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dia danilo arnaldo briskievicz ano

cotidianocotidianocotidianocotidiano

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cotidianocotidianocotidianocotidiano danilo arnaldo briskievicz

tipographia serrana 2009

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Copyright byCopyright byCopyright byCopyright by Danilo Arnaldo Briskievicz Danilo Arnaldo Briskievicz Danilo Arnaldo Briskievicz Danilo Arnaldo Briskievicz Todos os direitos reservados. Permitida a cópia/citação, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas desde que lhe sejam atribuídos os devidos créditos do autor e da editora por

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ContatoContatoContatoContato Danilo Arnaldo Briskievicz [email protected]

FotografiasFotografiasFotografiasFotografias Uma noite no Mineiru’s, o bar que não existe mais. Serro, 2006.

Copyright by Danilo Arnaldo Briskievicz. Proibido uso sem permissão por escrito do autor.

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para Vinícius, Gonzaguinha, Cazuza

poetas do cotidiano

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Oh! Não há nada como um pé depois do outro... Mário Quintana, Passeio, in Poesias

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ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação

O cotidiano é o tempo feito poesia nas linhas da vida. Vida que traz a oportunidade do décimo livro de poemas. Fico contente pela possibilidade de completar dez tentativas de expressar o universo interior em versos. O aprendizado que o tempo permite é sempre vasto, mutável, indecifrável, misterioso, mas particularmente grandioso. O poeta verdadeiro não desanima da vida por causa do tempo. O tempo é sua pedra angular. O tempo é sua matéria-prima essencial. O tempo é pau e pedra. Sem ele a poesia é vazia, conduz ao niilismo. Agradecer ao tempo – seja ele o que for, seja ele como for, seja ele como se der-, é uma tarefa bela. Ao tempo, a poesia do cotidiano. A mim, o tempo escorre nos dias, nos anos, no tempo dessa existência plena de um olhar poético inserido na vida. Vida que de poesia feita só me conduz à alegria e à necessidade de sempre mais viver, aprender, conviver. Ao tempo, ao cotidiano, um brinde em versos: viva a poesia do dia-a-dia!

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instantâneoinstantâneoinstantâneoinstantâneo

meu peito tá que tá cheio de poesia se espalha me empala

eu no meu peito que tá cheio

de alegria se extravasa me gargalha

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Meio da cidadeMeio da cidadeMeio da cidadeMeio da cidade o dia é cheio de plenitude oculta por trás de postes de pastelarias lotadas de ar e vozes e queijos será que há nesse pastel de vento um pouco de tempo? Haverá! o dia me recebe bem no meio de seu centro da cidade de ruas escuras da madrugada em horário de verão será que há nesse relógio da vida um todo de tempo? Quem viver, verá!

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Gaiola e asfaltoGaiola e asfaltoGaiola e asfaltoGaiola e asfalto a gaiola no chão

um passarinho de bico aberto de branco intenso morre de medo

o moço fumando seu cigarro sem se preocupar com o objeto de asas de falas de tanta diferença eu quis libertar as asas do passarinho mas me permiti apenas contemplar

tenho inveja da liberdade das asas que se recusam a voar

tenho inveja da caducidade dos homens sérios que usam a cidade para se amofinar

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Coti Coti Coti Coti dia dia dia dia anoanoanoano dentro do cotidiano cabe dia cabe ano centro do dia-a-dia salve o ido salve o ia

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Excerto urbanoExcerto urbanoExcerto urbanoExcerto urbano a menina brinca de tempo futuro roçando a face morena na janela do coletivo azul de céu o homem xinga em pensamento o ontem olhando um jornal abundante em violência da vida coletiva da cidade a mulher pinta o rosto preparando o sorriso já dentro de um escritório antes de nele estar a vida é aflitiva em toda idade

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Os de menor idadeOs de menor idadeOs de menor idadeOs de menor idade algo foge quando corre o menino de rua espanto geral espalhado no ar o menino sem casa mora na casa toda a sua cidade ou seu presídio a sua possibilidade ou seu exílio a sua menoridade ou seu sacrifício algo morre quando o menino de rua sofre eu me canso de persegui-lo

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rotinárotinárotinárotináriorioriorio eu me envolvo na rotina de cabeça como fumaça de incenso no corpo abraço eu me devolvo à rotina diariamente como nuvem num ciclo eterno de chuva secura eu vou para o meu trabalho como um obstinado no tempo preso vivo a rotina sou da rotina

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revistarevistarevistarevista abro a revista colorida por dentro e por fora domingo dia bom de fazer leitura rever o tempo do ontem passado fecho a revista e possuo o dado da realidade domingo é fruto de uma semana árdua fecho os olhos e me volto amassado o sono depois da notícia amassa a cor da revista a notícia de leve fragmentada

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Pão matinalPão matinalPão matinalPão matinal o pão quente da padaria no domingo é mais mais tempo para si o pão pronto da calmaria no domingo é tal muito sal purgação

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Inútil poeiraInútil poeiraInútil poeiraInútil poeira a poeira por sobre o prédio parada estática está a poeira no andar último ninguém limpa ninguém percebe sujeira a poeira se consome no vento o vento percebe sua existência eu também navegando os olhos pelo cotidiano do dia na cidade

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Prece do sonoPrece do sonoPrece do sonoPrece do sono eu me descubro no acordar cedo tão cedo que os santos se espantam com a prece pouca eu me percebo pleno no amanhecer forçado quase enforcado por um relógio imaginário estou pleno no trabalho de dormir e pegar o serviço pelo chifre eu estou cheio de trabalho ao dormir e preciso me refazer para mais trabalhar meu tempo de descanso é pouco o corpo reclama a alma reza tola

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muromuromuromuro o muro divide a rua entre quem está na rua ou no lote noto no muro o invisível do porte vejo no muro a mensagem do óbvio o muro fecha a rua feito margem de rio

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De um poDe um poDe um poDe um ponto ao outronto ao outronto ao outronto ao outro a cabeça balança na curva se curva debate pra frente pra trás a cabeça ginga na parada se turva batida em toc toc no encosto a cabeça com boné lenço ou outro apetrecho se liga novamente ponto final

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Janela da seriedadeJanela da seriedadeJanela da seriedadeJanela da seriedade o homem na janela viaja a cor do lado de fora é muita a mulher na janela dispara a dor para fora de si que é vária os sérios se sentam sozinhos na janela do coletivo

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azulazulazulazul a conversa fácil o detalhe breve a viagem ágil o trocador serve o ônibus azul vai ponto a ponto enche o coletivo sai carro tonto vende eu tenho lugar cativo nesse mexe remexe da coletividade urbana

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Lanche rápidoLanche rápidoLanche rápidoLanche rápido a lanchonete rápida serve e serve e serve não se pode demorar o tempo está quase passado mas se ainda vai passar por que não deixar o tempo esfriar feito café no lar? a lanchonete tem caixa ficha salgado prato não se pode esperar o relógio agride o pulso mas se o relógio não para por que não desfrutar do tempo como aquele de colher manga madura no quintal?

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Tempo juntoTempo juntoTempo juntoTempo junto o tempo do coletivo é de porta aberta porta fechada roleta rodada grávida sentada o tempo do coletivo é de ponto cheio ponto vazio trocador sonolento idoso identificado

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Fast foodFast foodFast foodFast food o tempo de um fast food é rápido como uma fecundação indevida o tempo da comida rápida é sinal de eficiência do sistema pague-pegue o tempo é ligeiro na lanchonete de vermelho letreiro

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ViraViraViraVira----lataçãolataçãolataçãolatação cachorro na madrugada da cidade deixe o lixo para o vira-lata caridade pomba na manhã do centro jogue a pipoca para a vira-lata asa quebrada rato na última hora da noite caia o resto de comida ao vira-lata da boite

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o tempo louco da cidadeo tempo louco da cidadeo tempo louco da cidadeo tempo louco da cidade

enquanto a vida passa lentamente na cidade interiorana o tempo foge aqui

enquanto a moral permanece na cidade conservadora o tempo muda daqui

enquanto os homens são apenas da cidade ou da roça na cidade do interior aqui a vida é outra enquanto as mulheres são tolas na gravidez ou no parto na maternidade do interior aqui o tempo gera a louca enquanto eu procuro me encontrar no interior de mim mesmo aqui nessa cidade grande eu me perco em território ermo

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donodonodonodono

descompostura na praça pública

sou de outro tempo

do tempo de ser

sou de muito tempo

do tempo de crescer

sou de longo tempo do tempo de permanecer

sou de pouco tempo

do tempo de se perder

a praça é publica eu sou apenas dono de mim

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florflorflorflor morrer de amor não quero prefiro a flor mesmo sem cor morrer de dor não posso opto pela cor branco gelo

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o tempo cotio tempo cotio tempo cotio tempo cotidiano diano diano diano o tempo dia mês ano calendários fundidos jungidos unidos devassados em rugas amontoadas na face o tempo se traduz em ação perdida em comoção vendida em aparência pobre de sentimento o tempo me rouba a paz como faz com folhas secas em estações variadas há tantos e tantos e tantos dias varrendo da face da terra o velho o ido o passado o tempo me angustia nesse vai e vem de onda sem fim rasgando o sentido em mim de mim pra mim em contentamento de ser e estar no mundo mesmo vazio o tempo me roda em seu ciclo puramente insólito e vou girando em transe único em constante desavença entre as três dimensões do ontem do hoje e do amanhã

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o tempo me leva para lugares reais e lugares que somente a mente saberá dizer para si mesma onde foi o que viu o que aprendeu o que sofreu o tempo sofre em mim a angústia de ser o tempo morre comigo quando se faz perder o tempo ferve em brasa para depois desaparecer o fogo do tempo é passageiro a alma do tempo é ligeira a dor do tempo é cotidiano

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casacasacasacasa para Mariângela Pena Andrade

a casa casou-se com todos do cão no quintal ao sapatinho de metal

a casa abrigou a todos da artista de fases várias ao engenheiro de poucas falas

a casa adormeceu a todos de noite a menina de cabelos longos de dia o casal no sofá em sonhos

a casa cresceu árvores no quintal passarim de tons psicodélicos deu bougainville goiaba flor para o natal

a casa tem arte de cima em baixo do teto ao tato

a casa tem paz de céu e família construção fugaz

(a arte mexe na casa pela manhã e de tarde já há outra obra vivendo pronta para ser apreciada a arte ali faz parte)

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desejodesejodesejodesejo

queria que fosse verdadeiro o sopro do pulmão eternamente pronto

queria que houvesse eternidade na mão sobre o coração fluentemente sonoro

queria que nada me retirasse daqui os olhos buscam o por-do-sol calmamente colorido

queria que fossem as aves em árvores o roçar de suas penas me deslumbram esvoaçadamente ventania

queria que o tempo estivesse oculto nada de suas leis reveladas como as rugas na face como eu feito estrada

queria apenas que o tempo me contivesse sem me expurgar de sua roda da fortuna

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ano passadoano passadoano passadoano passado o ano foi tão breve feito forno de quitandeira transformando massa em biscoito de goma o ano foi tão leve feito papagaio de menino alterando a rotina dos dias voando no alto da santa rita

o ano se foi muito de mim trouxe de volta o ano se foi um outro em mim foi-se embora

o ano tem 365 dias ou 366 noites eu tenho uma vida agora

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DedarataDedarataDedarataDedarata

no jornal ele passa de um dia para outro a notícia envelhece como nós

na revista ele cansa de ser um dado morto a revista tem dedarata* como nós

ele feito 14 bis voa hoje volta irrequieto Dumont inventa outra máquina de parar as asas do tempo

*dedarata: mistura de catarata com dedo, dedo que passa nas folhas e marca cada uma delas com suas digitais ou sua sujeira.

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usinausinausinausina divido o dia em três turnos como um operário da indústria de manhã é hora de pegar no batente a estiva do porto – acordar de tarde é fuga da manhã com sono ou sem sono o dia prossegue – estar alerta de noite já penso no dia seguinte e me deixo levar pelo som do futuro – reinício da tarefa divido a vida em três turnos como um joão-ninguém diante da vida na infância – já foi! – peguei o mal de viver na maturidade – está aqui! – resolvo o mal de querer na velhice – virá? – vou pedir para renascer sou operário da indústria a vida é um existir que se desenha

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apartamentoapartamentoapartamentoapartamento os blocos se deslocam pela janela de vidro o ônibus consome grande atenção para o urbano as cores são intensas e vão de um azul tolo ao salmão não grelhado

os apartamentos sobem um sobre o outro sobrepondo histórias de vida de muitas vidas paralelas

o apartamento fecha o cerco ali dentro se é o que se é de fato a voz a música o fogão a gás o espaço é feito gente de cimento

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banhobanhobanhobanho o banho perfumou o banheiro eu saí da fumaça repleto de outro cheiro o banho consumou o dia inteiro eu me refiz ali dentro para outro feito o banho enxugou o suadeiro eu fechei os poros vou dormir refeito

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urbanidade teatralurbanidade teatralurbanidade teatralurbanidade teatral a fumaça xamânica do trânsito a pomba de pernas tortas na calçada a árvore seca em pleno dia de chuva eu perdido como todos na rua o anúncio de venda de lote no poste sem data a mensagem no muro de um grupo sem identidade o prédio fechado para reforma sem nenhum operário eu identificado com o vazio no meio da rua o policial obsoleto no seu posto de trabalho o ninho do pardal dentro do poste de cimento o alarme da motocicleta acionado por ninguém eu presentificado diante de fatos mudos

a cidade dorme cenários eu os revelo para mim a cidade fornece cenários eu os guardo sem fim cenário inútil de urbanidade

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serviço públicoserviço públicoserviço públicoserviço público o que se passa ali dentro quem faz o quê em cima de um móvel qualquer naquele espaço condenado a ser algo na minha imaginação (interrogação) quem conquista quem o homem ou a mulher a mulher ou a mulher ou o homem ou o outro homem naquele espaço minúsculo de sexualização (interrogação) o dinheiro sai do cartão da bolsa em viva moeda em morta civilidade o casal é carinhoso rancoroso será um amante será uma experiência nova (interrogação)

eu me pergunto diante da placa em vermelho MOTEL

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Boca do lixoBoca do lixoBoca do lixoBoca do lixo a chuva escorre para a boca-de-lobo já com azia de tanta impureza engolida na tarde de verão da cidade o bicho ‘tá solto as moças e meninos dos lugares escuros e altos já com ardência nas partes pudentas na noite de verão da cidade corpo de delito

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Pulsação cotidianaPulsação cotidianaPulsação cotidianaPulsação cotidiana o cotidiano traz tristeza alegria variada e incolor o cotidiano pulsa melancolia existência falseada na sombra da dor a vida pulsa forte no amor na alegria ou dor

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Eu identidadeEu identidadeEu identidadeEu identidade a mente não apaga a identidade não a perco por um segundo sequer eu a tenho como eu todo repleto de mim a mente não decifra o mistério interior eu possuo luzes que ainda não iluminaram insights que não se decifraram foco de mim

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EstarEstarEstarEstar----vivovivovivovivo----eeee----emememem----pépépépé gostaria de evitar o assunto mas não posso aparece sem querer não posso dele sair gostaria de provocar outra expressão mas não ouso surge sem de mim depender um fosso fundo é esse detalhe é essa mancha é essa falha existência

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Trajeto breveTrajeto breveTrajeto breveTrajeto breve estou na superfície do dia pairando por sobre o sentido entre o prédio gigante demais e minha pequenez de sombra estou puramente sem paciência o trânsito caótico de pessoas despóticas o carro amassado pelo moço sem referência e meu trajeto breve no mundo

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Sacola de compraSacola de compraSacola de compraSacola de compra a sacola sacode toda seu polímero a caixa lá dentro encobre o objeto tirado da vitrine de uma loja real a sacola pula na mão suada a fruta lá dentro pede pra virar salada gelada engolida às pressas no fim de tarde nutricional

a sacola pede mão a mão pede água a água pede rio o rio pede fim

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silenciosidadesilenciosidadesilenciosidadesilenciosidade esse silêncio prenunciando o seco na boca na garganta na voz na trama da vida

esse silêncio absurdo suplica sentido esse silêncio me fere

silêncio eu

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filosofiafilosofiafilosofiafilosofia a filosofia não desmente o tiro no pé antes sabe muito bem de quem veio e pra quem é a filosofia não mata ninguém antes esclarece - morrer é muito bom!

(na hora certa!) e convence o desavisado a melhor hora aquela não é a filosofia não tem nada de complicado antes é o leitor de teses ousando dizer da complicação como hipótese complicado é o filósofo distante da fé a filosofia alivia o fardo da existência não coloca mais peso e mais dor só quem tem medo de viver faz da filosofia seu horror viva a filosofia sem o suicídio banalizado de amor

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viva a filosofia sem o precipício estigmatizado do sofredor eu sou feliz porque penso eu sou feliz porque ajo eu sou feliz porque sinto plenamente

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leveleveleveleve leveza quero ser leve ao andar mais leve ao me retratar leveza essa pureza interior ausência plena de dor leveza esse estômago vazio da fome saciada de amor leveza essa pena voando pela janela despreocupada do pouso forçado leveza esse sorriso breve e verdadeiro desocupado da rotina do obrigado

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PlPlPlPlaaaaca publicitáriaca publicitáriaca publicitáriaca publicitária a placa enferrujada na parede no segundo andar do prédio demolido por dentro vazio de paredes a placa verde branco preto de número do telefone apagado por que não tiraram ela de lá se puderam arrancar sua memória? a placa morre sem sentido no alto do segundo andar do prédio vazia como ele vazio devolvam a sua dignidade!

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manifesto da idademanifesto da idademanifesto da idademanifesto da idade

quando o tempo passa por todo o corpo e desacelera e por causa desse tempo passado a vida fica mais bela eu preciso dizer que o tempo na pele é tatuagem indomável eu necessito dizer que o tempo é uma herança glandular manifesto minha inquietação contra todos negadores do tempo na carne e no osso e no rosto o tempo é deixado de lado como se cada célula fosse culpada pela grandeza da experiência da existência acumulada manifesto minha repulsa contra as rugas despistadas como se fossem piadas as frases de amor eterno passageiro uma vez que o que é eterno se guarda na alma não no corpo esse poço sem fundo de tantas necessidades temporais eu nego a negação do finito o rosto eternamente belo sem as curvas do tempo com versos e prosas

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eu me recuso a acreditar que somos um tempo sem idade a idade é a roupa do tempo no corpo e a beleza da alma posta no mundo para todos verem a idade é um cartão postal a idade é tempo vivido como água de mar tem sal como comida boa tem tempero que agrada e dá paz a idade não pode ser um feio a idade é sonho inteiro feito eu manifesto contra a prepotência dos anos que não passam os dias os anos as eras passem no corpo e na alma marquem esse meu objeto no mundo todo agora preciso sentir em mim o tempo pleno eu não suportaria me equivocar diante do espelho prefiro assumir cada ano vivido pois só assim sou autêntico diante de cada sonho realizado uma miragem contrária a isso me faria outro

me deem a idade merecida não tenho vergonha somente alegria de ser meu tempo

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me levem na lembrança com minhas rugas com meu pouco cabelo com minha voz rouca eu digo ao mundo inteiro nada valeu mais a pena do que o cotidiano me recriando deixem-me na idade que eu tenho pois não me surpreendo sei bem! daqui a alguns anos terei outro corpo outro corpo outra idade outro tempo pra contar deixem-me com meu espelho com minha idade com meus anos e meus dias eles serão sempre meus, eu manifestamente assumo isso

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bicicletabicicletabicicletabicicleta a bicicleta vermelha de aro de alumínio

desce a ladeira a bicicleta inteira é geometria

equilíbrio a bicicleta sente a condução

do ente

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Jogo de palavrasJogo de palavrasJogo de palavrasJogo de palavras eu escrevo sentidos muito sentidos eu descrevo imperativos muito imperativos eu sinto sentimentos muito sentidos eu minto palavras para dizer nada quando eu quero a palavra me mostra quando eu não quero a palavra é ostra quando eu preciso a palavra é sentido quando eu despisto a palavra é mentido a palavra é chave de significados procure meu jogo de esconde-esconde

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IluminaçãoIluminaçãoIluminaçãoIluminação o dia revela à cidade seu rosto puro

suas esquinas nuas seus postes feios suas feiúras

o dia dá à cidade seu corpo todo

suas árvores de tronco escuro seu ar fétido ou puro no alto sua chuva suja na sarjeta

o dia deseja à cidade a sua verdade

a luz do dia desse ano é puro a luz desse momento é dia pronto

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bairrobairrobairrobairro o bairro tem vidas paralelas como a minha a sua e aquela o bairro tem ruas convergentes como eu você e essa gente o bairro tem aves em todas as árvores como eu tenho ninho na mente para dar em asas o bairro tem cachorros atrás do portão como eu sou fera para defender meu coração o bairro abriga muitas histórias como eu me carrego na memória

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floraçãofloraçãofloraçãofloração a flor do jardim está tão apagada não suporta mais o peso da cor já caída pedindo que a terra consuma sua seiva e cor a flor se despede do mundo quase feliz pela vida em volta abelha formiga besouro o olhar de alguém na janela

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Cena de famíliaCena de famíliaCena de famíliaCena de família será que a menina no colo da mãe enrolada no pescoço vê o que eu vejo pela janela de vidro do ônibus? será que mãe atada ao corpo da filha preocupada com o horário crê no que vê no mundo cão fora do coletivo chão?

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Fechado para balançoFechado para balançoFechado para balançoFechado para balanço Estou agora como o bar do bairro na segunda-feira não me incomode não bata à porta hoje estou fechado para qualquer situação Estou agora como a árvore cortada pelo corpo de bombeiros depois da tempestade sem graça e podado para qualquer conversação Estou agora como o ônibus de portas fechadas passando a mil quilômetros por hora no ponto repleto de pessoas estou em outro mundo Estou agora nutrindo raízes no cotidiano

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ruárioruárioruárioruário A rua vazia demais para ser eu um transeunte estava eu parado dentro de um espaço coletivo observando a miséria humano do trabalho de um dia exaustivo daqueles A rua parecia um cadáver solto e sem ninguém para chorar seu defuntamento sem cheiro sem cor sem nenhum significado daqueles A rua estava tão magra como a moça anoréxica mas ainda forte como o rapaz viroréxico saindo da academia com os braços cheios de músculo e vazio de significado A rua me apertou por dentro Me jogou num mundo obscuro A rua me fez silenciado na noite De retorno para casa

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Fim de mêsFim de mêsFim de mêsFim de mês Fechar o mês Abrir novos códigos de barra A vida é cheia de pretos e brancos Finalizar o Mês Abrir uma nova conta no banco A vida é feita de faz de conta Reinventar o mês que parece vai se repetir Fugir da rotina de acordar e levantar A vida é feita de cotidiano

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sonorosonorosonorosonoro O telefone toca e me desperta Da acomodação da novela Nada revela O telefone treme e me chama Me remove das pernas para cima Sempre acelera O telefone fala Por alguém longe Eu de perto Vivo também distante

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cãocãocãocão O portão se abre O barulho das chaves na mão Despertam os ouvidos Latidos O portão se fecha O som dos passos na escada Aceleram o coração Batidas O cachorro reconhece O cheiro do dono de longe

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piscadapiscadapiscadapiscada O som do olho espiando a vida A voz da mãe chamando para a comida Estranho som do dia-a-dia A voz rouca da louca da rua A verruga dolorida na volta da lua Pequeno ciclo de mão e pua

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sirenesirenesirenesirene A sirene dos operários espanta as aves

Avisa do tempo Pressagia a rotina

a sirene oca por dentro roda as horas

maltrata o corpo quando demora

a sirene puxa uma força estranha de dentro

a mente necessita de um som mais puro que o dia duro

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fluidezfluidezfluidezfluidez o cotidiano flui apesar da hora gasta inútil o cotidiano vai apesar do tempo perdido fútil

o cotidiano continuará apesar de todo verso lúdico o cotidiano é mar laborioso de ir e de voltar

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DANILO ARNALDO BRISKIEVICZ nasceu em Serro, Minas Gerais. Sua primeira publicação poética foi Identidade (1993), seguida de Tonel da memória (1994), Oratório de versos (2000), 300 (2002), Chão de poemas (2004), De tudo e de amor (2006), O cheiro sem cheiro da rosa sobre a mesa (2008), Transmutação (2009) e Maresia (2009). Interessado pela história serrana realizou diversas pesquisas e registros, publicando o que pretende ser uma série histórica com outros temas que se encontram

no prelo. Assim, surgiu A arte da tipografia e seus periódicos (2002) e A arte da crônica e suas anotações (2007). Reeditou o clássico serrano Memória sobre o Serro antigo (2008), de Dario Augusto Ferreira da Silva, de 1928, no qual fez, além do ensaio crítico sobre o poder no século XVIII, a adequação lingüística. Publicou no Serro três números da Revista de História do Serro, em 2002-2003.

Procurando novas formas de registro histórico, publicou Serro duas vezes (2008), trazendo uma visão poética e fotográfica da cidade do Serro. No enfoque fotográfico e histórico publicou Rostos 1998(2009). Foi redator do Jornal Livre Pensador e um dos criadores da Bolerata do Serro. Publica, desde 2006, O fóssil, jornal digital distribuído pela Internet. Publicou artigos de Filosofia no Recanto das Letras, entre eles Hannah Arendt e a violência política, Michel Foucault: violência, racismo biopoder, A noção de Gramática em Wittgenstein, Maquiavel: Estado, Política e sociedade civil, entre outros. É formado em Filosofia pela PUC-Minas, pós-graduado em Temas Filosóficos pela UFMG e mestre em Filosofia Social e Política, também pela UFMG. Os livros de poesia, história, fotografia e artigos de filosofia estão disponíveis no site do autor onde podem ser baixados gratuitamente.

Acesse o site do autor: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro