corpo e historia do qigong

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA José Luiz de Castro Junior AS PRÁTICAS CORPORAIS CHINESAS : AS PRÁTICAS CORPORAIS CHINESAS : AS PRÁTICAS CORPORAIS CHINESAS : AS PRÁTICAS CORPORAIS CHINESAS : PRINCÍPIOS E CONCEPÇÃO DE CORPO PRINCÍPIOS E CONCEPÇÃO DE CORPO PRINCÍPIOS E CONCEPÇÃO DE CORPO PRINCÍPIOS E CONCEPÇÃO DE CORPO uma breve história do Chi Kung (Qi Gong) Campinas 2007

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Corpo e Historia Do Qigong

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO FSICA

    Jos Luiz de Castro Junior

    AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :

    PRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPO

    uma breve histria do Chi Kung

    (Qi Gong)

    Campinas

    2007

  • AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :

    PRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPOPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPO

    uma breve histria do Chi Kung

    (Qi Gong)

    Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) apresentado Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas para obteno do ttulo de Licenciado em Educao Fsica.

    Campinas 2007

    Jos Luiz de Castro Junior

    Orientadora: Carmen Lcia Soares

  • FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA FEF UNICAMP

    Castro Junior, Jos Luiz de. C279p

    As praticas corporais chinesas: princpios e concepes de corpo: / Jos Luiz de Castro Junior. Campinas, SP: [s.n.], 2007.

    Orientador(a): Carmen Lcia Soares. Trabalho de Concluso de Curso (graduao) Faculdade de

    Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas.

    1. Educao Fsica. 2. Chi Kung. 3. Corpo. 4. China. I. Soares, Carmen Lcia. II. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao Fsica. III. Ttulo.

    asm/fef

  • Jos Luiz de Castro Junior

    Este exemplar corresponde redao final do Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) defendido por Jos Luiz de Castro Junior e aprovado pela Comisso julgadora em: 28/12/2007.

    Carmen Lcia Soares

    Vincius Demarchi Terra

    Maria Lcia Lee

    Campinas 2007

    AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :AS PRTICAS CORPORAIS CHINESAS :

    PPPPRINCPIOS E CONCEPO DE CORPORINCPIOS E CONCEPO DE CORPORINCPIOS E CONCEPO DE CORPORINCPIOS E CONCEPO DE CORPO

    Uma breve histria do Chi Kung (Qi Gong)

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho a todos que o possibilitaram, infinitos so. Dedico-o especialmente minha famlia, aos meus professores e mestres, Famlia Yang, linhagem Shangpa Kagyu, aos meus alunos, aos amigos, Oca da Tapioca. Dedico-o a todos que podero se beneficiar deste trabalho.

  • Agradecimentos

    Agradeo especialmente minha famlia, aos meu pais: Jos Luiz de Castro e Iracema Fonseca, minha irm: Mariana Fonseca de Castro e a todos os familiares presentes e passados. Agradeo pelo sustento e pelas sementes de maior transformao em minha vida.

    Aos professores: Roque Enrique Severino e Maria ngela Soci Severino, diretores da Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental, por todos os seus ensinamentos, pelo seu esforo infinito, pela pacincia e carinho de uma famlia., sem a quais no chegaria at aqui.

    Ao Professor Fernando De Lazzari e Dra. Cenira Braga Barros, diretores do EQUILIBRIUS - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental. Ao Fernando, sem o qual no chegaria aqui, pelos seus ensinamentos, pela sua amizade, pelo seu exemplo, pela pacincia, pelo esforo e dedicao em nosso caminho de vida. Cenira Braga Barros, pela grande amizade, dedicao, energia e alegria em todos os nossos momentos.

    Famlia Yang, ao mestre Yang Zhenduo e mestre Yang Jun, pela jia rara que preservam, pela dedicao e pelos ensinamentos to marcantes. A todos os mestres de Tai Chi Chuan.

    Linhagem Shangpa Kagyu de budismo, por significar minha vida, pela preservao do que mais precioso que todos os diamantes do mundo. Pela Jia da Pacincia que me trouxe. Pelo Dharma imensurvel. Pela Shanga que uma famlia.

    Prof. Carmen Lcia Soares, Carminha, um tigre e uma flor. Pela sua orientao, pelo que trouxe a este trabalho e Educao Fsica.

    A todos os professores e funcionrios da UNICAMP, que possibilitaram meus estudos em todos estes anos, especialmente aos da FEF, ao Prof. Vincius Terra, pela ajuda e Prof Lcia Lee pelas aulas e pela ajuda. Pela sempre presente lembrana dos ensinamentos e amizade dos professores Jocimar Daolio e Elaine Prodcimo.

    Aos amigos do grupo de Lutas da FEF, cujos momentos de aprendizagem e reflexo foram uns dos mais importantes neste processo de formao. Especialmente ao Fabio Pucineli e ao Picachu (Henrique Nakamoto).

    Aos grandes amigos da Oca da Tapioca, com quem aprendi sobre a vida e a arte do convvio, aos sotaques que no mais identifico. Aos tapioqueiros passados: Ferronius, Ruy, Gagar, Li Tai Tai, Mauro, Geraldo, Ronaldo, Lvia, Vanessa, Rodrigo e Elizabeth e aos presentes que vivenciaram estes momentos de concluso: Sales, Caldinho, Lou, Knia,Gustavo e Dona Dazinha.

  • Lou agradeo pela correo do portugus.

    Ao grande amigo Ruy Braz, por tudo que passamos juntos nestes anos, pelas dificuldades e alegrias compartilhadas, de scio a confidente, pela sua inteligncia e pacincia, por ser como um irmo. Janussa de Camargo, por seu carinho, amizade e corao alegre, por cuidar com amor de Ruy.

    Ao amigo Andr Eduardo Perbone, pela amizade em todos estes anos e por compartilhar seus preciosos livros, que tanto ajudaram na construo deste trabalho.

    Ao trabalho de anos com Sandra Mendes Rodrigues Alves, do Espao Corpus e Ftima Viegas, do Espao Cultural Via das Artes. Agradeo a todos os companheiros do espao Corpus e especialmente Marina pela sua ajuda.

    Silvana Simo, pela confiana e energia neste momento, que sejam grandes nossos frutos no EQUILIBRIUS.

    A Nailson, Sanae e seus filhos por tudo que me ajudaram e pelos ensinamentos e espao abertos.

    Ao amigo bodsatva Marcelo Campos, pelo grande carinho e amizade nestes anos, pelo aprendizado e pelas portas que ajudou a abrir.

    Aos amigos do Curso do Ceforma, da prefeitura de Campinas, a todos os funcionrios, alunos e aos companheiros Marcelo, Ieda, Rose, Albor e Agenor.

    Luciana Rodrigues Meira, por ser indescritvel o que sinto por ela, por abrir meu corao, pelos momentos de alegria, por me ensinar tanto, por ser um espelho to carinhoso, pela sinceridade e pela paciente ajuda na escrita deste trabalho. Que nosso amor seja eterno enquanto dure.

    A todos os meus alunos, pelos quais tenho grande carinho. So o motivo que me leva superao e a repensar constantemente minha motivao e meu caminho.

    A todos que me acolheram em Campinas, minha nova terra.

    A todos que me auxiliaram nestes anos de faculdade e em minha vida.

    A todos que esqueci.

    Ao que no pode ser dedicado e agradecido.

  • Castro, Jos Luiz Junior. As prticas Corporais Chinesas, Princpios e Concepo de Corpo: uma breve histria do Chi Kung (Qi Gong). 2007. 85f. Trabalho de Concluso de Curso Graduao-Faculdade de Educao Fsica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

    RESUMO

    Esta pesquisa trata dos princpios filosficos e culturais do pensamento chins tendo como base principal o I Ching (Livro das Mutaes), o Yin Yang e os cinco Elementos: madeira, ar, fogo, gua, metal, terra. Analisa a concepo de corpo na China, a compreenso do corpo energtico, os meridianos, a circulao da energia e os princpios bsicos da medicina tradicional chinesa. Analisa, ainda, o processo histrico de desenvolvimento do Chi Kung, as principais obras, autores, influncias e as quatro categorias principais desta prtica milenar. O objetivo principal desta pesquisa organizar os conceitos bsicos de uma das inmeras prticas corporais chinesas: o Chi Kung (Qi Gong), o trabalho com a energia corporal.

    Palavras-Chaves: Prticas Corporais Orientais e Chinesas; Chi Kung; Corpo; Educao Fsica.

  • Castro, Jos Luiz Junior. The Chinese Corporal Practices, Principles and Body Conception: brief history of Chi Kung. 2007. 85f. Trabalho de Concluso de Curso Graduao-Faculdade de Educao Fsica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

    ABSTRACT

    This study aims to organize the basic concepts of Chi Kung (Qi Gong), one of the Chinese corporal practices. Chi Kung means work with the body energy. First, the philosophical and cultural principles of Chinese thought were discussed, taking the I Ching (Book of Changes), the Yin Yang and the 5 elements as a basic source. Secondly, the conception of body, its understanding of energetic body, the channels, energy circulation and the basic principles of traditional Chinese medicine are studied. Finally, the historical process of Chi Kung its

    development, main works, authors, influences and the four main categories are studied.

    Keywords: Eastern and Chinese corporal practices; Chi Kung (Qi Gong); Body conception.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1: IMPERADOR FU XI, REI WEN, DUQUE DE CHOU E CONFCIO. ....................................... 20 FIGURA 2 REPRESENTAO DA COSMOLOGIA CHINESA. ................................................................ 23 FIGURA 3: AS 4 EXPRESSES DE ENERGIA....................................................................................... 25 FIGURA 5: SMBOLO DO TAI CHI E AS QUATRO EXPRESSES DE ENERGIA ..................................... 25 FIGURA 5: JEN TEN PA KUA, OS 8 TRIGRAMAS NO ARRANJO DO PARASO ANTERIOR DE FU XI. 26 FIGURA 6: HO TEN PA KUA, OS 8 TRIGRAMAS NO ARRANJO DO PARASO POSTERIOR DE REI WEN.

    ............................................................................................................................................... 26 FIGURA 7: OS 64 HEXAGRAMAS, SEGUNDO A DISPOSIO DE FU XI. .............................................. 28 FIGURA 8: O CORPO HUMANO E OS 8 TRIGRAMAS. ........................................................................ 37

    FIGURA 9: MOVIMENTO DO TAI CHI CHUAN: FORMA INICIAL ........................................................ 41 FIGURA 10: O IMPERADOR AMARELO............................................................................................. 43

    FIGURA 12: ILUSTRAO DOS 12 MERIDIANOS PRINCIPAIS. ........................................................... 47 FIGURA 13: ILUSTRAO CHINESA DOS MERIDIANOS SHAO YIN DO P (MERIDIANO PRINCIPAL DO

    RIM) E TAI YANG DA MO (MERIDIANO PRINCIPAL DO INTESTINO DELGADO).......................47 FIGURA 14: ILUSTRAO DOS MERIDIANOS DU E REN (VASO GOVERNADOR E VASO DA

    CONCEPO). ......................................................................................................................... 48 FIGURA 15: OS PONTOS VULNERVEIS. EXEMPLO DO USO DOS ACUPONTOS NAS ARTES MARCIAIS.

    ............................................................................................................................................... 48 FIGURA 16: CAMINHO DA PEQUENA CIRCULAO: VASO DA CONCEPO E VASO GOVERNADOR.56 FIGURA 17: PINTURA ENCONTRADA NA TUMBA DE MAWANGDUI: 44 POSTURAS DE EXERCCIOS. .. 63 FIGURA 18: O WU QIN XI (LUTA DOS CINCO ANIMAIS).................................................................. 65 FIGURA 19: BODHIDHARMA (TA MO)............................................................................................. 66 FIGURA 20: PA TUAN CHIN (OS OITO EXERCCIOS PRECIOSOS) ..................................................... 67 FIGURA 22: O CICLO DE CIRCULAO DA ENERGIA PELOS MERIDIANOS .....ERRO! INDICADOR NO

    DEFINIDO.

  • SUMRIO

    1. Apresentao .................................................................................................................. 14

    2. As Bases do Pensamento Chins .................................................................................. 18 2.1 I Ching e o pensamento chins ..................................................................................... 18 2.2 I Ching e o estudo tradicional na China ...................................................................... 21 2.3 Introduo aos Princpios do I Ching .......................................................................... 21 2.4 Os 3 Poderes primordiais ............................................................................................ 28 2.5 Os 5 Elementos e as Quatro Configuraes ................................................................ 30 2.5.1 Produo ........................................................................................................................ 31 2.5.2 Destruio ...................................................................................................................... 32 2.5.3 Extino ......................................................................................................................... 32 2.5.4 Respeito .......................................................................................................................... 32

    3. Entendendo a Concepo de Corpo ............................................................................. 34 3.1 O Corpo Humano: Origem e Divises ........................................................................ 35 3.2 O Movimento do Corpo - Anlise do Movimento humano pelos princpios do I

    Ching .............................................................................................................................. 38 3.3 O Corpo alm do Material ........................................................................................... 42 3.4 Os Meridianos ............................................................................................................... 42 3.5 Os 3 tesouros................................................................................................................... 50 3.5.1 Ching .. 50 3.5.2 Chi .. 51 3.5.2.1 Yang Chi e Yin Chi 51 3.5.2.2 Yuan Chi . 51 3.5.2.3 Zong Chi . 52 3.5.2.4 Yong Chi . 52 3.5.2.5 Wei Chi ... 53 3.5.3 Shen 54

    3.6 Tan Tien Os Campos de cinabrio ......... 54 3.6.1 O Tan Tien Inferior ...................................................................................................... 55 3.6.2 O Tan Tian Mdio ........................................................................................................ 55 3.6.3 O Tan Tien Superior ..................................................................................................... 55 3.7 A relao entre os 3 Tesouros e os 3 Tan Tien ........................................................... 56

    4. Uma Breve Histria do Chi Kung ................................................................................ 58 4.1 O que O Chi Kung ? ................................................................................................... 59 4.2 O estudo do Chi e seus campos de atuao ................................................................. 61 4.3 O Chi Kung ao longo da histria .................................................................................. 62 4.4 As Diferentes Categorias do Chi Kung ....................................................................... 70

    5. Palavras Finais .............................................................................................................. 73

    6. Referncias ..................................................................................................................... 74

  • 1. Apresentao

    Uma vez perguntaram: E se pedssemos que expressassem o que o Sol a um pintor, um escultor, um poeta, um msico e um danarino, qual destas expresses seria correta?.

    Esta pergunta remete a uma reflexo profunda sobre a diversidade em que o ser humano vive; suas diferentes formas de manifestaes, de aes, de pensamentos, sobre os preconceitos e embates que o diferente ocasiona. Por vezes, quem responde a esta pergunta pensa que a sua prpria obra, de sua cultura, de seu pas, de sua famlia a melhor. Tudo isto envolve uma reflexo sobre as nossas tradies e seu pronto formato, uma reflexo sobre o j posto ou imposto, com a inteno de buscar aprender com o antigo e super-lo. Superar no significa ir contra, mas encontrar outras formas que possam nos levar a outro formato, a outra possibilidade, a outro nvel de compreenso.

    com a inteno de pensar algo novo em nossa cultura ou se defrontar com uma diferente possibilidade que outra cultura pode nos apresentar que este trabalho busca contribuir para o universo da educao do corpo, especificamente pela ptica do pensamento chins e sua concepo de corpo, com nfase nas prticas corporais chinesas, com foco no Chi Kung1. Usando a metfora apresentada acima, no ser feita a defesa do modo como o Sol deve ser expressado, mas sim como abord-lo sob a perspectiva de uma outra cultura, como esta manifestou seu pensamento sobre o corpo e suas prticas, fazendo a ligao com a nossa. Acreditamos que desta maneira possamos entender uma outra forma de expresso, abrir novos horizontes, e quem sabe encontrar uma bela obra que ainda no conhecamos. Esta nova forma de expresso pode estar codificada numa pintura que marque nossas vidas, numa escultura em que nos encaixemos ou numa msica que nos faa danar melhor a vida.

    Este trabalho fruto de uma busca inicialmente pessoal, com a inteno de fazer a ligao entre pensamentos por vezes distantes entre si, buscando para tal a tradio chinesa oral, a tradio chinesa da prtica e do caminho de vida, para construir a ponte com o

    1 Basicamente significa trabalho com a energia, neste caso a energia do corpo. Ser explicado detalhadamente no

    cap.2. Neste trabalho, os nomes em chins possuiro uma aproximao fontica para sua pronncia em escrita romanizada, neste caso em lngua portuguesa. O Pinyin (sistema fontico romanizado padro, utilizado na Repblica Popular da China, para a leitura fontica dos termos em lngua chinesa) ser utilizado nos casos que houver referncia bibliogrfica adequada, que se remete a este sistema, pois este trabalho no se direciona a um estudo aprofundado da lngua chinesa. Assim ser colocado em nota de rodap ou ser colocado entre parnteses no corpo do texto, mostrando-se o modo da escrita, como por exemplo: I Ching (Yi Jing); Chi Kung (Qi Gong).

  • nosso conhecimento acadmico ocidental. Certamente esta busca tem razes em uma insatisfao pessoal com a vida, com o corpo sentido e com o mundo observado. O corpo biolgico, anatmico, bioqumico e biomecnico no satisfazia as necessidades do entender o corpo humano, no possibilitava ir aonde se desejava, no supria a existncia corporal, no explicava o viver. Estes conhecimentos acerca do corpo, citados acima, no foram e no so desprezados, mas ainda deixavam um vazio no olhar, uma desconexo entre o corpo e o mundo.

    Tive a possibilidade de vivenciar inmeras prticas corporais ocidentais, em ambientes formais e no formais, mas no havia ainda encontrado o que procurava, at acontecer o encontro com algumas artes marciais, que foram bastante marcantes. Depois, na adolescncia, a meditao, o Tai Chi Chuan, diferentes tcnicas de Chi Kung, junto ao estudo da filosofia e prticas orientais, as quais perduram at hoje.

    Gostaria de mostrar meu trajeto resumidamente, pensando que isto influncia e forma a base deste estudo. Iniciei meus estudos no conhecimento oriental em Ribeiro Preto, onde meus primeiros contatos com o universo oriental foram atravs das artes marciais, Karat, Jud e Aikid. Na adolescncia pratiquei Yoga por certo tempo, estudando principalmente Raja Yoga, Depois iniciei a prtica do Tai Chi Chuan (Estilo Tradicional da Famlia Yang), com Prof. Fernando de Lazzari (Diretor do Equilibrius Centro de Tai Chi Chuan Acupuntura e Cultura Oriental), logo em seguida iniciamos um grupo de estudos sobre I Ching, obtendo ensinamentos do Prof. Roque Enrique Severino (Diretor da SBTCC- Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental - SP). Concomitantemente, com Prof. Roque, iniciamos os estudos do budismo, na Escola Shangpa Kagyu de budismo tibetano, recebendo ensinamentos tanto em Ribeiro Preto como no Jardim do Dharma (Kagyu Dak Shang Shaolin) na cidade de Cotia, prxima a So Paulo. Aps alguns anos iniciei estudos de aprofundamento e aperfeioamento destes conhecimentos em So Paulo, na SBTCC com os professores Roque e Maria ngela Soci Severino (Diretora da SBTCC), juntamente com o Prof. Fernando. Outros estudos complementares das prticas corporais chinesas foram feitos ao longo do tempo, assim como estudos de medicina chinesa e massagem, reas em que esto meus focos de estudo. Em 2005 tive a oportunidade de participar de um Seminrio Internacional de Tai Chi Chuan na China, conhecendo alguns locais historicamente importantes, como Wu Tai Shan (Montanha dos Cinco Picos), inmeros templos e cidades e locais histricos, conhecendo mais sobre esta cultura to vasta. Os estudos nesta rea perduram at hoje com estes ltimos trs professores mencionados, alm de outros cursos na rea de prticas orientais.

    Acreditando que esta vida toma novo sentido quando se encontra com as prticas que aqui abordaremos, o vazio ora sentido ganhou novos modos de olhar e transformou-se em prtica na vida cotidiana, pois estas prticas me possibilitaram enxergar e sentir o corpo, a

  • vida e o mundo de outra forma. A nova concepo de corpo vai alm da materialidade e no o encara como se o houvesse uma lacuna entre o corpo e o universo, ao contrrio, concebe um corpo submerso no universo, indissocivel dele.

    Percebo em minha experincia que, muitas vezes as prticas de outras culturas chegam ao nosso pas ou a tantos outros com certa modstia e sem fora, como algo feito no quintal do estrangeiro ou daquele que trouxe o conhecimento de fora. Com o passar do tempo, o sistema social e comercial toma nota da nova prtica, ou a nova prtica enxerga no sistema a possibilidade de expanso e benefcio das pessoas (que podem ser de sade, financeiro, poltico, pessoal, ideolgico e assim por diante). No objetivo deste trabalho questionar estes diferentes interesses, certamente bem abordados por outros autores2, mas sim abordar com rigor as bases da prtica proposta, com o fim de auxiliar os interessados no assunto.

    Creio que seja benfico a muitas pessoas o processo de ligao e troca de conhecimento das prticas corporais entre as culturas, porm o problema no est na troca, mas na maneira como esta troca ocorre. Muitas vezes, as prticas chegam de um lugar, so simplesmente aculturadas com o intuito de se obter lucro ou fama, so transformadas em mais um produto do mercado de consumo, sem que haja uma reflexo, discusso ou estudo dos meios e conseqncias da prtica, nem por aquele que a ensina, nem por aquele que a aprende.

    importante saber o processo histrico ocorrido na prtica: quais so os seus fundamentos, em que contexto estava inserida, em qual est agora; as condies e motivaes do

    sujeito que ensina e dos estudantes; as aproximaes e distncias culturais, qual a lgica de pensamento daquele conhecimento e tantos outros pontos minuciosos que no somente quem ensina deve obrigatoriamente saber, mas aquele que aprende e tambm aquele que promove inmeros projetos de poltica pblica no possuem esta preocupao, e muitas vezes vrios rtulos bonitos so promovidos, porm contedo e qualidade so questionveis.

    A importncia das razes sempre dita pelos chineses, pois uma rvore sem razes no pode colher a chuva que vem do cu. As razes para o corpo devem ser construdas e fortalecidas em uma prtica corporal, para no corrermos o risco de uma leve brisa de primavera

    poder derrub-lo sem muito esforo. A construo desta base , certamente, a maior e mais detalhada inteno e preocupao dos mestres srios e comprometidos com as prticas corporais

    chinesas, no intuito de que desta forma algo firme pode ser construdo e asas possam ser criadas. No h aqui a inteno de se apresentar um manual das prticas corporais

    2 Indicaes de leitura: FRAGA, Alex Branco. Exerccio da informao: governo dos corpos no mercado da vida

    ativa. Campinas: Autores associados, 2006. CARVALHO, Yara Maria. O mito da atividade fsica e sade. So Paulo: Hucitec, 1995.

  • chinesas existentes, pois sua vastido no permite tal feito. Alm disso, existem inmeros outros manuais com esta inteno, focalizando as especificidades de diferentes tcnicas, linhagens, vertentes, escolas, apresentando diferentes abordagens e aspectos. Ser feito aqui o esforo de mostrar os fundamentos introdutrios, que permeiam de forma geral estas prticas, de modo a beneficiar o professor, o praticante e qualquer profissional da rea das prticas corporais que busque entender o corpo sobre outra tica, outra linguagem, outra lgica. H limitaes claras a serem encontradas pelo leitor em certos momentos, pois no h um acompanhamento de instrues orais ao longo de uma experincia prtica, que aqui abordada teoricamente.

    Certamente no h como entender a profundidade e complexidade destas prticas, se no houver a experincia, o sentir no interior desta vasta e profunda teoria milenar, que possibilita uma outra

    msica onde o corpo possa danar neste infinito universo. Ainda assim, este trabalho busca beneficiar os estudiosos e praticantes da rea,

    assim como os curiosos e interessados, sejam suas prticas de interesse especificamente chinesas ou que contenham influncias ou aproximaes tericas.

    O texto a seguir foi organizado em trs grandes partes, divididas em captulos: a base do pensamento chins, a concepo chinesa de corpo e uma breve histria do Chi Kung. No primeiro, buscar-se- a raiz do pensamento chins e a influncia filosfica que permeia e norteia as expresses desta cultura. No segundo, ser abordado o modo como se entende o corpo pela

    concepo chinesa, e quais so os princpios que norteiam esta viso de corpo. No terceiro, ser abordada a histria bsica do Chi Kung com suas respectivas correntes e as mudanas histricas

    ocorridas.

  • 2. As Bases do Pensamento Chins

    Quando se busca entender algo de forma mais profunda, independente do que seja, importante buscar suas razes. Se no sabemos onde esto plantadas as razes de uma rvore, podemos nos enganar com a beleza de uma flor ou com o sabor de um fruto. s vezes a flor pode possuir veneno ou o fruto que aparentava doce pode ser azedo.

    Neste sentido importante entendermos quais so as bases que fundamentam o pensamento chins, que teorias ao longo do tempo levaram esta cultura a enxergar o mundo de outra forma, diferente dos ocidentais. Esta cultura milenar nos fascina com suas descobertas, seus filsofos e os poetas nos deslumbram com seus dizeres. O que foi dito h milhares de anos serve em nossos dias de hoje, do mais simples ao mais complexo, do plantar ao colher, do viver ao morrer.

    2.1 I Ching e o pensamento chins

    Todo o conhecimento de origem chinesa est relacionado primordialmente com o I Ching3. No somente a China, mas tambm toda a regio do extremo oriente, como o Japo, Coria, Tailndia, Vietn, pases dos Himalaias e outros, so influenciados pelas idias que aqui sero apresentadas.

    I Ching, o Livro das Mutaes, um tratado cujos textos explicam a lgica existente no universo, suas relaes de causas e conseqncias, mostrando como ocorrem as mudanas de modo minucioso e profundo. um dos livros mais antigos da humanidade, por alguns considerado o mais antigo, e um dos mais importantes livros na cultura chinesa, se no for o mais importante. Os prprios termos I e Ching em chins j explicam muito de seu significado.

    O ideograma I ( ) est relacionado com a mudana, a mutao, e comumente traduzido assim. A parte superior do ideograma, antigamente representada por um crculo com um trao no meio representa o Sol, o Yang, o masculino. A parte inferior, antigamente representada por um meio crculo com dois traos no meio representa a Lua, o Yin,

    3 Pronuncia-se: I Tchin. Em Pinyin: Yi Jing.

  • o feminino. Assim, este ideograma mostra a transformao na natureza das fases do dia, as quatro fases, as 4 Expresses de Energia que sero explicadas adiante. I tambm pode ser traduzido como adaptao, pois este ideograma tambm utilizado para representar o admirado camaleo, smbolo da adaptao, dentro das condies que a natureza oferece, indicando a adaptao para a sobrevivncia.

    O ideograma Ching ( ) dividido em duas partes. A primeira, do lado esquerdo, significa fio de seda e a segunda, da direita, significa caminho. Mostra-se assim a idia de um caminho feito de fio de seda. O fio de seda aponta para a idia da transformao que ocorre dentro do casulo e para o percurso do fio de seda que chega ao fim, sem nada depois, simbolizando o vazio. Comumente Ching traduzido como livro sagrado, clssico ou tratado; pois esta palavra se refere somente s obras de grande importncia, na verdade aos textos que discutem a razo do universo e o caminho do homem. 4

    Esta obra no se restringe hoje China, podemos ver uma grande difuso destes ensinamentos em muitas partes do mundo, basta fazer uma breve pesquisa na Internet para comprovarmos os inmeros sites, livros, palestras e cursos oferecidos pelo mundo. Inicialmente a migrao dos ocidentais para a China, a busca de comrcio e relaes polticas, possibilitou os primeiros contatos com este conhecimento, depois a migrao oriental para o ocidente reforou isto, possibilitando de forma mais ampla o estudo.

    O I Ching fortemente conhecido pela sua aplicao oracular5, mas no se

    restringe de modo algum a ela, pois sua abordagem relacionada filosofia, matemtica, msica,

    religio, astrologia, artes marciais, estratgia militar, arquitetura, poltica, medicina e como em no

    presente estudo, s prticas corporais.

    Esta obra milenar representa a essncia da cultura chinesa, e uma vida

    considerada pouco tempo para seu estudo, pois ela possibilita vrios nveis de compreenso,

    diferentes aplicaes e abordagens. Foi e revelada pelos seus grandes mestres como uma forma

    de aperfeioamento do ser humano, um modo de viver harmoniosamente com a natureza e

    conseqentemente com sua prpria vida.

    4 WU (2003); NETTO (2001).

    5 Os mtodos mais popularmente conhecidos so a consulta atravs das varetas e das moedas, porm existem outros, como o preciso mtodo numerolgico. O mtodo das varetas de caule de arroz, de mileflio ou de bambu, o mais antigo, foi criado pelos sbios chineses com o intuito de ser acessvel ao povo, que era em sua maioria composto por camponeses. O mtodo das moedas foi criado para os comerciantes, pois utilizavam as moedas como meio de compra, sendo mais prtico, este mtodo o mais conhecido no ocidente. Nos dias atuais existem algumas novas formas, como baralhos e computadores, porm no acredito na confiabilidade e preciso destes mtodos, pois alm de impossibilitarem a reflexo e a tranqilidade na consulta, so mtodos atravs dos quais o consulente consome rapidamente uma resposta.

  • Considerada uma das obras escritas mais longamente construdas em todos os

    tempos, sua histria no escrita, de tradio oral, data de 6000 a 8000 anos atrs6. Sua formulao

    escrita foi realizada por quatro grandes sbios, que estruturaram seus comentrios entre 5577 a.C.

    e 477 a.C.: Imperador Fu Xi 7, Rei Wen 8, Duque de Chou 9 e Confcio10 11.

    Figura 1: Imperador Fu Xi, Rei Wen, Duque de Chou e Confcio. Fonte: Medarus. Huang_di. Acesso em 08/10/2007. Orbat. Zhou Wen Wan. Acesso em: 08/10/2007. Loongevidade.

    Chou. Acesso em: 08/10/2007. Live Journal. Confucius2.Acesso em: 08/10/2007.

    6 As datas informadas por inmeros autores so diferentes, assim seguirei aqui as datas de Wu (2003), por ter base

    nos escritos clssicos chineses, mas as marcaes so controversas nos diversos livros. 7 Imperador Fu Xi, da era da caa e da pesca, considerado o autor mtico original, foi aclamado por seu povo pela

    sua sabedoria e virtude, sendo considerado o chefe mais sbio de todas as tribos. Ele estudou o cu, a terra, os seres vivos e principalmente o Mapa do Rio (He Tu), assim teve as bases para criar os primeiros smbolos do I Ching, os 8 trigramas e os 64 hexagramas e escreveu o texto das imagens dos hexagramas. (WU, 2003; NETTO, 2001). 8 Rei Wen (Wen Wang) o fundador da Dinastia Chou (1121a.C. - 256 a.C.). Comps um livro sobre os 64

    hexagramas (Kua Ci), conhecido como Julgamentos no ocidente, comps o Arranjo do Paraso Posterior, outra forma de arranjo dos trigramas. Durante os sete anos que ficou preso, elaborando neste tempo seus comentrios sobre o que foi deixado por Fu Xi, j haviam se passado muitos anos, de modo que seus comentrios e smbolos j no podiam ser compreendidos pelo povo como antigamente, e correram o risco de se tornarem desconhecidos. (WU, 2003; NETTO, 2001). 9 Duque de Chou (Chou Gon) foi filho de Rei Wen, de quem herdou seus conhecimentos sobre I Ching. Em sua

    poca nem mesmo os comentrios de seu pai eram compreendidos. Desta forma, ele deixou os 384 Versos sobre as Linhas (Yao Ci), aprofundando o significado de cada linha dos hexagramas, esclarecendo os Julgamentos deixados por seu pai. (WU, 2003; NETTO, 2001). 10

    Confcio (Kong Tz) (551a.C - 479 a.C.) reconhecido como uns dos maiores filsofos chineses, at os dias de hoje seus ensinamentos se fazem presentes na cultura chinesa. Ele possuiu uma vida dedicada a entender o mundo e ao ensino, buscou criar um pensamento voltado para o desenvolvimento das relaes humanas com o mundo. A respeito do I Ching, ele deixou 7 obras divididas em 10 volumes que so comumente conhecidos como As dez Asas (Shr Yi), que tratam dos textos anteriores e esclarecem inmeros aspectos at ento no abordados (Wu, 2003; Netto, 2001). A este respeito diz que utilizando o simbolismo do psssaro, as criaes de Fu Xi seriam a cabea, os julgamentos do Rei Wen, o corpo e as linhas do Duque de Chou, a cauda, mas para que o pssaro possa levantar vo, so indispensveis as asas de Confcio. (WU, 2003, p. 22) 11

    Alm dos quatro sbios principais, outros grandes mestres teceram seus comentrios sobre o I Ching, como: Shao Yung (1011 1077 d.C), mestre neoconficionista, foi considerado o maior filsofo de sua poca e um mestre espiritual do povo chins. Seu mausolu est ao lado do mausolu de Confcio. Desenvolveu o mtodo de Numerologia da Escola da Flor de Ameixeira, Mei Hua Yi Shu). Chuang Tz, Mancio (Man Tz), Pu Yi, Lao Tz e outros mestres taostas, confucionistas e budistas. Atualmente temos alguns professores ocidentais verdadeiros que tambm deixaram seus comentrios, aproximando nossos pensamentos.

  • 2.2 I Ching e o estudo tradicional na China

    Na China, o estudo tradicionalmente dividido em duas correntes: a escolstica e a mstica. A corrente escolstica, tambm conhecida por racional ou filosfica, denominada tradio visvel (shien djun), pois possui uma relao com a harmonia do mundo cotidiano, de convivncia social, respeito natureza, s pessoas e divindades. Esta corrente possui seis estudos clssicos fundamentais para a formao humana. O I Ching o primeiro e considerado o mais

    importante; o segundo o de ritos e cerimnias; o terceiro o de poesia; o quarto o de literatura; o quinto o de msica e o sexto o de histria12. A corrente mstica, tambm conhecida

    como espiritual, denominada tradio secreta (mi djun). Esta tradio possui seus ensinamentos direcionados para o desvendamento dos mistrios do universo13. Para isto, estes estudos so fundamentados em trs obras do mistrio. A primeira o I Ching; a segunda o Tao Te Ching14 e a terceira o Nan Hua Ching (Livro da Flor do Sul). Se compararmos estas obras a uma rvore, teremos o I Ching como raiz, o Tao Te Ching como galho e o Nan Hua Ching como flor do esoterismo chins.

    Este modo tradicional de estudo foi abordado para que possamos entender melhor a importncia do I Ching, visto que o primeiro e mais importante estudo a ser feito em

    ambas as correntes, desta forma, vemos o quanto necessrio adentrarmos primeiramente este conhecimento, entendendo seus princpios, antes de entendermos as prticas corporais

    diretamente15.

    2.3 Introduo aos Princpios do I Ching

    Observando os movimentos do cu e da terra pode-se ver as suas mudanas, os perodos de claridade e escurido, as mudanas do calor e frio. Esta dualidade foi denominada

    Yin e Yang. As relaes de Yin e Yang do origem aos 5 elementos: metal, gua, madeira, fogo e terra. Os cinco elementos so regidos pelas quatro configuraes: produo, destruio, extino

    12 Estes estudos so representados principalmente pela escola confucionista, baseando-se nos ensinamentos deixados

    por Confcio, mas estes estudos se mostram anteriores a Confcio, tendo ele mesmo trilhado este caminho. 13

    Estes estudos possuem representao nas escolas taostas. 14

    Comumente traduzido como: Livro do Caminho da Virtude ou Livro da Virtude do Tao, de Lao Tz. 15

    SEVERINO (1994); NETTO (2001).

  • e respeito16.

    Pela observao da natureza, o Divino Imperador Fu Xi, pde observar que havia um padro de comportamento, dos movimentos e das mudanas. Este padro ocorre atravs de uma relao entre duas energias, as quais ele denominou Yin e Yang. Yin representado iconograficamente por uma linha partida, descontnua ( ) e Yang por uma linha cheia, contnua ( )17. Estas duas foras permeaiam tudo o que existe e possibilitam a anlise de toda a existncia. O significado original das palavras Yin e Yang est relacionado com as duas faces de uma mesma montanha, de maneira que Yin est relacionado com a parte escura e Yang com a parte iluminada. Yang est relacionado com a atividade, o calor, a luz, o dia, o Sol, o objetivo e direto, o masculino, o imaterial, o cu. Yin est relacionado com a receptividade, o frio, o escuro, a noite, a Lua, o subjetivo e indireto, o feminino, o material, a terra.

    Esta representao mostra que Yin e Yang so fruto de uma sntese. Isto quer dizer que Yin e Yang so inseparveis, um depende do outro, no podem existir separadamente.

    Como diziam os antigos chineses: h um yin, h um yang, que se chama Tao. No possvel a existncia de Yin sem Yang, nem Yang sem Yin. Chama-se Yin Yang a reunio de duas partes

    opostas e indissociveis que existem em todos os fenmenos e objetos em relao recproca no meio natural. Mais adiante: Os mecanismos de reunio e de oposio podem se produzir tanto entre dois fenmenos que se deparam, como no mago de dois aspectos antitticos coexistindo no mesmo fenmeno. 18

    Toda a base para o entendimento posterior est na compreenso de Ying e Yang, porque a partir dela pode-se ver as possibilidades de relao entre Yin e Yang representadas pelo Diagrama Tai Chi Tu, apresentando uma viso da cosmologia chinesa: o modo como tudo se originou e as relaes entre as energias e suas infinitas possibilidades.

    16 O I Ching nada mais do que Yin e Yang, dia e noite. O dia e a noite so fogo e gua, eles do origem aos 5

    elementos. (SEVERINO,1994, p. 31). 17

    Quais seriam as diferenas apontadas por Fu Xi entre as linhas Yin e Yang ? Yang demonstra sua objetividade por ser uma linha inteira que preenche todo o espao do princpio ao fim. Yin demonstra sua subjetividade por apresentar um vazio entre duas linhas, no sendo portanto possvel apreend-lo por inteiro (WU, 2003, p. 16). 18

    AUTEROCHE, 1992, p. 13.

  • Figura 2: Representao da Cosmologia Chinesa. Fonte: Silva Filho.19

    O modo como este estudo cosmolgico aborda a origem do universo

    explicado por este diagrama. Diz-se que no incio havia apenas um vazio, do qual surge uma primeira manifestao que dividida em duas, trs e assim sucessivamente. O Vazio

    representado por Wu Chi, o vazio primordial, o que havia antes da criao, o que existia antes da primeira manifestao, o extremo silncio e quietude. De Wu Chi surge o Tao20, a primeira fasca, o germe de criao, a semente, a energia potencial de todas as coisas21. Do Tao surge o Tai Chi22, representando tudo o que existe de maneira manifesta no universo, pois mostra o Yang dentro do Yin, o Yin dentro do Yang, a mutao constante, a transformao constante de um no

    19 SILVA FILHO, Ruy Braz. Todas as imagens cedidas por este autor no possuem publicao.

    20 Em Pinyin: Dao.

    21 O Tao se manifesta atravs de Yin Yang, pois ele invisvel, no perceptvel ao ser humano comum, ele apenas

    se torna perceptvel pela sua manifestao. Os chineses dizem que aquele que conhece o Tao, conhece o passado, o presente e o futuro. (NETTO, 2001, p. 25) 22

    Em Pinyin: Tai Ji. Como nossa viso dualstica do universo separa a fsica da metafsica, a viso chinesa de Yin e Yang encara ambas como complementares, idia esta que um fsico quntico est tambm compartilhando ao descobrir que no existem limites chamados de metafsico ou fsico, mas um TODO nico e indivisvel manisfestando-se sob duas formas diferentes. (SEVERINO, 1994, p. 36).

  • outro, o outro no um, de um extremo ao outro e um retorno ao outro extremo23. Da juno de Yin e Yang em duas linhas tem-se quatro possibilidades de

    digramas, os Quatro Smbolos ou as Quatro Expresses de Energia24. O velho Yang representa: o meio-dia, vero, lua cheia, fogo; o Jovem Yin: o ocaso, outono, lua minguante, metal; o Velho Yin: meia-noite, inverno, lua nova, gua; o Jovem Yang: aurora, primavera, lua

    crescente, madeira.

    23 Porm, jamais devemos relacionar o Yin ao lado negativo ou ruim das coisas, nem Yang ao positivo ou bom. Yin

    tem sua funo num momento prprio, assim como Yang. Quem diz que Yin ou Yang so bons ou ruins a mente perturbadora dos seres sencientes, os quais so apegados ao momento das coisas, procurando sempre aprision-lo, julgando cada momento que vivem como sendo bom ou mal. Os homens comuns nunca esto satisfeitos com os movimentos do destino. (...) A sabedoria est em saber viver cada momento como ele , sem ser prisioneiro desse ilusrio instante. O caminho de sabedoria o equilbrio; equilbrio estar centrado no eixo. (NETTO, 2001, p. 26) 24

    Na literatura e na tradio oral encontramos sinnimos para os nomes dados a cada um dos smbolos. Jovem Yang: Yang no Yin ou Yin sobre Yang. Velho Yang: Yang no Yang, Yang sobre Yang ou Supremo Yang. Jovem Yin: Yin no Yang ou Yang sobre Yin. Velho Yin: Yin no Yin, Yin sobre Yin ou Supremo Yin. importante salientar que a leitura dos smbolos, seja nos digramas, nos trigramas ou nos hexagramas sempre feita de baixo para cima, desta forma seus nomes ganharam o significado adequado.

  • Figura 3: As 4 Expresses de energia. Fonte: Silva Filho.

    Figura 4: Simbolo do Tai Chi 25 e as Quatro Expresses de Energia Fonte: Silva Filho.

    25 A cor branca representa o Yang, o preto representa o Yin.

  • Depois das quatro expresses de energia, Fu Xi acrescentou uma linha, formando-se trs linhas, os Trigramas. Estes smbolos so estabelecidos pela observao das mudanas csmicas nas operaes das foras positivas (Yang) e negativas (Yin), representando os oito estados essenciais da natureza e do universo em quatro pares de opostos.26

    Figura 5: Jen Ten Pa Kua, os 8 Trigramas no Arranjo do Paraso Anterior de Fu Xi. 27 Fonte: Silva Filho.

    Figura 6: Ho Ten Pa Kua, os 8 Trigramas no Arranjo do Paraso Posterior de Rei Wen.28 Fonte: Silva Filho.

    Chien29: o cu, o esprito, elemento metal, o espao, a atividade.

    Tui: o lago, o outono, elemento gua, concentrao da matria lquida.

    26 WU, 2003, p. 18.

    27 Pa significa 8 e Kua est relacionado com os smbolos ou trigramas. Em Pinyin escreve-se Ba Gua. Na

    consulta oracular utilizado para se saber o passado, a causa, o remoto. Na literatura e na tradio oral se usa a palavra paraso tambm como Cu. Deve-se fazer a leitura do centro para a periferia do Pa Kua. 28

    O Arranjo do Paraso Posterior (ou Cu Posterior) mais conhecido no ocidente, em conseqncia da prtica bastante divulgada do Feng Shui (l-se: Fong Shuei). Feng significa vento e Shuei gua, ou seja, esta a cincia que busca a harmonizao dos ambientes atravs do equilbrio dos elementos. Na consulta oracular, o arranjo usado para se saber o futuro.

  • Li: o fogo, elemento fogo, a ascendncia e dilatao.

    Chen30: o trovo, elemento madeira, o movimento forte.

    Sun: o vento, elemento madeira, a suavidade.

    Kan: a chuva, elemento gua, o movimento descendente e penetrante.

    Ken: a montanha, elemento terra, a culminncia da matria slida.

    Kun: a terra, a matria, elemento terra, a coagulao, a receptividade31.

    H uma relao entre os ciclos existentes na natureza e os Trigramas, observemos:

    Na natureza, primeiro vem o Cu claro (Chien); depois surge o vento (Sun); que traz as nuvens (Tui); depois vem o trovo (Chen); vem a escurido (Kun); seguido deste a chuva (Kan); depois volta o vento (Sun); que traz a calma (Ken); aps a calma vem a luz do Sol (Li); e o cu volta a ser claro novamente (Chien). 32

    O mesmo ocorre em termos psicolgicos no ser humano:

    Primeiro h a mente clara e serena (Chien); depois surgem os pensamentos (Sun); a descrio das coisas, o intelecto (Li); que trazem as emoes confusas, a dvida (Tui); que causa a mente escura, o repouso, a solido (Kun); que origina ansiedade, angstia (Chen); seguindo-se o sofrimento, o choro, a tristeza (Kan); ao que se segue o silncio, a calma (Ken); e volta-se a ter a mente clara (Chien)33.

    Aps a criao dos trigramas, Fu Xi fez as relaes entre todos os Trigramas,

    mostrando todas as possibilidades de disposio dos trigramas em cima e embaixo, ou seja, multiplicou 8 x 8 e obteve os 64 Hexagramas. Os hexagramas possuem uma ordem estabelecida matematicamente, de acordo a uma combinao binria, 0 e 1. O hexagrama dividido basicamente pelo trigrama de baixo e pelo trigrama de cima, chamados respectivamente de Trigrama Inferior ou Trigrama Interior e Trigrama Superior ou Trigrama Exterior. Isto

    est relacionado com a representao de sua colocao no hexagrama, pois o Trigrama Inferior mostra o fenmeno pelo lado de dentro, o interior, o ntimo, o oculto; o Trigrama Superior mostra

    29 Pronuncia-se Tchien ou Tien.

    30 Pronincia-se Tchen.

    31 SEVERINO (1994); WU (2003).

    32 Informao verbal recebida durante o curso de I Ching. Severino, 2000 a 2003. Ribeiro Preto, Equilibrius-

    Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental. 33

    Idem.

  • o lado de fora, o exterior, o visvel, o social.

    Figura 7: Os 64 hexagramas, segundo a disposio de Fu Xi. Fonte: Triplex Unity Theory . Image008. Acesso em: 06/10/2007.

    2.4 Os 3 Poderes primordiais

    Os trs poderes primordiais se manifestam pelos trigramas, quando se desdobram pelos hexagramas. H trs Taos: o Tao da Terra, o Tao do Cu e o Tao da Humanidade. A existncia de trs Taos a razo das trs linhas dos trigramas e das seis linhas dos hexagramas. O Yin Yang se apresentam no Cu, na Terra e na Humanidade. Liu I Ming diz: O I Ching triplo e as mutaes so triplas: h a mutao no cu, a mutao dos sbios e a mutao da mente. 34

    Severino35 explica:

    A mutao do Cu consiste em princpios de transformao. A mutao dos sbios

    34 Liu I Ming apud SEVERINO, 1994, p. 27.

    35 SEVERINO, 1994, p. 27.

  • consiste em representaes de transformao. A mutao da mente consiste no Tao da transformao. (...) Se no se l a mutao dos sbios no se compreender a mutao do Cu; se no se compreende a mutao do Cu, no se conhece a mutao da mente, se no se conhece a mutao da mente, no ser suficientemente capaz para dominar as mudanas.

    Exemplo no Trigrama:

    Exemplo no Hexagrama:

    No Tao do Cu, o Yin est relacionado com a noite, a Lua, ao passo que o Yang est relacionado com o dia e o Sol. No Tao da Humanidade, o Yin est relacionado com a benevolncia e a compaixo, enquanto o Yang est relaciondo com a justia e a fidelidade. No Tao da Terra, o Yin est relacionado com fertilidade e a maciez e o Yang com a dureza e a rigidez.

    O Hexagrama formado por dois trigramas, o Inferior e o Superior, ou

    Trigrama Interior e Trigrama Exterior. Usando-se uma leitura simblica, eles possuem a seguinte relao:

    - o que est fora, o lado visvel, o que est exposto, o que pblico e social. - psicologicamente est relacionado com o consciente.

    - o que est dentro dos fenmenos, o lado invisvel, ntimo. - psicologicamente est relacionado com o inconsciente.

    Relacionado com os tipos de pessoas que a humanidade possui, o hexagrama

  • possui a seguinte correspondncia com as seis linhas36:

    - 6 Posio: Homem Sbio, Santo. - 5 Posio: Reis, Imperadores, Presidentes. - 4 Posio: Ministros, Senadores, Governadores. - 3 Posio: Prefeitos, Vereadores. - 2 Posio: Cientistas, Professores. - 1 Posio: Massa popular,Trabalhadores.

    Relacionado com os contatos sociais37:

    - 6 Posio: Pessoas encontradas esporadicamente. - 5 Posio: Pessoas conhecidas. - 4 Posio: Amigos. - 3 Posio: Avs, tios, primos, parentes mais distantes. - 2 Posio: Irmo, pai e me. - 1 Posio: Voc sozinho.

    Relacionado com a pessoa sozinha, do mais interno ao mais externo: 38

    - 6 Posio: Aparncia, o modo de se vestir, de se mostrar. - 5 Posio: Forma de se expressar, jeito de se comunicar. - 4 Posio: Idias que possui. - 3 Posio: Pensamentos, jeito de pensar. - 2 Posio: Inconsciente manifestado nos sonhos. - 1 Posio: Inconsciente mais profundo.

    2.5 Os 5 Elementos e as Quatro Configuraes

    Os 5 elementos surgem das inter-relaes de Yin Yang, so 5 energias bsicas que constituem o universo, no taosmo so as 5 foras misteriosas. Os 5 elementos j foram apresentados anteriormente nos quatro smbolos e nos trigramas, pois eles surgem dos dois

    arranjos dos parasos abordados. Veja exemplos das correspondncias entre os 5 elementos:

    Tabela 1: Correspondncia entre os 5 Elementos39

    36 Informao verbal recebida no curso de I Ching. Severino, 2000 a 2003. Ribeiro Preto, Equilibrius- Centro de

    Tai chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental. H que se considerar aqui o contexto histrico e scio-cultural e os valores atribudos aos diferentes extratos sociais. 37

    Idem. 38

    Idem.

  • Madeira Fogo Terra Metal gua rgos Fgado Corao Bao Pulmo Rins Vsceras Vescula

    biliar Intestino delgado

    Estmago Intestino grosso

    Bexiga

    Sentidos Viso Paladar Tato Olfato Audio Estaes Primavera Vero Vero

    prolongado Outono Inverno

    Cores Azul Vermelho Amarelo Branco Preto Sabores cido Amargo Doce Picante Salgado Direes Leste Sul Centro Oeste Norte Emoes Raiva Alegria Preocupao Tristeza Medo Natureza Vento Calor Umidade Secura Frio

    Aqui mostraremos como estes elementos se relacionam, sendo que eles esto

    sujeitos s Quatro Configuraes ou as Quatro Leis, sendo duas leis maiores: produo e destruio; e duas leis menores: extino e respeito40. Assim, cada elemento se relaciona com os outros quatro, de quatro modos diferentes, atravs de cada uma das configuraes. A seguir veremos uma breve explicao de cada um deles:

    2.5.1) Produo

    No I Ching, esta configurao aparece sob a forma de boa Fortuna, sucesso,

    suprema boa fortuna ou sublime boa fortuna. Este o ciclo natural em que os elementos se ajudam mutuamente, a fim de manter o equilbrio da natureza. (...) Em todos eles nossa vida est participando de acordo com as leis da natureza. 41

    Madeira (alimenta) => Fogo Fogo (produz cinzas) => Terra Terra (produz) => Metal Metal (sob calor o metal vira lquido) => gua gua (nutre) => Madeira

    39 DE LAZZARI, 2007, p. 162.

    40 Na literatura e na tradio oral encontramos sinnimos. Produo: nutrio, construo, favorecimento, gerao.

    Destruio: leso, controle, dominncia. Extino: desgaste, injria, arrependimento. Respeito: tenso, respeito mtuo, medo.

  • 2.5.2) Destruio:

    No I Ching, esta configurao aparece sob a forma de Infortnio. Diferente do ciclo anteriormente visto, este mostra uma configurao contrria aos ciclos naturais, ou seja, de sofrimento e morte. Porm lembremos que estas so manifestaes da natureza, no dizem necessariamente que so algo bom ou ruim. apenas quando se usa a inteligncia humana que as configuraes so alteradas.

    Madeira (suga todos os nutrientes e a umidade) => Terra Terra (absorve) => gua gua (apaga) => Fogo Fogo (derrete) => Metal Metal (corta) => Madeira

    2.5.3) Extino:

    No I Ching, esta configurao aparece sob a forma de Leve Infortnio, arrependimento e humilhao. Esta configurao, quando relacionada com a vida so os erros

    que cometemos constantemente, porm que, aplicando a inteligncia, poderemos resolver sem maiores dificuldades 42.

    Fogo (consumindo) => Madeira Madeira (absorve) => gua gua (corroendo) => Metal Metal (retira minerais) => Terra Terra (abafando) => Fogo

    2.5.4) Respeito:

    No I Ching, esta configurao representa que estamos sendo sinceros, mas no

    depende de ns o desfecho da situao.

    41 SEVERINO, 1994, p. 38.

    42 Idem, p. 39.

  • Em nossa vida diria, o respeito mtuo uma situao onde no h amor, e sim dio contido transformado nas relaes de poder, onde um pode destruir o outro a qualquer momento. Por exemplo, o chefe pode mandar o empregado embora a qualquer momento, o policial pode prender o ladro, etc. Este o fundamento dos relacionamentos hipcritas.

    Fogo (respeita, medo) => gua gua (respeita) => Terra Terra (respeita) => Madeira Madeira (respeita) => Metal Metal (respeita) => Fogo

    Como exemplo do uso dos ciclos podemos utilizar as qualidades dos trigramas relacionados com as virtudes humanas. No caminho da vida do Homem Superior usaremos o ciclo de produo.

    A qualidade do trigrama Li (fogo) a sabedoria; que produz Ken e Kun, a benevolncia; que produz Chien e Tui43 (metal), a busca do caminho interior, espiritual; que produz a Kan e Tui, o homem que possui nobreza de carter; que produz Chen e Sun (madeira), a aspirao sabedoria, a se tornar melhor; que produz Li (fogo), a iluminao.

    Se formos exemplificar esta relao na medicina chinesa, podemos olhar o ciclo de nutrio dos rgos. A me sempre ir produzir um filho, isto est relacionado com o ciclo de produo ou nutrio. Assim os rins (gua) fortalecem a energia do fgado (madeira), o fgado fortalece o corao (fogo), o corao fortalece o bao (terra), o bao fortalece os pulmes (metal), os pulmes fecham o ciclo contnuo novamente nos rins e assim se segue ciclicamente.44

    43 Tui neste caso elemento metal, pois est relacionado com a qualidade deste elemento, a espiritualidade, o

    trabalho da virtude interior. A qualidade de Tui como gua ou metal depende do contexto, no uso oracular deve-se observar em profundidade no momento da pergunta, o que est acontecendo ao redor (NETTO, 2001, p. 59). 44

    DE LAZZARI, 2007.

  • 3 Entendendo a Concepo de Corpo

    Ao buscarmos entender a concepo 45 chinesa de corpo, precisamos nos abrir para outras possibilidades alm da que a nossa cincia ocidental identifica, alm da possibilidade

    apenas material ou fsica, daquilo que pode somente ser visto pelos olhos e comprovado pelo intelecto. Precisamos buscar conceber as possibilidades de inter-relao complexa entre todos os elementos que compem a nossa vida, pensando de modo circular, no somente de modo retilneo, observando o que pode ser comprovado e tambm sentido. Alis, nem tudo pode ser comprovado e sentido neste exato momento, mas isto no quer dizer que no tenha existncia ou no mnimo relevncia. Isto deve ser dito porque tantos grandes pensadores e mestres de nossa humanidade nos legaram grandes ensinamentos e reflexes (ou no mnimo abriram algo ao seu redor), para os quais no havia compreenso naquele momento, o que no quer dizer que a compreenso no tenha ocorrido num momento posterior (depois de sua morte, ou num futuro longnquo). No devemos tomar decises precipitadas e condenar o que no compreendemos. A fogueira e a discriminao certamente no so os melhores mtodos de se compreender o mundo e suas diferenas.

    O corpo humano pode ser observado por diversas ticas: podemos analis-lo atravs das Cincias Biolgicas, pela anatomia, bioqumica, fisiologia e citologia; podemos analisar seus movimentos pela Fsica, Matemtica, cinesiologia ou ainda biomecnica. Podemos ainda observar suas relaes sociais e histricas atravs da Filosofia, Sociologia, Antropologia ou Histria. possvel ainda entender o comportamento e a mente humana pelas teorias psicolgicas e a expresso artstica pela dana, pintura, escultura etc. Todos estes so conhecimentos que, de

    forma geral, guardadas as suas especificidades, embasam a formao de profissionais das rea de sade, humanas e exatas e outras no necessariamente classificadas.

    O mais interessante, belo e profundo que a raiz do pensamento chins, estudado at o momento, nos permite analisar a expresso de seus frutos, todas estas reas de conhecimento, sempre partindo de uma mesma base, a teoria do I Ching, do Yin e Yang. As explicaes dadas por esta teoria no necessariamente so utilizadas por todas as prticas corporais chinesas, mas a leitura do movimento independe da prtica, pois o que se observa a

    expresso da energia envolvida. Alm disso, deve-se pensar que Yin Yang est incorporado no

    45 Uso o termo concepo aqui, no sentido de viso, tica, ponto de vista, entendimento.

  • pensamento chins, apesar de todas as transformaes e reformas do mundo moderno, Yin Yang perdura e continua sendo sua base de pensamento.

    Quando se fala sobre este pensar, basicamente est se falando do profundo entendimento sobre as relaes entre cosmos: um macrocosmo (como, por exemplo, o universo) e um microcosmo (nosso corpo, por exemplo) e suas relaes. Como o pequeno universo do corpo se relaciona com o grande universo? Como se harmonizam? Que fatores influenciam esta harmonizao? Este um estudo, uma prtica e uma busca para toda a vida, certamente neste caso os livros no podem responder todas as perguntas. Isolado, o entendimento intelectual de

    uma prtica no alcanar a sua execuo, porque ambos, teoria e prtica, so necessrios para a realizao de uma prtica.

    3.1 O Corpo Humano: Origem e Divises

    O Yin e Yang, os 5 elementos, os 8 trigramas e os hexagramas constituem e se aplicam ao corpo humano. Na sua origem:

    O sopro original concentra-se em cinco elementos que formam o embrio. Ao cabo de sessenta dias de fuso do smen do pai com o sangue da me, forma-se a placenta. O smen do pai converte-se num peixe Yang, o sangue da me, num peixe Yin; aparece a forma do Tai Chi e o feto principia a formar-se. Este ltimo absorve, pelo cordo umbilical e pelo umbigo denominado roda dos meridianos (mai lun) 46, o sopro do cu e da terra, o Tai Chi pe-se em movimento no ventre materno e ocorre a formao da respirao embrionria. Volvidos os sessenta dias, aparecem todos os meses na placenta um trigrama; se for menino, o primeiro a surgir ser o trigrama Chien (yang); se for menina o trigrama Kun (Yin). Ao nascer a criana, quando se corta o cordo umbilical, desaparece a respirao embrionria.47

    Formado o corpo humano, a sua constituio possui uma organizao estrutural, em que Yin o lado esquerdo e Yang o lado direito. Yin a parte frontal e Yang o dorso. Yin embaixo e Yang em cima. Exterior Yang e interior Yin. A rea superfcial

    Yang e a rea profunda Yin. O calor corporal Yang e o frio Yin. A agitao Yang e a quietude Yin. A secura Yang e a umidade Yin. As vsceras so Yang e os rgos so Yin. A

    energia Yang e a matria Yin.

    46 O umbigo chamado roda dos meridianos mais particularmente nos textos psicofsicos tardios do taosmo,

    sobretudo o Wu Liu xianzong quanji. (DESPEUX, 2000, p. 49)

  • Os Trs Poderes primordiais se manifestam, o Tao do corpo no Cu, o Tao do corpo na Terra e o Tao do corpo na Humanidade.

    No Trigrama:

    No Hexagrama:

    6 Posio: Cabea 5 Posio: Garganta 4 Posio: Peito e Cintura 3 Posio: Coxa 2 Posio: Canela 1 Posio: P

    De acordo com diferentes entendimentos dos mestres, temos diferentes entendimentos sobre as partes do corpo: pode-se dizer que o Tai Chi o corao, os dois olhos

    so o Sol e a Lua, ou seja, Yang e Yin, os membros so as quatro expresses de energia e as 8 articulaes dos membros os 8 trigramas. Outras interpretaes diferentes apontam para o

    umbigo (Tan Tien) como o Tai Chi e os rins como os dois princpios Yin e Yang.

    Sobre os trigramas podemos encontrar diferentes interpretaes:

    Chien corresponde cabea e est situado em cima; Kan corresponde aos rins e est situado embaixo; em cima e na frente, Li corresponde ao corao; Ken a terra Yang; Kun a terra Yin, isto , o bao e o estmago ou o ventre. Atrs e no alto se encontra Tui, que corresponde aos pulmes. Chen corresponde ao fgado e vescula biliar e est localizado no centro. Sun, com um trao inferior quebrado corresponde ao cccix.

    48 Sistema Nervoso Central.

    Palavra Esprito Crebro Shen Sentimento Conscincia Cerebelo Chi Sensao Instinto SNC48 Ching

  • Figura 8: O Corpo Humano e os 8 Trigramas49 Fonte: DESPEUX, 2000, p.50.

    49 DESPEUX (2000, p. 50). Representao atribuda a Zhang Jingyue. Extrada do Huangji jing shi xuyan.

  • Chen Pinsan adota uma outra viso do I Ching: Chien corresponde cabea, Kun ao ventre, Chen aos ps, Sun s pernas, Kan aos ouvidos, Li aos olhos, Ken s mos e Tui boca.

    Sun Lu Tang, criador do estilo Sun de Tai Chi Chuan oferece outra correspondncia: Chien corresponderia cabea, Kan aos rins, Li ao corao, Ken ao pescoo, Kun ao ventre, Tui sua parte dianteira, Chen sua parte esquerda e Sun coluna vertebral. 50

    Severino51 d outras informaes sobre a relao dos rgos do corpo humano

    em sua explanao sobre as caractersticas de cada trigrama. Segundo ele, h a seguinte relao: Chien: cabea, ossos e pulmo; Kun: barriga, estmago, bao, carne; Chen: ps, fgado, tendes,

    cabelos; Kan: orelhas, sangue, rins, baixo-ventre, vias urinrias; Li: olhos, corao, trax, plexo solar, os ventres dilatados, tero; Ken: mos, dedos, ossos, braos, pernas, costas, nariz, fronte; Sun: coxas, parte superior do brao, pulmo; Tui: lngua, boca, saliva, pulmo, intestino grosso, intestino delgado.

    3.2 O Movimento do Corpo - Anlise do Movimento humano pelos princpios do I Ching

    O universo se movimenta e o corpo se movimenta. Yin Yang se transformam

    mutuamente no movimento. Yin o fechar, Yang o abrir. Yin retroceder, ir para trs, ao passo que Yang avanar, ir para a frente. Yin o movimento de fora para dentro, centrpeto enquanto Yang o de dentro para fora, centrfugo. Yin o recolhimento, Yang a expanso. Yin de cima para baixo, Yang de baixo para cima. Yin em direo terra, Yang em direo ao cu.

    Para que haja expanso (Yang), primeiro necessrio o recolhimento (Yin) e para que haja o recolhimento, primeiro necessria a expanso. Um depende do outro, sem um no pode haver o outro, o outro no pode haver sem o um. Por isso, o movimento nunca completamente Yang, nem completamente Yin: h sempre Yin no Yang e Yang no Yin, isto o

    que faz a transformao mtua. Isto mostrado nas Quatro Expresses de Energia52. Quando o movimento chega ao seu mximo, ir se tornar o seu oposto. No

    mximo da expanso (Velho Yang), h o declnio de Yang, surge o Yin (Jovem Yin), que vai ao

    50 Idem.

    51 SEVERINO (1994). Resumo das caractersticas dos trigramas descritos ao longo do livro.

  • mximo do recolhimento (velho Yin), ento surge o Yang (Jovem Yang). Nas prticas corporais pode-se dar o exemplo de quando levantamos os braos

    em direo ao Cu. Os braos se erguem, ou seja o Yang inicia seu movimento (Jovem Yang); os braos chegam ao mximo de sua expanso (Velho Yang). Conseqentemente, quando uma energia chega ao seu mximo, ela ir em direo energia oposta, ou seja, neste caso, o Yin surge no mximo do Yang e inicia-se o declnio do Yang. Inicia-se o movimento de descida dos braos, h o crescimento de Yin (Jovem Yin); os braos descem ao seu mximo, chega-se ao mximo do declnio (Velho Yin). Quando uma energia chega ao seu mximo, ela ir em direo energia oposta, ou seja, neste caso, o Yang surge no mximo do Yin e inicia-se o declnio do Yin; volta-se novamente o mesmo ciclo, com o Yang surgindo, os braos se elevam, chegam ao

    mximo do alto, iniciam a descida, chegam ao mximo da parte baixa e assim se segue o ciclo do movimento.

    Podemos relacionar a mesma idia com o exemplo da respirao. O movimento de inspirao Yin (movimento de fora para dentro): o ar vem da atmosfera (exterior), entra pelas narinas e chega aos pulmes (interior). O movimento de expirao Yang.

    A mesma idia com o exemplo do andar ou do passar o peso de uma perna para a outra. Quando uma perna est com o peso, ela est firme, conectada ao solo, presa, cheia, assim, considerada Yang. Quando uma perna est sem o peso, solta, desconectada do solo, livre, receptiva, considerada Yin. O processo de se passar o peso de uma perna para a outra segue o mesmo ciclo de Yin Yang anteriormente descrito. Para exemplificarmos, imaginemos as

    pernas paralelas. O peso do corpo passado da perna esquerda para a perna direita. Quando se inicia a passagem de peso, o Yang ascende na perna direita (Jovem Yang); quando o peso chega em sua totalidade na perna direita, esta se torna totalmente carregada (Velho Yang); chegando-se ao mximo do Yang. Ento inicia-se seu declnio, dando origem ascenso do Yin. Assim, a perna direita inicia a passagem do peso para a perna esquerda, o Yin cresce do lado direito (Jovem Yin), a perna esquerda comea a receber o peso (Jovem Yang) e chega-se ao mximo de peso do lado esquerdo (Velho Yang). Na seqncia, inicia-se o retorno, declina o Yang do lado direito, que surge do lado esquerdo, e assim sucessivamente o ciclo de passagem do peso mostra

    a transformao de Yin em Yang, Yang em Yin. Deste modo, o homem caminha, passando o peso de uma perna para a outra por toda a vida. Colocar e tirar o peso das solas de seus ps um

    ciclo contnuo do Yin Yang. O trabalho digestrio segue o mesmo padro: a ingesto Yin, a eliminao

    52 Veja figura 2.

  • Yang. A comida entra pela boca, ingerida (Jovem Yin); passa por todo o processo de digesto, sendo totalmente digerida (Velho Yin) e inicia-se o processo de movimentao para a eliminao (Jovem Yang) e evacuao (Velho Yang).

    Relacionando com as fases da vida, o movimento do corpo ao longo do tempo. O Jovem Yang o nascimento e crescimento, o Velho Yang o mximo da energia vital o Jovem Yin o declnio da energia vital e o Velho Yin a ausncia de vida: a morte.

    Com a inteno de exemplificar mais como esta teoria pode embasar diversas prticas, cito aqui o exemplo das artes marciais internas, mais especificamente o Tai Chi Chuan,

    o Pa Kua Chuan (Boxe dos 8 Trigramas) e o Ching I Chuan (Boxe do Corpo e da Mente), que possuem seus movimentos fundamentados no I Ching. Para fins de ilustrao, descreveremos as

    relaes dos princpios do I Ching com o Tai Chi Chuan. Leitores que desejam entender esta relao com as outras artes marciais encontraro fundamentos em bons livros 53.

    O Tai Chi Chuan era inicialmente chamado de Treze Posturas, pela soma dos 5 Elementos e dos 8 Trigramas. Os 5 elementos possuem relao com as 5 direes e os 8 trigramas com os 8 Golpes ou Energias. As 5 direes e os 5 elementos so relacionados da seguinte maneira: Avanar: fogo; Recuar: gua; Olhar direita: metal; Olhar esquerda: madeira; Equilbrio central: terra.

    Os 8 Golpes e os 8 Trigramas esto relacionados da seguinte maneira:

    Chien: golpe Desviar, Peng54 Tui: golpe de cotovelo, Chou 55

    Li: golpe empurrar, An Chen: golpe rachar, Lieh Sun: golpe tirar e puxar, Tsai Kan: golpe pressionar, Chi 56

    Ken: golpe de ombro, Kou Kun: golpe rolar para trs, L 57.

    Vemos no Tai Chi Chuan as seqncias de movimentos, comumente chamada

    de Forma ou Encadeamento, que nada mais so que a relao entre os 5 elementos e os 8

    53 Em Pyin Yin escreve-se Tai Chi Chuan: Tai Ji Quan; Pa Kua Chuan: Ba Gua Quan; Ching I Chuan: Jing Yi

    Quan. 54

    Pronuncia-se Pam. 55

    Pronuncia-se Tchou. 56

    Pronincia-se Tchi. 57

    O som de como em francs ou alemo.

  • trigramas, desta forma podemos analisar em estudos mais profundos cada movimento da forma atravs dos Hexagramas. Vejamos abaixo um exemplo:

    Figura 9: Movimento de Tai Chi Chuan: Forma Inicial Fonte: Taiji i Qigong. Rys04. Acesso em: 08/10/2007.

    Este movimento chamado Forma Inicial o primeiro movimento de abertura da Forma do Tai Chi Chuan, est relacionado com o Hexagrama 35 (Chin): Ascenso ou Progresso. O Hexagrama composto por dois trigramas, em cima Li: o Sol, embaixo Kun: Terra, representando o movimento corpreo realizado. O corpo est ereto, depois inicia-se a elevao dos braos e depois eles descem, assim como o movimento do nascer e do pr do Sol. Esta a representao da imagem do Hexagrama que diz: O Sol eleva-se sobre a terra: a imagem do

    Progresso. Assim, o homem superior Ilumina suas evidentes qualidades.

    A imagem do hexagrama mostra ainda mais detalhes, por dentro o trigrama nuclear inferior Ken (montanha) mostra as pernas firmes e paralelas. As mos que se erguem paralelamente so representadas pelo trigrama superior Li (fogo) que sobem do ventre, trigrama inferior Kun (terra) at os ombros e descem de novo ao ventre. Isto ocorre lenta e suavemente,

  • como o nascer e o pr do Sol. 58

    3.3 O Corpo alm do Material

    Como j foi explicado anteriormente, o entendimento do corpo no restrito sua forma material, pois a tradio chinesa compreende que diferentes energias permeiam nossa

    constituio: basicamente o Yin e Yang e os 5 elementos. Entraremos agora no entendimento de como estas energias percorrem o nosso corpo, quais so seus tipos e qualidades, por que

    caminhos andam e como podem ser influenciadas. Comumente falamos em energias que percorrem o corpo, mas energia uma

    traduo comum, principalmente do termo chi em chins. Devemos entender que esta traduo no alcana nosso entendimento ocidental com toda a sua significao. Continuaremos a utilizar a palavra energia para esta denominao genrica, buscando, contudo, entender o significado mais profundo deste termo, alm de saber que no existe somente um tipo de energia, mas diferentes qualidades de energia.

    3.4 Os Meridianos

    Assim como a Terra feita de caminhos, vales, montanhas, rios, lagos, assim tambm o corpo humano em suas partes, com diferentes formas e percursos. A teoria chinesa relacionada aos canais de energia, os meridianos (mai), possui este entendimento como um dos fundamentos bsicos para a compreenso do corpo humano. O termo Mai em chins originalmente significa que os meridianos distribudos pelo organismo so como uma rede de

    crregos e rios sobre a superfcie da terra.

  • Figura 10: O Imperador Amarelo. Fonte: Huang Ti - Yellow Emperor. Hok Kien Eng Chun Kun USA. Acesso em: 08/10/2007.

    Esta teoria fruto de experimentaes e observaes muito antigas, sua origem

    discutvel e pouco se sabe sobre ela, mas as teorias mais plausveis discorrem sobre a acupuntura e as tcnicas de Chi Kung como os grandes contribuidores tericos para sua formao e tambm perpetuao at os dias de hoje. O primeiro registro escrito que faz referncia a esta teoria est no Livro de Medicina do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing Su Wen)59, contando descries detalhadas sobre seus princpios.

    Atravs dos meridianos, dos rgos e vsceras e dos centros de energia, nosso corpo cria uma teia de inter-relaes, conectando-nos em diferentes aspectos: frente e trs, direita e esquerda, alto e baixo, interno e externo, para sustentar a nossa atividade vital e a relao com o meio que nos circunda.

    59 Huang Di Nei Jing Su Wen ou Nei Jing o Livro de Medicina do Imperador Amarelo ou Clssico de Medicina

    do Imperador Amarelo um registro na forma de dilogos, das conversas entre o imperador e seu ministro. Esta obra divide-se em dois livros, de 81 captulos cada: o Su Wen - "Tratado de Medicina Interna" e o Ling Shu - "O Pivot Maravilhoso"; o primeiro trata das questes gerais da sade e o segundo da tcnica de acupuntura. O legendrio Imperador Amarelo (Huang Di) considerado mitologicamente o ancestral dos chineses de etnia Han. Muitas histrias so contadas sobre ele, tratando de sua excepcional inteligncia e inmeras outras qualidades. So encontradas tambm diferentes histrias de acordo com as dinastias e as interpretaes de sua existncia so variadas.

  • A funo bsica dos meridianos transportar o Chi e o Xue (sangue)60, assim os meridianos devem ter nveis adequados de Chi relativos aos rgos correspondentes. Para enteder este funcionamento, necessrio estudar como este Chi influenciado pelas horas do dia, as estaes do ano, a temperatura, o alimento, a respirao, as emoes etc. Atravs da compreenso e utilizao correta destes elementos possvel regular o Chi no organismo, promovendo uma boa circulao nos canais. Cabe reforar a idia de que o corpo humano aqui no dividido entre a parte fsica e a parte energtica, mas compreendido como um complexo sistema inter-relacionado.

    Existem alguns tipos de canais em nosso corpo, formando uma grande rede., neste trabalho teremos uma introduo lgica desta teoria e uma visualizao geral de sua

    descrio. H duas redes maiores: a dos 12 Meridianos Principais (jingmai) e a rede dos

    Meridianos Extraordinrios (luomai)61 com oito canais. Os meridianos possuem acupontos (pontos dos meridianos), que so pontos especficos ao longo do percurso dos meridianos que fazem a exteriorizao do chi. Esta exteriorizao feita atravs da pele, dos msculos, tendes e ossos. Os pontos podem ser usados pelo acupunturista e pelo massagista para curar. Na arte marcial, podem ser usados para golpear. Em ambos os casos, o uso dos pontos depende da inteno, necessidade e funo do ponto.

    Os 12 meridianos principais (jingmai) so originados do sistema Zang Fu (rgos e vsceras), e so considerados os mais importantes entre todos os meridianos. So organizados aos pares, formados por um meridiano superficial e outro profundo.

    Os jingmai se dividem em 3 categorias: os meridianos principais; os meridianos particulares e os meridianos distintos. Os 12 meridianos principais so compostos de: 3 meridianos Yin do brao, 3 meridianos Yin da perna, 3 meridianos Yang do brao e 3 meridianos Yang da perna. Esta classificao possui relao com a natureza Yin ou Yang dos rgos e vsceras (Zang Fu) que o meridiano se comunica. Os meridianos Yang correspondem s vsceras (Fu), fazendo a circulao nas zonas externas dos membros, enquanto os meridianos Yin correspondem aos rgos (Zang), fazendo a circulao na zona interna dos membros.

    60 Em Pinyin qi e xue. Deve-se esclarecer que o entendimento do sangue de acordo com a medicina chinesa no

    igual ao da medicina ocidental, apesar de certos encontros. O sangue fruto da transformao da essncia dos alimentos pelo bao e estmago. O sangue governado pelo corao, armazenado no fgado, controlado pelo bao e circula em sua moradia, que so os vasos. Sua funo de nutrir o organismo. O sangue formado por trs fatores: a essncia dos alimentos (Ching Chi), Yin Chi e o Ching da medula. (AUTEROCHE, 1992) 61

    As tradues nas literaturas da rea trazem diferentes nomes. Os Jing podem ser chamados de principal, primrio, comuns ou regulares. Os Luo podem ser chamados de submeridianos, secundrios ou ainda curiosos ou maravilhosos.

  • Dong Yinjie 62 oferece uma relao entre os 8 trigramas, as oito direes, os meridianos de energia e os 5 elementos:

    Tui: meridiano dos pulmes, oeste, metal. Chien: meridiano do intestino grosso, noroeste, metal que se transforma em gua. Kun: meridiano do bao, sudoeste, terra que se transforma em terra63. Sun: meridiano do pncreas, sudeste, madeira que se transforma em terra. Ken: meridiano do estmago, nordeste, terra que se transforma em fogo. Li: meridiano do corao, sul, fogo. Kan: meridiano do fgado, leste, madeira.

    A circulao do Yong Chi (Chi de nutrio) junto com o sangue (xue) ao longo do corpo possui um ciclo de 24h, realizando-se de forma alternada entre Yin e Yang, de acordo polaridade do meridiano. Segundo o Ling Shu, cap. 16, a primeira circulao ocorre da seguinte maneira:

    Essa energia circula conforme a ordem dos meridianos, comeando s 3 horas da manh ao nvel do pulmo. Percorre o conjunto dos meridianos em 24 horas, demorando 2 horas em cada meridiano. Durante essa estadia que se chama de mar energtica, a energia no rgo associado ao meridiano est no mximo. Doze horas aps a mar energtica, achamo-nos no mnimo energtico. . 64

    O Chi e Xue (sangue) possuem a seguinte ordem ao fluir pelos 12 Canais Principais:

    1. Meridiano do Pulmo taiyin da mo (3h s 5h). 2. Meridiano do Intestino Grosso (IG) yangming da mo (5h s 7h). 3. Meridiano do Estmago (E) yangming do p (7h s 9h). 4. Meridiano do Bao Pncreas (BP) taiyin do p (9h s 11h). 5. Meridiano do Corao (C) shaoyin da mo (11h s 13h). 6. Meridiano do Intestino Delgado (ID) taiyang da mo (13h s 15h). 7. Meridiano da Bexiga (B) taiyang do p (15h s 17h). 8. Meridiano do Rim (R) shaoyin do p (17h s 19h). 9. Meridiano do Pericrdio (PC) (circulao-sexo) jueyin da mo (19h s 21h). 10. Meridiano Triplo Aquecedor (TA) (sanjiao) shaoyang da mo (21h s 23h). 11. Meridiano da Vescula Biliar (VB) shaoyang do p (23h s 1h).

    62 Citado por DESPEUX (2000, p. 51).

    63 A terra, elemento central que contm outros quatro e pelo qual esses outros quatro passam no ciclo das

    transformaes de um elemento a outro, considerada dupla: o elemento gerador e o elemento realizado . Eis a questo por que se encontra esta frase singular: a terra se transforma em terra (DESPEUX, 2000, p. 51).

  • 12. Meridiano do Fgado (F) jueyin do p (1h s 3h). 1. Meridiano do Pulmo (P) taiyin da mo (3h s 5h).

    Figura 11: O Ciclo de Circulao da Energia pelos Meridianos. Fonte: DE LAZZARI, 2007, p. 159.

    A segunda circulao possui seu incio como na primeira, inicia-se s 3h da manh, mas ir percorrer os dois canais extraodinrios: Du Mai e Ren Mai durante as 24 horas.

    Os meridianos extraordinrios no possuem ligao com o sistema Zang Fu (rgos e vsceras), nem entre eles, como os jinmai. Sua funo de reforar e regularizar o Chi e sangue dos jingmai, funcionando como um reservatrio do excesso dos jinmai. Uma analogia interessante os vasos extraordinrios so como lagos e os meridianos principais so como rios. Estes Meridianos Extraordinrios (luomai) so divididos em 4 Yang e 4 Yin. Os 4 quatro Yang so: Du Mai, Da Mai, Yang Qiao Mai, Yang Wei Mai. Os 4 Yin so: Ren Mai, Chong Mai, Yin Qiao Mai e Yin Wei Mai. Todos so organizados aos pares, com exceo de Du Mai e Ren Mai

    64 Citado por AUTEROCHE, 1992, p. 36.

  • que se localizam na regio central do corpo. Estes dois meridianos possuem importncia fundamental nas prticas de Chi Kung e meditao. O meridiano Ren chamado de mar de energia Yin e o meridiano Du de mar de energia Yang.

    Figura 12: Ilustrao dos 12 Meridianos Principais. Fonte: Essncia 21. Meridianos. Acesso em: 07/10/2007.

    Figura 13: Ilustrao Chinesa dos Meridianos Shao Yin do P (Meridiano Principal do Rim) e Tai Yang da Mo (Meridiano Principal do Intestino Delgado)

    Fonte: Spital Verbund. Chinese. Acesso em: 07/10/2007. Acupuncture4wellness. Image9. Acesso em 07/10/2007.

  • Figura 14: Ilustrao dos Meridianos Du e Ren (Vaso Governador e Vaso da Concepo). Fonte: Du y Jen. Associacion de Taosmo de Cataluna. Acesso em: 07/10/2007.

    Figura 15: Os Pontos Vulnerveis. Exemplo do uso dos Acupontos nas artes marciais.65 Fonte: DESPEUX, 2000, p. 20.

    65 Os Pontos Vulnerveis, segundo Zhang Sanfeng he tade Taiji Quan apud DESPEUX (2000, p. 96).

  • 3.5 Os 3 tesouros

    H trs energias fundamentais formadoras de nossa constituio, elas so denominadas os 3 Tesouros (San Bao) ou as 3 Flores, ou tambm so chamadas de trs razes ou origens, pois so a razo de nosso viver. Elas so: Ching66, Chi67 e Shen, caracterizando a essncia, a energia vital e o esprito, respectivamente. Na prtica do Chi Kung se aprende estes fundamentos e o modo como transform-los. Isto significa aprender a reter e conservar o Ching e

    transform-lo em Chi; como liderar o Chi e transform-lo em Shen e por fim como usar o Shen energizado para transformar a base da natureza humana. Atravs disto possvel se ter vida

    longa e saudvel.

    3.5.1) Ching

    considerado a essncia ou energia ancestral, pois o componente bsico de toda a atividade vital de nosso organismo, sendo a fonte primria de vida, a juno da energia de nossos pais, o espermatozide (Yang) e o vulo (Yin). Esta fonte original de vida herdada de nossos pais chamada de Ching Pr-natal e mora em nossos rins a partir do nosso nascimento.

    Considera-se que o Ching mais Yin que o Chi. De acordo com o conhecimento da Medicina Tradicional Chinesa, o Ching no

    pode ser aumentado em quantidade, mas pode-se melhorar sua qualidade e consumi-lo menos, para assim ter uma vida mais longa. Porm, de acordo com outras linhas tericas, principalmente dos mestres de Chi Kung, de meditao, taostas e budistas, a sua quantidade pode ser alterada com treinos de altos nveis 68.

    Para que o Ching seja conservado devemos ter uma vida equilibrada, absorvendo o Ching dos alimentos e do ar, equilibrando e refinando nossa essncia pelas prticas

    corporais69, Chi Kung e meditao. Consideram-se estes aspectos como um dos pontos para se ter

    66 Em Pinyin: Jing.

    67 Em Pinyin: Qi. L-se Tchi. Na ndia chamada de Prana, no Japo chamada de Ki.

    68 No pretendemos resolver esta controvrsia, apenas apresentamos uma outra abordagem e no somente a mais em

    voga nos livros. Para aprofundamento, sugerimos as histrias dos grandes imortais e seus tratados. 69

    Neste caso especfico fao referncia s prticas chinesas, mas veremos no prximo captulo que outras culturas tambm possuem prticas com estes fundamentos, mas no se explicam necessariamente pela mesma teoria.

  • boa sade e longevidade.

    3.5.2) Chi

    comumente traduzido como energia vital, pois a energia promotora de nossa atividade de vida corprea. Atravs do fortalecimento do Chi promovemos a vida, atravs

    de sua dissipao e deteriorao promovemos a morte. O Chi possui existncia conjugada ao Ching: onde h o Ching h o Chi. O Chi dividido em dois tipos, o Chi Pr-natal ou Original e o

    Chi Ps-natal. O Chi Pr-natal deriva do Ching, sendo considerado o mais importante. O Chi

    Ps-natal absorvido atravs da transformao do Ching dos alimentos e do ar (Ching Chi)70. Chi mais Yang que o Ching. A explicao do termo em chins j explica muito. O ideograma

    Chi ( ) composto por duas partes: a superior ( ) representa gs, ar, cheiro; a

    inferior representa Mi ( ), que significa arroz. Assim o termo representa a juno de Chi: ar ou respirar, com Mi: arroz, ou seja, os dois elementos essenciais para a vida. Pode-se interpretar a idia do vapor que sobe do arroz, pelo calor do cozimento. Ento, podemos dizer que Chi

    significa: Energia Vital, energia da vida.

    De acordo ao tipo de Chi, com suas qualidades, localizao e funo o Chi pode

    ser classificado:

    3.5.2.1) Yang Chi e Yin Chi

    Esta a base das duas energias opostas interdependentes Yin Yang. O Yang Chi est relacionado com as funes e o Yin Chi com a matria.

    70 Em Pinyin: Jing Qi.

  • 3.5.2.2) Yuan Chi

    chamado de Chi original ou fonte, ele escrito atravs de dois ideogramas, um representando o princpio original e por outro a fonte ou origem. Este Chi considerado o mais importante dentre os Chi do corpo humano. Ele gerado pela transformao do Ching inato e aps o nascimento complementado pela absoro do Ching dos alimentos, funo desempenhada pelo estmago, bao/ pncreas e pelo ar. O livro de Medicina do

    Imperador Amarelo cita no Ling Shu, cap. 75: Yuan Chi (energia verdadeira) recebido do cu, ele se une com ao Chi da alimentao e enche o corpo.

    3.5.2.3) Zong Chi

    Este Chi a unio do Chi puro, inalado pelos pulmes e pelo Chi da alimentao pelo bao/ pncreas e estmago. Considera-se que a atividade deste Chi impulsiona a respirao pulmonar e a circulao do sangue do corao.

    dito no Lin Shu : O Zing Chi se acumula no peito, sai pela garganta, atravessando o vaso do corao e pe a respirao em marcha.71

    3.5.2.4) Yong Chi

    Este Chi de nutrio, produzido a partir da gua e dos alimentos. Ele se distribui pelos vasos sangneos, mantendo com eles uma relao muito estreita, sua ao de nutrir todo o corpo.

    O Su Wen diz: O Yong Chi a essncia dos alimentos. Acomodado pelas vsceras (Fu), distribudo pelos rgos (Zang) antes de ser introduzido nos vasos, ele atravessa as vsceras e atinge os rgos.72

    AUTEROCHE, 1992 Idem.

  • A circulao do Yong Chi junto com o sangue ao longo do corpo possui um ciclo de 24 horas, realizando-se de forma alternada entre Yin e Yang, de acordo com a polaridade do meridiano, conforme foi explicado sobre a circulao dos meridianos.

    3.5.2.5) Wei Chi

    Este Chi considerado de defesa ou protetor e seus produtores principais so o estmago e bao/ pncreas, que convertem a parte mais forte do alimento com movimentos

    fluidos e geis. Suas aes so de preservar a energia do corpo, mantendo basicamente as funes de controle entre relaes corpreas e o ambiente. O Su Wen (cap. 43) faz sua descrio: O Wei Chi o ardor dos alimentos. de natureza demais fluida para ser contida nos vasos, assim circula ele na pele e entre as fibras da carne. Sublima-se nas membranas do diafragma para se espalhar nas cavidades torcicas e abdominais.73

    Suas funes so: defender o corpo em sua superfcie contra as agresses externas, controlar o suor (glndulas sudorparas), ajustar a temperatura corporal, promover o aquecimento dos rgos e dar brilho aos plos. O Ling Shu resume: O Wei Chi o que aquece

    as carnes, d brilho pele, enriquece os espaos subcutneos e comanda a abertura.74 O Wei Chi tambm faz uma circulao no corpo, porm de maneira diferente

    do Yong Chi, pois sua caracterstica mais fludica. Ele percorre o corpo 50 vezes, dando 25 voltas durante o dia e 25 voltas durante a noite. Durante o dia percorre a parte Yang do corpo, com seus respectivos meridianos e vsceras. Durante a noite percorre a parte Yin do corpo com seus respectivos meridianos e rgos.

    Atravs do entendimento dos diferentes tipos de Chi, suas qualidades e funes, podemos nos entender melhor e nos cuidar melhor, devemos estar atentos ao que o Su Wen (cap. 68) diz sobre as trocas e movimentos realizados pelo Chi:

    As trocas (entradas e sadas) e os movimentos (ascenso e descida) so objeto de cuidados constantes por parte das pessoas inteligentes. Sua alterao catastrfica. [...] Sem trocas no h mais nascimento, crescimento, maturidade, velhice. Sem movimentos, no se pode nascer, amadurecer, recolher-se. Essas trocas e movimentos so a condio necessria dos receptculos, sedes dos processos vitais. No h nem trocas, nem

    Idem, p. 37. Idem, p. 38.

  • movimento, que sejam ou no importantes, imediatos ou demorados. 75

    3.5.3) Shen

    A palavra Shen possui vrios significados de acordo com o contexto, tornando-se difcil express-la em uma nica palavra portuguesa. Ela pode ser traduzida como esprito, deidade, imortal, alma, mente, divino e sobrenatural76, porm comumente se traduz dentro deste contexto como esprito. Shen entendido como a transformao das bases substanciais de Ching e Chi, ou seja, sua somatria e so dependentes entre si, pois se o Chi fraco, o Shen tambm fraco. difcil mostrar esta energia, pois sua percepo mais subjetiva, diz-se que ela perceptvel pela clareza mental e pela conscincia lcida, expressados atravs do brilho dos olhos

    da pessoa. Um estado mais elevado de Shen mostra mais fortemente estas caractersticas, pelas qualidades virtuosas daquele que a possui. Atravs das prticas de Chi Kung e meditao

    possvel elevar Shen, para isto deve-se usar a concentrao, ateno e a pacificao mental.77

    3.6 Tan Tien Os Campos de Cinbrio

    Tan Tien78 traduzido comumente como Campo de Elixir79, referindo a 3 centros de energia do corpo: os 3 Tan Tien, localizados no eixo interno do corpo humano. importante ressaltar que no existe um entendimento nico desta teoria, havendo principalmente diferenciaes de sua compreenso na prtica mdica e nas e