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Copyright©2015JoãoCarlosBelarminoAguiar.

Todos os direitos reservados. Qualquer parte deste livro pode ser copiada oureproduzidasobquaisquermeiosexistentessemautorizaçãoporescritodoseditorese/oudosautores,desdequeacópiasejausadaparafinsacadêmicosecomadevidacitaçãobibliográficaconformeasregrasdaAssociaçãoBrasileiradeNormasTécnicas(ouequivalente).

CreativeCommons:Atribuição-NãoComercial-SemDerivações4.0Internacional.

S586a

MatheusPassosSilva(coord.).

AnálisejurisprudencialdoTribunaldeJustiçadoDistritoFederaleTerritóriosacerca da manutenção de animais domésticos em unidades autônomas decondomínios edilícios [recurso eletrônico] / João Carlos Belarmino Aguiar,Camila Nogueira de Resende Lopes Ribeiro (or.) e Matheus Passos Silva(coord.).Brasília:Vestnik,2015.

Recursodigital.

Incluibibliografia.

Formato:ePub

Requisitosdosistema:multiplataforma

ISBN:978-85-67636-11-5

Mododeacesso:WorldWideWeb

1.Direito.2.Cultura.3.Brasília.4.Patrimôniocultural.I.Título.

EditadoporMatheusPassosSilva.

Todososdireitosreservados,noBrasil,por

EditoraVestnik

CNB13Lote9/10Apto.304–Taguatinga

72115-135–Brasília–DF

Tel.:(61)8127-6437

Email:[email protected]

SobreosautoresJoão Carlos Belarmino Aguiar é bacharel em Direito pela Faculdade Projeção(Brasília/DF)eAdvogadoinscritonaOrdemdosAdvogadosdoBrasildaSeccionalDistritoFederal.AtualmenteéempregadopúblicoocupantedocargoCorregedornaCompanhiaNacionaldeAbastecimento (Conab), empresapública federalvinculadaaoMinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento(MAPA).

Camila Nogueira de Resende Lopes Ribeiro é mestre em Direitos Humanos,Cidadania e Violência pelo Centro Universitário Euro-Americano (Brasília/DF). ÉprofessoradoIESBedaFaculdadeProjeção(Brasília/DF)nasdisciplinasSistemasdesoluçãode conflitos,Teoriageraldoprocesso,Processo civil I e éOrientadora demonografia.AdvogadanoescritórioVillasBoas-Atuaçãonaáreacível.

Sobreocoordenadordestaedição

Matheus Passos Silva atualmente (2015) cursa o doutorado em Direito, comespecializaçãoemCiênciasJurídico-Políticas,naUniversidadedeLisboa(Portugal).Possui mestrado em Ciência Política pela Universidade de Brasília (2005) egraduação tambémemCiênciaPolíticapelaUniversidadedeBrasília (2002).Cursatambémpós-graduaçãoemDireitoEleitoraleemDireitoConstitucionalpeloInstitutoBrasiliensedeDireitoPúblico(Brasília/DF,Brasil).ÉConselheiroCientíficoeEditorda Revista Jus Scriptum, do Núcleo de Estudos Luso-Brasileiro da Faculdade deDireito da Universidade de Lisboa, desde 2014. Leciona disciplinas no curso deDireito, tais como Ciência Política e Teoria Geral do Estado, Filosofia Geral eJurídica, Direito Constitucional, Direito Eleitoral, Orientação de Trabalho deConclusãodeCurso,HistóriadoDireito,SociologiaeMetodologiadePesquisa.Temlarga experiência como coordenador de núcleo de pesquisa na área jurídica, bemcomo na coordenação de trabalhos de conclusão de curso. Dedicou-se ao NúcleoDocente Estruturante e ao Colegiado do curso de Direito em várias IES nas quaistrabalhou.Áreas de interesse:Ciência Política,Democracia,DireitoConstitucional,Direito Eleitoral, Direitos Políticos, Representatividade, Justiça, Nações eNacionalismo no Leste Europeu. Mais informações sobre o autor podem serencontradasnoslinksabaixo:

CanalnoYoutube:www.youtube.com/profmatheuspassosPáginanoFacebook:www.facebook.com/profmatheusSitedoProf.MatheusPassos:http://profmatheus.comCurrículoLattes:http://lattes.cnpq.br/4314733713823595

SobreoProjeto“JovensJuristas”Venhotrabalhandocomocoordenadorde trabalhosdeconclusãodecurso(TCC)docurso deDireito da FaculdadeProjeção (Brasília/DF) desde janeiro de 2010.Nesteperíodo umdosmeus principais objetivos foi incutir nos alunos a ideia de que umTCCnãopode(nemdeve)servistoapenascomo“maisumtrabalhoacadêmico”:otrabalhofazpartedeumprocessodeaprendizadoe,comotal,deveservistocomooápice de uma graduação em nível superior. Desta maneira, a proposta foi a detransformarosTCCs,cadavezmais,emverdadeirosprojetosdepesquisaacadêmica,aindaquecomâmbitolimitadodevidoàsuapróprianatureza–muitasvezesumTCCéoprimeirotrabalhoacadêmico-científicorealizadopeloaluno.

ÉnestecontextoqueseinsereoProjeto“JovensJuristas”.Oobjetivodoprojetonãoéoutrosenãoodeidentificar,dentreosinúmerostrabalhosdeconclusãodecursoquesãoapresentadossemestralmentepelosalunos,aquelesquemaissedestacam,sejadoponto de vista da robustez doutrinária, seja do ponto de vista da inovação e/ouoriginalidade trazidapeloalunoouainda sobopontodevistadaanálisepráticadarealidadepormeiodeumapesquisadecampo,demaneiraquetaistrabalhospossamserpublicadoscomolivroemformatodigital-oconhecidoeBook.TodosostrabalhospublicadospassarampelocrivodeumaBancaExaminadoracompostapeloprofessor-orientadoreporpelomenosmaisdoisprofessores-examinadores.Oprojetoseiniciouem janeiro de 2014 e os livros já publicados podem ser obtidos por meio dositehttp://profmatheus.com/livros.

Este livro, intitulado Análise jurisprudencial do Tribunal de Justiça do DistritoFederal e Territórios acerca da manutenção de animais domésticos em unidadesautônomas de condomínios edilícios, tem como intuito fazer uma análisejurisprudencial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT)acercadamanutençãodeanimaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosedilíciosde1997 a2013.Oobjetivo éverificar quais sãoos argumentosutilizadospeloTJDFTparadeferirouindeferirapermanênciadessesanimaisemapartamentos.

Oobjetivodo livro, logicamente,nãoéodeesgotaroassunto;aocontrário, tem-secomoobjetivoestimulararealizaçãodemaispesquisasdestetiponoâmbitojurídico,notadamentenaáreadoDireitoConstitucional,emaisespecificamentenoâmbitododireitoàpossedeanimaisdomésticosemcondomínios,demaneiraquesepossasairdarotinadetrabalhosdeconclusãodecursoquesãogeralmentevistospelosalunoscomoummero"pré-requisito"parasuaaprovaçãoemumadisciplina.Espera-sequeoProjeto"JovensJuristas" incentivenovospesquisadoresnaáreadoDireito,alémdefazercomqueosautoresparticipantespossam,jánoiníciodesuavidaacadêmica,ter

emseucurrículoumapublicaçãoqueeventualmentepoderásercontinuadanoâmbitodeumapós-graduaçãooudeummestrado.

OtextoapresentadoaseguiréooriginalconformedefendidopeloalunoJoãoCarlosBelarminoAguiar perante Banca Examinadora no ano de 2014, já com as devidascorreçõessugeridaspelaBanca.Oautorédetentordetodososdireitosautorais,sendoomesmooúnicoresponsávelpeloconteúdoapresentadonolivro.

Esperoquealeiturasejaagradávelequeotextopossaenriquecerseusconhecimentosarespeitodetema.

MatheusPassosSilva

CoordenadordoProjeto"JovensJuristas"

Fevereirode2015

ResumoApresentepesquisatratadaanálisejurisprudencialdoTribunaldeJustiçadoDistritoFederal e Territórios (TJDFT) acerca da manutenção de animais domésticos emunidadesautônomasdecondomíniosedilíciosde1997a2013.Oobjetivoéverificarquais são os argumentos utilizados pelo TJDFT para deferir ou indeferir apermanênciadessesanimaisemapartamentos.Emrelaçãoàmetodologiautilizada,otipode trabalhoéumamonografia, commétododeabordagemhipotético-dedutivo,cujosmétodosdeprocedimentosãoomonográfico,ohistóricoeocomparativo,eatécnicadepesquisaéadocumentaçãoindireta.Osresultadosobtidosemrelaçãoaosargumentosdeindeferimentoconvergentescomadoutrinaforam:restriçõesaodireitodeusarapropriedade; restriçõesaosdireitosdevizinhança; convençãoe regimentosãoatosnormativosaplicáveisatodososcondôminos;revelia(nomesmosentidodadoutrinaemvirtudedapresunçãodeveracidadedosfatos);eprovasrelacionadasaostranstornoscausadospeloanimaldoméstico.Osseguintesresultadosdivergementreajurisprudência e a doutrina, respectivamente identificado entreparênteses: formadeanalisaroincômodoeaperturbação(simplessensocomumxsubjetividadedaanálisedoincômodo);limiteslegaisàconvençãoeaoregimentointerno(podedisporsobreotema x deve estar limitado pela lei); análise do caso concreto (prescindível ximprescindível).Em relaçãoaos argumentosdedeferimento emconsonância comadoutrina, os resultados obtidos foram: quórum de alteração do regimento interno;prova de transtorno ao sossego, à saúde ou à segurança; fetichismo normativo esummus jus summa injuria comoconsequência; violaçãoda liberdade individualdecondôminos;odireitodepropriedadenãoéabsoluto;eanecessidadedeverificarocasoconcreto.Jáadivergênciaentreadoutrinaeajurisprudênciaobtidanoaspectode deferimento refere-se ao instituto surrectio, porque a doutrina considera que anormacondominialnãoécontratoequeasaçõesjudiciaisreferentesaosdireitosdevizinhança são imprescritíveis. Assim, concluiu-se que não há direito absoluto aocondôminodesemanternapresençadeseuanimalemapartamentoenemàsnormasestatutárias condominiais que proíbem a permanência desses animais. Ademais,parece mais acertada a análise do concreto, com a devida subsunção às leis e àConstituição, para definir pela manutenção ou não do animal em apartamentos decondomíniosedilícios.

Palavras-chave:animal;doméstico;condomínio;apartamento;vizinhança.

IntroduçãoOpresentetrabalhotratadaanálisejurisprudencialdoTribunaldeJustiçadoDistritoFederal e Territórios (TJDFT) acerca da manutenção de animais domésticos emunidadesautônomasdecondomíniosedilíciosde1997a2013,cujoestudojustifica-sepeladivergênciadedecisõesjudiciaisproferidasnessetema.

O objetivo geral é verificar quais são os argumentos utilizados pelo TJDFT paradeferirouindeferiramanutençãodeanimaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomínios edilícios no período de 1997 a 2013. E os objetivos específicos são:revisar a bibliografia do direito de propriedade no campo constitucional e civil;revisarabibliografiadosdireitosdevizinhançaedoscondomíniosedilíciosacercadotema;eanalisarajurisprudênciadoTJDFTembuscadeargumentosquedefiramounãoapermanênciadeanimaisemapartamentos.

Otipodetrabalhoéumamonografiaporquesebuscaverificaraexistênciaounãodeconflitos entre a doutrina e as decisões judiciais divergentes acerca do tema. Paratanto, ométodo de abordagem utilizado é o hipotético-dedutivo no sentido de queestará provisoriamente confirmada a hipótese caso haja consonância oudissonânciadeargumentosentreasdecisõesjudicias,asleiseadoutrina.

Os métodos de procedimento utilizados são o monográfico, o histórico e ocomparativo.Oprimeiroestáligadoaousodedoutrinaparaapresentaçãodepontosdivergentes ou convergentes; o segundo porque permite demonstrar como eram ecomo são atualmente as decisões judiciais acerca do tema; e o último pelapossibilidade de se comparar as decisões judiciais, a lei e o pensamento dospesquisadoresdodireito.

Jáatécnicadepesquisautilizadaéadocumentaçãoindireta,consubstanciadaemduasvertentes: documental e pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é fontesecundária que está presente no primeiro e no segundo capítulos para conceituarinstitutos,enquantoadocumentaléfonteprimáriaabordadanoterceirocapítuloparaaanálisedasdecisõesjudiciais.

Assim, o presente trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro capítulotrata das principais doutrinas referentes ao direito de propriedade e se inicia comaapresentação da origem e do modo de evolução da propriedade. Em seguida seráabordadaapropriedadeeassuaslimitações.Posteriormenteserádelineadooconceitodepropriedadeesuasfaculdadesouseuspoderesnoâmbitododireitocivil.

O segundo capítulo apresenta revisão bibliográfica referente aos direitos devizinhançaeaoscondomíniosedilícios.Oiníciodestecapítuloabordaráosdireitosedeveresdevizinhançanoqueserefereàutilizaçãonormalouanormaldapropriedade.Emseguidaserãodiscutidasasnormaseasdoutrinasrelacionadasaoscondomíniosedilíciosnoquetangeaosinstrumentosjurídicosinternoseaosdireitosedeveresdoscondôminosaptosaanalisarotema.

Finalmente, o capítulo três está incumbido da apresentação e da análisejurisprudencial.O capítulo se inicia com asmanifestações do Superior Tribunal deJustiça acerca do tema. Em seguida será analisada a jurisprudência do Tribunal deJustiça do Distrito Federal e Territórios de 1997 a 2013 para tentar responder apergunta do problema de pesquisa, ou seja, buscam-se quais são os argumentosutilizadospeloTJDFTparadeferirou indeferir aguardadeanimaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.

ApropriedadeNeste capítulo serão apresentadas as principais doutrinas referentes ao direito depropriedade. O capítulo se inicia com a apresentação da origem e do modo deevolução da propriedade. Em seguida será abordada a propriedade e as suaslimitaçõesconstitucionais.Posteriormenteserádelineadooconceitodepropriedadeesuasfaculdadesouseuspoderesnoâmbitododireitocivil.

Aorigemeomododeevoluçãodapropriedade

Oinstitutodapropriedadevemdesdeapré-históriaerecaíasobreinstrumentosdeusopessoal (instrumentos de caça, de pesca), mas não compreendia a propriedadeindividual sobre o solo. Esta somente se configurou com a evolução da sociedadequandoumalei(LeidasXIITábuas)conferiuaalgumaspessoasodireitodeutilizardeterminada área para plantar de maneira exclusiva e temporária (BARROS;BARBOSA,2008,p.30).

Adoutrinaafirmaque,paraodireitonatural,muitoantesdoEstadoeantesmesmodasociedade já existia a propriedade, e uma de suas características é não poder serabolida,masapenasépossívelregulá-laparaatenderumbemcomum(CARVALHO,2011, p. 702). Contudo, alguns doutrinadores divergem sobre a origem dapropriedade.

ParaDiniz (2007, p. 105), a raiz histórica da propriedade está noDireitoRomano,onde preponderava um sentido individualista, apesar de ter havido formas depropriedade coletiva. A autora afirma que o modo de exercício do direito sobre apropriedadedependedoregimepolíticoadotadopeloEstado(DINIZ,2007,p.105).EVenosa (2011, p. 165), no mesmo sentido, assevera que a maneira de exercer apropriedadedependedaorganizaçãopolíticaadotadapeloEstado.

Logo, diante da explanação dos autores, pode-se depreender que a organizaçãopolíticaouoregimepolíticoadotadospeloEstadointerferemnamaneiradeseutilizara propriedade privada. Mas não apenas, porque a sociedade é quem utiliza apropriedade privada. E dependendo da maneira de utilização da propriedade podehaver repercussão na órbita jurídica individual (mediante decisões judiciais) oucoletiva(mediantecriaçãodenormas).

Corroborandocomaideiadequeasociedadetambématuanaevoluçãodoinstitutodapropriedade,Venosa(2011,p.165)afirmaqueoconceitodepropriedadeprivada

sofreu influência dos povos historicamente, desde a antiguidade, até assumir aconcepçãomoderna.Contudo,paraMonteiro(2007,p.81)apropriedadeéumpontoobscuronahistóriadodireito,poisoqueseafirmaacercadapropriedadeteriníciodemaneira coletiva e aospoucos transformadaem individual é apenasumaaparência,naspalavrasdoautor,éoque“parece”.

Ainda, estemesmoautor acrescenta que “ospróximos anosdahumanidadedirão aúltima palavra e decidirão do destino dessa instituição milenar” ao tratar dapossibilidade de conservar ou suprimir os direitos sobre a propriedade, ou seja, amaneiradeutilizaçãodapropriedade(MONTEIRO,2007,p.82).

Note-sequeédefácilentendimentoapropriedadeeosdireitosquerecaíamsobreelaevoluiradependerdasociedade.Todavia,esseéomesmoargumentoqueinvalidaaexpressão“últimapalavra”utilizadaporMonteiro(2007,p.82),tendoemvistaqueasociedadeédinâmica,portanto,estáemconstanteevolução.Logo,seapropriedadeeosdireitosdeladecorrentesevoluemcomasociedade,oinstitutodapropriedadeestátambémemconstanteevolução.

Ressalta-se que este aspecto evolutivo da propriedade é importante para o presentetrabalho, e será considerado para verificar os argumentos utilizados pelo PoderJudiciário em decisões que deneguem ou permitam a permanência de animaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.

ApropriedadenoDireitoConstitucional

OdireitoàpropriedadeégarantidopelaConstituiçãoFederalde1988eestáprevistonoincisoXXII,doartigo5º(BRASIL,1988).Eapropriedadeprivadaestádescritanoinciso IIdoartigo170daMagnaCartacomoumdosprincípiosgeraisdaatividadeeconômica (BRASIL,1988).Osentidodapalavrapropriedade temorigemno latim“proprius”,queestárelacionadoaalgoparticular,apropriadoaalgumapessoa,ecoma evolução deste termo chegou-se a “proprietas”, ou seja, a propriedade(CARVALHO,2011,p.702).

Para tentar entender este instituto, torna-se necessário estabelecer o sentido dapropriedade:

Oconceitoconstitucionaldepropriedadeémaislatodoqueaqueledequeserve o direito privado. É que do ponto de vista da LeiMaior tornou-senecessário estender a mesma proteção que, no início, só se conferia àrelaçãodohomemcomascoisas,àtitularidadedaexploraçãodeinventosecriações artísticas de obras literárias e atémesmo a direitos emgeral que

hojenãosãoàmedidaquehajaumadevida indenizaçãodesuaexpressãoeconômica(BASTOS;MARTINS,1989,p.118-119).

Diante desse conceito, depreende-se que a propriedade é ampla no sentido de sercapaz de abarcar outras reações e não apenas às que se referem a imóveis. Dessaforma, não apenas uma casa, um apartamento ou outros bens são consideradospropriedade sob a óptica constitucional.Corrobora com a tese acimaFerreiraFilho(2001, p. 302) ao afirmar que a Constituição Federal de 1988 assegura o direito àpropriedadenosentidopatrimonial,ouseja,qualquerquesejaoconteúdoeconômicoestaráesteasseguradopelanormaconstitucional.

Guimarães, citado por Carvalho (2011, p. 702), também informa que o direito depropriedade engloba qualquer patrimônio e tece exemplos: “propriedade literária, aartística, a de invenções e descoberta”. Assim, percebe-se a amplitude do conceitoconstitucionaldapropriedade.

Eesseconceitoamplonãocabeparaapresentepesquisa,porqueapropriedadetratadaneste trabalhoestá relacionadaàsunidadesautônomasdecondomíniosedilícios,ouseja, apartamentos de condomínios verticais, no sentido de possibilitar análise dedecisõesjudiciaissobreanimaisdomésticosnestasunidades.

Da mera leitura do texto constitucional, percebe-se que há a garantia do direito àpropriedade,mas não são explicitadas outras nuances ou características inerentes aessedireito,tarefaessadesenvolvidapelosestudiosos.Ademais,“Nãosãopoucasasdificuldadesqueenfrentao intérpretenaaplicaçãodoart.5º,XXII,daConstituição[...]”(MENDES;BRANCO,2012,p.477).

No que se refere à relação jurídica, Silva (2005, p. 271) afirma que o direito depropriedade já foi visto como uma relação jurídica entre uma pessoa e uma coisa.Contudo,essarelaçãojurídicamodificou-secomotempo,deumladoumapessoaedeoutrotodasaspessoas,estasúltimasporsuavezcomosdeveresderespeitaredeseabsterdeviolarodireitodepropriedadedoprimeiro(SILVA,2005,p.271).

Essa relação jurídica identificadaporSilva (2005, p. 271) trata-se do entendimentoclássico referente aos direitos reais, que nas palavras de Gonçalves (2013, p. 332)“consistenopoderjurídico,diretoeimediato,dotitularsobreacoisa[domínio],comexclusividade e contra todos”. Assim, todos os indivíduos devem se abster deperturbar a propriedade alheia, mas, caso algum deles viole, passa da condição desujeitoindeterminadoparadeterminado(GONÇALVES,2013,p.332).

Ferreira Filho (2001, p. 301) considera que os direitos relacionados à propriedade

situam-seentrealiberdadeeasegurançaporqueoindivíduopossuiliberdadedefazeroquequereaomesmotempoficaresguardadoemrelaçãoaofuturonoqueserefereàs incertezas e às necessidades. Assevera que o direito de propriedade é direitofundamental, não está em patamar superior, nem inferior, portanto, trata-se de umdireito que deve prezar pelo bem comum e estar sujeito às limitações cabíveis(FERREIRAFILHO,2001,p.301).

Ao tratardo regime jurídico,Silva (2005,p.273)descrevequeadoutrina jáesteveconfusa se o direito de propriedade privada era direito civil subjetivo ou direitopúblico subjetivo. Mas, para D’Angelo, citado por Silva (2005, p. 273, grifosoriginais), tem-se adotado “a noção de situação jurídica subjetiva (complexa)” nointuito de englobar ambos os regimes. Isso porque, de acordo com Silva (2005, p.273)odireitoàpropriedadeédireitofundamentalinsculpidonaConstituição(direitopúblico)e,aomesmotempo,tratadopelodireitocivil(direitoprivado).

Acercadascaracterísticas,Silva(2005,p.271)dissertaqueodireitodepropriedadeforaconsideradoabsolutoenatural.Entretantoessasconcepçõesforamsuperadaseodireitodepropriedadedeixoude ser absolutodevido à evoluçãododireito, quandopassouaestabelecer limitesaestedireito; tambémdeixoudesernaturalporque foipositivado no ordenamento jurídico brasileiro, enquanto a Constituição garante odireitoàpropriedade,aleidescreveoconteúdodestedireito(SILVA,2005,p.272).

Assim, se o direito de propriedade não é absoluto, devem ser identificadas aslimitações. Silva (2005, p. 279, grifos originais) define as limitações ao direito depropriedade como “condicionamentos que atingem os caracteres tradicionais dessedireito,peloqueeratidocomodireitoabsoluto,exclusivoeperpétuo”.

De acordo com Silva (2005, p. 279) as limitações constituem gênero, da qualdecorremlimitaçõesdedireitoprivado–porexemplo,direitosdevizinhança–ededireitopúblico–urbanísticaseadministrativas.Dessaforma,paraOliveira,citadoporSilva(2005,p.279),cadaespéciedelimitaçãoécapazdelimitarumacaracterísticado direito de propriedade: as restrições limitam o caráter absoluto; as servidões, aexclusividade;eadesapropriação,operpétuo.

Asservidõeseadesapropriaçãonãoserãoobjetosdeestudodestetrabalhoporquesãolimitaçõesdedireitopúblicoenãoaptosaanalisaradecisõesjudiciaisquetratemdapermanência de animais domésticos em unidades autônomas de condomíniosedilícios.Poroutrolado,asrestrições,limitaçõesdedireitoprivado,serãoabordadasporestaremrelacionadasaosdireitosdevizinhança.Nessesentido:

Restriçõesàpropriedadesão,pois,condicionamentosaessasfaculdadesdo

seucaráterabsoluto.Porqueexistemessasrestriçõeséquesecostumadizerquenãoexistemaisodireitoabsolutodapropriedade.Existemrestriçõesàfaculdade de fruição, que condicionam o uso e a ocupação da coisa;restriçõesàfaculdadedemodificaçãodacoisa;restriçõesàalienabilidadeda coisa, quando, por exemplo, se estabelece direito de preferência emfavordealgumapessoa.(SILVA,2005,p.280,grifosdoautor).

Dentre os três tipos de restrições apresentados acima, a modificação da coisa e aalienabilidade da coisa não permitem analisar as decisões judiciais sobre animaisdomésticos em apartamentos, a primeira porque está relacionada à modificação daestruturadapropriedadeeasegundaporsetratardevenda,troca,doaçãoouqualqueroutro tipo de transferência da propriedade. Todavia, as restrições ligadas à fruiçãoserão analisadas porque dizem respeito ao uso da coisa, portanto, necessárias aodesenvolvimentodotema.

Oartigo5º,incisoXXIII,daLeiMaiorprescreveque“apropriedadeatenderáasuafunçãosocial”eissocorroboracomumdosprincípiosgeraisdaatividadeeconômica“função social da propriedade” descrito no art. 170, inciso III, da Magna Carta(BRASIL,1988).Assim,épossívelperceberqueapropriedadenãoétidacomoumdireitoabsolutonoatualordenamentojurídicobrasileiro,enãopodeserutilizadapeloindivíduo comobem entender, pois a própriaConstituição acrescenta limitações noseuuso.

Nessesentido,“Afunçãosocialdapropriedade–e,portanto,suavinculaçãosocial–assume relevo no estabelecimento da conformação ou limitação do direito.”(MENDES;BRANCO,2012,p.476).Assim,seforestabelecidoumlimite legalaodireitodepropriedade,estelimitedeveráestaremconformidadecomafunçãosocial,que:

[...] incide sobre a estrutura e o conteúdoda propriedade, sobre a própriaconfiguração do direito, e constitui elemento que qualifica a situaçãojurídica configurada, condicionando os modos de aquisição, uso, gozo edisposiçãodosbens.Nãoenvolve,portanto,apenas limitaçãoaoexercíciodas faculdades do proprietário inerentes ao domínio. A função social dapropriedadeintroduz,naesferaendógenadodireito,uminteressequepodeatémesmonãocoincidircomodoproprietário,comopredomíniodosocialsobre o individual, fenômeno denominado de socialidade (CARVALHO,2011,p.703).

Este fenômeno da socialidade decorrente da função social é amplo e abarca váriosramosdodireitocomoodireitocivil,odireitoadministrativo–opoderdepolíciado

Estado, o direito do trabalho – obrigações trabalhistas no contrato de trabalho, alegislaçãosocial(CARVALHO,2011,p.703).Todavia,asocialidadeserátratadacomfoco no direito civil, em especial no que se refere aos direitos de vizinhança, pelaaptidãodeseanalisarapossibilidadeounãodapresençadeanimaisemapartamentosdecondomínios.

A função social, damesmamaneira que a socialidade, será abordada com foco nodireito civil. Para Moraes (2003, p. 302) o cumprimento da função social dapropriedade urbana está condicionado ao cumprimento das exigências contidas noplano diretor aprovado pela Câmara Municipal, instrumento este previsto pelaConstituição Federal de 1988. Todavia, este conceito de cumprimento da funçãosocial é bastante restrito para o desenvolvimento deste trabalho porque exige doindivíduosomenteaadequaçãoauminstrumentojurídicolocal.

Por outro lado, apresenta-se importante consideração de Diniz (2007, p. 108) aoacrescentar que o princípio da função social é atendido quando estão presentes adestinaçãoeconômicaetambémousosocialmenteadequadodapropriedade:“Busca-seequilibrarodireitodepropriedadecomoumasatisfaçãodeinteressesparticulares,e sua função social, que visa atender ao interesse público e ao cumprimento dedeveresparacomasociedade”.

Diante da existência das limitações constitucionais ao direito de propriedade (porexemplo, a função social, a desapropriação e as servidões tratadas anteriormente)torna-se necessário entender a classificação deste direito no que tange à eficácia eaplicabilidadedasnormasconstitucionais.

MichelTemer(1998,p.23)diferenciaaeficáciadasnormasconstitucionaisemsocialejurídica:

[...]eficáciasocialseverificanahipótesedeanormavigente, istoé,compotencialidade para regular determinadas relações, ser efetivamenteaplicada a casos concretos. Eficácia jurídica, por sua vez, significa que anormaestáaptaaproduzirefeitosnaocorrênciaderelaçõesconcretas;masjáproduzefeitosjurídicosnamedidaemqueasuasimplesediçãoresultanarevogaçãode todasasnormasanterioresquecomelaconflitam(TEMER,1998,p.23).

Assim, ficaexplícitoqueaeficácia social refere-seàaplicabilidadededeterminadanormaconstitucionalemcasosconcretos,enquantoajurídicadizrespeitoaosefeitosqueumanovanormaconstitucionalcausaemnormasanteriores.Aeficácia jurídicanãoserátratadapelofatodequeestetrabalhocuida-sedaanálisededecisõesjudiciais

enãodenovasnormasconstitucionais.Poroutro lado,aeficácia socialéobjetodeestudodestetrabalhoeseráconsideradaquandodaanálisedosjulgados.

Ainda acerca da aplicabilidade das normas constitucionais, José Afonso da Silvadesenvolveuumateoriaacercadotemaedividiuaeficáciadasnormasconstitucionaisemplena,contidae limitada.Eesteautor fezasseguintesconsideraçõesacercadasnormas constitucionais de eficácia plena para demonstrar que essas normas sãoaplicáveisimediatamenteeindependentedeoutrasnormas:

[...] são as que receberam do constituinte normatividade suficiente à suaincidência imediata. Situam-se predominantemente entre os elementosorgânicosdaconstituição.Nãonecessitamdeprovidêncianormativaulteriorparaasuaaplicação.Criamsituaçõessubjetivasdevantagemoudevínculo,desdelogoexigíveis(SILVA,1998,p.262).

Para José Afonso da Silva (1998, p. 126) as normas constitucionais de eficácialimitadasãodeprincípio institutivo,emqueo legisladorconstituinte traçaoquesedeve considerar como linhas gerais, enquanto o legislador ordinário estrutura taisnormasdefinitivamentemediantelei.

Easnormasconstitucionaisdeeficáciacontida,JoséAfonsodaSilva(1998,p.116)deixaclarooseguinte:

Normas de eficácia contida, portanto, são aquelas em que o legisladorconstituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinadamatéria,masdeixoumargemàatuaçãorestritivaporpartedacompetênciadiscricionária do Poder Público, nos termos que a lei estabelecer ou nostermosdosconceitosgeraisnelasenunciados(SILVA,1998,p.116).

Nãoparecequeapropriedadesejaumanormaconstitucionaldeeficáciaplena,poishádiversas limitações constitucionais, comoa função social, o que impediria a suaaplicabilidadeplenaeimediata.Também,aparentementenãoseamoldaapropriedadenaeficácialimitada,tendoemvistaquesomenteseriapossívelexercerapropriedadeemcasosdefinidosemlei.

Diantedofatodequeapropriedadenãoprecisadeleiparaserexercidaedequehálimitações constitucionais ao seu exercício que impedem sua aplicação plena,percebe-se tratar, possivelmente, de norma constitucional de eficácia contida. Issoporque pode ser exercida com fundamento nos termos gerais contidos naConstituição,ecombaseemalgumaslimitaçõestambémconstitucionaispodeumaleirestringirestedireito.

Assim, ao considerar a propriedadeumanorma constitucional de eficácia contida épossívelquehajanormasinfraconstitucionaislimitativaserestritivasdodireitoaserexercidosobretalinstituição.Logo,imperiososefazbuscaroconceitoeosmeiosdeutilizaçãodapropriedadenodireitocivil,bemcomodiscutiremcapítulopróprioassuaslimitaçõesourestrições.

ApropriedadenoDireitoCivil

Damesma formaquenodireito constitucional, nodireito civil nãoháumconceitofixoeimutávelparaapropriedade.CorroboracomestainformaçãoPereira(2005,p.91) ao afirmar que “O nosso Código Civil não dá uma definição de propriedade,preferindo enunciar os poderes do proprietário (art. 1.228)”. E o artigo 1.228 doCódigo Civil de 2002 dispõe o seguinte: “O proprietário tem a faculdade de usar,gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer queinjustamenteapossuaoudetenha”(BRASIL,2002).

Assim, diante desses poderes (usar, gozar, dispor e o direito de reaver a coisa) adoutrinaseencarregadeestabeleceroconceitodepropriedadecomoumdireito:

Poder-se-ádefinir,analiticamente,apropriedade,comosendoodireitoqueapessoafísicaoujurídicatem,dentrodoslimitesnormativos,deusar,gozaredispordeumbem,corpóreoouincorpóreo,bemcomodereivindica-lodequeminjustamenteodetenha.Esseselementosconstitutivoscorrespondemao jus utendi, furendi e abutendi e à rei vindicatio dos romanos (DINIZ,2007,p.113-114,grifosoriginais).

Para Gonçalves (2013, p. 492) o conceito de propriedade consubstanciada em umdireito trata-sede“poder jurídicoatribuídoaumapessoadeusar,gozaredispordeumbem,corpóreoouincorpóreo,emsuaplenitudeedentrodoslimitesestabelecidosemlei,bemcomodereivindica-lodequeminjustamenteodetenha”.

Aindanoqueserefereaospoderesdoproprietário,tratadoporVenosa(2011,p.177)como “faculdades”, explica o autor “A síntese dessas faculdades presentes nasenhoria sobre a coisa fornece seu sentido global. Se vista isoladamente essadescriçãolegal,semdúvidaqueseconcluiriaporumdireitoabsoluto.”.

HáautoresquepreferemutilizarcomoconceitodepropriedadeoadotadopeloCódigoCivilde2002pelofatode“sempruridosdeperfeiçãoestilística,defineodomínioeao mesmo tempo o analisa em seus elementos” (PEREIRA, 2005, p. 92). Diz-sedomínioquandoodireitodepropriedaderefere-seacoisascorpóreas(GONÇALVES,2013,p.491),edomínioéespéciedapropriedadetendoemvistaaamplitudedesta

(MONTEIRO,2007,p.83).

Emborahajadiferenciaçãoconceitualentredomínioepropriedade,paraestetrabalhoambos os conceitos serão utilizados no sentido de unidades autônomas decondomínios.Principalmenteporqueinexisteumconceitofixo:

Muitoerraoprofissionalquepõeosolhosnodireitopositivoesupõequeoslineamentoslegaisdoinstitutoconstituemacristalizaçãodosprincípiosemtermospermanentes,ouqueoatualestágiodapropriedadeéaderradeira,definitivafasedeseudesenvolvimento.Aorevés,evolvesempre,modifica-seaosabordasinjunçõeseconômicas,políticas,sociaisereligiosas.Nemsepode falar, a rigor, que a estrutura jurídica da propriedade, tal como sereflete em nosso Código, é a determinação da sua realidade sociológica,pois que aos nossos olhos e sem que alguém possa impedi-lo, ela estápassando por transformações tão substanciais quanto aquelas quecaracterizamacriaçãodapropriedade individual,ouque inspirarama suaconcepçãofeudal(PEREIRA,2009,p.67).

Emboranãohajaumconceitopara apropriedade, deve-se levar emconsideraçãooseguinte conceito de Beviláqua, citado por Pereira (2005, p. 91), no qual apropriedadeé“[...]opoderasseguradopelogruposocialàutilizaçãodosbensdavidapsíquicaemoral.”porestarestasubmetidaàprovávelinfluênciasocialcomreflexosnaintimidadedoindivíduo.

Diante do exposto, este trabalho levará em consideração os poderes ou faculdadesdescritaspeladoutrinaepeloCódigoCivilde2002,semdeixardeladoainfluênciaque o instituto recebe de grupos sociais, bem como a utilização desses bensrelacionadaaosvalorespsíquicosemorais.

Como serão consideradosospoderesou as faculdadesdapropriedade, estes devemser analisados sob a óptica doutrinária. Assim, o direito de usar (jus utendi) apropriedadesignificadizerque“confereaoproprietárioopoderdeutilizarobemdeformaexclusivaesemquesealtereasuasubstância”(BARROS;BARBOSA,2008,p.32).

Este conceito é incompleto para os fins deste trabalho, porque não demonstra asmaneiras e nuances de utilização da propriedade. Já Diniz (2007, p. 114, grifosoriginais)exemplificamaneirasdeutilizaçãodapropriedadevinculadasaodireitodeuso: “O titular do jus utendi pode emprega-lo em seu próprio proveito ou no deterceiro,bemcomodeixardeutilizá-lo,guardando-ooumantendo-oinerte”.

Nomesmosentido,emoutraspalavras,Pereira(2009,p.77)exemplifica“[...]Odonoaempregano seubenefíciopróprio,oude terceiro.Serve-sedacoisa.Mas, é claroque também pode deixar de usá-la, guardando-a ou mantendo-a inerte [...]”.Entretanto, Venosa (2011, p. 177) engloba ambos os conceitos e é o que melhorexemplificaodireitodeusarapropriedadeparaofimdestetrabalho:

A faculdade usar é colocar a coisa a serviço do titular sem alterar-lhe asubstância.Oproprietáriousaseuimóvelquandonelehabitaoupermitequeterceiroofaça.Esseusoincluitambémacondutaestáticademanteracoisaem seu poder, semutilização dinâmica.Usa de seu terreno o proprietárioqueomantémcercadosemqualquerutilização.Otitularserve-se,deformageral,dacoisa(VENOSA,2011,p.177).

Nessesentido,diantedaanálisedejulgamentosdoPoderJudiciárioacercadeanimaisemunidadesautônomasdecondomíniosemedifícios,afaculdadeouopoderdeusara propriedade aqui tratada não está relacionada à inércia do uso (deixar de usar ouguardarapropriedade).Muitopelocontrário, estáassociadaaousodapropriedade,porqueoindivíduoqueconvivecomseuanimaldeestimaçãoutiliza-sedela.

O exercício da propriedade na modalidade de uso deve atender finalidadeseconômicas e sociais, conforme dispõe o parágrafo primeiro do artigo 1.228 doCódigo Civil de 2002 (BRASIL, 2002). Pereira (2009, p. 77) entende que estaproclamação do código é bastante vaga e fica “[...] ao sabor das convicções dosentendimentos subjetivos [...]”. Este autor não explica se a subjetividade doentendimento é de juízes ou das pessoas que usam a propriedade. O fato é quequalquerdelespodeincorreremerrodiantedessasubjetividade.

DiantedessasubjetividadedoCódigoCivil,Pereira (2009,p.77-78) informaqueoconceito de função social torna-se adequado para preencher esta lacuna, desde quesejaimantadopeloaspectonegativonosentidodequeaspessoasdevamexerceroseudireitodeusarapropriedadesemoprimirasoutrasàsuavolta,ouseja,oproprietárionão deve fazer o uso de seu direito de forma egoísta em face da coletividade.Gonçalves(2013,p.492)acrescentaqueautilizaçãodapropriedadedeverespeitaroslimiteslegaiseconformarcomafunçãosocial.

Assim,acercadoexercíciodapropriedaderelativoaodireitodeusar,oatendimentodas finalidades econômicas não é objeto de estudo deste trabalho, pois o foco é apossibilidadede semanterounãoanimaldeestimaçãoemapartamentos.Poroutrolado,édesumaimportânciaoatendimentodasfinalidadessociais,conformeexpostopor Pereira (2009, p. 78), no sentido de que o exercício do direito de usar apropriedadenãoafetedeformanegativaacoletividade.

No que se refere ao direito de gozar da propriedade “O direito de fruir ou gozargarante ao proprietário a percepção dos frutos e produtos” (BARROS;BARBOSA,2008,p.32).Eemcunhomaiseconômico,Diniz(2007,p.115)refere-seaodireitodegozar da coisa o de explorá-la economicamente.Gonçalves (2013, p. 492) englobaambososconceitoseinformaqueodireitodegozarestárelacionadoàpercepçãodefrutoseaoaproveitamentoeconômicodosprodutos.

Logo,paraadoutrinaficaclaroqueodireitodegozaroufruirestárelacionadoaosbenefícios obtidos pela utilização da propriedade. E nesse sentido, “Gozar do bemsignifica extrair dele benefícios e vantagens.Refere-se à percepção de frutos, tantonaturais como civis.” (VENOSA, 2011, p. 178). Todavia, Pereira (2009, p. 78)informaqueodireitodeusarapropriedadeestáinseridonodireitodegozar:

[...]Alinguagemcorrente,mesmojurídica,empregaaexpressãoemsentidomaisabrangente, inserindonodireitodegozarodeusar, tendoemvistaanormalidade lógica do emprego da coisa, cuja fruição habitualmenteenvolve a utilização. Pode-se, igualmente, pressupor no gozo a utilizaçãodos produtos da coisa, além dos frutos, embora uns e outros sediferenciem.”(PEREIRA,2009,p.78).

Seja qual for o posicionamento acerca do gozo, se está atrelado à finalidade depercepçãodeprodutos,defrutos,oudeexploraçãoeconômica,estesnãoservemparaaanálisedeste trabalho, tendoemvistaqueasdecisões judiciaisdemanutençãoounão de animais domésticos em apartamentos de condomínios edilícios a seremanalisadas não comportam finalidade econômica. Assim, o entendimento de que afaculdadedeusarapropriedadeestá inseridanoelementogozaréomaisadequadoparaodesenvolvimentodestetema.

Acerca do direito de dispor da propriedade (iusabutendi) “compreende o poder dealienar, consumir, gravar ou submeter a coisa a outrem.” (BARROS; BARBOSA,2008, p. 32). Pereira (2009, p. 78) informa que o verbo abutere foi traduzidoliteralmentedoDireitoRomanoporváriosautores,equeessatraduçãofoierrôneanosentidodeconferiraoproprietárioafaculdadedeabusardacoisa.Todavia,esteautorponderaaotratardaexpressãoabuterenoDireitoRomano:

MasécertoqueoDireitoRomanonãoconcediatalprerrogativa,fazendoaorevés conter o domínio em termos compatíveis coma convivência social.Muitomaispatenteénodireitomoderno,estepropósitodecontenção,nãosópelaexpressãoaomauusodapropriedade,comoaindapelasrestriçõesembenefíciosdobemcomum(PEREIRA,2009,p.78).

Aexpressãoabuterenosentidode“disposição”(disponendi),deacordocomPereira(2009,p.79) é entendimento tantodadoutrinaquantodoPoderLegislativo,oqualfornece poder amplo ao proprietário, desde que não cause danos à coletividade,consubstanciado no direito de alienação: “doação, venda, troca; quer dizer aindaconsumir a coisa, transformá-la, alterá-la; significa ainda destruí-la, mas somentequandonãoimpliqueprocedimentoantissocial.”(PEREIRA,2009,p.79).

Nesse sentido, Gonçalves (2013, p. 492) explica que o direito de dispor não estáassociadoaoabusodacoisaporqueobem-estar socialprevistoconstitucionalmentecondiciona o direito de propriedade. E Venosa (2011, p. 178) faz importanteconsideração ao acrescentar que o indivíduo que tem a faculdade de disposição dapropriedadepossuioefetivodireitodepropriedadeporqueoiusdiponendiéopodermaisamplo.Nãoapenasisso,aquelequepodedisportambémpodeutilizaregozardapropriedade:

A faculdadededisporenvolveopoderdeconsumirobem,aterar-lhe suasubstância, aliená-lo ou gravá-lo. É o poder mais abrangente, pois quempode dispor da coisa dela também pode usar e gozar. Tal faculdadecaracteriza efetivamente o direito de propriedade, pois o poder de usar egozar pode ser atribuído a quemnão seja proprietário.Opoder de disporsomenteoproprietárioopossui(VENOSA,2011,p.178).

Outro ponto importante abordado por Venosa (2011, p. 178) acerca do poder dedisposição da propriedade é que somente o proprietário o possui, enquanto autilizaçãoeogozonãoestãorestritosaoexercíciopeloproprietário.Ouseja,válidoéeste entendimento visto que nos apartamentos de condomínios edificados podemresidir outras pessoas que não o proprietário, possuidoras de animais, portanto,passíveldedemandas judiciaisquevisemàpermanênciaounãodestes animais emsuasresidências.

Ressalte-se que o atributo disposição (ius abutere; ius disponendi), no sentido dealienação,nãoéaptoaodesenvolvimentodestapesquisaporqueasimplesalienaçãonãoestáligadaàpermanênciadeanimaisemresidências.Entretanto,aconsideraçãoacima acerca das faculdades de gozo e de uso por indivíduos que não sejamproprietárioséimportanteparaestetrabalho.

Porfim,odireitodereaverapropriedadeéodescritonoCódigoCivilde2002,noartigo 1.228, “[...] o direito de reavê-la do poder de quemquer que injustamente apossua ou detenha” (BRASIL, 2002).De forma sucinta,merece a complementaçãotrazidaporBarroseBarbosa(2008,p.32),emque“[...]confereodireitodebuscaracoisaondequerqueestejaecomquemquerqueesteja.”.

Odireitodereaveracoisa(reivindicatio)referia-seaodireitodeaçãodoindivíduonoDireitoRomano,ouseja,somentepoderiaacionaroPoderJudiciárioembuscadesuapropriedadeseoindivíduotivesseodireitodereaveracoisaparasi(PEREIRA,2009, p. 79). Para Gonçalves (2013, p. 492) a rei vindicatio “envolve a proteçãoespecíficadapropriedade,queseperfazpelaaçãoreivindicatória”.

Emboraodireitodereaveracoisasejatratadocomoformadeproteçãoespecíficadapropriedade,ressalta-seoposicionamentodePereira(2009,p.79)aofundamentar-seno artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, para afirmar queatualmente é assegurada uma ação a qualquer direito violado. De fato, “a lei nãoexcluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL,1988). Assim, mesmo que não houvesse o direito de reaver seria possível oajuizamentodedemandasnessesentido.

Interessante é o raciocínio de que nada serve ao indivíduo possuir os atributos ouelementosusar,gozaredispor,semquelhesejaconferidoodireitodereaverparasi:

[...]Denadavaleriaaodominus,emverdade,sersujeitodarelaçãojurídicadominialereunirnasuatitularidadeoiusutendi,fruendi,abutendi, senãolhe fosse dado reavê-la de alguém que a possuísse injustamente, ou adetivesse sem título. Pela vindicatio o proprietário vai buscar a coisa nasmãosalheias,vairetomá-ladopossuidor,vai recuperá-ladodetentor.Nãode qualquer possuidor ou detentor, porém, daquele que a conserva semcausajurídica,ouapossuiinjustamente(PEREIRA,2009,p.79,grifosdoautor).

Emquepeseodireitodereaveracoisasejaumdoselementos,atributosoupoderesdodireitodepropriedade,nãoseobservarelevânciadesuaanálisenestetrabalhoemvirtudedereferir-seàreivindicaçãodapropriedadedeumindivíduoemfacedeoutro(ou outros) que a detenha de maneira injusta. Logo, não se verifica qualquerassociação pertinente à manutenção de animais em unidades de condomíniosedilícios.

Ajunçãodessespoderesoufaculdades(usar,gozar,disporereaver)implicaemdizerque a propriedade é plena ou perfeita, sendo que se houver o desmembramento dequalquer deles a propriedade é denominada de limitada (BARROS; BARBOSA,2008, p. 32). Para Pereira (2009, p. 76) a reunião dessas faculdades torna a“propriedade plena” ou “simplesmente propriedade”, bem como pode ocorrer odesmembramentodequalquerdessespoderes,oquetornaapropriedadelimitadaoumenosplena.

NessemesmosentidoapontaGonçalves(2013,p.492)aoexemplificarapropriedadelimitada em função do desmembramento dos elementos constitutivos (usar, gozar,dispore reaver):“[...]usufruto,emqueosdireitosdeusaregozardacoisapassamparaousufrutuário,permanecendoonu-proprietáriosomentecomosdedisporedereivindicá-la.”.

ParaDiniz(2007,p.116)ficaclaroqueasfaculdadesoupoderesdescritosconferemocaráterabsolutoàpropriedade,contudotalcaráternãoseapresentadomesmomodoquenodireitoromano,pois,nodireitoromanonãohavialimitações.Étambémnessesentido que aponta Venosa (2011, p. 178), mas acrescenta que “O direito depropriedadeéabsolutodentrodoâmbitoresguardadopeloordenamento”.

Trabucchi, citadoporPereira (2009, p. 76), afirmaque a plenitude refere-se a umacondiçãoordinária,normal,dapropriedade.Pereira(2009,p.76)acrescentaque“Alimitação, como toda restrição ao gozo ou exercício de direitos, é excepcional.”.Assim, presume-se que a propriedade é exclusiva e plena quando não há qualquerlimitaçãodasuacondiçãonormal(PEREIRA,2009,p.77).

Emrelaçãoaessesconceitosdoutrináriosqueentendema junçãodoselementosoufaculdadesdeusar,degozar,dedisporedereaverreferirem-seàpropriedadecomoabsoluta ou plena, bem como o desmembramento dos poderes significar limites àpropriedade,nãotornaineficazaanálisedasdecisõesjudiciaissobrepermanênciadeanimaisemapartamentos.Issoporquebastaqueoindivíduoestejaemgozoouusodapropriedadeaomanteranimaldeestimaçãodentrodaunidadeautônoma.

Assim, diante das doutrinas cível e constitucional fica evidente que o direito depropriedade, apesar de inexistir conceito positivado, está relacionado ao uso, gozo,disposição e reivindicação da coisa. E também não é absoluta, portanto merecemcapítulopróprioparaodesenvolvimentodotema.

Logo, devem ser estudados os seus limites e suas prováveis exceções, ou seja, osdireitos que possuem os vizinhos de determinada propriedade, em especial noscondomínios edilícios, a fim de tornar possível a análise de decisões judiciais quepermitam ou não amanutenção de animais domésticos em unidades autônomas decondomíniosedilícios.

Direitos de vizinhança e condomínioedilícioNeste capítulo serão analisadas as leis e as doutrinas referentes aos direitos devizinhançaeaoscondomíniosedilícios.Ocapítuloseiniciacomaanálisedosdireitose deveres de vizinhança no que se refere à utilização normal ou anormal dapropriedade.Emseguidaserãodiscutidasasnormaseasdoutrinas relacionadasaoscondomíniosedilíciosnoquetangeaosinstrumentosjurídicosinternoseaosdireitosedeveres dos condôminos.Dessa forma, buscam-se argumentos legais e doutrináriosaptosafundamentaramanutençãoounãoanimaisdomésticosemapartamentos.

Direitos de vizinhança: uso normal e anormal dapropriedade

A propriedade não é absoluta, conforme já assentado no capítulo anterior.Corroborandocomisso,adoutrinadisserta:

Éinevitávelquenoexercíciododireitodepropriedade,pormaisamploquesejaseuâmbito,hárestriçõeselimitaçõesfundadaseminteressesdeordempública e de ordem privada. Não bastasse o interesse social em torno dapropriedadedescrito constitucionalmente, a coexistênciadeváriosprédiospróximos,avizinhança,acoletividade,adisciplinaurbana traduzempartedessasrestrições(VENOSA,2011,p.289).

Dessaforma,aoadquirirumapropriedade,alémdosdireitosdeusar,gozar,disporereaver (BRASIL, 2002), o proprietário adquire juntamente várias limitações, dentreestas, os direitos de vizinhança. Logo, as limitações decorrentes dos direitos devizinhançaestãointimamenteligadasaodireitodepropriedade,portanto,nomesmoato emque se adquire o direito de propriedade, surgem as limitações do direito devizinhança,porqueosdireitosdevizinhançasãoimanentesaodireitodepropriedade.(MONTEIRO,2012,p.160).

Contudo,Venosa(2011,p.290)modificaumpoucodoposicionamentoapresentadoacima e explica que os direitos de vizinhança não são direcionados única eexclusivamenteaoproprietáriodeumimóvel,mascabívelatodosqueestiverememrelaçãodiretacomobemimóvel–sejampossuidores,detentoreseusuáriosemgeral.

Estapeculiaridadederelaçãodiretaentreumsujeitoeumbemimóvel,quetrazcomo

consequência restrição consubstanciada nos direitos de vizinhança, é oposicionamentomaisadequadoparaestetrabalho.Pois,nemsempreoproprietáriodedeterminadobemimóvelseráosujeitoemrelaçãodiretacomesteúltimo.

Ademais, Borda, citado por Venosa (2011, p. 290), esclarece que “[...] as açõesderivadas dos direitos de vizinhança competem, portanto, ao proprietário, locatário,usufrutuárioedemaneirageralatodoaquelequepossui,detémouutilizaacoisa.Seudireitosurgedaqualidadedevizinhoenãodeproprietário.”.

Adoutrinaseencarregadedefinirosdireitosdevizinhança,sendoamelhordefiniçãoparaofimquesedestinaestetrabalhoaseguinte:

Os direitos de vizinhança constituem limitações impostas pela boaconvivência social, que se inspira na lealdade e na boa-fé.A propriedadedeve serusadade talmaneiraque tornepossível acoexistência social.Seassimnãoseprecedesse,seosproprietáriospudesseminvocarunscontraosoutros seu direito absoluto e ilimitado, não poderiam praticar qualquerdireito,poisaspropriedadesseaniquilariamnoentrechoquedesuasváriasfaculdades(MONTEIRO,2012,p.161)

Diniz (2007, p. 265) também utiliza o conceito citado para definir os direitos devizinhançaeacrescentaque“osdireitosdeumproprietáriovãoatéolimiteondetêminício os de seu vizinho e vice-versa”. Percebe-se que essa noção de limite doexercíciododireitodevizinhançaédeformarecíproca.

Logo,osvizinhosdevemexercerseusdireitosnoslimitesafimdeevitartranstornosaosdemais. Issoporquenãopodemserdeixadosde ladoosobjetivosdas regrasdevizinhança, consubstanciadas para “harmonizar a vida em sociedade e o bem-estar,semdeixaràmargemasfinalidadesdodireitodepropriedade.”(VENOSA,2011,p.290).

Ocorrequenemsempreotranstornodevizinhançaestaráligadoaatosjurídicos,ouseja,àvontadedeumsujeito,maspodeocorrertambémdeformaindiretaemvirtudedeumfatojurídico,ummeroacontecimentonaturalcapazdegerarreflexosjurídicos,porexemplo,quedadeummuropormotivodeintempérie(VENOSA,2011,p.291).

Entretanto,nestetrabalhoestãoemfocotranstornosdevizinhançarelacionadosaatosjurídicos, os quais dependem da utilização do indivíduo com relação direta a umapartamentoparaapermanênciadeumanimaldeestimação.Assim,descartam-seashipótesesdecorrentesdefatosjurídicosnaturaispelainaptidãoàanálisedotema.

OCódigoCivilde2002trazexplícitososdireitosdevizinhança:Dousoanormalda

propriedade (art. 1.277 a 1.281); Das árvores limítrofes (art. 1.282 a 1.284); Dapassagem forçada (art. 1.285); Da passagem de cabos e tubulações (art. 1.286 a1.287); Das águas (art. 1.288 a 1.296); Dos limites entre prédios e do direito detapagem(art.1.297a1.298);Dodireitodeconstruir (art.1.299a1.313) (BRASIL,2002). Já Diniz (2007, p. 265-266) divide os direitos de vizinhança da seguinteforma:

a)restriçãoaodireitodepropriedadequantoàintensidadedeseuexercício(CC,arts.1.277a1.281),regulandoousoanormal;b)limitaçõeslegaisaodomínio similares às servidões (CC, arts. 1.282 a 1.296), tratando dasquestõessobreárvores limítrofes,passagemforçada,passagemdecabosetubulaçõeseáguas;c)restriçõesoriundasdasrelaçõesdecontiguidadeentredois imóveis (CC, arts. 1.297 a 1.313), versando sobre os limites entreprédios, direito de tapagem e direito de construir (DINIZ, 2007, p. 265-266).

Diante dessa divisão, as limitações legais similares às servidões (item b) e asrestriçõesoriundasdasrelaçõesdecontiguidadeentredoisimóveis(itemc)nãoserãoobjetodeanálisedesteestudo.Aprimeiraporqueaslimitaçõessimilaresàsservidõessão hipóteses previstas em lei, já fixadas pelo ordenamento jurídico. E a segunda,porque tratade restrições relacionadasa limites entreprédios edireitodeconstruir,nãoaptosaanalisarunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.

Dessa forma, para este trabalho interessa a parte que trata do uso anormal dapropriedade(itema),tendoemvistaquea“restriçãoaodireitodepropriedadequantoàintensidadedeseuexercício”regulaousoanormaldapropriedade(DINIZ,2007,p.265).Cabíveléaanálisedestetópicopelapossibilidadedesuaaplicaçãoemunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.Paraconfirmar,segueimportanteconsideração:

Como enfatizamos no estudo do condomínio de edifícios e situaçõesassemelhadas,serãosemprerecrutadasasnormasgeraisdevizinhança,nãosomente para integrar o ordenamento do condomínio, mas também parasuprireventuaislacunas.Acolisãodedireitoscondominiais,nocondomínioordinário ou de edifícios, não se desvincula do conceito de conflitos devizinhança.Avizinhançaémuitomaisestreitanoscondomíniosemplanoshorizontais(VENOSA,2011,p.293).

Assim, embora haja especificidades nos direitos e deveres da parte que trata decondomíniosedilíciosnoCódigoCivilde2002,necessáriosefazentenderasteoriaseosfundamentosdodireitodevizinhança,emespecialnoqueserefereaousoanormalda propriedade, afinal, no caso de condomínios edilícios, um proprietário ou

possuidor em regra está cercadode vizinhos, tanto na direção horizontal quanto navertical.

Ao tratardousoanormaldapropriedade,Pereira (2009,p.181-182) informaqueoproprietáriopodeutilizardesuapropriedadeparaopróprioagradodaformaquelheconvir,masacrescentaressalvanosentidodequeoexercíciodoseudireitomantenhaaharmoniasocialparaquenãoimpliquesacrifícioaovizinho.

Nessalinha,“Limita-seodireitodepropriedadequantoàintensidadedeseuexercícioemrazãodoprincípiogeralqueproíbeaoindivíduoumcomportamentoquevenhaaexcederousonormaldeumdireito,causandoprejuízoaalguém”(DINIZ,2007,p.266).Ocorrequeasperturbaçõesaosvizinhospodemestarrelacionadasaobarulhoouaocheiro–excessoderuídos,emissãodegasestóxicos–,logo,nemsempreháumamaterialidadeoupercepçãovisível(VENOSA,2011,p.293).

Tal subjetividade da conduta capaz de gerar o uso anormal da propriedade ficaevidenciada pela doutrina, isso porque este uso anormal está atrelado aocomportamentodepessoas,dentrodeseuprópriodireito,hábila interferirnaesferajurídicadeoutrem.Paracorroborarcomestaideia,Diniz(2007,p.266-267)arremata:

Dentrodesuazonaoproprietário,ouopossuidor,pode,emregra,retirardacoisaqueésua todasasvantagens,conforme lheformaisconvenienteouagradável,porém,aconvivênciasocialnãopermitequeeleajadetalformaqueoexercíciodeseudireitopasseeimportaremgrandesacrifíciooudanoaoseuvizinho(DINIZ,2007,p.266-267).

Nesse sentido, a nocividade tratada no uso anormal da propriedade diz respeito aprejuízos causadosàvizinhança, sendoquenãopossui relevância jurídicapara estecampo de estudo o que está no âmbito de atuação do proprietário sem atingir avizinhança (VENOSA, 2011, p. 298). Essa noção do proprietário que exerça seudireitodepropriedadeenãoatinjaosdireitosdeseusvizinhosésimples,postoqueausentes os transtornos aos vizinhos, presente está a normalidade e o ordenamentojurídicoestáemcumprimento.

Por outro lado, Diniz (2007, p. 266) afirma que o proprietário que agir de formaculposa, como jogar lixo no quintal de outrem, deve responder pelo seu ato namodalidadedeatoilícito(art.186doCódigoCivilde2002),nãosendonecessáriaainvocaçãodosdireitosdevizinhança.Aautoraconcluiseuraciocínioexplicandoque“istoéassimporque,segundooart.188,I,doCódigoCivil,nãocometeatoilícitooproprietárioqueexerceuseudireitodemaneiraregularounormal.”(DINIZ,2007,p.266).

Nomesmosentido,Pereira(2009,p.182)assentaquese“[...]oproprietárioprocedecom culpa, responde pelas consequências desta, na forma do direito comum [...]”,mas, no caso de violação aos direitos de vizinhança estaria configurada a “[...]responsabilidade objetiva [...]”. Logo, no primeiro caso incide o artigo 186 (atoilícito), no segundo (abuso de direito) o artigo 187 combinado com o artigo 188,incisoI,todosdoCódigoCivilde2002:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ouimprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda queexclusivamentemoral,cometeatoilícito.

Art.187.Tambémcometeatoilícitootitulardeumdireitoque,aoexercê-lo,excedemanifestamenteoslimites impostospeloseufimeconômicoousocial,pelaboa-féoupelosbonscostumes.

Art.188.Nãoconstituematosilícitos:

I -ospraticadosemlegítimadefesaounoexercícioregulardeumdireitoreconhecido;(BRASIL,2002).

Aliadosaestesdispositivosestáoartigo927doCódigoCivilde2002queestabeleceodeverderepararodanocausadoquandodocometimentodeatoilícito.Ademais,noparágrafo único deste dispositivo, informa-se a obrigação de reparação do danoindependente de culpa quando “[...] nos casos especificados em lei, ou quando aatividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,riscoparaosdireitosdeoutrem.”(BRASIL,2002).

Dessaforma,Pereira(2009,p.182)eDiniz(2007,p.266)assentamateoriadoabusodedireitoquandooassuntoenvolvidoforosdireitosdevizinhança,emespecialousoanormaldapropriedade.Venosa(2011,p.295)tambémexplicaqueateoriadoabusodedireitoéutilizadaparafundamentarasrestriçõesdosdireitosdevizinhança,tendoemvistaquesehouverdesviosdautilizaçãodapropriedadeprovocaráprejuízoaosvizinhos,ouseja,oabusoestáintimamenteligadoàfinalidadedapropriedade.

Essateoriadoabusodedireitoébastantesimilaràresponsabilidadecivil(atoilícito),contudo esta se diferencia daquela devido à necessidade de se provar a culpa doagente(VENOSA,2011,p.295).Assim,aocorroborarcomoartigo187doCódigoCivilde2002,Venosa(2011,p.295)afirmaque“otitulardeprerrogativajurídica,dedireito subjetivo, que atua de modo tal que contrarie a boa-fé, a moral, os bonscostumes,osfinseconômicosesociaisdapropriedade,incorreematoabusivo”.

Ainda acerca da teoria do abuso de direito, Venosa (2011, p. 296) informa duas

subespécies: o uso excepcional da propriedade e os atos excessivos. O usoexcepcional da propriedade consubstancia no exemplo de que “se o proprietárioutiliza de forma excepcional, deve suportar os encargos deste uso que, em últimaanálise, nada mais é do que abusivo, abstraída toda espécie de culpa” (VENOSA,2011,p.296).Jáateoriadosatosexcessivosédefinidadaseguintemaneira:

[...] têm-se em mira o limite de exercício e a finalidade da propriedadefixados pelo ordenamento jurídico. Excedido esse limite, o agente estáobrigadoarepararosdanos,cessaramoléstiaoureporasituaçãonoestadoanterior. Se o extrapolamento é imbuído de má-fé, a conceituação passaparaadeatoilícito(VENOSA,2011,p.296).

Nessa subdivisão apresentada por Venosa (2011, p. 296) não é relevante para estetrabalho o uso excepcional da propriedade porque o proprietário estaria utilizandoexcepcionalmente a propriedade, não de maneira contínua. Contudo, os atosexcessivos são importantes para o fim que se destina esta pesquisa em virtude dacontinuidadedoexercíciododireitodepropriedade,dentrodoslimiteslegais,estaremaptosaverificarapermanênciaemapartamentosdeanimaisdomésticos.

Aindaacercadoenquadramentodosdireitosdevizinhançaemresponsabilidadecivilpor ato ilícito ou abuso de direito, Venosa (2011, p. 291) disserta que há duascategorias de ações judiciais nesse sentido: a ação de responsabilidade civil (atoilícito) e a ação tipicamentedevizinhança (abusodedireito).Aprimeiraquando jáhouverocorridoprejuízodecorrentedasrelaçõesdevizinhançaeasegundaquandosetratar de situação presente e continuativa, cujos remédios processuais seriamobrigaçãodefazeroudenãofazer(VENOSA,2011,p.291).

Logo, ambos os tipos de ações judiciais podem ser invocados nos direitos devizinhançaadependerdoprejuízo(passadooupresente).Mas,asdecisões judiciaisque serão analisadas neste trabalho não estão relacionadas à reparação de dano,portanto,nãoserálevadaemconsideraçãoaresponsabilidadecivildecorrentedeatoilícito.Jáoabusodedireito,conformeinformado,podesermencionadoemfacedeseresteofundamentodasaçõesjudiciais(obrigaçãodenãofazeroufazer)ajuizadasparaadefesadosdireitosdevizinhança

Independentedosposicionamentosacimareferentesà responsabilidadecivil,nãohádivergênciadoutrináriano sentidode enquadrar direitosdevizinhançanaparte dosdireitosobrigacionaisoureais(VENOSA,2011,p.291).Issoporque,deacordocomSilva,citadoporVenosa(2011,p.291),“[...]oconteúdodas limitaçõesdecorrentesdavizinhançaestáameiocaminhoentreasobrigaçõeseodireitoreal.Aobrigaçãoproter rem liga-se umbilicalmente ao direito de propriedade. As relações de

vizinhançatêmnaturezareal,masnãosãoreais”.

Alémdisso,destaca-sea imprescritibilidadedasaçõesrelacionadasàvizinhança,ouseja,osimplesdecursodeprazonãoelideodireitodeacionarajustiça,porqueessasaçõespodemserajuizadasenquantohouveraperturbação(VENOSA,2011,p.293).Assim,enquantohouverviolaçãoaosdireitosdevizinhançaégarantidoodireitodeajuizardemandasnosentidodecessá-las.

Noquetangeaousoanormaldapropriedade,oartigo1.277doCódigoCivilde2002prescreve o direito de um vizinho acionar o Poder Judiciário: “O proprietário ou opossuidordeumprédio temodireitodefazercessaras interferênciasprejudiciaisàsegurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização depropriedadevizinha”(BRASIL,2002).

Portanto, independente da natureza jurídica no abuso de direito e nas suassubespécies,ounoatoilícito,ofocosãoasaúde,osossego,asegurança,oconfortoeaintimidadedosvizinhos(VENOSA,2011,p.296).Diantedisso,oCódigoCivilde2002visareprimirousoabusivodapropriedadeemtrêssentidos:ofensaàsegurança,ao sossego e à saúde (MONTEIRO, 2012, p. 162). Logo, a tríade dos direitos devizinhança(segurança,sossegoesaúde)éexemplificadapeladoutrina.

Ofende a segurança tudo aquilo capaz de afetar o prédio e os moradores, sendoexemplos o seguinte: exploração de indústrias de explosivos e inflamáveis;armazenamentodemercadoriaspesadas;presençadeárvoresgrandes;eoutrosdesdequecapazesdecolocaremriscooprédioeavizinhança(MONTEIRO,2012,p.162).

Emrelaçãoaosossego,adoutrinaexemplifica:

São ofensas ao sossego ruídos exagerados que perturbam oumolestam atranquilidade dos moradores, como gritarias e desordens, diversõesespalhafatosas, bailes perturbadores, atividades de discotecas oudanceterias, artes rumorosas, barulho ensurdecedor da indústria vizinha,emprego de alto-falantes de grande potência nas proximidades de casasresidenciais para transmissões de programas radiofônicos ou televisivos einstalaçãodeaparelhosdearcondicionadoruidosos(MONTEIRO,2012,p.162).

Paraasaúdesãotrazidosexemplosdegasestóxicos,exalaçõesdemaucheiro,águassendo poluídas por resíduos, substâncias podres ou águas que promovem cheirosrelacionados à podridão em geral. (MONTEIRO, 2012, p. 162). Dessa forma,representa uso nocivo da propriedade tudo que de modo geral afete ao sossego, à

segurançaeàsaúdedosvizinhos(MONTEIRO,2012,p.162).Diniz(2007,p.267-268)exemplificaeserefereàtríadedosdireitosdevizinhançademaneirasimilaraoapresentadoacima.

Pode-seconcluirqueomauuso,ouusoanormal,ouusoirregulardapropriedadeéoque o legislador se refere, sendo que somente a utilização abusiva e de maneiraintolerável importa em sanções legais.Eo quenão transcender o normal, é tratadopeladoutrinacomo“encargosordináriosdevizinhança”(MONTEIRO,2012,p.163).

Assim,atríadedosdireitosdevizinhançaérelevanteparaopresentetrabalhoporqueamanutençãodeanimalemapartamentopodeferirasaúde,asegurançaouosossegodosdemaisvizinhos.Osossegodosvizinhospodeserperturbadoseoanimalemitesomquelheécaracterísticodemaneiraexcessiva(miadosdeumgato,latidosdeumcão),independenteseocorreànoiteouduranteodia.

Emrelaçãoàsegurança,seoanimalforviolentoehouverapossibilidadedeatacarvizinhos quando em contato com as áreas externas do condomínio. E a saúde dosvizinhos também pode ser prejudicada: tanto do ponto de vista de um animal nãovacinado e não vermifugado que entra em contato com as pessoas, o que tornapossível a transmissão de doenças; quanto em virtude domau cheiro causado pelodescuidonalimpezadasfezesdoanimalounaausênciadehigienedopróprioanimaloudoimóvel.

Ao tratar do uso anormal da propriedade, o legislador o fez de forma geral porque“preferiu a comodidade de um texto genérico e amplo, dotado de suficiente forçacompreensiva, podendo abranger situações especiais ou casuísticas cujaprevisibilidade,deoutromodo,seria impossível” (MONTEIRO,2012,p.162).Ficaclaroqueolegisladornãofoitaxativonosentidodeesgotaramatériaquetratadousoanormaldapropriedade,atéporqueseriaimpossívelprevertodasassituaçõescapazesdeferirosossego,asegurançaeasaúde.

Percebe-se“Agrandedificuldadeparaoaplicadordaleiresidenoestabelecimentodalinhadivisóriaentreusoregulareirregular,dificuldadequeaindamaisseagravacomascondiçõessubjetivasdoshabitantesdoprédio,unsmaissensíveiseintransigentes,outrosmaiscordatosetolerantes.”(MONTEIRO,2012,p.163).

ParaPereira(2009,p.182)aanálisedocasoconcretoparaverificarousoanormaldapropriedade deve partir do dano causado, no sentido de verificar a existência detolerabilidadequantoàcondutadealguémquefereosdireitosdeoutrosvizinhos.Issoporquenãohámotivode“[...]seimporaoproprietárioumarestriçãoaousodeseusbens,umavezqueaconvivênciasocialporsimesmacriaanecessidadedecadaum

sofrerumpouco[...]”(PEREIRA,2009,p.182).

Alémdeconsiderarodanocausadoeaexistênciadetolerância,Pereira(2009,p.183)esclarecesernecessáriaa invocaçãodoscostumesedosusos locaisparaverificaraextensão do incômodo, além de outros elementos impostos pela lei (art. 1.277,parágrafo único, CC) capazes de auxiliar na análise do caso concreto, como, porexemplo:“naturezadautilização,localizaçãodoprédio,oatendimentoàsnormasquedistribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dosmoradoresdavizinhança”(PEREIRA,2009,p.183).

Diante desses fatores, permite-se a análise do caso concreto de forma bastantediscricionária, cabendo ao juiz examinar se ponderará o interesse individual ou ocoletivo (VENOSA, 2011, p. 296). Nesse sentido, Venosa (2011, p. 297) fazimportanteconsideração:

Bom-senso é o que se exige do julgador, quando a lei lhe outorga aconfiança da discricionariedade. Nunca se deve esquecer de que essadiscricionariedadeédoPoderJudiciárioenãodojuizisoladamente.Comoem qualquer fenômeno jurídico, os problemas de vizinhança navegam deumaoutroextremodeacordocomahistória.Levam-seemcontaotempoeoespaçoemcadadecisão.Oqueéabusivoemvizinhançapacataebucólicacidade do interior poderá ser tolerável em umamegalópole, e vice-versa.Semprejulgarámalojuizquesedesvinculadarealidadeemqueexerceseudifícilmister(VENOSA,2011,p.297).

Portanto,diantedeumcasoconcretodeusoanormaldapropriedade,cabeaoPoderJudiciárioaplicaralei.Assim,estáojulgadoradstritoànormageral,sendonecessárioverificar o caso concreto para estabelecer o que seria o uso normal ou anormal dapropriedade.Logo, averificaçãodocasoconcreto torna-secomplexaemvirtudedasubjetividade tanto do comportamento de algumas pessoas quanto dos sentidos deoutrassupostamenteafetadaspelacondutadaquelas,incluindo-seotempoeoespaçoemqueocorreocasoconcreto.

CondomínioEdilício

Ocondomínioedilício,comorigemapósaPrimeiraGuerraMundial(1914a1918),surgiu devido à crise de habitações e à restrição da quantidade de construçõesprovocada pela legislação do inquilinato (MONTEIRO, 2012, p. 282). Assim, “Osarranha-céusforamsurgindoportodaaparte.Tantonosarrebaldes,comonoscentrosurbanos, conjuntos arquitetônicos emaciços,degrandeenvergadura, levantaram-se,

imprimindoàscidadesaspectograndiosoeimponente.”(MONTEIRO,2012,p.283).

Rapidamenteapropriedadeemplanoshorizontaiscresceunoscentrosurbanos,masnão havia normas que definissem os direitos e deveres dos incorporadores,construtores e adquirentes deste tipo de propriedade (DINIZ, 2007, p. 220). E oCódigo Civil de 1916 não disciplinou sobre condomínios edilícios, portanto, asrelaçõesjurídicaserampautadasnosusosecostumes(MONTEIRO,2012,p.283).

Nãoobstante, a legislaçãobrasileira foi influenciadapela estrangeira e foi criadooDecreto nº 5.481, de 25 de junho de 1928, que estabeleceu as normas iniciais demaneirainsatisfatóriasobrecondomíniosedilícios(VENOSA,2011,p.360).ALeinº4.591/64, com alterações da Lei nº 4.864/65, também chamada de “Condomínio eIncorporações”,discorreudetalhadamenteacercadamodalidadedepropriedadeaquitratada,sendoconsideradaumanormaavançadaàépoca(VENOSA,2011,p.360).

A Lei nº 4.591/64 disciplinou dois diferentes assuntos: condomínio especial eincorporaçõeseoCódigoCivilde2002 revogouaparteque trataradocondomínioespecial,porquediscorreuacercadoCondomínioEdilício,mantendovigenteaparteque se refere às incorporações (MONTEIRO, 2012, p. 291). Nessemesmo sentidomilitaVenosa(2011,p.360).

Aparteque tratadas incorporaçõesnão seráobjetode análisedestapesquisa, pois,não se relaciona intimamente com a permanência de animais domésticos emcondomínios,alémdoque“Comosepercebe,oestudodocontratode incorporaçãopertenceaocampodoscontratosemespécie,aodireitoobrigacional[...]”.(VENOSA,2011,p.360).

Diante da Lei nº 4.591/64, o assunto necessitava de reforma legislativa para acolmataraslacunasexistentes,oqueocorreucomoCódigoCivilde2002.Ofatoéque há várias outras lacunas, sendo necessário existir regras internas,consubstanciadasemumestatutocondominial(VENOSA,2011,p.360).

Ocondomínioedilício,nomeesteadotadopeloCódigoCivilde2002,possuidiversasdenominações na doutrina nacional e estrangeira: “propriedade horizontal,propriedadeemplanoshorizontais,condomíniosuigeneris,condomínioporandares”(VENOSA,2011,p.359).

O artigo 1.331 do Código Civil de 2002 dispõe que “Pode haver, em edificações,partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum doscondôminos.”(BRASIL,2002).Nessesentido,oscondomíniosedilíciospertencem“aproprietários diversos uma propriedade comum e uma propriedade exclusiva ou

privativa”(MONTEIRO,2012,p.284).

Logo, para Monteiro (2012, p. 285) as unidades autônomas (apartamentos), comdelimitação pela divisão de paredes entre estas, são de propriedade exclusiva ouprivativa. Entende-se por propriedade exclusiva a que não dependa de outroscondôminos no que se refere ao uso e ao gozo, enquanto a propriedade comumdependedavontadedoscondôminos(MONTEIRO,2012,p.292).

DeacordocomCapitant,citadoporDiniz(2007,p.222),osproprietáriosdeunidadesautônomas possuem direitos tais quais de proprietários de um imóvel isolado. EOrlandoGomes,citadoporDiniz(2007,p.222),afirmaque“tudoquenãoforobjetodepropriedade exclusivapertence emcondomínio aosdonosdos apartamentos, porsercomplementoindispensáveldapropriedadedecadaum.”.

Alémdisso,Planiol,RiperteBaudry-Lacantinerie,citadosporDiniz(2007,p.221),afirmamqueháumamesclaentrepropriedade individualecondomínioao tratardanaturezajurídicadaspropriedadesverticais.Assim,diantedotextolegalexplicitadopeloCódigoCivilde2002edadoutrina,épossívelidentificarumaprovávelnaturezajurídica dúplice de direitos reais dos condomínios edilícios, assim explicada porVenosa(2011,p.361):

[..] existe nítida e distinta duplicidade de direitos reais. O direito depropriedadedaunidadeautônoma,emqueoiusutendi,fruendietabutendiéomaisamplopossível,comonapropriedadeemgeral,sofrerestriçõesdevizinhança impostas pela convivência material da coisa, em planoshorizontais.[...]Àmargemdessedireito,emquasetudoigualàpropriedadeexclusiva individual, coloca-se, portanto, a disciplina dirigida às partescomuns do edifício. Neste aspecto, existe efetivamente condomínio(VENOSA,2011,p.361).

Assim,anaturezajurídicadoscondomíniosedilíciosseriadedireitorealdúpliceparaoautoracima.Entretanto,Lopes(2006,p.54-61)demonstraseisteoriasquetratamdanatureza jurídica dos condomínios em edifícios: Comunhão de bens; sociedadeimobiliária; propriedade solidária; teoria da servidão; universalidade de fato euniversalidade de direito (personalização do patrimônio comum); e a propriedadehorizontalcomoinstituto jurídiconovo.Logo,nãoháconsensonadoutrinaemfacedetantasdivergênciasquantoaotema:

Não faltam escritores que o consideram nova modalidade de pessoajurídica,oradecunhosocietário,oracomouniversalidade(JairLins,LeonHennebier). Outros invocam institutos tradicionais para explicar a sua

existência[...].Ocondomínioditoedilícioexplica-seporsimesmo.Éumamodalidade nova de condomínio, resultante da conjugação orgânica eindissolúvel da propriedade exclusiva e da co-propriedade.” (PEREIRA,2009,p.161).

Dessaforma,estetrabalhonãopretendeassentaranaturezajurídicadoscondomíniosedilícios, nem mesmo se posicionar quanto a alguma das teorias apresentadas,principalmente porque estão em análise as relações de vizinhança decididas peloPoderJudiciárionoqueserefereàmanutençãodebichosdeestimaçãonasunidadesautônomas.

Acercadapersonalidadejurídica,ressalte-sequeocondomínioedilícionãoépessoajurídicapela ausênciade requisitos, bemcomopela inexistênciade lei que trata demaneiraexpressaacercadapersonalidadejurídicadocondomínioemedifícios,logo,trata-sedeumapersonificaçãoanômala,ourestrita(VENOSA,2011,p.361-362).

ParaMonteiro(2012,p.285),ocondomínioedilícionadamaisédoqueumaficçãojurídicaparaodireito,porque:

A nova lei civil perdeu a oportunidade de dar personalidade jurídica aocondomínio, tão necessária a esse instituto, que dela precisa para poderinteragircommaiordesenvolturanomundojurídico,principalmentenoquetange à aquisição de bens imóveis que se possam incorporar ao prédio jáexistente. Como caso concreto podemos apontar, por exemplo, aimpossibilidadedacompra, emnomedocondomínio,de terrenocontíguopara ampliar as vagas de garagem, pela falta de personalidade jurídica,obrigandoospróprioscondôminos,sequiserem,aadquiriremseunomeapropriedade,oquemuitasvezesinviabilizaonegócio(MONTEIRO,2012,p.285).

Mesmo diante da divergência doutrinária acerca da natureza jurídica e dapersonalidade jurídica dos condomínios em edifícios, de fato há relações entrepessoas,entreestaseseusbens,nestetipodepropriedade.Relaçõesestasquepodemser previstas em normas internas, desde que não violem o ordenamento jurídicopátrio, conforme será visto mais adiante. É nesse contexto que se insere aproblemática da permanência ou não de bichos de estimação nas propriedadesexclusivasdeumedifício.

ConvençãodeCondomínioeRegimentoInterno

Ainstituiçãodepropriedadesemplanoshorizontaisdá-se“[...]poratointervivosou

causamortis,registradonoCartórioImobiliário[...]”eaconstituição“seoperapelaconvençãodecondomínio[...]”(DINIZ,2007,p.223).Aconvençãodecondomínio“é ato normativo imposto a todos os condôminos presentes e futuros”, e tem porfinalidade“regularosdireitosedeveresdoscondôminoseocupantesdoedifícioouconjuntodeedifícios”.(VENOSA,2011,p.367).

Logo, “[...] independente de cláusula expressa, a convenção obriga os adquirentes,promitentes ou cessionários de unidades; os locatários, comodatários ou detentores,ainda que eventuais, de unidades; [...] a todos quantos, por qualquer motivo,ingressemnaedificação.”(PEREIRA,2009,p.163).

Oinstrumentoconvençãodecondomíniotambéméalvodedivergênciasemrelaçãoàsuanaturezajurídica:

Assemelha-se ao contrato, por advir de emissão convergente de vontades,masdelesedissociaporseaplicaraquemnãoparticipadesuaformação.Éum “ato jurídico plúrimo” (Kyntze), ou, no dizer dos outros, um “ato-regra”,criandoanormaçãodecondutaparaumadeterminadacomunidade,assegurandodireitoseimpondoobrigações.[...].Noseuefeito,assemelha-se à lei, posto que dirigida à vontade de uma comunidade reduzida [...](PEREIRA,2009,p.163).

Lopes(2006,p.79-80)consideraaconvençãodecondomíniocomnaturezajurídicade caráter normativo estatutário ou institucional, porque este instrumento obriga atodosquedealgumaformaingressamnoscondomíniosedilícios, inclusiveterceirosquenãointegramavidacondominial,porexemplo,quandoseexigeidentificaçãodedeterminadoindivíduoquepretendeingressarnocondomínio.

Em que pese ausência de consenso, os condôminos podem dispor, com liberdade,sobre as normas internas damaneira que lhes atentam às finalidades condominiais,entretanto, estão limitados pela lei (PEREIRA, 2009, p. 163). Assim, caso umcondôminosesintaprejudicadoaoserobrigadoacumprirdisposiçõesdaconvenção,poderá requerer aoPoder Judiciárioa anulaçãooua ineficáciaem facedeeventualcontrariedadeàlei(PEREIRA,2009,p.163-164).

Aconvençãodecondomíniodeveseraprovadapordoisterçosdasfraçõesideais,nomínimo,esetornaobrigatóriaasuaobservânciaportodososcondôminos.Eparaseroponívelcontra terceiros,necessita-sedoregistronocartóriode imóveis. (BRASIL,2002).Osartigos1.332e1.334doCódigoCivilde2002dispõemacercadoconteúdoda convenção de condomínio. Assim, “a convenção pode incluir quaisquer outrasdisposiçõesnãoconflitantescomaleieseuespírito”.(VENOSA,2011,p.369).

Aprevisãolegaldoconteúdodaconvençãonoartigo1.332doCódigoCivilde2002referente à quota proporcional, à forma de administração, à competência dasassembleiaseàssanções (BRASIL,2002)nãoserãoabordadasporqueo focodestetrabalhoéanalisardecisões judiciaisem facedanormacondominial, emvigor,quevisa à proibição de animais domésticos dentro de unidades autônomas decondomínios.

Umdosconteúdosdaconvençãodecondomínioéoregimentointerno,quedisporádequalquermatéria circunstancial emutável, desde quenão essencial à constituição efuncionamentodocondomínio(VENOSA,2011,p.369).Nessesentido:

[...]Oregimentodeveatenderaoespecíficointeressedecadacondomínio,sejaresidencial,sejanãoresidencialoumisto,comáreacomumoudelazermaisoumenosampla,comcorpodeempregadosmaioroumenoretc.Cabetambémaoregimentointernoestabelecerasfunçõesdozelador,bemcomoa disciplina de portaria, horários, utilização das áreas comuns e regimedisciplinar aplicável aos ocupantes do edifício. [...] (VENOSA, 2011, p.370).

Monteiro(2012,p.312)afirma,citandooCódigoCivilde2002,que“Aalteraçãodaconvençãoedoregimentointernodependededoisterçosdosvotosdoscondôminos”.Ressalte-se que o Código Civil de 2002 estabelecia, no artigo 1.351, este quórum(2/3) (BRASIL, 2002). Esta quantidade de condôminos votantes para o regimentointernonãofazmaispartedodiplomalegaldevidoàLeinº10.931,de02deagostode2004.

Assim, a lei é silente quanto ao quórumde aprovação e de alteração do regimentointerno.Se a convenção tambémnãodispuser sobre isso, o regulamentopoderá seraprovadopormaioriasimples(VENOSA,2011,p.370).Eissoocorreemvirtudedaausência de lei, porque, diante da ausência desta para limitar, o condomínio possuiliberdadeparaabordarotemaemnormainterna.

“Aleituraisoladadealgumasdisposiçõesdaleicondominialpodefazersuporqueolegislador teria deixado à livre vontade dos interessados, estabelecer o conteúdo daconvençãodecondomínio”(LOPES,2006,p.86).Contudo,nãoháquesefalaremliberdade absoluta quando da elaboração da convenção e do regimento, logo, sehouvernestesinstrumentosdisposiçãocontráriaàlei,taldisposiçãodeveseranulada.(VENOSA,2011,p.372).

Para Diniz (2007, p. 224) o regimento interno serve para detalhar as relaçõescotidianas do condomínio enquanto a convenção deve discorrer as finalidades da

propriedade exclusiva, da comum e dos órgãos condominiais (deliberativos eadministrativos), bem como “Não poderá conter cláusula contrária à lei, à ordempúblicaeaosbonscostumes.”.

Conformeseverificapeladoutrina,asnormascondominiais,sejamelasoriundasdaconvenção ou do regimento interno, encontram-se limitadas pela lei. Dessa forma,quando há norma condominial proibindo a permanência de animal doméstico nasunidades exclusivas dos condomínios verticais é que se verifica o ajuizamento deações judiciaisnosentidodegarantiramanutençãodestes.Contudo,nemsempreamanutençãodosanimaiségarantidapeloPoderJudiciário.

Direitosedeveresdoscondôminos

OCódigoCivilde2002estabeleceosdireitos(art.1.335)eosdeveres(art.1.336)doscondôminos (BRASIL,2002).Contudo, tendoemvistaapermanênciadebichosdeestimaçãonosapartamentoseapossibilidadederegulamentaçãointernacondominialrelacionada,seráabordadasomenteaparteaptaàanálisedajurisprudênciaacercadotemadestapesquisa,ouseja,oincisoIdoartigo1.335(direito)eoincisoIVdoartigo1.336(dever),ambosdoCódigoCivilde2002.

Assim, um dos direitos é o de “usar, fruir e livremente dispor das suas unidades”,enquanto um dos deveres é “dar às suas partes a mesma destinação que tem aedificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade esegurançadospossuidores,ouaosbonscostumes”.(BRASIL,2002).

Pela simples interpretação textual, percebe-se queo direito de uso e de fruiçãodasunidadesautônomasdecondomíniosedilíciospossuemlimitesnoâmbitodasaúde,dasegurança e do sossego, bem como nos bons costumes. Ao tratar da salubridade,segurança e sossego, Diniz (2007, p. 227) explicita que uma das obrigações doscondôminoséaobservaçãodasnormasrelacionadasàboavizinhançaparaquesejamevitadassituaçõesdeconflito.Nessesentido,Venosa(2011,p.378)explica:

Quem opta por residir ou trabalhar em um condomínio de edifícios oucomunhão condominial assemelhada deve amoldar-se e estar apto para avida coletiva. Do contrário, deve estabelecer-se ou residir em localapropriado conforme sua condição, estado e personalidade.A situação nocasoconcreto,contudo,exigiráodiligentecuidadodojulgador,poisestarãoem jogo dois interesses de elevado grau axiológico, quais sejam, o diretoindividual do proprietário e o direito do corpo coletivo condominial.Sopesando-se devidamente estes valores, atingir-se-á a solução jurídica ejusta(VENOSA,2011,p.378).

E é neste ponto entre o direito individual do proprietário e o direito coletivo docondomínio que se insere a questão da permanência de animais domésticos nasunidades autônomas de condomínios edilícios. Assim, diante dos direitos e dosdeveresdoscondôminosaptosàabordagemdotema,sãoperceptíveisosdireitosdevizinhança,motivopeloqualécabíveltodafundamentaçãoexpostanocapítulodoisdestetrabalho,queserefereaousoanormaldapropriedade.Paracorroborarcomessaafirmação,Venosa(2011,p.293)informa:

[...]noestudodocondomíniodeedifíciosesituaçõesassemelhadas,serãosempre recrutadas as normas gerais de vizinhança, não somente paraintegraroordenamentodocondomínio,mastambémparasuprireventuaislacunas.Acolisãodedireitoscondominiais,nocondomínioordináriooudeedifícios, não se desvincula do conceito de conflitos de vizinhança. Avizinhança é muito mais estreita nos condomínios em planos horizontais(VENOSA,2011,p.293).

Alguns doutrinadores têm inserido um tópico referente à permanência dos animaisnoscondomíniosnapartequetratadedireitosededeveresdoscondôminos.Mas,emregra,otópiconãoédiscutidojuridicamentecomprofundidadeeselimitaainformara regulamentação por normas internas, a permissibilidade da jurisprudência, bemcomoaanálisedocasoconcreto.

Assim, de acordo comVenosa (2011, p. 381) a questão de animais domésticos emcondomíniosdeveserregidapelaconvençãooupeloregimentointerno,sendoqueajurisprudência tempermitidoanimaispequenosnãocausadoresde incômodosequenão possuem contato com as áreas comuns. No mesmo sentido aponta Monteiro(2012, p. 298), e acrescenta a necessidade de se provar o incômodo causado peloanimal doméstico a demais condôminos, além do que recomenda uma análisemoderadadocasoconcreto.

Demododiverso,Lopes(2006,p.150)trataemcapítuloprópriodapermanênciadeanimaisdomésticoseafirmaqueaquestãoécontrovertida,bemcomonãoexisteumcritérioseguroparaasoluçãodestetipodeconflito.Assim,oautorfazasseguintesdistinções: “a) a convenção de condomínio é omissa a respeito; b) a convenção éexpressa, proibindo a guarda de animais de qualquer espécie; c) a convenção éexpressa,vedandoapermanênciadeanimaisquecausemincômodoaoscondôminos.”(LOPES,2006,p.150).

Aoexplicarcadahipótese,Lopes(2006,p.150)afirmaqueassoluçõesprevistasnositensAeCapresentadasnoparágrafoanteriorpodemserfacilmentedirimidas.OitemAporquediantedaomissãodaconvençãonãoháquesefalaremcensura,anãoser

quehajaviolaçãoaodeverdemanterincólumeosossego,asaúdeeasegurançadosdemaiscondôminos(LOPES,2006,p.150).Eafacilidadedo itemCdizrespeitoàanálisedocasoconcreto,porquesecomprovadootranstornodeve-seaplicaranormacondominial,portantoemconsonânciacomalei(LOPES,2006,p.150).

EmrelaçãoaoitemB,“difícilésolucionarahipótese”(LOPES,2006,p.150).Eosfundamentos são assim explicitados: A convenção possui caráter normativo edesrespeitá-laévedado,todavia,nãosepodeaplicarsançãocombaseemumanormaquevedaqualquerespéciedeanimaisemapartamentos,pois,casoseapliqueasançãoestariaemfocoo“fetichismonormativo”porquenãoseriamlevadasemcontaoutrassituaçõesaptasadirimiroconflito(LOPES,2006,p.151).Logo:

[...] o fato da guarda de animais não caracteriza violação à convenção,impondo-lhesempreperquirirsobreaexistênciadeincômodoaosvizinhosouameaçaàsuasegurança.[...]Odeslindedoproblemanãoestá,portanto,sónofatodaguardaoupermanênciadoanimalnoapartamento,massimnoincômodo ou ameaça à segurança e higiene dos demais condôminos. [...]não se podendo, a priori, afirmar a prevalência da convenção sobre aspeculiaridadesdecadacasoconcreto(LOPES,2006,p.151).

Assim,essafundamentaçãoédegrandeimportânciaeseráutilizadaparaclassificareanalisarasdecisõesjudiciaisquetratemdapresençadeanimaisemapartamentosemvirtudedaespecificidadedadapeloautoraotema.Nãosepodeolvidararelaçãodotema comos direitos de vizinhança e como direito de propriedade, os quais serãoabordados também no próximo capítulo no intuito de verificar os argumentosutilizadospeloTribunaldeJustiçadoDistritoFederaldeTerritórios.

ApresentaçãoeanálisejurisprudencialNeste capítulo serão apresentadas e analisadas as jurisprudências referentes àmanutençãodeanimaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.OcapítuloseiniciacomasmanifestaçõesdoSuperiorTribunaldeJustiçaacercadotema. Em seguida serão analisadas as jurisprudências do Tribunal de Justiça doDistritoFederaleTerritóriosde1997a2013embuscadosargumentosutilizadosparadeferirouindeferiraguardadeanimaisdomésticosemapartamentos.

ApresentaçãodajurisprudênciadoSuperiorTribunaldeJustiça

Em 07/04/1992, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisou oRecursoEspecial (REsp)nº12.166-0–RiodeJaneiro–,publicadoem04/05/1992.Emquepeseonãoconhecimentodorecursoporquestõesprocessuais,foiementadooseguinte:

DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO. ANIMAL EM APARTAMENTO.VEDAÇÃO NA CONVENÇÃO. AÇÃO DE NATUREZA COMINATÓRIA.FETICHISMOLEGAL.RECURSOINACOLHIDO.

I–Segundadoutrinadeescol,apossibilidadedapermanênciadeanimaisem apartamento reclama distinções, a saber: a) se a convenção decondomínioéomissaarespeito;b)seaconvençãoéexpressa,proibindoaguarda de animais de qualquer espécie; c) se a convenção é expressa,vedandoapermanênciadeanimaisquecausamincômodoaoscondôminos.

II – Na segunda hipótese (alínea b), a reclamar maior relfexão, deve-sedesprezar o fetichismo normativo, que pode caracterizar o summum jussumma injuria, ficando a solução do litígio na dependência daspeculiaridadescadacaso.(BRASIL,1992).

É importantedestacarqueestadecisão foiembasadanos fundamentosapresentadosporLopes(1990,p.127-128).Depreende-sedamerainterpretaçãotextualdaementaque há a possibilidade de se manter animais domésticos em unidades autônomasquandoaconvençãodecondomínioéomissaequandoháavedaçãodapermanênciadeanimaisquecausamincômodoaoscondôminos.

Contudo, a Quarta Turma do STJ tratou como ilegal quando a convenção proíbe

expressamente a manutenção de qualquer espécie de animal. Os fundamentos doacórdão citam Lopes (1990, p. 127-128) e apontam que o problema não está napermanênciadoanimalnoapartamento,massimnanecessidadedeavaliaçãodocasoconcretoouexamedasprovas,nosentidodeverificarseoanimalcausatranstornosaosossego,àsegurançaeàsaúdedosdemaiscondôminos.

DepoisdadecisãoreferenteaoREspnº121660–RiodeJaneiro–,de07/04/1992,noanoseguintefoijulgadooutro,oREspnº10.2500–RioGrandedoSul:

DIREITOCIVIL.CONDOMINIO.ASSEMBLEIAGERAL.IMPOSIÇÃODEMULTAPELAMANUTENÇÃODEANIMALEMUNIDADEAUTONOMA.NULIDADE DA DELIBERAÇÃO. CONVENÇÃO E REGIMENTOINTERNO.PRECEDENTEDATURMA.RECURSODESACOLHIDO.

[...]

III – Fixado, como base na interpretação levada a efeito, que somenteanimais que causem incômodo ou risco à segurança e saúde doscondôminosequenãopodemsermantidosnosapartamentos,descabe,nainstância extraordinária, rever conclusão, lastreada no exame da prova,queconcluiupelapermanênciadopequenocão(BRASIL,1993).

Note-se que a questão da necessidade de avaliação do caso concreto, ou seja, doexamedasprovasdenocividade(saúde,segurançaesossego)aosdemaiscondôminosfoi levada a efeito em novo julgado, mesmo este não conhecido por questõesprocessuais. O STJ não deu conhecimento a outros recursos especiais e osfundamentos estiveram ligados aos mesmos acima expostos. Os recursos com estetipo de fundamento foram o REsp nº 95.732/RJ (1997a) e o REsp nº 122.791/RS(1997b).

Assim,aparentementeforamdirimidostodososconflitosquandooassuntoeraanimaldomésticoemcondomíniosedilícios.Ocorrequeem27/04/1998foijulgadooREspnº161.737–RiodeJaneiro–,cujaementapossuioseguinteteor:

CIVIL.CONDOMÍNIO.ANIMALEMAPARTAMENTO.

A propósito de animal em apartamento, deve prevalecer o que oscondôminos ajustaram na convenção. Existência no caso de cláusulaexpressa que não atrita com nenhum dispositivo de lei. Recurso especialconhecidoeprovido.(BRASIL,1998).

Ointeiroteordestadecisãoapontaquedeveprevaleceroajustadopeloscondôminos

na convenção, e que a cláusula expressa proibitiva de animais domésticos daconvenção de condomínio não vai de encontro a nenhum dispositivo legal. Alémdisso,demonstraoposicionamentocontrário, afirmaqueapesardapossibilidadedeafastar a cláusula condominial possuir maior receptividade na doutrina e najurisprudência,nãohásuportejurídicoparatal.

Diante disso, fica claro que nemmesmo o Superior Tribunal de Justiça possui umentendimento acertado sobre a possibilidade ou não da permanência de animaisdomésticos em unidades autônomas de condomínios edilícios quando há cláusulaexpressadevedaçãonosinstrumentosjurídicoscondominiais–RegimentoInternoeConvençãodeCondomínio.Assim,segue-seàanálisedajurisprudênciadoTribunalde Justiça do Distrito Federal e Territórios em busca de argumentos jurídicosrelacionadosaotema.

AnálisejurisprudencialdoTribunaldeJustiçadoDistritoFederaleTerritórios

AjurisprudênciaéconceituadaporDiniz(1993,p.265)como“conjuntodedecisõesuniformes e constantes dos tribunais, resultantes da aplicação de normas a casossemelhantes,constituindoumanormageralaplicávelatodasashipótesessimilaresouidênticas”.Contudo, diante do fato de que não foi encontrada tal uniformidade nosjulgadosdotribunal,amelhordefiniçãodejurisprudênciaparaestetrabalhoéa“[...]coletânea de decisões proferidas pelos juízes e tribunais sobre uma determinadamatériajurídica[...]”(TORRÉ,citadoporNADER,1988,p.206).

Pararealizaçãodotrabalho,a jurisprudênciafoicoletadamedianteosítioeletrônicodo Tribunal de Justiça doDistrito Federal e Territórios (www.tjdft.jus.br). A buscaocorreunocampo“Jurisprudência”dapáginaprincipaldoendereçoeletrônicocitado,onde foi inserida a expressão “animal doméstico condomínio”. Assim, foramencontrados vinte e três recursos, dentre estes Apelações Cíveis, Agravos deInstrumentoeEmbargosInfringentesemApelaçãoCível.

Osrecursossãoutilizados“paraimpugnardecisõesjudiciais”,eestassesubdividemem“sentença,decisãointerlocutóriaouacórdão”(SANTOS,2011,p.794).Assim,seumaouambasaspartesdoprocessonãoestásatisfeitacomumdestes três tiposdedecisões,podeminterporumrecurso.

OAgravoé“formarecursalqueserveparaatacardecisõesquenãoserelacionamcomomérito [...]” (SANTOS,2011,p.764).Oartigo522doCódigodeProcessoCivilanunciaque“Dasdecisõesinterlocutóriascaberáagravo[...]”(BRASIL,1973).Logo,

seumadecisãojudicialnãotemocondãodecolocarfimaoprocesso,estaseráumadecisãointerlocutória.Eaparteirresignadacomestetipodedecisãopoderáinterporagravo.

Durante a pesquisa da jurisprudência cinco Agravos de Instrumento foramencontrados,dois indeferiram(AGI20000020041962,AGI20090020011442)e trêsdeferiram (AGI 20090020111647, AGI 20100020086640, AGI 20130020096844) apermanênciadeanimais emapartamentos.Emboraconsultadosos fundamentosdosAgravosdeInstrumento,nãoforamanalisadosnestetrabalhotendoemvistatratar-sede decisões judiciais precárias, não aptas a colocar um fim ao processo, que serãoconfirmadasounãoaofinaldademanda.

O recurso deApelação está previsto no artigo 513 doCódigo de ProcessoCivil, oqualdispõe: “Da sentença caberá apelação” (BRASIL,1973).Dessa forma,quandoumjuizsentenciacolocafimaoprocessosenãohouverrecurso.Contudo,quaisquerdaspartesperdedoras,aindaqueparcialmente,poderãointerporaApelaçãoafimdequeoprocessosejaanalisadoporoutroórgãodoPoderJudiciário(SANTOS,2011,p.756).

Foram encontradas dezessete Apelações Cíveis relacionadas ao tema. Estas foramanalisadasporquesãorecursosemfacedejulgamentosdemérito,ouseja,“Quandoolitígio é solucionado no processo, diz-se, pois, que houve julgamento de mérito.Mérito é, portanto, a matéria de fundo, a própria lide sobre a qual deve recair ojulgamento finaledefinitivo,comaconsequenteextinçãodoprocesso.” (SANTOS,2011,p.703).Logo,diantedojulgamentodeméritodassentençasrecorridas,torna-seimprescindívelanalisarasApelaçõesCíveis.

NoquesereferemaosEmbargosInfringentes,estesestãoprevistosnoartigo530doCódigodeProcessoCivil.Trata-sederecursoutilizadoquando“[...]nãoforunânimeo julgado proferido em apelação [...]” (SANTOS, 2011, p. 748). De maneirasimplificada,bastaimaginarqueestejampresentestrêsDesembargadoresparadecidirumaApelação,doissãocontraeuméafavoraopedidodeumadaspartes.Comoojulgamentonãofoiunânime,ficoudoisaum,caberáembargosinfringentescasohajainteresseemrecorrer.

Napesquisa,somenteumEmbargosInfringentesemApelaçãoCívelfoiencontrado.Eesterecursoapenasconfirmouo teordaApelaçãoCívelnº19990710098975,quedeferiraapermanênciadeanimaldomésticoemapartamento.Tendoemvistaqueestaapelaçãofoiobjetodeanálisedestetrabalho,desnecessáriaéaanálisedosembargosinfringentesencontrado.

No que tange aos procedimentos, há duas espécies, o comum e os especiais. Oprimeirodivide-seem“ordinário,sumárioesumaríssimo(Leinº9.099/95)”,enquantoo segundo, em “jurisdição contenciosa”, “jurisdição voluntária”, “procedimento daexecução” e “procedimento da ação cautelar” (DONIZETTI, 2011, p. 401). Emvirtude de a jurisprudência encontrada referir-se ao procedimento comum, torna-senecessáriorealizarumabreveconceituação.

Oprocedimentoordinárioé caracterizadopelapresençadecinco fases:postulatória(ajuizamento da ação mediante petição inicial até a resposta do réu); saneadora(prepara o processo para a instrução e julgamento); probatória ou instrutória (asprovas, como testemunhos,perícias, etc); e adecisória (queéa sentença, adecisãofinalsobreolitígio)(DONIZETTI,2011,p.515).Ressalta-sequeesteprocedimentoéaplicáveldeformasubsidiáriaatodososoutrosprocedimentos(DONIZETTI,2011,p.421).

Jáosumárioenglobaoartigo275doCódigodeProcessoCivil,ouseja,causasemque não exceda sessenta salários-mínimos, bem como outras matérias que nãopuderem ser julgadas pelo Juizado Especial em razão da parte (incapaz, pessoajurídica de direito público, massa falida, outros) (DONIZETTI, 2011, p. 422). Oartigo275doCódigodeProcessoCivilassimdispõe:

Art.275.Observar-se-áoprocedimentosumário: (RedaçãodadapelaLeinº9.245,de26.12.1995)

I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor dosaláriomínimo;

II-nascausas,qualquerquesejaovalor:

a)dearrendamentoruraledeparceriaagrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas aocondomínio;

c)deressarcimentopordanosemprédiourbanoourústico;

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de viaterrestre;

e)decobrançadeseguro,relativamenteaosdanoscausadosemacidentedeveículo,ressalvadososcasosdeprocessodeexecução;

f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado odispostoemlegislaçãoespecial;

g)queversemsobrerevogaçãodedoação;

h)nosdemaiscasosprevistosemlei.

Parágrafoúnico.Esteprocedimentonãoseráobservadonasaçõesrelativasaoestadoeàcapacidadedaspessoas(BRASIL,1973).

E o procedimento sumaríssimo (Lei nº 9.099/95) diz respeito à “competência paraconciliação,processoe julgamentodascausascíveisdemenorcomplexidade,assimconsideradas,entreoutras,ascausascujovalornãoexcedaaquarentavezesosalário-mínimo [...]” (DONIZETEEI, 2011, p. 422). Além disso, de acordo comDonizetti(2011,p.422)ascausasenumeradasnoincisoIIdoartigo275doCódigodeProcessoCivilpodemserajuizadastantopeloprocedimentosumárioquantopelosumaríssimo.

Para fins didáticos, foram dividas as decisões judiciais de indeferimento e dedeferimento, bem como subdividias em Procedimento Ordinário ou Sumário eProcedimento Sumaríssimo (Juizado Especial), acerca da permanência de animaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosemplanoshorizontais.

Indeferimento referente à permanência de animais domésticos emapartamentos

A seguir serão analisadas, de acordo com o rito, as jurisprudências do Tribunal deJustiçadoDistritoFederaleTerritóriosacercadotemaqueindeferiramapermanênciade animais domésticos em apartamentos no sentido de extrair os argumentos econfrontá-loscomadoutrinaecomaprópriajurisprudência.

ProcedimentoOrdinárioouSumário

OprimeiroacórdãodisponívelnosítioeletrônicodoTribunaldeJustiçadoDistritoFederal e Territórios (TJDFT), relacionado ao tema animais domésticos emcondomínios de edifícios, é do ano de 1997. Embora indisponível o inteiro teor, aementadispõeoseguinte:

CONDOMÍNIO. CRIAÇÃO DE ANIMAIS EM APARTAMENTO. - Amantença de animais em apartamentos poderá ser disciplinada naConvenção do Condomínio, prevalecendo suas disposições quando emconfronto com outras do Regimento Interno do Edifício. - Amoradia em

condomínio impõemesmo restrições naturais à liberdade total no uso doimóvel, e comportamentais dos moradores, regras que muitas vezes nemcarecemdeseremescritas,masqueintegramumconjuntosancionadopelosensocomumdoincômodoedaperturbação(DISTRITOFEDERAL,1997).

Extrai-se da leitura que a ação judicial questionara acerca da possibilidade de sedisciplinar no instrumento convenção de condomínio amanutenção de animais emapartamentos.Esse entendimento corrobora comopensamentodeVenosa (2011,p.381)edeMonteiro(2012,p.298)nosentidodequeaquestãodapresençadeanimaisdomésticos em condomínios deve ser regida pela convenção ou pelo regimentointerno.

A decisão também invoca a restrição à liberdade de utilização do imóvel, ou seja,refere-se ao uso, um dos “poderes” (GONÇALVES, 2013, p. 492) ou “faculdades”(VENOSA, 2011, p. 177) utilizado para conceituar a propriedade. Tem-se comoexemplodeusoquandootitulardapropriedadeaempregaemseubenefíciopróprio(DINIZ,2007,p.114),quando“serve-sedacoisa”(PEREIRA,2009,p.77).

Taluso,de fato,podeser restringidoemvirtudedequeautilizaçãodapropriedadedeve respeitar os limites legais e conformar com a função social (GONÇALVES,2013,p.492).Eadisposiçãolegaldoart.1.228doCódigoCivilde2002quetratadoexercício do direito de propriedade é bastante subjetiva,motivo pelo qual a funçãosocial é capaz de preencher tal subjetividade e nortear o uso da propriedade pelosindivíduosparaquenãocausemtranstornosaosoutrosàsuavolta(PEREIRA,2009,p.77-78).

Por outro lado, o julgado explica que é possível a restrição do comportamento dosmoradores. Essa restrição comportamental pode ser associada aos direitos devizinhança,emque“osdireitosdeumproprietáriovãoatéolimiteondetêminícioosde seu vizinho e vice-versa” (DINIZ, 2007, p. 265), bem como “[...] constituemlimitaçõesimpostaspelaboaconvivênciasocial,queseinspiranalealdadeenaboa-fé.”(MONTEIRO,2012,p.161).

Contudo,o entendimentodoacórdãono sentidodequeo simples sensocomumdeincômodo torna desnecessária a existência das regras escritas parece divergir dadoutrina. Porque a dificuldade da aplicação lei “[...] reside no estabelecimento dalinhadivisóriaentreusoregulareirregular,dificuldadequeaindamaisseagravacomascondiçõessubjetivasdoshabitantesdoprédio,unsmaissensíveiseintransigentes,outrosmaiscordatosetolerantes.”(MONTEIRO,2012,p.163).

Assim, os argumentos convergentes entre o acórdão e a doutrina para indeferir a

permanência do animal doméstico neste caso foram restrições ao direito de usar apropriedadeeaosdireitosdevizinhançaemfacedacoletividade.Nãoobstante,houvedivergêncianaformadeanalisaroincômodoeaperturbação.

Embora a açãode obrigaçãode fazer referida no acórdão abaixo tenhapermitido apermanência de animal doméstico no condomínio, a seguinte decisão judicialreformouaanterior e indeferiu,pormaioria (doisvotos [relator evogal] contraum[revisor]),soboprismadaexistênciadenormacondominialproibitiva:

CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. REGIMENTO INTERNO.CONVENÇÃO. CONDOMÍNIO. CRIAÇÃO DE ANIMAIS EMAPARTAMENTO. PROIBIÇÃO. MULTA COMINATÓRIA. HONORÁRIOSADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO. I – Havendo norma no Regimento InternoCondominialenaConvençãodeCondomínio,aprovadapelamaioriadoscondôminos, proibindo a mantença de animais no interior das unidadesresidenciais,estadevesercumprida,prevalecendoanormaeavontadedamaioriasobreaindividual(DISTRITOFEDERAL,2001b).

Defato,aconvençãodecondomínio“éatonormativoimpostoatodososcondôminospresentes e futuros”, e tem por finalidade “regular os direitos e deveres doscondôminos e ocupantes do edifício ou conjunto de edifícios” (VENOSA, 2011, p.367).Eoregimentointernodevedispordequalquermatériacircunstancialemutável,desdequenãoessencialàconstituiçãoeaofuncionamentodocondomínio(VENOSA,2011, p. 369), bem como serve para detalhar as relações cotidianas do condomínio(DINIZ,2007,p.224).

Logo, os condôminos podem dispor, com liberdade, sobre as normas internas damaneiraque lhesatentamàs finalidadescondominiais,mas, estão limitadospela lei(PEREIRA,2009,p.163).Ocorrequeaoanalisarointeiroteordoacórdãoacima,foilevadaemconsideração,pelamaioriadosdesembargadores,somenteaexistênciadanorma condominial, que proíbe expressamente a presença de quaisquer espécies deanimaisnasunidadesexclusivas.

DeacordocomLopes(2006,p.150-151),quandoaconvençãoéexpressaeproíbeaguarda de animais de qualquer espécie trata-se de hipótese de difícil solução postoque se relacione ao “fetichismo normativo” em face de não considerar outrassituações do caso concreto. Porque o “problema não está, portanto, só no fato daguardaoupermanênciadoanimalnoapartamento,massimnoincômodoouameaçaàsegurançaehigienedosdemaiscondôminos.”(LOPES,2006,p.151).Ressalte-sequeovotovencidofoinessesentido.

Dessa forma,percebe-se sintonia entre adoutrina eo acórdãonaparteque tratadaconvençãodecondomínioedoregimentointernocomoatosnormativosaplicáveisatodos os condôminos. Todavia, destoa no que tange aos instrumentos condominiaispossuir limites legais e à avaliação do caso concreto para verificar transtornosrelacionadosàtríadedosdireitosdevizinhança(saúde,segurançaesossego).

Opróximoacórdãopublicadonoanode2007tambémreformaraasentençaproferidapelojuízodeprimeirograu,paracontemplaravontadedamaioriadoscondôminos,combasenaexistênciadenormaproibitivadecriaçãodeanimaisemapartamentosenoinstitutodarevelia.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REVELIA. PRESUNÇÃO DEVERACIDADEDOSFATOSALEGADOSPELOAUTOR.OCORRÊNCIA.CRIAÇÃODEANIMALDOMÉSTICOEMUNIDADERESIDENCIALDECONDOMÍNIO. ALEGAÇÃO DE COMPROMETIMENTO À SAÚDE ESOSSEGO NO EDIFÍCIO. NORMAS INTERNAS RESTRITIVAS EPROIBITIVAS.PREVALÊNCIADAVONTADEDAMAIORIA.SENTENÇAREFORMADA.

1–ExsurgepresunçãodeveracidadedosfatosalegadospeloAutorcomoefeitodaRevelia,aqualincidecomtodaasuaplenitudequandoaquestãopostarefere-seadireitosdisponíveis.

2–Oordenamentojurídicocontemplaaprevalênciadodireitodamaioriaquando em contraposição a postulações minoritárias que não tenhamconotação jurídica de proteção à identidade, à consciência e a valoresétnicosdeminorias.

3 –Havendo nas previsões normativas internas condominiais disposiçõesproibitivaserestritivasàcriaçãodeanimaisdomésticos,afigura-seafrontaàvontadedamaioriaapermanênciadecãoemunidaderesidencial.

ApelaçãoCívelprovida(DISTRITOFEDERAL,2007a).

Pelaanálisedointeiroteordoacórdão,aconvençãodecondomíniodispõeacercadavedaçãodamanutençãodequalquerespéciedeanimalquecomprometaahigieneetranquilidadedoprédio.EssahipóteseécontempladaporLopes(2006,p.150)comodefácildeslinde,bastaqueserealizeaanálisedocasoconcreto,bemcomoanormacondominialestáemconformidadecomlei.Monteiro(2012,p.298)tambémressaltaa necessidade de se provar o incômodo causadopelo animal doméstico aos demaiscondôminos.

Poroutrolado,Monteiro(2012,p.163)consideraaanálisedocasoconcretodifícil,porque existe subjetividade nos quesitos sensibilidade e tolerância das pessoas quevivemnoprédio.Assim,Pereira(2009,p.182)introduzumametodologianosentidode que a análise do caso concreto deve partir do dano causado e da verificação daexistênciadetolerânciadacondutadovizinho.

Alémdisso,nointuitodeserealizaraanálisedocasoconcreto,paraesteautordevemser invocadosos“costumes”,os“usos locais”eoutroselementos impostospela lei,porexemplo,“naturezadautilização,localizaçãodoprédio,oatendimentoàsnormasque distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dosmoradoresdavizinhança”(PEREIRA,2009,p.183).

Contudo, Venosa (2011, p. 269) entende que a análise do caso concreto édiscricionáriaecabeaoPoderJudiciárioexaminarseponderaráointeresseindividualouocoletivo.Nessesentido,ponderaque“Bom-sensoéoqueseexigedojulgador,quandoaleilheoutorgaaconfiançadadiscricionariedade.Nuncasedeveesquecerdeque essa discricionariedade é do Poder Judiciário e não do juiz isoladamente. [...]”(VENOSA,2011,p.297).

Emquepeseadivergênciadoutrináriaacercadaanálisedocasoconcreto,noacórdãocitadonãoseverificatalanáliseemvirtudedaincidênciadoinstitutodarevelia.“Omais relevante dos efeitos da revelia é reputarem-se verdadeiros os fatos afirmadospelo autor [...]” (SANTOS, 2011, p. 558). No acórdão, os fatos narrados pelocondomíniodequeoanimalcausavatranstornosforamconsideradosverdadeirospornão estar dentre as hipóteses de exceção ao efeito da veracidade da alegação,conformeprescreveaLegislaçãoAdjetivaCível:

Art.319.Seoréunãocontestaraação,reputar-se-ãoverdadeirososfatosafirmadospeloautor.

Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigoantecedente:

I-se,havendopluralidadederéus,algumdelescontestaraação;

II-seolitígioversarsobredireitosindisponíveis;

III-seapetiçãoinicialnãoestiveracompanhadadoinstrumentopúblico,quealeiconsidereindispensávelàprovadoato(BRASIL,1973).

Assim, esta decisão que indeferiu a permanência do animal doméstico na unidadeautônomadocondomínioedilícioencontraguaridanadoutrinadeformaindiretaem

virtude da revelia aplicada. Ou seja, ao presumir como verdade que o animal eraresponsávelportranstornosaosdemaiscondôminosprevaleceuanormacondominial,consideradaporLopes(2006,p.150)emconformidadecomalei.

A decisão subsequente do ano de 2010 não permitiu a permanência do cão deestimaçãonocondomíniocombasenoregimentointerno:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DENÃO FAZER. CRIAÇÃO DE ANIMAL DOMÉSTICO EM UNIDADERESIDENCIAL DE CONDOMÍNIO. NORMA CONDOMINIALPROIBITIVA. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. DANOS MORAIS.EXERCÍCIOREGULARDEDIREITO.[...].

1.HavendonoRegimentoInternodoCondomíniovedaçãoàpermanênciade animais domésticos nas áreas comuns e nas unidades autônomas, nãomereceprosperarapretensãodoautoremresidirnacompanhiadeseucão,ainda que haja recomendação médica nesse sentido. [...] (DISTRITOFEDERAL,2010a).

Dointeiroteordadecisão,tem-sequeoautormantinhaumcãonaunidadeautônomaetambémseutilizavadasáreascomunsparapassearcomseuanimal,mesmodianteda disposição regimental proibitiva de ambas as condutas. Impende verificar peladoutrinaseoregimentopodetratardequestõesrelacionadasaanimaisdeestimação.

O regimento interno serve para detalhar as relações cotidianas do condomínio(DINIZ, 2007, p. 224), bem como disciplinar a utilização das áreas comuns(VENOSA, 2011, p. 370). Além disso, questão de animais domésticos emcondomíniosdeve ser regidapela convençãooupelo regimento interno (VENOSA,2011,p.381).Dessaforma,épossívelinferirqueoinstrumentoestatutárioregimentointernotambéméhábilpararegulamentaramatéria.

Diantedisso,pode-seutilizardemaneiraanalógicaaclassificaçãoadotadaporLopes(2006, p. 150) ao tratar da regulamentação acerca de animais em condomínios noinstrumentoconvenção,porqueadoutrinapermitequesereguleotemanoregimentointerno.Tendoemvista a informaçãoconstantedo inteiro teordo julgadodequeoregimento interno do condomínio proíbe a permanência de animais domésticos esilvestresnasáreascomunsenasunidadesautônomas,ocasoenquadra-senoitemBdaclassificaçãoadotadaporLopes(2006,p.150).

Ouseja,“aconvençãoéexpressa,proibindoaguardadeanimaisdequalquerespécie”(LOPES, 2006, p. 150), o que para este caso, em face da doutrina apontar a

possibilidadederegulamentaçãopeloregimentointerno,aassertivaaserconsideradaseria: o regimento interno é expresso, proibindo a guarda de animais de qualquerespécie. Trata-se da hipótese mais difícil de ser solucionada porque não se podeafirmar que a norma condominial se sobrepõe às particularidades do caso concreto(LOPES,2006,p.150-151).

Entretanto,oacórdãonãoanalisouamatériadefato,poisnãohouvequestionamentoacerca da tríade dos direitos de vizinhança, e decidiu com base na existência devedação da presença de animais no regimento. Em que pese a existência dedivergênciadoutrinária jáexpostasobreasubjetividadeounãodaanálisedeocasoconcreto, não há divergência no ponto de que tal análise deve acontecer(MONTEIRO,2012,p.298;VENOSA,2011,p.378).

Alémdeadoutrinaapontaranecessidadedeseanalisarocasoconcreto,háqueseconsiderarapositivaçãodealgunsinstitutosnoordenamentojurídicopátrio:sossego,salubridade e segurança, deveres estes de cada condômino (BRASIL, 2002); bemcomoa tentativadesemanter incólumea tríadedosdireitosdevizinhança–saúde,segurançaesossego(BRASIL,2002).

Nesse sentido, impende destacar que a doutrina não permite regulamentaçãocondominialcontráriaàlei(PEREIRA,2009,p.163;VENOSA,2011,p.369;DINIZ,2007,p.224).Mas,nãohánoordenamentojurídicoqualquerdispositivoquevedearegulamentação mediante normas condominiais do tema animais domésticos napropriedadecomumouexclusivadosedifíciosverticais.

Portanto,doconfrontoentreojulgadoeajurisprudênciapercebe-seestaralinhadooentendimento de que se pode regular a matéria animal doméstico em norma deregimento interno.Mas, verifica-se posição contrária em relação à análise do casoconcreto,queparaotribunaléprescindívelenquantoparaadoutrinaéindispensável.

O caso seguinte foi publicado em 2011 e o inteiro teor decidira pela vedação dapermanência de cães em condomínios com base em três pilares – previsão emconvençãodecondomínio,aovedarapermanênciadeanimaisquecomprometamahigiene e a tranquilidade do prédio; na perturbação de outros condôminos; e narevelia.Segueaementa:

AÇÃODEDANO INFECTO.CRIAÇÃODECÃESEMAPARTAMENTO.EXISTÊNCIA DE NORMAS RESTRITIVAS NA CONVENÇÃOCONDOMINIAL. PERTURBAÇÃO DOS DEMAIS MORADORESCOMPROVADA.REVELIA.IMPOSIÇÃODERETIRADADOSANIMAIS.

Havendo,naconvençãodocondomínio,vedaçãoàmanutençãodeanimaisquecomprometamahigieneeatranquilidadedoprédio,adeterminaçãodequeoscãesdarésejamretiradosdoapartamentoémedidaqueseimpõe,máxime diante da revelia e da comprovação de que os ruídos e o maucheiro dos animais se tornaram intoleráveis pelos demais moradores(DISTRITOFEDERAL,2011).

No acórdão, a vedação tratada na norma condominial acerca da manutenção deanimais domésticos pode ser classificadano itemCdeLopes (2006, p. 150): “c) aconvençãoéexpressa,vedandoapermanênciadeanimaisquecausemincômodoaoscondôminos”. Hipótese esta considerada pelo autor de fácil deslinde, posto que anorma condominial deva ser aplicadadesdeque comprovadoo transtorno (LOPES,2006,p.150).

Nesse sentido, a análise do caso concreto é imperiosa para definir se o animaldoméstico pode ou não continuar no apartamento (MONTEIRO, 2012, p. 298;VENOSA,2011,p.378;LOPES,2006,p.150-151).Ocorrequealémdaassinaturadevizinhos que informaram transtornos ligados ao sossego e à saúde (barulhos emaucheiro, respectivamente), fora aplicada a revelia, instituto responsável por presumirverdadeirososfatosalegadospeloautor(SANTOS,2011,p.558).

Logo,ojulgadoestáemsintoniacomadoutrinaporqueseverificouocasoconcretomedianteprovasdetranstornoscausadosaosvizinhospelosanimais,emseguidafoiaplicada a presunção de que os fatos alegados eram verdade. Esses pontosdeterminaramaprevalênciadanormacondominialsobreapermanênciadoscães.

Publicadonoanode2012,opróximoacórdãoindeferiuapermanênciadeanimaisnocondomíniocombasenapresençadenormacondominial,quevedaexpressamenteapresençadeanimais,bemcomonaexistênciadebarulhodoscãesemfacederelatosdevizinhos.Segueaementa:

CONDOMÍNIO.CONVENÇÃO.PROIBIÇÃODESEMANTERANIMAISNASUNIDADESAUTÔNOMAS.HONORÁRIOS.

1- Se, na convenção do condomínio, há expressa vedação de manteranimaisemunidadesautônomase,noexamedaprovaedascircunstânciaspeculiares do caso, depreende-se que o animal causa incômodo etranstornoaosmoradores,prevaleceoestipuladonaconvenção.

2- Aquele que dá causa ao ajuizamento da ação é obrigado a pagar ascustasehonorários,emobservânciaaoprincípiodacausalidade.

3-Apelaçãonãoprovida(DISTRITOFEDERAL,2012).

Daanálisedointeiroteor,ocasoenquadra-senoitemBdaclassificaçãoadotadaporLopes (2006, p. 150), “a convenção é expressa, proibindo a guarda de animais dequalquerespécie”,alémdoque“difícilésolucionarahipótese”.Issoporqueopontoprincipalencontra-senacomprovaçãode“incômodoouameaçaàsegurançaehigienedosdemaiscondôminos”(LOPES,2006,p.151).

Ocorre que a análise do caso concreto restou prejudicada porque o condôminomudou-se do condomínio. Mas, mesmo assim, houve decisão com base na normacondominial e nas reclamações dos vizinhos para condenar o condômino aopagamentodascustasprocessuaisedoshonoráriosdesucumbência.

Ante todo o exposto nos acórdãos acima confrontados com a doutrina, verifica-seindeferimentodapermanênciade animaisdomésticosnasunidadesde condomíniosem edifícios nos julgados em trâmite sob o rito ordinário ou sumário, os quais oraconvergemoradivergemdadoutrina,podendoassimdividi-los:

a)Argumentosconvergentes:

Restriçõesaodireitodeusarapropriedade;Restriçõesaosdireitosdevizinhança;Convençãoeregimentosãoatosnormativosaplicáveisatodososcondôminos;Revelia (no sentido da doutrina em virtude da presunção de veracidade dosfatos);Provasrelacionadasaostranstornoscausadospeloanimaldoméstico.

b) Argumentos divergentes (posicionamento do tribunal x posicionamento dadoutrina):

Forma de analisar o incômodo e a perturbação (simples senso comum xsubjetividadedaanálisedoincômodo);Limiteslegaisàconvençãoeaoregimentointerno(podedisporsobreotemaxdeveestarlimitadopelalei);Análisedocasoconcreto(prescindívelximprescindível).

ProcedimentoSumaríssimo

Noprocedimentosumaríssimohátrêsacórdãos,doisdoanode2009eumde2013,

quedecidiramnosentidodeindeferimentodapermanênciadeanimaisdomésticosnasunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.Oprimeirodelesdecidiucombasenapresença de regimento interno e de convenção de condomínio proibitivos e naimpossibilidade do Juizado Especial declarar a legalidade ou ilegalidade da normacondominial,segueaementa:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CRIAÇÃO DE CACHORRO EMUNIDADERESIDENCIALDECONDOMÍNIO.NORMACONDOMINIALPROIBITIVA. DEVER DE OBSERVÂNCIA. INCONFORMISMO DAAUTORA, AO ARGUMENTO DE NULIDADE DA CONVENÇÃO DECONDOMÍNIO, BEM COMO DA NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DOANIMAL POR INDICAÇÃO MÉDICA. INCABIMENTO. JUIZADOSESPECIAIS. SENTENÇA QUE BEM JULGOU A ESPÉCIE, MANTIDAINTEGRALMENTE. APELO IMPROVIDO. 1. Em sede de JuizadosEspeciais,incabívelaçãodeclaratóriaincidental,nãopodendoestaTurmaRecursal, portanto, declarar a legalidade ou não da convençãocondominial,conformepretendeaautora,oraapelante.2.ConsiderandoaConvenção e o Regimento Interno Condominial, que deliberaram pelaproibiçãodapermanência de animais em suas dependências ouunidadesautônomas, incabível a prevalência do interesse individual de um doscondôminossobreavontadecoletivadoCondomínio,comodesejaaautoraao alegar a necessidade de criação de animal doméstico por prescriçãomédica. 3. Sentença mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos,comSúmuladejulgamentoservindodeAcórdão,naformadoartigo46daLei nº 9.099/95. Honorários advocatícios fixados em 10% do valor dacausa, mais custas processuais, a cargo da recorrente (DISTRITOFEDERAL,2009a).

A declaração de legalidade ou de ilegalidademediante ação declaratória incidentalpelos Juizados Especiais, apesar da importância, não é objeto de análise destapesquisa,motivopeloqualnãoseráabordada.Contudo,apartequetratadaexistênciadenormasestatutáriasproibitivasdeanimaisdomésticosestáemanáliseemvirtudedotemaemquestão.

Assim,verifica-sequeocasoamolda-senoitemBdaclassificaçãoadotadaporLopes(2006,p.150),ouseja,“aconvençãoéexpressa,proibindoaguardadeanimaisdequalquerespécie”,hipóteseconsideradapeloautordedifícilsolução.Ofundamentodessaabordageméoseguinte:

[...] o fato da guarda de animais não caracteriza violação à convenção,impondo-lhesempreperquirirsobreaexistênciadeincômodoaosvizinhos

ouameaçaàsuasegurança.[...]Odeslindedoproblemanãoestá,portanto,sónofatodaguardaoupermanênciadoanimalnoapartamento,massimnoincômodo ou ameaça à segurança e higiene dos demais condôminos. [...]não se podendo, a priori, afirmar a prevalência da convenção sobre aspeculiaridadesdecadacasoconcreto(LOPES,2006,p.151).

Dessaforma,maisumavezinvoca-seanecessidadedeverificarocasoconcretoparadeterminarseoanimalpodeounãopermanecernaunidadeautônomadocondomínio(MONTEIRO,2012,p.298;VENOSA,2011,p.381).Entretanto,osjulgadoresnãoentenderam dessa maneira e acordaram no sentido da prevalência da vontade damaioriadocondomínio,estaformalizadaemnormasestatutárias,emfacedointeresseindividual.

De fato, a doutrina assenta que a vontade da maioria formalizada nas normasestatutárias deve prevalecer sobre a individual (PEREIRA, 2009, p. 163; LOPES,2006, p. 79-80;VENOSA, 2011, p. 367), desde que estes instrumentos não tragamobrigaçõescontráriasàlei(PEREIRA,2009,p.163;VENOSA,2011,p.369).Enocaso de animais nos condomínios deve-se verificar o caso concreto (MONTEIRO,2012,p.298;VENOSA,2011,p.381).

Tendoemvistaqueo julgadodecidiucombasenapresençadanormacondominialsem perquirir outros aspectos, resta prejudicada a análise da doutrina na parterelacionadaaosdireitosdevizinhançanocasoemtela.Logo,verifica-sedissonânciaentre o julgado e a doutrina em relação ao caso concreto, prescindível eimprescindível, respectivamente.Háconsonânciaexclusivamentenoquese refereàprevalênciadavontadedamaioriadoscondôminoscontraa individual,excluídasasressalvasapresentadaspeladoutrina.

Apróximadecisãoénomesmosentidodoacórdãoanterioreindeferiuapermanênciadecãonaunidadeautônomadocondomíniocomfulcronoregimentointerno.Assim,aanáliseanteriorécabívelparaaseguinteementa:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CRIAÇÃO DE ANIMALDOMÉSTICO EM UNIDADE RESIDENCIAL DE CONDOMÍNIO.ALEGAÇÃO DE COMPROMETIMENTO À SAÚDE E SOSSEGO NOEDIFÍCIO. NORMAS INTERNAS RESTRITIVAS E PROIBITIVAS.PREVALÊNCIADAVONTADEDAMAIORIA.

1–OCódigoCivilde2002eaLei4.591/64contemplamaprevalênciadodireitodamaioriaquandoemcontraposiçãoapostulaçõesminoritáriasquenãotenhamconotaçãojurídicadeproteçãoàidentidade,àconsciênciaea

valoresétnicosdeminorias.

2 - Havendo nas previsões normativas internas condominiais disposiçõesproibitivaserestritivasàcriaçãodeanimaisdomésticos,afigura-seafrontaàvontadedamaioriaapermanênciadecãoemunidaderesidencial.

3–Recursoconhecidoeimprovido(DISTRITOFEDERAL,2009b).

Todavia,umadivergênciaencontradaentreajurisprudênciaeadoutrinaéacercadaLeiNº4.591/64.Aprimeiraautilizacomofundamentoparanegarapermanênciadoanimalnapartequetratadedeverdocondôminoobrigatoriamenterespeitaranormacondominialaprovada.Emsentidocontrário,partedadoutrinaconsiderarevogadaapartedareferidaleiquetratadoscondomíniosespeciaisemvirtudedeoCódigoCivilde 2002 ter abordado o tema Condomínio Edilício (MONTEIRO, 2012, p. 291;VENOSA,2011,p.360).

Apesar do indeferimento da permanência do animal no condomínio, a seguintedecisão de 2013 difere das anteriores pela presença de norma condominial queautorizaapermanênciade01(um)animaldomésticodepequenooudemédioporteemcadaunidadeautônomadocondomínio.

JUIZADOESPECIAL.CONDOMÍNIO.CONVENÇAOQUEAUTORIZAAPOSSE DE 01 (UM) ANIMAL DOMÉSTICO DE PEQUENO/MÉDIOPORTE POR UNIDADE HABITACIONAL. CONDÔMINO QUEEXTRAPOLATALPREVISÃOAOPOSSUIR03(TRÊS)ANIMAISEMSUAPOSSE. IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO. PREVALÊNCIA DANORMA PROIBITIVA PREVISTA NA CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIOPOR EXPRESSAR A VONTADE DA MAIORIA QUALIFICADA.RECURSOCONHECIDOEIMPROVIDO.SENTENÇAMANTIDA.

1.Quandoumapessoasedispõeaconvivercomoutrasemumaestruturahierarquizada como um condomínio sabe que terá que abrir mão deparcelasdesuasliberdadesindividuaisparaqueaordemeboaconvivênciasejammantidas.

2. Compulsando os autos, vislumbra-se a autorização que o condomínio,porsuamaioriaqualificada,deuacadacondôminodepossuir01animaldepequeno/médioporteemsuaunidadehabitacional.

3.Aoextrapolarestenúmero,ocondôminonãopodeexigirqueseusparesse submetam às suas lilberalidades, sendo que aquele coloca em risco atranqüilidade e até a salubridade de toda uma coletividade (DISTRITO

FEDERAL,2013a).

AhipóteseacimanãopodeserenquadradanaclassificaçãoadotadaporLopes(2006,p.150)porqueanormacondominialpermitiaapermanênciadebichodeestimação,contudolimitava-seàquantidade(umanimalporunidadeautônoma).Verifica-senojulgadoqueocondôminopossuíatrêsanimais.

Assim, o acórdão decidiu no sentido de que ao extrapolar o número de animaispermitidonanormaestatutáriaocondôminoestariaexigindodosoutrosasubmissãoàsuas liberalidades e estaria colocandoem riscoo sossegoe a saúdeda coletividadecondominial. Não se pode olvidar que a doutrina, para os casos de animais emcondomínios, ressalta a necessidade de verificação do caso concreto (MONTEIRO,2012,p.298;VENOSA,2011,p.378),oquenãofoilevadoemconsideraçãoquandodadecisãocitada.

Emquepeseoacórdãoreferirqueocondôminoestariacolocandoemriscoasaúdeeosossegodosdemaiscondôminos,adoutrinaentendequenãobastacolocaremrisco,mas se deve provar o transtorno (LOPES, 2006, p. 151; VENOSA, 2011, p. 381;MONTEIRO,2012,p.298).

Dessaforma,osacórdãosdeindeferimentoproferidosnoprocedimentosumaríssimoconvergem com a doutrina na parte que trata da prevalência da vontade dacoletividade condominial em face da vontade individual, excluídas as hipóteses departedadoutrinanoqueserefereaorespeitoouconformaçãoàlei.Eadivergênciaencontradaabarcaocasoconcreto,prescindívelparaos julgadorese imprescindívelparaosestudiososdodireito.

Deferimento referente à permanência de animais domésticos emapartamentos

A seguir serão analisadas, de acordo com o rito, as jurisprudências do Tribunal deJustiçadoDistritoFederaleTerritóriosacercadotemaquedeferiramapermanênciade animais domésticos em apartamentos no sentido de extrair os argumentos econfrontá-loscomadoutrinaecomaprópriajurisprudência.

ProcedimentoOrdinárioouSumário

Oprimeiroacórdãoquedeferiupelapermanênciadeumcãonaunidadeautônomaéde 1998, um ano após o primeiro que indeferira. No caso, o regimento internocondominial permitia a permanência de animal de pequeno porte, contudo a norma

condominialfoialteradaparavedaramanutençãodequalquercãonosapartamentosouáreascomuns,oqueprovocouaaplicaçãodemultasaocondômino,conformeadecisão:

CONDOMÍNIO. CRIAÇÃO DE CÃO EM APARTAMENTO.REGULAMENTOINTERNO.ALTERAÇÃOPARAVEDARACRIAÇÃODECÃES.COBRANÇADEMULTAS.

ÉnulaaalteraçãodoRegulamentoInterno,procedidacomquoruminferiorao exigido na Convenção do Condomínio. Prevalência do dispositivooriginal.

PermitindooRegulamentoInternoacriaçãodeanimaisdepequenoporte,nessa característica razoavelmente se enquadrando o cão criado pelacondômina,enãoprovadoqueelecauseriscoàsegurança,ouàsaúdedoscondôminos, ou que perturbe o seu sossego, improcede o pedido decobrança demultas, aplicadas por pretensa infringência aoRegulamentoInterno.

Apeloaquesenegaprovimento(DISTRITOFEDERAL,1998).

Daanálisedointeiroteor,verifica-sequeaalteraçãonoregimentoocorrerapelovotode10 (dez)condôminospresentes,masnoprédiohavia60 (sessenta)unidades.Eaconvenção do condomínio em questão determinava a alteração do regimento porcinquenta por cento mais um, ou seja, 31 (trinta e um) proprietários das unidadesexclusivas.Assim,aalteraçãoregimentalforaconsideradanulapelosjulgadores.

A Lei Nº 4.591/64 previa (alínea “m”, §3º, art. 9º) que o quórum e a forma deaprovação do regimento interno deveriam estar contidos na convenção.No caso, oquórum estava estabelecido em convenção. Mesmo que não houvesse, a doutrinaentendeque se a convençãode condomínionãodispuser sobre isso, o regulamentodeveseraprovadopormaioriasimples(VENOSA,2011,p.370),ouseja,cinquentaporcentomaisum,nocasoemtela31(trintaeum)votosafavordaalteração.Logo,identifica-seconvergênciadefundamentos.

Ademais,oacórdãoabordouquenão ficaracomprovadoo transtornoao sossego,àsaúde e à segurança dos demais condôminos,motivo pelo qual, alémde permitir amanutenção do animal nos moldes da norma condominial, afastou a aplicação demultasaocondômino.Esteéomesmoentendimentodadoutrina,nosentidodequenãobastacolocaremrisco,massedeveprovaro transtorno(LOPES,2006,p.151;VENOSA, 2011, p. 381;MONTEIRO, 2012, p. 298). Assim, observa-se mais um

pontoemsintoniaentreadoutrinaeajurisprudência.

A seguintedecisãopermitiu amanutençãodebichode estimaçãodepequenoportemesmodiantedapermanênciadenormacondominialproibitiva,consoanteementa:

OBRIGAÇÃO DE FAZER – CONDOMÍNIO – CONVENÇÃO EREGIMENTO INTERNO – MANTENÇA DE ANIMAL NASDEPENDÊNCIAS COMUNS – HIGIENE E TRANQÜILIDADE DOEDIFÍCIO–ANIMALDEPEQUENINOPORTE,BEMCUIDADOEQUENÃO COMPROMETE A VIDA DOS MORADORES – RECURSOCONHECIDO E DESPROVIDO, MAIORIA. Na regulamentação doscondomíniosdeedifícios,residenciaisounão,sesobressai,àevidência,aconvenção elaborada pela deliberação majoritária dos condôminos quecuida inclusive das normas atinentes ao uso e ao destino do imóvel,impondo direitos e deveres. É a lei que regulamenta a vida e o convívio,com normas de uso e limitações. É legal, pois, a cláusula que proíba aocondôminooupessoaqueporqualquerforma,ocupeaunidadehabitada,de possuir e manter animal que comprometa a harmonia do edifício,todavia, seorestritivo forquantoàhigienee tranqüilidade,estãoapenasaquelesno roteirodestaorientação,não incluindo,portanto, oanimaldepequeníssimoporte,bemcuidadoequenãoofereçanenhumdesassossegoouperigo.Assim,sóaprovacontraasupostanefastapresença(higieneetranqüilidade) pode obrigar o condômino a se desfazer do animal deestimação, e fora dessa certeza não há como ampliar a Convenção doCondomínio, salvo se houver modificação estatutária (DISTRITOFEDERAL,2001a).

Aoanalisaro inteiro teordoacórdão,percebe-sequeanormacondominialdocasoem tela proíbe a presença de animais domésticos que comprometam a higiene e atranquilidadedoedifício.Talhipóteseéconsideradadefácilresoluçãoeseenquadrano item C da classificação adotada por Lopes (2006, p. 150): “c) a convenção éexpressa,vedandoapermanênciadeanimaisquecausemincômodoaoscondôminos”.Assim, anormacondominial deve ser aplicadadesdeque comprovadoo transtorno(LOPES,2006,p.150).

Essefoiomesmoentendimentoapresentadono inteiro teordoacórdão,nosmoldesdoqueconsideraadoutrinaquandotratadostranstornosligadosàsaúde,aosossegoeà segurança de outros condôminos. Para tanto, é certa a necessidade da análise docaso concreto para definir se o animal doméstico pode ou não continuar noapartamento(MONTEIRO,2012,p.298;VENOSA,2011,p.378;LOPES,2006,p.150-151).

Nesse sentido, a decisão colegiada firmou que o condomínio apresentara merasassertivas de transtornos e não trouxera nada que pudesse demonstrar ameaçaconcreta ao sossego, à segurança ou à saúde dos condôminos, e como fundamentoinformouodescumprimentodoincisoIdoartigo333doCódigodeProcessoCivil:“O ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito”(BRASIL,1973).

Assim, deveria o condomínio demonstrar que o animal causava transtornos aosdemais condôminos de alguma forma.Ressalte-se, em relação a alguns julgados jáanalisados que indeferiram a permanência de animais nas unidades autônomas,verificou-seaaplicaçãodarevelia,semquefosseexigidaademonstraçãoconcretadetranstornos à saúde, à segurança e ao sossego dos demais condôminos (DISTRITOFEDERAL,2007;DISTRITOFEDERAL, 2011).Ou seja, daí extrai-se divergênciadentrodopróprioórgãodoPoderJudiciário.

Apartefinaldaementasuprademonstraqueseriapossívelcompelirocondôminoaretirar o animal de estimação do condomínio edilício, para tanto, bastaria amodificação estatutária. Dessa forma, ao alterar a norma condominial para proibirexpressamenteanimaldeestimação, semqualquer ressalva, taldispositivoamoldar-se-iaaoitemBdaclassificaçãopropostaporLopes(2006,p.150),bastantediscutidanas decisões de indeferimento da manutenção de animais nos condomínios, quelevariaaanálisedocasoconcreto.

Oseguinteacórdãodeferiuapermanênciadocãodemédioporteemfacedanormacondominial que vedava expressamente a criação de bichos sem qualquer ressalva.Ressalte-se, houve divergência entre os julgadores quando da decisão, mas amanutençãodoanimalfoigarantidapordoisvotosaum.

CONDOMÍNIO.CONVENÇÃO.PROIBIÇÃODESEMANTERANIMAISNASUNIDADESAUTÔNOMAS.

1 -Emboraexpressaaconvenção,proibindomanteranimaisdequalquerespécie na unidade autônoma, deve-se desprezar o fetichismo normativo,que pode caracterizar o “summum ius summa injuria”, reservando-se asolução do litígio ao exame da prova e das circunstâncias peculiares docaso.

2 – Demonstrado que se trata de animal de porte médio, inofensivo esaudável e que mantê-lo no interior do apartamento não traz qualquerincômodo, transtornoouperigoaosmoradores,mitiga-seadeterminaçãodaconvençãocondominial.

3–Apelaçãonãoprovida(DISTRITOFEDERAL,2008).

Dointeiroteordestadecisão,extrai-seaexistênciadenormacondominialqueproibiasem qualquer ressalva a presença de animais nos apartamentos, o que possibilitaenquadrar-seahipótesenoitemBdaclassificaçãoadotadaporLopes(2006,p.150),jádiscutidanosjulgadosdeindeferimento,ressalte-se,emespecial,anecessidadedaanálisedocasoconcretocomoelementohábiladefinirpelamanutençãoounãodoanimalnoapartamento.

Durante tal análise, a maioria de votos entendeu justa a permanência do bicho deestimação no apartamento com base na jurisprudência do Superior Tribunal deJustiça,especificamentenoREspnº12.166-0/RJ,publicadoem04/05/1992.OteordoreferidoREsp é embasadonos fundamentos apresentados porLopes (1990, p. 127-128).

Informa-se que tais fundamentos tratam da mesma classificação apresentada peloautoremobramaisrecente:“a)aconvençãodecondomínioéomissaarespeito;b)aconvenção é expressa, proibindo a guarda de animais de qualquer espécie; c) aconvençãoéexpressa,vedandoapermanênciadeanimaisquecausemincômodoaoscondôminos.”(LOPES,2006,p.150).

Naanálisedocasoconcreto,verificou-sequeocondôminoapresentoulaudotécnicoemitidopormédicoveterináriodascondiçõesdesaúdedoanimal,bemcomosetratade animal dócil. Logo, demonstrou o fato constitutivo de seu direito, conformedeterminaoincisoIdoartigo333doCódigodeProcessoCivil(BRASIL,1973).

Poroutro lado,conformeo julgado,ocondomínionãocomprovouqueoanimaldeestimaçãoofereciariscoàsegurançaouaoincômododeoutroscondôminos,motivopelo qual se optou pela manutenção do animal no apartamento. Dessa forma, oacórdão reproduziu fundamento exposto no juízo da primeira instância, ou seja, oinciso IIdoartigo333doCódigodeProcessoCivil:“Oônusdaprova incumbeaoréu, quanto à existência de fato impeditivo,modificativo ou extintivo do direito doautor.”(BRASIL,1973).

Assim,demonstra-seoalinhamentoentreadoutrinaeajurisprudência,oumelhor,ajurisprudência utilizando-se da doutrina para decidir a vida dos indivíduos quandoinvocaotermo“fetichismonormativo”abordadoporLopes(2006,p.151),bemcomoaclassificaçãodoautor (LOPES,2006,p.150).Ademais, a títulode informação,aexpressão“summumiussummainjuria”estárelacionadaàteoriadoabusodedireitoequer“demonstrarqueajustiçaexageradasetransformaeminjustiça”(STOCO,2002,p.60).

Opróximoacórdãodeferiuapermanênciadoanimaldomésticonaunidadeautônomadocondomínioemfacedenormacondominialqueproibiatalcondutasemqualquerressalva.Diferentementedosjulgadosanteriores,oprincipalfundamentoabordadofoiodireitodepropriedadedocondômino,conformeseverificapelaementa:

DIREITO CIVIL. CRIAÇÃO DE ANIMAL DOMÉSTICO (CÃO) EMAPARTAMENTO. PREVISÃO NO REGIMENTO INTERNO DOCONDOMÍNIO. NORMA GERAL, SEM QUALQUER RESSALVA.VIOLAÇÃO DA LIBERDADE INDIVIDUAL DOS CONDÔMINOS. APROIBIÇÃO GENÉRICA, SEM QUALQUER RESSALVA, DE MANTERANIMALDOMÉSTICONASDEPENDÊNCIASCOMUNSDOEDIFÍCIO,É FATOR LIMITADOR DO DIREITO DE PROPRIEDADE DARECORRENTE(DISTRITOFEDERAL,2006).

O inteiro teor aponta norma condominial que proíbe a permanência de animaisdomésticossemqualquer ressalva,apta,portanto,àclassificaçãoadotadaporLopes(2006, p. 150) no item B, já discutido anteriormente. Diante do fato de que ocondomínio nãodemonstrouqualquer violação relacionada ao sossego, à segurançaouàsaúde,permitiu-seamanutençãodoanimal.

Ademais, quando a decisão refere que este tipo de norma condominial viola aliberdadeindividualdoscondôminos,vaiaoencontrodadoutrinanopontodequetaisregrasdevemestar limitadaspela lei (PEREIRA,2009,p. 163;VENOSA,2011,p.369;DINIZ,2007,p.224).

Tambémvaiaoencontrodadoutrinaoacórdãoporqueodireitodepropriedadenãoéabsoluto e existem restrições à sua utilização (SILVA, 2005, p. 280; CARVALHO,2011, p. 703), por exemplo, os direitos de vizinhança (MONTEIRO, 2012, p. 160;VENOSA, 2011, p. 290), especialmente na parte que trata do uso anormal dapropriedade (DINIZ, 2007, p. 265;VENOSA,2011, p. 298;MONTEIRO,2012, p.163),cujanecessidadedeanálisedocasoconcretoémanifesta(MONTEIRO,2012,p.163;PEREIRA,2009,p.183;VENOSA,2011,p.297).

Adecisão abaixo deferiu, pormaioria, a permanência do cão na unidade autônomapordois requisitos: inexistênciade transtornosà segurança,à saúdeeaosossego,epelarecomendaçãomédicaepsicológicadamanutençãodoanimaljuntamentecomofilhodoscondôminos,conformeaementa:

PROCESSO CIVIL E CIVIL. PRELIMINARES. ILEGITIMIDADE ATIVAAD CAUSAM. CERCEAMENTO DE DEFESA. AFASTAMENTO.CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. ANIMAL DOMÉSTICO. CONVENÇÃO.

PROIBIÇÃO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO.TOLERÂNCIA.

[...]

II – A vedação constante da convenção de condomínio de criação deanimais nas unidades autônomas não pode prevalecer ante àspeculiaridades do caso concreto, pois se trata de cachorro de pequenoportequenãorepresentaincômodo,perturbaosossegoouseconstituaemameaça à saúde e à segurança dos demais condôminos. Depois, aconvivência com o cão de estimação foi recomendada por médico epsicólogosresponsáveispelotratamentodoquadrodepressivodofilhodosautores,comomeioimportanteefacilitadordesuarecuperação.

III–Deu-seprovimento.Maioria(DISTRITOFEDERAL,2007b).

Subtrai-sedaanáliseapartequetratadailegitimidadeedocerceamentodedefesapornão ter relaçãocomoobjetoespecíficodesteestudo.Acercadanormacondominialproibitiva,enquadra-senoitemBdaclassificaçãopropostaporLopes(2006,p.150).Os fundamentosdadecisãoconvergemcomadoutrinaacercadanecessidadede severificar o caso concreto (MONTEIRO, 2012, p. 298; VENOSA, 2011, p. 378;LOPES,2006,p.150-151),cujaverificaçãopossibilitouadecisãopelapermanênciadocão.

No que se refere à prescriçãomédica e psicológica para tratar da saúdemental dofilhodoscondôminoscomofundamentoparamanterocãodeestimaçãonaunidadeautônoma,não foiencontradosuportenadoutrina revisadaneste trabalho.Contudo,najurisprudênciadopróprioTJDFTjásedecidiupeloindeferimentodapermanênciade animais, em julgados posteriores (DISTRITO FEDERAL, 2009a; DISTRITOFEDERAL, 2010a), que a prescrição médica não é apta para afastar a normacondominial.

Interessante notar que a próximadecisãoutiliza-se de fundamentodiferenciadodosjulgadosatéaquianalisados,poisabordaoinstitutosurrectio,conformeseverificadaementa:

CRIAÇÃODEANIMALDOMÉSTICO.CONDOMÍNIO.VEDAÇÃOCONTIDANASNORMASREGIMENTAIS. EXIGÊNCIADECUMPRIMENTOCONTIDAEMSENTENÇAJUDICIAL. INEXISTÊNCIADEADVERTÊNCIAANTERIOR.SURRECTIO.

Inexistindo prova nos autos de que o condomínio, de alguma forma, tenha

tentado dar cumprimento à norma prevista em sua convenção, advertindo ouproibindocondômino,queparalásemudou,decriarumanimaldomésticodepequeno porte em sua unidade autônoma, tem-se por ocorrido o fenômenoconhecidoporsurrectio,nãopodendoeleagoraexigirasaídadoanimal,pelodecursodetempo(DISTRITOFEDERAL,2010b,grifooriginal).

Antesdeconfrontaroinstitutodasurrectiocomadoutrinaapresentadanestetrabalhoéimportanteentende-lo.Paratanto,necessárioabordartambémoinstitutosupressio.Ressalte-se que ambos não são positivados no ordenamento jurídico de formaexplícita,entretantoosinstitutossãoabordadosdoutrinariamentenoassunto“boa-féobjetiva”,inseridosna“teoriageraldoscontratos”(TARTUCE,2011,p.507-509).

Demaneirasucinta,asupressioéasupressãoouperdadeposiçãojurídicaoudeumdireitonãoexercidocomopassardotempo,enquantoasurrectioéosurgimentodeumdireitoemvirtudedoscostumes,dapráticaedosusos(TARTUCE,2011,p.507).Assim, entenderam os julgadores que o fato de o condomínio não ter advertido ocondôminodaproibiçãodacriaçãodeanimalconfigurou-seasurrectiopelodecursode tempo, portanto, permitiu-se a permanência do animal de estimação na unidadeautônomadocondomíniohorizontal.

Poroutrolado,aconvençãodecondomíniopareceumcontrato,masnãoéporqueseaplicaaoscondôminosquenãoparticiparamdaformaçãodoinstrumento(PEREIRA,2009,p.163),logosetratadenormaestatutáriaouinstitucional(LOPES,2006,p.79-80). Logo, ao utilizar a surrectio, verifica-se divergência com a doutrina porque anormacondominialnãoécontrato.

Além do que a surrectio parece incompatível com a imprescritibilidade, qualidadeestaintrínsecaaosdireitosdevizinhança,porquenadaimpedeoajuizamentodenovaação tendo em vista a imprescritibilidade dos direitos de vizinhança, ou seja, osimplesdecursodeprazonãoelideodireitodeacionarajustiça(VENOSA,2011,p.293). Assim, em que pese a síndica tenha admitido em juízo a não violação dosdireitosdevizinhançapelacadela,nadaimpedequetalfatoaconteça,oqueconfirmaopensamentodeVenosa(2011,p.293).

Ointeiroteordoacórdãoabaixoconfirmouasentençaproferidapelojuizdeprimeirograuepermitiuamanutençãodosanimaisdaespéciegatonaunidadeautônomaemface da norma condominial proibitiva de permanência de quaisquer animaisdomésticos nas unidades autônomas do condomínio edilício. Disponibiliza-se aementa: “APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONDOMÍNIO.ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. PERIGO NÃO DEMONSTRADO.RAZOABILIDADE.”(DISTRITOFEDERAL,2013c).

Talproibiçãodanormapodeserclassificadano itemB tratadoporLopes (2006,p.150), jádebatidonesteestudoa imprescindibilidadedeseverificarocasoconcreto.Ocorre que o condomínio edilício não comprovou que os gatos traziamintranquilidadeaosdemaiscondôminos,ouseja,nãocumpriuoCódigodeProcessoCivilpornãodemonstrarrequisitoindispensávelconstantedoincisoIdoartigo333:“O ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito”(BRASIL,1973).

Diantedetodooexpostonapartequeserefereaodeferimentodesemanteranimaisnas unidades autônomas que tramitaram no procedimento ordinário ou no sumário,verificam-senomesmosentidoosseguintesfundamentosabordadosnadoutrinaenajurisprudênciadoTJDFT:

Quórumdealteraçãodoregimentointerno;Provadetranstornoaosossego,àsaúdeouàsegurança;Fetichismonormativoesummusjussummainjuriacomoconsequência;Violaçãodaliberdadeindividualdecondôminos;Odireitodepropriedadenãoéabsoluto;Necessidadedeverificarocasoconcreto.

Tambémsãoargumentosnomesmosentidoentrealeieajurisprudêncianapartequetratadoônusdaprova:

Oautordevedemonstrarofatoconstitutivodeseudireito;Oréudeveprovarofatoqueimpeça,modifiqueouextingaodireitodoautor.

Todavia,divergeajurisprudênciaeadoutrinaemrelaçãoaoinstitutosurrectio:

Porqueanormacondominialnãoécontrato,massimestatutária,deacordocomadoutrina;E porque a ação judicial referente aos direitos de vizinhança é imprescritível,consoanteadoutrina.

A jurisprudência diverge dela mesma no Tribunal de Justiça do Distrito Federal eTerritórios:

Aplicaçãoda revelia comverificaçãoounãodo fato constitutivododireitodaparteautora;Aptidãoounãodaprescriçãomédicaparaafastarnormacondominialproibitivadeanimaisdomésticos;Prevalência, de plano, da norma condominial proibitiva da permanência deanimaldomésticoouaanálisedocasoconcreto.

ProcedimentoSumaríssimo

No procedimento sumaríssimo apresenta-se único caso de deferimento dapermanência de animal doméstico em unidade autônoma de condomínio edilício,segueaementa:

DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. PROBIÇÃO DE ANIMAIS DEESTIMAÇÃOEMCONDOMINIORESIDENCIAL.

[...]

2–Avedação,purae simples,damantençadeanimaisdeestimaçãoemunidadehabitacionaldecondomínioresidencialnãoéadmissível,conformeprecedente do Ef. STJ (REsp 12166 / RJ RECURSO ESPECIAL1991/0012998-4MinistroSÁLVIODEFIGUEIREDOTEIXEIRA).Trata-sederestriçãoabusivaedesproporcional,namedidaemqueinterferenavidaprivadadocidadão.

3–OCondomínio,porsuaConvenção,pode,edeve,proibirapresençadeanimaisquerepresentemriscoàsegurança,àsaúdeouàtranquilidadedacoletividade,situaçãoquenãoseenquadranocasopresente,emqueoréunotificouaautorapelasimplespresençadeumcãopequeno,semqualquervinculaçãoespecíficaaatoqueponhaemriscoasegurançacoletiva.[...]

4 – Não obstante, a sentença comporta obtemperamento, no sentido depermitiraoCondomínioque,noâmbitodesuasatribuições legais,possa,eventualmente, apurar atos concretos que importem em violação aosdireitos de vizinhança em razão da guarda do animal referido. [...](DISTRITOFEDERAL,2013b).

Do inteiro teor é possível identificar que o deferimento da manutenção do animaldomésticoestáatreladoaosfundamentosconstantesdoREspnº12.166-0/RJ,queporsua vez embasa no entendimento de Lopes (2006, p. 150) no sentido de que aoanalisar o caso concreto e ao verificar a inexistência de transtornos à segurança, àsaúde e ao sossego, deve-se mitigar a norma regimental. Assim, percebe-se aconvergênciaentreajurisprudênciaeadoutrina.

ConsideraçõesfinaisOpresentetrabalhoteveporescopoaanálisedajurisprudênciadoTJDFTde1997a2013 acerca da manutenção de animais domésticos em unidades autônomas decondomíniosedilícios,embuscadequaisargumentos sãoutilizadosparadeferirouindeferirapermanênciadebichosdeestimaçãonosapartamentos.

O primeiro capítulo tratou das principais doutrinas referentes ao direito depropriedade e se iniciou com a apresentação da origem e domodo de evolução dapropriedade. Em seguida foi abordada a propriedade e as suas limitações.Posteriormente delineou-se o conceito de propriedade e suas faculdades ou seuspoderesnoâmbitododireitocivil.

Já o segundo capítulo apresentou a revisão bibliográfica referente aos direitos devizinhançaeaoscondomíniosedilícios.O iníciodestecapítulo tratoudosdireitosedeveresdevizinhançanoqueserefereàutilizaçãonormalouanormaldapropriedade.Emseguidaforamdiscutidasasnormaseasdoutrinasrelacionadasaoscondomíniosedilíciosnoquetangeaosinstrumentosjurídicosinternoseaosdireitosedeveresdoscondôminosaptosàanálisedotema.

E o terceiro capítulo incumbiu-se da apresentação e da análise jurisprudencial. Ocapítulo se iniciou comasmanifestaçõesdoSuperiorTribunalde Justiça acercadotema. Em seguida foi analisada a jurisprudência do Tribunal de Justiça doDistritoFederaleTerritóriosde1997a2013relacionadaaotema,pararesponderaperguntadoproblemadepesquisa,ouseja,quaisforamosargumentosutilizadospeloTJDFTparadeferirouindeferiraguardadeanimaisdomésticosemunidadesautônomasdecondomíniosedilícios.

Da análise dos julgados que tramitaram sob o rito ordinário ou sumário e que foiindeferida a permanência de animal doméstico em apartamentos, os seguintesargumentos doTJDFT foram convergentes com a doutrina: restrições ao direito deusarapropriedade;restriçõesaosdireitosdevizinhança;convençãoeregimentosãoatos normativos aplicáveis a todos os condôminos; revelia (no mesmo sentido dadoutrinaemvirtudedapresunçãodeveracidadedosfatos);eprovasrelacionadasaostranstornoscausadospeloanimaldoméstico.

Poroutrolado,aindaemrelaçãoadecisõesdeindeferimentoquetramitaramnoritoordinárioousumário,osseguintesargumentosdivergementreoTJDFTeadoutrina,respectivamente: forma de analisar o incômodo e a perturbação (simples sensocomum x subjetividade da análise do incômodo); limites legais à convenção e ao

regimentointerno(podedisporsobreotemaxdeveestarlimitadopelalei);análisedocasoconcreto(prescindívelximprescindível).

Ainda acerca do indeferimento, contudo no rito sumaríssimo, convergem com adoutrinanapartequetratadaprevalênciadavontadedacoletividadecondominialemface da vontade individual, excluídas as hipóteses de parte da doutrina no que serefere ao respeito ou conformação à lei. E a divergência encontrada abarca o casoconcreto, prescindível para os julgadores e imprescindível para os estudiosos dodireito.

Em relação às decisões de deferimento, tramitadas no rito ordinário ou sumário,referente à permanência de animais nas unidades autônomas, há sintonia entre oTJDFT e a doutrina nos seguintes assuntos: quórum de alteração do regimentointerno;provadetranstornoaosossego,àsaúdeouàsegurança;fetichismonormativoesummusjussummainjuriacomoconsequência;violaçãodaliberdadeindividualdecondôminos;odireitodepropriedadenãoéabsoluto;eanecessidadedeverificarocasoconcreto.

Contudo,aindanodeferimentoquetramitounoritoordinárioousumário,adoutrinadivergedoTJDFTacercadousodoinstitutosurrectioporqueanormacondominialnão é contrato, mas sim estatutária, bem como as ações judiciais referentes aosdireitosdevizinhançasãoimprescritíveis.

Noquetangeàdecisãodedeferimentoquetramitounoritosumaríssimo,verifica-seconsonânciaentreadoutrinaeajurisprudêncianosentidodequeaoanalisarocasoconcretoeaoverificarainexistênciadetranstornosàsegurança,àsaúdeeaosossego,deve-semitigaranormaregimental.

Finalmente,ajurisprudênciadoTJDFTdivergedelaprópriaquando:abordaaplicaçãodarevelia,deve-severificarounãodofatoconstitutivododireitodaparteautoranosentidodedemonstrar transtornosdevizinhança?; tratadaprescriçãomédica,estaéapta ou não para afastar norma condominial proibitiva de animais domésticos?; aexistênciadenormacondominialproibitivadeanimaisdomésticosnoscondomínios,deveprevalecerdeplanooudeve-seanalisarocasoconcreto?

Essas são questões complexas que merecem estudo aprofundado pelo TJDFT nosentidodesedimentarajurisprudênciaparaevitarqueasdecisõesjudiciaisapontemsentidoscontráriosemrelaçãoaotema.E,porconsequência,sejapassíveldeviolaçãoaos direitos e aos deveres assegurados aos indivíduos pelo ordenamento jurídicopátrio.

Ante todo o exposto, em que pese divergências, vislumbra-se mais adequado oposicionamentodoutrinárionosentidodequenãohádireitoabsolutoaocondôminode se manter na presença de seu animal em apartamento e nem são absolutas asnormas estatutárias condominiais queproíbemexpressamente a permanência dessesanimais.Assim,deve-seanalisarocasoconcreto,comadevidasubsunçãoàsleiseàConstituição, para se decidir acerca damanutenção do animal em apartamentos decondomíniosedilícios.

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AnexoAApresentaçãoesquemáticadoresultadodapesquisajurisprudencial