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Criação de

Tilápias em Tanques-Rede

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© 2007, Sebrae - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da BahiaRua Horácio César, 64 – Dois de JulhoSalvador – Bahia CEP 40060-350Tel. (71) 3320-4300www.ba.sebrae.com.br

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização do Sebrae Bahia. Permitida a transcrição, desde que citada a fonte.

Presidente do Conselho Deliberativo EstadualCarlos Fernando Amaral

Diretor SuperintendenteEdival Passos

DiretoresPaulo Manso Cabral Luiz Henrique Mendonça Barreto

EQUIPE TÉCNICACoordenação da Carteira de Agronegócios IICélia Márcia Fernandes

Coordenação do Projeto PisciculturaWagner Christiano Sade da Cunha

ElaboraçãoAlex Costa Nogueira

Revisão TécnicaThales Rodrigues

Revisão Gramatical e LinguagemAutor Visual

NormalizaçãoRita de Cássia Machado Araújo

Produção EditorialSebrae Bahia/Editoração

Criação, Editoração Gráfica e ImpressãoAutor Visual Design GráficoPerivaldo Barreto

N71 Nogueira, alex. Criação de tilápias em tanques-rede/Alex Costa Nogueira; Thales Rodrigues. – Salvador: Sebrae Bahia, 2007. 23 p.: il.

1. Criação de tilápia 2.Tanques-rede I. Título CDU 639.3.05

Criação de tilápiasem tanques-rede

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SUMÁRIO

1 INTRoDUção 5 2 A TILáPIA 7 3 o mERCADo 9 4 CULTIvo DE TILáPIAS Em TANQUES-REDE 114.1 SELEção DE LoCAIS PARA A INSTALAção DoS TANqUES-REDE 124.2 o TANqUE-REDE 144.3 INSUMoS 164.4 A FIxAção DoS TANqUES-REDE 184.5 o PoVoAMENTo DoS TANqUES 184.6 ARRAçoAMENTo 194.7 MANEJo NA PRé-ENgoRDA 204.8 MANEJo NA ENgoRDA 204.9 AMoSTRAgEM BIoMéTRICA 204.10 PREVENção DE DoENçAS E DE ESTRESSE 214.11 DESPESCA 21 5 LEGALIzAção AmbIENTAL Do PRojETo 21 REfERêNCIAS 23

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1 INTRODUÇÃO

A piscicultura é o ramo da aqüicultura1 que cuida do cultivo de peixes. Os egíp-cios já desenvolviam essa atividade há mais de dois mil anos antes de Cris-to. Cultivavam tilápias em tanques ornamentais para o consumo em ocasi-

ões especiais. Atualmente, a China é o maior produtor de peixes cultivados do mundo. Os primeiros registros das atividades aquícolas naquele país remontam a 1.100 a.C. Apesar da tradição milenar, o atual crescimento da aqüicultura na China se deu a partir da década de 70, tendo sido responsável pela elevação, nos últimos 20 anos, do consu-mo de pescados que passou de 10 quilos anuais por pessoa para os atuais 27,7 quilos.

No Brasil, os primeiros registros de criação de peixes datam da década de 30, quando foram feitas as experiências iniciais para obter a desova de espécies nativas em cativeiro. No entanto, a piscicultura como atividade econômica é muito mais recen-te, embora o Brasil seja um dos países com maior potencial hídrico em todo mundo. Os primeiros empreendimentos em caráter comercial, na década de 80, esbarravam em toda a sorte de problemas como o pouco conhecimento das técnicas de manejo, poucos trabalhos de pesquisas, baixa qualidade genética dos alevinos que eram ofertados para os produtores e a inexistência de rações nutricionalmente adequadas para atender às exigências específicas das espécies cultivadas na época, dentre ou-tras. Mas, mesmo assim, a atividade foi crescendo e despontando como uma boa op-ção de geração de renda e de oferta de peixes para os mercados interno e externo.

Na década de 90, começaram a surgir e a ser disseminado os trabalhos de pes-quisa em manejo. As rações passaram a ser desenvolvidas especificamente para as espécies de peixes mais cultivadas. Os pesquisadores em nutrição animal e as fábricas de ração passaram a se preocupar com a qualidade e com a eficácia do produto na conversão em peso. As estruturas de beneficiamento implantadas fize-ram com que o peixe cultivado ampliasse o seu raio de alcance no mercado e as publicações especializadas contribuíram bastante para a disseminação de tecno-logia e de conhecimento. Na década de 90, também houve uma maior compreen-são, por parte dos poderes públicos, do potencial da atividade e a importância que ela teria nos anos seguintes dentro da pecuária mundial. Alguns especialistas em desenvolvimento econômico passaram a classificar a piscicultura como a grande revolução na pecuária mundial nas décadas seguintes. Peter Drucker foi um deles:

[...] novas e inesperadas indústrias vão surgir ... - e rapidamente. Uma delas já está entre nós: a biotecnologia. Outra é a criação de

peixes. Nos próximos 50 anos, a criação de peixes pode nos transformar de caçadores e coletores marinhos em pecuaristas aquícolas.

Exatamente como há mais ou menos 10.000 anos atrás, uma inovação semelhante transformou nossos ancestrais de caçadores e extrativistas

em agricultores e pastores[...] (DRUCKER, 2000)1 Aqüicultura é o conjunto de atividades relacionadas com o cultivo de organismos com habitat predominantemente aquático.

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O fato é que, nos últimos anos, a atividade de criação de peixes em cativeiro vem realmente experimentando um crescimento substancial no Brasil, acompanhando a tendência mundial de aumento da oferta de pescado via cultivo. Em 1990, o país produzia pouco mais que 16.000 mil toneladas de peixes cultivados e, em 2005, a produção foi de 178.746,5 toneladas, registrando um crescimento no período de 1.017 % (Ibama, 2005).

Mas o país está muito longe dos grandes produtores mundiais de peixes cultiva-dos, apesar do potencial hídrico que possui. Dos 39 milhões de toneladas produzidas em aqüicultura, em todo o mundo, em 2002, o Brasil contribuiu apenas com 251 mil toneladas, ou seja, 0,64% deste total, segundo a síntese mundial da pesca e aqüi-cultura da FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, divulgada em 2004. Mas, apesar do ritmo acelerado de crescimento da produção mundial, a FAO estima que, até 2030, o déficit de pescados deve crescer em 30 milhões de toneladas e que o Brasil tem condições de participar desse mercado com pelo menos 10 milhões de toneladas.

Os estados pioneiros em explorar a piscicultura em caráter comercial, no Brasil, foram Paraná e Santa Catarina. Porém, nos últimos dez anos, a atividade cresceu de forma regular e consistente no Nordeste do país, principalmente na Bahia e no Ceará.

Por isso, em um cenário de oferta insuficiente de pescado para atender à de-manda existente no Brasil e no mundo, a piscicultura se configura uma grande opor-tunidade de negócio tanto para grandes empresas, como para os micro e pequenos empreendedores, já que a instalação e operacionalização de um projeto piscícola não exige grandes áreas de terra, nem grandes somas de recursos financeiros. No entanto, é necessário intensificar os trabalhos de repasse de conhecimento relativo a aspectos legais, mercado, gestão e produção de um empreendimento de piscicul-tura, ampliando as possibilidades e dando condições para que o micro, pequeno e médio empreendedores se insiram na atividade com um nível maior de sustentabili-dade econômica.

Este trabalho não tem a pretensão de esgotar todos os assuntos relativos à mon-tagem de um empreendimento nessa área nem aprofundar demasiadamente nos as-pectos técnicos, mas sim explicar porque a piscicultura é hoje uma oportunidade de negócio, os desafios a serem superados, os itens que compõem o empreendimento, o que deve ser observado e considerado ao se planejar e implantar um cultivo de peixes em tanques-rede. Por isso, é importante que, no processo de planejamento, o empreendedor procure um técnico especializado, para aprofundar mais as questões relativas às técnicas de manejo, aos itens de investimento e de custos de operação que terão que ser previstos e controlados.

Para se ter um resultado mais efetivo, o foco desta cartilha é o cultivo de tilápias em tanques-rede, uma vez que a diversidade de informações e as especificidades de cada espécie com relação, principalmente, às técnicas de manejo, são muito grandes.

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2 A TIlÁpIA

Apesar de contar com várias espécies de peixes nativos que apresentam poten-cial para a atividade da piscicultura, são as espécies exóticas, introduzidas no Brasil, como a tilápia, que têm demonstrado maior viabilidade econômica graças, principal-mente, ao conhecimento técnico disponível, tanto no campo da biologia quanto nas técnicas de manejo. Dentre as espécies exóticas brasileiras, a tilápia merece des-taque e já responde por cerca de 38% da produção piscícola nacional. As primeiras informações sobre a tilápia, como espécie promissora para a aqüicultura ocidental, surgiram no início da década de 50, com citações sobre a tilapicultura como um dos melhores negócios para piscicultores e uma nova fonte para obtenção de proteínas.

A tabela 1 mostra a produção em toneladas da piscicultura brasileira, por espécie em 2005.

TAbELA 1 – PRoDUção (T) DA PISCICULTURA bRASILEIRA, PoR ESPÉCIE Em 2005Espécies - Peixes Produção (t) Participação (%)

Aracu 92,0 0,1%Bagre-africano 224,0 0,1%Bagre-americano 1.684,5 0,9%Carpa 42.490,5 23,8%Curitamã 2.413,0 1,3%Jundiá 577,5 0,3%Matrinxã 1.517,5 0,8%Pacu 9.044,0 5,1%Piau 4.066,5 2,3%Pirarucu 9,0 0,0%Pirapitinga 327,5 0,2%Piraputanga 534,0 0,3%Pintado 1.245,5 0,7%Tambacu 10.874,5 6,1%Tambaqui 25.011,0 14,0%Tambatinga 2.494,5 1,4%Tilápia 67.850,5 38,0%Traíra 115,0 0,1%Truta 2.351,5 1,3%outros 5.824,0 3,3%ToTAL 178.746,5 100,0%

Fonte: IBAMA 2005

As tilápias são nativas do continente africano e da Ásia Menor. São peixes que predominam em águas quentes e a temperatura da água para o cultivo pode variar de 20 a 30°C.

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No Brasil a primeira introdução oficial da espécie aconteceu no ano de 1971 pelo DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. Eram ações que visavam, fundamentalmente, a produção de alevinos para peixamentos dos reser-vatórios públicos da Região Nordeste. As companhias hidrelétricas de São Paulo e Minas Gerais também produziram grandes quantidades de alevinos de tilápia-do-nilo para peixamentos de seus reservatórios e para a venda e distribuição a produtores rurais. Essas iniciativas contribuíram para a rápida disseminação da espécie nessas regiões. No entanto, em virtude do baixo nível de conhecimento e de difusão das técnicas de produção, as primeiras iniciativas de produção comer-cial não tiveram muito êxito.

A partir da década de 90, a difusão das técnicas de produção, a elaboração de trabalhos de pesquisa, experimentos com a espécie, e o surgimento da tecnologia de reversão sexual permitiram que essa atividade começasse a se estruturar e se desenvolver. O estado pioneiro foi o Paraná, que imprimiu um ritmo empresarial à atividade, estruturando a produção. Começaram a surgir os primeiros frigoríficos es-pecíficos para o beneficiamento de tilápia, particularmente nos municípios de Toledo e Assis Chateaubriand. Assim, foram criadas as condições para que o Paraná fosse, em pouco tempo, o maior produtor de tilápia do País, posição que viria a perder somente em 2003 quando, segundo dados do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -, a produção do estado do Ceará alcançou a marca de 13.000 toneladas, superando as 12.782 toneladas produzidas naquele ano pelo estado do Paraná.

Em meados da década de 90, o cultivo de tilápias em caráter comercial passou a se disseminar rapidamente para outros estados, principalmente para Santa Cata-rina, São Paulo, Bahia, Ceará, Alagoas e Sergipe. Depois do Paraná, foi o estado de Santa Catarina onde a tilapicultura se estruturou mais rapidamente, alcançando uma produção de 5.200 toneladas em 2000. Em São Paulo, o grande motor do cres-cimento da atividade foi o surgimento de vários pesque-pagues que acarretaram uma demanda considerável de tilápia.

Nos estados do Nordeste, o cultivo comercial começou a se desenvolver em meados de década de 90. O consumo de tilápia no Ceará foi bastante estimula-do pelos peixamentos realizados pelo DNOCS, na década de 70, gerando uma grande oferta do peixe. Com a diminuição dos estoques naturais nesses açudes, essa demanda passou a ser atendida pelo peixe cultivado. Os preços atrativos recebidos pelos piscicultores levou ao rápido crescimento da atividade, produzindo 13.000 toneladas, segundo estimativas do IBAMA, em 2003, o que lhe deu o posto de maior produtor do país.

Na Bahia, a tilapicultura começou a ganhar expressividade através das ações da Bahia Pesca, em meados da década de 90, incentivando o surgimento de vários pólos produtores no estado. Mas, foi no ano de 1999 que o município

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de Paulo Afonso se consolidou como maior pólo produtor no estado, com sete associações de piscicultores que produziram 1.194 toneladas contra cerca de 60 toneladas no ano anterior.

Vários fatores concorreram para o destaque da tilápia na piscicultura brasi-leira, além da fácil adaptação às variadas condições de cultivo das diferentes regiões do país: @ alimentam-se dos itens básicos da cadeia trófica;@ curto ciclo de engorda – cerca de seis meses;@ aceitam uma grande variedade de alimentos; @ respondem com eficiência à ingestão de proteínas de origem vegetal e animal;@ são bastante resistentes às doenças, superpovoamentos e baixos teores de

oxigênio dissolvido;@ desovam durante todo o ano nas regiões mais quentes do país.

A tilápia, além disso, possui boas características organo-lépticas e nutricionais, tais como: carne saborosa, baixo teor de gordura (0,9 g/100 g de carne) e de calorias (172 kcal/100 g de carne), ausência de espinhas em forma de “Y” (miocep-tos) e rendimento de filé de aproximadamente 33% a 37%, em exemplares com peso médio de 600 g, o que a potencia-liza como peixe para industrialização.

3 O MERCADO

Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de carne bovina e consome cer-ca de 36 kg per capita dessa fonte de proteína animal por ano. O consumo de carne de aves e suínos per capita são respectivamente 34 kg e 12 kg por ano.

Os hábitos de alimentação, de modo geral, têm se alterado em todo o mundo e a procura por carnes com menor teor de gordura vem crescendo de forma consistente. O consumo per capita mundial de pescados dobrou nos últimos 56 anos, por uma mercadoria nobre e estar diretamente relacionada à saúde e ao incremento na renda.

Foto: www.pescabrasil.com.br/aquicultura.asp

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É consenso entre os especialistas do setor que, além do potencial para pro-dução, o Brasil possui também um grande potencial de consumo para os produtos aquícolas. Essa constatação está baseada em uma série de motivos, entre eles:@ O baixo consumo per capita atual por pescados registrado no Brasil, quando

comparado a outros países do mundo e mesmo da América Latina, indican-do um elevado potencial a ser explorado. Só para se ter uma idéia, se o consumo de pescados aumentar em apenas 1 kg por habitante por ano, o país precisaria produzir cerca de 170.000 toneladas a mais para atender à demanda adicional. Seria quase impossível suprir este mercado apenas com a pesca extrativa;

@ a tendência crescente de valorização e do aumento do consumo de alimen-tos mais saudáveis e com menores teores de gordura saturada, com desta-que para os pescados;

@ a elevação da renda nas classes mais pobres, principalmente nos últimos dez anos.

Apesar da facilidade de cultivo e dos bons índices de desempenho, o crescimen-to efetivo do mercado dependerá da superação de algumas barreiras que limitam o seu potencial como: a dificuldade de transportar o pescado às regiões mais distantes da costa e dos grandes rios, em virtude da deficiência da estrutura de estocagem e distribuição, dificultando bastante a logística de entrega.

Uma parte significativa da tilápia produzida no país continua sendo comerciali-zada diretamente na propriedade, em uma transação que envolve produtor e con-sumidor final, limitando bastante o seu alcance comercial. No entanto, a demanda de tilápias por frigoríficos, que antes processavam e distribuíam apenas peixes de captura, vem crescendo bastante nos últimos anos; principalmente por três razões: @ O hábito de consumo de tilápia está se ampliando bastante no Brasil, em

virtude do esforço realizado por produtores e entidades de fomento e apoio à piscicultura na promoção de eventos de degustação e apresentação do peixe;

@ os estoques naturais de peixes de captura vêm diminuindo bastante em vir-tude da sobre-pesca;

@ o Brasil é um dos países produtores de tilápia que possui condições, em virtude da localização, de exportar filés frescos do peixe para os Estados Unidos, país onde esse produto é valorizado e bastante apreciado.

No entanto, é fundamental para o sucesso do negócio, que o empreendedor busque, antes de iniciar a instalação do projeto, identificar os canais de comercia-lização para a sua produção, fazendo uma pequena pesquisa para a identificação de pontos de venda (peixarias, supermercados etc.), pontos de consumo (hotéis, restaurantes, bares e hospitais), distribuidores de pescado e frigoríficos que possam vir a ser seus compradores, bem como estimar, através de contatos comerciais, a

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demanda dos mesmos. Esse procedimento é importante, pois o ciclo de produção da tilápia é curto e o produtor pode se ver com a produção pronta para ser entregue e ter dificuldade para vendê-la, apesar da existência da demanda. Estocar tilápias em pontos de abate nos tanques-rede, comendo ração por muito tempo, poderá causar prejuízos ao piscicultor.

4 CUlTIVO DE TIlÁpIAS EM TANQUES-REDE

O cultivo em tanques-rede é um sistema de produção intensivo. Os peixes são confinados em altas densidades, dentro de uma estrutura onde os animais recebem ração balanceada, e que permita uma grande troca de água com o ambiente.

A alta taxa de renovação de água dentro do tanque-rede é o principal fator que viabiliza a alta densidade populacional e a produção de uma grande biomassa2 de peixes por unidade de volume (50 a 250 kg/m3), já que supre a elevada demanda por oxigênio e remove os dejetos produzidos.

Dentre as vantagens do cultivo de peixes em tanques-rede podemos citar:@ Menor custo de implantação em comparação com sistemas de cultivo inten-

sivo em viveiros escavados e Raceway3;@ maior facilidade e rapidez na montagem da infra-estrutura de produção; @ maior facilidade e rapidez para expansão da capacidade de produção;@ maior facilidade de controle e monitoramento do processo de cultivo;@ maior facilidade e controle no processo de despesca;@ maior proteção contra predadores naturais;

2 Biomassa é a quantidade total de matéria viva existente num ecossistema ou numa população animal ou vegetal.3 Raceway é o nome dado aos tanques com alto fluxo de água, que podem ser circulares, retangulares ou de outras formas e onde é utilizada uma grande densidade de estocagem de peixes por m3.

Fotos: Rodolfo Domarco

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@ aproveitamento de ambientes de grandes lagos e barragens; dispensando desmatamento de áreas e movimentações de terras, evitando processos de erosão e assoreamento de rios e lagos.

E as desvantagens:@ Menor possibilidade de correção dos parâmetros químicos e físicos da água;@ o regime alimentar pode ser feito apenas com ração.

O sistema de cultivo mais utilizado é o chamado de bifásico. Ele é assim chamado por que ocorre em duas fases. Na primeira, chamada de pré-engorda, os peixes são adquiridos na fase de alevinos, com peso médio em torno de 1,0 grama, e estocados por cerca de 60 dias nos tanques rede de alevinagem até atingirem o peso que varia normalmente entre 20 e 30 gramas. Quando atingem esse peso, são repassados aos tanques-rede de engorda (segunda fase), onde permanecem por cerca de 120 dias até atingirem o peso comercial que varia de 600 a 850 gramas. Ou seja o ciclo total de engorda da tilápia ocorre em cerca de 180 dias.

Um outro sistema muito utilizado é o trifásico. A única diferença para o anterior é que no trifásico, a fase de pré-engorda é dividida em duas. Os alevinos de 1,0 grama de peso médio devem ser estocados em tanques-rede com malha de 5 mm, devendo ficar aí por, pelo menos, 21 dias para atingir um peso médio de 10 gramas. Após este período, o lote de alevinos deve passar por jejum de 24 horas e, em seguida, ser totalmente transferido para tanque-rede, com malha de 8 mm. O tempo de perma-nência no tanque-rede de 8 mm é de 30 a 40 dias, podendo, então, iniciada a retirada dos juvenis (acima de 20 g) para a estocagem nas gaiolas de engorda, classificando-os em pequenos, médios e grandes. O restante deve retornar para um tanque-rede, com malha de 8 mm, devidamente limpo, para que possa alcançar o peso adequado para o início da fase de engorda, que dependendo da exigência de padronização dos exemplares por parte dos compradores, pode ser dividida em duas ou mais etapas de cultivo para permitir uma melhor classificação por tamanho.

4.1 Seleção de locaiS para a inStalação doS tanqueS-rede

De um modo geral, os corpos d’água mais adequados para a instalação de um projeto de piscicultura em tanque-rede são os lagos, as represas e as barragens. A qualidade da água nesses ambientes é um fator decisivo para o sucesso do empreendimento. Obviamente é impraticável corrigir a qualidade e as caracte-rísticas físicas e químicas da água nesse tipo de ambiente aquático, diferentemente de cultivos em viveiros escavados onde é pos-sível, através de adubação, aeração e outras técnicas, corrigir os parâmetros físico-

Foto: Rodolfo Domarco

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químicos da água e torná-la mais adequada ao cultivo . Por isso, a escolha do local para cultivos de tanques rede, é sem dúvida, a etapa mais importante no processo de implantação do empreendimento. Os principais critérios a serem considerados no processo de escolha são os seguintes:

@ Facilidade de acesso: O acesso aos tanques-rede normalmente é feito por passarelas flutuantes ou por barcos.

A utilização de passarelas flutuantes facilita bastante o manejo, mas nem sempre a topografia do terreno e os recursos financeiros disponíveis para im-plantação do projeto permitem a instalação das passarelas. Por isso, a escolha do local para a instalação dos tanques deve considerar a proximidade e a facili-dade do acesso à terra, para que a distância percorrida pelas embarcações de apoio sejam as mínimas possíveis. Esse aspecto é importante pois o custo de operação do projeto pode ficar elevado se for necessário percorrer grandes dis-tâncias utilizando barcos de pequeno porte para o transito de ração e de peixes.

Um outro aspecto importante a ser considerado é que, em alguns grandes reser-vatórios de água, a declividade do terreno do fundo é bastante suave nas margens, o que resulta na formação de extensas praias nos períodos de diminuição do nível da água. Por isso, o acesso para o trânsito de peixes e insumos fica bastante dificultado, já que os trabalhadores têm de vencer centenas de metros de distância, caminhando do local onde o barco possa encostar até o ponto de terra firme onde os veículos podem transitar.@ o uso múltiplo das águas: “A gestão dos recursos hídricos deve sempre

proporcionar o uso múltiplo das águas.” A afirmação está na Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997, artigo 1º, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, entre outros aspectos. A gestão dos recursos hídricos de grandes reservatórios parte do princípio que suas águas devem ser utilizadas para atender a diversas necessidades, respeitando os limites impostos pela legis-lação ambiental.

Fotos: Rodolfo Domarco

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Por isso, a escolha de um local para a instalação de um projeto piscícola deve considerar que outras atividades podem e devem ser desenvolvidas para atender ou-tras necessidades, como a geração de energia, abastecimento humano, navegação, recreação, irrigação, dentre outras. Por exemplo: como a produção de peixes gera efluentes, sobretudo na forma de nutrientes, os tanques-rede não devem ser insta-lados próximos à captação de água para consumo humano sem tratamento ou com tratamento simples. Por outro lado a poluição das águas, principalmente por resíduos químicos pode causar grande mortalidade de peixes e, portanto, os tanques devem ser instalado em locais onde não exista esse risco.@ parâmetros físico-químicos e características da água: A ocorrência de

ventos em reservatórios de água é muito comum e beneficia a troca de água nos tanques-rede. No entanto, ventos muito intensos podem comprometer a estrutura dos tanques, e dificultar as operações de manejo, como o arraçoa-mento4 dos peixes e a biometria5. Por isso, é importante a escolha de locais protegidos da ação direta de ventos intensos e formação de ondas como baías e reentrâncias, mas que ainda apresentem renovação ou circulação de água, para que a oxigenação se mantenha em níveis aceitáveis. Com a utilização de um oxímetro pode-se medir o nível de oxigênio dissolvido. Devem-se evitar locais onde os níveis de oxigênio dissolvido esteja abaixo de 4,0 mg/l.

Com relação à profundidade é importante que o fundo do tanque esteja há, pelo menos, 1,5m de profundidade em relação ao fundo do corpo d’água (represa, barra-gem etc.) durante todo o ano. Outros fatores como a dureza, a alcalinidade e a trans-parência da água devem ser medidos e observados a fim de avaliar a adequação da água ao cultivo de tilápias. Esse trabalho deve ser feito por um técnico habilitado para isso.

4.2 o tanque-rede“A denominação de tanques-rede é

empregada às unidades de cultivo que utilizam, para a contenção dos peixes,

materiais que se comportem como uma rede na hora da colheita” (ONO,

KUBITZA, 2003)

Os materiais utilizados na estrutura de sus-tentação, contenção e flutuação devem ter as seguintes características:@ Permitir a troca eficiente de água entre o tanque-rede e o ambiente;

4 Arraçoamento é ato de arraçoar os peixes, ou seja, alimentá-los com ração.5 Biometria é o processo de medição e pesagem dos peixes periodicamente para que se avalie o crescimento dos mesmos.

Foto: bahia Pesca

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@ resistência à corrosão (ferrugem);@ resistência mecânica (agüentar o movimento das águas, as maretas ou

marolas);@ baixo custo;@ leve para facilitar o deslocamento e manejo;@ material não cortante ou abrasivo para não causar ferimentos aos peixes;@ permitir a saída dos dejetos produzidos pelos peixes (fezes e restos de ração).

As estruturas utilizadas para a armação de um tanque-rede são geralmente construídas usando tubos, perfis e barras metálicas, onde são presos os flutuado-res e as malhas.Os materiais mais usados para a confecção das malhas podem ser flexíveis (fio de poliéster revestido de PVC, redes de nylon) ou rígidos (plás-tico, aço galvanizado revestido de PVC de alta aderência, aço inoxidável, etc.).

As outras partes que compõem um tanque-rede são:@ Flutuadores: são as estruturas que impedem que os tanques-rede afundem

e podem ser feitos com tambores plásticos ou tubos de PVC tampados nas extremidades.

@ comedouros: são estruturas que existem para evitar o desperdício de ra-ção e servem para rações extrusadas, que são aquelas que bóiam na água. A tampa onde estão os comedouros também tem a função de cobertura dos tanques-rede, evitando, dessa forma a fuga dos peixes em cultivo e a ação de alguns predadores. Os comedouros ficam no centro da tampa da gaiola, e o seu diâmetro é de 1,0 a 1,30 metros e 0,70 m de altura, variando o tamanho de acordo com as dimensões da gaiola e as densidades de cultivo pretendidas. O material para confecção do comedouro deve ser resistente à corrosão e não causar ferimentos nos peixes, por isso deve-se usar telas de PVC ou nylon multifilamento, com malhas de 03 mm de abertura.

Estrutura

Malha

Flutuador

Comedouro

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Existem vários tipos de tanques rede, e variam basicamente quanto à for-ma da estrutura (redondos, quadrados e retangulares), e quanto a área útil para o cultivo. Os tanques rede mais utilizados atualmente são os de 4m3 e 6m3 de volume útil. Geralmente medem 2,0 x 2,0m de comprimento e largura, com altu-ra variando entre 1,20 (1 m submerso) a 1,80m (1,5m submerso), permitindo al-tas densidades de cultivo (150 a 200 kg/m3) e facilitando o manejo da despesca.

4.3 inSumoSNa piscicultura, em condições normais, os recursos determinantes da compe-

titividade do empreendimento são a disponibilidade e a qualidade da água, o for-necimento de alevinos e a oferta de ração. Portanto, em conjunto, esses fatores determinam grande parte da capacidade competitiva de um projeto.

O mapa 1 mostra as regiões do estado da Bahia onde o cultivo de tilápias é desenvolvido, atualmente, em caráter comercial. De um modo geral, essas regiões são privilegiadas em termos de disponibilidade de água, tanto em quantidade quanto em qualidade. Além disso, acrescentam-se outras vantagens naturais como a baixa variação de temperatura (o que permite produzir o ano todo), e a luminosidade. Es-sas vantagens estão mais acentuadas em umas e menos em outras regiões, mas de uma forma geral elas existem em todas.

BAIxo MéDIo São FRANCISCo Sobradinho, Sento Sé e Casa Nova

NoRDESTEPaulo Afonso e glór ia

MéDIo São FRANCISCoBarra

ExTREMo SULTeixeira de Freitas, Nova Viçosa,

Mucuri, Vereda e Itamarajú

SUDoESTE E MATA ATLÂNTICAItapetinga, Itambé, Potiraguá, Nova Canaã, Floresta Azul, Camacã, Jequié e Ibirataia.

gRANDE RECÔNCAVoTaperoá, Ituberá, Igrapiúna,

e Cairú

CHAPADA NoRTEItiúba

Fonte: Sebrae/Ba, 2006

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regiõeS e municípioS produtoreS de tilápia na BahiaPor isso, alguns diferenciais competitivos e as possibilidades de redução de cus-

tos e aumentos de produtividade estão basicamente vinculados à oferta de ração e de alevinos com regularidade e qualidade, além da utilização correta desses insu-mos; que são os principais de uma piscicultura.

raçãoO consumo de ração representa cerca de 65% a 75% dos custos de produção

para a atividade desenvolvida de forma intensiva, tornando-se, portanto, um fator decisivo na viabilidade do negócio. Entretanto, para conseguir preços competitivos, a ração deve ser adquirida em grandes quantidades para permitir a realização de transações diretamente com as empresas produtoras. Caso contrário, os produtores são obrigados a negociar diretamente com o varejo, onerando os custos de aquisição e, podendo, inclusive inviabilizar o projeto piscícola.

Apesar de existirem poucas empresas fabricantes de ração no Nordeste – cerca de três – e de a grande maioria estar localizada no Sul e Sudeste do país, isso não é um fator que inviabilize ou dificulte a atividade na região e mais especificamente no estado da Bahia. Existem representantes dessas empresas em todos os municípios produtores ou em municípios próximos. O prazo de entrega normalmente varia entre 10 e 15 dias corridos, a partir da data do pedido à fábrica. Portanto, a compra da ra-ção requer um planejamento antecipado. O planejamento, na verdade, é necessário em todas as etapas e processos que envolvem o cultivo de peixes em sistemas inten-sivos. Sem um plano consistente de compra de insumos, produção, comercialização e um orçamento bem feito para, pelo menos um ciclo de cultivo, é quase impossível operacionalizar um empreendimento de piscicultura.

alevinoSQuanto mais a piscicultura se desenvolve, mais se eleva o nível de exigência

em termos de qualidade genética dos alevinos, o que vai significar maior e melhor aproveitamento da ração e de outros recursos utilizados na engorda.

Os alevinos de tilápia nilótica (oreochromis niloticus), utilizados hoje no Brasil, passam por um processo de reversão sexual, que consiste basicamente em mudar as características sexuais de tilápia fêmeas, tornando-as aparentemente macho. Essa técnica melhora a conversão alimentar6 da tilápia.

6 Conversão alimentar representa a relação entre o volume de ração utilizada para cada kg de peixe produzido.

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A qualidade do alevino adquirido é decisiva para o sucesso do empreendimento. Por isso, é fundamental o produtor se informar sobre a qualidade e a origem dos reprodutores existentes no plantel de seu fornecedor, as técnicas de reprodução e reversão sexual utilizadas; bem como sua capacidade de produção. Se possível faça uma visita às instalações das unidades de produção de alevinos antes da aquisição para o seu empreendimento. Também é importante o piscicultor manter registros so-bre a origem e o seu desempenho produtivo. Assim será possível selecionar melhor seus fornecedores.

O seu fornecedor deve garantir ainda alevinos de tamanho uniforme e livre de parasitas e doenças.

4.4 a Fixação doS tanqueS-redeConsiderando os pré-requisitos básicos para a escolha do local (item 4.1), o es-

quema abaixo mostra como deve ser a fixação das linhas de tanques.

Para a fixação dos tanques devem ser utilizados cabos de nylon de 14 a 20 mm de espessura ou cabos de aço. As extremidades dos cabos podem ser presas nas margens ou fixadas ao fundo com poitas ou outro equipamento de ancoragem. É importante, no momento da fixação dos cabos, deixar um canal de navegação.

A distância entre os tanques-rede deve ser de uma a duas vezes o seu compri-mento, ou seja, se o tanque rede tem 2 m de comprimento a distância para o outro tanque-rede tem que ter de 2 m a 4 m.

4.5 o povoamento doS tanqueSO povoamento consiste na colocação dos alevinos nos tanques de pré-engorda.

O transporte dos alevinos deve ser feito em sacos plásticos, com água e oxigênio, ou em caixas próprias para transporte de peixes. Primeiro, o saco onde estão os alevinos devem ser colocados ainda fechados dentro da água onde está o tanque-rede, até que a temperatura da água de dentro do saco se iguale a da água do tanque-rede; depois abre o saco e vai misturando devagar a água do tanque com a água do saco, só depois solta os alevinos. A esse procedimento dá-se o nome de aclimatação e deve ser feito nas horas mais frias do dia.

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Até 8 dias após a colocação dos peixes, pode haver mortalidade decorrente de transporte mal realizado, mesmo havendo uma aclimatação adequada. A mortali-dade aceitável no transporte é até 5% do total adquirido. A contagem dos peixes mortos deve ser feita por amostragem, já que contar peixe por peixe morto em todos os tanques vai demandar muita mão-de-obra. Essa contagem é importante e deve ser feita durante todo o período da pré-engorda, a fim de identificar problemas no manejo, arraçoamento, doenças e evitar prejuízos.

Alguns sinais podem indicar que os alevinos não estão muito bem de saúde: peixes com ferimentos devido à captura, peixes desnutridos, fezes de peixes na água de transporte. Pouco oxigênio nas caixas ou sacos de transporte e aclimatação in-correta são as causas mais prováveis de mortalidade em massa dos alevinos nos primeiros dias após povoamento.

Os tanques-rede utilizados na fase de pré-engorda são revestidos com duas te-las de malhas diferentes, como forma de evitar a fuga dos peixes. A malha interna mede de 4,0 ou 8,0 mm, a depender do tamanho dos alevinos, e é constituída de fio

de poliéster revestido com PVC. A externa é de tela de aço galva-nizado com revestimento de PVC e malha de 17-19 mm.

4.6 arraçoamentoArraçoar é fornecer ração ao peixe. Como a ração, nos cul-

tivos de tanques-rede é a única fonte de alimento dos peixes ela deve ser completa e devidamente balanceada com teores de proteína variando entre 56% a 30%, a depender da fase do cultivo. O regime alimentar dos peixes vai depender de cada fabricante de ração, e deve ser seguido à risca.

Foto: Thales Rodrigues

Foto: Acervo fundação odebrecht

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4.7 manejo na pré-engordaQuando o sistema é feito em duas fases, os alevinos, com peso médio em torno

de 1,0 grama, ficam estocados por cerca de 60 dias nos tanques-rede de alevinagem, com malha interna de 5 a 8 mm, até atingirem o peso, que varia entre 20 e 30 gramas. Quando atingem esse peso são repassados aos tanques-rede de engorda, onde per-manecem por cerca de 120 dias até atingir o peso comercial, entre 600 a 850 gramas.

Quando o sistema é feito em três fases, os alevinos, com peso médio de 1,0 grama, devem ser estocados em tanques-rede com malha de 5 mm, devendo ficar aí por, pelo menos, 21 dias para atingir um peso médio de 10,0 gramas. Após este período, o lote de alevinos deve passar por jejum de 24 horas e, em seguida, ser to-talmente transferido para tanque-rede com malha de 8 mm. O tempo de permanência no tanque-rede de 8 mm é de 30 a 40 dias.

O manejo alimentar da alevinagem deve ser bastante cuidadoso devido às forO manejo alimentar da alevinagem deve ser bastante cuidadoso devido às formas fí-sicas das rações a serem utilizadas (fareladas e extrusadas de pequeno diâmetro), pois, além de evitar desperdícios, um bom manejo permite que todos os alevinos se alimentem adequadamente e cresçam uniformemente. A taxa de sobrevivência nesta fase situa-se entre 70 e 90%, em média.

4.8 manejo na engordaOs alevinos, que passaram para fase de engorda e que estão acima de 20 gra-

mas, são agora chamados de juvenis. Eles são estocados em tanques-rede, com malha de 17-19 mm na densidade de 500 peixes/m3, até atingirem 200 a 250 gra-mas, quando devem passar por uma classificação, estocados na densidade de 250 peixes/m3 até atingirem o peso médio de abate. Esta classificação é comum em cultivos de peixes em tanques-rede, pois possibilita uma maior uniformidade de peso e tamanho no momento da despesca.

Os principais pontos críticos na engorda são: densidade de estocagem, uniformi-dade dos juvenis estocados, retirada de peixes mortos, manejo alimentar e seleção. O tempo de cultivo previsto, nesta fase, varia entre 110 e 120 dias, período em que os peixes alcançam um peso médio de 700 gramas (tilápia nilótica chitralada). A taxa de sobrevivência situa-se entre 90% a 95%, em média.

4.9 amoStragem BiométricaA amostragem biométrica ou biometria é o procedimento utilizado para acom-

panhar o crescimento e o ganho de peso dos peixes. Deve ser realizado a cada quinze dias ou uma vez no mês. Deve-se retirar de cada gaiola cerca de 3% a 5% da população, contar e pesar para se o peso médio. O peixe, para passar por tal proce-dimento, deve estar em jejum e ser manejado nas primeiras horas da manhã, com delicadeza e rapidez para evitar estresse e mortalidade. A ração deve ser reajustada semanalmente, com base na última biometria e na tabela de arraçoamento fornecida pelo fabricante.

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4.10 prevenção de doençaS e eStreSSeTodos os dias devem ser retirados os peixes que eventualmente aparecem mor-

tos dentro dos tanques-rede. Estes devem ser imediatamente retirados e enterrados com cal, pois peixes mortos podem tornar-se fonte de doenças. A taxa normal de mortalidade em um cultivo em tanque-rede, na fase de engorda, é de 5% a 10% até o final do ciclo. Os peixes mortos devem ser contados, pois o número restante de peixes é um dos fatores que determinam a quantidade de ração a ser oferecida. Também se deve limpar periodicamente as gaiolas, bolsões de recria e comedouros devido à colmatação7 que pode servir de substrato para agentes patogênicos.

O estresse é um fator que devemos levar em consideração, podendo estar as-sociado a diversos fatores, dentre os quais podemos destacar: os fatores químicos (características da água, poluição e etc.), os físicos (temperatura, luz e som), ma-nejo (transporte, aclimatação, manuseio e certos tratamentos) e os biológicos (qua-lidade da ração e densidade de estocagem). O estresse, sem dúvida, é uma porta de entrada para doenças oportunistas, e deve ser enfrentado de forma preventiva, pois geralmente os tratamentos de doenças são onerosos e nem sempre eficazes.

4.11 deSpeScaA despesca é o resultado final do ciclo de cultivo, sendo por

isso bastante esperado. O que se espera tirar de cada tanque–rede varia normalmente de 600 a 900 kg de peixe por tanque rede de 4 m3, em cultivos em grandes barragens. Antes de qualquer outra atividade, é necessário fechar os custos de pro-dução e determinar o preço da venda do peixe. Feito isto, o pei-xe deve ser preparado para a despesca, passando por período de jejum, que pode variar de 24 a 48 horas para que esvazie o

intestino. Esta prática possibilita melhor sabor, aspecto e textura da carne.

No ato da despesca, o peixe deve ser morto com choque térmico (água + gelo + sal) e em seguida passar por uma sangria e lavagem em água clorada. Em hipótese alguma se deve eviscerar peixes nas margens do lago.

5 lEgAlIzAÇÃO AMbIENTAl DO pROjETO

O licenciamento ambiental é necessário para a localização, construção, instala-ção, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizado-ras de recursos ambientais, quando consideradas efetiva ou potencialmente poluido-ras. Licenciar uma atividade significa avaliar os processos tecnológicos em conjunto com os parâmetros ambientais e sócio-econômicos, fixando medidas de controle. 7 Colmatação é o entupimento das malhas e telas do tanque-rede pelo crescimento de algas e outros organismos ou pela deposição de resíduos orgânicos (fezes e restos de ração).

Foto: Rodolfo Domarco

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Segundo a legislação vigente considera-se como:@ licenciamento ambiental: o procedimento administrativo pelo qual a admi-

nistração pública, por intermédio do órgão ambiental competente, analisa a proposta apresentada para o empreendimento e o legitima, considerando as disposições legais e regulamentares aplicáveis e sua interdependência com o meio ambiente, emitindo a respectiva licença ambiental.

@ licença ambiental: o ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e as medidas de con-trole ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimen-tos ou atividades consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.

O licenciamento ambiental para Aqüicultura, em nível Federal, tem a SEAP -Secretaria Nacional de Aqüicultura e Pesca - como órgão competente, para que o aqüicultor possa dar entrada ao processo de licenciamento. Em nível estadual, a responsabilidade pelo licenciamento ambiental passa para os OEMAs - Órgãos Estaduais de Meio Ambiente - e obedece à legislação estadual vigente que não pode ser mais permissiva que o estabelecido na Lei Federal que regula o licenciamento. Na Bahia, este órgão é CRA - Centro de Recursos Ambientais.

Existem três tipos de licenças necessárias para o funcionamento do empreen-dimento: @ licença prévia (lp) - concedida na fase preliminar do planejamento do em-

preendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção, ates-tando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e con-dicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação (validade 05 anos);

@ licença de instalação (li) - autoriza a instalação do empreendimento ou ati-vidade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante (validade 06 anos);

@ licença de operação (lo) - autoriza a operação da atividade ou empre-endimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação (validade de 04 a 10 anos).

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REFERÊNCIAS

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IBAMA – INSTITUTo BRASILEIRo DE MEIo AMBIENTE. Estatística da Pesca, 2005. Disponível em: < www.ibama.gov.br>.

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