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Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

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Page 1: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares

sobre a América Latina

Page 2: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Plano da discussão

• Evolução política da América Latina entre 1990 e 2005

• Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados

• Características das Instituições e Sistemas de Combate ao Crime Organizado

• Reflexões Finais

Page 3: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Evolução política da América Latina entre 1990 e 2005 I

• Três características gerais da região: o avanço e a confirmação da opção pela democracia; o estabelecimento de uma agenda dominada pela liberalização econômica e a abertura comercial; e uma nova fase das relações com os EUA, em torno da agenda dupla de negociações comerciais e ênfase no combate às drogas e aos narcotraficantes.

• No entanto, as profundas crises econômicas e sociais, na região têm se traduzido, em termos políticos, por iniciativas que se querem inclusivas daqueles que foram sistematicamente excluídos das benesses do Estado, mas que não primam por seu caráter democrático. Os casos da Venezuela, da Bolívia e do Equador ilustram tal contradição.

Page 4: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Evolução política da América Latina entre 1990 e 2005 IV

• O fim da Guerra Fria e a substituição da luta anti-guerrilha pelo combate ao tráfico de drogas dominaram a agenda relativa a segurança, no âmbito das relações de segurança da América Latina com os EUA.

• A “securitização” e a ênfase no combate militar ao narcotráfico, como evidenciado no Plano Colômbia, não tem alcançado resultados positivos. As superfícies totais de coca plantadas continuam estáveis e as quantidades de drogas importadas pelos EUA, também. Ao mesmo tempo, criminalizaram-se a produção de coca e uma parte da população produtora de coca; o consumo de drogas na região cresceu; e se fortaleceram os grupos de traficantes de drogas, o que resultou no aumento da insegurança nas ruas das grandes metrópoles da região.

Page 5: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados I

• Na Argentina, a longa estabilidade que caracterizou os dois mandatos do Presidente Ménem foi rompida no curto mandato de seu sucessor. A crise chegou ao auge no final de 2001, quando o Presidente De la Rua renunciou e a presidência foi ocupada por três pessoas, no espaço de poucos dias. Desde então, restabeleceu-se a estabilidade política no país. Esta crise econômico-política foi acompanhada por uma crise de representação, da qual as principais expressões foram os chamados piqueteiros e o aumento da criminalidade -esta não atingiu os níveis de outros países da região, mas tem inquietado população e governantes.

Page 6: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados III

• No Chile, a década de 1990 iniciou-se com a retirada do General Pinochet do poder e a eleição do primeiro presidente civil, o presidente Aylwin, encerrando uma das mais violentas ditaduras do continente. A década foi marcada por uma transição muito lenta para a democracia plena. A transição foi lenta, assim como foi demorada, difícil, acidentada e incompleta a responsabilização dos militares pelos crimes cometidos durante a ditadura. Tal responsabilização militar foi um dos tabus políticos mais resistentes, mas outros caíram antes, como a retirada de Pinochet da política, sua inculpação pela justiça, ou ainda a eleição de dois presidentes socialistas, como o presidente Allende. Apesar disso –ou talvez por isso-, o Chile tem se destacado positivamente, na região, em termos de coesão social, de violência urbana, e de combate ao crime organizado.

Page 7: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados IV

• No México, a década de 1990 se iniciou com os primeiros movimentos de contestação ao PRI, e culminou com a primeira eleição de um presidente externo aos quadros do PRI, em 2000. Isto não se fez sem violência, e até um candidato à eleição presidencial pelo próprio PRI foi assassinado em 1994. O lugar do PRI na política Mexicana tem sido diminuído não apenas no plano federal e não apenas no poder executivo. Paralelamente, o México, que não é produtor de drogas, confirmou-se como a principal plataforma de entrada das drogas para os EUA. As conseqüências disso sobre a segurança pública foram importantes, e em particular, os grupos de traficantes de drogas se fortaleceram, se sofisticaram e passaram a representar uma verdadeira ameaça pública, penetrando polícias, Justiça e Legislativo.

Page 8: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados V

• Na Guatemala, a década começou com os primeiros sucessos da resistência pacífica, empreendida pelos movimentos indígenas –notadamente, com o prêmio Nobel da Paz conferido a Rigoberta Menchú, em 1992-, e culminou com a assinatura dos acordos de paz de Oslo, em 1996. O país começou a conhecer uma normalidade democrática neste período. No entanto, a democratização e pacificação política do país foram acompanhadas pela entrada e a crescente virulência das gangues de bairros, herdeiras diretas das gangues nos EUA, inclusive por vários de seus líderes terem sido expulsos dos EUA,e que trouxeram, ao país, novas razões para o medo e a insegurança. As gangues são tão poderosas que, ao contrário dos grupos de traficantes de drogas no México e na Colômbia, por exemplo, que adotam um low profile quando o poder público as confronta, as gangues adotam respostas desafiadoras, inclusive contra o próprio chefe de Estado.

Page 9: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados VI

• É na Colômbia onde se materializa melhor a substituição da luta contra a guerrilha pelo combate ao narcotráfico -as FARCs acabaram sendo classificadas pelos EUA como grupo terrorista. Tornou-se comum qualificá-las como “narco-guerrilha”. O mandato do presidente Pastrana foi simbólico da trajetória colombiana: começou com uma iniciativa de paz dirigida às FARCs e terminou com a assunção do Plano Colômbia. Desde então, e de maneira mais nítida e profunda com o presidente Uribe, há um combate frontal do Estado à chamada narco-guerrilha, mesmo se com Uribe, houve também um movimento paralelo de indulto às milícias de extrema direita chamadas AUC. No mesmo período, a criminalidade urbana diminuiu consideravelmente nas grandes cidades do país, graças ao esforço consistente, criativo e inter-setorial das prefeituras de Bogotá, Medelin e Cáli.

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Política, Estabilidade e Violência nos Casos Estudados VII

• Na Venezuela, a eleição do Presidente Chávez é um marco político no país, embora não tenha mudado o panorama da segurança urbana e dos índices de criminalidade no país, que permanecem destacadamente os mais altos da região. Golpista ele mesmo, o presidente Chávez acabou sofrendo uma tentativa de golpe, mas foi reconduzido ao poder graças ao apoio popular e de setores importantes das forças armadas. A normalidade democrática que caracterizava o país até a eleição de Chávez deixou de existir –apesar dos esforços do Chávez de manter algumas aparências- e as camadas populares estão muito mais presentes -e se sentem mais representadas-, no atual contexto.

• Houve também, desde a eleição de Chávez, uma crescente influência, para não dizer intromissão, da Venezuela nas questões dos países vizinhos, e em particular da Colômbia, da Bolívia e agora do Equador, com conseqüências para a região.

Page 11: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Características dos Sistemas de Justiça CriminalTabela

Comparativa

Colômbia

Guatemala

Venezuela

Argentina

Chile México

Homicídios (por 100k)

63-84 47 - 75.3 42 5,83 (Em 2005)1,8 (Em 2005)

 

Crimes problemáticos

Violações de DH; seqüestros; desaparecimentos; ameaças e deslocamentos

forçados; assassinatos; limitação a

liberdade de expressão;

narcotráfico; violência contra

estrangeiros.

Violações de DH; intimidação a

imprensa; crimes contra mulheres;

crimes de gangues vindas

dos EUA

Seqüestro; latrocínio.

Corrupção (políticos e

polícia). Desordem gerada por

Piqueteros em momentos de

crise econômica.

Violações de DH na época da ditadura. Acusações

de condescendências com

os agressores

do DH. Questão do "terrorismo" (criminalizaç

ão dos movimentos sociais) da

comunidade indígena

Mapuche no sul do país (ver relats.

HRW)

Narcotráfico. Disso derivando

corrupção de políticos e

militares (alto-escalão).

Violência contra mulheres na

cidade de Juarez. Avanços

das Maras (15.000

membros de Gangs)

No. de polícias

2 (duas) 1 (uma) 5 (cinco) 3 (três) 2 (duas)1 Tradicional e 1 anti-crime-organizado

SubordinaçãoPrefeitos e

governadoresMinistro de

GobernaciónVariável

Ministerio del Interior

Ministerio del Interior

(dependência

operacional). Mantém

dependência

administrativa do

Ministério da Defesa

Secretaria de Seguridad Pública +

Procuraduría General de la

República

Page 12: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Tabela Comparativa

Colômbia Guatemala Venezuela Argentina Chile México

Esfera de atuação

Local NacionalFederal;

DepartamentosNacional e Provincial

Nacional Nacional e Provinciais

Confiança na polícia

Em crescimento devido a

mudanças políticas

Baixa; polícia é pólo de violência

Baixa; criminalidade acontece à luz

do dia em áreas "seguras".

BaixaMais elevada

na AL.Baixa

Corrupção

Há relatos pela mídia do

envolvimento de autoridades

com FARCs

Sim; corrupção e corporativismo

dificultam investigação de

crimes.

 

Relatos constantes de corrupção de juizes (Caso

AMIA), compra de senadores

(1998) e escândalos

com o presidente

(1995)

Pouca, mas presente.

Altíssima

Violência política

   Sim,

especialmente contra oposição

Poucos relatosCaso dos Mapuches. Ver HRW

Cartéis X Paramilitares. Execuções são constantes

(recentemente com decapitação)

Principais vítimas

Militantes de DH;

Ativistas de DH; mídia.

  Poucos relatos

Indígenas. Militantes de

DH e jornalistas

(ainda havia uma lei de “censura branda” contra

aqueles que ofendiam

autoridades).

População Civil, Jornalistas (muitos mortos ao investigar corrupção) e Militantes de DH

(alguns executados, outros expulsos do país)

Page 13: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Tabela Comparativa

Colômbia Guatemala Venezuela Argentina Chile México

Legitimidade institucional

Em crescimento devido a

mudanças políticas

Fraqueza institucional.

Poder executivo compromete

independência dos demais

poderes

Após turbulência com a crise,

relativa estabilização

Muito estável

Instabilidade em bolsões controlados por

narcotraficantes (Baja Califórnia, Juarez, etc.) e por grupos insurgentes como Zapatistas e ELN

(Chiapas e Oaxaca)

Crime organizado

 

Gangues (narcotráfico;

corrupção; contrabando;

pirataria; seqüestro; roubo

de carros).

 Basicamente

máfias de corrupção

Pouco relevante

Pauta central da agenda da Seg. Pública. Crime permeia profundamente o governo, que tem lançado iniciativas

para buscar minar sua força.

Segurança privada

 

Empresas privadas; segurança informal;

justiceiros.

  Sem relatos Sem relatos Sem relatos

Investigação policial

Comprometida pelo

envolvimento de autoridades.

Comprometida pela corrupção

Comprometida pela polícia técnica e

judiciária não-efetivas.

Comprometida pela corrupção envolvimento

de autoridades (caso AMIA)

Eficiente, exceto no

caso dos DH, embora HRW

considere Chile o país com melhor

situação atual e maiores avanços

Ineficiente devido a pouca capacitação e "coleguismo".

Liberdade de imprensa

Comprometida. Comprometida.

Comprometida por perseguição governamental e lei de 2005

Alta.

Antes limitada por

lei que protegia

autoridades de "calunia".

Agora, lei abolida.

denunciem corrupção. Jornalistas são perseguidos

caso

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Drogas, Política, Crime Organizado, Corrupção: esboço de descrição comparativa I

Tabela Compar

ativa

Colômbia

Guatemala

Venezuela

Argentina

Chile México

Brasil

Crime Organizado com Drogas

SIM NÃO NÃO NÃO NÃO SIMSIM

Corrupção Pública

SIM SIM SIM SIM NÃO SIM SIM

Monopólio dos Meios de Coerção pelo Estado

NÃO NÃO NÃO NÃO SIM NÃONÃO

Privatização Societária dos Meios de Coerção

SIM SIM NÃO NÃO NÃO SIMSIM

Aparelhamento do Estado ou sua captura político-corporativo-ideológica (confundindo-se governo com Estado)

NÃO NÃO SIM SIM NÃO SIM

SIM E NÃO

Privatização dos Meios de Coerção Induzida pelo Estado

SIM NÃO SIM NÃO NÃO NÃO

NÃO

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Drogas, Política, Crime Organizado, Corrupção: esboço de descrição comparativa II

Tabela Compar

ativa

Colômbia

Guatemala

Venezuela

Argentina

Chile MéxicoBrasil

Segurança Pública é um major issue na percepção social

SIM Sim  SIM SIM SIM SIM

SIM

Segurança Pública é um major issue segundo patamar alcançado pelos dados criminais

SIM  SIM SIM NÃO NÃO SIM

SIM

Há enclaves de soberania ou perda de controle territorial por parte do Estado?

SIM SIM SIM NÃO NÃO SIM

SIM

Os enclaves se associam à dinâmica das drogas?

SIM SIM/NÃO NÃO ---- ---- SIM/NÃOSIM

A tendência nacional em curso sinaliza ampliação do controle democrático, estabilização ou agravamento?

AMPLIAÇÃO DO

CONTROLE DEMOCRÁTIC

O

ESTABILIZAÇÃO DO

QUADRO ATUAL

AGRAVAMENTO DO

QUADRO ATUAL

AMPLIAÇÃO DO

CONTROLE DEMOCRÁTIC

O

AMPLIAÇÃO DO

CONTROLE DEMOCRÁTIC

O

ESTABILIZAÇÃO DO

QUADRO ATUAL

AGRAVAMENTO

Page 16: Crime Organizado, Drogas e Corrupção Pública – Observações Comparativas e Preliminares sobre a América Latina

Conclusão

• Patrimonialismo e capitalismo moderno convivem e se redefinem mutuamente

• Perda de lugar estratégico degrada o patrimonialismo em crime organizado

• Economia política das drogas potencializa o processo

• Oportunidade: vitalização da democracia envolve construção da ordem (segurança e legitimidade) com acesso menos desigual a justiça.