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Cores Introdução O ser vivo é conectado ao meio ambiente por meio das sensações sonoras, luminosas, gustativas, táteis e olfativas. Portanto, a falta de qualquer um dos órgãos dos sentidos nos traz sérios prejuízos. Para os seres humanos, o que mais acarreta perdas é a falta da visão, tendo em vista ser por meio dos olhos que recebemos o maior número de estímulos e informações. O nosso mundo está ligado às cores e é difícil imaginá-lo em preto e branco. Com o sentido da visão, por exemplo, podemos observar e nos deleitar com os efeitos e benefícios trazidos pelas cores. A cor tem o poder de entristecer, de alegrar, de tranquilizar e até mesmo de agredir, como também é um dos elementos mais expressivos e emotivos que caracterizam uma superfície. As cores como fenômenos físicos e químicos Então, o que é a cor? Uma pergunta que sempre indagou muitos físicos, químicos e o mundo da arte.

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Page 1: Cores Introdução As cores como fenômenos físicos e químicos · ao branco, preto e os cinzas, podemos chamá-las de acromáticas, caracterizadas pela ausência de tonalidade e

48 Capítulo 4

Cores

Introdução

O ser vivo é conectado ao meio ambiente por meio das sensações sonoras, luminosas, gustativas, táteis e olfativas. Portanto, a falta de qualquer um dos órgãos dos sentidos nos traz sérios prejuízos. Para os seres humanos, o que mais acarreta perdas é a falta da visão, tendo em vista ser por meio dos olhos que recebemos o maior número de estímulos e informações. O nosso mundo está ligado às cores e é difícil imaginá-lo em preto e branco.

Com o sentido da visão, por exemplo, podemos observar e nos deleitar com os efeitos e benefícios trazidos pelas cores. A cor tem o poder de entristecer, de alegrar, de tranquilizar e até mesmo de agredir, como também é um dos elementos mais expressivos e emotivos que caracterizam uma superfície.

As cores como fenômenos físicos e químicos

Então, o que é a cor? Uma pergunta que sempre indagou muitos físicos, químicos e o mundo da arte.

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Ao estudarmos as cores devemos diferenciar os estímulos das sensações. Portanto, consideramos estímulos, as luzes e os pigmentos e como sensações, a percepção das cores.

Mas, no momento, o importante não é conceituá-la e sim compreender os princípios básicos deste elemento, que nos ajudarão a analisar a sua importância dentro da composição, bem como perceber a maneira que o artista se apropria dele para se expressar.

Como a cor é luz, temos de entender que a sua percepção é provocada pela luz que vem em faixa de ondas, e provoca a sensação de cor sobre o órgão da visão. Há uma imensa quantidade de faixa de ondas, mas o nosso olho só é capaz de captar uma pequena faixa. Desta forma, será o comprimento da onda que caracterizará o tom (matiz) dos objetos, que vai do vermelho ao violeta, passando pelo amarelo, laranja, azul, verde e anil. Há pessoas que enxergam parcialmente as cores (discromatopsia) e há pessoas que não as percebem (acromatopsia). Nos animais, a percepção das cores é diferente. Os gatos, cachorros e ratos não enxergam cores; em geral, os mamíferos têm a percepção cromática bem deficitária. Os primatas distinguem as cores e preferem o vermelho. Já os pássaros e os peixes, que têm o sentido das cores, identificam o vermelho e o azul.

Há também as pessoas daltônicas. O daltonismo é uma alteração hereditária da visão, onde o verde e o vermelho são percebidos como preto e branco.

Figura do teste de Ishihara, método utilizado para diagnosticar o daltonismo. Pessoas portadoras de alguns tipos de daltonismo não verão o número 8.

São as propriedades da luz que nos possibilitam ver as cores. Como sabemos, a luz viaja em diferentes comprimentos de ondas, fazendo com que nossos olhos e cérebro associem estes comprimentos de ondas a diferentes tipos de cores. A variação do comprimento de onda que nós vemos é chamado de espectro visual.

O espectro visual é uma pequena faixa de ondas que limita nosso campo visual. Esta faixa compreende os raios infravermelhos e os raios ultravioletas, cujos extremos são o vermelho, com um maior comprimento de onda e o violeta, que tem o menor comprimento de onda.

A compreensão e o uso das cores, no século XIX, foi uma

revolução no mundo das artes. Além dos artistas, o

químico francês Michel Eugène Chevreul percebeu que a intensidade da cor (mais brilhosa ou mais escura) dependia da cor vizinha a ela. Assim, para demonstrar como uma cor modifica a outra, Chevreul criou o círculo das cores, ou círculo cromático,

como também pode ser chamado, que mostra as três cores primárias – vermelho, amarelo e azul, e as várias misturas das

secundárias (primária + primária) – laranja, verde e violeta. Ao lado, o Círculo das cores de Chevreul.

Figura do teste de Ishihara, método utilizado para

diagnosticar o daltonismo. Pessoas portadoras de alguns tipos de

daltonismo não verão o número 8.

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50 Capítulo 4

LEITURA COMPLEMENTAR

A cor é uma propriedade dos corpos e, como a maioria deles não tem luz própria, nós só os percebemos pelo fato deles refletirem a luz. Contudo, isto não é correto, pois a cor em si não existe e nem é produzida nos corpos. O fato é que os objetos apenas possuem algumas propriedades de refletir, transmitir e absorver as cores luminosas que recebem.

A impressão da cor de um corpo depende, portanto, da composição espectral da luz que o ilumina, como também da sua capacidade de refletir, transmitir e absorver esta luz. Assim, se um corpo possui a capacidade de refletir todas as cores do espectro visível, e se ilumina com luz branca do dia, esse corpo terá cor branca. Da mesma forma, se ele é iluminado com luz monocromática vermelha, o objeto aparecerá de cor vermelha. Caso a capacidade deste corpo não seja a de refletir todas as cores do espectro visível, mas agora de absorvê-las, ele terá a cor preta, independentemente se for iluminado com luz branca ou vermelha.

Um corpo pode também possuir, simultaneamente, a capacidade de reflexão ou absorção; neste caso apresentará uma cor semelhante à dos corpos translúcidos, onde parte da luz é absorvida, e nós veremos as cores transmitidas.

Transparentes, translúcidos e opacos

Quando a luz é emitida de uma determinada fonte, ela passa a se propagar com uma velocidade de 3.105 km/s, isso para o vácuo, ou seja, na ausência de matéria. No entanto, a luz também pode se propagar em outros meios além do vácuo. Esses meios podem ser classificados de acordo com a interação deles com os feixes de luz. Eles podem se classificar em: translúcidos, transparentes e opacos.

  Meios transparentes: são meios que permitem que a luz atravesse, descrevendo trajetórias regulares e bem definidas. Existe apenas um meio que é perfeitamente transparente, o vácuo, no entanto, existem alguns outros meios, como a água pura e o vidro hialino, que podem ser considerados como transparentes. Veja a representação de raios de luz atravessando um meio transparente:

Raios de luz atravessando um meio transparente.

Translúcidos: são meios pelos quais os feixes de luz descrevem trajetórias irregulares com intensa difusão, ou seja, a luz se espalha sobre o meio no qual está se propagando. Nesses meios a luz consegue passar, porém seus feixes sofrem desvios na sua orientação por causa da constituiçãodo material sobre o qual a luz está incidindo. Veja a representação de um meio translúcido:

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Raios de luz atravessando um meio translúcido.

Meios opacos: nesse tipo de meio a luz não se propaga. A luz, após incidir sobre os meios opacos, é parcialmente absorvida e parcialmente refletida. A parte que é parcialmente absorvida

é transformada em energia, como a energia térmica. São exemplos de meios opacos: madeira, papelão, metais, etc. 

Veja a representação de meios opacos:

Nos meios opacos a luz não atravessa.

Fonte: http://www.brasilescola.com/fisica/transparentes-translucidos-opacos.htm

Saiba mais!

História da Teoria da Cor Antes de Newton, muitos cientistas já haviam estudado a cor. No séc. XIV, um gênio da “ciência

artística” (ou seria da “arte científica”?) fazia suas anotações para que pudéssemos apreciá-las e admirá-las. Leonardo Da Vinci (1452-1519) que se aventurou em invenções e experiências absurdamente avançadas para seu tempo, não pintava somente para retratar ou copiar a natureza, mas sim para estudá-la, aplicando sua genialidade à ciência da visão, da cor e da luz.

Em suas pinturas, desenvolveu a técnica do “chiaroscuro” e o “sfumato” (em italiano, claro-escuro e esfumaçado), método de trabalho com a luz e a sombra, fazendo que as formas mais iluminadas ganhassem volume e suavisando cores e contornos com sombras esfumaçadas. Explorou também a perspectiva aérea (ou atmosférica) nas paisagens de fundo que aplicava nas pinturas, imitando a natureza que faz com que a cor pareça mais pálida e mais azulada em direção ao horizonte. (Ao lado, o Disco de Newton)

Leonardo afirmava que os princípios da pintura primeiramente estabelecem o que é um corpo sombreado (forma e volume) e o que é luz.

O escritor e pintor alemão Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) se opôs a descoberta de Newton

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de que existem sete cores no espectro com a teoria de que existem somente seis cores visíveis sob as condições naturais de luz do dia. Para ele, a cor era composta de luminosidade ou sombra. Goethe era um pintor e seu interesse na forma em que realmente vemos e experienciamos a cor estimulou os teóricos e os artistas posteriores. Em suas observações descreveu os efeitos do “positivo”e “negativo” da cor sobre a mente.

Baseado nas pesquisas de Newton, Goethe mostra em aquarela os resultados de dois experimentos de luz passando através de um prisma: as três cores principais do espectro de Newton - laranja, verde e azul violeta - seriam percebidas em um quarto escuro, através de um raio controlado de luz; no espectro de Goethe, as cores principais seriam azul cian, vermelho (que ele chamou de púrpura) e amarelo - vistos pelo olho a luz do dia . Juntando as seis cores formou a base do círculo das cores.

http://www.faac.unesp.br/graduacao/di/downloads/cores/Teoria_das_Cores.pdf

Uma vez compreendido os aspectos básicos, vamos definir as três características que definem uma cor.

Matiz, saturação e brilho – as três dimensões da cor

a) Matiz – é a denominação dos diferentes comprimentos de onda responsáveis pela nossa percepção das cores. Podemos dizer, então, matiz vermelho, matiz azul, matiz amarelo, etc.

Saiba um pouco mais …

De uma forma geral, matiz se refere a uma gradação sutil, quase imperceptível. Em colorimetria, matiz é uma das três propriedades da cor que nos permite classificar e distinguir uma cor de outra através de termos como vermelho, verde, azul, etc. As outras duas propriedades são a saturação e a luminosidade. Na teoria das cores, matiz se refere à cor “pura”, sem adição de branco ou preto. O matiz também permanece inalterado ao se adicionar sua cor complementar (ou oposta), quando então o matiz se esmaece até se tornar gradualmente cinza.

Internet: http://pt.wikipedia.org/wiki/Matiz_(cor), c/adaptações.

b) Saturação – a saturação relaciona-se à pureza da cor. Quanto mais pura a cor, mais saturada ela será – significa mais vivacidade. A saturação pode ser minimizada na medida que se adiciona água ou qualquer outro tipo de solvente. Na comunicação visual, minimiza-se o grau de saturação de uma cor adicionando a ela o cinza, ou seja, quanto mais cinza misturamos com uma cor, menos pura ela será.

c) Brilho – o brilho diz respeito ao índice de luminosidade da cor e está relacionado à tonalidade, que é definida pelo comprimento de onda dominante. A tonalidade também indica que uma cor só pode tender às suas cores vizinhas; em suma, o brilho é a altura do tom. Portanto, uma cor é mais luminosa na medida que reflete mais luz. A cor mais luminosa é o branco e a menos luminosa é o preto. O amarelo, por exemplo, é mais luminoso que o azul. O brilho é a altura do tom, que vai nos indicar se uma cor é mais clara ou mais escura; é a vivacidade da cor, que se altera na medida que você adiciona o branco, tornando-a mais luminosa, ou o preto, tornando-a mais escura.

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As cores primárias, secundárias, terciárias e neutras

Os pigmentos vermelho, amarelo e azul não podem ser criados a partir da mistura de outras cores, por isso chamados de primários ou fundamentais e que, misturados entre sí darão como resultado o preto. Ao contrário, todas as demais cores podem ser criadas a partir da mistura das primárias.

Tanto as cores primárias quanto as secundárias são denominadas cores cromáticas. Com relação ao branco, preto e os cinzas, podemos chamá-las de acromáticas, caracterizadas pela ausência de tonalidade e por não terem um comprimento de onda dominante.

As cores neutras são os marrons, os bejes e os champanhes. São formadas geralmente pela união de duas cores acromáticas (o branco e o preto) ou por duas cores cromáticas (como o vermelho e o verde).

Para obteremos as secundárias, unimos duas primárias: vermelho + amarelo = laranja; amarelo + azul = verde; azul + vermelho = roxo.

Uma outra mistura que pode acontecer é de uma cor primária com uma cor secundária, o que vai resultar na cor terciária, também conhecida por intermediária. Assim, vermelho + alaranjado = vermelho-alaranjado; azul + verde = azul-esverdeado.

vermelho-alaranjado azul-esverdeado

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Cores quentes e cores frias

Às vezes, nos referimos às cores descrevendo a sua temperatura. As cores quentes são o vermelho, o amarelo e o laranja, bem como todas as outras misturas que elas estejam presentes. As cores frias, já têm como característica parecerem mais distantes do observador; são elas, o verde, o azul e o violeta, bem como todas as outras misturas que elas estejam presentes.

O vermelho é quente e aproxima-se mais do que o azul, que é frio e tende a afastar-se do nosso olhar.

Mapa de Cores

As cores complementares

Toda cor primária está oposta a uma secundária no círculo cromático. Em se tratando de tonalidade, temperatura e vibração visual, por serem diametralmente opostas, têm contraste total. Quando estão próximas, agregam brilho uma a outra. Quando misturadas entre si, se anulam proporcionando uma tonalidade acinzentada.

Cores complementares segundo a concepção artística

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Harmonia de cores

“A harmonia mais bela é aquela formada pelas cores puras do espectro solar” (Goethe)

Não é muito fácil trabalhar com uma harmonia de cores. A maior dificuldade é o fato de saber que uma cor influencia a outra, simultaneamente. Este contraste simultâneo requer do artista um cuidado ao fazer suas misturas, tendo em vista que quando se justapõem, uma cor pode parecer mais clara ou mais escura em função daquela que está mais próxima a ela.

Há outros fatores que também fazem uma diferença, como o tamanho da área ocupada pela cor. O efeito do vermelho é diferente em função do tamanho da área que ocupará na composição. Contudo, fica sempre para a escolha do artista as cores que usar, como a forma de aplicá-las sobre o suporte; com harmonia de análogas ou com contrastes de complementares.

Podemos considerar três formas básicas de conseguir uma harmonia entre as cores:

• Pelo aumento ou diminuição do tom, que é uma qualidade da cor em suas diversas gradações.

• Pelo rebaixamento ou desaturação do tom.

• Pela cercadura das cores, que significa uma cor contornada por outra.

Na publicidade, por exemplo, a cor é um dos elementos essenciais para atrair a atenção do con-sumidor. Observe a embalagem ao lado – há a presença de cores que são complementares no disco de cores: o vermelho e o verde. Muitas pessoas dizem que é uma combinação de cores que deve ser evitada. Contudo, se bem utilizada, como demonstra esta ilustração, pode se revelar bastante atra-ente. Na teoria da harmonização, esta combinação é chamada de harmonia dissonante.

Como o artista utilizar a cor?

Em qualquer contexto onde é usada, a cor provoca um impacto grande aos nossos olhos. As cores vizinhas no círculo das cores, quando colocadas próximas na composição, criam uma harmonia, que podemos chamar de harmonia de análogas. Mas, se o artista quiser criar um contraste cromático intenso ele deverá utilizar as complementares, ou seja, as cores opostas no círculo cromático.

As cores, as linhas e as formas tendem a perder a intensidade na medida que se distanciam do olhar do observador.

Faça hoje! Antes de dormir.

Uma visita muito interessante e aprofundada sobre as cores.

http://www.faac.unesp.br/graduacao/di/downloads/cores/Teoria_das_Cores.pdf