cultura.sul51outubro

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Festa da Pinha: o património imaterial em terras de Estoi p. 11 NOV | 2012 • Nº 50 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente Acessibilidades dominam encontro ibérico de profissionais de museus p. 7 NOVEMbRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PúbLiCO www.issuu.com/postaldoalgarve 9.471 ExEMPLARES

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JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Apanhados na/da crise!..., por Maria do Carmo Loureiro » ESPAÇO CRIA: Mercados locais, valores sociais, por Ana Lúcia Cruz » CINECLUBE DE TAVIRA: Um mês de cada vez... » ESPAÇO AGECAL: Redes culturais: potenciar a cooperação e a diversificação, Miguel Peres dos Santos » PANORÂMICA.S: Alcoutim acolhe Encontro Internacional de Profissionais de Museus, por Ricardo Claro/Pedro Ruas • Museus e acessibilidade em análise, por Maria Luísa Francisco » MOMENTO.S: “Manif anti-Troika e pela Cultura”, por Vítor Correia » ESPAÇO ALFA: O Natal fotográfico, por Raúl Grade Coelho » ESPAÇO EDUCAÇÃO: Estatuto do Aluno e Ética Escolar: conduta centrada em normas e regras » CONTOS DE OUTONO NA RIA FORMOSA: A Visita, por Pedro Jubilot » LIVRO.S: «Existe no meio do tempo a possibilidade de uma ilha», por Adriana Nogueira » PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL: A Festa da Pinha, uma manifestação do património imaterial de Estoi, por Fernanda Zacarias » ESPAÇO CULTURA: Se

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Festa da Pinha: o património imaterial em terras de Estoi p. 11

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Acessibilidades dominam encontro ibérico de profissionais de museus p. 7

NOVEMbRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PúbLiCO www.issuu.com/postaldoalgarve

9.471 ExEMPLARES

Page 2: Cultura.Sul51Outubro

02.11.2012 2 Cultura.Sul

Ficha Técnica

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Henrique Dias Freire

Paginação: Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:» juventude, artes e ideias: Jady Batista» livro.S: Adriana Nogueira» momento.S: Vítor Correia» panorâmica.S: Ricardo Claro

» patrimónios.S: Isabel Soares

Colaboradores:AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de-Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubi-lot. Nesta edição: Ana Lúcia Cruz, Fernanda Zacarias, Maria do Carmo

Loureiro, Miguel Peres dos Santos e Raúl Grade Coelho

Parceiros:Direcção Regional de Cultura do Al-garve, Direcção Regional de Educa-ção do Algarve, Postal do Algarve

e-mail:[email protected]

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem: 9.471 exemplares

Henrique Dias FreireEditor do CULTURA.SUL

A responsabilidade de diri-gir a política cultural do Estado cabe agora a Jorge Barreto Xa-vier, que tomou a 26 de Outubro posse como secretário de Estado da Cultura.

Como vem com uma carreira feita na organização e gestão cultural, alguns acreditam que tem um perfil mais adequado do que o seu antecessor.

Dez dias antes da sua tomada de posse, era garantido na pá-gina on-line do Governo que o Orçamento de Estado (OE) para 2013 iria manter-se nos humi-lhantes 190,2 milhões de euros.

Ainda esta semana, nas actuais circunstâncias de grande conten-ção orçamental, o Governo veio ao Algarve dizer, no Carvoeiro, que é necessário cortar mais quatro mil milhões de euros no actual modelo de organização do Estado, propondo um debate sé-rio sobre as “gorduras” do Estado.

Se é sabido e defendido por qualquer OE que a cultura é um factor de coesão e de identida-de nacional, o novo secretário de Estado tem aqui uma excelente oportunidade para começar a dar o exemplo, de grande valor simbólico, com a própria Secre-taria de Estado da Cultura.

Passar a fazer na “sua Casa” o que qualquer cidadão portu-guês e já muitos governantes e dirigentes de outros países eu-ropeus fazem: utilizar os trans-portes públicos ou viaturas próprias; acabar com o luxo das dezenas de viaturas de serviço e das centenas de motoristas da sua Secretaria de Estado.

No dia em que o exemplo vier de cima, os portugueses serão os primeiros a legitimar os sacrifí-cios exigidos.

Espaço CRIA

Mercados locais, valores sociais

Quase todos os fins de semana faço um esforço para ir aos mercados lo-cais. A promessa de produtos cheios de sabor e cor, sem recorrer ao apoio de pequenos artifícios, é cumprida. Com a carteira nitidamente mais va-zia a felicidade é imensa e por vários motivos: 1) estou a contribuir clara-mente para a prosperidade dos pro-dutores locais; 2) o sabor dos alimen-tos é muito mais intenso e agradável; 3) acabo por passear, ver pessoas e conversar com os produtores. Tudo bons motivos! Existe apenas um pro-blema: o preço.

Desde o aparecimento dos hiper-mercados, com os seus preços alta-mente competitivos e promoções, que levam qualquer um à loucura,

que os mercados municipais estão mais vazios (não estou a contar com os turistas). Mas por “mea” culpa falo.

Acho que já todos sabemos que esta escolha tem um preço para a nossa economia, e por sinal um pre-ço muito alto. Mas provavelmente até isto é questionável! As questões que me coloco como consumidora são: Que escolha fazer? Pouco sabor e preço baixo? Ou muito sabor e preço alto? Acreditem que já fiz a experiên-cia durante alguns meses, mas a ver-dade é que no mercado consigo gas-tar mais dinheiro do que num híper. Mais ou menos, o dobro, por vezes o triplo e nem sequer estou a incluir a carne e o peixe. Mas garanto-vos que o sabor não tem comparação.

De que forma isto está relacionado com o empreendedorismo e inova-ção? A agricultura é o negócio mais antigo do planeta. Ainda que por de base tradicional, os produtores pro-curam agora conjugar o saber fazer e a tradição com a integração de no-vos conhecimentos, quer como forma de diferenciação como na procura de maior rentabilidade do seu negócio. No entanto, o conceito de inovação deverá estar presente em qualquer negócio, e reforço de que quando falo em inovação, não me refiro a maqui-naria ou sistemas complexos. Existem diferentes tipos de inovação, passíveis de serem integrados. Para ser mais es-pecífica, as nossas laranjas são as me-lhores, mas no entanto o sector está em crise e em luta constante pela sua

sobrevivência. No Algarve, esta ativi-dade é caracterizada por pequenos produtores, incapazes de competir com os grandes e, em última instân-cia, com os preços praticados pelos hipermercados. Como tal, os peque-nos produtores têm dificuldade em responder às exigências dos princi-pais agentes de mercado.

Através do projeto ICS - Construin-do um Sistema Cooperativo Mediter-râneo - propõe-se que a solução passe pela adesão às cooperativas. Concor-do. Onde pode então surgir a inova-ção? No modelo de gestão. Segundo Jose Carlos Jiménez Mayordomo (pro-fessor na Escola de Economia Social de Andaluzia), o sistema cooperativo representa uma boa resposta à crise, mas o seu modelo de gestão devia aproximar-se ao modelo empresarial, mantendo contudo os princípios de solidariedade social locais, relacio-nando-os inclusivamente com as li-nhas de ação, a curto e longo prazo, da Cooperativa. Este professor vê as cooperativas como estruturas saudá-veis, capazes de contribuir para uma economia mais justa. Contudo, esta-mos a falar de realidades diferentes. O nosso sistema cooperativo regional tem vindo a perder força, e apesar de alguns casos de sucesso, a verdade é que está pouco valorizado na nossa região, tal como a nossa produção local.

Talvez esta inovação no modelo de gestão funcionasse como um antído-to para relançar o nosso sistema co-

operativo, contribuindo assim para o crescimento da nossa economia.

No entanto, a solução passa tam-bém por nós, consumidores. De um modo geral, ir à praça pode ser mais caro, mas deixo-vos algumas dicas que tenho apreendido nestas mi-nhas jornadas pelos mercados: 1) um molho de salsa ou coentros, dá para distribuir pelo resto da família - vem em maior quantidade que nos hipermercados. Além disso, o cheiri-nho destas ervas aromáticas é muito mais intenso, e podemos congelar; 2) as laranjas são melhores: mais suma-rentas, doces, e garanto-vos que mais baratas. Experimentem no mercado em São Brás de Alportel; 3) os frutos vermelhos são mais baratos; 4) as so-pas embaladas são feitas praticamen-te na hora, as quantidades estão mais ajustadas às nossas necessidades, são mais saborosas e mais baratas; 5) Se-jamos criativos e empreendedores na altura de confecionarmos as nossas refeições. Tudo se aproveita. Façamos a experiência. Pessoalmente, ainda não terminei a minha e sei que este mês vou continuar a alternar entre um híper e os mercados municipais. Mas acredito que vou conseguir mu-dar os meus hábitos ao ponto de fre-quentar apenas o tradicional merca-do semanal. Caso não consiga, não há problema! Afinal, as opções estão lá, só temos de escolher as que melhor se ajustam às nossas necessidades. Além disso, “hoje” pode não ser possível, mas “amanhã” quem sabe.

Juventude, artes e ideias

Crise, crise, crise!… Estou farta de crise!.... Farta de ver/ouvir toda a gente a falar de crise... De viver em crise... De tentar arranjar culpados para a crise…

Para além da crise (ou crises) que sentimos bem na pele, o importante é saber sair dela. É perceber porque e como aqui chegámos, e, sobretu-do, saber que futuro queremos. Para nós e para os nossos filhos.

Ao longo das últimas décadas, fomo-nos deixando arrastar, mais ou menos (in)conscientemente, mais ou menos culpados, para um

mundo de ilusões onde tudo era possível. Fácil. Descartável. Os di-reitos eram nossos. Os deveres dos outros. Quem assim não pensasse era, inexoravelmente, marginaliza-do. Esmagado. Humilhado, às ve-zes. Isto aconteceu em quase tudo o que diz respeito às nossas vidas. No acesso ao crédito fácil. No tra-balho. Na educação. Na relação en-tre as pessoas. No sexo. Em tudo. O importante era o “parecer” e o “ter” ou, até, o “parecer ter”! ... E mais grave ainda, educámos os nossos filhos assim.

Agora, desesperados e aflitos, «apanhados de surpresa», queremos culpados. Para tudo. Para os erros dos «outros» e para os nossos. Ali-ás, a «culpa é sempre dos outros»! Esquecemo-nos, todavia, é de que os verdadeiros culpados não têm rosto e de que nós, tão sábios e tão atentos, permitimos e aplaudimos. Cegamente.

Por isso e pensando nos mais jo-vens, vai sendo tempo de mudar. De os ajudar a vencer os tempos difí-ceis. De os ajudar a aprender a saber PENSAR e saber SER.

Ana Lúcia CruzGestora de Ciência e Tecnologia no CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia

Apanhados na/da crise!...

Maria do Carmo LoureiroProfessora do Ensino Secundário

Venha de cima o exemplo!

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02.11.2012  3Cultura.Sul

cinemaCineclube de Tavira

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

2 NOV | É na Terra, não é na Lua, Gonçalo Tocha, Portugal 2011 (180’) M/64 NOV | Superclássico... A Minha Mulher Passou-se!, Ole Christian Madsen, Dinamarca 2011 (99’) M/128 NOV | Once Upon a Time in Ana-tolia (Era Uma Vez na Anatólia), Nuri Bilge Ceylan, Turquia/Bósnia Herzegovina 2011 (150’) M/1211 NOV | TED, Seth Macfarlane, E.U.A. 2012 (106’) M/12 15 NOV | Turkwaze (Turc-Quase), Kadir Balci, Bélgica 2010 (96’) M/1218 NOV | Take Shelter (Procurem Abrigo), Jeff Nichols, E.U.A. 2011 (120’) M/1222 NOV | Elena, Andrei Zvyagint-

sev, Rússia 2011 (109’) M/1225 NOV | The Flowers of War (As Flores da Guerra), Zhang Yimou, China/Hong Kong 2011 (146’) M/16

29 NOV | Oslo, 31. August (Oslo, 31 de Agosto), Joachim Trier, No-ruega 2011 (95’) M/12

PROGRAMAÇÃOwww.cineclube-tavira.com 281 320 594 | 965 209 198 | [email protected]

Mais um mês de cinema de quali-dade no cine-teatro tavirense (depois de quase 14 anos de actividades sem interrupção, chegamos ao ponto de programar um mês de cada vez, sem conseguirmos planear o futuro). Os destaques este mês são É NA TERRA, NÃO É NA LUA, um documentário fascinante sobre a Ilha do Corvo nos Açores; ELENA, filme russo do realiza-dor do multi-premiado O REGRESSO, OSLO, 31 DE AGOSTO, do norueguês Joachim Trier, e last but not least TUR-QUAZE (TURCO-QUASE), um filme inédito entré nós, cuja exibição tor-nou-se possível através da gentileza do produtor Dirk Impens (Bélgica). Não percam estas (talvez últimas) sessões do Cineclube de Tavira!

Continuamos a precisar da vossa ajuda na realização da nossa próxi-ma iniciativa para evitar a falência do Cineclube de Tavira: um leilão de obras de arte (cada peça é oferecida ao Cineclube pelo seu autor ou proprietá-rio), que terá lugar na galeria da Casa

das Artes em Tavira, no sábado, 8 de Dezembro, às 21.30 horas. Até à data de hoje recebemos cerca de 24 gravu-ras e pinturas para o leilão. Se tiverem uma(s) peça(s) em casa que possam dispensar (pinturas, desenhos, gravu-ras, litografias, colagens, fotografias – com ou sem moldura – esculturas em qualquer material e de qualquer

tamanho, artesanato, trabalhos de ma-cramé ou malha, até aceitamos moto-rizadas, máquinas de relva, móveis e/ou utensilhos de casa ou de cozinha exclusivamente concebidas e execu-tadas de forma artesanal), tudo será bem vindo. Mais tarde iremos publicar a lista de todos os nossos benfeitores. Agradecemos pelo seu contributo!

“ELEMENTOS DA VIDA”Até 25 NOV | Galeria de Artes da Praça do Mar - QuarteiraExposição de pintura de José Capitão-Mor. Artista autodidacta nunca frequentou uma escola de pintura, mas a curiosidade e o gos-to levaram-no a experimentar várias técnicas e materiais

“CONCERTO COM TRIO DE CORDAS”Dia 22 NOV | 21.30 | Centro Culturalde LagosO Trio de Cordas da Academia de Música de Lagos é composto por João Pedro Cunha, em violino; Sunita Mamtani, em violoncelo; e Gina Grigore, viola d’arcode

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Redes culturais: potenciar a cooperação e a diversificação

Espaço AGECAL

As redes culturais são um territó-rio cultural, realidade ao nível euro-peu já com muitos anos. Em Portu-gal intensificaram-se nos primeiros anos do século XXI, sobretudo por organização e colaboração entre programadores, associações ou ins-

tituições culturais. Ao verificarmos as potenciali-

dades destas estruturas, formais e informais, concluímos que permi-tem criar um discurso e programas comuns entre os profissionais da cultura e criadores de diversas ori-gens e proveniências, permitindo o desenvolvimento de uma pro-dução cultural diversificada assim como a sua divulgação, com uma nova abrangência social e diálogo intercultural. As redes podem ainda funcionar de forma especializada, agrupadas para gerar intercâmbios de conhecimentos, maior influência, presença e representação junto de organismos públicos.

As redes culturais deverão orien-tar-se para a cooperação aplicada

e inovadora, centrar iniciativas na promoção e diversificação da oferta mediante a criação de ações e pro-dutos que potenciem melhor os re-cursos, nomeadamente no turismo cultural, de modo a que tenham melhor rentabilização. Estas redes podem ainda assumir o risco de produção no âmbito da criação de cultura contemporânea, contribuin-do em parceria com os municípios (que deverão ser os seus principais impulsionadores) para programas de responsabilização social e cultu-ral, criando estratégias locais e re-gionais, para estimular a criativida-de, criação de cidadãos formados e novos públicos.

No Algarve ao longo de anos fo-ram interlocutores com os agentes

culturais, sobretudo as Câmaras Municipais e também a Direção Regional de Cultura, mas o final da primeira década deste século ficou marcado pelo surgimento de redes culturais de iniciativa municipal, como é o caso da Rede de Museus do Algarve, que promo-ve o desenvolvimento de projetos de cooperação (como a premiada exposição conjunta “Algarve, do Reino à Região”) e formação entre museus da região, ações que pro-moveram uma melhor eficácia dos meios, através da partilha equili-brada dos recursos disponíveis, ou a Rede Movimenta-te, que reúne os cinco municípios que compõe o Algarve Central, que pretende a criação de pontes entre a identi-

dade cultural local e as artes per-formativas contemporâneas.

Ainda será necessário percorrer um grande caminho, através do entendimento entre as institui-ções públicas e privadas, grupos culturais, associações, criadores e cidadãos.

Só através do debate e da coo-peração, será possível organizar operações e estratégias para con-ceção de programas territoriais e ações conjuntas, que impulsionem o desenvolvimento e a diversidade artística, agora mais afetada com a grave crise económica que o País e o Algarve atravessam, evitando assim a estagnação ou mesmo o desaparecimento da “oferta” cul-tural da região.

Apanhados na/da crise!...

Miguel Peres dos SantosMestrando em Gestão Cultural– Universidade do AlgarveSócio da AGECAL – Associaçãode Gestores Culturais do Algarve

Um mês de cada vez...

Cena do filme Elena

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02.11.2012 4 Cultura.Sul

•Museologia

Alcoutim acolhe Encontro Internacional de Profissionais de Museus

O I Encontro Transfronteiriço de Profissionais de Museus (ETPM) teve lugar no Castelo de Alcoutim nos passados dias 18 e 19 de Ou-tubro e juntou cerca de 50 pro-fissionais da área da museologia do Algarve e da Andaluzia onde o tema principal foi ‘Museus e Aces-sibilidades’.

O encontro, organizado pela Associação Portuguesa de Muse-ologia (APOM) e pela Associação de Museólogos e Museógrafos da Andaluzia (AMMA), contou com a colaboração e co-organização da Associação Transfronteiriça Alcou-tim Sanlúcar (ATAS), bem como da Direcção Regional de Cultura do Algarve.

Os profissionais de museus do Algarve e da Andaluzia utiliza-ram o encontro com o intuito de conhecer e partilhar as boas prá-ticas que ambas as regiões têm vindo a desenvolver em prol da melhoria dos espaços museoló-gicos de cada lado da fronteira, sobretudo no campo das acessibi-lidades. Esta temática foi o ponto comum de discussão nas dez pa-lestras realizadas.

Dália Paulo, directora regional de Cultura, ouvida pelo POSTAL, sublinhou a importância deste evento enquanto celebração do trabalho realizado durante o ano pelos profissionais de museus de ambas as regiões. A “troca de expe-riências, perceber as metodologias utilizadas e de que maneira nos podemos entreajudar é o princi-pal propósito deste encontro, as-sim como definir parcerias entre os museus do Algarve e da Anda-luzia para projectos concretos”, observou.

Elena Gil, directora da AMMA, em declarações ao POSTAL, falou da “importância de perceber aqui-lo que está a ser feito de cada lado da fronteira e se nos deparamos com as mesmas dificuldades”. “O objectivo é que o património cul-tural de ambas as regiões fique acessível a mais gente”, revela esta responsável.

Maria Luísa Figueiredo, delega-da regional da APOM e membro da ATAS, confirmou ao POSTAL que os objectivos do ETPM “foram concre-tizados” e considera que “a aproxi-mação permitiu conhecer melhor a realidade museológica de ambos os países através dos testemunhos e imagens trazidos pelos oradores, com os estimulantes contributos lançados durante os momentos de debate”.

Novas tecnologias chamam jovens aos museus

Quanto à tríade de acessibilida-des discutidas durante o encontro,

Dália Paulo revela a importância das vertentes propostas à discussão no evento e garante que a acessibili-dade física é sempre uma preocupa-ção, até porque “a maior parte dos

nossos museus está em edifícios históricos e tem algumas limitações que são necessárias ultrapassar”.

Não obstante, esclarece que a acessibilidade aos museus não

fica por ali e reitera a importância da acessibilidade de conteúdos, no sentido de os “trabalhar para o público em geral”, com a comu-nicação visual a assumir também bastante relevo no sentido de “or-ganizar exposições de forma a che-gar a todos os públicos”.

As novas tecnologias como ferra-mentas fundamentais no propósito de melhorar a acessibilidade dos espaços museológicos ao público foi outra vertente explorada pelos especialistas convidados.

Elena Gil afirma que “há preocu-pação com o facto dos jovens não se interessarem por museus” e vê nas novas plataformas como “as redes sociais, as aplicações móveis e as páginas web”, uma forma de os seduzir. Neste campo, também Dália Paulo vê nas novas tecnolo-gias uma forma de chegar a mais públicos, partilhando a opinião de que “se as pessoas não vêm ter connosco, vamos nós ter com elas ao seu quotidiano” e que com as novas plataformas sociais é possí-vel “chamar os jovens aos museus e comunicar com eles fora do res-pectivo espaço físico”.

Finalizado o I Encontro Trans-fronteiriço vão ser publicadas as actas, cuja responsabilidade fica a cargo da AMMA e está previsto a realização de novo encontro, em 2013, na Andaluzia.

Sessão inaugural do encontro

Alcoutim enquanto terra de fronteira e apostada em explorar, preservar e partilhar os vários nú-cleos museológicos que tem para oferecer foi escolhida para receber o I Encontro Transfronteiriço de Profissionais de Museus.

O Castelo de Alcoutim, local onde decorreu o evento, remonta ao século XIV e aquele que outrora foi mandado construir como de-fesa de fronteira foi agora palco de partilha entre portugueses e espanhóis.

Mas há mais para ver em Alcou-tim, que tem sabido conservar im-portantes testemunhos da presença humana desde a pré-história.

Antas e menires neolíticos, acha-dos referentes à actividade mineira, e restos arqueológicos de povoados fortificados tornam o roteiro ar-queológico local numa experiência

panorâmica

Alcoutim conta cinco mil anos de História

que atravessa mais de cinco mil anos de história.

Francisco Amaral, presidente da Câmara de Alcoutim, disse ao POSTAL estar “muito orgulhoso com a escolha de Alcoutim para receber o encontro” e sublinha que a decisão “premeia a nossa forte aposta na museologia”.

O autarca lembra que “o Guadiana é a razão principal para que haja tantos vestígios arqueológicos no concelho” e garante que em Alcoutim se tem “recuperado muito material arqueológico, que tem sido res-taurado”, o que obrigou, segun-do o edil, a “uma ampliação do Museu de Arqueologia no Verão passado”.

No que se refere ao tema das acessibilidades aos espaços muse-ológicos, Francisco Amaral parti-

lha a preocupação e garante que o seu executivo “tem trabalhado no sentido de tornar os espaços

museológicos do concelho mais acessíveis do ponto de vista físico e comunicacional”.

Menir do Lavajo

Page 5: Cultura.Sul51Outubro

02.11.2012  5Cultura.Sul

panorâmica Ricardo Claro/Pedro Ruas

O I Encontro Transfronteiriço de Profissionais de Museus realizado nos passados dias 19 e 20 de Outubro em Alcoutim juntou cerca de meia cen-tena de profissionais das mais varia-das instituições públicas e privadas, e diferentes localizações geográficas, nomeadamente do Algarve, Alente-jo e Andaluzia, assim como de várias cidades, como Porto, Lisboa, Madrid, Granada e Sevilha. 

Foi num ambiente de partilha de conhecimentos, experiências profis-sionais e pessoais, de estreitamento de laços de proximidade e amiza-de entre os participantes de Portugal e Espanha que decorreu este Encon-tro Transfronteiriço de Profissionais de Museus organizado pela Asso-ciação Portuguesa de Museologia (APOM) e pela Associação de Muse-ólogos e Museógrafos da Andaluzia (AMMA) e coorganizado pela Asso-ciação Transfronteiriça Alcoutim San-lúcar (ATAS) e Direcção Regional de Cultura do Algarve.

O evento procurou promover a aproximação entre profissionais de Museologia de ambos os lados da fronteira com o objectivo de trocar opiniões, apresentar projectos e dia-logar sobre a problemática das aces-sibilidades na sociedade actual. E foi o que aconteceu durante dois dias distribuídos por duas conferências especializadas e três mesas redondas, muito participadas e com excelente nível de debate por parte de um pú-blico altamente especializado.

Os oradores foram escolhidos en-tre alguns dos melhores especialistas nas temáticas da acessibilidade física, acessibilidade virtual e acessibilidade de conteúdos e comunicação pública nos Museus de Portugal e Espanha. As comunicações apresentadas fo-

ram todas apoiadas por projecção de imagens, o que valorizou e enfa-tizou uma temática que tem vertentes muito práticas.

Três vertentes da acessibilidade

A reflexão e problematização so-bre os programas de acessibilidades nos museus estiveram presentes na conferência inaugural onde foram partilhadas experiências realizadas, com vários grupos de trabalho, em diferentes locais da Andaluzia. Segui-ram-se as mesas redondas, nomeada-mente sobre a temática da legislação europeia e conceitos chave sobre acessibilidade física nos museus; a temática de acessibilidade virtual

nos museus onde se debateram as redes sociais, projectos de guias vir-tuais e o acesso online às colecções dos museus; e por último, a temáti-ca das acessibilidades de conteúdos e comunicação pública nos museus, cuja apresentação de projectos e vi-sões sobre a problemática de acesso à informação de pessoas com dife-rentes tipos de incapacidades gerou um interessante debate sobre dife-rentes experiências e conhecimento de questões sobre desenho de expo-sições, mensagens acessíveis a todos e sobre as dificuldades que os próprios profissionais enfrentam no dia a dia. A conferência de encerramento in-cidiu sobre os desafios de trabalhar num ambiente em constante trans-

formação, principalmente quando os museus procuram ser autossustentá-veis e acessíveis a todos os públicos.

Este I Encontro Transfronteiriço de Profissionais de Museus não foi com-posto só de conferências e debates, realizaram-se também visitas a vá-rios espaços museológicos, onde se puderam constatar algumas das so-luções apresentadas para alguns de-safios. Sem dúvida que ainda têm de ser trabalhadas muitas das questões debatidas para melhorar as acessibi-lidades nas três vertentes e alcançar todos os públicos, daí a importância do encontro ter tido visitas a espa-ços museológicos. Foram visitados o Núcleo de Museológico do Castelo de Alcoutim, o Núcleo Museológico Islâ-

mico e o Palácio da Galeria de Tavira.

Novas pontes para futurosprojectos

Os profissionais de Portugal e Es-panha discutiram sobre uma proble-mática que é idêntica em ambos os países, mas que muitas vezes parece tão distante e diferente. Debatidos os problemas e dificuldades, abriram--se novas perspectivas e novas vias de comunicação entre os museólogos de ambos os países, estes procuram agora novos projectos e colaborações sobre as acessibilidades nos museus.

A organização e coorganização consideram que o objectivo foi con-cretizado, sendo que ficou em aberto a possibilidade de realizar o II Encon-tro Transfronteiriço de Profissionais de Museus, provavelmente do outro lado da fronteira. A concretização deste primeiro encontro numa fase tão complexa a nível social e eco-nómico de ambos os países, foi um imenso desafio, mas acima de tudo um prazer observar a partilha de ex-periências e preocupações. Acredi-tamos que se criaram novas pontes para futuros projectos em comum.

O I Encontro Transfronteiriço de Profissionais de Museus contou com o apoio da Câmara Municipal de Al-coutim, da Junta da Andaluzia, com o patrocínio da empresa M&A Digital e da Segafredo e com a colaboração da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António, da Rede Museus do Algarve e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Re-gional do Algarve.

Maria Luísa FranciscoDelegada Regional da Associação

Portuguesa de Museologia

Comunicação de Pedro Homem de Gouveia, arquitecto da Câmara Municipal de Lisboa

Museus e acessibilidade em análise

Visita ao Palácio da Galeria em TaviraInteracção com a mesa digital promovida pela M&A Digital

Page 6: Cultura.Sul51Outubro

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Page 7: Cultura.Sul51Outubro

02.11.2012  7Cultura.Sul

momento Vítor Correia

“Manif

anti-Troika

e pela

Cultura”

Espaço ALFA

O Natal fotográfico

Existem várias razões que ligam a fotografia à época festiva que se apro-xima da maioria dos lares, o nosso conhecido Natal. É uma festa de cariz religioso que assinala o nascimento de Jesus Cristo fazendo a nossa me-mória recuar no tempo recordando os tempos passados em amena ale-gria com os familiares e amigos. Ora bem, é precisamente nisso que se insere a fotografia. Fotografar para mais tarde recordar aqueles momen-tos tão preciosos passados entre as pessoas mais queridas e em paz. Exis-tem também as chamadas compras de Natal e é nessa área que mais uma

vez a fotografia se insere de diversas formas. Há sempre quem tenha a ideia de oferecer uma máquina fo-tográfica que em poucos momentos passou a ser uma peça fundamental de companhia da pessoa a quem foi oferecida. Aliada também à célebre árvore de Natal onde se colocam os presentes há também as próprias fo-tografias. Estas são oferecidas na sua maioria em molduras que servem para embelezar a sala onde se coloca a imagem e para sempre servirem de recordação quando as pessoas ami-gas reparam em tal objecto ilustrati-vo. Nos tempos de hoje há mais uma coisa que pode ofecerer a si próprio ou a qualquer amigo. Ser membro da ALFA – Associação Livre Fotógra-fos do Algarve que lhe permite ter conhecimentos mais aprofundados da máquina fotográfica que ofereceu ou lhe foi oferecida. Contribui assim para dar um colorido especial ao Na-tal que muitas vezes está conotado com o célebre Pai Natal que no seu espírito alegre oferece a tal máquina fotográfica. Mais magia de Natal em www.alfa.pt.

Raúl Grade CoelhoVice-presidente da Assembleia Geral da ALFA

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02.11.2012 8 Cultura.Sul

O ano letivo 2012-2013 iniciou--se com a entrada em vigor da Lei nº 51/2012, de 5 de Setembro, que aprovou o Estatuto do Aluno e Éti-ca Escolar e estabelece os direitos e deveres do aluno dos ensinos básico e secundário e o compromisso dos pais ou encarregados de educação e dos restantes membros da comu-nidade educativa na sua educação e formação, revogando a Lei nº 30/2002, de 20 de dezembro, alte-rada pelas Leis nºs 3/2008, de 18 de janeiro e 39/2012, de 2 de setembro. Altera, ainda, os artigos 26º e 27º do Decreto-Lei nº 301/93, de 31 de Agosto, e considera remetidas para disposições homólogas ou equiva-lentes do presente Estatuto todas as remissões feitas em legislação anterior para o estatuto do aluno dos Ensinos Básico e Secundário ora revogado.

No essencial, a Lei 51/2012 intro-duz mudanças que vão na direção de um novo equilíbrio entre direi-tos e responsabilidades e entre o poder dos alunos, dos encarregados de educação e dos professores. Pre-coniza o reforço da autoridade dos professores e enfatiza os deveres dos discentes e responsabilidades dos encarregados de educação, procu-rando implementar uma cultura de disciplina, de exigência e de promo-ção do mérito dos alunos.

Trata-se de um documento im-portante e cujas implicações na vida da escola necessitam e obri-gam a análise e debate por toda a comunidade escolar, o que tem es-tado a acontecer, tendo em vista a adaptação/atualização dos Regula-mentos Internos, enquanto instru-mentos normativos da autonomia das escolas.

O Estatuto do Aluno e Ética Es-colar responsabiliza os alunos pelo exercício dos seus direitos (art.º 7º) e pelo cumprimento dos deveres (art.º 10º) e dá enfâse ao respeito pela au-toridade do professor e à integrida-de física e psicológica de todos os membros da comunidade educativa.

Adaptado às exigências do mun-do atual e com impacto na vida es-colar, o Estatuto vem atualizar, em

termos de enunciação, deveres que têm a ver com a não utilização de quaisquer equipamentos tecnoló-gicos, designadamente telemóveis, equipamentos, programas ou apli-cações informáticas, a não captação de sons ou imagens nos locais onde decorram aulas ou outras atividades formativas, e a não difusão, na esco-la ou fora dela, nomeadamente, via internet ou através de outros meios de comunicação, de sons ou ima-gens captados nos momentos leti-vos e não letivos, sem autorização do respetivo professor e/ou diretor da escola.

Outro dos deveres do aluno é a re-paração dos danos por si causados a qualquer membro da comunidade educativa ou em equipamentos ou instalações da escola ou outras onde decorram quaisquer atividades as-sociadas à vida escolar e, não sendo possível ou suficiente a reparação,

indemnizar os lesados relativamente aos prejuízos causados.

O novo Estatuto, para além de evidenciar o desenvolvimento dos valores nacionais e a cultura de ci-dadania, vem garantir os direitos do aluno a beneficiar de medidas adequadas à recuperação de apren-dizagens, a usufruir de prémios ou apoios e meios complementares que reconheçam e distingam o mérito, a ver salvaguardada a segurança na escola e a beneficiar, designadamen-te, da especial proteção consagrada na lei penal para os membros da co-munidade escolar.

O acesso a medidas adequadas à recuperação das aprendizagens em falta obriga a que as situações de ausência às atividades escolares se-jam justificadas, devendo o Regula-

mento Interno da Escola explicitar a tramitação conducente à aceita-ção da justificação, bem como as consequências do seu eventual in-cumprimento e os procedimentos a adoptar.

A ultrapassagem dos limites de faltas injustificadas constitui vio-lação dos deveres de frequência e assiduidade e obriga o aluno fal-toso ao cumprimento de medidas de recuperação e ou corretivas es-pecíficas podendo, no caso de in-cumprimento reiterado, conduzir à aplicação de medidas disciplina-res sancionatórias previstas no pre-sente Estatuto.

Todas as medidas disciplinares corretivas e sancionatórias pros-seguem finalidades pedagógicas, preventivas, dissuasoras e de in-tegração, visando de uma forma sustentada, o cumprimento dos deveres do aluno, o respeito pelos

docentes e demais funcionários, bem como a segurança de toda a comunidade educativa. Devem, pois, estas medidas ser aplicadas em coerência com as necessidades educativas do aluno e com os obje-tivos da sua educação e formação, por referência ao desenvolvimento do projeto educativo da escola e nos termos do respetivo regula-mento interno.

Neste sentido, o Estatuto do Alu-no e Ética Escolar ao responsabi-lizar os alunos e corresponsabili-zar os encarregados de educação, prevendo inclusive a aplicação de coimas, torna importante que to-dos o conheçam bem como o Re-gulamento Interno da escola para que o compromisso, explicitado através de declaração de aceitação anual, contribua para que o cum-primento integral seja assumido de forma consciente e responsável.

Estatuto do Aluno e Ética Escolar:conduta centrada em normas e regras

Espaço Educação

“FORMAS DE TERRA E FOGO”Até 25 NOV | Museu de PortimãoEm exposição esculturas de Sara Navarro (re)cria-das pela arte do fogo, que transmitem algo de pri-mitivo, pré-histórico ou arqueológico, e evocam a arte e a cultura de outros tempos, de outros lugares

“PORTUGAL EUROPEU: MEIO SÉCULODE HISTÓRIA”Entre 3 e 26 NOV | Galeria de Arte Pintor Sa-mora Barros - AlbufeiraExposição reúne um conjunto significativo de imagens de documentos, fotografias de época, citações e referências da história diplomática portuguesa contemporâneade

staque

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02.11.2012  9Cultura.Sul

Contos de Outono na Ria Formosa

A Visita

São quase três da tarde e há muito barulho no antigo café do centro da cidade onde espero o Jaime. Entrete-nho-me a ler uma revista do jornal de domingo enquanto ele não vem. Pouco depois chega. Toma uma bica, acende um cigarro lights e diz sim-plesmente: Vamos?!

Vamos visitar os pais como qua-se todas as quartas à tarde. Também costumo ir sozinho quando me apetece. Acho que ele faz o mesmo. Deixamos os carros estacionados no centro, junto às ruas das lojas e dos cafés. Fazemos o caminho a pé. Por-que é perto e porque gostamos de ir assim um ao lado do outro, vagaro-samente, conversando.

Amanhã é dia um. Deve vir muita gente, comenta o Jaime.

Pois. É feriado. É natural. É o dia de Todos-os-Santos e as pessoas gos-tam dos festejos… dos dias…, vou murmurando.

Então e que tal de semana? Não tra-balhas hoje, pois não!? Ontem pensei que não me ias ligar, que tivesses ido para Lisboa, Sevilha ou…

Não ! Não!Continuas sem ser aumentado… pre-

cisas que te empreste algum?Não!, respondo de novo. Que tens hoje? Estás aborrecido? Apenas sonolência de meio de tarde

neste clima esquisito. Foste sair ontem à noite, é o que é,

diz sorrindo. Sim. E depois fiquei a ler até quase

de manhã, confirmo-lhe.Chegamos ao portão. Já cá estão

muitas bancas a vender flores e lam-parinas e outras coisas que não sei o que são.

Quase nunca trazemos flores. Queres levar flores?

Não! Mas dá qualquer coisa àquele homem ali. Aponto-o com um gesto de cabeça.

O homem disse obrigado e mais qualquer coisa que não entendi ao Jaime e continuamos o trajec-to até à campa onde estão enter-rados juntos. Sentamo-nos numa pedra ali ao lado e cada um de nós deixa-se ficar a falar com eles em silêncio. Às vezes também falamos os dois em voz alta, mas hoje está muita gente em volta. E apenas nos despedimos:

Adeus pai! Adeus mãe! Até depois.

Que o meu irmão repete. E vamos embora.

Lá fora confesso-lhe: Tive muitas saudades dos dois esta

semana, mais do que nunca.O Jaime não responde e passado

um bocado pergunta-me se já não ando com aquela rapariga que co-nheceu há uns meses.

Não! Foi trabalhar para Lisboa, informo-o.

Queres ir lá jantar hoje?Recuso o convite. Vou jantar fora

com o Mário e o Filipe…Então aparece lá amanhã.

Está bem. Depois telefono-te.Ele entra no carro, baixa o vidro

automático e dá-me um cd. Eu agra-deço enquanto ele liga o motor. De-pois diz:

Ah! É verdade… a Carla foi hoje ao médico. Vou agora buscá-la. Acha que está grávida.

Não temos primos, tios nem avós. Isso acontece. Não estou a divagar, nem a inventar. É de facto assim. Ele tem a mulher com quem vive. São uma família. Eu tenho-o a ele. Mesmo só duas pessoas podem ser uma família.

Pedro [email protected]

O Cine-Teatro Louletano recebe, entre os próximos dias 15 e 17, a pri-meira edição da LUSODOC - Mostra de Cinema Documental de Loulé.

O cinema realizado nos países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é geral-mente pouco conhecido em Portugal. Exibido quase sempre fora dos gran-des circuitos comerciais, constitui um desafio reflectir acerca da sua impor-tância na sociedade e na memória colectiva. Assim, o principal objetivo desta Mostra de Cinema Documental de Loulé é olhar o filme documentá-rio como uma janela sobre o mundo.

Nesta primeira edição vão estar representados o Brasil, Angola e Moçambique.

O evento divide-se entre painéis teóricos e de debate promovidos pelos convidados e a posterior exi-

bição de documentários. Assim, no dia 15, pelas 16 horas, acontece o primeiro painel, dedicado ao Brasil, com a presença de Mirian Tavares, coordenadora do CIAC (Centro de Investigação em Artes e Comuni-cação), e da realizadora brasileira Liliana Sulzbach. Pelas 18 horas é apresentado o documentário “A In-venção da Infância” e, pelas 21.30 horas, “O Cárcere e a Rua”, ambos desta realizadora.

Na sexta-feira, 16 de Novembro, o destaque vai para Moçambique. Às 16 horas, Sílvia Vieira, investigadora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) do Algarve, e Pedro Pimenta, que para além de outras funções na sétima arte é actu-almente membro do júri de festivais internacionais como o FESPACO, o FilmRio, o Festival Cinéma du Réel

e DocsLisboa, apresentam um painel de debate. Às18 e 21.30 horas, vão ser apresentados, respetivamente os documentários moçambicanos “Salani”, de Isabel Noronha e Vivian Altman, e “Hóspedes da Noite”, de

Licínio Azevedo.No encerramento da LUSODOC, a

17 de Novembro, o dia é dedicado a Angola. Paulo Cunha, investigador da área da programação de Cinema e Audiovisual da Capital Europeia da

Cultura 2012, e o realizador angola-no, Kiluanje Liberdade, são os apre-sentadores do painel, que decorre a partir das 16 horas. “Oxalá Cresçam Pitangas”, documentário de Kiluan-je Liberdade e Ondjaki, e “A Minha Banda e Eu”, também de Kiluanje Li-berdade, serão exibidos às 18 e 21.30 horas.

Para a organização, esta Mostra reveste-se de grande importância para a Lusofonia, bem como para a projecção do cinema dos países de língua oficial portuguesa, servindo como mais um exemplo dos laços culturais que unem estes países.

Os bilhetes para os documentá-rios têm um custo de dois euros e a entrada é livre para estudantes, me-diante a apresentação de cartão de estudante. Os painéis de debate têm entrada livre.

LUSODOC estreia-se no cine-teatro de Loulé

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02.11.2012 10 Cultura.Sul

A literatura é tão mais interessante quanto a capacidade que tem de nos fazer ver a realidade, que pensávamos conhecida e confortável, de outra for-ma, por vezes bem inquietante.

Falo hoje de um livro que, sem me dar conta, despertou-me para uma si-tuação em que já tinha reparado, mas não tinha tomado consciência com tanta intensidade. Já explico mais adiante, pois ainda não apresentei o autor, Michel Houellebecq, fran-cês, com uma longa obra, de onde se destaca a poesia, os artigos, os contos, os argumentos de cinema e os seus 5 romances, três deles premiados. Em 2010 ganhou o Goncourt, o mais im-portante galardão da língua francesa.

No entanto, Michel Houellebecq cria polémica à sua volta, de cada vez que publica, pois a sua causticidade incomoda, não deixando ninguém indiferente às suas opiniões.

O(s) Futuro(s)

No romance A possibilidade de uma ilha (de 2005, traduzido e publicado pela Dom Quixote em 2006) também o leitor não consegue ficar indiferente à perspetiva de futuro que nos apre-senta Houellebecq: o romance inter-cala a narrativa de Daniel, um hu-morista, «um observador acerbo da realidade contemporânea», que conta a história da sua vida, com as narrati-vas dos seus clones Daniel 24 e Daniel 25, que vivem mais de mil anos de-pois, num mundo de neo-humanos, que dos humanos guardaram as me-mórias mas não as emoções. Apenas os clones dos animais (aqui um cão, chamado Fox) as mantêm: «A bonda-de, a compaixão, a fidelidade, o altru-ísmo permanecem, pois, perto de nós como mistérios impenetráveis, em-bora contidos no espaço limitado do invólucro corporal de um cão» (p.67). Porém, estes clones aguardam o ad-vento dos Futuros, de quem falam como a salvação da raça.

O mundo onde estes clones habi-tam é também povoado por selva-gens, humanos que não se deixaram clonar, e são caçados e mortos quan-do apanhados. Contudo, para alguns neo-humanos exercem um grande fascínio… mas sobre isto não posso escrever, pois não devo estragar o pra-zer da vossa leitura.

Regressando à estrutura da obra:

pode parecer um livro de ficção cien-tífica (um género de que ainda não falei nestas páginas), mas não me lembraria de assim o classificar. Tal-vez porque as narrativas dos clones, ao longo das primeiras 352 páginas, serem mínimas: duas ou três contras-tando com cada capítulo do Daniel 1, alguns com 40 páginas.

A realidade dos nossos dias é mos-trada pelos clones de uma manei-ra assustadora. Referindo-se à vaga de calor que matou muitas pessoas em França, em 2003, diz Daniel 24: «Nas semanas que se seguiram, este mesmo jornal [Libération] publicou uma série de reportagens atrozes, ilustradas por fotografias dignas dos campos de concentração, relatando a agonia dos velhos amontoados em salas comuns, nus em cima das ca-mas, de fraldas, gemendo ao longo do dia sem que ninguém fosse re-hi-dratá-los ou estender-lhe um copo de água (…). “Cenas indignas de um país moderno”, escrevia o jornalista, sem se aperceber de que elas eram a pro-va, justamente, de que a França esta-va a tornar-se num país moderno, de que só um país autenticamente mo-derno seria capaz de tratar os velhos como puros dejetos, e que tamanho desprezo pelos antepassados teria sido inconcebível em África ou num país da Ásia tradicional. A enérgica indignação suscitada por estas ima-gens desapareceu rapidamente, e o desenvolvimento da eutanásia provo-cada – ou, cada vez com mais frequên-cia, livremente consentida – viria, ao longo das décadas que se seguiram, resolver o problema». (p.78)

O narrador aborda outros assun-tos sensíveis do nosso mundo: para além da eutanásia ou falência da sociedade em cuidar dos seus mais velhos, como aqui mencionado, o sexo e a religião são outras matérias que ele trata sem tabus e com alguma violência. Uma seita que defende que fomos criados por extraterrestres faz tudo, sem escrúpulos de alguma espé-cie, para conseguir impor-se como a religião dominante.

Daniel, na verdade, não é uma personagem muito simpática: ego-ísta, sem grande consideração pe-las pessoas, cru, defensor de ideias indefensáveis, politicamente mui-to pouco correto… Porém, se con-seguirmos ultrapassar a eventual resistência que estas características nos possam provocar, vamos conse-guir ver nele um crítico mordaz da hipocrisia da sociedade, que narra os acontecimentos e sentimentos da sua vida de um modo sincero e sem falsas autocomiserações.

Lolitas

Mas o que me fez escolher este livro para este mês foi uma série de factos que se sucederam e que para ele con-vergiram. Passo a explicar:

Como optei, há muitos anos, por não ter televisão, sempre que algu-ma circunstância mo permite, vejo os canais com curiosidade. A distância temporal dá-me também distância de análise. Foi assim que, num quarto de hotel, a fazer as malas no regresso de um colóquio, vejo num programa da manhã uma senhora a fazer sugestões de adereços para esta estação do ano. Expressões como «que divertido!», «que engraçado!», «não são só as nossas filhas que podem usar! Nós também!», enquanto mostrava pro-tetores de orelhas «muito fofinhos!», óculos cor-de-rosa, em forma de co-ração, «muito divertidos!», gorros com olhinhos e orelhinhas, os quais a apresentadora ia colocando, com visível gozo, e perguntando: «mas isto não é para a nossa idade, pois não?». A outra insistia: «Por que não? Nós também podemos usar estas coisas! São muito divertidas!», enquanto lo-litas iam entrando, com saltos altís-simos desconjuntados nos seus cor-pos quase infantis, mostrando esses adereços por cima de roupas pretas coladas ao corpo.

Fez-se um clique. Eu sabia que já tinha lido uma descrição daquilo a que estava a assistir. «Michel Houel-lebecq!», teria eu gritado, se estives-

se alguém comigo para me ouvir. E apressei-me a apanhar um transpor-te para casa, para verificar no livro o texto exato.

Na viagem, a CP gentilmente ofere-ceu-me uma revista cor-de-rosa, que fui folheando, cheia de gente a posar para as câmaras, depois de galas e ou-tras festas. E é nesse momento que me salta à vista uma modelo, vestida por um estilista português, de calção curtíssimo, blusa com folhos, e uns brincos enormes, com uns ursinhos ou um bonequinho do género!

«Houellebecq! Preciso de ler o Houellebecq!»

Numa outra folha, depois de anún-cios de cremes que fazem uma se-nhora de 60 parecer 35 anos, está uma mãe de cabedal preto a modelar o corpo, e a filha a contrastar, vestida como uma adulta séria. Noutra pági-na, depois de anúncios de mais cremes de rejuvenescimento, uma mãe que di-zia que a filha era mais clássica do que ela, que gosta de roupa juvenil.

Horas depois cheguei a casa, fui à estante e abri A possibilidade de uma ilha. Felizmente tinha uma ideia de onde estava o que procurava. Isa-belle, que vem a casar com Daniel, era chefe de redação de uma revista chamada Lolita e já tinha dirigido uma outra chamada 20 Ans. Quando se conhecem, falam sobre esta e ou-tras revistas, inclusive masculinas. Mas a questão que se punha era a mesma: «cuidados a ter com o cor-po, tratamentos de beleza, tendên-

cias. Nem um pelo de cultura, nem um grama de atualidade; nenhum humor» (p. 34). E Isabelle conta como foi contratada, por um mi-lionário discreto, dos que mandam mas não aparecem nas revistas que dominam: «a 20 Ans era uma revista comprada essencialmente por rapa-rigas de quinze, dezasseis anos, que queriam mostrar-se à vontade em tudo, em particular no sexo; com Lolita, ele pretendia efetuar o des-fasamento inverso. “O nosso alvo começa aos dez anos… disse ele; mas não há um limite superior”. Apostava no facto de que as mães tenderiam cada vez mais a copiar as filhas. Como é evidente, há qualquer coisa de ridículo numa mulher de trinta anos que compra uma revis-ta chamada Lolita; mas não mais do que um top justo ao corpo, ou uns mini-shorts. Apostava no facto de que o sentimento de ridículo, que fora tão forte entre as mulheres, em particular entre as francesas, desa-pareceria aos poucos, em benefício do puro fascínio por uma juventude sem limites. O mínimo que se pode dizer é que ganhou a aposta. A idade média das nossas leitoras é de vinte e oito anos – e aumenta praticamen-te todos os meses. (…) É natural que as pessoas sintam medo de envelhe-cer, sobretudo as mulheres, sempre assim foi, mas agora… Ultrapassam tudo o que se possa imaginar; creio que enlouqueceram por completo».

Não é ficção.

«Existe no meio do tempo a possibilidade de uma ilha»

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Universidade do [email protected]

livro

O escritor francês Michel Houellebecq

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02.11.2012  11Cultura.Sul

As festas populares fazem parte da especificidade cultural das comunida-des, representam manifestos das suas vivências, usos e costumes, transmitidos de geração em geração e são recriadas ao longo dos tempos por essas mesmas comunidades.

Todos os anos, nos dias 2 e 3 de Maio, na Aldeia de Estoi, no Concelho de Faro, é celebrada a Festa da Pinha, uma tradição secular, que segundo fontes orais remonta a mais de dois séculos. Na sua génese podemos en-contrar uma vertente religiosa e outra de carácter pagão.

A Génese

Terão sido os almocreves, parceiros comerciais do Morgado do Ludo, os prenunciadores desta festa.

As viagens dos almocreves efetua-das por caminhos hostis e perigosos tinham como meio de transporte as carroças puxadas por mulas ou cava-los e eram efetuadas entre o Algarve e o Alentejo, tendo como finalidade a permuta de produtos regionais. Do Algarve levavam frutos secos (figos, al-farroba e amêndoa), peixe e produtos importados que chegavam via maríti-ma aos portos do Algarve. Do Alentejo traziam cereais e cortiça.

Aquando destas viagens, eram con-frontados com inúmeros obstáculos que punham em risco as suas vidas:

Salteadores e lobos eram alguns dos perigos com que muitas vezes se de-paravam.

Segundo rezam os mais antigos, a gé-nese da festa remonta a tempos ime-moriais, quando um grupo de almocre-ves numa das suas viagens de regresso à aldeia pernoitou num acampamento, sendo aqui cercados por uma alcateia de lobos. Desesperados, rezaram à Nos-sa Senhora do Pé da Cruz suplicando--lhe auxílio, o que para eles seria um milagre. A súplica foi atendida e em agradecimento concretizaram uma festa em homenagem a Nossa Senhora do Pé da Cruz, a cuja ermida chegaram já noite cerrada à luz de archotes. Aí, acenderam uma fogueira como forma de gratidão para com a sua padroeira. Desde então, a festa passou a fazer par-te de uma tradição que perdura até aos dias de hoje.

Era para o Ludo, lugar onde havia

um importante porto marítimo desig-nado de Farrobilhas, que os almocreves se deslocavam para acertar contas com o Morgado do Ludo e festejavam o su-cesso das transações, comendo, beben-do e divertindo-se através das abarcas, lutas efetuadas entre duas pessoas em que o vencedor era aquele que primei-ro conseguisse derrubar o outro.

Ao cair da noite, cumprindo a tradi-ção, regressavam à aldeia empunhando enormes tochas de rama de pinheiro acesas. O cortejo terminava junto à Er-mida do Pé da Cruz, onde faziam uma enorme fogueira em agradecimento à sua padroeira.

A organização social da festa

A festa que inicialmente era exe-cutada pelos almocreves, passou em tempos mais recentes a ser organiza-da, primeiramente por uma comissão

constituída propositadamente para o efeito, após o 25 de Abril, pela As-sociação dos Jograis António Aleixo e posteriormente, pela Junta de Fre-guesia de Estoi.

A Festa da Pinha é um aconteci-mento que marca fortemente o senti-mento de pertença desta comunidade às suas tradições. Nos dias que ante-cedem o evento, começam os prepa-rativos: a ornamentação dos carros e dos animais que irão fazer parte do cortejo, com palmas e flores vistosas e multicolores, em que prima a ori-ginalidade de cada um. Ao mesmo tempo, preparam-se os comes e bebes que irão fazer parte do piquenique que terá lugar no sítio do Ludo em Almancil.

A festa inicia-se pela manhã do dia 2 de Maio, no Largo do Mercado, com a concentração dos participantes do desfile formado pelos cavaleiros tra-

jados a rigor (calça preta, cinta preta ou vermelha, colete, camisa branca, lenço vermelho ao pescoço e chapéu preto) à frente e atrás, por carroças, camiões e tratores vistosamente de-corados, que desfilam para o público, gritando entusiasticamente: “Viva à Pinha!”. Em seguida, partem em dire-ção ao Ludo, local onde se irá realizar o piquenique, formado por diversas iguarias e bebidas e um convívio animado por espetáculos de música e dança.

É ao final do dia que se inicia o re-gresso à aldeia. Nesta altura, já bas-tante alegres e empunhando enormes archotes, partem em direção a Estoi, chegando já noite cerrada. No Largo da Liberdade, frente à igreja matriz, são recebidos por uma enorme mul-tidão e por um espetáculo composto por música e fogo-de-artifício. Em seguida, desfilam pela aldeia dando “Vivas à Pinha”, até à Ermida do Pé da Cruz, onde lançam os archotes e alecrim para uma fogueira acendida em homenagem à sua padroeira.

A festa continua com música, dan-ça e muita alegria até de madrugada, terminando no dia 3 de Maio, dia de Vera Cruz, com uma missa de Ação de Graças a Nossa Senhora do Pé da Cruz.

A festa como promotora de novos contextos sociais,

económicos e culturais

Um dos eventos culturais associados à Festa da Pinha desde finais da década de 60 do século XX, é o concurso dos jogos florais, um concurso dedicado à poesia, composto por modalidades diversas dentro desta temática.

A festa também serviu de motiva-ção para o aparecimento recente de um mercado de produtos regionais e artesanais, permitindo desta forma, di-namizar mais a freguesia, a nível social cultural e económico.

Promover e preservar a tradição no contexto das gerações mais jovens deu origem a um novo evento festivo: A “Festa da Pinha Infantil”, uma recriação recente da festa tradicional, que se efe-tua habitualmente no dia 25 de Abril e onde as crianças são os intervenientes.

A Festa da Pinha, uma manifestação do património imaterial de Estoi

Fernanda ZacariasAntropóloga

património •ViVências no algarVe - património cultural imaterial

Cavaleiros trajados a rigor desfilam pelas ruas de Estoi

“DEUSAS PAGÃS E OUTRAS”Até 24 NOV | Galeria Municipalde AlbufeiraExposição de pintura de Carmen Santos que surgiu de uma vontade de honrar e glorificar o elemento feminino da criação

“ORQUESTRA DE SOPROS DO ALGARVE”Dia 24 NOV | 21.30 | Centro Cultural de LagosConcerto junta a Orquestra de Sopros do Algarve ao conhecido músico algarvio Beto Kalulu.

dest

aque

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Espaço Cultura

Ser mais acessívelO auditório do Castelo da

vila fronteiriça de Alcoutim acolheu nos passados dias 19 e 20 de Outubro mais de meia centena de profissionais, por-tugueses e espanhóis, que, durante duas jornadas de in-tensa troca de experiências e de apresentação de projetos inovadores, debateram sobre Museus e Acessibilidades – o tema do 1.º Encontro Trans-fronteiriço de Profissionais de Museus do Algarve e An-daluzia.

O Encontro, uma inicia-tiva conjunta da AMMA / Asociación de Museólogos y Museógrafos de Andalucía e da APOM / Associação Portu-guesa de Museologia, contou com o patrocínio da ATAS / Associação Transfronteiriça Alcoutim Sanlúcar e da Di-reção Regional de Cultura do Algarve, e teve um am-plo apoio do Município de Alcoutim.

Os temas em debate di-zem respeito a toda a so-

ciedade e envolvem a mais ampla gama de museus e de monumentos visitáveis: a superação das barreiras físicas (particularmente em edifícios históricos com um elevado grau de proteção); as tecnologias de informação e comunicação como fator decisivo para que as pesso-as portadoras de deficiência possam desenvolver-se so-cial e culturalmente com to-tal normalidade; e, ainda, as formas de comunicar com os diferentes utentes, prestan-do do modo mais adequado

a cada caso a informação que cada qual requer.

A presença de credencia-dos técnicos, todos eles com uma larga e diversificada ex-periência, que exercem a sua atividade nos museus nos domínios da museologia e da museografia, de académi-cos, docentes e investigadores da ciência dos museus, e de estudantes de museologia, permitiu uma multifacetada abordagem dos temas em discussão e enriqueceu os debates, mais centrados na preocupação com as pessoas

e na sustentabilidade das so-luções do que em propostas tecnicamente sofisticadas e desajustadas dos meios usu-almente disponíveis.

O Encontro integrou ain-da visitas comentadas ao Núcleo de Arqueologia do Museu de Alcoutim e, por cortesia do Município de Tavira, ao Palácio da Gale-ria / Museu da Cidade e ao Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira.

Direção Regional de Cultura do Algarve

«A vila fronteiriça de Alcoutim acolheu durante dois dias mais de meia centena de profissionais dos museus,

que debateram entre si como tornar estas instituições mais acessíveis, adequando as atenções dispensados

aos diferentes tipos de utentes e elevando o nível dos serviços prestados à sociedade.

Cultura.Sul

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