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XII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo Outubro de 2012 Porto Alegre - RS - Brasil CRONOLOGIA DO PENSAMENTO URBANÍSTICO: A CIRCULAÇÃO DE IDEIAS SOBRE A CIDADE Paola Berenstein Jacques (UFBA) - [email protected] Doutora em História da Arte e da Arquitetura, professora da Faculdade de Arquitetura da UFBA. Thais de Bhanthumchinda Portela (UFBA) - [email protected] Doutora em Planejamento Urbano e Regional, professora da Faculdade de Arquitetura da UFBA. João Soares Pena (UFBA) - [email protected] Urbanista, mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA Adalberto Vilela (UFBA) - [email protected] Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA Osnildo Adão Wan-Dall Junior (UFBA) - [email protected] Arquiteto-Urbanista, mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA

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Cronologia do Pensamento Urbanístico - a circulação de ideias sobre a cidade

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XII Seminrio de Histria da Cidade e do UrbanismoOutubro de 2012Porto Alegre - RS - BrasilCRONOLOGIA DO PENSAMENTO URBANSTICO: A CIRCULAO DE IDEIAS SOBRE ACIDADEPaola Berenstein Jacques (UFBA) - [email protected] em Histria da Arte e da Arquitetura, professora da Faculdade de Arquitetura da UFBA.Thais de Bhanthumchinda Portela (UFBA) - [email protected] em Planejamento Urbano e Regional, professora da Faculdade de Arquitetura da UFBA.Joo Soares Pena (UFBA) - [email protected], mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBAAdalberto Vilela (UFBA) - [email protected] em Arquitetura e Urbanismo pela UFBAOsnildo Ado Wan-Dall Junior(UFBA) - [email protected], mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA 1 CRONOLOGIADOPENSAMENTOURBANSTICO:ACIRCULAODEIDEIAS SOBRE A CIDADE

ResumoACronologiadoPensamentoUrbansticouminstrumentoquesistematizae disseminainformaessobreoscamposprofissionaisedisciplinaresdaarquitetura, dourbanismoedopaisagismo.Oobjetivomaisimportantedestaplataformano simplesmente desenvolver uma linha de tempo em si, mas tambm chamar a ateno paraacirculaosistmicasistmicaemuitasvezessincrnicadedadosentre certos crculos urbansticos. A pesquisa auxilia o trabalho de reviso historiogrfica do urbanismonoBrasil,confluindoquestes,apartirdeummodoincisivo,arelevncia e/ou adequao de uso de noes como modelo de transferncia e/ou de uma taxa de influncia de uma viso da histria linear, evolutiva, icnica e fechada que continua a marcar um grande nmero de obras da rea. AbstractTheChronologyoftheUrbanThoughtisaninstrumentthatsystematizesand disseminatesinformationontheprofessionalanddisciplinaryfieldsofarchitecture, urbanismandlandscape.Themostimportantaimofthisplatformisnottosimply developatimelineitself,butalsotodrawattentiontothesystemiccirculationand often synchronous of data between certain urban circles. The research assists the work of historiographical review of the urbanism in Brazil, confluencing questions, from anincisivemode,therelevanceand/orfitnessoftheuseofnotionssuchas transference,modeland/ortaxinfluenceofalinear,evolutionary,iconicandclosed view of history that continues to mark out a great number of works of the area. Palavras-chave Pensamento urbanstico, Historiografia, Circulao de ideias. KeywordsUrban thought, Historiography, Circulation of ideas. 1 Recorte Contemporneo A Cronologia do Pensamento Urbanstico uma pesquisa constituda desde 1999 pela parceriadeduasequipesdepesquisa,umanaUniversidadeFederaldoRiode 2 Janeiro(UFRJ)eoutranaUniversidadeFederaldaBahia(UFBA),quetemcomo objetivoapreenderedivulgarasredescomplexasqueconstroemopensamento urbanstico.Paratal,foicriadaumaplataformaon-linequerenedadosreferentesa projetos,publicaes,eventosefatosconsideradosrelevantesparaareaeque subsidiamdiferentesleiturasdahistriaintelectualdoUrbanismo,de1800-2000.A pesquisavisa,portanto,contribuirparaumamelhorcompreensodacirculaodas ideias urbansticas e para a reviso historiogrfica do campo disciplinar. Apesquisainiciou-secomaelaboraodeumaantologiacrtica,ilustradae comentada,detextossobreoUrbanismodeprofissionaisestrangeirosebrasileiros, comsuasteoriaseprticas.Foramreunidasantologiasjpublicadasepercebeu-se que as antologias disponveis no campo eram organizadas em quatro tipos: temticas, cronolgicas,geogrficasoumistas.Asprimeirasantologiaseuropeiaseramemsua maioriatemticasougeogrficascomoaclssicaantologiadeFranoiseChoay (1965)queseparavaosurbanistasentreprogressistaseculturalistas.Aseparao temtica dos textos parecia um problema, uma vez que o que interessava presente pesquisaerajustamenteatensosincrnicaentreeles,entreasdiferentesideiase pressupostostericos,etambmasuacapacidadedecontaminaosistmicae transgeogrfica. Apartirdosanos1980,asantologiaspassaramasermajoritariamentecronolgicas, seguindo o modelo daquela organizada por Ulrich Conrads na Alemanha (1964), que ordenavaostextosapenaspelasdatasemquehaviamsidoeditados,semse preocupar com o tema abordado ou com o pas ou cidade que cada autor retrata ou de ondeproveniente.Aseparaodostextospeladatadesuasprimeirasedies evidenciava os debates travados a cada poca pela simples proximidade histrica dos textos e tornava-se fcil reconhecer respostas, emprstimos, reaes, confrontos etc. Assim,almdeclarificaracompreensodahistoricidadedasteorias,erapossvel mostrarmelhorosdissensos,contradieseambivalnciasdoqueasoutrasformas de ordenao, em particular aquelas temticas. Quanto presente pesquisa, foram, ento, reunidos textos internacionais e nacionais deautoreseprofissionaisquemarcaramahistriaintelectualdoUrbanismo, mostrando,sobretudo,acirculaodeideias,conceitoseexperinciasentreeles. Depoisdedecidirpelaformacronolgicaparaaantologia,estafoiorganizada,pela ordem:primeiroostextosinternacionaisquemaiscircularam,depoisostextos nacionais e outros textos internacionais que circularam menos, mas que tivessem sido lidosedifundidosnoBrasile,porfim,ostextosnacionaismenosconhecidosque circularamnoexterior.Asapresentaesbuscavamcontextualizarcadatexto selecionadodeacordocom:apocadaredao,ageografia(ondeeditado,a nacionalidadedoautor),otema,osdebatesdapocaedocontextogeogrfico,o prprio autor em sua poca e em seu contexto geogrfico, a obra do autor (terica e prtica),asuaimportnciacomrelaoaosdemaisdebatese/ouprojetos,otexto dentrodasuaobra(notciasbio-bibliogrficas),arelaocomoutrosautores,as contaminaes no Brasil e no exterior, ou seja, a circulao de suas ideias. Nestesentido,sentiu-seanecessidadedeconstruiraCronologiadessasideias (inicialmenteempapel)comoumsuportemetodolgicoparaaorganizaoda antologia.Comisso,percebeu-sequeosdiscursosnocampodoUrbanismo, particularmentenonossopas,muitasvezescirculammaisemformadeprojetos, planos,oueventos,doqueemtextospublicadoscomgrandecirculao(livrosou revistas). Entretanto, preciso pensar a produo de pesquisa historiogrfica de forma 3 maiscomplexadoqueotradicionalestudodosdiscursosatravsdasfontes documentais escritas. A Cronologia, pensada como uma ferramenta auxiliar para a compreenso das redes (ounuvens)decirculaodeideiasganhouautonomiaepassouaserumbancode dados,reunindoinformaeseilustraes,sendoalimentadocontinuamente.A Cronologiatornou-se,em2003,umsiteabertonainternet,combancodedados incorporado: a Cronologia do Pensamento Urbanstico.1 Ositeconfigura-secomoumportalabertodedivulgaodaspesquisasem andamento,reunindodadosdepesquisageradospelasequipesdasduas universidades,sendoaequipecariocaresponsvelpelaindexaodedadosentre 1800e1950eaequipebaianapelorecortecontemporneo,queenglobadesdeos anos1950aosdiasatuais.Busca-se,desta maneira,oferecernovosinsumospara o desenvolvimentodepesquisas,contribuindodiretamenteparaaformao,em diferentesnveis,dosprofissionaisdareae,indiretamente,paraaconsolidaodo campo do urbanismo, arquitetura e paisagismo a partir do estabelecimento de relaes com outras disciplinas afins. Dessa maneira, a pesquisa permite ao leitor visualizar o pensamento em rede (redes intelectuais tcnicas, artsticas, polticas) sobre o urbanismo para o fortalecimento do prprio campo no pas. 2 Metodologia de pesquisa ACronologiadoPensamentoUrbansticovemsendodesenvolvidacombaseno que seentendeaquiporcirculaodeideiason-line.Porsuavez,ainternetuma ferramentagiledebaixocustoparaprofessores,estudantesedemaisleitoresque cada vez mais usam a Cronologia como importante fonte de consulta. Sabe-se, ainda, queosmeioseletrnicosoferecemumasriedevantagensnadisponibilizaoem larga escala dos resultados de pesquisa, democratizando o acesso informao. OsuporteadotadoparaaapresentaodaCronologianositeumatabelaondeos dadossoorganizadostemporaleespacialmente.Estesdadospodemser selecionados(recortados)peloleitorapartirdasupressodaslinhas(continentes geogrficosoumacro-regiesbrasileiras)e/oucolunas(anoaano).Ocontedo tambmpodeserorganizadoapartirdosfiltroscorrespondentessdiversas categorias(projetos,publicaes,eventosefatosrelevantes)e/oueixosderelaes ouMarcadores(taiscomoHabitao,MovimentosSociaisUrbanos,Favelasetc.).O leitorpodecompararecruzarinformaesdeacordocomseusinteressesecriar recortesdecontedoprprios,cotejandoinformaes,identificandotemticas dominantesemumperodoououtro,visualizandoacirculaodeconceitosdos prprios autores, tcnicos, profissionais e artistas de uma regio a outra ou no interior deummesmopas.Ressaltamos,portanto,queatabelainicialdaCronologia apenas uma das formas de apresentao histrica. As ferramentasdescritasacima forampensadasparaevidenciaracomplexidadedas relaesentreosdados,namedidaemquepermitemestabelecerrecortesmuito distintos,queevidenciamdeterminadosDebates(1)eestimulamaproduode distintas Leituras (2). 1 Cf. Site da Cronologia do Pensamento Urbanstico: . 4 Inicialmente,ametodologiadotrabalhopriorizavaopreenchimentocronolgicodos dados. Cada pesquisador era responsvel por pesquisar um ano especfico e buscava obter o mximo de documentos e informaes desse perodo. Entretanto a relevncia dosdadosperdia-seentreostantosdadosdisponveis.Parapotencializaretornar maisabrangentesosentendimentossobreaspossveisarticulaesentreos Verbetesproduzidos,otrabalhodepesquisapassouaserorganizadopordcadas, prioritariamente, a partir das conexes existentes naquele recorte temporal. Nessa escala mais ampla, os dilogos, as filiaes ideolgicas, formais ou estticas se tornam mais evidentes, bem como as contraposies e/ou resistncias aos processos ensejadospelopensamentohegemniconocampo.Ospesquisadoresganharama possibilidadedeinvestigao,dentrodaCronologia,deeixosderelaesou,como chamamos, de Marcadores, que enfatizam as associaes entre os Verbetes. Nesse momento, o prprio trabalho de pesquisa passou a se articular com a perspectiva do pensamento em rede. Dopontodevistaterico-metodolgico,aCronologiaauxiliaotrabalhodereviso historiogrfica do campo, ao permitir questionar, de modo preciso, pelos dados que divulgaepermitecompararapertinnciae/ouadequaodousodenoescomo transferncia,modeloe/ouinfluncia:conceitosquesotributriosdeumaviso linear, evolutiva,icnicaefechadadehistriaequecontinuamabalizarumbom nmerodetrabalhosdarea,porcarnciadecotejamentosfinosedeinstrumentos que evidenciem seus contra-sensos e limites. Atualmente,apesquisaconsistenainvestigaoapartirdosseguintesMarcadores: Cartografias,Habitao,EstticaUrbana,Participao,Favelas,MovimentosSociais Urbanos,Megaestruturas,UtopiasUrbanas,CentrosUrbanos,PaisagemUrbanae Resistncias.Nessesentido,ospesquisadorespassaramatrabalharapartirde recortesderelaesquefavorecemoentendimentoeademonstrao dacirculao de ideias entre os Verbetes, ou o que chamamos de Debates. (1) Debates OsDebatessocriadostantoentreVerbetesdeummesmomarcadorcomoentre Verbetesdemarcadoresdistintos.Hpelomenostrsmaneirasdeevidenciaros debatesentreVerbetes:(A)AtravsdaleituradaTabelaCronolgicaPadro;(B) atravsdaleituradaTabelaCronolgicaselecionandomarcadores,criandoumfiltro do que interessa ao leitor; (C) atravs da aba Debates, existente em cada Verbete. (A)ParaexemplificaramodalidadededebatespelaleituradaTabelaCronolgica Padro, apresenta-se um debate apontado na Figura 1 que elucida a complexidade do pensamento que norteou a produo habitacional a partir dos anos 1950. Os exemplos vo desde os enormes conjuntos habitacionais propostos pelos modernos com idas e vindas, crticas etc. ao vazio contemporneo, que se contenta com a produo de condomniosfechadoseescassasintervenesemfavelas.Aleituradessaimagem evidencia a importncia dos debates entre os verbetes. 5 Figura 1 Tabela como resultado da busca sobre produo habitacional apartir dos anos 1950. Fonte: < http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/>. Em1953foirealizadooIXCongressoInternacionaldeArquiteturaModerna(CIAM), em meio s crticas do Team X aos dogmas dos CIAMs anteriores. Este grupo desistiu da elaborao da Carta do Habitat em contraponto Carta de Atenas, pois percebeu quecairianamesmaarmadilhadeestabelecermodeloshomogeneizadores.Apesar da crtica conhecida, em 1956, o projeto de Lcio Costa para o plano-piloto de Braslia evidencia um plano baseado nos princpios da Carta de Atenas. Em 1958, o austraco Hundertwasser aprofunda a crtica ao funcionalismo modernista em seu Manifesto do Mofo, no mesmo ano em que inaugurado no Rio de Janeiro o ConjuntoPedregulho,deAffonsoEduardoReidy,projetadopara2.400pessoas.O Pedregulhofoiapenasumdosnumerososedifcioshabitacionaisrealizadospor arquitetos entusiasmados com o conceito funcionalista da Ville Radieuse proposto por Le Corbusier. Em 1961, o urbanismo moderno voltou a ser severamente criticado por Jane Jacobs, autoradolivroMorteevidadasgrandescidades.Jacobspropsretomara observaodavidadasruas,ignoradapelosplanejadoresmodernosedefendia a diversidade dos usos de forma mais complexa e densa. A dcada de 1970 foi marcada pela demolio do conjunto Pruitt-Igoe. Concludo em 1956,concentrava2.870unidadesdispostasem33edifciosde11andares. Apenas algunsanosapssuainaugurao,japresentavasinaisdemconservao, vandalismo,crimeeumenormenmerodeunidadesdesocupadas. Oconjuntofoi considerado irrecupervel, sendo, por isso, completamente arrasado. Dez anos aps a icnica demolio do Pruitt-Igoe, era inaugurado na Itlia o Conjunto Corviale,umadasmaisradicaisexperinciasdehabitaojrealizadas.Isoladona periferia sul de Roma, o enorme edifcio visava integrar 1.246 unidades habitacionais, igreja,centrocomercial,cultural,postodesade,escolaeescritrios.Oconjuntofoi defendido como uma alternativa disperso da periferia. 6 Aindaem1982,registrou-seainauguraodacidadedeSeaside(EstadosUnidos). Com o esvaziamento do discurso e mesmo de uma prtica consistente relacionada ao temadahabitao,surgemcidades-cenrioperifricas,planejadasapartirdos princpiosdoNewUrbanism.Osmoradorespassaramaserselecionadosapartirde seusperfisscio-econmicos,visandosuperarosconflitosqueemergiramnas experincias passadas. Apresentadas como resposta violncia, ao caos das grandes cidadeseaocrescimentoexponencialdasfavelas,essasexperinciasrapidamente foramexportadasparaoutroslocais,aexemplodoBrasilcomseusjnumerosos Alphavilles. (B)ParaexemplificaramodalidadedeDebatesatravsdaleituradaTabela Cronolgica a partir da seleo de Marcadores, cria-se um filtro daquilo que interessa aoleitornasuapesquisa.OexemploaquidadopelocruzamentodosMarcadores Habitao eMovimentos Sociais Urbanos. NoBrasil, na dcada de 1960, perodo da DitaduraMilitar,osMovimentosSociaisreivindicamsuaposseemterrasurbanas ocupadaseadotaodessasdeinfraestruturaurbana.Ogovernocria(em1964)o BancoNacionaldaHabitao(BNH),masaoinvsdeatenderasdemandas populares,oBNHfinanciaumapolticaderemoodefavelasconsolidadas,muitas vezesdemodocriminoso,comonoincndioprovocadonafaveladaCatacumba (1967),econstriinmerosconjuntoshabitacionaisemtodooBrasilnasregies perifricas das cidades, como o Conjunto Habitacional Padre Manoel da Nbrega, em 1973,deJoaquimGuedes.Em1986hofimdoBNH,notendoestergosido capazdeatingiraprincipaldemandadehabitaesdestinadasaquelescomrenda de at 5 salrios mnimos. Em1987foicriadooFrumNacionaldaReformaUrbana(FNRU),queparteda iniciativa de movimentos populares, ONGs e instituies de pesquisa e associaes de classecomoobjetivodepromoveraReformaUrbana.OFNRUpautadoemtrs princpiosfundamentais:DireitoCidade,GestoDemocrticaeFunoSocialda CidadeedaPropriedade.Umadasmaioresconquistasdestemovimentoa aprovao,em2001,doEstatutodaCidade,queficaraparadopor12anosno Congresso. Noano2000,foipublicadoolivroAcidadedopensamentonico:desmanchando consensos,compostoportextosquediscutematendnciahegemnicado PlanejamentoEstratgico,amplamentedifundidaapsaexperinciadosJogos Olmpicos de Barcelona, em 1992, que entende a cidade do ponto de vista do negcio empresarial,docapital,comoimagemqueestvendaebuscaaconstruode consensos. Noanoseguinte,foisancionadaaLeiFederaln10.257,quecriaoEstatutoda Cidade,instrumentojurdicoqueproperegulamentarosartigos182e183da ConstituioFederalde1988,quetratamdaPolticaUrbana.Comoditoacima,o Estatutovemcontemplarreinvindicaespopularesevaideencontrocomaideia base do Planejamento Estratgico, ao ratificar o papel dos municpios no planejamento urbano (FERNANDES, 2002). Em 2003 foi criado o Ministrio das Cidades (MCidades) a fim de tratar da poltica de desenvolvimentourbano,contemplandosetoresdehabitao,saneamentoe transporte,osquaisnopossuammarcosinstitucionaisouregulatriosclaros (MARICATO,2007).Abuscadeconstruirumapolticadedesenvolvimentourbano nacionalarticula-secomosdemaisentesfederativos(estadoemunicpio),dos 7 podereslegislativoejudicirioedaparticipaopopular.Ainda,emsuacriao,o MCidades considerado como uma resposta s reivindicaes das lutas sociais pela Reforma Urbana, como citado acima. Anosmaistarde,em2009,foilanadooprogramahabitacionalMinhaCasa,Minha Vida(MCMV),cujametainicialpreviaaconstruode1milhodehabitaespara famliascomrendadeat10salriosmnimos.Entretanto,hcrticasaoprograma comrelaoineficciadaabrangnciadasfamliascomrendasat3salrios mnimos,oquerepresenta80%dodficithabitacionaldopas,ealocalizaodos conjuntoshabitacionaisdistantedoscentrosdascidades,caractersticasemelhante queles construdos pelo BNH. Opacotenoserefere,entretanto,matriaurbansticaedeixaa desejar em relao aos temas da habitao social (se considerarmos tudo o que avanamos conceitualmente sobre esse tema no Brasil). [...]Opacoteouviuespecialmenteosempresriosdeconstruoe parte das contradies que apresenta, como a incluso das faixas de renda situadas entre 7 e 10 salrios mnimos, derivam desse fato. O mercadoimobilirioprivadoproduznoBrasilumprodutodeluxo acessvel apenas a menos de 20% da populao (o que prprio do capitalismoornitorrnquico).Aclassemdia,excludadomercado, foi includa no pacote. O gigantesco problema habitacional (e urbano, portanto)notemsoluonombitodogovernofederalenem mesmo no mbito da federao (MARICATO, 2009). As relaes de dilogos, filiaes e contraposies entre os exemplos aqui pontuados nosomentecolocamemxequeapossibilidadedepensarmosnumaevoluo histricadotemadaHabitaoeMovimentosSociaisUrbanos,comosalientamas idas e vindas dos processos de circulao das ideias. Trata-se, portanto, de processos no-lineares,cujacomplexidadedeveserobjetopermanentedeinvestigaoede crtica. (C) Para exemplificar a modalidade de debates atravs da aba Debates, existente em cadaVerbete,utilizaremosoverbeteRemKoolhaaspublica"GenericCity",texto integrantedolivro"S,M,L,XL,de1995.AoclicarnaabaDebates,umasriede outrosverbetesaparecemlistadosnatela.Apartirdaleituradosverbeteslistados, podemosperceberostensionamentosdiretosentreoVerbetelidoanteriormentee outros Verbetes da Cronologia. EntreosDebatessugeridospelalistagemapresentadaapareceapublicaodo Planejamento Estratgico, Econmico e Social de Barcelona, em 1990, que instaurou um novo modelo de gesto urbana muito copiado, editado e tambm criticado em todo omundo,noapenaspelasmudanasfsicasnapaisagemevidaurbanas,mas principalmenteporseusefeitossociais.Muitosdessesefeitosaparecemcomo decorrentesdoespelhamentodagestopblicanagestoempresarialeda transformao do espao urbano em um parque temtico. Tensionandooquadroanterior,apareceMikeDaviscomapublicaodo"Cityof Quartz",tambmem1990,escrevendosobrecomofatoresqueimpulsionama produodosespaosurbanos,visandoincondicionalmenteolucro,poderiam conduzirformaode espaosurbanosvaziosdequalquerhumanidade,almde 8 discutir sobre os problemas causados por novas prticas e aspectos do espao urbano contemporneo nas cidades americanas. AindaemdebatediretocomatemticadasGenericCityedonovoModelo Barcelona, aparece o primeiro evento Arte/ Cidade com o tema Cidade sem Janelas, realizado em 1994 na cidade de So Paulo, discutindo os processos de reestruturao decidadesproduzidospormegaprojetosderedesenvolvimento,grandesinstituies culturais transnacionais, e a espetacularizao inerente a estes processos. DebatendocomessatendnciaaparecemnovamenteArantes,VainereMaricato (2000) com a publicao do livro, citado acima, "A cidade do pensamento nico". Em umdessesestudos,Vainertraaumaanlisesobreafabricaodoatual "pensamento nico" e alerta sobre a difuso do Planejamento Estratgico na Amrica Latinacomoapoiodeinstituieseconsultoresinternacionais,sobretudocatales, que prestam servios a outras cidades que desejem adotar o modelo do "sucesso" de Barcelona. (2) Leituras ComosDebates,diferentesassociaesemergiramdoprocessodepesquisae crticasdaequipeforamfeitasprpriametodologiadetrabalho,muitocentradana coleta de informaes. A partir disso foi criada a seo Leituras que contempla textos, painiseoutrascronologiasindividuaisproduzidaspelospesquisadoreseex-pesquisadores da Cronologia, dos ps-doutores aos bolsistas de iniciao cientfica. AsLeituraspermitemmostrarcomoospesquisadores,aoconstruiraCronologia, rompem com a prpria ordem cronolgica linear apresentada na tabela inicial. Com as Leiturasoprpriotrabalhodepesquisapassouasearticularcomaperspectivado pensamento em rede. Concluso Alinhacronolgicatraadapelapesquisapossibilita,juntamentecoma contextualizaonecessriadomomentopolticodopasedomundoemcada dcada,acompreensodosestudosurbansticos,seuprocessoesuaevoluo. Trata-se se uma sntese dos principais fatos e eventos que guiam esse estudo. A partir deumavisomaisabrangente,possvelaprofundar-senotemademaneiramais slida,levandosempreemconsideraoacomplexidadeeaapreensocrticados processos estudados. Porfim,busca-secompreenderoalcancedacirculaodeideias,vocabulrios, temas,planoseprojetosevislumbrarasredesintelectuaisdepensamentosobrea cidadeeoterritrio,comoelassocriadasecomoalimentamadinmicadestes fluxos, ou seja, procura-se contribuir para: o estudo da histria da profisso, do campo disciplinareprofissional,problematizandoaformaodeprofissionais (ensino/pesquisa)nareadourbanismo;oestudodahistriadasideiasnoBrasil, debatendoaquestodastrocasnacionaiseinternacionais,edosmecanismosde circulaodeideias;eparaoaprofundamentodahistriadourbanismonoBrasil, objetivando problematizar, inquerindo algumas questes ainda no desenvolvidas pela historiografia. 9 Referncas ARANTES,O.;VAINER,C.;MARICATO,E.ACidadedoPensamentonico: desmanchando consensos. Petrpolis: Vozes, 2000. LEME, M. C. (Org.). Urbanismo no Brasil. So Paulo: Ed. Studio Nobel, 1999. BASSUL,J.R.ReformaUrbanaeEstatutodaCidade.EURE (Santiago) v.28 n.84 Santiago set. 2002.Disponvelem: . Acesso em: 09 fev. 2012. 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