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FEITOSA, R.A. Antropologia da Educação. p. 11-84. In: Ciências Naturais. V. 8. Maria de
Lourdes Pereira (Org.). João Pessoa: Editora Universitária UFPB. ISBN 978-85-7745-931-5.
Apostila do curso de licenciatura em Ciências Naturais, modalidade à distância , UFPB Virtual
(http://portal.virtual.ufpb.br/wordpress/)
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
PALAVRAS INICIAIS
Prezado(a) aluno(a),
Seja bem vindo(a) à Disciplina Antropologia da Educação!
Nesse momento, você está dando início a um novo momento em sua formação: os
últimos momentos dentro do curso de Graduação em Ciências Naturais (Licenciatura a
distância). Certamente, essa experiência fecunda em aprendizagem, crescimento intelectual,
desenvolvimento pessoal, construção de novos amigos(as), dará suporte para grandiosas
vivências como profissional da educação.
As diferentes sociedades humanas sempre souberam, com poucas exceções, que além
de suas fronteiras havia "outros povos". Povos esses que habitavam territórios de maneira
diversa, cujas características físicas (cor da pele, formato dos olhos, altura, etc.) eram
diferentes das suas. Grupos que não adoravam os mesmos deuses, enfim, que pensavam de
outra maneira. A curiosidade de conhecer esses povos "diferentes" motivou o nascimento da
antropologia, que atualmente não estuda apenas os “diferentes", mas todos os seres humanos.
Em nosso curso de Antropologia da Educação, utilizamos a modalidade de ensino à
distância. Essa forma de educação, embora ainda bastante nova para nós, aparece num
momento histórico da educação brasileira, uma vez que as políticas públicas de
democratização do acesso ao ensino superior têm possibilitado que vários estudantes oriundos
dos locais mais distantes do país tenham acesso à educação superior. Nesse sentido, cabe a
todos nós contribuirmos para a qualidade dessa modalidade de educação. Para isso, é
imprescindível que encaremos esse desafio com compromisso, colagem e dedicação.
Para uma educação a distância de qualidade, é de alta relevância que a relação
professor-aluno permita a construção de conhecimentos nessa modalidade de educação. Com
essa finalidade, o material de apoio desta disciplina foi pensado e elaborado com a perspectiva
de uma proposta inicial, ou seja, ele não é um documento acabado, mas sim um projeto em
permanente descoberta, sem deixar de contemplar os conteúdos fundamentais da disciplina, os
objetivos, as etapas e as referências
FEITOSA, R.A. Antropologia da Educação. p. 11-84. In: Ciências Naturais. V. 8. Maria de
Lourdes Pereira (Org.). João Pessoa: Editora Universitária UFPB. ISBN 978-85-7745-931-5.
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complementares. Nosso material e apoio é um convite à viagem, numa espécie de rota
antropológica, e não uma delimitação rígida de fronteiras. Buscamos priorizar programas como
roteiros de viagem, mas viabilizando percursos pessoais, abrindo espaços para a descoberta
de novos mundos.
Como o objeto desse trabalho é desenvolver seres humanos (alunos e alunas) e, por
conseguinte, carregamos as marcas do ser humano. Entendemos que não podemos “moldar”
os(as) nossos(as) alunos(as), da mesma forma que um artesão afeiçoa um jarro de barro, ou
pinta um quadro em branco. É preciso que os menos experientes tenham a certeza que essa
disciplina carrega consigo concepções e conhecimentos prévios e, muitas vezes, estas
concepções são diferentes dos saberes da educação formal universitária.
Ressaltamos que todos que participam da disciplina (sejam aprendizes, mestres ou
tutores) são protagonistas do trabalho e do currículo. Todos são vistos como executores do
currículo dotados de certa autonomia de escolha, portanto, políticos em essência. Assim,
acreditamos que a profissionalização docente se faz no dia-a-dia, na construção e
reconstrução de novos de saberes parceiros.
Por entendermos que a atividade docente, numa sociedade desigual e injusta como a
que vivemos, não pode se resumir, exclusivamente, à busca de uma eficiência conteudista ou
disciplinar, defendemos que durante os processos de construção das identidades profissionais
dos professores, é preciso buscar subsídios para a formação de professores reflexivos,
visando à transformação da escola e da sociedade. Para tanto, cabe aos cursos de formação
docente criar estratégias e alternativas para a consolidação de um modelo, baseando-se na
práxis e na emancipação pelo trabalho. Cabe ainda compreendermos que os estágios
supervisionados são uma ferramenta ímpar para o desenvolvimento e instrumentalização da
práxis dos futuros professores de Ciências.
A idéia de descoberta está presente na medida em que inserimos a participação dos
estudantes e dos tutores presenciais e à distância mediante as sugestões, críticas, dúvidas e
elogios aludidos ao desenvolvimento do nosso trabalho.
Nesse sentido, a nossa preocupação nessa disciplina é a de criar condições teóricas e
metodológicas para que os estudantes tenham uma compreensão crítica do fenômeno
educativo por meio de sua inserção na história das sociedades.
O campo de estudo da Antropologia da Educação tem sido considerado, nas últimas
décadas, uma das áreas mais importantes no âmbito dos estudos educativos. Entre as muitas
ciências que têm por objeto o ser humano, a antropologia - "ciência do homem", segundo a
origem desse termo - o estuda do ponto de vista das
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características biológicas e culturais dos diversos grupos em que se distribui o gênero humano,
pesquisando com especial interesse exatamente as diferenças.
Para sistematizar nossas reflexões, esta disciplina será dividida em três ramos:
Unidade I – Conhecendo um pouco da Antropologia
Aqui será fundamental estudar algumas ideias que contribuíram de forma direta para esse
campo de conhecimento, bem como analisar um pouco do histórico desse campo de pesquisa.
Unidade II – antropologia-cultura-educação: uma relação
Durante esta unidade estudaremos as perspectivas que interligam a antropologia, a
educação e a cultura. Daremos ênfase aos aspectos críticos da Antropologia da
Educação no contexto da globalização cultural.
Unidade III – contribuições da antropologia para a educação
Por fim, na terceira unidade vamos estudar, de uma forma mais direta, as contribuições da
antropologia para a educação. Analisaremos a etnografia como forma de pesquisa em
educação, bem como os estudos da antropologia a parir do cotidiano dos grupos, buscando
subsídios para o trabalho do professor de Ciências Naturais.
Ddo. Raphael Alves Feitosa
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UNIDADE I – CONHECENDO UM POUCO DA ANTROPOLOGIA
Resumo da Unidade I – Essa aula aborda algumas ideias que contribuíram de forma direta para o
desenvolvimento da Antropologia da Educação como campo de conhecimento, bem como analisa um
pouco do histórico desse campo. Nosso objetivo é proporcionar a você, estimado aluno iniciante nos
estudos antropológicos, uma visão geral sobre essa temática.
Aula I.I – O que é “essa tal” de antropologia?
Resumo da Aula I.I – Primeiras ideias sobre a antropologia como ciência. Estudaremos a importância da
antropologia para a formação do educador, em especial para o licenciando em Ciências Naturais.
Prezado(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais.
Certamente, você deve estar com muita curiosidade a respeito da disciplina de
Antropologia da Educação. Como se não bastasse, todos nós temos curiosidade sobre como
devem viver os povos, culturas em vias de extinção ou mesmo sobre costumes exóticos. Na
verdade, essas dúvidas são muito comuns nos momentos iniciais de qualquer disciplina de
antropologia.
Na
Assim, considerando que essa é uma disciplina voltada para o ensino superior, partindo
dessas nossas curiosidades,
disciplina Antropologia Educação,
de da
percebemos que a antropologia pode interessar a todos e todas.
usamos como
Para conhecer um pouco mais sobre a importância de se estudar
referência de
essa temática podemos “dar uma olhada” nas publicações relacionadas à antropologia. Nas
bibliotecas e livrarias, iremos encontrar uma grande variedade de trabalhos, desde o campo da
obras o padrão “AUTOR, DATA”. Por exemplo, no parágrafo ao saúde, da política, da religião,
dos mitos e crenças, até o da
lado: SANTOS
é o comunicação. Não obstante, acharemos obras que versam sobre
autor da obra, a
o meio-ambiente, sobre a etnobiologia, educação, sexualidade, turismo, esporte, artes, entre
muitos outros (SANTOS, 2005).
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Enfim, as investigações no campo da antropologia podem estar voltadas para as mais diversas
temáticas que fazem parte da vida social atual.
Ao falar sobre essa diversidade, não queremos dizer que os antropólogos estejam
assumindo a função dos pesquisadores específicos de cada área do conhecimento. Significa
que os antropólogos são hábeis em produzir um tipo específico de conhecimento sobre temas
que também são alvo de estudos por parte de outros campos de conhecimentos.
Contudo, para que você, graduando em Ciências Naturais, possa desfrutar do
conhecimento que os antropólogos produzem sobre essa diversidade e temas é importante que
compreender como ele é produzido. Dito de outra forma; é imprescindível conhecer a
especificidade da abordagem antropológica. Somente assim, será possível entender como a
antropologia é capaz de compreender dimensões da realidade que não são enfocadas por
outras disciplinas, ao menos na forma antropológica.
Conhecer essa especificidade da abordagem da antropologia, ou seja, aquilo que é
específico dela, é o principal motivo de se ter uma disciplina da temática no currículo do curso
de Ciências Naturais. A formação inicial na universidade não objetiva apenas aparelhar o(a)
aluno(a) para o exercício de uma determinada profissão, como ensinar, pesquisar, atender
pacientes, etc. Navegar nas águas de um curso superior implica também em ampliar os
horizontes intelectuais, treinar a auto-reflexão, a capacidade de pensar e agir dentro de um
contexto mais amplo. A antropologia da educação, como disciplina pode ajudar o futuro
licenciado a seguir essa jornada.
Nesse período final do curso, muitos de vocês já conheceram novos(as) colegas, novos
espaços educativos (virtual, presencial) e disciplinas. Esse texto pretende ser uma
apresentação inicial da antropologia. Destarte, a antropologia pode contribuir para a área
específica da educação na área de Ciências Naturais, bem como na atuação do professor
desse campo. Assim, existe a possibilidade de fazer conexões entre a antropologia e as áreas
específicas do curso de Ciências Naturais.
Então, para você, estimado(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais,
como deve ser um antropólogo?
De início, muitos imaginam o antropólogo como sendo um cientista, com ares de
explorador de lugares selvagens, que procura qualquer coisa esquisita em locais
desconhecidos, no meio de povos exóticos (de preferência aqueles com comportamentos e
dialetos bizarros, nus e ferozes na aparência, com argolas no
Para relembrar a trajetória do Herói dos filmes de mesmo nome, veja o site: < http://www.in dianajones.co
m/site/index.h tml>
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pescoço, presas de javali atravessadas no nariz e nas orelhas, ou artefatos colocados nos
lábios, entre outras supostas originalidades).
Talvez, o grande estereótipo do antropólogo seja uma espécie de estilo Indiana Jones.
Esse é um personagem criado pelos diretores Steven Spielberg e George Lucas e interpretado
pelo ator Harrison Ford, e é o protagonista de quatro filmes. Esse personagem, de nome Henry
Jones Júnior, é um indivíduo com vida dupla: além de um pacato professor de Arqueologia, é
um aventureiro destemido e pouco convencional, que usa uma pistola, um chicote e um
inseparável chapéu e é mais conhecido por Indiana (figura 1).
Em muitos de seus filmes, o protagonista é cercado por homens “selvagens”, de pele
amarelada pintados com faixas e símbolos tribais brancos, vermelhos ou negros, todos sem
roupas, apontando enormes lanças pontiagudas na direção de Indiana Jones (figura 2).
Figura 1 (a esquerda): O perfil de Indiana Jones, com seu chapeu, pistola e chicote.
Figura 1 (a direita): Indiana Jones fugindo dos “homens selvagens”
Fonte: <www.indianajones.com>
No geral, da mesma forma que você, muitos(as) outros(as) licenciandos(as) como você,
devem estar pensando que o antropólogo, mais ou menos como o Indiana Jones, para
encontrar o seu Eldorado1 ou o seu Paraíso Perdido aonde vai à busca de algum “selvagem”,
passando por perigosas viagens por mar, por grandes expedições por terra, ou voando dentro
de aeronaves enferrujadas. Sem esquecer que ele terá que
1 O El Dorado é uma antiga lenda narrada pelos índios aos exploradores espanhóis na época da
colonização das Américas. Falava de uma cidade cujas construções seriam todas feitas de ouro maciço e
cujos tesouros existiriam em quantidades inimagináveis.
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se alimentar como os aborígenes, comendo larvas, artrópodes, outros animais, raízes e frutos
nativos, além de viver como eles em palhotas infestadas de insetos perigosos, cercado por
animais selvagens e aterradores.
Na verdade, o trabalho do antropólogo é, normalmente, bem diferente. Existem aqueles
que executam investigações com os trabalhos de campo (pesquisando em ambientes
exóticos), como também existem daqueles que pesquisam locais “normais”, como escolas,
universidades, shopping centers, entre outros.
Por exemplo, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) fundada por ocasião da 2a
RBA, em Salvador, em julho de 1955, é a mais antiga das associações científicas existentes no
país na área das ciências sociais, ocupando hoje um papel de destaque na condução de
questões relacionadas às políticas públicas referentes à educação, à ação social e à defesa
dos direitos humanos. Em seu site, podemos encontrar uma variedade de temas de pesquisas
na área de antropologia, sendo que nem todos são pesquisas feitas em localidades exóticas.
Enfim, o que é essa “tal” de antropologia?
Na verdade, essa pergunta é bem difícil de responder. Por exemplo, Santos (2005, p. 17)
afirma que uma das razões dessa dificuldade está relacionada com a gênese do termo
antropologia. “Um outro caminho freqüente é o recurso à etimologia, ou seja, à origem da
palavra. Então, anthropos = homem, logia = estudo”. Todavia, dizer que nossa área é o “estudo
do homem” é algo muito geral, e poderia abarcar várias outros campos do conhecimento.
Estimado(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais. Para iniciar
nossa disciplina, poderíamos denominar a antropologia como sendo um “conjunto de teorias
(nem sempre concordantes) e diferentes métodos e técnicas de pesquisa que buscam explicar,
compreender ou interpretar as mais diversas práticas dos homens e das mulheres em
sociedade”. (SANTOS, 2005, p. 19).
Aqui, cabe um alerta: ao falar de teorias, recordamos que todas elas possuem
elementos de positividade e de negatividade, e é o olhar aguçado (ou não) do intelectual, a partir
de uma problematização da realidade, que deverá compreender junto com os atores sociais as
tensões e contradições que existem nessa realidade intersubjetiva.
Conheça um pouco mais sobre a ABA no site: < http://www.ab ant.org.br>
Caro(a) Aluno(a), que tal ler o primeiro capítulo do livro de, Rafael J. Santos, “Antropologia Para Quem Não Vai Ser
Antropólogo”, na biblioteca de apoio presencial?
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Para investigar os fatos humanos, é imperativo que você, estudante do curso de
Licenciatura em Ciências Naturais, tenha em mente que não existe uma resposta definitiva nas
ciências. Não podemos atingir a “certeza” (ou mesmo um alto grau de ‘probabilidade’ no sentido
estatístico do termo) com as proposições da ciência. Como nos provoca Popper:
[...] o alvo do cientista não é descobrir uma certeza absoluta, mas descobrir teorias cada vez melhores (ou
inventar holofotes cada vez mais potentes), capazes de ser submetidas a testes cada vez mais severos (e
conduzindo-nos com isto sempre a novas experiências, que iluminam para nós). Mas isto significa que
essas teorias devem ser mostradas falsas: é pela verificação de sua falsidade que a ciência progride (1975,
p. 332).
Acreditamos que as reflexões apresentadas aqui não correspondem à verdade vista de
forma fixa, monocórdica e única. Ao contrário, queremos expressar uma hipótese plausível,
dentre as várias possíveis, de um determinado fato social. Destarte, devemos abandonar a
crença fervorosa em uma teoria fixa, entalhada.
Aula I.II – Um pouco do histórico da antropologia
Resumo da Aula I.II – Nessa aula, vamos estudar o como a antropologia se desenvolveu ao longo do tempo,
com ênfase nos estudiosos mais importantes para a área.
Estimado(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais.
Nessa aula, vamos estudar sobre os “primeiros passos” a antropologia, os quais foram
dados na segunda metade o século XIX, na Europa. A antropologia surgiu ligada a outra ciência
humana, a Sociologia. Um dos grandes representantes do início da antropologia foi Émile
Durkheim, pensador que criou o chamado “fato social” para explicar o objeto de estudo das
ciências humanas (como a
Caro(a) Aluno(a), que tal ler o segundo sociologia e a antropologia). O fato social age como uma
norma
capítulo do livro
coletiva com independência e poder de coerção sobre o
de, Rafael J.
indivíduo, ou seja, uma forma de coerção sobre os indivíduos que é vista como uma coisa
exterior a eles, sendo estabelecida
Santos, “Antropologia Para Quem Não Vai Ser Antropólogo”, na biblioteca de apoio presencial?
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em toda a sociedade. Nesse período o mundo passava por uma série de mudanças sociais,
políticas e econômicas, geradas pela Revolução Industrial.
Essa Revolução formou o plano de fundo que deu origem a sociedade capitalista
industrial. Em seu sentido mais pragmático, a Revolução Industrial significou a substituição da
ferramenta pela máquina, e contribuiu para consolidar o capitalismo como modo de produção
dominante. Esse momento revolucionário, de passagem da energia humana para motriz, é o
ponto culminante de uma evolução tecnológica, social, e econômica, que vinha se processando
na Europa desde a Baixa Idade Média.
Na Baixa Idade Média, a forma de produção de mercadorias mais característico do
período foi o artesanato, o qual predominou durante o renascimento urbano e comercial. O
artesanato era caracterizado por uma produção de caráter familiar, na qual o artesão era o
proprietário da oficina e das ferramentas e trabalhava com a família em sua própria casa,
realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento
final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização. Em algumas situações o artesão
tinha junto a si um ajudante, porém não assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando
uma "taxa" pelo utilização das ferramentas (RECCO, 2010). O conjunto desses trabalhadores
eram as chamadas Guildas.
É importante lembrarmos a você, aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências
Naturais, que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de
ofício, assim como o comércio também encontrava-se sob controle de associações, limitando o
desenvolvimento da produção. Assim, formaram-se as primeiras guildas: corporações
medievais de ofício, compostas por artesãos de um mesmo ramo, com pessoas que
desenvolviam a mesma atividade e procuravam garantir os interesses de classe e regulamentar
a profissão. Elas foram criadas a partir da crença de que as escolas profissionalizantes
existentes não podiam ensinar a cadência e o ritmo dos ateliês nos quais os aprendizes iriam
trabalhar no futuro.
Segundo Hauser (1972), a sua educação baseava-se não em escolas formais, mas em
oficinas, nas quais a instrução era prática e não livresca. Depois de haverem adquirido
rudimentos de escrita e aritmética, vão ainda crianças, para junto de um mestre e passam
muitos anos com ele. As corporações de ofício foram suprimidas pelo ideal da Revolução
Francesa que consagrou a liberdade individual. O novo regime Francês, o qual pregava a
liberdade para o exercício de profissão, arte ou ofícios, determinou o fim das corporações de
ofício, através do Edito de Turgot de 1776. Vale ressaltar que o modelo de profissionalização
das guildas foi dominante até o século XVIII, apesar de existirem as Academias de arte e de
ofícios, paralelamente a estas corporações.
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Lourdes Pereira (Org.). João Pessoa: Editora Universitária UFPB. ISBN 978-85-7745-931-5.
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Além da formação do profissional, durante convivência com os membros das
corporações era possível partilhar o ânimo pela nova profissão, com vínculos múltiplos entre os
indivíduos que as formavam, dando unidade e possibilitando a construção de uma identidade
profissional da corporação.
Respeitado(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais, saiba que a
manufatura, a qual predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do
mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já
ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido a divisão social da produção, onde
cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. A ampliação do mercado
consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente
como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. Outra
característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a
comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os
principais mercados consumidores.
A partir da máquina, o processo produtivo tornou-se fragmentado. O trabalhador,
dominado pela racionalidade técnica do sistema capitalista alienante, não conhecia mais o
processo produtivo, pois os seus saberes baseavam-se somente no setor da linha de
montagem em que estava inserido. Considerando a Revolução Industrial como um processo
contínuo, podemos falar que existiram períodos, os quais podem ser separados para caráter
didático: num primeiro momento (energia a vapor no século XVIII), num segundo momento
(energia elétrica no século XIX) e num terceiro e quarto momentos, representados
respectivamente pela energia nuclear e pelo avanço da informática, da robótica e do setor de
comunicações ao longo dos séculos XX e XXI, porém aspectos ainda discutíveis (RECCO,
2010).
Nesse momento, caro(a) aluno(a) da o curso de Licenciatura em Ciências Naturais, é
preciso esclarecer a conexão entre o surgimento do capitalismo e o nascimento da
antropologia. Como o sistema capitalista não se resumia apenas aos limites da Europa, ele
buscava novos mercados para a venda de mercadorias. Isso gerou o mercantilismo e as
grandes navegações.
Desse modo, o aparecimento da antropologia como ciência aconteceu a partir dos
grandes descobrimentos realizados por navegadores e viajantes europeus. Eles tinham a
curiosidade de conhecer povos exóticos, de saber como viviam e pensavam homens de
culturas tão distantes da européia, de descobrir que aspecto físico e que costumes tinham,
levou à classificação e ao estudo dos dados recolhidos no lugar de origem (in loco) por
exploradores, comerciantes e missionários chegados àquelas terras longínquas.