crise na siderurgia fecha 29 mil vagas em cerca de 2...

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1 Boletim 882/2015 – Ano VII – 27/11/2015 Crise na siderurgia fecha 29 mil vagas em cerca de 2 anos Só nos próximos seis meses serão 7.407 demissões e instituto que representa o setor não acredita em recuperação no próximo ano ANTONIO PITA, MARIANA DURÃO - O ESTADO DE S.PAULO RIO - Imersa no que considera a pior crise de sua história, a indústria siderúrgica nacional deverá demitir mais 7.407 pessoas nos próximos seis meses, somando 29 mil dispensas desde janeiro de 2014. O retrato é reflexo da fraca atividade econômica, que já levou ao fechamento de dezenas de unidades produtivas no setor. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas, não acredita em uma recuperação em 2016. A previsão é de uma queda de 4% nas vendas domésticas de aço e de 5,1% no consumo aparente no ano que vem, em cima de uma estatística já desfavorável em 2015. "Vivemos a pior crise de nossa história. O ano de 2016 está aí. Não há nada que sinalize recuperação do mercado interno. Será a repetição de 2015", disse o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, após divulgar as perspectivas para o setor ontem, no Rio. O diagnóstico foi apresentado na quarta-feira em Brasília à presidente Dilma Rousseff e a um grupo de ministros, entre os quais Joaquim Levy, da Fazenda. O setor pede que o governo tome medidas emergenciais, sendo a principal delas o aumento da alíquota do imposto de importação de aço. O alvo é barrar a entrada do aço vindo da China, acusada de práticas de comércio consideradas desleais. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, confirmou que o governo deve apresentar em até 15 dias uma definição sobre a sobretaxa. O levantamento do Aço Brasil revela que hoje 47 unidades produtivas de aço - dois altos-fornos, quatro aciarias, oito laminadores, quatro mineradoras, entre outros equipamentos - estão

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Boletim 882/2015 – Ano VII – 27/11/2015

Crise na siderurgia fecha 29 mil vagas em cerca de 2 anos Só nos próximos seis meses serão 7.407 demissões e instituto que representa o setor não acredita em recuperação no próximo ano ANTONIO PITA, MARIANA DURÃO - O ESTADO DE S.PAULO

RIO - Imersa no que considera a pior crise de sua história, a indústria siderúrgica nacional deverá

demitir mais 7.407 pessoas nos próximos seis meses, somando 29 mil dispensas desde janeiro de

2014. O retrato é reflexo da fraca atividade econômica, que já levou ao fechamento de dezenas de

unidades produtivas no setor. O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas, não acredita

em uma recuperação em 2016. A previsão é de uma queda de 4% nas vendas domésticas de aço e

de 5,1% no consumo aparente no ano que vem, em cima de uma estatística já desfavorável em

2015.

"Vivemos a pior crise de nossa história. O ano de 2016 está aí. Não há nada que sinalize

recuperação do mercado interno. Será a repetição de 2015", disse o presidente executivo do Aço

Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, após divulgar as perspectivas para o setor ontem, no Rio.

O diagnóstico foi apresentado na quarta-feira em Brasília à presidente Dilma Rousseff e a um grupo

de ministros, entre os quais Joaquim Levy, da Fazenda. O setor pede que o governo tome medidas

emergenciais, sendo a principal delas o aumento da alíquota do imposto de importação de aço. O

alvo é barrar a entrada do aço vindo da China, acusada de práticas de comércio consideradas

desleais. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro,

confirmou que o governo deve apresentar em até 15 dias uma definição sobre a sobretaxa.

O levantamento do Aço Brasil revela que hoje 47 unidades produtivas de aço - dois altos-fornos,

quatro aciarias, oito laminadores, quatro mineradoras, entre outros equipamentos - estão

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desativadas ou paralisadas no País, o que significou 21.786 demissões e 2.266 contratos de

trabalho suspensos desde 2014. A estimativa do instituto, que reúne grupos como Usiminas,

Gerdau, ArcelorMittal e CSN, é que em seis meses o total de equipamentos desativados salte para

71.

Efeito dominó . As siderúrgicas vêm sendo atingidas pela crise de setores consumidores como o

automotivo e de construção civil. Além disso, enfrentam um cenário marcado pelo excesso de aço

no mundo - em torno de 700 milhões de toneladas - e a pesada concorrência da siderurgia chinesa,

acusada de vender seu aço a preços abaixo de mercado e receber subsídios do governo. De

acordo com o Aço Brasil, o setor siderúrgico adiou US$ 2,2 bilhões em investimentos nos últimos

anos.

A maior expressão da crise do setor foi a recente decisão da Usiminas de fechar a unidade de

Cubatão, em São Paulo, a antiga Cosipa. A paralisação das atividades levará à perda de 2 mil

empregos diretos e pelos menos outros 2 mil indiretos na região.

A empresa já foi alvo de uma série de protestos."O fechamento Cubatão criou maior sensibilidade

(junto ao governo) por significar demissões.

O setor continua diante de uma grande dificuldade que precisa ser tratada no curtíssimo prazo sob

pena de agravamento", disse Lopes, admitindo que nada impede que as projeções para 2016 sejam

piores.

As siderúrgicas apostam nas exportações para ganhar fôlego, mas dizem que a alta do dólar não foi

suficiente para aumentar sua competitividade. Neste momento, as brasileiras vêm exportando sem

margem, caso da Usiminas, de Cubatão. Greve em fornecedor obriga cinco fábricas de montad oras a parar

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Com os 700 funcionários sem trabalhar há 15 dias, f abricante de forro para tetos de veículos paralisou , por falta de peças, a produção em unidades da GM, da To yota e da Ford; até agora, montadoras já tiveram de dispensar cerca de 11 mil empregados CLEIDE SILVA - O ESTADO DE S.PAULO

Uma greve que já dura 15 dias na empresa de revestimentos para tetos de veículos Intertrim, de

Caçapava (SP), já paralisou, desde quarta-feira, 25, cinco fábricas da Ford, General Motors e

Toyota por falta do componente. Outras fabricantes devem ser prejudicadas na próxima semana,

caso a paralisação persista.

O problema ocorre num momento em que a maioria das empresas está com a produção

desacelerada em razão da queda nas vendas, mas também afeta marcas que operam a plena

capacidade, como a Toyota.

Linha do modelo Fiesta, na Ford de São Bernardo do Campo, seguirá parada hojeA fabricante

japonesa está com a produção do sedã Corolla parada em Indaiatuba (SP) desde quarta-feira à

tarde. A unidade que produz o compacto Etios em Sorocaba (SP) também suspendeu atividades na

quinta-feira e nesta sexta-feira, 27. A empresa deixa de fabricar cerca de 620 automóveis por dia.

A Ford interrompeu na quinta-feira e a produção do Fiesta em São Bernardo do Campo (SP) e vai

repetir a medida nesta sexta-feira. Já a General Motors parou na quinta-feira a filial de Gravataí

(RS), que segue sem operar nesta sexta-feira, assim como a linha da picape S10, em São José dos

Campos (SP). Ao todo, foram dispensados cerca de 11 mil trabalhadores.

Briga sindical. A Intertrim, do grupo espanhol Antolin, tem 700 funcionários e fornece para todas as

montadoras, exceto a Fiat. “Atendemos 60% do mercado brasileiro de revestimento para tetos”, diz

o diretor de Recursos Humanos, Osvaldo Pires. Outra empresa do grupo, a Trintec, também produz

peças automotivas com tecidos.

O julgamento da greve pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) está previsto para ocorrer no dia 9

e, até lá, a empresa não pretende negociar com as lideranças do movimento.

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Pires afirma que há uma tentativa do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos de tomar

a representatividade dos trabalhadores da fábrica das mãos do Sindicato dos Têxteis de Taubaté,

que os representa desde o início das operações da empresa no País, em 1996. “Já tínhamos

fechado um acordo salarial com o Sindicato dos Têxteis, com reajuste de 10,33% e outros

benefícios, mas o pessoal dos Metalúrgicos interferiu e passou a comandar a greve, com apoio de

alguns poucos funcionários, fazendo barricadas na porta da fábrica e impedindo o pessoal de

entrar, inclusive com violência”, diz Pires.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antonio Ferreira Passos, diz que a empresa é uma

autopeça, “e a prova disso é que está parando várias montadoras”. Segundo ele, os trabalhadores

querem a mudança da representatividade porque os metalúrgicos têm melhores salários e mais

benefício.

Para a presidente do Sindicato dos Têxteis, Iranilda Andrade da Silva, o que está ocorrendo é uma

ilegalidade. “A representatividade dos trabalhadores é nossa e isso foi confirmado em audiência na

Delegacia Regional do Trabalho (DRT) na terça-feira”, diz. A empresa também obteve uma ordem

de interdito, que proíbe os manifestantes de impedirem a entrada de trabalhadores, mas isso não

está sendo cumprido. “Não entendo porque a polícia não consegue tirar esse pessoal de lá, mesmo

tendo essa ordem”, diz Iranilda. Segundo ela, o pessoal do sindicato opositor age com violência e

os trabalhadores estão com medo. “A entrada da fábrica virou um cenário de guerra”.

Pires afirma que, até terça-feira, a produção operava com 30% de sua capacidade, mas nos últimos

dias foi totalmente paralisada. “Pedimos para os trabalhadores ficarem em casa por questão de

segurança.”

(Fonte: Estado de SP dia 27-11-2015).

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