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Conselho Editorial: Diretor-Presidente, Carlos Raimundo Nascimento; Diretor de Planejamento e Engenharia, Adhemar Palocci; Diretor de Produção e Comercialização, Wady Charone; Diretor Econômico-Financeiro, Astrogildo Fraguglia Quental; Diretor de Gestão Corporativa, Manoel Ribeiro; Gerentes Regionais - Coordenação de Comunicação e Relacionamento Empresarial: Zenon Pereira Leitão - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Edição e Reportagem: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF), Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF), Byron de Quevedo (DRT 7566-DF), César Fechine (DRT 9838-DF), Michele Silveira (DRT 11298-RS), Núcleos de Comunicação das unidades regionais Capa: Sandro Santana - Fotografi a: Rony Ramos, Roberto Francisco, Alexandre Mourão, Núcleos de Comunicação das unidades regionais - Tiragem: 10 mil exemplares

SCN - Qd. 6 - Cj. A Ed.Venâncio 3000

Bl. B- Sl. 305 - Brasília/DFCEP: 70716-900

Fones:(61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]: www.eletronorte.gov.br

SUM

ÁR

IO

GERAÇÃOSegurança de barragens, a engenharia da prevençãoPágina 34

ENTREVISTAZiraldo Alves Pinto Página 3

MEIO AMBIENTEPeixes que valem ouroPágina 9

ENERGIA ATIVACorrente Contínua, pedra fundamental da comunicação institucional da EletronortePágina 18

TECNOLOGIAAs fi bras da telecomunicaçãoPágina 39

CORRENTE ALTERNADAPágina 43

CIRCUITO INTERNOPágina 46

AMAZÔNIA E NÓSPágina 48

(Prêmio 1998/2001/2003)

TRANSMISSÃOEducação ambiental e arqueologia:quando uma linha de transmissãofornece mais do que energiaPágina 24

CORREIO CONTÍNUOPágina 50

FOTOLEGENDAPágina 51

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No próximo dia 24 de outubro o pintor, cartazis-ta, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor Ziraldo Alves Pinto completa 75 anos de vida. Neste 2007 comemoram-se também os 60 anos de trabalho desse artista que vem pontuando a vida cultural brasileira com personagens, livros, revistas e jornais sempre marcantes na história recente do País.

A Turma do Pererê, Flicts, O Pasquim, Supermãe, Menino Maluquinho, Menina Nina, Bundas, quem nunca leu ou viu nada que tenha saído das mãos de Ziraldo? Sem falar na-quela clássica crônica que não tem a letra O!

Entrevistamos Ziral-do no fi nal da tarde do dia 7 de junho de 2002, na pérgola da piscina do Hotel Augustus, em Altamira, oeste do Pará. O Brasil já assistia aos jogos da seleção pen-tacampeã da Copa do Mundo de futebol e nós descansávamos (!) de uma tarde fatigante. Ziraldo acabara de au-tografar uns duzentos gibis da reedição da primeira história da Turma do Pererê (patro-cinada pela Eletronorte) - acontecida em 1962, quando o Brasil se pre-parava para a Copa do Mundo do Chile.

A criançada de Altamira, que naquele dia par-ticipava de diversas atividades organizadas pela Eletronorte em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, correu pro cais do Rio Xingu e sob um sol e calor escaldantes pôde fi car perto de um dos maiores ídolos da literatura infantil que já tivemos em todos os tempos.

Foi um dos quatro eventos organizados pela Em-presa no Pará durante a Semana do Meio Ambiente daquele mês de junho que contou com a partici-pação do cartunista. Em Altamira, o relançamento do gibi; em Tucuruí, a inauguração de um bosque; em Breu Branco, a entrega de obras sociais e em

“Esta é a entrevista mais verdadeira que eu já dei na minha vida!”

(Ziraldo Alves Pinto)

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Belém, a abertura do espaço Procel no Planetário (foto ao centro).

Na piscina, lembrando de uma música de La-martine Babo, Serra da Boa Esperança, Ziraldo disse: “Vou contar a minha vida!” E contou mes-mo. Desde a saída de Caratinga, a passagem por Belo Horizonte, a chegada ao Rio de Janeiro, a paixão pela família, o convívio com uma geração de bambas do humor e a criação de uma dezena de personagens até culminar com o lançamento do Menino Maluquinho.

A entrevista fi cou de ser publicada nesta revista, mas por diversas razões acabou por aguardar este momento especial, quando comemoramos os 30 anos da Corrente Contínua, inovando mais uma vez a linha editorial e gráfi ca. É uma entrevista espe-cial, para uma edição especial. Com o bom humor nas alturas, mais uma vez Ziraldo dá mostras da sua capacidade de inventar, de criar e de procurar sempre um jeito de sermos mais brasileiros e mais felizes. Confi ra os principais trechos da entrevista sobre a qual ele declara: “é a mais verdadeira que já dei na vida porque contei coisas que nunca havia contado pra ninguém”.

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Caratinga“Cheguei ao Rio de Janeiro pela primeira vez em

1948, quando terminei o científi co e fui procurar saber o que ia fazer da minha vida. Em 51 tive que servir o exército e me alistei como pára-quedista, tava doido pra saltar de pára-quedas. Meu pai me chamou: ‘Você já se alistou?’ ‘Já e tal’. ‘Você não quer fazer o tiro de guerra em Caratinga, não?’ Papai era amoroso, mas um superpai. Eu já gostava muito do Rio, mas tinha arrumado uma namorada em Caratinga e já tava doido pra voltar. Aí quando foi de tarde papai me disse: ‘Olha, você já tá alistado lá em Caratinga, tem um sargento amigo meu e tal’. Aí eu voltei pra Caratinga e foi o ano mais feliz da mi-nha vida. O tiro de guerra era uma festa, uma farra, uma coisa maravilhosa. Eu era presidente do Centro de Estudantes e tinha baile o tempo todo. E tinha um time de basquete que disputava campeonatos no interior de Minas. Um time entusiasmadíssimo chamado Vigapepizi: era formado por cinco amigos da infância e adolescência: Viggiano (Alan), Galileu, Pedro Vieira, Pimentel e Ziraldo: Vigapepizi. Bom de nome, ruim de basquete. Um vexame!”

Primeiros passos“Eu comecei desenhando meus colegas de co-

légio, mas nos dois anos que passei no Rio já tinha publicado numa porrada de revistas. Com 16 anos fui chegando e publicando, eram histórias em quadri-nhos infanto-juvenis. De volta a Caratinga, mandava meus desenhos pra revista Cigarra, que era mensal, e pra Cruzeiro, que era semanal. Mas em Caratinga a gente só queria saber de festa e de namorar, ía-mos à cidade vizinha namorar as moças de lá e elas também vinham namorar a gente. Aí dava nove, dez horas da noite, a gente entregava as namoradas em casa e ia todo mundo pra zona. Aliás, hoje lá no cais do Xingu vi uma menina de calça roxa igualzinha à minha primeira namorada na zona. Naquela época era assim, os garotos se iniciavam ali e eu tinha até ciúme dessa menina, chamada Neide, era muito bonitinha, tinha uma cicatriz na boca. E tinha um corpo monumental, muito parecido com a menina que vimos hoje, eu olhei e pensei: gente, a Neide não morreu! (risos)”.

Belo Horizonte“Saí de Caratinga de novo e fui para Belo Horizon-

te, antes de voltar pro Rio. A Nacional Transportes Aéreos inaugurou a linha BH/Caratinga e o pessoal tomou conhecimento de Belo Horizonte, que a gente não conhecia, ninguém sabia escalar o Cruzeiro ou o Atlético, não sabíamos nada de BH. O relacionamento de Caratinga era muito maior com o Rio e Vitória (ES).

Todos os viajantes, todas as compras de armazém, era tudo com Vitória. Em BH, como bom mineiro, eu conheci, de cara, o Paulinho Mendes Campos. Tinha um grupo de intelectuais e a gente lia Manchete, as-sinávamos revistas americanas e líamos o Millôr na Cruzeiro. A diferença entre nós, naquele momento, e o pessoal que fi cou em Caratinga, é que o pessoal de lá lia Seleções Readers Digest e a gente em BH lia Manchete, uma revista que era moderna e instigante e para a qual o Paulo Mendes Campos já escrevia. Além disso, as namoradas de Belo Horizonte eram lindas e eu passei no vestibular e comecei a fazer Direito, ao mesmo tempo em que continuei a dese-nhar e fui trabalhar em agência de publicidade. Fazia uma página na Folha de Minas. O Borjalo foi pro Rio trabalhar na Manchete e eu fi quei no lugar dele. Tinha uma página semanal de humor que fazia o maior sucesso. Engraçado como o cartum e a caricatura faziam sucesso naquela época”.

Rio de Janeiro“Não tinha mais Careta,

nem O Malho, já tinham pas-sado, essas revistas todas. Mas tava todo mundo vivo, o J. Carlos, o Aquarone, o Raul Pederneiras, o Mendez, esse povo todo tava vivo. Através do Millôr comecei a tomar contato com o mundo e não perdi meus contatos com a revista Cigarra. Aí criei uma série de cartuns tendo como personagem o can-guru. Peguei cento e tantos cartuns do canguru e levei na Cruzeiro, no Rio. Foi um impacto, todo mundo veio ver o menino de Belo Hori-zonte. Eu comecei a comprar revistas americanas e aprender o mecanismo de fazer cartum com os caras mais famosos do mundo. Fiz um cartum do canguru que o pessoal riu demais: o canguruzinho na bolsa da mãe e um toldo por cima. Saiu até uma matéria: “Ziraldo veio pro Rio na bolsa do canguru!” Fui trabalhar na Cruzeiro e seis meses depois escolhia a capa da revista. Fui morar em Co-pacabana e no meu primeiro aniversário do Rio, eu já casado, o cara da Colombo (a Confeitaria) soube e quis fazer a festa. Perguntou quantas pessoas, eu disse: ‘umas cinqüenta’! ele, ‘vou arranjar umas coisinhas’.Parecia mais uma festa pra rainha da In-glaterra. Tinha tanta comida e garçons que as coisas fi caram espalhadas pelo corredor, uma loucura que eu nunca tinha visto”.

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Vilma“Antes disso, volto a BH pra conversar com um

amigo: ‘Cara, o que eu faço, tô noivo?!’ E ele: ‘Você é o velho provinciano que vai pra capital e chega lá e descobre que o mundo é aquilo, você é mais uma vítima dessa babaquice, um rapaz que não respeita as origens’. E decidimos que eu tinha de fazer aquilo mesmo; manter a palavra. Aí casei com Vilma em 1957. Eu que já havia vivido cinqüenta crises de paixão por ela, era muito apaixonado. Namoramos sete anos e me apaixonei e desapaixonei pela Vilma umas 500 vezes ao longo da nossa vida em comum. E agora tá ruim rapaz, tem dois anos que ela morreu e eu tô naquela crise de não achar justo. Foi daí, em conversas com a minha neta sobre a morte da avó, que veio a história do meu livro Menina Nina. Vivi com a Vilma toda a minha vida adulta, desde que saí do Exército. Desde que a conhecei nunca mais tive um dia em que ela não estivesse nele. Foram 50 anos. Com Vilma nunca fui um indivíduo, nunca tomei uma decisão sozinho, nunca fi z um escândalo: quantas vezes tive vontade de rodar a baiana e não rodei por causa da Vilma?”

Amor e trabalho“Converso muito com meus fi lhos sobre a impor-

tância do amor e do trabalho na vida da gente. Tem pessoas para quem o amor é a coisa mais importante da vida delas. É um sentimento muito mais feminino que masculino. Quando uma mulher se apaixona ela larga tudo. Um caso dos mais representativos é o da mulher do Euclides da Cunha. O cara matou-lhe o marido e o fi lho e ela fi cou com ele até o fi nal. Assim, como tem pessoas para quem o centro da vida é o amor do outro ou pelo outro, tem pessoas para quem o que fazer da vida é que é o mais im-portante. Hollywood fez uns 500 fi lmes sobre isto: o mais importante da minha vida é o amor ou minha carreira? Tem a história do Louis Armstrong. Casou e só viveu 18 dias com a primeira mulher. Separou,

casou de novo. Durou seis meses. Casou de novo e este casamento durou a vida inteira. É que esta sabia que estava casando com o Louis Armstrong, o maior músico do jazz. Por que meu casamento com Vilma durou tanto? Porque quando nos casamos ela já sabia que eu era eu. Não houve surpresas. Eu sou muito centrado no que faço. Outro dia meu fi lho chegou em casa, eu tava desenhando, ele disse: ‘Vem ver um fi lme, pai. Vem descansar.’ Ora, fazer o que eu gosto é o que me descansa.”

Turma do Pererê“Casei com a Vilma e fomos morar na praça do

Lido, em Copacabana. O apartamento era mínimo. Não tinha nem quarto de empregada. Mas era um apartamento sensacional, num prédio símbolo de Copacabana. Todo art-decó, em plena Avenida Atlântica. Pra quem tinha vindo de Caratinga... Por ali passou todo mundo que se possa imaginar. Era caminho entre o Fiorentina e a Gôndola e todo mundo que passava e via a luz do nosso apartamento acesa, subia. O porteiro não dormia, chegava gente toda hora, Sérgio Ricardo, Chico de Assis, Carlos Leonan, Antônio Pitanga, Jaguar, Millôr... Até o Caetano e o Gil passaram por lá antes de embarcar para São Paulo. Ali nasceram meus três fi lhos e até o Chico Buarque nasceu naquele edifício. Eu já trabalhava na Cruzeiro, onde fi quei por sete anos, de 57 a 64. E também já tinha nascido a Pererê! Eu queria fazer história em quadrinhos quando descobri os cartuns.

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Foi quando virei cartunista e passei a fazer parte da turma dos quatro meninos do Millôr: Jaguar, Claudius, Fortuna e eu. Éramos hiperdesenhistas e o cartum naquela época tinha prestígio internacional. Quando surgiu a chance de fazer o Pererê eu já fazia uma série de piadinhas do personagem na Cruzeiro. A revista decidiu que devia haver uma revista nacional de história em quadrinhos e encomendou projetos a mim, ao Carlos Estevão e ao Péricles, do Amigo da Onça. O Péricles fez o Oliveira, o Trapalhão, mas não conseguiu terminar, suicidou-se antes. O Carlos Estevão fez a dele por uns cinco meses e fi z a Pererê por cinco anos, até 1964. A história em quadrinhos era muito cara, os homens já sabiam que a revolu-ção não viria, aí, acabaram com a minha revistinha tão nacionalista. Tive a primeira crise existencial da minha vida”.

Anos de chumbo“Começa uma fase de sofrimento, apesar de mi-

nha querida amiga Marina Colassanti me censurar porque, numa entrevista, eu disse que não sabia o que era sofrimento. A Marina disse que eu era um vegetal. Deus tinha até ali me poupado de duas coisas: sofrimento e azia (risos). Eu tenho dor de barriga, mas azia eu não tenho. Mas foram duros os anos que sofri, rapaz. Eu, com 32 anos, já tinha feito o Pererê, quando descobri a possibilidade do Brasil se assumir culturalmente, quer dizer, um Brasil brasileiro poderia ser feito. Veio o Teatro Brasileiro de Comédia, a UNE, a reforma de bases. Eu era, até então, fascinado pelos Estados Unidos. Aí, comecei a descobrir meus amigos de esquerda e a des-cobrir a esquerda. Foi nesse tempo, entre o fi m da Pererê e o início de O Pasquim, em 68. Foram anos de sofrimento. Comecei a publicar uma pági-na inteira no Jornal do Brasil, aos domingos, numa época de muita rejeição e eu não suporto rejeição. Sofro!... Jaguar, Fortuna e Claudius se reúnem para fazer a primeira publicação de protesto, um livro chamado Hay Govierno, e não falam comigo. Isto me deu uma rejeição mortal. ‘Pô, você é um alienado’, diziam todos os que se encontravam engajados. E eu: ‘Pô, mas eu fi z o coelhinho vermelho, minha revista estava comprometida com todos os sonhos políticos da minha geração’. Eu queria mesmo era ir pra luta. Mesmo! Mas, não posso levar a Vilma nisso, não posso me engajar, eu não sou um só. Já tinha as duas fi lhas, Daniela e Fabrizia. Quando fi zemos a passeata dos cem mil, começam a acreditar que eu era do quadro do partidão. Mas nunca fui. Me contentei em ser massa de manobra, linha auxiliar... o que eles, na época, chamavam de inocente útil. Só que eu não era tão inocente assim. Estava mais para atormentado útil”.

O Pasquim“Aí surge a idéia de fazer uma publicação de

protesto. Eram Fortuna, Jaguar, Claudius e eu, mas quem mobilizava a turma era o Millôr (Na foto acima, Millôr, Jaguar e Ziraldo). Aí, tem uma reunião na minha casa, fi lmada pelo David Neves, para a fundação dessa publicação de humor e protesto. Antes disto, eu tinha sido diretor de arte da Visão e publicado cartuns no mundo inteiro. Aí fecharam o Manequinho, no Correio da Manhã, página de humor político do Fortuna, onde todos colaborávamos. Além de nós quatro e o Millôr, estiveram lá em casa, nesta reunião, esses meninos todos que já colaboravam com o Manequinho. Eles vieram, chefi ados pelo Henfi l. Entre eles, estavam Miguel Paiva, o Juarez Machado, o Redi, o Mayrink, o Vagn. Cinco velhos e os meninos: deu um racha na reunião. O pessoal optou por uma cooperativa pra fazer o jornalzinho de combate. Metade para os cinco velhos e metade para a rapaziada nova. O Henfi l disse: ‘nem pensar’ e foi embora com os meninos. Eu queria fazer um jornal pra botar pra quebrar. Já tinha um agente em Nova Iorque e, se não desse certo, ia embora. Essa reunião e outras para fundar nosso panfl etário jornal deram em nada. Um dia, o Jaguar me liga dizendo que tinha arrumado um distribuidor que topava bancar a publicação e a distribuição em banca. Ele disse: ‘Como o Sérgio Porto morreu, o Tarso de Castro vai editar, o Claudius, Carlos Prosperi e o Sérgio Cabral estão com a gente e o jornal vai se chamar O Pasquim.’ Eu disse: ‘Ah, Jaguar, eu que-ro fazer um jornal independente, com distribuidor envolvido como vai ser independente?’ Além disso, o Millôr também disse que não ia e, se ele não ia, eu também não. Dias depois, eu estava em São

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Paulo, liga a Vilma dizendo que o Jaguar tava lá em casa, dizendo que eu havia autorizado ele a pegar uns desenhos dos Zeróis, inéditos, para publicar no Pasquim, junto com um texto do Millôr. Pronto, saíram dois desenhos meus no Pasquim e o artigo do Millôr que virou antológico porque dizia que a imprensa e a publicidade eram um balcão de secos e molhados! (risos). Tiraram vinte mil exemplares. Era junho de 69, com o Ibrahim Sued na capa. Não era um jornal político, não era. Nem o Jaguar nem o Tarso de Castro tinham pretensões políticas, não tinha ninguém político no Pasquim, talvez só o Sér-gio Cabral, que tinha sido do partidão. O Tarso era um bon vivant que queria conquistar o Rio, como de fato conquistou e teve todas as mulheres que quis na cama. Tarso era bonito, não tinha nenhum impedimento moral e passava uma segurança in-crível pras mulheres. Dormiu com todas, até com a Candice Berger”.

Flicts“O Pasquim sai com vinte mil exemplares como

um jornal ipanemense indignadinho, mas a edição esgotou em dez minutos. A segunda em meia hora e a terceira também, somando tudo dava uns oitenta mil exemplares. Tiramos cem mil no segundo núme-ro. Quando já começávamos a ser postos contra a parede, começou a surgir gente nova como o Henfi l. E veio o Francis, e outros mais. Aí as circunstân-

cias nos transformaram num jornal de humor político, um jornal de combate. Um jornal que virou um símbolo da resistência. Quanto às famosas entrevistas do Pasquim, elas eram daquele jeito porque na verdade ninguém tinha saco de editar. A reda-ção era meio bagunça e a gente decidia editar as entrevistas na íntegra e quando não dava pra entender a gravação, dizíamos: põe aí ‘ruídos’ ou ‘risos’, o que acabou também virando o maior

sucesso (risos). E fomos levando porrada atrás de porrada até chegar as bombas na redação. O Pas-quim teve mil edições, durando até a anistia, quando perde sua força. Mas até aí ele foi signifi cativo, com o grande momento das entrevistas com os que esta-vam voltando do exílio. Com a campanha da anistia o Pasquim encerra um ciclo. Eu saio do jornal. No

mesmo ano e mês de lançamento do Pasquim, eu tinha lançado Flicts e feito um sucesso igual ao do Pasquim. Nunca um livro fez tanto sucesso na ci-dade, virou uma paixão. No lançamento, das nove da manhã às duas da madrugada, autografei uns 1.200 exemplares do livro. Não teve um cronista da imprensa brasileira que não tenha dado a notícia do lançamento e do sucesso de Flicts. Mas não dei continuidade à minha carreira de escritor infantil. Fiquei no Pasquim”.

Menino Maluquinho“Depois de dez anos fazendo o Pasquim, meus

amigos sendo presos, por coincidência no ano da anistia, lanço o Menino Maluquinho na Bienal do Livro de São Paulo, em 1980. De cara o livro vende cem mil exemplares. Não sou a referência do Menino Maluquinho, mas quando criança usava panela na cabeça enquanto os meninos botavam chapéu de jornal dobrado: eu era o capitão, pô! (risos). O sucesso do Menino Maluquinho todo mundo conhece, chegou ao cinema e à televisão. Eu já tinha criado muitos per-sonagens, Jeremias, o Bom; os Zeróis, a Supermãe, Mineirinho Comequieto... Mas nenhum deles fez mais sucesso do que o Menino Maluquinho. Por falar na Supermãe, o substantivo está, primeiro no Aurélio, depois em todos os nossos dicionários brasileiros. Deixei de publicar o Jeremias, quando entrei pro Pasquim. Fiz ele voar, sumir: ele chega em casa, tira o paletó, a gravata e, quando tira a camisa, tem duas asas. Sai, então, voando e nunca mais aparece. Teve ainda o Sêo Pinto... tudo morre na vida, todo mundo teve um personagem por muito tempo e depois mata esse personagem. Muito antes do Angeli matar a Rê Bordosa, o Henfi l matou a Graúna, o Fradim..., o Conan Doyle matou o Sherlock Holmes. Chega uma hora que a gente já não suporta mais o cara. Mas personagens infantis não morrem nunca”.

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Aquela noite em Altamira“Querido Alexandre, li com o maior interesse a

entrevista em que, tomados de deslumbramento que as paisagens que nos cercavam naquele longínquo pedaço do Brasil, produziam em nós - que, encantados, nos descobrimos mutuamen-te - perpetramos esta entrevista, encharcada de uísque e alegria. Acho que nós dois exageramos: ela não tem tanta importância, a gente estava empolgado e você, essa pessoa rara, continuou empolgado até hoje. Muita coisa mudou na minha vida nestes cinco anos que nos separam daquela noite em Altamira. (Que belo título para um livro: “Aquela noite em Altamira”). Peraí, o pessoal vai achar que a gente é caso (risos). Não tem perigo. Nós somos espadas e, por esta razão, continuemos. Falei tanto na Vilma naquela noite e, veja você, hoje sigo a minha vida com

outra companheira. É como se fosse uma outra vida. Um preço bastante caro para viver duas vidas em uma só existência. Mas independe de nossas decisões. Hoje estou casado com uma moça loura e linda, completamente diferente da Vilma que, entre outras diferenças, era morena. Mas linda, também. Quando eu digo loura linda você vai achar que, como um velho gaiteiro, me casei com uma mocinha. Nada disso. Ela é uma mulher feita, feitíssima, que tem o dom de ser também, fi lha de meu tio mais querido,

meu tipo inesquecível, meu herói, irmão de minha mãe, que se chamava, para seus sobrinhos, Tilcinho, e para a vida prática, Wilson. Quando a Márcia nasceu, eu mora-va na casa deste meu tio e juro que não cantei para ela aquela canção que o Cláudio Cavalcanti cantava numa novela e que se chamava ‘Menina’, lembra? E nem ela cantou para mim. O tempo é que tece o nosso tempo. Agora sim, estou contando pra você, coisa que nunca contei pra nin-guém. No mais, continuo trabalhando sem olhar para o espelho. Só as falhas do meu corpo me avisam que já passei da hora... Mas eu não tomo conhecimento das falhas do meu corpo”. (Fotos e ilustrações: Arquivo Ziraldo/Eletronorte)

Ler é melhor que estudar“Estamos aqui

em Altamira, no dia 7 de junho de 2002 , ed i t ando esta historinha de 60 anos. Esta é a entrevista mais ver-dadeira que eu já dei na minha vida, tem um monte de coisas aí que eu nunca contei pra ninguém”.

(Du ran t e t r ê s dias Ziraldo este-ve, a convi te da E l e t r ono r t e , em Altamira (foto abaixo), Tucuruí, Breu Branco e Belém, em contato com o povo e as crianças da região. Seu carisma é absoluto. Menino malu-quinho que é, sua filosofia foi desenvolvida na Mata do Fundão: “Ler é melhor que estudar”, ensina às crianças; e continua a correr atrás dos seus sonhos, como o Compadre a correr atrás do Galileu: “eu ainda pego essa onça!” Agora, em agosto de 2007, Ziraldo complementa esta entrevista com o depoimento a seguir).

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Byron de Quevedo

O antigo texto bíblico sobre a multiplica-ção de pães e peixes, em que Jesus Cristo, milagrosamente, sacia a fome de cinco mil seguidores seus pelo deserto, já mostra a preocupação dos grandes líderes com a produção de alimentos. Aumentar essa produção continua a ser meta fundamental dos governos através dos tempos. E, cer-tamente, uma preocupação divina, prova disso é a grande diversidade de fontes ricas de nutrição na natureza. Notadamente os produtos derivados dos peixes, umas das primeiras opções alimentares, têm hoje outras utilidades na indústria, na medicina, no turismo, nas artes e nos esportes. Na Amazônia, que guarda cerca de 20% de toda a água doce do mundo, os peixes se multiplicaram e, mais uma vez, como um milagre, lá a pesca se tornou generosa e promissora. Cuidar e aumentar esse acervo é preciso. E se é verdade que nossos peixes valem ouro, a nossa água não tem preço.

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TE Peixes que valem ouro“Devemos preservar até por

precaução, pois nunca se sabe quando uma espécie se mostrará útil.

Devemos usar o que está na natureza, preservando as espécies com

racionalidade e inteligência, sem depredar os ecossistemas”

(Juras).

A extinção de fl orestas, a contaminação, o assoreamento de rios e o crescimento po-pulacional apontam para previsões pouco otimistas para vários países e já está sendo dito por muitos como sendo este “o século da fome”. Peixes: como sabê-los sem co-nhecê-los? Viajemos então pelos rios amazô-nicos para vê-los. Esse moço, o Juras, será o nosso instrutor e “canoeiro-guia”.

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Peixes, razão de uma vida - Anastácio Afonso Juras, o Juras, é biólogo, mestre e doutor em Ciências pela Univer-sidade de São Paulo - USP. Os peixes despertaram a sua atenção logo no início da graduação, em 1973. E a partir daí, iniciou os estudos de riachos, rios e barragens. Pesquisou em museus, tendo sempre como meta o aproveitamento dos recursos pesqueiros na alimentação de comunidades ribeirinhas, carentes de proteínas na alimentação diária. Chamou-lhe a atenção a possibilidade desses recursos se-rem aperfeiçoados ou melhorados geneticamente. “Para se ter o peixe como alimento, basta uma vara, alguns metros de linha, um bom local para pescar, sem grandes com-plexidades. É um alimento rico que oferece ainda outros subprodutos”.

Estariam os administradores públicos e privados inte-ressados nos motivos da queda da produção pesqueira no País, ou estariam os peixes vindo à tona com a nova onda ecológica mundial que gera dividendos àqueles que defen-dem a natureza? Segundo Juras não há tal onda. Ele crê que hoje a consciência está mais aguçada e as ações ligadas ao meio ambiente, mais vigiadas. Os regulamentos sobre o tema começaram no Brasil com o Código de Águas, de 1934. “Nele já existia o cuidado com os mananciais. Até então os órgãos ambientais estavam desaparelhados e a fi scalização era inadequada. O problema é mundial. No Japão, por exemplo, a pouca água existente precisa ser reciclada cinco vezes antes do consumo. Em 1972, com a 1ª. Conferência Mundial de Estocolmo do Meio Ambiente, em Oslo, deu-se início à regulação e fi scalização. A partir dali os governos passaram a investir nos órgãos ambientais. Depois vieram a Eco 92, no Rio de Janeiro, e o Protocolo de Kyoto, no Japão, em 1997, dando nova ênfase aos cuidados com o ambiente. E as empresas tiveram que se adequar à nova legislação.”

Peixes retirantes - Em 34 anos acompanhando as estatísticas dos desembarques pesqueiros na região amazônica, Juras verifi cou a diminuição da produção e a alteração dos habitats nas áreas de desmatamentos e de novas fronteiras agrícolas, em virtude das contaminações dos rios por agrotóxicos e mercúrio dos garimpos. “Os assoreamentos destroem os riachos e córregos, forçando a migração de peixes. Eles se tornam retirantes e, seme-lhantes aos seres humanos nas suas migrações, vão habitar áreas congestionadas. Nos grandes rios confl itam com os predadores maiores. Esses desequilíbrios ocorrem por ações antrópicas, ou seja, por atitudes humanas negativas sobre a natureza”.

De acordo com Juras, a depredação, em muitos casos, pode ser revertida desde que haja interação entre os governos municipal, estadual e federal, para fazerem o

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ordenamento territorial e a instalação dos comitês das bacias hidrográfi cas, estabelecendo as áreas para a ex-tração da madeira, agricultura, mineração etc. “A falta desse macroplanejamento, que deve ser feito a partir das microbacias, afeta a saúde dos rios e lagos, o território livre dos peixes. Rios que atravessam metrópoles podem ser recuperados, sendo necessário que, ao dar o licen-ciamento, o órgão ambiental competente exija que as empresas tratem seus resíduos e devolvam suas águas em qualidade igual ou superior a que elas captaram na natureza. Não adianta multar, tem que conscientizar para não se jogar o lixo nos rios e dar condições para o hábito da reciclagem”.

Nas regiões Sul e Sudeste, os agentes poluidores são os detritos, detergentes, áci-dos e outros tipos de esgotos industriais. Já na Região Norte, os desmatamentos abrem clareiras nas fl orestas desnudando o solo. “As gotas de chuva caem com a velocidade média de setenta quilômetros por hora. Se não há a vegetação para amortecer o impac-to, elas assoreiam o terreno provocando a erosão. Os primeiros cinqüenta centímetros do solo são repletos de nutrientes e matérias orgânicas. As enxurradas levam o fósforo, nitrogênio e outros elementos químicos para os rios. A conseqüência é o aparecimento

de macrófi tas aquáticas (aguapés), vegetação que, em excesso, provoca proliferação de mosquitos e problemas para a navegação e usinas hidrelétricas, entre outros da-nos”, comenta Juras.

Peixes que curam - Segue o nosso barco virtual rio abaixo e, aqui e acolá, passamos por cardumes meio santos. Salvar enfermos e debilitados: esta é a nova e promissora aplicação para os subprodutos dos peixes. Juras, da Eletronorte, em conjunto com a professora Alpina Begossi, da Unicamp, e o professor Renato Silvano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estudam espécies amazônicas como suru-bim, tucunaré, jaraqui, traíra e pacu, como complemento na dieta alimentar de populações humanas carentes, pois têm proteínas que regeneram rapidamente o organismo, princi-palmente após cirurgias. “É uma alimentação especializada para hospitais, clínicas e casas de saúde. Os nutricionistas podem ministrar aos seus pacientes dietas com esses peixes, pois já constatamos que a recuperação das pessoas chega a ser até quatro vezes mais rápida do que com as comidas tradicionais”, atesta Juras.

Peixes que encantam - O nosso barco chega agora aos igarapés. Lá, Juras nos aponta belos exemplares que os colecionadores conhecem bem, entre centenas de outros: néon, guppy, aruanã, espada, plati, cará, lambari, piaba, trairinha, piabinha e cascudo, que é um peixe muito feio, mas bastante vendido, pois come o lodo das pedras e limpa os vidros do aquário. A comercialização desses pequeninos

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souverniers vivos tem um enorme potencial. A Universi-dade Federal Rural da Amazônia, segundo um estudo da professora Rosália Furtado Cutrim Souza, já catalogou uma imensidão de espécies de peixes ornamentais. Só para se ter uma idéia dos valores deste mercado, o acari-zebra, que vive em águas de até vinte metros de profundidade na região do Xingu, custa, na Europa, cerca de duzentos euros, ou aproximadamente R$ 510,00 a unidade.

Para fi ns de exportação, todos os peixes amazônicos são considerados ornamentais. Um exemplo, não muito positivo, é o da arrainha, bastante comum nos rios Tocantins e Ara-guaia, que chega a pesar 14 quilos, mas enquanto jovem é utilizada para enfeitar aquários. Segundo Juras, esse tipo de exportação é ilegal, porque são peixes que ainda não se reproduziram. “O ideal seria comercializar exemplares adul-tos com autorização do Ibama. Já estão usando, inclusive, o pirarucu, de até 15 centímetros nos aquários, o que é um crime, pois ele crescerá rapidamente e será sacrifi cado. O Ibama regula quais espécies podem ser exportadas, mas mesmo assim o contrabando é intenso”.

Peixes lucrativos - Juras mostra as margens nos lembran-do que os benefícios dos peixes estão fora d’água. Diz ele que uma mesma espécie pode ter dezenas de variações, o que aguça a mente dos colecionadores e o ânimo do mercado internacional. No Tocantins já foram catalogadas cinqüenta espécies só do acará-disco, um peixe redondo e fi no com várias cores e nuances. Em Oeiras, no Pará, também há grandes quantidades de peixes ornamentais, constatação que está sendo feita por Juras num estudo em conjunto com as comunidades ribeirinhas. “O objetivo é propiciar a autosustentabilidade dos recursos. As cooperativas são uma iniciativa da própria população. Para formá-las é necessário no mínimo vinte pessoas. A Eletronorte, por exemplo, tem incentivado a formação de cooperativas em Breu Branco e em outros municípios à jusante da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Já ministrei cursos de cooperativismo aplicado à pesca, levando informações atualizadas sobre a legislação e a comercialização. As cooperativas são importantes, pois conscientizam sobre as riquezas locais e promovem a união das pessoas em torno de um objetivo comum”.

A partir de 1972, vários governos incentivaram a formação de cooperativas, inclusive com desoneração de impostos por se tratar de uma questão social, evitando a ação dos atravessadores. Essa forma de associação teve origem na Inglaterra, há 130 anos, portanto, é algo novo em muitos países. “Ajudamos a criação de cooperativas com estatutos, contemplando produtos fl orestais e de origem animal, que agreguem valores aos itens tradicionais. Por exemplo, um quilo de tucunaré, em Tucuruí, custa de R$ 6,00 a R$ 12,00, dependendo da entressafra. Se o produtor transformá-lo em fi lé, lingüiça, salames e outros subprodutos, os lucros au-mentarão signifi cativamente. Para tanto, basta ter uma tábua de corte, facas e recipientes. Pescando com racionalidade e respeitando os períodos da piracema, quando os peixes se reproduzem, todos sempre terão o que pescar”.

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Peixes de criação - O nosso barco virtual também navega pelos lagos das hidrelétricas, aqueles contidos por grandes barragens de onde sai a energia elétrica que abastece a economia do País. A Eletronorte está fazendo estudos am-bientais para a implantação de parques aqüícolas no lago de Tucuruí, por solicitação da Secretaria de Aqüicultura e Pesca, da Presidência da República. O objetivo é a produ-ção de peixes em gaiolas, em larga escala. Esse trabalho conta também com a parceria do Ibama, da Sectam, o órgão estadual de meio ambiente do Pará, e outros órgãos e instituições, para atender a toda a legislação e exigências ambientais.

“A proposta é utilizar 0,25 % do lago de Tucuruí para produzir cerca de nove mil toneladas de pescado por ano. O estudo, que será utilizado em outros reservatórios hidrelétri-cos, é direcionado às populações ribeirinhas. Estamos con-trolando os desembarques pesqueiros, que é quando a frota artesanal desembarca em Tucuruí e em outras cidades do entorno da hidrelétrica. Verifi camos que eles correspondem a seis ou sete mil toneladas por ano. Nos parques aqüícolas,

com áreas de 120 a 150 hectares, estarão desembarcando cerca de nove mil toneladas de peixes, provando que é possível utilizar os recursos hídricos de forma racional e sustentável, e contribuir com a redução da fome no Brasil e no mundo”.

Peixes que fi caram em Tucuruí - Lembra ainda Juras que as regiões Sul e Sudeste, em virtude do inverno rigoroso, produzem uma safra que dura entre seis a oito me-ses de pesca. Já na região dos trópicos, a produção é contínua o ano todo, com duas

safras. “Na margem esquerda de Tucuruí, perto de Jacundá e Novo Repartimento, fi caram árvores submersas. Nelas, os peixes encontram abrigo. Lá fi cam protegidos das redes dos pescadores e dos peixes predadores maiores. Se a madeira continuar ali pelos próximos 100 anos, decompondo-se lentamente, muitas espécies serão preservadas. É uma área de esconderijo, alimentação e reprodução. As ovas dos peixes podem fi car incrustadas nos troncos das árvores a até quarenta metros de profundidade”.

Hoje, constata-se que as espécies existentes há 25 anos a montante da hidrelétrica acomodaram-se ao ambiente lêntico (local com água parada e limpa): o tucunaré, a pescada e vários tipos de piranhas proliferaram-se. Já no ambiente de água corrente, a jusante da barragem, ocorrem vários tipos de bagres. “Hoje há menos espécies, mas em contrapartida temos no lago muitos indivíduos por espécie. A biomassa, o volume e o peso dos peixes que são desem-barcados no lago alcançam cerca de seis mil toneladas por ano. Antes da formação do lago, esse peso não chegava a seiscentas toneladas. Constatamos que as espécies não existentes no ambiente acima de Marabá migraram para outras áreas do Rio Tocantins e retornam ao lago para se alimentar e reproduzir, e depois sobem novamente o rio.

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Em suma, todas as espécies que existiam antes da formação do reservatório da hi-drelétrica ainda estão lá. Apenas algumas não podem ser comercializadas. Abaixo da barragem, o jaraqui e o mapará tiveram seus estoques reduzidos, mas ainda existem em boa quantidade”, afi rma Juras.

Peixes que controlam epidemias - Na Amazônia existem muitos ambientes propí-cios à sobrevivência dos peixes. Qualquer um a bordo de nossa canoa virtual pode pressentir em tantas águas profundas e margens quilométricas que ainda há muitas espécies a serem descobertas. Na literatura constam em torno de dois mil tipos de pei-xes. Alguns se alimentam dos nutrientes ou de outros elementos existentes apenas em determinados lugares que, se destruídos, os danos serão incalculáveis, pois pode-mos perder a chance de obter os princípios físico-químicos para a cura de muitas do-enças, entre outras utilidades. De acordo com Juras, há peixes que se alimentam de larvas de mosquitos, e com isto controlam males como a dengue e a malária. “O mais importante desses estudos é conhecer a função dos peixes na natureza. O governo brasileiro tem feito investimentos, por intermédio de vários órgãos da Amazônia, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa, em Manaus, e o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. A Eletronorte, em conjunto com essas e outras instituições, também tem realizado pesados investimentos em pesquisas. Catalogamos cinqüenta novas espécies, principalmente na família das piranhas. Há ainda outras sem valor econômico, mas com enorme importância ecológica”.

Peixes que se disfarçam - Há uma teoria sobre as espécies endêmicas, aquelas que ocorrem em um só local. Dizem os cientistas que na era geológica pleistoceno, há cerca de 150 milhões de anos, parte da região do Amazonas, Roraima e a área de Belém fi cavam submersas no mar. Havia lá ilhotas que hoje são morros. Nas lagoas em volta desses morros, desenvolveram espécies de características únicas. Com o abaixamento do nível dos mares, essas áreas fi caram isola-das, formando os chamados hot spots (pontos quentes). As colorações originais dos peixes, aves, lagartas e borboletas vêm dos próprios pigmentos desenvolvidos para protegerem-se. Por exemplo, o tucunaré tem na cauda um formato de olho que confunde seus predadores; outros apresentam co-lorações ilusórias dando a impressão de que são maiores. E o predador foge. Essa capacidade genética de mesclarem-se ao ambiente chama-se mimetismo. Os peixes que adornam os aquários têm essa riqueza de nuances, que mudam a cada estação do ano. De acordo com Juras, “geralmente são peixes pequenos que entram nos espaços entre rochas e lá se alimentam, ao mesmo tempo em que fogem dos seus

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predadores. Os peixes coloridos quando morrem perdem a cor. Já o tuvira-sarapó tem seu alimento entre as pedras e por isso desenvolveu um bico longo. Se destruirmos o pedral, a sua casa, perderemos espécies como estas, que levaram vinte mil anos para se formar, e todas têm sua utilidade”.

E a barca segue. Agora, passamos pelos estuários e vamos em direção ao alto-mar, posto frente aos portões das entradas amazô-nicas. Encontramos o mais magnífi co de todos os farsantes: o tubarão. Seu valor comercial é inestimável: barbatanas, tecidos, órgãos e pele mostram-se úteis a novas aplicações com o avanço da tecnologia. Esse dissimu-

lador visto de baixo para cima mostra-se de barriga branca, um recurso que ele usa para se confundir com o próprio céu, já os que o observam de cima para baixo pensam que o seu dorso é escuro. “Assim ele se confunde com o escuro do fundo do mar. O tubarão é um peixe totalmente adaptável ao seu ambiente. Ele é um caçador que não provoca desequilibro na natureza” - acrescenta Juras.

Peixes da Amazônia Azul - Mas a região amazônica não termina quando acabam as suas terras, ela muda de cor e entra pelo Atlântico. E que o nosso canoeiro tenha braços, pois o Brasil possui mais águas para serem navegadas. É que após vinte anos de pesquisas e negociações internacio-nais, o País obteve da Comissão de Limites da Plataforma Continental, da ONU, a autorização para explorar economi-camente mais 950 mil km² de mar além dos 3,5 milhões de km² que já tem direito. A menos que haja contra-ordens, a Plataforma Continental Jurídica Brasileira terá 4,5 milhões km². A nova área estende-se ao longo da costa, a partir do limite das duzentas milhas até os limites exteriores da margem continental, nas regiões em que as características do prolongamento do território nacional se enquadram nas disposições da Convenção Nacional das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Essa nova área está sendo chamada de Amazônia Azul, e guarda recursos minerais e pesqueiros expressivos. Nesse novo contexto, os peixes marinhos, como a gurijuba, a pescada amarela, o tubarão, ricas fontes de cálcio e com outras aplicações no vestuário, alimentos e medicina, ganham maior importância, dando mais fôlego ao comércio exterior brasileiro.

Peixes especiais e espaciais - Segundo Juras, a produção pesqueira brasileira já ultrapassou um milhão de toneladas por ano. Em 2005, a Região Norte produziu 135.596,5 toneladas de pescado. Detém a maior produção da pesca extrativa continental do Brasil. Os estados do Pará e Ama-zonas são os maiores produtores. A produção da pescada-amarela, com 21 mil toneladas e a gurijuba, com oito mil toneladas, se prestam a uma gama tão vasta de aplicações que seus quilos de carne saborosa e de bom valor econômico praticamente fi cam em segundo plano.

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“Elas são capturadas com os apetrechos artesanais: espinhel e rede de emalhar, prin-cipalmente no município de Vigia de Nazaré, no Pará, e no Amapá, o maior produtor dessas espécies. São peixes que formam cardumes numerosos em alto-mar. Os pescadores comer-cializam também a bexiga natatória, conhecida como “grude”, mais valiosa do que o próprio peixe. Ele é industrializado para a obtenção de gelatinas de alta qualidade. É utilizado na in-dústria de bebidas, principalmente de cerveja e vinho, como agente clarifi cante, pois atua no seqüestro das partículas em suspensão. Tem fi nalidade também na indústria como espes-sante, emulsifi cante, dispersante, gelifi cante e adesivo base. Novas aplicações estão sendo investigadas, porém a mais importante delas talvez seja o uso deste órgão para a fabricação de fi os cirúrgicos biodegradáveis, que evitam nova operação para a retirada dos pontos, em muitas intervenções complexas”.

Juras lembra a pesquisa Caracterização do Processamento e Cadeia de Comercialização do Grude da Pescada Amarela e Gurijuba, de autoria de Andréia da Silva Lisboa, onde a professora comenta que, em Vigia, por ser uma região que sofre a infl uência de água doce, a pro-dução do município também abrange as espécies típicas de água doce e salobra como a piramutaba, dourada, os bagres (gurijuba, cangatá, cambéua, uritinga, uricica, ban-deirado) que representam parte importante da produção vigiense. “As pescarias são realizadas desde a foz do Rio Pará, estendendo-se à costa marítima da Ilha do Marajó, à foz do Amazonas e à costa do Amapá até o Cabo Orange. Após a chegada das embarcações em terra fi rme, o pes-cado é desembarcado às margens do Rio Açaí, no bairro do Arapiranga, no trapiche municipal e em vários outros pontos da orla. Ao desembarcar, a produção está quase toda comprometida com os comerciantes de peixes, inter-mediários e caminhoneiros, em função de compromissos anteriores existentes entre estes e os donos das embarca-ções. A bexiga natatória é comercializada nas formas seca e molhada. A forma molhada refere-se ao grude in natura e o grude seco refere-se àquele que sofre o processo de secagem ao sol ou estufa”.

Há ainda outras espécies amazônicas que vão além das especiais: são espaciais. Com o avanço da tecnologia ae-roespacial, novas e antigas substâncias têm sido utilizadas nos vôos fora da órbita da Terra. Quando fora da gravidade ou em situações extremas de temperaturas, certas substân-cias agem para preservar o calor ou o frio. Muitos espécimes amazônicos se mostram altamente resistentes nesses casos. Os nossos peixes exportados estão sendo pesquisados em vários laboratórios do mundo para muitas aplicações em tecnologia avançada. Mas esse é um assunto para outras viagens, com muitos outros “canoeiros”.

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Peixes que são deliciosos - E falando em peixes sempre bate uma fome danada. Atraquemos nossa canoa virtual às margens do Rio Negro. O tucunaré, também nomeado Furi-ba, peixe-da-moeda e peixe-zebu, é uma boa pedida, e até indicado como revigorante após longas viagens. Poderíamos indicar também o pacu-manteiga, um peixe muito apreciado no Médio Tocantins, especialmente no Rio Araguaia, que por ser onívoro, consome folhas, frutos, sementes e invertebrados, nos lagos e margens dos rios, sendo muito gostoso e saudável. Mas vamos ao tucunaré, pois tem 100% de aprovação.

Até bem pouco tempo pagava-se caro para saborear a Caldeirada de Tucunaré. Após a formação do lago da Hi-drelétrica Balbina, na cercania de Manaus, Amazonas, este peixe proliferou, mas não deixou de ser especial pelo sabor único. Mas deixemos de conversa e vamos mandar a receita, pois tá todo mundo, ou o mundo inteiro, com fome.

A receita é simples, originada das margens do Rio Ua-tumã, e ditada por D. Patrícia, do Restaurante Itaporanga, da cidade de Presidente Figueiredo. Enquanto bebemos uma cerveja geladinha aí vai uma porção para três pessoas se farta-rem. Pegue meio qui-lo de tomate, cebolas, cheiro-verde, pimenta-de-cheiro (cuidado se for usá-la no tucupi). Quatro peixes de tama-nho médio cortados em no máximo três postas cada. Tempere com sal e limão e bote na espera. Numa panela grande, coloque óleo o sufi ciente para refogar todos os temperos jun-tos. Em outra panela menor coloque para cozinhar quatro ovos e uma porção de batatas inteiras ou cortadas ao meio. É importante lavar bem o ovos e as batatas, pois é com a água da fervura deles que se faz o restante do prato, aproveitando as proteínas. Quando o refogado estiver no ponto, engrosse com uma ou duas colheres de extrato de tomate, e junte a água. No caldo coloque os peixes e deixe ferver. Acrescente, então, depois de cozido o peixe - o que demora muito pouco - as batatas e os ovos. Com um pouco do caldo faça um pirão, acrescentando farinha de mandioca branca e mexendo sem parar. Serve-se de duas maneiras: tudo numa sopeira de alumínio ou panela de barro, com concha, escumadeira e colher grande; ou separado: o peixe numa travessa e o caldo na sopeira. Acompanha arroz branco ou baião-de-dois, farofa ou farinha, o pirão e para quem gosta, pimenta murupi picada no prato. Delicie-se.

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(...) O nome sugere exatamente a con-tinuidade nesta tarefa de informar e ser informado, básica para que todos nós possamos conhecer problemas e acertos que a Empresa deve assumir. Por último, o nome sugere, também, uma solução, uma espécie de ovo de Colombo para a energia hidrelétrica na Amazônia e, portanto, para a Eletronorte (...) .

Assim o primeiro presidente da Eletro-norte, Raul Garcia Lhano apresentava a primeira edição de Corrente Contínua, um boletim com oito páginas, lançado em agosto de 1977. Os destaque eram os 15 anos da Eletrobrás; os trabalhos de “linha de frente” no Amapá; os serviços médicos; a Semana da Pátria e até “como se vestir simples no trabalho sem perder a elegância”.

De lá pra cá Corrente Contínua evoluiu gráfi ca e editorialmente passando de bole-tim a jornal e de jornal a revista, um longo caminho de trinta anos onde está registrada a história da Eletronorte e parte da história da Amazônia e do Brasil.

Em maio de 1978 ganhou uma coloração amarronzada e um formato que valorizava a então logomarca da Empresa. Coaracy Nunes e Tucuruí já dominavam o noticiá-rio, mas ainda tinha tempo para falar de segurança no trabalho e campeonatos de futebol da Associação dos Empregados da Eletronorte - Aseel.

Em maio de 1981, nova concepção gráfi ca e o logotipo do jornal mais próximo do que é hoje. Sob o título “Nova Imagem”, o editorial de capa dizia: “A transformação foi bastante radical, tanto na forma quanto no conteúdo. Basicamente seguimos a fi losofi a aplicada na via do País hoje: ‘produzir mais e poupar’, isto é, com o mesmo espaço, estaremos ofe-recendo um volume muito maior de informa-ções - e essa maior produtividade equivale a uma poupança”. As colunas ganharam ícones próprios: Carta ao Leitor, Destaque, Para sua Informação, Fique Ligado, Gente e Linha de Frente.

Em janeiro de 1983, para comemorar os dez anos de criação da Eletronorte, Cor-rente Contínua ganha nova “cabeça” e sai todo na cor verde, com manchete para a posse do novo diretor-presidente, Douglas Souza Luz. E o editorial: “Nossa Empresa completa seus dez anos de existência. Muito trabalho, dedicação, esforços e até sacrifí-cios preenchem as páginas de sua história. Isso precisa ser comemorado. É tempo de alegrias, recordações, de festa. A primeira delas é a nova roupagem do Corrente Con-

ENER

GIA

Corrente Contínua, pedra fundamental da comunicação institucional da Eletronorte

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tínua: novo cabeçalho, nova cor, novo tipo de letra e a marca dos dez anos inserida em cada página”.

O cabeçalho mudaria novamente em janeiro de 1984, mas a cor verde ainda predominava. A capa destaca a breve inau-guração de Tucuruí (“Marquem em seus calendários: 22 de novembro de 1984. É a data de inauguração da nossa Usina, a Usina Hidrelétrica Tucuruí. Foi o João quem disse. E palavra de Presidente é palavra de Rei. Falou, tá falado”). Mas a concretagem de Samuel, os serviços de microfi lmagem e a segurança e medicina no trabalho também ganharam destaque.

Um ano depois, em janeiro de 1985, a cor verde desaparecia e as matérias fi cavam mais densas. O uso de fotografi as também ganhava corpo, bem como os depoimentos de pessoas infl uentes no Brasil da época. Tucuruí já expandia sua primeira casa de força e os olhos agora se voltavam para Balbina.

O verde só voltaria em setembro de 1988, mas somente no logotipo do jornal e como fundo de box. Tomava posse o novo diretor de Operação, Delcídio do Amaral, e as notícias já se voltavam mais para o Setor Elétrico e para a Usina de Manso, no Mato Grosso. No entanto, veja só, ainda se falava em automatização do setor de rádio e telex, ferramentas que foram ultrapassadas pela informática.

Em janeiro de 1990 é introduzida a cor azul, ofi cial da Eletronorte, no lugar do verde. Pelas manchetes é possível ter uma idéia da expansão das atividades da Empresa e de como ela já se posicionava como estratégica no Setor Elétrico brasileiro: “Eletronorte pro-põe equacionamento energético do Estado do Tocantins”; “Nacionalização de peças econo-miza US$ 5 milhões”; “Em Manaus, indústrias consomem mais de 33% de toda a geração”; “Os usos múltiplos da UHE Lajeado”; “Inter-

venções automáticas melhoram desempenho do sistema interligado”, e por aí vai.

Em junho de 1994 vem uma nova pro-posta de cabeçalho, mas a cor azul ainda permanece. O editorial destaca a criação do Comitê Superior de Planejamento da Eletronorte e uma chamada logo abaixo vem a apresentação do novo projeto gráfi co após três anos sem o jornal circular.

Mudança que durou apenas uma edição, porque no mês seguinte, julho de 1994, a proposta já era outra; e um mês depois a grande transformação com a introdução do uso de quatro cores na capa e contracapa, ou seja, fotografi as coloridas passaram a ilustrar o jornal. A energia de Samuel chega-va ao interior de Rondônia e a área de meio ambiente já trabalhava com equipamentos de última geração, como o sensoriamento remoto.

Novembro de 1994, nova mudança de logotipo e a manchete: “Tucuruí, a luz do futuro”, já adiantando as transformações advindas do Programa Eletronorte de Qua-lidade e Produtividade. Eventos e comemo-rações se juntavam ao crescimento do meio ambiente como assunto recorrente no jornal e na imprensa brasileira e mundial.

Uma pequena mudança aconteceu em junho de 1996. Enquanto isso a energia de Tucuruí chegava ao oeste do Pará e a privati-zação começava a rondar o Setor Elétrico.

Em fevereiro de 1997, outro pequeno ajuste no projeto gráfico encabeçava a manchete “Está nascendo o novo norte”, notícia sobre o novo credo empresarial da época. Grandes fotos coloridas ilustravam um momento de expansão nas atividades da Empresa: “Brasil e Venezuela fecham acor-do para fazer linha de transmissão até Boa Vista”; “População faz festa em Macapá e Porto Velho”; “Eletronorte garante o forneci-mento de mais 690 MW para o Mato Groso”; “Tramo-Oeste: energia elétrica de Tucuruí vai

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chegar ao interior do Estado”; “Amazonas, R$ 80 milhões solucionam problemas de energia nos próximos dois anos”.

Em outubro de 1997 o nosso “jornalzinho” se transforma em tablóide, papel especial e todo em cores, numa diagramação moderna e limpa. Dizia o editorial: “Ao propor mudan-ças para o Corrente Contínua, o Jornal da Ele-tronorte, estamos trabalhando para melhorar o processo de comunicação empresarial. Começamos ousando na diagramação e no papel, mas nos próximos números podere-mos implantar novas idéias até chegarmos a um produto que satisfaça ao máximo nossos públicos interno e externo”.

Mudanças que vieram rápido, em novembro de 1997, uma nova cabeça, extremamente moderna lembrando uma linha viva de trans-missão de energia ou fi bra óptica. Manchete encimando uma belíssima foto: “Do Mato Grosso ao Maranhão, mais energia para 3,5 milhões de pessoas”. Novas colunas foram in-troduzidas, como “Dando o que falar”; “Você conhece?” e “Curtas no circuito”.

Em janeiro de 2000 muda apenas o papel, mas a manchete é de um evento inesquecí-vel, os 15 anos da Usina Hidrelétrica Tucuruí: “Brasileira, com muito orgulho”; e logo abai-xo: “PQGF: Eletronorte conquista Faixa Prata pela segunda vez consecutiva”. Também sur-gem nesta edição os anúncios institucionais da Eletronorte. A metodologia TPM começa a se disseminar pela Empresa e o ‘bug’ do ano 2000 não passou de um blefe.

Veio então o maior salto de qualidade na história de Corrente Contínua. A edição 200, de setembro de 2001, já é uma revista. Uma belíssima foto da Volta Grande do Xingu e a manchete “Belo Monte, a esperança que vem do Xingu”. Edição histórica: novo logotipo, tamanho, papel, impressão, qualidade de textos e fotos. Diz o editorial: “Agora uma nova mudança o transforma numa revista, nova disposição gráfi ca e visual, edição de textos e fotos e colunas. E com a nobre função de estar atento à divulgação das ações empresariais, sejam sobre a atuação da Eletronorte na Ama-zônia, sejam para a melhoria da comunicação interna e da excelência da gestão”.

Em setembro de 2003 a revista passa a ser editada em papel especial e insere novos artifícios de diagramação, mantendo a ampla cobertura às ações da Empresa em suas diversas frentes de trabalho e publicando os anúncios institucionais. Diz o editorial: “Seu novo visual, com impressão em papel

reciclado e moderna diagramação, remete a um tom despojado, sem, no entanto, dei-xar de transparecer o capricho de todos os profi ssionais envolvidos na elaboração de cada edição da revista”.

Após dois anos sem circular, Corrente Contínua volta em maio de 2007, mais uma vez de cara nova. Novo projeto gráfi co, novo tamanho, novo papel, nova linha editorial, novas colunas. E nesta edição de agosto de 2007 surge um novo logotipo, integrado ao espaço da primeira página.

É assim, se adaptando aos momentos de cada época, acompanhando a evolução gráfi -ca e editorial do momento e, principalmente, sendo a voz da Eletronorte junto à sociedade brasileira que, sem dúvida, Corrente Contínua se transformou na peça fundamental da comunicação institucional da Empresa.

Em tempo: somos tricampeões do Prêmio Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial: Melhor Jornal Interno da Região Centro-Oeste/Leste, em 1998 e 2001, e Melhor Revista Interna da Região Centro-Oeste/Leste, em 2003.

Ao longo dos últimos 30 anos, Corrente Contínua tem documentado o dia-a-dia da Eletronorte. Retratado, de forma fi dedigna, os mais importantes acontecimentos que marcaram a vida da Empresa. O rico acervo contido nas edições de Corrente Contínua é excelente fonte de pesquisa sobre a memória da nossa história. Seria interessante que se criasse uma seção, veiculando matérias que marcaram o nosso passado. Tenho certeza que temos muitos bons momentos e situa-ções para recordar, o que também poderá interessar aos novos colaboradores .

(Francisco Antônio Almendra)- em 1986 e 2007

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Uma das características mais importantes do ser humano é a memória, é relembrar os atos que contribuíram para a construção de alguma coisa. Corrente Contínua vem, ao longo dos anos, registrando importantes mo-mentos da nossa história, acontecimentos marcantes da nossa Empresa, que têm con-tribuído de maneira exemplar para o cresci-mento do Brasil. Parabenizamos a todos os que a fazem ao logo de todos esses anos, e desejamos que se prolongue, sempre regis-trando os atos e as contribuições daqueles que integram a Eletronorte, cujas atitudes fazem a grandeza dessa Empresa .

(Carlos Nascimento) - em 1985 e 2007

Sem dúvida, integração é a palavra que mais identifi ca o resultado desses 30 anos de Corrente Contínua. Antes dela, não tí-nhamos isso que, para mim, é o signifi cado maior da revista .

(Mário Gardino) - em 1980 e 2007

A Corrente Contínua é a história da Ele-tronorte e a Empresa é parte integrante da minha vida. São 30 anos muito felizes, de realizações, de amizades, de compromis-so. Nós vivemos grandes emoções juntos, e todos construíram a Empresa, cada um contribuindo um pedacinho com a sua for-mação, a sua motivação. E toda essa vida está retratada em Corrente Contínua .

(Isolda Maciel de Almeida) - em 1978 e 2007

Para mim tem um grande valor. Como empregado da Eletronorte há muitos anos, vejo na Corrente Contínua um veículo muito importante para integrar colaboradores, tra-zer notícias sobre a Empresa e, a gente que trabalha aqui, muitas vezes se vê sendo no-tícia - e notícia boa. Faço questão de ser um dos primeiros a ler e sou um incentivador. O pessoal da Comunicação está de parabéns por ter mantido essa ferramenta esses anos todos e espero que continue sempre assim, trazendo um pouco da história da Empresa, o que é fundamental .

(José Henrique Machado Fernandes) - em 1980 e 2007

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Para nós a Corrente Contínua é o registro da memória da Eletronorte. Ao longo dos anos vem registrando fatos importantes da nossa história. Hoje, se alguém precisar fazer uma pesquisa sobre a trajetória da Empresa a revista é uma boa fonte de consulta .

(Tenysson de Matos Andrade)- em 1984 e 2007

Ingressei na Eletronorte em 1976 e minha primeira experiência gerencial foi em Mato Grosso, cuja sede era em Rondonópolis, interior do estado. Corrente Contínua era o veículo mais importante para nós, pois não tínhamos as facilidades tecnológicas de hoje. Era uma forma de nos comunicar com a Empresa e conhecer as melhores práticas que estavam sendo desenvolvidas nas demais áreas. Era uma expectativa muito grande quando a recebíamos. Como Rondonópolis era fi m de linha, muitos técnicos e dirigentes demoravam ir à cidade. Estamos falando de 1984 e Corrente Contínua passou a ter uma dimensão muito grande para todos nós da regional. Na época já era um veículo impor-tante, como está sendo até hoje .

(Zenon Pereira Leitão) - em 1985 e 2007

Corrente Contínua, no decorrer desses anos todos, vem registrando a vida, os atos e fatos da Empresa e de seus empregados. É muito importante. E espero que continuem, como estão até hoje, divulgando as notícias - tanto do Setor Elétrico como as demais pertinentes ao nosso trabalho .

(Maurício Massaroto) - em 1979 e 2007

É um grande veículo de comunicação in-terna e externa. Marca momentos da nossa história, que é cheia de fatos concretos e que a revista vem acompanhando de maneira crescente, com muita qualidade. Tenho mui-to apreço pela Corrente Contínua. Cada um de nós tem uma história dentro da Empresa e acho que a revista nos inclui na trajetória da Eletronorte .

(Rafael Teodoro Bolina) - em 1986 e 2007

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Sou fã de carteirinha da revista. Inclusive tenho a coleção completa ou, no máximo, faltando um ou dois exemplares. Hoje a gente aproveita ainda mais para conhecer a nossa Empresa, saber as informações das regionais, sobre o que estamos fazendo. Leio tudo, guar-do, coleciono mesmo. Hoje é comum olhar as páginas da revista e pensar: nossa, já estamos fazendo tudo isso!?! É maravilhoso! .

(Rosângela Carneiro) - em 1985 e 2007

É muito importante pra nossa integração. Desde quando trabalhava prestando serviços para a Eletronorte em Porto Velho, lembro que a gente ficava super motivado com as notícias. Cada edição nos aproximava e atualizava sobre o que estava acontecendo. Nesses 30 anos tivemos muitos progressos, avanços tecnológicos e a Comunicação está de parabéns. Hoje recebemos elogios de públicos externos e a revista consegue transmitir esse amor que a gente tem pela Eletronorte, pelo nosso trabalho por um ob-jetivo maior que é levar progresso para todas as regiões em que a empresa atua .

(Maria Da Ajuda Rego) - em 1987 e 2007

A revista é importante por tudo que pro-porciona à Empresa - desde a aproximação entre colaboradores e diferentes ações até a divulgação externa e o reconhecimento do trabalho e da história da Eletronorte. Muitas vezes atuamos em áreas específi cas e é muito bom fi car sabendo do que estamos fazendo nas páginas de Corrente Contínua. Fico emo-cionada de ver o que nós, empregados, esta-mos fazendo; de ver o progresso e a evolução da Empresa, ajudando no desenvolvimento do País. E até pessoalmente - meu cresci-mento profi ssional, minha evolução como ser humano - vejo isso refl etido na revista. Essa evolução da Eletronorte, da qual sou testemunha desde a década de 70, só me traz orgulho de poder participar de uma Empresa como a nossa .

(Rosa Maria Telesde Almeida) - em 1979 e 2007

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Bruna Maria Netto

Conhecimento. Além de servir para esco-ar a produção de energia elétrica da fonte geradora até os consumidores fi nais, uma linha de transmissão é capaz de deixar uma criança do interior do Maranhão apta a sepa-rar o lixo orgânico do reciclável e a cuidar da saúde bucal corretamente. Em Porto Velho (RO), por exemplo, profi ssionais habilitados das Faculdades Integradas Maria Coelho de Aguiar executaram uma campanha de saúde bucal para 18.585 alunos de 45 es-colas, demonstrando a maneira correta de escovação e higiene dental. As atividades de educação ambiental são ações obrigatórias que a Eletronorte cumpre na implantação de todos os seus empreendimentos de trans-missão de energia elétrica, que suportam o licenciamento das obras.

Essas atividades são desenvolvidas por equipes multidisciplinares, abrangendo os diferentes grupos sociais que vivem nas proximidades do empreendimento em ins-talação. Além de atender a uma exigência, procuram preparar as comunidades para uma convivência segura com os novos equipamentos que serão instalados. É dada atenção especial às crianças, por causa do risco a que podem se expor ao tentarem escalar uma torre de transmissão, por exemplo. Aos agricultores, a atenção é dirigida para as restrições do uso das faixas de servidão das linhas de transmissão, cui-dados necessários com o aterramento das cercas das propriedades e com o trânsito de equipamentos que possam se aproximar dos cabos das linhas.

Dependendo da característica da popu-lação, as atividades podem incluir noções de cuidado com o meio ambiente, com a saúde pública, com higiene pessoal, entre outros e, para isso, utilizam-se palestras, vídeos e materiais ilustrativos.

Assim tem sido em toda a Região Norte, mais recentemente nos estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amapá e Ma-

ranhão. Lá, estudantes e professores de escolas públicas do interior têm se tornado coordenadores de projetos próprios de preservação ambiental, após receberem as informações da Eletronorte.

Conscientização - Quando uma linha de transmissão é implementada, o trabalho não é apenas fazer chegar energia em determi-

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O Educação ambiental e arqueologia:quando uma linha de transmissão fornece mais do que energia

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nado local, mas também conscientizar a população dos benefícios trazidos por ela. É por meio desta conscientização que mora-dores de pequenos municípios vêm apren-dendo a conviver harmoniosamente com a natureza. Coelho Neto (MA), Jangada (MT), Guajará-Mirim (RO), Epitaciolândia (AC), Vila do Paredão (AP) entre outras, são algumas das cidades assistidas pelo programa da

Eletronorte que experimentaram mudanças signifi cativas no seu modo de vida.

Além dos mais de 53 mil alunos de escolas municipais que já participaram do programa, outros segmentos da so-ciedade também se sentem prestigiados. “O que temos recebido é, na verdade, uma importante lição de cidadania e res-ponsabilidade social”, diz, com um largo

Trajeto da linha desviado para preservar

o geoglifo

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sorriso, Otacílio Martins Cardoso (foto abaixo), ao falar da ajuda que recebeu na entidade que preside, a Cooperativa de Produção de Recicláveis do Tocantins - Cooperan. Criada em maio de 2004, ela conta atualmente com 64 cooperados. Otacílio destaca a importância do apoio que vem recebendo da Eletronorte. “Além da doação dos materiais, a Empresa tam-bém colabora com o transporte, fazendo a entrega diretamente aqui em nossa Sede. E isso faz toda a diferença para nós”, enfatiza.

Entre os vários profi ssionais que traba-lham no programa da Eletronorte está o analista de meio ambiente Sérgio Augusto de Souza. Segundo ele, a escolha do pú-blico-alvo não é aleatória. “Escolhemos professores e seus alunos por serem os mais atingidos pelo programa de conscien-tização, pois são considerados estratégicos

para a disseminação das idéias que permi-tirão fundamentar o desenvolvimento em moldes sustentáveis, baseado no respeito aos princípios ambientais, além de serem também os que correm mais riscos de se acidentarem por conta da instalação dos novos equipamentos”.

São temas que antes da chegada da linha de transmissão difi cilmente essas pessoas teriam contato, como técnicas de reciclagem e separação de lixo, noções básicas de saúde, saúde bucal, prevenções a doenças como dengue, hanseníase, febre amarela, DSTs, gravidez precoce e depen-dência química. São momentos onde se aviva outra palavra esquecida nos rincões mais carentes do Brasil, a esperança. “Por essa razão optamos por acrescentar uma abordagem social e humana em relação ao público-alvo. Não é por outro motivo que es-colhemos como forma de motivar os alunos das escolas visitadas a doação de mochilas, camisetas, estojos escolares, cadernos e garrafas para água, ou seja, pequenas coisas que contribuem minimamente para a melhoria das condições de vida daquelas populações”, lembra Sérgio.

Futuro sustentável - Em 34 anos, a Eletro-norte tem se comprometido em construir, também, uma sensibilidade ambiental em seus profi ssionais e na sociedade presente no entorno de seus empreendimentos. No

primeiro princípio da Políti-ca Ambiental da Empresa, Do Respeito à Natureza, a Eletronorte explicita o entendimento de que a interação com o ambiente no momento presente, con-diciona parte das opções no futuro e estabelece assim uma orientação para que suas ações priorizem a pre-servação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais.

Em Rondônia, por exem-plo, para atender à deman-da dos serviços de recupe-ração de áreas degradadas pela construção de um sistema de transmissão, foi construído um viveiro com cerca de trinta mil mudas de plantas típicas da Ama-Escolas simples, futuro complexo

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zônia, como urucum, biriba e cupuaçu. É uma das formas que a Eletronorte acredita ser possível promover a sensibilização, mobilização, conscientização e capacitação dos diversos segmentos da sociedade para a preservação da natureza visando à sus-tentabilidade das gerações futuras.

Segundo Sérgio Augusto, “o propósito é contribuir com soluções ou propostas de minimizações dos problemas ambientais, para a construção de um futuro político, econômico, social e ambientalmente sus-tentável, não importando quão pequeno seja o tamanho da cidade”. Algumas das comunidades benefi ciadas sequer formam municípios e seus moradores, por vezes, moram bem perto da beira da estrada. As rodovias BR-364 - ligando Porto Velho a Rio Branco - e a BR- 425, que liga Abunã a Guajará-Mirim, são duas delas.

As comunidades indígenas não foram esquecidas, e também se benefi ciaram dos programas de conscientização elaborados pela Eletronorte. O convênio celebrado com a Funai em Guajará-Mirim, cidade a 320 quilômetros de Porto Velho, por exemplo, levou aulas de educação ambiental para 340 índios das comunidades dos Pacaás Novos nas aldeias de Lage e Ribeirão.

Vestígios do passado - Mas na cons-trução de uma linha de transmissão não é só a educação ambiental que ocupa lugar estratégico no relacionamento da Eletronorte com as comunidades. Outra ciência ganha importância nos estudos ambientais, a arqueologia. Assim como na construção de usinas hidrelétricas, estudos arqueológicos são desenvolvidos ao longo das áreas onde serão implementados os empreendimentos.

Apoiados pelo trabalho de geólogos, topógrafos e engenheiros, os arqueólogos têm encontrado verdadeiros tesouros da

humanidade na Amazônia brasileira. En-frentando as mais diversas difi culdades, desde a temida malária até as condições climáticas adversas, arqueólogos como Eu-rico Theófi lo Miller, (foto abaixo, à esquer-da) há 18 anos na Eletronorte, procuraram entender o modo de vida das comunidades antigas. “O valioso é reconstituir a cultu-ra, e não os objetos encontrados, pois eles são apenas o meio. O fi m é a reconstituição da cultura”. E a busca dessa identidade cultural rende al-gumas descober-tas surpreendentes: nos trabalhos de campo para cons-trução da Usina Hi-drelétrica Balbina (AM), por exem-plo, foi descoberta uma comunidade que, com a terra ácida de um solo pobre, sobreviveu milhares de anos se alimentando de moluscos. Em Bal-bina também foi lo-calizado o raríssimo muiraquitã.

Na construção da Interligação Nor-te-Sul, nos 520 km sob a responsabili-dade da Eletronorte, Miller e sua equipe encontraram por volta de 480 indí-cios arqueológicos - “isso somente olhando na faixa de servidão, sem desviar o olhar para os lados”, relembra Miller, que já contraiu malária 32 vezes em 14 anos de expedições. Eles também descobriram, na construção da Hidrelétrica Samuel (RO), uma comunidade pré-cera-mista milenar que já praticava a agricultura, contrariando os paradigmas da arqueologia européia da época.

Peças arqueológicas

encontradas na Amazônia

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Miller descreve em poucas linhas a grandeza de detalhes do seu trabalho: “É escrever uma enciclopédia em cima de um caco de cerâmica que está no solo, de tanto dado que aparece”. No entanto, lembra que uma pesquisa não é feita por uma pessoa apenas: “O arqueólogo tem de ser mais onisciente que Deus. Se não puder, tem que levar sua equipe” brinca.

Geoglifos - Em se tratando de arqueologia, a natureza também é sábia em apresentar novas descobertas. Na construção da linha de transmissão entre Rio Branco e Epita-ciolândia, no Acre, a Eletronorte se deparou com uma dessas maravilhas envolvendo o homem e a natureza: os geoglifos. Os técnicos explicam de maneira simples: se você estiver caminhando por uma pastagem e entrar numa grande vala, veja por onde ela segue. Se for muito regular, isso vai chamar a atenção. Uma vala tão regular foi feita por alguém, pois a natureza não deve ter feito tão certinha, redonda ou com ângulos tão retos.

Essas formas geométricas, chamadas geoglifos, bem como demais sinais ar-queológicos encontrados nos solos, são estudados e preservados cuidadosamente, como se cada pedacinho de cerâmica ou carvão encontrado fosse único no mun-do. Mas como um geoglifo aparece? No Brasil existem há pelo menos seiscentos anos, como estruturas de terra formadas pelas escavações de sulcos de grandes dimensões que podem ter diversas formas. No deserto de Nazca, no Peru, foram en-contrados geoglifos em forma de animais, datados de mais de dois mil anos. Os do Brasil, encontrados no Acre, caracteri-zam-se por serem valas de dois metros de profundidade e dez de largura, construídas por índios com as mãos, por meio de va-sos de cerâmica ou com machadinhas de pedra. O resultado são fi guras geométricas fascinantes, que aparecem em conjuntos ou isoladamente, em forma de círculos, quadrados ou octógonos.

Os geoglifos brasileiros ainda são uma incógnita para os pesquisadores, pois eles só começaram a ser descobertos nos anos setenta do século passado, em con-seqüência do aumento da devastação da fl ora acreana. E apesar de sua importância para a humanidade, ainda não se sabe ao certo como nem por que essas fi guras construídas por índios antes da chegada de

A linha de transmissão que dá frutosTiago Araújo da Silva é um menino que tem uma vida

que muitos de nós tivemos, ou que gostaríamos de ter tido. Numa manhã de sol de sábado ele, juntamente com os amiguinhos da comunidade, vai à nascente chamada “Olho d’Água”, que dá nome ao povoado situado na zona rural vizinha do município de Coelho Neto, no Maranhão. Ele chega no lugar que, por pura obra divina, chora sem parar e sobrevive bravamente em meio a um canavial a perder de vista, e com isso abastece todo o povoado e entorno, desembocando no Rio Parnaíba. Lá, Tiago mata sua sede numa água deliciosamente refrescante, para depois nadar na água limpa e gelada que teima em contrastar com o calor do sol que não hesita em sair dali. No entanto, essa realidade poderia também não ser a dele. Mas graças aos programas de conscientização ambiental, a água que mata a sede de Tiago continua pura e fresca, e ele, agradecido, também faz sua parte. Aluno da 6ª série, ele sabe da importância da preser-vação do meio ambiente. “É preciso que as pessoas se sensibilizem e não destruam as nascentes de água, porque um dia elas podem secar e aí acabar e nós mor-reremos também junto com elas”, diz o garoto, enquanto conversa agachado à beira da fonte e, entre um pausa e outra, bebe um pouco de água: “Aqui é que a gente vem buscar água, onde matamos a nossa sede”.

Quem também se preocupa com a preservação da nascente é Francisca de Moraes. Naquele mesmo sá-bado ela seguia para o banho da tarde juntamente com seus fi lhos, e falava sobre o que nós já sabíamos: caso não preservássemos o meio ambiente, esses riachos em pouco tempo acabariam. “Nós temos que nos juntar com a comunidade, discutir sobre isso. Há 34 anos, que é a minha idade - e eu não sou tão velha assim - sorri - esse rio era bem mais afl uente e mais fundo. Em outros lugares ele já está seco, pois desmataram toda a sua margem”, desabafa.

O programa de educação ambiental da Eletronorte tem ajudado a manter a água que Tiago e Francisca tanto

Cabral eram usadas. “Talvez para rituais religiosos, usos residenciais, cerimoniais e defensivos, podendo ser uma combinação de duas ou de todas essas hipóteses”, diz Solange Bezerra Caldarelli, doutora em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo - USP, especializada em pré-história e em Arqueologia. Ela é diretora da consultoria científi ca Scientia, contratada

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pela Eletronorte para fazer um projeto de arqueologia preventiva dos sítios arqueoló-gicos encontrados durante a expansão do sistema elétrico Acre-Rondônia.

Os geoglifos acreanos surgiram nos estu-dos da Eletronorte em 2005, quando foram iniciadas as pesquisas do solo para a insta-lação da linha de transmissão de Rio Branco a Epitaciolândia, cidade de 12 mil habitantes

situada no sudeste do estado e fronteiriça com a Bolívia. Em seu trajeto, os engenheiros da equipe encontraram dois dos seis geoglifos que estavam pelas redondezas da linha, no município de Xapuri. Esses dois sítios, pelos quais passaria a linha de transmissão, tinham formas distintas. Um deles octogonal - com 328 metros de diâmetro -, e outro no formato circular - com 260 metros de diâmetro.

valorizam. Implantado juntamente com a construção da linha de transmissão em 230 kV no trecho Periotó/Tere-sina/Coelho Neto, o projeto começou em 2006, e ainda hoje colhe os frutos das palestras de sensibilização am-biental. Quem bem sabe disso é Wakilla Torreão Oliveira Costa. Quatorze anos de idade e cabeça de gente grande, Wakilla já sabe o que lhe espera daqui por diante. “Na palestra, as imagens mostravam que se as pessoas não cuidarem do meio ambiente, nós poderemos até fi car sem água no futuro. O alerta nos despertou e agora sabemos cuidar melhor da natureza que nos cerca”.

Com isso, alguns projetos ganharam impulso. A pro-fessora Ângela Maria Oliveira Saraiva, coordenadora de uma frente de combate à poluição, também comemora. “A palestra era tudo o que nós estávamos precisando, porque convivíamos passivamente com a degradação do meio ambiente, mas não percebíamos. Depois da palestra nós despertamos, tanto que criamos na escola o Projeto Meio Ambiente e Sobrevivência no Olho d’Água Grande. Na outra escola onde eu trabalho também desenvolvemos outro trabalho sobre tratamento do lixo”, conclui.

O que Wakilla aprendeu e quer repassar serve muito bem para ele, no interior do Maranhão, como para qualquer um de nós. “O recado que eu deixo para os jovens é que eles tenham consciência de preservar o meio ambiente, que lutem e preservem mais porque um dia isso acaba e a gente vai sofrer muito com as conseqüências”.

(Colaborou Arthur Quirino)

A turma de Tiago e Wakilla, e D. Francisca: garantindo a água de beber

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Trajeto desviado - Ao fazer um estudo para instalação de uma linha de transmissão gera-se um traçado dito de escritório, que como já diz o nome, é desenhada ainda sem conhecer os obstáculos que sua instalação enfrentará, fazendo um percurso mais reto possível e com menos vértices, devido ao alto custo de instalação das torres que sustentarão os cabos elétricos. Uma vez defi nidas as posi-ções das torres pelo traçado de escritório, os arqueólogos entram em campo para avaliar o lugar, identifi car os sítios, dimensioná-los e saber se a interferência da torre será signifi ca-tiva, e, assim, avaliar se deve deslocá-la.

Assim foi feito nos 211 quilômetros que ligam Rio Branco a Epitaciolândia, onde foram identifi cados os geoglifos que de-veriam ser mantidos intactos. Esse estudo ajudou tanto a preservar os geoglifos já encontrados, quanto a manter os novos, alvos de pessoas sem conhecimento da

raridade que as cercam. Os sítios devem permanecer o mais intactos possível para os próximos arqueólogos e estudiosos, que provavelmente os verão com outros olhos e farão novas descobertas.

A importância da preservação desses sítios é justamente por conta da falta de conhecimento sobre mais esse tesouro dei-xado pelos povos indígenas. A ação direta do homem, seja nas estradas alternativas abertas por fazendeiros que desconhecem a valiosa arqueologia encontrada em suas terras, seja por rodovias estaduais e fede-rais - a BR-317, por exemplo, cortou um dos geoglifos - pode prejudicar bastante a conservação da história. Apesar do aumen-to do número de torres e do uso maior das variantes nas linhas de transmissão, em função dos desvios causados pelos sítios ar-queológicos, o investimento feito é um pre-sente para a humanidade. Solange faz coro com os profi ssionais da Eletronorte. “Há preocupação em preservar todos os bens de importância arqueológica do Brasil; não apenas os geoglifos. Eles têm sido objeto de preocupação especial exatamente porque não foram ainda estudados e, portanto, não há conhecimento científi co produzido sobre eles que permita sua incorporação à memória nacional”, alerta.

Do alto, a perfeição

geométrica. Embaixo,

os vestígios arqueológicos

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Michele Silveira

Acredite: a expressão “prevenir é melhor do que remediar” não está apenas na boca do povo. O ditado é usado também nos meios científi cos; em todas as entrevistas sobre se-gurança de barragens, a expressão é ponto comum. Na literatura, já foi citada por Mellios e Cardia (1992) em “Critérios de Segurança Operacional: manutenção preventiva”, publi-cado na Revista Brasileira de Engenharia. E não é para menos. Para o engenheiro Rogério de Abreu Menescal, mestre em Geotecnia e referência sobre o assunto, a identifi cação das chamadas incertezas e a avaliação de risco nas diferentes fases da vida de uma barragem, permitem que se possa elaborar uma estratégia com medidas preventivas para minimizar ou até mesmo eliminar as ameaças.

O fato é que nem sempre a prevenção é notícia. Mas as conseqüências de falhas nos sistemas de segurança de uma barragem, qualquer que seja o seu uso, sim. Embora o Brasil mantenha uma posição de referência na metodologia da construção de barragens, cabe salientar que casos como o rompimento da barragem de contenção de rejeitos no município mineiro de Cataguazes, em 2003, causam sérias implicações ambientais e alertam para a necessidade permanente de prevenção e monitoramento. Foram derrama-dos 1,4 milhão de metros cúbicos de efl uente industrial, composto de licor de madeira e soda cáustica, deixando sem abastecimento de água cerca de seiscentas mil pessoas em vários municípios da região, além do impacto ambiental. Já em 2004, o rompimento da bar-ragem Camará, na Paraíba, causou a morte de nove pessoas e destruição nas cidades de

Segurança de barragens, a engenharia da prevenção

Manutenções regulares nas turbinas previnem interferências indesejadas na barragem

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Alagoa Grande e Mulungu, a cerca de 140 quilômetros de João Pessoa. Mais de quatro mil pessoas fi caram desabrigadas. Em 2006, a ruptura da barragem da Rio Pomba Mine-ração, em Miraí, Minas Gerais, foi causada provavelmente pelo deslocamento das placas de revestimento de um dos vertedouros e causou a inundação de áreas ribeirinhas, interrupção no abastecimento de água, morte dos peixes e destruição de áreas de pastagem e de agricultura. Também em 2006, na bar-ragem da Usina Hidrelétrica Campos Novos, em Santa Catarina, houve um esvaziamento do reservatório, causado por problemas em um dos túneis de desvio. Mesmo com sinais de desgaste da estrutura devido à presença de uma rachadura horizontal na base da barragem, não houve ameaça de ruptura.

Hidrelétricas - Mas, felizmente o Setor

Elétrico não é a regra nas estatísticas de aci-dentes ou incidentes com barragens. E nem

mesmo chega perto das es-tatísticas da exceção. E aqui cabe explicar o registro de Menescal, citando o professor Vicente Vieira, da Universida-de Federal do Ceará: pode-se entender acidente como um evento de grande porte, cor-respondente à ruptura parcial ou total de obra ou a sua completa desfuncionalidade, com graves conseqüências econômicas e sociais. Já o incidente é um evento físico indesejável, de pequeno por-te, que prejudica a funciona-lidade ou a inteireza da obra, podendo vir a gerar eventuais acidentes, se não corrigido a tempo. Tanto um quanto o outro são objetos de minucio-

so interesse dos pesquisadores e gestores da área de segurança de barragens. E no Setor Elétrico essa preocupação tem produzido um know-how reconhecido internacionalmente. “As barragens hidrelétricas certamente estão muito à frente no que diz respeito à segurança, até porque têm recursos para manutenção e investem nesse processo. Infelizmente temos diversos outros casos de barragens que não recebem a manutenção adequada, muitas es-tão até mesmo abandonadas”, alerta Rogério Menescal. Estima-se que existam no Brasil mais de trezentas mil barragens de todos os tamanhos e tipos, sendo vinte mil de médio e grande porte, em sua grande maioria desco-nhecidas pelo Poder Público.

Na Eletronorte, diversas áreas atuam com o mesmo propósito: garantir a segurança da estrutura, dos sistemas operacionais, dos colaboradores e da vizinhança das usinas hidrelétricas. “Já tivemos, e é muito comum, acidentes de pescadores que chegam em áreas muito próximas da barragem, onde existe forte vibração, o que exige um processo de conscientização para que possamos atuar na prevenção”, explica o assistente da Supe-rintendência de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão, Ricardo Rios. Segundo ele, o monitoramento detalhado é constante e em tempo real. “É assim que po-demos nos antecipar. Se tem um lugar onde há um controle bastante desenvolvido é no Setor Elétrico, onde temos uma quantidade signifi cativa de procedimentos para garantir a integridade em todas as etapas”.

No campo e in loco a

qualidade da inspeção está nos mínimos

detalhes

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Com a experiência de quem faz a inspe-ção e instrumentação das usinas da Eletro-norte há mais de dez anos, o engenheiro Gilson Machado da Luz (foto abaixo) explica que a avaliação de segurança deve ser um esforço contínuo, que exige a realização simultânea e complementar de vistorias periódicas in situ e de análise pari passu dos dados da instrumentação, durante toda a vida útil da barragem. Em meio a fotos, dados, cronogramas e gráfi cos, Gilson não deixa de mostrar o orgulho do que faz: “A auscultação de uma barragem tem um elevado grau de responsabilidade devido às proporções que possíveis falhas ou aci-dentes possam assumir”.

E o que é auscultação? - De acordo com Gilson, é um conjunto de informações a respeito das inspeções visuais realizadas, combinadas com os resultados das medi-ções efetuadas nos instrumentos instalados nas estruturas de concreto e solos. Esse processo é fundamental para a segurança de uma barragem. As inspeções de campo e a instrumentação devem ser mutuamente complementares e os dados analisados de forma conjunta. Gilson explica que isso é necessário, pois um problema pode surgir em regiões não instrumentadas, onde ape-nas as inspeções de campo podem detectá-los. Um dos objetivos de instrumentar uma barragem é proporcionar um histórico do comportamento da estrutura. Isso permite a

prevenção, durante a sua vida útil, de qualquer evolução que possa, eventu-almente, compro-meter a segurança. Segundo ele, mui-tos dos acidentes com barragens que ocorreram no mun-do foram conseqü-ências diretas ou indiretas de falhas ou erros humanos. “Por isso é tão im-portante uma dedi-

cação acima do comum a cada detalhe das tarefas de todos que participam da implanta-ção e operação de barragens e reservatórios, desde a programação e planejamento até a inspeção e manutenção das estruturas de terra, rocha e concreto”.

Para Menescal, (foto ao lado) uma barragem segura apresenta um desempenho adequado no que diz respei-to aos aspectos estruturais, econômicos, ambientais e sociais. Os problemas mais freqüentes que ocorrem durante o período de explo-ração da barragem se devem principalmente à falta de um controle sistemático ou de uma manutenção cuidadosa da obra e a erros humanos na operação, que também podem causar acidentes ou levar a barragem à ruptura. “A experiência mundial mostra que os custos necessários à garantia da segurança de uma barragem são pequenos se comparados com aqueles que se seguem em caso de ruptura”, diz Menescal.

Novamente, prevenção é a palavra da vez. E é o que garante ao Setor Elé-trico brasileiro o posto de referência na construção de barragens no mundo in-teiro. “Estamos preparados e temos um comportamento muito sério em relação à segurança da Usina”. A frase é de José Walton Bechara, coordenador da equipe de inspeção na Usina Hidrelétrica Tucuruí; mas poderia ser qualquer outro técnico que acompanha, minuto a minuto, o comportamento da maior hidrelétrica brasileira. José Walton, o Waltinho, não esconde o orgulho ao falar dos elogios concedidos por especialistas à rotina de inspeção de Tucuruí. Em junho deste ano, a Fundação Coge promoveu na Usina um curso sobre segurança de barragens. O resultado foi uma equipe ainda mais pre-parada e orgulhosa de saber que está no caminho certo.

Abalos sísmicos - Gelson e Gentil são ir-mãos, fi lhos de Ana Alves da Silva, que mora em Belém, no Pará. Há seis meses Gentil assumiu sua vaga no concurso da Eletronorte e foi morar em Tucuruí. Em junho deste ano, o telefone toca e ele já imagina o que seja: “Gentil, fala com a mãe porque ela tá preocu-pada com essa história de tremor de terra aí na Usina”, pede o irmão Gelson. Mesmo sem ter sentido muito o tremor, Gentil avisa que está tudo bem, que a mãe não se preocupe porque ele e a barragem estão seguros.

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Gentil foi avisado do tremor pela esposa. Era quase meia-noite do último dia 20 de junho quando muitas pessoas sentiram o chão tremer na cidade paraense. Difícil explicar que isso acontece e que é previsto durante a construção de uma hidrelétrica como Tucuruí. “As pessoas obviamente fi cam assustadas e é uma reação normal”, diz Waltinho, que lembra de outro tremor em 1998: “Esse foi por volta das três horas da madrugada, mas foi bem mais forte do que o deste ano. Na manhã seguinte fi zemos logo a troca da fi ta do sismógrafo porque sa-bíamos que algo estava registrado. A escala acusou um temor de 3,6 pontos”.

O sismógrafo a que Waltinho se refere é um dos que monitoram a área. São dois: um deles próximo da Usina e o outro a cer-ca de 70 quilômetros. Todos os dados são enviados ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília - UnB, que mantém um convênio com a Eletronorte desde 1978. “Tucuruí é monitorada mesmo antes da sua construção”, explica o engenheiro Gilson da Luz. Segundo ele, o ideal é que esse monitoramento prévio exista para permitir o mapeamento sismológico da região. Numa audiência pública realizada no mês de agos-to, na Câmara de Vereadores de Tucuruí, o depoimento de uma moradora contribuiu para que o histórico de sismos da cidade

fosse ainda mais aprofundado: segundo ela, em 1972 já houve um tremor ainda mais forte que os recentes. A Usina ainda não estava lá. Isso pode ser um indicativo de quem nem todo o sismo em uma hidrelétrica acontece em razão dos chamados sismos induzidos por reservatório. É comum em usinas do porte de Tucuruí que as placas se acomodem sob a terra em razão do peso ou do caminho natural que a água busca.

De acordo com Lucas Barros, (foto abai-xo) professor do Observatório Sismológico da UnB, as regiões de reservatórios estão mais vulneráveis a abalos sísmicos, já que a pressão da água pode induzir a acomoda-ção de placas tectônicas da crosta terrestre. Embora algumas hidrelétricas como Tucuruí mantenham estações sismológicas, o Brasil ainda não tem um órgão específico para tratar do assunto nem um sistema integrado de monitoramento. “Pre-cisamos de uma uni-dade de vigilância para registrar e acompanhar as ocorrências”, afi rma Barros.

Mais uma vez a pre-venção. A Eletronorte prevê ainda este ano a

O Observatório Sismológico da UnB registrou, nos últimos dez anos, mais de cinco mil abalos no País; qua-trocentos sismos tiveram magnitude igual ou superior a 3.0 na Escala Richter.

No Brasil, os tremores de terra só começaram a ser detectados com precisão a partir de 1968, quando foi instalada uma rede mundial de sismologia. Brasília, mais precisamente o Parque Nacio nal (Água Mineral), foi es-colhida para sediar o arranjo sismográfi co da América do Sul. Nos últimos anos, a terra tremeu com maior freqüên-cia em João Câmara (RN), Cascavel e Pacajus (CE), Porto dos Gaúchos (MT), Caruaru (PE), Pedro Leopoldo, Betim e Igaratinga (MG).

Os sismos acontecem porque a camada mais externa da Terra, a litosfera, formada pelos primeiros cem quilô-metros de profundidade, é rígida e quebrada em diversos pedaços (placas tectônicas) que não estão parados, mas se movimentando uns em relação aos outros. Nos pontos onde estas placas se tocam ou se roçam ocorrem os maiores e mais freqüentes tremores. O Brasil está localizado no meio

de uma placa tectônica. Nas bordas ou limites dessas placas a atividade sísmica é mais forte, mas a história tem demonstrado que ela pode ocorrer mesmo em regiões de baixa atividade (intraplaca).

O tremor de maior magnitude de que se tem notícia no Brasil data de janeiro de 1955, em Porto dos Gaúchos (MT), tendo alcançado 6.5 na Escala Richter. Não houve danos, pois a região não era habitada, na época. Nesse local, existe um rebaixamento da crosta terrestre, também chamada de zona de fraqueza.

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aquisição de quatro novas estações sismo-lógicas, num investimento de aproximada-mente US$ 400 mil. O Observatório da UnB já tem um projeto para a criação de uma rede sismográfi ca nacional e, de acordo com o professor Lucas, a idéia é que as estações estejam distribuídas uniformemente pelo País, operando em tempo real via satélite. Por se tratar de um investimento alto, empresas como Eletronorte e Furnas, que já são par-ceiras no monitoramento, também apóiam o projeto. A expectativa é que a rede esteja concluída em três anos. Até dezembro de 2007, a estação de Porto dos Gaúchos, no Mato Grosso, deverá ser modernizada. A re-gião já sofreu um tremor de alta intensidade: em 1955, a população fi cou assustada com um de seis graus na escala Richter. De acordo com o professor, a rede vai permitir registrar tremores de baixa ou de alta intensidade de forma sistematizada e ágil. Mas afi rma: ainda não existe tecnologia para prever tremores, mas o monitoramento é fundamental para minimizar impactos a partir de restrições e orientações para as construções locais. E aí entra a engenharia - que poderia ser nesse contexto denominada Engenharia da Prevenção.

Metahidro - Desacostumados com terre-motos, os brasileiros não os aceitam com

Em Brasília, no dia 20 de novembro de 2000, a terra tremeu com uma magnitude 3.7. Os estudos posteriores ao abalo indicaram a possibilidade de desabamento de uma caverna subterrânea. O solo da região é rico nesse tipo de formação.

E o que é a Escala Richter? Ela mede a intensidade de energia sísmica dos terremotos e surgiu em 1935, idealizada pelo sismólogo norte-americano Charles F. Richter. Após coletar e interpretar dados de inúmeras ondas liberadas pelos abalos sísmicos, o sismólogo criou um sistema para calcular a magnitude delas. Inicialmente, a escala foi criada para medir apenas a magnitude de tremores no sul da Califórnia, mas hoje é utilizada em todo o mundo.

Efeitos dos terremotos: menos de 3.5 graus na Escala Richter, geralmente não é sentido; 3.5 a 5.4 graus, causa pequenos danos, ainda que não seja sentido; 5.5 a 6.0 graus, provoca pequenos danos a edifi cações; 6.1 a 6.9 graus, pode causar danos graves em regiões densamente povoadas; 7.0 a 7.9 graus, terremoto de grandes propor-ções com danos graves; e 8.0 graus ou mais, tremor muito forte que causa destruição total na comunidade atingida e em povoados próximos. A escala Richter é aberta e não há limite máximo de graus.

naturalidade. Já os pesquisadores estu-dam sobre como prevenir os impactos, já que não podem prever o dia ou prevenir a causa. No Grupo de Metahidro, que reúne pesquisadores da Eletronorte e da Univer-sidade de Brasília, as discussões a respeito são constantes. “Buscamos a integração do conhecimento, apostando na troca de infor-mações entre diversos profi ssionais da área. Isso tem permitido pesquisas em diferentes áreas da engenharia de barragens”, afi rma o coordenador do Grupo de Metahidro, professor Lineu Pedroso ( foto abaixo). En-genheiro da área de geotecnia e estruturas da Eletronorte, Sílvio Caldas destaca a par-ticipação e o reconhecimento da Eletronorte nas pesquisas sobre o tema, e lembra que o Grupo foi destaque no último Semi-nário Nacional de Grandes Barragens, realizado em Belém, no último mês de junho. (Ver edição 215 de junho/julho de 2007).

Para a pesquisadora Rita de Cássia Silva, também pesquisadora do Grupo e autora de trabalhos como Aspectos de Risco e Con-fiabilidade em Barragens, o conceito ‘segurança de barragens’ não deve ser considerado apenas na fase da sua concepção, mas, sobretudo, para as barragens existentes. “O principal interesse dessa linha de pesquisa é desen-volver uma metodologia capaz de avaliar a segurança de barragens do tipo ‘gravidade’, em concreto. Contudo, num estudo dessa natureza, diversas são as variáveis envolvidas que trazem para a análise incertezas cruciais em uma avaliação realista do comportamento estrutural do barramento”, afi rma ela. Hoje, a temática da segurança ocupa lugar de des-taque nas diversas áreas que compreendem o estudo de uma barragem e, segundo Rita, “tornou-se um assunto de inegável relevância para o setor de energia elétrica tanto técnica como economicamente”.

Legislação - Ainda que o objetivo de muitos seja submeter as barragens a um seguro, especialistas em segurança de barragens discordam, não achando necessário, por exemplo, que se criem leis específi cas sobre o assunto. O fato é que notas técnicas alertam para a necessidade de se diferenciar uma

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empresa que é submetida a rígidas inspeções por organismos credenciados, e mantém pa-drões de construção, manutenção e monito-ramento de uma barragem, de empresas que sequer fazem acompanhamentos regulares. “É como você fazer um seguro do seu carro. Quem tem mais cuidado não pode pagar a mesma coisa do que quem não tem o mesmo comportamento. Além disso, o pagamento de um seguro seria feito com recursos que poderiam ser destinados à manutenção e prevenção”, alerta Rogério Menescal.

Gilson da Luz lembra que as barragens do Setor Elétrico são implantadas depois de diversos estudos geotécnicos e de impacto ambiental, e são dimensionadas de acordo com normas internacionais, não havendo histórico de acidentes em grandes e médias hidrelétricas no Brasil. “Nesse sentido, as barragens hidrelétricas se desenvolvem de acordo com os regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel e manuais elaborados pela Eletrobrás, que comprovam a execução de programas de inspeção e monitoramento durante a fase de operação da barragem”.

Por outro lado, está tramitando na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1.181/2003 que prevê uma Política Nacional de Seguran-ça de Barragens, cria o Conselho Nacional de Segurança de Barragens e o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens. Trata-se de um dos eixos do Programa de Segurança de Barragens no Brasil, conjunto de ações do Ministério da In-tegração Nacional, em parceria com diversas instituições que prevê o cadastramento de barragens, realização de inspeções, elabora-ção de arcabouço legal e treinamento.

Manuais qualifi cados e

exigências legais podem evitar

catástrofes como a de

Cataguazes (MG)

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As fi bras da telecomunicaçãoCésar Fechine

O alarme sonoro dispara na sala de ope-rações do Centro de Informação e Análise da Transmissão da Eletronorte, em Brasília, às 14h49 do dia 8 de agosto de 2007. Quem tra-balha nessa sala sabe que sistema elétrico não tem hora para cair. “Houve um desligamento na linha de interligação Presidente Dutra-Boa Esperança, em 500 kV, no Maranhão”, explica o operador de sistemas Marcos Fernando de Sousa Lira, 28 anos de profi ssão.

Apenas um minuto após o registro da ocorrência, o Centro de Operações da Eletro-norte no Maranhão tenta recompor a carga. Neste caso, não houve conseqüências para o sistema e o abastecimento de energia não foi interrompido em nenhum lugar.

A interligação que caiu compõe o Sistema Norte-Nordeste e possibilita a troca de energia entre os sistemas operados pela Eletronorte e a Chesf. “Não houve falta de energia e, de qualquer forma, a linha Presidente Dutra-Te-resina, circuitos 1 e 2, que também compõe o anel elétrico do Sistema Norte-Nordeste, permaneceu energizada”, tranqüiliza Lira.

Às 14h52, a linha de transmissão volta a ser energizada e às 14h55min, com o fecha-mento do anel na subestação Boa Esperança, a ocorrência é considerada normalizada.

Velocidade da luz - A supervisão e o mo-nitoramento em tempo real dos mais de dez mil quilômetros de linhas de transmissão e dos sistemas elétricos gerenciados pela

Eletronorte só é possível graças à rede de fi bra óptica da Empresa, da qual o Centro de Informação e Análise da Transmissão é um dos principais usuários.

“A fi bra óptica permite que as grandezas elétricas do sistema cheguem aos centros de operação, sendo supervisionadas perma-nentemente para que, numa anormalidade, possam ser tomadas decisões de remaneja-mento ou redução da carga. Esse trabalho é feito em todos os nossos sistemas de trans-missão”, explica Josias Matos de Araújo, superintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão.

Não dá para imaginar a vida moderna sem a Internet, a videocomunicação e a telefonia digital. E são as fi bras ópticas que possibi-litam a transmissão instantânea de dados a longas distâncias.

Em 1984, a Eletronorte implantou, em Tucuruí, o primeiro cabo do tipo OPGW (Optical Ground Wire), que traduzido para o português signifi ca fi bra óptica em cabo de guarda (pára-raio).”A Empresa foi pioneira no Brasil na implantação desse equipamento. Esse tipo de cabo tem dupla função: servir de pára-raios e acomodar as fi bras ópticas que fazem a transmissão de dados”, explica

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Carlos Magno de Sá Abadá, superintendente de Telecomunicações.

O cabo OPGW é colocado normalmente na parte mais alta das torres que compõem a linha de transmissão (diagrama ao lado). A fi bra óptica fi ca na parte interna do cabo e é manipulada e conectada por meio das chamadas caixas de emenda.

A trezentos mil quilômetros por segundo - a velocidade da luz -, a transmissão dos dados por meio da fi bra óptica é instantânea. O que defi ne a capacidade de transmissão desses dados é a qualidade dos equipamen-tos eletrônicos utilizados “na ponta” para transmitir e recepcionar os dados.

A opção pela construção da rede de fi bra óptica da Eletronorte surgiu com a demanda de uma maior capacidade de transmissão de dados. O crescimento da rede corporativa de informática, a automação das máquinas, das subestações e das usinas, a necessidade crescente de transmitir dados com confi abili-dade, continuidade e qualidade foram outras demandas.

“Ficava mais econômico e confi ável mon-tar um sistema próprio, com grande capaci-dade de transmissão de dados, do que fi car comprando canais das operadoras”, explica Abadá. Atualmente, a fi bra óptica está pre-sente em 5.927 quilômetros das linhas de transmissão operadas pela Eletronorte, o que equivale a quase 60% do total.

Serviços - A Superintendência de Teleco-municações foi criada com a fi nalidade prin-cipal de prestar serviços de telecomunicações para a própria Eletronorte e para terceiros. Em 2001 houve uma mudança no Estatuto Social da Empresa, adequando-o para possibilitar a prestação do serviço de telecomunicações a terceiros. Em 2003, a Eletronorte obteve licença junto à Agência Nacional de Teleco-municações - Anatel para explorar o Serviço de Comunicação Multimídia - SCM.

Rede de fi bras ópticas (OPGW)

da Eletronorte

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Filamentos de luzA fi bra óptica é um fi lamento de vidro

(sílica) da espessura de um fi o de cabelo, capaz de transmitir a luz a enormes distân-cias. Quando alguém fala ao telefone, a voz é traduzida para a linguagem dos impulsos elétricos, pelo próprio aparelho. Porém, quando essa mensagem é transmitida por meio de fi bra óptica, esses impulsos são convertidos em impulsos de luz, por meio de uma fonte de faixa de infravermelho co-nectada à fi bra.

A aplicação dessa tecnologia revolucionou a comunicação de dados por causa dos be-nefícios se comparada ao uso de cabos de cobre convencionais. A comunicação óptica tem muitas vantagens: ela permite a trans-missão de uma quantidade bem maior de informações, a distâncias bem mais longas; tem menor custo de implantação e operação; os componentes são bem menores e a inter-ferência eletromagnética é eliminada.

Uma tecnologia denominada Wavelength Division Multiplexing (WDM), ou Multiplexa-ção por Divisão de Comprimento de Onda, fez com que, em vez de se utilizar uma fi bra para cada laser de sinal, como no início do siste-ma, fosse possível transmitir vários lasers pela mesma fi bra óptica. Assim, a multiplexação permite que diversas bandas de transmissão, cada uma com dezenas de milhões de liga-ções ao mesmo tempo, possam ser enviadas por uma única fi bra óptica.

Há dez anos, cada fi bra óptica levava um único raio de luz e transmitia seiscentos milhões de bits por segundo (bps). Hoje, já se pode canalizar cem lasers dentro da fi bra ótica e transmitir um trilhão de bps. (Fonte: Jornal da Unicamp)

Hoje, a rede de fi bras ópticas atende às necessidades de comunicação ope-rativa e corporativa entre as unidades da Eletronorte, gerando serviços de telecomunicações como produtos. Para o mercado externo, a Empresa oferece canais de comunicação como produto e infra-estrutura para as operadoras de serviços de telecomunicações.

A utilização do sistema óptico também está permitindo a redução de custos, tais como a interligação telefônica entre a Sede, em Brasília, e as unidades regionais do Ma-ranhão, Pará, Mato Grosso, Tocantins, Acre e Rondônia, que são feitas via ramal, sem pagar interurbano.

A medição e o faturamento pelo uso das linhas de transmissão da Empresa também são feitos por meio das fi bras ópticas, bem como a realização de videoconferências.

A rede de fibra óptica também está gerando receitas para a Eletronorte. A Empresa tem contratos fi rmados na te-lefonia celular com a Vivo, Claro e Brasil Telecom. Na telefonia fi xa, há contratos fi rmados com a Brasil Telecom e com a Embratel. “Hoje temos uma receita anual com os serviços de telecomunicações da ordem de R$ 3 milhões. E temos a certeza de que essa receita será crescente a cada ano”, informa Abadá.

A estimativa é de que se a Empresa ti-vesse que pagar por conectividade para as mesmas operadoras para as quais passou a ser prestadora de serviços, os gastos che-gariam a cerca de R$ 30 milhões por ano. Outra importante ação que a Eletronorte está iniciando é colocar a sua infra-estrutura de fi bra óptica à disposição do Governo do Estado do Pará para possibilitar a inclusão digital de milhões de pessoas por meio de telecentros digitais.

É impossível imaginar qualquer sistema computadorizado hoje em dia que não tenha como base a transmissão de dados. Para a Eletronorte, a opção por montar uma rede de fi bra óptica própria mostrou-se bastante vantajosa.

Enquanto isso, o monitoramento dos siste-mas elétricos, 24 horas por dia, continua para garantir a boa qualidade dos serviços, o supri-mento de energia elétrica e a tomada rápida de decisões, se necessário for. A integração dos dados é garantida pelas fi bras compostas por fi nos fi lamentos de vidro, que revolucionaram o mundo das telecomunicações.

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A rede de fi bras ópticas da Eletronorte está agora a serviço da inclusão digital no Estado do Pará. Um convênio de cooperação técnica, iné-dito no País, vai permitir o uso da rede de fi bra óptica da Eletronorte pelo governo estadual e a transmissão de dados em alta velocidade a órgãos públicos e a telecentros, que benefi ciarão cerca de dois milhões de pessoas em diversos municí-pios paraenses. O secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará, Maurílio Monteiro, explicou à revista Corrente Contínua os trabalhos que estão sendo desenvolvidos por inter-médio do convênio.

Qual o percentual da população do Pará que tem acesso a computadores e à Internet?A estimativa hoje é de que 5,5% da população

têm acesso a computadores e apenas 3% têm acesso à internet. É um percentual muito baixo e os governos federal e estadual têm desenvolvido um conjunto de ações para melhorar essa situação, como o convênio fi rmado com a Eletronorte.

O que prevê o convênio fi rmado entre o governo do estado e a Eletronorte?Esse é um passo importante para efetivar a

inclusão digital de milhões de pessoas excluídas. Com esse convênio, a Eletronorte cede o direito de uso da sua rede de fi bras ópticas, que se estende desde o município de Santa Maria até Santarém. Esse trajeto tem centenas de quilô-metros e em 12 pontos desse trecho haverá a possibilidade de o governo fazer derivações dessa rede e implantar um conjunto de ações voltadas à inclusão digital.

Quais as principais ações que serão desenvolvidas por meio do convênio?São dois tipos de ações. A primeira é a implan-

tação de cidades digitais para permitir, num raio de quatro quilômetros da antena principal, que todos os órgãos públicos tenham acesso à inter-net. Outra ação é a instalação de infocentros, em convênios com as prefeituras e organizações não-governamentais, para os quais o governo cederá computadores, espaço físico, monitores e internet para comunidades de baixa renda. A previsão é de que, em um ano, sejam instalados trinta infocentros na faixa da infovia.

Que áreas serão benefi ciadas e como os serviços públicos poderão ser otimizados?Nós teremos um conjunto de benefícios nas

áreas de educação, saúde, comunicação e várias outras. O funcionamento da rede vai possibilitar a implantação do serviço de telemedicina, pois será possível a transmissão de exames e a produção de laudos a distância. Teremos também os telecentros de inclusão digital, que vão melhorar a educação da população e ações de governança eletrônica com vários serviços para a população, como tirar certidões e outros documentos, participar de vide-oconferências, entre outros.

Como foi concebido o projeto e em quanto tempo a população poderá contar com os benefícios?A previsão é de que os primeiros infocentros

comecem a funcionar já com o sinal de fi bra óptica em Santarém, Marabá e Marituba a partir de setembro de 2007. A montagem dessa infovia envolveu um projeto de engenharia sofi sticado e vai permitir a transmissão de dados numa velocidade de cinco gigabits por segundo, o equivalente à transmissão dos dados de sete CDs a cada segundo. A Eletronorte elaborou esse projeto e já o entregou para que o governo estadual possa operar a rede.

Qual a estimativa de economia de custos e que outros benefícios o projeto proporcionará?A estimativa de redução de custos é de

aproximadamente R$ 3,2 milhões por ano em conseqüência do uso dessa rede para a trans-missão de dados, voz e imagem entre os órgãos públicos do Estado. Mas o grande benefício dessa parceria é mesmo social. Com este projeto, a Eletronorte está prestando um serviço social de uma dimensão enorme. Essa é uma ação de grande envergadura, que só foi possível graças à parceria com a Empresa.

Parceria pela inclusão digital no Pará

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A Eletronorte está entre as 14 empresas do seleto grupo premiado pelo Troféu Transparên-cia, concedido àquelas que têm as melhores demonstrações contábeis do País. Criado em 1997, o prêmio é dividido nas categorias em-presas abertas e fechadas, numa parceria da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade - Anefac; Funda-ção Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras da USP - Fipecafi e Serasa. Essa é a 11ª edição do prêmio que elege as empresas mais transparentes do Brasil.

De acordo com o diretor Econômico-Financeiro da Eletronorte, Astrogildo Fraguglia Quental, o Troféu Transparência é reconhecido nacionalmente como o “Oscar” da classe contábil. “Uma genuína referência nacional quando o assunto é transparência corpora-tiva. O prêmio é reconhecido pela seriedade e rigor técnico com que são selecionados os participantes e escolhidos os vencedores. Toda a nossa aguerrida equipe, particularmente da Superintendência de Contabilidade, está honrada com essa distinção. Esse prêmio é mais uma das várias provas da com-petência dos colaboradores da Eletronorte”.

O superintendente de Contabilidade da Ele-tronorte, Jésus Alves da Costa, concorda com Astrogildo. “Fazemos questão de destacar o papel da equipe e da Diretoria nesse contexto, por terem sempre apoiado a área contábil, por reconhecê-la como um ambiente técnico, nunca interferindo na aplicação de procedimentos pertinentes e de suas ações”, afi rma.

Em 2005, a Eletronorte obteve da Associação Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Elétrica - Abraconee prêmio de melhor Demons-tração Contábil entre as grandes concessionárias do serviço público de energia elétrica, um reco-nhecimento de grande importância. Agora, recebe o Troféu Transparência, considerado uma espécie de certifi cado de garantia das demonstrações contábeis da Eletronorte.

Método - A análise e a classifi cação das demons-trações são feitas a partir de critérios essencial-mente técnicos, estabelecidos pela Fipecafi , onde são avaliados: qualidade e grau das informações contidas nas demonstrações e notas explicativas; transparência das informações prestadas; qualida-de do relatório da administração e sua consistência com as informações divulgadas, aderência aos princípios contábeis, além de uma série de outros aspectos relevantes, não exigidos legalmente, mas importantes para o negócio, como fl uxo de caixa e balanço social

Numa primeira fase, alunos dos cursos de mes-trado e doutorado em Controladoria e Contabilidade da FEA-USP selecionam as demonstrações contá-beis publicadas no País que melhor atendem aos critérios, para encaminhamento à comissão julga-dora composta por personalidades de destaque no cenário contábil nacional.

Dez empresas abertas receberão este ano o 11º Prêmio Anefac-Fipecafi -Serasa - Troféu Trans-parência 2007, entre elas a Companhia Vale do Rio Doce, a Gerdau e a Petrobras. A Eletronorte é premiada na categoria capital fechado, onde quatro instituições foram contempladas. A cerimônia de premiação será realizada no dia 25 de setembro de 2007, em São Paulo.

Troféu Transparência

Eletronorte tem uma das melhores demonstrações contábeis do País

Gestores comprometidos

com a transparência

contábil

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Resultado do primeiro leilão realizado sob as regras do atual modelo do Setor Elétrico, a linha de transmissão Coxipó/Cuiabá/Rondonópolis, em 230 kV, arrematada pela Eletronorte em consórcio com empresas privadas, apresentou ótimos resultados. Tanto que o BNDES resol-veu liberar 100% dos dividendos para distribuição entre os sócios do consórcio, quando o usual seria 25%. Num ato simbólico, a concessionária da linha, a Amazônia Eletronorte Transmissora de Energia - AETE realizou, na Sede da Eletronorte, com a participação de toda a Diretoria, cerimônia para demonstração dos resultados e distribuição dos dividendos aos participantes daquela Sociedade de Propósito Específi co, que tem a partici-pação da Eletronorte (49%); Alubar (13,25%); Bimetal (24,5%); e Linear (13,25%).

A linha, que compreende os trechos Coxipó-Cuiabá, em circuito duplo de 230 kV, com 17 km; Cuiabá - Rondo-nópolis, em circuito simples de 230 kV, com 171 km; a ampliação da subestação Coxipó, com dois vãos de linha em 230 kV; a construção da subestação Cuiabá, em 230 kV; e a ampliação da subestação Rondonópolis, um vão de

Amazônia Eletronorte Transmissora distribui dividendos

linha em 230 kV e um compensador série em 91 MVAR, de transmissão teve investimentos de R$ 116,6 milhões e gerou cerca de oitocentos empregos diretos.

Na ocasião, o diretor-presidente da Eletronorte, Carlos Nascimento, recebeu das mãos do presidente do consórcio, Mauro Mendes, o cheque de R$ 4,2 milhões, de um total de R$ de 8,7 milhões, correspon-dentes à distribuição dos dividendos acumulados no período de setembro de 2005 a dezembro de 2006.

Quadro qualifi cado - Os cheques foram também en-tregues aos demais membros do consórcio: a Bimetal recebeu R$ 2,3 milhões; a Linear, R$ 1,1 milhão e a Alubar, R$ 941 mil. Mauro Mendes disse que o patamar de R$ 8,7 milhões continuará nos próximos dez anos e deverão aumentar nos 15 anos fi nais com o término do pagamento do empréstimo ao BNDES. “O nosso grupo é formado por empresários de Mato Grosso e do Pará, e a experiência deu tão certo, que a primeira linha de transmissão feita com participação estatal nesse modelo mostra-se agora com uma rentabilidade de 22%. No leilão o grupo teve que dar 38% de deságio para ganhar, enquanto o previsto era de até 26%”.

Carlos Nascimento enfatizou o quadro técnico altamen-te qualifi cado da Eletronorte, que se dedica ao extremo. “O resultado é o sucesso dos processos da Empresa. O atual modelo do Setor Elétrico não é perfeito mas tem importância como indutor do desenvolvimento. A partici-

A Eletronorte e a PadTec assinaram contrato para exploração do know-how e do pedido de patente da metodologia de utilização e aparatos de regeneração óptica passiva, de-senvolvida por meio de um projeto de P&D entre a Eletronorte e o Centro de Pesquisa e Desenvol-vimento em Telecomu-nicações - CPqD, um dos mais conceituados pólos de tecnologia do mundo.

Para o presidente da PadTec, José Salomão Pereira, as perspecti-vas de comercialização são animadoras. “É um produto com muito potencial, resultado de um trabalho que pode fazer com que os mer-cados da Ásia, África e mesmo América Latina, possam ser atendidos

Equipamento a ser produzido pela iniciativa pcom produtos brasileiros, gerando riqueza e trabalho no País. Já temos muitos interessados e, com assina-tura desse contrato, poderemos começar a produção em aproximadamente um mês”, afi rma.

Diretores da Eletronorte e PadTec assinam o contrato

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pação estatal com empresas privadas deu oportunidade a novos empresários de participarem de um setor até então fechado, complexo e carente de recursos. Formamos um grupo de empresas fora do centro de maior atividade comercial do País, mas que conseguiu desbancar grupos gigantes e altamente preparados para o leilão”.

O coordenador de Viabilização de Negócios da Eletronorte, Wilson Fernandes, lembrou que o em-preendimento permite que o Mato Grosso passe a ser exportador de energia. “A Eletronorte investiu no projeto cerca de R$ 20 milhões e está recebendo

a privada tem patente pedida pela Eletronorte

R$ 4,2 milhões no primeiro um ano e quatro meses de operação, sendo que a concessão é por trinta anos. É muito importante que a Empresa invista em outros empreendimentos lucrativos como este, que apresenta Taxa Interna de Retorno - TIR superior a 20%. A Intesa (Integração Transmissora de Energia, SPE em parceria com a Chesf, Fipe e Engevix com obras em andamento), e a Hidrelétrica Dardanelos, em parceria com a Chesf e Neoenergia em fase de início de obras, apresentam expectativa de ótimos resultados para a Eletronorte”, vibra o coordenador.

O diretor de Gestão Corporativa da Eletronorte, Manoel Ribeiro, disse que essa é mais uma demonstração da importância que a Empresa dá à pesquisa e ao desen-volvimento tecnológico. “Os talentos que temos aqui, e a vontade que temos de buscar parcerias para mostrar que o Brasil é capaz de produzir tecnologia fazem a diferença”.

Fibra ótica - “Sempre tivemos um problema com a transmissão de sinais na rede de fi bra ótica, que era a necessidade de, a cada duzentos quilômetros, colocarmos uma estação repetidora, exigindo um alto custo de manu-tenção para a Empresa. Daí é que a Empresa desenvolveu uma pesquisa com o CPqD e o resultado foi o Regenerador Ótico Passivo”, explica o superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Luis Cláudio Silva Frade.

O equipamento, inventado por Domingos Sávio dos Reis, da Eletronorte, é capaz de transmitir um sinal a até quatrocentos quilômetros, permitindo que não seja mais necessária a antena retransmissora. “A Eletronorte pediu o registro da patente desse equipamento junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial - Inpi; contratou uma empresa para produzi-lo em escala comercial e agora assinamos o contrato que vai permitir a exploração des-se know-how. É a primeira vez que se faz isso no Setor Elétrico”, afi rma Frade.

Patente - A gerente de Articulação com a Indústria Nacional, Neusa Lobato, explica que a Lei 9.279/96 permite que contratos dessa natureza sejam feitos por cinco anos, renováveis por mais cinco. “Há duas coisas diferentes: uma é a exploração do know-how; e outra é a exploração do pedido de patente. Essa última não pode ser cobrada, pois o que temos é o pedido e, conseqüentemente, uma expectativa de ganho. Demos entrada no Inpi há dois anos e o processo pode levar até oito anos. Nos primeiros 18 meses o processo fi ca em sigilo; depois de mais 18 meses começam outras análises técnicas. Se essa patente sai an-tes do tempo previsto no contrato, poderemos então transferir a exploração da patente”.

É importante lembrar que a Eletronorte vai receber royalties de 7,0 % sobre o lucro líquido dos equipamentos comercializados pela PadTec. Além disso, na aquisição de um deles, a Empresa tem mais 10% de desconto. A estimativa é que o equipamento gere uma economia de aproximadamente R$ 1 milhão ao ano, por estação. O investimento no projeto foi de R$ 670 mil.

Diretoria e técnicos das duas empresas comemoram os resultados

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O Programa Eletronorte de Efi ciência Energética - PEEE, que vem sendo executado desde 2005 no Pará, chega neste semestre a 221 novas escolas da rede pú-blica de ensino em oito municípios paraenses. Desde o início de agosto, professores, servidores de instituições municipais e estaduais, estudantes e suas famílias aprendem com o PEEE Educacional a preservar o meio ambiente ao fazer uso efi ciente da energia elétrica.

O projeto envolve professores de todas as disciplinas aplicadas nas escolas. As ações do programa incluem sensibilização de gestores escolares, capacitação de professores, realização de atividades lúdico-pedagógicas e medição do consumo de energia nas escolas e residên-cias dos estudantes, com todo o material didático doado pela Eletronorte e Eletrobrás.

As ações serão desenvolvidas gradativamente ao longo do semestre, até que todos os municípios benefi ciados pelo convênio sejam contemplados: Belém, Castanhal,

Efi ciência energética Nas escolas do Pará 160 mil estudantes da rede pública aprendem a preservar o meio ambiente e a economizar energia elétrica

Santarém, Goianésia, Jacundá, Ananindeua, Barca-rena e Abaetetuba. A previsão é de que até novem-bro, 1.590 professores e aproximadamente 160 mil estudantes do ensino infantil, fundamental e médio estejam sensibilizados.

O PEEE Educacional, produto da parceria entre Eletrobrás e Eletronorte no Programa Nacional de

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“Nos dias 14 e 16 de agosto de 2007, Edson Cavalcante conquistou duas medalhas de ouro no Parapan-americano Rio 2007. Ele deixou para trás adversários do México e do Canadá, favoritos na disputa dos 100 e 200 metros rasos. Nos 100 metros seu tempo foi de 11s72 e nos 200 metros 23s95.Com seu carisma, o atleta da Eletronorte conseguiu arrebatar a torcida e a imprensa. Ele é agora conhecido como o novo “xodó” do para-atletismo brasileiro”.

A boa notícia acima chegou a tempo de completar esta reportagem, provando mais uma vez que os brasileiros são famosos pela perseverança e por encararem com alegria a vida. Na Regional de Produção e Comercialização de Rondônia existe um exemplo ainda maior: brasileiro, nascido em família humilde e portador de necessidades especiais. Esse é o retrato de Edson Cavalcante Pinheiro, 28, que buscou nos assentos escolares e no esporte a força para se fi rmar na vida.

Edson nasceu em meio a difi culdades, no interior do Acre. No parto, sofreu uma paralisia cerebral que ocasio-nou uma paralisia parcial em seu braço direito. “Minha sorte é que sempre consegui enfrentar isso muito bem, sem fi car revoltado. Pelo contrário, isso só me deu mais vontade de lutar”, destaca.

Edson mostrou o que uma pessoa determinada é capaz de fazer. Mesmo convivendo com difi culdades, ele fez facul-

dade: Tecnologia em Processamento de Dados, na Fa-culdade de Ciências Administrativas e de Tecnologia de Rondônia (Fatec-RO), na capital do Estado, Porto Velho. Hoje, faz pós-graduação em Desenvolvimento Web.

O suporte dado pelos estudos, somado à partici-pação de Edson em associações de portadores de defi ciências físicas garantiu a conquista de um espaço no disputado mercado de trabalho. “Só tenho o que comemorar. Consegui estudar e, com a ajuda da As-sociação, sempre consegui trabalho. Por isso, há seis anos trabalho na Eletronorte, que abriu novas portas para mim”, comemora.

Uma das grandes mudanças na vida de Edson, depois de ter entrado na Eletronorte, foi o ingresso nos esportes. Foi na Empresa que ele conheceu João Fernando, o ‘Totó’, um amigo, também portador de necessidades especiais, que lhe incentivou a praticar esportes. Com o apoio, Edson começou a praticar e participar de competições para-desportivas de tênis de mesa. O talento para os esportes foi logo comprovado: em 2003, Edson foi campeão brasileiro de tênis de mesa individual.

Em 2004, houve uma mudança de planos e Edson passou a competir no atletismo, por acreditar que nesse esporte seria mais competitivo. Nosso atleta acertou mais uma vez e, já em 2005, venceu o Campeonato Brasileiro nos 100 e 200 metros rasos. O mesmo aconteceu em

Para viver, vencer

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Conservação da Energia Elétrica na Educação Bási-ca (Procel Educacional), com apoio das secretarias de Educação, tem como meta gerar a economia de 6,98 kWh/mês por aluno envolvido. Mas o uso racional de energia elétrica pode trazer resultados ainda melhores, segundo a gerente de Articulação com a Indústria Nacional da Eletronorte, Neusa

Rodrigues. “Nossas medições nas residências dos alunos já contemplados nos programas têm tido um resultado médio de 12 kWh/mês e uma média de eco-nomia nas escolas de 180 kWh/mês. Em Breu Branco, a economia de energia, em seis meses, nas instituições envolvidas, representou o consumo de três escolas no mesmo período considerado”.

2006 e, agora em 2007, Edson defende o tri-campeonato em sua classe, a T-38 (no para-atletismo, os atletas são divididos em classes, de acordo com o nível e tipo de defi -ciência física). Ele tem tudo para conseguir, pois na primeira etapa do Campeonato Brasileiro deste ano, realizado em Porto Alegre, Edson novamente foi para o lugar mais alto do pódio nos 100 e 200 metros rasos.

Com esse histórico de vitórias, na vida e no esporte, Edson foi para os Jogos Parapan-americanos Rio 2007 e voltou com as medalhas douradas para a Eletronorte, Empresa que também lhe patrocina.

Os resultados de Edson são expressivos, principalmente se for levado em consideração que o atleta não treina em uma pista ofi cial, inexistente em Rondônia, e que ele não é um atleta profi ssional. “Eu preciso trabalhar. Não tenho como viver só do esporte. Essa é a realidade da maioria dos atletas, mesmo os que não possuem defi ciência e, obviamente, isso prejudica os resultados”, frisa.

O esforço e superação de Edson são tão visíveis que ele foi um dos escolhidos para conduzir a tocha olímpica dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 quando ela passou por Porto Velho, no dia 25 de junho passado. “Eu fi quei muito feliz em perceber que meu esforço está sendo reconhecido e em ver meus amigos da Eletronorte me acompanhando naquele momento. Sempre recebo o in-centivo dos que trabalham comigo, mas naquele momento foi mais especial”.

Professores e alunos unidos na mesma lição: sabendo usar não vai faltar

Foto: Daniel Fachini/CPB

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HISTÓRIAA Eletronorte chegou

a Rondônia em 1981, dez meses antes da criação do Estado. Nes-se mesmo ano, iniciou a construção da Usina Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari. Nove anos depois, a Usina se incorporou ao parque termelétrico instalado na capital, Porto Velho, possibilitando a amplia-ção do sistema de trans-missão para o interior do Estado.

Em Rondônia, a Ele-tronorte é representada pelas unidades regio-nais de Produção e Comercialização e de Planejamento e En-genharia. A força de trabalho é formada por profi ssionais das mais diversas áreas de co-nhecimento, que tra-balham para melhorar a qualidade de vida dos rondonienses.

Esse trabalho tem sido reconhecido ao longo dos anos, tan-to pela satisfação dos clientes e consumidores quanto pelas diversas premiações recebidas, devido à excelência da gestão empresarial. Essas conquistas são fruto da prática cons-tante dos valores do Credo da Eletronorte: excelência na gestão, valorização das pesso-as, comprometimento, aprendizado contínuo, empreendedorismo e ética e transparência.

GERAÇÃO

TRANSMISSÃOO sistema de transmissão da Eletronorte em Rondônia conta com

dez subestações. A subestação de Ji-Paraná está sendo ampliada para, juntamente com a construção das subestações de Pimenta Bueno e Vilhena, garantir um dos maiores empreendimentos no cone sul do Estado: a linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta Bueno/Vilhena, que permitirá a interligação dos Estados do Acre e de Rondônia ao Sistema Interligado Nacional - SIN. Atualmente são 916 quilômetros de linhas de transmissão em 69 kV, 138 kV e 230 kV, e 1.367 MVA de capacidade de transformação.

RONDÔNIA

A energia elétrica consumida em Rondônia é gerada pela Usi-na Hidrelétrica Samuel e por um parque termelétrico operado pela Eletronorte e por produtores in-dependentes de energia. Samuel tem potência instalada de 216 MW e é considerada um marco na história local. Sua construção possibilitou que uma antiga colô-nia de pescadores desse lugar ao município de Candeias do Jamari. A hidrelétrica foi concebida ini-cialmente para suprir as cidades rondonienses de Guajará-Mirim, Ariquemes, Ji-Paraná, Pimenta Bueno, Vilhena, Abunã e a capi-tal, Porto Velho. Atualmente, 90% dos 52 municípios do Estado são

benefi ciados com energia fi rme e segura desse sistema isolado da Eletronorte.

Em 20 de novembro de 2002, a capital do Acre, Rio Branco, tam-bém passou a ser abastecida com a energia de Samuel. Em maio de 2006, esse sistema foi ampliado, permitindo que a geração térmica do Acre fosse substituída pela hidráulica, proporcionando a subs-tituição da geração a derivados de petróleo. Além de Samuel, a Eletro-norte opera a Usina Termelétrica Rio Madeira, que produz 90 MW. Somada à geração dos produtores independentes de energia, a po-tência instalada da Eletronorte em Rondônia é de 426 MW.

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MEIO AMBIENTEO profundo respeito ao meio ambiente

valeu à Eletronorte em Rondônia a cer-tificação NBR ISO 14001, o chamado ‘Selo Verde’, que contempla os resultados positivos dos trabalhos de preservação ambiental promovidos na região e conso-lidando o Sistema de Gestão Ambiental Regional, implantado em 2003. Foram certifi cadas a Usina Hidrelétrica Samuel, a Usina Térmica Rio Madeira, a Linha de Transmissão de 230 kV Porto Velho-Abunã e as subestações Porto Velho e Abunã. O ‘Selo Verde’ comprova que a energia gerada pela Eletronorte é limpa, permitindo valores maiores em sua negociação, asseguran-do sua exportação através da produção industrial ou da preparação de recursos minerais como, por exemplo, a produção de alumínio, em cuja composição a energia elétrica representa 80%.

RESPONSABILIDADE SOCIALA energia distribuída pela Eletronorte

em Rondônia atende 1,7 milhão de habi-tantes, incluindo a população do Estado e mais 280 mil habitantes de Rio Branco, no Acre. Além desse benefício, a Empre-sa desenvolve atividades de responsabili-dade social junto às comunidades.

Um exemplo é a participação dos empregados em ações assistenciais, como a doação de cestas básicas a idosos carentes, iniciativa que nasceu há 12 anos e que atualmente benefi -cia mais de 140 famílias. A Eletronorte também desenvolve diversos projetos diretos com a comunidade. Um deles é a alfabetização de adultos. Duas turmas de jovens e adultos em Porto Velho e uma em Candeias do Jamari já foram contempladas pelo programa, realizado em parceria com o Colégio Dom Bosco. Ainda na educação, a Eletronorte apóia no Estado a Associação de Pais e Amigos do Autista - AMA.

Desde novembro de 2003, em parceria com o Governo do Estado de Rondônia e o Ibama, desenvolve em Candeias do Jamari o projeto de Aproveitamento de Águas Improdutivas para Criação de Tambaqui em Tanques-rede, benefi cian-do cerca de 500 famílias de pescadores

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Pronunciamento“Recebi, recentemente, da Diretoria da Eletronorte um exem-

plar da revista Corrente Contínua, veículo de divulgação das ações da Empresa, tanto na área de geração e transmissão de energia, quanto em matéria de preservação ambiental e de projetos sociais. Gostaria de destacar algumas matérias publicadas na revista, que completa, em 2007, 30 anos de existência. A primeira matéria a que gostaria de referir-me é assinada pelo jornalista Alexandre Accioly e possui o título ‘Hidrelétricas são a melhor opção para o Brasil’. A matéria não poderia vir em melhor hora. Neste mo-mento em que a questão ambiental toma conta dos debates em todo o mundo, é preciso que discutamos, de uma vez por todas, qual a matriz energética que queremos para o nosso País. E a forma mais limpa e produtiva de geração de energia elétrica que temos no Brasil é, sem dúvida alguma, a hidrelétrica. Na área de atuação da Eletronorte, a preservação ambiental caminha lado a lado com a geração de energia. Esse é o tema de outra matéria, constante da revista Corrente Contínua, sobre a qual gostaria de tecer alguns comentários. A matéria, assinada pela jornalista Michele Silveira, traz exemplos de como a Eletronorte cuida dos impactos ambientais subjacentes à construção das usinas hidrelétricas. O exemplar que recebi da revista Corrente Contínua ainda possui uma série de reportagens interessantes que retratam o trabalho da Eletronorte, com destaque para a responsabilidade sociambiental, uma das marcas da Empresa. A linha-mestra da revista, com a qual compartilho as mesmas convicções, é que o Brasil precisa construir usinas hidrelétricas para garantir um futuro de prosperidade para o seu povo. Os impactos socioambientais existem, mas são perfeitamente contornáveis por intermédio de ações modelares como as que vêm sendo desenvolvidas pela Empresa nas regiões alagadas pelas usinas de Balbina e Tucuruí. O Brasil precisa de energia para crescer e gerar empregos. E a melhor maneira de fazê-lo é investindo na construção de novas hidrelétricas, fontes de geração de energia limpa e renovável. Parabéns à Eletronorte pela belíssima revista e pelo competente trabalho que vem desenvolvendo”!

Senador Romero Jucá (PMDB-RR) - em pronunciamento na tribuna do Senado Federal

Furnas“Agradeço pelo envio da excelente Corrente Contínua. Peço

que transmita, em nome da Coordenação de Imprensa de Fur-nas, nossos parabéns e votos de contínuo sucesso aos colegas envolvidos com o projeto”.

Eduardo Franklin Correia - Coordenador de Imprensa Coordenação de Comunicação Social de Furnas

Aberje “Fiquei muito feliz ao receber a revista da Eletronorte. Primo-

rosas a edição e as reportagens. Parabéns!” Anna Chala - Diretora de Assuntos Externos da Associação

Brasileira de Comunicação Empresarial - Aberje

Abrage“Essa edição da Corrente Contínua está realmente muito boa

e, coincidentemente, está alinhada com o contexto editorial que pretendemos adotar na futura revista da Abrage, que, em última análise, deverá ser uma espécie de somatório de artigos publi-cados por nossas associadas. Gostaríamos de passar a receber essa revista regularmente, na versão impressa”

Flávio Antônio Neiva - Presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica - Abrage

Agradecimentos“Agradecemos a gentileza do envio da revista Corrente Contínua

e parabenizamos pela excelente edição”.Assessoria de Comunicação do gabinete

do senador Romeu Tuma (DEM-SP)

“De ordem do d eputado Paulo Rocha (PT-PA), confi rmo o recebimento da revista Corrente Contínua, nº 215 e agradeço cordialmente”.

Raquel Paz - Assessora parlamentar do deputado Federal Paulo Rocha

“Agradeço o envio da revista Corrente Contínua,edição n° 215, do mês de junho, na qual aborda o aniversário de 34 anos desta conceituada Empresa e parabenizo o trabalho quem vem desenvolvendo ao longo de sua existência”.

Deputado Belarmino Lins de Albuquerque - Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas

Entrevista“Acabo de ler a entrevista publicada na revista Corrente Contí-

nua, com o deputado José Otávio Germano, presidente da Comis-são de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. Parabenizo a Eletronorte e a sua equipe pelo excelente trabalho”.

Luiz Carlos Machado Fernandes - Gerência de Relações Institucionais e Parlamentares - Eletronorte

Tucuruí“Adorei o novo formato da revista Corrente Contínua. Gostei

das matérias, em especial a sobre Tucuruí. Mas gostei mesmo foi da qualidade da impressão, o que valoriza e muito a imagem da Empresa, da qual não podemos abrir mão. Parabéns para a equipe toda, fi cou muito bom.”

Regina Caciamani - Assessoria de Controle da Subsidiária Integral Manaus Energia - Eletronorte

Boa leitura“Caros colegas da equipe da Gerência de Imprensa, parabéns

pela edição da revista Corrente Contínua. Dá gosto saborear sua leitura!”

Humberto Gama - Gerência de Geotecnia e Estruturas - Eletronorte

Qualidade gráfi ca“Recebemos e agradecemos pelo envio da publicação Corrente

Contínua, de excelente qualidade gráfi ca e editorial. Ressaltamos ainda que é de grande valia para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia continuar a ser receptora de tão valiosa publicação”.

Clarice Silva Neta - Bibliotecária do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - Belém (PA)

Responsabilidade social“Caro editor, ao ler a nova edição da revista Corrente

Contínua, queremos parabenizar a todo o corpo editorial pela excelência dos tópicos nela tratados. Aproveitamos para agrade-cer a Eletronorte, dentro do tema Responsabilidade Social, pelo auxilio inestimável que vem sendo dado à Universidade Federal do Pará, através de convênio de patrocínio para a implantação de uma Faculdade de Engenharia, em Tucuruí (PA), subunidade do Instituto de Tecnologia desta Instituição (Itec-UFPA), já com três cursos implantados: Engenharia Elétrica, Engenharia Civil e Engenharia Mecânica, e outros em processo de implantação. Isto mostra o esforço desta grande Empresa, em conjunto com a UFPA, em proporcionar às populações dos municípios do entorno da Usina Hidrelétrica Tucuruí, sem dúvida o maior empreendimento da Eletronorte, uma oportunidade inestimável de ascensão social e de desenvolvimento para essa região. Fina-lizamos propondo que a revista enfoque, em próximo número, uma reportagem sobre a implantação e funcionamento desta Faculdade”.

Prof. Dr. José Augusto Lima Barreiros -Professor titular e diretor do Itec-UFPA

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Grudada na paredeSeguro o choroRuindo devagarPeço socorroPelas frestasSussurro doresDescoloridaRenego ao tempoDesalinhadaSopro sombras tardiasApedrejadaEmbaralho letras e datasPinço estrelas trêmulasAssentada no mofoFiltro angústiasEngulo ânsiasComo uma provocação insanaTento penetrar nos sonhosLuto pela manifestação da saudadeMesmo fi xa na superfície ausenteIgnorada em duas frias dimensõesRepito todos os dias anos a fi o:Por que olhas para o ladoSe sou eu quem te chama?

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END

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Texto: Alexandre AcciolyFoto: Rui Faquini

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