz deverá adiar a sessão de julgamento, oficiar ao

Procurador-Geral da Justiça e comunicar ao substituto automático do promotor.

Não há mais a figura do promotor ad hoc.

d) Se o querelante não comparece

Ausência justificada: o julgamento é adiado.

Ausência injustificada: ocorre a perempção, em caso de ação penal

exclusivamente privada, ou o Ministério Público reassume a titularidade, em

caso de ação penal subsidiária da pública.

e) Se o assistente de acusação não comparece

Sua ausência nunca provoca o adiamento da sessão.

f) Se a testemunha não comparece

Se arrolada em caráter de imprescindibilidade: adia o julgamento, salvo se

estiver em local incerto e não sabido ou for de fora da terra.

Se arrolada sem caráter de imprescindibilidade: não adia o julgamento, mas

pode sofrer condução coercitiva, multa e processo-crime por desobediência.

g) Se o jurado não comparece

Ausência injustificada: sujeita-se ao pagamento de multa.

2.2. Formação do Conselho de Sentença

O juiz, após verificar que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados

presentes, realizao sorteio de sete deles para formarem o conselho de sentença (art. 457 do 154

Page 156: Direito Processual Penal.doc

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CPP).

Antes do sorteio, o juiz adverte os jurados dos impedimentos do Júri. No mesmo

conselho de sentença, são impedidos de servir marido e mulher, ascendente e descendente,

sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou

madrasta e enteado. Também advertirá sobre as incompatibilidades legais por suspeição –

parentesco com o juiz, promotor, advogado, réu ou com a vítima (art. 458 do CPP).

Caso exista impedimento por parentesco, servirá ao júri aquele que houver sido

sorteado em primeiro lugar.

Conforme a Súmula n. 206 do Supremo Tribunal Federal, é nulo o julgamento

ulterior por júri do qual participe jurado que tenha tomado parte em julgamento anterior

do mesmo processo.

Na medida em que as cédulas vão sendo abertas, a defesa, e depois a acusação,

podem recusar os jurados sorteados. Recusa motivada, isto é, com fundamento em

impedimento ou suspeição, as partes podem fazer quantas recusas forem necessárias. Já a

recusa imotivada ou peremptória, isto é, sem qualquer justificativa ou fundamento, cada

parte só tem direito a três.

A recusa de jurado pode provocar a cisão do julgamento. Existindo dois ou mais

réus, com diferentes defensores, se um defensor aceita um jurado e o outro o recusa,

havendo aceitação desse jurado pela acusação (Ministério Público), o julgamento será

cindido. Só haverá o julgamento de um réu; o outro réu terá seu julgamento adiado.

Se o jurado, aceito por um defensor e recusado por outro, também for rejeitado pelo

Ministério Público, será excluído, e não haverá cisão do julgamento.

Escolhidos os sete jurados, o juiz faz a seguinte exortação: “Em nome da lei,

concito-vos a examinar com imparcialidade essa causa e a proferir a vossa decisão,

conforme a vossa consciência e os ditames da Justiça.” Os jurados prometem e estarão

compromissados. A partir desse momento, passa a vigorar a incomunicabilidade dos

jurados.

A incomunicabilidade não significa mudez. Os jurados podem conversar entre si,

desde que não seja sobre o processo. Não podem conversar com terceiros estranhos ao

processo; a comunicação com o mundo exterior ocorre somente via oficial de justiça. Tal

medida visa garantir o sigilo das votações.155

Page 157: Direito Processual Penal.doc

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2.3. Atos Instrutórios

O juiz-presidente inicia os trabalhos com o interrogatório do réu. Nesse

interrogatório, além do juiz-presidente, os jurados também podem fazer perguntas ao réu.

Em seguida, o juiz elabora um relatório do processo, com os fatos, as provas e as

conclusões das partes. É um resumo de todo o processo e destina-se aos jurados (art. 466

do CPP). Se requerida pelas partes, ou por jurado, o escrivão fará a leitura das principais

peças do processo (art. 466, § 1.º, do CPP). A leitura deve ser feita sem qualquer

entonação.

Inicia-se a oitiva das testemunhas. Primeiro, são inquiridas as testemunhas de

acusação e a vítima, se o crime foi tentado. O juiz, os jurados, a acusação (parte que

arrolou) e a parte contrária fazem as perguntas. Segue-se a inquirição das testemunhas de

defesa. O juiz, os jurados, a defesa (parte que arrolou) e a parte contrária fazem as

perguntas. As partes fazem a inquirição da testemunha diretamente.

Após ser inquirida, a testemunha deve permanecer incomunicável até o final do

julgamento, salvo se for dispensada pelas partes. Isso porque o Código de Processo Penal

permite a reinquirição da testemunha a qualquer momento, até na tréplica.

2.4. Debates

Terminada a inquirição das testemunhas, o promotor lerá o libelo e os dispositivos

da lei penal em que o réu se acha incurso e produzirá a acusação. Concluída a acusação, o

defensor terá a palavra, para a defesa. O tempo será de duas horas para cada parte.

Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido em uma hora.

Encerrada a fala da defesa, o juiz indagará à acusação se fará uso da réplica. Em

caso positivo, a defesa terá direito a tréplica. O tempo será de 30 minutos para cada um.

Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido em mais 30 minutos.

A defesa não pode inovar sua tese no momento da tréplica devido ao princípio do

contraditório. Se inovar, essa tese não será quesitada.

Se a acusação for composta pelo promotor e pelo assistente de acusação, eles

deverão combinar entre si a distribuição do tempo. Não havendo acordo, o juiz marcará o

tempo de cada um, não excedendo o limite previsto em lei.156

Page 158: Direito Processual Penal.doc

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Apartes são as intervenções que uma parte faz na fala da outra. Não estão previstos

em lei. Segundo a jurisprudência, são possíveis desde que exista concordância do orador o

aparte seja de forma cordial e não vise atrapalhar o orador.

2.5. Julgamento

Após os debates, o juiz pergunta aos jurados se eles estão habilitados a julgar ou se

precisam de mais esclarecimentos (art. 478 do CPP). Esses esclarecimentos devem

relacionar-se somente com matéria de fato.

Em seguida, o juiz lê os quesitos e explica a significação legal de cada um. Indaga

se os jurados têm algum requerimento ou alguma reclamação a fazer. O juiz, então,

anuncia que vai se proceder ao julgamento, determina que o réu seja retirado e convida os

demais circunstantes a deixarem a sala.

O juiz, os jurados, o promotor, o advogado, o escrivão e dois oficiais de justiça

dirigem-se à sala secreta. Os jurados passam à votação dos quesitos sob a presidência do

juiz. O jurado vota sim ou não, sem qualquer discussão ou fundamentação, em razão do

sigilo das votações. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra

já proferida, o juiz, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá

novamente à votação os respectivos quesitos. O veredicto apura-se por maioria.

2.6. Quesitação

(Atenção: assunto muito perguntado na fase oral!)

Quesitação é o questionário; são as perguntas feitas pelo juiz aos jurados, que

deverão responder sim ou não. É elaborado com base no libelo, no contra libelo, no

interrogatório e nos debates. Como no júri vige a defesa plena, todas as teses devem ser

quesitadas, ainda que incompatíveis. Haverá um questionário para cada réu, e uma série de

quesitos para cada crime.

Conforme a Súmula n. 156 do Supremo Tribunal Federal, é causa de nulidade

absoluta do julgamento a falta de quesito obrigatório. Também a Súmula n. 162 do

Supremo Tribunal Federal determina que é causa de nulidade absoluta do julgamento se os

quesitos da defesa não precederem os quesitos das agravantes (a jurisprudência também

inclui as qualificadoras).157

Page 159: Direito Processual Penal.doc

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A ordem dos quesitos ocorre da seguinte forma:

Os relativos ao fato principal, ao fato imputado ao réu (autoria e materialidade).

Os relativos à letalidade. (Exemplo: "As lesões efetuadas pelo réu foram letais,

causaram a morte?" ou ânimo homicida do réu (se o crime foi tentado).

Os relativos às teses de defesa (Súmula n. 162 do STF). Todas as teses devem

ser quesitadas, na seguinte ordem:

- teses que podem levar à desclassificação;

- teses relativas às excludentes de ilicitude (nesse caso, deve haver quesito

sobre a existência ou não do excesso doloso ou culposo);

- se alegada a legítima defesa, cada requisito deve ser quesitado,. como, por

exemplo, "O réu defendia direito próprio? Defendia-se de agressão injusta?

Utilizou-se dos meios necessários?".

- teses sobre o privilégio.

Os relativos à existência de qualificadoras.

Os relativos à existência de causas de aumento ou diminuição.

Os relativos à existência de agravantes e atenuantes.

Observações:

Ainda que não se alegue a existência de circunstâncias atenuantes, o juiz deverá

elaborar um quesito genérico da atenuante, sob pena de nulidade absoluta.

Exemplo: "Existe alguma atenuante em favor do réu?".

Se os jurados reconhecerem que o réu agiu em legítima defesa, o juiz deve fazer

os quesitos sobre o excesso. Se os jurados reconhecerem a existência do

excesso, surgem dois caminhos:

- reconhecem o excesso culposo: desclassificam o delito para homicídio

culposo;

- reconhecem o excesso doloso: continua o homicídio doloso. O juiz

prossegue nos quesitos.

Se os jurados reconhecerem a existência de privilégio, ficam prejudicados os

quesitos referentes às qualificadoras subjetivas. Reconhecido o privilégio, 158

Page 160: Direito Processual Penal.doc

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somente podem ser formuladas perguntas sobre as qualificadoras objetivas.

No crime de aborto é necessário elaborar um quesito autônomo a respeito da

existência da gravidez. No crime de infanticídio é necessário elaborar um

quesito autônomo sobre a existência do estado puerperal.

Em se tratando de concurso de agentes no crime de homicídio, o primeiro

quesito será elaborado de forma não-individualizada. Exemplo: "Terceira

pessoa efetuou os disparos?". A participação do réu só será indagada no quesito

seguinte, de forma detalhada. Exemplo: "O réu é o mandante do crime? O réu é

o autor intelectual do delito? O réu teve contribuição para a consumação do

delito?".

2.7. Desclassificação no Júri

Se os jurados desclassificam o crime, o julgamento desse crime competirá ao juiz-

presidente do júri (arts. 74, § 3.º, e 492, §2.º, do CPP).

A desclassificação pode ser:

própria: ocorre quando os jurados desclassificam a infração sem estabelecer a

tipificação do fato; o juiz-presidente tem liberdade para definir a infração e

julgar o fato;

imprópria: ocorre quando, na desclassificação pelos jurados, fica estabelecido o

enquadramento do fato, cabendo ao juiz-presidente apenas a aplicação da pena.

Exemplos de desclassificação:

Quesito: O réu agiu com imprudência?

R: Sim.

Agiu com culpa, homicídio culposo. Desclassificação imprópria, ao juiz resta

aplicar a pena.

Quesito: O réu iniciou a sua conduta visando um resultado que não se consumou por

circunstâncias alheias à sua vontade?

R: Não.

O réu não tinha o animus necandi (dolo de matar). Desclassificação própria, o juiz 159

Page 161: Direito Processual Penal.doc

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vai tipificar a conduta e aplicar a pena.

P.: Se o júri absolve o réu de crime doloso contra a vida, a quem compete julgar os

crimes conexos?

R.: Na doutrina predomina o entendimento que os crimes conexos serão julgados

pelo júri. Se houve absolvição é porque os jurados conheceram o mérito. Se foram

competentes para julgar o crime doloso, também o são para julgar os crimes conexos.

Ocorre a perpetuatio jurisdiciones (art. 81 do CPP). Na jurisprudência, a questão é mais

dividida. Há tendência a serem julgados pelo juiz-presidente em razão de aplicação

analógica do art. 492, § 2.º, do Código de Processo Penal.

a) Desclassificação no júri para a infração de menor potencial ofensivo

Exemplo: tentativa de homicídio, desclassificada para lesão corporal dolosa leve ou

lesão corporal culposa. Segundo a doutrina, deve-se aguardar o trânsito em julgado

da desclassificação e remeter o processo ao Juizado Especial Criminal (art. 98 da

CF/88). Há precedentes do Supremo Tribunal Federal acolhendo essa posição.

b) Desclassificação de crime militar

Exemplo: no júri, o advogado, sem negar a autoria, sustenta que não houve dolo

eventual, mas sim culpa imprópria. O crime de homicídio culposo praticado por militar em

serviço é da competência da justiça militar. A justiça comum é incompetente para julgar

esse delito. Deve o juiz aguardar o trânsito em julgado da desclassificação e remeter o caso

para a justiça militar, sob pena de violar regra constitucional de competência.

2.8. Sentença

“Encerrada a votação e assinado o termo referente às respostas dos quesitos, o juiz

deverá proferir a sentença.

No caso de absolvição, o juiz deve colocar o réu imediatamente em liberdade, salvo

se estiver preso por outro motivo.”5

5 CAPEZ, Fernando. Op. cit. p. 590160

Page 162: Direito Processual Penal.doc

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2.9. Atribuições do Juiz-presidente na Sessão de Julgamento (art. 497 do CPP)

(Observação: é obrigatória a leitura desse artigo antes de uma prova.)

As atribuições do juiz-presidente na sessão de julgamento são:

regular os debates. Para isso o Código de Processo Penal lhe concede o poder de

polícia;

interromper a sessão de julgamento, por tempo razoável, para repouso ou

refeição dos jurados;

dissolver o conselho de sentença, caso constate que o réu está indefeso;

resolver todas as questões de direito que não dependam do julgamento dos

jurados (exemplos: preliminares, eventuais nulidades invocadas (quando o réu

completa 70 anos, o prazo da prescrição cai pela metade);

determinar de ofício, ou a requerimento, a realização de diligências

consideradas imprescindíveis. Essas diligências, de preferência, devem ser

realizadas de imediato, sem dissolver o conselho de sentença; se não for

possível, deve dissolver o conselho e marcar novo júri.

MÓDULO XXII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DAS NULIDADES

1.1. Conceito

Nulidade é a sanção cominada pelo ordenamento jurídico ao ato praticado em

desrespeito às formalidades legais.

Ao estabelecer as formalidades, o legislador quer garantir que o réu tenha ciência da

acusação, que seja citado regularmente e que esteja sendo a ele oferecida a oportunidade

de defesa. São normas de Direito Público.

O Código de Processo Penal, em seus artigos 563 a 573, trata das nulidades.

(Atenção: é obrigatória a leitura desses artigos antes da realização das provas.)

O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta o rol das nulidades; todavia,

algumas nulidades relativas constantes desse rol, em razão da Constituição Federal de 161

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1988, estão desatualizadas – deveriam ser nulidades absolutas. Além disso, as hipóteses de

nulidades deveriam ser verificadas, no caso concreto, pelo juiz.

As nulidades podem ser absolutas ou relativas. Ao lado delas, existem algumas

situações em que o vício é tão grave que gera a inexistência do ato. Em outras situações, o

desatendimento da formalidade é incapaz de gerar qualquer prejuízo ou anular o ato, pois

trata-se de mera irregularidade.

1.2. Diferenças entre Nulidades Absolutas e Relativas

1.2.1. Quanto ao fundamento

A nulidade absoluta ocorre quando a regra violada houver sido instituída para

resguardar, predominantemente, o interesse público.

A nulidade relativa ocorre quando a regra violada houver sido instituída para

resguardar, predominantemente, o interesse das partes.

Sempre que ocorrer a violação a um princípio constitucional, a nulidade será

absoluta. Para alguns autores, se a ofensa for muito grave, o ato será inexistente.

1.2.2. Quanto ao prejuízo

A nulidade relativa exige demonstração do prejuízo.

Na nulidade absoluta, o prejuízo é presumido.

1.2.3. Quanto ao momento de argüição

A nulidade relativa deve ser argüida no momento oportuno, sob pena de preclusão.

Cada procedimento tem um momento último para a argüição. Conforme o artigo 571 do

Código de Processo Penal, as nulidades devem ser argüidas nos seguintes momentos:

Procedimento Ordinário: até as alegações finais (inciso II).

Procedimento do Júri: as que ocorrerem no sumário da culpa, até as alegações

do Júri (inciso I); as que ocorrerem posteriormente, depois de anunciado o

julgamento e apregoadas as partes (inciso V); e as do julgamento em plenário,

logo depois que ocorrerem (inciso VIII).162

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A nulidade absoluta pode ser reconhecida a qualquer tempo e em qualquer grau de

jurisdição. Exceção: conforme a Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal, “é nula a

decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação,

ressalvados os casos de recurso de ofício”.

1.2.4. Quanto ao interesse

As nulidades relativas dependem de provocação pela parte interessada, no momento

oportuno.

As nulidades absolutas não precisam de provocação; o próprio juiz pode reconhecer

de ofício, salvo a exceção da Súmula n. 160 do Supremo Tribunal Federal.

1.3. Inexistência e Irregularidade

Inexistência é a sanção mais grave que pode ser cominada a um ato processual. Para

a doutrina, não se trata de ato processual inexistente, mas sim de um não-ato ou ato

processual atípico por não se enquadrar no modelo legal.

Ocorre quando o ato não reúne elementos essenciais para existir. É a violação

frontal da regra constitucional que gera a inexistência. Ex.: um processo por crime eleitoral

que tramitou na Justiça Militar.

Para o Professor Tourinho, a violação de qualquer regra constitucional que trate de

competência torna o ato inexistente. Já, para a jurisprudência, trata-se de nulidade absoluta.

Característica própria da inexistência: se o ato for inexistente, não produz efeitos,

independente de declaração judicial.

Na nulidade absoluta o ato produz efeitos até que seja declarado nulo. Enquanto isso

não ocorrer, produz efeitos.

Exemplos:

sentença sem relatório: nulidade absoluta;

sentença sem fundamentação: nulidade absoluta;

sentença sem dispositivo: inexistente;

sentença proferida por juiz em férias ou aposentado: inexistente, por não ter 163

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jurisdição;

sentença proferida por juiz suspeito: nulidade absoluta;

sentença proferida por juiz impedido: inexistente.

Ocorre irregularidade sempre que a formalidade desrespeitada for considerada

inócua. Tal desrespeito é incapaz de gerar prejuízo, seja para a acusação, seja para a

defesa. O ato produz seus efeitos normalmente.

Exemplos: falta de leitura do libelo no início da fala da acusação; falta de

compromisso pelo perito louvado ou particular (o perito oficial é funcionário e, ao tomar

posse, já assume esse compromisso); oferecimento de denúncia fora do prazo legal (5 dias

para o réu preso e 15 para o solto) acarreta o relaxamento da prisão em flagrante, mas a

denúncia em si é válida.

2. PRINCÍPIOS DAS NULIDADES

2.1. Prejuízo

Não há nulidade se não houver prejuízo (artigo 563 do CPP). Esse princípio aplica-

se à nulidade relativa, na qual precisa ser demonstrado o prejuízo, pois, na nulidade

absoluta, esse é presumido.

No processo penal, a falta de defesa acarreta a nulidade absoluta e a defesa

deficiente produz nulidade relativa (ver a Súmula n. 523 do Supremo Tribunal Federal).

Exemplo: réu não tem defensor constituído e o juiz não nomeia um defensor dativo, ou

esse é nomeado e nada faz no processo; ; o réu fica indefeso, acarretando nulidade

absoluta.

2.2. Interesse

Ninguém pode alegar nulidade que só interesse à parte contrária (artigo 565 do

CPP). Esse princípio só se aplica à nulidade relativa, pois a absoluta pode ser alegada por

qualquer pessoa.

Ninguém pode argüir nulidade para a qual tenha concorrido ou dado causa. Como

exceção o Ministério Público pode argüir nulidades que interessem somente à defesa.164

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2.3. Instrumentalidade das Formas

Não se declara a nulidade de ato que não influiu na apuração da verdade real e na

decisão da causa (artigo 566 do CPP) e também de ato que, apesar de praticado de forma

diversa da prevista, atingiu sua finalidade (artigo 572, inciso II, do CPP).

2.4. Causalidade ou Conseqüencialidade

Segundo o artigo 573, § 1.º, do Código de Processo Penal: “A nulidade de um ato,

uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam

conseqüência”. Todos os atos visam a sentença; os atos processuais são entrelaçados entre

si. Assim, se um ato é nulo, os demais que dele dependam também o serão.

O juiz deve declarar expressamente quais são os atos contaminados.

A Professora Ada Pellegrini Grinover estabelece duas regras úteis para saber se há

contaminação dos atos subseqüentes:

A nulidade dos atos da fase postulatória, como regra, anula todo o processo.

Exemplo: nulidade na denúncia, citação.

A nulidade de atos da fase instrutória, via de regra, não contamina os demais

atos da mesma fase processual. Exemplo: laudo elaborado por um só perito.

Observação: tribunal reconhecer a nulidade relativa, ela deve ser apresentada nas

alegações finais (artigo 500 do CPP). Apenas será anulada a sentença; a inquirição de

testemunhas não precisa ser anulada.

2.5. Convalidação

Todas as nulidades no processo penal admitem convalidação, até mesmo as

absolutas. Somente as nulidades relativas precluem se não argüidas no momento oportuno.

Entretanto, existem outras formas de convalidação além da preclusão. O Código de

Processo Penal elenca três formas de convalidação:

Ratificação: prevista no artigo 568 do Código de Processo Penal. É uma maneira

de se convalidar a nulidade decorrente de ilegitimidade de parte. Se a parte

legítima comparecer e ratificar os atos anteriormente praticados, a nulidade se 165

Page 167: Direito Processual Penal.doc

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convalida.

A ilegitimidade pode ser: ad causae ou ad processum.

- Ilegitimidade ad causae: Exemplo: o Ministério Público oferece denúncia em

crime de ação penal privada.

- Ilegitimidade ad processum: Exemplo: a queixa na ação penal privada é

apresentada pela vítima menor de 21 anos ou por um terceiro que não é o representante

legal da vítima.

A ratificação só é possível na ilegitimidade ad processum tratando-se essa de

nulidade relativa.

Suprimento: de acordo com o artigo 569 do Código de Processo Penal “As

omissões da denúncia ou da queixa, ... poderão ser supridas a todo o tempo,

antes da sentença final.” É a maneira de se convalidar possíveis omissões

constantes na denúncia ou na queixa.

Substituição: segundo o artigo 570 do Código de Processo Penal é a maneira de

convalidar nulidades da citação, intimação ou notificação. Exemplo: réu

processado é procurado em um dos seus endereços, mas não é encontrado. Em

vez de procurá-lo nos demais endereços, o juiz ordena a citação por edital. No

dia do interrogatório, o réu comparece para argüir a nulidade da citação.

Convalesce o vício e é aberto novo prazo para apresentação da defesa. A medida

deveria ter sido realizada de uma forma, mas foi substituída por outra.

3. NULIDADES EM ESPÉCIE

O artigo 564 do Código de Processo Penal apresenta os seguintes casos de nulidade:

I – Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;

Incompetência

Competência é a medida da jurisdição.

A competência em razão da jurisdição (comum ou especializada), da hierarquia e da

matéria, assim como a competência recursal, são hipóteses de competência absoluta,

imodificáveis pelas partes (questões de ordem pública). A não-observância dessas regras

de competência acarreta nulidade absoluta do processo; o vício não se convalida, podendo

ser reconhecido a qualquer tempo, de ofício, independentemente da demonstração do 166

Page 168: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

prejuízo.

A competência em razão do foro territorial, por ser relativa, depende de argüição da

parte, sob pena de preclusão, com a prorrogação da competência. Nesse caso, o vício é

sanável.

Sendo reconhecida a incompetência relativa, serão anulados apenas os atos em que

exista decisão de mérito.

Suspeição e suborno do juiz

O impedimento no processo penal é gerador de inexistência e não somente de

nulidade dos atos praticados. A suspeição acarreta a nulidade absoluta do ato. O juiz deve

declarar-se suspeito ou impedido quando for o caso; se não o fizer, o vício pode ser argüido

por qualquer das partes (artigo 112 do CPP). “Não aceitando a argüição, o juiz mandará

autuar em apartado a petição; dará a sua resposta dentro de três dias, podendo instruí-la e

oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos,

dentro de vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento (CPP,

artigo 100). Julgada procedente a exceção de suspeição, ficarão nulos todos os atos

praticados (CPP, artigo 101)”6.

O suborno ou peita é a pratica dos crimes de concussão (artigo 316 do CP),

corrupção passiva (artigo 317 do CP) e corrupção ativa (artigo 333 do CP). Também é

causa geradora da nulidade absoluta do ato.

II – Por ilegitimidade de parte;

A ilegitimidade pode ser:

Ad Causam: o autor não é o titular da ação ajuizada, ou o réu não pode integrar a

relação jurídica processual (por ser inimputável, ou por não ter evidentemente

concorrido para a prática do fato típico e ilícito). O vício jamais se convalida

nesse caso; trata-se de nulidade absoluta e insanável.

Ad Processum: é a falta da capacidade postulatória do querelante (exemplo: o

querelante leigo assina sozinho a queixa-crime), ou é sua incapacidade para estar

em Juízo (exemplo: o ofendido, menor de 18 anos, ajuíza a ação privada sem

estar representado por seu representante legal). Essa nulidade pode ser sanada

6 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 624.167

Page 169: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

pela ratificação dos atos processuais (artigo 568 do CPP). Configura nulidade

relativa.

III – Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes;

Falta do preenchimento dos requisitos no oferecimento da denúncia ou queixa

(artigo 41 do CPP), na representação do ofendido ou na requisição do Ministro

da Justiça.

Falta de exame de corpo de delito nos delitos não-transeuntes, isto é, aqueles que

deixam vestígios. “A jurisprudência não tem pronunciado essa nulidade ante a

falta do exame de corpo de delito, direto ou indireto, optando por absolver o réu,

por insuficiência de provas. Entendemos, contudo, que, mesmo não tendo sido

realizado o exame pericial, caso sua elaboração ainda seja possível, deve o juiz

determiná-la, nos termos dos artigos 156, parte final, e 502 do Código de

Processo Penal, ao invés de simplesmente proferir a decisão absolutória, sob

pena de ser nula a sentença, nos termos do artigo 564, III, “b”. Nesse sentido:

STF, RT 672/388”7.

Falta de nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de

curador ao réu menor de 21 anos (artigo 261 do CPP). O entendimento

dominante é o de que a falta de nomeação de curador causa nulidade relativa;

no entanto, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou em sentido contrário.

A falta de nomeação de defensor configura nulidade absoluta.

Falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação penal

pública ou subsidiária.

Falta ou nulidade de citação do réu para se ver processar. A falta ou nulidade da

citação ficará sanada desde que o interessado compareça antes de o ato

consumar-se (artigo 570 do CPP). A citação em hora certa, no processo penal, é

causa de nulidade absoluta.

Falta do interrogatório do acusado.

Falta de concessão de prazo para a defesa prévia, para o oferecimento de alegações

finais, ou para a realização de qualquer ato da acusação ou da defesa.

7 CAPEZ, Fernando. Op. cit. p. 632.168

Page 170: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Falta de sentença.

São causas de nulidade no procedimento do Júri:

a) Falta, omissão ou irregularidade na sentença de pronúncia, no libelo ou na

entrega de cópia do libelo ao réu.

b) Falta de intimação do réu para julgamento no Júri.

c) Falta de intimação de testemunhas arroladas no libelo ou na contrariedade.

d) Presença de pelo menos 15 jurados para a constituição do Júri.

e) Falta ou irregularidade no sorteio dos jurados.

f) Quebra na incomunicabilidade dos jurados.

IV – Por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.

Formalidade essencial é aquela sem a qual o ato não atinge a sua finalidade.

Exemplo: a denúncia que não descreve o fato com todas as suas circunstâncias.

Pelo princípio da instrumentalidade das formas, não se anula o processo por falta de

formalidade irrelevante.

Observação: contra a decisão que anula o processo no todo ou em parte, em virtude

de nulidade relativa ou absoluta, cabe recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso XIII, do

CPP).

MÓDULO XXIII

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Recursos

1. RECURSOS

1.1. Introdução

O Professor Fernando Capez8 ensina que: “recurso é a providência legal imposta

ao juiz ou concedida à parte interessada, consistente em um meio de se obter nova

apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de corrigi-la, modificá-la ou

8 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 384.169

Page 171: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

confirmá-la. Trata-se do meio pelo qual se obtém o reexame de uma decisão”.

1.2. Características

O recurso é meio voluntário; é extensão do direito de ação. O Poder Judiciário só

atua se provocado. Ao prolatar a sentença, o órgão jurisdicional entrega a prestação

tornando-se inerte. Logo, para que volte a apreciar a questão, deve ser provocado

novamente com a interposição de um recurso. A inércia da jurisdição é a garantia da

imparcialidade.

O princípio da voluntariedade do recurso é mitigado pelo recurso de ofício (recurso

obrigatório, recurso necessário), ou seja, o juiz deve interpor recurso da decisão.

A natureza jurídica do reexame necessário é uma condição de eficácia da decisão,

não transitando em julgado a sentença em que tiver sido omitido.

O artigo 574 do Código de Processo Penal estabelece: “Os recursos serão

voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos de ofício,

pelo juiz:

I – da sentença que conceder habeas corpus;

II – da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de

circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do artigo 411."

Há outras hipóteses de cabimento de recurso de ofício, além das mencionadas no

artigo 574 do Código de Processo Penal:

sentenças absolutórias referentes aos crimes contra a economia popular ou

a saúde pública;

despachos que determinarem o arquivamento dos autos do inquérito

policial referentes a esses crimes;

indeferimento in limine da revisão pelo relator que dará recurso para as

câmaras reunidas ou para o tribunal (artigo 625, § 3.º, do Código de Processo

Penal);

decisão que conceder a reabilitação.

170

Page 172: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

1.3. Classificação dos Recursos

1.3.1. Quanto ao conteúdo

Total ou pleno: quando se questiona toda a decisão. O órgão ad quem reexaminará

toda a decisão.

Parcial ou restrito: quando se questiona apenas parte da decisão. Será reexaminada

pelo tribunal apenas a parte impugnada.

1.3.2. Quanto às fontes informativas

Constitucionais: previstos pela Constituição Federal com a finalidade de levar

aos tribunais superiores o conhecimento ou a defesa dos direitos fundamentais do

indivíduo.

Legais: previstos no Código de Processo Penal e nas leis processuais especiais.

Regimentais: instituídos nos regimentos dos tribunais.

1.3.3. Quanto à motivação

Ordinário: é o recurso que visa à defesa de um direito subjetivo. Baseia-se no mero

inconformismo.

Extraordinário: é o recurso que possui requisitos próprios, como, por exemplo,

protesto por novo júri.

Pressupostos Recursais

Pressupostos recursais são os requisitos de admissibilidade que o recurso deve

possuir.

1.4.1. Pressupostos objetivos

a) Cabimento

O recurso deve estar previsto em lei.

b) Adequação

Não basta que o recurso esteja previsto em lei; é necessário que seja adequado à 171

Page 173: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

decisão que se deseja impugnar. Esse pressuposto confere lógica ao sistema recursal.

Cada decisão, em regra, só comporta um recurso, em face da aplicação do princípio

da unirrecorribilidade das decisões. Esse princípio, da irrecorribilidade das decisões, é

mitigado por algumas exceções legais, como, por exemplo, protesto por novo júri pelo

crime doloso contra a vida e apelação pelo crime conexo; interposição simultânea de

recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal e de recurso especial ao Superior

Tribunal de Justiça.

P.: Qual a conseqüência para a parte que interpõe recurso incorreto?

R.: O recurso, ainda que inadequado, pode ser recebido e conhecido pelo princípio

da fungibilidade. É exceção ao princípio da adequação (artigo 579 do Código de Processo

Penal). Portanto, o recurso, mesmo equivocado, deve ser oferecido dentro do prazo correto

e que não esteja de má-fé o recorrente.

c) Regularidade formal

O Código de Processo Penal estabelece a forma segundo a qual o recurso deve ser

interposto. São formalidades legais para o recurso ser recebido. Ex.: a apelação pode ser

interposta por petição ou por termo nos autos.

d) Tempestividade

O recurso deve ser interposto no prazo legal. Os prazos começam a correr a partir do

primeiro dia útil após a intimação, e, conforme prevê a Súmula n. 310 do Supremo

Tribunal Federal: “quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com

efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira

imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que

se seguir”.

No caso de carta precatória, o prazo é contado a partir da juntada da carta aos autos

do processo.

e) Ausência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer172

Page 174: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Fatos impeditivos são aqueles que impedem a interposição do recurso ou seu

recebimento, quais sejam:

Renúncia: é ato de disposição, ou seja, abre-se mão do direito de recorrer. É diferente

de deixar escoar o prazo sem interpor recurso. Na renúncia há manifestação expressa

nesse sentido.

O Ministério Público não pode renunciar.

A renúncia antecipa o trânsito em julgado.

P.: Em sentença condenatória, o defensor e o réu têm de ser intimados da sentença e

ambos podem interpor recurso. Se houver divergência de vontades, um deles quer

renunciar e o outro não, qual prevalece?

R.: Na doutrina, prevalece entendimento de que a vontade do acusado deve

prevalecer sobre a do defensor. Na jurisprudência, sustenta-se que prevalece a vontade

técnica do defensor. Há, no entanto, entendimento que sustenta prevalecer a vontade

daquele que quer recorrer, com base na garantia da ampla defesa.

Não recolhimento à prisão nos casos previstos em lei (artigo 594 do Código de

Processo Penal).

Fatos extintivos são fato supervenientes à interposição do recurso:

Desistência: é ato de disposição, porém sempre posterior à interposição do recurso.

O Ministério Público não pode desistir dos recursos interpostos (artigo 576 do

Código de Processo Penal).

Deserção: ato de abandonar o recurso. Pode ocorrer pelo não pagamento das custas

processuais (artigo 806, § 2.º, do Código de Processo Penal).; ou pela fuga do réu no

caso de apelação, sempre quando for negada a possibilidade de apelar em liberdade.

1.4.2. Pressupostos subjetivos

a) Legitimidade

A legitimidade refere-se às partes legítimas para interposição do recurso (artigo 577 173

Page 175: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

do Código de Processo Penal).

b) Interesse jurídico

O interesse deriva da sucumbência. A sucumbência ocorre sempre que a parte teve

frustrada alguma expectativa legítima. Estabelece o parágrafo único do artigo 577 do

Código de Processo Penal: “não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver

interesse na reforma ou modificação da decisão”.

2. APELAÇÃO

2.1. Conceito

O Professor Fernando Capez9 ensina que apelação é: “recurso interposto da sentença

definitiva ou com força de definitiva, para a segunda instância, com o fim de que se

proceda ao reexame da matéria, com a conseqüente modificação parcial ou total da

decisão”.

2.2. Classificação

2.2.1. Quanto à extensão

Ampla ou plena: devolve o conhecimento pleno de toda a matéria decidida.

Restrita, limitada ou parcial: impugna tópicos da sentença; pede-se apenas o

reexame de parte da decisão.

O que fixa a extensão da apelação é o ato de interposição. Caso isso não ocorra

entende-se que a apelação foi total.

2.2.2. Quanto ao procedimento

Ordinária: ocorre nos casos de apelação de crimes punidos com reclusão (artigo

613 do Código de Processo Penal).

Sumária: ocorre nas contravenções e nos crimes punidos com detenção.

9 Op. cit. p. 403.174

Page 176: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

2.3. Hipóteses de Cabimento da Apelação

2.3.1. Decisões proferidas por juiz singular

São hipóteses em que cabe a apelação:

decisões definitivas de condenação ou absolvição;

decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos

casos não previstos no artigo 581 do Código de Processo Penal, pois a apelação

tem caráter subsidiário;

P.: Todas as decisões condenatórias e absolutórias são apeláveis?

R: O fato de serem apeláveis não significa que são sinônimos de recorríveis. Todas

as decisões condenatórias e absolutórias são recorríveis, mas nem todas apeláveis. A

decisão de absolvição sumária no júri é recorrível mediante recurso em sentido estrito e

não apelação (artigo 581, inciso VI, do Código de Processo Penal).

2.3.2. Decisões proferidas pelo júri (artigo 593, inciso III, §§ 1.º a 3.º, do Código de

Processo Penal)

Nas decisões proferidas pelo júri, a apelação é cabível se prevista em uma das

hipóteses do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal:

Nulidade posterior à pronúncia: a nulidade posterior, se relativa, o momento de

arguição é imediatamente depois de anunciado o julgamento e apregoada as

partes. Se o tribunal reconhecer a nulidade anula o ato e todos os demais dele

decorrente (artigo 571, inciso VI, do Código de Processo Penal). Se a nulidade

relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo após

a sua ocorrência, sob pena de ser convalidada (artigo 571, inciso VIII, do

Código de Processo Penal).

Decisão contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados.

Quando houver erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de

segurança.

Decisão dos jurados manifestamente contrária a prova dos autos: decisão

arbitrária. Essa apelação só é cabível uma vez.

2.4. Artigo 593, § 4.º, do Código de Processo Penal175

Page 177: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

Quando de parte da decisão for cabível apelação e de outra parte for cabível recurso

em sentido estrito, o único recurso cabível será a apelação, ainda que se recorra somente de

parte da decisão. A apelação absorve o recurso em sentido estrito.

2.5. Apelação na Lei n. 9.099/95

Hipóteses de cabimento:

sentença do procedimento sumaríssimo;

sentença homologatória da transação penal;

rejeição da denúncia ou da queixa no procedimento sumaríssimo.

O prazo dessa apelação é de 10 dias para a interposição e apresentação das razões de

apelação.

2.6. Efeitos da Apelação no Código de Processo Penal

Os efeitos da apelação no Código de Processo Penal são:

Devolutivo (tantum devolutum quantum appellatum): o Judiciário irá

reexaminar a decisão; devolve-se o conhecimento da matéria à instância

superior.

Suspensivo: efeito que impede que a decisão proferida produza efeitos, que seja

eficaz. Obsta os efeitos da sentença.

Regressivo: efeito que permite ao próprio órgão prolator da decisão reexaminá-

lo. Permite o juízo de retratação. A apelação do Código de Processo Penal não

tem efeito regressivo.

Extensivo: todos os recursos nos processos penais têm esse efeito (artigo 580 do

Código de Processo Penal). A decisão proferida no recurso interposto por um

co-réu beneficia os demais que não recorreram, salvo se o recurso for fundado

em motivos de ordem pessoal.

2.7. Reformatio in Pejus

A reformatio in pejus é a situação na qual o réu tem a sua situação prejudicada em

razão de recurso exclusivo da defesa. A reformatio in pejus é proibida com base no 176

Page 178: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

princípio do “tantum devolutum quantum appellatum”, segundo o qual só é devolvido ao

tribunal o pedido recursal. O tribunal só pode reexaminar o que foi pedido. Ex.: a defesa

recorre pedindo a absolvição. O tribunal nega a absolvição e coloca uma agravante.

O artigo 617 do Código de Processo Penal proíbe expressamente a reformatio in

pejus.

2.7.1. Reformatio in pejus indireta

Segundo ensinamento do Professor Fernando Capez10: “anulada sentença

condenatória em recurso exclusivo da defesa, não pode ser prolatada nova decisão mais

gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condenado a um ano de reclusão apela e obtém

a nulidade da sentença; a nova decisão poderá impor-lhe, no máximo, a pena de um ano,

pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente pelo seu recurso. Este é o

entendimento pacífico do STF (RTJ 88/1018 e 95/1081).

(...)

Obs.: No caso de a sentença condenatória ter sido anulada em virtude de recurso da defesa,

mas, pelo vício da incompetência absoluta, a jurisprudência não tem aceitado a regra da

proibição da reformatio in pejus indireta (...)”.

2.7.2. Reformatio in pejus no júri

A lei que proíbe a reformatio in pejus (artigo 617 do Código de Processo Penal) não

pode prevalecer sobre o princípio constitucional da soberania dos veredictos.

Anulado o júri, em novo julgamento, os jurados poderão proferir qualquer decisão.

Se o réu foi pronunciado e condenado por homicídio simples, a defesa interpõe

apelação. O tribunal dá provimento e anula o primeiro julgamento. No segundo julgamento

o júri condena por homicídio qualificado. Houve reformatio in pejus, a pena aumentou só

por recurso da defesa, e, no caso, reformatio in pejus indireta.

2.8. Reformatio in Mellius

A reformatio in mellius ocorre quando o tribunal melhora a situação do réu em

recurso exclusivo da acusação.

10 Op. cit. p. 419.177

Page 179: Direito Processual Penal.doc

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Parte da doutrina sustenta que é possível a reformatio in mellius, com base no

próprio artigo 617 do Código de Processo Penal, que apenas proíbe a reformatio in pejus.

2.9. Processamento da Apelação

O prazo para a interposição da apelação, segundo o Código de Processo Penal, como

regra é de cinco dias, salvo para o assistente de acusação não-habilitado, pois o Supremo

Tribunal Federal manteve posicionamento no sentido de que o prazo é de cinco dias, a

contar da intimação, para assistente habilitado, e 15 dias, após o vencimento do prazo para

o Ministério Público apelar, para o não-habilitado.

A apelação é interposta por termo ou petição, no juízo que proferiu a decisão. Ele

fará o exame do preenchimento dos pressupostos recursais. Se o juiz denegar a apelação ou

a julgar deserta, caberá recurso em sentido estrito (artigo 581, inciso XV, do Código de

Processo Penal).

Interposta a apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de oito dias

cada um para oferecer razões (exceto nos processos de contravenção em que o prazo será

de três dias).

Após a apresentação das razões ou contra-razões do Ministério Público, se houver

assistente, este arrazoará, no prazo de três dias.

Se a ação penal for movida pelo ofendido, o Ministério Público oferecerá suas

razões, em seguida, pelo prazo de três dias.

Com as razões ou contra-razões, podem ser juntados documentos novos.

O artigo 576 do Código de Processo Penal estabelece que: “O Ministério Público

não poderá desistir de recurso que haja interposto”.

Inexiste juízo de retratação na apelação.

É praticamente pacífico que a apresentação tardia das razões de apelação não

impede o conhecimento do recurso.

2.10. Artigo 600, § 4.º, do Código de Processo Penal

O § 6.º do artigo 600 do Código de Processo Penal estabelece que: “Se o apelante

declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na superior 178

Page 180: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta vista às partes,

observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial”.

O apelante pode requerer a apresentação das razões no tribunal.

MÓDULO XXIV

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. DOS RECURSOS (II TOMO)

1.1. Recurso em Sentido Estrito (art. 581 e ss. do CPP)

O recurso em sentido estrito é interposto em primeira instância e classifica-se em:

Recurso em sentido estrito pro et contra: o recurso é cabível em ambas as

hipóteses de sucumbência. Exemplos: artigo 581, inciso IV, do Código de

Processo Penal - da pronúncia ou impronúncia; artigo 581, inciso X, do Código

de Processo Penal - da decisão que concede ou nega habeas corpus.

Recurso em sentido estrito secundum eventum litis: o recurso só é admitido em

uma das hipóteses de sucumbência. Ex.: artigo 581, inciso I, do Código de

Processo Penal - da decisão que rejeita a denúncia ou a queixa (se houver

recebimento, não cabe recurso).

1.1.1. Hipóteses de cabimento

O artigo 581 traz o rol de cabimento do recurso em sentido estrito. Esse rol é

taxativo?

A doutrina e a jurisprudência tradicionais consideram esse rol como taxativo. De

uns tempos para cá está ocorrendo uma leve flexibilização na interpretação do rol do artigo

581 do Código de Processo Penal. Isso porque esse diploma é de 1941, e o rol do recurso

em sentido estrito não acompanhou as mudanças por ele sofridas. Tal fato vem motivando

o entendimento de que, ainda que o rol seja taxativo, admite-se a interpretação extensiva e

a aplicação analógica.

Ex.: A jurisprudência majoritária entende ser cabível recurso em sentido estrito da

179

Page 181: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

decisão que suspende o processo nos termos do artigo 366 por analogia ao inciso XVI do

artigo 581, ambos do Código de Processo Penal.

Segundo o rol do artigo 581 do referido diploma, caberá recurso, no sentido estrito,

da decisão, despacho ou sentença:

I) Que não receber a denúncia ou a queixa

Se o juiz recebe a denúncia, cabe habeas corpus. Se rejeita, cabe recurso em sentido

estrito.

Rejeitada denúncia de crime previsto na Lei n. 9099/95 cabe apelação no prazo de

dez dias.

Tratando-se de crime previsto na Lei n. 5.250/67, se o juiz recebe a denúncia ou a

queixa, cabe recurso em sentido estrito; se rejeita, cabe apelação no prazo de cinco dias.

É necessário intimação do acusado para apresentar contra-razões, no caso do recurso em

sentido estrito, pelo fato do juiz não receber a denúncia?

O Código de Processo Penal não exige essa providência. Houve quem sustentasse a

aplicação do Código de Processo Civil subsidiariamente, pois, antes da reforma do Código

de Processo Civil em 1994, o acusado era intimado para contra-razoar. Hoje, com a

reforma do Código de Processo Civil, não se aplica mais essa regra.

II) Que concluir pela incompetência do juízo

Nesse caso, o juiz reconhece de ofício a incompetência.

“Para parte da doutrina, da sentença que desclassifica o crime de competência do

Júri, para crime não doloso contra a vida, cabe recurso em sentido estrito com base nesse

fundamento, pois o juiz está, na verdade, concluindo pela incompetência do Júri.”11

III) Que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição

A decisão a respeito da exceção de suspeição é irrecorrível. As exceções podem ser

de: litispendência, coisa julgada e ilegitimidade de parte.

Esse inciso trata de recurso em sentido estrito secundum eventum litis. Só são

recorríveis as decisões que julgarem procedentes as exceções.

IV) Que pronunciar ou impronunciar o réu

11 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.180

Page 182: Direito Processual Penal.doc

_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

V) Que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir

requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou

relaxar a prisão em flagrante

A cassação ocorre quando se verifica que a fiança anteriormente concedida não era

cabível.

Fiança inidônea é aquela prestada – por engano – em quantia insuficiente ou cujo

valor se depreciou com o tempo, havendo necessidade de ser reforçada, sob pena de ficar

sem efeito.

Atenção: lembre-se que em 90% dos casos referentes à fiança o recurso cabível é o

recurso em sentido estrito. E, nos casos de prisão e liberdade provisória, lembre-se que só

cabe o recurso em sentido estrito quando a acusação for sucumbente; se a defesa for

sucumbente não cabe.

VI) Que absolver o réu sumariamente

Trata-se da única sentença absolutória que não é apelável.

VII) Que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor

A quebra da fiança ocorre quando (arts. 328 e 341 do CPP):

o réu descumpre as obrigações às quais se submete;

pratica outra infração penal na vigência do benefício.

Artigo 343 do Código de Processo Penal: “O quebramento da fiança importará a

perda de metade do seu valor e a obrigação, por parte do réu, de recolher-se à prisão,

prosseguindo-se, entretanto, à sua revelia, no processo e julgamento, enquanto não for

preso”.

A perda do valor se dá quando o réu condenado não se recolhe à prisão (art. 344 do

CPP).

VIII) Que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade

IX) Que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa 181

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_____________________________________________________________________________ MÓDULOS

extintiva da punibilidade

Exceção: durante a fase de execução, o recurso cabível será o agravo (art. 197 da

LEP).

X) Que conceder ou negar a ordem de habeas corpus

Atenção: o dispositivo refere-se somente à decisão do juiz de primeirainstância.

Normalmente, o habeas corpus é julgado no tribunal. Do acórdão denegatório de habeas

corpus proferido pelos Tribunais Regionais Federais e pelos tribunais dos Estados cabe

recurso ordinário para o Superior Tribunal de Justiça. Se a sentença concede o habeas

corpus, há o reexame necessário.

XI) Revogado pela Lei de Execução Penal

XII) Revogado pela Lei de Execução Penal

XIII) Que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte

XIV) Que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir

Atenção: nesse caso, o prazo para interposição do recurso em sentido estrito é de 20

dias. A legitimidade é de qualquer do povo. O órgão competente para o julgamento é o

presidente do Tribunal de Justiça.

XV) Que denegar a apelação ou julgar deserta

XVI) Que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial

XVII) Revogado pela Lei de Execução Penal

XVIII) Que decidir o incidente de falsidade

É a decisão – definitiva – que julga o incidente de falsidade documental.

O recurso em sentido estrito disposto nesse inciso é pro et contra.182

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XIX ao XXIII) Revogados pela Lei de Execução Penal

XXIV) Esse inciso já estava revogado pela Lei de Execução Penal. Atualmente, em

virtude da Lei n. 9.268/96, nem o juiz das execuções pode proferir decisão convertendo a

multa em prisão.

1.1.2. Efeito do recurso em sentido estrito

a) Devolutivo: todos os recursos têm esse efeito; a decisão é reapreciada.

b) Suspensivo: como regra, o recurso em sentido estrito não possui efeito

suspensivo, salvo o artigo 584 do Código de Processo Penal. Assim, o recurso em sentido

estrito terá efeito suspensivo se interposto contra:

decisão que denegue conhecimento à apelação ou a julgue deserta;

decisão que declare perdido o valor da fiança;

decisão de pronúncia apenas no tocante ao julgamento do réu pelo júri;

decisão que determine quebra da fiança somente no tocante a perda da metade de seu

valor.

c) Regressivo: o recurso em sentido estrito permite ao órgão prolator da decisão que

se retrate.

d) Extensivo: o recurso em sentido estrito possui esse efeito (art. 580).

1.1.3. Processamento do recurso em sentido estrito

O prazo para interposição do recurso em sentido estrito, em regra, é de cinco dias

(art. 586 do CPP). Exceções:

15 dias, no caso de recurso contra pronúncia interposto pelo assistente de

acusação não-habilitado nos autos;

20 dias, contra a decisão que inclui ou exclui jurado da lista-geral (art. 586, par.

ún., do CPP).

Se o recurso em sentido estrito não for recebido, contra essa decisão é cabível a 183

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carta testemunhal.

Se o recurso em sentido estrito for recebido, intima-se o recorrente para apresentar

as razões e o recorrido para apresentar as contra-razões.

O juiz vai então reexaminar sua decisão podendo mantê-la ou se retratar. Caso ele

mantenha a sua decisão, o recurso sobe para o tribunal competente; caso ele se retrate,

intima as partes da nova decisão.

O prazo para a apresentação das razões, contra-razões e retratação é sempre de dois

dias.

Em segunda instância o recurso em sentido estrito segue o rito da apelação sumária.

O prejudicado com a retração pode interpor recurso cabível no prazo de cinco dias e

o recurso subirá diretamente ao tribunal, independentemente de razões ou contra-razões

(art. 589, par. ún., do CPP).

A nova decisão pode não ser impugnada por recurso em sentido estrito.

Ex.: se o juiz indefere um requerimento de prisão preventiva, oMinistério Publico

interpõe recurso em sentido estrito. O juiz retrata-se e defere a prisão. As partes são

intimadas. A defesa só pode impetrar habeas corpus, mas não recurso em sentido estrito.

O recurso em sentido estrito poderá subir nos próprios autos do processo ou em

autos apartados. Nesse último caso, faz um instrumento que será examinado pelo tribunal.

O recurso em sentido estrito sobe nos próprios autos nos seguintes casos (art. 583 do

CPP):

quando interpostos de ofício;

nos casos do artigo 581, incisos I, III, IV, VI, VIII e X;

quando o recurso não prejudicar o andamento do processo.

2. PROTESTO POR NOVO JÚRI (ARTS. 607 E 608 DO CPP)

O protesto por novo júri possui as seguintes características:

é um recurso exclusivo das decisões do júri;

é um recurso exclusivo da defesa;

só pode ser interposto uma vez;

é um recurso que dispensa a fundamentação;184

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é interposto perante o juiz-presidente julgado por ele mesmo.

Hipótese de cabimento: o protesto por novo júri será cabível sempre que houver

condenação a uma pena de reclusão igual ou superior a 20 anos por um só crime, segundo

entendimento da doutrina e da jurisprudência .

Obs. : cabe protesto por novo júri quando a pena imposta for em grau de apelação?

Está em vigor o artigo 607, § 1.º, do Código de Processo Penal?

Pelo artigo 607, § 1.º, do Código de Processo Penal não cabe o protesto por novo

júri quando a pena imposta for em grau de apelação. Esse artigo faz, todavia, uma remição

expressa ao artigo 606 do mesmo diploma, artigo esse revogado desde 1948. Em razão

disso, a posição dominante entende que a revogação expressa do artigo 606 do Código de

Processo Penal produziu a revogação tácita do artigo 607, § 1.º. A posição minoritária

(Professor Tourinho) afirma que o artigo 607, § 1.º, está em vigor, pois sua regra é

compatível com os demais dispositivos do Código de Processo Penal: quando da revogação

do artigo 606 do Código de Processo Penal a regra nele contida foi deslocada para o artigo

593 do Código de Processo Penal; logo, onde está escrito artigo 606, leia-se artigo 593 e

parágrafos do Código de Processo Penal. Para tal corrente não se trata de revogação, mas

sim de uma remição não atualizada.

2.1. Concurso de Crimes

Atenção: assunto muito abordado em concursos públicos.

Concurso material: se a pena igual ou superior a 20anos resultar de concurso

material, não será cabível protesto (as penas devem ser consideradas isoladamente para o

protesto).

Crime continuado e concurso formal: se a pena igual ou superior a 20 anos resultar

de concurso formal e crime continuado, admite-se o protesto. Entende-se que em tais

situações prevalece a unidade da conduta ou a ficção legal.

2.2. Processamento

O prazo de interposição é de cinco dias.

É interposto perante o juiz-presidente. O juiz-presidente pode admitir o protesto ou 185

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indeferi-lo.

Se o juiz admite o protesto, desde logo marca novo júri. Não há apresentação de

razões ou contra-razões.

No novo julgamento não poderão fazer parte do Conselho de Sentença os jurados

que já tenham tomado parte no julgamento anterior (art. 607, § 3.º, do CPP). A Súmula n.

206 do Supremo Tribunal Federal estende essa regra a qualquer caso de novo julgamento.

Da decisão que indefere o protesto, qual a medida cabível?

São duas as posições:

Carta Testemunhável: esse recurso destina-se a promover o reexame do recurso

indeferido.

Habeas Corpus: corrente defendida pelos Professores Vicente Greco e

Frederico Marques. Essa corrente entende não ser cabível a carta testemunhável

pelo fato do seu rito ser o mesmo do recurso indeferido. No protesto, a carta

seria interposta no próprio juízo e por ele mesmo analisado. Para ser

reexaminado pelo órgão superior é necessário impetrar habeas corpus.

2.3. Artigo 607, § 2.º, do Código de Processo Penal

O pedido de protesto por novo júri provocará a revisão da decisão. Dessa forma ele

invalida qualquer outro recurso interposto, mesmo que seja recurso da acusação.

2.4. Artigo 608 do Código de Processo Penal

O protesto suspende a apelação até que haja o segundo julgamento. Isso acontece se

o réu for condenado por outro crime que não caiba protesto. Após a decisão do segundo

julgamento, julga-se a apelação.

Atenção: nesse caso, a defesa poderia apenas interpor o protesto, aguardar o novo

julgamento e depois apelar de tudo?

Não, porque se assim fizer, o crime em que não cabe o protesto transitará em

julgado; por isso a necessidade de se interpor o protesto e a apelação.

3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

O artigo 382 do Código de Processo Penal trata dos embargos de declaração contra 186

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a sentença. São os chamados “embarguinhos”.

Os artigos 619 e 620 do Código de Processo Penal tratam dos embargos de

declaração contra acórdão.

É possível a interposição dos “embarguinhos” também contra decisão interlocutória.

Toda decisão, sentença ou acórdão para ser impugnada por embargos de declaração

tem de ser omissa, contraditória, ambígua ou obscura.

O prazo para interposição dos embargos de declaração é de dois dias. Interposto os

embargos de declaração, aplica-se o Código de Processo Civil subsidiariamente, isto é,

interrompe-se o prazo dos demais recursos.

P.: É necessário a oitiva da parte contrária nos embargos de declaração?

R.: A jurisprudência dominante estabelece que a oitiva da parte contrária é

providência desnecessária, salvo quando os embargos tiverem caráter infringente, isto é,

efeito modificativo.

P.: Os embargos de declaração podem ter efeito modificativo?

R.: Sim, principalmente nos casos em que os embargos de declaração visarem sanar

omissão.

P.: Cabe embargos de declaração de embargos de declaração?

R.: Sim, desde que o segundo embargo vise suprir omissão da decisão do primeiro

embargo.

P.: Qual o recurso cabível quando o juiz não acolhe os embargos?

R.: Embargos em primeira instância: a parte deve argüir em preliminar de apelação

o equívoco da sentença. Embargos em segunda instância: contra acórdão, cabe agravo

regimental.

3.1. Embargos de Declaração na Lei n. 9.099/95

Os embargos de declaração serão opostos nesse caso, no prazo de cinco dias.

Opostos por escrito ou oralmente. Nesse caso, os embargos de declaração suspendem o 187

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prazo para os demais recursos.

4. EMBARGOS INFRINGENTES E EMBARGOS DE NULIDADE

Embargos de nulidade é o nome dado aos embargos infringentes quando a

divergência for relativa à decretação ou não de nulidade processual.

Os embargos só têm cabimento contra acórdão não unânime.

O voto vencido pode divergir total ou parcialmente. Se for parcial, somente quanto

ao tópico em que ocorreu a divergência serão interpostos os embargos.

A divergência se apura quanto à conclusão do voto e não quanto a sua

fundamentação.

No processo penal, os embargos infringentes configuram recurso exclusivo da

defesa. Assim, se dois votos absolvem e um voto condena o réu, a acusação foi

sucumbente e não cabe embargos infringentes.

Atenção: é necessário que o acórdão se refira ao julgamento de uma apelação ou

recurso em sentido estrito.

Não cabe embargos infringentes de decisão não unânime em habeas corpus.

Processamento:

interposição em 10 dias;

oitiva do querelante ou do assistente de acusação se houver – também em 10 dias;

parecer do Procurador-Geral de Justiça;

parecer do relator;

parecer do revisor.

O relator e o revisor não podem ter participado do primeiro julgamento.

O relator e o revisor do primeiro julgamento podem modificar a sua decisão. Isso

porque a turma julgadora é composta de cinco desembargadores: três desembargadores que

proferiram a primeira decisão e o relator e o revisor. Dessa forma, podem manter ou

reformar a primeira decisão. Logo, os embargos infringentes têm efeito regressivo, diante

da possibilidade da mudança de voto de quem já votou.

188

Page 190: Direito Processual Penal.doc

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4.1. Embargos Infringentes nos Tribunais Superiores

No Superior Tribunal de Justiça não cabe embargos infringentes. Nesse tribunal,

só cabem embargos de declaração e divergência.

No Supremo Tribunal Federal há embargos infringentes no âmbito penal no

prazo de 15 dias. Cabe em três casos:

acórdão não unânime em ação penal julgada procedente;

acórdão que julga improcedente revisão criminal;

acórdão denegatório de recurso criminal ordinário (art. 102, inc. II, da CF).

5. CARTA TESTEMUNHÁVEL

A carta testemunhável surgiu na época do Brasil-Colônia: duas testemunhas

comprovavam que o recurso havia sido interposto.

As partes são chamadas :

testemunhante: parte que interpõe a carta.

testemunhado: juízo que indeferiu o seguimento, o processamento do recurso.

É cabível quando for denegado seguimento a recurso, não importando o motivo da

denegação.

Tem caráter residual. Só será cabível se não existir nenhuma outra medida

expressamente prevista para isso.

Exemplos:

Decisão denega apelação: interpõe-se recurso em sentido estrito;

Decisão denega recurso em sentido estrito: interpõe-se a carta testemunhável;

Decisão denega protesto por novo júri: para alguns, cabe a carta testemunhável;

para outros o habeas corpus;

Decisão denega embargos de declaração em primeira instância: preliminar de

apelação;

Denega embargos de declaração em segunda instância: agravo regimental;

Agravo em Execução: carta testemunhável.

5.1. Processamento

O prazo para a interposição da carta testemunhável é de 48 horas. Conta-se o prazo 189

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de minuto a minuto. O termo inicial para a interposição é a partir da intimação

desfavorável. Na prática, é impossível determinar o minuto inicial. Contam-se dois dias.

É interposto perante o escrivão. O escrivão é quem forma o instrumento. Trata-se de

função burocrática. Se ele se omite, fica sujeito a uma pena funcional de suspensão por 30

dias.

Formando o instrumento, o escrivão deve entregar a carta ao testemunhante. Após

isso, segue-se o rito do recurso indeferido. No tribunal, segue-se o rito da apelação

sumária.

Chegando ao tribunal, o disposto no Código de Processo Penal permite que o

mesmo, caso dê provimento à carta, admita o recurso indeferido e o julgue no mérito,

desde que a carta esteja devidamente instruída. É economia processual. O próprio tribunal

pode julgar no mérito.

Obs.: fim dos recursos no processo penal. A seguir estão algumas ações

impugnativas de decisão.

6. REVISÃO CRIMINAL

Os processualistas mais antigos, baseados no Código de Processo Civil, o

chamavam de recurso sui generis. Mas não é um recurso. É uma ação impugnativa

autônoma. Instaura-se nova relação jurídica processual com o seu ajuizamento. Não tem

prazo de interposição. Seu pressuposto é a decisão transitada em julgado.

É ação rescisória de coisa julgada penal, mas difere da ação rescisória civil.

Ação rescisória:

- prazo – preclusivo – 2 anos;

- pode ser ajuizada pelo autor, pelo réu ou por terceiros prejudicados.

Revisão Criminal:

- não há prazo para interposição;

- só pode ser ajuizada pela defesa;

- é sempre pró-réu.

190

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Se houve erro judicial que beneficiou o réu e transitou em julgado, essa decisão não

pode ser rescindida.

No pólo ativo figura o próprio réu pessoalmente (não precisa de advogado) ou o

procurador do réu (alguém em seu nome). Não é necessário procuração com poderes

especiais. Se o réu já faleceu, podem ingressar o cônjuge, o ascendente, o descendente ou o

irmão do mesmo. Nesse último caso, tutela-se o status dignitatis, isto é, a honra, a moral do

réu.

Para assegurar o status dignatis é possível entrar com revisão criminal:

quando o réu já faleceu;

quando o réu já cumpriu a pena.

P.: Se, no curso da revisão criminal, o réu morre quem assume a ação?

R.: O Código de Processo Penal estabelece que o presidente do tribunal deve

nomear um curador para prosseguir na ação. Esse curador pode ser o cônjuge, ascendente,

descendente ou irmão.

P.: O Ministério Público pode figurar no pólo ativo?

R.: Há polêmica na doutrina quanto ao assunto. Para a Professora Ada Pellegrini

Grinover, sim. Mas a posição dominante na doutrina e na jurisprudência é a de que não. O

Ministério Público pode impetrar habeas corpus, mas não revisão criminal.

Ao Ministério Público cabe ocupar o pólo passivo na revisão criminal em defesa da

coisa julgada.

P.: Quais são os fundamentos possíveis da revisão criminal? Qual é a causa de

pedir?

R: Conforme o artigo 621 do Código de Processo Penal são fundamentos:

a) Quando a decisão for contrária à letra expressa da lei ou contrária à evidência dos

autos. Nesse caso, a contrariedade precisa ser marcante, facilmente perceptível.

Atenção: se no final do julgamento da revisão criminal não se chega a uma certeza,

tendo-se apenas uma probabilidade da inocência, qual a solução?

Na revisão criminal vigora o princípio do in dubio pro societati. Na dúvida, a 191

Page 193: Direito Processual Penal.doc

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revisão será julgada improcedente.

Não cabe revisão criminal quando houver uma mudança na interpretação dos

tribunais. A contrariedade é somente a texto expresso de lei.

b) Quando a decisão se fundar em depoimentos, documentos ou exames falsos.

Devem ser comprovadamente falsos. Exige-se a prova pré-constituída da falsidade do

depoimento, documento ou exame.

P.: Como o requerente consegue uma prova pré-constituída?

R.: É possível que o autor dos crimes (do falso testemunho) tenha sido condenado.

Junta-se a cópia da decisão, da condenação ou por meio de justificação criminal. Segue o

rito do Código de Processo Civil. É com base nele que no Juízo Penal a justificação é

ajuizada.

c) Quando surgirem provas novas de inocência do réu ou causa de diminuição de

pena.

O pedido da revisão criminal é a rescisão da coisa julgada ou a correção da injustiça.

O tribunal possui juízo rescindente e rescisório.

Obs.: quando se reconhece na revisão criminal alguma nulidade processual o

tribunal limita-se a rescindir a coisa julgada. O processo é anulado. O juiz de primeiro grau

retomará o processo. Haverá nova sentença, salvo se ocorreu a prescrição.

P.: E a reformatio in pejus?

R.: A nova sentença não pode ser mais gravosa para o réu do que a sentença

rescindida. É a proibição da reformatio in pejus indireta.

P.: Sempre é possível o pedido de indenização por erro judiciário?

R.: Em alguns casos não. O autor da revisão precisa pedir expressamente. Não é um

efeito da revisão. Não é possível o pedido de indenização nos seguintes casos:

quando o réu de alguma forma colaborou na produção do documento falso;

quando o réu colaborou com a ocultação da prova.192

Page 194: Direito Processual Penal.doc

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Se o autor da ação limitar-se a pedir a diminuição da pena, nada impede que o

tribunal, se for o caso, absolva-o. Mas cabe ressaltar que no julgamento da revisão vigora o

princípio in dubio pro societati.

P.: É possível o ajuizamento de segunda revisão criminal?

R.: O ajuizamento só será possível se tiver outro fundamento.

Obs.: não cabe revisão criminal de decisão de pronúncia. Não há coisa julgada

material.

6.1. Competência

Cada tribunal é competente para o julgamento de seus próprios julgados. Se a

decisão condenatória transitou em julgado na primeira instância, a revisão criminal deve

ser ajuizada no tribunal que tem competência recursal para aquela matéria.

6.2. Procedimento

A revisão criminal é uma ação. Inicia-se com o oferecimento da petição inicial,

acompanhada da certidão do trânsito em julgado e de algum documento que comprove as

alegações do autor. A prova é sempre pré-constituída, conforme o artigo 625, § 1.º, do

Código de Processo Penal.

É encaminhada ao presidente do tribunal, o qual pode indeferi-la liminarmente. Se

não indeferir, ele encaminha a um relator; este também pode indeferi-la liminarmente.

O Procurador-Geral dá um parecer em dez dias. É uma contestação defende a coisa

julgada.

A revisão volta para receber os pareceres do relator e do revisor, no prazo de dez

dias para cada. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, o relator e o revisor não podem ter

proferido nenhuma decisão no processo originário.

A revisão é julgada.

6.3. Recursos

Do indeferimento liminar da revisão criminal cabe recurso inominado – em São 193

Page 195: Direito Processual Penal.doc

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Paulo esse recurso é o agravo regimental.

Do acórdão que julga a revisão criminal cabe recurso especial ou recurso

extraordinário.

Obs.: cabe embargos infringentes do acórdão não-unânime que julga revisão

criminal?

Segundo o Código de Processo Penal não cabe. Exceção: cabe na revisão criminal

julgada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal.

P.: Cabe revisão criminal para rescindir sentença absolutória?

R.: Sim, no caso de absolvição imprópria.

P.: É requisito para a revisão criminal o prévio recolhimento do réu à prisão?

R.: Não, não é uma condição.

P.: A revisão criminal tem efeito suspensivo, isto é, suspende a execução da pena?

R.: Não. O ajuizamento da revisão criminal não suspende a execução da pena. Mas,

segundo os Professores Magalhães Noronha, Scarance e Ada Pellegrini Grinover, é

possível a aplicação subsidiária do artigo 273 do Código de Processo Civil, isto é, a

antecipação de tutela.

P.: A revisão criminal tem efeito extensivo? Por exemplo: três indivíduos são

condenados por homicídio. Um deles prova que o fato não ocorreu. Estende-se para os

demais?

R.: Sim, aplica-se o artigo 580 do Código de Processo Penal na revisão criminal.

7. HABEAS CORPUS (“Traga-me o Corpo”)

O habeas corpus teve sua origem na Magna Carta da Inglaterra, em 1215,

promulgada pelo Rei João Sem-Terra.

Momentos importantes desse instituto:

Habeas Corpus Act: período de consolidação do habeas corpus em 1679.

No Brasil: o habeas corpus teve sua origem:194

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implícita na Constituição Federal de 1824;

expressa em 1832 no Código de Processo Criminal;

em textos constitucionais, a partir da Constituição de 1891, artigo 72, § 22.

7.1. Teoria Brasileira do Habeas Corpus

Rui Barbosa percebeu que o ordenamento jurídico brasileiro precisava ampliar o

âmbito de atuação do habeas corpus, para garantir ao cidadão a defesa de abusos anormais

que impusessem mácula a direitos individuais de outro que não o de locomoção.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu expressamente, naquela época, a “teoria

brasileira do hábeas corpus” desenvolvida por Rui Barbosa, reconhecendo-o como meio

hábil para a defesa de outros direitos ameaçados por ilegalidade ou abuso de poder.

Essa teoria que vigorou até 1926, quando uma emenda constitucional passou a

limitar o habeas corpus.

Atualmente, o habeas corpus está previsto no artigo 5.º, inciso LXVIII, da

Constituição Federal.

O artigo 142, § 2.º, da Constituição Federal, restringe a abrangência do habeas

corpus para as punições disciplinares militares. Sobre essa disposição, que já existia em

outras constituições, Pontes de Miranda sustenta a não possibilidade desse remédio

constitucional discutir o mérito da punição, mas poderá ser impetrado para questionar:

a existência do poder hierárquico daquele que determinou a punição sobre o

punido;

a existência do poder disciplinar no caso concreto;

se o ato censurado é ou não ligado à função militar;

se a pena imposta é suscetível de ser aplicada disciplinarmente.

7.2. Disciplina do Habeas Corpus (Arts. 647 a 667)

O habeas corpus não é recurso; não tem prazo para a sua interposição; não é

obrigatório sua existência em um processo. É ação constitucional de caráter penal e

procedimento especial.

A Constituição Federal de 1988 institui duas espécies de habeas corpus:

habeas corpus preventivo ou salvo conduto: não houve dano consumado, 195

Page 197: Direito Processual Penal.doc

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havendo risco futuro de se sofrer uma coação.

habeas corpus repressivo ou liberatório: visa combater o dano à liberdade de

locomoção, coação ou violência que se encontram consumados.

7.3. Partes

As partes no habeas corpus são:

Impetrante: pessoa que pede a ordem. Pode ser qualquer pessoa (física ou

jurídica, com ou sem capacidade civil plena). Não precisa ser advogado, em

razão da importância do direito a ser tutelado.

P.: E o Ministério Público pode impetrar habeas corpus?

R.: Sim, a teor dos artigos 127 da Constituição Federal e 654 do Código de Processo

Penal.

O Juiz de Direito não pode impetrar habeas corpus nos processos de sua

competência.

Paciente: pessoa em nome de quem se pede a ordem.

Autoridade coatora: pessoa responsável por determinar a ordem ilegal ou

abusiva; é o pólo passivo do habeas corpus. A autoridade coatora será sempre

aquela responsável pela ordem e não a que se limitou a executar o ato.

P.: Admite-se habeas corpus contra ato de particular?

R.: Posição dominante admite a impetração contra ato de particular. Ex.: contra

diretor de hospital que se recusa a liberar o paciente que não tem recursos para pagar a

conta.

7.4. Rito do Habeas Corpus

A impetração do habeas corpus se faz por meio de petição inicial, que deverá conter

os seguintes requisitos mínimos:

nome do paciente;

descrição da atual ou futura violência ou coação à liberdade de locomoção;

petição escrita em língua portuguesa;196

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assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo;

documentos que comprovem os fatos alegados.

7.5. Hipóteses de Cabimento (Art. 647/648 do CPP)

P.: O rol do artigo 648 do Código de Processo Penal é taxativo ou exemplificativo?

R: Discussão sem razão de ser, pois o rol do artigo 647 do Código de Processo Penal

é suficientemente amplo para abranger várias situações.

São hipóteses de cabimento do habeas corpus:

Quando não houver justa causa: haverá justa causa sempre que a persecução

penal possuir fundamentos fáticos e jurídicos.

Sempre que alguém estiver preso por mais tempo que a lei permita: dispositivo

que vale para prisão penal e para prisão processual.

Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo.

Quando houver cessado o motivo que autorizou a coação.

Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a

autoriza.

Quando o processo for manifestamente nulo: a nulidade deve ser manifesta.

Quando extinta a punibilidade. Ex.: instaura-se inquérito policial para apurar

crime prescrito.

P.: É possível o impetrante alegar em habeas corpus alguma hipótese e o tribunal

conceder por outra?

R.: Sim. O tribunal pode até conceder habeas corpus de ofício, não estando

vinculado à alegação.

7.6. Competência

7.6.1. Competência do Supremo Tribunal Federal

Quando a autoridade coatora for Tribunal Superior.

Quando forem pacientes as seguintes pessoas: Presidente da República e Vice-

Presidente; Ministros de Estado, dos Tribunais Superiores, do Tribunal de

Contas da União; comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica; deputados 197

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federais e senadores; Procurador-Geral da República e chefes de missão

diplomática.

7.6.2. Competência do Superior Tribunal de Justiça

Quando a coação partir de tribunal sujeito à sua jurisdição ou de Ministros de

Estado ou Comandante-Geral da Marinha, Exército e Aeronáutica.

Obs.: sempre que o habeas corpus envolver comandante do Exército ou Ministro de

Estado, sendo paciente, a competência será do Supremo Tribunal Federal, mas se forem

autoridade coatora, a competência será do Superior Tribunal de Justiça.

Quando o coator ou paciente for autoridade sujeita à jurisdição: Governador do

Estado (o vice-governador não) ou do Distrito Federal; desembargador;

membros do Tribunal Regional Federal, Tribunal Regional do Trabalho,

Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de Contas do Município; membros do

Ministério Público da União que oficie perante tribunais.

7.6.3. Competência do Tribunal Regional Federal

Quando o paciente ou coator for juiz federal, juiz do trabalho ou membro do

Ministério Público Federal de primeira instância.

7.6.4. Competência do Tribunal de Justiça

Quando forem pacientes ou coator: prefeito municipal; vice-governador;

secretários de Estado; deputados estaduais; membros do Ministério Público

Estadual; Juiz de Direito (nos casos de sua competência recursal); Delegado-

Geral de Polícia; Procurador- Geral do Estado; Comandante-Geral da Polícia

Militar; Juiz de Alçada, Auditor da Justiça Militar.

7.7. Os Recursos no Habeas Corpus

Sentença que concede habeas corpus em primeiro grau: recurso de ofício (art.

574, inc. I, do CPP) e recurso em sentido estrito (art. 581, inc. X, do CPP).

Habeas Corpus por Tribunal: recurso ordinário, se denegatória a decisão ( arts.

102, inc. II e 105, inc. II, da CF e Lei n. 8.038/90). 198

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8. MANDADO DE SEGURANÇA NA ÁREA CRIMINAL

O mandado de segurança encontra-se previsto nos incisos LXIX e LXX do artigo 5.º

da Constituição Federal.

Desde seu surgimento discutia-se a possibilidade de cabimento contra ato

jurisdicional. Hoje não há dúvida: é cabível contra aquele ato jurisdicional para o qual não

se previu recurso.

Ex.: pedido de habilitação do assistente de acusação negado; decisão que determina

a apreensão de objetos não relacionados ao crime, para garantir as prerrogativas do

advogado.

E se o ato for recorrível? Segundo a Lei do Mandado de Segurança não será cabível.

É válida essa restrição?

Não. Essa restrição não é aplicada. Prevalece o entendimento de que o mandado de

segurança poderá ser impetrado contra ato jurisdicional que admita recurso, sempre que o

recurso não possuir efeito suspensivo, pois, nesse caso, a interposição do recurso não

impede que a decisão produza seus efeitos, de tal forma que não obsta a consumação da

lesão a direito líquido e certo em virtude de ilegalidade ou abuso de poder.

Cabe também o Mandado de Segurança para obter efeito suspensivo em agravo

interposto contra decisão que em sede de execuções concede livramento condicional ou

progressão de regime sem o preenchimento dos requisitos legais ou para obter efeito

suspensivo contra a concessão de liberdade provisória em crime hediondo.

8.1. Direito Líquido e Certo

Após grande discussão doutrinária, chegou-se ao consenso de que a expressão

“direito líquido e certo” deve ser tomada no sentido processual, para indicar direito

apurável sem necessidade de dilação probatória. Disso decorre a exigência de prova pré-

constituída do direito para que se cogite a concessão de mandado de segurança.

8.2. Partes

São legitimados para impetrar o mandado de segurança a pessoa física ou jurídica -

e, até, ente despersonalizado - titular do direito líquido e certo ameaçado ou violado pela

ilegalidade ou abuso de poder. Normalmente, no processo penal, esse remédio será 199

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utilizado pela acusação – pois a defesa pode fazer uso do habeas corpus.

O órgão do Ministério Público pode impetrar mandado de segurança perante

tribunais.

No pólo passivo, segundo a doutrina dominante, encontra-se a pessoa jurídica de

direito público a cujo quadro pertence a autoridade coatora.

8.3. Competência

Como se trata de mandado de segurança em face de ato jurisdicional, a competência

será sempre dos tribunais – originariamente.

8.4. Procedimento

Prazo para impetração: 120 dias contados da ciência do ato impugnado.

A petição inicial deve atender aos requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de

Processo Civil e estar munida da prova pré-constituída do direito do impetrante.

O tribunal pode ou não conceder a liminar.

A autoridade coatora será notificada para prestar informações no prazo de 10

dias.

O órgão do Ministério Público deve apresentar parecer em 5 dias – atua como

custos legis.

8.5. Liminar

A lei do mandado de segurança assegura a possibilidade de concessão de liminar ao

impetrante sempre que a ameaça ao direito líquido e certo for atual e objetiva (art. 70, inc.

II).

Obs.: a notificação da autoridade coatora para apresentação das informações tem

valor de citação.

Atenção: o Supremo Tribunal Federal entende que o mandado de segurança, quando

impetrado pelo Ministério Público contra decisão favorável a defesa, deverá também

requerer e o tribunal determinar a citação do réu como litisconsórcio necessário. Sem isso,

o Supremo Tribunal Federal anula o mandado de segurança.

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Fim.

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