cultura homem

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Referências Bibliográficas: GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio deJaneiro: Ed. Guanabara, 1989. (Cap.2 O impacto do Conceito de Cultura sobre oConceito de Homem )Os conceitos de homem e cultura são conceitos muito discutidos, não apenaspelos antropólogos, mas também por homens comuns, sociólogos, biólogos, etc.Clifford Geertz é um dos autores que também discute esse tema. Em seu livro A interpretação das Culturas, separa um capítulo para discutir a relação entre osconceitos de Homem e Cultura. Para conseguir fazer essa relação ele apresenta àsposições antagônicas a idéia de homem que ele defende, definindo posteriormentesua concepção de homem e sua relação com a cultura.Ele começa com um pequeno diálogo entre a obra O Pensamento Selvagem, deLévi-Strauss, onde o autor expõe a idéia de que a explicação científica não é apenasuma a redução do complexo ao simples, mas sim a troca de um complexo por outromais complexo ainda. Se tratando do estudo do homem, pode-se transformar essepensamento substituindo o simples por complexos mantendo a clareza da suasimplicidade. Geertz diz, chega-se à possibilidade de substituir o enredado, masincompreensível, pelo enredado, mas compreensível , a partir das conclusões de Lévi-Strauss. Ou seja, através da ordenação da simplicidade, é possível fazer esse estudo dohomem de maneira a compreendê-lo cada vez mais.Durante o período do Iluminismo, a discussão sobre o conceito de homemgirou em torno da simplicidade. Para o iluminista, o homem e a natureza formavamuma coisa só. Essa natureza seria regularmente, organizada, invariante e, novamente,simples. Eles acreditavam na idéia de que todos os homens teriam o mesmo cerne,independente dos sistemas em que os mesmos estivessem inseridos. Suascaracterísticas culturais seriam irrelevantes na definição de sua natureza, e ao invés decontribuir, teriam o papel de obscurecer o que seria verdadeiro no homem e poderiamser retiradas a qualquer momento.Já para a Antropologia Moderna, não existem homem não modificados. Não épossível se despir dessa máscara que seria a cultura quando assim convier. A culturanão é apenas uma questão de indumentária ou aparência, como Geertz expõe, não sepode descartá-la. Seria como imaginar os bastidores do teatro como ele coloca. Comose fosse possível trocar a bagagem cultural que trazemos, adquiridos através dosaspectos culturais, e

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Page 1: Cultura Homem

  Referências Bibliográficas: GEERTZ, Clifford.  A Interpretação das Culturas.Rio deJaneiro: Ed. Guanabara, 1989. (Cap.2 O impacto do Conceito de Cultura sobre oConceito de Homem )Os conceitos de homem e cultura são conceitos muito discutidos, não apenaspelos antropólogos, mas também por homens comuns, sociólogos, biólogos, etc.Clifford Geertz é um dos autores que também discute esse tema. Em seu livro A interpretação das Culturas,separa um capítulo para discutir a relação entre osconceitos de Homem e Cultura. Para conseguir fazer essa relação ele apresenta àsposições antagônicas a idéia de homem que ele defende, definindo posteriormentesua concepção de homem e sua relação com a cultura.Ele começa com um pequeno diálogo entre a obraO Pensamento Selvagem,deLévi-Strauss, onde o autor expõe a idéia de que a explicação científica não é apenasuma a redução do complexo ao simples, mas sim a troca de um complexo por outromais complexo ainda. Se tratando do estudo do homem, pode-se transformar essepensamento substituindo o simples por complexos mantendo a clareza da suasimplicidade. Geertz diz,

chega-se à possibilidade de substituir o enredado, masincompreensível, pelo enredado, mas compreensível ,a partir das conclusões de Lévi-Strauss. Ou seja, através da ordenação da simplicidade, é possível fazer esse estudo dohomem de maneira a compreendê-lo cada vez mais.Durante o período do Iluminismo, a discussão sobre o conceito de homemgirou em torno da simplicidade. Para o iluminista, o homem e a natureza formavamuma coisa só. Essa natureza seria regularmente, organizada, invariante e, novamente, simples. Eles acreditavam na idéia de que todos os homens teriam o mesmo cerne,independente dos sistemas em que os mesmos estivessem inseridos. Suascaracterísticas culturais seriam irrelevantes na definição de sua natureza, e ao invés decontribuir, teriam o papel de obscurecer o que seria verdadeiro no homem e poderiamser retiradas a qualquer momento.Já para a Antropologia Moderna, não existem homem não modificados. Não é possível se despir dessa máscara que seria a cultura quando assim convier. A culturanão é apenas uma questão de indumentária ou aparência, como Geertz expõe, não sepode descartá-la. Seria como imaginar os bastidores do teatro como ele coloca. Comose fosse possível trocar a bagagem cultural que trazemos, adquiridos através dosaspectos culturais, e simplesmente trocar por outros, como se realmente fosse algodescartável.Essas tentativas de entender o homem, para Geertz se baseiam no que elechama deconcepção estratigráfica,onde os fatores que compõe o homem (biológico,psicológico, social e cultural) seriam completos em si mesmo e irredutíveis. Tirando-se  a cultura, se encontrariam as regularidades estruturais e funcionais da organizaçãosocial. Depois, tirando-se o social teríamos aquilo que ele chama de necessidadesbásicas. Logo abaixo do social, encontra-se o psicológico. Sem ele seria possívelencontrar o Homem, fundamentalmente anatômico, fisiológico e neurológico, o que,dentro dessa concepção, seria o homem genérico. A concepção estratigráfica deestudar o homem baseia-se na busca por universais culturais, uniformidades empíricasas quais relacionadas com os outros níveis considerados mais importantes, e atravésde coisas parecidas seria possível entender o que é o homem.Para que seja possível que essa concepção estratigráfica seja possível de seralcançada é preciso cumprir três proposições. Primeiramente, é preciso que osuniversais propostos sejam substanciais, ou seja, é necessário que todas as sociedadespossuam os mesmos conteúdos, quando se trata desses universais, o que já tornainviável a primeira proposição, pois não se pode dizer que todas as culturas têm, porexemplo, o casamento como máxima universal da reprodução. O universal maisconcreto que existe é dizer que o universal da cultura é ser diferente. A segundaproposição diz que esses universais precisam estar em consonância com os quatroníveis da concepção estratigráfica, o que é difícil de ser

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conseguido, pois não é fácilconciliar cultura, social, psicologia e biologia. Já a terceira condição é que essesuniversais possam ser tidos como essenciais, mas voltando ao casamento, seria omesmo que dizer que o casamento seria necessário para alguma cultura onde nem aomenos se sabe da existência do casamento, como a instituição que vemos em nossasociedade.Mas, por que é necessário encontrar os universais culturais do homem? Seráque através desses universais será possível entender realmente o homem? E a maneiracomo eles são buscados? Talvez

pode ser que nas particularidades culturais dos povos nas suas esquisitices - sejam encontradas algumas das revelações mais instrutivassobre o que é ser genericamente humano .Mas ao fugir das particularidades, osantropólogos podem estar deixando escapar questões que podem ser extremamenterelevantes. Através da estrutura do homem, em sua individualidade é possível chegaràs universalidades do homem, se é que elas existem.Na busca da integração entre o homem e a cultura, deve-se entender que acultura é mais do que alguns padrões complexos de comportamento, mas um conjuntode mecanismos de controle para governar o comportamento humano através de uma simbologia cultural que estará lá quando o indivíduo nascer e ainda estará lá quandoele morrer, tendo ele a modificado ou não. Ou seja, a cultura é algo inerente aohomem, está em sua natureza ser um ser cultural, é um instrumento para aconvivência em sociedade. Essa concepção se opõe a idéia de um ponto zero, onde aevolução humana teria atingido sua máxima e só então a cultura teria sido inserida.Essa idéia do ponto zero é um tanto quanto complicada de ser imaginada, visto que  imaginar um homem sem cultura é pensar em um monstro, e não um ser genérico,assim como Geertz coloca.O homem de hoje é diferente dos seus antecessores, não só por causa dacultura, mas também da biologia. A cultura e a biologia caminharam juntas pra aexistência doHomo sapienscomo ele é hoje. Sua capacidade de aprender tudosobressai sobre sua capacidade de aprender alguma coisa apenas. O homem não érestritivo. Por mais que seja biologicamente semelhante é a cultura na qual ele estáinserido que determina quem ele será. Por exemplo, uma criança nascida nos EstadosUnidos, mas criada por uma família brasileira, terá mais características culturais doBrasil do que dos Estados Unidos, portanto, o fato dele ser americano, dele possuircaracterísticas biológicas daqueles que lá vivem, é relevante, mas o fato de outracultura ser sua base cultural interferirá no que ele acredita, no homem que ele será.Isso também serve para mostrar que a cultura possui o principal papel de orientação na evolução do homem.Um fator relevante a respeito dessa percepção de que a cultura orienta ohomem é a linguagem. O ser humano nasce com as condições biológicas queproporcionam a fala, mas a língua que ele aprenderá não é inata, não é inerente aohomem. Sobre isso Geertz afirma

Nossa capacidade de falar é inata certamente,nossa capacidade de falar inglês, porém, é sem dúvida cultural .Portanto, não existeuma natureza humana independente da cultura. Seria o mesmo que imaginar que osmeninos-lobos são o exemplo de homem genérico, que buscava o iluminismo.Sendo assim, uma posição possível a respeito desse assunto, um ponto de vistaconciliador, como pretende Geertz, da relação entre homem e cultura é não descartaros universais culturais e nem as particularidades das diversas culturas. Há uma relaçãointrínseca entre as duas posições. É possível encontrar esses universais através dasparticularidades. A cultura nos moldou como somos, e ainda o faz, mas de maneiradistinta, conjunta e individualmente.Portanto, além de cada cultura ser única, cada indivíduo dentro dessa culturatambém o é, mas de uma forma ou de outra, esse indivíduo é, acima de tudo, um sercultural.

Sem os homens certamente não haveria cultura, mas de forma semelhante emuito significativa, sem cultura também não haveria os homens .