correa_ra_06_t_m_geo-rebaixamento.pdf

122
ESTUDO DE REBAIXAMENTO DO LENÇOL D’ÁGUA EM ARENITO PARA IMPLANTAÇÃO DE ESTRUTURAS DE PCH’S Ronaldo Adriano Corrêa DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: ________________________________________________ Prof. Francisco de Rezende Lopes, Ph.D. ________________________________________________ Prof. Leandro de Moura Costa Filho, Ph.D. ________________________________________________ Profa. Bernadete Ragoni Danziger, D.Sc. ________________________________________________ Prof. Ian Schumann Marques Martins, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL SETEMBRO DE 2006

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ESTUDO DE REBAIXAMENTO DO LENÇOL D’ÁGUA EM ARENITO PARA

IMPLANTAÇÃO DE ESTRUTURAS DE PCH’S

Ronaldo Adriano Corrêa

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA

CIVIL.

Aprovada por:

________________________________________________

Prof. Francisco de Rezende Lopes, Ph.D.

________________________________________________

Prof. Leandro de Moura Costa Filho, Ph.D.

________________________________________________

Profa. Bernadete Ragoni Danziger, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Ian Schumann Marques Martins, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2006

Page 2: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

ii

ESTUDO DE REBAIXAMENTO DO LENÇOL D’ÁGUA EM ARENITO PARA

IMPLANTAÇÃO DE ESTRUTURAS DE PCH’S

CORRÊA, RONALDO ADRIANO

Estudo de Rebaixamento do Lençol d’Água

em Arenito para Implantação de Estruturas

de PCH’s

[Rio de Janeiro] 2006

X, 112p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

Engenharia Civil, 2006)

Dissertação - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Escavação em Arenito

2. Rebaixamento de Lençol d’Água

I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )

Page 3: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

iii

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ESTUDO DE REBAIXAMENTO DO LENÇOL D’ÁGUA EM ARENITO PARA

IMPLANTAÇÃO DE ESTRUTURAS DE PCH’S

Ronaldo Adriano Corrêa

Setembro/2006

Orientador: Francisco de Rezende Lopes

Programa: Engenharia Cívil

Esta dissertação aborda o controle de percolação em escavações profundas para

implantação de estruturas de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s), mais

particularmente em arenito, através do rebaixamento do lençol d’água com poços

profundos. O trabalho apresenta dois estudos de caso de obras em Mato Grosso. Os

estudos incluem a comparação de previsões de vazões de bombeamento (e

rebaixamento de lençol d'água) obtidas através de métodos correntes de

dimensionamento (formulas para poços e trincheiras) e de modelagem numérica com

o comportamento real monitorado no campo. Os resultados mostram a importância do

coeficiente de permeabilidade in situ no dimensionamento do sistema de

rebaixamento, e, mais, a definição de um modelo geotécnico representativo do maciço

de fundação. Ainda, indicam vantagens em se empregar métodos de análise mais

sofisticados, como o Método de Elementos Finitos, na simulação do comportamento

do rebaixamento do lençol d’água em situações de condições de contorno complexas

ou meios estratificados.

Page 4: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

iv

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master in Science (M.Sc.)

THE STUDY OF DEWATERING FOR THE CONSTRUCTION OF STRUCTURES FOR

SMALL DAMS IN SANDSTONE

Ronaldo Adriano Corrêa

September/2006

Advisor: Francisco de Rezende Lopes

Department: Civil Engineering

This work deals with the seepage control for deep excavation in sandstone for the

construction of structures of small dams. The dewatering systems in these

circumstances make use of deep wells with pumps. Two case studies of dams in the

State of Mato Grosso are presented. A comparison of the total flow of the dewatering

system obtained with current design methods (simple formulae for wells and trenches)

and numerical methods with the real measured values in the field is made. The results

show the importance of the correct evaluation of the in-situ permeability coefficient of

the soils, and more, the need for the definition of a comprehensive

geological/geotechnical model of the foundation mass. The results indicate that simple

formulae for wells and trenches - correctly applied - were able to predict the total flow

of the dewatering system with a reasonable accuracy. On the other hand, more

sophisticated methods of analysis, such as the Finite Element Method, can be used

with advantage in situations where complex boundary conditions and heterogeneity

occur.

Page 5: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

v

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu filho,

ainda por nascer, e a minha esposa,

companheira incansável, paciente e

sempre presente nesta investida. Dedico

também aos meus demais familiares e

amigos, que foram pacientes e

compreensivos nas inúmeras vezes que

me fiz ausente em virtude do Mestrado.

Page 6: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

vi

AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador Francisco R. Lopes, pelo apoio, entusiasmo e confiança depositados nesta tese. Ao amigo José Bonifácio Ribas, engenheiro coordenador dos projetos das referidas PCH’s, pelos esclarecimentos relacionados às obras e por seu companheirismo. Ao engenheiro Mohy Kamel, diretor da MEK ENGENHARIA, pelo incentivo e a oportunidade de desenvolver este trabalho. Ao GRUPO ATIAIA, pela oportunidade de expor os dados que consubstanciaram a presente tese.

Aos colegas da MEK, do escritório e de campo, pelo apoio incondicional na coleta de informações de projeto e dados de campo.

Page 7: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

vii

INDICE:

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO . 1

CAPÍTULO 2 CONTROLE DE PERCOLAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA. 4

2.1 ÁGUA SUBTERRÂNEA. 4

2.1.1 Escoamento em meios porosos 4

2.1.2 Lei de Darcy 7

2.1.3 Ação mecânica da água nas escavações 9

2.1.4 Coeficiente de permeabilidade 10

2.1.5 Influência da geologia e tipos de aqüíferos 12

2.2 MÉTODOS USUAIS DE CONTROLE DE PERCOLAÇÃO. 13

2.2.1 Bombeamento direto 13

2.2.2 Ponteiras filtrantes (well-points) 14

2.2.3 Poços profundos 15

2.3 CÁLCULO DA VAZÃO DE BOMBEAMENTO – FÓRMULAS DE USO CORRENTE 16

2.3.1 Fluxo em Poço circular 16

(a) Poço circular com fonte de alimentação circular 17

(b) Poço único junto de fonte linear 19

2.3.2 Fluxo em trincheira ou vala 22

CAPÍTULO 3 MÉTODO ELEMENTOS FINITOS 25

3.1 O MÉTODO ELEMENTOS FINITOS 25

3.2 ANÁLISE DE PERCOLAÇÃO 26

3.2.1 Equações da Percolação 26

3.3 ANALOGIA ENTRE O PROBLEMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO E O PROBLEMA DE

PERCOLAÇÃO 29

CAPÍTULO 4 ESTUDO DE CASO I – PCH CANOA QUEBRADA 30

4.1 CARACTERÍSTICAS DA OBRA 30

Page 8: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

viii

4.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS 33

4.2.1 Resultados dos ensaios de campo 34

(a) Ensaios de SPT 34

(b) Ensaios de Infiltração 36

4.3 PROJETO DE ESCAVAÇÃO E REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA 37

4.4 PREVISÃO DE VAZÃO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO. 41

4.4.1 Condições de contorno e coeficiente de permeabilidade 41

(a) Fluxo no maciço de fundação e fontes de alimentação 41

(b) Geometria da escavação para análise de percolação 41

(c) Permeabilidade do maciço 42

4.4.2 Fórmulas de uso corrente 44

a) Análise junto ao rio 44

b) Análise do lado de terra 47

4.4.3 Modelagem numérica em elementos finitos 50

a) Análise de percolação 50

b) Vazão de bombeamento calculada 52

4.4.4 Resumo das vazões de bombeamento previstas 52

4.5 MEDIÇÕES COM INSTRUMENTAÇÃO E DADOS DE CAMPO 53

4.5.1 Aspectos Geológico-geotécnicos observados durante a escavação 53

4.5.2 Monitoramento das Vazões de Bombeamento. 56

a) Poços profundos 57

b) Poços e ponteiras 58

c) Resumo das vazões de bombeamento medidas 59

4.5.3 Monitoramento dos Níveis de Rebaixamento 60

4.6 DISCUSSÃO 62

Page 9: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

ix

4.7 RETRO-ANÁLISE DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE IN SITU 62

4.7.1 Estudo do efeito de fronteira. 62

4.7.2 Estudos do Coeficiente de Permeabilidade. 63

(a) Anisotropia na fundação 63

(b) Aumento isotrópico da permeabilidade 67

CAPÍTULO 5 ESTUDO DE CASO II – PCH GARGANTA DA JARARACA 69

5.1 CARACTERÍSTICAS DA OBRA 69

5.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS 70

5.2.1 Resultados dos ensaios de campo 74

(a) Ensaios de SPT 74

(b) Ensaios de infiltração e perda d’água 74

5.3 PROJETO DE ESCAVAÇÃO E REBAIXAMENTO 75

5.4 PREVISÃO DE VAZÃO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO. 78

5.4.1 Condições de contorno e coeficiente de permeabilidade 79

(a) Fluxo no maciço de fundação e fontes de alimentação 79

(b) Geometria da escavação para análise de percolação 79

(c) Permeabilidade do maciço 80

5.4.2 Fórmulas de uso corrente 82

(a) Análise junto ao rio 82

(b) Análise do lado de terra 86

5.4.3 Modelagem numérica em elementos finitos 89

a) Análises de percolação 90

b) Vazão de bombeamento calculada 94

5.5 MEDIÇÕES COM INSTRUMENTAÇÃO E OUTROS DADOS DE CAMPO 94

5.5.1 Aspectos Geológico-geotécnicos observados durante a escavação 94

Page 10: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

x

5.5.2 Monitoramento das vazões de bombeamento. 97

(a) Resumo das vazões de bombeamento medidas 99

5.5.3 Monitoramento dos níveis de rebaixamento 99

5.6 DISCUSSÃO 101

5.7 RETRO-ANÁLISE DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE IN SITU 101

(a) Anisotropia na fundação 101

(b) Aumento isotrópico da permeabilidade 105

CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 108

6.1 CONCLUSÕES 108

6.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 110

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 112

Page 11: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

1

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO .

A retomada do crescimento econômico do país e a falta de investimento no setor

de geração de energia nas últimas décadas tornaram crítico o fornecimento de energia

elétrica para o setor industrial. Isso levou o Governo Federal a tomar medidas para

ampliar a matriz energética do país. Uma delas foi motivar a iniciativa privada a investir

na geração de energia elétrica nas regiões centrais do país, com potencial energético

ainda pouco explorado e carentes de desenvolvimento. Neste segmento destaca-se o

Programa de Fontes de Energia Alternativas (PROINFA), coordenado pela Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), do qual faz parte a geração de energia através

de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s), assim denominadas por terem sua

potência instalada limitada a 30MW.

A construção de PCH’s nas regiões centrais do país se depara com condições

geológicas diferentes daquelas comumente encontradas, por exemplo, em obras

realizadas na região sudeste. É o caso da região centro-oeste do país, onde a

geologia regional é marcada pela ocorrência de arenito com diferentes

comportamentos geotécnicos ao longo da região.

O crescente número de PCH’s em construção e a serem construídas na região

centro-oeste e a carência de publicações de relatos geotécnicos de obras desta

natureza na região, motivou a pesquisa que resultou na presente tese. Nela são

apresentados dois estudos de caso de PCH’s construídas em arenito, onde a

implantação das estruturas de concreto demandou escavações profundas com

rebaixamento de lençol d’água, empregando poços profundos com bombas

submersas.

As obras em estudo são referentes às PCH’s “Canoa Quebrada” e “Garganta da

Jararaca”, ambas localizadas no Estado do Mato Grosso, na Chapada do Parecis,

região compartimentada por arenitos das Formações Salto das Nuvens e Utiaritis.

A presente pesquisa busca avaliar previsões do comportamento do rebaixamento

do lençol d’água a partir de métodos correntes de dimensionamento e modelagem

Page 12: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

2

numérica pelo Método dos Elementos Finitos através da comparação com os dados do

monitoramento de campo durante a operação do sistema.

Como parte do processo de avaliação é examinada a questão da estimativa do

coeficiente de permeabilidade dos principais materiais sujeitos a percolação.

Inicialmente, no capítulo 2, são revisados conceitos básicos sobre controle de

percolação de água subterrânea, onde são apresentados os métodos correntes de

dimensionamento dos sistemas de rebaixamento, assim como, os tipos de sistemas

mais utilizados.

No capítulo 3, são revisados conceitos básicos sobre o Método de Elementos

Finitos e apresentado o programa computacional empregado nas análises de

percolação.

Os capítulos 4 e 5 tratam dos Estudos de Caso propriamente ditos, sendo o

primeiro referente à PCH Canoa Quebrada e o segundo à PCH Garganta da Jararaca.

Em cada um deles são apresentados: características da obra, investigações de

campo, estimativa do coeficiente de permeabilidade, previsões de rebaixamento e

dados de campo. Ao final de cada capítulo é feita uma comparação entre as previsões

de rebaixamento e os dados de campo e apresentada uma breve discussão desta

levando em conta os seguintes aspectos:

• Eficiência do sistema de rebaixamento em locais com predominância de

arenito;

• Verificação da qualidade das investigações de campo, através de retro-análise

das medições de vazão de bombeamento;

• Correlação das características geotécnicas do maciço de fundação com a

eficiência do rebaixamento;

• Avaliação das vantagens e desvantagens de se empregar métodos de análise

como Método de Elementos Finitos e ensaios de campo mais sofisticados,

como ensaios de bombeamento.

Finalmente, no capítulo 6, são apresentadas as conclusões e sugestões para

pesquisas futuras.

Page 13: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

3

Espera-se que os dados de campo disponibilizados e as conclusões obtidas nesta

tese sejam úteis a outras obras de mesma natureza na região centro-oeste, além de

estimular pesquisas futuras.

Page 14: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

4

CAPÍTULO 2 CONTROLE DE PERCOLAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA.

2.1 ÁGUA SUBTERRÂNEA. O regime de água no subsolo é de fundamental importância em escavações

profundas que devem ser executadas a seco. Exemplo disso são as escavações em

materiais arenosos com presença de nível d’água elevado em relação ao fundo da

escavação. Nestes casos o maciço pode ter suas características físicas

comprometidas em decorrência da ação mecânica da água de percolação, tendo como

conseqüência problemas como: condições impróprias para tráfego de equipamentos,

perda da capacidade de suporte do terreno e comprometimento das condições de

estabilidade das escavações. Para prevenir e evitar problemas desta natureza é

necessário que seja feito um controle de percolação adequado a cada tipo de

escavação. Nos sub-itens seguintes são abordados os principais aspectos sobre água

subterrânea que condicionam o controle de percolação nas escavações.

2.1.1 Escoamento em meios porosos

O escoamento de água no subsolo se dá através de duas zonas, de acordo com o

teor de umidade. A primeira zona ocorre junto à superfície do terreno e é caracterizada

como zona de aeração ou vadosa, assim denominada por ter os vazios intergranulares

preenchidos por ar, além de água. A outra zona ocorre abaixo da zona vadosa e

corresponde à zona de saturação, assim denominada por ter os vazios intergranulares

preenchidos com água apenas. A zona saturada é de grande importância para o

controle de percolação nas escavações, pois é nela que o ocorre fluxo de água

subterrânea.

O fluxo de água subterrânea é função da carga hidráulica na zona saturada, sendo

esta definida pela equação de Bernoulli:

zpg

vHw

++=γ2

2

(2.1)

onde: H = carga total

v = velocidade de escoamento

g = aceleração da gravidade

Page 15: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

5

z = elevação (em relação a um referencial)

p = pressão na água

γw = peso específico da água

As parcelas da carga hidráulica são conhecidas como:

gv2

2

= carga cinética

w

= carga piezométrica ou de pressão

z = carga de posição.

No caso de fluxo permanente de um fluido perfeito, a carga total H é constante

(Teorema de Bernoulli). Contudo, as parcelas referentes às cargas de posição,

piezométrica e cinética variam, conforme ilustrado na Figura 2.1.

γγ γ

Figura 2.1 - Variação das cargas de posição, piezométrica e cinética, em fluxo permanente.

A velocidade de percolação nos solos, em geral, é muito baixa. Assim, a parcela

referente à energia cinética pode ser suprimida sem perda de precisão. Então, para os

solos, pode-se escrever:

zpHw

+=γ

(2.2)

Page 16: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

6

Para que haja fluxo em um meio saturado deve haver uma diferença de carga

hidráulica total (ou potencial hidráulico) no domínio do fluxo. A diferença de potencial,

ou perda de carga, corresponde à parcela de energia dissipada para vencer a

resistência que o meio oferece à passagem da água. Assim, o fluxo ocorre no sentido

em que o potencial hidráulico é decrescente.

Na prática, uma grande parte dos problemas de percolação pode ser resolvida

considerando-se fluxo bidimensional estacionário em meio isotrópico. A equação de

percolação nesse caso é

02

2

2

2

=∂∂

+∂∂

yH

xH

(2.3)

A solução para equação 2.3 pode ser representada graficamente através do

traçado de rede de fluxo, conforme exemplo apresentado na Figura 2.2. Neste

exemplo é considerado meio isotrópico e homogêneo; as condições de contorno são

definidas em função dos níveis d’água junto ao terrapleno (posição 1) e no fundo da

escavação (posição 2).

cortina

- Linhas de fluxo- Equipontenciais

LEGENDA:

canal de fluxo

queda de potencial

1

2

Figura 2.2 – Exemplo de solução gráfica para fluxo bidimensional estacionário em meio isotrópico e homogêneo: rede de fluxo.

Page 17: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

7

O traçado de rede de fluxo é útil na interpretação do comportamento geral do

escoamento subterrâneo, pois sendo conhecidas as cargas piezométricas ao longo do

domínio de fluxo, que podem ser obtidas através de instrumentação e/ou sondagens

de reconhecimento, é possível traçar uma rede fluxo. Com isso, é possível identificar

as regiões de potenciais máximo e mínimo e determinar as áreas de recarga e

descarga do aqüífero. Na Figura 2.3 é apresentado um exemplo de escoamento

subterrâneo expresso através de rede de fluxo em planta. Trata-se de uma situação

hipotética de um aqüífero confinado drenado por uma escavação à margem de um rio.

Nota-se que a região de descarga corresponde ao perímetro da escavação e as

regiões de recarga compreendem o rio e o limite do lençol freático onde o nível do

d’água permanece estático.

RIO

ESCAVAÇÃO

LENÇOL FREÁTICO

- Linhas de fluxo- Equipontenciais

LEGENDA:

Figura 2.3 – Exemplo de um aqüífero drenado por uma escavação.

2.1.2 Lei de Darcy

O engenheiro francês Henry Darcy, em 1856, após experiências com um

permeâmetro, semelhante ao apresentado na Figura 2.4, definiu a velocidade

aparente de percolação como:

AQv = (2.4)

Page 18: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

8

onde

Q = vazão

A = área da seção do permeâmetro

Figura 2.4 – Experimento com permeâmetro para determinação da velocidade aparente de percolação.

Define-se gradiente hidráulico como

LHi ∆

= (2.5)

onde

∆H = perda de carga total

L = comprimento do trecho de percolação

DARCY (1856) determinou que a velocidade de aparente percolação é diretamente

proporcional ao gradiente hidráulico, ou

ikv ×= (2.6)

Page 19: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

9

onde k é um parâmetro característico do meio poroso, que expressa a maior ou menor

facilidade com que a água percola através do meio, e é denominado coeficiente de

permeabilidade. A Equação 2.6 é denominada Lei de Darcy e é válida para fluxo

laminar, podendo ser empregada na solução de problemas de percolação em meios

porosos, em particular para solos, onde as velocidades de percolação são baixas

(fluxo laminar).

2.1.3 Ação mecânica da água nas escavações

Durante a percolação, parte da energia da água é transmitida para o meio poroso

através de atrito viscoso. Esta ação da água sobre o meio poroso é denominada de

força de percolação e é calculada por

Wij γ×= (2.7)

onde j = força de percolação por unidade de volume

i = gradiente hidráulico

γw = peso específico da água.

Sendo j uma força de massa com direção e sentido do gradiente hidráulico esta pode

causar:

• Alterações no estado de tensões efetivas no maciço escavado, podendo

chegar à condição movediça no fundo da escavação (σ’v=0), ver Figura 2.5a.

• Erosão interna, regressiva, também conhecida como piping, possibilitando a

formação de caminhos preferenciais de percolação, que pode comprometer a

estabilidade da escavação, ver Figura 2.5b.

• Ruptura de fundo por subpressão em escavações cujo fundo é constituído por

uma camada impermeável, pouco espessa, sobrejacente a um horizonte

permeável onde há um aqüífero confinado, ver Figura 2.5c.

Page 20: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

10

ocorrênciade piping

cortinacortina

cortina

σv'=0

j

(a)

(c)

(b)

Figura 2.5 – Situações típicas da ação mecânica da água nas escavações: a) condição

movediça σ’v=0; b) erosão regressiva (piping) e c) ruptura de fundo por subpressão em

camada impermeável.

Para maior aprofundamento sobre o tema Fluxo Bidimensional consultar LAMBE e

WHITMAN, 1969.

2.1.4 Coeficiente de permeabilidade

O coeficiente de permeabilidade é o parâmetro geotécnico que apresenta a maior

variação; por exemplo, entre uma areia pura e outra com presença de pedregulho, a

permeabilidade pode variar 1000 vezes (THERZAGHI e PECK, 1948).

Na prática, o coeficiente de permeabilidade do maciço é estimado das seguintes

formas:

• Ensaios de laboratório com amostras indeformadas ou moldadas nas

condições de campo. Dentre os ensaios de laboratórios para determinação da

permeabilidade dos solos destacam-se os permeâmetros de carga constante e

Page 21: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

11

de carga variável, o primeiro destinado a solos arenosos e o segundo a solos

siltosos e argilosos.

• Ensaios in situ, destacam-se os ensaios de infiltração em sondagem e os

ensaios de bombeamento. Embora os ensaios de infiltração apresentem

resultados menos precisos que os ensaios de bombeamento, eles são práticos

e podem ser executados nos próprios furos das sondagens investigatórias

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 1981).

• Correlações empíricas entre permeabilidade e granulometria. Dentre as

correlações existentes está a de Hazen, citada em VELLOSO,1988, válida para

areias fofas e uniformes:

210100 Dk ×= (unidades: cm e s) (2.8)

sendo D10 = diâmetro efetivo

Na Tabela 2.1 são apresentados valores típicos de coeficiente de permeabilidade

para uma variedade de solos de natureza arenosa.

Tabela 2.1 – Valores típicos de coeficiente de permeabilidade (VELLOSO, 1988)

Tipo de solo Coeficiente de permeabilidade (k) Silte arenoso 5x10-4 a 2x10-3 cm/s Areia siltosa 2x10-3 a 5x10-3 cm/s Areia muito fina 5x10-3 a 2x10-2 cm/s Areia fina 2x10-2 a 5x10-2 cm/s Areia fina a média 5x10-2 a 1x10-1 cm/s Areia média 1x10-1 a 1,5x10-1 cm/s Areia média a grossa 1,5x10-1 a 2x10-1 cm/s Areia grossa a pedregulho 2x10-1 a 5x10-1 cm/s

Aparentemente os valores de coeficiente de permeabilidade apresentados na

Tabela 2.1 correspondem ao estado fôfo dos solos.

Page 22: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

12

2.1.5 Influência da geologia e tipos de aqüíferos

A formação dos aqüíferos e sua distribuição em um sistema geológico dependem

da litologia, estratificação e feições estruturais existentes no maciço. A litologia tem um

caráter físico e leva em conta a composição mineral, a granulometria e a textura dos

sedimentos e derrames que formam o sistema geológico. A estratificação descreve as

relações geométricas e cronológicas entre as camadas que formam os sistemas

geológicos de origem sedimentar, condicionando a eles um comportamento

anisotrópico. As feições estruturais, como: clivagem, fraturamento, dobras e diáclases,

que são produzidas por deformações ocorridas após a deposição ou cristalização,

caracterizam as propriedades geométricas dos sistemas geológicos. Em depósitos

inconsolidados a litologia e a estratigrafia representam os fatores de maior importância

na formação dos aqüíferos. Para maior conhecimento sobre a influência da geologia

na formação dos aqüíferos consultar FREEZE e CHERRY (1979).

Os aqüíferos podem ser de dois tipos: confinados e freáticos. Os aqüíferos

confinados são aqueles em que água encontra-se sob pressão superior à atmosférica,

que pode ser decorrência do confinamento da água causado pela presença de uma

camada impermeável sobrejacente a uma camada permeável. O aqüífero freático,

também conhecido como livre, é aquele onde não há confinamento, e a superfície da

água encontra-se sob pressão atmosférica. Um caso particular de aqüífero livre são os

lençóis suspensos, que são decorrentes da existência de camadas impermeáveis com

forma côncava em meio a um substrato permeável, que ao serem preenchidas pela

água que infiltra da superfície forma reservatórios em elevação superior ao nível

freático do terreno. Na Figura 2.6 são ilustradas as diversas formas de ocorrência de

água subterrânea na natureza, estas podem ser vistas com maior detalhe em

AZEVEDO e ALMEIDA FILHO (1998).

Figura 2.6 – Tipos de aqüíferos (AZEVEDO e ALMEIDA FILHO, 1998)

Page 23: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

13

2.2 MÉTODOS USUAIS DE CONTROLE DE PERCOLAÇÃO.

Os métodos de controle de percolação têm como principal objetivo disciplinar o

fluxo d’água no maciço, seja através do rebaixamento do lençol d’água, seja

controlando as surgências d’água no interior da escavação através de filtros e/ou

drenos. Em geral, quando possível, o rebaixamento do lençol d’água é a forma mais

eficiente de controlar a percolação. A seguir são apresentados os tipos de sistemas de

rebaixamento de lençol d’água correntemente empregados no controle de percolação

nas escavações.

2.2.1 Bombeamento direto

Em escavações de pequena profundidade, tipicamente menor que 3m, o nível

freático no maciço de fundação pode em muitos casos ser rebaixado através do

bombeamento direto em trincheiras ou fossas abertas ao longo da base dos taludes de

escavação. Neste processo a água que percola através do maciço e infiltra na

trincheira é bombeada para fora da área de trabalho, mantendo-se o nível d’água na

trincheira abaixo do fundo da escavação. Um exemplo de aplicação desta prática é

apresentado na Figura 2.7.

Figura 2.7 – Rebaixamento através de bombeamento direto em trincheira.

Page 24: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

14

2.2.2 Ponteiras filtrantes (well-points)

As ponteiras são constituídas de um tubo metálico ou de PVC geralmente com

diâmetro entre 11/4” e 11/2”; em uma das extremidades do tubo, numa extensão de

aproximadamente 1m, este é perfurado e envolto por tela de nylon ou geotêxtil; este

trecho é denominado ponteira filtrante propriamente dita. A ponteira é conectada a um

tubo coletor, constituído de um tubo metálico com diâmetro de 4”, que tem acoplado a

ele um dispositivo de bombeamento auxiliado por vácuo.

As ponteiras têm como principal limitação de uso a altura de rebaixamento, que em

geral é inferior a 5m. Entretanto, as ponteiras podem ser empregadas em escavações

profundas, desde que sejam instaladas em vários níveis ao longo do talude de

escavação, respeitando-se a limitação de uso. Na Figura 2.8 é ilustrada uma situação

de rebaixamento empregando vários níveis de ponteiras.

Figura 2.8 – Rebaixamento através de ponteiras filtrantes instaladas em níveis.

As ponteiras também são utilizadas para complementar outros sistemas de

rebaixamento, por exemplo, em escavações de grande extensão onde o sistema de

rebaixamento, instalado perifericamente à escavação, não é suficiente para atingir o

nível de rebaixamento esperado na região central da escavação.

Page 25: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

15

2.2.3 Poços profundos

O sistema de rebaixamento com poços profundos é ideal para escavações de

grande monta, onde os níveis de rebaixamento são elevados e as vazões de

bombeamento são altas. Os sistemas de esgotamento dos poços podem ser de dois

tipos: com emprego de injetores e com emprego de bombas submersíveis de eixo

vertical.

Os poços com injetores geralmente têm diâmetro entre 20 e 30cm e são equipados

internamente com um tubo ranhurado, cujo diâmetro depende das dimensões dos

injetores. Este tubo também é envolto com tela de nylon e o espaço entre as paredes

do tubo e do furo é preenchido com areia devidamente graduada. Em geral, este tipo

de poço se limita a 40m de profundidade.

O segundo tipo também é equipado internamente com um tubo ranhurado envolto

com tela de nylon, e tem no interior instalada uma bomba de eixo vertical juntamente

com os eletrodos responsáveis pelo acionamento automático da mesma. Em geral, o

tubo ranhurado tem diâmetro mínimo de 20cm, função dos componentes em seu

interior. Conseqüentemente o furo de instalação tem diâmetro mínimo de 40cm.

Na prática os dois tipos de poços são bastante eficientes e atendem a maioria dos

casos de rebaixamento, sendo a escolha por um deles, na maioria das vezes,

determinada a partir de uma análise econômica. Contudo, há casos onde as vazões

são muito altas e os poços com bombas submersíveis são mais adequados. Ainda, o

sistema com poços profundos causa menos interferência na praça de trabalho. Na

figura 2.9 é ilustrada uma situação de rebaixamento empregando poços profundos

com bombas submersíveis. Para detalhes sobre o funcionamento dos injetores e

bombas de eixo vertical consultar ALONSO (1999).

Page 26: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

16

Figura 2.9 – Rebaixamento através de poços profundos.

2.3 CÁLCULO DA VAZÃO DE BOMBEAMENTO – FÓRMULAS DE USO CORRENTE

O dimensionamento dos sistemas de rebaixamento se inicia pela determinação da

vazão a ser bombeada para se obter os níveis de rebaixamento desejados. As

fórmulas de uso corrente levam em conta os tipos de aqüífero e as fontes de

alimentação. No caso de aqüíferos freáticos, as fórmulas se baseiam nas hipóteses

para solução de fluxo não confinado propostas por Dupuit em 1863, como citado por

NÚNŨZ (1975). Nos sub-itens seguintes é apresentada a formulação correntemente

empregada para determinação da vazão de bombeamento em situações típicas de

rebaixamento em obras de engenharia como: metrô, prédios com vários níveis de

subsolo, escavações profundas próximas a corpos d’água, etc.

2.3.1 Fluxo em Poço circular

Quando o sistema de rebaixamento é constituído de poços dispostos ao longo de

uma poligonal fechada, é razoável admitir que o sistema seja equivalente a um poço

único com seção transversal circular, com raio rw, cuja área é equivalente àquela

contida pela poligonal original.

Page 27: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

17

O raio de influência do rebaixamento, denominado Ri, é estimado a partir da

expressão empírica de Sichardt citada em MANSUR e KALFMAN (1962):

khHRi W )(3000 −= (unidades: m e s) (2.9)

Os poços podem atuar em três tipos de aqüífero: gravitacional, confinado e semi-

gravitacional (misto). Ainda, as fontes de alimentação podem ser circular ou linear.

(a) Poço circular com fonte de alimentação circular

Quando as condições de contorno do poço são uniformes, admite-se que a fonte de

alimentação do sistema é circular. As condições típicas de rebaixamento são

ilustradas nas Figuras 2.10 a 2.12. Juntamente com as figuras são indicadas as

respectivas fórmulas para determinação de vazão, denominada QW, citadas em

MANSUR e KAUFMAN (1962).

• Fluxo gravitacional

Figura 2.10 – Rebaixamento em aqüífero gravitacional com fonte circular (VELLOSO, 1988).

Page 28: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

18

)ln(

)( 22

w

ww

rRi

hHkQ

−××=

π (2.10)

• Fluxo confinado

Figura 2.11 – Rebaixamento em aqüífero confinado com fonte circular (VELLOSO, 1988).

)ln(

)(2

w

wW

rRi

hHDkQ

−××××=

π (2.11)

Page 29: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

19

• Fluxo semi-gravitacional

Figura 2.12 – Rebaixamento em aqüífero semi-gravitacional com fonte circular (VELLOSO, 1988).

)ln(

)2( 22

w

wW

rRi

hDHDkQ

−−××××=

π (2.12)

(b) Poço único junto de fonte linear

O fluxo a um poço circular único devido a uma fonte linear pode ser estimado a

partir do Método do Poço Virtual proposta por FORCHHEIMER e DACHLER, citado

por MANSUR e KALFMAN 1962. Este método consiste em dispor em planta o poço de

bombeamento e a fonte linear, e em seguida projetar um segundo poço, idêntico ao

primeiro, de modo que ambos os poços sejam eqüidistante à fonte linear (espelhados).

O primeiro poço é denominado real e o segundo virtual. O rebaixamento do lençol

d’água é computado a partir do rebaixamento em um ponto P que fica distante r do

eixo do poço real e r’ do eixo do poço virtual. Este procedimento é ilustrado na Figuras

2.13a e 2.13b.

Page 30: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

20

Figura 2.13 – (a) disposição dos poços em relação a fonte linear e (b) perfil do rebaixamento - aqüífero gravitacional (MANSUR e KALFMAN 1962).

O rebaixamento no ponto P em um aqüífero gravitacional pode ser obtido com:

i

ni

iwi r

RQk

hH ln11

22 ∑=

=

=−π

(2.13)

onde H e h são as cargas hidráulicas junto à fonte linear e no ponto P,

respectivamente, e R=Ri.

Page 31: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

21

Sendo o fluxo oriundo do poço real considerado positivo e o oriundo do poço virtual

negativo e que os poços apresentem o mesmo raio de influência Ri, tem-se:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −=−

'lnln122

rRiQ

rRiQ

khH wwπ

(2.14)

ou

rrQ

khH w

'ln122

π=− (2.15)

O rebaixamento devido ao bombeamento do poço real pode ser obtido considerando-

se:

r=rw e r’=Ri

Assim:

www r

RiQk

hH ln122

π=− (2.16)

Para Ri= 2L a vazão correspondente ao rebaixamento é dada por:

)2ln(

)( 22

w

ww

rL

hHkQ −=

π (2.17)

As vazões correspondentes aos aqüíferos confinado e semi-gravitacional podem

ser obtidas de forma análoga à exposta acima:

• AqüÍfero confinado

)2ln(

)(2

w

wW

rL

hHDkQ

−=

π (2.18)

• Aqüífero semi-gravitacional

)2ln(

)2( 22

w

wW

rL

hDDHkQ

−−=

π (2.19)

Page 32: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

22

2.3.2 Fluxo em trincheira ou vala

Quando o sistema de rebaixamento é constituído por uma linha de poços é possível

admitir que esta seja equivalente a uma trincheira alimentada por uma fonte linear. As

equações para determinação de fluxo e níveis de rebaixamento são baseadas na

hipótese de que a trincheira e a fonte de alimentação têm comprimento infinito, sendo

suprimida a diferença de comportamento do fluxo nas extremidades da trincheira. As

situações típicas de rebaixamento são ilustradas nas Figuras 2.18 a 2.20. Em seguida

a cada figura é apresentada a respectiva fórmula para determinação de vazão,

denominada QT, sendo L a distância de influência do rebaixamento e x o comprimento

da trincheira paralela a fonte linear.

• Fluxo gravitacional

ε

ε

Figura 2.14 – Rebaixamento através de bombeamento direto em trincheira - fluxo gravitacional (MANSUR e KALFMAN 1962).

( )22

2whH

LxkQT −

×= (2.20)

Page 33: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

23

• Fluxo confinado

ε

ε

Figura 2.15 – Rebaixamento através de bombeamento direto em trincheira – fluxo artesiano (MANSUR e KALFMAN 1962).

( )WT hHL

xDkQ −××

= (2.21)

• Fluxo semi-gravitacional

ε

ε

Figura 2.16 – Rebaixamento através de bombeamento direto em trincheira – fluxo semi-gravitacional (MANSUR e KALFMAN 1962).

Page 34: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

24

( )2222

whDHDLxkQT −−××

×= (2.22)

Nos estudos preliminares de projeto onde não se conhece a distância de influência

do rebaixamento, Li, esta pode ser estimada com base no raio de influência

determinado pela Equação 2.9.

No caso da fonte de alimentação ser conhecida, a distância de influência do

rebaixamento pode ser definida em função da proximidade da fonte de alimentação,

sendo feito um ajuste na linha d’água rebaixada através do Método da Tangente

proposto por Casagrande, citado em NÚNŨZ (1975). O método consiste em prolongar

a linha d’água rebaixada em direção à fonte de alimentação, conforme é indicado na

Figura 2.17.

Figura 2.17 – Ajuste da linha d’água rebaixada através do Método da Tangente.

Page 35: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

25

CAPÍTULO 3 MÉTODO ELEMENTOS FINITOS

Neste capitulo é feita uma breve apresentação da solução pelo Método Elementos

Finitos (MEF) utilizada nas análises de percolação.

3.1 O MÉTODO ELEMENTOS FINITOS

Os métodos numéricos estão sendo utilizados cada vez mais na análise de obras

de terra. Dentre os métodos numéricos, o Método dos Elementos Finitos (MEF) é o

mais utilizado em problemas geotécnicos e, por esse motivo, foi utilizado nesta

dissertação.

O Método de Elementos Finitos consiste basicamente na divisão do domínio do

problema em subdomínios ou elementos finitos, cujo comportamento pode ser

formulado em função de sua geometria e propriedades. Esses elementos são

conectados apenas em alguns pontos, os nós, através dos quais interagem entre si. O

procedimento na resolução de um problema pelo MEF é:

• Divide-se do domínio do problema em um número finito de elementos ligados

entre si através de pontos nodais, ou nós. A distribuição da variável que se

deseja conhecer no interior do elemento é aproximada por uma função

particular, a função de interpolação;

• A partir da função de interpolação, pode-se estabelecer a equação do

elemento, que relaciona as variáveis dos nós de cada elemento (no caso de

percolação, vazão e carga hidráulica). Assim, obtém-se o sistema de equações

de cada elemento. A equação do elemento na realidade é um sistema de

equações, escrito na forma matricial, sendo a matriz dos coeficientes

denominada “matriz de comportamento do elemento” (no caso de percolação, a

“matriz de fluxo”);

• Considerando a conexão dos elementos através dos nós, associa-se o sistema

de equações de cada elemento ao de elementos adjacentes e, assim, tem-se

um sistema global de equações para o problema;

Page 36: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

26

• Após a introdução das condições de contorno (valores conhecidos das

variáveis do problema), resolve-se o sistema global de equações e obtêm-se

os valores das variáveis do problema em cada nó da malha;

• Finalmente, obtêm-se os valores de variáveis do interior do elemento, ou

variáveis secundárias (no caso de percolação, gradiente hidráulico e

velocidade de percolação).

3.2 ANÁLISE DE PERCOLAÇÃO A solução de um problema de percolação em meios porosos deve atender a

condições de compatibilidade, equação de continuidade e às leis constitutivas.

3.2.1 Equações da Percolação

No caso da percolação estacionária em meios saturados, a equação de

continuidade é:

0=∂∂

+∂

∂+

∂∂

zv

yv

xv zyx

Em meios saturados, a lei constitutiva é a Lei de Darcy:

kiv = sendo LHi

∂∂

=

que pode ser estendida sob forma matricial a (no caso 2D) como

⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

∂∂

∂∂

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡=

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

yH

xH

kkkk

vv

yyx

xyx

y

x ou { } [ ]{ }ikv =

Quando kx é diferente de ky, o meio é dito anisotrópico.

Formulação pelo MEF

Numa abordagem direta da formulação pelo MEF do problema de percolação

estacionária, podem-se seguir os seguintes passos para determinação da relação

entre as variáveis nodais – cargas hidráulicas e vazões – :

Page 37: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

27

{ } { } { } { } decontinuida de .eq vaconstituti lei idadecompatibil de condições

Q v i H Hee

→→→→

onde { }He

= vetor de cargas hidráulicas nodais

H = carga hidráulica em um ponto no interior do elemento

{ }i = vetor de gradientes hidráulicos no interior do elemento

{ }v = vetor de velocidades de percolação no interior do elemento

{ }Qe

= vetor de vazões nodais

O 1o. passo consiste em relacionar a carga hidráulica em um ponto qualquer no

interior do elemento com as cargas hidráulicas nos nós através das funções de forma

H = [N] { }He

↑ funções de forma

O 2o. passo busca relacionar o gradiente hidráulico no interior do elemento com as

cargas hidráulicas nos nós através de

{ } [ ]Bi = { }e

H

↑ primeira derivada das funções de forma

O 3o. passo introduz a lei que governa o fenômeno: Lei de Darcy

{ } [ ] { }i k=v

obtendo-se, assim,

{ } [ ] [ ]B k=v { }e

H

O 4o. passo introduz a equação de continuidade

Page 38: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

28

{ } [ ] { }dv vBQv

Te∫=

Daí

{ } [ ] [ ]{}dv i kBQv

Te

∫=

Assim, finalmente, chega-se à equação do elemento finito

{ } [ ] [ ][ ] { }e

v

TeH d B kBQ ∫= ν

ou, na forma compacta,

{ } [ ]{ }eeeHKQ = (7.13)

onde [ ]eK é a matriz de fluxo.

Programa Utilizado

Nas aplicações do MEF dessa tese foi utilizado o programa SEEP/W da GEO-

SLOPE International. O programa é capaz de analisar a percolação não só

estacionária saturada como transiente e considerando a região não saturada, embora

estes recursos não tenham sido utilizados.

O programa emprega o elemento quadrilateral isoparamétrico de oito nós (função

de interpolação quadrática).

Nas análises realizadas as linhas de poços foram modeladas como trincheiras, no

interior das quais era fornecido um nível d´água correspondente ao nível d´água nos

poços.

Page 39: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

29

3.3 ANALOGIA ENTRE O PROBLEMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO E O PROBLEMA DE

PERCOLAÇÃO

O problema de percolação pode ser comparado ao problema tensão-deformação

(elástico) como mostrado abaixo:

Tensão-deformação Percolação

Equação Geral :

{ } [ ]{ }δKF = { } [ ]{ }HKQ =

Matriz de rigidez/fluxo do

elemento [ ]eK :

B D B dvT

v∫

B k B dvT

v∫

1a incógnita (nodal):

δ (deslocamento) H (carga hidráulica total)

2a e 3a incógnitas :

ε (deformação)

σ (tensão)

i (gradiente de H)

v (velocidade aparente)

Lei de comportamento:

Hooke (σ = E ε) Darcy (v = k i)

Page 40: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

30

CAPÍTULO 4 ESTUDO DE CASO I – PCH CANOA QUEBRADA

4.1 CARACTERÍSTICAS DA OBRA

A PCH Canoa Quebrada, situada no Rio Verde, na divisa entre os municípios de

Lucas do Rio Verde e Sorriso, MT, tem potência instalada de 28MW. O arranjo da

usina é constituído de uma barragem homogênea de terra com crista na El. 363,0m,

altura máxima de 37,0m, no leito do rio, e 630m de extensão. O vertedouro, tomada

d’água e casa de força são incorporados à barragem.

Estas estruturas estão localizadas na margem esquerda do rio. Na Figura 4.1 é

apresentado o arranjo geral da obra. Uma vista da área das escavações para fundar

as estruturas de concreto e a indicação do sistema de rebaixamento implantado são

apresentadas na Figura 4.2.

Page 41: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

31

Figura 4.1 - Arranjo geral da PCH Canoa Quebrada.

Page 42: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

32

Figura 4.2 – Vista da área de implantação das estruturas.

Área das estruturas

Page 43: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

33

4.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

Para determinação das características geológico-geotécnicas do maciço de

fundação foi realizada uma campanha de investigação constituída de 9 sondagens a

percussão e 17 mistas, totalizando 524,38m de prospecção. Nas sondagens, além dos

ensaios de resistência a penetração SPT, foram executados ensaios de infiltração

para determinação da permeabilidade “in situ”. Também foram realizados ensaios de

penetração estática (piezocone) totalizando 54,9m de prospecção. Na Figura 4.3 é

apresentada a planta de localização das sondagens executadas na área do

barramento.

Figura 4.3 - Planta de localização das sondagens executadas na área do barramento

O perfil do subsolo na área das escavações foi caracterizado por uma estratificação

subhorizontal, típica de depósitos sedimentares. Na região das estruturas de concreto

as sondagens indicaram que o subsolo é bastante heterogêneo até a elevação

335,0m. No sentido do topo para a base, encontra-se uma camada de areia siltosa,

fofa a pouco compacta, sobrejacente a uma camada de cascalhos arredondados de

quartzo, caracterizando um depósito aluvionar, com espessura superior 8,0m na

região do eixo do barramento, adelgaçando à medida que se afasta do mesmo para

Page 44: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

34

jusante. Sotoposto ao aluvião encontra-se o solo residual de arenito, constituído de

areia silto-argilosa com compacidade crescente em profundidade, variando de pouco a

medianamente compacta até a elevação 330,0m e muito compacta em cotas

inferiores.

As sondagens realizadas não identificaram um maciço rochoso coerente em

profundidade. As estruturas de concreto foram fundadas na camada de areia muito

compacta. A superfície do lençol freático ocorre em torno da elevação 340,0m. Na

Figura 4.4 é apresentado o perfil geológico-geotécnico com a indicação da escavação

e das estruturas de concreto.

4.2.1 Resultados dos ensaios de campo

(a) Ensaios de SPT

Na Figura 4.5 são apresentados todos os resultados dos ensaios SPT. O eixo das

ordenadas corresponde às elevações de execução dos ensaios e o eixo das abscissas

aos valores do índice NSPT. Observa-se que abaixo da elevação 325,0m, cota de

fundação das estruturas, o valor do índice NSPT é superior a 40 golpes.

Page 45: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

35

Figura 4.4 - Perfil geológico-geotécnica com a indicação da escavação e das estruturas de concreto.

Page 46: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

36

Figura 4.5 - Resultados dos ensaios de SPT realizados na área do barramento.

(b) Ensaios de Infiltração

Os ensaios são do tipo carga constante, realizados em furo de sondagem revestido

acima do trecho a ser ensaiado. Tais ensaios foram realizados conforme prescrição

por ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA (1981).

Os resultados dos ensaios de infiltração são apresentados na Figura 4.7. O eixo

das ordenadas corresponde às elevações de execução dos ensaios e o eixo das

abscissas aos valores do coeficiente de permeabilidade in situ.

300

310

320

330

340

350

360

370

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

SPT (NSPT)

ELEV

ÃO

(m)

SP-04 - ME EL.357,58 L=31,2mSP-05B - ME EL.361,29 L=15,45mSM-02 - LR EL.338,67 L=15,45mSM-03A - MD EL.344,88 L=20,43mSM-04 - ME EL.351,75 L=23,45mSM-05 - ME EL.348,28 L=20,3mSM-06 - ME EL.337,98 L=15,25mSM-07 - LR EL.333,0 L=15,4mSM-08 - ME EL.356,36 L=25,4mSM-09 - ME EL.346,0 L=20,3mSM-301- MD EL.344,0 L=6,55mSP-302 - MD EL.356,0 L=4,09mSM-303 - ME EL.336,0 L=12,27mSM-304 - MD EL.341,0 L=12,27mSM-305 - ME EL.344,0 L=25,25mSM-306 - ME EL.349,1 L=20,45mSM-307 - ME EL.354,0 L=15,0mSM-308 - ME EL.358,9 L=20,45mSM-309 - MD EL.335,5 L=15,0mSM-310 - ME EL.339,1 L=20,25mSP-311 - ME EL.342,4 L=22,1mSP-312 - ME EL.341,0 L=22,28mSP-313 - ME EL.344,0 L=25,27mSP-314 - ME EL.343,0 L=40,24mSP-315 - ME EL.341,0 L=40,05mSP-316 - ME EL.340,0 L=20,23m Cota de fundação das estruturas

Page 47: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

37

Figura 4.7 - Resultados dos ensaios de infiltração realizados nas sondagens na área das escavações.

De um modo geral, não foi verificada uma relação direta entre a permeabilidade e o

grau de compacidade da areia dado pelos ensaios de SPT. Tal comportamento pode

estar relacionado ao fato do maciço de fundação apresentar estratificação, com

ocorrência de camadas pouco permeáveis.

4.3 PROJETO DE ESCAVAÇÃO E REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA A escavação para implantação das estruturas de concreto abrange uma área com

aproximadamente 25.300m2. Esta área compreende: canal de adução/aproximação,

tomada d’água, casa de força, vertedouro e canal de fuga/restituição. Em planta, a

escavação apresenta uma geometria alongada que se desenvolve paralelamente à

margem do rio. Tem a maior dimensão em torno de 360,0m e largura média de 70,0m.

Em função da capacidade de suporte do terreno, a fundação das estruturas de

concreto foi implantada entre as elevações 330,0 e 325,0m. Na elevação 330,0m

foram fundados os muros de arrimo para contenção do aterro da barragem e na

elevação 325,0m foram fundados vertedouro, tomada d’água e casa de força. Na

elevação 325,0m está o nível mais baixo da escavação, onde a profundidade chega a

atingir 17,0m em relação à superfície do terreno natural, sendo os 15,0m inferiores

abaixo do nível d’água do terreno.

PERMEABILIDADE x ELEVAÇÃO

300

310

320

330

340

350

360

1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02

PERMEABILIDADE(cm/s)

ELEV

ÃO

(m)

SP-01-MD EL.364,5 L=16,45m

SP-02 - MD - EL.361,15 L=40,45mSP-03 -MD EL.359,17 L=25,45mSP-04 - ME EL.357,58 L=31,2mSP-05B - ME EL.361,29 L=15,45mSM-01 - MD EL.349,64 L= 25,25mSM-01A - MD EL. 348,0 L=24,38m

SM-02 - LR EL.338,67 L=15,45mSM-03A - MD EL.344,88 L=20,43m

SM-04 - ME EL.351,75 L=23,45mSM-05 - ME EL.348,28 L=20,3m

SM-06 - ME EL.337,98 L=15,25mSM-07 - LR EL.333,0 L=15,4m

SM-08 - ME EL.356,36 L=25,4mSM-301- MD EL.344,0 L=6,55m

SP-302 - MD EL.356,0 L=4,09mSM-303 - ME EL.336,0 L=12,27mSM-305 - ME EL.344,0 L=25,25mSM-309 - MD EL.335,5 L=15,0mSM-310 - ME EL.339,1 L=20,25mSP-311 - ME EL.342,4 L=22,1m

SP-313 - ME EL.344,0 L=25,27mSP-314 - ME EL.343,0 L=40,24m

SM-306 - ME EL.349,1 L=20,45mSM-307 - ME EL.354,0 L=15,0m

SM-308 - ME EL.358,9 L=20,45mFUNDO DA ESCAVAÇÃO EL.325,0m

Page 48: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

38

O sistema de rebaixamento empregado foi constituído por poços profundos com

diâmetro de 40cm, espaçados de 10,0m, equipados com bombas submersíveis de

eixo vertical. Ao todo foram instalados 35 poços na margem do rio (poços 1 a 21 e 61

a 74) e 39 no lado de terra (poços 22 a 60). A extremidade inferior dos poços foi fixada

na elevação 313,0m e o nível d’água no interior mantido na elevação 316,0m. O nível

d’água no interior dos poços foi controlado através de eletrodos. Quando este atingia a

cota do eletrodo superior, na elevação 316,5m, a bomba era acionada, sendo mantida

em operação até que o nível d’água se reestabelecer na elevação 316,0m (cota do

eletrodo inferior).

Para monitorar o comportamento do rebaixamento do lençol d’água no maciço de

fundação foi empregada a seguinte instrumentação: dez medidores de nível d’água

(INA), sendo quatro instalados fora da área do rebaixamento (INA-1, INA-7, INA-9 e

INA-10), e quadro piezômetros de tubo aberto (PZ), todos instalados no interior da

área do rebaixamento. Para realização das leituras dos níveis de rebaixamento nos

indicadores de nível d’água e nos piezômetros de tubo aberto foi empregada uma

trena com pio elétrico. As medições de vazão foram realizadas diretamente na boca

dos poços utilizando-se um recipiente de volume conhecido e um cronômetro.

Nas Figuras 4.8 e 4.9 são apresentados em planta e elevação a geometria da

escavação, o sistema de rebaixamento implantado e a instrumentação geotécnica

empregada.

Page 49: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

39

Figura 4.8 – Escavação, sistema de rebaixamento e instrumentação geotécnica - Planta.

Page 50: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

40

Figura 4.9 – Escavação, sistema de rebaixamento e instrumentação geotécnica - Seções: (1) transversal (2) longitudinal.

Page 51: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

41

4.4 PREVISÃO DE VAZÃO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO.

Neste item, apresentam-se as estimativas de vazão de bombeamento do sistema

de rebaixamento como um todo, levando em conta as condições geológico-

geotécnicas do maciço de fundação, a geometria da escavação e as características do

sistema de rebaixamento implantado. Para determinação das vazões de

bombeamento são empregadas fórmulas de uso corrente e modelagem numérica pelo

Método dos Elementos Finitos.

4.4.1 Condições de contorno e coeficiente de permeabilidade

(a) Fluxo no maciço de fundação e fontes de alimentação

Nas análises de percolação, considera-se que o aqüífero presente no maciço de

fundação é gravitacional ou freático. Também é considerado que em um tempo

relativamente curto após a implantação do sistema de rebaixamento o fluxo atinge o

regime estacionário. Antes de iniciar o rebaixamento, o nível freático na área das

escavações ficava em torno da elevação 340,0m e o nível médio do rio ficava em torno

da elevação 335,0m. Deste modo, a região junto ao rio é tida como zona de descarga

do aqüífero, definindo o regime de percolação no maciço.

Com a implantação do sistema de rebaixamento, o fluxo no maciço é alterado. As

linhas de fluxo em direção ao rio, são interceptadas pelos poços de rebaixamento do

lado de terra. Desta forma, o lençol freático passa a funcionar como fonte de

alimentação para o sistema de rebaixamento. O rio, que antes recebia água do lençol

freático, também passa a funcionar como fonte de alimentação para o sistema de

rebaixamento, e as linhas de fluxo, junto ao rio, têm seu sentido invertido. Após o

sistema de rebaixamento entrar em operação, o nível do lençol d’água no interior da

escavação é mantido na elevação 324,0m (1,0m abaixo do fundo da escavação).

(b) Geometria da escavação para análise de percolação

Conforme apresentado no item 4.3, a geometria em planta da escavação apresenta

uma forma irregular, que dificulta a definição do modelo para as análises de

percolação. Assim, são feitas aproximações geométricas na forma da escavação em

planta, obtendo-se uma geometria equivalente. Contudo, é mantida a distância média

entre o rio e a linha de poços, cujo valor é 16,0m.

Page 52: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

42

A geometria equivalente adotada consiste num semi-círculo de raio e área iguais a

127m e 25323m², respectivamente. A disposição da escavação em relação ao rio é

indicada na Figura 4.10.

Figura 4.10 – Geometria equivalente da escavação em planta

(c) Permeabilidade do maciço

Para determinação do coeficiente de permeabilidade foram considerados os

ensaios de infiltração realizados entre as elevações 340,0 e 320,0m. O valor de

permeabilidade adotado no cálculo das vazões de bombeamento é igual a 1,5x10-4

cm/s, que corresponde à permeabilidades média no maciço. Os resultados do ensaios

de permeabilidade e a permeabilidade média no maciço estão indicados na Figura

4.11.

Page 53: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

43

Figura 4.11 – Resultados de ensaios de permeabilidade e permeabilidade média no maciço.

1,5E-04

1,5E-04

320

322

324

326

328

330

332

334

336

338

340

1,00E-06 1,00E-05 1,00E-04 1,00E-03 1,00E-02

PERMEABILIDADE(cm/s)

ELEV

ÃO

(m)

SP-04 - ME EL.357,58 L=31,2m

SM-02 - LR EL.338,67 L=15,45m

SM-04 - ME EL.351,75 L=23,45m

SM-06 - ME EL.337,98 L=15,25m

SM-07 - LR EL.333,0 L=15,4m

SM-303 - ME EL.336,0 L=12,27m

SM-305 - ME EL.344,0 L=25,25m

SM-310 - ME EL.339,1 L=20,25m

SP-311 - ME EL.342,4 L=22,1m

SP-313 - ME EL.344,0 L=25,27m

SP-314 - ME EL.343,0 L=40,24m

SM-306 - ME EL.349,1 L=20,45m

PERMEABILIDADE MÉDIA DOMACIÇO

Elevação do fundo da escavação

PERMEABILIDADE MÉDIA DO MACIÇO

Page 54: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

44

4.4.2 Fórmulas de uso corrente

Com base nas condições de contorno foram definidas duas seções de análise, uma

na margem do rio e a outra do lado de terra. Na margem do rio, a vazão de

bombeamento foi calculada admitindo-se uma trincheira drenante paralela a uma fonte

de alimentação linear (rio). Do lado de terra, a vazão de bombeamento foi determinada

considerando-se um semi-poço circular submetido a uma fonte também circular.

a) Análise junto ao rio

a.1) Dados de entrada

Com base nas condições de contorno do lado do rio, a seguir são apresentados os

dados de entrada considerados na estimativa de vazão:

Área escavada (Aesc): 25323 m2

Raio equivalente da escavação (Re): 127,0m

Extensão da linha de poços na margem do rio (A): 254,0 m

Coeficiente de permeabilidade (k): 1,5x10-6m/s

Distância média entre o rio e a linha de poços (L): 16m

Distância média entre poços de rebaixamento (a): 10,0m

Projeção horizontal do talude em contato com o rio (m): 5,0m

Nível do rio (N.A.RIO): 335,0 m

Nível d’água estático (N.A.E): 335,0 m

Nível d'água rebaixado no fundo da escavação (N.A.R): 324,0 m

Nível d'água dentro do poço, posição do eletrodo (N.A.P): 316,0 m

Elevação do terreno na extremidade superior do poço (EL.T): 337,0m

Elevação do fundo da escavação (EL.FE): 325,0m

Elevação do fundo do rio (EL.RIO): 330,0 m

Elevação do topo da camada impermeável (EL.CI): 300,0 m

Page 55: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

45

a.2) Modelo de fluxo adotado

No cálculo de vazão a distância de influência do rebaixamento, denominada Li, foi

determinada empregando-se o Método da Tangente. O arranjo geral do sistema de

rebaixamento e o modelo de fluxo simplificado na margem do rio são mostrados nas

Figuras 4.12 e 4.13, respectivamente.

Lado de terra

Margemdo rio

Re

Área do rebaixamentolinha de poçosde rebaixamento

a

Li

RIO(fonte linear)

AA

A=2xRe

Figura 4.12 – Arranjo geral do sistema de rebaixamento na margem do rio.

EL.T

EL.FE

345,00

340,00

335,00

330,00

325,00

320,00

315,00

310,00

N.A. RION.A.E

N.A.P

305,00

300,00

CAMADA IMPERMEÁVEL

N.A.R

m/3Li

L

m

EL.CI

EL.FR fonte livre

Figura 4.13 – Seção AA, modelo de fluxo simplificado na margem do rio.

Page 56: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

46

Com:

obtem-se:

H = 35,0 m

Hd = 24,0 m

Li=17,7 m

a.3) Estimativa de vazão de bombeamento

(i) Aqüífero gravitacional (trincheira drenante com fonte linear)

A vazão por metro de trincheira, denominada q, foi calculada com:

( )22

2 dT hHL

kxQ −= (2.23)

onde x é a extensão da trincheira.

Sendo

x=1m e L=Li

tem-se:

q=3x10-5 m3/s/m ou 1x10-1 m3/h/m

(ii) Vazão de contribuição do sistema de rebaixamento

Multiplicando q pela extensão da trincheira (linha de poços) obtém-se a vazão total

na margem do rio, denominada QMR:

Assim:

AqQMR ×=

3

EL.CIN.A.REL.CIN.A.E

mLLi

dhH

+=

−=−=

Page 57: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

47

254101 1 ××= −MRQ

QMR = 25 m3/h

b) Análise do lado de terra

b.1) Dados de entrada

Com base nas condições de contorno do lado de terra, a seguir são apresentados

os dados de entrada considerados na estimativa de vazão:

Área escavada (Aesc): 25323 m2

Raio equivalente da escavação (Re): 127,0m

Extensão da linha de poços do lado de terra (A): 399,0 m

Coeficiente de permeabilidade (k): 1,5x10-6m/s

Nível médio do lençol freático (N.A.LF): 340,0 m

Nível d’água estático (N.A.E): 340,0 m

Nível d'água rebaixado no fundo da escavação (N.A.R): 324,0 m

Nível d'água dentro do poço, posição do eletrodo (N.A.P): 316,0 m

Elevação do terreno na extremidade superior do poço (EL.T): 343,0m

Elevação do fundo da escavação (EL.FE): 325,0m

Elevação do topo da camada impermeável (EL.CI): 300,0 m

b.2) Modelo de fluxo simplificado

No cálculo de vazão o raio de influência do rebaixamento, denominado Ri, foi

determinado empregando-se a Equação 2.9. O arranjo geral do sistema de

rebaixamento e o modelo de fluxo simplificado no lado de terra são mostrados nas

Figuras 4.14 e 4.15, respectivamente.

Page 58: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

48

Área do rebaixamento

Re

Ri

poçosde rebaixamento

fonte circular (lençol freático)

B

B

Figura 4.14 – Arranjo geral do sistema de rebaixamento do lado de terra.

EL.T

EL.FE

345,00

340,00

335,00

330,00

325,00

320,00

315,00

310,00

N.A.E

N.A.P

305,00

300,00

IMPERMEÁVEL

lençol freático

N.A.R

margem do rio

EL.CI

Figura 4.15 – Seção BB, modelo de fluxo simplificado do lado de terra.

Com:

EL.CIN.A.REL.CIN.A.E

−=−=

dhH

khHRi d )(3000 −= (2.9)

Page 59: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

49

tem-se:

H = 40,0 m

Hd = 24,0 m

Ri = 59m

b.3) Estimativa de vazão de bombeamento

(i) Aqüífero gravitacional (semi-poço)

A vazão de contribuição no maciço de arenito foi calculada com:

(2.10)

onde Qw é a vazão total em um poço circular submetido a uma fonte também

circular, correspondente a um aqüífero gravitacional.

Sendo

R = Re+Ri e rw = Re

obtem-se:

QW=1,3x10-2 m3/s ou 46 m3/h

(ii) Vazão de contribuição do sistema de rebaixamento

Como o lado de terra corresponde à metade da escavação admitiu-se que a vazão

afluente pelo lado de terra, denominada QLT, é equivalente a metade da vazão do

poço Qw.

Assim:

2wQQ LT = = 23m3/h

)ln(

)( 22

w

d

rR

khHQw

π−=

Page 60: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

50

4.4.3 Modelagem numérica em elementos finitos

A determinação da vazão de bombeamento pelo Método de Elementos Finitos

consistiu na análise de percolação em uma seção transversal da escavação,

compreendendo o leito do rio e o lado de terra, levando em conta as distâncias de

influência de rebaixamento consideradas nos cálculos de vazão empregando fórmulas

de uso corrente. As análises foram realizadas com o auxílio do programa

computacional SEEP/W, desenvolvido pela GeoSlope, sendo considerado fluxo

bidimensional estacionário em meio poroso isotrópico.

a) Análise de percolação

De acordo com as condições de contorno apresentadas no item 4.4.1, adotou-se a

hipótese de que os poços instalados na margem do rio são alimentados pelo corpo

d’água, e os demais poços instalados do lado de terra são alimentados pelo lençol

freático. A rigor, os poços instalados nas extremidades da linha junto ao rio também

são alimentados pelo lençol freático; além disso, o nível do lençol freático varia ao

longo da linha de poços do lado de terra. Contudo, as aproximações adotadas são

aceitáveis, tendo em vista que a imprecisão gerada por elas é pouco significativa se

comparada com a imprecisão associada ao coeficiente de permeabilidade in situ,

considerado igual a 1,5x10-4cm/s (determinado a partir de ensaios de infiltração

realizados em furos de sondagem).

O resultado da análise (estacionária) de percolação é apresentado na Figura 4.16.

São indicados as linhas equipotenciais, os vetores de velocidade e a superfície freática

(rebaixada).

Page 61: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

51

K=1,5E-6m/s

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 2800

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

Figura 4.16 – Análise de percolação com sistema de rebaixamento em operação – premissa de projeto.

Page 62: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

52

b) Vazão de bombeamento calculada

Para determinação da vazão de bombeamento do sistema considerou-se que a

linha de poços em torno da escavação equivale a uma trincheira. Deste modo, a vazão

do sistema é obtida do produto da extensão da trincheira pela vazão por metro, esta

última obtida a partir da análise de percolação. As extensões dos respectivos trechos

da linha de poços são obtidas a partir da Figura 4.10. Na Tabela 4.1 são apresentados

os valores de vazão por metro de trincheira e total, referentes à margem do rio e ao

lado de terra.

Tabela 4.1 – Vazão de bombeamento do sistema de rebaixamento calculada a partir da modelagem em elementos finitos.

Local Extensão Vazão unitária Vazão total

Margem do rio 254m 2,6x10-5 m³/s/m 24m³/h

Lado de terra 398m 1,3x10-5 m³/s/m 19m³/h

VAZÃO TOTAL DO SISTEMA DE BOMBEAMENTO 43m³/h

4.4.4 Resumo das vazões de bombeamento previstas

Na Tabela 4.2 são apresentados os valores de vazão de bombeamento obtidos

através das fórmulas de uso corrente e de modelagem numérica em elementos finitos.

Tabela 4.2 – Resumo das vazões de bombeamento calculadas a partir de fórmulas de uso corrente e por modelagem numérica em elementos finitos.

Local Fórmulas de uso

corrente

Modelagem em elementos

Finitos

Margem do rio 25 m³/h

(trincheira) 24 m³/h

Lado de terra 23 m³/h

(poço circular) 19 m³/h

Margem do rio

e lado de terra 48 m³/h 43 m³/h

Page 63: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

53

4.5 MEDIÇÕES COM INSTRUMENTAÇÃO E DADOS DE CAMPO

4.5.1 Aspectos Geológico-geotécnicos observados durante a escavação

O mapeamento geológico das escavações indicou a existência de um paleocanal,

preenchido com material aluvionar apresentando granulometria grosseira em

profundidade com ocorrência de bolsões de turfa. O aspecto do aluvião do paleocanal

pode ser visto na fotografia apresentada na Figura 4.17, tirada durante as escavações.

Figura 4.17 – Vista da face do talude direito da escavação, marginal ao rio, onde se observa material do paleocanal.

A camada de aluvião compreende a região das estruturas de concreto e tem

espessura variável, cerda de 8,0 a 10,0m na região do canal de restituição/fuga e

adelgaçando em direção a montante das estruturas, onde o solo residual/colúvio é

visível na superfície do terreno natural.

Para avaliar a permeabilidade do aluvião do paleo-canal e do solo residual de

arenito, foram feitos ensaios de granulometria e de permeabilidade em laboratório

(permeâmetro de carga constante) com amostras das estruturas de concreto. A

locação dos locais de extração das amostras e as curvas granulométricas obtidas nos

ensaios são apresentadas nas Figuras 4.18 e 4.19, respectivamente.

Page 64: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

54

Figura 4.18 – Planta de localização dos pontos de coleta das amostras para os ensaios complementares

Page 65: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

55

Figura 4.19 – Curvas granulométricas do aluvião do paleo-canal.

.

Page 66: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

56

No aluvião, os ensaios de permeabilidade indicaram k=4,4x10-2 na amostra 5 e

2,9x10-2 cm/s no ensaio 6, tais amostras foram moldadas com compacidade relativa de

65% e 72%, respectivamente. A densidade relativa in situ, estimada com base em

ensaios de frasco de areia, foi de 60%. A aplicação da fórmula de Hazen (que

usualmente indica a permeabilidade de areias no estado fôfo) conduz, em ambos

casos, a k=4x10-2 cm/s. Nas amostras AM-7 a 9, não foram realizados ensaios de

permeabilidade.

No solo residual de arenito os ensaios de permeabilidade indicaram permeabilidade

média em torno de 4x10-6 cm/s.

4.5.2 Monitoramento das Vazões de Bombeamento.

Após a realização dos ajustes de campo para adequação da capacidade das

bombas, o sistema de poços projetado funcionou isoladamente até que se detectou

que o mesmo não tinha sido suficiente para rebaixar o lençol d’água até a cota

necessária (El. 324,0m). Introduziu-se, então (no final de setembro/2005), um sistema

de ponteiras filtrantes em torno da área da escavação mais profunda, obtendo-se o

rebaixamento necessário. A disposição dos poços de rebaixamento e das ponteiras

filtrantes é apresentada na Figura 4.20. Para auxiliar a interpretação das vazões

medidas, os poços foram subdivididos em 4 grupos, em função das fontes de

alimentação existentes. O Grupo 1 compreendeu os poços cuja a principal fonte de

alimentação era o rio. O Grupo 3 compreendeu os poços submetidos principalmente

ao lençol freático. Os Grupos 2 e 4 compreenderam os poços submetidos ao lençol

freático, porém, sujeitos a influência do rio, dada a proximidade dos mesmos à sua

margem.

Os dados de campo referentes às vazões de bombeamento do sistema de

rebaixamento são apresentados nos sub-itens seguintes.

Page 67: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

57

Figura 4.20 – Disposição dos grupos de poços.

a) Poços profundos

A evolução das vazões medidas nos poços profundos pode ser vista na Figura

4.21.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

11,00

12,00

13,00

14,00

15,00

16,00

8-ago-05 28-ago-05 17-set-05 7-out-05 27-out-05 16-nov-05

TEMPO(dias)

VAZÕ

ES(m

³/h)

Grupo 1 (poços 1-21e 61-74) Grupo 2 (poços 22-30) Grupo 3 (poços 31-50) Grupo 4 (poços 51-60)

média Grupo 1 média Grupo 2 média Grupo 3 média Grupo 4

Figura 4.21 – Evolução das vazões individuais nos poços de rebaixamento, e médias por grupo (4).

Page 68: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

58

b) Poços e ponteiras

A evolução das vazões dos poços e das ponteiras filtrantes pode ser vista na

Figura 4.22. Nela a vazão dos poços foi atribuída à margem do rio e ao lado de terra, e

a vazão global representa a soma das vazões dos poços e ponteiras.

341

178

188179

187189208

195

205

184

190

207

119

178177

149150156

146

145

93

146

148153158

179

154142

50

45 19

332340

353 347362

328

327

256

337

384

324

328 336

243

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

350,00

400,00

8-ago-05 28-ago-05 17-set-05 7-out-05 27-out-05 16-nov-05

TEMPO (dias)

VAZÃ

O(m

³/h)

vazão total na margem do rio vazão total do lado de terra vazão total nas ponteiras vazão global do sistema

Figura 4.22 – Evolução das vazões nos poços e ponteiras filtrantes.

Com o acionamento das ponteiras alguns poços apresentaram valores de vazão

alterados. A variação de vazão nos poços com a instalação das ponteiras pode ser

vista na Figura 4.23.

Embora os poços 17 a 30 tenham se mostrado mais sensíveis à instalação das

ponteiras filtrantes, estes se encontravam mais afastados das ponteiras do que os

demais poços. Este comportamento se explica pela existência do paleo-canal na

região do canal de fuga, que permitiu a condução de água do rio para o centro da

escavação, prejudicando o rebaixamento na região das estruturas de concreto.

Page 69: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

59

Figura 4.23 – Variação de vazão nos poços de rebaixamento após a instalação das ponteiras filtrantes.

c) Resumo das vazões de bombeamento medidas

O resumo das vazões de bombeamento pode ser visto na Tabela 4.3. Tais vazões

foram medidas em 21 novembro de 2005.

Tabela 4.3 – Vazão de bombeamento do sistema de rebaixamento.

Margem do rio Lado de terra Sistema de

ponteiras

Vazão do

sistema

Vazão de

bombeamento 92 m³/h 132 m³/h 19 m³/h 243 m³/h

-12

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

poço

17

poço

18

poço

19

poço

20

poço

21

poço

22

poço

23

poço

24

poço

25

poço

26

poço

27

poço

28

poço

29

poço

30

poço

31

poço

32

poço

33

poço

34

poço

35

poço

36

poço

37

poço

38

poço

39

poço

40

poço

41

poço

42

poço

43

poço

44

poço

45

poço

46

poço

47

poço

48

poço

49

poço

50

poço

51

poço

52

poço

53

poço

54

poço

55

poço

56

poço

57

poço

58

poço

59

poço

60

poço

61

poço

62

poço

63

poço

64

poço

65

poço

66

poço

67

poço

68

poço

69

poço

70

poço

71

poço

72

poço

73

poço

74

poço

1po

ço 2

poço

3po

ço 4

poço

5po

ço 6

poço

7po

ço 8

poço

9po

ço 1

0po

ço 1

1po

ço 1

2po

ço 1

3po

ço 1

4po

ço 1

5po

ço 1

6

POÇOS DE REBAIXAMENTO

VAR

IAÇ

ÃO

DE

VAZÃ

O (m

³/h)

Page 70: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

60

4.5.3 Monitoramento dos Níveis de Rebaixamento

A evolução dos níveis d’água pode ser vista na Figura 4.24.

Figura 4.24 – Evolução dos rebaixamento do nível d’água na fundação.

Com base nos resultados da instrumentação apresenta-se na Figura 4.25 o perfil

do rebaixamento do lençol d’água em duas seções, uma transversal à escavação

(Seção1) e a outra longitudinal (Seção 2).

Revaixamento do lençol d'água

324.00

325.00

326.00

327.00

328.00

329.00

330.00

331.00

332.00

333.00

334.00

335.00

336.00

337.00

338.00

339.00

340.00

8/1/2005 8/21/2005 9/10/2005 9/30/2005 10/20/2005 11/9/2005

tempo (dias)

Elev

ação

(m)

INA1- margem do rio INA2 INA3 INA4INA5 INA6 INA7 INA8INA9 INA10 PZ1 PZ2PZ3 Fundo da escavação 325,0m PZ4

Page 71: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

61

Figura 4.25 - Seções de monitoramento do rebaixamento do lençol d’água

Page 72: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

62

4.6 DISCUSSÃO

Na Tabela 4.4 são comparados os valores de vazão obtidos através das fórmulas

de uso corrente e da modelagem numérica em elementos finitos com as medições de

campo.

Tabela 4.4 – Resumo das vazões de bombeamento calculadas e medidas no campo.

Condição Fórmulas de uso

corrente

Elementos finitos

Análise

bidimensional

Medições de

campo

Margem do

rio 25m³/h 24m³/h 92m³/h

Lado de terra 23m³/h 19m³/h 132m³/h

Vazão do

sistema 48m³/h 43m³/h 243m³/h (*)

(*) Incluindo a vazão nas ponteiras.

Com os resultados acima conclui-se que a vazão medida no campo é muito

superior às calculadas. A diferença não pode ser atribuída aos métodos de cálculo,

que produziram vazões relativamente próximas. A diferença se deve, portanto, ao

coeficiente de permeabilidade adotado.

4.7 RETRO-ANÁLISE DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE IN SITU

Utilizando a solução do Método de Elementos finitos foram feitas 2 retro-análises,

uma mantendo a permeabilidade vertical igual à de previsão e aumentando a

horizontal, e outra aumentando tanto a vertical como a horizontal até que as vazões

medidas e calculadas coincidissem. Nas retro-análises também foi levado em conta o

efeito de fronteira inferior (impermeável), que define a espessura do aqüífero.

4.7.1 Estudo do efeito de fronteira.

A espessura adotada na previsão de rebaixamento foi de 40m. Com essa

espessura, o limite impermeável se encontra 10m abaixo do limite das sondagens. No

entanto, a geologia local indica que o maciço sedimentar (arenito) que compreende as

escavações pode chegar a atingir centenas de metros de espessura. Para avaliar o

Page 73: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

63

efeito de fronteira foi realizado um estudo que consistiu em variar a profundidade do

limite impermeável do aqüífero e observar o comportamento do rebaixamento.

Inicialmente considerou-se a hipótese de que o aqüífero corresponde a um semi-

espaço infinito, ou seja, a fronteira impermeável está muito afastada da região de

rebaixamento. Na Figura 4.26 é apresentado o resultado da análise considerando a

fronteira impermeável no infinito. Verifica-se que as vazões obtidas foram

sensivelmente maiores que as de previsão (36m³/h na margem do rio e 48m³/h no lado

de terra). Destaca-se também o fato da superfície freática ter se elevado na região

central da escavação em relação às análises anteriores.

O projeto de rebaixamento previa que o nível de rebaixamento mínimo no interior

da escavação seria de 1m abaixo do fundo da cava; no entanto, a superfície do lençol

d’água se mostrou coincidente com o fundo da escavação. Comparando-se os

resultados da análise com os dados de campo verifica-se que a hipótese de considerar

uma espessura para o aqüífero maior que a de análise é mais realista. Então, optou-se

por adotar uma seção de análise considerando 100m de espessura para o aqüífero,

2,5 vezes maior que a de projeto. Os resultados da análise desta seção, considerando

as demais premissas de projeto, são apresentados na Figura 4.27. Verifica-se que as

vazões de bombeamento continuam superiores às de previsão (32m³/h na margem do

rio e 39m³/h no lado de terra) e o nível d’água mínimo encontra-se 2m abaixo do fundo

da escavação.

4.7.2 Estudos do Coeficiente de Permeabilidade.

Para as retro-análises dos valores de k adotou-se a seção com 100m de aqüífero

determinada a partir do estudo de efeito de fronteira. Os resultados das retro-análises

são apresentados a seguir.

(a) Anisotropia na fundação

Para avaliar o efeito de uma possível anisotropia no rebaixamento foi considerada a

relação de permeabilidades na fundação, VH kk 2> , onde kV é igual à permeabilidade

de previsão. O resultado da análise de percolação é apresentado na Figura 4.28. Foi

verificado que o fato de a permeabilidade na direção horizontal ser duas vezes maior

que a vertical, aproxima as vazões calculadas das medidas no campo. Na margem do

rio a vazão calculada foi de 49m3/h, e no lado de terra foi de 66m3/h, totalizando 115

m3/h.

Page 74: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

64

K=1,5E-6m/s

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

N.A.N.A.

20 2

0 25

30 3

5

35

40

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 280

Figura 4.26 – Análise de percolação considerando o aqüífero como semi-espaço infinito.

Page 75: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

65

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

K=1,5-6m/s

N.A.N.A.

79

80

81 82

83

84

85

90

90

95

95

100

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 2800

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 4.27 – Análise de percolação considerando o aqüífero com 100m de espessura.

Page 76: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

66

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

Kh=2xKv

N.A.N.A.

78

78 79

79

80

80

81 81

85

85

90

90

95

100

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 2800

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 4.28 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” levando em conta anisotropia na fundação.

Page 77: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

67

(b) Aumento isotrópico da permeabilidade

Para avaliar o efeito da variação da permeabilidade (considerada isotrópica) na

vazão, foi aumentada a permeabilidade, mantendo-se a horizontal igual à vertical, até

que se atingisse, na análise, as vazões medidas no campo. O resultado da análise é

apresentado na Figura 4.29.

Pode-se dizer que o coeficiente de permeabilidade isotrópico que corresponde à

vazão medida é 5,4x10-4cm/s, portanto, 3,5 vezes a permeabilidade adotada

(1,5x10-4cm/s).

Page 78: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

68

K=5,4E-6m/s

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

N.A.N.A.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 2800

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 4.29 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” levando a variação isotrópica da permeabilidade na fundação

Page 79: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

69

CAPÍTULO 5 ESTUDO DE CASO II – PCH GARGANTA DA JARARACA

5.1 CARACTERÍSTICAS DA OBRA A PCH Garganta da Jararaca, situada no rio do Sangue, município de Campo Novo

do Parecis, MT, tem potência instalada de 29,3MW. O barramento da usina tem

aproximadamente 1475m de extensão e é constituído de uma barragem homogênea

de terra, vertedouro com controle e tomada d’água. A barragem tem crista na El.

412,0m e altura máxima de 12,0m no leito do rio; o vertedouro está situado junto à

margem direita do rio; e a cerca de 500m em direção à ombreira está situada a

tomada d’água. A jusante da tomada d’água ocorre uma encosta íngreme com

aproximadamente 35m de desnível em relação à margem do rio. A casa de força está

situada na base desta encosta. Na Figura 5.1 é apresentado o arranjo geral do

empreendimento.

Figura 5.1 - Arranjo geral da PCH Garganta da Jararaca.

Uma vista da área das escavações para implantação das estruturas de concreto,

com a indicação do rebaixamento, é apresentada na Figura 5.2.

Page 80: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

70

Figura 5.2 – Vista geral da área do rebaixamento.

5.2 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS

Para determinação das características geológico-geotécnicas do maciço de

fundação foi realizada uma campanha de investigação de campo constituída de 7

sondagens mistas (percussão/rotativa), totalizando 153,9m de prospecção. Nas

sondagens, além dos ensaios de resistência a penetração SPT, também foram

executados ensaios de infiltração e perda d’água para determinação da

permeabilidade in situ. Na figura 5.3 é apresentada a planta de localização das 7

sondagens executadas na área das escavações para implantação da casa de força.

Page 81: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

71

Figura 5.3 - Planta de localização das sondagens executadas na área da casa de força.

Na área de implantação da casa de força, o perfil do subsolo é caracterizado pela

ocorrência de arenito, sotoposto a uma camada de solo residual/colúvio com

espessura em torno de 6,0m. O maciço rochoso ocorre a partir da elevação 390,0m e

as sondagens chegaram a atingir a elevação 347,0m. Este é constituído de arenito de

textura fina a média, friável a medianamente consistente. Entre as elevações 368,0 e

365,0m foi observada a ocorrência de uma camada de arenito muito alterado,

inconsolidado, constituído de areia fina. A superfície do lençol freático na região das

escavações ocorre próxima à superfície do maciço de arenito, sendo que na camada

de areia fina (arenito alterado), as sondagens indicaram a ocorrência de artesianismo.

Embora não tenha sido possível medir o artesianismo com precisão na ocasião da

execução das sondagens, foi observado que a cota piezométrica era superior à

elevação 381m. O perfil geológico-geotécnico com a indicação da escavação e das

estruturas de concreto é caracterizado nas seções geológico-geotécnicas AA e BB

apresentadas nas Figuras 5.4 e 5.5, respectivamente.

Page 82: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

72

Figura 5.4 – Seção geológico-geotécnica AA – longitudinal à escavação da casa de força.

Page 83: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

73

Figura 5.5 - Seção geológico-geotécnica BB – transversal à escavação da casa de força.

Page 84: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

74

5.2.1 Resultados dos ensaios de campo

(a) Ensaios de SPT

Na região da casa de força foram realizados ensaios SPT na camada superficial de

solo e na camada de arenito inconsolidado, entre as elevações 365 e 368m. O maciço

de arenito, embora muito friável, foi perfurado com sonda rotativa. Na camada de solo

superficial o valor médio de NSPT foi superior a 30 golpes. Na camada de arenito

inconsolidado o valor de NSPT foi superior a 50 golpes.

(b) Ensaios de infiltração e perda d’água

Com exceção da camada de areia entre as elevações 365 e 368m, onde foram

executados ensaios de infiltração, a permeabilidade in situ do maciço de arenito foi

determinada a partir dos ensaios de perda d’água, sob pressão (Lugeon). A

compatibilização entre os 2 tipos de ensaios foi feita com base no ábaco de conversão

de perda d’água específica em coeficiente de permeabilidade (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 1981), apresentado na Figura 5.6,

sendo PE a perda d’água específica obtida no ensaio de Lugeon (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 1975) , FC o fator de correlação

obtido no ábaco e k o coeficiente de permeabilidade correlacionado.

Figura 5.6 – -Ábaco de conversão de perda d’água específica em permeabilidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA, 1981).

Page 85: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

75

Os valores dos coeficientes de permeabilidade obtidos nos ensaios de infiltração e

de perda d’água são indicados na Figura 5.7, onde pode ser observado um aumento

da permeabilidade com a profundidade.

Figura 5.7 – Gráfico dos valores de permeabilidade obtidos a partir dos ensaios de infiltração e perda d’água.

5.3 PROJETO DE ESCAVAÇÃO E REBAIXAMENTO A escavação para implantação das estruturas de concreto compreendia uma área

com aproximadamente 5072m2, destinada apenas à casa de força. Em planta, a

geometria da escavação equivalia a um retângulo cujas dimensões dos lados eram

60m e 85m, sendo o menor lado paralelo à margem do rio. O fundo da escavação foi

situado na El. 360m em função dos critérios de operação das turbinas. Em relação à

superfície do terreno natural, a escavação chega a atingir 36,0m de profundidade,

sendo que os primeiros 6,0m são escavados em solo coluvionar/residual.

O sistema de rebaixamento empregado foi constituído de poços profundos com

diâmetro de 40cm equipados com bombas submersíveis de eixo vertical. Inicialmente,

o projeto previa 42 poços com espaçamento variando entre 5,0 e 8,0m. Contudo,

ainda no primeiro mês de operação dos poços, o projeto foi revisado, visto que o prazo

350

360

370

380

390

400

1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02

PERMEABILIDADE(cm/s)

ELEV

ÃO

(m)

SM-101 EL.383,24L=19,8m

SM-102 EL.383,22 L=30,3m

SM-103 EL.382,89 L=20,4m

SM-104 EL.396,16 L=13,4m

SM-105 EL.404,16 L=15,0m

fundo da escavação

FUNDO DAESCAVAÇÃOEL.360,0m

Page 86: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

76

de execução das escavações se tornara crítico e o tempo de resposta do

rebaixamento sinalizava não atender ao cronograma de obras previsto.

Considerando ainda as incertezas quanto ao comportamento do aqüífero e após

analise dos condicionantes de projeto, optou-se por dobrar a quantidade inicial de

poços, mesmo que após a estabilização do regime de bombeamento, parte destes

pudesse ser desnecessária. Dos 84 poços instalados 17 foram posicionados junto à

margem do rio (poços 34 a 50), e os demais foram instalados do lado de terra. O

espaçamento médio entre poços foi de 3m. A extremidade inferior dos poços foi fixada

na elevação 345,0m, sendo o nível d’água no interior dos mesmos mantido na

elevação 348,5m através do uso de eletrodos.

Para acompanhamento da variação do nível d’água no maciço de fundação foi

empregada a seguinte instrumentação: 4 medidores de nível d’água (INA-8, INA-9,

INA-10 e INA-11) e 4 piezômetros de tubo aberto (PZ1, PZ-2, PZ-3 e PZ-4). Destes

apenas o INA-9 e o PZ-4 foram instalados no interior do sistema de rebaixamento.

Para realização das leituras dos níveis de rebaixamento nos indicadores de nível

d’água e nos piezômetros de tubo aberto foi empregada uma trena com pio elétrico. As

medições de vazão foram realizadas diretamente na boca dos poços utilizando-se um

recipiente de volume conhecido e um cronômetro.

Nas Figuras 5.8 e 5.9 são apresentadas, em planta e elevação, a escavação, o

sistema de rebaixamento e a instrumentação geotécnica empregada.

Page 87: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

77

Figura 5.8 – Sistema de rebaixamento e instrumentação - Planta.

Page 88: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

78

Figura 5.9 – Sistema de rebaixamento e instrumentação – Seções AA e BB

5.4 PREVISÃO DE VAZÃO DO SISTEMA DE REBAIXAMENTO. Neste item apresenta-se as estimativas de vazão de bombeamento do sistema de

rebaixamento levando em conta as características geológico-geotécnicas do maciço

de fundação, a geometria da escavação e as características do sistema de

rebaixamento. Para determinação das vazões de bombeamento são empregadas

fórmulas de uso corrente e modelagem numérica pelo Método dos Elementos Finitos.

Page 89: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

79

5.4.1 Condições de contorno e coeficiente de permeabilidade

(a) Fluxo no maciço de fundação e fontes de alimentação

Nas análises de percolação, foi considerada a existência de aqüífero gravitacional

ou freático, compreendendo todo o maciço de fundação.

No maciço de arenito, antes de iniciar o rebaixamento, o nível freático na área das

escavações estava em torno da elevação 385,0m e o nível médio do rio estava em

torno da elevação 375,0m. Deste modo, a região junto ao rio foi considerada zona de

descarga do aqüífero gravitacional. Após a implantação do sistema de rebaixamento

admitiu-se que o regime de fluxo na fundação seria estacionário e o nível d’água no

fundo da escavação mantido na elevação 358,0m.

(b) Geometria da escavação para análise de percolação

Conforme apresentado no item 5.3, a geometria aproximada da escavação em

planta era retangular, sendo o menor lado paralelo ao rio. Em função da forma e das

dimensões da escavação optou-se por adotar uma geometria equivalente à escavação

para aplicação das fórmulas de uso corrente. As aproximações geométricas realizadas

consistiram em adotar um circulo cuja área fosse equivalente à área compreendida

pela linha de poços.

A geometria equivalente adotada consiste num círculo de raio igual a 40m, sendo a

menor distância entre o perímetro de poços e o rio igual a 6m. Na Figura 5.10 é

apresentada a geometria equivalente da escavação em planta.

Page 90: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

80

Figura 5.10 – Geometria equivalente da escavação em planta

(c) Permeabilidade do maciço

O coeficiente de permeabilidade adotado nos cálculos foi baseado nos resultados

dos ensaios de infiltração e perda d’água apresentados no item 5.2. Buscando

considerar valores de permeabilidade mais representativos do aqüífero, na previsão

foram considerados os ensaios executados na faixa de profundidade compreendida

pela escavação, portanto, abaixo da elevação 380m.

Os resultados dos ensaios utilizados para a determinação dos coeficientes de

permeabilidade da previsão são mostrados na Figura 5.11. Nela também é

apresentado o valor referente à permeabilidade média adotada no cálculo de vazão:

2,4x10-3cm/s.

Page 91: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

81

Figura 5.11 – Variação da permeabilidade média em profundidade e envoltória das permeabilidades máximas.

2,4E-03

350

355

360

365

370

375

1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01

PERMEABILIDADE(cm/s)

ELEV

ÃO

(m)

SM-101 EL.383,24L=19,8m

SM-102 EL.383,22 L=30,3m

SM-103 EL.382,89 L=20,4m

SM-104 EL.396,16 L=13,4m

SM-105 EL.404,16 L=15,0m

PERMEABILIDADEMÉDIA DO MACIÇO

FUNDO DA ESCAVAÇÃO

PERMEABILIDADE MÉDIA DO MACIÇO

Page 92: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

82

5.4.2 Fórmulas de uso corrente

Conforme apresentado no item 5.4.1, a geometria da escavação propiciou a

adoção de uma forma circular como geometria equivalente da escavação. Sendo

assim, o cálculo das vazões de bombeamento foi realizado considerando a escavação

como um poço circular.

Face à proximidade entre o rio e a escavação, esta foi dividida em dois semi-

círculos: um do lado do rio e o outro do lado de terra. Para o cálculo de vazão foi

considerada fonte de alimentação circular do lado de terra e linear do lado do rio,

sendo estas constituídas pelo lençol freático e o rio, respectivamente. As demais

condições de contorno são apresentadas no item 5.4.1

(a) Análise junto ao rio

(a.1) Dados de entrada

Com base nas condições de contorno citadas acima, a seguir são apresentados os

dados de entrada considerados no cálculo estimativo de vazão junto à margem do rio:

Área escavada (Aesc): 5027m2

Raio equivalente da escavação (Re): 40,0m

Coeficiente de permeabilidade no maciço de arenito (kAR): 2,4x10-5m/s

Distância média entre o rio e a linha de poços (L): 6,0m

Raio do poço de rebaixamento (rw): 0,2m

Nível do rio (N.A.RIO): 375,0 m

Nível d’água estático (N.A.E): 375,0 m

Nível d'água rebaixado no fundo da escavação (N.A.R.): 358,0 m

Nível d'água rebaixado na camada de areia (N.A.R’.): 366,0 m

Nível d'água dentro do poço, posição do eletrodo (N.A.P): 348,5 m

Elevação do terreno na extremidade superior do poço (EL.T): 381,0m

Elevação do fundo da escavação (EL.FE): 360,0m

Elevação do fundo do rio (EL.RIO): 370,0 m

Elevação do topo da camada impermeável (EL.CI): 345,0 m

Page 93: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

83

(a.2) Modelo de fluxo adotado

O rio foi considerado como fonte de alimentação do aqüífero gravitacional. No

cálculo de vazão foi considerada fonte linear, sendo empregado o Método do Poço

Virtual apresentado no capítulo 2.

O modelo de fluxo simplificado para o aqüífero é mostrado nas Figuras 5.12 e 5.13.

poçosde rebaixamento

Área do rebaixamento

A

(fonte linear)

A

RIO

Ri

L

Re

Figura 5.12 – Arranjo geral do sistema de rebaixamento na margem do rio (semi-poço sujeito a fonte linear).

Page 94: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

84

Figura 5.13 – Seção AA, modelo de fluxo simplificado aqüífero gravitacional.

Com:

sendo:

Re=40m

L1=6,0m

obtem-se

H = 30,0 m

hd = 13,0 m

L=46m

Ri=92 m

LRi

LL

2

Re1

=

+=

EL.CIN.A.REL.CIN.A.E

−=−=

dhH

Page 95: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

85

(a.3) Estimativa de vazão de bombeamento

(i) Aqüífero Gravitacional

A vazão de contribuição no maciço de arenito foi calculada com:

(2.20)

onde Qw=Qw1 que é a vazão total em um poço circular submetido a uma fonte linear

correspondente ao aqüífero gravitacional.

Assim:

Qw1 = 6,6x10-2 m3/s ou 238m3/h

(ii) Vazão de contribuição do sistema de rebaixamento

A vazão afluente no sistema de rebaixamento, denominada QMR, é obtida

adotando-se a metade da vazão do maciço de arenito, denominada w1, que

corresponde a contribuição na metade do poço do lado do rio, ou seja:

121

wMR QQ =

Entretanto, considerando que o lado do poço próximo da fonte de alimentação recebe

uma contribuição bem maior, face a maior concentração de canais de fluxo junto a

fonte de alimentação, adotou-se ¾ da vazão calculada, ou seja:

143

wMR QQ =

Assim, tem-se:

QMR = 3/4x238

QMR = 179 m3/h

)Re2ln(

)( 22

LkhH

Q ww

π−=

Page 96: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

86

(b) Análise do lado de terra

(b.1) Dados de entrada

Com base nas condições de contorno expostas, a seguir são apresentados os

dados de entrada considerados no cálculo estimativo de vazão do lado de terra:

Área escavada (Aesc): 5027m2

Raio equivalente da escavação (Re): 40,0m

Coeficiente de permeabilidade no maciço de arenito (kAR): 2,4x10-5m/s

Nível médio do lençol freático (N.A.LF): 385,0 m

Nível d’água estático (N.A.E): 385,0 m

Nível d'água rebaixado no fundo da escavação (N.A.R.): 358,0 m

Nível d'água rebaixado na camada de areia (N.A.R’.): 366,0 m

Nível d'água dentro do poço, posição do eletrodo (N.A.P): 348,5 m

Elevação do terreno na extremidade superior do poço (EL.T): 381,0m

Elevação do fundo da escavação (EL.FE): 360,0m

Elevação do topo da camada impermeável (EL.CI): 345,0 m

(b.2) Modelo de fluxo simplificado

O lençol freático foi considerado como fonte de alimentação do aqüífero

gravitacional. No cálculo de vazão foi considerada fonte circular.

O raio de influência do rebaixamento, denominada Ri, foi determinado

empregando-se a Equação 2.9. O arranjo geral do sistema de rebaixamento e o

modelo de fluxo simplificado são caracterizados nas Figuras 5.14 e 5.15.

Page 97: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

87

lençol freático

Área do rebaixamento

Lado de terra

Re

Ri

poçosde rebaixamento

fonte circular

B

B

Figura 5.14 – Arranjo geral do sistema de rebaixamento do lado de terra (semi-poço sujeito a fonte circular).

Figura 4.15 – Seção BB, modelo de fluxo simplificado – aqüífero gravitacional.

Com:

EL.CIN.A.REL.CIN.A.E

−=−=

dhH

Page 98: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

88

khHRi d )(3000 −×= (2.9)

tem-se:

H=40m

hd=13m

Ri = 397m

(b.3) Estimativa de vazão de bombeamento

(i) Aqüífero Gravitacional

A vazão de contribuição no maciço de arenito foi calculada com:

(2.10)

onde Qw=Qw2 que é a vazão total em um poço circular submetido a uma fonte também

circular, correspondente a um aqüífero gravitacional.

Assim:

Qw2 = 4,7x10-2 m3/s ou 169m3/h

(ii) Vazão de contribuição do sistema de rebaixamento

A vazão afluente no sistema de rebaixamento, denominada QLT, é obtida adotando-

se a metade da vazão do maciço de arenito, denominadas Qw2, que corresponde a

contribuição na metade do poço do lado de terra, ou seja:.

QLT =1/2 Qw2

Assim, tem-se:

QLT = 1/2x169

QLT = 85m3/h

)Re

ln(

)( 22

RikhH

Q dw

π−=

Page 99: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

89

5.4.3 Modelagem numérica em elementos finitos

A determinação da vazão de bombeamento pelo método de elementos finitos foi

feita através de 2 análises: uma axissimétrica e outra bidimensional. As fontes de

alimentação do sistema foram o rio e o lençol freático.

A análise axissimétrica admite que a escavação funciona como um poço circular.

Ainda, o perímetro de poços foi dividido em dois semi-círculos, um alimentado pelo rio,

e o outro pelo lençol freático. A vazão resultante de cada fonte de alimentação foi

obtida multiplicando-se o perímetro do semi-círculo pela respectiva vazão unitária. A

vazão total do sistema de rebaixamento foi obtida da soma das vazões resultantes das

duas fontes de alimentação.

Uma análise bidimensional plana foi realizada para verificar o efeito da forma

retangular em planta da escavação. As fontes de alimentação consideradas também

foram o rio e o lençol freático. Para a determinação da vazão do sistema de

bombeamento, primeiramente, foram definidas as vazões unitárias junto ao rio e do

lado de terra, sendo utilizada a seção AA, apresentada no item 5.4. Nos lados da

escavação perpendiculares ao rio, foi admitido que as vazões unitárias seriam

equivalentes àquelas definidas para o lado de terra e a margem do rio, assim, cada

uma delas atuaria na metade de cada lado da escavação. Desta forma, a vazão do

sistema de bombeamento foi calculada multiplicando-se as vazões unitárias pela

metade do perímetro da linha de poços de rebaixamento, que é igual a 125,6m (semi-

círculo).

Do ponto de vista prático, a análise axissimétrica é mais adequada ao cálculo de

vazão do que a análise bidimensional, em função das condições de contorno

existentes. Contudo, sob o ponto de vista acadêmico, julgou-se interessante realizar a

análise bidimensional para poder comparar os resultados das duas formas de análise.

No estudo de percolação considerou-se fluxo estacionário em meio poroso

isotrópico, sendo as análises realizadas com auxílio do programa computacional

SEEP/W, desenvolvido pela GeoSlope. Esta e as demais aproximações contidas nas

hipóteses de cálculo adotadas são razoáveis, se for levado em conta os erros

vinculados ao coeficiente de permeabilidade in situ (determinado a partir de ensaios de

infiltração e perda d’água realizados em furos de sondagem).

Page 100: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

90

a) Análises de percolação

Os resultados das análises de percolação axissimétrica e bidimensional são

apresentados nas figuras 5.16, 5.17 e 5.18, respectivamente. Nelas são indicadas as

linhas equipotenciais e a superfície freática rebaixada.

Page 101: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

91

N.A.

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOK=2,4x10E-5m/s

75

80

85

90

95

10 0

104

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 4000

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

105

110

115

120

125

Figura 5.16 – Análise de percolação axissimétrica do lado de terra.

Page 102: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

92

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOK=2,4x10E-5cm/s

ARENITOK=2,4x10E-5cm/s

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 950

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 5.17 – Análise de percolação axissimétrica na margem do rio.

Page 103: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

93

RIO

N.A.

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: 2-D

Kar=2,4x10E-5m/s

Kar=2,4x10E-5m/s

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450 460 470 480 490 50005101520253035404550556065707580859095100105110115120125

05

101520253035404550556065707580859095

100105110115120125

Figura 5.18 – Análise de percolação bidimensional plana do sistema de rebaixamento – ambos os lados.

Page 104: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

94

b) Vazão de bombeamento calculada

Para determinação da vazão do sistema de rebaixamento foram empregadas as

premissas de cálculo e as análises de percolação apresentadas acima. Na tabela 5.1

são apresentados os resultados para a vazão total do sistema obtidos nos 2 tipos de

análise.

Tabela 5.1 – Vazão de bombeamento do sistema de rebaixamento calculada a partir da modelagem em elementos finitos.

Condição Tipo de análise Extensão Vazão unitária Vazão por trecho

de contribuição

Axissimétrica π (rad) 4,1x10-2 m³/s/rad 463m³/h Margem do rio

Bidimensional 125,6m 6,6x10-4 m³/s/m 298m³/h

Axissimétrica π(rad) 2,4x10-2 m³/s/rad 271m³/h Lado de terra

Bidimensional 125,6m 2,0x10-4 m³/s/m 90m³/h

Vazão total do sistema – análises axissimétricas 734m³/h

vazão total do sistema – análises bidimensionais 388m³/h

5.5 MEDIÇÕES COM INSTRUMENTAÇÃO E OUTROS DADOS DE CAMPO

5.5.1 Aspectos Geológico-geotécnicos observados durante a escavação

A camada de areia entre as elevações 368 e 365m foi confirmada durante as

escavações. Uma vista da escavação com a indicação do topo da camada de areia

parcialmente exposto, é apresentada na Figura 5.19.

Para se caracterizar o material da camada de areia, foram feitos os seguintes

ensaios:

• Granulometria por peneiramento

• Densidade real dos grãos

• Umidade natural

• Peso específico in situ empregando frasco de areia

• Permeâmetro de carga constante

• Densidade relativa máxima e mínima.

Page 105: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

95

Figura 5.19 – Vista da escavação da casa de força com exposição parcial do topo da camada de areia. Ao fundo da fotografia encontra-se a margem do rio.

Ao todo foram coletadas 5 amostras na face da camada de areia, ao longo do

talude de montante da escavação. A síntese dos resultados dos ensaios é

apresentada na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Resultado dos ensaios de densidade (γ), umidade(w) e

permeabilidade (k).

Amostra γin situ

(g/cm3)

win situ

(%)

γensaio

(g/cm3)

wensaio

(%)

γmínimo

(g/cm3)

γmáximo

(g/cm3) k (cm/s)

1 1,762 11,8 1,733 18,1 1,337 1,805 8,17 x 10-4

2 1,677 10,9 1,700 18,1 1,344 1,813 1,38 x 10-3

3 1,781 11,4 1,603 19,5 1,353 1,816 5,40 x 10-3

4 1,789 10,0 1,783 14,8 1,347 1,813 5,31 x 10-4

5 1,799 10,1 1,813 12,5 1,349 1,815 5,05 x 10-4

Topo da camada

de areia

Page 106: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

96

As curvas granulométricas obtidas nos ensaios são apresentadas na Figura 5.20.

Nela verifica-se a predominância de uma areia média a grossa. A aplicação da fórmula

de Hazen conduziu a valores de permeabilidade da ordem de 10-2 cm/s. No entanto,

os ensaios de permeabilidade indicaram valores entre 5x10-4 e 5,4x10-3 cm/s. Tais

valores de permeabilidade de laboratório parecem relativamente baixos para uma

areia média a grossa. Entretanto, a diferença entre as permeabilidades determinadas

pela fórmula de Hazen e pelos ensaios de permeabilidade não é incoerente, pois a

fórmula de Hazen, em geral, indica a permeabilidade de areias no estado fofo,

enquanto nos ensaios de permeabilidade a areia encontrava-se no estado compacto

(para que o peso específico das amostras fosse próximo daquele determinado in situ).

Figura 5.20 – Curvas granulométricas da camada de areia.

Page 107: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

97

5.5.2 Monitoramento das vazões de bombeamento.

Conforme informado no Item 5.3, o projeto de rebaixamento sofreu alteração

durante a fase de implantação dos poços. As medições de vazão a partir do dia 4 de

agosto de 2005 já contemplam os 84 poços de rebaixamento. Após a realização dos

ajustes de campo para adequação da capacidade das bombas, o sistema de poços

projetado funcionou de forma satisfatória e foi capaz de rebaixar o lençol d’água até a

cota necessária (El. 358,0m). Entretanto, na região central da escavação (exatamente

onde há uma escavação localizada mais profunda) foi necessário a introdução de

algumas ponteiras para rebaixar o nível d’água local. No entanto, esta medida foi

restrita e de curta duração, não interferindo significativamente no regime de operação

dos poços de rebaixamento.

A vazão média por poço foi de cerca de 15 m3/h. Para auxiliar a interpretação das

vazões medidas, os poços foram subdivididos em 2 grupos, em função das fontes de

alimentação imaginadas. O Grupo 1 compreendeu os poços cuja principal fonte de

alimentação era o rio, e o Grupo 2 compreendeu os poços alimentados pelo lençol

freático. A disposição dos grupos de poços é indicada na Figura 5.21. Cada grupo

continha a metade dos poços.

Figura 5.21 – Disposição dos grupos de poços.

Page 108: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

98

A evolução das vazões medidas nos poços pode ser vista na Figura 5.22. Nela são

indicadas as vazões individuais dos poços e a média por grupo. Para facilitar a

comparação dos valores de vazão medidos com os estimados, admitiu-se que o Grupo

1 corresponde ao semi-círculo junto ao rio e o Grupo 2 ao semi-círculo do lado de

terra.

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

22,00

24,00

26,00

28,00

30,00

32,00

34,00

36,00

8-jun-05 28-jul-05 16-set-05 5-nov-05 25-dez-05 13-fev-06 4-abr-06TEMPO(dias)

VAZÃ

O(m

³/h)

Média Poços Grupo 1 Média Poços Grupo 2 Poços Grupo 1 Poços Grupo 2

Figura 5.22 – Evolução das vazões individuais nos poços e médias por grupo.

A evolução das vazões totais dos grupos de poços e do sistema de rebaixamento

pode ser vista na Figura 5.23.

691

755800

765805

790

726737

519

644

581

653

499561 525 493

1258

121 144

1272

1256

13251350

1304

1379 1399

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

1000,00

1100,00

1200,00

1300,00

1400,00

1500,00

8-jun-05 28-jul-05 16-set-05 5-nov-05 25-dez-05 13-fev-06 4-abr-06TEMPO (dias)

VAZÃ

O(m

³/h)

Vazão Total Poços Grupo 1 (Rio) Vazão Total Poços Grupo 2 (Lado de Terra) Vazão Total do Sistema

Figura 5.23 – Evolução das vazões nos poços e ponteiras filtrantes.

Page 109: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

99

(a) Resumo das vazões de bombeamento medidas

O resumo das vazões de bombeamento pode ser visto na Tabela 4.6.1. Tais

vazões foram medidas em 27 de abril de 2006.

Margem do rio

(Grupo 1)

Lado de terra

(Grupo 2)

Vazão do

sistema

Vazão de

bombeamento 765 m³/h 493 m³/h 1258 m³/h

Tabela 4.6.1 – Resumo das vazões de bombeamento.

5.5.3 Monitoramento dos níveis de rebaixamento

Após o rebaixamento ter atingido o nível requerido em projeto apenas os INA’s 8,

10 e 11 e o PZ 3 foram preservados. Os demais instrumentos encontravam-se em

zonas de escavação ou fundação de estruturas de concreto e foram perdidos tão logo

cumpriram sua função. A evolução dos níveis de rebaixamento no maciço de fundação

pode ser vista na Figura 5.24.

Figura 5.24 – Evolução dos rebaixamento do nível d’água na fundação.

ç g

350,00

352,00

354,00

356,00

358,00

360,00

362,00

364,00

366,00

368,00

370,00

372,00

374,00

376,00

378,00

380,00

382,00

01-mai-05 31-mai-05 30-jun-05 30-jul-05 29-ago-05 28-set-05 28-out-05 27-nov-05 27-dez-05 26-jan-06 25-fev-06 27-mar-06 26-abr-06 26-mai-06

Tempo (dias)

Elev

ação

(m)

INA8 INA9 INA10 INA11 PZ1 PZ2 PZ3 PZ4 PZ4A Fundo da escavação

Camada de Areia

CAMADA DE AREIA

Page 110: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

100

A evolução do rebaixamento no maciço à medida em que o sistema de

rebaixamento entrava em operação pode ser vista na Figura 5.25. Nela são indicados

três perfis de linha d’água rebaixada: antes, durante e após a operação do sistema

completo de rebaixamento (84 poços). Os perfis são indicados em duas seções, uma

longitudinal à escavação (Seção AA) e a outra transversal (Seção BB).

Figura 5.25 - Seções de monitoramento do rebaixamento do lençol d’água

Page 111: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

101

5.6 DISCUSSÃO

Na Tabela 5.3 são comparados os valores de vazão obtidos através das fórmulas

de uso corrente e modelagem numérica em elementos finitos com as medições de

campo.

Tabela 5.3 – Resumo das vazões de bombeamento calculadas e medidas no campo.

Condição Fórmulas de uso

corrente

Elementos finitos

Análise

axissimétrica

Elementos finitos

Análise

bidimensional

Medições de

campo

Margem do

rio 179m³/h 463m³/h 298m³/h 765m³/h

Lado de terra 85m³/h 271m³/h 90m³/h 493m³/h

Vazão do

sistema 264m³/h 734m³/h 388m³/h 1258m³/h

Verifica-se que a análise axissimétrica resultou em valores de vazão mais próximos

daqueles medidos no campo.

Os valores de vazão obtidos com as fórmulas de uso corrente neste caso foram

inferiores tanto à vazão obtida por elementos finitos quanto medida no campo.

5.7 RETRO-ANÁLISE DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE IN SITU

Utilizando a solução do Método de Elementos Finitos foram feitas duas retro-

análises, aumentando a permeabilidade de forma isotrópica até que as vazões

medidas e calculadas coincidissem, e outra considerando anisotropia no maciço.

Nas retro-análises foi levado em conta o efeito de fronteira inferior (impermeável), que

define a espessura do aqüífero. Foi considerada uma espessura de 100m.

(a) Anisotropia na fundação

Para avaliar o efeito de uma possível anisotropia no rebaixamento foi considerada a

relação de permeabilidades na fundação, VH kk 2> , onde kV é igual à permeabilidade

Page 112: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

102

de previsão. O resultado da análise de percolação é apresentado nas Figuras 5.26 e

5.27.

Foi verificado que o fato de a permeabilidade na direção horizontal ser duas vezes

maior que a vertical, aproxima as vazões calculadas das medidas no campo. Na

margem do rio a vazão calculada foi de 656m3/h, e no lado de terra foi de 497m3/h,

totalizando 1153 m3/h.

Page 113: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

103

N.A.

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOKh=Kv

75

80

85

90

95

100

104

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 4000

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

105

110

115

120

125

Figura 5.26 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” considerando anisotropia na fundação – lado de terra.

Page 114: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

104

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOK=4,0x10E-5m/s

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 950

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 5.27 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” considerando anisotropia na fundação – margem do rio.

Page 115: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

105

(b) Aumento isotrópico da permeabilidade

Para avaliar o efeito da variação da permeabilidade (considerada isotrópica) na

vazão, foi aumentada a permeabilidade, mantendo-se a horizontal igual a vertical, até

que se atingisse, na análise, as vazões medidas no campo. O resultado da análise é

apresentado nas Figuras 5.28 e 5.29.

Foi verificado que a permeabilidade (vertical e horizontal) que resulta na vazão

medida é igual a duas vezes à de previsão, 4,8x10-3cm/s. As análises realizadas foram

axissimétricas, sendo realizadas separadamente, junto ao rio e do lado de terra.

Page 116: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

106

N.A.

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOK=4,8x10E-5m/s

75

80

85

90

95

1 00

104

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 4000

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

105

110

115

120

125

Figura 5.28 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” considerando variação isotrópica da permeabilidade na fundação – lado de terra.

Page 117: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

107

RIO

Analysis Type: Steady-StateAnalysis View: Axisymmetric

ARENITOK=4,0x10E-5m/s

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 950

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

Figura 5.29 – Retro-análise da permeabilidade “in situ” considerando variação isotrópica da permeabilidade na fundação – margem do rio

Page 118: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

108

CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

6.1 CONCLUSÕES

Os sistemas de rebaixamento implantados devem ser avaliados sob os seguintes

aspectos: parâmetros geotécnicos, métodos de dimensionamento e desempenho real

(monitoramento).

Mais do que simplesmente definição de parâmetros geotécnicos, é necessário

definir um modelo geotécnico, que inclui a definição da estratificação (perfilagem). Os

parâmetros geotécnicos, no presente caso consiste do coeficiente de permeabilidade.

É necessário que o engenheiro geotécnico e geólogo trabalhem juntos na definição

do modelo geotécnico. Ainda, o coeficiente de permeabilidade in situ é o parâmetro

responsável pelo dimensionamento do sistema de rebaixamento, pois interfere

diretamente no valor das vazões de bombeamento.

A permeabilidade in situ é o parâmetro geotécnico que apresenta a maior variação

e, portanto, é um dos mais difíceis de serem estimados. Isso sugere que sua avaliação

seja feita através de mais de um método de ensaio, sendo ao menos um deles um

método de campo (ensaio de infiltração ou bombeamento, de preferência este último).

No primeiro caso estudado, a permeabilidade estimada estava bem abaixo daquela

observada durante o bombeamento. Essa diferença, a princípio, não pode ser

atribuída a anisotropia, embora para confirmar esta hipótese sejam necessários

ensaios de permeabilidade específicos (para avaliar a permeabilidade na direção

vertical e horizontal). Ficou evidenciada a importância do modelo geotécnico, pois a

camada de aluvião detectada durante a obra foi responsável por parcela importante da

vazão global.

No segundo caso as permeabilidades obtidas a partir dos ensaios na fase de projeto

se revelaram também inferiores às retro-analisadas, porem, em menor escala.

Page 119: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

109

Embora o empenho de métodos de dimensionamento usuais tenha apresentado

valores diferentes das medições de campo, estas previsões em geral foram

satisfatórias. Pode-se concluir que fórmulas de uso corrente corretamente

selecionadas em função da geometria da escavação e da fonte de alimentação podem

fornecer vazões relativamente próximas daquelas obtidas com métodos numéricos

(MEF). Entretanto, métodos numéricos fornecem uma melhor visualização do

processo de fluxo. Ainda, permitem considerar a heterogeneidade do maciço.

O monitoramento do rebaixamento foi de suma importância para o sucesso das

escavações. Com base nas medições de campo, foi possível avaliar a evolução do

rebaixamento e fazer os ajustes necessários no sistema de rebaixamento, garantindo

o avanço das escavações sem risco de instabilização.

A princípio os gastos em investigações de campo específicas para o projeto de

rebaixamento do lençol d’água podem parecer elevados. Porém, comparados com as

vantagens obtidas em função de um maior conhecimento da permeabilidade in situ, e

no aumento do grau de acerto da previsão do sistema de rebaixamento, tais gastos

são justificáveis.

6.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

As sugestões para pesquisas futuras voltadas para rebaixamento em arenito são:

• Estudar com maior profundidade a possibilidade de anisotropia no arenito,

através da execução de ensaios de permeabilidade nas direções vertical e

horizontal.

• Complementar o estudo do caso 2 através de modelagem numérica

tridimensional, buscando comparar com os resultados da modelagem numérica

bidimensional e tridimensional com os dados de campo apresentados.

• Compilar um maior número de dados de permeabilidades de arenitos obtidos

em retro-análise, associados às propriedades do arenito obtidos em sondagens

(a percussão e rotativas).

Page 120: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

110

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Geologia de Engenharia.

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Page 122: CORREA_RA_06_t_M_geo-rebaixamento.pdf

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MONTICELI, J. J., 1986, Influência da Compartimentação Geológico-Geotécnica de

Maciços Rochosos no Projeto de Fundações de Barragens – Fase de Viabilidade, 1

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