felipe s. lage (automaÇÃo bom )

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Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas - EM Colegiado do Curso de Engenharia de Controle e Automação – CECAU Escola de Minas Felipe Stiegert Lage Comunicação Industrial Monografia de Graduação em Engenharia de Controle e Automação Ouro Preto, 2009

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Page 1: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

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Universidade Federal de Ouro Preto

Escola de Minas - EM

Colegiado do Curso de Engenharia

de Controle e Automação – CECAU Escola de Minas

Felipe Stiegert Lage

Comunicação Industrial

Monografia de Graduação em

Engenharia de Controle e Automação

Ouro Preto, 2009

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FELIPE STIEGERT LAGE

Comunicação Industrial

Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Federal de Ouro Preto como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Engenheiro de Controle e Automação

Orientador: Prof. Dr. Agnaldo José da Rocha Reis

Ouro Preto

Escola de Minas –UFOP

Agosto/ 2009

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3

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4

Agradecimentos

Esta obra é dedicada àqueles que sempre me apoiarão nesta vida por saberem do valor dos

princípios que me transmitiram: meus pais Alvaro e Eliane. Seu senso de justiça, honestidade e

garra me servirão como referência para sempre.

Aos meus irmãos, Annaline e Guilherme, sem os quais não seria possível seguir em frente em

muitas etapas importantes e que foram, graças a eles, superadas com maestria.

À ISA distrito 1 e a Jonas Berge pelo incentivo e por não enxergarem limites para a difusão do

conhecimento; ao Engenheiro Adailton Emerick (automacoes.com), pelas valiosas informações e

pelo auxílio e paciência em pontos críticos do trabalho.

E, por fim, expresso minha gratidão à grandiosa República Vira Saia e a todos os ensinamentos

ao longo dos anos, que vão muito além da Engenharia.

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5

Ousar é, ainda, a melhor maneira de se vencer.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..........................................................................................9

LISTA DE TABELAS.......................................................................................11

LISTA DE EQUAÇÕES....................................................................................12

RESUMO...........................................................................................................13

ABSTRACT.......................................................................................................14

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................15

1.1 Objetivos ....................................................................................................................15

1.2 Justificativas...............................................................................................................16

1.3 Metodologia ...............................................................................................................18

1.4 Estrutura do Trabalho ................................................................................................18

2 HISTÓRICO .....................................................................................................................19

3 REDES INDUSTRIAIS ....................................................................................................21

3.1 Comunicação digital x analógica ...............................................................................21

3.2 Tipos de automação industrial ...................................................................................24

3.3 Terminologias e equipamentos típicos encontrados em uma rede.............................25

3.3.1 Cabeamento ........................................................................................................25

3.3.2 Barramentos, Spurs e Segmentos ......................................................................26

3.3.3 Fonte de alimentação ..........................................................................................30

3.3.4 Nós......................................................................................................................31

3.3.5 Terminadores ......................................................................................................31

3.3.6 Repetidores .........................................................................................................32

3.3.7 Módulos I/O remotos e caixas de junção ...........................................................33

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7

3.3.8 Gateways ............................................................................................................34

3.3.9 Switches / Hubs ..................................................................................................35

3.3.10 Bridges................................................................................................................36

3.3.11 Servidores de Dispositivos .................................................................................36

3.3.12 Linking Devices (Dispositivos de Ligação) .......................................................37

3.4 Classificação e características das redes ....................................................................38

3.4.1 Classificação por extensão geográfica................................................................39

3.4.2 Topologias ..........................................................................................................40

3.4.3 Modos de transmissão dos dados .......................................................................45

3.4.4 Modos de acesso ao barramento.........................................................................46

3.5 Meios físicos ..............................................................................................................50

3.5.1 Cabos coaxiais ....................................................................................................50

3.5.2 Cabos de par trançado ........................................................................................51

3.5.3 Fibras ópticas......................................................................................................52

3.5.4 Wi-Fi – Wireless Fidelity (Fidelidade sem Fios) ...............................................53

3.6 Padrões de níveis físicos ............................................................................................54

3.6.1 O padrão RS-232 ................................................................................................54

3.6.2 O Padrão RS-485................................................................................................56

3.6.3 O padrão IEC 61158-2........................................................................................57

3.6.4 O Padrão Ethernet...............................................................................................59

3.7 Níveis hierárquicos ....................................................................................................62

3.8 Tipos de equipamento ................................................................................................64

3.8.1 Redes Sensorbus.................................................................................................65

3.8.2 Redes Devicebus ................................................................................................65

3.8.3 Redes Fieldbus....................................................................................................66

3.9 O modelo de referência OSI ......................................................................................67

3.9.1 Camada física (1)................................................................................................70

3.9.2 Camada de Enlace (2).........................................................................................70

3.9.3 Camada de Rede (3) ...........................................................................................71

3.9.4 Camada de transporte (4)....................................................................................71

3.9.5 Camada de sessão (5) .........................................................................................71

Page 8: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

8

3.9.6 Camada de apresentação (6) ...............................................................................72

3.9.7 Camada de Aplicação (7) ...................................................................................72

4 PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO ...........................................................................73

4.1 Modbus ......................................................................................................................73

4.1.1 Modbus RTU - Terminal Unit (unidade terminal remota) .................................74

4.1.2 Modbus ASCII....................................................................................................75

4.1.3 Modbus/TCP.......................................................................................................75

4.1.4 Modbus Plus .......................................................................................................75

4.2 AS-interface ...............................................................................................................76

4.3 DeviceNet ..................................................................................................................79

4.4 HART.........................................................................................................................81

4.5 Profibus ......................................................................................................................85

4.5.1 Profibus PA (automação de processos) ..............................................................86

4.5.2 Blocos Funcionais ..............................................................................................87

4.5.3 Profibus DP (Periferia descentralizada) .............................................................88

4.6 Foudation Fieldbus (FF).....................................................................................91

4.6.1 Foundation Fieldbus H1 .....................................................................................93

4.6.2 Blocos .................................................................................................................94

4.6.3 Rede FF HSE (High Speed Ethernet) .................................................................96

5 GERENCIAMENTO DE ATIVOS ..................................................................................98

5.1 Manutenção Corretiva / Reativa ................................................................................99

5.2 Manutenção Preventiva............................................................................................100

5.3 Manutenção Preditiva ..............................................................................................100

5.4 Manutenção Pró-ativa ..............................................................................................100

5.5 DD (Device Description) .........................................................................................101

5.6 EDDL (Enhanced Device Description Language)...................................................102

5.7 FDT/DTM (Field Device tool / Device Type Manager)..........................................103

5.8 Diagnósticos avançados ...........................................................................................104

6 CONCLUSÃO ................................................................................................................106

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................108

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9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Ilustração de uma rede industrial aplicada a um processo genérico .........................17 Figura 3.1 - Exemplo de uma medição com transmissão de dados 4-20mA................................21 Figura 3.2 - Cabo com shield ........................................................................................................26 Figura 3.3 - Terminador de barramento, trunk e spurs..................................................................27 Figura 3.4 - Exemplo de um terminador de barramento...............................................................32 Figura 3.5 - Repetidor Fieldbus....................................................................................................33 Figura 3.6 - Terminal I/O remoto para Foundation Fieldbus .......................................................34 Figura 3.7 - Aplicação de um gateway.........................................................................................35 Figura 3.8 - Hub-Switch para Ethernet........................................................................................36 Figura 3.9 - Linking Device ........................................................................................................38 Figura 3.10 - Topologia em barramento........................................................................................41 Figura 3.11 - Topologia Ponto-a-ponto .........................................................................................42 Figura 3.12 - Topologia Estrela.....................................................................................................43 Figura 3.13 - Topologia em anel ...................................................................................................44 Figura 3.14 - Topologia end-to-end...............................................................................................44 Figura 3.15 - Relação cliente-servidor ..........................................................................................47 Figura 3.16 - Relação Publisher-subscriber...................................................................................48 Figura 3.17 - Relação source-sink .................................................................................................49 Figura 3.18 - Cabo coaxial ............................................................................................................51 Figura 3.19 - Cabo par trançado ....................................................................................................52 Figura 3.20 - Cabo de fibra óptica.................................................................................................53 Figura 3.21 - Sistema wireless.......................................................................................................54 Figura 3.22 - Conectores DB 25 (25 pinos) e DB 9 (9 pinos).......................................................56 Figura 3.23 - Cabos de par trançado para Ethernet com conectores RJ-45...................................60 Figura 3.24 - Faixa de Aplicação de redes Ethernet......................................................................61 Figura 3.25 - Arquitetura de redes industriais ...............................................................................63 Figura 3.26 - Classificação das redes ............................................................................................65 Figura 3.27 - Tipos de redes ..........................................................................................................67 Figura 3.28 - O modelo OSI ..........................................................................................................69 Figura 4.1 - Configuração Modbus ..............................................................................................74 Figura 4.2 - Rede AS-i..................................................................................................................77 Figura 4.3 - Cabeamento e logomarca das redes AS-i .................................................................78 Figura 4.4 - Cabeamento e logomarca das redes DeviceNet........................................................80 Figura 4.5 - O sinal HART ...........................................................................................................82 Figura 4.6 - FSK ...........................................................................................................................83 Figura 4.7 - Exemplo de aplicação inteligente utilizando HART® .............................................84 Figura 4.8 - Logomarca do protocolo Profibus ............................................................................85 Figura 4.9 - Comunicação Profibus.............................................................................................86

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10

Figura 4.10 - Sistema mono-mestre...............................................................................................90 Figura 4.11 - Logomarca da Fieldbus Foundation ........................................................................92 Figura 4.12 - Blocos de controle ...................................................................................................95 Figura 4.13 - Integração das redes FF ...........................................................................................97 Figura 5.1 - Estrutura de um Device Description......................................................................101 Figura 5.2 - Tela de configuração e visualização de um EDDL.................................................102 Figura 5.3 - Tela de visualização e configuração de um DTM ..................................................104 Figura 5.4 - Tela do software Fieldcare, dedicado a gerenciamento de ativos...........................105

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3-1 - Cabeamentos típicos e alcance......................................................................................... 28 Tabela 3-2 - Comprimento máximo dos spurs para IEC 61158-2.......................................................... 30 Tabela 3-3 - Características da IEC 61158-2 ....................................................................................... 58 Tabela 3-4 - Ethernet comercial x industrial ........................................................................................ 61 Tabela 3-5 - Cabos, velocidades e distâncias máximas admitidas em plataformas Ethernet.................... 62 Tabela 4-1 - Protocolo Modbus........................................................................................................... 76 Tabela 4-2 - Redes AS-i ..................................................................................................................... 78 Tabela 4-3 - Redes DeviceNet ............................................................................................................ 81 Tabela 4-4 - Protocolo HART............................................................................................................. 84 Tabela 4-5 - Redes Profibus PA .......................................................................................................... 87 Tabela 4-6 - Redes Profibus DP .......................................................................................................... 90 Tabela 4-7 - Comparação entre as funcionalidades das redes FF H1 e FF HSE ................................... 97Tabela 4-8 - Foundation Fieldbus H1 .................................................................................................. 97

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 3.1 ..................................................................................................................................29 Equação 3.2 ..................................................................................................................................29

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13

RESUMO

Os benefícios advindos do uso de redes em automação industrial e controle de processos são

múltiplos e, muitas das vezes, indispensáveis nos modernos projetos de engenharia. Os diversos

protocolos de comunicação hoje comumente encontrados nas indústrias podem ser caracterizados

como ferramentas indispensáveis cujo conhecimento torna-se imprescindível ao Engenheiro de

Controle e Automação. Entretanto, devido à ampla gama de plataformas de transmissão de dados

disponível, conhecimentos mais aprofundados sobre o assunto são requeridos, de forma a se obter

o máximo de funcionalidade em uma planta, evitar superdimensionamento de dispositivos e

garantir a interoperabilidade entre equipamentos. Neste trabalho, são avaliados os benefícios

envolvidos na utilização de redes no meio industrial, seguido de configurações típicas,

parâmetros básicos e equipamentos que são comumente encontrados nestes sistemas. De forma

subsequente, são expostas as hierarquias da comunicação industrial de acordo com o tipo e

complexidade dos dados transmitidos, possibilitando ser iniciada a tomada de decisão acerca do

método a ser empregado. O modelo de referência OSI (Open Systems Interconnection), tomado

como padrão para a maior parte dos sistemas de comunicação disponíveis no mercado, é,

também, explicitado, e sua aplicação, de forma geral, é demonstrada. Por fim, são expostos os

principais protocolos de comunicação industrial disponíveis para as mais diversas configurações

de rede, juntamente com suas características principais. É, também, desenvolvido um estudo

introdutório sobre sistemas de gerenciamento de ativos, a partir do qual torna-se possível

conhecer as principais as técnicas e os benefícios envolvidos nesta nova ferramenta auxiliar de

manutenção e diagnósticos. Aliando-se o emprego de fieldbuses aos modernos sistemas de

gerenciamento de ativos, os custos operacionais de uma planta são significativamente reduzidos e

melhorias consideráveis nos padrões produtivos da empresa podem ser obtidas.

Palavras chave: Redes industriais, comunicação digital, fieldbus, gerenciamento de ativos.

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ABSTRACT

The benefits arising from the usage of industrial network systems in processes control are many

and considered essential in modern communication projects. The various communication

protocols commonly found in the industries can be characterized as fundamental tools whose

knowledge becomes indispensable to the Control and Automation Engineer. However, the wide

range of platforms available for data transmission requires further study on the subject in order to

obtain maximum of functionality of a plant and avoid oversized specifications of systems, while

ensuring interoperability between devices. In this work, first, the benefits involved in the use of

networks in the industry are evaluated, followed by typical configurations, parameters and basic

equipment that are commonly found in these systems. Subsequently, the industrial

communication hierarchies are exposed according to the type and complexity of data transmitted,

configuring the initial idea about the communication method to be employed. The OSI (Open

Systems Interconnection) reference model, taken as a reference for most communication systems

available, is also explained, and its application is, in general, demonstrated. Finally, the main

industrial communication protocols, available for many different network configurations, are

exposed, along with basic parameters for configuration. It is also developed an introductory study

on asset management systems, from which it is possible to learn the techniques and benefits

involved in this new tool designed in order to help the maintenance sector. Combining the usage

of industrial fieldbus networks to modern systems of management of assets, operating costs of a

plant are significantly reduced, along with a vast improvement in the company’s productive

standards.

Key Words: Industrial networks, digital communication, fieldbuses, asset management.

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1 INTRODUÇÃO

A integração das etapas que envolvem os processos produtivos vem sendo cada vez mais buscada

nos diversos segmentos industriais. Atualmente, encontra-se como um dos elementos

fundamentais para se atingir os rigorosos padrões produtivos requeridos, dada a competitividade

do mercado mundial. Assim, as redes industriais tem papel fundamental neste processo, de tal

forma que sua utilização em detrimento às técnicas obsoletas de comunicação industrial pode

prover agilidade, robustez e eficiência aos sistemas de comunicação.

A instalação e manutenção de sistemas de transmissão de dados convencionais implicam em altos

custos, principalmente quando se deseja ampliar instalações preexistentes. Para tanto, são

requeridas grandes somas para elaboração de projetos e compra de equipamentos. Buscando

minimização de custos e aumento da operabilidade das aplicações, introduziu-se o conceito de

redes industriais para interligar os vários equipamentos de uma planta de forma eficiente e

possibilitar a expansão destas instalações de forma simplificada.

A opção pela implementação de sistemas de controle baseados em redes industriais requer

estudos aprofundados sobre o assunto, visando-se determinar qual tipo de rede possui as maiores

vantagens de implementação a um dado processo produtivo. Deve-se buscar estruturas de

transmissão de dados de aplicações compatíveis com o maior número possível de equipamentos

disponíveis em planta, onde integração e interoperabilidade devem receber prioridade. (SMAR

EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2008).

1.1 Objetivos

São estudados os protocolos de comunicação mais importantes, visando-se obter base para a

elaboração de projetos de redes industriais. Para tanto, devem ser observadas as necessidades de

cada nível da planta, dividindo-se os protocolos de comunicação em níveis hierárquicos. O estudo

introdutório das técnicas de gerenciamento de ativos e seus benefícios associadas ao uso de redes

industriais é também realizado, onde sua implementação junto aos fieldbuses torna-se uma

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16

ferramenta poderosa que pode gerar reduções significativas de custos e refinamento dos

parâmetros nos processos produtivos.

1.2 Justificativas

O uso das redes industriais nos processos produtivos acarreta em uma série de benefícios e

soluções para problemas comuns advindos das técnicas convencionais de comunicação,

manutenção e controle de processos.

Um dos principais inconvenientes relacionados às antigas técnicas de transmissão de dados é

fundamentado nos elevados gastos com materiais e equipamentos. Este entrave é gerado devido à

necessidade de se levar cada sinal partindo-se dos instrumentos, individualmente, até o sistema de

controle, aumentando-se excessivamente o número de cabos, canais de comunicação e até mesmo

de controladores no sistema. Além dos inconvenientes gerados com a instalação e os custos da

mesma, dificultavam-se as operações de manutenção na planta, uma vez que a detecção de um

problema implicaria em, muitas das vezes, a reposição de todo o cabeamento utilizado na ligação

do equipamento. Ainda, o sistema de controle tornava-se restrito e o uso dos controladores não

poderia ser estendido devido às limitações impostas pelos sistemas de aquisição de dados e de

controle, dado o reduzido número de entradas e saídas associado à lentidão na transmissão de

dados e a centralização do processamento de informações.

Outro inconveniente é dado devido à dificuldade de adaptação do sistema quando da necessidade

de se empregar novos equipamentos no processo, onde seria, mais uma vez, necessário passar a

todo o cabeamento do campo até o sistema de controle. Além de tudo, não era possível obter

variabilidade quanto aos fornecedores, uma vez que grande parte dos fabricantes de

equipamentos desenvolvia sua própria plataforma de comunicação (ou Sistemas Proprietário), o

que inviabilizava a comunicação entre dispositivos de fabricantes distintos por simples

incompatibilidade.

Desta forma, dada a ascensão das redes industriais, além da quase universalização de plataformas

de comunicação (com a aplicação dos Sistemas Abertos, alternativamente aos Sistemas

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17

Proprietário), obteve-se grande redução de custos e tempo envolvidos nos projetos; a manutenção

foi, aos poucos, tornando-se mais objetiva e eficaz. Foi, também, facilitada a inserção de novos

equipamentos na rede, onde os mesmos podiam ser simplesmente linkados nos barramentos

utilizados. Os fabricantes tornam-se, por suas vezes, a cada dia mais flexíveis quanto à

compatibilidade de seus equipamentos, onde os mesmos, muitos dos casos, já são configuráveis

para operação em diversas plataformas de redes (FIGURA 1.1).

Figura 1.1 - Ilustração de uma rede industrial aplicada a um processo genérico

FONTE: HONEYWELL PROCESS SOLUTIONS, 2009

Sobre este mesmo contexto, os sistemas de gerenciamento de ativos modernos têm sido

amplamente difundidos e aderidos pelas empresas. Trata-se de uma tecnologia possibilitada pelo

surgimento dos fieldbuses, através dos quais são obtidas informações precisas a respeito de cada

instrumento empregado no processo, como dados de fabricação, calibração, curvas de

desempenho, datas de manutenção programada e diagnósticos precisos de defeitos e erros. Com

isso, possibilita-se ampla redução de custos de manutenção e reposição de dispositivos de uma

Page 18: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

18

planta, além da atenuação da necessidade de paradas gerais para manutenção, muitas das vezes

desnecessárias.

Assim, faz-se necessário como uma das atribuições do Engenheiro de Controle e Automação

conhecer, dimensionar e projetar sistemas de redes industriais, sabendo, dentre os diversos meios

físicos e protocolos disponíveis, quais são adequados às diversas situações que podem ser

encontradas no campo. Os benefícios e a economia que os fieldbuses podem trazer a uma unidade

produtiva devem ser observados e aliados aos sistemas de gerenciamento de ativos, sendo, desta

forma, essencial conhecer as técnicas disponíveis no mercado e suas diversas aplicações.

1.3 Metodologia

Para o desenvolvimento do trabalho são pesquisados os sistemas de comunicação industrial mais

importantes e comumente encontrados nos processos produtivos, bem como sua evolução ao

longo dos anos. São consultados diversos profissionais conceituados da área, que lidam com

comunicação industrial e ministram treinamentos sobre o assunto.

1.4 Estrutura do Trabalho

O segundo capítulo é iniciado por um breve histórico da evolução dos sistemas de comunicação

industrial, seguido da comparação entre técnicas modernas e obsoletas de transmissão de dados.

O terceiro capítulo apresenta importantes conceitos e classificações utilizadas para as redes

industriais, suas arquiteturas típicas e os equipamentos e termos comumente relacionados a estes

sistemas. O capítulo 4 aborda os principais protocolos de comunicação industrial disponíveis,

configurando-se como base para a orientação acerca da escolha de uma plataforma de

comunicação em aplicações gerais, bem como práticas aconselháveis para elaboração de projetos

de redes industriais. O quinto capítulo trata de tópicos de gerenciamento de ativos, com uma

abordagem introdutória sobre um assunto que vem ganhando espaço no meio industrial.

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19

2 HISTÓRICO

Nos primeiros sistemas de controle e comunicação remota com instrumentos desenvolvidos, os

processos de instrumentação utilizavam, prioritariamente, sinais analógicos de pressão para a

transmissão de dados. Este sinal era, geralmente, da ordem de 3 a 15 psi. Devido aos diversos

inconvenientes gerados por esta forma de transmissão de dados, já na década de 60 os padrões de

sinal 4 a 20 mA passaram a ser empregados. Assim, obteve-se melhorias substancias em aspectos

como a ocorrência de ruídos, facilidade de implementação e integração e comunicação direta

entre os sistemas de controle e os instrumentos de campo, uma vez que o sinal elétrico poderia

ser obtido a partir dos instrumentos e levado diretamente aos sistemas de controle, aumentando

significativamente a confiabilidade destas unidades. Entretanto, os instrumentos com

funcionamento baseado em sinais de pressão ainda existem no mercado, principalmente sobre a

forma de válvulas de controle e cilindros pneumáticos.

A evolução da computação foi, a partir da década de 70, outra grande mudança no controle de

processos, onde foi possibilitado o uso dos mesmos para monitorar e controlar uma série de

instrumentos a partir de um ponto central. Desta forma, dado o crescente número de tarefas a

serem controladas, já se tornava necessária a criação de padrões de comunicação mais eficientes,

de forma a descentralizar o controle de processos e aumentar a confiabilidade e organização dos

sistemas.

Na década de 80 os sensores inteligentes começaram a ser desenvolvidos e utilizados em sistemas

microcontrolados, que aliavam confiabilidade e rapidez a baixos custos operacionais. Esta

tendência gerou forte movimentação em fóruns internacionais e sociedades como ISA

(Instrument Society of America), IEC (International Electrotechnical Commission), Profibus

(Padrão Nacional Alemão) e FIP (Padrão Nacional Francês). Assim, foi constituído o comitê

IEC/ISA SP50 Fieldbus, cujo objetivo seria a criação e especificação de normas e padrões para

instrumentação. O padrão a ser desenvolvido deveria integrar os diferentes tipos de instrumentos

de controle, proporcionando uma interface para a operação de diversos dispositivos

simultaneamente e um conjunto de protocolos de comunicação para todos eles (DA SILVA,

CRUZ, ROSADO, 2006)

Page 20: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

20

Há cerca de 10 anos, o nível administrativo já possuía o padrão TCP/IP, porém, o nível de chão-

de-fábrica possuía outros protocolos denominados fieldbuses. Esses protocolos foram se

difundindo, devido à relação custo-benefício advinda do uso de redes industriais de comunicação

quando comparado a sistemas tradicionais de transmissão de dados. E cada uma dessas novas

plataformas elaborou sua maneira de enviar dados do chão-de-fábrica até os níveis mais altos da

hierarquia industrial, o que, apesar dos benefícios gerados, constitui-se em um grande empecilho

ao desenvolvimento e aplicação a nível global destas tecnologias (LUGLI, SANTOS, FRANCO,

2008).

No nível de controle, a tendência à descentralização é fortemente assumida, onde os já

inovadores SDCDs dão lugar aos FCS (Field Control Systems), técnica possibilitada pelo

surgimento dos modernos protocolos fieldbus de comunicação industrial. Assim, a necessidade de

controladores nas plantas é, aos poucos, reduzida, sendo a função dos mesmos realizada, agora,

pelos próprios instrumentos. Projetos que implementam transmissões de sinais analógicos tem se

tornado cada vez mais raros, dando lugar, agora, às novas plataformas de comunicação industrial

baseadas exclusivamente em comunicação por intermédio de sinais digitais.

Page 21: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

21

3 REDES INDUSTRIAIS

3.1 Comunicação digital x analógica

Uma das maiores evoluções das antigas técnicas de transmissão de dados comparadas às

modernas deu-se quando da mudança na natureza dos sinais transmitidos. Conforme mencionado

no capítulo anterior, utilizou-se, por um certo período, o sinal analógico de pressão, sendo este

substituído, posteriormente, pelo sinal de corrente 4 a 20 mA.

O sinal analógico de corrente pode ser entendido como uma linearização e comparação dos

valores registrados por um dado instrumento (como um sensor de temperatura, por exemplo)

dentro de um determinado range. Por range, entende -se tratar de uma faixa compreendida entre

um valor máximo e mínimo, dentro da qual o instrumento realizará medições.

Desta forma, no padrão 4-20 mA o range mínimo é atribuído ao valor 4mA e o range máximo ao

valor 20 mA. Neste intervalo, os demais valores registrados pelo instrumento serão dispostos em

forma de corrente análoga o valor da variável medida. A ilustração a seguir (FIGURA 3.1)

demonstra um exemplo comum de um instrumento 4-20 mA aplicado à medição de nível de um

reservatório:

Figura 3.1 - Exemplo de uma medição com transmissão de dados 4-20mA

BANNER ENGINEERING CORP, 2009

Page 22: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

22

Pode-se observar que para o nível mínimo do tanque (0 galão), o instrumento utilizado para a

medição gera uma corrente de 4mA; de forma análoga, para o nível máximo (500 galões), a

corrente gerada pelo instrumento é de 20 mA. Os valores compreendidos entre 0 e 500 galões

gerarão, proporcionalmente, essa variação de corrente, podendo-se afirmar que, em situação

ideal, que a variação de 1mA de corrente na saída do aparelho é gerada pela alteração de 31,25

galão no nível do tanque. É valido lembrar que outras diversas formas de medição e transmissão

analógicas existem e funcionam de forma semelhante, tais como o sistema 0-20 mA e o 0-10 V.

O valor da variável medida pelo instrumento é, por fim, transmitido através da fiação sobre a

forma de um sinal elétrico (geralmente DC), sinal este que será interpretado pelo sistema de

controle que, quando necessário, gerará medidas compensatórias ou corretivas como saídas

também em forma de corrente (ou outra forma analógica, dependendo-se do sistema empregado)

para os atuadores.

Tais informações possibilitam a compreensão de como os antigos sistemas de transmissão de

dados eram estruturados, bem como da necessidade de se lançar cabeamento individual a partir

de cada instrumento do campo até o sistema de controle, haja vista às dificuldades de transmissão

de diferentes sinais analógicos de corrente DC simultaneamente em uma mesma fiação.

Outro inconveniente encontrado nos sistemas de transmissão analógico diz respeito às

interferências e falseamento de valores transmitidos. Estas incorreções podem ser dadas por

diversos fatores, sobre muitos dos quais não se é possível ter controle, como interferências

eletromagnéticas causadas por outros equipamentos e a presença de ruídos na linha de

transmissão. Estes fatores podem provocar a alteração do valor da corrente transmitida, apesar de

que este novo valor será colhido e interpretado como uma referência válida, porém incorreta,

fornecida pelo instrumento de medição. Por exemplo, se um instrumento indica um determinado

nível através do valor de corrente de 15mA, uma interferência na linha pode levar esse valor a

14,5mA, que será interpretado como um determinado nível do tanque análogo a esse valor de

corrente e diferente do que foi realmente registrado pelo instrumento (BERGE, 2004).

Uma saída para a eliminação de todos estes problemas foi encontrada com a utilização de

sistemas digitais de transmissão de dados. A grande diferença reside no fato de que os dados

serão transmitidos sobre a forma de uma cadeia de “zeros” (0) e “uns” (1) ao longo do

Page 23: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

23

cabeamento. Esta tecnologia permite uma grande soma de benefícios, como a transmissão dos

valores registrados por diversos instrumentos através de um meio físico comum, possibilitando

que sinais de equipamentos diversos possam ser facilmente diferenciados e interpretados pelo

sistema de controle de acordo com a configuração da informação recebida (BERGE, 2004).

Eliminam-se, também, interferências e falseamentos na transmissão dos dados, uma vez que uma

cadeia de informações digitais terá os dados que carrega alterados pelos fatores anteriormente

citados; caso o sinal seja levado até o sistema de controle, este terá em mãos valores efetivamente

registrados e lançados pelo instrumento sobre a variável que está sendo medida. Obviamente, a

mesma relação é observada em relação ao envio de dados a partir do sistema de controle até os

atuadores e demais equipamentos do processo.

As transmissões de sinais digitais eliminam, também, a necessidade de conversores A/D e D/A

nos loops de controle, uma vez que os dispositivos que integram as redes de comunicação em

seus mais diversos níveis operam com sinais digitais. Cada conversão efetuada acrescenta ao

sistema um tipo de atraso chamado erro de quantização. Para efeitos práticos, quatro estágios de

conversão podem gerar erros da ordem de 1%.

Um dos problemas relacionados à comunicação digital são as diversas possibilidades de se fazê-

la. Diversos fabricantes de equipamentos para automação e comunicação industrial conceberam,

ao longo dos últimos anos, plataformas próprias de comunicação, acarretando em grande

incompatibilidade entre produtos de origens distintas. Assim, uma das metas da padronização de

protocolos de comunicação (a forma como se representam, codificam e transmitem os dados),

que tem evoluído significativamente nos últimos anos, é o desenvolvimento de padrões abertos

através dos quais todos os dispositivos possam realizar transmissões, tornando facilitada a

comunicação entre equipamentos de fabricantes diferentes.

Page 24: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

24

3.2 Tipos de automação industrial

Comumente, uma terminologia é empregada na diferenciação entre dois tipos de automação:

Automação de Fábrica (Factory Automation, ou FA) e Automação de Processos (Process

Automation, ou PA).

Fábricas com linhas de montagem, como as indústrias automotivas e de engarrafamento, são

predominantemente controladas utilizando-se lógica discreta e sensores que indicam, por

exemplo, se uma máquina possui uma caixa a sua frente ou não. Os tipos de rede para as entradas

e saídas (I/O) discretas simples focam pacotes pequenos de dados, tornando-se indevidas para

mensagens maiores como parâmetros de configuração e blocos funcionais.

Assim, compreende-se que a automação de fábrica envolve maquinário de movimentação rápida

e requer respostas mais velozes comparadas aos processos mais lentos. Tradicionalmente, estas

tarefas tem sido executadas por Controladores Lógicos Programáveis (PLCs) e são caracterizadas

como FA (Factory Automation).

Plantas de processos em segmentos industriais como refinamento, papel e celulose, energia e

produtos químicos são dominadas por controle regulatório contínuo. A medição é analógica (e

com valores escalares transmitidos, na maioria dos casos, digitalmente) e a atuação é dada através

de diversas ações corretivas de controle em sistemas de malha fechada. Este tipo de automação é

conhecido como PA (Process Automation) ou automação de processos. Obviamente, as indústrias

de processos utilizam, também, controle discreto de variáveis em diversas etapas do processo.

Alguns tipos de redes utilizadas em automação de processos são Foundation Fieldbus, Profibus

PA e HART, sendo estas variedades tipicamente conhecidas como fieldbuses. O termo, quando

iniciado por letra minúscula (fieldbus), não deve ser confundido com Fieldbus Foundation,

instituição que desenvolve o protocolo Foundation Fieldbus (FF).

Page 25: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

25

3.3 Terminologias e equipamentos típicos encontrados em uma rede

Para que se estabeleça uma rede num ambiente industrial é imprescindível conhecer os

equipamentos e as terminologias que estão comumente associados a tais sistemas, sendo os

mesmos apresentados a seguir:

3.3.1 Cabeamento e meios físicos

Para cada protocolo existe um padrão específico de transmissão de dados, que implica em

restrições quanto ao meio físico a ser utilizado. De modo geral, utilizam-se cabos coaxiais, cabos

de par trançado, fibras ópticas e radiofrequência como meios de transmissão.

Na maioria dos casos, os cabos são constituídos de pares trançados de fios metálicos, sendo estes,

geralmente, envolvidos por malha metálica de blindagem ou shield (FIGURA 3.2). Estes cabos,

na maioria dos casos, provêm, além da transmissão das informações, a alimentação elétrica para

os dispositivos, onde uma fonte (geralmente 24 VDC) é conectada ao barramento. É comum

encontrar, porém, casos onde a alimentação é feita através do shield do cabo, prática esta que

deve ser evitada dadas as ocorrências de interferências na linha e quedas na qualidade de

transmissão.

Page 26: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

26

Figura 3.2 - Cabo com shield

Fonte: LUDWIG, 2006.

Manter os cabos longe de fontes de perturbações externas e evitar a coexistência de sinais

fieldbus e não-fieldbus no mesmo cabo (mesmo que em núcleos distintos) são boas práticas de

projeto.

3.3.2 Barramentos, Spurs e Segmentos

Por barramento entende-se tratar de uma fiação única e extensa que pode percorrer grandes

distâncias em uma planta. O barramento principal é chamado Trunk (tronco) (FIGURA 3.3).

Pode estar conectado partindo-se do sistema de controle diretamente aos dispositivos de campo.

Entretanto, é comum que ao trunk sejam acoplados segmentos secundários de cabo, chamados

spurs, e a estes sejam conectados os instrumentos, como pode ser observado na ilustração a

seguir:

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27

Figura 3.3 - Terminador de barramento, trunk e spurs

Fonte: SMAR INDUSTRIAL AUTOMATION, 2009

As redes industriais são constituídas, geralmente, por um único segmento principal, dotado de

terminador no início e no fim do barramento. Assim, todos os dispositivos de uma rede são

conectados a uma única porta na interface, que pode utilizar diversas portas modulares para

conexão de diversas outras redes e comunicá-las com servidores.

Extensões maiores de cabos, conhecidas como segmentos, podem ser conectadas ao trunk. Para

tanto, devem ser utilizados repetidores e também terminadores, cujas funções são explicitadas

mais adiante.

É importante lembrar que a disposição destes elementos em uma rede está relacionada à

topologia a ser empregada na configuração na mesma. Entretanto, recomenda-se conectar

dispositivos de forma que a inserção ou remoção dos mesmos não interrompam o trunk, e,

consequentemente, a linha principal de transmissão. Na maioria das redes, o trunk é um cabo

provido de diversos núcleos que são utilizados por redes distintas, tornando simplificado o

esquema de cabeamento para uma planta.

Page 28: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

28

A alimentação dos instrumentos pode, em alguns casos, ser fornecida a partir do próprio

barramento de dados, sem que ocorra, entretanto, interferências às informações transmitidas.

Entretanto, quando a alimentação por barramento é utilizada, a queda de voltagem ao longo do

fio ocasionada pelo consumo de corrente dos dispositivos é fator limitante para determinação dos

comprimentos máximos possíveis para fiação e para a determinação do número máximo de

dispositivos que podem ser conectados a uma mesma rede. Para se obter maximização destes

números, devem ser utilizadas fontes de alimentação de maior tolerância e potência, aliadas a fios

de seção transversal aumentada de forma a reduzir a resistência elétrica dos mesmos. A tabela 3.1

fornece base para determinação prática destes valores:

3.1- Cabeamentos típicos e alcance

Shield Trançado Tamanho Comprimento Tipo

Sim Sim 0.8 mm² (AWG

18) 1.900 m A

Sim Sim 0.32 mm² (AWG

22) 1.200 m B

Não Sim 0.13 mm² (AWG

26) 400 m C

Sim Não 1.25 mm² (AWG

16) 200 m D

A determinação destes valores pode ser feita através da Lei de Ohm, conforme o exemplo de uma

situação com a qual comumente se depara em projetos de redes industriais:

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29

Exemplo 3.1

Um dispositivo fieldbus necessita de, no mínimo, 9 V para operação. Para operações que não

requerem segurança intrínseca, a fonte de alimentação excede, tipicamente, 21 V, e a corrente

consumida por um dispositivo de campo, geralmente, é da ordem de 12 mA. O cabo utilizado

possui resistência de 22 Ohm/km em cada um de seus dois condutores. Para uma rede com 16

dispositivos, calcula-se a máxima distância como 1.4 km, conforme os cálculos:

Equação 3.1

Para 1.9 km de cabo do tipo A (ver tabela 3.1), o número máximo de dispositivos é calculado

como 12:

Equação 3.2

O comprimento máximo serve como referência para determinação do alcance e área de cobertura

de uma rede, devendo ser confirmado mediante o somatório dos comprimentos dos spurs e

comprimento do respectivo segmento principal. Uma relação prática entre o número de spurs e

dispositivos presentes em uma rede pode ser observada na tabela 3.2, servindo como referência

Page 30: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

30

para a determinação destes valores. Entretanto, não existem valores absolutos, podendo as

recomendações apresentadas serem adaptadas a cada caso mediante bom julgamento:

Tabela 3.2 - Comprimento máximo dos spurs para IEC 61158-2

Número de Spurs 1 dispositivo

2 dispositivos

3 dispositivos 4 dispositivos

25-32 - - - - 19-24 30 m - - - 15-18 60 m 30 m - - 13-14 90 m 60 m 30 m - 1-12 120 m 90 m 60 m 30 m

É válido salientar que não é recomendado conectar mais do que quatro dispositivos por spur e

que, convencionalmente, o comprimento dos mesmos em instalações que requerem segurança

intrínseca não deve exceder 30 m (BERGE, 2004).

3.3.3 Fonte de alimentação

As fontes de alimentação devem ser utilizadas quando necessário energizar os instrumentos por

intermédio da mesma fiação utilizada na transmissão de dados.

Para protocolos como Foundation Fieldbus H1 ou Profibus PA os dispositivos energizados por

barramento operam entre 9 e 32 VDC. Tipicamente, as fontes de alimentação possuem tensão de

saída por volta de 24 VDC. O consumo de energia pode ser diferente de um tipo de dispositivo

para outro, sendo, porém, tipicamente 12 mA. Por outro lado, alguns dispositivos podem

apresentar consumos tão altos como 24 mA. Desta forma, fontes de alimentação de 300 mA são

suficientes para a maioria das instalações (BERGE, 2004).

As fontes, devem ser conecta-das ao barramento principal, juntamente a um módulo de

impedância entre a fonte e o sistema. O uso do módulo é dado pelo fato de a impedância de saída

Page 31: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

31

da fonte ser praticamente nula, acarretando em curto-circuito do sinal de comunicação. As fontes

e módulos de impedância devem ser, geralmente, redundantes.

3.3.4 Nós

Os elementos conectados aos barramentos são chamados nós. Podem ser tanto sensores como

atuadores, e o número de nós que pode ser conectado a cada barramento ou na totalidade de uma

rede são limitados e diferenciados de acordo com cada protocolo (BERGE, 2004).

O limite de nós por segmento é dado pela impedância de entrada dos equipamentos. Quando

alimentação pelo barramento é utilizada (maioria dos casos), recomenda-se conectar, de forma

geral, 16 dispositivos por segmento. Caso alimentação externa seja utilizada, este limite é

estendido a 32.

Para redes maiores, com diversos segmentos lançados por repetidores, o número de dispositivos

por rede atinge, teoricamente, 240 para Foundation Fieldbus e 126 para Profibus PA, sendo os

dois protocolos mencionados estudados mais adiante, no capítulo 4. Entretanto, a resistência dos

fios, o consumo de corrente dos dispositivos, a capacidade de memória interna de dispositivos de

interface e as baixas taxas de atualização obtidas limitam cada rede a utilizar, na prática, 16

dispositivos. Apesar de parecer um número restrito, as plantas industriais não possuem apenas

uma rede de dispositivos, mas diversas, que podem ser interconectadas e remover, assim, diversas

limitações.

3.3.5 Terminadores

Numa determinada linha de cabeamento, para a grande maioria dos protocolos, é imprescindível

que sejam aplicados, ao fim de cada segmento, o terminador de barramento. Trata-se de um

Page 32: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

32

dispositivo de característica resistiva que é acoplado à rede de forma a evitar as reflexões de sinal

que podem ocorrer ao fim de um barramento, evitando-se, assim, possíveis colisões indesejadas

de dados. Os terminadores (FIGURA 3.4) são também responsáveis pela conversão da mudança

de corrente gerada por um transmissor em uma mudança de voltagem no segmento, que é captada

por todos os dispositivos conectados à rede e que tornam-se, assim, aptos a receberem o sinal.

Figura 3.4 - Exemplo de um terminador de barramento

Fonte: ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2009.

Os terminadores devem ser empregados em cada uma das extremidades dos segmentos.

Entretanto, muitas das vezes estes elementos podem já ser parte da estrutura de módulos de I/O

remotos, controladores e até mesmo repetidores, dispensando-se, neste caso, a conexão do

terminador separadamente.

3.3.6 Repetidores

Dentre as diversas considerações a serem feitas em um projeto de rede, a limitação do

comprimento do cabo é talvez uma das primeiras a serem observadas. À medida que é dado o

trânsito de informações através dos barramentos, observa-se a degradação e distorção das

mesmas, sendo este efeito conhecido como atenuação de sinal.

Para cada protocolo determina-se o comprimento máximo total que uma rede pode ter, podendo-

se, entretanto, lançar mão dos repetidores de sinal e atenuar estas limitações. Estes são

Page 33: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

33

dispositivos que permitem que o barramento seja estendido um pouco além de seu comprimento

máximo, sendo, porém, seu uso limitado de acordo com o protocolo empregado (FIGURA 3.5).

Figura 3.5 - Repetidor Fieldbus

Fonte: LUDWIG, 2006

Geralmente, cerca de trinta e dois repetidores podem ser conectados ao mesmo segmento de rede

e recomenda-se não utilizar mais do que quatro repetidores entre dois dispositivos, significando

que estes podem ser separados por, no máximo, cinco segmentos. Recomenda-se também que,

para fieldbuses, no máximo quatro repetidores sejam utilizados em série (BERGE, 2004).

3.3.7 Módulos I/O remotos e caixas de junção

Visando-se otimizar e ampliar as possibilidades de conexão de instrumentos à rede, podem ser

utilizados terminais de entrada e saída remotos (I/O remotos) e elementos de conexão de

dispositivos (caixas de junção ou junction boxes). Trata-se de dispositivos aos quais se conectam

os instrumentos de campo, que são, assim, conectados a um barramento de rede, conforme pode

Page 34: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

34

ser visualizado na Figura 3.6. A quantidade de unidades I/O remotas deve ser respeitada,

observando-se os limites que cada protocolo impõe. Em contrapartida, a utilização das unidades

remotas pode maximizar o número de equipamentos que podem ser conectados a uma rede.

Figura 3.6 - Terminal I/O remoto para Foundation Fieldbus

Fonte: SOFT PLC CORPORATION, 2009.

3.3.8 Gateways

Para a comunicação entre os diversos níveis que envolvem uma rede, bem como para que se

consiga trocar dados entre redes de protocolos distintos, utilizam-se dispositivos denominados

gateways. Através dos mesmos, pode-se obter interfaceamento entre redes de arquiteturas e

estruturas de informação distintas, devendo este gateway ser específico por aplicação (ex.:

gateway para conexão de Profibus DP a Ethernet IP) (FIGURA 3.7).

Page 35: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

35

Figura 3.7 - Aplicação de um gateway

Fonte: LUGLI, 2008.

3.3.9 Switches / Hubs

Os switches podem ser vistos como repetidores inteligentes, utilizados em protocolos baseados no

padrão Ethernet. Assim, amplificam os sinais recebidos e fazem análise inteligente dos pacotes de

bits que devem ser transferidos. Deste modo, todas as informações recebidas em suas portas são

verificadas quanto à sua integridade e, caso não estejam corrompidas, são entregues ao

destinatário especificado (HMS INDUSTRIAL NETWORKS...2009). Os hubs, por sua vez, são

empregados quando da necessidade de interligar segmentos distintos de redes Ethernet,

publicando a mensagem recebida em uma de suas portas para várias outras. Comumente estas

funções são encontradas em um mesmo equipamento.

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Figura 3.8 - Hub-Switch para Ethernet

Fonte: FIELD SERVES TECHNOLOGIES, 2009.

3.3.10 Bridges

As redes de dispositivos podem ser interligadas através de equipamentos específicos. Assim, é

possibilitada a transmissão de dados entre segmentos de redes distintas que compartilhem o

mesmo protocolo. O uso de bridges amplia as possibilidades de extensão e promove uma

alternativa às limitações dos segmentos individuais das redes quanto ao número de dispositivos e

volume de dados.

3.3.11 Servidores de Dispositivos

Para que instrumentos de comunicação serial tornem-se disponíveis para níveis de protocolo

ethernet, utilizam-se os servidores de dispositivos (ou device servers). Trata-se de componentes

Page 37: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

37

físicos que permitem que todas as atribuições e funções requeridas pelo item possam ser

acessadas através da rede, eliminando-se a necessidade de conexão direta por porta serial.

O uso destes equipamentos é justificado quando da necessidade de se alocar equipamentos de

transmissão serial de dados distante do sistema de controle, haja vista às limitações que esta

forma de transmissão impõe quanto às distâncias de transmissão. Possibilitando-se a

comunicação do equipamento com a Ethernet, ampliam-se significativamente estas distâncias

(POWERSOFT CONTROLE SYSTEMS, 2003).

3.3.12 Linking Devices (Dispositivos de Ligação)

Os Linking Devices são equipamentos utilizados para conexão de redes de nível de campo a

níveis superiores diretamente através das redes de alta velocidade de nível de servidores. Estes

equipamentos já são construídos, geralmente, junto às estações de I/O remotas, dispensando o uso

de interfaces adicionais.

Os Linking Devices (FIGURA 3.9) bufferizam as informações de forma a anular as diferenças de

velocidade entre os níveis de rede de dispositivos e de servidores. Podem apresentar diversas

portas e outras funcionalidades, como atuar como controladores. Os links não limitam o

funcionamento de redes de alta velocidade conectadas a redes de velocidade inferior. Os couplers

(ou acopladores), por suas vezes, reduzem a taxa de transmissão das redes mais velozes de forma

a promover compatibilidade entre os segmentos de velocidades distintas conectados.

Page 38: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

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Figura 3.9 - Linking Device

Fonte: HERMINI, 2005.

3.4 Classificação e características das redes

Existem diversas possibilidades de configuração para uma rede industrial, o que as torna flexíveis

e aptas a atenderem às mais distintas necessidades. As redes podem ser caracterizadas a partir de

parâmetros diversos como abrangência, modo de transmissão de dados e topologia, dentre outros

aspectos fundamentais para a compreensão e aplicação dos sistemas de comunicação modernos.

Page 39: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

39

3.4.1 Classificação por extensão geográfica

As redes podem ser classificadas de acordo com sua extensão, subdividindo-as em LAN (Local

Area Network), MAN (Metropolitan Area Network), WAN (Wide Area Network) e WLAN

(Wireless Local Area Network).

3.4.1.1 Rede de área local (LAN)

Uma LAN caracteriza-se por ocupar uma área limitada a, no máximo um edifício, ou alguns

prédios próximos. Muitas vezes são limitadas a apenas um pavimento do estabelecimento, um

conjunto de salas, ou até uma única sala. São redes de velocidade média a alta, que geralmente

está compreendida entre 10 Mbps a 1 Gbps, sendo atualmente o valor de 100 Mbps o mais

comumente utilizado (MOREIRA, 2009).

3.4.1.2 Rede locais sem fios (WLAN)

Recentemente, tem crescido a utilização de redes locais sem fios, conhecidas com WLAN

("Wireless Local Area Network"). Além de serem adequadas a situações onde se faz necessária

mobilidade dos dispositivos, são flexíveis e de fácil instalação. Embora os equipamentos

apresentem custos geralmente mais elevados quando comparados aos de uma LAN tradicional, a

redução significativa dos custos de instalação promovida pelo uso de uma WLAN pode ser

compensatória (MOREIRA, 2009).

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40

3.4.1.3 Redes Metropolitanas (MAN)

Uma "Metropolitan Area Network" é basicamente uma rede que abrange dimensões de

proporções de uma cidade. São usadas, geralmente, para interligar vários edifícios afins dispersos

(MOREIRA, 2009).

3.4.1.4 Rede de Área Alargada (WAN)

As redes de área alargada ("Wide Area Network") têm dimensões que abrangem países e

continentes. São, na realidade, constituídas por múltiplas redes do tipo LAN e MAN interligadas.

O exemplo mais divulgado é a internet, dada sua dimensão e popularidade cotidiana (MOREIRA,

2009).

3.4.2 Topologias

A topologia de uma rede define a forma como seus componentes são arranjados e conectados no

meio. Em redes industriais, destacam-se cinco tipos, a saber:

3.4.2.1 Barramento

Na topologia em barramento, existe uma via única a qual os outros dispositivos são diretamente

inseridos em paralelo, ou através de barramentos secundários conectados ao barramento

principal. Esta topologia constitui um dos grandes avanços advindos da modernização das

técnicas de comunicação digital, permitindo a comunicação de um grande número de dispositivos

através do mesmo par de fios (AS-INTERFACE, 2009).

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41

O funcionamento da rede é assegurado mesmo que um ou mais dispositivos slave venham a

falhar. Além desta característica, apresenta menor distorção ao sinal transmitido, possibilitando,

assim, maior comprimento e velocidade das redes dispostas em barramento (FIGURA 3.10).

Figura 3.10 - Topologia em barramento

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005b

3.4.2.2 Ponto-a-ponto ou Daisy Chain

Trata-se da ligação contínua e ininterrupta de equipamentos ao longo do campo. Para que se

estabeleça a topologia ponto-a-ponto é necessário que os equipamentos estejam ligados em série,

sendo necessária a redundância das conexões para evitar interrupções na linha de transmissão em

caso de falha ou alteração de equipamentos (AS-INTERFACE, 2009) (FIGURA 3.11).

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Figura 3.11 - Topologia Ponto-a-ponto

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005b

3.4.2.3 Estrela

A topologia estrela pode ser configurada mediante a utilização de dispositivos concentradores,

que centralizam a conexão e a divide entre diversos outros dispositivos conectados a um único

terminal, onde pode haver outro dispositivo concentrador (AS-INTERFACE, 2009) (FIGURA

3.12). É empregada, geralmente, quando visa-se re-instrumentar plantas antigas utilizando-se a

fiação pré-existente. As caixas de junção são inseridas ao fim do trunk, a partir do qual os novos

spurs e instrumentos são conectados. A fusão das topologias barramento e estrela podem gerar,

ainda, a topologia árvore, amplamente empregada em redes industriais.

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Figura 3.12 - Topologia Estrela

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005b

3.4.2.4 Anel

A topologia em anel é uma configuração que consiste de uma série de dispositivos conectados

uns anos outros por conexões de transmissão unidirecional em um loop fechado (AS-

INTERFACE, 2009) (FIGURA 3.13). Alguns padrões de meio físico, como o IEC 61158-2, não

suportam esse arranjo entre equipamentos, devendo-se, neste caso, utilizar dispositivos auxiliares

ou outra forma de topologia.

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44

Figura 3.13 - topologia em anel

3.4.2.5 End-to-end

Esta topologia é utilizada quando da necessidade de conexão direta de apenas dois equipamentos

(AS-INTERFACE, 2009), conforme a ilustração a seguir (FIGURA 3.14)

Figura 3.14 - Topologia end-to-end

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005b

Page 45: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

45

3.4.3 Modos de transmissão dos dados

A existência ou não de sincronia entre o emissor e o receptor de dados em uma rede configuram

uma importante característica de uma plataforma de comunicação. Geralmente, dados

serializados não são enviados de maneira uniforme através de um canal, sendo pacotes de dados

enviados regularmente, seguidos de pausa. Assim, para a recepção correta da informação, esta

temporização deve ser conhecida, devendo-se saber o momento exato do início e fim da

transmissão de um pacote de dados, de modo que a leitura dos dados se dê de forma precisa e

eficiente (CANZIAN...2009).

Em sistemas ditos síncronos, os dados e as informações de tempo são transmitidos em canais

distintos. Assim, são transmitidos pulsos de clock para o receptor, que, quando os recebe, lê a

informação transmitida pelo canal de dados e só o torna a fazer quando da recepção de um novo

pulso (CANZIAN...2009).

O sinal de clock pode ser também transmitido no mesmo canal de dados, sendo esta técnica

bastante empregada em face às economias que apresenta. Duas destas técnicas comumente

utilizada pelos protocolos de comunicação são a Codificação Manchester e NRZ (Non-Return-to-

Zero).

Em modos de transmissão assíncronos são utilizados bits de identificação do início e do fim da

mensagem (start bit e stop bit). Assim, um único canal é necessário para a transmissão de

informações.

Uma segunda forma de caracterizar redes pela transmissão de dados é quanto ao sentido da

transferência de informações, podendo uma rede ser caracterizada como de transmissão simplex,

half-duplex e full-duplex (EMERICK, 2009).

O modo de transmissão simplex pode ser definido como um modo de transmissão unidirecional,

ou seja, um dispositivo apenas transmite e o outro apenas recebe. Podemos comparar esse modo

com uma estação de rádio FM. A informação (voz ou música) é modulada e enviada para as

estações receptoras, que decodificam a mensagem, mas não há uma maneira de enviar

Page 46: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

46

informações da unidade receptora para a transmissora. É uma via de mão única (EMERICK,

2009).

Por half-duplex entende-se tratar do modo de transmissão bidirecional não simultâneo, ou seja,

um dispositivo dentro da rede pode transmitir e receber informações, mas em instantes distintos.

Ou seja, o dispositivo que estiver efetuando transmissão fica impossibilitado de receber dados ou,

se estiver recebendo dados, não poderá transmitir nenhuma informação (EMERICK, 2009). Este

é o modo de transmissão implementado por grande parte dos fieldbuses.

E, por fim, no modo full-duplex os dados podem ser transmitidos em ambas as direções e

simultaneamente. Um exemplo deste tipo de transmissão é a conversa pelo telefone, onde ambos

os comunicadores podem falar ao mesmo tempo, se assim desejarem.

3.4.4 Modos de acesso ao barramento

Os dispositivos integrantes de uma rede industrial podem apresentar diferentes formas de enviar e

interceptar informações, relacionadas à hierarquia do fluxo de dados. Este modelo classifica as

relações de comunicação em mestre-escravo, cliente-servidor, publisher-subscriber e souce-sink.

3.4.4.1 Relação Mestre-Escravo / Cliente-servidor

Na forma mais simples de comunicação, mestre-escravo, um dispositivo operando como uma

estação de servidor ou um PLC (controlador lógico programável) é o mestre, que envia pedidos

de leitura ou lança valores para outros dispositivos como instrumentos de campo, os quais são

chamados escravos. O escravo que foi então endereçado responde ao pedido. Um exemplo

prático de aplicação desta relação pode ser descrita como um PLC (mestre) que requisita uma

informação a um instrumento escravo e, em seguida, executa uma ação de controle, aplicando

uma saída a outro instrumento escravo, como um posicionador de válvula (FIGURA 3.15). Fica

Page 47: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

47

impossibilitada, entretanto, a comunicação direta entre dispositivos escravos. Em redes sem

mestres e escravos específicos este relação é chamada cliente-servidor (BERGE, 2004).

.

Figura 3.15 - Relação cliente-servidor

Fonte: BERGE, 2004

3.4.4.2 Relação Publisher-subscriber

A relação Publisher-subscriber de comunicação, ideal para obtenção de ciclicidade de atualização

de dados, baseia-se em um dispositivo atuando como publisher (ou “publicante”) publica um

valor que é, então utilizado por todos os dispositivos interessados, os quais são chamados

subscribers (“recebedores”) (FIGURA 3.16). Trata-se de uma relação bastante eficiente, dada a

transmissão de um valor de um dispositivo de campo diretamente para outro, atingindo diversos

dispositivos recebedores de uma só vez. A comunicação entre dispositivos sem o emprego de um

dispositivo mestre central é chamado comunicação peer-to-peer (BERGE, 2004).

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48

Figura 3.16 - Relação Publisher-subscriber

Fonte: BERGE, 2004

3.4.4.3 Relação Source-sink

O modo de comunicação source-sink é observado quando um dispositivo atuando como fonte (ou

source) transmite uma mensagem a um dispositivo agindo como carente (ou sink), sem que este

último tenha solicitado dado algum: enquanto um determinado estado permanecer inalterado, não

é estabelecida comunicação; a transmissão ocorre apenas quando da decorrência da alteração de

estado chamada, por vezes, reportado por exceção (reported by exception). Trata-se de uma

configuração ideal para ambientes onde operadores desejam que os dispositivos reportem alarmes

do processo ou ocorrência de erros e, do contrário, permaneçam em silêncio (BERGE, 2004)

(FIGURA 3.17).

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Figura 3.17 - Relação source-sink

Fonte: BERGE, 2004

3.4.4.4 Token Ring

O barramento pode também ser acessado através da configuração em Token Ring, onde uma

autorização é trocada entre os componentes da rede definindo a prioridade de acesso ao meio.

Somente os dispositivos que possuem esta autorização (ou token) pode acessar o barramento.

Uma das vantagens observada neste modo de acesso é a possibilidade de se estabelecer

comunicação entre diversos dispositivos master. Em contrapartida, além da complexidade do

protocolo, a comunicação pode ser mais lenta quando comparada a outros meios, devido à

demora na rotação do token.

Page 50: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

50

3.5 Meios físicos

O meio físico constitui, basicamente, o meio através do qual os dados do processo são

transferidos. São caracterizados como a plataforma física utilizada pelos protocolos completos.

De ampla abrangência, os meios físicos podem também serem descritos por padrões específicos

para montagem de condutores e níveis elétricos, como RS-232, RS-485, IEC 61158-2 e Ethernet.

De modo geral, utiliza-se o cabo coaxial, o cabo de par trançado, a fibra óptica e ondas

eletromagnéticas (Wi-Fi). A escolha do cabeamento define como os bits (para transmissão de

sinais digitais) são codificados e os dados, assim, transmitidos, devendo sua escolha ser

ponderada por parâmetros como extensão do barramento, velocidade de transmissão,

confiabilidade e resistência mecânica (LUDWIG, FAGUNDES, 2006).

3.5.1 Cabos coaxiais

Os cabos coaxiais eram utilizados em sistemas antigos de redes industriais, tendo seu uso entrado

em declínio já no início da década de noventa. Consiste em um fio de cobre envolvido por um

material isolante (FIGURA 3.18). O isolante é protegido por um condutor cilíndrico (uma malha

entrelaçada) que protege o condutor interno contra interferências externas. O condutor externo,

por sua vez, é coberto por uma camada plástica protetora. São capazes de transmitir a uma taxa

de, geralmente, 10 Mbps, sendo sua distância máxima utilizável (sem repetidores) de cerca de

185 metros (MARIMOTO, 2007).

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51

Figura 3.18 - Cabo coaxial

Fonte: BATTISTI, 2009.

3.5.2 Cabos de par trançado

O cabo de par trançado constitui-se talvez no meio de transmissão mais antigo e ainda mais

utilizado (devido ao baixo custo e ao bom desempenho obtido). As aplicações mais conhecidas

do par-trançado são o sistema telefônico e, hoje em dia, quase totalidade das redes ethernet.

Industrialmente, está presente em grande parte dos cabos das redes e sua utilização é difundida

por se tratar de uma tecnologia tradicional e que, em muitas das vezes, já está instalada nas linhas

de transmissão, sendo necessárias poucas adaptações quando da necessidade de mudanças nos

sistemas de comunicação.

O par-trançado consiste em fios de cobre encapados, que tem, em geral, cerca de 1mm de

espessura. Os fios deste cabo são divididos em pares e trançados a 90º entre si, com o intuito de

reduzir interferências do meio (FIGURA 3.19).

A taxa de giro (normalmente definida em termos de giros por metro) é parte da especificação de

cada tipo de cabo. Quanto maior o número de giros, maior o cancelamento de ruídos. Com eles

pode-se velocidades de transmissão da ordem 1 Gbps (LUDWIG, FAGUNDES, 2006).

Os cabos de par trançado podem ser envolvidos por uma malha metálica, que atua como

blindagem eletromagnética. Neste caso, são chamados Shielded Twisted Pair – STP ou Par

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Trançado Blindado, e quando não apresentam blindagem são conhecidos como Unshielded

Twisted Pair - UTP ou Par Trançado sem Blindagem.

Figura 3.19 - Cabo par trançado

Fonte: BATTITSTI, 2009.

3.5.3 Fibras ópticas

A fibra óptica é um filamento cilíndrico, feito de vidro ou plástico, de espessura aproximada da

de um fio de cabelo, com capacidade de transmitir luz (FIGURA 3.20). A luz aplicada a uma das

extremidades percorre a fibra, transmitindo informações, até sair pela outra extremidade. Com a

atual tecnologia, a velocidade de transmissão pode ultrapassar a casa dos 50 Tbps. No entanto, o

limite prático atual é de 10 Tbps.

Seus benefícios são múltiplos, como a alta velocidade de transmissão, a imunidade a

interferências eletromagnéticas, a capacidade de transportar grandes quantidades de informação e

baixa atenuação de sinal quando respeitadas suas limitações quanto a dobras e curvas, podendo

atingir até mesmo centenas de quilômetros. Entretanto, seus custos, ainda elevados, dificultam a

extensão de sua aplicação (LUDWIG, FAGUNDES, 2006).

Page 53: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

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Figura 3.20 - Cabo de fibra óptica

Fonte: BATTISTI, 2009.

3.5.4 Wi-Fi – Wireless Fidelity (Fidelidade sem Fios)

Trata-se de um novo conceito em meios de transmissão para redes industriais, com transmissão

de dados baseada em radiofrequência, dispensando a utilização de fios (FIGURA 3.21). Possui

extensa aplicabilidade e constitui-se em uma excelente alternativa à eliminação de cabos e

simplificação dos sistemas de comunicação, sendo, assim, uma possibilidade de redução de

custos de instalação de dispositivos em uma rede. Os equipamentos destinados ao meio industrial

costumam cobrir distâncias de até 4 km, operando a uma freqüência de trabalho de 2.4 GHz.

Entretanto, alguns inconvenientes tornam seu uso inviável em algumas aplicações. Os sistemas

de transmissão wireless são bastante susceptíveis a ruídos e interferências do meio, e sua

alocação em torres elevadas e locais de difícil acesso faz necessária alimentação elétrica por fios,

uma vez que a reposição de baterias pode ser difícil de ser realizada, por vezes (BANNER

ENGINEERING CORPORATION, 2009).

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Figura 3.21 - Sistema wireless

Fonte: BANNER ENGINEERING CORP, 2009.

3.6 Padrões de níveis físicos

3.6.1 O padrão RS-232

Por RS-232 entende-se tratar de um padrão de nível físico para comunicação voltado à

transmissão serial de dados. A sigla RS significa Recommended Standard (padrão recomendado).

Foi criado no início dos anos 60, tendo, na década de noventa, sua nomenclatura substituída por

EIA-232. A nomeação antiga do padrão, porém, ainda é a mais utilizada na prática.

O RS-232 define como devem ser realizadas as ligações físicas entre dispositivos, os níveis de

tensão utilizados, as temporizações e funções dos sinais, determinando um conjunto de conceitos

Page 55: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

55

para ligações elétricas e regras para transmissão. Tipicamente, o padrão é utilizado para a

comunicação end-to-end entre dois dispositivos.

Por ser um padrão assíncrono, é responsabilidade do transmissor e do receptor efetuarem

controles de tempo para saber o instante no qual cada bit é inicializado e finalizado. Na interface

RS232 o nível lógico "1" corresponde à uma tensão entre -3V e -12V e o nível lógico "0" à uma

tensão entre 3V e 12V (FILHO, 2008).

A taxa de transferência ou baud rate (velocidade com que os dados são enviados através de um

canal) é medida em transições elétricas por segundo. A norma EIA 232 especifica uma taxa

máxima de transferência de dados de 20.000 bits por segundo (o limite usual é de 19200 bps).

Baud rates fixos não são fornecidos pela norma. Contudo, os valores comumente usados são 300,

1200, 2400, 4800, 9600 e 19200 bps (CANZIAN, 2009):.

Os conectores para RS-232 são conhecidos como DB 25 e DB 9, podendo ser visualizados a

seguir (FIGURA 3.22):

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Figura 3.22 - Conectores DB 25 (25 pinos) e DB 9 (9 pinos)

Fonte: FILHO, 2008.

3.6.2 O Padrão RS-485

O padrão RS-485 foi uma das primeiras plataformas de comunicação serial desenvolvidas para

comunicação multiponto, alternativamente ao RS-232. Trata-se de uma forma robusta de

transmissão de dados, sendo amplamente utilizada em controle de sistemas, com taxas de

transmissão que podem chegar a até 10 Mbps, para distâncias de transmissão de até 12 metros, e

100 Kbpps, para distâncias da ordem de 1200 metros. É possibilitada a montagem de um sistema

em rede de comunicação serial a dois fios, para operação em modo half-duplex, ou a 4 fios, para

operação em modo full-duplex (EMERICK, 2009).

A norma EIA-485 não especifica conectores, cabos e pinagem, mas determina padrões elétricos

para a troca de dados, com tensões de -7 V a +15 V. Os dispositivos possuem apenas quatro ou

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dois terminais e algumas vezes um terceiro terminal para um fio terra, podendo ser usados

conectores DB-9 ou bornes com parafusos.

A norma permite a montagem de uma rede de comunicação sobre dois fios, habilitando uma

comunicação serial de dados confiável e robusta com até 32 nós em uma mesma linha de

transmissão. Porém, utilizando-se dispositivos de menor consumo e repetidores, é possível

utilizar até 256 nós em uma rede. É válido salientar, também, a necessidade do uso de

terminadores de barramento de 120 Ohms em redes RS-485.

3.6.3 O padrão IEC 61158-2

Trata-se de um padrão que especifica a configuração do nível físico para equipamentos fieldbus,

possibilitando aplicações com alimentação de dispositivos através do barramento e aplicações em

áreas classificadas (potencialmente explosivas).

O padrão foi desenvolvido de forma a tornar simplificadas as operações de upgrade em redes

industriais antigas, onde cabos de redes pré-existentes tornam-se aptos a receber instalação

fieldbus, possibilitando a migração de tecnologias com economia.

O uso de redes baseadas na norma IEC 61158-2 em atmosferas potencialmente explosivas tem

opções e limites definidos pelo modelo alemão conhecido como FISCO (Fieldbus Intrinsically

Safe Concept – Conceito de Fieldbus Intrinsecamente Seguro). A norma é aplicada com

restrições à voltagem de operação dos dispositivos, que devem utilizar entre 9 e 32 VDC em seu

funcionamento. Para se operar uma rede Profibus em área classificada é necessário que todos os

componentes utilizados na área sejam aprovados e certificados de acordo com o modelo FISCO e

IEC 61158-2 por organismos certificadores autorizadas tais como PTB, BVS (Alemanha), UL,

FM (EUA). Se todos os componentes utilizados forem certificados e se as regras para seleção da

fonte de alimentação, comprimento de cabo e terminadores forem observadas, então nenhum tipo

de aprovação adicional do sistema será requerida para o comissionamento das redes

(ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2000). O modelo FISCO possui os seguintes princípios:

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a) cada

segmento possui somente uma fonte de energia, a fonte de alimentação;

b) a alimentação não é fornecida ao barramento enquanto uma estação está

enviando informações;

c) os dispositivos de campo consomem uma corrente básica constante quando em

estado de repouso;

d) os dispositivos de campo agem como consumidores passivos de corrente

(sink);

e) uma terminação passiva de linha é necessária, em ambos fins da linha principal

do barramento;

f) topologia linear, árvore e estrela são permitidas. (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS

BRASIL, 2000).

Foundation Fieldbus e Profibus PA possuem seus níveis físicos baseados na norma IEC 61158-2

e, apesar de possuírem características elétricas idênticas, não devem ser interligados e misturados

em um mesmo meio físico. Suas especificações apresentam terminologias diferentes e o

comissionamento de cada um dos protocolos é realizado de forma também distinta. As

características básicas do meio físico podem ser observadas na tabela 3.3:

Tabela 3.3 - Características da IEC 61158-2

Transmissão de Dados Digital, sincronizado a bit, código Manchester Taxa de Transmissão 31.25 Kbit/s, modo tensão Segurança de Dados Pre-amble, error-proof start e end limiter

Cabos Par trançado blindado Alimentação Remota Opcional via linha de dados

Proteção à Explosão Segurança Intrínseca (Eex ia/ib) e encapsulação (Eex

d/m/p/q) Topologia Linha ou árvore, ou combinadas.

Número de Estações Até 32 estações por segmento, máximo de 126

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Repetidores Até 4 repetidores

3.6.4 O Padrão Ethernet

Trata-se do padrão de comunicação mais conhecido e popularizado na atualidade. Diversas

plataformas de comunicação são baseadas em Ethernet, desde a internet residencial até a

comunicação em alta velocidade de servidores industriais (FIGURA 3.23).

A Ethernet implementa padrões elétricos para o nível físico dos diversos protocolos que a

utilizam, como, por exemplo, Foundation Fieldbus HSE (High Speed Ethernet), Ethernet/IP

(Industrial Protocol) e ProfiNET (Profibus com tecnologia Ethernet), constituindo-se como um

dos meios físicos mais simples e com boa relação custo x benefício. É caracterizada pela alta

velocidade na transmissão de dados, possibilitando taxas de 10 a 100 Mbps, podendo, ainda,

operar velocidades ainda maiores, de até 1 Gbps (IEEE802.3z ou Gigabit Ethernet) (FILHO,

2009b).

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Figura 3.23 - Cabos de par trançado para Ethernet com conectores RJ-45

Apesar das diversas vantagens observadas, o uso do padrão Ethernet implica em limitações como

a restrição à alimentação pelo canal de dados, baixo sincronismo em nível de milissegundos e

dificuldade de emprego em aplicações que requerem segurança intrínseca. Pesquisas recentes,

porém, já apresentaram soluções para algumas aplicações. Por outro lado, a grande maioria dos

dispositivos ainda não operam com o padrão Ethernet diretamente, tornando os fieldbuses a

opção ainda mais escolhida. A Ethernet, desta forma, é um padrão utilizado extensamente em

aplicações nos níveis de servidor em uma planta, porém com restrições para aplicações a nível de

dispositivos de campo (FIGURA 3.24).

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Figura 3.24 - Faixa de Aplicação de redes Ethernet

FONTE: FILHO, 2009b

O determinismo, condição que possibilita a previsão exata das transmissões e garante que a

chegada dos dados se dê sempre em instantes conhecidos, é também comprometido pelo padrão,

devido ao fato de sua transmissão ser baseada em mecanismos que fazem com que a resposta da

rede varie de forma não-linear em função do tráfego de informações (CSMA/CD). Esta

dificuldade pode ser superada, em alguns casos, por intermédio do uso de hubs inteligentes e

cabos que possibilitem a transmissão full-duplex, reduzindo a probabilidade de colisões e

tornando a rede determinística (FILHO, 2009b).

A Ethernet, embora seja um padrão comumente encontrado em residências, apresenta

substanciais diferenças quando comparada a aplicações industriais, como ilustra a tabela 3.4:

Tabela 3.4 - Ethernet comercial x industrial

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Itens Ethernet

Comercial / residencial

Ethernet industrial

Temp. de Operação 5ºC a 40ºC 0ºC a 60ºC Placa Multi Layer para imunid. a

ruídos Não Sim

Conectores RJ-45 Parafuso, DB9, RJ-45 e Fibra

Óptica Redundância Não Sim

Encapsulamento industrial Não Sim Compatibilidade até 10 anos Não Sim

A tabela a seguir apresenta os tipos de cabos relacionados às velocidades de transmissão e

distâncias máximas admitidas em redes Ethernet (TABELA 3.5):

Tabela 3.5 - Cabos, velocidades e distâncias máximas admitidas em plataformas Ethernet

Tipo de Cabo Velocidade Distância Máxima

Cabo Coaxial Grosso-10BASE5 10 Mbps 500 m Cabo Coaxial Fino -10BASE2 10 Mbps 185 m

Par Trançado -10BASE-T 10 Mbps 100 m Par Trançado –100BASE-TX 100 Mbps 100 m Par Trançado –1000BASE-X 1000 Mbps 100 m

Fibra Óptica –10BASE-FL 10 Mbps 2000 m Fibra Óptica –100BASE-FX 100 Mbps 2000 m Fibra Óptica –1000BASE-FX 1000 Mbps 500 m

3.7 Níveis hierárquicos

O conceito de redes industriais está associado à interoperabilidade e conexão de diversos

equipamentos a uma mesma plataforma de comunicação, podendo esta ser concebida de forma

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direta e bidirecional dentre os mais diversos níveis hierárquicos ou seccionada e interligada por

meio de gateways, acopladores, conversores e linking devices.

Apesar da tendência à universalização dos padrões de comunicação, existem diversas plataformas

disponíveis, cuja escolha é determinada em acordo com as especificações da aplicação em

questão. Inicialmente, podemos dividir as redes industriais em níveis ou layers, a saber,

Information Layer (nível de informação), Control Layer (nível de controle) e Discrete Control

(nível de controle discreto). Cada um destes níveis é responsável pela conexão de diferentes tipos

de equipamentos com suas próprias características de informação (BAIO, 2008) (FIGURA 3.25).

Figura 3.25 - Arquitetura de redes industriais

Fonte: DA SILVA, CRUZ, ROSADO, 2006

O nível mais alto, nível de informação da rede, é destinado a um computador central que processa

o escalonamento da produção da planta e permite operações de monitoramento estatístico, sendo

implementado, geralmente, por softwares gerenciais. O padrão Ethernet operando com o

protocolo TCP/IP é o mais comumente utilizado neste nível (BERGE, 2004).

Page 64: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

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O nível intermediário, nível de controle da rede, é a rede central localizada na planta

incorporando PLCs, DCSc e PCs. A informação deve trafegar neste nível em tempo real para

garantir a atualização dos dados nos softwares que realizam a supervisão da aplicação.

O nível mais baixo, nível de controle discreto, se refere geralmente às ligações físicas da rede ou

o nível de I/O. Este nível de rede conecta os equipamentos de baixo nível entre as partes físicas e

de controle. Neste nível encontram-se os sensores discretos, contatores e blocos de I/O.

3.8 Tipos de equipamento

Redes industriais podem, ainda, ser classificadas pelo tipo de equipamento conectado a elas,

assim como pelos tipos de dados que são transmitidos, que podem ser bits, bytes ou blocos. Estas

características diferenciam as redes em sensorbuses, devicebuses e fielbuses (EMERICK, 2009).

As redes com dados em formato de bits transmitem sinais discretos contendo, em sua grande

maioria, simples condições ON/OFF. Já as redes com dados no formato de bytes podem conter

pacotes de informação discretos e/ou analógicos. E as redes com formato de bloco são capazes,

por fim, de transmitir pacotes de informação de tamanhos variáveis.

Desta forma, a distinção entre as três classificações de redes industriais de acordo com os

formatos de dados e os respectivos tipos de equipamentos que interligados é dada pela seguinte

classificação:

a) Redes sensorbus - dados no formato de bits

b) Redes devicebus - dados no formato de bytes

c) Redes fieldbus - dados no formato de pacotes de mensagens (FIGURA 3.26).

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Figura 3.26 - Classificação das redes

Fonte: BAIO, 2008

3.8.1 Redes Sensorbus

As redes sensorbus conectam equipamentos simples e pequenos diretamente à rede. Os

equipamentos deste tipo de rede necessitam de comunicação rápida em níveis discretos e são

tipicamente sensores e atuadores de baixo custo. Estas redes não almejam cobrir grandes

distâncias, sua principal preocupação é manter os custos de conexão tão baixos quanto possível.

Exemplos típicos de rede sensorbus incluem Seriplex, ASI e INTERBUS Loop (SMAR

EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998).

3.8.2 Redes Devicebus

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As redes devicebus preenchem o espaço entre redes sensorbus e fieldbus e podem cobrir

distâncias de até 500 m. Os equipamentos conectados a esta rede possuem mais pontos discretos,

alguns dados analógicos ou uma mistura de ambos. Além disso, algumas destas redes permitem a

transferência de blocos com menor prioridade comparados aos dados no formato de bytes. Esta

rede tem os mesmos requisitos de transferência rápida de dados da rede de sensorbus, mas

consegue gerenciar mais equipamentos e dados. Alguns exemplos de redes deste tipo são

DeviceNet, Smart Distributed System (SDS), Profibus PA, LONWorks e (SMAR

EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998).

3.8.3 Redes Fieldbus

As redes fieldbus interligam os equipamentos de I/O mais inteligentes e podem cobrir distâncias

maiores. Alguns equipamentos acoplados à rede podem possuir inteligência para desempenhar

funções específicas de controle tais como loops PID, controle de fluxo de informações e

processos. Os tempos de transferência podem ser longos, mas a rede deve ser capaz de

comunicar-se por vários tipos de dados (discreto, analógico, parâmetros, programas e

informações do usuário). Exemplos de redes fieldbus incluem IEC/ISA SP50, Fieldbus

Foundation, Profibus DP e HART (SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998)

(FIGURA 3.27).

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67

Figura 3.27 - Tipos de redes

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2008

3.9 O modelo de referência OSI

Em 1977, a ISO (International Organization for Standardization – Organização Internacional

para Padronizações) começava a reconhecer a necessidade especial e urgente do estabelecimento

de padrões para as redes heterogêneas de informática, e decidiram criar um novo subcomitê

(SC16) para interconexão de sistemas abertos, ou OSI (Open Systems Interconnection).

Com o desenvolvimento de redes de computadores distintas e heterogêneas, bem como o início

das pesquisas por desenvolvimento de plataformas de comunicação industrial, surgiram diversas

arquiteturas de redes, identificando um grande entrave à livre evolução dos sistemas de

comunicação. Assim, a ISO, através do SC16, desenvolveu um padrão aberto de comunicação, de

tal forma que todos os protocolos que seguissem o padrão estabelecido seriam aptos a estabelecer

Page 68: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

68

comunicação. Este padrão é conhecido como Modelo de Referência OSI, e é utilizado por quase a

totalidade das plataformas de comunicação (EMERICK, 2009) (FIGURA 3.28).

O modelo de referência estrutura o padrão de comunicação entre equipamentos através de

camadas. Desta forma, a transmissão deve respeitar os sete níveis de comunicação estabelecidos

pelo modelo, de tal forma que os protocolos de comunicação estabelecidos devem implementar

funcionalidades para uma ou mais camadas, a saber, camada física, de enlace, de rede, de

transporte, de sessão de apresentação e de aplicação. Assim, cada camada pode utilizar funções

de sua camada e também da camada anterior, de forma a dividir as atribuições de cada uma e

constituir-se em uma eficiente alternativa à complexidade dos sistemas de comunicação

(PETERSON, DAVIE, 1999).

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69

.

Figura 3.28 - O modelo OSI

Fonte: DAY; ZIMMERMANN, 1983.

As camadas são numeradas a partir da camada física, que recebe o número um, até a camada de

aplicação, que recebe o número sete. Os protocolos industriais, entretanto, não implementam,

necessariamente, funcionalidades nas sete camadas, fazendo-o geralmente nas camadas física, de

enlace, apresentação e aplicação. Os parâmetros adotados pelos protocolos para cada uma das

camadas é de domínio público, possibilitando, assim, o desenvolvimento livre de equipamentos

compatíveis.

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70

O processo de comunicação é iniciado a partir da camada física, sendo a evolução das camadas

dada desde o nível que envolve o meio físico e parâmetros como fiação e transferência de bits

(camada física) até os níveis de inserção e recepção de dados (camada de aplicação).

3.9.1 Camada física (1)

A camada física é onde o processo de comunicação é iniciado. Nela, o sinal elétrico trago pela

fiação é convertido em bits. São tratados parâmetros como comprimento das fiações, taxas de

transferência de bits, características elétricas do meio de transmissão e padrão dos conectores.

Hubs e cabos são exemplos de dispositivos que atuam nesta camada.

Dispositivos de protocolos distintos podem ser conectados a um mesmo barramento (apesar de

não ser estabelecida comunicação efetiva entre os mesmos), desde que sua camada física seja

implementada de forma idêntica.

3.9.2 Camada de Enlace (2)

A camada de enlace está relacionada ao endereçamento das informações, onde são analisados os

endereços físicos dos dispositivos e operações com Switches são realizadas. Esta camada é

também responsável pela detecção de eventuais erros ocorridos na camada física. Assim, após a

conversão do sinal elétrico em bits, a camada de enlace, após a identificação do endereço físico

contido na mensagem, encaminha a informação para a camada de rede.

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3.9.3 Camada de Rede (3)

A camada de rede decide através de dispositivos como roteadores qual deve ser o melhor

caminho que os dados recebidos da camada de enlace devem seguir, em redes onde existem mais

de um caminho de dados. Está relacionada, também, à conversão do endereço físico contido na

mensagem em endereço lógico.

3.9.4 Camada de transporte (4)

Esta camada é responsável pela qualidade da entrega das informações em seu devido destinatário.

Após as informações virem da camada 3 já endereçadas com os respectivos emitentes e

destinatários, os protocolos de transporte atuam nesta camada de forma e executar a entrega dos

dados com confiabilidade. Nesta camada, os pacotes de dados recebidos da camada de rede são

remontados e encaminhados à camada de sessão.

3.9.5 Camada de sessão (5)

Esta camada é responsável pela sincronização entre os servidores, onde é checada a possibilidade

de comunicação, já de posse de dados como o endereço lógico dos dispositivos envolvidos na

transmissão dos dados.

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72

3.9.6 Camada de apresentação (6)

A camada de apresentação é responsável pelo interfaceamento da troca das informações. Nesta

camada, pode ser feita a formatação dos dados e a representação dos mesmos, de forma com que

duas redes distintas possam se comunicar. Os gateways e transceivers são exemplos de

dispositivos que atuam a este nível.

3.9.7 Camada de Aplicação (7)

Esta camada é responsável pela interface entre o protocolo de comunicação e o aplicativo ou

software que requisitou a informação. Por exemplo, ao solicitar a recepção de e-mails através do

aplicativo de e-mail, este entrará em contato com a camada de Aplicação do protocolo de rede

efetuando tal solicitação. Tudo nesta camada é direcionado aos aplicativos. Telnet e FTP são

exemplos de aplicativos de rede que existem inteiramente na camada de aplicação (PETERSON,

DAVIE, 1999).

As camadas de 1 a 3 são também conhecidas como camadas de nível físico, enquanto que as de 5

a 7 são chamadas camadas de nível de aplicação. A camada número 4, camada de transporte, é

responsável por estabelecer um ligação entre estes dois grupos. É válido lembrar, também, que as

atribuições, bem como o sequenciamento das operações das camadas no processo de

comunicação dependem do sentido no qual as informações estão trafegando, ou seja, se está

sendo tratado o processo de recepção ou de envio de dados. Acima, foram descritos os

procedimentos da recepção dos dados, ou seja, do barramento de comunicação até o dispositivo

destinatário.

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73

4 PROTOCOLOS DE COMUNICAÇÃO

O conhecimento das diferentes plataformas de comunicação industrial constitui-se, talvez, no

ponto mais importante do estudo das redes industriais, dado o fato de que sua correta escolha

pode implicar em resultados decisivos para o sucesso de um projeto.

De acordo com a diferenciação dos níveis de redes industriais em sensorbus, devicebus e

fieldbus, é possibilitada análise inicial entre as plataformas disponíveis e a aplicação necessária,

sendo este um dos primeiros parâmetros e ser observado para se efetuar a escolha por um

protocolo. Em seguida, são analisadas as peculiaridades de cada uma das plataformas disponíveis

à categoria de aplicação e analisa-se a relação custo x benefício que cada protocolo proporciona.

Sob este contexto, são analisados os principais protocolos direcionados a cada uma das categorias

de aplicação em uma planta, os quais podem ser encontrados na maioria dos ambientes de

comunicação industrial. São eles Modbus, AS-i, DeviceNet, Profibus, HART e Foundation

Fieldbus.

4.1 Modbus

O Modbus é um protocolo de comunicação desenvolvido na década de 70 pela Modicon

Industrial Automation Systems (Schneider Electric, atualmente). Trata-se de uma das primeiras

plataformas de comunicação que permitiu interligar estações de supervisão de controladores

programáveis em rede. É um protocolo aberto, de fácil operação e manutenção.

Trata-se de um protocolo de comunicação do tipo mestre-escravo, onde os escravos são,

usualmente, controladores programáveis e os mestres são sistemas supervisórios (FIGURA 5.1).

Como meio físico, o Modbus utiliza o RS-232, RS-485 ou Ethernet. Porém, para comunicação

entre microcontroladores, o padrão RS-485 é mais utilizado. É aplicado extensamente em

comunicação de servidores e controladores, sendo conferida a categoria de databus (barramento

de dados) ao Modbus. Apesar da maior aplicabilidade para os níveis de informação, alguns

instrumentos inteligentes podem, ainda, ser capazes de realizar comunicação por Modbus.

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74

Figura 4.1 - Configuração Modbus

A imagem acima mostra um exemplo de rede Modbus com um mestre (PLC) e três escravos

(módulos de entradas e saídas, ou simplesmente E/S). Em cada ciclo de comunicação, o PLC lê e

escreve valores em cada um dos escravos. Como o sistema de controle de acesso é do tipo

mestre-escravo, nenhum dos módulos escravos inicia comunicação a não ser para responder às

solicitações do mestre. O protocolo para a aplicação descrita utliza preferencialmente o padrão

RS-485 para meio físico.

Em redes seriais, o Modbus pode apresentar as variações RTU, ASCII, Modbus/TCP e Modbus +

(Plus), a saber:

4.1.1 Modbus RTU - Terminal Unit (unidade terminal remota)

Os dados são transmitidos sobre a forma binária, com oito bits, sendo permitida a compactação

dos dados em pacotes menores. No modo RTU, os endereços e valores podem ser representados

em formato binário. Números inteiros variando entre -32768 e 32767 podem ser representados

por 2 bytes. O mesmo número precisaria de quatro caracteres ASCII para ser representado (em

hexadecimal) (FIELD SERVER TECHNOLOGIES, 2009).

Page 75: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

75

4.1.2 Modbus ASCII

Neste modo, os dados são transmitidos sobre codificação em caracteres ASCII com sete bits. O

benefício de gerar mensagens legíveis, em contrapartida, faz com que maiores recursos da rede

sejam consumidos.

4.1.3 Modbus/TCP

No Modbus/TCP os dados são dispostos através do emprego do protocolo TCP (Transmission

Control Protocol –protocolo de controle de transmissão), possibilitando a utilização do padrão

Ethernet (IEEE 802.3) para transmissão de dados.

4.1.4 Modbus Plus

Trata-se da versão do protocolo Modbus possuidora de diversos recursos complementares de

diagnóstico, roteamento, consistência de dados e endereçamento, sendo mantida sob domínio da

Schneider Electric.

A tabela 5.1 apresenta um resumo sobre as principais características do Modbus:

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76

Tabela 4.1- Protocolo Modbus

Características ModBus Nível hierárquico Databus

Tipo de sinal Digital Topologia Ponto-a-Ponto/Barramento / Multiponto Acesso ao

barramento Cliente-Servidor Baud rate 10Mbps

Comprim. Máx. 1200m Número de conexões 255

Diagnósticos Não Control loop Não

4.2 AS-interface

Mais conhecido como AS-i, este protocolo trabalha no nível de sensores e atuadores, sendo, desta

forma, classificado como sensorbus (FIGURA 5.2). É caracterizada, portanto, pela rápida

resposta no processo e pelo baixo volume de dados transmitido.

Page 77: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

77

Figura 4.2 Rede AS-i

Fonte: AS-INTERFACE, 2009.

Trata-se de uma rede flexível quanto à topologia e bastante estável. Seu modo de comunicação

baseia-se no princípio mestre-escravo, sendo permitida a conexão de até 31 dispositivos escravos

por barramento. Esta quantidade pode, entretanto, ser ampliada, caso se faça uso de módulos de

entrada e saída (E/S) com até quatro canais como dispositivo escravo. Assim, possibilita-se a

utilização de até quatro sensores e quatro atuadores por dispositivo escravo, tornando possível a

conexão de 124 dispositivos de comunicação bidirecional e 248 dispositivos de sinal binário (AS-

INTERFACE, 2009). É, também, possível a conexão de dispositivos analógicos na rede, desde

que a transferência dos dados seja digital. São permitidos o uso de até 4 dispositivos analógicos

por escravo.

O barramento da rede AS-i pode ter comprimento máximo de 100 m quando não são utilizados

repetidores, e 500 m quando o são. Não são necessários terminadores de barramentos nos cabos,

sendo estes últimos caracterizados pelo formato achatado e a cor amarela a dois fios, utilizados

para a alimentação dos dispositivos a 24 VDC e para a comunicação de dados. O cabo preto,

igualmente achatado, pode ser utilizado como fonte auxiliar de energia, além da existência de

suplementação externa de alimentação para outros dispositivos de maior potência conectados à

rede (FIGURA 5.3).

Page 78: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

78

Apesar da execução prioritária de transmissão de sinais binários, as redes AS-i permitem a

transmissão de sinais analógicos para alguns instrumentos. Sua interface é implementada nas

camadas 1, 2 e 7 do modelo OSI de referência. O tempo de varredura da rede máximo é de 5 ms.

Para a transmissão completa dos dados até o CLP (controlador lógico programável) o tempo

máximo é de 35ms (AS-INTERFACE, 2009).

Figura 4.3 - Cabeamento e logomarca das redes AS-i

Fonte: AS-INTERFACE, 2009

A partir da tabela 5.2 as principais características das redes AS-i podem ser observadas:

Tabela 4.2 - Redes AS-i

Características AS-i

Nível hierárquico SensorBus

Meio Físico Cabo não blindado com dois fios para dados e energia

(24 VDC / 8A) Tipo de sinal Digital

Topologia Árvore (barramento associado a estrela) Máx. disp. Escravos 31

Máx. pontos 124 bidirecionais e 248 sinais binários Acesso ao barramento Mestre-Escravo

Tempo de ciclo (31 5 ms

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79

escravos) Bit rate 4 bits por escravo a cada mensagem

Taxa de transferência 167 kbps (bruta) e 53.3 kbps (líquida) Comprim. Máx. 100 m (até 300 m com repetidores)

Diagnósticos Sim Control loop Não

4.3 DeviceNet

O protocolo DeviceNet é caracterizado como uma devicebus ou barramento de dispositivos.

Trata-se de uma arquitetura simples, que pode interligar dispositivos como sensores, atuadores,

drivers de corrente e PLCs (FIGURA 5.4).

O protocolo foi criado a partir de uma tecnologia desenvolvida pela Allen-Bradley e foi

introduzida no mercado em março de 1994.

Visando ser um padrão não-proprietário, sua tecnologia foi transferida à ODVA (Open DeviceNet

Vendors Association) em abril de 1995, quando os produtos comerciais começaram a ser

oferecidos (SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2009).

Page 80: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

80

Figura 4.4 - Cabeamento e logomarca das redes DeviceNet

Em redes DeviceNet é permitida a conexão de até 64 nós. O mecanismo de comunicação é peer-

to-peer com prioridade, sendo a transferência de dados executada, preferencialmente, segundo o

modelo source-sink (FILHO, 2009a).

A conexão com o servidor pode ser realizada de forma serial por RS-232, a partir de qualquer

ponto da rede. É permitida a interligação do moden à rede e a transmissão do sinal por linha

telefônica, até o host.

Alimentação e transmissão de dados podem coexistir no mesmo cabo, porém, em barramentos

distintos. A alimentação dos dispositivos DeviceNet é realizada, geralmente, a 24 VDC. O

barramento DeviceNet permite, ainda, a inserção e remoção de nós “a quente”, ou seja, sem

necessidade de desconexão da fonte de alimentação da rede.

Assim, para as taxas de comunicação de 125 kbps, 250 kbps e 500 kbps recomenda-se utilizar cabos

com comprimento máximo de 100 m, 250 m e 500 m respectivamente, quando utilizado o cabo do

tipo grosso. Utilizando-se cabo do tipo fino, recomenda-se manter o comprimento máximo em 100 m,

independentemente da velocidade. Na linha tronco, para que se garanta a operabilidade do meio

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de transmissão, a distância máxima entre qualquer dispositivo em uma derivação ramificada não

pode ser maior que 6 metros (FILHO, 2009).

Outras especificações das Redes DeviceNet podem ser vistas na tabela 5.3:

Tabela 4.3 - Redes DeviceNet

Características DeviceNet Nível hierárquico DeviceBus

Tipo de sinal Digital Meio físico Par trançado Topologia Barramento Acesso ao

barramento Mestre-Escravo / Multimestre / Souce-Sink /Peer-

to-peer Baud rate 500-250-125 kBits/s

Comprim. Máx. 500 m (até 6000 m com repetidores) Número de conexões Até 64 nós

Diagnósticos Sim

4.4 HART

O padrão HART (Highway Addressable Remote Transducer) foi uma das alternativas viáveis

desenvolvidas aos antigos meios de transmissão analógicos, configurando um modo de

comunicação que possibilita a transmissão de sinais analógicos e digitais simultaneamente no

mesmo meio físico (FIGURA 5.5). Assim, a transmissão do sinal HART é modulada

obedecendo-se o padrão Bell 202 FSK (Frequency Shift Keying), sendo sobreposto ao sinal

analógico de 4 a 20 Ma (FIGURA 5.6). O sinal modulado AC é simétrico e não afeta o sinal

analógico DC. A freqüência do sinal HART é, geralmente, filtrada e ignorada pela maioria dos

dispositivos analógicos, possibilitando a coexistência de ambos em uma mesma linha de

transmissão. Dispositivos ditos inteligentes são capazes de operar com os dois sinais, analógico e

HART (FIGURA 5.7).

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Figura 4.5 - O sinal HART

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005a.

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Figura 4.6 - FSK

FONTE: FILHO, 2009d

Em HART, para o bit 1 é empregado o sinal de corrente de 1 mA de freqüência 1200 Hz. O bit 0

é representado pela freqüência 2400 Hz, sendo a comunicação realizada de forma bidirecional.

Por intermédio do sinal, é possível transmitir parâmetros para o instrumento, dados de

configuração do dispositivo, dados de calibração e diagnóstico (FILHO, 2009d).

O protocolo HART admite as topologias ponto-a-ponto e multidrop. Para o modo multidrop, o

tempo do ciclo de leitura dos dispositivos é da ordem de 7.5 a 15 segundos para se obter os

valores gerados por 15 transmissores conectados, tornando-se inadequadas para a maioria dos

loops de controle existentes em uma planta. E, ainda, a presença do sinal analógico 4-20 mA

torna difícil a transmissão de sinal de dispositivos distintos no mesmo barramento de

comunicação.

A topologia multidrop, por outro lado, é utilizada quando da transmissão exclusiva de sinais

HART em uma rede, sendo a saída para o sinal analógico configurada em 4 mA fixos nos

dispositivos HART. A seleção do modo da saída a ser transmitida pode ser facilmente

configurada através do polling address, parâmetro que pode ser facilmente ajustável nos

dispositivos presentes na rede. Assim, quando a topologia ponto-a-ponto é utilizada, o polling

address é ajustado para o valor 0, tornando a saída analógica 4-20 mA ativa nos dispositivos.

Caso seja empregada a topologia multidrop, o polling address, servirá como endereço para os

dispositivos HART conectados, sendo configurável com valores entre 1 e 15, diferentes entre si,

para cada nó. A saída analógica é, consequentemente, inativada e constante em 4-20 mA.

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Figura 4.7 - Exemplo de aplicação inteligente utilizando HART®

Fonte: SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 2005ª.

Tabela 4.4 - Protocolo HARTTT

Características HART Nível hierárquico Fieldbus

Tipo de sinal Digital + 4-20 mA Topologia Ponto-a-ponto, multidrop Acesso ao

barramento Cliente-servidor Baud rate 1.200 bps

Comprim. Máx. 3.000 m Número de conexões 15 (modo multidrop)

Diagnósticos Sim Control loop Não

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4.5 Profibus

O Profibus é um sistema de comunicação de alta performance, robusto e aberto, que garante uma

comunicação confiável e flexível nos diversos níveis de uma planta. É caracterizado por ser uma

rede fieldbus que pode ser implementada com ampla funcionalidade no nível de campo e no nível

de servidores, dividindo-se, assim, em redes Profibus DP (Periferia descentralizada) e redes

Profibus PA (Automação de Processos) (FIGURA 5.8). Existe, ainda, o Profibus FMS, utilizado

para aplicações mais complexas de conexão entre PLCs e DCSs, e o PROFInet, empregado

quando da necessidade de interligação de segmentos PROFIBUS à plataforma Ethernet, que pode

ser utilizado para comunicação com níveis corporativos e gerenciais.

Figura 4.8 - Logomarca do protocolo Profibus

Fonte: ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2000

O nome foi gerado a partir da fusão dos termos Process e Fieldbus (processo e barramento de

campo). Trata-se de um protocolo aberto, a partir do qual fabricantes de equipamentos voltados

para automação industrial podem desenvolver dispositivos para aplicações diversas. A

organização que desenvolve a tecnologia Profibus é chamada PI (Profibus International).

Os meios físicos variam por aplicação da rede Profibus. Basicamente, para as redes Profibus DP

utilizam-se o padrão RS-485 a 2 fios, com taxas de transmissão entre 9.6 kbits/s e 12 Mbits/s, e a

fibra óptica, utilizada em aplicações que demandam grandes distâncias e imunidade a

interferências. Para redes Profibus PA, utilza-se o padrão IEC 61158-2.

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86

O acesso ao meio é dado pela relação mestre-escravo entre as estações ativas e passivas. Entre a

comunicação entre mestres é definida pelo método da passagem do token, implementada para

dispositivos como PCs e PLCs (FIGURA 5.9).

Figura 4.9 - Comunicação Profibus

Fonte: (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2000).

4.5.1 Profibus PA (automação de processos)

O Profibus PA pode ser definido como a aplicação do protocolo Profibus em automação de

processos e interligação de transmissores, válvulas e outros dispositivos inteligentes,

implementando a segurança intrínseca na transferência de energia e dados em um mesmo cabo.

O meio físico é definido pelo padrão IEC 61158-2, com taxas de transmissão de 31,25 kbits/s.

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87

O barramento principal pode atingir até 1,9 km sem o uso de repetidores. Com 4 repetidores,

pode-se obter até 9,5 km de comprimento. Em aplicações que não requerem segurança intrínseca

e que utilizem alimentação externa de dispositivos, podem-se conectar até 32 dispositivos em um

barramento e 9 dispositivos para aplicações em áreas classificadas. A fonte de alimentação pode

fornecer de 9 a 32 V e, para aplicações que requerem segurança intrínseca, devem estar

localizadas fora da área classificada.

Podem ser empregadas as topologias ponto-a-ponto, barramento e estrela. Na prática, entretanto,

são utilizadas topologias mistas. Seja qual for a configuração das redes Profibus, é possível

remoção e inserção de dispositivos a quente, mesmo em áreas classificadas.

As redes são baseadas em blocos de informação, uma importante implementação que assegura a

facilidade em se obter os benefícios das técnicas de gerenciamento de ativos modernos, sendo

oferecidas ao usuário informações como parâmetros de configuração, diagnósticos e funções de

dispositivos, além da representação de entradas ou saídas analógicas (SIEMENS AG, 2000). A

tabela 5.5 apresenta as especificações para redes Profibus PA:

Tabela 4.5 - Redes Profibus PA

Características Profibus PA Nível hierárquico Devicebus / Fieldbus

Tipo de sinal Digital, Código Manchester Topologia Linha / Estrela / Ponto-a-ponto Acesso ao

barramento Mestre-Escravo / Peer-to-peer Baud rate 31,25 kbps

Comprim. Máx. 1900 m (expansível a até 10km com 4

repetidores) Número de conexões Até 32 estações por segment, total máx. de 126

Diagnósticos Sim Control loop Não

4.5.2 Blocos Funcionais

O perfil PA suporta a intercambiabilidade e a interoperabilidade de dispositivos de campo PA de

diferentes fabricantes, usando o internacionalmente reconhecido modelo de blocos funcionais que

Page 88: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

88

descrevem parâmetros e funções do dispositivo. Os blocos de função representam diferentes

funções do usuário, tais como entrada analógica ou saída analógica. Além dos blocos de função

de aplicação específica, dois blocos de função são disponibilizados para características

específicas do dispositivo (Physical Block ou Bloco Físico e Transducer Block ou Bloco de

Transdutor). Os parâmetros de entrada e saída dos blocos de função podem ser conectados via

barramento e ligados às aplicações de controle de processo (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS

BRASIL, 2000). Estes blocos são descritos a seguir:

a) Bloco Físico (Physical Block): contém informações gerais do dispositivo,

tais como: nome, fabricante, versão e número de série do dispositivo;

b) Bloco Transdutor (Transducer Block): contém dados específicos do

dispositivo, como parâmetros de correção;

c) Bloco de Entrada Analógica (Analog Input Block) – AI: fornece o valor

medido pelo sensor, com estado (status) e escala (scaling);

d) Bloco de Saída Analógica (Analog Output Block) – AO: fornece o valor de

saída analógica especificada pelo sistema de controle;

e) Bloco de Entrada Digital (Digital Input Block) – DI: fornece ao sistema de

controle o valor da entrada digital;

f) Bloco de Saída Digital (Digital Output Block) – DO: fornece a saída digital

com o valor especificado pelo sistema de controle (ASSOCIAÇÃO

PROFIBUS BRASIL, 2000).

4.5.3 Profibus DP (Periferia descentralizada)

Page 89: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

89

O Profibus DP é um perfil de alta velocidade de comunicação, desenvolvido para interligação

entre os dispositivos mestres em redes Profibus (PCs e PLCs, geralmente). A interligação entre as

redes Profibus DP (masters) e Profibus PA (slaves) pode ser realizada através da utilização de

acopladores ou linking devices.

Como meio físico, podem ser empregados os meios RS-485 ou a fibra óptica. Para o primeiro,

pode-se aplicar a extensões de até 1,2 km, e, com a fibra óptica, até 15 km (ASSOCIAÇÃO

PROFIBUS BRASIL, 2000).

Um alto grau de flexibilidade é permitido ao Profibus DP através dos sistemas mono e multi-

mestre. É permitida a conexão de até 126 dispositivos a um mesmo barramento, mestres ou

escravos. A configuração é feita a partir da definição do número de estações, dos endereços das

mesmas e de seus I/Os, do formato dos dados de I/O, do formato das mensagens de diagnóstico e

os parâmetros de barramento. Os sistemas Profibus-DP podem conter três tipos de dispositivos

diferentes, que se organizam nas classes 1, 2 e DP Slave (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL,

2000) (FIGURA 5.10):

a) Classe-1 DP MASTER: são as estações mestres centrais, que trocam

informações com dispositivos escravos. São, geralmente, apresentados sobre a

forma de controladores programáveis e PCs (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS

BRASIL, 2000);

b) Classe-2 DP MASTER: são unidades intermediárias utilizadas, geralmente,

durante operações de comissionamento e configuração dos sistemas Profibus,

sendo representadas pelas estações de engenharia, painéis de operação ou

painéis de operação, dentre outros (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL,

2000);

c) DP SLAVE: trata-se dos dispositivos que coletam informações de entrada e

saída e as envia aos controladores. São representados pelos dispositivos de

Page 90: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

90

E/S, IHMs, drivers, válvulas e outros (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL,

2000).

Figura 4.10 - Sistema mono-mestre

Fonte: ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2000.

Em sistemas mono-mestre, apenas um dispositivo mestre é utilizado, sendo este, geralmente, um

PLC. Os dispositivos são a eles conectados por intermédio do barramento.

Em sistemas multi-mestre, diversas estações mestre podem ser conectadas ao barramento, com

seus respectivos dispositivos escravos. A leitura de valores de entrada e saída pode ser realizada

por qualquer estação mestre. Porém, a escrita e geração de saídas só pode ser realizada pelos

mestres específicos de cada dispositivo escravo (ASSOCIAÇÃO PROFIBUS BRASIL, 2000).

Um resumo das características das redes Profibus DP pode ser observado na tabela 5.6:

Tabela 4.6 - Redes Profibus DP

Características Profibus DP

Page 91: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

91

Nível hierárquico Databus Tipo de sinal Digital

Topologia Linha / Estrela / Anel Acesso ao

barramento Mestre-Escravo / Peer-to-peer / Publisher -

subscriber Baud rate máx. 12 Mbps Comprim. máx. 1200 m

Diagnósticos sim

4.6 Foudation Fieldbus (FF)

Desenvolvido pela Fieldbus Foudation, o protocolo Foundation Fieldbus (a similaridade entre as

nomenclaturas conduz a frequentes erros de utilização dos termos) configura-se como uma forte

tendência em comunicação industrial devido às funcionalidades em controle de processos e em

gerenciamento de ativos que podem ser implementadas (FIGURA 5.11).

Trata-se de um protocolo completo, que pode prover funções para integração de equipamentos

através de suas duas subdivisões: a rede FF H1, de baixa velocidade (31,25 kbps), destinada à

interligação de instrumentos e atuadores, e a rede FF HSE, de alta velocidade (100 Mbps),

destinada à conexão de estações de trabalho, controladores e segmentos da rede FF H1.

Assim como no protocolo Profibus, o Foundation Fieldbus possibilita aplicações em áreas

classificadas e alimentação de dispositivos pelo próprio barramento de dados. O meio físico, para

as redes FF H1 é implementado pelo padrão IEC 61158-2, e para as redes FF HSE, pelo padrão

Ethernet.

Os dispositivos com habilitação para o protocolo Foundation Fieldbus são, geralmente,

inteligentes e microprocessados, e sua maior funcionalidade é expressa na possibilidade da

execução de loops de controle no campo. Assim, torna-se possível que dispositivos de campo

estabeleçam malhas de controle próprias, independentemente de controladores externos,

configurando uma alternativa aos DCSs: Os FCS (Field Control Systems ou Sistemas de Controle

de Campo) (FIELDBUS FOUNDATION, 2009).

Page 92: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

92

Figura 4.11 - Logomarca da Fieldbus Foundation

Fonte: PHOENIX CONTACT, 2009.

Os benefícios obtidos com os Sistemas de Controle de Campo, ou FCSs podem ser observados à

medida que são reduzidos acentuadamente custos com controladores, paradas na produção (em

caso de falha em algum loop de controle, apenas uma pequena fração da planta é comprometida,

diferentemente do que ocorre quando da falha em um controlador central), dispositivos de

interface, racks, painéis, cabos e espaço.

Em uma rede FF é possível configurar até 8 loops de controle, dada a limitação prática de 16

instrumentos por rede. Entretanto, limitar uma rede a apenas 5 loops, sendo, no máximo, um

deles crítico, é uma boa prática de projeto, pois as conseqüências de eventuais falhas são

minimizadas.

Além da possibilidade de controle in loco, as redes FF, assim como a grande maioria dos

protocolos digitais de comunicação industrial, possibilitam o uso de recursos avançados de

gerenciamento de ativos, como calibração, configuração e diagnósticos de instrumentos. Os

dispositivos podem, também, ser reconhecidos automaticamente a partir de sua conexão à rede

(Plug and Play).

Page 93: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

93

4.6.1 Foundation Fieldbus H1

As redes Foundation Fieldbus H1 são destinadas à interligação de dispositivos no nível de campo,

como sensores e atuadores, a baixa velocidade de transmissão (31,25 kbits/s).

A alimentação dos instrumentos conectados aos troncos e barramentos pode ser feita através do

mesmo cabo utilizado para transferência de dados (padronizados segundo a norma IEC 61158-2),

sendo esta característica, juntamente com as restrições advindas da utilização de segurança

intrínseca, um dos fatores de limitação do número de instrumentos possíveis de serem

conectados, a saber:

a) Alimentação pelo cabo de dados, segurança intrínseca: de 2 a 6 instrumentos;

b) Alimentação pelo cabo de dados, segurança não-intrínseca: de 2 a 12

instrumentos;

c) Alimentação externa, segurança não intrínseca: de 2 a 32 instrumentos.

(SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998)

Como descrito no capítulo 3, o comprimento da linha principal (trunk) pode chegar a até 1900 m

(somando-se os comprimentos dos spurs), onde podem ser utilizados até 4 repetidores. Para

aplicações que requerem segurança intrínseca, esta distância é reduzida a 1000 m, não devendo

os spurs exceder 30 m de comprimento.

O meio físico IEC 61158-2 possibilita a interligação de instrumentos operando de 9 a 32 V para

as redes H1. Para as redes FF HSE, pode-se utilizar o padrão Ethernet. Nas redes H1 são

utilizados dois fios, para comunicação e alimentação (no caso de barramentos alimentados).

Recomenda-se, também, o uso de terminadores passivos (sem necessidade de alimentação

externa) constituídos por um resistor de 100 Ohm juntamente a um capacitor de 1 µF (SMAR

EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998).

Page 94: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

94

4.6.2 Blocos

Em redes FF os dados são transmitidos sobre a forma de blocos, os quais cobrem todas as

funções da rede. Deste modo, são encontrados três tipos diferentes de blocos, a saber:

a) Blocos de recurso, que contém informações específicas sobre os dispositivos;

Atuam, também, como interface entre I/Os físicos e os blocos de função;

b) Blocos de função, que são utilizados em estratégias de controle.

c) Blocos de transdutor, que servem para desacoplar os blocos de função das

tarefas de interface com o sensor de campo.

Através dos blocos de função, parâmetros especiais, como a configuração de malhas de controle

podem ser estabelecidos a partir dos próprios instrumentos de campo (FIGURA 5.12). Existem,

ainda, três modalidades de blocos de função: blocos de função básicas, blocos de funções

avançadas e blocos de funções flexíveis. Através deles, é possível estabelecer diferentes

estratégias de controle, como controle realimentado, em cascata, caracterização de sinais,

temporização e integração de alarmes avançados, controle de motores e interfaces para sensores

nos barramentos. Os blocos empregados em controle mais comumente utilizados e conhecidos

são os seguintes:

a) AI (Analog Input – Entrada Analógica);

b) AO (Analog Output – Saída analógica);

Page 95: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

95

c) Controlador PID;

d) DI (Digital Input – Entrada Digital);

e) DO (Digital Output – Saída digital) (SMAR EQUIPAMENTOS

INDUSTRIAIS LTDA, 1998).

Figura 4.12 - Blocos de controle

Fonte: FILHO, 2009c

A estratégia de controle para redes Foundation Fieldbus consiste da seleção dos blocos funcionais

e linkagem dos mesmos, o que pode ser feito facilmente por intermédio de softwares auxiliares.

A linguagem de programação é basicamente gráfica, e não textual, como costuma-se utilizar em

outros controladores. Assim, equipamentos de diversos fabricantes são programados de forma

idêntica.

Tabela 4.7- Foundation Fieldbus H1

Características Foundation Fieldbus H1 Nível hierárquico Fieldbus

Tipo de sinal Digital (blocos), código Manchester Topologia Barramento / Estrela / Barramento / Daisy-Chain

Page 96: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

96

Acesso ao barramento Cliente-Servidor, Source-sink

Taxa de transmissão 31,25 kbps

Comprim. Máx. 1900 m Número de conexões 255

Diagnósticos Sim Control loop Sim

4.6.3 Rede FF HSE (High Speed Ethernet)

As redes Foundation Fieldbus HSE tem como objetivo suprir as limitações impostas pelas redes

FF H1, cujo restrito número de dispositivos por barramento constitui-se em um obstáculo para a

comunicação de uma área extensa de uma planta (em geral, conectam-se de 5 a 7 dispositivos por

segmento de rede). Trata-se da aplicação de uma tendência em comunicação industrial,

constituída pelo uso do padrão Ethernet que pode atingir velocidades de até 100 Mbps (SMAR

EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, 1998). A tabela 5.7 explicita as diferenças básicas

entre as redes FF H1 e FF HSE:

Deste modo, é proporcionada a interligação entre diversos segmentos H1, bem como a conexão

de PLCs, servidores e outros instrumentos que necessitem transmitir blocos de dados extensos.

Fica possibilitada, ainda, a configuração de malhas de controle entre instrumentos dispostos em

redes distintas (FIGURA 5.13). A interface entre as redes é realizada por intermédio de linking

devices específicos, que podem ainda, interconectar outras plataformas de comunicação e

interligar I/Os locais, permitindo a interligação de sinais discretos e configurando-se como uma

boa solução para aplicações de natureza híbrida (FILHO, 2009c). Os diversos níveis de hierarquia

são simplificados em apenas dois, conforme pode ser observado na ilustração:

Page 97: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

97

Figura 4.13 - Integração das redes FF

Fonte: FILHO, 2009c

As principais características das redes FF H1 podem ser visualizadas na tabela 5.8:

Tabela 4.8- Comparação entre as funcionalidades das redes FF H1 e FF HSE

Caracterísitica FF H1 FF HSE Velocidade 31,25 kbps 100 Mbps

Distância máxima da rede 1900 m 100 m Dois fios Sim Não

Multidrop Sim Não Alimentação pelo

barramento Sim Não Segurança intrínseca Sim Não

Redundância do meio Não Sim Determinismo Sim Parcial

Page 98: FELIPE S. LAGE (AUTOMAÇÃO BOM )

98

5 GERENCIAMENTO DE ATIVOS

Os custos envolvidos na manutenção de equipamentos podem representar valores significativos

no orçamento de uma indústria. É, cada vez mais, buscada a redução no tempo de paradas de

operação para manutenção, e equipamentos que permitem inserção e remoção a quente (sem

interrupção do processo) tem ganhado preferência na escolha para projetos, constituindo-se o

gerenciamento de ativos on-line em uma técnica certamente mais ágil e simplificada de

manutenção de plantas industriais quando comparada aos conceitos convencionais de correção

em equipamentos.

Gerenciamento de ativos pode ser definido como a manutenção de equipamentos de maneira a

oferecer máximo desempenho e com um mínimo custo a uma plana juntamente com o seu ciclo

de vida (CHAYA, 2008). Por ativo entende-se tratar de cada instrumento, válvula, equipamento

rotativo e dispositivos semelhantes presentes em uma empresa que necessite de monitoração e

manutenção. Para a aplicação desta técnica, três aspectos em um sistema de gerenciamento de

ativos devem ser observados:

a) Dispositivos de Campo inteligentes: são utilizados para se obter

informações de status de sua operação como também do processo;

b) Protocolo de Comunicação: deve-se empregar um protocolo de comunicação

que seja capaz de transmitir informação de qualquer fabricante de dispositivo

de campo;

c) Software On-line: trata-se de um software dedicado que fornece ferramentas

necessárias à análise e exibição de informações vindas de diversos dispositivos

de campo para ajudar a equipe de operação e manutenção (BAIO, 2008).

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99

Os sistemas fieldbus disponibilizam ferramentas para gerenciamento de ativos que cobrem

pequenas áreas com baixo volume de informação, como estágios reduzidos de processos ou

plantas pilotos. Por isso, aliado às modernas tecnologias de comunicação industrial em rede, para

aplicações extensivas devem ser empregados softwares dedicados operando em modo stand-

alone, possivelmente em conjunto com sistemas supervisórios.

As modernas tecnologias de gerenciamento de ativos possibilitam a realização de calibrações on-

line, ajustes de range, características construtivas de dispositivos e estatísticas operacionais de

cada um deles. Adicionalmente, rotinas de auto-diagnóstico geram rotinas de verificação

automática e informam ao sistema se a informação fornecida por um dado dispositivo é confiável

ou não. A integração destas informações é amplamente facilitada pelas tecnologias fieldbus, à

medida que dados no formato de blocos, como utilizado em FF e Profibus (que fornecem

informações através de seus blocos de recursos e de transdutor) tornam possível a transferência

de informações complexas pela rede. Utilizando-se de fieldbuses, pode-se obter disponibilidade

de todas as informações dos ativos a partir dos servidores. Com técnicas obsoletas, estas

informações, além da configuração de parâmetros como range, deveriam ser colhidas

manualmente no próprio instrumento e com dispositivos auxiliares, muitas das vezes, próprios do

fabricante de cada equipamento.

A manutenção de uma planta pode ser realizada, basicamente, de quatro formas, a saber:

5.1 Manutenção Corretiva / Reativa

A manutenção corretiva/ reativa é realizada quando da detecção de falha em dispositivos. Pode

apresentar riscos maiores ao processo, por a planta pode não ser segura quando o dispositivo não

opera de forma correta.

Um dispositivo em falha pode causar paradas indesejadas na produção podendo, até mesmo,

reduzir a qualidade do produto final. O uso de fieldbuses pode ser útil neste tipo de manutenção,

pois possibilita correções mais velozes e eficazes e inserção/remoção a quente de dispositivos

(BERGE, 2004).

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100

5.2 Manutenção Preventiva

É executada com paradas na planta produtiva, dada a necessidade ou não de manutenção nos

equipamentos. Não é muito eficiente, pois produz paradas produtivas que podem ser

desnecessárias e aumenta o tempo das mesmas. Ainda assim, o uso de fieldbuses pode reduzir

este tempo e melhorar as características do serviço, uma vez que são armazenados dados de

calibrações recentes ou intervenções para serviços no campo (BERGE, 2004).

5.3 Manutenção Preditiva

Também desempenhada periodicamente, necessitando ou não de manutenção nos equipamentos.

Entretanto, o intervalo de serviço é otimizado utilizando-se taxas de falha e estatísticas reunidas

de cada tipo de dispositivo, por longos períodos de funcionamento. Ainda há certo desperdício de

recursos, embora menor quando comparado aos esquemas de manutenção corretiva e preventiva.

O uso de fieldbuses pode ser útil à medida que a detecção de falhas é executada de forma mais

precisa quando da falha de dispositivos, aliada à detecção de desvios sobre padrões de

desempenho registrados pelo sistema (BERGE, 2004).

5.4 Manutenção Pró-ativa

O esquema de manutenção pró-ativa é voltado para os equipamentos que realmente necessitam de

intervenção, minimizando, entretanto, intervenções críticas no processo e priorizando-se a

correção de defeitos antes que os mesmos ocorram, possibilitando melhor programação para

execução destas atividades. Assim, são evitadas as ações em dispositivos que não necessitem de

correções.

As tecnologias fieldbus adicionalmente aos diagnósticos monitoram continuamente erros que

podem levar a falhas, como desgaste de componentes, fadigas, depreciação e exposição a

condições extremas de ambiente, além do número de operações já realizadas pelo dispositivo

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101

cruzada com sua vida útil estimada. Assim, possibilita-se a previsão de falhas sem a necessidade

de coleta manual de dados e subseqüente inserção no sistema (BERGE, 2004).

5.5 DD (Device Description)

Para a interface com os dispositivos de campo, os softwares de gerenciamento de ativos utilizam-

se de drivers para possibilitar a obtenção de parâmetros advindos dos dispositivos. Trata-se de

um conjunto de informações técnicas singulares a cada instrumento, chamadas Device

Description (DD – descrição de dispositivo), as quais são fornecidas pelo próprio fabricante.

Desta forma, informações complexas que circulam através do barramento podem ser

simplificadas, trazendo benefícios diversos como, por exemplo, a troca de informações entre

vários dispositivos de uma dada rede sem a necessidade de instalação de um driver adicional para

tanto (BERGE, 2004)

O DD é formado a partir de um texto estruturado e é carregado na base de dados dos sistemas de

controle e dos softwares de Gerenciamento de ativos. A figura a seguir ilustra um exemplo de

como a informação é estruturada (FIGURA 4.1):

Figura 5.1 - Estrutura de um Device Description

Fonte: BAIO, 2008.

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102

5.6 EDDL (Enhanced Device Description Language)

Os EDDLs (Linguagem de descrição de dispositivos aperfeiçoada) são uma evolução dos DDs,

como o objetivo de estender o conceito de interoperabilidade para a interface gráfica e para os

diagnósticos dos dispositivos. O layout da interface gráfica é determinado pelo fabricante do host.

Assim, o mesmo dispositivo poderá apresentar visualizações diferentes de acordo com o sistema

empregado, sendo, porém, a informação detalhada acerca de cada dispositivo detalhada e

fornecida pelo fabricante do mesmo (BAIO, 2008) (FIGURA 4.2).

Figura 5.2 - Tela de configuração e visualização de um EDDL

Fonte: HART COMMUNICATION FOUNDATION, 2009b.

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103

5.7 FDT/DTM (Field Device tool / Device Type Manager)

Paralelamente aos EDDLs, surgiram os FDTs (ferramentas de dispositivos de campo) e os DTMs

(gerenciamento de tipos de dispositivos). São ambos uma tecnologia de software usada para

integrar dispositivos de campo ao sistema de controle, constituindo-se de três partes: Um DTM,

escrito pelo fabricante, um BTM (Block Type Manager – gerenciador de tipos de blocos), escrito

pelo fabricante do instrumento para blocos do FF (Foundation Fieldbus) e, por fim, um ambiente

de software, o FDT, que disponibiliza um conjunto de serviços de software que suportam a

comunicação com o dispositivo de campo (FIGURA 4.3). Este último não possui informações

acerca dos dispositivos, disponibilizando, apenas, serviços de interface com programas.

O DTM faz interface com o FDT para trocar todas as informações requeridas em relação ao

dispositivo de campo, sendo as operações do dispositivo executadas pelo DTM. O BTM, por sua

vez, é responsável pela interface com o FDT para trocar todas as informações requeridas em

relação aos blocos de informação, sendo todas as operações do bloco executadas pelo BTM.

Apesar da ampla gama de tecnologias envolvida em gerenciamento de ativos, não são todos os

sistemas que conseguem empregá-las. Portanto, devem-se observar as limitações e necessidades

do sistema que se pretende implantar.

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104

Figura 5.3 - Tela de visualização e configuração de um DTM

Fonte: YOKOGAWA ELECTRIC CORPORATION, 2009.

5.8 Diagnósticos avançados

Os diagnósticos fornecidos ao sistema de controle pelos instrumentos inteligentes dividem-se em

duas categorias: diagnóstico interno da eletrônica do instrumento e diagnóstico interno do

software de Gerenciamento de Ativos. Desta forma, o sistema de diagnósticos, em geral, funciona

a partir do aprendizado por parte do software utilizado que detecta a decorrência de alguma

situação atípica (FIGURA 4.4). Como exemplo, pode-se citar o entupimento de uma das vias de

uma válvula, onde um ruído característico de uma válvula operando em condições normais é

registrado e comparado caso o sistema detecte alguma anormalidade em sua operação. O

entupimento da via causa uma sensível alteração do ruído proveniente da válvula, e este defeito é

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105

prontamente detectado e informado às equipes de operação e manutenção para os procedimentos

cabíveis.

5.4 - Tela do software Fieldcare, dedicado a gerenciamento de ativos

Fonte: ENDRESS+HAUSER, 2009.

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106

6 CONCLUSÃO

Ao longo do trabalho, foram explanados conceitos introdutórios e avançados acerca de

comunicação industrial. As redes fieldbus, em poucos anos, se configurarão como padrões para

comunicação e gerenciamento de dados em quase a totalidade das unidades produtivas de média

e larga escala, haja vista à crescente demanda por qualidade e redução de custos. Estes dois

aspectos, apesar de em alguns casos serem fatores cuja adoção de um resulta no detrimento do

outro, podem ser aliados lançando-se mão do emprego de sistemas de redes industriais.

Puderam ser verificadas as subdivisões e níveis hierárquicos de redes, bem como parâmetros

gerais de configuração. Foi possível, ainda, fornecer informações que podem ser tornar decisivas

no acerto da escolha pelo sistema de comunicação a ser empregado, o que pode reduzir

drasticamente os custos operacionais de uma planta. O emprego de redes Foundation Fieldbus

pode, em alguns casos, até mesmo eliminar a necessidade de controladores em uma unidade

produtiva.

Observa-se a busca constante pela interoperabilidade de equipamentos, os quais, agora, são

capazes de operar de forma eficiente independentemente do fabricante do sistema de

comunicação de padrão aberto ao qual será empregado. Esta tendência pode ser observada a

partir do emprego aberto do padrão OSI para os dispositivos de comunicação, tornando-se estes,

atualmente, grande parte dos equipamentos disponibilizados pelos mais diversos fabricantes que,

outrora, produziram dispositivos que trabalhavam apenas em sistemas de sua própria fabricação.

Foram mostrados, ainda, conceitos de manutenção e gerenciamento de ativos, que vem ganhando

bastante notoriedade e crescente procura por parte das empresas, dadas as possibilidades de

redução de custos com manutenção e substancial elevação de padrões produtivos. Estes

resultados podem ser otimizados utilizando-se, em sincronia, um sistema eficiente de

comunicação, instrumentos inteligentes e um sistema de gerenciamento de ativos.

De modo geral, sugere-se como continuidade para o trabalho um estudo aprofundado sobre o

padrão Ethernet e a comunicação Wireless. A Ethernet pode ser uma solução barata e eficiente

para interligação de todos os segmentos produtivos, configurando-se, talvez, como um padrão a

ser seguido no futuro à medida que suas limitações sejam superadas, o que não demandará muito

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107

tempo. Sistemas wireless ainda apresentam, em contrapartida, uma séria de limitações que

restringem sua aplicação nos meios produtivos, tais como interferências eletromagnéticas e

distâncias reduzidas de alcance operacional. Entretanto, grandes somas de investimento têm sido

feitas de forma a se suprir estas e algumas outras falhas que este promissor sistema ainda

apresenta.

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108

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