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O USO DO COMPUTADOR NO ESTUDO DE FUNÇÕES NO ENSINO MÉDIO Fabio Vieira dos Santos, UEL, [email protected] Karina Alessandra Pessôa da Silva, UEL, [email protected] Lourdes Maria Werle de Almeida, UEL, [email protected] 1. INTRODUÇÃO Apesar de reconhecida a importância do ensino de funções no Ensino Médio, por exemplo, nos PCNEM (Brasil, 1998), e de haver um incentivo para que seu estudo seja realizado por meio de situações-problema diversificadas tanto na Matemática como em outras áreas, de acordo com algumas pesquisas, isto ainda não é uma realidade. O conhecimento dos alunos acerca desse conceito fica compartimentalizado e estes mostram dificuldade em estabelecer relações entre as informações de diferentes formas de representação. Além disso, é preciso considerar o acelerado desenvolvimento tecnológico dos últimos anos nas mais diversas áreas. Muitas pessoas, de modo direto ou indireto, foram atingidas por estes avanços e a utilização de computadores em rede, bem como o advento da internet passaram a possibilitar a troca de informações de forma mais simples e rápida. Deste modo, saber ler, escrever, contar e fazer cálculos elementares, ainda que necessário, não é suficiente nos dias de hoje. Viver bem na sociedade

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O USO DO COMPUTADOR NO ESTUDO DE FUNÇÕES NO ENSINO MÉDIO

Fabio Vieira dos Santos, UEL, [email protected]

Karina Alessandra Pessôa da Silva, UEL, [email protected]

Lourdes Maria Werle de Almeida, UEL, [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Apesar de reconhecida a importância do ensino de funções no Ensino Médio, por

exemplo, nos PCNEM (Brasil, 1998), e de haver um incentivo para que seu estudo seja

realizado por meio de situações-problema diversificadas tanto na Matemática como em

outras áreas, de acordo com algumas pesquisas, isto ainda não é uma realidade. O

conhecimento dos alunos acerca desse conceito fica compartimentalizado e estes

mostram dificuldade em estabelecer relações entre as informações de diferentes formas

de representação.

Além disso, é preciso considerar o acelerado desenvolvimento tecnológico dos

últimos anos nas mais diversas áreas. Muitas pessoas, de modo direto ou indireto, foram

atingidas por estes avanços e a utilização de computadores em rede, bem como o

advento da internet passaram a possibilitar a troca de informações de forma mais

simples e rápida.

Deste modo, saber ler, escrever, contar e fazer cálculos elementares, ainda que

necessário, não é suficiente nos dias de hoje. Viver bem na sociedade ‘informatizada’,

depende muito da análise, da interpretação e da compreensão das informações cada vez

mais complexas.

Assim, neste trabalho apresentamos a Modelagem Matemática como alternativa

pedagógica para o ensino de função, visto que é na perspectiva da articulação com a

realidade que pensamos o trabalho com a modelagem. Além disso, abordamos a

importância do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), mais

especificamente do computador, em situações de modelagem e propomos três atividades

utilizando os softwares Modellus e Excel, os quais permitem a experimentação, a

representação gráfica e a manipulação direta de dados no estudo das situações

envolvidas e na obtenção dos modelos matemáticos.

2. A APRENDIZAGEM E OS AMBIENTES INFORMATIZADOS

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Ao se propor o uso do computador ou de um software educacional em atividades

de ensino e aprendizagem, é preciso considerar que essa mídia, qualitativamente

diferente, “contribua para modificar as práticas do ensino tradicional vigentes” (Borba

e Penteado, 2003, p.51). Nesse sentido, há vários estudos já realizados que visam

aprofundar as compreensões acerca da utilização da informática na Educação

Matemática. Dentre eles, Borba e Penteado (2003), Benedetti (2003) e Menk (2005),

que se apóiam nas noções de Levy (2006).

De acordo com Levy (2006), a história do desenvolvimento humano sempre

esteve intimamente relacionada com a história das mídias. Para o autor, o pensamento

consiste numa realização do coletivo pensante composto de seres humanos e tecnologias

da inteligência, sendo esta caracterizada pela oralidade, pela escrita e pela informática,

consideradas por ele as três grandes técnicas associadas à memória e ao conhecimento.

A oralidade, nesse sentido, constitui uma forma de estender a memória. Em

sociedades sem a adoção da escrita (oralidade primária), a cultura está fundada nas

lembranças dos indivíduos. Nessas sociedades, a inteligência é, em geral, identificada

com a memória, principalmente a auditiva.

A escrita por sua vez, provoca, com seu surgimento, uma nova forma de

comunicação. “A comunicação puramente escrita elimina a mediação humana [...] que

adaptava suas mensagens vindas de um outro tempo ou lugar” (Levy, 2006, p. 89). O

saber agora pode ser estocado, consultado e comparado, tornando-se objeto suscetível

de análise e exame. Além disso, assim como a oralidade, a escrita consiste em uma

forma de estender a memória, embora de maneira diferente. As representações na

escrita, diferentemente da narrativa, tendem a perdurar, mais ainda quando se passa dos

manuscritos para o impresso, possibilitando uma divulgação mais intensa dos signos na

sociedade.

Em relação à informática, Levy argumenta: “Ao analisar tudo aquilo que, em

nossa forma de pensar, depende da oralidade, da escrita e da impressão,

descobriremos que apreendemos o conhecimento por simulação, típico da informática,

com critérios e reflexos mentais ligados às tecnologias intelectuais anteriores” (Levy,

2006, p. 19)

Levy (2006) considera a simulação como uma “imaginação auxiliada por

computador”, e ao mesmo tempo uma potente ferramenta de ajuda ao raciocínio. Para o

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autor, o conhecimento por simulação é menos absoluto que o conhecimento teórico, é

mais operatório e mais ligado às circunstâncias particulares de uso. Enquanto o

conhecimento produzido por teorias está associado à transmissão de informações e

processos empíricos, na simulação o conhecimento é produzido por reflexão, tentativa e

erro.

Pesquisadores como Borba e Penteado (2003) também fundamentam seu trabalho

em Levy (2006). Ao destacarem a importância das diferentes mídias na geração de

novos conhecimentos eles adotam uma perspectiva teórica “que se apóia na noção de

que o conhecimento é produzido por um coletivo formado por seres-humanos-com-

mídias, ou seres-humanos-com-tecnologias” (Borba e Penteado, 2003, p. 48).

Borba (1999) baseando-se em teorias de Tikomirov (apud Borba, 1999) defende

que o computador provoca uma reorganização da atividade humana e defende a idéia de

que a comunidade de Educação Matemática deve dar atenção também aos problemas

que podem ser resolvidos pelos sistemas ser humano-computador.

3. ESTUDO DE FUNÇÃO NO ENSINO MÉDIO

Como “Função” é um conceito matemático muito utilizado em várias áreas do

conhecimento, pois tenta explicar e modelar fenômenos físicos e sociais, ele é

considerado um assunto muito importante na Matemática. Além disso, esse é um dos

conceitos que mais se destaca dentre os outros desenvolvidos na Matemática do Ensino

Médio. Acredita-se que essa importância está vinculada com a busca do ser humano em

explicar fenômenos relacionados à natureza e à sociedade, procurando suas

regularidades. E isso está explicitado nos PCNEM (Brasil, 1998), “é preciso que o

aluno perceba a Matemática como um sistema de códigos e regras que a tornam uma

linguagem de comunicação de idéias e permite modelar a realidade e interpretá-la”.

De acordo com Dominoni (2005), a função é caracterizada “como um

instrumento na busca destas regularidades, pois estabelece uma relação entre dois ou

mais conjuntos”. Perceber as regularidades que nos cerca auxilia-nos a perceber a

repetição de certo fenômeno tantas vezes quanto julgarmos necessário, tentando prever

resultados para podermos elaborar estratégias de ação. Dessa forma, segundo os

PCNEM, sobre o estudo de função é preciso que os alunos:

Além das conexões internas à própria Matemática, o conceito de

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função desempenha também papel importante para descrever e

estudar através da leitura, interpretação e construção de gráficos,

o comportamento de certos fenômenos tanto do cotidiano, como

de outras áreas do conhecimento, como a Física, Geografia ou

Economia. Cabe, portanto, ao ensino de Matemática garantir que

o aluno adquira certa flexibilidade para lidar com o conceito de

função em situações diversas e, nesse sentido, através de uma

variedade de situações problema de Matemática e de outras

áreas, o aluno pode ser incentivado a buscar a solução, ajustando

seus conhecimentos sobre funções para construir um modelo

para interpretação e investigação em Matemática. (PCNEM,

Brasil, 1998, p. 43).

Segundo Brito (2004) que realizou uma pesquisa sobre a atribuição de sentido e

construção de significado em situações de Modelagem Matemática envolvendo funções

diversas, a valorização da Matemática também pode acontecer quando os alunos

percebem que seus conceitos permitem compreender e explicar vários tipos de

situações, e as funções podem ser importantes porque tenta explicar diversas situações.

Conforme relato dos alunos pesquisados por Brito, as funções “...ajudam a entender

quando uma coisa aumenta ou diminui...”.

Dessa forma, mais do que entender o conceito de função é preciso atribuir sentido

a ele, pois com isso os alunos poderão perceber as regularidades de diversos fenômenos

que os cercam.

3.1. Funções e mídias informáticas

Fazendo um levantamento acerca de alguns trabalhos que apresentam resultados

de pesquisas associando o estudo de funções à presença de tecnologias informáticas, nos

deparamos com a dissertação de Benedetti (2003). Nela o autor apresenta um

levantamento feito por ele, também nesse sentido, e discute algumas pesquisas com as

quais entrou em contato durante o período de desenvolvimento do trabalho.

De acordo com Benedetti (2003), o assunto funções é muito amplo, sendo

encontrado em diversas pesquisas de forma bastante variada. Dessa forma, segue alguns

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dos trabalhos apresentados em Benedetti (2003) e outros encontrados no levantamento

que fizemos. Lembrando que, nesse caso, o foco serão apenas aqueles envolvendo, não

apenas, mas algumas funções específicas e as mídias informáticas.

Trabalhando com alunos de Ensino Médio, Costa (1997), contrasta seqüências

pedagógicas no estudo das funções seno e cosseno. As seqüências envolveram artefatos

experimentais, tais como pêndulos de areia e simulador de alarme ótico, e atividades

envolvendo o uso do computador, nesse caso, utilizando os softwares Cabri Geométre e

Graphmatica. Por meio de análises quantitativas e qualitativas Costa (1997) conclui que

a seqüência em que os alunos primeiro trabalharam com manipulações de objetos ditos

do “mundo real”, para, em seguida, utilizarem o software, apresentaram melhores

índices de aprendizagem.

Em seu trabalho, também com alunos do Ensino Médio, Benedetti (2003) afirma

que por meio do software Graphmatica, os estudantes puderam explorar criticamente

certos conceitos e propriedades de funções, muitas vezes percorrendo caminhos

diversos, caracterizando uma plasticidade que a mídia escrita geralmente não incentiva.

Segundo o pesquisador, os estudantes participantes desta pesquisa transitaram por

noções mais amplas de função, incluindo-se as propriedades e as representações de tal

conceito. O software gráfico, entre outras mídias disponíveis, permitiu aos estudantes

complexificarem os conceitos acerca de função, trazidos da 8ª série, bem como aqueles

trabalhados em suas aulas regulares.

Nesse sentido, Borba (1999) afirma que devido à capacidade dessas novas mídias

na geração de gráficos há um deslocamento da ênfase algébrica dada ao estudo de

funções para uma atenção maior à coordenação entre representações algébricas, gráficas

e tabulares. Allevato (2005) por sua vez, ao abordar em seu trabalho as múltiplas

representações, destaca as investigações realizadas por Pierce e Stace, as quais indicam

que, se os recursos tecnológicos permitem, os alunos “movem-se” livremente entre as

representações algébricas e gráficas de funções e que, familiarizados com o ambiente

(computacional), apresentam preferência pelas representações gráficas. Uma das

justificativas consiste do fato de alguns softwares permitirem uma rápida e fácil

passagem das representações algébricas para as representações gráficas.

Gravina e Santarosa (1998), afirmam que o caráter estático das representações

matemáticas muitas vezes dificulta a construção do significado, afetando

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substancialmente a construção de conceitos e proposições. Segundo as autoras, os

recursos computacionais oferecem instâncias em que a representação passa a ter caráter

dinâmico e refletem nos processos cognitivos. Esse dinamismo é obtido com a

possibilidade de fazer manipulações diretas sobre diferentes representações que se

apresentam na tela do computador.

Nesse sentido, cabe destacar uma importante característica de programas com

recursos simulação: a possibilidade das diversas representações de uma mesma situação.

Com esses softwares os alunos têm a possibilidade de avaliar qualitativamente as

relações matemáticas mediante o dinamismo das representações visuais oferecidas.

Analisar e compreender uma função, bem como o fenômeno a ela relacionado é

conseguir avaliar cada uma das representações apresentadas e trafegar entre elas.

4. MODELAGEM MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

A Modelagem Matemática1, no âmbito da Educação Matemática, tem sido

apontada em diversos estudos como uma estratégia de ensino e aprendizagem que pode

contribuir para a construção do conhecimento dos alunos, pois, entre outros aspectos,

constitui uma alternativa pedagógica cuja perspectiva é de articulação com a realidade.

Segundo Dias (2005) “a Modelagem Matemática concebida como um processo

matemático que envolve a formulação de hipóteses e simplificações adequadas na

criação de modelos matemáticos para estudar fenômenos reais pode ser vista como

uma alternativa para inserir aplicações da matemática no currículo escolar sem, no

entanto, alterar as responsabilidades concedidas ao ensino” (Dias, 2005, p. 39).

Nesse sentido, como podemos encontrar em Santos e Almeida (2006), com a

Modelagem Matemática, os alunos, por meio da abordagem de situações reais, têm a

oportunidade de verificar a aplicabilidade da Matemática em contextos diversos, bem

como ter uma compreensão melhor de sua realidade, podendo interagir com ela.

Para Ponte (1992a, apud Dias, 2005, p. 37) a apresentação de novos conceitos a

partir de situações reais, pode ser uma base concreta para desenvolver conceitos, como

também ter um importante papel motivador. Geralmente quando o aluno trabalha com a

Modelagem Matemática se envolve com a situação real estudada, procurando em

primeiro lugar entendê-la, agindo como um investigador. Trabalhando situações reais, o

1 Em alguns momentos deste trabalho utilizamos o termo Modelagem para nos referirmos à Modelagem Matemática

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aluno pode compreender a importância da Matemática no seu dia-a-dia e sentir-se

motivado a conhecê-la.

Malheiros (2004), além de destacar o caráter motivador, afirma que ao se trabalhar

com a Modelagem, o professor possibilita uma determinada autonomia para os

estudantes buscarem e compreender temas de seus interesses, e, com isso, conseguir,

muitas vezes, atribuir significados para determinados conteúdos que, talvez não

atribuíssem se os mesmos fossem estudados em outro ambiente. Nesse sentido,

destacamos o trabalho de Almeida e Brito (2005), os quais afirmam que a Modelagem

proporciona aos alunos a atribuição de sentido e a construção de significados para os

conceitos matemáticos com que se defrontam nas aulas de Matemática, contribuindo

com isso para sua aprendizagem.

Outro benefício do trabalho com a Modelagem Matemática consiste na

possibilidade de o aluno, por meio de cálculos e observações, validar o modelo, fazer

previsões ou manipular a realidade em estudo. Dessa forma, o aluno pode trabalhar com

uma situação de diversas formas, não só buscando uma solução atual, mas podendo

controlar acontecimentos futuros, tendo a criatividade e a curiosidade instigadas o

tempo todo.

Os aspectos apresentados acima podem tornar o estudo sobre funções mais

atraente para o aluno, visto que, por meio de situações reais o seu interesse pode ser

ampliado e assim se sentir motivado a buscar a solução do problema. Por isso,

propomos, nesse sentido, a Modelagem Matemática enquanto estratégia para o

desenvolvimento do assunto função, junto aos alunos do Ensino Médio.

Contudo, destacamos que ao fazer uso da Modelagem Matemática em sala de aula

é de grande importância o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),

atualmente muito valorizada e discutida em Educação Matemática. Assim, neste

trabalho, procuramos ilustrar como a relação entre TIC, mais especificamente o uso de

dois softwares, e Modelagem Matemática pode integrar o estudo de funções e algumas

situações reais a serem investigadas e analisadas pelos alunos.

4.1. Sobre tecnologia na Modelagem Matemática

Nos últimos anos, vários trabalhos têm sido produzidos no intuito de verificar as

possibilidades do uso do computador em situações de Modelagem Matemática. Nesses

trabalhos, encontramos argumentos que não apenas sugerem, mas reforçam a

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importância de, no processo de modelagem, se utilizar as TIC, sobretudo o computador.

Conforme podemos verificar em Borba e Penteado (2003, p. 41), “para tentar

expandir a investigação em sala de aula em direção a temas mais gerais, buscamos

integrar a experimentação-com-tecnologia ao trabalho de modelagem”. Além disso, o

trabalho com a TIC possibilita a exploração da atividade de investigação de forma mais

dinâmica.

Gravina e Santarosa (1998), afirmam que o caráter estático das representações

matemáticas muitas vezes dificulta a construção do significado, afetando

substancialmente a construção de conceitos e proposições. Segundo as autoras, os

recursos computacionais oferecem instâncias em que a representação passa a ter caráter

dinâmico e refletem nos processos cognitivos. Esse dinamismo é obtido com a

possibilidade de fazer manipulações diretas sobre diferentes representações que se

apresentam na tela do computador.

Nesse contexto, Borba e Penteado argumentam que “O trabalho com a

modelagem e com o enfoque experimental sugere que há pedagogias que se

harmonizam com as mídias informáticas de modo a aproveitar as vantagens de suas

possibilidades. Essas vantagens podem ser vistas como sendo possibilidades de

experimentar, de visualizar e de coordenar de forma dinâmica as representações

algébricas, tabulares, gráficas e movimentos do próprio corpo” (Borba e Penteado,

2003, p. 44).

Além disso, conforme argumentam Santos e Almeida (2006), a utilização do

computador em atividades de modelagem parece ser uma solicitação quase natural tanto

na etapa de obtenção dos modelos quanto para proporcionar uma análise mais

aprofundada do problema em questão. Nesse sentido, conforme salientam Borba,

Meneghetti e Hermini acerca das novas tecnologias:

“[...] como a Modelagem em Educação Matemática retira a ênfase das

demonstrações matemáticas voltando-a para modelos, o uso das novas tecnologias

permite que sejam retirados problemas com cálculos tediosos para o desenvolvimento e

análise de um dado modelo” (apud. Malheiros, 2004, p. 54).

Allevato (2005), ao abordar em seu trabalho as múltiplas representações, destaca

as investigações realizadas por Pierce e Stace, as quais indicam que, se os recursos

tecnológicos permitem, os alunos “movem-se” livremente entre as representações

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algébricas e gráficas de funções e que, familiarizados com o ambiente (computacional),

apresentam preferência pelas representações gráficas. Uma das justificativas consiste do

fato de alguns softwares permitirem uma rápida e fácil passagem das representações

algébricas para as representações gráficas.

Outro fator importante no uso do computador em atividade de Modelagem

Matemática diz respeito ao fato de ao se desenvolver atividades de modelagem, pode-se

perceber que o uso do computador constitui algo quase natural tanto na etapa de

obtenção dos modelos quanto na análise mais detalhada do problema em questão. Para

Almeida e Brito (2005), por exemplo, o uso do computador auxilia os alunos em

trabalhos muito árduos, como o de determinar parâmetros de uma função a partir de um

conjunto de dados. Nesse caso, os alunos têm a oportunidade de concentrar seus

esforços na interpretação e análise das situações de modelagem, bem como simular

diferentes situações para enriquecer a sua análise.

5. SITUAÇÕES

Neste trabalho são propostas três situações envolvendo o estudo de funções,

utilizando a modelagem como alternativa pedagógica e o uso dos softwares Modellus e

Excel para auxiliar no estudo de tais funções. As situações abordadas neste trabalho

recaem em funções afim, recíproca, exponencial e quadrática.

5.1. Instalação de cerca elétrica

Para o estudo das funções afim e recíproca foi proposta uma situação envolvendo

o custo de instalação de cerca elétrica em uma residência.

Considerada uma forma de proteção bastante eficiente, a cerca elétrica consiste

numa cerca ligada a uma central elétrica de 8.000 Volts e 0,5 miliampéres, capaz de

produzir choque suficiente para impulsionar uma pessoa para longe. O choque afugenta

o intruso sem causar maiores danos e, se os fios forem cortados, o alarme é acionado.

Para este trabalho, levamos em consideração dois tipos de cerca elétrica:

monitorada e não monitorada. A cerca monitorada é aquela que permite a integração

com uma central de alarme, a qual poderá estar ligada ou não externamente com uma

empresa de segurança eletrônica, podendo, também, acionar alarmes e luzes quando

tocada. Já a cerca não monitorada é aquela que possui as mesmas características da

anterior, porém não está ligada a uma central de alarme.

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Em ambos os casos há quatro recomendações importantes para sua instalação: a

cerca deve estar instalada em locais altos (muros com no mínimo 2 m de altura); a

cerca deve ficar voltada para o interior da área que se quer proteger; a cerca não pode

ficar em contato com vegetação, como árvore, folhagens etc.; no local em que existe

cerca elétrica devem haver placas de sinalização.

Para o desenvolvimento do trabalho usamos informações obtidas junto a

empresas especializadas, as quais oferecem duas opções de serviços para instalação de

cercas elétricas residenciais, conforme quadro a seguir.

ConteúdoOpção 1 (kit

pronto)

Opção 2 (kit a

montar)

Central

R$ 370,00

R$ 180,00

Bateria R$ 60,00

Sirene R$ 25,00

Haste de

AterramentoR$ 35,00

Cerca (20 metros) ____________

Quadro 1: Preços de Kits (pronto e a montar) para instalação de cercas elétricas

residenciais.

Para a primeira opção, paga-se R$5,00 por metro de cerca que exceder os 20

metros constantes do kit pronto. Já para a segunda opção, cada metro de cerca custa

R$4,50.

Usando a planilha eletrônica Excel, construímos uma tabela (Figura 1) com

valores de cada kit, de acordo com o comprimento da cerca elétrica. Nesse caso, pode-

se construir uma tabela de quatro colunas com valores para de 1 a 40, visto que isso

constitui uma tarefa fácil nesse software: na 1a coluna, os valores de ; na 2a coluna, os

valores de C1 até 20 metros; na 3a coluna, os valores de C1 entre 20 e 40 metros; na 4a

coluna, os valores de C2 de zero a 40 metros. Isto por que, até 20 metros, C1 é

constante.

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Figura 1: Parte da tabela com valor (em R$) da cerca elétrica diante do comprimento

da cerca.

Com base nessa tabela e utilizando a ferramenta pode-se construir o gráfico

(Figura 2) que representa o custo da cerca em função do comprimento de acordo com

C1 C2.

R$ 0,00

R$ 100,00

R$ 200,00

R$ 300,00

R$ 400,00

R$ 500,00

R$ 600,00

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Figura 2: Gráfico que representa o custo C1 e C2 de acordo com o comprimento da

cerca.

Ainda com base no gráfico e utilizando algumas das ferramentas apresentadas no

software, chega-se às seguintes funções:

Em que:

= comprimento da cerca (em metros); C1 = Custo (em R$) do kit que se pretende

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C2( )

C1( )

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montar com a opção 1; C2 = Custo (em R$) do kit que se pretende montar com a opção

2.

Analisando essas expressões, podemos definir o domínio e a imagem de cada

função.

Dom(C1)= R+ e Im(C1) = { C1( ) R+ / C1( ) 370}

Dom(C2)= R+ e Im(C2) = { C2( ) R+ / C2( ) > 300}

Custos que permanecem constantes, independentemente do nível de atividade da

firma são chamados custos fixos (Cf). É o gasto da firma quer esteja produzindo ou não.

Exemplos de custos fixos são aluguéis e salários. Por outro lado, custos que variam com

a produção ou com as vendas são chamados de custos variáveis (Cv). É aquele que só

depende da quantidade produzida, como custos de matéria-prima. Assim, o custo total é

a soma dos custos fixos com os custos variáveis: Ct= Cf + Cv

Nesta situação, o Custo Variável é aquele que varia conforme o comprimento da

cerca e os Custos Fixos são os demais.

O Custo Médio (Cm) é o quanto custará, em média, o metro de cerca instalada, ou

seja, é a razão entre o Custo Total e a metragem instalada ( ).

É possível verificar se em cada função existe um custo médio máximo e/ou um

custo médio mínimo. Para isso, definimos a função Custo Médio de cada função e, em

seguida, fazemos tender a infinito para verificar qual é o custo médio mínimo para

cada uma das opções. Segue que:

, que é o custo médio mínimo. Esse resultado pode ser observado

utilizando-se o software Excel. Isto é, por meio de uma tabela e de um gráfico (Figura

3), os alunos poderão perceber que, à medida que aumenta, se aproxima de R$

5,00.

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Custo médio de C1

R$ 0,00

R$ 5,00

R$ 10,00

R$ 15,00

R$ 20,00

1 30 80 140 190 240 290 340 390 440 490 540 590 640 690 740 790 840

Comprimento(metros)

Custo médio (R$)

Figura 3: Gráfico que representa o custo médio de C1 de acordo com o comprimento

da cerca.

No caso de , o custo médio é dado por:

, que é o custo médio mínimo.

Assim como no caso , o aluno pode observar esse resultado por meio de uma

tabela e de um gráfico construído no Excel. Isto é, à medida que aumenta, se

aproxima de R$ 4,50.

Custo médio de C2

R$ 0,00R$ 2,00R$ 4,00R$ 6,00R$ 8,00

R$ 10,00R$ 12,00R$ 14,00R$ 16,00R$ 18,00R$ 20,00

20 60 100

150

190

230

270

310

350

390

430

470

510

550

590

630

670

710

750

790

830

870

910

950

990

1030

Comprimento(metros)

Custo médio (R$)

Figura 4: Gráfico que representa o custo médio de C2 de acordo com o comprimento

da cerca.

5.2. Decaimento radioativo do césio-137

Para o estudo de função exponencial foi proposta uma situação envolvendo o

decaimento radioativo do césio-137. A situação apresentada refere-se a um acidente

ocorrido com césio-137 na cidade de Goiânia, capital de Goiás. Esse acidente ocorreu

no dia 13 de setembro de 1987, quando dois sucateiros encontraram um aparelho de

radioterapia em um prédio abandonado da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Os

sucateiros, então, levaram o aparelho, por eles, desconhecido para a casa de um deles e

o desmontaram. Durante a desmontagem do aparelho de radioterapia, os sucateiros

expuseram no ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), pó branco semelhante

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ao sal de cozinha, que brilha no escuro com uma coloração azulada. O acidente

somente foi diagnosticado no dia 29 de setembro de 1987.

Nos trabalhos de descontaminação dos locais afetados foram produzidos 13,4 t de

lixo contaminado com césio-137: roupas, utensílios, plantas, restos de solo e materiais

de construção. O lixo do maior acidente radiológico do mundo está armazenado em

cerca de 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêineres em um depósito construído na

cidade de Abadia de Goiás, vizinha a Goiânia, onde deverá ficar pelo menos 180 anos.

Segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), “cada elemento

radioativo se transmuta a uma velocidade que lhe é característica. Meia-vida é o tempo

necessário para que a sua atividade seja reduzida à metade da atividade inicial. Alguns

elementos possuem meia-vida de milionésimos de segundos. Outros, de bilhões de anos”.

(CNEM, 2006).

A meia-vida do césio-137 é 30, 2 anos. Mas para facilitar nossos cálculos vamos

considerar a meia-vida do césio-137 sendo de 30 anos.

A partir destas informações, a atividade se propõe a estudar como se comporta a

concentração do césio-137 na cidade de Goiânia no decorrer do tempo, procurando

estimar uma possível data para que esta contaminação do meio ambiente esteja

minimizada.

Como a quantidade de césio-137 diminui pela metade a cada 30 anos,

construímos uma tabela no Excel, na qual tomamos o tempo inicial como sendo o ano

de 1987, somamos 30 a cada ano considerado e dividimos a quantidade anterior de

césio-137 por 2. Assim, obtemos os resultados apresentados na tabela (Figura 5);

lembrando que o software facilita o trabalho de encontrar esses valores.

Figura 5: Quantidade de césio-137 de acordo com o ano.

Com base nesses valores e utilizando o mesmo software, construímos o gráfico

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(Figura 6) que permite verificar a curva que se ajusta aos valores obtidos.

Decaimento radioativos do césio-137

0

5

10

15

20

25

0 2 4 6 8 10

n

Quantidade (em gramas)

Figura 6: Quantidade de césio-137 de acordo com o ano.

Utilizando a ferramenta que permite obter a linha de tendência obtemos a função:

Considerando que o ano zero ( ) corresponde a 1987 e que, a meia-vida do

césio-137 é de 30 anos, ou seja, corresponde ao ano de 1987 +30 = 2017,

podemos escrever que a quantidade de césio-137 num ano qualquer é dada por:

Utilizando o Excel podemos ainda fazer a validação do modelo (Figura 7).

Figura 7: Dados da validação do modelo.

Estudando essa situação é possível estabelecer uma integração entre Matemática

e Química, além da conscientização sobre a questão ambiental, pois os alunos

perceberão que uma pequena quantidade de um material muito radioativo pode

interferir eternamente na vida das pessoas, uma vez que esse material nunca será

erradicado de Goiânia.

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5.3. Caminhadas – distância constante e tempo variável

Para o estudo da função quadrática foi proposta uma situação envolvendo a

caminhada2. Nesse caso, utilizaremos o software Modellus (Teodoro, Vieira e Clérigo,

1997).

De acordo com tabelas da Organização Mundial de Saúde (OMS) a energia que

uma pessoa normal gasta para caminhar ou correr 3000 m é dada abaixo (Quadro 2):

Tempo (min) Tempo (h) Velocidade

(km/h)

nº de TMB/hEnergia (kcal)

60 1,000 3,0 2,25 155,00

50 0,833 3,6 3,20 183,92

45 0,750 4,0 3,67 190,18

40 0,667 4,5 4,15 190,99

30 0,500 6,0 5,10 175,95

20 0,333 9,0 6,05 139,01

10 0,167 18,0 7,00 80,66

Quadro 2 - Caminhadas - Distância constante e tempo variável.

Colocando estes dados em um gráfico Energia por Tempo (Figura 8), temos:

Gasto de energia de acordo com o tempo de caminhada

0

50

100

150

200

250

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2Tempo(horas)

Energia (kcal)

Figura 8: Gasto de energia de acordo com o tempo de caminhada.

Observando os dados e gráfico apresentado pode-se notar que existe um intervalo

de velocidades em que se obtém um gasto maior de energia, pois o gráfico cresce e, em

2 BRITO, D; ALMEIDA, L. M. W. O conceito de função em situações de Modelagem Matemática. Revista: Zetetikê ,v.12, n.23 jan/jun . p. 42-61, 2005.

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seguida decresce. Para achar o ponto de máximo dessa função, vamos aproximar os

pontos com uma função quadrática, utilizando o software Modellus.

5.3.1. O software Modellus

Desenvolvido na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de

Lisboa, o Modellus, que se encontra na versão 2.5, tem distribuição gratuita e vem

sendo muito utilizado em diversos países, tendo sido traduzido para vários idiomas

(inglês, espanhol, eslovaco, grego e português do Brasil).

Uma das vantagens do Modellus está nas possibilidades de experimentação

utilizando modelos matemáticos definidos a partir de funções, derivadas, equação

diferenciais e equações de diferenças escritas sem a necessidade de uma sintaxe

complexa. Em geral, consiste em escrever de forma direta, assim como aprendemos.

Com uma interface intuitiva, esse software permite a construção e exploração de

modelos matemáticos, bem como fazer simulações por meio de animações, gráficos,

tabelas, vídeos e fotografias. Os usuários do Modellus podem analisar e compreender

dados experimentais visualmente e interativamente por meio das múltiplas

representações oferecidas por ele.

A possibilidade de múltiplas representações se dá por meio de várias janelas que o

usuário pode disponibilizar de acordo com a necessidade (Figura 9). Além disso, o

Modellus conta com o recurso da manipulação direta. Tais recursos o tornam bastante

dinâmico e interativo. Na versão 2.5 o usuário conta com as janelas: Modelo,

Animação, Gráfico, Tabela, Controle, Notas e Condições Iniciais.

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Figura 9. Interface do Modellus.

5.3.2. Obtendo o modelo (função quadrática)

Por meio da janela Animação é apresentado ao aluno um gráfico (Figura 10) que

relaciona a variável y (gasto de energia) com a variável x (tempo de caminhada). Além

do gráfico, os alunos têm acesso à tabela impressa ou no computador (Excel, por

exemplo) com os respectivos valores x e y representados no gráfico.

É proposto então que se construa, com as ferramentas disponíveis, uma função

cuja curva se ajuste aos pontos apresentados no gráfico; no entanto, cabe destacar que,

nesse caso, é preciso, inicialmente, ajustar as escalas dos eixos, visto que estes estão em

escalas diferentes. Utilizando as ferramentas da janela Animação e efetuando os

cálculos, os alunos podem fazer essa adequação.

A partir de uma função básica do tipo , na qual , e são

parâmetros, e levando em conta as características e propriedades dessa família de

funções, pode-se chegar ao modelo desejado. Para isso, o aluno, utilizando essa mesma

sintaxe, escreve a função na janela Modelo, e ao clicar no botão Interpretar, habilita a

janela Condições iniciais, na qual poderá alterar os parâmetros na medida em que vai

construindo o modelo (Figura 11).

Figura 10. Janela Animação com gráfico Figura 11. Janelas Modelo

e Condições Iniciais

O aluno pode fazer alterações nos parâmetros e avaliar na janela Animação o

resultado geométrico representado pelo gráfico da função (modelo) que está construindo

(Figura 12).

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Figura 12. Verificação gráfica das alterações dos parâmetros

Com isso, o aluno poderá testar, interpretar, avaliar e reconstruir seu modelo

quantas vezes forem necessárias e assim estabelecer relações que lhe dará mais

segurança no trabalho com essa família de funções. O aluno chega, por fim, o mais

próximo possível do modelo cuja curva vai se ajustar

aos pontos indicados.

A validação pode ser ainda por meio da janela Tabela, a qual apresenta os pontos x

e y correspondentes, que o aluno poderá comparar com aqueles apresentados na tabela

no início da atividade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho procuramos destacar a importância das TIC na construção do

conhecimento matemático, em especial na abordagem dos conceitos de função. No

entanto, convém destacar que o uso das mesmas deve estar vinculado a práticas de

ensino adequadas, bem como a uma visão de conhecimento coerente, visto que, mesmo

com ambientes informatizados cada vez mais ricos, o simples uso dos mesmos não

garante a aprendizagem.

Ao utilizarmos os computadores com fins educativos, precisamos compreender

seu papel nos ambientes em que se insere e qual a sua relação com o aluno e sua

aprendizagem. Assim, ao compartilhar com as idéias de Levy (2006), dentre outros

pesquisadores, entendemos o conhecimento como produzido por um coletivo pensante

formado por seres-humanos-com-mídias ou seres-humanos-com-tecnologias.

Conforme foi apresentado no início deste trabalho, é importante que o estudo de

funções esteja associado a situações-problema de contextos variados tanto na

Matemática como em outras áreas. Nesse sentido, as situações descritas envolvem, entre

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outros aspectos, contextos reais e conteúdos abordados em outras disciplinas.

E é nessa perspectiva que entendemos uma abordagem por meio da Modelagem

Matemática: de articulação com a realidade. O caráter aplicativo da Modelagem em

problemas não essencialmente matemáticos pode contribuir para o estudo dos conceitos

de funções no Ensino Médio. Além disso, a Modelagem destaca-se por proporcionar aos

alunos a atribuição de sentido e a construção de significados de conceitos matemáticos,

possibilitando com isso a sua aprendizagem.

Além disso, as atividades apresentadas têm como objetivo, exemplificar as

possibilidades do uso do software Modellus, o qual permite a construção ou exploração

de um modelo matemático de forma dinâmica e interativa, e do software Excel, o qual

possibilita, entre outras atividades, a manipulação de dados em tabelas e a construção de

gráficos. Na abordagem dessas atividades o professor tem a oportunidade de explorar

com os alunos, conceitos matemáticos na medida em que o aluno vai passo a passo

construindo o modelo e estabelecendo relações entre os conceitos. Assim, consideramos

que esses exemplos ilustram as contribuições que as novas tecnologias podem trazer

para a compreensão dos conceitos de funções na abordagem de várias situações.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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