couture os fundamentos da disciplina arquiv- ¦ística -parte1

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  • 7/22/2019 COUTURE Os fundamentos da disciplina arquiv- stica -parte1

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    JEAN-YVES ROUSSEAUCAROL COUTURE

    Os FUNDAMENTOSDA DJSCIPLINA ARQUIVfSTJCAC OL ABOR AD OR E S

    Florence Ares, Chantale Fillion, Marlene Gagnon,Louise Gagnon-Arguin e Dom inique Maurel

    T RAD U AOMagda B igotte de Figueiredo

    REVISAO CIENTfFICAPedro Penteado

    o ii

    PUBLCAOE DOMQUXOTEL

  • 7/22/2019 COUTURE Os fundamentos da disciplina arquiv- stica -parte1

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    Publicaoes Dom QuixoteAv. Cintura do Porto do LisboaUrbanizaao da Matinha - Lote A - 2. C1900 Lisboa

    Reservados todos os direitosde acordo corn a legislaAo em vigorC 1994, Presses de lUniversit du Qubec

    Titulo original: Les Fondements de la Discipline ArchivistiqueRevisao tipogrifica: Filipe Rodrigues

    l. ediAo: Marco / 98DepOsito legal n. 121 095/98

    Fotocomposi: ABC Orfica, Lda.Impresso e acabarnento: Varona - Salamanca

    ISBN: 972-20-1428-5

    UN SULB J B t I C t E C A U N N I V E P U S I TRtGISTRQJ9-8 -ORIQEM .ii'MaBiblioteca Nacional - Catalogaao na Publicao

    Rousseau, Jean-Yves, e outroOs fundamentos da disciplina arguivistica

    Jean-Yves Rousseau, Carol Couture.(Nova enciclopdia; 56)

    ISBN 972-20-1428-5I - Couture, CarolCDIJ 930.256513 SUMARIO

    Nota a traduAo portuguesa ............Ptefcio.........................................Prthnbulo.......................................lntrcduo ......................................Paste I A arquivistica e a sociedadeCapltnlo I .Qs..nr iths, os arquivistas e a arquivIstica. Con sideraoe s histricas ..............................

    1. Dos docurnentos administrativos aos arquivos .........................................................................I. . Os arquivos e as sum funOes nas diferentes civilizaes .................................................1.2. Os grandcs tipos do docurnentos produzidos .....................................................................1.3. Os diferentes suportes e a stia conservao atravs dos tempos ........................................1.4. A localizao dds arquivos ................................................................................................

    H 2. Dos responsveis dos documentos administrativos aos arquivistas contemporneos ................2.1. As relaOes corn a adrninistrao ..............................................................V.2. A colaboraao na defesa dos d ireitos e ptivilgios ...................................

    .3 . 0 apoio a investigalo .............................................................................. .4. 0 triple papel cultural, adm inistrativo e cientiflco ....................................

    3. A disciptina arquivistica ...................................................................................1 3 1 0 desenvolvimento da disciplinaIj3.1.1,0lntament.o ....................................................................................

    3.1.2. Os mtodos de conservao material ...............................................VI:.l.3.Acr iaAo eadjfu sao ....................................................................... .2. 0 nascimento dos princfpios an1uivisticos ................................................ ti.2.1.0 p rincipio da tenitoriajidade ......................................................... .2.2. 0 principio da proven incia ............................................................

    32.3. A abordagem das ut idades ........................................................... .1 A constituiao & urn c or pus cientifico e o desenvolvimento da forinao

    if;, Notas .....................................................................................................................

    2

    2327293232353844243454546484848505525252535356

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    $ I Os EUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTJCANDICE,9CapItulo 20 lugar da arguivistica na gesto da informalo ..............................I. 0 que e a gescAo da informaao ..............................................................2. 0 que a arquivfstica no seio da organizalo e da gesto cia inforrnalo3. A arquivIscica face as suas opes ...........................................................Notas........................................................Pane 2 A arquivistica: princfpios e basesCapfiulo 3 0 principio da provenincia e o (undo de arquivo ..............................1.0 principio da EQynincia ......................................................................

    II. Crialo e evoluao do princfpio ........................................................1.2. Definio ............................................................................................1.3. Os dois graus do principio da provenincia ........................................

    1.3.1 0 prirneiro grau do principio da provenincia ..........................1.3.2. 0 segundo grau do princfpio da provenincia ..........................

    1.4. A aplicaao do principio da provenincia .........................................1.5. Vantagens da ap icao do princfpio da proveniricia ........................1.6. Princfpio cia provenincia e principle, da territorialidade dos arquivos

    1.6.1. A evolulo do principio ...........................................................1.6.2. Definiao ..................................................................................1,6.3. Aplicaao do princfpio .............................................................2. 094od9ivo ....................................................................................2.3. Nolo e definiAo ...............................................................................

    2.2. Fundo aberto e (undo (echado ............................................................2.3. A situao do (undo de arquivo .........................................................Notas.......................................................................

    Anexo I Convenao de V iena sobre a Sucesso de Estados em mat&ia de Bens, Aiuivos e DIvidasdeEstado.........................................................................................................................

    Capitulo 4 Ocic1de vida dos documentos sic arquivo ......................................................................1. Constituiao e evoluao desta abordagem ...............................................................................2. Os conceitos ............................................................................................................................2.1. As trs idades ...................................................................................................................2.3.1. 0 perfodo de actividade: arquivos correntes ..........................................................2.1.2. 0 perfodo de semiactividade: arquivos intermdios ...............................................2.1.3. 0 perfodo de inactividade: eliminaao ott conservaAo como arquivos definitivos

    2.2. Cambiantes que se impem an conceito das trs idades .................................................2.3. 0 duplo valor dos arquivos .............................................................................................2.3,1.0 valor primdrio .....................................................................................................2.3.2.0 valor secundrio .........................................................3. As consequncias arquivlsticas cia aplicaao do ciclo de vida ...................

    3.1. A organizaAo dos documentos activos em arquivos correntes ..........3.2. A organizaAo dos documenti semiactivos can arquivos intenndios3.3. A eliminaao dos ducumentos inactivos .............................................3.4. A transferncia para os arquivos definitivos .......................................

    3.4.1. A qualidade de lesternunho dos arquivos definitivos .................3.4.2. A uiilizaao dos arquivos definitivos para fins administrativos3.4.3. A utilizaAo dos arquivos definitivos pan fins de reconstituio

    NotasCapitulo 5 As ,qnIadea,ebalho ..........................

    I. Unidades de trabaiho e noes fundarnentais2. Descrilo das unidades de trabalbo ..............2.1. Patrimnio arquivfstico comurn ...........

    2.2. Arquivos de not estado .........................2.3. Arquivos de urn organisrno2.4. Grupo de arquivos ............2.5. Fundo de arquivo) ...........2.6. We .................................2.7. Unidade de insta alo .................................................................,,2.8. Pea ................................................................................................................................2.9. Documento (de arquivo) .................................................................................................2.10. Dado (informacional) ...................................................................................................

    3. Caracterizao dos Instnjrnentos de descriao ddcumental e de referncia pam o utilizador3.1. Instrumentos de descrio documental ...........................................................................3.2. Instrumentos de referncia .............................................................................................4. Descrio dos instnimentos de gesto e de referenda pan o arquivista4.1. Instnimentos de gesto ...................................................................4.2. Instrumentos de referenda .............................................................

    5. Holograma da arquivistica contemporlinea ...........................................Notas.........................................................................................................Capftulo 6 A_Iaoeawgulamentaao ................

    1. Os ftndamentos do valor legal dos documentos2. As leis relativas aos arquivos ............................

    2.1 Cena internacional ......................................2.1 A America do North ..................................

    2.2.1.0 Canada ..................................................................................................................2.1.2. 0 Quebeque .............................................................................................................2.2.3. Os Estados Unidos da America ................................................................................3. Leis canadianas e quebequenses complementares as relativas aos arquivos .............................

    3.1. Acesso aos documentos e proteco das infonnaes pessoais .........................................3.2. Propriedade intelectual e direitos de autor ........................................................................3.3. Bens culturais ....................................................................................................................3.4. 0 Code Civil (o caso do Quebequc) ..................................................................................

    4. Leis especIficas a certos dominios de actividade e otitras leis relativas aos arquivos ...............4.1. Leis espeefficas de terms dommnios de actividade .............................................................4.2. Outras leis relativas aos arquivos .......................................................................................

    5. A atitude do arquivista face as leis ............................................................................................5.1. 0 respeito da lei: urn elemento suplementar da planificao .............................................

    636163697377797979828383838484$68687$79090929295

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    10 / OS FUNDAMIENTOS DA DISCIPLINA ARQUJVfSTICAD10E/II5.2. 0 parecer juridico: urn trunfo indispensavel ......................................................................5.3. Quantidade de docurnentos cuja conservao d dcterminada por disposioes egislarivas

    ouregulam entares .............................................................................................................Notas............................................................................................................................................

    Pane 3 A arquivisLica e 0 seu mcioCapitulo 7 A tipologia e as particularidades dos arquivos norte-americanos ....................................

    I. Tip ologia das instituies d e arquivo none-americanas ........................................................1.1. As instituiOes governamentais nacionais ......................................................................

    I.].]. Definiao, organizaAo e conteOdo ........................................................................ 1.2. Principals elementos distintivos ............................................................................

    1.2. As instituies governamentais regionais .......................................................................1.2.1. Definiao, organizalo e conietido .......................................................................1.2.2. Principals elementos distintivos ............................................................................

    1.3. As instiiuioes governamentais locais ............................................................................1,3.1. Definiao, organizalo C conteddo ........................................................................1.3.2. Principals elementos distintivos ............................................................................

    1.4. A s institui oes d e ensin o ................................................................................................1.4.1. Definiao, organizalo e contetido ........................................................................1.4.2. Principals elementos distlutivos ............................................................................1.5. As instiLuioes da area da sa de ......................................................................................1.5.1. Definio, organlzalo e contetido ........................................................................1.5.2. Principals elementos distintivos ............................................................................

    1.6. A s institui oes re ligiosas ................................................................................................1.6.1. Delinilo, organizalo e contedo ........................................................................1.6.2, Principals elementos distintivos ............................................................................

    1.7. As instituies industriais e comerciais ...........................................................................1.7.1. Deflniao, organizao e conteddo ........................................................................1.7.2. Principals elementos distintivos .............................................................................

    1,8. As instituies socioculturais e cientificas ......................................................................1.8.1. Definilo, organizao e conteUdo .........................................................................1.8.2. Principals elementos distintivos .............................................................................

    2. Component" do contexto no qua] evoluem as instituioes de arquivo norte-americanas ......2.1. A descentralizaao dos arquivos ......................................................................................2.2. 0 catheter recente dos an1uivos .......................................................................................2.3. 0 acesso a informaao e a proteco da vid a privad a .....................................................2.4. Os arquivos H a

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    12 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQIJIVISTICAG e n e ra l i d a d e s ......................................................................................................................97Capf t u l o I Os a rqu i v os , os a rqu i v is t as e a a rqu i v is t i ca : c ons i de ra oes de o r dem h i s r i c a99Capitulo 2 0 lugar da arquivIstica na gestlo da infonnao 04Capftu!o 3 0 principlo da provenjncia e o fundo de arguivo 05Capitulo 4 0 e de vida dos documentos de arquivo 08Capftulo S As unidades de Irabalbo .....................................................................................09Capitulo 6 A legislaao e a reguiamentao 13Capftnlo 7 A tipologia e as particularidades dos arquivos norte-americanos 16Capflu!o 8 Os tipos e as suporles de arquivo ......................................................................22Cap i tu lo9 A fo r i naao .......................................................................................................34Equava lenc ias de tennos a r qu ivfs tacos : Canada (Queb eque ) , Po r tug a l , B r as i l .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..339OT A TR DU O PORTUGUESIndice ..................................................................................................................................................... 34 A obra Os Fundamentos do Disciplina Arquiv sttica 0 prlmeiro manual de arquivisticatraduzido e publicado em Portugal. Este facto trouxe tsponsabilidades acrescidas a edipo

    portuguesa, a qual teve de enfrentar opOes tecminolOgicas e problemas de natureza concep-tual complexos, sobre os quais a comunidade arquivIstica ainda no chegou a consensus.

    Neste contexto, procurou-se urn compromisso entre uma traduo literal, prxirna do ori-ginal frances, e a terrninologia arquivIstica que se tern vindo a afirinar em Portugal on queconstitui a tradiao portuguesa. Usamo-la nos casos em que os termos escolhidos cram segu-ros e no implicavam alteraao conceptual. Foi assim, por exemplo, que optmos por , ao invs de wnnclpio do respeito pelos fundos'>, apesar de os auto-its da obra utilizarem a expresso ((Principe de respect des fonds.

    Sernpre que este tipo de interveno no se afigurava pacifica, optou-se por traduzir daforma mais literal a proposta dos autores canadianos, de modo a garantir a fidehdade an seutexto. Foi nesta linha de pensamento que mantivemos as designaes de Rousseau e Couturesobre os valores dos documentos on as multiplas designaoes dos instrumentos de descriiodocumental. Isso nao invalidou que, sempre que achmos pertinente, incluIssemos notas treviso cientifica em que procurarnos indicar qual a terminologia elou o sentido das desig-naOes empregues em Portugal. Para aumentar o gnu de segurana da traduao e dar opor-tunidade ao aparecimento de leituras diferentes, inclulmos uma listagem final onde figurarnalguns termos arquivIsticos empregues no presente trabalho, devidamente acompanliados dasua equivalencia na obra original. A listagem de termos em questo vern enriquecida corn asexpressUes brasileiras que Ihes correspondern, nem sempre coincidentes com as nossas. E ape-nas urna forma de contornar alguns problemasde diferena terminolOgica emit us dois pal-ses lusOfonos, a qua] no dispensa consults da bibliografia especializada.

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    4 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAGostarfamos ainda de salientar que a edio portuguesa bencficiou de algumas actuali-

    zaoes propostas pelos autores, as quais nos permitem acompanhar a evoluo do seu pensa-mento arquivistico, bern corno uma rnelhor conjugao corn o contedo do segundo volumeda obra, em fase de preparao no Canada.

    No poderiamos terminar scm expressar Os flOSSOS sinceros agradecimentos a todos oscolegas e amigos que, corn a sua disponibilidade para debater, infornrnr ou sugerir, contri-buIrarn para o aperfeioarnento desta traduo, corn especial destaque para Carol Cou ture,Louise Gagnon-Arguin e D aniel Ducharme, do Canada, M adalena Garcia e Fernanda Ribeiro,de Portugal, e Luis Carlos Lopes, do Brasil. PREFACIO

    Pedro PenteadoUrn dos aspectos mais surpreendentes e rnais lamentveisllesta era da informaao que

    a mais antiga forma de inlormao registada - essa inforrnao Unica e em inentemente per-tinente Para a cornunidade internacional e pan qualquer povo que constitua os arquivos dassuas instituiOes - sempre a menos conhecida e a m enos cornpreendida e, per consequn-cia, o menos hem utilizado de todos os recursos informativos' . Esta repetio de u ma obser-vao feita ha mais de urna ddcada sublinha o valor e a irnportncia do presenteestudo.A viso de conjunto que este nos apresenta dirigida no so no pUblico em geral e aos seusutilizadores eventuais, como aos profissionais da gesto da informao, incluindo os que pre-tendern obter o cargo de arquivistas sern conhecereni e compreenderem bern o papel q ue O sarquivos desempenham em qualquer sociedade.

    Se tivssemos literalmente de comear pelo princIplo, deverlamos recordar que, ha mison rnenos seis m il anos, a hurnanidade corneou a desenvolver a civilizaao ao longo dosvales dos principals rios da massa continental da Eurasia. A ernergncia de instituic&s cons-drain urn factor crftico nessa transio cuja continuidade e organizao das actividades foramasseguradas gracas a inveno e a aplicaco de urna nova tecnologia: a escrita. A escrita per-rnitiu registar dados, informaao e conhecirnentos, criar sobre forma tangfvel e material, porassirn dizer, sobre urn suporte, o que antes sO podia set com unicado, conservado e transmi-tido oral on visualrnente. Oque se seguiu foi que os docurnentos escritos permitiram aos m-cadores, aos sacerdotes e abs reis consolidar e alargar o seu poder e a sun influncia atravsdas instituioes que des prOprios criavarn.

    Frank B. EVANS, "An Archival Perspective", Unesco Journal o Information Science, Librarianshipand Archives Administration, IV, n 2 (Abril-Junho, 1 9 8 2 ) , 7 8 . 8 .

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    IS / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTJCAREFACIO /19es, as organizaOes e os indivfduos, por interrndio de quase todas as suas actividades. Asica arquivIsticas europeias corn o records m anagement norte-americano, criando assim umaadrninistraOes piiblicas tornaram-se organismos de recolba, de tratarnento e de produo deiscipilna globa que cobre o conjunto dos arquivos. Por consequncia, eta pode servir deinformao, e o va or dos seus arquivos, enquanto fontes primrias e Unicas de inforrnao,nodelo aos arquivistas e aos servios de arquivo no deabar de urn novo rnilnio que se viiiaurnentou consideravelmente.untar a longa e essencial histOria dos arquivos.

    Actuamente, o aargarnento das funOes das adrninistraoes pUbticas e de outras insti-tuiOes contribuiu no so para o crescirnento exponencial da quantidade dos documentos deranck B. Evansarquivo, como foi tambm acompanhado pelo desenvolvimento de novas tecnologias e da suaollege Park, MDaplicao para criar e utilizar arquivos. A fotografia e o registo sonoro enriquecerarn consi-deravelmente a herana documenta, mas estas invenOes criaram problemas de acesso, deconservao, de controle materia e intelectua particulates, em virtude da fragilidade dossuportes. Alm disso, a introduao progressiva da tecnologia electrOnica obriga os arquivis-tas a trabahar corn o menos permanente dos suportes e transforina o modo como as insti-tuiOes funcionam retativarnente aos mtodos de criao e de recepo, de utilizao, de con-servao, de orientaao e de elirninaao da informaao e dos docurnentos de arquivo.

    0 acrdscimo dos docurnentos de arquivo registados em todos os suportes e as ateraOesr p id a s o p e r a d a s n o f u n c i o n a m e n t o d a s a d m i n is t r a O e s p t I b li c a s e d e o u t r a s i n s ti tu i O e s r e p r e -sentarn srios desafios para todos os responsveis dos arquivos. Assirn, os arquivistas devemreexarninar os seus conceitos tradicionais, os seus principios e mtodos e modificar ou subs-t it u ir a s p r ti c a s h e r d a d a s q u e j n o s e c o a d u n a m c o r n a s n e c e s s i d a d e s a c t u a i s . D e v e m d e s e n -volver urna disciplina que, no so preserve a natureza, Os valores e a utilizao dos arquivos,corno fornea soluOes prticas pan os problemas suscitados pelos novos suportes que subs-tituem os docurnentos de arquivo em papel e que transformarn a prOpria gestAo.

    A presente obra contribui para promovr a disciplina arquivIstica. Eta acentua a necessi-dade de gerir os documentos dos arquivos modernos desde a sua criao ou recepo, pas-sando pelo perfodo de utilizaao pan os assuntos correntes ate a sua eliminaao autorizadae ao longo da sua conservaAo permanente, no caso de nao-eliminaao. Nesta obra, insiste--Se na irnportncia de respeitar a integridade de todos os arquivos durante todo o ciclo da suavida bern corno num cuidado especia a ter na escolha dos arquivos definitivos. Sublinha-seiguamente que o contexto organizativo e funciona dos arquivos, que garante o principio daprovenincia, deve set assegurado. Os autores desejam am disto que os arquivistas facili-tern a utilizaao dos arquivos criando e pondo a disposiao das diversas clientelas interessa-das os instrurnentos de descrio documenta apropriados.

    Esta disciplina ern plena evoluao reconhece inteiramente a rica herana resumida combrevidade neste prefcio. Eta rene corn xito Os elementos fundamentais da teoria e da pr-

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    PREAMBULO

    Em O utubro de 1982 era publicado 0 livro intitulado: Let archives au XX siicle. Unereponse.aux besoins de 1 administration et de la recherche. Elaborado a partir da experln-cia adquirida pelos autores na sua prtica qu otidiana da arquivIstica, das suas notas de ensino,bern corno das suas reflexoes e investigaOes, ele constitula ento a prirneira obra de smnteseem arquivIstica do Quebeque. Vdrias obras se the vieram juntar a partir daf, demonstrando avitalidade da disciplina. Nessa poca, contudo, os autores hesitavam era no editor (oSeStariat gnral de I'Universit de Montral) que corresse o risco de im primir duzentosexemplares do seu manuscrito. Ficararn espantados quando Jacques Boucher, entAo secret-rio-geral, thes deu a conhecer a sua inteno de editar, no duzentos, mas quinhentos exem-plares.

    0 acolhimento reservado ao livro petos tcnicos, estudantes, professores, adrninistrado-rs e outros piiblicos ultrapassou todas as expectativas. Era ou seja doze anos depois,.foran sac mu exemplares da verso francesa que foram vendidos no Quebeque, no C anadae por ease mundo fora, bern corno verbs milhares de exemptares das versOes inglesa e esjn-hoia. Corn efeito, em 198 7, a editora de Monreal, a Vhicule P ress, editava urna veisoinglesa corn o titulo: The Life of a Document A Global Approach to Archives and RecordsManagement, eerama outra ediao em espanhol com o tituto: Los archivos en e lsiglo XX . Neste ltjmo caso, tratava-se de urna ediao conjwita do Secretariat gnral det 'Universjte de Montral e db Archivo General de Ia N acidn (Mexico).

    A ohm que se oferece hoje no leitor inscreve-se na continuidade da iniciativa desenvol-vida ao longo dos anos 80, bern como do sulco traado pot uma disciplina arquivIstica emplena evotuao. Eta constitui uma nova obra e no uma simples reediao revista, corrigida eatualizada de Les archives an X X sicl e. Alias, o volume das informaOes tratadas incita-

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    22 / OS I'UNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICA-nos a publicar a obra em dois volumes distintos. 0 prirneiro volume, que objecw destapublicaao, debrua-se sobre os fundamentos da disciplina arquivIstica. ExpOe as diversasfacetas, Eanto sodais como tericas e contextuais da arquivIstica, vistas pelo prisma da visogloba e integrada da disciplina. 0 segundo volume ser editado posteriormente. Centradoessenciamente no pr em prtica da viso globa e integrada da disciplina arquivIstica, tra-tanS principairnente das funOes arquivIsticas, on seja: a criao, a avaiao, a aquisio, aclassificao, a descrio, a cornunicao e a conservao.

    A p r e s e n t e o b r a r e s u l t a , e m p r i r n e i r o l u g a r e a n t e s d e m a i s n a d a , d e u r n t r a b a l h o d e e q u i p a .Por isso, fazernos questo em agradecer caorosarnente a todos aqueles que no poupararntempo nem esforos a tim de a tornar possivel. Os nossos rnais sinceros agradecirnentos vopara as Presses de lUniversit du Qubec que aceitararn pubiic-la e integr-la na sua novacolecao de gesto da informaao, para as nossas colaboradoras e colaboradores: FlorenceAres, Chanta Fillion, Marlene Gagnon, Louise Gagnon-Arguin e Dominique Mantel, berncorno para Frank B. Evans, dos Nationa Archives and Records Administration (NARA) dosEstados Unidos da America, que aceitou graciosamente redigir o prefcio da obra. Pot ltimo,querernos agradecer rnuito especiamente a Danile Proulx, secretria dos Services desArchives de l'Universit de Montra, que procedeu ao tratamento de texto do manuscrito,bern como a Jacques Larose, secretario-redactor do Secretariat genera de l'Universit deMontral, que teve a pacincia de 18-la atentarnente. Os seus comentrios e sugestOes contri-buirarn amplamente para torn-la rnelhor.

    INTRODUcAO

    A gestAo dos arquivos, a profisso de arquivista e a disciptina arquivIstica desenvolve-r a m - s e c o n s i d e r a v e lm e n t e a n l o n g o d a s l ti m a s d C c a d a s : a q u a n t i d a d e d e s e r v i o s d e a r q u i voe d e a r q u i v i s t a s a u me n t a co n s t a n t e me n t e , a p r o t i s s a o e n s i n a d a n a s i n s t i t u i O e s d e ca r c t e ru n i ve r s i t ri o , a n me s m o t e mp o q u e a i n ve s t i g a a o t e O r i ca e p r t i ca , s i n a I d e v i t a l id a d e d e a m ad i s c ip l in a , s e a c e n t u a , c o r n o 0 a t e s t a 0 n t i m e r o s e m p r e c r e s c e n t e d e p u b l ic a O e s .A conjUntura social desempenhou urn papel de grande importncia no desenvolvimentod o s a r q u i vO s , d a p r o f i s s a o e d a d i s c i p li n a . C o n f r o n t a d a co r n u m a m i r i a d e d e i n f o r ma e s p o l i -morfas susceptivel de set guardada em suportes cada vez mais diversificados e capazes dea r m a z n a r e m q u a n t i d a d e s f e n o m e n a i s d e d a d o s , a s o c i e d a d e a f u n d a - se l i te r a l m e n t e s o b u r n sm a s s a d e i n f o r m a o c u jo c r e s c i r n e n t o 6 e x p o n e n c i a l. L o n g e d e d a t s i n a i s d e c a n s a o , o p r o -c e o c o n t i n u a a a c e n tu a r - s e . N a o s e f a l a j e m i n s t a u r a r v e r d a d e i r a s a u to - e s t r a d a s d e i n l o r -maocapazes de trocar milhares de inforrnaOes, e isso vinte e quatro horns por din, tre-zentostsessenta e cinco dias por ano?

    k s o c i e d a d e t e m , p o r a r r a s t a m e n to , c a d a v e z m a i s n e c e s s i d a d e d o d i s c i p l i n a s e d e t c n i-coscapazes de fornecerem soluoes de conjunto, viveis e rendIveis para us inimeros pro-b l e m a s s u s e i t a d o s p e l a g e s ta o d e s s a r n a s s a d e i n f o r m a O e s , e m t o d a s a s s u a s d i m e n s o e s , d e s d easu4 ciiaao, avaliaao, aquisio, classificaao, descrio, comunicao ate a sua conser-v a o ; O s arquivistas e a disciplina arquivIstica contribuem j com diversas soluUes con-c r e t a s p a r s e s s e s m l t ip l o s p r o b le r n a s 0 6 p o r i s s o q u o o s e u p a p e l e c a d s v e z m a i s r e c o n h e -c i d o p e l a s o c i e d a d e q u e e l e s s e r ve m.

    A l m d i s s o , a s s i t u a O e s q u e o s a r q u i v is t a s e a s u a d i s c i p li n a e n f r e n t a m r e n o va m- s e a u r nritthO acelerado,. cr iando novos desafios e suscitando am questionamento constante.C n s c i e n t e s 4 5 s i t u a a o , o s a u to r e s d e c i d i r a m c o n t i n u a r a f o r n e c e r o s e a c o n t r i b u to a n r e d i -

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    24 Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICANTR0DUAO/25gireni o presente livro. Todavia, fizerarn-no tendo em conla o n ovo contexto das cincias doinforrnaao, o lugar quo nele ocupa a disciplina arquivIstica an lado de outras disciplinas afins,bern corno O s elernentos de prospectiva que Ihes parecerarn mais promissores.A viso global e integrada dos arquivos, da arquivistica contempornea e do papel do

    arquivista que caracterizava Les archives au XX sicle aqui no so mantida, corno consti-tui uma premissa ornnipresente. Assirn, osjgyvistas so apresentados corno Os profissio-nais da ges tio dos arquivos; sendo oshrquivos definidos corno o conjunto dos docutnentos,pouco importando a su idade, o tipo do suporte (incluindo os magnticos e inforrnticos) ono seu valor (administrativo, legal, financeiro ou de testemunho), quo contm inforrnao org-nica, isto inforrnao elaborada, enviada ou recebida no rnbito da rnisso de urna pessoafisica on rn oral. \ Q uantoaarquivistica, esta tratada corno a disciplina que agrupa todos o sprincIpios, nonnas e tcnicas que regern as funOes de gesto dos arquivos, tais corno a cria-o, a avaliaao, a aquisiAo, a classificao, a descriao, a cornunicao e a conservao.

    Uma abordagern deste tipo tern o mrito de favorecer plenamente a realizaao do papelsocial do arquivista, do m axirnizar a sua eficcia administrativa e profissional atravs da ins-taurao, manuteno e desenvolvirnento de uma gesto saudvel da informao orgnicajunto das pessoas fIsicas on morais que utibizam os seus servios e, finalmente, de permitir aemergncia de pontos do concertao corn os outros tcnicos das cincias do inforrnao afin do servir ainda rnelhor a sociedade.

    Esta abordagern est patente nas trs panes da presente obra que incidem sobre os fun-damentos da disciplina arquivistica. A_pmeira parte, que trata da arquivIstica e da socie-dade, e constitulda por dois capitulos quo abordam respectivamente as consideraoes de ordernhistOrica e o lugar da arquivistica na gesto da informao. 0 leitor cornea assirn por so farni-liarizar corn as origens e a evoluo da discipbina e posteriormente por situar o pap eb con-ternporneo deJa que o de u rna gestao da infoz-rnao orgnica no seio daquilo a que se sedecidiu charnar a sociedade do inforrnaao.

    Munido do u rna perspectiva do papel e do lugar que ocup arn a disciplina, os arquivistase os arquivos na sociedade, o leitor pode ento abordar corn rnais facilidade aaane,quo incide sobre os princIpios e as bases da arguivistica, a qual constitui o rnago da presenteobra. Ela divide-se em , I uatro_capftulos que expOem sucessivamente o pncjpiodaprove-nincia e o fdcuiearquivo, o cjcloda.vida dos docurnentos de arquivo, as unidades de tra-balho bent corno a legisbao e a regulamentao.

    Finalmente, o leitor terminar o seu priplo corn a descoberta da terceiraparte intitulada

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    PARTE 1A ARQUIV STICA E A SOCIEDADE

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    CAPITULO IOs ARQUIVOS, Os ARQUIVISTAS E A ARQUIVISTICA

    Consideraes histOricasLouise Gagnon-Arguin

    E S aparecirnento da escrita que remonta o nascimento dos arquivos e da arquivIstica,bern corno as novas ocupaOes, entre as quais a de arquivista. A escrita perniitiu produzirbras Jiterrias mas tambdm serviu a administrao. Assim, desde que o hornern utiliza aescritaipara registar informao que 6 possIvel seguir a evoLuao do suporte no qual foi ins-critassa mesma informaao, o tipo de informaao retida, os mtodos de trabaiho utilhzadospan frat-la, hem como a evoluao das funoes das pessoas afectas a gestao dessas infor-maes.Y N ;

    Conheceras origens de uma profisso e da sua misso nao releva da simples curiosidade.Aides de mais, demonstra uma preocupacAo em querer situar a sua actividade no tempo. NoMYc)S ar44ivistas no manifestaram grande empenho em faze-b. Ernest Posn er, clebrearqthvista athericano, sublinha a importncia disso na sua obra sobre a histOria dos arquivosno MundolAntigo:4.. ]archivists must feel a need to explore the origins of their profes-sion to understand the circumstances and f orces that have determined its evolution, and, withsuch undastanding, to anticipate and prepare for the futur&>> . IVdrios lutores estudaram urn on outro aspecto da histOria dos arquivos. Alguns intaes-saran1se paiticularmente pela sua histOria num a determinada 6poca e pebas grandes insti-

    Pmliora agregada da cole de bibliotMconomie et des sciences de linformation de l Univeisitt t ieMGnt aL

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    30 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAS ARQIJIVOS, OS ARQUtVISTAS F A ARQUIVISTJCA/31t u i Oe s 3 . Outros debruararu-se sabre a sua evoluo aravs dos (empos 4 e preocuparanFsecorn as caracleristicas especificas dos diferentes scu]os. Poucos estudararn, contudo, as rela-Oes entre o papel socia dos arquivos e a histria das mentaidades, entre a organizao dosarquivos e pessoa pie par des e responsavel e a hisiOria das instiluiOes e das prticas poll-ticas. E o que nos proponios reaizar atravs dos grandes movirnenlos de civilizao que exis-tirani desde o inIcio Wi utilizao du escrita.Vrias dificuldades se apresenurn a elaborao de urn f resco que incida sobre a histO-na dos arquivos desde a Alta Antiguidade. A prirneira dificuldadc situa-se no piano do voca-bulrio. Os terrnos arquivos", aarquivistas '> e arquivistica> fazem referncia a conceitosmodernos do doniinio arqLlivisiico. Utiiiz-]os para designar as documentos encontrados naAsia Menor e que datarn do milnio iv, fasear a reaidade da poca, rnas nurn artigo sobrea histria dos records tisoitageis, Luciana Duranti, depois de ter rnanifestado feservas aofacto de se aplicar a nossa terminologia a tempos mais recuados, revela as vantagens, nes-tes lermos: "[..] it indicates prec isely their functions in the tight of our own d ivision oflabor 5 >>. Escudados nesta afirniao, utilizaremos os ternios >, arquivistica>> earquivistas. Urna ouira dificuldade provern do nUrnero de anos a cobrir per este tipo deinvesligao. Os primeiros docurnentos administrativos encontrados datam do niilnio ivantes de Jesus Cristo. Nao se pode pois aprofundar cada urna das pocas desde essa datacivando niuito podernos deter-nos nos acontecimentos e nos perlodos mais signiticativos eque niarcararn urn ou outro aspecto da histOria. Uma outra contingncia est ligada a dirnen-so geogrfica do assunto. A histria dos arquivos cornea, em prirneiro lugar, no Oriente.Prossegue nesses pulses depois da sua separao do Ocidente. Mas no entanto nos paisesocidentais que evoluem os usos administrativos que esto na origern dos nossos comporta-me n t o s co n t e r n p o r n e O S .Antes de dar inlcio a este estudo, iltil lembrar as grandes caracterIsticas pollticas,sociais, econmicas ou culturais das pocas rnais marcantes para a histria dos arquivos,dos arquivistas e da arquivIstica, a firn de situar inelbor os diferentes acontecimentos.Assim, o exercicio do poder na Alta Antiguidade est intimarnente ligado a Vida religiosa.Os faraOs do antigo Egipto representavam tanto a autoridade politica como a dos deuses.Nessas civilizaUes, quer se (rate da civitizao assIria ou egIpcia, a vida administrativaencontra-se simplificada pelo facto de o poder ser nico. Todos trababam para o rei, C OSfuncionrios tm apenas a misso de controlar que tudo se faa segundo as regras da arteA Antiguidade Clssica caracteriza-se per uma administrao mais dernocrticaw, comoa de Arenas, onde os cidados tm actividades independentes do governo e onde este dirige

    por intermddio de instituiOes que devern, em contrapartida, inscrever urn testemunho dassuas aces. Roma, devido a sua administrao muito descentraizada C an papel quedesempenham as grandes famulias, exercer tambrn uma forma de autoridade que favo-rece a dispersOdos documentos ligados as diferentes actividades. A MEn Idade Mediacaracterzaeseipor modificaOes importantes na vida econrnica, socia e politics. Assim,o parcelarnento dos territrios com a implantao de uma autoridade autOnoma em cadaurn de les constitui urna prtmeira aterao importante. A dirninuio do papel da escritana vidaadminiStrativa, bern coma o problerna da ausncia de uma lingua cornum a gran-des territrios, conStitui uma outra ruptura corn a poca antiga. Contudo, a medida que seavanca na Made Media, Os reinos tornam-se rnaiores, os terr itrios expandem-se, ha auto-ridades que se afirmam e que favorecem deste modo a constituio de estnituras admi-nistrativas. Ao mesmo tempo, a Igreja desenvolve um poder pfiraelo e Os mosteiros tor-narn-se lugares seguros e de poder. Do sCculo Xli an sculo xvtii, assiste-se a implantaaodas comunas em Franca, a constituio de reinos urn pouco per toda a parte naEuropa eA constituicaodos estados modemos Essas diversas autoridades tiveram de se imporparase desenvolverem. Eas baseiam a seu poder em titulos e privilgios que Ihes do a garan-tiadesse poder. Em reaco a essa sociedade, d-se a Revoluao Francesa. Assim comeaummodo deadministraao diferente, onde o docurnento j no desempenha apenas umpapl jurIdico, rnas constitui um instrurnento do poder cujo acesso 6 sinaI do poder dopovo. Estarevoluo ira ter um impacte determinante nos arquivos corn a criao uma ins-tituio naciona cujo papel 6 o de assegurar a guards dos arquivos. 0 sculo Xix, corn odSnvolvimento do nacionaismo, att-ibui an documento urn vaor de testemunho, j adonumsentido juridico rnas para reconstituir a historia. No sculo xx, assistir-se- aoaumentodaquantidade da inforrnaAo, a sua acessibilidade, a sua vaorizaAo e tambtm, im:moviniento de racionaizaAo da sua utilizao.

    E t e n d o e m c o n t a e s t e s g r a n d e s m o r n e n t o s d a h i s t d r ia e 0 s e u i r n p a c t e n a o r g a n i z a A o en o E p a p e l d o s d o c u m e n t o s q u e i r e m o s t e n t a r r e s p o n d e r a u r n c e r t o n r n e r o d e q u e s t U e s . 0 q u eeram os arquivos no passado? Qua o star paper Quem foi responsavel pelos documeiflosa t r a v s d o s te m p o s ? C o m o 6 q u e e s s a s p e s s o a s d e s e m p e n h a r a r n a s s u a s f u n o e s ? D e s t e m o d o ,ixrnos traar em grandes linhds quer a histria dos arquivos corno a dos arquivistas e a daa r q u i v I i c a , d e s t a c a n d o a s s u a s p r i n c i p a i s e v o l u O e s e t e n t a n d o e x p h c a r e s t a s t r a v s d e r e f e -ncis aP su s o s s o c i a i s o u p o l i t i co s d n a d i f e r e n t e s p o ca s .

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    32 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAS ARQUIVOS, OS ARQUIV STAS IS A ARQUIVISTICA/331. Dos docurneiitos administrativos aos arquivosA histria dos arquivos pode set abordada sob diferentes nguios. 0 contedo dos do-cumentos e a concepo que deles se fez constituent que nos esciarecern sobre opapel que des desempenharam, bern como sobre o lugar que des ocuparam nas diferentescivilizaoes. Os suportes em que 101 registada a informao administrativa apresentarn tarn-bern urn grande interesse. Para alCrn de mudarern ao longo dos anos, condicionararn o seuarmazenamento, a sua conservao e a sua utiiizao futura e exigiram o desenvoivitnento deurna espccia izao apropriada. Urn e outro ilustrarn a sua maneira a histria da profisso eda disciplina.1.1. Os arquivos e as suasfunoes nas thferentes civilizaoes

    A partida, que significa a palavra que os arqtai-vos encenam e a sua importncia no exercIcio do govemo, criando Os Archives nationales deFrance em 1789 e querendo conservar, desde o inicio do mandato, todos os documentos pm-duzidos sob a nova administraao. Napoleao, ao desejar centralizar num mesmo local todosos documentos dos estados europeus conquistados on ocupados no periodo do seu reinado deimperador, nAo est a manifestar a inteno de demonstrar 0 sea poder? E-lhe alias atribuidaa seguinte frase:

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    34 / Os FUNDAMENTOS DA DISCII'LINA ARQUIVISTICAs ARQTJ VOS, Os ARQIJIVJSTAS LA ARQUIVISTICA/350 papel dos arquivistas tanibdrn 0 (IC a g i r C O n l O )iIC/floIiG.Desde a inais ADa Antiguidade que o hoioeui sentiu a , ieccssidade de co,,servar a suit prOpr ia oneto6nio,. pr ir ae i r o sob fo r m-a o r a l depo is sob a fo r ma de graffiui e de desenhos e, t inahnentc, g raas a Ut' ] sisema codif icado.1510 . coil ] sulIbolos grficos cor iespondenies a sfjahas on i i le tras. A n le i i lna assirn rcg istada e conservada const i tow C coil sIll w a inda a base de Loda e q ua lquer acd vi dade hu mafia : a cx is tnc ia de Li Lu gb po s oc i a l s e i a mpos -sivel seat 0 r eg is lo da me r uona , on seja, Se,] ] arqLovos. A prpr ia vida no exisur ia, pelo u lenos sob as forma s quecoil I lecei l lOs, Sc mdLi houvessc o ADN, is to & a i i iemor ia gc i lel ica regis tada nos c(arqt l i vos)'pn oo rd i a i s '

    Esta afirmao de Lodolini traduz perfeitaiuente 0 conceito de rnernOria aplicado aesarquivos. Trau-se, em primeiro lugar, da mernria necessria a quaquer adrninistraao sau-dvel nias tanahm daquela quc ira ser Util as geraOcs vindouras. Era antes de mais it essameniOria das actividades niais recentes que os governos, desde os tempos antigos, fazianjapelo, regisrando os tratados, as contas e us privilgios. Os arquivistas do sculo XIX d e s t a -cararn posteriormente a importncia da memria titilizando essas niesmas informaoes, masPara fins de reconstituio. Nessa atura, o terrno uarquivos" aplica-se a documentos utiliza-dos Para esses Fins e exclui Os docurnentos administrativos de uso corrente que, no entanto,as Oregos dos sculos iv e ill a. C. consideravam como arquivos.

    Os arquivos constituent urn contributo irnportanre pata a invest gao. So uti-lizados em diferentes disciplinas. Estudos sociol6gicos' 4 , d e n a o g r f ic o s e m e d i c o s ' 5 b a s e i a m --Se eni arquivos, que serveni tambdrn Para a investigao em arte' 6 e em ci8ncias'7.

    Os historiadores so conhecidos coma grandes utilizadores dos arquivos. E s o b r e t u d o apartir do sCculo XIX q u e s e c r i a e s s e g r a n d e e l o e s t r e i to e n t r e h i s t r ia e a r q u i v o s .

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    36 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAS ARQUIVOS, Os ARQUIVISTAS E A ARQUIVIST CA/37urn edicto de Mclo Rufo, prefeito do Egipto sob a dominao roniana, obriga dodos os pro-prietrios [a] registarern as suas propriedades no prazo de seis meses nos arquivos das aqui-siOes, e que os credores procedarn de forma idntica relativamente as s u a s h i p o t e c a s , b e r ncorno todos os outros possuidores de titulos vIidos23>.

    Por volta do sculo xii intensificam-se as actividades relativas aos eactos on p e a s q u econstituent titulos par a posse de tetras e de direitos 2 4 " . Es t e s a c t o s t i n h a m a f o r ma d e < < d i p l o -mas'> cujo acervo constitui o >: oos titulos de Laval; Vitr e outras tetras "saidas dacasa\ hem coma Os papis "intiteis" entre Os quais fragmentos de contas e grande quaiiti-d a d e ; d e c a r t a s 3 1 >'. Os arquivos familiares de Agay (cornuna de St-Raphael) inventariadosd e p o i s d a R e v o l u o c o n t m < >. S a o , p o r co n s e g u i n t e , e m i t id o sdocmentos relativos aos titulos e aos prvilgios, outros relativos a administrao finauceirae a u t o s p r o v e n i e n t e s d a s r e l a O e s e n t r e a s p e s s o a s . D e s c r i O e s i d n ti c a s p o d e i i a m c e r t a m e n t es e t f e i t a s a p a r t i r d o s p a p i s d a s g r a n d e s f a m f l i a s , t a n t o d a s g r a n d e s f a m f l i a s r o ma n a s C O mOd a s f a r n i l i a s n o b r e s d a p o ca f r a n ce s a p r e - r e vo l u c i o n a r i a .

    ' G s a r q u i v o s d a R e v o l u a o F r a n c e s a a g r u p a m , e m p r i m e i ro l u g a r , o s d o c u m e n t o s d a s i n s -t h n d i a s g o ve r n a me n t a i s d a R e vo l u a o . S o t a mb d m co n s t i t u l d o s p e l o < mu c l e o d u r o R d a n o va-60: Eles so

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    38 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAS ARQUIVOS, OS ARQUIVISTAS E A ARQUIVISTICA/39financeiras e comerciais e na sua internacionaizao que facilitaram o crescimento da pro-dupo de documentos atravs da reprografla, da micrografia e da informtica. Por limo, aimportncia atribulda ao escrito urn factor cultura no negligencivel. Em surna, Ludo con-cone Para a produo de docurnentos, Para a sua esLandardizao e para um acrscimo dein1portncia do sell a s r e l a O e s e n t r e a s p e s s o a s . a s o r g a n i za c O e s e Os g o v e r n o s .1.3. Os diferentes suportes e a sua conservado afravs dos tempos

    A histOria dos arquivos est intimarnente ligada a histria do suporte da informaaoadininistraLiva. Este suporte d impontante, na medida em que se deve a sun durabilidadeon a sua fragilidade o facto de se ter on no conservado o testemunho e de se poderemconsultar os vestfgios do passado. Entre os principais suportes utilizados, encontra-se aplaca de argila, o papiro, a couro, a papel 3 6 e, mais recentemente, os diferentes suporteselectrnicos.

    As placas de argila foram utilizadas nas civilizaOes da Alta Antiguidade e da AntiguidadeCissica. 0 sell artesana apresenta vrias vantagens. Muito baratas, elas podiarn setfabricadas em grande quantidade. Aldrn disso, eram faceis de utilizar e de armazenar. Para asgeraOes futuras, tiveram tambm a vantagem inestimvel de se conservarem, o que permi-tiu conhecer as civilizaOes que as utilization. EscavaOes efectuadas na AssInia puseram adescoberto, entre outras coisas, os arquivos do reino de Ugarit 3 7 e de Mari".

    E nas margens do Nilo que crescem as foihas necessrias a confeco do papiro, outrosuporte utibizado depois das placas de argila. Este produzido do seguinte modo:

    Separam-s e c orn uma agu i ha as f i b r as do pap i r oeau i l os f i oas e t oo l a r gas quan t o possivel. Asme lho re s p rovm d o i n t e r i or d o ca u l e : vm d e po i s a s ou t ra s n a o rd e rn d a sua pos i o re l a t i va [1 Tod o o pa p i rot ec i do s o l v e u r na mes a hum i d i l i cada c orn a gua d o N i l o c u jas a l gas f az em de c o l a . P r i r ne i ro es t eodern-s e v e t -t i ca l ment e as l i r as a t odo 0 c ompt i ment o , cor t am-s e as que u l t r apas s em as ex t rem i dades ,eas t e o d e - s epor cirna uma camada dc t iras Lransversais, cruzadas. Mete-se tudo na preosa, estendern-se as fo lhas an so], a r imde sec- las , e depo is j un tam- se todas , comeando pe las m e lho r es [ .. . ] Cada r o lo nunca con tm ma is d o que v in tefolhas'9.

    Compreende-se que os documentos escritos em papiro tivessem de ser enrolados Paraserem conservados. Foram principamente as civilizaOes locaizadas nas margens do Nibque utilizaram este suporte. As condiOes cbirnticas favorveis existentes junto desse rio per-mitiram a conservao de certos papiros, que ainda hoje podem ser consubtados.

    o c o u r o s e r v i u t a i n b m p a r a n e g i s t a r i n f o rm a O e s . U s a v a - s e p r i n c ip a l m e n t e p e l e d e c a r -h e L lO q u e s e t o s q u ia v a f a z e n d o - a m a c e r a r e m c a l e q u e s e p o l i a c o m p e d r a - p o m e s p a r a p r o -d u z iF o , p e rg a m i n h o . 0 c o u r o a p r e s e n t a v a v a n t a g e n s e c o n O m l c a s P a r a q u e m d e b e s e s e r v i a .podia apagar-se a informao e voltar a utitiz-lo. Todavia, deste modo, ele privava as clvi-lizacoes futuras do testemunho contido nesses documentos. Foi contudo a utilizao de urnsuporte chato e mais pequeno que operou uma revoluao no mundo da conservao.E f e c t i v a m e n te , a p e r g a m i n h o t o r n a va p o s s I ve t a j u s t a p o s i o d e v r i a s f o l h a s , p o r ta n t o a p r o -duo de codices, forma sob a qua] nos chegaram, entre outros, os diplomas'. Os cdicesp e n l l it ia m a r e u n i o d o s d o c u r n e n t o s e f a c i l it a v a m o t r a b a b h o d e c o r n p o s i o e d e c o n s e r v a -o: O.pergarninho podia set iguabmente enrolado corno se fazia corn o papiro. A descriotie um.cartulrio encontrado na Abadia de Saint-Mont (Gets), datado do scubo XI, p e r i n i t e -.nosconhecer urn pouco rnelhor a forma materia destes robs. -'

    Trta-se de urn car tn lr io cm forma de rob. 9 composto pot quinze folhas de pergansioho de dimnsoes desi-guais cosidas umas as oultas pot meio de t iras de pete e coroladas em torno de uma has te de vime corn urn d if i-metro de 12 ma n no in te r io r do pergaminho e de 1 9 own oas extre rn idades. Uma das extremidades arredondtha;a o O t r a , a c h a t a d a , a tim de fac i l i tar o enrolar e o desenrolar , mede entre 3 e 8 mm. 0 compr imento Iota] do robe . d e c e r c a d e 5 , 8 0 r n 4 1 .

    E a c h e g a d a d o p a p e b e a o d e s e n v o l v i m e n t o d a s t c n ic a s d e i m p r e s s o n o s e c u l o x v q u er e r n o n t a i n a s n o s s o s m t o d o s d e r e g i s t o d a i n f o r r n a o . A n t e s d e s s a d a t a , o p a p e l e r a d e u s acorrente na China, mas foram necessrias as trocas entre a Oriente e o Ocidente pan que as u a S m p o s i A o p a s s a s s e a s e t p o r n s c o n h e c i d a . C o r n a i n t r o d u a o d o p a p e l , o d o c u m e n t oa d I i s i r a t i vo d i s t i n g u e - s e co r n ma i o r n i t i d e z d a o b r a l i t e r r i a , e va i a o p o n t o d e a d o p t a r a mafttrnt diferente, a que no acontecia corn a placa de argila on o papiro. As placas de argila. b t h iU x a d a s n a A s s f r ia o b r i g a r a r n c o r n e f e i t o o s a r q u e o b o g o s a mu n i r - s e d e c r i t r io s p a i n d e t e r -aiinaretn a natureza, administrativa ou literria, dos documentos nelas inscritos e a adaptaro sSsmtodos de trabaho42.

    Os novos suportes electronicos de que o seculo xx se dotou apresentarn, tainbtm eles,taraterIsticas revolucionrias para a informaao. As fitas magnticas, Os v i d e o d i s co s , a sdisquetes de todos os formato tern como caracterIstica cornurn, Para abrn da miniaturiza-, otacto de tornarem a infonnaAo ilegiveb scm a ajuda de urn aparebho apropado. Asconsequncias da utibizao destes novas suportes esto ainda por determinar. Sabe-se jpie trn.a vantagern de permitir urn rnaior armazenamento e de facilitar a difuso.Tecnicarnente frgeis, bevantam novos problernas relativos a organizao da inforrnao,

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    40/Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAs ARQUSVOS, OS ARQUIVISTAS IS ARQU1ViSTLCA/41hem conio a sua conservao. Ees exigent nova cspeciaIizao pot parte dos gestoresda inforrnaao.Este resumo dos diferentes suportes que serviram para o registo da informaao adminis-t r a t i v a p e r m i t e co n h e ce r o s h b i t o s d e t r a b a i h o e a s r a z O e s q u e o s j u s i l f i c a m e e x p l i c a u s r n i o -dos administrativos, assirn como Os melos utitizados pan a conservao da inforrnao.1.4. A loca/izaco dos arquii os

    A locaizao dos documentos administrativos nas adrnlnistraOes o n junto das fanillias reve ladora da irnportncia que Ihes d concedida pelos seus criadores on proprietrios, aoinesmo tempo que revela us principais modos de conservao utilizados. Pode pois ser lute-ressante encarar a histria dos arquivos sob esta perspectiva e fazer uma breve abordagem dalocaizao reservada aos arquivos atravs dos tempos.

    Os arquivos reas de Ugarit foram encontrados repartidos por seis grandes saas que con-tinham cada uma os seguintes documentos: docurnenros relativos a tetras, docurnentos tegais,documentosjurIdicos, docunientos em linguas estrangeiras, docurnentos relativos as r e l a Oe scorn outros reinos, como a Paestina e o Egipto, docurnentos produzidos pelos diversos escri-trios e dispostos de forma a serern revistos4 3 . E s t a s s a l a s s e r v i a r n , p o is , t a m b m p a r a a c l a s -sificao dos docurnentos.

    Na Grcia, a locaizao dos arquivos assume um sentido muito particular. Os docurnen-tos estavarn depositados no Archion, onde podiam set consultados. Em Atenas, urn do-curnento depositado no ArchEion era considerado autntico. Trata-se de urna caracterIsticaparticular que no encontrarnos em mais nenhuma civilizaao. Em Roma, era no Tabulariumq u e o s r e s p o n s v e is d o s c a r g o s a d m i n is t ra t i vo s d e p o s i ta v a m o s s e u s d o c u m e n t o s . . E s t e s l o c a l s ,os da Grcia e de Roma, contudo no tern nada a ver coin dos documentos. Pelocontrrio, esto ligados a urna pessoa e a uma funo, o que favorece a sua grande dispersao.O f a c t o d e h a v e r l o c a i s re s e r v a d o s a c , a r m a z e n a m e n t o d e d o c u m e n t o s m o s t r a a n t e s u m d e s e j ode se ter urna boa adrninistraAo e sublinha a irnportncia atribuida ao acto escrito.

    E n t r e a q u e d a d e R o m a e 0 sculo XII, a s t r a d i O e s a d m i n i s t r a t i v a s q u e s e i n s t a u r a m f a z e mconOs arquivos sejam itinerantes ta canto as pessoas que Os p o s s u e m . O s g o v e r n a n t e se os proprietrios trazem us seus documentos por ocasio das suas diversas deslocaOes. Porvezes, deixam-nos depositados nos mosteiros, nos claustros das igrejas on n o s d e p s i t o s d a stoes, para os protegerem quando pattern a guerra on quando recelam os saques doi n va s o r . Es s e s h b i t o s l e va r a m a p e r d a d e u m a i m p o r t a n t e q u a n t id a d e d e d o c u m e n t o s d a p o c a .

    0 inicio de uma administraao lisicarnente mais estvel acarreta a construo de locasr e s e r v a d o s a o d e p s i to d e d o c u m e n t o s . D e p o i s d o s c u t o x ii , e n c o n t ra r n o s n a s c m a r a s m u n i -c i p a is d a s c o m u n a s f r a n c e s a s , l o c a l s p r e v is t o s p a r a a c o n s e r v a o d o s a r q u i v o s 4 5 . N o s e s t a -tutos da cornuna de Nice, de 1204, 6 rnencionado que Osarquivos sero mantidos

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    42 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAs ARQUIVOS, OS ARQU VISTAS E A ARQUIVISTICA/43Os lociis onde se encontrani instaados os arquivos foram suCesSiVamcnte sintholo deautoridade, de credibilidade e de poder. Ees forain a expresso de preocupaOes de conser.vao, de proteco e dc rendibilidade. Merecern, pois, que Ihes dispensemos aeno nurntexto sobre a histOria dos arquivos.

    Esta breve abordagein da histria dos arquivos perniitiu exauiin-la sob diferentes pers-peclivas. As diversas funoes atribuidas acts arquivos, os tipos de documenios produzidos, ossuportes que servem para registar a informaflo e O s locais de conservaao constitueni outrostantos aspectos que favorecerani o conhecimento c mediram o grau de integrao na vidaadministrativa das diferentes pocas. Ao longo dos anosa prol iferaao das inslituiOes, amassa de informao c de docuinentos produzidos sob forma de docunientosadministrativose 0 inleresse por outros tipos de arquivo pan am dos arquivos governarnentais (os arquivosprivados: arquivos econmicos, arquivos de igrejas, arquivos sociais) trouxerani unia produ-o acrescida de informaOes e ama ma jor utilizaao da informaao. Pride compreender-semeihor, deste modo, a necessidade que se imps de desenvolver unia espcciaizao para agesto dessa informao e a chegada ao mercado de trabaho de profissionais que dispOemd e s s a c o n 1 p e t n c i a .

    2. Dos responsveis dos documentos administrativos aus arquivistas conternporneosPoder-se- charnar

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    44 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLJNA ARQUIVISTJCAS ARQUtVOS, Os ARQUIVISTAS E A ARQUIVISTICA/45o s d o c u r n e n t o s 5 3 . Eram, pois, pessoas cujo papel consistia em colaborar no born funciona-m e n L o d a a d m i n i s t ra a o c o r r e r t t e .E por volta do sculo xii, em Franca, corn o advento das comunas e das cidades quevamos encontrar na adrninistraao a presena de uma pessoa destacada Para as tarefas rela-tivas aos arquivos. As comunas e cidades confiavam ao secretrio-escrivao municipa on aum amotac o cargo

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    46 I Os FUNDAML3NTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICAS ARQUIVOS, OS ARQU VISTAS E A ARQUIVISTICA/41main-se em laboratories da cincia hist6rica 6 3 >>. Estes novos arquivistas marcaram o estilo detoda a organizao dos arquivos durante rnais de um sculo.No sculo xix, d-se, pois, uma > . E a esta viragem no trabaiho do arquivista que se deve a dicoto-mia que ainda hoje encontramos na funao do arquivista, a saber, unia funao voltada para aanlise e interpretao dos docurnentos corn valor histrico on urn retorno a urna funo ligadaao trababo administrativo ta como este era conhecido na Idade Media e no Antigo Regime.2.4. 0 triplo papel cultural, administrativo e cienilfico

    0 sculo XX reconcilia os diversos papdis desempenhados pelo arquivista desde a AltaAntiguidade, traz urn aargarnento do seu mandato e urn despertar do interesse pelos novosarquivos. Segundo Charles Sarnaran:

    0 a Ia r g an ien to do dom mn io a r qu iv i s t ico fez- se em duas d i r eces : pa r u r n lado as arquivos uitrpassarain, dece r lo modo , a a dmin is t r aAo e anexa r am p r a t i camen te as a rqu i v os ad n i i n i s t ra t i v os ; pa r ou t r o , u r n dom i n l o nov a ,c orn d i r nens oes c ons i de rv e i s , ab r i u-s e d i an t e des t es , o dos a rqu i v os p r i vados e d os a rqu i v os de em pres as < ' .Diversos factores favorecem esta reconciliao, ao rnesmo tempo que anunciam novos

    desafios. A influncia americana foi determinante no domInio da organizaco dos do-curnentos produzidos por administraoes pblicas. 0 nascimento de urn novo sector de tra-balho, 0paperwork, esteve na origem do desenv&virnento de urna nova especializao naadministrao desses docurnento. A Hoover Cornission propOe em 1954 0estabelecirnentode urn > .Alias, a nova polItica cultural doMinistrio da Cultura adoptada em 1992 reconhece que estas duas leis perrnitirarn aos orga-nismos piiblicos

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    48 / OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQU1VfSTICAS ARQUIVOS. OS ARQUIVISTAS E A ARQUIVISTICA/49se vein juntar aos j enunciados. E mesmo quando urn arquivisla pratica apenas a sua pro-fissao em arquivos hisricos, ele j no pode ignorar uma ou outra componente da .sua rnisso,0 arquivista moderno pode contar corn vrios dados adquiridos. Assim, a utilidade da suafunao e incontestvel, quer seja como colaborador da adininistrao, corno responsavet dosarquivos a conservar on corno apolo a investigao. As tarefas ligadas a estas funoes modi-ficaram-se consideravetmente. 0 arquivista e doravante considerado especiatista no que serefere ao conjunto das suas responsabilidades, e isso quisquer que sejarn os ternios pelos quais designada a sua funo.

    3. A disciplina arquivIsticaA prtica da arquivistica est intirnamente ligada a existncia dos arquivos. Porm, a estru-

    turao destes hbitos de trabatho ern torno de urn mesmo objecto e o aparecirnento de prin-cIpios prprios aos arquivos constituem urn fenomeno contemporneo. Quais foram as pri-rneiras prticas arquivisticas? Dc que necessidades nascerarn os principios arquivIsticos?Como se constitulu o corpus cientffico? Eis outras tantas interrogaes a que possfvel for-necer alguns eleinentos de resposta a partir das inforrnaOes que a histOria nos transmitiu.3.1. 0 desenvolvimento dii disciplina

    A disciplina arquivfstica desenvolveu-se em funao das necessidades de cada poca. Etad constitulda por urn savoir-faire que se foi acumutando ao longo dos anos, Os mtodos detrabatho mudaram, mas encontrarnos geratmente as mesrnas preocupacOes funcionais. A his-tOria permite definir quatro grandes sectores principals que foram objecto dos trabaihos dosespecialistas dos arquivos, ou seja, o tratarnento, a conservao, a criao e a difusao.3.1.1.0 tratarnento

    As primeiras acOes que visarn a organizao, o tratarnento e a recuperao dos docu-mentos, e de que ainda possuIrnos elernentos hoje em dia, parecern ter sido inventrios. corna finalidade de formar tistas de documentos. Estes instrunientos foram elaborados para iden-tificar os documentos de certas coinunas em Franca no sdculo x1l1 7 . Outros inventrios apre-sentarn-se sob a forma de uescritos> on de registos, mas foram realizados corn o intuito de

    constituira tista desses actos 7 . Outros, enfirn, adquirirarn a forma de , cadernosnos quals era constitulda a lista dos titutos e privil6gios 7 3 . Estes instrurnentos de descriodocumental" permitem conhecer a existncia dos actos e do seu contedo. 0 prprio adopodia ser prism ern segurana noutro sItlo, 0 >, etc.

    As decisoes da Revotuao Francesa em rnatria de centralizao dos documentos puse-tathanevidencia o problema da sua classificaao. E dessa poca que datain as discussoese*totho dosprincIpios de base que devern presidir a classificaao dos arguivos. Certos anjui-

    isao partidarios da classificao e ordenaAo cronolOgica e outros de uma ctassificaaoeTt]6hAo nietOdica. tins seguern o costume e os outros so influenciados peto espfrito dosnck1opedistas que produzem nessa poea as suas principals obras. Como diz muito hem ElioLdddlini, aplica-se o princIpioda pertin8ncia78>.Fofpreciso esperar pelo sculo XIX para que fosse encontrada a formula que ia peniiiir

    uma ctassiflcaao prOpria dos arquivos e que correspondesse as suas especificidades: o wincipio de provenincia. Corn base nesta urnacroclassificao>> que fornece urn quadro gera] auhiconjunto de fundos, desenvotveram-se rn6to4os quo permitiram uniformizar a ctassifica-4io:deuin fundo ern particular. Os fundosj organizados mantm a classiflcaao de origein.Quarno aos outros, a partir do conhecirnento da organizao produtora, o arquivista desen-

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    50/OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLLNA ARQUIVJSTICAs ARQUJVOS, Os ARQIJJVISTAS E A ARQUIVISTICA/51volve urna classificao que d conta das particularidades e das actividades dessa organiza- e dos documentos que cIa produziu. Hoje em dia, urna grande parte dos sisternas de clas-sificao desenvolvida na organizao dos documenios activos, Os quas so transferidos jclassilicados pan os depositos de arquivos histricos.3.1.2. Os mtodos de conservao materia

    Foram iniciamente os modos de armazenamento e de arranjo dos beats adequados queconstituIram a expresso da preocupao de cooservao.

    Es a guns exemplos dos intodos utilizados. As placas de argila foram objecto de gran-des cuidados por parte dos guardiaes da poca da Alta Made Media. Esses docunientos cramc o l o c a d o s e m r e c i p ie n t e s e s p e c i a i s , n u m a e s p C c i e d e c a i x a s q u e p o d i a m g u a r d a r a l g u r n a s p l a -cas e que haviarn sido fabricadas para esse fim. A cada urn dos recipientes cram presas eti-quetas indicando o conteCdo, o tipo e o tamanho dos docurnentos que continharn. Havia rect-picnics dedicados ao armazenaniento de placas por assunto cobrindo urn determinadoperIodo7 9 . Mais on menos os mesinos mtodos de arruinao foram encontrados nas urnasque continharn os docurnentos de papiro no Egipto.

    N a p a n e r e l a u v a a o s l o c a i s d e a r q u i v o s , j e v o c m o s o f a c t o d e q u e d e s d e a s p o c a s m a i sremotas eram arranjados espaos para fins de armazenamento. Voltamos a mencionar oa s s u n t o a p e n a s p a r a l e r n b r a r q u e s e t r a t o u d o U n i c o m d t o d o d e c o n s e r v a o a p l ic a d o a t e c e r c ado sculo xii. Posteriormente, o registo dos actos ira garantir a sua conservao, ao mesmotempo que ira constituir urn modo de recuper-los.

    No interior dos locais previstos para a conservao dos documentos, a arrurnao podiapor vezes deixar a desejar. No castelo dos La Trrnoille, os docurnentos foram encontradosem armrios e em prateleiras. Ilavia tambdm documentos que cobriam a pafle de cima des-s e s a r i n r io s , d e m a n e i r a q u e < ( a s p a r e d e s d e s a p a r e c i a m l i t e ra l m e n t e s o b o s p e r g a m i n h o s e o spapis, Os macos, os sacos e os registos 8 0 >'. Os documentos erarn reunidos em

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    L52 / Os FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVISTICA

    3.2. 0 twscim ci 10 dos principios aiitc vlsi icos

    Ha em arquivfstica trs principios que consliwern o fundainento da disciplina. Tiando principio da territorialidade. do principio do respeito pelos fundos ou principio da prcnincia e da abordagern das trs idades. Utilizados desde o final do sculo XIX e sobretno sculo xx, constituem a prOpria base da arquivistica moderna.321. 0 principio da terriiorialidade

    0 princIpio da territorial dude define-se corno sendo ..princ(pio segundo o quaarquivos publicos, prprios de urn lerritOrio. seguern o destino deste UltimoD,,.

    No inicio, este principio no releva da arqtuvislica, inas sirn do direito aplicado apriedade. E para exprinur o seu direito que o vencedor exige ao vencido a deposto doscuinentos relativos as terms conquistadas no rnornento da assinatura de urna rendio oiurn tratado de paz. Corn o tempo, a outorga dos docurnentos de urn pals generalizou-se a Uas acrividades de transrnissiio de jurisdio on de transferncia de mandato. Este mothfuncionarnento tomna-se rnais oficial corn a adopo da Conveno lntemnacional das NaUnidas, Convenao de Viena sobme a Sucesso dos Estados em matmia de Hens, AmquivDividas de Estadose. Alrn disso, o princlpio de territorialidade foi aplicado a restituiicertos fundos de arquivo a inslituies on a centros de arquivo situados perto do local de'o. e que tinhani sido deslocados por diversas razes. A titulo de exemplo, foi em partebase neste principio que se efectuou a regionalizao dos Archives nationales du Qubecdiferentes regies administrativas da provincia t7 entre os arms 1970 e 1980.

    3.2.2. 0 principio da provenincia

    0 principio da provenincia 4 ... ]consiste em deixar agrupados, scm us misturaroutros, us arquivos i ... ] provenientes de unia adrninistrao, de urn estabelecimento on depessoa Ilsica on moralSt

    0 principio da provenincia atribuido a Natalis de Wailly, urn historiador frances,da Seco Adrninistrativa dos Arquivos Departarnentais do Ministrio do Interior trancesem 1841, inspira ao seu ministro. Sr. Duchtel, o contedo de urna circular que promulgdaf em diante os docurnentos que provenharn de urn corpo, de urn estahelecimento, defanillia on de urn indivfduo devero ser agrupados e no misturados corn aqueles que ap

    OS ARQUIVOS, OS ARQUIVISTAS 13 A ARQUIVISTJCA/53dizem respeito a urn estabelecimento, urn corpo on uma familiat9 . 0 princIpio da provenin-cia foi assiffi promulgado. Contudo so no V Congresso Internacional dos Arquivos realizadoem Paris em 1964 ele parece ter recebido uma consagrao internacional, apesar de muitospaSses j 0 terem aplicadot0.

    0 princIpio da provenincia ser discutido, aprofundado, contestado, nias continua a estarna base da arquivIstica moderna. Criado inicialmente para meihorar a organizao dos arqui-vos, serve agora de fundamento a elaborao das normas de descrio dos arquivos9L3,23. A abordagern das trs idades

    A abordagem das trs idades assenta nas etapas de vida dos documentos. Na idade activa,o documento serve regularniente para a adminisu'aao; na idaCI6 semiactiva, utilizado oca-sionalinente, e na idade inactiva, destruldo on conservado de modo permanente. Ha poucostextos sobre a abordagern rnas a sua aplicao generalizou-se rapidamente. E oriunda dosEstados Unidos e tern as suas raizes nas reflexoes que os arquivistas e Os records managerst iverarn de fazer pant resolver us seus problemas de massa documental, no princIpio do sculo.

    Os princIpios arquivisticos so, pois, muito recentes. Eles mostram o desenvolvjmentoinequfvoco da disciplina que tinha necessidade de assentar as suas prticas em bases maisLeOricas..Por sua vez, estes princfpios serviram para alimentar o refinamento dos mtodos elavoreceram aestruturao deles.3 3 A con st i tu i o de urn corpus c/en tfico e o desenvolvimento da forrnaao

    Urn corpus cientifico constitui-se de diversas maneiras, mas sobretudo atravs da publi-;ao demanuais da especialidade e da criaao de actividades de formaao. 0 arquivista aim-ituSa;uridade suficiente para ter uns e outros.

    :D.esd o inicio do sculo xix, surgiram em diferentes palses vrios manuais de arquivIs-ica. Concebidos por arquivistas cuja competncia reconhecida93 on por associaOes pro-rissionais, descrevem as prticas nacionais em matria de concepo e de tratamento dos-vos.

    A publicaao de manuais representa uma etapa na constituiao de uma disciplina cienti-rica9 5 . Estas obras articulam a teoria e as prticas em torno de urna abordagem nica e per-nitem a transmissao do estado dos conhecimentos bem counts o estabelecimento de uma Ira-flo.

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    54 / OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQUIVtSTTCAs ARQUIVOS Os ARQtJJVISTAS A ARQUIVISTICA/55A formaao em Arquivistica inicia-se no sdculo xix coin a criao de grandes escolasespecializadas: cole des Chartes em Paris em 1821, a de Viena em 1854, a de Madrid em1856 e a de Florena 9 6 em 1857. A par destas instituiOes especializadas, encontrarnos uni-versidades, tanto na Europa come em Africa e na America, que oferecem uma formaao emarquivistica no primeiro, segundo ou terceiro ciclo universitrio, no programa de h istOria, decincias da informao on noutros 9 7 . A criao de tuna seco sobre a formao e o aperfei-oarnento dos arquivistas no C onseiho Internacional de A rquivos, aquando do XII C ongressoInternacional de Arquivos em 1992, demonstra a dimenso que a formao em Arquivisticaadquiriu no mundo inteiro.

    As grandes instituiOes de arquivo organizam regularmente estgios de formao. 0 m aisconhecido deles todos 6 estgio internacional dos Archives nationales de France que recehe,todos as anos, arquivistas provenientes dos quatro cantos do mundo, O s Archives nationalesdu Canada tamb m tern sessOes de form ao, em lingua francesa e inglesa, sobre a gestAodos documentos e sobre os arquivos histricos. Trata-se de um modo de formao que seesfora por dar a conhecer a sua competCncia e a fazer beneficiar dela a cornunidade arqui-vistica.

    As associaOes profissionais, cuja criao remonta a meados do sculo, assegurarn o aper-feioarnento dos seus m embros, portanto de uma boa pane dos arquivistas que exercem a pro-fisso num determinado pals, numa provincia on num estado . Apesar de haver programasde formaao institucional, e sempre preciso contar corn o papel indispensvel que desempe-nham estas associaO es para assegurar a actualizao dos conhecimentos.

    Eis em traos largos um fresco historico dos arquivos e da arquivistica. Quisemos dem ons-trar o elo estreito existente entre esta historia e as caracteristicas politicas, culturais e econ-micas proprias a cada um dos grandes perfodos da histOria da humanidade. Deste m odo, pude-mos vet-ificar de que maneira marcaram a forma e 0 papel dos arquivos nos diversoss tiposde actividades. Elas condicionaram o lugar que ocup am os seus responsveis nas sociedades.

    0 nosso o bjectivo ao realizar esta retrospectiva era permitir conhecer m elhor as origensda profissao. Constata-se, pois, que sempre houve pessoas afectas a guarda, conservao ouan tratamento dos documentos. 0 papel delas variava no tempo e consoante os mandatosque Ihes eram confiados. Hoje, as instituiOes prevem lugares oficialmente atribuldos aarquivistas on a pessoas que exercem funOes profissionais deste tipo. Dc modo geral,man-datos mais amplos Ih es so outorgados. Estes traduzem-se em objectives de conservao, deacesso e de avaliaao da inforrnaao. OS administradores ignorarn porvezes os tipos de ser-vios que os arquivistas podem fornecer. Estes tultimos devem portanto promover a sua com -

    petencia e demonstrar 0 seu savoir-faire. 0 espirito de corpo p rofissional inanifestado pelacriaco de associaOes profissionais constitui uma etapa imporiante no desenvolvimento dakofisso. Corn efeito, nelas que assenta doravante o reconhecirnento profissional ea pro-

    moco social.Quanto a disciplina, esta desenvolveu-se de forma muito dinamica. A especializaao nos

    doininios da criaao, do tratamento (classif icacao, recuperaao), da conservao e da difusodos arquivos foi consideravelniente aperfeioada. Novas possibilidades se oferecem, patti-cularmente as suscitadas pelo aparecimento da inforrntica, cujas capacidades ainda noforarntodas exploradas.

    Os arquivos, Os arquivistas e a arquivIstica so, pois, de todos us tempos. Relevain deurna longa tradio da qual podern extrair liOes e encontrar a sua razo de set. Mas quaisos desafios futuros? Quais so as alteraOes rnaiores que j se Adem apreender e quc iroafectar sensivelmente o papel dos arquivistas, 0 estatuto dos arquivos e a evoluao da arqui-vistica?

    No piano politico, novas atitudes ernergern face a inforrnaao. Os governos inclinain-secada vez mais para se munirem de inforrnaao, da qual fazem pane as politicas relativas aosarquivos . Vrios paIses adoptaram leis sobre a designaao da m emria nacional e a couser-vao do patrimOnio escrito.

    As organizaOes mudarn de atitude face ii inforrnaao e enveredam pelo movimento dereconhecirnento dos recursos informacionais. Os administradores contam corn a infonuaaopara gerir eflcazmente as suas empresas, para aurnentar a produtividade e para assegurar oseu crescirnento.

    Novos m eios fazem o seu aparecimento. As teenologias da inforrnaao desenvolvem-separa responder as novas necessidades de troca, de acesso e de difusao. As telecornunjcaaessimplificarn-se e popularizarn-se. A velocidade de transrnisso aum enta. Novos suportes 4osurgindo. Os arquivos mudarn de forma.

    A arquivIstica situa-se no cruzarnento de novos contextos culturais, dos novos modos degesto tal como das n ovas tecnologias. Ela est na confluncia de vrias disciplinas: infor-rntica, cincias da inforrnaao, histria, linguIstica, arqueologia, etnologia, etc. An serviosde algurnas delas, ela tern por o brigaao servir-se das outras, a firn de assegurar a evoluaoe o seu desenvolvirnento. Pela sda propria natureza, cia responde as n ecessidades dos ga-nisrnos ou dos indivfduos que criam os documentos, mas e cada vez mais confrontada anios problernas levantados pela rnundializaao dos m ercados e a definiao de novas fronteiras.A arquivIstica tern, pois, corno obrigaao encontrar soluo para estes novos probleinas an

  • 7/22/2019 COUTURE Os fundamentos da disciplina arquiv- stica -parte1

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    56/OS FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA ARQI.JIV1STICAs ARQUIVOS, OS ARQUIVtSTAS A ARQUIVISTICA/57mcsmo tempo que aprofunda a sun identidade e manlem a suit Eis aguns helos desa-lbs a invesligao de anmnh.Nolas

    ' E r n s t P O S N E R ( 1 9 7 2 ) . Arc/tires ii, the Ancien fl'o,Id. C a m b r i d g e . Ha rva rd Un ive rs i t y P re ss , p . I .Intent, p. XXVII, 283 pp.Jean e Lucie MV I ER (1988), Les A id, its ,,aiiu,isi lea: sji, ii ze sic/es dli istoirc, Paris, Nathan, 235 pp.Luciana DURANTI (1989), The Odissey of Records Managers', Records Mona gemet Quarte,'ly,

    vol. 23. n.' 3 (Julho), p. 3. vol. 23, n: 4 (Outubru), pp. 3-11. Jean FA\'IER (1975). Les arc/tires, Paris, PressesU niv e r s i t a i r es de F ranc e , 124 pp .

    Luciana DLJRANTI. op. cit., vol. 23, n. 3 (Julbo), p. 3"(dent, p. 61 Eio LODOLINt (1989), "La gestion des documents et l'archivistique", Management of Recorded

    Information; Converging Disciplines, M u n ch e n , Sa m , p. 157 .Robert-Henri BAUTIER (1961), "Les archives,,, en) C. SAMARAN, L'hiseoire ci ses ,,,dtltodes, Par i s ,G a l l i m a r d . p. 1128 .R o be r t -He n r i BA UT IER ( 1 9 68 ) . "La p h a se c ru c ia le d e Ih i s to i re d e s a rch ive s : l a co n s t i tu t i o n d e s d e p Otsd 'a rch ive s e t I a n a i s sa n ce d e l ' a rch iv i s t i q u e ( XVI-X IX s ic le ) " , Archirwn, IS, p. 143 .J e a n FA VIER ( 1 9 7 5 ) . op. cit., p. 9.R o be r t -He n r i BA UT IER ( 1 9 68 ) , op. cit., p. 141 .E p rec i s o c on tudo r ec onhec e r que o pape l que os a rqu i v os des em penharan a enquan to p rov a s o fo i pos s i v e lI s c i v i li za O es t r ade a e s c r i t a e ra u t i l izada na s adm in i s t r a es . Na A lt a I dade Med ia , ' Ia poc a das i nv a s O es b I t -b a r a s , e r a a p r e s e n a d e t e s t e m u n h a s q u c g a r a n t i a a v a l i d a d e t i e u m a d o . A l i a s , ir i i le v a r t e m p o a t e q u e a s p e s -soas confiem apenas num ado escrito. e[ ... j a prova em tribunal ruits se contentaria corn ama simples deposibo,mas u escrito sozinho e insuficiente. Naquelas sociedades medievais onde contain tanto come, 0escrito,0gesto,0 ip s ou a palavra, a tradiao oral traz algo mais do que urn simples complernento de infonnaAos, em Temps,,nntoire, tradition au Move,, Age; actas do 13. congresso do Socit des historiens mdjvistes de 'enseigne-Dent s upr i eu r pub l i c , A ix -en-P rov e nc e , 4 . 5 J u n h o 1 9 8 2 , A i x -e n - P r o v e n c e , U n i v e r si i i d e P r o v e n c e , 1 9 8 3 , p . 6 9 .

    Elio Lodolini (1989), op. cit., p. 157 . P o d e m o s c i t a r , a t i tu l o d e e x e m p l o , a m a i n v e s t i g a a o l e v a d a a c a b o p o r s o c i d l o g o s d a U n i v e r s i t d eM o n t r a l a p a n i r d o s a rq u ivo s re l i g io so s d e co rn u n id a d e s fe rn in i n a s d o Q u e be q u e . N ico le LA UR IN , D a n ie l l eJUTEAU e Lorraine DUCHESNE (1991). A In recherche dun monde oubht; les communauts rehgieuses tiefemmes out Quebec de 1900 it1970, Montreal, Le Jour, 424 pp.O s t r a b a i h o s s a b r e d e m o g r a l t a , g e n t i ca e d o e n a s h e r e d i t lr i a s d o C e n t r e u n i v e r s i ta i r e d e r e c h e r c l, e s s o [l e s p o p u l a t i o n s ( S O R E P ) , d i r ig i d o p o r G e r a r d B O U C H A R D do Un ive rs i t e d u Q u be c A C h ico u t im i , be a t co n icus do P rog rams de I nv es t i g a b o em Demog ra l i a H i s tO r i c a da U n i v e r s i t de Mon t ra l , d i n i g i do pe r H ub er t CH AR-B O N N E A U e J a c q u e s L E G A R E s o d i s i o e x e m p lo .

    I' Os arquivos docurnentam as obras de arte."N o se a re la t r io i n t i tu l a d o Se co 'tnaitre, M. S YMON S b a se i a a i o t a l i d a d e d o s e s t u d o s ca n a d i a n o s n u t u i i-l i zac Ao dos a rqu i v os e ta v I r i as Areas en t r e as qua i s as c iCnc i as . T . H . B . SY IMO NS ( 1975 ) Se co;tnaiire; Ic rap-p o r t d e I n C o m m i ss i o n su n l e s e t u d e s ca n a d i e n n e s , O t t a w a , Asso c i a t i o n d e s u n i ve r s i i C s e t co ll e g e s d u C a n a d a ,

    ,5'Ibid., p. 149 ." Jean FAVIER (1978), ,Histoire des archives de l'histoire", U Courier de IUNESCO, M a rco , p. 12 ..J Bruno DEL MAS ( 1985 ) , " Comm un ic a t i on c r i te c i g es t i on des a r c h i v es an XIX' s icle c i XX . sicle; u t i le-jions sur Ia situation franaise, Revue inn ghrdbine tie documentation, n. 3 (Marco), p. 86.21 Robert-Henri BAUTIER (1961), op. cit., p. 1122n Jean F AVIER ( 1975 ) , op cit., p. 8 .83 .Administration de l'Egypte sous Domiiien (en 89 ap. J.-C.): enregistrement des declarations de piopni-

    et&, Te.xtes ci documents d'ltistoire, Paris, Hachette, 1959, p. 189."R o be r t -He n r i BA UT IER ( 1 9 68 ) , op. cit., p . 1 4 1 ., ,q 1 r .R o be r t -He n r i BA UT IER ( 1 9 61 ) , op. cit., p . 1 1 2 5 .

    26 Marcel BAUDOT (1963). 'Les Archives municipales dans Is France de lAncien Rgime, Archivwn,vol . 3 . pp. 23-24.

    J' Lu c i a n a D UR A NT I n o s a r t i g o s j c it a d o s r e f e r e a b u n d a n t e m e n t e o p a p e l d o s n o t I r io s n o d e se n vo l v i n a ca t odo ,rgoids management.Rob er t -H enr i BAU TI I3R ( 196 8 ) , op. cit., p. 145 .

    "Ibid., p.l41.C h a r le s SA M A R A N ( 1 9 7 8 ) , "Le C h a r t r i e r d e Ia T r m o i l l e , Une tongue vie dErudit. Recueils de&&sde C h a r l e s S a m a r a n , G e n ve , D r o z, vo l . 2 . , p. 4 0 5 .

    .?'id. p. 4 0 8 .-,.9.Frdric d'AGAY (1989) .Les Archives familiales d'Agay et Is priode rvolutionnairea, Gazette desn . ' 1 4 6-1 4 7 , p . 3 3 6 ._ ,- P P ie r r e SANI'O NI ( 1989 ) , EArc h i v es e t v i o l enc e ; I t p ropos de Is l o i du 7 mes s i do r an I I " , Gazette des air/ti-,vqp,l46-l47, p. 205.

    ia xaiAUb id, p. 2 1 0 .ibid.

    ,v 'A madeira e a pedra (cram tambm utilizados nos escdt6riosa da Antiguidade. Como poucos docunien-toscbegaram ate ns sob essa forms, Mo Os abordaremos neste texto.." Jean F AVIER ( 1975 ) , op. cit., p . 8 .

    A s p la ca s d e a rg i l a so o b j e c to d e u rn ca p i tu lo im p o r ta n te (pp. 1 2 - 7 0 ) d a o b r a d e E r n s t P O S N E R jIc i t ada . ."PUNIC, 0 VELI-TO, Hist6ria Natural*, livro xiii eitado em Textes a documents d'histoire, Paris,

    Ha ch e t t e , 1 9 5 9 , p p . 3 3 - 3 4 .40 0cdice jI existia antes do pergaminho. Conwdo, foi a partir desse momento que se generalizon.

    Charles SAMAR.AN (1978),

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    (6261wai i qo uas ap o3u3qqnd u ) s a2s iA IqaJu s ap uaTpuuc a nua i nq uMupo na qaJvp SIU?WflaOp gals 2 1 8 s u p a s o k i n hjv o p I u u o p u i v a i u j o q j a s u o j a 3 1 u a w e n p u u n d a j d a n b ( N o ) c iv s i o p a s u q u s-(oiqwaza-oqn) Z UOA 'nanpiy '((030uuakojd op adiauud n (6961) Noliv(CLL - d'L6,u raa:qaw sap 3 1 ) 3 2 0 9 ' i ta n b p s i k iq a m n o s p u o j s a p podsai rp '(LL61) t'uaonc-dd '(o5ny) 8 10k'flAflj3J ' C a 4 9 I 1 O r i p s a k n p l y s a p [ P I E C Ea p l u a w a p u o ; :o o q g n b n p s a u u o i s u u 5 9 k P 1 Y s a p u o f l u s q u u o c 9 1 o p a n b i q o d u 1 '(8L61) NIuja il-c -dd (oiqwazo-oqjnj) z 0 u ' sa a p p iy ( ( sa A iq o lu sa p u o i i c sq 0 0 0 2 9 1 u p ' ( 1 L61 ) N O3 Hs

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