cultura produtor e gestão cultural - resenha 1 nde sérgio bretas lage viana
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Cultura, produtor e gestão cultural.
Sérgio Bretas Lage Viana
O desenvolvimento do conhecer sobre a gestão cultural passa pela proximidade que a mesma
guarda com a administração em alguns de seus instrumentos: planejamento, organização, liderança,
controle e coordenação. Porém as semelhanças ficam por ai, pois os contornos dos agentes
relacionados à gestão cultural não são tão bem delineados como na administração. Diluindo até
mesmo os componentes da produção na figura do cliente à semelhança de como é classificado o
público. É neste sentido que caminha o entendimento de Priscila Seixas em seu texto “Gestão
Cultural em Debate” (http://senac.eduead.com.br, acesso em 20-05-2012) 1 enquadrando a atuação
da gestão cultural na função de mediação. Necessariamente recente (1980) assume uma função para
além da mera administração, pois cada projeto guarda suas particularidades consonantes à cultura
na qual está inserido, sofre suas influencias. Incluindo política, ação e produto em seu sistema.
A política cultural vem a ser a ciência da organização das estruturas culturais objetivando estudo,
agenciamento e compreensão do todo envolvido no complexo da ação cultural. Esta vem a ser um
processo de criação ou organização das condições necessárias para que criadores possam
desenvolver seus próprios fins no universo composto por produtos culturais, por meio dos quais
aqueles expressam sua cultura. Versátil em seus conteúdos e meios, o produto cultural transita entre
pólos de expressada idéia de exprimindo sua natureza diversa à do bem cultural, pois este traz no
seu arcabouço a noção de infungibilidade enquanto que o produto cultural vem a ser algo
comercializável. A partir da definição do que é cultura é possível entender que a política cultural
deve ser visto como um sistema onde a base é a interlocução.
A partir daqui é preciso conceituar cultura, o que Priscila Seixas faz no texto “Discutindo o
conceito de cultura” (http://senac.eduead.com.br, acesso em 20-05-2012) 2, como sendo algo que
define uma nação. A nação constrói relações de pertencimento. Utilizando a abordagem já
demonstrada na ocasião do fórum de debates sobre o assunto.
Uma vez que, para contornar suas necessidades, o ser humano cria, produz; aparatos, instrumentos e
apetrechos, não observados na natureza primeva, podemos dizer que estava desenvolvendo os
pequenos aspectos que, posteriormente, no todo, formariam a cultura de sua comunidade. Entendido
o fato de que o ser humano é condição para a cultura, podemos passar ao entendimento de que a
cultura também o é para que se possa confirmar humano.
1 Portal AVA in: http://senac.eduead.com.br/ead2012/file.php/187/moddata/scorm/6/html/m0u0.html2 Idem.
É possível pensar, partindo desse pré-suposto, que os produtos culturais sempre existiram. O que
não havia até determinado ponto da história humana era a figura do gestor destes recursos e mais
recentemente um estudo pormenorizado das ações deste gestor em prol de uma maior eficiência
pautada pela ética. Aqui entra o papel do mediador.
Um complicador que se apresenta a todo esse campo conceitual é o da pós-modernidade em que
todas as culturas “coexistem em tensão”, dada à velocidade e dimensionalidade que um mundo
conectado traz a qualquer acontecimento ou feito do homem. O homem pós-moderno se sente, ao
mesmo tempo cidadão do mundo e abismal, sedimentado e fragmentado assumindo diversas
identidades. No sentido de que tem ao seu alcance todo o mundo, mas essa cultura globalizada não
guarda os padrões da sua cultura local. Tende, concomitantemente, ao comportamento paradoxal de
participar de tudo e proteger-se de tudo. A ponto de cunhar o termo “Glocal” 3, que guarda em seu
conceito a já mencionada coexistência em tensão de realidades antagônicas. O que nos leva a
necessidade de diferenciar o produtor cultural do gestor cultural. Esta diferença está calcada na
relação que um e outro se permitem, ou podem se permitir ter com o Mercado.
No texto "O Papel do Gestor e do Produtor na Política Cultural Brasileira” 4 Elisabete Arruda de
Assis, traça as diferenças entre o produtor e o gestor cultural. Para ela o papel que o Mercado
vinha desempenhando com relação à atividade artística transformava o que era para ser um
produto artístico em mero reforço de marcas de empresas. Com efeito, não são observadas
mudanças neste aspecto, pois o texto de Priscila Seixas reafirma esta situação. Sendo que se
observava a prevalência da figura do produtor cultural, mais agradável ao Mercado. Segundo
Elisabete Arruda está aí a diferença entre o produtor e o gestor cultural, visto que o primeiro
se adéqua a certo preço ao que o mercado requer enquanto o Gestor Cultural:
"O gestor cultural não atende, dentro da lógica até então reinante à demanda do
mercado e da lógica imposta à política cultural em vigor no Brasil, calcada que está
em uma mercado-lógica, cuja tônica é dada por meio da troca, da elaboração de uma
reciprocidade que o mobiliza (o que, de certo modo, parece justificar sua própria
existência) (...) A complexidade desta prática reside, pois, em que os interesses
últimos não são financeiros, mercantis, onde os recursos do incentivo fiscal,
disponibilizados pelo Estado, não são os fins últimos." Elisabete Arruda.
3 Glocal é um conceito up-to-date da antropologia cultural, que denomina a mistura de culturas globais modernas e locais tradicionais. Basicamente um intercâmbio entre as culturas em todas as suas modalidades. In: http://www.viladoartesao.com.br/blog/2008/06/glocal-sabe-o-que-significa/ acesso em 02-04-2012.4In: http://www.ram2009.unsam.edu.ar/GT/GT%2038%20%E2%80%93%20Politicas,%20Economia%20y%20Gestion%20de%20la%20Cultura%20en%20el%20Mercosur/GT38%20-%20Ponencia[Arruda].pdf , acesso em 20-05-2012.