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1 CORAÇÃO DE EMPREENDEDOR: A RELAÇÃO ENTRE O PERFIL EMPREENDEDOR E A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Andréa Manfrim da Silva 1 RESUMO: Diversos estudos relacionam as características pessoais do indivíduo empreendedor, e outros se debruçam sobre as habilidades e competências dos indivíduos com alta inteligência emocional. Este artigo tem como objetivo analisar a relação existente entre empreendedorismo e inteligência emocional. A pesquisa é organizada em duas etapas, sendo a primeira um levantamento bibliográfico para compreensão das características do empreendedor na percepção de especialistas no tema. A segunda etapa é um levantamento ( survey) realizado com 31 empreendedores, em que se buscou elencar o nível de importância das características levantadas na fase bibliográfica. Os resultados apontam que as características mais importantes para os autores (71,43 %) estão agrupadas no eixo comportamental de constância de propósitos, enquanto para os empreendedores (89,25 %), são as características agrupadas no eixo de visão positiva as mais importantes. Ambos os eixos comportamentais estão relacionados a habilidades intrapessoais de inteligência emocional. Em geral, o estudo aponta uma forte relação entre características empreendedoras e habilidades e competências de inteligência emocional. Palavras-chave: Empreendedorismo. Inteligência Emocional. 1 INTRODUÇÃO Os estudos sobre empreendedorismo têm aumentado muito no Brasil nos últimos anos, impulsionados pelo crescente número de novos empreendedores 1 Discente do curso de MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach da Universidade La Salle - Unilasalle, matriculada na disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, sob orientação da Prof. Me Alessandra Gonzaga. E-mail: [email protected]. Data de entrega: 06/12/2017.

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CORAÇÃO DE EMPREENDEDOR: A RELAÇÃO ENTRE O PERFIL

EMPREENDEDOR E A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Andréa Manfrim da Silva1

RESUMO:

Diversos estudos relacionam as características pessoais do indivíduo

empreendedor, e outros se debruçam sobre as habilidades e competências dos

indivíduos com alta inteligência emocional. Este artigo tem como objetivo analisar a

relação existente entre empreendedorismo e inteligência emocional. A pesquisa é

organizada em duas etapas, sendo a primeira um levantamento bibliográfico para

compreensão das características do empreendedor na percepção de especialistas

no tema. A segunda etapa é um levantamento (survey) realizado com 31

empreendedores, em que se buscou elencar o nível de importância das

características levantadas na fase bibliográfica. Os resultados apontam que as

características mais importantes para os autores (71,43 %) estão agrupadas no eixo

comportamental de constância de propósitos, enquanto para os empreendedores

(89,25 %), são as características agrupadas no eixo de visão positiva as mais

importantes. Ambos os eixos comportamentais estão relacionados a habilidades

intrapessoais de inteligência emocional. Em geral, o estudo aponta uma forte relação

entre características empreendedoras e habilidades e competências de inteligência

emocional.

Palavras-chave: Empreendedorismo. Inteligência Emocional.

1 INTRODUÇÃO

Os estudos sobre empreendedorismo têm aumentado muito no Brasil nos

últimos anos, impulsionados pelo crescente número de novos empreendedores

1 Discente do curso de MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach da Universidade La Salle -

Unilasalle, matriculada na disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, sob orientação da Prof. Me Alessandra Gonzaga. E-mail: [email protected]. Data de entrega: 06/12/2017.

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registrados. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor 2(SEBRAE,

2017a), entre os anos de 2015 e 2016, respectivamente 21% e 20% da população

adulta brasileira tiveram atividades relacionadas a empreendedorismo, sendo estes

os maiores percentuais desde o início da pesquisa em 1999.

A preocupação que existe para que as novas empresas sejam duradouras e a

necessidade da diminuição das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos

são motivos para a popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido

especial atenção por parte do governo e entidades de classe. Uma das definições

mais aceitas hoje em dia é dada por Hisrich e Peters (2006), que entendem que

empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando

tempo e esforço necessário, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais

correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação

econômica e pessoal.

Empreendedorismo é o principal fator do desenvolvimento econômico e social

de um país. A decisão de empreender pode ser oriunda de um desejo pessoal de

ser o dono do próprio negócio, da expectativa de maiores ganhos do que com o

trabalho assalariado, forçadas pela conjuntura econômica em função, por exemplo,

de desemprego, ou por outro lado, facilitado por uma situação econômica de

crescimento da economia, que incentiva a abertura de novos negócios. As atitudes

empreendedoras, apesar de serem decisões de foro íntimo das pessoas, acabam

por gerar riqueza, alavancam a economia, geram empregos e aumentam a

circulação financeira. Identificar oportunidades, agarrá-las e buscar os recursos para

transformá-las em negócio lucrativo são o papel do empreendedor.

Essa afirmação é corroborada pelo número de empregos abertos nas micro e

pequenas empresas em setembro/2017, conforme análise do CAGED3 (SEBRAE,

2017b). Conforme essa análise, em setembro de 2017, pela sexta vez consecutiva,

os pequenos negócios sustentaram a geração de empregos no país, registrando

2 Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é a principal pesquisa sobre empreendedorismo realizada

no mundo, coordenada pelo Global Entrepreneurship Research Association (GERA). A pesquisa é realizada desde 1999, tendo já participado mais de 100 países. O relatório de 2016 apresenta resultados para 65 países que, juntos, representam 70% da população global e 83% do Produto Mundial. A pesquisa é feita com indivíduos, entre 18 e 64 anos, e procura identificar as características dos que possuem algum tipo de negócio (ou estão fazendo algo para ter), seja um negócio formal ou informal. 3 CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, mantido pelo Ministério do Trabalho,

é o registro permanente de admissões e dispensa de empregados, sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). É utilizado como base para a elaboração de estudos, pesquisas, projetos e programas ligados ao mercado de trabalho.

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saldo de 51,2 mil novos postos de trabalho, enquanto as médias e grandes

empresas fecharam 16,1 mil vagas.

É comum pessoas descreverem-se ou serem descritas como

empreendedoras e para esse julgamento utilizam-se de características que julgam

ser de pessoas empreendedoras, como ousadia e coragem, criatividade e

pioneirismo. Existem estudos na literatura a respeito das características de um

empreendedor, entretanto, nenhum é conclusivo a respeito de características

distintivas (HISRICH; PETERS, 2006).

Nestes estudos, procura-se entender as características essenciais que

definem o empreendedor, porém há uma lacuna nos estudos em não relacionar os

valores, atitudes e características dos empreendedores em relação aos estudos

sobre inteligência emocional, e sobre como ela efetivamente influi ou atrapalha o

desenvolvimento do perfil empreendedor, influenciando no sucesso ou fracasso de

um novo empreendimento. A inteligência emocional pode ser descrita como um

modelo de personalidade e comportamento individual segundo o qual as pessoas

são conhecedoras de si e do mundo social em que vivem, utilizando este

conhecimento de forma consciente para administrar suas emoções e direcionar seu

comportamento rumo a resultados desejados (BAR-ON; PARKER, 2002)

Neste contexto, este artigo tem como objetivo geral analisar a relação entre

perfil empreendedor e inteligência emocional. Tem, por objetivos específicos: a)

realizar levantamento bibliográfico para identificar características de empreendedor;

b) compreender a importância de características intra e interpessoais na atividade de

empreendedorismo na percepção de empreendedores; c) compreender possíveis

relações entre características empreendedoras e inteligência emocional.

A pesquisa realizada para este artigo caracteriza-se como qualitativa e

quantitativa, com duas fases de coleta de dados. A primeira foi bibliográfica, que

permitiu a compreensão de conceitos relacionados ao perfil empreendedor e

características de pessoas emocionalmente inteligentes. A segunda fase da coleta

foi feita a partir dos resultados da primeira e, por meio da aplicação de um

questionário, possibilitou analisar a relação entre o empreendedorismo e a

inteligência emocional, na percepção de um grupo de empreendedores.

Este artigo é organizado em quatro seções, sendo a primeira esta introdução.

Na segunda seção foi buscada a fundamentação teórica para o trabalho, através de

pesquisa bibliográfica em autores renomados que se dedicaram a estudar os temas

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considerados neste artigo. A terceira seção explica o procedimento metodológico

utilizado para levantamento de informações, qual o delineamento da pesquisa e as

técnicas de coleta de dados. A quarta seção faz uma análise dos dados levantados,

identificando as características de empreendedorismo mais importantes, conforme

pesquisa feita com empreendedores, agrupando-as em eixos comportamentais

interpessoais e intrapessoais e relacionando-as com a inteligência emocional. Por

fim, a quinta seção elenca as conclusões tiradas com o trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta seção trata do referencial teórico utilizado para entender as diversas

definições sobre o objeto deste estudo: como são definidos o empreendedorismo, o

empreendedor, os motivos que levam alguém a empreender e quais seus desafios,

quais são as características do empreendedor e o que é inteligência emocional.

2.1 O que é empreendedorismo

Empreendedorismo é:

o processo de criar algo novo com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas de satisfação e independência econômico social. (HISRICH; PETERS, 2006. p. 29)

Esse processo de criar algo novo, para Druker (2005, p. 25) é o “instrumento

específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como

uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente”.

Para Dolabela (1999), empreendedorismo designa:

[...] principalmente as atividades de quem se dedica à geração de riquezas, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento ou na inovação em áreas como marketing, produção, organização, etc. (DOLABELA, 1999, p.43)

Assim, quando as ideias emergem a partir de ideias ou da solução criativa de

problemas, elas precisam de um desenvolvimento e aperfeiçoamento posteriores até

o oferecimento do produto ou serviço final (HISRICH; PETERS, 2006).

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2.2 O empreendedor

Dolabela (1999, p. 44) diz que:

[...] o empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão, mas não só. Deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores, convencê-los de que sua visão poderá levar todos a uma situação confortável no futuro. (DOLABELA, 1999, p. 44)

Para diversos autores, empreendedor é aquele indivíduo que, além de ter a

visão de uma possibilidade de oportunidade de mercado, tem também um sonho, ou

ideia, e que não mede esforços para realizá-la. Nas palavras de Maximiano (2013,

p.4) “o empreendedor é, em essência, a pessoa que tem capacidade de idealizar e

realizar coisas novas“.

Para atingir o objetivo de transformar uma ideia ou sonho em realidade o

empreendedor precisa manter uma constante busca por inovação, vendo a mudança

como uma norma sadia, a possibilidade de aperfeiçoar-se naquilo a que se propôs.

Em geral, o empreendedor não é quem causa as mudanças por si mesmo,

mas está sempre pronto a reagir a ela, explorando-a como oportunidade,

transformando valores e criando algo novo e diferente (DRUKER, 2005).

Dolabela (1999, p. 68) trabalha em seu livro com uma definição simples: “Um

empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”.

Sendo assim, o empreendedor diferencia-se de outros indivíduos por

enxergar possibilidades onde outros vêem apenas dificuldades, ele entende que não

haverá progresso se não houver adaptação às mudanças, quase que torcendo para

que haja mudanças que provoquem em si essa necessidade de adaptação, que em

suma é o que o move para frente e a suplantar novos desafios.

2.3 Os motivos para empreender

Os motivos que levam alguém a empreender para Dolabela (1999) são frutos

do ambiente, época e lugar em que o empreendedor vive. Se o indivíduo estiver em

um ambiente em que empreender é visto como positivo, terá motivação para criar

seu próprio negócio.

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Já Farah (2011), detalha mais os motivos comumente apontados para que

alguém se torne empreendedor: a vontade de ganhar mais dinheiro do que a

condição de empregado possibilita; o desejo de sair da rotina e levar as próprias

ideias adiante; o desejo de ser o próprio patrão e não ter de dar satisfação a

ninguém sobre seus atos; a necessidade de provar a si próprio e aos outros de que

é capaz de realizar um empreendimento; e o desejo de desenvolver algo que traga

benefícios não só para si, mas para toda a sociedade.

Hisrich e Peters (2006) resumem em três os principais motivos para

empreender: 1) a decisão de abandonar a atual carreira ou estilo de vida; 2) a

decisão de que um empreendimento é desejável; 3) a decisão de que fatores

externos e internos tornam possível a criação do empreendimento.

Ainda para Hisrich e Peters (2006) o empreendedor sofre influências de

impulso e de movimento que o levam a deixar a atual carreira para decidir

empreender. O impulso pode ser a insatisfação com o emprego atual ou uma

demissão inesperada, enquanto o movimento em direção ao empreendedorismo

pode vir ao se constatar uma necessidade não atendida no mercado.

2.4 Desafios do empreendedor

Muitos desafios esperam pelo empreendedor, e saber lidar com eles é a

diferença entre o sucesso e o fracasso.

Farah (2011) ressalta a importância de estudar e planejar previamente a

formatação do novo negócio, evitando assim os erros mais comuns que podem levar

uma boa iniciativa ao fracasso.

Para Dolabela (2008) importante também é a redefinição do conceito de

sucesso e fracasso. Para um empreendedor, está em situação de sucesso quem

busca, e não quem realiza um sonho, pois quando se torna realidade, os sonhos

deixam de produzir a emoção que geravam quando eram apenas sonhos. Dentro

dessa ideia, não realizar um sonho não significa um fracasso. Fracasso seria desistir

de realizá-lo.

Ainda conforme Dolabela (2008) há duas categorias de sucesso entre os

empreendedores: existem aqueles para os quais o sucesso é definido pela

sociedade e aqueles que têm uma noção interna de sucesso, sem que haja nenhum

estudo que diga que um ou outro tenha maior sucesso.

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Para que os riscos sejam diminuídos, Hisrich e Peters (2006) elencam as 04

fases distintas do processo de empreender: 1) identificação e avaliação da

oportunidade; 2) desenvolvimento do plano de negócio; 3) determinação dos

recursos necessários; 4) administração da empresa resultante.

Embora essas fases ocorram progressivamente, nenhuma deve ser tratada

de forma isolada ou está totalmente completa antes de considerar os fatores de uma

fase posterior.

Drucker (2005) alerta que o sucesso ou fracasso de um concorrente é

também importante. Em qualquer dos casos deve-se considerar o evento com

seriedade, como um sintoma de oportunidade inovadora. Não se deve apenas

analisar, e sim sair a campo para procurar saber o que acontece realmente.

2.5 Inteligência Interpessoal x Inteligência Intrapessoal

Os primeiros estudos em torno da inteligência emocional iniciaram a partir da

pesquisa de Howard Gardner em 1983. De acordo com as definições de Gardner

(1995) existem duas inteligências pessoais fundamentais: intrapessoal e

interpessoal. A inteligência interpessoal baseia-se na capacidade de perceber

distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo,

temperamentos, motivações e intenções. Essa inteligência permite que um adulto

experiente perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os

escondam.

Já a inteligência intrapessoal é o conhecimento dos aspectos internos da

própria pessoa: o acesso ao sentimento da própria vida, à gama das próprias

emoções, à capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e

utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento. A

pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si

mesma. Para Bar-On & Parker (2002), a inteligência interpessoal é uma das

dimensões da inteligência emocional. Já para Goleman, Boyatzis e Mckee (2002),

essa dimensão passa a compor a inteligência social.

2.6 Inteligência Emocional

Inteligência emocional pode ser definida como:

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a capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com precisão, a capacidade de acessar e ou gerar sentimentos quando estes facilitam o pensamento, a capacidade de entender as emoções para promover o crescimento emocional e intelectual.(MAYER; SALOVEY, 1997, p.10)

O indivíduo com inteligência emocional pode ser definido também como

alguém que:

sabe o que as pessoas sentem; conversa sobre sentimentos; consegue mostrar como se sente; expressa sentimentos quando preocupado; sorri quando feliz ou satisfeito; lê as pessoas com precisão; é bom em reconhecer os próprios sentimentos. (CARUSO; SALOVEY, 2007, p.33)

Para Bar-on & Parker (2002), a inteligência emocional refere-se a pensadores

que utilizam o coração, aplicando suas habilidades mentais na percepção, no

entendimento e na administração de relações sociais, podendo usar seus talentos

tanto com o objetivo de trapacear quanto de beneficiar outras pessoas. Não se sabe

ainda em que nível essas habilidades mentais caracterizariam o comportamento

emocional observado nos indivíduos em uma variedade de contextos emocionais e

por meio de uma variedade de emoções. Uma das principais características de

indivíduos com inteligência emocional alta é a sua capacidade de identificar

emoções e julgar a integridade de expressões emocionais com precisão. Porém,

nem sempre está claro se a inteligência emocional representa uma variável de

resultado, ou seja, a resolução bem sucedida de um desafio emocional, ou uma

aptidão para lidar com situações desafiadoras, cuja expressão pode variar segundo

as contingências ambientais. Ou, em suas próprias palavras: “uma gama de

aptidões, competências e habilidades não-cognitivas que influenciam a capacidade

do indivíduo de lidar com as demandas e pressões do ambiente".

Ainda na opinião de Bar-on & Parker (2002) a inteligência emocional pode

também ser usada como um modo de prever diferenças individuais quanto à

satisfação com a vida e à adaptabilidade, com a qual indivíduos que conseguem

identificar seus sentimentos e dos que estão a sua volta, direcionando suas ações e

de forma consciente para administrar todas estas emoções e agir de forma

organizada e objetiva para alcançar resultados e metas necessárias.

A inteligência emocional, conforme Mayer, DiPaolo, & Salovey (1990) significa

um conjunto de habilidades voltados a monitorar emoções próprias e dos outros,

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discriminando essas emoções e usando essas informações para o pensamento e

para a ação.

O uso do termo inteligência emocional, conforme Bar-on & Parker (2002) tem

sido feito de três diferentes maneiras. A primeira delas é como uma zeitgeist, ou

espírito de uma época, referindo-se a um movimento cultural que tanto pode ser

simplesmente uma moda passageira, ou pode também firmar-se como um

movimento histórico, que embasará futuros estudos e mais pesquisas científicas que

desenvolverão os conhecimentos sobre o assunto.

A inteligência emocional também tem sido utilizada como um quase sinônimo

de personalidade, abrangendo uma amplitude além das áreas emocional e cognitiva.

Este uso para Bar-on & Parker (2002) é muito vago e problemático, ao tentar

explicar a totalidade da personalidade e do caráter do indivíduo.

O terceiro uso do termo refere-se a uma inteligência real dentro da

personalidade, que diz respeito ao processamento das emoções, e que tem seu

próprio constructo e conceitos conflitantes. Os mais relacionados são os conceitos

de competência emocional e de criatividade emocional. Também estão englobados

os conceitos de inteligência interpessoal, definida como a capacidade de entender e

avaliar a si mesmo de forma precisa. Ela abrange também a inteligência social, que

é frequentemente definida como a capacidade de se inter-relacionar e administrar os

outros.

Os mesmos Bar-on & Parker (2002) alertam que a inteligência emocional

deve ser distinguida de variáveis de personalidade e que ela deve ser encarada

como uma aptidão mais restrita, especificamente a capacidade de reconhecer os

significados de emoções e utilizar tal conhecimento para resolver problemas.

As habilidades envolvidas no processamento das informações

emocionalmente relevantes dizem respeito a: 1) uma precisa avaliação e expressão

de emoções em si e no outro; 2) assimilação da experiência emocional na cognição,

3) reconhecimento, entendimento e raciocínio a respeito de emoções e 4) regulação

adaptativa de emoções em si e no outro.

Para Caruso e Salovey (2007), o indivíduo inteligente emocionalmente é

aquele que sabe o que as pessoas sentem e também aquilo que ele próprio sente,

conseguindo tirar conclusões corretas e inspirar as pessoas a sua volta com

conclusões corretas sobre elas. Para eles, o indivíduo com inteligência emocional é

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um pensador criativo que inspira as pessoas e mantém o foco nas coisas

importantes, mesmo agindo sob fortes emoções.

Conforme Caruso e Salovey (2007, p.41) “as emoções melhoram o

pensamento. Os sentimentos ajudam a moldar e mudar crenças e opiniões”.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção é abordada e descrita a metodologia utilizada para pesquisa,

bem como a bibliografia utilizada e a forma de coleta de dados.

Para Minayo (2002, p.16), metodologia é “o caminho do pensamento e a

prática exercida na abordagem da realidade”. Minayo (2002, p.17) também refere

que “embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação”.

3.1 Delineamento da Pesquisa

Na abordagem de Marconi e Lakatos (1999), pesquisa é um procedimento

formal que permite encontrar respostas para questões propostas, utilizando para

isso um método científico. Quanto à natureza da pesquisa, esse estudo caracteriza-

se como qualitativo e quantitativo, a partir das diferentes etapas de coleta, sendo a

do tipo exploratória e a segunda descritiva.

A fase exploratória da pesquisa também é descrita como:

[...] tempo dedicado a interrogarmos preliminarmente sobre o objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. Seu foco fundamental é a construção do projeto de investigação. (MINAYO, 2002, p.26)

Para Roesch (2009, p.154) a pesquisa qualitativa é adequada “quando se

trata de melhorar a efetividade de um programa, ou plano, ou mesmo quando é o

caso da proposição de planos”.

Já a pesquisa quantitativa elege uma ideia, que transforma em uma ou várias

perguntas de pesquisa, de onde derivam hipóteses e variáveis que devem ser

mensuradas em um determinado contexto, por fim analisando estas mensurações

obtidas e estabelecendo uma série de conclusões a respeito das hipóteses

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(MARCONI; LAKATOS, 1999). A proposta nessa fase é apresentar os dados

coletados por meio de estatística descritiva.

3.2 Técnica de coleta de dados

Os dados foram levantados em duas etapas de coleta. Na primeira, foi feito

um levantamento bibliográfico, de forma exploratória, para determinar as definições

de empreendedorismo, as características do empreendedor e as habilidades das

pessoas emocionalmente inteligentes, atendendo o primeiro objetivo de pesquisa.

Na segunda fase da coleta foi enviado um questionário (Apêndice A) para 31

empreendedores, construído a partir dos dados coletados na primeira fase, de forma

a atender ao segundo e terceiro objetivos específicos de pesquisa.

Os 31 empreendedores que compõem a amostra foram acessados através

dos contatos da autora com grupos de estudo do Sebrae, através do envio por e-

mail, sendo respondidos e devolvidos pelo mesmo meio.

Após a coleta dos materiais foi realizada a análise de dados. De acordo com

Minayo (2002), todo o material coletado deve conduzir à teorização sobre os dados,

confrontando a abordagem teórica com a que a investigação aportar como

contribuição. Esse é o intento da próxima seção do estudo.

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

Esta seção irá elencar as principais características e habilidades relacionadas

aos empreendedores, de acordo com pesquisa bibliográfica, e a percepção de um

grupo de empreendedores em relação ao nível de importância de cada

característica. Essa percepção foi levantada através de questionário aplicado.

Posteriormente, será feita uma relação entre a importância das características

dos empreendedores em relação às habilidades intrapessoais e interpessoais de

inteligência emocional.

4.1 Características do empreendedor

Para elencar as principais características que definem um empreendedor, foi

feita uma pesquisa em sete dos principais autores que se dedicaram a estudar o

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assunto empreendedorismo: Maximiano (2013), Druker (2005), Tajra e Santos

(2012), Dolabela (1999), Sebrae (2017), Farah (2011) e Dornelas (2007).

Após esta etapa, as características foram elencadas (Apêndice B) sendo que

para cada característica foi atribuída uma palavra-chave, a fim de agrupá-las por

afinidade, devido aos autores utilizarem palavras e terminologias diferentes para

expressar as mesmas ideias. Por exemplo, na palavra-chave estar preparado, foram

agrupadas as ideias de Tajra e Santos (2012): estar preparado; Dolabela (1999):

saber buscar, utilizar e controlar recursos; SEBRAE (2017c): saber buscar

informações e exigência de qualidade e eficiência; Farah (2011): experiência em

negócios e aprendizagem de padrões; Dornelas (2007): busca informação e

autocontrole. Já Tajra e Santos (2012) citam a característica persistente, Dornelas

(2007) usa o termo determinação, e Farah (2011) diz que empreendedores são

trabalhadores incansáveis. Estas três definições foram agrupadas na palavra-chave

persistente.

Em seguida, foi feita uma contagem das palavras-chave atribuídas, a fim de

identificar as características mais mencionadas pelos autores, conforme Tabela 1.

Tabela 1 - Palavras-chave de empreendedorismo por autor

Palavra-chave Maximiano

(2013) Druker (2005)

Tajra e Santos (2012)

Dolabela (1999)

Sebrae (2017)

Farah (2011)

Dornelas (2007)

TOTAL

Estar preparado

1 1 1 1 1 5

Comprometido

1 1 1 1 1 5

Criativo 1

1 1

1 1 5

Persistente 1

1

1 1 1 5

Ter liderança (influência)

1

1 1 3

Autoconfiante 1

1 1 1

1 5

Ter Iniciativa - Proativo

1

1 1 1

1 5

Automotivado

1 1

1 3

Assumir Riscos

1 1

1 3

Cultivar Bons relacionamentos

1 1 1 1 1 5

Otimista 1

1 1

1 4

Intuitivo

1

1

2

Independente 1

1

1 3

Ter Autonomia

1

1

Ter "Espírito empreendedor"

1 1

2

Ter um modelo

1

1

2

Inovador

1

1 2

Persuasivo

1

1

Total Geral 6 1 11 14 8 8 13 61

Fonte: Autoria própria, 2017. * Baseada nos autores.

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Procurou-se também separar as características pessoais dos

empreendedores, aquelas que são inatas, podendo ou não ser desenvolvidas e

aprimoradas através de aprendizado intelectual e pessoal e que o definem como

indivíduo, daquelas que dependem totalmente do ambiente onde o empreendedor

está inserido. Estas são características que independem da personalidade do

empreendedor, são aprendidas ou já existem no contexto em que o empreendedor

está inserido.

Também foram destacadas as características que, mesmo sendo inerentes ao

empreendedor podem ser desenvolvidas em função do ambiente.

O agrupamento de acordo com características pessoais, pessoais que podem

ser desenvolvidas ou ambientais consta na Tabela 2:

Tabela 2 - Classificação das palavras-chave

Palavra-chave Características

ambientais Características

Pessoais

Características Pessoais e ambientais

Estar preparado X

Comprometido

X

Criativo

X

Persistente

X

Ter liderança (influência)

X

Autoconfiante

X

Ter Iniciativa - Proativo

X

Automotivado

X

Assumir Riscos

X

Cultivar Bons relacionamentos

X

Otimista

X

Intuitivo

X

Independente

X

Ter Autonomia

X

Ter "Espírito empreendedor"

X

Ter um modelo X

Inovador

X

Persuasivo

X

Fonte: Autoria própria, 2017.

Após o trabalho de classificação das características em ambientais, pessoais

e pessoais e ambientais, foi realizado um novo agrupamento de palavras-chave

(tabela 3), dessa vez considerando características intrapessoais ou interpessoais, ou

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seja, associando-as aos conceitos ligados à inteligência emocional, nos sete autores

pesquisados.

Para agrupar as palavras-chave criou-se um eixo comportamental no qual

elas se assemelham, conforme tabela 3, e identificou-se quantos autores citaram

cada uma das características, ou seja, cada característica poderia ser citada no

máximo sete vezes, pois são sete autores. A partir daí elaborou-se um índice de

frequência de citações considerando quantos autores citaram cada característica e

apurando-se o percentual de citações de autores em relação ao máximo possível,

agrupadas por eixo. Chama a atenção que há apenas um eixo relacionado à

dimensão interpessoal, referente às características empreendedoras de liderança,

cultivar bons relacionamentos e persuasivo, agrupadas como eixo de “influência”.

Tabela 3 - Características Intrapessoais e Interpessoais

Dimensão de IE

associada Eixo Características do perfil empreendedor Pontuação % Posição

Intrapessoal

Constância de propósitos

Comprometido (5), Persistente(5) 10 71,43 1

Inovação Criativo (5), Inovador (2), Estar

preparado(5) 12 57,14 2

Visão positiva

Automotivado (3), Otimista (4), Autoconfiante (5), Autonomia (1)

13 46,43 3

Abertura à mudança

Intuitivo (2), Assumir Riscos (3), Iniciativa (5), Independente (3)

13 46,43 3

Interpessoal Influência Liderança (3), Cultivar Bons

Relacionamentos (5), Persuasivo (1) 9 42,86 4

Fonte: Autoria própria, 2017.

Essas tabelas serviram de base para montagem do questionário para

pesquisa junto à empreendedores, item analisado na próxima seção.

4.2 Percepção de empreendedores sobre perfil intrapessoal e interpessoal

Por meio da aplicação de questionário em 31 empreendedores acessados por

meio do SEBRAE, buscou-se conhecer a percepção destes sobre a importância das

características levantadas pelos autores estudados e elencadas na tabela 3.

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Foi solicitado aos empreendedores que atribuíssem uma nota de 0 a 3 para o

conjunto de características relacionadas, sendo 0 para sem importância, 1 para

pouco importante, 2 para importante e 3 para muito importante.

Para calcular a porcentagem de importância para os empreendedores fez-se

a soma dos pontos atribuídos a cada característica e foi verificado o percentual do

total da pontuação de cada eixo em relação ao total possível de pontos, caso todas

as respostas fossem muito importantes (tabela 4).

Tabela 4 - Resultado da avaliação de importância a partir dos empreendedores (N=31)

Dimensão de IE associada

Eixo Características do perfil

empreendedor Pontuação* %

Interpessoal Influência Liderança, Cultivar Bons

Relacionamentos, Persuasivo 82 88,17%

Intrapessoal

Visão positiva Automotivado, Otimista,

Autoconfiante, Autonomia 83 89,25%

Constância de propósitos

Comprometido, Persistente 78 83,87%

Abertura à mudança

Intuitivo, Assumir Riscos, Iniciativa, Independente

77 82,80%

Inovação Criativo, Inovador, Estar

preparado 74 79,57%

* Pontuação construída a partir de escala de importância de 0 a 3, sendo pontuação máxima 100 pontos. Fonte: Autoria própria, 2017.

De acordo com o resultado demonstrado na tabela 4, na dimensão

intrapessoal, o eixo visão positiva – que engloba as características automotivado,

otimista, autoconfiante e autonomia – ficou em primeiro lugar na pesquisa, com

89,25% da pontuação máxima alcançada, e em segundo lugar o eixo influência, que

engloba liderança, cultivar bons relacionamentos e persuasivo, com 88,17% da

pontuação máxima.

Essas características estão fortemente relacionadas à inteligência emocional,

na medida em que:

As emoções concentram a atenção, moldam a tomada de decisões e fortalecem o comportamento adaptativo. Consegue se "animar", acalmar ou manter o humor conforme a necessidade. Consegue animar os outros, acalmá-los ou administrar devidamente seus humores. Está aberto aos sentimentos próprios e alheios. Leva uma rica vida emocional. Inspira outras pessoas. (CARUSO; SALOVEY, 2007, p. 61).

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As características com menos pontuação, mas mesmo assim consideradas de

maneira geral como importantes ou muito importantes, foram os eixos constância de

propósitos com 83,87%, abertura à mudança com 82,80% e inovação com 79,57%.

4.3 Associação entre características do empreendedor e Inteligência

Emocional

Nesta seção são comparadas as características do perfil empreendedor a

partir da análise bibliográfica de sete autores especialistas e da pesquisa realizada

com trinta e um empreendedores. O conjunto de características mapeadas, bem

como os cinco eixos decorrentes são considerados importantes tanto para autores

quanto para empreendedores, porém com diferenças de prioridade entre os eixos,

pelo qual a intenção foi fazer um ranking da seleção.

No gráfico 1 visualiza-se a comparação entre os percentuais demonstrados

nas tabelas 3 e 4, entre a frequência em que essas características são mencionadas

pelos autores e o nível de importância atribuído pelos empreendedores, ambos

alinhados a partir de percentual.

Gráfico 1: Nível de importância x frequência das características de empreendedores

Fonte: Autoria própria, 2017.

Pelos empreendedores, a maior pontuação foi dada às características

associadas ao eixo comportamental visão positiva (automotivado, otimista,

autoconfiante, autonomia), com percentual relativo de 89,25% em relação ao

22,43%

12,44%

42,82%

36,37%

45,31%

79,57%

83,87%

89,25%

82,80%

88,17%

57,14%

71,43%

46,43%

46,43%

42,86%

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Inovação

Constância de propósitos

Visão positiva

Abertura à mudança

Influência

Citações

Importância

GAP

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máximo de pontos possível. A frequência com que estas características aparecem

nos autores é de 46,43%, ficando em terceiro lugar em relação à frequência em que

aparecem. Estas características intrapessoais dos empreendedores podem ser

associadas a diferentes habilidades de inteligência emocional, como autocontrole

emocional e otimismo, que permitem melhor resposta às situações e desafios da

atividade.

Em segundo lugar, ficaram as características interpessoais agrupadas no eixo

comportamental influência (liderança, cultivar bons relacionamentos, persuasivo),

com 88,17% de importância. A frequência com que estas características aparecem

nos autores é de 42,86%, ficando em quarto lugar em relação à frequência em que

aparecem. Esse conjunto de características ligadas à influência está associado a

habilidades de inteligência emocional tidas como sociais, tais como empatia e

persuasão. A empatia diz respeito a compreender o ponto de vista dos outros e

interessar-se ativamente por suas preocupações. Já a persuasão permite

reconhecer e satisfazer as necessidades dos subordinados e clientes, cultivando as

capacidades alheias por meio de feedback e de orientação maior consciência

organizacional e motivando a cooperação e a criação do grupo.

A associação entre inteligência emocional e liderança é feita por Caruso e

Salovey (2007), que entendem que o indivíduo com alta inteligência emocional é

bom em reconhecer os próprios sentimentos e também em ler as pessoas com

precisão. Na visão de relacionamento interpessoal de Bar-on & Parker (2002), a

capacidade de formar e manter relacionamentos é ligada à possibilidade de dar e

receber intimidade emocional. Essa capacidade não depende apenas de ter

consciência das emoções, mas também de entender os sentimentos e emoções

dentro destes relacionamentos.

O eixo comportamental constância de propósitos (comprometido, persistente)

ficou em terceiro lugar, com 83,87% de importância. A frequência com que estas

características aparecem nos autores é de 71,43%, ficando em primeiro lugar em

relação à frequência em que aparecem. Este eixo comportamental de

empreendedorismo associa-se na inteligência emocional às habilidades de

autoconsciência emocional, ou seja, identificar as próprias emoções e reconhecer

seu impacto, usando a intuição para guiar as emoções. No empreendedor isso

implica em ter auto respeito, que está fortemente relacionado com a força interior, a

autoconfiança, a sentimentos de adequação e a auto realização, a reconhecer os

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próprios limites e possibilidades, ter um profundo senso de valor próprio ou, nas

palavras de Caruso e Salovey (2007, p.41) ser um “pensador criativo, inspirando

pessoas, utilizando as emoções para melhorar o pensamento, sentindo o que os

outros sentem e moldando suas crenças e opiniões a partir dos sentimentos”.

Em quarto lugar, próximo ao terceiro, ficou o eixo comportamental abertura à

mudança (intuitivo, assumir riscos, iniciativa, independente), com 82,80%. A

frequência com que estas características aparecem nos autores é de 46,43%,

ficando em terceiro lugar em relação à frequência em que aparecem. Esse conjunto

de capacidades de assumir riscos, ser independente e intuitivo pode estar

relacionado à definições de inteligência emocional que pregam justamente a

necessidade de análise e entendimento das emoções, considerando a intuição na

análise dos riscos envolvidos antes da tomada de decisão. Essas características

empreendedoras podem também significar que o empreendedor não ficará

acomodado, estabelecendo para si metas desafiadoras, e que apoiadas em outras

características, ajudam a definir estes objetivos.

Conforme Dolabela (2008) um empreendedor está em situação de sucesso

enquanto busca, e não quando realiza um sonho, pois quando se tornam realidade,

os sonhos deixam de produzir a emoção que geravam quando eram apenas sonhos.

Dentro dessa ideia, não realizar um sonho não significa um fracasso. Fracasso seria

desistir de realizá-lo. Essas características fazem relação com a competência de

inteligência emocional de usar a intuição e as emoções para identificar situações

adversas e o seu impacto, estando pronto para agir e aproveitar as oportunidades.

Em quinto lugar, com pontuação de 79,57%, ficou o eixo comportamental

inovação (criativo, inovador, estar preparado). A frequência com que estas

características aparecem nos autores é de 57,14%, ficando em segundo lugar em

relação à frequência em que aparecem. Apesar de ficar em último na escala de

importância, a pontuação obtida também reforça a importância destas

características, reforçada pelo número de vezes em que é citada pelos autores

pesquisados (segundo lugar). Na inteligência emocional, isto está associado à

capacidade de avaliar a situação imediata com o máximo de informações possíveis,

o que permite ajustes em diferentes ambientes, assim como reconhecimento das

próprias limitações e possibilidades.

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5. CONCLUSÃO

Esse artigo teve como objetivo geral analisar a relação entre perfil

empreendedor e inteligência emocional.

Primeiramente, por meio de pesquisa bibliográfica com sete autores

especializados no tema do empreendedorismo, foram compreendidas as

características ligadas ao perfil empreendedor e feita uma relação com habilidades

intrapessoal e interpessoal de inteligência emocional. Numa segunda etapa essas

características foram levadas a um grupo de 31 empreendedores que lhe atribuíram

um grau de importância, por meio de questionário.

Destacou-se no resultado das respostas ao questionário a visão dos

empreendedores de que há uma maior importância para os eixos comportamentais

de visão positiva (89,25%) e influência (88,17%). Para os autores, as maiores

frequências de citação estão nos eixos comportamentais de constância de

propósitos (71,43%) e inovação (57,14%). É importante ressaltar que tanto para os

especialistas como para os empreendedores a maior importância é dada à dimensão

intrapessoal do empreendedor.

Integrada à dimensão intrapessoal da inteligência emocional a visão positiva

permite ao empreendedor um foco otimista sobre si e sobre o ambiente em que está

inserido. O eixo de visão positiva engloba as características do perfil empreendedor

de automotivação, otimismo, autoconfiança e autonomia, que permitem forte

capacidade de persistir e suplantar os desafios.

Em segundo lugar aparece o eixo influência, que engloba as caraterísticas do

empreendedor de liderança, cultivar bons relacionamentos e persuasão. Essas

características estão associadas diretamente às habilidades interpessoais de

inteligência emocional de perceber as emoções dos outros, compreender seu ponto

de vista e usar isso para influenciá-las.

Conclui-se que há uma forte relação entre as características importantes no

perfil empreendedor e habilidades intrapessoais de inteligência emocional e também

habilidades interpessoais, ainda que em menor escala. De acordo com o estudo,

indivíduos que possuem as características elencadas poderão estar mais alinhados

ao perfil empreendedor necessário ao sucesso nos empreendimentos, por estarem

melhor habilitados a tratar dos mais diversos desafios de seus negócios.

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ENTREPRENEUR’S HEART: THE RELATIONSHIP BETWEEN THE

ENTREPRENEURAL SELF AND THE EMOTIONAL INTELLIGENCE

ABSTRACT:

A plethora of studies relate the personal characteristics of the entrepreneurial self,

whereas others lay on the abilities and competences of the individuals with high

emotional intelligence. This article has the purpose of analyzing the relationship

between entrepreneurship and emotional intelligence. The research has been

organized in two stages, being the first a bibliographic research, to better understand

the characteristics of the entrepreneurial self through the perception of specialists,

and the second being a survey done with 31 entrepreneurs, in which it was listed the

level of importance of the characteristics shown in the bibliographic research. The

results point that the most important characteristics for the authors (71,43%) are

grouped at the constancy of purposes behavioral axis, whereas for the entrepreneurs

(89,25%) are the ones grouped at the positive view axis. Both behavioral axis are

related to the interpersonal abilities of emotional intelligence. Overall, the study

showcases a strong bond between entrepreneurial characteristics, and emotional

intelligence abilities and competences.

Key-words: Entrepreneurship. Emotional Intelligence.

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