criação e gestão de grupos de pesquisa: história do grupo de sistemas da fea-rp

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O Grupo de Sistemas da FEA-RP é resultado de intensa e contínua dedicação, de certa teimosia e insistência, de muito trabalho, muita amizade e algumas discórdias. As pessoas foram passando pelo grupo, algumas permaneceram, outras brilharam intensamente por algum tempo, suas histórias de vida se entrelaçando com a história de uma equipe em evolução, cujo porto seguro se manteve em torno do Prof. Dante Pinheiro Martinelli. Uma figura carismática que continua arrebatando seguidores por onde passa, seja devido ao vasto conhecimento e experiência, seja pelo carinho dedicado a cada projeto ou pessoa; geralmente pelos dois motivos.Este texto é um projeto do Grupo de Sistemas, para o qual emprestei minha humilde habilidade de escrita, a convite do grupo, sendo um trabalho coletivo, contando com o tempo e relatos dos envolvidos. Era uma ideia antiga que merecia atenção e dedicação, com o objetivo de registrar a história do mesmo, mostrando sua evolução desde a idealização até a situação atual. Prof. Dante tinha esse projeto reservado para que algum membro envolvido desde o início pudesse concretizá-lo. No entanto, com os problemas de disponibilidade isso não foi possível. Assim, recebi o convite para registrar essa evolução a partir do meu ponto de vista, das minhas experiências com o grupo que, apesar de recentes (a partir do final do ano de 2010), foram muito intensas.O processo de construção do texto teve duração de sete meses, envolvendo sessenta e quatro pessoas que colaboraram com seus depoimentos a respeito de seu envolvimento, mesmo que indireto, com o Grupo de Sistemas. Alguns desses depoimentos foram colhidos em conversas bastante pessoais e agradáveis, em que tive o prazer de aprender muito e absorver o máximo possível as emoções e experiências relatadas. Outros depoimentos ocorreram em conversas por videoconferência, permitindo reduzir a distância inclusive entre diferentes continentes. Entretanto, por limitações de tempo muitos colaboraram respondendo algumas perguntas por escrito. Todos os roteiros de questões foram montados especificamente para cada entrevistado, de acordo com o envolvimento do mesmo.Além dessas colaborações, tive o apoio do Prof. Dante P. Martinelli que contribuiu com seu próprio depoimento, além de fornecer materiais para pesquisa, ajudar na localização e no contato com os entrevistados, trabalhar na revisão de datas e da escrita do texto. O mérito de insistir na concretização desse projeto é todo dele.Meus agradecimentos aos colaboradores que me confiaram um pouco de suas memórias e sentimentos, algumas vezes distantes e outras vezes bastante pessoais, para que esse registro fosse possível. Agradeço também pela oportunidade de conhecer e poder aprender com tantas pessoas interessantes, estudantes com grandes sonhos, adultos com tantas realizações e seniores com a juventude no olhar cujos ensinamentos tive a bênção de receber. Tentei transmitir o máximo neste texto para que os leitores não estejam em desvantagem, mas afinal, sou a maior beneficiada.Mayara SegattoJunho de 2014

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    Criao e gesto

    de grupos de

    pesquisa

    Histria do Grupo

    de Sistemas da

    FEA-RP/USP

    Por Mayara Segatto

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    Fica autorizada a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquermeio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada afonte.

    FICHA CATALOGRFICA

    Segatto, Mayara

    Criao e gesto de grupos de pesquisa: histria do Grupo deSistemas da FEA-RP. Ribeiro Preto, 2014.111 p.

    Texto eletrnico publicado em 2 de junho de 2014, noendereo: http://www.isssbrasil.usp.br/paginas/

    1. Grupo de Pesquisa. 2. Gesto. 3. Enfoque Sistmico.

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    Lista de ilustraes

    Ilustrao 1. As alunas em momento de confraternizao: Ana Paula Almeida, SuselaineAlves, Melissa Cavalcanti, Karina dos Santos e Lucila Meirelles ................................. 47Ilustrao 2. As ex-alunas Ana Paula Almeida, Isabela Oliveira, Melissa Cavalcanti,

    Karina dos Santos, Suselaine Alves e Valria Beluomini Cotrin ................................... 48Ilustrao 3. Prof. Dante Martinelli e a aluna Karina dos Santos em Santiago, Chile ... 52Ilustrao 4. Prof. Dante Martinelli e a aluna Ana Paula de Almeida em Santiago, Chile........................................................................................................................................ 52Ilustrao 5. As ex-alunas Ana Paula de Almeida e Melissa Cavalcanti em Hull, ReinoUnido .............................................................................................................................. 53Ilustrao 6. A ex-aluna Melissa Cavalcanti na Universidade de Hull, Reino Unido .... 53Ilustrao 7. Melissa Cavalcanti e Ana Paula Almeida durante viagem pela Inglaterra 54Ilustrao 8. Ana Paula de Almeida e Prof. Dante Martinelli durante lanamento dolivro de negociao ......................................................................................................... 56Ilustrao 9. Flvia Ghisi, Prof. Dante Martinelli, Matheus Cnsoli, Nathalia Gandolfi e

    Fernanda Ferrari em uma das visitas a empresas ........................................................... 57Ilustrao 10. Lanamento do livro de viso sistmica (da esquerda para a direita:Alfredo Machado Neto, Francismar Monteiro, Omar Donaires, Carla Ventura, MelissaF. Cavalcanti Bandos, Vernica de Paula e Dante Martinelli) ....................................... 58Ilustrao 11. Lanamento do livro de negociao (da esquerda para a direita: AlfredoMachado Neto, Paulo Carlim, Flvia Ghisi, Dante Martinelli, Melissa F. CavalcantiBandos, Talita Mauad Martins, Sheila Garcia e Helenita Tamashiro) ........................... 59Ilustrao 12. Prof. Dante Martinelli no lanamento do livro de negociao ................ 59Ilustrao 13. A ex-aluna Mayara Segatto no jantar de encerramento do congresso daISSS em 2011 ................................................................................................................. 62Ilustrao 14. Membros da comisso organizadora e palestrantes internacionais (CharlesFranois, Omar Aktouf e J. R. de Raadt) no 2 CBS na FEA-RP .................................. 64Ilustrao 15. Alunos e docentes do Uni-FACEF participando do 2 CBS na FEA-RPcom as ex-alunas, professoras Melissa Cavalcanti Bandos e Carla Ventura .................. 65Ilustrao 16. Prof. Alfredo Machado Neto e Profa. Melissa Cavalcanti Bandos no 4CBS na Uni-FACEF ....................................................................................................... 67Ilustrao 17. Profa. Melissa Cavalcanti Bandos e seus alunos de graduao e ps-graduao do Uni-FACEF participando do 8 CBS em Poos de Caldas ...................... 68

    Lista de figuras

    Figura 1. Estrutura do Grupo de Sistemas ...................................................................... 76

    Lista de tabelas

    Tabela 1. Publicaes do grupo em cada linha de pesquisa at fevereiro de 2014 ........ 45

    Lista de quadros

    Quadro 1. Diferenas entre os enfoques cartesiano e sistmico ..................................... 12Quadro 2. Bolsas de iniciao cientfica de projeto do grupo junto ao CNPq ............... 38Quadro 3. Bolsas de iniciao cientfica especficas de membros do grupo .................. 39

    Quadro 4. Metas e resultados ......................................................................................... 44Quadro 5. Edies do Congresso Brasileiro de Sistemas ............................................... 66

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    Quadro 6. Bolsistas que trabalharam no grupo ............................................................... 73

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    Lista de Abreviaturas e Siglas

    ALAS - Asociacin Latinoamericana de SistmicaCBS - Congresso Brasileiro de SistemasCDM - Cadre pour Developpement de Management

    CLADEA - Congresso Latino-Americano de Escolas de AdministraoCNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e TecnolgicoCodage - Coordenadoria de Administrao GeralCORS - Center for Organization StudiesEESC - Escola de Engenharia de So CarlosFAPESP - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So PauloFEA - Faculdade de Economia, Administrao e ContabilidadeFEA-RP - Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro PretoFFCLRP - Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro PretoFIA - Fundao Instituto de AdministraoFIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    Fundace - Fundao para Pesquisa e Desenvolvimento da Administrao, Contabilidadee EconomiaGESI - Grupo de Estudio de Sistemas IntegradosHEC - cole des Hautes tudes CommercialesISSS - International Society for the Systems SciencesMBA - Master of Business AdministrationPIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciao CientficaPME - Pequenas e Mdias EmpresasPUC - Pontifcia Universidade CatlicaSEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas EmpresasSSM - Soft Systems MethodologyTGS - Teoria Geral de SistemasUFLA - Universidade Federal de LavrasUFS - Universidade Federal de SergipeUFSC - Universidade Federal de Santa CatarinaUnB - Universidade de BrasliaUni-FACEF - Centro Universitrio de FrancaUNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do ParanUNITINS - Universidade do TocantisUSP - Universidade de So PauloVSM - Viable System Model

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    Sumrio

    Apresentao .................................................................................................................... 81. Os desafios de um grupo de pesquisa ..................................................................... 102. Gesto de grupos de pesquisa ................................................................................. 12

    2.1. Abordagem sistmica ......................................................................................... 122.2. Gesto sistmica de grupos ................................................................................. 153. Onde tudo comeou ................................................................................................ 173.1. Um estranho no mundo de sistemas ................................................................... 173.2. Unio de mundos distintos: em busca da prtica na teoria ................................. 194. Escrevendo a histria .............................................................................................. 204.1. De estudante a educador ..................................................................................... 204.2. Fundando a FEA-RP ........................................................................................... 214.3. Influncias diretas e indiretas ............................................................................. 234.4. Programa Professor de Referncia ..................................................................... 265. De Grupo-laboratrio a Grupo de Sistemas ........................................................... 28

    5.1. Misso e Valores ................................................................................................ 375.2. Questes financeiras ........................................................................................... 375.3. Objetivos e resultados ......................................................................................... 405.3.1. Reciprocidade ................................................................................................. 455.3.2. Atividades ....................................................................................................... 495.3.3. Publicaes ..................................................................................................... 555.4. O grupo, o CBS e a ISSS .................................................................................... 605.5. Uma rede de contribuies ................................................................................. 705.5.1. Influncias e expectadores .............................................................................. 705.5.2. Membros e ex-membros ................................................................................. 715.5.3. Bolsistas .......................................................................................................... 736. O grupo hoje .......................................................................................................... 756.1. Subgrupos e membros ........................................................................................ 766.2. As pedras no caminho ......................................................................................... 796.3. Atividades e projetos em andamento .................................................................. 816.4. O que vem depois? ............................................................................................. 817. O Grupo de Sistemas da FEA-RP: um grupo sistmico? ....................................... 82REFERNCIAS ............................................................................................................. 88APNDICE A................................................................................................................. 91APNDICE B ................................................................................................................. 98APNDICE C ............................................................................................................... 102

    APNDICE D............................................................................................................... 107APNDICE E ............................................................................................................... 108

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    Apresentao

    O Grupo de Sistemas da FEA-RP resultado de intensa e contnua dedicao, de

    certa teimosia e insistncia, de muito trabalho, muita amizade e algumas discrdias. Aspessoas foram passando pelo grupo, algumas permaneceram, outras brilharamintensamente por algum tempo, suas histrias de vida se entrelaando com a histria deuma equipe em evoluo, cujo porto seguro se manteve em torno do Prof. DantePinheiro Martinelli. Uma figura carismtica que continua arrebatando seguidores poronde passa, seja devido ao vasto conhecimento e experincia, seja pelo carinhodedicado a cada projeto ou pessoa; geralmente pelos dois motivos.

    Este texto um projeto do Grupo de Sistemas, para o qual emprestei minhahumilde habilidade de escrita, a convite do grupo, sendo um trabalho coletivo, contandocom o tempo e relatos dos envolvidos. Era uma ideia antiga que merecia ateno ededicao, com o objetivo de registrar a histria do mesmo, mostrando sua evoluo

    desde a idealizao at a situao atual. Prof. Dante tinha esse projeto reservado paraque algum membro envolvido desde o incio pudesse concretiz-lo. No entanto, com os

    problemas de disponibilidade isso no foi possvel. Assim, recebi o convite pararegistrar essa evoluo a partir do meu ponto de vista, das minhas experincias com ogrupo que, apesar de recentes (a partir do final do ano de 2010), foram muito intensas.

    O processo de construo do texto teve durao de sete meses, envolvendosessenta e quatro pessoas que colaboraram com seus depoimentos a respeito de seuenvolvimento, mesmo que indireto, com o Grupo de Sistemas. Alguns dessesdepoimentos foram colhidos em conversas bastante pessoais e agradveis, em que tive o

    prazer de aprender muito e absorver o mximo possvel as emoes e experinciasrelatadas. Outros depoimentos ocorreram em conversas por videoconferncia,

    permitindo reduzir a distncia inclusive entre diferentes continentes. Entretanto, porlimitaes de tempo muitos colaboraram respondendo algumas perguntas por escrito.Todos os roteiros de questes foram montados especificamente para cada entrevistado,de acordo com o envolvimento do mesmo.

    Alm dessas colaboraes, tive o apoio do Prof. Dante P. Martinelli quecontribuiu com seu prprio depoimento, alm de fornecer materiais para pesquisa,ajudar na localizao e no contato com os entrevistados, trabalhar na reviso de datas eda escrita do texto. O mrito de insistir na concretizao desse projeto todo dele.

    Meus agradecimentos aos colaboradores que me confiaram um pouco de suasmemrias e sentimentos, algumas vezes distantes e outras vezes bastante pessoais, para

    que esse registro fosse possvel. Agradeo tambm pela oportunidade de conhecer epoder aprender com tantas pessoas interessantes, estudantes com grandes sonhos,adultos com tantas realizaes e seniores com a juventude no olhar cujos ensinamentostive a bno de receber. Tentei transmitir o mximo neste texto para que os leitores noestejam em desvantagem, mas afinal, sou a maior beneficiada.

    Mayara SegattoJunho de 2014

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    1. Os desafios de um grupo de pesquisaOs grupos de pesquisa no Brasil e no mundo esto sujeitos s mudanas

    constantes no ambiente acadmico e social, que exigem uma atuao mais sistmica,compreendendo seu contexto e seus relacionamentos com as diferentes partes

    envolvidas no ambiente interno e externo.As mudanas no ambiente acadmico so diversas, tais como: exigncia pormais publicaes, transdisciplinaridade, insero social, intercmbio com outros pases,acompanhamento do estado da arte dos temas pesquisados, realizao de atividades deextenso, formao de mais e melhores pesquisadores, formao de profissionais maisqualificados e flexveis, entre tantas outras. Nesse contexto, o pensamento sistmico

    pode contribuir ampliando o foco dos grupos de pesquisa, possibilitando atuao epostura mais sistmicas, a partir da compreenso do sistema em que esto inseridos demaneira mais completa.

    As universidades esto cada vez mais sendo gerenciadas como negcios,utilizando conceitos relacionados a este contexto, como eficincia, controle de

    desempenho e auditoria (SOUSA; NIJS; HENDRIKS, 2010). Muitas organizaesde pesquisa das universidades exigem melhor desempenho de seus pesquisadores porcobranas de publicaes e buscam maneiras de gerenciar seus recursos eficazmente,direcionando o foco dos investimentos.

    No Brasil, isso pode ser observado atravs dos critrios utilizados para avaliaodos programas de ps-graduao. Segundo a Coordenao de Aperfeioamento dePessoal de Nvel Superior (CAPES, 2011a; 2011b), rgo responsvel pela avaliao,um dos critrios avaliados a insero social, abrangendo aspectos como: insero eimpacto regional ou nacional do programa, integrao e cooperao com outros

    programas com vistas ao desenvolvimento da pesquisa e da ps-graduao evisibilidade ou transparncia dada pelo programa sua atuao. Os critrios corpodiscente, teses e dissertaes e produo intelectual avaliam as publicaes e oimpacto delas em relao natureza da produo e o veculo, j que tm melhoravaliao as publicaes de artigos em peridicos internacionais e de livros.

    Os novos critrios regulatrios da ao acadmica so elementos quedeterminam a necessidade da incorporao de aspectos sistmicos aos grupos de

    pesquisa. Esses critrios implicam as mltiplas dimenses avaliadas no desempenho dosgrupos, como formao de novos pesquisadores, metas de publicaes, ateno a rgosde fomento, monitoramento do estado da arte dos temas pesquisados, entre outras. Almdisso, os grupos de pesquisa se deparam com a necessidade do constante monitoramentoda atividade de grupos internacionais, visando constituio de vnculos e incentivo de

    oportunidades de intercmbio de conhecimento e de pesquisadores.As universidades, centros de ensino e pesquisa, tambm sofrem a influncia dastransformaes sociais, deparando-se com a necessidade de atuao mais sistmica paramaior vnculo entre os estudos e tais transformaes. A combinao de pesquisa bsicae aplicada nas publicaes de um grupo especfico consolida seu potencial de pesquisa edesenvolvimento. Logo, a avaliao do impacto para a academia derivado do vnculocom a indstria deve evitar generalizaes entre os campos de pesquisa e deve serrealizada a partir de uma viso mais sistmica dessas interaes. Apesar dos diversosdesafios enfrentados na interao com a atividade prtica, compartilhandoconhecimentos, a atuao acadmica fundamental para a inovao e para a criao dosconhecimentos necessrios ao desenvolvimento econmico e social.

    Como a maioria dos grupos de pesquisa est associada a universidades eprogramas de ps-graduao, sua contribuio para o desempenho de tais programas

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    clara. No Brasil, os grupos de pesquisa so responsveis por grande parte daspublicaes cientficas, sendo que no ltimo censo realizado pelo Conselho Nacional deDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq, 2011a; 2011b) em 2008, eles foramresponsveis pela publicao de 278.480 artigos completos de circulao e por 24.239livros por pesquisadores doutores no perodo de 2005 a 2008. Houve um aumento de

    262% na quantidade de publicaes de artigos pelos grupos de pesquisa desde o censode 2000, quando foram publicados 76.960 artigos completos de circulao pelos gruposcadastrados. Os grupos de pesquisa constituem-se na fonte bsica e fundamental de

    produo de conhecimentos e formao de recursos humanos em pesquisa.Alm disso, em relao ao ensino, os grupos so cobrados por maior integrao

    entre diferentes reas. Diversos autores alertam para o isolamento das disciplinas noensino e a consequente falta de capacidade de viso do todo dos profissionais formados,enfatizando a necessidade de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade etransdisciplinaridade (GRAY, 2011; MARTIN; HEPPARD; GREEN, 2011; PARKES;BLEWITT, 2011). Nesse contexto, a gesto, evoluo e, inclusive, a sobrevivncia dosgrupos de pesquisa tornam-se cada vez mais desafiadoras aos seus lderes, mentores e

    membros.

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    2. Gesto de grupos de pesquisaA abordagem sistmica pode contribuir ampliando o foco dos grupos de

    pesquisa, possibilitando a compreenso do sistema em que esto inseridos de maneiramais completa. Com essa viso ampliada e ao mesmo tempo aprofundada, torna-se

    possvel a identificao dos pontos fortes e dos maiores obstculos evoluo do grupo,j que o pensamento sistmico contribui para a tomada de conscincia frente realidade. A partir dessa abordagem, o mundo ideal confrontado e comparado com omundo real em que o mesmo atua em suas diversas dimenses, permitindo aadaptao da postura, da estrutura e dos objetivos da equipe.

    2.1.Abordagem sistmicaA abordagem sistmica proporcionou uma nova viso da cincia e maneira de

    interpretar a realidade. O bilogo alemo Ludwig von Bertalanffy reconhecido como ofundador da Teoria Geral de Sistemas (TGS) (BERTALANFFY, 2012;

    CAVALCANTI; PAULA, 2012; DONAIRES, 2012; HOLANDA, 2001), concebida em1937 e culminando no livro General Systems Theory, em 1968 (CAVALCANTI;PAULA, 2012).

    Bertalanffy et al. (1976) explicam que a abordagem de sistemas leva a umaperspectiva macro, mais global, considerando os elementos que compem um fenmenoa partir de suas partes at a totalidade, reconhecendo as subdivises e seufuncionamento, para um exame das finalidades para as quais o fenmeno funciona. Namesma direo, a viso sistmica ou abordagem sistmica definida por Cavalcanti ePaula (2012) como a viso do todo, em vez de utilizar de uma anlise especfica das

    partes, sendo uma alternativa metodologia analtica empregada em problemas simples.Apesar de os esforos pioneiros da anlise de sistemas terem nascido das cinciasfsicas e biolgicas, a teoria dos sistemas promissora como um modelo alternativo(KOGETSIDIS, 2011) para estudar a sociedade, uma vez que possui a capacidade delidar com as relaes dinmicas entre as partes (BERTALANFFY et al., 1976).

    Holanda (2001) diferencia o enfoque sistmico do analtico pela tcnica desoluo dos problemas: o enfoque analtico, ao solucionar um problema complexo, tentadividi-lo para compreender as partes; enquanto o enfoque sistmico busca compreendero problema como um todo relacionando as partes, para s ento buscar uma soluo. Oquadro 1 mostra as caractersticas dos dois enfoques.

    ENFOQUE CARTESIANO (analtico) ENFOQUE SISTMICO

    Isola e se concentra nos elementos.Unifica e se concentra na interao entre oselementos.

    Enfatiza a preciso dos detalhes. Enfatiza a percepo global.Modifica uma varivel de cada vez. Modifica grupos de variveis simultaneamente.Valida fatos por meio de prova experimental dentrodo corpo de uma teoria.

    Valida fatos por comparao do comportamento domodelo com a realidade.

    Utiliza modelos precisos e detalhados, pormpouco teis para explicar realidades complexas.

    Utiliza modelos que so insuficientes para seremusados como bases de conhecimento, mas teis emdeciso e ao.

    Apresenta uma aproximao eficiente quando asinteraes so lineares e fracas.

    Apresenta uma aproximao eficiente quando asinteraes so no-lineares e fortes.

    Conduz a educao para a segmentao edisciplinariedade.

    Conduz a educao para a interdisciplinaridade.

    Quadro 1. Diferenas entre os enfoques cartesiano e sistmicoFonte: adaptado de HOLANDA (2001).

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    Com os estudos na rea, foi criada em 1954 a Sociedade da Teoria Geral dosSistemas, cujo nome foi mudado para Sociedade de Pesquisa Geral dos Sistemas(Society for General Systems Research) posteriormente e, atualmente, conhecidocomo Sociedade Internacional para as Cincias dos Sistemas (International Society

    for the Systems Sciences - ISSS). Na criao, o objetivo era impulsionar o

    desenvolvimento dos sistemas tericos aplicveis a mais de um campo do conhecimento(BERTALANFFY, 2012).A natureza da teoria dos sistemas consistia na tentativa de uma interpretao e a

    criao de uma teoria cientfica em assuntos nos quais anteriormente no existiam, comgeneralizao mais alta do que a das cincias especiais. Apesar de diversos exemplos defrmulas e equaes matemticas aplicveis a campos distintos, os isomorfismos dossistemas aparecem tambm em problemas no quantificveis. Um exemplo so asisomorfias entre os sistemas biolgicos e as comunidades animais ou tambm associedades humanas. So caractersticas da organizao quer de um organismo vivoquer de uma sociedade noes como as de crescimento, diferenciao, ordemhierrquica, dominao, controle, competio, etc. e a teoria dos sistemas capaz de

    tratar dessas matrias (BERTALANFFY, 2012).Essa abordagem foi elaborada para atender uma srie de demandas:

    generalizao, simplificao, integrao, otimizao, avaliao, planejamento e controle(MARTINELLI; VENTURA, 2012). Beer (1994b) explicita a complexidade da rederesultante das mudanas sociais e tecnolgicas, em que coisas pequenas tornam-semaiores, coisas simples tornam-se mais elaboradas e a velocidade aumentasignificativamente. Alm disso, a taxa de mudana aumenta e a natureza da mesma fazcom que itens separados cada vez mais sejam conectados.

    A gesto tambm est ficando mais complexa, desde o gerenciamento que oprprio indivduo faz de si mesmo e todo tipo e tamanho de agregao at a gesto daTerra. Recebendo interferncias mais complexas de todos os outros nveis, acomplexidade se prolifera, impossibilitando a gesto por meio das ferramentasexistentes (BEER, 1994b). Trata-se de uma transformao nas categorias bsicas de

    pensamento e, de alguma maneira, tratamos com complexos, com totalidades ousistemas em todos os campos de conhecimento, exigindo-se novas conceituaes,novas ideias e categorias, centralizadas na definio de sistema, de uma forma ou deoutra (BERTALANFFY, 2012).

    H diversas definies para o conceito de sistema. De acordo com Bauer (1999,p. 44, grifo do autor) um sistema um conjunto de elementos em interao. Damesma forma, para Bertalanffy et al. (1976, p. 1, grifo do autor) um sistema se definecomo um complexo de elementos em interao, interao essa de natureza ordenada

    (no fortuita). Para Beer (1994b, p. 7, traduo livre), um sistema consiste de umgrupo de elementos relacionados dinamicamente no tempo de acordo com algum padrocoerente. Cavalcanti e Paula (2012) definem sistema como as partes, ou elementos deum todo, coordenados entre si, que funcionam como uma estrutura organizada.Donaires (2012, p. 16), por sua vez, define um sistema como um conjunto deelementos independentes em interao, com vistas a atingir um objetivo. De acordocom Bertalanffy (2012), h um consenso entre os tericos dos sistemas de que esseconceito no se limita s entidades materiais, mas pode ser aplicado a qualquertotalidade constituda por componentes interatuantes.

    Conforme Abraham (2011) resume, as ideias principais da TGS incluem oholismo, o organicismo e os sistemas abertos. Para Cavalcanti e Paula (2012),

    elementos importantes extrados do conceito de sistema incluem: objetos (elementos dosistema), relacionamentos (fronteiras que ligam os objetos), atributos (caractersticas

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    dos objetos e dos relacionamentos), ambiente (o que est fora do sistema) e o todo(partes agregadas formando um todo que se torna uma estrutura independente, com

    papel distinto das partes). Donaires (2012) aponta os trs elementos bsicos essenciaisna conceituao de sistemas: subsistemas, relaes e propsito. Os subsistemas soelementos que compem o sistema, possuindo uma existncia e uma identidade prprias

    que os destacam como partes individuais. As interaes ou relaes dinmicas entre oselementos podem impor restries aos subsistemas, reduzindo a complexidadepotencial, ou podem tambm levar sinergia, fazendo surgir propriedades emergentesno sistema que no existiam nos subsistemas individualmente. O terceiro aspectoenvolve o objetivo ou propsito do sistema, revelando fatos decisivos acerca da suaidentidade (DONAIRES, 2012).

    A concepo sistmica considera o mundo em termos de relaes e deintegrao, isto , em funo da inter-relao e interdependncia dos fenmenos. Ossistemas so totalidades integradas, organizados formando estruturas de mltiplosnveis, cada nvel dividido em subsistemas; portanto, organismos vivos, sociedades eecossistemas so sistemas (CAPRA, 2006).

    O fato das simples leis do crescimento demonstrarem aplicao s entidadessociais e a aplicao fundamentada dos modelos tericos, em particular o modelo dossistemas dinmicos, abertos e adaptativos aos processos histricos, indicam que os

    princpios dos sistemas se aplicam a ambos esses campos. Apesar disso, importanteatentar ao fato de que modelos espelham apenas certos aspectos ou facetas da realidade(BERTALANFFY, 2012).

    Nesse sentido, foi proposta a teoria dos sistemas abertos, uma das contribuiesmais significativas da TGS, baseada no fato de que o organismo um sistema aberto,isto , um sistema em que so estabelecidas trocas com o ambiente (DONAIRES,2012). Um sistema fechado se nenhum material entra nele ou sai dele. Um sistemaaberto aquele em que h importao e exportao de matria, realizando trocas como ambiente, com construo e demolio dos materiais que o compem(BERTALANFFY, 2012). A base do modelo do sistema aberto a interao dinmicade seus componentes. De acordo com Bauer (1999, p. 45),

    [...] um sistema aberto um conjunto de partes interdependentes e empermanente interao, constituindo dessa forma um todo sinrgico, voltado consecuo de propsitos dados, e interdependente tambm em relao a seumeio ambiente, sendo tanto por ele influenciado como influenciando-o.

    Conforme Donaires (2012), as caractersticas distintivas dos sistemas abertosincluem: entradas e sadas (trocas de material, energia e/ou informao entre sistema eambiente); transformao (lei, regra ou processo que explica como, a partir dasentradas, o sistema produz as sadas); estados (os estados internos do sistema, ou a

    memria, interferem no processo de transformao); fronteiras (separao entre o queest no domnio do sistema e tudo o mais que h no ambiente); e ambiente (tudo queextrapola as fronteiras do sistema). Cavalcanti e Paula (2012) tambm listam as

    propriedades dos sistemas abertos: inter-relao e interdependncia dos seus objetos eatributos; holismo (todo mais que a soma de partes interdependentes); busca pelaconsecuo dos objetivos; entradas e sadas; processo de transformao; entropia(energia para trabalho til); regulao; hierarquia; diferenciao; e equifinalidade.

    Ao tratarem sobre a teoria dos sistemas aplicada, Bertalanffy et al. (1976)enfatizam que uma anlise sistmica auxiliaria na soluo de problemas, sugerindo anecessidade de maior planejamento, gastando mais tempo e energia no uso mais efetivode recursos, e levantando questes-chave no incio do processo, e no posteriormente.Alm disso, a varivel de limite tambm apontada como beneficiria da abordagemgeral de sistemas. Ela considera a permeabilidade de limite, em uma tentativa de

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    calcular como as foras externas exercem influncia sobre os aspectos internos epolticas de um sistema.

    A tomada de decises tambm pode ser beneficiada pela anlise sistmica, umavez que a viso do indivduo sobre a natureza da sociedade determina em grande parte algica pela qual ele toma suas decises. Dessa forma, a partir de uma perspectiva dos

    sistemas, so considerados conjuntos de dados diferentes e mais ricos, chegando essncia do problema, gerando uma variedade de alternativas e pesando a melhordeciso na viso do conjunto.

    Em resumo, a abordagem sistmica pode representar uma alternativa para agesto de grupos de pesquisa de maneira mais efetiva, aumentando as possibilidades desobrevivncia e evoluo produtiva dos mesmos.

    2.2.Gesto sistmica de gruposAo buscar aplicar ferramentas e conceitos do pensamento sistmico aos grupos

    de pesquisa e sua gesto, com o objetivo de auxili-los em sua evoluo e

    sobrevivncia, alguns aspectos podem ser considerados:

    1) Estrutura:a) Formao interdisciplinar com membros de diferentes reas e diferentes

    nveis, com diferentes vises de mundo;b) Estrutura no centralizada no lder (sem relao de dependncia);c) Participao de cada membro em alguma atividade dentro do grupo, seja na

    gesto, pesquisa ou ensino, de maneira proativa;d) Atuao como um processo, com entradas, processamento e sadas

    (transformao); alm disso, com feedback contnuo, positivo e objetivo(alm da preocupao com ofeedbackdos envolvidos/participantes);

    e) Estruturao em subsistemas, com pessoas interagindo entre si ecomunicao efetiva nas interaes;

    f) Grupo evolutivo;g) Formalizao das responsabilidades e lideranas;

    2) Gesto do grupo:a) Possuir uma identidade de propsito: trabalho sistematizado, contnuo e

    coordenado;b) Sustentabilidade: financeira (a partir de suas atividades, seja com recursos de

    fomento ou pela prestao de servios), estrutural (renovao da equipe,manuteno dos relacionamentos) e em termos de gerao de conhecimento

    (o conhecimento gerado funciona como material para novas pesquisas);c) Tomada de decises baseada em regras claras, definidas e comunicadas;d) Possuir planejamento (formal ou informal): estratgico, para determinar os

    prximos passos no longo prazo, analisando os rumos do grupo; e de curtoprazo, com acompanhamento de prazos, atividades delegadas, publicaesem andamento, estrutura do grupo e seus participantes;

    e) Considerar permanentemente a questo tica no processo do grupo seja empesquisa, na participao e postura dos membros ou na gesto;

    f) Desenvolvimento de habilidades essenciais aos pesquisadores e participantes(professores, alunos, sociedade);

    g) Saber lidar com as diferentes vises de mundo dos envolvidos;3) Ensino, Pesquisa e Extenso:

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    a) Trabalhos integrados em pesquisa dentro do grupo (Iniciao Cientfica,Trabalhos de Concluso de Curso de Graduao, Dissertaes de Mestrado,Teses de Doutorado, Projetos de Ps-Doutorado etc.);

    b) Trabalhos sistmicos, que analisem os problemas de pesquisa de maneirasistmica, considerando diversos aspectos e relacionamentos entre as partes

    do sistema analisado;c) Reunies para discusso dos trabalhos e contribuies mtuas, gerandosinergia entre os projetos;

    d) Preocupao com a disponibilizao do conhecimento adquirido (sociedadee prprio grupo) em atividades de Extenso, como realizao de eventos,

    programas de capacitao, cursos, portal de conhecimento na internet etc;e) Utilizao de recursos e resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo

    em atividades de ensino, visando inclusive formao de novosparticipantes e profissionais com viso sistmica;

    f) Busca de aprendizado e atualizao constante do conhecimento, sugerindonovos temas de pesquisa dentro do interesse do grupo;

    4) Relacionamentos com o ambiente:a) Trabalhos que objetivam atender demandas da sociedade, no apenas

    publicao e demanda cientfica (incluindo trabalhos com outras instituies,como consultorias, treinamentos e cursos);

    b) Busca de solues para as causas razes dos problemas sociais e prticos,mesmo que indiretas;

    c) Estabelecimento de parcerias com outros grupos, outras universidades,centros de pesquisa e ensino, empresas, indivduos interessados, associaese rgos do pas e estrangeiros;

    d) Estabelecimento da ligao efetiva entre o mundo sistmico e o mundo real.A utilizao dessa lista de aspectos na criao e manuteno de um grupo de

    pesquisas no basta para que as caractersticas sistmicas de estrutura e gesto sejamincorporadas. Todos os processos envolvidos na existncia de um grupo, de suaidealizao, criao e crescimento, at a sua consolidao e manuteno, esto sujeitos auma srie de fatores e variveis, influncias internas e externas que podem dificultar oufacilitar sua sobrevivncia e evoluo. Alm disso, um grupo que possui taiscaractersticas no necessariamente garante a consolidao e o sucesso. Entretanto, elas

    podem auxiliar na obteno desse resultado.O Grupo de Sistemas da FEA-RP um exemplo real em que se observam

    diferentes etapas e condies ao longo de sua evoluo, podendo ser analisado a partir

    das caractersticas da abordagem sistmica apresentadas com o objetivo de compreendera dinmica envolvida na gesto de um grupo de pesquisa e as possibilidades demelhoria. Para tanto, necessrio compreender a histria desse grupo, desde a suaidealizao.

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    3. Onde tudo comeouApesar da personalidade prtica e da falta de inclinao, durante a juventude,

    para a carreira no ambiente acadmico, o professor Dante Martinelli, to respeitadodocente da Universidade de So Paulo (USP), se rendeu ps-graduao stricto sensu

    devido necessidade de atualizar seus conhecimentos, decidindo estudar maisprofundamente um tema no mestrado. Com pais docentes na mesma universidade, seesperava que o filho tivesse recebido essa influncia em casa.

    O pai, Dante Angelo Osvaldo Martinelli, professor aposentado da Escola deEngenharia de So Carlos (EESC), seguiu a carreira acadmica desde sua graduao noscursos de engenharia e de matemtica. A me, Julieta Pinheiro Martinelli, tambm

    professora aposentada da EESC, afirma que no tinha essa vocao e acabou sendolevada para a profisso com o tempo. Segundo seus pais, apesar de no apresentarvocao para a docncia propriamente dita, sempre foi muito forte o sentimento de

    preocupao com o prximo em Dante, que buscava auxiliar as outras pessoas em suasnecessidades desde muito novo. Dante sempre foi muito preocupado com as outras

    pessoas, muito consciente das necessidades alheias e buscava ajudar quando sentia quepodia. Quando criana ele j tinha um sexto sentido muito aguado para notar aspessoas ao seu redor (depoimento da me de Dante, Julieta Pinheiro Martinelli).

    Apesar do envolvimento com questes tericas e pesquisas em diversosassuntos, a prtica sempre foi uma preocupao constante para ele, buscando geraraplicaes de todos os seus trabalhos tericos. Por isso, durante seu curso de mestrado,em 1981, Dante iniciou sua atividade como docente na parte prtica da disciplina dePoltica de Negcios na Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade (FEA)da USP, desenvolvendo jogos de empresas. Essa experincia inicial foi essencial paraestimular seu interesse pela rea acadmica, j que permitia o desenvolvimento de seulado prtico, mesmo como docente.

    Ento, sua dedicao ao ensino passou do mero prazer pela disseminao doconhecimento adquirido, para o sonho de formar profissionais melhores, tantoteoricamente como, e principalmente, de maneira prtica. Seu objetivo era contribuir

    para a formao de profissionais mais bem preparados para atender s demandas domercado por solues adaptativas e flexveis.

    O professor defende que o conhecimento em administrao, sua principal reade atuao, no gerado apenas nas universidades e salas de aulas, mas principalmentenos locais de trabalho, seja em qualquer negcio ou setor, em casa, ou apenas vivendo ocotidiano (MARTINELLI; MARTINELLI, 1991). J era, nessa poca, clara sua

    preocupao com a multiplicidade, a variedade, a incerteza e tambm com a

    flexibilidade necessria para lidar com esse contexto:De maneira muito geral, pode-se dizer que qualquer situao numa empresa determinada por tantas influncias que nunca se pode prever totalmente osefeitos. Esta no a menor das razes pelas quais so necessriosadministradores, que devem conscientemente reconhecer a situao domomento, avali-la e, luz dos acontecimentos mais recentes, decidir eatuar racionalmente. [...] Na capacidade de agir luz de situaes novas masguiando-se por regras gerais de comportamento reside a adaptabilidade realde uma empresa (MARTINELLI, 1992, p. 161).

    Com a complexidade resultante das mudanas sociais e tecnolgicas, a gestoest ficando mais complexa em todos os nveis, exigindo profissionais mais bem

    preparados por meio de novas abordagens. Essa a postura assumida pelo Prof. Dante

    em seu trabalho como educador.3.1.Um estranho no mundo de sistemas

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    Apesar de ser reconhecido como um grande conhecedor do tema, Dante no tevecontato direto com a teoria sobre a abordagem sistmica at o ano de 1991, quandorecebeu o convite de sua me para submeterem, juntos, um artigo para a rea temticade negcios do Congresso Internacional de Sistemas, organizado pela International

    Society for the Systems Sciences(ISSS). Assim, me e filho uniram seus conhecimentosgerando um artigo sobre as duas geraes de estudiosos, das quais eram representantes.Ela, especialista em viso sistmica, havia comeado seus estudos tericos nessa reaaproximadamente 25 anos antes, tentando, posteriormente, aplicar a teoria prtica. J ofilho havia tomado o caminho contrrio, comeou aplicando a viso sistmicainconscientemente em sua vida, seu modo de pensar, seu trabalho empresarial e suasaulas, tentando explicar a evoluo e resultados de seus cursos a partir do posteriorestudo da teoria nesse tema (MARTINELLI; MARTINELLI, 1991).

    Essa parceria gerou a primeira publicao sobre viso sistmica da carreira doProf. Dante no ano de 1991 no importante congresso anual da ISSS. Ela foi originada

    por uma primeira preocupao de integrao da viso sistmica na atividade de ensino

    deste pesquisador na USP, uma vez que ele analisa sua experincia como aluno degraduao frente aos diferentes docentes que teve na poca.

    Na viso da professora Julieta, seus cursos evoluram significativamente a partirdo momento em que ela iniciou o curso de sistemas, ampliando suas perspectivas e suaviso. Com isso, ela percebeu a falta de participao dos alunos quando tratava deassuntos relacionados exclusivamente ao pensamento racional em suas aulas. Ao tratarde problemas reais, foi percebido que a imprevisibilidade inserida no processo quandoa influncia humana participa do mesmo. Ela, ento, organizou seus pensamentos e suamaneira de agir, ampliando a participao dos alunos, j que passou a ver cada cursocomo um sistema adaptativo e evolutivo. Os cursos tornaram-se mais participativosquando sua postura em relao a eles mudou (MARTINELLI; MARTINELLI, 1991).

    Por outro lado, Dante analisa seu aprendizado da poca em que era aluno degraduao nos cursos de Economia e Administrao na FEA, constatando que pdeaprender mais e melhor com os professores que possuam uma viso sistmica dosalunos, das disciplinas, dos cursos, da universidade, dos sistemas sociais em que esta seinsere e etc, tendo conscincia de que cada todo, em seus diversos nveis, fazia partede uma perspectiva maior, em permanente mudana e troca entre as partes. Tais

    professores possuam uma postura mais amigvel e criavam um ambiente deaprendizado baseado na liberdade e respeito mtuo. Mesmo que no dominassem com

    proficincia todos os contedos de cada disciplina, podiam transmitir seusconhecimentos de forma mais clara e efetiva se comparados aos melhores especialistas

    no tema, que tinham postura autoritria frente aos estudantes, anulando a criatividadedestes (MARTINELLI; MARTINELLI, 1991).A partir de ento, Dante passou a estudar a teoria de sistemas e suas possveis

    aplicaes s situaes reais. O pai de Dante constituiu uma influncia indiretafundamental, embora no fosse estudioso do tema, incentivando e auxiliando o filhocom questes mais prticas. J sua me contribuiu com ideias e opinies ao longo desua carreira, envolvendo-o na rea de sistemas e permitindo, mesmo que indiretamente,que ele percebesse que possua essa capacidade de pensar e agir sistemicamente. Seu

    pensamento era sistmico, ele fazia tudo de maneira inter-relacionada, emboraintuitivamente. Dante no sabia que pensava sistemicamente (depoimento da me deDante, Julieta Pinheiro Martinelli).

    Dante, como professor, um educador, preocupado em contribuir com aformao terica, prtica e pessoal de seus alunos. possvel notar que a excelncia no

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    ensino espelhada na carreira de seu pai, enquanto a inquietude, a busca por novasalternativas uma herana de sua me. Eu sofria muito para ministrar aulas, nogostava. At que a rea de sistemas me fez perceber que o processo no precisava serautoritrio, unidirecional. Quando percebi o que me incomodava, minha postura mudou.A partir de ento passei a guiar os alunos e permitir que eles contribussem durante as

    aulas, sem imposies (depoimento da me de Dante, Julieta Pinheiro Martinelli).Dante claramente adotou a mesma postura em sua carreira.A influncia do conhecimento terico e prtico de seus pais, combinado com sua

    prpria habilidade para o pensamento sistmico, foram os principais fomentadores paraque Dante reconhecesse tal habilidade em si mesmo e os benefcios possveis dessaviso de mundo, contribuindo tanto para a gerao de conhecimento como para aformao de profissionais mais bem preparados ao longo de sua carreira. E o orgulho egratido so percebidos de maneira muito explcita entre pais e filho. Perguntado se ofilho fez um bom trabalho, o pai enftico: Eu no consegui fazer metade do que meufilho fez (depoimento do pai de Dante, Dante Angelo Osvaldo Martinelli).

    3.2.Unio de mundos distintos: em busca da prtica na teoriaA conscincia que Dante possua quanto ao seu contexto marcado por

    paradoxos, incerteza e complexidade (AXLEY; MACMAHON, 2006; CLOSS;ANTONELLO, 2010) gerou a preocupao de buscar novos conhecimentos, novasmaneiras de pensar a realidade e tomar atitudes, incentivando o estudo da abordagemsistmica na administrao.

    As transformaes nesse contexto so o tema principal das abordagenssistmico-evolutivas, que apresentam viso holstica das organizaes, caracterizando-as como sistemas viveis que se tornam capazes de auto-organizao eautodesenvolvimento, atravs das interaes entre os participantes. Alm disso, asabordagens sistmico-evolutivas apresentam forte preocupao com os trs subsistemasde qualquer organizao: cultural, social e tcnico-instrumental (MARTINELLI, 1994).

    Essa mudana de paradigma considera que a conscincia pode ser a causa doseventos; e as experincias interiores dos indivduos tais como intuio, emoes,criatividade e esprito, so muito mais importantes do que apenas representaes domundo dos sentidos. At mesmo as mensagens que recebemos da realidade atravs denossos sentidos so eventualmente afetadas pela nossa conscincia. Assim, o novo

    paradigma para os negcios consiste em trabalhar atravs do mais profundoconhecimento interior, sendo baseado na centralidade e causalidade da conscincia. O

    pressuposto fundamental do paradigma emergente que o conhecimento interior leva

    maneira de como o mundo ser e como reagiremos a ele. O desafio central consiste emaplicar o conhecimento interior, intuio, compaixo e esprito, a fim de prosperar emum perodo de mudana constante (MARTINELLI, 1995b).

    Assim, a partir do estudo das mudanas nos campos de desenvolvimento pessoale crescimento humano, influenciadas pela nova maneira de pensar, ficou clara anecessidade de buscar novas alternativas para a formao dos novos administradores,

    propiciando o desenvolvimento de habilidades e competncias diferenciadas quepermitissem a atuao prtica mais flexvel, consciente e sensvel s mudanas.

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    4. Escrevendo a histriaA histria do Grupo de Sistemas da FEA-RP est intimamente ligada com a

    histria de seu fundador e lder, Prof. Dante Martinelli. Influncias em sua formaocomo profissional e pessoa refletem na criao do grupo de pesquisa. Por esse motivo, a

    criao do Grupo de Sistemas tem incio na FEA So Paulo.

    4.1.De estudante a educadorDante foi aluno de graduao nos cursos de Economia e Administrao na FEA

    no perodo de 1975 a 1978. Ele mestre, doutor e livre-docente em Administraotambm pela FEA.

    Dante foi meu aluno do Curso de Administrao da FEA. Ele era muitojovem, um aluno extremamente comprometido com o curso, participava deum timo grupo de estudantes. Alis, j era flagrante a facilidade do Danteem formar e participar de grupos. Lembro-me do seu forte compromisso

    para com a USP, muito em funo da influncia dos seus pais, professoresda velha guarda da Universidade (depoimento do Prof. Gilberto deAndrade Martins, professor de Dante na FEA).

    J durante o mestrado, paralelamente aos crditos de disciplinas, Dante iniciousua atividade docente em tempo parcial, ministrando a parte prtica da disciplinaPoltica de Negcios, aplicando os jogos de empresas em parceria com o Prof. Dr.Mario Tanabe na FEA. Em sua atuao profissional, principalmente como docente,Dante teve alguns de seus professores da USP como referncia, como o Prof. Gilbertode Andrade Martins, por exemplo.

    Dante um profissional correto, comprometido. Ele um professorreconhecido pelos alunos, pois os incentiva e oferece apoio para continuaodos estudos e atividades profissionais. A manuteno de um grupo de

    pesquisa uma iniciativa que evidencia e distingue seu trabalho. umorgulho ser considerado por ele como um de seus professores de referncia efico muito satisfeito em participar do crescimento de sua carreira(depoimento do Prof. Gilberto de Andrade Martins, professor de Dante naFEA).

    Desde o incio de sua carreira profissional, o professor Dante cultivou umaprofunda preocupao acerca da unio dos conceitos tericos aprendidos na academiacom a prtica nas organizaes. Da mesma forma, sua carreira como acadmico foi

    permeada pela conscincia de que o contato mais direto e prximo com os alunospoderia significar maior aprendizado e crescimento para ambas as partes.

    O Prof. Dante sempre foi bastante inovador e com esprito participativo,incentivava ideias e buscava trazer sempre os alunos para o centro das

    discusses, sem encaixotar ideias, buscando agregar valor e desenvolver oraciocnio fora da caixa. O curso de administrao, quando tratado destamaneira, deixava de ser apenas informativo para ser mais formativo(depoimento da ex-aluna na FEA, Marianne Kellner Haak).

    Essa preocupao foi fruto tambm da vivncia como docente com algunsalunos na FEA, que influenciaram de maneira significativa seus ideais como professor.Esses alunos influenciaram de maneira indireta a criao do Grupo de Sistemas, j quecontriburam para a formao da postura profissional do professor Dante.

    Com os alunos da FEA, Dante teve um contato restrito sala de aula, nadisciplina em que desenvolvia jogos de empresas. Muitos deles apresentaram fortescaractersticas de liderana, chamando a ateno do professor e por isso influenciaramindiretamente sua postura como educador. O contato com esses alunos no foi maisaprofundado devido a uma srie de fatores, entre eles o tamanho da escola, j que a FEAtinha uma estrutura grande, com vrios cursos e turmas numerosas. Entretanto, Dante

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    assumia uma postura de igualdade frente aos estudantes, demonstrando abertura paraum contato mais prximo: OProf. Dante tinha muita disponibilidade para os alunos enunca usou salto alto, ou seja, tratava a todos com o mesmo nvel de ateno erespeito (depoimento da ex-aluna na FEA, Marianne Kellner Haak).

    Tais alunos e sua busca pelo aprendizado despertaram em Dante o sentimento de

    que era possvel contribuir de maneira mais efetiva e ampla no s com a formaoprofissional dos alunos, mas tambm para auxiliar em suas escolhas profissionais e emsuas vidas de uma forma geral. O professor Dante era bastante incentivador e vibravacom as conquistas dos alunos; mais do que isso, era um facilitador para as conquistas decada um, respeitava o ritmo individual e vibrava quando passos mais largos eramdados (depoimento da ex-aluna na FEA, Marianne Kellner Haak).

    A convivncia com alunos interessados e dedicados contribuiu para que Dantecontinuasse sua carreira como docente. Questionada sobre sua provvel influncia no

    professor, a ex-aluna Marianne Kellner Haak palpita:Apesar de ser muito jovem, eu era bastante animada com o aprendizado,amava novas ideias, participar de novos projetos e construes e acho que

    este foi um elo criado com o professor que pode ter dado a ele incentivopositivo para continuar sendo um professor facilitador e incentivador detalentos (depoimento da ex-aluna na FEA, Marianne Kellner Haak).

    Alm de Marianne, entre tantos alunos da poca alguns se destacaram namemria do Prof. Dante, embora no tenha sido possvel encontr-los para incluir aquiseus depoimentos: Nicole Binder, Sergio Mller, Maria Lucia da Silva Rocha, MariaCristina Gatti e Suzana Herzka. Todos contriburam com uma influncia positiva para a

    postura do docente, que optou por se dedicar a formar mais talentos como esses.

    4.2.Fundando a FEA-RPA Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto(FEA-RP) da Universidade de So Paulo foi criada em 1992 como uma extenso da

    FEA de So Paulo. A Aula Magna Inaugural foi proferida pelo ento secretrio dePoltica do Ministrio da Economia, Planejamento e Fazenda da Presidncia daRepblica, Prof. Roberto Brs Matos Macedo. No ano de criao foi realizadovestibular especial no ms de maro de 1992 e em abril teve incio a primeira turma doscursos de graduao em Administrao, Economia e Contabilidade, cujas aulas eramministradas em um prdio improvisado que fora anteriormente utilizado como

    biblioteca do campus. O incio da FEA-RP foi dificultado pela insuficincia daestrutura fsica, acadmica e de suporte funcional (depoimento do Prof. Alberto BorgesMatias). Entretanto, ex-alunos enfatizam a qualidade do ensino j no incio: Apesar do

    incio um tanto precrio, o ensino em nada foi prejudicado. Tivemos excelentesprofessores (depoimento do ex-aluno da primeira turma de Administrao e atualdocente da FEA-RP, Tabajara Pimenta Junior).

    Cada departamento era composto por apenas dois docentes, sendo Dante um dosrepresentantes do Departamento de Administrao, e por esse motivo as primeirasturmas tiveram o mesmo docente ministrando uma diversidade de disciplinas.

    Fui aluno da primeira turma de Contabilidade e tive praticamente todas asdisciplinas da rea de administrao com o professor Dante. Suascaractersticas mais marcantes eram a dedicao enorme, exigncia,seriedade, rigor e a grande amizade que dedicava aos alunos. Nas aulas eledemonstrava um preparo muito grande e procurava sanar todas as dvidas demaneira atenciosa e cuidadosa. Dante ultrapassa os limites das atribuies

    do docente, buscando contribuir para a vida dos alunos, para a formao docarter e dos valores de cada um. Dante um educador no sentido maisamplo, um formador de pessoas. Ele contribui para a formao de

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    profissionais com senso crtico. Hoje como colegas de profisso, Dante umgrande amigo e um exemplo a ser seguido (depoimento do ex-aluno da

    primeira turma de Contabilidade e atual professor da FEA-RP, Roni CleberBonizio).

    O Prof. Dante, como um dos fundadores da FEA-RP, apontado como umareferncia para os alunos da poca: ele sempre teve um timo relacionamento com os

    alunos. Ele um daqueles raros professores que conhecem todos os alunos pelo nome esabem um pouco da vida de cada um. Isso facilita o relacionamento mais prximo(depoimento do ex-aluno da primeira turma de Administrao e atual docente da FEA-RP, Tabajara Pimenta Junior). Assim como uma referncia aos alunos, ele tambmserviu de orientao aos outros docentes, conforme o Prof. Marcos Fava Neves: Seu

    papel sempre foi o de bem receber os jovens professores e no se furtar de orient-losem relao s atividades de ensino, pesquisa e extenso. A admirao e respeito soestendidos relao com outros professores:

    O Prof. Dante se esfora para manter relacionamentos baseados em justia erespeito com os demais professores e funcionrios. Ele um dos poucos

    professores com verdadeiro e amplo conhecimento sobre a USP, suas esferas

    de poder, sua estrutura, normas e particularidades. Fez uma carreirabrilhante, sob muita dedicao e, como consequncia, um nome conhecidoe respeitado na Universidade! (depoimento do ex-aluno da primeira turmade Administrao e atual docente da FEA-RP, Tabajara Pimenta Junior).

    No incio, a faculdade contava com apenas sete funcionrios e todas as deciseseram dependentes da FEA. Os professores eram da FEA e somente dois realmenteforam com o objetivo de se transferir para a FEA-RP quando essa foi desvinculada deSo Paulo. Os demais docentes foram provisoriamente para colaborar com o incio dafaculdade, com a definio de retorno FEA. Outros j foram contratados diretamente

    para a FEA-RP.Recordo-me do verdadeiro sacrifcio que o Dante enfrentava semanalmentecom idas e vindas do interior para ministrar aulas na FEA em So Paulo.

    Exemplo de um abnegado professor. Felizmente ele se disps a ajudar aconstruo do curso em Ribeiro, sendo um dos pioneiros professores docurso de Administrao. Batalhador, ele ajudou a formao e crescimento daFEA-RP (depoimento do Prof. Gilberto de Andrade Martins, professor deDante na FEA).

    A funcionria Cristina Bernardi Lima, funcionria da faculdade que participoudo processo de criao e emancipao, ressalta a importncia dos primeiros docentes:esses docentes pioneiros foram muito importantes para a faculdade e o professor Dantefoi um deles. Como eram poucos professores, cada um deles se tornou modelo dereferncia para os alunos, agrupando as pessoas em torno dos objetivos da escola(depoimento da funcionria e ex-aluna Cristina Bernardi Lima). Cristina tambm foi

    aluna e orientada pelo professor Dante em artigos publicados.Dante um professor extremamente preocupado, atuante, que valoriza otrabalho dos alunos. Quanto a sua postura administrativa na faculdade, ele muito participativo e nunca autoritrio em suas decises, compartilhandodetalhes e ouvindo opinies, sempre muito envolvido com a escola.Podemos dizer que o Dante tem muito orgulho da FEA-RP e apaixonado

    pela escola (depoimento da funcionria e ex-aluna Cristina Bernardi Lima).Em 1994 foi criada na FEA-RP a Fundao para Pesquisa e Desenvolvimento da

    Administrao, Contabilidade e Economia (Fundace), a fim de facilitar a integraoentre Universidade e comunidade. Em 1996 tiveram incio os primeiros cursos deespecializao (MBA -Master of Business Administration). A Fundace foi fundamental

    para o desenvolvimento da FEA-RP, pois repassa recursos mesma, provenientes dos

    projetos de consultoria e cursos.

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    Durante os dez primeiros anos de sua existncia, a preocupao maior dafaculdade foi implantar e consolidar os cursos de graduao noturnos, com padres dequalidade que os tornassem referncia no pas. A falta de recursos iniciais no impediuque professores, funcionrios e alunos realizassem esse objetivo.

    Em setembro de 2001 foi aprovado o oferecimento de vagas do Programa de

    Ps-Graduao em Administrao da FEA, no campus de Ribeiro Preto. Esse cursoteve incio efetivo em 2002, contribuindo para o processo de autonomia da FEA-RP.A autonomia da FEA-RP veio em maio de 2002, quando deixou de ser uma

    extenso da FEA de So Paulo, ganhando independncia administrativa. A partir deento, a estrutura da FEA-RP comea a se consolidar, criando os departamentos,

    buscando recursos para construo de um novo prdio, buscando convnios prpriospara intercmbios e criando os cursos diurnos, j que a estrutura ficava ociosa duranteesse perodo. Foram criados em 2006 os cursos diurnos de graduao em Administraoe Economia Empresarial e Controladoria.

    A FEA-RP tambm passou a participar de cursos de graduao de outrasunidades, como por exemplo, o de Cincias da Informao e da Documentao aps

    2004, e o de Matemtica Aplicada a Negcios aps 2005, ambos de responsabilidade daFaculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto (FFCLRP) (FEA-RP, 2013).

    Em 2004 tiveram incio os programas prprios de ps-graduao na faculdade,com os cursos de mestrado em Administrao das Organizaes, Controladoria eContabilidade e tambm Economia rea: Economia Aplicada. O curso de doutoradoem Administrao de Organizaes foi iniciado em 2010, j o de Controladoria eContabilidade teve incio em 2013. O curso de doutorado em Economia est em fase deaprovao (FEA-RP, 2013).

    Com seus novos cursos, o nmero de alunos se expandiu de forma significativa.Tambm acompanhando esse processo, houve um aumento expressivo no nmero dedocentes e funcionrios, assim como da infraestrutura, consolidando a faculdade comoum centro de ensino e pesquisa buscando constantemente a excelncia.

    4.3.Influncias diretas e indiretasCom a preocupao de proximidade dos alunos, diversos fatores contriburam

    para que essa postura culminasse na criao do grupo de pesquisa. A vivncia comalunos da FEA influenciou indiretamente esse processo, j que contribuiu para a

    percepo dessa necessidade de contato direto e possibilidade de maior contribuiopara ambas as partes, docente e aluno.

    A pesquisa de doutorado do Prof. Dante foi determinante para sua imerso no

    tema das abordagens sistmico-evolutivas. Sua tese apresentou o estudo da evoluo daTeoria da Administrao, explicando suas diversas correntes. Para tanto, foifundamental, alm de uma viso global do assunto e de um trabalho de pesquisaintenso, contar com um instrumento adequado de anlise das diversas teorias. Amaneira escolhida para isso foi a da Hierarquizao de Sistemas, com a viso holsticaque ela proporciona. Assim, esse trabalho demonstrou a busca pela obteno de umaviso mais crtica e abrangente da evoluo da Teoria da Administrao, chegando at acorrente sistmico-evolutiva, considerada pelo professor, na poca, a mais promissora edotada de valores mais altos e consistentes. Em seguida, apresentado um breve

    panorama dos alertas universais quanto necessidade de um novo paradigma naAdministrao, levando ao planejamento de pesquisa que se julga indispensvel

    conduzir para testar a viabilidade da Administrao Evolutiva no ambiente empresarialcontemporneo, bem como para propor solues coerentes com a realidade,

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    incorporando recursos das diversas abordagens sistmico-evolutivas. Esse contato comas abordagens sistmicas foi essencial para que o Prof. Dante tivesse reforada sua ideiade ampliao do ensino na graduao, constatando a necessidade de formao de

    profissionais mais completos e bem preparados. Na tese de doutorado Dante prope aconcepo do grupo-laboratrio baseado na abordagem sistmico-evolutiva, sugerindo

    instrumentos para a consolidao da equipe (MARTINELLI, 1995a).O grupo de pesquisa criado pelo professor ingls Peter Checkland naUniversidade de Lancaster (Inglaterra) foi outro fator de influncia para a criao doGrupo de Sistemas, uma vez que representou um modelo de inspirao. Em umauniversidade conhecida pelo estudo da viso sistmica, Checkland criou um grupo de

    pesquisas cujo objetivo era prestar servios em organizaes a partir dessa abordagem,lidando fundamentalmente com problemas comportamentais. Para lidar com problemasreais ambguos e mal definidos foi desenvolvida a conhecida Soft Systems Methodology(SSM) (CHECKLAND, 1981). Nesse ambiente, Checkland tinha todas as condies

    para o desenvolvimento desse grupo, j que alm do incentivo ao estudo do tema, elecontava com a disponibilidade de alunos de doutorado com formao de excelncia

    dedicados em tempo integral e de sua metodologia prpria. Apesar de servir comomodelo, Prof. Dante encontrou uma realidade distinta quando props a criao de seugrupo de pesquisa. Ele contava apenas com a dedicao de alunos que cursavam os

    primeiros anos da graduao e que conheciam pouco ou desconheciam a abordagemsistmica. No Brasil, nos anos de 1970 a viso sistmica ainda era pouco conhecida,fazendo parte da grade curricular de poucos cursos de graduao, em sua maioria deengenharia. Foi nessa poca que a Profa. Julieta, me de Dante, iniciou seus esforos

    para divulgao do assunto na EESC, da USP.Em 1994 (setembro a dezembro), a participao do Prof. Dante no programa

    CDM (Cadre pour Developpement de Management) para Dirigentes Empresariais eUniversitrios do Fonds Leon Bekaert em Bruxelas (Blgica) foi decisiva, em termos devivncia em nvel internacional e crescimento em termos profissionais e pessoais. O

    programa se estendeu por diversos pases europeus, focado em pequenas e mdiasempresas, relaes entre empresa, universidade e rgos de apoio e fomento, e criaode novos negcios. Esse programa foi de fundamental importncia no que se refere ampliao da viso, da experincia, fortalecimento e diversificao dos contatos emnvel internacional, constituindo-se num dos pilares bsicos para o desenvolvimento do

    projeto do Grupo de Sistemas. Durante sua participao no CDM, Dante fez muitoscontatos, entre eles a Profa. Karen Weinberger Villarn, professora e pesquisadora

    peruana que veio a se tornar uma grande amiga. Entre outros assuntos, Danteconversava e trocava experincias com Karen a respeito da vida acadmica.

    Dante es una persona muy servicial, siempre preocupado por todo el grupo.Dante tiene un carisma muy especial. Es una persona muy alegre y muypreocupada por sus alumnos. La alegra de Dante, sus ganas de reir, sucapacidad intelectual, su transparencia al hablar y expresar sus opiniones, elamor por su familia y su integridad moral, siempre lo han distinguido(depoimento da Profa. Karen Weinberger Villarn).

    Para esse programa na Blgica, para solicitar recursos do governo belga, e parasuas posteriores viagens ao Canad, em que solicitou recursos da embaixada canadense,Dante teve suas cartas de referncia escritas por dois docentes cuja influncia em suavida e carreira notvel: J. Donald R. de Raadt e Jacques Marcovitch.

    J. Donald R. de Raadt um professor chileno, que atualmente vive e trabalha emMelbourne, Austrlia, com vasta experincia na rea de sistemas, foi presidente da ISSS

    no perodo de 1994 a 1995. Ele e Dante se conheceram em Ostersund, Sucia, nocongresso anual de sistemas de 1991 em que Dante apresentou o artigo elaborado em

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    parceria com sua me. A partir de ento, eles mantiveram contato, se encontrando detempos em tempos nas edies desse mesmo congresso. Inclusive, o professor J. DonaldR. de Raadt ministrou palestras em alguns congressos brasileiros de sistemas a convitedo professor Dante. Ele tambm escreveu o prefcio do livro de negociao publicado

    por Dante. Esse professor exerceu grande influncia sobre a carreira e postura de Dante,

    que seguiu seu exemplo como docente e educador dedicado, muito preocupado com atica e justia nos negcios e tambm em compartilhar o conhecimento e seu trabalhocom o resto do mundo. Ele foi um modelo devido sua carreira e sua postura comolder e nos encontros e congressos, sempre agregando. O professor tem o dever delevar os estudantes ao mundo, apresent-los s oportunidades. Dante encoraja os alunose se preocupa com eles e essa uma de suas qualidades. Seus alunos so muito sortudosde terem um professor to socivel e preocupado (depoimento do Prof. J. Donald R. deRaadt).

    Jacques Marcovitch egpcio e mudou-se para o Brasil aos 15 anos. Ele foireitor da USP e atualmente professor nessa universidade, na FEA. Apesar de Danteno ter sido seu aluno quando estudou nessa faculdade, sempre teve nesse professor um

    modelo para sua carreira. Jacques Marcovitch inclusive participou de uma reunio dogrupo logo em seu incio com o objetivo de conhecer os projetos em andamento napoca.

    A criao do grupo de pesquisa foi diretamente influenciada pela preocupaodo professor Dante com a proximidade e atendimento dos alunos, embora isso fossemais difcil na FEA de So Paulo devido ao tamanho da faculdade. Com a mudana

    para a FEA-RP, essa vivncia pde ser ampliada. Diversos alunos tiveram papelimportante nesse processo, mas a influncia da aluna Flaviana Condeixa Favaretto, quecursava na poca o primeiro ano de graduao em Administrao, foi notvel. Ela, quefaleceu em um acidente de trnsito trgico ainda no incio do seu segundo ano de curso,gerou no curto perodo de tempo em que esteve na faculdade contribuies que poucosconseguiram igualar durante uma vida toda de dedicao. Flaviana desempenhou um

    papel de liderana muito forte entre os alunos, na comunidade de Ribeiro Preto e nafaculdade como um todo, contribuindo para a criao da empresa jnior, do centroacadmico e da associao atltica da faculdade e emprestando seu nome aos doisltimos como homenagem pstuma.

    Flaviana exerceu um papel de liderana na faculdade. Isso aconteceunaturalmente provavelmente devido sua personalidade, sendo reforada e legitimadacom o contato muito prximo aos professores Dante e Alberto Borges Matias. Elaagregava, unia as pessoas. Ela estabelecia relaes de cooperao, compartilhando seusconhecimentos e experincias (depoimento da Profa. Ana Lcia Vianna Favaretto, me

    de Flaviana).Em sua criao, a FEA-RP tinha uma estrutura enxuta, com poucos funcionrios,dois professores por departamento e 40 alunos por turma. A estrutura ainda no estavacompleta para atender s demandas dos cursos e o estgio em organizaes era umadelas. Flaviana estava ligada a todos os segmentos da sociedade de Ribeiro Preto, jque cresceu e estudou na cidade, construindo uma rede extensa de contatos.Aproveitando essa facilidade para o bem comum, ela foi responsvel por boa parte dosconvnios com empresas para que os alunos pudessem cursar o estgio e adquirirexperincia prtica na rea.

    Ela tambm demonstrou pr-atividade e empatia quando conseguiu recursospara viabilizar uma viagem ao exterior para apresentao de um artigo do professor

    Dante que j estava aprovado para um congresso na Austrlia no ano de 1993. Semapoio dos rgos de fomento ou da universidade para a viagem, o professor j tinha

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    desistido da participao. Flaviana ento obteve a aprovao de um pedido de ajudafinanceira a uma empresa, possibilitando a viagem. Dante ento convidou a aluna parasubstitu-lo na apresentao do artigo e infelizmente, quando tudo foi viabilizado, elasofreu o acidente.

    Ela tambm tinha alguns projetos em perspectiva, ela seria scia de docentes da

    faculdade em duas empresas e, para a concretizao desses projetos, ela demonstroumais uma vez iniciativa e se responsabilizou por buscar alternativas de financiamentopara ambos, sendo um deles com o professor Dante. Infelizmente, suas contribuiesto valiosas foram interrompidas pelo triste acidente, deixando uma marca profunda nahistria da faculdade, dos amigos e docentes. Apesar do curto perodo de tempo deconvivncia, Prof. Dante teve contato intenso com Flaviana, e seu envolvimento com os

    projetos, sua iniciativa e maturidade contriburam para aproximar este professor dosalunos de forma geral, permitindo que ele reconhecesse o valor dessa proximidade edessa troca de experincias, opinies, perspectivas e vises de mundo entre docente ealunos. De todas as pessoas que influenciaram minha postura como educador e acriao do grupo, Flaviana foi uma das mais marcantes, cuja convivncia trouxe

    contribuies essenciais (depoimento do Prof. Dante Pinheiro Martinelli).Com o triste episdio, Dante conheceu os pais de Flaviana e passou a manter

    contato com a me de sua querida aluna, Ana Lcia Vianna Favaretto, professoraatualmente aposentada da Faculdade de Medicina do campus da USP Ribeiro Preto.Essa proximidade nos permitia resgatar a memria da Flaviana, nos permitia senti-lamais prxima. Quando eu conversava com a Ana Lcia, sentia muitas vezes que, decerta forma, estava conversando com a Flaviana (depoimento do Prof. Dante PinheiroMartinelli). Os dois docentes perceberam que, alm do carinho por Flaviana, eles

    prezavam por valores e por uma postura pessoal e acadmica muito parecidas.Professor o que professa, que abre janelas para os alunos, mostra as oportunidades e

    possibilidades, o educador. Foi isso que eu vi Dante fazendo pela minha filha. Elepercebeu e estimulou a pr-atividade dela, permitindo que ela se envolvesse com a vidauniversitria, podendo desenvolver atividades paralelas (depoimento da Profa. AnaLcia Vianna Favaretto).

    Ana Lcia se envolveu com o grupo de pesquisa, participando inclusive dereunies e contribuindo com a valiosa opinio de uma pesquisadora de outra rea. Elaministrou palestras em disciplinas do professor Dante na FEA-RP. Alm de esclarecer arespeito das caractersticas da regio de Ribeiro Preto, ela tambm estimulou os alunosde Dante a buscarem o mximo de aproveitamento da vida universitria; explicou os

    processos de pesquisa em outra rea e demonstrou seu exemplo de superao da perdade sua filha. Ana Lcia e Dante cultivam uma relao de amizade, parceria e admirao

    mtua que ajudou a ambos na superao da triste perda, criando juntos ainda maisextenses das contribuies de Flaviana.

    4.4.Programa Professor de RefernciaAtendendo a preocupao de proximidade com os alunos, foi desenvolvido na

    FEA-RP o programa Professor de Referncia no ano de 1993. Esse programaconsistia basicamente na escolha de um professor de referncia por cada grupo dealunos, com o qual tivessem maior identificao e afinidade. Ele seria responsvel poracompanh-los ao longo de todo o curso de graduao, no s nas atividades escolares,mas tambm com a preocupao de introduzi-los e orient-los nas suas primeiras

    atividades no mercado de trabalho. O professor de referncia nos orientaria quanto spossibilidades (depoimento da ex-aluna Ana Paula de Almeida).

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    A escolha do professor era muitas vezes direcionada pelo interesse dos alunosnas disciplinas que o mesmo ministraria, mas muitas vezes essa escolha era baseada naconfiana e afinidade pessoal que o docente transmitia. Alm do professor Dante terministrado minha primeira aula do curso, ele transmitia confiana e segurana acerca docontedo, com aulas muito boas ele conseguia reter os alunos em sala (depoimento da

    ex-aluna Suselaine Alves da Silva).Escolhi o Prof. Dante como professor de referncia basicamente pelo meuinteresse em disciplinas que ele ministraria ao longo do curso. Depois, coma proximidade maior, descobri algumas afinidades e algumas caractersticasdele que provavelmente influenciaram indiretamente. Ele era comunicativo,transmitia confiana e compartilhava seu vasto conhecimento (depoimentodo ex-aluno Carlos Jorge Pinto Gomes).

    Nesse programa, o professor Dante orientou 22 alunos, divididos em doisgrupos. Num primeiro momento, foram realizadas atividades de integrao dos alunos,seguidas de discusses quinzenais a respeito de artigos, do currculo do curso, das

    perspectivas de desenvolvimento pessoal e profissional, das oportunidades de estgios ede grupos de estudos. Participvamos de reunies realizadas no fim da tarde, antes das

    aulas, em que as cadeiras eram dispostas formando um crculo. Eram momentosnaturais de aprendizagem que de maneira alguma pareciam uma obrigao ouformalidade (depoimento da ex-aluna Ana Paula de Almeida).

    Esse foi um programa inovador que com certeza fez diferena para a carreiradas pessoas que participaram, pois ele permitiu que antecipssemos odesenvolvimento de competncias que seriam usadas na prtica profissional.Eu fui secretria do grupo e o trabalho era levado muito a srio. Tnhamosque liderar, elaborar atas das reunies, cobrar dos colegas os horrios etarefas. Nas reunies discutamos todo tipo de assunto, qualquer questo oudvida que os alunos trouxessem era discutida, sendo dvidas tericas,aflies, problemas, escolhas etc. (depoimento da ex-aluna Maria CristinaBastia Vichi).

    Foi a partir deste programa que o grupo-laboratrio foi criado, renomeado Grupode Sistemas posteriormente. Essa iniciativa foi realizada conforme projeto apoiado peloCNPq, desenvolvido formalmente nos anos seguintes, com um conjunto de alunosoriginrio desse grupo inicial.

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    5. De Grupo-laboratrio a Grupo de SistemasAs tendncias gerais que se apresentam no ensino de Administrao exigem uma

    viso mais holstica e sistmica do processo administrativo, com uma forte componenteda prtica empresarial. Tentando suprir parte da carncia de conhecimento nas empresas

    brasileiras, foi idealizado o grupo-laboratrio. Com a nova maneira de pensar, aproposta do professor Dante sugeriu a criao de um exemplo e um instrumento, quepermitissem complementar a formao de novos administradores com a viso do novoparadigma (MARTINELLI, 1995a). Aps a concluso da tese de doutorado, Dante sededicou a concretizar o projeto do grupo-laboratrio, com bolsa de pesquisador doCNPq, no perodo de maro de 1996 a julho de 1998.

    O exemplo-instrumento proposto, ento, foi um grupo universitrio deconsultoria, com orientao sistmico-evolutiva, constitudo por docentes e estudantesda FEA-RP, com o objetivo de funcionar como laboratrio para formao, treinamentoe pesquisa para os participantes, estabelecendo contato com a prtica profissional(MARTINELLI, 1995c). A consultoria sistmico-evolutiva trata da organizao como

    qualquer outro sistema social de ao guiado pelo significado dado a ele, mudando suaforma por meio das interaes entre ambiente externo e interno, sendo o ltimorepresentado essencialmente pelas pessoas. Esse tipo de consultoria no modifica as

    pessoas, mas fomenta discusses sobre as mudanas possveis, sobre as alternativas deao e posicionamento, levando o cliente a encontrar a soluo por conta prpria a partirdo incentivo do consultor (MARTINELLI, 1995a).

    De acordo com a proposta, esse grupo ofereceria apoio, orientao e consultorianeo-paradigmtica a empresas novas, bem como a empresas j existentes em RibeiroPreto e regio. Ele atuaria, assim, fora ou acima do plano das empresas que orienta,como uma meta-empresa. Assim, tudo funcionaria coerentemente com o novo

    paradigma e o primeiro passo foi o estabelecimento da identidade do prprio grupo(MARTINELLI, 1995c).

    Foi criado, em 1994, o grupo-laboratrio a partir da SSM, de Checkland (1981),e do Viable System Model(VSM), proposto por Beer (1994a). Sua estrutura inicial foi

    baseada na aplicao dessas metodologias, apesar da falta de conhecimento dos alunosacerca das mesmas. A utilizao da SSM teve o objetivo de esclarecer conceitos bsicose de servir como guia para o treinamento e desenvolvimento das pessoas envolvidas nogrupo-laboratrio. O VSM define como vivel um sistema capaz de manter existnciaindependente em um ambiente. Ele foi a base para a estruturao do grupo-laboratrio,submetendo essa estrutura aos ciclos SSM. O objetivo do grupo foi de que os alunos

    pudessem vivenciar as metodologias sistmicas com vistas posterior aplicao nas

    empresas.No perodo de 1994 a 1996 o grupo manteve estrutura informal, buscandorecursos que permitissem sua formalizao a partir do projeto proposto por Dante. Almdisso, a estruturao formal foi adiada devido ao afastamento do professor para

    participar do programa CDM na Blgica e tambm porque os recursos aprovados peloCNPq estavam condicionados defesa de sua tese de doutorado, que atrasou por

    problemas de agenda dos membros da banca.Segundo Martinelli (1995a; 1995c), o grupo j deveria nascer em uma fase

    intermediria, sendo participativa, neoparadigmtica desde sua criao. A proposta erade estruturao formal do grupo num intervalo de 12 meses (de agosto/1995 a

    julho/1996), seguindo cinco passos:

    1. Providncias iniciais: busca dos primeiros estudantes para participarem daadministrao do grupo, apresentao e discusso da ideia de criao do

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    grupo, discusso das funes de cada membro na fase de projeto eimplantao;

    2. Obteno de condies de trabalho na FEA-RP;3. Ciclos SSM de formao da equipe: entrosamento, estudo dos temas e das

    fases da vida das empresas; introduo SSM e meta-empresa aos

    estudantes; entrosamento dos docentes; iniciao de outros estudantes;4. Ciclos SSM de aprofundamento para preparo da equipe: identidade da meta-empresa e seu primeiro VSM; fases de vida das empresas e os tipos declientes possveis; reflexes revisoras com relatrios individuais e discussescoletivas; planos de pesquisa e bolsas, reviso do VSM, dos clientes e dasfases de vida das empresas; tratamento de fases diferentes, reviso dos

    planos de pesquisa e bolsas, documento final;5. Incio das atividades externas (agosto/1996).As providncias iniciais estavam previstas para o segundo semestre do ano de

    1995, mas foram realizadas informalmente j no ano de 1994. Inicialmente o grupodeveria ser estruturado a partir de trs reas de atuao: (a) tcnica, responsvel pela

    estruturao da rea de consultoria e dos cursos; (b) comercial, responsvel peladivulgao e prospeco de clientes; e (c) administrativa e financeira, cuidando daestruturao interna, esquema de atendimento e seleo de novos estudantes. Assim,

    pelo menos trs estudantes trabalhariam com o professor Dante, cada um responsvelpor uma rea. Esses alunos deveriam estar cursando o quinto ou quarto ano dagraduao, apresentando maior maturidade e maior entrosamento com os docentes.

    A primeira formao do grupo consistiu do Prof. Dante e nove estudantes queem 1994 cursavam o segundo ano do curso de graduao: Melissa Franchini CavalcantiBandos, Ana Paula de Almeida, Ceclia Gurgel do Amaral, Lucila Fregonesi Meirelles,Karina Lucia dos Santos, Suselaine Alves da Silva, Valria Beluomini Cotrin, CarlosJorge Pinto Gomes e Maria Cristina Vichi (todos alunos do curso de Administrao).Ao longo da histria do grupo, a maior parte dos seus membros cursava graduao emadministrao, tendo alguns poucos de outros cursos como economia e cinciascontbeis. Na poca da estruturao formal do grupo (1996) esses alunos cursavam oquarto ano, conforme o planejado. Conforme previsto, eles foram divididos entre asreas do grupo. O Prof. Dante foi fundamental para o projeto, pois alm de ter sido omentor, ele acreditava tanto que contagiava os estudantes com seu entusiasmo(depoimento da ex-aluna Lucila Fregonesi Meirelles).

    A previso era de que houvesse a integrao de grupos de estudantes e outrosdocentes posteriormente, que prestariam servios especficos s empresas. Nessesentido, o ncleo bsico do grupo-laboratrio atuaria junto a tais grupos de trabalho,

    orientando, preparando os novos participantes para que atuassem como consultores,integrando os conhecimentos absorvidos nas mais diversas disciplinas do curso degraduao. Portanto, o projeto inclua um subgrupo interno (ncleo bsico), voltado aoestudo, pesquisa e base conceitual, mas tambm previa o desenvolvimento de umsubgrupo externo, assim denominado por ser constitudo por alunos e professoresinteressados na aplicao do conhecimento adquirido nas empresas da regio,configurando a prestao de servios como consultores. Esses subgrupos deveriam estarintegrados, j que a rea interna prov a base conceitual, enquanto a externa capta asnecessidades das empresas e acompanha os desenvolvimentos dos projetos e pesquisasno grupo (MARTINELLI; CAVALCANTI, 1996).

    A proposta previa a incluso de mais docentes doutores em um segundo

    momento, assegurando interdisciplinaridade e interesses comuns. Essa fase consistiatambm na exposio para alunos dos ltimos anos da graduao procurando novos

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    interessados em trabalhar no grupo e a seleo dos mesmos. A preparao de pedidos deauxlio pesquisa Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP)e ao CNPq tambm eram atividades planejadas para a etapa inicial, alm de pedidos de

    bolsas aos interessados.J para a obteno de condies de trabalho junto FEA-RP, tambm planejada

    para o segundo semestre de 1995, era necessrio buscar espao fsico, equipamentos,apoio dos funcionrios (analisando se seriam estudantes da faculdade ou no),autorizaes institucionais e realizar contatos e acordos com rgos pblicos e privadosde apoio. Tanto as providncias iniciais como a obteno de condies junto faculdadeeram responsabilidade do professor Dante.

    As atividades bsicas para consolidao do grupo foram estruturadas em doisgrandes grupos de ciclos SSM, colocados em prtica aps as providncias iniciais. Os

    primeiros ciclos SSM (4 ciclos) foram utilizados para a constituio da equipe inicial detrabalho e, depois, para a manuteno e ampliao da mesma. O segundo conjunto deciclos (5 ciclos) foi destinado ao aprofundamento do preparo da equipe. A idia da SSM que o ciclo de trabalho seja detalhado conforme a execuo, sendo planejada,

    entretanto, a realizao de uma primeira previso de cada fase, alm da imposio deum limite de tempo para o primeiro ciclo, a fim de restringir sua durao.

    A programao dos quatro ciclos SSM iniciais de formao da equipe foi aseguinte:

    Primeiro ciclo:agosto/95, com 12 horas, tinha o objetivo de promover o entendimentoentre o docente e os primeiros trs estudantes (A, B e C), discutindo as atividades paraimplantao do grupo-laboratrio. Esse ciclo tambm previa a orientao dos estudantesquanto SSM e os ciclos de vida das empresas, preparando pelo menos um deles paraconduzir, junto com o docente, o prximo ciclo SSM;

    Segundo ciclo:outubro/95, em 8 horas, esse ciclo pretendia orientar os prximos trsalunos (D, E e F) sobre a SSM e o grupo-laboratrio, conduzido por um dos primeirosestudantes, com auxlio dos outros dois e do docente;

    Terceiro ciclo: novembro/95, por 6 horas, com a finalidade de promover oentrosamento dos outros docentes interessados;

    Quarto ciclo:dezembro/95, com 6 horas, para envolver novos estudantes interessados,conduzido pelos estudantes j treinados.

    Ento, ao final do quarto ciclo deveria haver quatro professores e