correio dos açores - 20-6-2015

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Correio dos Açores, 20 de Junho de 2015 reportagem 3 Sob o tema “O Parque Terra Nostra no Terceiro Século de Vida” o administrador do Grupo Bensaude, Joaquim Bensaude, partici- pou no seminário sobre “Turismo de Jardins dos Açores”, promovido pela Fundação do Jar- dim José do Canto e a Associação Portugue- sa dos Jardins Históricos. Joaquim Bensaude centrou a sua intervenção na época entre 1990 e 1995, “o período da restauração do Parque Terra Nostra” realizada “com a ajuda dos es- pecialistas ingleses”. Os números confirmam que estão na “direcção certa”, que garantiram a conservação de um espaço que lhes “foi le- gado”, que o estão a valorizar e a preparar para legarem à geração vindoura. “Quando iniciamos este projecto foi quase uma obrigação, moral e mais que moral”, reco- nhece o administrador do Grupo Bensaude. O objectivo passava por “equilibrar as contas” e “trazer mais visitantes” e também “trazer mais hóspedes” ao Hotel Terra Nostra. A intervenção levada a cabo foi minuciosa e complexa, como descreveu Joaquim Bensaude aos palestrantes. Confirma que logo em 1996 e 1997 houve um crescimento visível nas visitas e que hoje em dia, “não sem esforço” esclarece, “ultrapassou as expectativas e é hoje em dia um centro de receita” do Grupo. A surpreender destaca tam- bém o crescimento de 30%, “até finais de Maio deste ano”, no número de visitantes nacionais. Plantas endémicas com espaço de destaque no Parque Terra Nostra Na intervenção no Parque Terra Nostra foi também “recomendado que dedicássemos uma área do Parque exclusivamente ao cultivo e ex- posição, para divulgação e preservação, de al- gumas plantas endémicas e nativas”. Joaquim Bensaude garante que consideram esse espaço “muito importante” e confirma que “tem vindo a ser regularmente melhorado e valorizado”. Jardim José do Canto vai dar mais destaque às suas ‘árvores notáveis’ Joaquim Bensaude partilha estratégia seguida no Parque Terra Nostra para aumentar receitas Pessoas formadas e jardineiros apaixonados fazem a diferença “Conseguimos intervir na altura própria”, reconhece Joaquim Bensaúde salien- tando a “ajuda preciosa” do chefe jardineiro, Fernando Costa, que ao longo da apresentação foi referido inúmeras vezes e teve direito a aplausos. O funcionário que há 34 anos colabora no Parque Terra Nostra tem ajudado a garantir que o jardim tem interesse ao “longo das várias estações do ano”, garantindo focos de interesse inovadores e específicos. A título de exemplo, Joaquim Bensaude referiu o caso da planta aquática, Victoria cruziana, que aguenta normalmente o equiva- lente a dois dias: “durante vinte e quatro horas é branca, nas vinte e quatro seguinte é cor-de-rosa e depois afunda-se”. Durante o Verão a planta dá flor continuamente mas graças à intervenção do jardineiro e da sua filha, foi criado um sistema que permite aos visitantes assistir à beleza da flor, fora da época. Com criatividade e empenho o Parque Terra Nostra conseguiu tornar-se atractivo durante todo o ano. Investigador acredita na potencialidade do Turismo de Jardins mas avisa que ainda há algumas fragilidades em São Miguel “São Miguel tem grandes potencialidades para atrair esse nicho de mercado, que é o Tu- rismo de Jardins, mas também tem algumas fragilidades”, avisa Raimundo Quintal, In- vestigador do Centro de Estudos Geográficos IGOT da Universidade de Lisboa. Especifica algumas dessas fragilidades, começando por referir “o estado de não conservação de al- guns espaços”. A título de exemplo refere o jardim criado por António Borges, à beira da Lagoa Azul e o parque Beatriz do Canto nas Furnas: “sofro em ver que aquele Jardim não está aberto todo o ano e que aquele espelho de água não está ali todo o ano, só está em Agosto”. Raimundo Quintal acredita que em al- guns casos a conservação dos espaços não exige grandes intervenções mas sim “tentar colocar no devido sitio”, limpar e cuidar dos jardins. Neste ponto, refere a necessidade de ter “mão-de-obra qualificada”, insistindo que “um jardineiro tem de ser um técnico, tem de ser bem pago, tem de ser acarinhado e tem saber um pouco da arte dos jardins”. Outra das fragilidades referidas é o “in- dividualismo”, ou dito por outras palavras a “falta de associativismo”, referindo-se aos que se satisfazem por terem um “belo jardim”. Raimundo Quintal garante que os turistas que viajam em atraídos pelos jardins, quando vêm a um destino “gostam de ver cinco, seis, sete jardins diferentes, todos os dias querem ver um jardim diferente”. O investigador ga- rante que aqui nos Açores há espaços dife- rentes “o que é preciso agora é perceber que se todos derem as mãos, se houver a defesa de um todo, sem perder a identidade de cada um, julgo que há potencialidades”. Raimundo Quintal considera que a res- ponsabilidade é dos proprietários dos espa- ços mas acredita que o Governo Regional dos Açores e as autarquias também devem “criar condições para os privados singrarem”. De- fende a criação de regulação, “um quadro legal muito claro” que faça uma “discrimi- nação positiva” a quem contribuiu, nem que seja pela produção de oxigénio. “Acreditamos no Turismo de Jardins” diz Joaquim Bensaude Administrador do Grupo Bensaude falava no seminário promovido pela Fundação do Jardim José do Canto e Associação Portuguesa dos Jardins Históricos Parque Terra Nostra tornou-se centro de receita Ao Investigador do Centro de Estu- dos Geográficos IGOT da Universidade de Lisboa, Raimundo Quintal, coube a apre- sentação das “Árvores Notáveis do Jardim Botânico José do Canto”. Esclarece o botâ- nico que “árvores notáveis não são apenas aquelas de grande porte, monumentais”, al- gumas são “pequeninas mas que são verda- deiras raridades” e, acrescenta, “todas elas, comprovadamente, são espécies que estão neste Jardim desde o tempo de José do Can- to”. E por incrível que possa parecer essas espécies do Jardim Botânico José do Canto “resistiram à erosão do tempo”. Raimundo Quintal procurou demonstrar no seminário de ontem que o Jardim José do Canto, “que é património da Região dos Aço- res, é património de Portugal e do Mundo”, se “diferencia” dos outros não só pela “colec- ção de árvores notáveis” mas também, “pelo modo como elas estão relacionadas umas com as outras”. A título de exemplo refere a relação do Jardim José do Canto com Jar- dim do Palácio de Santana, não competem, complementam-se. No seminário que ontem se realizou no Palácio José do Canto, Raimundo Quintal apresentou o “trabalho de requalificação do jardim” que, mantendo o espírito do seu fun- dador, permitirá libertar algumas dessas ar- vores mais notáveis para que, à semelhança do que se faz num museu fiquem “destacadas para que revelem todo o seu valor”. Raimundo Quintal fechou o ciclo de in- tervenções do seminário promovido pela Fundação do Jardim José do Canto e a As- sociação Portuguesa dos Jardins Históricos sobre “Turismo de Jardins dos Açores”. A iniciativa pretendia promover a partilha de “experiências, estratégias e potencial”, pro- curando congregar “especialistas e parceiros numa acção potenciadora da actividade de Turismo nos Jardins dos Açores”. Seminário Botânico e investigador Raimundo Quintal

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1. “Acreditamos no Turismo de Jardins” diz Joaquim Bensaude;2. Jardim José do Canto vaidarmais destaque às suas ‘árvores notáveis’;3. Investigador acredita na potencialidade do Turismo de Jardins mas avisa que ainda há algumas fragilidades em São Miguel

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  • Correio dos Aores, 20 de Junho de 2015 reportagem 3

    Sob o tema O Parque Terra Nostra no Terceiro Sculo de Vida o administrador do Grupo Bensaude, Joaquim Bensaude, partici-pou no seminrio sobre Turismo de Jardins dos Aores, promovido pela Fundao do Jar-dim Jos do Canto e a Associao Portugue-sa dos Jardins Histricos. Joaquim Bensaude centrou a sua interveno na poca entre 1990 e 1995, o perodo da restaurao do Parque Terra Nostra realizada com a ajuda dos es-pecialistas ingleses. Os nmeros confirmam que esto na direco certa, que garantiram a conservao de um espao que lhes foi le-gado, que o esto a valorizar e a preparar para legarem gerao vindoura.

    Quando iniciamos este projecto foi quase uma obrigao, moral e mais que moral, reco-nhece o administrador do Grupo Bensaude. O objectivo passava por equilibrar as contas e trazer mais visitantes e tambm trazer mais hspedes ao Hotel Terra Nostra. A interveno levada a cabo foi minuciosa e complexa, como descreveu Joaquim Bensaude aos palestrantes. Confirma que logo em 1996 e 1997 houve um crescimento visvel nas visitas e que hoje em dia, no sem esforo esclarece, ultrapassou as expectativas e hoje em dia um centro de receita do Grupo. A surpreender destaca tam-bm o crescimento de 30%, at finais de Maio deste ano, no nmero de visitantes nacionais.

    Plantas endmicas com espao de destaque no Parque Terra Nostra

    Na interveno no Parque Terra Nostra foi tambm recomendado que dedicssemos uma rea do Parque exclusivamente ao cultivo e ex-posio, para divulgao e preservao, de al-gumas plantas endmicas e nativas. Joaquim Bensaude garante que consideram esse espao muito importante e confirma que tem vindo a ser regularmente melhorado e valorizado.

    Jardim Jos do Canto vai dar mais destaque s suas rvores notveis

    Joaquim Bensaude partilha estratgia seguida no Parque Terra Nostra para aumentar receitas

    Pessoas formadas e jardineiros apaixonados fazem a diferenaConseguimos intervir na altura prpria, reconhece Joaquim Bensade salien-

    tando a ajuda preciosa do chefe jardineiro, Fernando Costa, que ao longo da apresentao foi referido inmeras vezes e teve direito a aplausos. O funcionrio que h 34 anos colabora no Parque Terra Nostra tem ajudado a garantir que o jardim tem interesse ao longo das vrias estaes do ano, garantindo focos de interesse inovadores e especficos. A ttulo de exemplo, Joaquim Bensaude referiu o caso da planta aqutica, Victoria cruziana, que aguenta normalmente o equiva-lente a dois dias: durante vinte e quatro horas branca, nas vinte e quatro seguinte cor-de-rosa e depois afunda-se. Durante o Vero a planta d flor continuamente mas graas interveno do jardineiro e da sua filha, foi criado um sistema que permite aos visitantes assistir beleza da flor, fora da poca. Com criatividade e empenho o Parque Terra Nostra conseguiu tornar-se atractivo durante todo o ano.

    Investigador acredita na potencialidade do Turismo de Jardins mas avisa que ainda h algumas fragilidades em So Miguel

    So Miguel tem grandes potencialidades para atrair esse nicho de mercado, que o Tu-rismo de Jardins, mas tambm tem algumas fragilidades, avisa Raimundo Quintal, In-vestigador do Centro de Estudos Geogrficos IGOT da Universidade de Lisboa. Especifica algumas dessas fragilidades, comeando por referir o estado de no conservao de al-guns espaos. A ttulo de exemplo refere o jardim criado por Antnio Borges, beira da Lagoa Azul e o parque Beatriz do Canto nas Furnas: sofro em ver que aquele Jardim no est aberto todo o ano e que aquele espelho de gua no est ali todo o ano, s est em Agosto.

    Raimundo Quintal acredita que em al-

    guns casos a conservao dos espaos no exige grandes intervenes mas sim tentar colocar no devido sitio, limpar e cuidar dos jardins. Neste ponto, refere a necessidade de ter mo-de-obra qualificada, insistindo que um jardineiro tem de ser um tcnico, tem de ser bem pago, tem de ser acarinhado e tem saber um pouco da arte dos jardins.

    Outra das fragilidades referidas o in-dividualismo, ou dito por outras palavras a falta de associativismo, referindo-se aos que se satisfazem por terem um belo jardim. Raimundo Quintal garante que os turistas que viajam em atrados pelos jardins, quando vm a um destino gostam de ver cinco, seis, sete jardins diferentes, todos os dias querem

    ver um jardim diferente. O investigador ga-rante que aqui nos Aores h espaos dife-rentes o que preciso agora perceber que se todos derem as mos, se houver a defesa de um todo, sem perder a identidade de cada um, julgo que h potencialidades.

    Raimundo Quintal considera que a res-ponsabilidade dos proprietrios dos espa-os mas acredita que o Governo Regional dos Aores e as autarquias tambm devem criar condies para os privados singrarem. De-fende a criao de regulao, um quadro legal muito claro que faa uma discrimi-nao positiva a quem contribuiu, nem que seja pela produo de oxignio.

    Acreditamos no Turismo de Jardins diz Joaquim Bensaude

    Administrador do Grupo Bensaude falava no seminrio promovido pela Fundao do Jardim Jos do Canto e Associao Portuguesa dos Jardins Histricos

    Parque Terra Nostra tornou-se centro de receita

    Ao Investigador do Centro de Estu-dos Geogrficos IGOT da Universidade de Lisboa, Raimundo Quintal, coube a apre-sentao das rvores Notveis do Jardim Botnico Jos do Canto. Esclarece o bot-nico que rvores notveis no so apenas aquelas de grande porte, monumentais, al-gumas so pequeninas mas que so verda-deiras raridades e, acrescenta, todas elas, comprovadamente, so espcies que esto neste Jardim desde o tempo de Jos do Can-to. E por incrvel que possa parecer essas espcies do Jardim Botnico Jos do Canto resistiram eroso do tempo.

    Raimundo Quintal procurou demonstrar no seminrio de ontem que o Jardim Jos do Canto, que patrimnio da Regio dos Ao-res, patrimnio de Portugal e do Mundo, se diferencia dos outros no s pela colec-o de rvores notveis mas tambm, pelo modo como elas esto relacionadas umas com as outras. A ttulo de exemplo refere a relao do Jardim Jos do Canto com Jar-dim do Palcio de Santana, no competem, complementam-se.

    No seminrio que ontem se realizou no Palcio Jos do Canto, Raimundo Quintal apresentou o trabalho de requalificao do jardim que, mantendo o esprito do seu fun-dador, permitir libertar algumas dessas ar-vores mais notveis para que, semelhana do que se faz num museu fiquem destacadas para que revelem todo o seu valor.

    Raimundo Quintal fechou o ciclo de in-tervenes do seminrio promovido pela Fundao do Jardim Jos do Canto e a As-sociao Portuguesa dos Jardins Histricos sobre Turismo de Jardins dos Aores. A iniciativa pretendia promover a partilha de experincias, estratgias e potencial, pro-curando congregar especialistas e parceiros numa aco potenciadora da actividade de Turismo nos Jardins dos Aores.

    Seminrio

    Botnico e investigador Raimundo Quintal