criminalidade heróica

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CRIMINALIDADE HERÓICA Paulo Francisco dos Santos 1 RESUMO: O presente artigo baseado em pesquisas é intitulado CRIMINALIDADE HERÓICA 2 e apresenta uma reflexão sobre criminalidade infanto-juvenil, ou seja, investigação do fenômeno social em relação aos atos infracionais cometidos pelo adolescente. Verificar-se como o sistema socioeducativo brasileiro tenta combatê-lo e insere um questionamento sobre o rumo deste problema social. SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. CRIME OU ATO INFRACIONAL? 3. QUESTÃO EM FOCO. 4. DIRETRIZES POSITIVADAS. 5. CONCLUSÃO. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 1.INTRODUÇÃO Trata-se superficialmente de um tema complexo e pertinente, pois historicamente registra-se a crescente inserção da adolescência às práticas de ofensas criminais gerando um grave problema social 3 que coaduna uma chamada aos diversos seguimentos da sociedade a um olhar crítico e colaborador para que o que está positivado como diretriz possa ser aplicado, bem como melhorado para preencher a lacuna que tem proporcionado o desvencilhar dos adolescentes a ações criminosas (atos infracionais) adequando-as a um modelo de vida. 1 Pastor; Escritor; Poeta; Teólogo formado pela Universidade Metodista e Bacharelando em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul em São Paulo. 2 Termo que designa a atratividade do adolescente ao crime (ato infracional) invertendo o ideal heroico social para a figura do criminoso como prospecto devida futura. 3 Os adolescentes envolvidos em práticas criminosas tem sido objeto de preocupação e estudo dentro do contexto de crescimento Urbano nos países historicamente industrializados (final do Séc. XIX) e no Brasil que este fenômeno ocorrido tardiamente (metade do Séc. XX), entretanto a preocupação com a reintegração ao convívio social nas duas últimas décadas toma dimensões nacionais mobilizando diversos seguimentos sociais sociedade civil, organizada ou não e o poder estatal pela grandeza destes acontecimentos que ganham status de problema social de larga escala.

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Artigo Sobre Ato Infracional

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Page 1: Criminalidade heróica

CRIMINALIDADE HERÓICA

Paulo Francisco dos Santos1

RESUMO: O presente artigo baseado em pesquisas é intitulado CRIMINALIDADE

HERÓICA2 e apresenta uma reflexão sobre criminalidade infanto-juvenil, ou seja,

investigação do fenômeno social em relação aos atos infracionais cometidos pelo

adolescente. Verificar-se como o sistema socioeducativo brasileiro tenta combatê-lo e

insere um questionamento sobre o rumo deste problema social.

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. CRIME OU ATO INFRACIONAL? 3. QUESTÃO EM

FOCO. 4. DIRETRIZES POSITIVADAS. 5. CONCLUSÃO. 6. REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS.

1.INTRODUÇÃO

Trata-se superficialmente de um tema complexo e pertinente, pois historicamente

registra-se a crescente inserção da adolescência às práticas de ofensas criminais

gerando um grave problema social3 que coaduna uma chamada aos diversos

seguimentos da sociedade a um olhar crítico e colaborador para que o que está

positivado como diretriz possa ser aplicado, bem como melhorado para preencher a

lacuna que tem proporcionado o desvencilhar dos adolescentes a ações criminosas (atos

infracionais) adequando-as a um modelo de vida.

1 Pastor; Escritor; Poeta; Teólogo formado pela Universidade Metodista e Bacharelando em Direito pela

Universidade Cruzeiro do Sul em São Paulo.

2 Termo que designa a atratividade do adolescente ao crime (ato infracional) invertendo o ideal heroico

social para a figura do criminoso como prospecto devida futura.

3 Os adolescentes envolvidos em práticas criminosas tem sido objeto de preocupação e estudo dentro do

contexto de crescimento Urbano nos países historicamente industrializados (final do Séc. XIX) e no

Brasil que este fenômeno ocorrido tardiamente (metade do Séc. XX), entretanto a preocupação com a

reintegração ao convívio social nas duas últimas décadas toma dimensões nacionais mobilizando

diversos seguimentos sociais – sociedade civil, organizada ou não e o poder estatal pela grandeza

destes acontecimentos que ganham status de problema social de larga escala.

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2.CRIME OU ATO INFRACIONAL?

Para o Jurista João Benedito de Azevedo Marques (143p.) “a violação da norma é

a contradição entre o comportamento dos homens e a ordem normativa do que deve ser”.

Já o Ato Infracional é a ação tipificada como contrária à lei exercida por um adolescente, o

qual é inimputável e merece tratamento diferenciado dos imputáveis.

O adulto que inflige à lei recebe pena, enquanto o adolescente uma medida

socioeducativa que em tese é uma inserção do poder Estatal para direcionar este ser

humano em formação a uma possível ressocialização.

3.QUESTÃO EM FOCO

Qual é o herói da criança? Qual é o herói do adolescente? Perguntas que seriam

facilmente respondidas se a inversão de valores não estivesse tão latente em nossa

sociedade que por ser um Estado Social Democrático de Direito reza em suas diretrizes

principais garantias e direitos inalienáveis para todos que vivem ou transitam em seu

território.

A antítese do que comumente é conhecido como herói tem invadido o âmago do

ser do adolescente que formalmente possui positivadas (em acordos internacionais4)

diretrizes de proteção e iniciativas nacionais5 que são reconhecidas como altamente

avançadas6 para realidade brasileira.

A ausência do Estado em reduzir as desigualdades7 abre caminhos para a

marginalização desses adolescentes em um mundo globalizado e consumista, com vistas

no vizinho que ascendeu financeiramente devido à inserção na delinquência, idealizando-

4 Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude

(Regras de Beijing) 1985. Princípios Orientadores de Riad – Princípios Orientadores das Nações Unidas

para a Prevenção da Deliquência Juvenil 1990. Convenção dos direitos da criança recepcionada pelo

decreto nº 99.710, de 21/11/90.

5 ECA – Estatuto da Criança e Adolescente. Lei nº 8.069 de 13/07/90 que inicia no parágrafo 1º dizendo:

Esta lei dispõe a proteção integral a criança e ao adolescente” e também com amplo apoio da CF –

Constituição da República Federal do Brasil em especial nos artigos 30º ,VI; 203º ; 211º ; 217º ; 227º . E

implementação do Sinase – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – em 2006 como fonte de

apoio as diretrizes socioeducativas previstas no Eca e sua aplicabilidade.

6 Apesar de ser elogiado internacionalmente o ECA e demais institutos são visivelmente tidos como

inaplicáveis dentro da realidade Brasileira (Sergio Adorno, 62 p.)

7 CF. Art. 3º , III

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se como mais um rei do crime8 que é facilmente recrutado pelo poder paraestatal.

Podemos também citar a colaboração dos filmes, novelas, seriados, jogos, músicas,

quadrinhos, desenho e internet que abrilhantam o crime com protagonistas que

preconizando a apologia delitiva que cria a fantasia (nos moldes hollywoodianos) trazendo

a tona práticas negativas que lhes causarão sanções.

Também é importante abordar a questão da família que acaba influenciando na

descaracterização do adolescente rumo à delinquência. De acordo com Antonio Luis

Serpa Pessanha (62, 63 p. LEVISKY) a base do ser humano é definida: “Quando alguém

é cuidado bem e de forma positiva”. Pode-se notar o real valor do poder familiar, pois o

individuo que cresce nesta protetora base da sociedade terá menos chances de

desenvolver tendências violentas ou criminosas.

Na realidade muitos adolescentes não sonham com o ideal heróico social9, mas em

incorporar ao seu destino a figura de criminosos de notada fama10 ou pelo menos de

regional referência.

É assim que a criminalidade heróica eclode no contexto social brasileiro.

4.DIRETRIZES POSITVADAS.

Segundo dados do IBGE do 2004 o Brasil contava com 25 milhões de adolescentes

na faixa de 12 a 18 anos, o que representa, aproximadamente 15% da população. O

Sinase nas páginas 17 à 19 aponta o contexto social brasileiro conturbado e com

disparates econômicos e as incidências de delinquência nas várias camadas da

população como uma situação crescente, mas as propostas anteriores com a recepção da

Convenção dos direitos da criança no decreto n , 99.710, de 21/11/90, o ECA lei n 8.069

de 13/07/90 tem positivado o direito formalmente, mas na prática tem servido como um

laboratório que identifica a questão de eficácia como um elemento essencial para

conduzir o novo rumo jurídico social para o futuro. Consta nestes dispositivos um modelo

de proteção e medidas socioeducativas que propõe recuperação, mas que esbarra numa

onda jovem11 prol criminalidade.

8 Personagem clássico dos quadrinhos Marvel Comics que demonstra poder e chefia no crime organizado.

9 A figura do pai ou mãe que faz o que é tido como correto pela sociedade ou simplesmente aquele que

prática o bem, que ajuda o próximo e luta contra o mal nos moldes das histórias em quadrinhos.

10 O contexto de fama no “submundo do crime” é o reconhecimento pela “chefia/administração”, demais

criminosos e os feitos realizados contra o Estado.

11 Sergio Adorno (70 p.) afirma que é tendência seguida por elevado número de jovens como uma espécie

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A sociedade tem por inúmeras vezes levantado a questão da redução da

maioridade penal, medidas mais rigorosas de detenção ou mesmo períodos mais longos

de internação para os adolescentes que cometem ato infracional, entretanto, o povo

brasileiro não está atento aos meios que desvencilham a realidade do problema.

Atualmente o ordenamento necessita de eficácia não só de cunho infanto-juvenil, mas de

diretrizes constitucionais ligadas claramente aos direitos individuais e sociais que são

garantidos na letra e negados cotidianamente a milhões por um misto de negligência,

comodismo e egocentrismo na esfera detentora do poder.

5.CONCLUSÃO(A espera de uma nova resposta jurídica)

Os institutos abordados têm proporcionado direitos e valores que antes não

contemplava tal público, porém temos na colocação de Sérgio Adorno (65 p.) perguntas

pertinentes ao avanço da criminalidade infanto-juvenil:

“Estes são carentes de proteção social e legal ou carentes de sanção penal

rigorosa?” ou ainda “Estes são autores ou vítimas da violência dos outros?”

Diante das questões expostas é lançada uma reflexão contundente: “As diretrizes

que formaram a positivação dos princípios que norteiam o cuidado com as crianças e

adolescentes, dentro da evolutiva realidade mudam seu foco em direção a medidas mais

severas como resposta ao intenso clamor popular. A somatização do desafio de conceber

parâmetros que protejam a população de adolescentes do poderio, quase ilimitado da

mídia e a tendência de crescimento da criminalidade heróica, incumbe à ciência jurídica a

difícil tarefa de amparar sem alienar o dever coercitivo da lei nos moldes constitucionais”.

de moda ou estilo de vida a ser imitado.

Page 5: Criminalidade heróica

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil. Brasil.1988

ECA – Estatuto da Criança e Adolescente. Brasil. Lei nº 8.069/90.

Convenção Sobre os Direitos da Criança. Brasil. Decreto nº 99.710/90.

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – Sinase/Secretaria Especial dos

Direitos Humanos. Brasília. DF. Conanda. 2006.

Regras Mínimas das Nações para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude

(Regras de Beijing). 1985.

Princípios Orientadores de Riad – Princípios Orientadores das Nações Unidas para a

Prevenção da Delinquência Juvenil. 1990.

LEVISKY, David Léo. Adolescência e Violência: Ações Comunitárias na prevenção. São

Paulo. SP. Casa Psi Livraria, Editora e Gráfica Ltda. 2007.

MARQUES, João Benedito de Azevedo. Marginalização: Menor e Criminalidade. São

Paulo. SP. McGraw-Hill do Brasil. 1976. 141 ss p.

PEREIRA, Tânia da Silva. Estatuto da criança e do adolescente: “Estudos Sócio-

Jurídicos”.Rio de Janeiro. RJ. Livraria e Editora Renovar Ltda. 1992. 67 ss p.

LOPES, Nicanor. Seminário Temático de Teologia Pastoral; Pastoral Urbana. Universidade

Metodista. São Paulo. SP. 2009.

PETROIANU, Andy. Autoria de um Trabalho Científico. Belo Horizonte. MG. Artigo

19/06/2001.

CRUZEIRO, Ana Laura Sica. Prevalência e fatores associados ao transtorno da Conduta

entre adolescentes:um estudo de base populacional. Pelotas. RS. Artigo 20/02/2008.

ADORNO, Sérgio. O adolescente e as mudanças na Criminalidade Urbana. São Paulo.

SP. Perspecitva. 1999. 62-72 p.