cultura organizacional do setor público brasileiro - pedro paulo carbone

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UFSC Mestrado em Engenharia de Produção da UFSC com ênfase em Planejamento e Custo Disciplina: Comportamento Gerencial Prof. José Francisco Salm, PhD Profª Maria Ester Menegasso, Drª Turma: IH6 – P&C Aluno: Ronaldo Miranda Pontes – [email protected] CULTURA ORGANIZACIONAL DO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO: Desenvolvendo uma metodologia de gerenciamento da cultura 1 – Identificação O autor da obra é Pedro Paulo Carbone Mestre em administração pública pela EBAP/Fundação Getúlio Vargas. Este artigo foi enviado para a RAP – Revista da Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas em junho de 1999 e publicado no volume 34 nº 2 de março/abril 2000. O artigo analisa alguns elementos da construção histórica do perfil do administrador público no Brasil e o significado disto no trabalho. Oferece uma metodologia experimental de gerenciamento de culturas corporativas que pode facilitar a compreensão dos comportamentos de equipe e a análise do “gaps comportamentais”. Tenta explicar por que certas empresas desenvolvem comportamentos profissionais legítimos internamente, mas distorcidos do negócio e dos interesses do cliente. 2 – Resumo do artigo 2.1 - Desfio O autor coloca uma missão de modificar profunda e estruturalmente uma organização pública com as seguintes metas: Demitir os funcionários não-alinhados e incompetentes; valorizar a competência, a dedicação e o bom desempenho; implantar programa de educação permanente, visando à capacitação dos empregados; reestruturar a arquitetura organizacional, para eliminar burocratismo e casuísmos instalados, agilizando o trânsito dos processos internos; trabalhar com o paradigma “o contribuinte é o nosso rei”; estimular a participação e a criatividade; adotar princípios de autonomia, abrindo espaço para o funcionário comprometido e empreendedor; ampliar a receita/arrecadação em 50%, através da cobrança dos devedores (inadimplentes e sonegadores fiscais); reduzir os custos

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Page 1: Cultura Organizacional do Setor Público Brasileiro - Pedro Paulo Carbone

UFSC

Mestrado em Engenharia de Produção da UFSC com ênfase em Planejamento e Custo

Disciplina: Comportamento Gerencial Prof. José Francisco Salm, PhD Profª Maria Ester Menegasso, Drª Turma: IH6 – P&C

Aluno: Ronaldo Miranda Pontes – [email protected]

CULTURA ORGANIZACIONAL DO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO:

Desenvolvendo uma metodologia de gerenciamento da cultura 1 – Identificação O autor da obra é Pedro Paulo Carbone Mestre em administração pública pela EBAP/Fundação Getúlio Vargas. Este artigo foi enviado para a RAP – Revista da Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas em junho de 1999 e publicado no volume 34 nº 2 de março/abril 2000. O artigo analisa alguns elementos da construção histórica do perfil do administrador público no Brasil e o significado disto no trabalho. Oferece uma metodologia experimental de gerenciamento de culturas corporativas que pode facilitar a compreensão dos comportamentos de equipe e a análise do “gaps comportamentais”. Tenta explicar por que certas empresas desenvolvem comportamentos profissionais legítimos internamente, mas distorcidos do negócio e dos interesses do cliente. 2 – Resumo do artigo 2.1 - Desfio O autor coloca uma missão de modificar profunda e estruturalmente uma organização pública com as seguintes metas: Demitir os funcionários não-alinhados e incompetentes; valorizar a competência, a dedicação e o bom desempenho; implantar programa de educação permanente, visando à capacitação dos empregados; reestruturar a arquitetura organizacional, para eliminar burocratismo e casuísmos instalados, agilizando o trânsito dos processos internos; trabalhar com o paradigma “o contribuinte é o nosso rei”; estimular a participação e a criatividade; adotar princípios de autonomia, abrindo espaço para o funcionário comprometido e empreendedor; ampliar a receita/arrecadação em 50%, através da cobrança dos devedores (inadimplentes e sonegadores fiscais); reduzir os custos

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administrativos e operacionais em 20%; melhorar a imagem do órgão/empresa perante a opinião pública; garantir a qualidade dos serviços prestados. E pergunta se é possível esta reforma considerando as mazelas do modelo de administração pública do país. Quais seriam os limites e os limitadores deste processo? 2.2 – O diagnóstico O diagnóstico organizacional é: todo o time de gerentes foi nomeado por uma cadeia de interesses. Você detecta apenas o que os gerentes e técnicos efetivos são profissionais mal preparados para as funções que executam; Treinamentos inexistem, muito menos algo sistematizado em termos de capacitação. O “adestramento” ocorre através da aprendizagem espontânea no ambiente de trabalho; modelo organizacional presente foi construído, reformado e implantado a partir de interesses pontuais. Sabe-se apenas que ele não atende às necessidades do macro processos internos; a grande massa de contribuintes desconhece direitos e não faz exigências; a inadimplência e a sonegação são altas estando concentradas em poucas empresas da região, as quais dominam econômica e politicamente a economia da cidade; a comunidade reconhece a importância do órgão, embora acredite que a qualidade dos serviços possa melhorar muito; o cenário é favorável à privatização dos serviços prestados pela organização. Este é um diagnóstico comum à maior parte da máquina pública. Como agir? 2.3 – A análise do ambiente cultural A administração pública no Brasil tem seu modus operandi próprio. Para sobreviver no país, em especial vivendo da máquina pública, sempre foi necessário muito jogo de cintura, muita esperteza, amigos influentes, habilidades diplomáticas para não ferir suscetibilidades, paciência, compreensão para com a incompetência alheia e outras coisas do gênero. A referência da boa gestão nunca foi à produtividade ou o empreendedorismo. O que vale são as amizades e os jogos de influência, estes sim são os verdadeiros indicadores de poder no Brasil. Veja os traços indesejáveis na postura do administrador público brasileiro, identificados em pesquisas organizacionais (Banco do Brasil, 1995b). Avalie o impacto desses comportamentos para o país.

Traços indesejáveis do administrador público brasileiro Aspecto Comportamento

Ambiente externo Desconhecimento; desinteresse; permeabilidade excessiva a pressões externas. Ambiente negocial Ausência de competitividade e de visão de mercado; paternalismo nas relações; não-

aproveitamento de oportunidades. Ambiente interno Visão sectária; ausência de articulações produtivas; não aproveitamento de

oportunidades. Decisões Medo; falta de ousadia; falta de comprometimento. Burocracia Apego às regras e rotinas. Hierarquia Supervalorização da hierarquia. Poder Apego ao poder; luta autofágica por espaços Gerência de RH Despreparo; autoritarismo; paternalismo; descompromisso com a formação profissional. Cultura Apego ao passado, tradicionalismo como defesa frente a mudanças.

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Há de se aceitar os nossos vieses culturais e planejar a mudança dentro de rituais legitimados pela própria cultura. O que se valoriza no homem público é a sua capacidade de conciliar interesses, apaziguar conflitos e aparentar aquilo que não é. No Brasil, ajeitar é a regra; empreender , a exceção. Existem virtudes no comportamento do administrador público brasileiro, é claro. O trabalho está em identifica-las para poder alavancá-las. 2.4 – Funcionamento das culturas e da brasileira Hofstede (1997) introduz o conceito de software mental para explicar o funcionamento das culturas organizacionais. Ingressar neste software coletivo é atributo para nativos, pois as senhas são de domínio cultural. Instalar autoritariamente outro software, além de ilegítimo, será ineficaz. É muito difícil reprogramar qualquer cultura. Intervenções drásticas podem levar a desagregação e à desordem. No Brasil identificamos a origem de certos comportamentos sociais e suas conseqüências na gestão pública. Abaixo temos os aspectos que dificultam a mudança dentro dos paradigmas da globalização estabelecidos.

Fator Origem Objetivo Decorrência p/ Adm. Pública

Burocratismo

O processo de colonização utilizando o aparato de leis e regras como instru-mento de defesa do Status quo, antes que elementos de justiça e ordem social.

Controle impessoal das relações econômicas e sociais

Excessivo controle de procedimentos, gerando uma administração engessa-da, complicada e desfocada das necessidades do país e do contribuinte

Autoritarismo/ centralização

O controle das relações econômicas e sociais e a definição do modelo de produção vigente.

Submissão à estrutura social vigente

Excessiva verticalização da estrutura hierárquica e centralização do proces-so decisório.Quem age atoritaria-mente culpa a estrutura.

Aversão aos empreendedores

Sociedade dividida e estratificada. O papel social de cada cidadão é sempre previamente definido.

Restrição ao surgimento e à ascensão de novas lide-ranças no meio produtivo

Ausência de comportamento empreendedor para modificar e se opor ao modelo de produção vigente.

Paternalismo Apaziguamento de conflitos sociais e econômicos decorrentes do processo de centralização de riquezas.

Amenização de conflitos econômicos, gerando núcleos particulares de apoio político

Alto controle da movimentação de pessoal dentro da lógica dos interesses políticos dominantes.

Levar vantagem Tradicionalmente poderoso, opressor, normatizador, autoritário e determinante no cotidiano do cidadão

Criação de mecanismos de inversão em relação ao poder formal estabelecido.

Ética dúbia, nepotismo, fisiologismo, apadrinhamento e intermediação generalizada de favores e serviços.

Reformismo

Disputas históricas de poder no interior da própria oligarquia e de outros sistemas de poder dominantes.

Redefinição e recomposição dos pactos de lealdade. Re-construção a partir de valores e paradigmas maquiados.

Descontinuidade administrativa. Corporativismo como obstáculo a mu -dança. Desconsideração dos avanços conquistados.

Em contra partida aos aspectos dificultadores à mudança, a cultura brasileira possui características que podem alavancar as reformas necessárias. A globalização exige a mudança permanente, o ajustamento constante, e já há consenso de que este comportamento é inevitável para aquelas nações que querem participar do modelo econômico internacional. Os fatores que alavancam a mudança são:

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Fator Origem Objetivo Decorrência p/ Adm. Pública

Flexibilidade, mobilidade, alta

criatividade

Necessidade de adaptação a um cenário econômico, político e social permanentemente adverso.

Sobrevivência Facilidade de conviver num cenário de permanente mudança. Jeitinho p/ solucionar problemas complexos e de difícil encaminhamento.

Boa convivência intercultural

Formação multirracial da sociedade brasileira.

Harmonização das diferenças culturais e raciais.

Facilidade p/ gerenciar grupos raciais e étnicos. Boa convivência no cenário globalizado. Diversidade potencializada de saídas inusitadas.

Alegria, simpatia, festividade

Dificuldades estruturais de uma so- ciedade economicamente polarizada, enfrentadas a partir de uma postura de vida positiva, alegre, cheia de bom humor e de muitos amigos.

Busca permanente de descontração, harmonização, confraternização e compartilhamento.

Clima de trabalho cooperativo, alegre, criativo e favorável. Lideranças e grupos informais, tecendo redes de influência. Sistemas de apoio informais baseados na afetividade e complementaridade.

2.5 – Gerenciando a cultura Seria por demais prepotente acreditar que as reformas permanentes, do ponto de vista tanto da globalização (exigência do modelo produtivo) quanto da própria cultura brasileira (reformismo), ocorressem sem choques e ajustes. Entendendo-se a cultura tão somente como um obstáculo e entrave à mudança, a tendência natural é a radicalização. Relativisando conceitos e preconceitos, é possível a mutua alavancagem. Que metodologia, então, adotar? A utilização dos referenciais antropológicos na gestão empresarial é recente. Nos últimos dez anos alguns trabalhos foram apresentados (Hofstede, 1997 :207-36; Jaime, 1996; Rubem, 1995; Barbosa 1996) e as suas possibilidades parecem promissoras. Em particular estudo sobre a matéria, procura-se a validação de uma metodologia experimental para o gerenciamento de culturas corporativas. O trabalho é composto de duas etapas que, ocorrendo simultaneamente, facilitam a identificação dos problemas comportamentais e tecnológicos que possam estar dificultando o salto de qualidade indispensável para o sucesso da corporação. A “metodologia” considera as seguintes etapas:

- estudo dos fenômenos da cultura nacional; - levantamento da cultura organizacional foco do estudo; - levantamento das características de outra cultura organizacional que servirá de

parâmetro, reconhecidas como best practices; - mapeamento de competências corporativas; - analises dos gaps de competência tecnológicos e comportamentais.

Um dos momentos mais importantes da pesquisa esta na comparação “comportamentos profissionais” da empresa objeto de estudo com os “comportamentos profissionais” de outra empresa, que possui praticas profissionais reconhecidamente excelentes. A idéia é avaliar as decorrências e as correlações entre comportamento profissional de sucesso nos negócios. Este estudo permite verificar a existência de “gaps comportamentais” ou, no mínimo, levantar boas hipóteses a respeito do tema. De posse desses gaps, a empresa pode procurar orientar o perfil dos seus funcionários. A tese defendida é que o “comportamento de sucesso profissional” ou o “herói organizacional” que a própria cultura organizacional desenvolve nem sempre garante o sucesso corporativo. Este paradoxo ocorre em empresas/órgãos do setor público no Brasil que desenvolve valores e comportamentos profissionais distanciado dos negócios e dos interesses do cliente.

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O quadro abaixo resume os passos desta metodologia ainda em validação.

Metodologia de Mudança Fase 1 – Análise do gap comportamental

Referencial de apoio Antropologia Forma de pesquisa Levantamento etnográfico Foco Análise do comportamento de sucesso (herói), mitos e ritos. Objetivo Avaliação do “gap comportamental”. Lógica do processo a) Pesquisa etnográfica para o levantamento da cultura organizacional objeto do

estudo, com os objetivos de identificar o comportamento de sucesso (herói) da empresa e as decorrências para o negócio da companhia e levantar os principais ritos e mitos da empresa, particularmente aqueles que podem interferir decisivamente na consecução dos negócios;

b) Pesquisa etnográfica em outra cultura organizacional (grupo de controle), detentora de práticas reconhecidas por sua excelência e competência, com os objetivos de identificar o comportamento de sucesso (herói) da empresa e analisar as possíveis correlações com o sucesso da companhia, bem como levantar os principais ritos e mitos da empresa, avaliando o impacto destes atributos culturais no sucesso apresentado pela companhia no mercado;

c) Identificação do “gap comportamental”.

Fase 2 – Análise do gap de competências Referencial de apoio Literatura sobre gestão de competência. Forma de pesquisa Mapeamento de competências. Foco Análise das competências organizacionais e das competências entendidas

indispensáveis para o sucesso no negócio. Objetivo Avaliação do gap de competências Lógica do processo a) Identificação das competências relevantes, emergentes e declinantes (Sparrow

& Bognanno, 1994) do negócio; b) Principal da companhia estudada; c) Mapeamento das competências organizacionais (relevantes, emergentes e

declinantes) da companhia; d) Identificação do “gap de competência”.

Estes dois diagnósticos conjugados permitem, além de um entendimento melhor sobre a base de conhecimento, competências e comportamentos dos quais a empresa está assentada, a identificação de excelentes indicadores de capital intelectual, que ajudam a empresa a orientar seus planos estratégicos e, principalmente, sua política de gestão e desenvolvimento de recursos humanos. As descobertas relativas às questões comportamentais ajudam a arquitetar o plano de gerenciamento da cultura corporativa através da introdução de novos rituais, paradigmas e comportamento de sucesso dentro da empresa, reorientando as atitudes do corpo funcional. As descobertas relativas aos gaps de competência completam a análise, pois oferecem uma percepção sobre quais tecnologias, conhecimentos e processos devem ser alterados, substituídos ou adquiridos, para que a empresa mantenha-se com êxito no mercado.

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3 –Apreciação Crítica O artigo publicado pela revista RAP (Rio de Janeiro) foi o escolhido do grupo por tratar de um assunto correlato aos desenvolvidos pela disciplina e ao mesmo tempo gerador de controvérsias, uma vez que o tema setor público é vastamente criticado no Brasil. Podemos dividir o artigo em dois assuntos principais: a análise de alguns elementos históricos do perfil do administrador público e a apresentação de uma metodologia experimental de gerenciamento de culturas corporativas. Em relação à análise histórica o primeiro ponto trata do ambiente cultural onde, segundo o autor “Para sobreviver no país, em especial vivendo da máquina pública, sempre foi necessário muito jogo de cintura, muita esperteza, amigos influentes, habilidades diplomáticas para não ferir suscetibilidades, paciência, compreensão com a incompetência alheia e etc. A referência nunca foi produtividade ou empreendedorismo. Historicamente os governos no Brasil nunca se preocuparam em estabelecer bons indicadores de gestão, o que importa são as amizades e o jogo de influências.” É plausível de se constatar que a produtividade e o empreededorismo não são preocupações chave na administração pública, o que realmente importa são as relações políticas e interpessoais. Realmente o autor levantou uma questão importante, entretanto não justificou de maneira clara o motivo de considerar os governos pouco interessados na performance de suas “empresas”. Poderia dizer que o próprio modelo de substituição das importações já utilizado pelo Brasil contribuiu em muito para os atuais resultados de nossa competitividade nacional. O setor público tem problemas em diversos países mas, a partir da experiência de alguns integrantes do grupo, divagamos sobre o que consideramos o problema central, ou seja, resistência a mudanças e falta de lideranças comprometidas com resultados devido à burocracia e falta de planejamento do sistema. Fatores que serão em seguida justificados. Ainda sobre a análise histórica o autor apresenta a seguinte idéia, “A administração pública reflete o Brasil, reflete o país, reflete o nosso comportamento. O estado não é diferente da nação, de seu povo”. Acreditamos ser esta uma generalização inadequada em relação às virtudes do nosso povo, ou seja, o Brasil possui diversas filiais de empresas multinacionais que apresentam seus melhores avanços administrativos aqui. Isto para citar apenas um item. Apesar de não ser considerada como uma revista técnica, a matéria publicada pela revista EXAME de abril deste ano – Gestão à Brasileira, apresenta diversos dados comprovando o acima citado, ou seja, a cultura do povo não esta diretamente vinculada unicamente ao seu governo, daí a nossa aversão ao comentário seco apresentado pelo autor. Em seguida o autor menciona nossas qualidades e defeitos culturais bem como justifica a dificuldade de alterar essa situação vigente. Seus dados se baseiam na pesquisa de Hofstede – também mencionado na revista EXAME. Nessa parte do artigo o autor foi bastante claro e realmente apresentou o lado positivo e negativo em relação a nossa cultura de flexibilidade, autoritarismo, paternalismo, boa convivência intercultural e simpatia entre outras. Entretanto o ponto mais alto ficou em relação aos fatores que dificultam a mudança: burocracia, centralização, aversão aos empreendedores, levar vantagem e reformismo. Estudantes e curiosos sobre o tema cultura têm profunda noção das dificuldades em se

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alterar padrões culturais, isto leva a necessidade de se criar mecanismo que permitam essa transição, no caso o gerenciamento da cultura. Neste sub-item o autor poderia ter apresentado alguns resultados sobre o bom desempenho de alguns programas de RH que buscam a melhoria e adequabilidade cultural de alguns valores dentro das empresas, fato comprovado por dois de nossos integrantes. Estes trabalham em uma organização que possui valores culturais próprios e diferenciados de seus controladores. Finalmente o autor apresenta uma metodologia experimental de gerenciamento de culturas corporativas desenvolvida no Banco do Brasil onde destacam-se duas fases: a análise do gap comportamental e de competências. Segundo o autor: “Análise do gap comportamental e de competências. Estes dois diagnósticos permitem, além de um entendimento melhor sobre a base de conhecimento, competências e comportamentos nos quais a empresa está assentada, a identificação de excelentes indicadores de capital intelectual, que ajudam a empresa a orientar seus planos estratégicos e principalmente, sua política de gestão e desenvolvimento de recursos humanos. As descobertas relativas às questões comportamentais ajudam a arquitetar o plano de gerenciamento da cultura corporativa, através da introdução de novos rituais, paradigmas e comportamentos de sucesso dentro da empresa, reorientando as atitudes do corpo funcional. As descobertas relativas aos gaps de competência completam a análise, pois oferecem uma percepção sobre quais tecnologias, conhecimentos e processos devem ser alterados, substituídos ou adquiridos, para que a empresa mantenha-se com êxito no mercado”. Esta metodologia foi explicada de forma clara e sucinta de forma a obter forte aprovação por parte do grupo. 4 - Considerações finais Dessa forma concluímos que em geral o artigo foi bastante claro e objetivo, uma vez que buscou justificar quase todos os argumentos propostos bem como aguçou nossa curiosidade por se tratar de um assunto controverso dentro da nossa cultura. A tecnicidade foi utilizada de forma a permitir o entendimento por diversos públicos sem necessariamente focar os administradores. Faltou apenas apresentar alguns exemplos modernos das mudanças culturais no setor público brasileiro que podem ser brevemente justificadas pela excelência dos serviços prestados pelos Correios e Telégrafos – referencia mundial em logística e o aumento da utilização da internet no universo público, fato este indubitavelmente comprovador de alteração na cultura brasileira e global. Obs.: Apenas para enriquecer os dados sobre a cultura no setor público brasileiro, assunto que acreditamos ser pouco explorado, em recente pesquisa publicada pelo Datafolha 73% dos brasileiros estão satisfeitos com os serviços públicos.

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