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LILIAN ZEGHBI COCHENSKI A IMPORTANCIA DO TRABALHO DE GRUPO NA PENITENCIARIA CENTRAL DO ESTADO DO PARANA CURITIBA 2000

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LILIAN ZEGHBI COCHENSKI

A IMPORTANCIA DO TRABALHO DE GRUPO NAPENITENCIARIA CENTRAL DO ESTADO DO PARANA

CURITIBA2000

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LILIAN ZEGHBI COCHENSKI

A IMPORTANCIA DO TRABALHO DE GRUPO NAPENITENCIARIA CENTRAL DO ESTADO DO PARANA

Monografia apresentada ao Cursode P6s-Gradua<;lio em PedagogiaTerapeutica da Universidade Tuiutido Parana.Orientadora: Denise Grein Santos

CURITIBA2000

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SUMARIO

INTRODUCAO .

1 REFERENCIAL TE6RICO

1.1 CARACTERIZANDO 0 MODELO SOCIAL VIGENTE .. 41.1.1 A Atual Realidade Social...... 41.1.2 A Organizagao Social Capitalisla Pas-Modema e a Produgao

das Desigualdades Sociais 10

1.2 OS PROCESSOS DE EXCLUsAO E INCLUSAO SOCIAL 121.2.1 Formagao Social: Conceitos 12

1.3 A REALIDADE PENITENCIARIA NO PARANA 161.3.1 Das Caracteristicas do Sistema Penitenciario Paranaense 161.3.2 Da Lei de Execuy6es Penais 191.3.3 0 Tratamento Penal....... 22

1.4 TRABALHANDO COM GRUPOS: SUA POSSIBILIDADE NOTRATAMENTO PENAL 321.4.1 Conceptualizando 0 Trabalho com Grupos 321.4.2 Relato de uma Experiencia 41

2 CONSIDERACOES FINAlS 44

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 47

APENDICE 1 - PROJETO DE PESQUISA .. . . 48

ANEXO 1 - FOTOS DOS TRABALHOS REALIZADOS PELOSPARTICIPANTES DOS GRUPOS . 61

iii

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INTRODUCAO

o estudo ora realizado tern a ftnalidade de ser apresentado a Universidade

Tuiuti do Parana para obten~o do titulo de P6s-Gradua~0 a nivel de

especializa~o no curso de Pedadogia Terapeutica, realizado durante 0 periodo de

03/1998 a 10/1999.

o tema abordado - A importancia do trabalho de grupo na Penitenciaria

Central do Estado - se revelou importante registro dos trabalhos realizados pela

pesquisadora na sua pratica diaria junto aos intemos encarcerados da Penitenciaria

Central do Estado.

A especificidade da area penitenciarista impossibilita que pessoas

estranhas possam efetuar estudos mais aprofundados.

o fato da pesquisadora se constituir em profissional da area educacional,

servidora do Sistema Penitenciario do Parana suscitou 0 interesse em desenvolver

tal estudo, uma vez que 0 mesmo poderia se constituir em contribui~o de relevante

importancia para todos os envolvidos na questao, bern como para aqueles leitores

que desconhecem 0 trabalho penitenciario.

o objetivo deste estudo foi 0 de investigar as possibilidades do trabalho

multidisciplinar, com grupos como uma estrategia tecnico-pedag6gica capaz de dar

respostas positivas e significativas as demandas do tratamento penal, preconizados

pela Lei de Execu¢es Penais.

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Na verdade, 0 conjunto das questoes estruturais e institucionais

penitenciarias, as caracteristicas da estrutura social atual peutada por um processo

estrutural de exclusao social, 0 sistema econ6mico e politico que gestam esse

regulac;ao social, as perspectivas do capitalismo em vias de globaliza9ao, cujas

repercussoes afetam diretamente as relayDescapita~trabalho, e as possibilidades e

limites das profiss6es ligadas as Ciencias Sociais que atuam no contexto da

marginalizac;ao dessa realidade, formam 0 caldo de cultura que orientam todo 0

processo de pesquisa ora sistematizado.

A justificativa para realizac;aodeste trabalho inscreve-se justamente nessa

necessidade da masse carceraria de receber um tretamento penal que Ihe possibilite

encontrar as respostas e os caminhos para a construc;aodo seu papel social.

o homem, no atual sistema social neoliberal, tem assumido 0 papel a ele

destinado, por vezes passivamente, outras vezes reage com a90es violentas e

marginais a lei e a ordem instituida. Isso legitima 0 Estado a lanyar mao de seu meio

regulador coercitivo, aplicando aos marginalizados 0 rigor da lei, segregando-os da

sociedade sob 0 pretexto de "recupera-Ios", "ressocializa-Ios", alem de puni-los.

Ocorre que 0 rigor da lei nao se aplica na contrapartida do Estado, de

maneira que 0 tratamento ao qual 0 apenado teria direito enquanto meio de retomar

o convivio social com um minimo de condiy6es de inserir-se no mercado de trabalho,

bem como de apropriar-se do conhecimento socialmente produzido, deixa de ser

implementado, 0 que de fato se viabiliza sao iniciativas esparsas, sem a

sistematizac;aoe cientificidade que tal ac;aorequer.

Por outro lado, a propria ciemciacarece de conhecimentos sobre a eficacia

de sua instrumentabilidade e seus referenciais teorico-motodol6gicos.

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Por conseguinte, tambem os profissionais penitenciaristas necessitam

desenvolver praxis que permitam construir quadros referenciais te6ricos capezes de

validar sua ayao profissional.

o sistema penitenciario, por sua vez, merca des desmandes do Estado e

das iniciativas dos profissionais, bem como do proprio perfil dos marginalizados que

torna-sa cada vez mais complexo e vioiento, demanda tais estudos no sentido ate de

rever suas a¢es que hoje priorizam a custodia em detrimento do tratamento penal.

A sociedade, por sua vez, convive diariamente coma eclosao da violencia,

va-sa acuada e amedrontada, bem como revolta-sa a saber que os cofres publicos

custeiam uma massa carceraria cada vez maior, enquanto que sofre a fa~a de

pOliticasde saude, educayao, etc.

Encontram possibilidades de contribuir para que 0 perfil do homem

marginalizado possa encontrar outros meios de reagir as circuns\&ncias que a vida

Ihe impoe, sem valer-se de atos de violencia contra 0 patrimonio ou lerceiros,

sinletiza toda a relevancia deste trabalho.

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1 REFERENCIAL TE6RICO

1.1 CARACTERIZANDO0 MODELO SOCIAL VIGENTE

1.1.1 A Alual Realidade Social

A sociedade p6s-modema vem impondo as clancias como um Iodo e aos

profissionais da educa<;iio uma atitude mais eficaz no senlido de que se possa

inslrumentalizar cada um dos individuos para gerir e construir sua pr6pria hist6ria,

propondo-se a uma ruptura com 0 atual cicio hist6rico que faz homens e mulheres

refemsde um processo social que, embora nllo invoque sua opinillo, Ihes impile 0

papel de protagonistas de um quadro assombroso de misl!rias humanas, de fome,

degrada~o, desigualdades, explora<;iio,expropria<;iioe exclusllo.

A busca de subsidiar requer, no minimo, a apreensllo da origem da

questao social que se ve globalizada.

Fala-se em tempos de crise, uma crise que se generaliza em crise de paz,

de valores, cren98s, atica, cultura, economicS, social, etc.

Soa potencias inlencionais desenvolvidas, subjugando os paises ditos de

terceiro mundo; sao imperios financeiros subjugando e exterminando pequenas

industrias domasticas; sao homens potencialmente ricos subjugando uma parcela e

excluindo outra parcela de homens famintos que buscam des mais diversas formas

os meios para sobreviver e, se passivel, garantir a sobrevivencia de suas familias.

Tem-se instalado no mundo modarno um apartheid social no qual, de um

lado, se comprime a esmagadora maioria <losmiseraveis e, de outro, uma pequena

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minoria abastada, que se apropriou da riqueza, da ideologia, do poder politico,

economico, social e coercilivo,

No Brasil, estrategicamente mantido pelo colonialismo financeiro na

condiyao de pafs de terceiro mundo, as miserias sao ainda mais graves poiS, soma-

se a todas as demais a miseria da corrupyao politica, administrativa e financeira,

Isso quer dizer que 0 Estado neoliberal brasileiro, sufocado por seus

desmandos, interesses escusos, fraudes e corrup~es, parmite escoar do pafs os

milhlies de d61aresque deveriam financiar as polfticas publicas,

Nesse sentido, a pobreza que pode sar avaliada nos dados do censo do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatfstica (IBGE) de 1995, fica a merce do

desemprego com todas as suas conseqOencias, e tamb8m nilo pode contar com a

ayao do Estado na prestayao dos servi~ publicos de primeira necessidade, como

saude, educayao, habitayao, alimentayao, transporte e seguram;a publica,

Vale ressaltar 0 significado dos servi9Qs publicos enquanto direito acidadania na garantia dos minimos sociais garantidos pela Declarayao Universal dos

Direitos Humanos e assumidos pelo Brasil na sua Carta Magna,

Neo e por acaso que no Art, 5° da Constituiyao Brasileira de 1988 le-se:

"Todos silo iguais parante a lei, sem distinyao de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros a aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidada do direito avida, a liberdade, a igualdade, a seguranya a a propriedade",

Mas aste e um Pafs no qual 0 rigor da lei am terrnos da deveras e para os

misaraveis, onde a ordem e mantida pela coe~o e 0 chamado "crime do colarinho

branco" transita impune,

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Os raros casos de cassa980 politica ou de impeachment sO se realizam

quando se tem instalada uma crise social que possa per em risco a ordem social

vigente e toda a trama da corruJ)98opossa vir a ser desvelada.

E nesses momentos que uma ou outra personalidade polltica, de pouca

importancia nas ramifica96es da trama, acaba sando exposta e seus atos de

corruJ)98oe desvio das verbas publicas sao desmascarados.

o que se tern de concreto dessa crise de moral, mica, valores, e que toda a

sociedade a atingida, seja porque tem-sa no campo ideologico uma crise geral e as

representa¢es sociais ata enta~ inquestionaveis sofrem abalos, seja porque, na

pratica social, os mais pobres acsbam padecendo a falta de pollticas sociais sarias

como emprego, saude, seguran9B,educayao, etc.

Como explica VIEIRA (1995, p. 178):

Convivemos com a reforma administrativa, que cria as Agencias Executivas,entidades burocraticas, para gerenciar 0 nucleo considerado estrategico doEstado, composto pelos salores de seguran\>1,arrecadayao de impastos,flScalizayaoe previd@nciasocial bilsica, sando que as demais atMdadesatualmente assurnidas pelo Estado, como salide, educac;Ao, cultura, meioambiente,devemcaberas OrganiZa¢es Sociais,caracterizadascomoentidsdesprtvadas sem fins lucrativos, que prestarao esses serv~ com os recursos a alasrepassadospetoEstado.

A parcialidade nos processos de puniyao a criminalidade gera uma

indignayao e desencsdeia patologias SOCiaisque se tomam epidemicss - violencia,

analfabetismo, desemprego, fame, mortalidade infanul - entre outros males

acometem as camadas mais pobres.

Na verdade, esse quadro descreve em funyao de corruJ)98o, de

impunidade, das pOliticas de govemo que, desde 0 govemo Collor de Mello e

durante todo 0 govemo Fernando Henrique Cardoso, se constitui de uma orientayao

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neoliberal, buseando inserir-se no processo de globaliza~o. Troeando em miudos, a

politiea economica neoliberal ataea em varios flancos para viabilizar-se.

Do ponto de vista ideol6gico prega a desorganiza~o social, 0

individualismo, faz como que os individuos disputem seus espa9Qs, seu pao,

isoladamente.

Considera os pobres como incapazes, dignos de piedade e esmolas. Va

nos direitos sociais empecilhos para que uma empresa tenha mais lucro.

Para os neoliberais, 0 Estado atrapalha a explora~o dos trabalhadores e

as leis do trabalho devem ser extintas (Fundo de Garantia por Tempo de Servi9Q,

ferias, horas extras, aposentadorias, etc.).

E 0 pior de todos os principio neoliberais e 0 que se refere ao desemprego.

Para eles, 0 desemprego deve ser estrutural, isto <9,deve fazer parte do jogo pois,

com iSso, os trabalhadores brigam mais entre si para disputar 0 melhor lugar e,

nesta briga, acabam aceitando salarios mais baixos e procuram investir seu pr6prio

recurso para se aperfei9Qar,tomando-se mais competitivo. Com isso, 0 empresano

nao gasta recursos para preparar a mao-de-obra.

o Estado, por sua vez, toma-se minimo. Seu desmonte com~ pela

privatiza~o dos servi9QS essenciais de alto lucro, como luz, agua,

telecomunica¢es. petr6leo, estradas, hospitais, escolas, presidios, estes ultimos

para explora~o da falta de mao-de-obra.

As privatizar esses servi9Qs, a popula~o nao tem mais acesso aos

minimos sociais. Dessa forma, uma parcela passa a custear esses servi9Qs com

significativos cortes. Outra parcela tem acesso reduzido, de forma setorizada,

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regionalizada e discriminat6ria e a restante, que e a grande maioria, fica sem

atendimento nenhum.

E 0 que descreve CARVALHO (1996, p. 42): "A cultura da tutela e do

apadrinhamento, tao enraizada no canario brasileiro, nada mais e do que a

ratificagao da exclusao ou da subordinagao dos chamado beneficiarios das politicas

publicas. Por mais que discursemos 0 'direito', na pratica ainda os servi9QSdas

diversas politicas publicas se apresentam aos excluidos e subordinados como um

'favor' das elites dominantes".

Sao essas as condi¢es impostas para que um pais possa candidatar-se a

globalizagao.

o Brasil, por modismo e comprometimento politico com 0 capital

estrangeiro representado pelo Fundo Monetiirio Intemacional - FMI, 0 que quer

dizer total falta de autonomia e soberania nacional, esta obrigado a render-se as

determina¢es do capital estrangeiro.

Nesse sentido, em tarmos de Brasil e America Latina, globalizagao tem p~r

sinonimo baratear seus pre~s das exportay6es, cortar seus mecanismos de reserva

de mercado, retirar as tributa¢es sabre sua materia-prima para exportagao, para

que seus produtos sejam globalizados em barganhas onde 50 0 Brasil perde.

Por outr~ lado, globalizagao significa abrir as portas para que 0 capital

estrangeiro se instale no pais com subsidios e recursos do Estado e posse

livremente explorar nossa mao-de-obra barata e sem leis trabalhislas. Nestas

condiylies se instalaram as montadoras de autom6veis e outras multinacionais.

Nestas condi¢es se modificaram as leis da Previdencia e se criou 0 novo contrato

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de trabalho lemporsrio e flexivel, no qual 0 trabalhador e contratado

lemporariamenle, sem direitos trabalhistas.

o resultado da globaliza.ao e isso: desemprego, explora.ao, falencia do

Estado e extin.ao das pequenas e medias empresas domesticas, que vao

desaparecendo na medida em que nao conseguem competir com a grandeza do

capital estrangeiro protegido palo Estado.

Reforvando esse contexto que envolve voluntaria ou involuntariamenle

!oda a sociedade global, tem-se 0 chamado "quarto pode!", os meios de

comunica.ao de massa.

A "midiologia' massifica representa¢es sociais, desvirtua vis<ies de

homem e de mundo, eria versees, opini6es, hSbitos, costumes.

A servir;:odo capital que detem total controle sobre 0 qual se veicula as

massas populacionais, os meios de comunica.ao prestam urn servir;:o fundamental

ao capital que reproduzir nas massas a sua ideologia.

Assim, os seres humanos, cada vez rnais globais palo alcance, rapidez,

eficacia dos meios de comunica.ao, tomam-se retens desse processo contradit6rio

que quanto mais massifica, tanto mais os individualiza, de maneira que 0 grupo

social mais natural, bilsico e elementar, que e a familia, se desestrutura e

desarticula, isolando seus pares, individualizando 0 sujeito social que js nao se

reconhece como urn ser que tern no grupo social 0 seu meio de sobreviver e

parpetuar-se.

ZIMERMAN (2000, p. 23) descreve a globaliza.ao da seguinte maneira:

A globa~ do mundo modemo, amerce das novas tecnologlas ligada. ainformatica e de urna tantastica cede de oomunica9Ao instantanea via satelite. vernconlribuindo para 0 extraordinilrio poder de forma.ao de nossos cora¢es ementes,advindode uma cadavez mais gigantescae poderosaredede veiculosde comuni~o - que podemos chamar de MIDIOLOGIA- que exerce uma

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10

decisiva influencla no psiquismo de todos, notadamente nas crianc;as eadolescentes,tanto no que diz respeitoa forma.,oode uma ideologiapolitica, umestilo de vier, como a apologia do consumismo, um sagrado culto a importBncia daestetica,dos haMos da alimentaqlloe assimpor diante.(...j tomando as rela¢esimpessoaise tecnicas . (...j decorrentedessa vertiginosamudanc;ade padr6escientfficos e cutturais e a crescente problematica: de natureza bioetica e psicoetica(...) e outrosaspectoses\ilo forc;andoa humanidadea revisaras no¢es de morale de eticada cufiuraatualque vemsendochamadade p6s-modema.

1.1.2 A Organizayiio SOCial Capitalista Pas-Moderna e a Produyiio das

Desigualdades Sociais

o modelo capitalista de organizayiio social tem por caracteristica a

estratificayiio social.

Na verdade, s6 a possivel a sobrevivencia dessa modelo a medida em que

este reproduz a desigualdade social.

Na pratica social 0 capitalismo polariza as classes sociais em ricos e

pobres, em proprietarios e expropriados, em capitalistas e trabalhadores, em

empregados e desempregados, empregados e empregadores.

Como descreve MARX (1995), quando maior a produyiio da riqueza pelo

trabalhador, maior 0 abismo que sa instala entre ele e 0 capitalista que, quanto mais

rico fica, maior a pobreza daqueles que reproduziram 0 capital pela forc;ado trabalho

assalariado.

A desigualdade social alimenta 0 capitalismo pois, neste modelo social, a

preciso haver uma c1asse pobre, expropriada de capital, meios de produyiio e

mataria-prima para que a outra c1asse, detentora dessas meios, sa constitua na

classe mais capitalizada.

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II

Com isso, a classe expropriada concretiza a desigualdade, vendendo sua

forge de trabalho. essa venda gera a mais-valia, que e a fonte de lucro que produz 0

excedente da produ9!io e, com Isso, reproduz a riqueza do capitallsta.

A deslgualdade social se gesta nessas relag6es capital-trabalho, de

maneira que M deslgualdades entre classes e nas classes sociais.

Como esclarace LAKATOS (1992, p. 231):

A dominaQ§o economics, segundo Marx, esta relacionada com a dominacta:opolitlca, no senlido de que 0 contrale dos melos de produy!io de origem (ouconduz) 0 controle polillco. Portanto, a divisao dicol6mica de classes refere-setanto a divisao de propr1edade quanto Ii divisilo de poder. atrav(>s da verificay!iodas linhas de exploray!io economica de uma sociedade, e posslvel compreenderas rela¢es de superordena940 e subordinacao ali existentes. Assim, da mesmamaneira em que expressam uma rela980 entre 'exploradores e explorados'. asclasses expressam tambem a relay!io entre 'opressores e oprimidos'.

Nessa esteira, FREIRE revela as foryas das desigualdades sociais na

relficay!io de grandes massas de oprimidos colocados a margem das organiza9<'ies

SOCials que sa apropriaram da riqueza e de todas as facilidades e qualidade de vida

que 0 pnogresso socialmente construido proporciona.

Na mesma linha de analise, DEMO (1998), ZIMERMAN (2000), TEDESCO

(1999), SINGER (2000), fundamentam suas analises sobre as consequencias

sociais que as desigualdades produzidas na p6s-modemidade imprimem nos grupos

sociais.

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1.2 OS PROCESSOS DE EXCLUSAO E INCLUSAO SOCIAL

1.2.1. Formayao Social: Conceitos

Uma sociedade, no sentido lato, representa toda forma de existencia

coletiva. Particularmente sociedade pode se referir a todo grupo de seres humanos

que cooperam pelo principio da interayao, para realizar seus multiplos interesses.

o mais natural desses interesses refere-se ao interesse por sua pr6pria

manutenyao e sobrevivencia.

Na busca desses interesses, cads individuo detsm sua parcela de

responsabilidade, de maneira que seu papel social constitui-se da conduta que se

espera desse individuo na sua relayao com os demais membros do grupo.

Cada individuo no conjunto passe a desempenhar uma funyao social que,

conforme explica TOSCANO (1991, p. 190), "Funyao social s 0 conjunto de

atividades realizadas por um grupo organizado de pessoas de uma sociedade em

prol dos membros desta. Exemplo: funyao social dos medicos, dos professores, dos

politicos, dos trabalhadores, etc., s tudo 0 que estes grupos fazem no sentido de

atender as necessidades dos demais membros da sociedade global".

A organizayao desses individuos em tomo de fins comuns pressupiie uma

comunidade, uma vez que a comunidade e formada por uma coletividade humana

comporta por lodas as pessOBsque vivem em um determinado espayo territorial

compartilhando a mesma maneira de viver.

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13

Lembra TOSCANO (1991) que, embora membros da mesma comunidade,

nem todos tem consciencia da forma como se organiza a comunidade e nem de

seus propbsitos.

"Emprega-se 0 termo, em geral, no sentido de uma sociedade reduzida e

com interesses comuns menos amplos e coordenados. Implicitos no conceito de

comunidade, estao 0 de territ6rio comum, contato pessoal e conhecimento mutuo

acentuados, e uma taxa de coesao que se afirma principalmente em face de outros

grupos' (TOSCANO, 1991, p. 54).

Tem-se, ainda, a POssibilidade de haver um tiPO particular de afinidade

como origem etnica, cor, ideologia, etc., como fator de Iiga\)8.oentre todos os

membros de uma determinada comunidade, a massa de encarcerados representa

outro exemplo dessa comunidade.

A organiza\)8.osocial mantem-se coesa a partir de representa~s sociais,

contratos sociais que se escamoteiam de modelos sociais ideologiesmente aceitos e

reproduzidos POrtodos os membrosc

Alguns principios e\egem a coesao social como uma forma de os homens

conviverem e buscarem solu¢es pacificas e igualitarias para os conflitos que se

originam na diversidade de interesses.

o bem coletivo passa a ser 0 fim basilar das sociadades e os direitos e

deveres de cada cidad1!oestao inscritas na busca desse lim coletivo.

Pode-se afirmar que 0 cidadao passa a constituir-se na celula que somada

uma a uma compOs0 tecido social.

Conceituando cidadania e cidadao, TOSCANO (1991) explica que a origem

desses conceitos esm circunscrita a Grecia Antiga, quando da cria\)8.o da p6lis

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14

grega, porem a concepyao modema da a estes conceitos um carater politico-social

dicotomico que no discurso coloca todos os individuos em posi,.ao de igualdade,

porem nega-se a considerar a desigualdade antol6gica das classes sociais sob 0

qual se organizou 0 conceito modemo de cidadao e cidadania.

Uma i1ustra,.aodessa dicotomia pode estar na cita,.ao de Anatole FRANCE

(in TOSCANO, 1991, p. 56): "A organiza,.ao da sociedade em classes caracteriza-se

por ser juridicamente aberta (todos sao iguais perante a lei), embora, de fato,

nenhuma sociedade capitalista conhecida deixe de opor certas resistencias a livre

ascensiio de indiv(duos e grupos no seus sistema de organiza,.ao social". E

complementa de forma ironica: "A lei, com seu igualitarismo majestoso, proibe aos

ricos e aos pobres, igualmente, furtar pao e dormir ao relento·.

Isso quer dizer que, nas sociedades como a brasileira, na qual a

desigualdade social oj tao profunda, os direitos do cidadao s6 estao previstos no

discurso legal, porem a viabilidade de sua concretiza,.ao se va prejudicada frente acegueira estrategica do capital que domina e detem 0 poder.

Nesse sentido, 0 controle social, que €I a soma dos processos utilizados

pela sociedade para obter dos indiv(duos e grupos uma conduta enquadrada nas

expectativas gerais de comportamento, muitas vezes se articula mediante a coer,.ao,

a discrimina,.ao, a exclusiio social, embotados de um bom contetido persuasiv~.

Na verdade, expUca TOSCANO (1991) que quando os mecanismos de

controle persuasivo funcionam de forma deficiente, impiie-se a necessidade de fazer

valer os meios de controle extensivo, como, por exemplo, a poifcla.

Essa a,.ao tem side cada vez mais comum na sociedade brasileira,

prlncipalmente porque se cultua 0 individualismo, de maneira que as pessoas

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IS

convivem hoje sem nenhum la90 de simpatia ou afinidade, sendo que seus contatos

niio se deo por vontade propria, mas por forya das circunst8ncias.

Como descreve TOSCANO (1991, p. 62): "Neste caso, quando os

mecanismos de controle de tipo persuasiv~ perderam sua efic8cia, tendem a ser

invocados os de tipo coercitivo. Estes caracterizam-se pelo usc, neo da sugestilo ou

da argumentayao, mas da forya e violencia".

Os mecanismos de coesao social visam estabelecer as normas de

comportamento. Dessa maneira, explica LAKATOS (1992), que uma norma de

comportamento pode ser considerada como instituCionalizada, a medida em que

haja uma definiyao e aceitayao desta por parte dos membros do grupo que a valida

e cumpre efetivamente.

Quando esse instrumento de coesao, representado pela aceitayao da

maioria do grupo, nilo e mais eficaz, entra em ayao 0 aparato legal.

Nesse sentido, teoricamente, as leis sao acionadas quando os demais

instrumentos de coesao social, ao perderem sua eficacia, colocam em risco a

coesiio soCial.

Nota-se que, quanto mais complexas as relayiies sociais, tanto mais

formalizado se acha sua legislayao, sendo que, na atual conjuntura social, 0 veiculo

de expressao mais representativo do aparato legal e a autoridade policial, ostensiva

e sempre presente quando a harmonia social esta em perigo.

E nessa expectativa de igualdade, embora a ostensiva desigualdade, que

se legitimam as diferentes formas de exclusiio social, ou seja, quando 0 individuo

niio corresponde as expectativas da maioria do grupo, e colocada a sua margem,

seja de maneira formal, seja de maneira coercitiva.

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1.3 A REALIDADE PENITENCIARIA NO PARANA

1.3.1 Das Caracteristicas do Sistema Penitenciilrio Paranaense

o Estado do Parana detem um aparato penitenciario subordinado a

Secretaria de Estado da Justi<;ae da Cidadania.

Formado por onze unidades de execuc;iio e tratamento penal, 0 Sistema

Penitenciario Paranaense e composto por duas unidades femininas, nas quais

cumprem penas em regime fechado 141 mulheres condenadas e 30 mulheres que

cumprem pena em regime semi-aberlo.

A prisao provis6ria de Curitiba detem 797 presos entre condenados e

provis6rios, estes aguardando julgamento para serem absolvidos ou condenados.

As penitenciarias de Londrina e Maringa detem 362 e 357 internos,

respectivamente, condenados.

o Complexo Medico Penal detem os presos denominados periculosos, que

sao, na verdade, condenados que possuem deficiencias e psicopatologias

generalizadas. Estes recebem tratamento psiquiatricos ao mesmo tempo em que

cumprem penas por crimes diversos.

o Centro de Observac;iio CriminolOgicae Triagem, concebido para efetuar

acompanhamento dos progressos dos apenados do ponto de vista do tratamento

penal, hoje realiza apenas alguns exames criminol6gicos, bern como elabora triagem

de todo interno que adentre as unidades penais. Nessa unidade, os presos,

condenados ou nao, sao triados e cadastrados, tendo por dados tais cadastros toda

a vida pregressa, a situac;iiopsico-social, educacional, jurfdica.

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o ideal da agao dessa unidade a 0 de que se pudesse ter a partir dos

exames criminol6gicos a constatagao dos avan'<Osem termos de ressocializagao,

inclusive que a partir da entrada, 0 interno ja pudesse tar a indicagao do tratamento

penal adequado. Poram, por quest6es institucionais, tanto de prioridade quanto de

possibilidades tecnicas e de material, essa expectativa nao se realiza.

o Patronalo Penilenciario tem a finalidade de dar atendimento psico-social

e profissional, acompanhar os apenados cuja progressiio de regime ou a pr6pria

condenagao a penas mais leves estejam em liberdade condicional.

A Colonia Penal Agricola, uma unidade masculina, de regime semi-aberto,

tambam detem os presos condenados direlamenta a esse regime ou que ja tenham

cumprido no minimo um sexto de suas penas em regime fechado e que, por

progressao ja lenham adquirido 0 direito ao regime semi-aberto.

Nesta unidade, assim como as mulheres do semi-aberto feminino, os

internos sao implanlados em empresas junto as quais preslam servi'<Oremunerado,

preperando-se para a lransigao e reintegragao social. Estao implantados nesta

unidade cerca de 749 presos.

A maior penitenciaria do Parana, tida como de seguran,.a maxima, e a

Penitenciaria Central do Eslado, que comporta 1.500 apenados, condenados a

penas diversas, nao sendo raros os casos de condenados cujas pen!l;o, somadas,

ultrapessam a cem anos de condenagao, 0 que quer dizer que estes terao que

cumprir no maximo 30 anos.

A mais nova das unidades penais e a industrial de Guarapuava, uma

unidade de regime fechado cuja administragao penal e responsabilidade do Sistema

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Penitenciario, parem OS servic;:osde hotelarta e guarda fcram terceirizados, uma

visao controverlida de tutela e guarda de presos de carater neoliberal.

Essa unidade preve um contingente de 240 presos, no entanto detem

apenas 102 de sua capacidade maxima.

o perfil dos 4.500 presos sob a tutela do Estado do Parana constitui-se de

dados que reforc;am0 carater social enquanto elemento plasmador e fomentador da

criminalidade.

Dos 4.500 presos, a. grande maioria do sexo masculino, com idades que

vartam dos 18 aos 70 anos. Destes, 83,6% tem idade na faixa dos 18 aos 40 anos;

57% passuem escolaridade de no maximo 0 ensino fundamental; 27,3% sao

analfabetos.

A questao da ocupagao laborativa a prtortzada, embera nao

profissionalizados, os canteiros de trabalho ocupam 71% dos apenados.

Nota-se, poram, que nao M profissionalizagao dessa mSo-de-obra. Os

trabalhos sao manuais, compensadores para as empresas que se utilizam dessa

mao-de-obra com baixa remuneragao, pagos por hora trabalhada. Seu gasto com 0

espas:o fisico, com encargos sociais de pessoas ou encargos tantanos ou de

consumo como agua, energia el9trica, etc.

A mao-de-obra, contudo, nao tem vinculo ap6s sua saida do Sistema

Penitenciario.

Isse significa que a forc;a de trabalho penitenciaria e explorada

intemamente pelas empresas conveniadas, nao havendo qualquer vinculo

empregaticio.

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Do ponto de vista do tratamento penal, esse trabalho representa apenas

um meio do preso reduzir 0 seu tempo de pena a cumprir, pOis a cada tres dias de

trabalho, Ihee possibilitado reduzir um dia de pena.

Essa remissao de pena perdera sua validade se no interim entre 0 inicio da

pena e 0 prazo referente a umsexto do total da pena, 0 preso cometer alguma falta

disciplinar.

Esse Complexo Pen~enciario tem suas ativldades, finalidades, objetivos,

prioridades, regulamentados pela Lei de Execu~es Penais 7210/84 e pelo Estatuto

Penitenciarios criado pelo Decreto 1276/95.

1.3.2 Da Lei de Execu~es Penais

Apes haver side condenado, 0 apenado tem sua implanta~o em uma das

unidades penais do Estado, conforme exp~citado em sua senten98 judicial.

o tempo que permanecera preso nao podera ser menor do que um sexto

do total de sua pena. A partir dai, podera enta~ pleitear 0 que se denomina

progressao de beneficio, 0 que Ihe sera possibilitado desde que apresente avancos

do ponto de vista da ressocializayilo, 0 que depende diretamente do tratamento

penal.

A Lei, tal qual descreve NOGUEIRA (1994, p. 7):

Assim. varies principios, essendais a garantia do condenado, bem como aregularidadeprocessual,tamilem vigoram na lase execut6ria.(...) Pelo princlpiode legalidadee de sa entenderque a execu~o dave sar fenade acordocom asnonnasestabelecidasem Lei. (...) Pelo prtncipioda igualdadee precisoque naohaja discrtmina~. (...) Pe\o princlpio da jurisdiclonalidadeentende-sa que aexecuyaopenale umaatividadepredominantementeadministratlva.

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Conforme sa percebe a execucao da pena, isto e, 0 cumprimenlo da pena,

sa rege por principios que norteiam a atividade penal cujo canner se reveste da

administracao desses principios.

Nessa mesma linha norteadora lem-sa os princlpios que orientam as

pralicas com 0 tim de promover a ressocializacao sem, no entanlo, se perder a

tinalidade punitiva da pena.

Entre estes principios norteadores do que sa denomina tratamento penal,

NOGUEIRA (1994) aponta 0 principio da humanizacao da pena. 0 que sa revela

nesse principio e que 0 condenado esta sujeito a direitas e deveres, que devem ser

respei!ados, de maneira que nao haja excessa de regalias, pais isla tomana a

punicao desprovida de sua finalidade.

Mesmo porque hi! que se ressallar que a punicao nao pode deter apenas

um fim em si mesma, ou seja, a punicao pela punicao, e preciso que esta seja

lambem reeducativa.

Como descreve 0 aulor, ·0 proprio tim reeducativo, que !antos procuram

enfalizar, perde sau significado quando 0 candenado passa a usufruir de um

tratamenlo inadequado a sua recuperacao ou ressocializacao. 0 condenado que

vem a ser recalhido a algum es!abelecimenlo nao pade ter os mesmas direitos que 0

homem livrem, que precisa trabalhar pera sobreviver" (NOGUEIRA, 1994, p. 8).

E nesse contexto de adequacao da punicao e do lim ressocializado da

pena que a lei de Execu¢es Penais disciplina a classificacao.

No Titulo II, Capitulo I da referida lei enconlram-se os disposilivos sabre a

queslao da classificacao e do tralamento penal.

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Segundo a Lei, os CQndenadosdevem sar classificados conforme seus

antecedentes, e personalidade, buscando-se assim a individualizac;aoda pena.

Para iSso, a Lei cria a Comissao Tecnica de Classificac;ao, esta presidida

pelo diretor da unidade penal e composta por um psiquiatra, um psic6logo, um

assistente social e no minimo dois chefes de setores. Estes invariavelmente

representam as chefias dos setores de trabalho e de educac;aoformal.

Essa comissao se restringe ao trabalho junto aos presos condenados a

penas restritivas de liberdade. !SSOquer dizer aqueles que perdem 0 direito de ir e vir

livremente, ficando internados em presidios de regime fechado ou semi-aberto.

Conforme descreve a Lei 7210/84, em sau artigo 8°, "0 condenado ao

cumprimento de pena privativa de tiberdade, em regime fechado, sera submetido a

exame criminol6gico para obtenc;ao dos elementos necessarios a uma adequada

clasisficac;aoe com vistas a individualizac;aoda execuc;iio".

A Lei revela que tal exame tambem sera realizado junto aos presos

condenados a penas restrilivas de liberdade em regime semi-aberto.

A comissao, em sua atividade, bUSC8radados relevantes da personalidade,

as informayiles psicossociais, a hist6ria pregressa de cada condenado.

A exposic;ao de motivos da Lei que implementa esse trabalho das

comissoes de classificac;aoe tratamento, revela a preocupac;iio do legislador em dar

a execuc;iio penal um tratamento cientifico, interdisciplinar, que permita caracterizar

a execuc;iio penal com um.fim social que possibilite ao individuo a reconstruc;ao de

sua hist6rla a partir da experiencia com a reclusao.

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1.3.3 0 Tratamento Penal

Conforme se constata na LEP (Lei de Exec~es Penais), 0 Estado detem

a responsabilidade de possibilitar ao apenado subsidios culturais, educacionais,

morais, psicossociais, profissionais, propiciande-Ihe novas expeclativas de vida,

novas possibilidades de integrar-se 80S grupos sociais.

Esse tratamento penal e prescrito a partir da classifica..ao e

individualiza..ao da pena.

1$$0 significa que ao ingressar as unidades penais, 0 apenado sera

submetido a um processo multidisciplinar de conhecimento de sua hist6ria de vida.

A forma dessa classifica..ao esta descrita superficialmente na LEP,

cabendo aos tecnicos das equipes interdisciplinares efetuar, a partir da

especificidade de cada area, a triagem, a classifica..ao, em fun..ao dos

antecedentes, dos tra9Qs de personalidade, das aptidoas e habilidades, 0 melhor

tratamento para cada individuo.

Como explica NOGUEIRA (1994, p. 9), "0 exame crimino\6gico difere do

exame de personalidade, pois 0 primeiro parte do bin6mio delite-delinquente, numa

intera..ao de causa e efeito, tendo como objetivo a investiga..ao medica, psicol6gica

e social; e 0 segundo consiste no inquerito sobre 0 agente para alam do crime

cometido".

A proposta de classifica..ao e teoricamente justa, uma vez que permite

pressupor que cada individuo detem uma hist6ria de vida que 0 toma unico e,

portanto, nao pode ser trstado como massa, ainda que 0 crime cometido possa se

assemelhar, os motivos, as circunstancias, as justificativas sao peculiares.

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Ocorre, pOl·em,que, na pratica, se consolida apenas 0 possivel.

A realidade penitenciaria e reflexo da realidade social. As sociedades

produzem seus criminosos. As leis, os costumes, as representay6es sociais

constr6em seus delinquentes.

Mais do que isso, os .constr6em a partir de seus processos de exclusBOe

marginalizas;ao arremetendo os indivlduos marginalizados a espac;:os sociais

necessarios ao contraponto $ocial dos bons e maus, dos social e politicamente

corretos, e dos incorretos.

Implicitamente, a sociedade se faz vigilante daqueles que se corrompem,

para a partir dessa constatac;:Boestabelecerem os limites, os parametros entre bons

e maus.

NBo Eo somente esse aspecto mais velado que faz com que se tenha a

certeza de que enquanto hOlJVeremgrupos sociais estes procurarao entre os seus

individuos os seus contrapontos, os diferentes como parametro para diferenciar e

reverenciar, aciamar e fortalecer aqueles que representam a massa da sociedade, a

hegemonia dos socialmentecoesos, integrados, corretos, bons.

Ha 0 aspecto das dificuldades institucionais. Se os Estados ja nao dao

conta de dispensar aos indiVlduos comuns os minimos sociais capazes de inclui-Ios

no processo social vigente, compactuando com os processos de exciusao social,

nao ha duvidas que nao envidara esforc;:osconcretos para ressocializar aqueles que

foram formal e legalmente exciuidos.

Dessa maneira, percebe-se a fragilidade e inoperancia do tratamento

penal.

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As dificuldades apenaS concretizam e consolidam 0 descaso, a conivencia

do Estado em manter os excluidos na marginalidade.

Assim, 0 que se percebe e que nao M investimento na forma..ao de

profissionais na area do Penitenciarismo. Os poucos que formam os quadros do

pessoal penitenciarista sao gl)3duados nos cursos tradicionais e passam a buscar

elementos formadores em cursos alternativos, buscam adaptar seus metodos, sua

instrumentabilidade e racionalidade profissional.

Nao ha, nas divers!!s areas tecnicas, um quadro referencial teanco que

possa instrumentalizar 0 tratamento penal em sua amplitude e especificldade.

Ainda que houvesse, 0 mimero sempre reduzido de profissionais inviabiliza

o desenvolvimento de alividades efetivas capazes de responder as demandas

psicossociais, educacionais e profissionalizantes das massas carcerarias.

Como descreve NOGUEIRA (1994, p. 12):

Grande parte dos 8!;tabeiecimentos posionais nSo possuem pessoal qualificadopara a elaboraC)lio do diagn6stico inicial, ainda que exista 0 diagn6S1iCo, nSo esuficiente para elaborar 0 programa de tratamento: as entrevistas para 0diagn6stico nSo dunlom mais do que quinze minutos. Em outro estabelecimentonao se reline a Comissao de Classificac;Ao; e quando se reune, suas decisOes naDdizem respeito ao tr~mento, mas a seguranc;a e disciptina E na terceira lase dotratamento que 0 lracasso e mais freqOente. Acontece que os relat6nos deobserv~ nem chegam a ser lidos. 0 pessoal da disciplina as vezes consideraas recomenda¢es da classifi~ como contrarias a disciplina e a seguran~.

De fato, essa obSEfrva..ao se faz pertinente a medida em que a tradi..ao nas

prislies ever na pena um elemento punitivo.

o compromisso com a forma..ao, 0 desenvolvimento do individuo, nao sao

vistos como a principal finatidade.

A grande maioria do pessoal penitenciano detem uma forma..ao

comprometida apenas com os requisitos de manuten~o da disciptina e seguranca.

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No Parana, por exemplo, para 0 tratamento penal, 0 quadro de tecnicos e

de 175 profissionais para atender a urn un;verso carcerano de 4.500 presos,

enquanto que 0 pessoal ligado apenas a segura~ e disciplina atinge a case de

1.300 agentes penitenciarios, conforme dados do Departamento Penitenciano de

1999.

A conce~o da vigilancia, da discipline, da seguran9B nos presidios,

seguem a esquemas tradicionais, concebidos a centenas de anos.

Dessa maneira, 0 que se pretende e 0 desenvolvimento da capacidade do

individuo de conviver harmonicamente em grupos sociais, a conce~ da disciplina

pressupOe0 individualismo.

A constru~o celular das prisees, a separa~o em cubiculos, preve que os

apenados seriam dispostos <;1mcelas individuais, tal como descreveu FOUCAULT

(1995).

Tambem as normas disciplinares, conforme se preve no Estatuto

Penitenciano (1995), permit~m constatar 0 carater disciplinador do tratamento penal

muito mais presente do que 0 carater formador, integradas e de busca de constru~o

do individuo.

NaprisAo0 govemoipodedisporda liberdadeda pessoae do tempodo detento,apartir dai concebe-~ a potenciada educa",o que, n;;o em 56 urn dis, mas nasucessAodos dias e mesmo des anos pode regular para 0 homem 0 tempo davigilia e do 8Ono, da atividade e do repouso, 0 numero e a dura9Ao das refei¢es,a qualidadee a r~o des aUmentos,a naturezae 0 produtodo trabalho,0 tempode ora~, 0 uso de palavra e, por assim dizer, ate do pensamento,equelaeduca",o que, no~ simplese curtos trajetes do refeit6rioa oficina, da oficina aeela, regula os movimentos do corpo e ate nos momentos de repouso determina 0horSrio,aquelaed~ca",o, e em uma palavra,que se apoderado homem inteiro,de todas as faculdades fisicas e morais que esUio nele e do tempo em que elemesmoestS(FOU¢AULT,1995, p. 211).

o que de fato l\e verifica hoje nas unidades penais e a prtoriza<;iio do

cumprimento da pena e a ocupacao com algum tipo de atividade laborativa

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Note-se que 0 trabalhq, embera atinja no Parans 71% da fo~ de trabelho

encarcerada, nao passa de ocupacao do tempo ocioso, nao ha fonmacao

profissional, habilitacao. 0 tempo trabalhado em carcere pode ser contedo como

remissao de pena, nUma proporcao de um tef9). Isso quer dizer que a cada tras dias

de trabalho, 0 preso podera ter um dia de pena remido. Portanto, reduzira um tef9)

da pena, desde que nao esteja,enquadrado nos chamados crimes hediondos.

Nao resta duvida que 0 trabalho representa importante fater disciplinador,

pois para fazer parte dos canteiros de trabalho ou oficinas, 0 preso deve apresenter

born comportamento, bem como perders todo direito il remissao dos dias ja

trabalhados se incorrer em falla disciplinar.

Albert CAMUS filos<)fa que sem trabalho, a vida apodrece; mas quando 0

trabalho nao tem alma, a vida: mingua e morre.

o trabalho de grande maioria da massa carceraria nao representa, pois,

um estimulo il formacao e ao desenvolvimento humano. E repetitivo, mecanico,

mon6tono, uma relacao muite proxima da acao mecanica des fabricas do inicio do

Fordismo e Taylorismo, do processo industrial de producao em serie, bem diferente,

portanto, do modelo de t",balho preconizado hoje pelo pragmatismo da terceira

onda.

Conforme explica CASTRO (in FRIGOnO, 1996, p. 51):

Para enfrentsr a vulnerabilidade tecnol6gica, 0 capital est'; redescobrindo ahumanidade esquecida do trabalhador assalariado (humanidade ignorada peloTaylorismo). 0 capi)al, for<;ado pela vulnerabilidade e complexidade de sua ba:setecno-organizaciomjl, passeu a se interessar mais pela apropria~o de qualidadess6ci0-psicol6gicas ~o trabalhador cole\ivo atraves dos chamados sistemas sOcia-tecmcos de trabal~o em equipes, dos circulos de quatidade, etc. Trata-se denovas fonnas de g$stao da for<;a de trabalho que visam a garan\lr a integ~ dotrabalhador aos obje\ivos da empresa.

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Ocorre que, no caso QO homem encarcerado, seu trabalho tern interesses

diversos, na medida em que. sua fo'9" de trabalho e explorada por empresas

privadas cujos convenios tutelados pelo Estado as isenta de encargos SOCiais,e

gastos com as instala9iies ffsicas e manuten~o, 0 que significa excelente neg6cio.

Nao hi! vinculo empregaticio, nem compromisso com esses trabalhadores quando

egressos do sistema penitencierio.

Para 0 Estado, 0 int~resse em manter a ocupa~o da massa carceraria

rende ganhos estatisticos do. ponto de vista da administra~o da pena, reduz a

angustia e a indisciplina inyitadas pelo 6cio, reduz a expectativa do fim do

cumprimenlo da pena, man\em a remunera~o via pagamento pela empresa,

mesmo que infinitamen\e meror do que 0 que se pagaria ao trabalhador livre, e

mantem-se assim a disciplina ¢ a ordem.

Para 0 preso, os baneffcios imediatos sao 0 recebimento financeiro de

pequena ajuda de custo, o. que permite poder aquisitivo para parcos bens de

consumo, geralmente com~rcializados entre os pr6prios presos ou alimentos

adquiridos nas cantina8-

He ainda a possibilidade de auxiliar familiares que nos dias de visita vern

as unidades em busca de aju~a financeira

Poram, essa simbi9Se de interesses nao corresponde as expectativas e

determina¢es preconizadas ,pela lEP, em termos de tratamento penal.

Este, que segundo. a lEP represenlaria 0 meio instilucional de prom~o

da reinse~o social do eg~so do sistema penilencierio, perdeu-se na letra morta

de lei e nso e levado a 'efeilo por ser dispendioso, por exigir cienlificidade e

comprometer a capacidade QO Estado.

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o tratamento penal, ~ja por falta de pessoa ou por falta de preparo para

isto, toma-se incoerente e inviapiliza ao preso 0 contato com atividades que possam

subsidiar seu processo de res~ializagao, ate porque a propria lei nao 0 obriga a

frequentar qualquer processo de inter-relagao com vistas ao tratamento penal.

Na verdade, somenle 0 trabalho se toma obrigatorio:

Podera 0 presQ deixar de participar de certas atividades, como instruyao, religilrlo,esporte, recrea9Ao, que visam 0 aprimoramento do seu carater, mas de modoalgumpode";'deixard~ trabalhar,uma exigenciaa ser respeitadae cumprtda,jsque 0 trabelho constil~i mais que um direito (LEP, art. 41, II), um dever docondenado(LEP,art. 3~,V) sendotamt>emobrtga~o do Estado,proporcionando-Ihecondic;Oese maiosqe trabelho(NOGUEIRA,1994, p. 17).

Para 0 aulor, a condigao de homem preso pressupee a sujeigao as normas

disciplinares de maneira que t~dos deveriam ler por obrigagao mais que 0 trabalho,

mas lambem uma responsabilidade efeliva sobre seu processo de fonmagao, 0 que

evitaria a falencia dos pressuP<i>stosressocializadores da Lei.

Segundo NOGUEIRi\. (1994), as Regras Minimas para 0 Tratamento dos

Presos, editadas pela ONU lem 1958 e recomendadas pelo IV Congresso de

Preven~o do Crime e Tratar)1entodo Delinquente de 1970, no Brasil nao tem a

menor condigao de ser implE/mentadas, porque 0 sistema penitenciario brasileiro

esta falido. Ja se mostrou ,deficiente com seus presidios superlotados, suas

delegacias policiais e cadeias,publicas inadequadas a manutengao da vida com um

minimo de respeito e dignidade.

Ressalta 0 autor qu~ as diferen~s sociais no Brasil sao tao grandes que 0

que as recomenda¢es da OI\lU apregoa para 0 homem encarcerado em tenmos de

respetto e dignidade, de direil$ ao trabalho e a assistencia ainda foi possibilitado ao

trabalhador livre.

Alias, a Parte Gerai do C6digo Penal, de 84, assim como a Lei de ExecuyiloPenal, que entrou em vigor na mesma epoca, bern retratam esse intuito de

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aprimorar 0 tratamento dispensado ao preso ou intemada, dando-Ihe umaassistAncia efetiva e I necessaria, tanto que muttos chegaram a criticar asinova~s, por melhorarem a vida do condenado, a ponto do trabalhador comum elivreficar comumpadr.lodevida inferiorizado(NOGUEIRA,1994,p. 18).

De fato, 0 tralame~to penal previa a assistencia social, psicol6gica,

material, juridica, medico-odQnlol6gica, religiosa, educacional e 0 lrabalho do

egresso.

Dianle da escassez' de pessoal e recursos do Eslado, os profissionais

dessas areas, aluando isolad", ou interdisciplinarmente, procuram dar a execu.ao

penal 0 carater cientifico, unia vez que a progressao de regime do condenado

depende da avaliagao da Equip.. Tecnica de Classificagao, cujos laudos e pareceres

serao expedidos mediante a constatagao da eficacia do tratamento penal

desenvolvido.

Para ROG~RIO (199(, p. 41):

o tratamento penal representa0 conjunto das fungOesrecuperativasda penaimplementado pelo trabalho das diferentes areas. 0 requisito basico para essetrabalho conjunto e sua arientacao comum, visando proporcionar ao presocondi¢es de retomoaIsociedade.0 bomcomportamentocarcerarionao significaadaptal;iia as normas no minima equivocadas, impingidas, que vAm se repetindoao longo das decadas,: e sim ao aproveitamento das medidas ressocializadorasobservadas durante a evolugao prisional do individuo.

Na verdade, explica ~OG~RIO (1997), no tratamento penal 0 objeto nao e

o crime, mas 0 delinqOente. Este represenla a estrutura enquanto que 0 crime

represenla 0 sintoma.

Para a autora, 0 tr!!ltamento penal abrange algumas funyees bSsicas

relacionadas a assistencia, a reabililagao, II investigagao, ao planejamento, II

prevengao e II formagao. ~ nO desenvolvimento dessas funyiies que se tem a

efetivagao do trabalho interdisqiplinar.

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Ressaltam-se, aqui, ~s fun~s preventiva e formativa. No que se refere apreven9iio, nota-se que as demais fun~s, ao ser implementadas pelo tratamento

penal, produzem conhecimenl9s, permilindo identificar os grupos mais expostos ao

processo de marginaliza9iio, bem como possibilita mais familiaridade com esses

processes, 0 que leva a C(lnstatar as possiveis causas de desajuste social,

dislinguindo-os ainda nos seu$ estagios iniciais, 0 que permite 0 combate precoce,

pela implementa9iio da a9iio social, da escola, de grupos comunitarios e

mecanismos govemamentais de contrale.

Essa fun9iio preventiVasoma-se a fun9iio formativa:

° tratamento penal e,' ao nosso ver, 0 grande laborat6riopara a forma~ deprofissionais da area. A atuayAo dos profissionais se processa em situa~o dedesvio social e 0 processo de mudam;a social e continuo e irrefreavel e seusdesvios, imprevisiveis. jAssim, as linhas gerais da politica social e das instituic;6esprecisam ser constantemente revistas e repensadas. Resutta dai consideravelactlmulode conhecim~ntosde grande importanciatanto academicscomo pratica(ROGIORIO,1997,p. 4~).

E nessas perspectiv,!!s que 0 trabalho com grupos se conslitui, no ambito

das unidades penais, uma pra~ca interdisciplinar recorrente, uma vez que viabiliza 0

tralamento penal, possibilita pralicas hoje reclamadas para a forma9iio do novo

trabalhador, aumentando as possibilidades, tanto de forma9iio do homem como no

preparo para a reinser9iio a ,sociedade e ao mundo do trabalho. Por outro lado,

representa uma estrategia fik\s6fica de visiio do conhecimento como urn fenomeno

que nao pede prescindir de se~ carmer interdisciplinar.

Ressall!Hle que 0 mercado de trabalho, no atual estSgio do

desenvolvimento tecnoliigico, exige mais que urn trabalhador: exige urn homem

pleno, e 0 processo de r~ssocializa9iio no Sistema Penitenciario nao pede

considerar-se efetivo se nao tiver par fim a essa "poligni9iio tecnoliigica" que devera

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caracterlzar 0 homem da tercelra onda, como descreve PINTO (In FRIGOnO, 1996,

p.52);

a) 0 dominio dos fun~amentoscienfrfico-intelectuaissubjacentesas diferentestecnicas que caracterizam 0 processo produtivo madema, associado aodesempenhode umespecialistaem um ramoprofissionalespacifico;

b) Compreensaode urnfen6menoem processono que se referetanto a l6gicafuncional das maquinas inteligentes como a organizB9Bo produtiva como urntodo;

c) Responsabilidade,lealdade. criatividade, sensualismo;d) Disposi9"lo do t•.••balhador para colocar seu potencial cognnivo e

comportamentala selVil'Dda produtividadeda empresa.

Conforme se pode ~valiar, 0 homem necessario ao sistema produtivo

capitalisla demanda uma form$9Ao livre, criativa, critica, 0 que nao sera possivel se

configurar no sistema ca$rario disciplinador, castrador, que fomenta 0

individualismo, a introspec980, '0 mecanicismo.

o que pode ser co~tomado a partir da a9Ao do tralamento penal com

grupos, numa perspectiva int~rdisciplinar, uma vez que, conforme se constala em

SANTOME (1998), a aprendiz~gem s6 e significatlva quando as novas Informa¢es

e conheclmentos se relaclonam de manelra nao arbitraria com os conhecimentos

que a pessoa ja detem. Issq porque, no momenta em que aquilo que se esta

aprendendo pode entrar em rela9Aoe integrar-se a conhecimentos ja possuidos. "A

interdisciplinaridade oj fundam~'"talmente um processo e uma filosofia de trabalho

que entra em a9Ao na hora d~ enfrenlar os problemas e questoes que preocupam

em cada sociedade" (SANTOME, 1998, p. 65).

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1.4 TRABALHANDO COM GRUPOS : SUA POSIBILIDADE NO TRATAMENTO

PENAL

1.4.1 Conceptualizando 0 Trat)alho com Grupos

Ao se referir ao traba!ho com grupe, e preciso ressaltar que para constituir-

se em grupo e necessario mai~ que um simples agrupamento de pessoas, ou seja,

para se constituir em um grupq, a principal caracteristica e que este grupo defina um

objetivo comum. 10 esta defini9!io que servira de elemento plasmador da participa980

de cada um na atividade a ser !lesenvolvida pelo grupe.

Nota-se, com isto, que se processa uma rea980 psicol6gica, 0 que

caracteriza 0 grupo e 0 diferen<!'iades demais agrupamentos de pessoas, tornando-o

autentico.

Como explicam AUB~Y e ARNAUD (1997, p. 8):

Percebe-se, pois, que 0 grupo e radicalmente diferente da soma dos individuosque 0 comp6em. Urna serie de pessoas aduftas, objetivas e madurasconsideradas isoladamente, naa constitui automaticamente urn grupo adulto,objetivo e maduro. Para que tal reuniao de individuos se tome um gl1.lPO, enecessaria que estes tarnem consci~ncia de que buscam um objetivo comum eque haja entre eles un)a inter-relac;Aopsicol6gicaaulentica. Os membros, paraformar um grupo, devem aceitar 0 trabalho comum. participar da responsabilidadecolelivae conjugarseu$esfo~ na realiza~o dessetrabslho.

No trabalho penitenci;irio, 0 objelivo do trabalho com grupos se estabelece

a partir dos membros desse grupo, poram, 0 fim uHimose revela na promo980 de

atividades que subsidiem a carceraria na constru980 de seu processo de

execu980 penal de carater r$s:so<:ializa,dor.Portanto, pode servir para executar

processes de analise e reflex1!psobre a conjuntura social e suas possibilidades de

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reinseryao social, buscando a~ causas e os efeitos do processo que os excluiu da

sociedade e marginalizou.

Conforme explicam QS autores, os grupos constituem-se em microgrupos,

que neo ultrapassa os vinte e ¢inco elementos, que cada um dos participantes pode

entrar em relayao com os outrQsdiretamente e sem que hajam intermediarios.

Embora se conceba que quanto maior 0 universo de pessoas, maior sera a

riqueza de interc1imbiose tracas, a pratica demonstra que um grupo numeroso, que

passe dos vinte elementos, prejudica os canais de comunicayao, 0 que leva aformayao de subgrupos.

Assim sendo, 0 mac~ogrupouHrapassa a esse numera de componentes e

faz-se necessaria a intervenya;ode agentes de comunicayao que se interpiiem entre

os membras.

Os grupos se divide~, conforme explicam AUBRY e ARNAUD (1997) de

acordo com os objetivos qu~ estabelecem, sendo que podem se constituir em

grupos de trabalho, grupos de 'onmayao ou grupos mistos.

Dessa forma, 0 grupo de trabalho tem por preocupayao um trabalho a ser

realizado, ao qual todo 0 telT1Poe dedicado, de maneira que toda a atividade se

orienta para a busca do objeti~o comum.

Os grupos de fonmayao, segundo os autores, orientam seu trabalho para 0

funcionamento do grupo enqu~nto grupo.

Os membros se colocam numa situaylto de laborat6rio para analisar 0 pr6prioprocesso da discussao e das relac;oes interpessoais. Se, por examplo, ao longode uma discussoo, dois individuos se opaem no plano das idaias, pode acontecerque lal oposi~o seja,~e tato, maioemocionalque racional.(...) em um grupodetrabalhoestes individup. nso confessariamesta opos~o emocional,(...) talveznem mesmo tivessem conscil§ncia dela. 0 grupo de formacao faz emergir aconsciencia, para estuda-Ios, estes fenomenos sociais e emocionais do trabalhodeequipe (AUBRYeARNAUD,19l17,p. 11).

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o grupo misto contempla OS dois primeiros. 10,portanto, intermediario.

Neste tipo de grupo, une-~ a eficiencia do grupo de trabalho ao realismo

psicologico do grupo de formaQiio.

Neste case, a prinqipal preocupaQiio a a seluQiio dos problemas de

trabalho. 0 que sa pretende, nil entanto, e solucionar os problemas de trabalho.

A questao que 0 diferencia e que, para alcanyar 0 objetivo no plano das

idaies, procura sa assegurar urn entendimento real entre as pesseas no plano social

e emocional.

Os grupos estao suj~itos a mudanyas em suas dinamicas de ayllo. 0 que

depende das circunstSncias pas quais se formou 0 grupo e as rela¢es que sa

estabeleceram entre seus metnbros.

o que se toma in'!prescindivel no trabalho com grupos, segundo os

autores, e que sa de absoluta prioridade ao clima de liberdade para 0 trabalho,

incentivando-se a iniciativa e a espontaneidade como elementos animadores e

incentivadores dos participantes.

Isse permite que a' inter-relaQiio sa estabeleya nitidamente ao nivel dos

participantes, de formas qu~ 0 grupo possa elaborar 0 pensamento conforme seu

proprio fitmo.

Salientam os autores (1997, p. 12) que "Temos, pois, como fatores

decisivos no nascimento e n$ formaQiio de urn grupo, de urn lado, as circunstSncias

que presidiram a sua forrnaQiio e, de outro, a inter-relaQiio humana que sa

estabelece entre os diver$os membros do grupo e entre os membros e 0

intermediador".

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Nao s6 as circunstiincias de forma,.ao e relayiies interpessoais estao

presentes no dinamismo do glfipo. Ha, ainda, no plano estatico, os niveis em que

interciimbios sao estabelecidqs e no plano diniimico, as varias fases a serem

percorridas para que 0 grupo atinja seus objetivos.

Estes fatores presentes na a,.ao dos grupos sao fundamentais na

dinamiza,.ao dessa a,.ao que se reflete nos interciimbios entre os membros do

grupo.

Conhecer estes fatores e aplica-Ios a bem dos grupos sociais representa

um trabalho dos profissionais q!Jebuscam alternativas para as relayiies sociais.

ZIMERMANN (2000, p. 69) afirma que "A psicologia grupal e resultante da

confluencia das contribui9Oes provindas da teoria psicanalitica e das ciencias

sociais, atraves dos ramos qa Sociologia, da Antropologia Social e Psicologia

Social".

A propria origem permite constatar a dimensiio interdisciplinar do trabalho

grupal.

Nesse aspecto e q4e se faz necessaria a figura do coordenador ou

animador, que na trabalho com,grupos assume 0 papel de lideranya.

AUDRY e ARNAUD (1997) apontam cinco fontes de influencia.

Explicam esses autorlls que existe a lideranya que apresenta um poder de

recompensa. Neste caso, 0 mediador possui uma vantagem que pode beneficiar os

membros que participarem do trabalho em grupo.

o poder de coer,.ao e uma fonte de influencia do lider que detem 0 poder

de punir.

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o peder legitimo e aquele que exerce urn membro a quem se reconhece 0

direito de ter influencia e a obrigayao de aceita-Ia.

Hs, ainda, outras fo~mas de influencia a base de identificayao, exercida

pela pessoa que se constitui e(ll heroi do grupo, urn modelo a ser seguido.

Eo 0 poder de pento, que e aquele que se conforma principalmente no plano

intelectual, e a liderarn;a exerpida por pessoa a quem se atribui conhecimentos ou

competencias particulares.

Note-se que, do po~to de vista do trabalho institucional, e, principalmente,

nos estabelecimentos penais, 0 trabalho com grupos detem urn fim ultimo que e a

harmoniza9Aodes rela¢es spciais intramuros com 0 fim de estende-Ias extramuros.

Se ha uma consolidayao de uma nova dinamica das rela¢es sociais

significa que hB uma harmoniza9Ao individual e, enquanto ser singular, cada urn dos

participantes estars correspondendo a expectativa institucional de que este

desenvolva suas habilidades de convivencia social.

Esta corresponde.,cia pede significar a forma de alcan~r a liberdade

almejada e possibilitada pel~ Legislayao Penal, via progressao de beneficio.

Neste sentido, 0 tF,Ibalhocom grupos nas institui90es penais apresenta fins

que a medida em que 0 trabalho avan~, se complementam, tendo na Iideran9a

mais de uma fonte de influiioncia,pois a recompensa, a coeryao , a legitimidade e a

pericia, a capacidade tecni1:a,sao situa¢es presentes na ayao do pessoal tecoico

que propOe,forma, articula ~ coordena 0 trabalho grupal.

Em funyao dessas caracteristicas, 0 ideal e que esse mediador ou

animador possa articular a.dinamica de uma forma aberla, dividindo a lideran~ no

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decorrer do processo de crescimento do grupo, como esclarecem AUBRY e

ARNAUD (1997, p. 18):

o instigadorpode dividir abertamentea lideranyacom 0 grupo que adotara aestrutura correspondente a suss necessidades e a SUBS aspira¢»es, indican do,conforme 0 casa, urn secretario executive ou urns comissAo executiva OU, ainda,reservandoparasi as d¢cis6es.(...) A lun~o do animadorda discussaodeve serconsiderada como urn: servi90 prestado 80 grupo. Representa a contribu~particular de urn dos membros do grupo e deve servir 80 desenvolvimento e soprogressodo pensame~todo grupo.

Ressalta-se, porem, que cuidados redobrados dever ser tomados ao se

dividir a lideranya com outrosmembros do grupo, quando estes se formarem com

detentos.

Isso porque a medida em que se institucionalizar a lideranya de um des

membros, pode-se estar legitimando um poder extra pois, embora entre os

presidisrios js estejam implicitas as emergencias de I.deres, 0 fato destes serem

confirmados por agentes da il)stituiyao pode conlerir uma legitimidade que passa a

ser consolidada no grupo.

A maturidade do gropo para perceber a finalidade de sua formayao e 0

referencial para se ter seguranya em delegar poderes aos lideres nestas

circunsiancias. Descuidar desse detalhe pode significar 0 desvio dos fins do trabalho

junto aos grupos formados por marginalizados sociais.

Para ZIMERMANN (2000, p. 77), citando BION, 0 grupo sem !fder nso

prospera:

Bicn utilizou esse reCUrso como urn metoda de seleyAo de candidatos ao oficialatomilitar, recolhendointl'ressantesobserva\;ilesde tais experiencias:a) fica vis'velque oem sempre u ue e formal mente designada coincide coma quesurge espontanea b) sao muitos os tipos de lideranyaespontilneas, e 0surgimento varia as distintas circunstAncia de cada grupo; c) urn grupo semnenhumalideranya de a dissolu~o.

Nota-se, com isso·, a dimensao que uma simples proposiyao de um

trabalho grupal pode alcanyar em termos de inter-relayaes sociais.

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Na verdade, a intera!;ii0 entre 0 indivfduo, 0 grupo e a sociedade, demanda

um estrategia por parte do grupoterapeuta, que exige conhecimentos nao somente

tecnico-cientifioos, mas, prinqipalmente, do perfil de cada membro, da institui!;iio,

dos fins e dos desdobramentos de seu lrabalho.

Segundo AUBRY e ARNAUD (1997, p. 35), 0 grupo, ap6s estabelecer seus

objetivos, estabelecer suas rpetas, pode dar infeio ao seu trabalho. no caso do

lrabalho grupal com marginalitados sociais, 0 fim uHimodo trabalho e possibil~ar ai

exclufdo social os meios a constru!;iio de sua cidadania, na esseneia da palavra, ou

seja, cap~liza-lo para exercer seus direitos e corresponder a seus deveres sociais.

A avalia!;iio passa a ser 0 fator mais importante para que 0 grupo possa

promover os ajustes necessarios a consecu!;iio de seus objetivos.

Neste contexto, a avalia!;iio nao tem um fim em si mesma, nao se trata de

aferi!;iio, mas de constata!;iio de avancos e retrocessos do grupo e individual para

retroalimenta!;iio dos lrabalhqs, das discussOes, das reflex6es, das at~udes, das

perspectivas.

Explicam AUBRY eARNAUD (1997, p. 59) que a auto-avalia!;ii0 neste

caso se constitui em um dos meios mais eficazes de que dispOe um grupo quando

deseja governar 0 processo geral de sua atividade, garantindo 0 controle dos

diferente fenomenos que cons\ituem a vida do grupo.

A avalia!;iio assim pensada, permite a evolu!;iio do grupo e a melhoria de

seu trabalho e aprimoramento das relayiies.

Nos grupos de reflexao junto aos encarcerados, 0 que se busca sao

conhecimentos sobre as relayiies sociais, seus mecanismos suas estruturas, formas

de inclusao e exclusao.

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Diante destes conhecimentos, e possivel a cada individuo perceber sua

singularidade, definir seu papal.

E nesse espayo de .reflexao coletiva, no qual a variedade de historias de

vida e 0 limite imposto e impr'escindivel palo respeito as singularidades possibilita a

cada um dos individuos viVenciar as inter-rela¢es sociais pelo seu avesso,

buscando-se assim 0 real dessas inter-rela¢es, muitas vezes escamoteado na mera

aparencia.

Emergem dessas reflexOes alitudes, concep¢es de homem, de mundo,

representa¢es sociais, enfim, todos os mecanismos e fenomenos que regulam a

vida em sociedade e que promovem a diversidade de historias de vida e de

exciusOese inclusoes.

Os autores explicam que "Os instrumentos de auto-avalia~o do grupo

podem dividir-se em duas ca\egorias: os que se utilizam antes das reunioes, visando

o preparo de um programa !de discussao, ou de trabalhos, que corresponda aos

desejos e as necessidades dos participantes; e os que se aplicam depois de um

conjunto de trabalhos, com a finalidade de verificar a rea~o dos participantes e seu

grau de salisfa~o, assim como a de melhorar 0 rendimento do grupo" (AUBRY e

ARNAUD, 1997, p. 43).

Uma tBenica proveitosa e a autocritica. Esta visa um melhor aprendizado

do trabalho em grupo, favorecendo sua conscientiza~o mais significativa dos

comportamentos individuais $ coletivos.

Esta teenica requer uma forte carga de energia emocional e capacidade de

objetividade em sua utiliza~o, pocemos resuRados sao surpreendentes desde que

se garanta a estes interciimbios um elevado grau de franqueza e objetividade.

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Os autores propceJ)1que na realiza"ao da autocritica verbal, 0 grupo

procure analisar alguns pontes essenciais, como os motivos de sua satisfa"ao ou de

sua insatisfa"ao ap6s a re!!liza"ao das reunices, os diferentes incidentes que

possam dar esclarecimentos i;lo grupo sobre seu comportamento que se exterioriza

na forma de bloqueios intelectuais ou emocionais, conversas paralelas, resistencias,

agressividades.

Outros elementos a serem analisados referem-se ao comportamento do

participante, nao enquanto .indivfduos, mas como membros de uma mesma

organiza"ao, 0 que se revela na questao moral, espirito de grupo, respeito pela

opiniao do outro e disponibilid$de para 0 intercambio e a colabora"ao.

o papel do animador tambem representa um fator de analise, no sentido de

constatar se este favorecea participa"ao geral, criando 0 clima oportuno aos

intercambios e a colabora"ao.

Note-se que esla aUlo-critica permite revelar 0 crescimento em termos de

atitudes, de inter-rela¢es, exatamente no que se espera mudanc;asno trabalho com

marginalizados sociais.

o fundamento do lrabalho de reflexao nos grupos efetivado pela discussao

de temas, a¢es e possibiliqades de transforma¢es pode ser sistematizado nas

analises de Pierre ANGERS (in AUBRY e ARNAUD, 1997, p. 76):

o raciocinioexperimental realiza sua marcha, apoiando-se a cada passo naobserval;8o dos fatos' e das situa¢es. Submete 0 pensamento a experiencia ebusca a realidade objetiva. Possui a arte de interrogar corretamente a natureza ede colocar-Ihe quest6es justas, preocupado em verificar rigorosamente asrespastasatrav';' de Umcontrolemet6dico.Esta preocup~o predaminantedeobjetividade ICicida e modesta conduz 0 homem a subordinar suas ideias, seusjuizos e suas normas nao a opini6es pre..fabricadas em circulacAo numdetenninado meio, nem a sentimentos, por mais elevados que possam sef. nern aprincipios mesmo tradicionais. mas a expenencia dos fatos.

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ANGERS, nesta sfnt~se, revela a essencia da ref\exao promovida na acilo

dosgrupos.

1.4.2 Relato de Experiencia

A partir da teoria ~os grupes, a equipe interdisciplinar da Penitenciaria

Central do Estado desenvolveu um projeto no qual foram envolvidos os detentos

matriculados no setor de en"ino daquele estabelecimento penal, tal como se verifica

no apendice 1.

Desse trabalho resultaram experiencias de relayOOs que permitiram

perceber a viabilidade de sa desenvolver esla estrategia como forma de possibilitar

ao homem encarcerado ums oportunidade de refletir 0 mundo, a sociedade e suas

singularidades, bem como a$ inter-relayOOsque se operam nesse universo social.

Dessas reflexc5es,:possibilitou-se a cada individuo perceber a si, as

especificidades de sua histona, bem como suas possibilidades de transformar-se

enquanto sujeno singular capaz de gerir sua historia de vida.

Resultados desse trabalho podem ser percebidos nas autocriticas

produzidas verbalmente e depois sistematizadas pelos integrantes do grupo

individualmente.

Outra maneira di9 exteriorizar 0 processo reflexivo desenvolvido pelos

membros desse grupo foi a formalizacilo de atividades de recorte e colagem,

apresenlados em cartazes que procuram sistematizar a ref\exao dos membros do

grupo sobre sua trajetoria <;Ievida.

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o anexo 1 apre~nta vanas amostras das sistematizacOes que

representam uma reflexao critica sobre a situac;lio vivida pelo excluido social e a

possibilidade de mudan~ para uma nova inter-relac;aosocial.

o que fioou demonstrado neste trabalho a que os fatores extemos ao

grupo, embora significativos, oomo por exemplo a interferencia de oulros

profissionais do sistemas ainpa renitentes ao trabalho ressocializador, nao impediu

que 0 grupo pudesse perder 0 estimulo e a ooes80, buscando assiduidade e

participac;lioefetiva as reuni6¢s.

o crescimento e amadurecimento do grupo pode ser oonstatado oom

propostas sistematizadas, ~nvolvidas em nivel cada vez maior.

A oontinuidade do ,trabalho toma-se necessaria, ata oomo altemativa aos

inumeros entraves pelos q4ais passa 0 tratamento penal, devendo ser ampliado

independente do interesse e' vontade polftica por parte dos orglios mantenedores da

custodia penal, tal oomo preyisto na LEP, mas realizada por seus agentes.

Ooorre aqui urn ferjomeno descrito por ARENDT (1997, p. 49):

A representaros in'eressesmultiplosda sociedade,os etores sociais participar,junto com 0 Esta<lo,de um sistema de media¢es politicas, efetiVando ademocraciae viabil~ndo umaesfera publicade carater plural.Nesse fenomenoemergente, formula-se uma nova conce~o de movimento social, no qual osatores nao se limitam apenas a reagir a determinadas silua~s, mas tambem aproduzir estas ultimas. (...) estes atores definem-se a partir das orienta¢escuHurais e conflitos sociais. nos quais eles e SUBS respectivas bases estejamenvolvidas. demonstrando a capacidade crescente de agirem por si mesmas.

A iniciativa de~ trabalho traz em seu bojo 0 fenomeno descrito por

ARENDT, bern oomo sua retomada sera movida por esta mesma intenc;lio de

agentes sociais oomprometidos oom 0 processo efetivo do tratamento penal.

Nota-se, poram, \lma dificuldade recorrente, representada pela rebelilio de

presos, que eciodiu em juhho de 2000, inviabilizando qualquer trabalho nesta linha

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de a9Ao ate que 0 espayo fisico possa ser reconstruido, bern como urn minimo de

socializayao possa ser estabelecido, uma vez que 0 advenlo da rebeliao provoca

animosidades de diffeil transppsi9Ao senao pela gera9Ao de mais violeneia entre os

proprios presos.

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2 CONSIDERACOES FINAlS

As dificuldades de se desenvolver um trabalho cientifico junto a massa

carceraria da Penitenciari$ Central do Estado, constituida hoje por 4.500 presos,

representam um incentiv~,e um desafio a ser vencido.

Na verdade, 0 maior incentivo foi justamente a vontade do interne em

contribuir com a equipe e ,coma propria hist6ria carceraria.

f!w contrario do que 0 senso comum concebe, 0 apenado, em sua

singularidade, e um individuo solidario, cooperativ~ e detem um' ansia muito

importante ~ buscal faz$r as coisas de forma diferente.

A proposta de \rabalhar nos grupos foi recebida com entusiasmo e a

doayao para os trabalhog permitiu a evoluyao dos mesmos.

o entrave se conslituiu na cultura de cust6dia, de maneira que para os

servidores que atuam ~esta area, 0 preso oao precisa tratamento diferente

daquele que dispensou as suas vftimas.

Compactuar com esse raciocinio e fomentar um cicio vicioso onde a

violencia gera violencia; e a faHa de perspectivas faz com que a reincidencia

aumente ano ap6s ano.

Contudo, 0 senso comum toma-se voz corrente entre os que

promovem a seguran9$ dos presidios. Estes tornam-se porta-vozes da vontade

popular de imputar ca~tigos ao condenado, maiores do que a pr6pria pena

promulgada na sentenya condeoat6ria que Ihes tirou a liberdade e segregou do

convfvio social.

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Nestas circunstancias, transpor as barreiras do ranyo cronico que ve no

preso apenas urn margin~1que deve pagar a sua pena e a pena de sociedade

como urn todo toma-se fundamental.

A sociedade nao percebe a origem de suas mazelas e a fetichiza,

atnbuindo outras causas" e 0 homem encarcerado e urn desses fetiches. A

sociedade acredita que e. 0 criminoso 0 responsavel pela cnminalidade e nao

reflexo da violencia a que ~odaa sociedade esm submetida.

Tambem 0 hom~m encarcerado nao consegue uttrapassar a aparencia

de sua histona de criminalidade.

As circunstancias de)crime e a sua necessidade premente refletem a unica

verdade que conseguem al~n9Br.

o trabalho nos grupos permitiu a cada individuo conjuntamente desvelar 0

real.

Os individuos, ap6s participarem das reflexoes nos grupos, puderam

perceber a similaridade das \rajet6rias de suas historias de vida.

Embora 0 contexto/se singularize, se tome especifico, 0 carater anterior, da

sociedade excludente, apa~ como urn feniimeno comum a todos.

o processo de .exclusao se consolida pela falta de oportunidades

educacionais, culturais, pel~ falta de oportunidade de emprego, de ter uma famma,

uma religiao, urn lugar com~m, urn teto, entre outros.

Os participantes ,perceberam que M excluidos que buscam solu¢es

positivas aos seus problemas, de maneira que a todos e possivel empreender

esforyos sem que outros s~jam prejudicados.

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Ficou claro nas reflexpes e trocas entre os participantes que coletivamente

cada um se tomou mais fortalecldo, que talvez a solu¢o possa sar buscada

coletivam6tne a partir da conscientiza¢o de cada um enquanto classa social

exclufda que busca meios para transformar sua realidade.

Ha que se lembrar que para 0 preso, as barreiras que os "c6digos de etica"

prisional impoem foram transpostas para que 0 lrabalho com 0 grupo flufsse. Isso

tomou 0 lrabalho de discusslio e reflexao mais nco, pois concretizou uma

possibilidade de intera¢o positiva.

Contudo, sa 0 traba!ho e as tecnicas aplicadas sa mostraram positivas tal

qual se pode constatar nos a~exos, a continuidade dos trabalhos sa vii prejudicada,

uma vez que na data de 0,5.06.2000 uma rebeliso de presos deslruiu todos os

setores tecnicos da Peniten~aria Central do Estado, e tudo relomou ao ponto de

partida, com uma pequena d,iferen93:a experiencia mostrou que a proposta e viavel

e, sa ampliada e retomad" junto a toda a massa carceraria, poders servir de

instrumento a individuos para buscar outros meios que nso os violentos para mudar

a realidade de suas histOriasde vida.

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REFERENCIAS BIBLIOGRP.FICAS

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APENDICE1

PROJETO DE PESQUISA

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TEMA

A importancia do trabalho de grupo no Sistema Penitenciario do

Parana, no municipio de Piraquara,

DELIMITACAO DO TEMA

o trabalho de grupo desenvolvido na Penitenciaria Central do Estado

do Parana, no regime fechado e de seguranya maxima, traz beneficios para a

ressocialiZ8gaodestes intemos na sociedade,

Estes intemos estao destinados a cumprirem de pena, por

determina9ilo judicial, conforme a Lei de Execu9ilo Penal (LEP),

FORMULACAO DO PROBLEMA

Quais as oportunidades desenvolvidas, atraves do projeto de

ressocialiZ8gao interdisciplinar, abordados no trabalho de grupo da

Penitenciana Central do Estado do Parana,

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HIP6TESES

Os inlernos da Penitenciaria Central do Estado slio preparados para a

progresseo do regime fechado para 0 semi-aberlo.

Os lemas expostos devem propiciar 0 desenvolvimento da auto estima

e, conseqOenlemente,posslbilitar a vida em sociedade.

QUESTOES DE PESQUISA

Quais os processos utiUzados para a conscienti~o e uma

avaliayAo de seus delilos, atraves do programa?

As mudan98Sde comportamento ocorridas ap6s as atividades em

grupo.

Programa de grupo da PenilenCiaria Central do Estado, oporluniza

criar condi¢eg de desenvolver a auto estima e resgatar a

Cidadania?

Como eu me vejo antes e depois de ingressar no Sistema

Penitenciario?

Qual a importanCiado estudo em minha vida?

o que significa familia para minha vida?

Quais slio os criterios que as empresas utilizam para a admisslio?

Observa9iio: a participa9iio dos internos devera ser autorizada pela

Chefia de Segura~ da Unidade Penal.

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TIPO DE ESTUDO

Estudo de caso.

METODOLOGIA

Os trabalhos foram desenvolvidos em grupo de 15 internos,

quinzenalmente ou semanalmente.

o corpo tecnico e de duas (2) pedagogas, (uma para conduzir os

trabalhos e a outra para as anota¢es necessarias.

Trabalhamos com dinamica de grupos e dramatiza~o.

Quando os termos foram abrangentes, solicitou-se tecnicos das areas

especificas. Examplo: familia (cargo de assistente social), etc.

No inicio das atividades e comunicado para os internos 0 objetivo e os

crrrenos do grupo e, ao final de cada atividade, e realizada uma avali~ das

atividades expostas pelos internos (verbalmente).

As atividades desenvolvidas com usa de cartazes ou dramatiza~o.

Material utilizados: tesoura, cola, revista, canetas hidrograficas.

Realizada avalia~o com os internos que participaram de cada grupo.

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FUNDAMENTACAO TE6RICA

Anais - Programa Alfabetizayiio - Elementos para Qualificayiio do

ProfessorA1fabetizador.

A Crise da Sociedade e da Educayiio.

Resumo: 0 presente texto se compOe de tres partes. A primeira trata

da relayiio existente entre crise economica e educayiio. A segunda tenta

mostrar 0 conteudo dos discursos ou das criticas feitas a educayiio que,

nesses periodos de comoyiio, silo a expressao das novas exigencias da

sociedade. A terceka da indicay5es para estudos posteriores sobre a

tendencia, em ambito mundial, da privatizayiio de alguns servic;os publicos

considerando que as funyOes de carater assistencial do Estado, assumidas

como de "resgate da divida social", vem crescendo e se diversificando.

1 - Crise economica = crise educacional.

A hip6tese deste trabalho consiste em afirmar que as grandes

experiencias feitas com respeito a educayiio sao correlatas Ormas siamesas)

as crises sociais. Crise na sociedade gera, automaticamente, forte

reivindicayiio educativa!

Isto quer dizer que, em todos os momentos de desenvolvimento elou

de reproduyiio da sociedade capitalista, quando novos padrOesde acumulayiio

emergem ou quando um determinado tipo de acumulayiio nao esta se

viabilizando, a comoyiio social se instaura, e, nesse periodo de abalo

generalizado, a educayiio e convocada para prestar contas II sociedade do que

naofez!

A insatisfayiio com a permanencia de cartas dificuldades

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leva a sociedade a denunciar todas as institui¢es sociais. As criticas vao se

solidificando ao longo desse periodo de sofrimento e deixam clara a nega~o

da oomunidade em aprovar os modelos existentes.

Os modelos institucionais oom seus procedimentos operacionais, ate

entao oonsiderados validos para a organiza~o social, sao reoonhecidos oomo

incapazes para resolver as dificuldades que oontinuam a crescer. 0 cidadao

nao mais percebe na sociedade, alternativas tranqOilas para manter-se oom

dignidade. Espontaneamente, regulados pelo senso oomum, sem atingir a

explica~o das origens efetivas dos problemas vividos, explodem discursos

oontra a ineficacia das assembleias, dos Tribunais, do Sistema Previdenciario

e... das Esoolas.

A crise nao pode ser pensada fora da realidade e diante da

identifica~o da problematica mais profunda que esm a empenar a produ~o da

propria vida, passa a ser analisada apenas nos limites da gerencia desses

organismos, sem oonsiderar os elementos fundamentais que a oonstituem, ou

seja, deixando de lado a base eoonomica que a sustenta, parcializando,

departamentalizando, dividindo. Sua elabora~o serve apenas para,

ideologicamente, distribuir responsabilidades morais a de!erminados gnuposde

individuos identificados apenas por seus vinculos empregaticios.

Os vinculos empregaticios nao qualificam 0 homem oom estas ou

aquelas caracteristicas, ao oontrario, sao a expressiio da organiza~o da

sociedade, assim oomo as institui¢es sociais sao a expressiio da base

material, a crise nao pode ser pensada oomo passivel de ser resolvida pela

simples reorienta~o das instiluiyiies. No entanto, mesmo nao sendo viavel

pense-Ia oomo algo a um selor especifioo, a uma area definida, os educadones

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geralmente a elaboram como um fenomeno no qual sua responsabilidade e

principalizada. Foi assim, nos idos de 20. Foi na decada de 60. Foi assim nos

anos 80. Ese perpetua nos anos 90, como consequencia do acionamento da

crise intemacional.

Assumindo-se em 1889, por o~o didatica, para identificar as formas

de realiza9ilo interna da crise do capital (que se processa entre 1873-1896),

pode-se associar 0 novo padriio de acumula9ilo que gerencia a crise social

desse momento com 0 Projeto Educacional proposto para a Republica. Com

uma credibilidade absoluta, com um entusiasmo religioso, intelectuais, politicos

e educadores exp6em ao publico as precarias condic;6es do sistema

educacional e vicios do velho ensino ate entao ministrado.

Cria9ilo de Secretaria para atender os assuntos relacionados com a

Institui9ilo Publica, forma9ilo de Sistema Estaduais de Ensino, reparti9i\O de

competencia sobre os niveis de instru9ilo, reformas educacionais (Benjamin

Constant, Caetano de Campos, Leoncio de Carvalho), Leis, reformula9ilo de

conteudo, novos objetivos e novas tecnicas didaticas sacudiram as escolas por

dentro neste periodo de depressiio internacional, e ao mesmo tempo de

ascensiio do imperialismo, que se solidificava, neturalmente, a partir desta data

limite de 1986.

Embora 0 marco da 2" crise do Capital se efetue no limites de 1929-

1930,0 que interessa sao os acontecimentos que precedem ou sucedem esse

marco. As transformac;6es economicas que a sociedade realizou a partir do

termino da I Grande Guerra nao podem ser esquecidas para se poder

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entender melhor 0 periodo que os educadores costumam chamar de otimismo

pedagogico.

o fato a que 0 novo padriio de acumula9<ioque se impos a partir dos

anos 20, trouxe consigo a pratica da organiza9<iocientifica do trabalho. Trouxe

a mecaniza9<io,a padroniza9<io,0 planejamento do trabalho, a produ9<io em

sarie, a decomposi9<io de tarefas como medida de racionaliza9<io, etc.,

levando, assim, nao so a destrui9<iodos velhos padrOes de produ9<io,como apropria crise de 20. A competi9<io gestada no interior dessa nova fonma

(monopolista) de organiza9<io do capaal, responsiivel pela crise de 1929-30,

em si mesma nao interessa se nao for lembrado que as exigencias para a

transfonma9<ioda escola jii estavam sedimentadas nas novas exigencias

praticas de reprodu9<iodo capital.

Assim, exatamente no bojo de transfonma¢es da ordem capitalista - a

que idaias consideradas renovadoras sabre 0 sistema educativo invadem a

sociedade, invadem os meios de comunica9<ioe mobilizam definitivamente os

educadores. A reconstru9<ioeducacional do Brasil, proposta pelos intelectuais

em 1932, a a expressao mais acabada da fa~a de autonomia pedag6gica na

dinamica de um modo de produ9<io.Expressao social que cuidou da cria9<iode

novos servi9QS para melhor direcionar 0 ensino, para melhor programar

politicamente a educa9<io, para melhor difundir a escola, para implantar

matarias ou disciplina~ novas nos curriculos academicos considerados

retrogrados, ou para melhorar a didiitica da instru9<io.

Tentando, fundamentalmente, objetivar desde 1956 0 padriio de

acumula9<iodefinido pela 2" crise do capital, 0 Brasil, a partir de 1964, (quando

este padrao jii entrou em processa de consequencia a integra9<iobrasileira ao

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movimento economico intemacional. A crise economica deste

periodo,determinada pela capacidade produtiva superior a demanda, e que e

entendida vulgarmente apenas como uma crise politica que se objetiva no

autoritarismo, e acompanhada por uma serie de medidas prsticas de

restrutura9Bo das institui¢es sociais, entre as quais podem ser incluidas

aquela da educa9Bo.

Tal como em 30, a partir de 64-68 os pianos de desenvolvimento

garantiram para a educa9BO um lugar privilegiado. Ninguem pode ter-se

esquecido de como, na decada de 70, os sistemas de Ensino dos Estados

participaram desses pianos. Cursos de Mestrado, de ESpecializa9Bo,

Treinamento, Reciclagens, Conferencias, Palestras, etc., ocuparam muitas

horas de trabalho dos professores de 1", 2" e de 3" Graus.

As Reformas Educacionais e 0 tecnicismo retomavam como nova

exigencia e sob formas mais sofisticadas. 0 credito na rela9Bo linear "educa9BO

e desenvolvimento" continuava presente ou arraigado a mentalidade da

popula9Bo e da maioria dos docentes. Foi a epoca da prolifera9Bo, da

divulga9Boe/ou do credito nas teorias do Capital Humano.

Na 38 crise do Capital, deflagrada a partir de 70, situa9Bo se repete,

embora a rela9Bo linear educa9Bo e desenvolvimento js tenha, de certa forma,

desaparecido, embora 0 professorado js tenha descoberto que a e~la no

interior de uma sociedade de classe e uma escola que niio pode ser

considerada revolucionsria, mesmo assim, a rela9Bo permanente, entre crise

economica e novas demandas educacionais nao e perfeitamente identica.

A organiza9Bo de um novo padrao de acumula9Bo ao nivel

intemacional, que faz com que 0 Estado tenha de "sucatear-sa" para poder

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bancar 0 capital privado em novo palamar de competitividade, exige

transforma¢es das (antigas) exigencias dos padriies coletivos de

comportamento. Ha uma reapreciacao dos comportamentos ate entao

praticados, ha todo urn reajuste comportamenlal em todos os niveis,

principalmente porque a nova base de produ9iio incipiente e amedrontadora

elimina cada vez mais mao-de-obra. Por sua vez, a eliminacao de mao-de-

obra, que torna, cada vez mais inviavel a propria economia de mercado,

garante uma indefinicao mais prolongada da reestruturacao do espa90

economico mundial sob coordenados do capilal.

Independentemente desla realidade material. inumeras reivindica¢as

sobre educa9iio foram feilas pelos docentes e pela sociedade civil no periodo

de 80, entao considerada por todos como de redemocratizacao do pais.

o exorcismo ou a analise da escola efetuada ate meados de 80,

fundava-se apenas no movimento politico de liberta9iio do autorilarismo

intervencionisla do Estado. Esta analise, em nenhum momento, extrapolou 0

limite epidermico da redemocratiza9iio. A passagem da jurisdicao militar para

civil foi entendido levianamente apenas como produto de vontades livres e

"Iucidas·. E, assim, a crise decodificada apenas nos marcos da superestrutura,

determinou outras frentes de modificacao da escola. Pediu-se contas a escola

depois de se a tar denunciado como autoritaria e classisla. Propagou-se,

tamMm, a incompetencia da escola com a mesma conviccao ja vivida em

momentos de crises anteriores.

Em 91, a crise economica, em se mantendo, traz, ao nivel de Eslado, 0

Projeto de Reconstru9iio Nacional do Governo Collor. Nesse momento, mais

do que 0 detalhamento deste projeto importa ver como a chamada sociedade

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civil se comporta frente a instilUiyao escolar.

Para isso basta 1embrar como a imprensa vern lratando 0 sistema

educativ~, os professores de modo em geral e, principalmente, 0 ensino de 3·

Grau. (p. 23-27).

LEP - LEI DE EXECUCAO PENAL

A Assistencia Educacional compreende a instruyao escolar e a

formayao profissional do preso e do intemado. 0 ensino de l' grau e

obrigatorio, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa. 0 ensino

profissional e ministrado em nivel de iniciayao ou de aperfei9QBmentotecnico.

A mulher condenada deve ter ensino profissional adequado a sua condiyao. As

atividades educacionais podem ser objeto de convenio com entidades publicas

ou particulares, que instalem escolas ou ofere9Bm cursos especializados. Em

atendimento as condi¢es locais, dotar-se-a cada estabelecimento de uma

biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros

instrutivos, recreativos e didaticos.

Do condenado e do intemado, a assisrencia ao preso e ao intemadO e

dever do Estado, objetivando prevenir 0 crime e orientar 0 retomo a

convivencia em sociedade. A assistencia estende-se ao egresso. A assistencia

sera: material, a saude, juridica, educacional, social e religiosa.

Do trabalho intemo: 0 condenado a pena privativa de liberdade esta

obrigado ao trabalho na medida de suas aptidiies e capacidade; para 0 preso

provis6rio, 0 trabalho nao e obrigat6rio e s6 podera ser executado no interior do

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estabelecimenlo. Na alribuic;ao do trabalho devem ser levadas em conta a

habilitac;ao,condic;ao pessoal e as necessidades Muras do preso, bern como

as oportunidades oferecidas pelo mercado. Deve ser limitado, tanlo quanto

possivel, 0 artesanato sem expressiio economica, salvo nas regi6es de

turismo, os maiores de 60 (sessenta) anos podem solicitar ocupac;ao

adequada a sua idade. Os doentes ou deficientes fisico somente exercem

atividades apropriadas ao seu estado. A jomada normal de trabalho nao 19

inferior a 6 nem superior a 8 horas, com descanso nos domingos e feriados;

pode ser atribuido horario especial de trabalho aos presos designados para os

servic;osde conservac;aoe manutenc;aodo estabelecimento penal. 0 trabalho

pode ser gerenciado por fundac;ao, ou empresa publica, com autonomia

administrativa, e tem por objetivo a formac;aoprofissional do condenado; nessa

hip6tese, incumbe a entidade gerenciadora promover e supervisionar a

produc;ao, com criterios e metodos empresariais, encarregar-se de sua

comercializac;ao, bem como suportar despesas, inclusive pagamento de

remunerac;ao adequada. Os 6rgaos da Administrac;ao direta ou indireta da

Uniao, Estado, Territ6rios, Distrito Federal e dos Municipios 119m,com dispensa

de concorrencia publica, os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que

nao for possivel ou recomendavel realizar-se a venda a particulares. Todas as

importancias arrecadadas com as vendas reverterao em favor da fundac;ao ou

empresa publica, ou na sua falla, do estabelecimenlo penal.

Os deveres, direilos e disciplinas: cumpre 0 condenado, alem das

obriga¢es legais inerentes ao seu estado, submeter-se as normas de

execuc;ao da pena. Constituem deveres do condenado: Comportamento

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disciplinado e cumprimento fie! da sentenya, obediencia ao servidor e respeito

a qualquer pessoa com quem deve relacionar-se, urbanidade e respeito no

trato com os demais condenados, conduta oposta aos movimentos individuais

ou coletivos de fuga ou de subversao a ordem ou a disciplina, execu~o do

trabalho, das tarefas e das ordens recebidas, submissao a san~o disciplinar

imposta, indeniza~o a vitima ou aos seus sueessores, indeniza~o ao estado

quando possivel, das despesas realizadas com a sua manuten~o, mediante

desconto proporcional da remunera~o do trabalho, higiene pessoal e asseio

da eela ou alojamento, conserva~o dos objetos de uso pessoal. Aplica-se ao

preso provis6rio, no que couber, 0 disposto neste arogo.

Dos direilos: impiiem-se a todas as autoridades 0 respeito a

integridade fisica e moral dos condenados e dos presos provis6rios.

Constituem direilos do preso: alimenta~o suficiente e vestuano, atribui~o de

trabalho e sua remunera~o, previdencia social, constilui~o de pecUlio,

proporcionalidade na distribui~o do tempo para 0 trabalho, 0 descanso e a

recrea~o, exercicio das atividades profissionais, intelectuais, artislicas e

desportivas anteriores, desde que compativeis com a execu~o da pena,

assistencia material, a saude, juridica, educacional, social e religiosa, prot~o

contra qualquer forma de sensacionalismo, entrevista pessoal e reservada com

o advogado, visita do ciinjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias

determinados, chamamento nominal e igualdade de tratamento salvo quanto as

exigencias da individualiza~o da pena.

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ANEX01

FOTOS DOS TRABALHOS REALIZADOS PELOS

PARTICIPANTES DOS GRUPOS

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