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Cromatografia gasosa

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  • Quim. Nova, Vol. 27, No. 2, 236-240, 2004Artigo

    *e-mail: [email protected]

    ANLISE QUMICA QUANTITATIVA PARA A PADRONIZAO DO LEO DE COPABA PORCROMATOGRAFIA EM FASE GASOSA DE ALTA RESOLUO

    Marcelo R. R. Tappin, Jislaine F. G. Pereira, Lucilene A. Lima e Antonio C. Siani*Instituto de Tecnologia em Frmacos, Far-Manguinhos, Fundao Oswaldo Cruz, R. Sizenando Nabuco, 100,21041-250 Rio de Janeiro - RJJos L. MazzeiEscola de Qumica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Tecnologia, Bloco E, Cidade Universitria,21949-900 Rio de Janeiro - RJMnica F. S. RamosDepartamento de Medicamentos, Faculdade de Farmcia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Cincias da Sade,Bloco K, Cidade Universitria, 21910-240 Rio de Janeiro - RJ

    Recebido em 10/4/03; aceito em 13/10/03

    QUANTITATIVE CHEMICAL ANALYSIS FOR THE STANDARDIZATION OF COPAIBA OIL BY HIGH RESOLUTION GASCHROMATOGRAPY. Quantitative GC-FID was evaluated for analysis of methylated copaiba oils, using trans-(-)-caryophylleneor methyl copalate as external standards. Analytical curves showed good linearity and reproducibility in terms of correlationcoefficients (0.9992 and 0.996, respectively) and relative standard deviation (< 3%). Quantification of sesquiterpenes and diterpenicacids were performed with each standard, separately. When compared with the integrator response normalization, the standardizationwas statistically similar for the case of methyl copalate, but the response of trans-(-)-caryophyllene was statistically (P < 0.05)different. This method showed to be suitable for classification and quality control of commercial samples of the oils.

    Keywords: Copaifera spp.; high resolution gas chromatography; trans-(-)-caryophyllene copalic acid.

    INTRODUO

    O gnero arbreo Copaifera, da famlia Caesalpinaceae, abran-ge mais de 30 espcies nativas da Amrica Latina, distribudas entreHonduras e o sul do Brasil1,2. No Brasil encontrado largamente naregio Amaznica, e suas espcies so conhecidas como copaibeiraou pau dleo. A inciso no tronco das rvores fornece o leo decopaba, na forma de um leo-resina de colorao amarela a mar-rom, que utilizado industrialmente em vernizes e lacas, na restau-rao de pinturas antigas, como fixador de odor em fragrncias3-5 ecomo aromatizante em alimentos6. Na medicina popular, especial-mente na Amaznia brasileira, o leo de copaba utilizado comocicatrizante, antiinflamatrio e anti-sptico, antitumoral, e como agen-te para tratar bronquites e doenas de pele7.

    O leo de copaba j ocupou o segundo lugar nas exportaesbrasileiras de drogas medicinais no sculo passado8,9. Hoje, no hinformaes suficientes disponveis sobre a exportao deste leo.Entretanto sabido que, aps coleta, o leo levado at as grandescidades da Regio Amaznica, de onde exportado diretamente, sen-do eventualmente comercializado por laboratrios farmacuticosbrasileiros, especialmente da regio Sudeste10. Os dados mais recen-tes datam de 1992, quando apontam para uma exportao de cercade 24 toneladas de leo para os Estados Unidos e a Europa11.

    O leo natural de copaba apresenta uma certa variabilidade nosseus componentes, parecendo essa ser mais sensvel a fatores biticos(como insetos e fungos) do que luminosidade e nutrientes12. Comoproduto florestal primrio, a explorao do leo de copaba apresen-ta algumas caractersticas originrias de seu manejo que vo definir,em ltima instncia, as possibilidades de suas aplicaes industriaise, portanto, estabelecer o seu padro de qualidade para o mercado. A

    principal delas refere-se eventual mistura dos leos de espciesbotnicas variadas, ou ainda de espcimes de idades e locais distin-tos. Este fato sobremaneira agravado pela dificuldade de se proce-der diferenciao morfolgica entre as espcies, e mesmo pela di-ficuldade prtica em se obter os rgos florais das espcies, dados ocurto perodo em que ocorrem e a altura das rvores13,14.

    Mesmo considerando a explorao racional e a coleta organiza-da a partir de bolses florestais contendo, muitas vezes, uma nicaespcie de copaibeira, para evitar a mistura de leos de diversas pro-cedncias necessrio, ainda, o estabelecimento de procedimentoscontrolados, desde o momento em que o produto extrado acondi-cionado para transporte at sua comercializao. Este um dos as-pectos mais importantes relacionados ao controle de qualidade doinsumo bruto extrado e j constitui um dos focos de ateno e inici-ativa por parte de algumas cooperativas extrativistas florestais15.

    Esta conjuntura traduz a dificuldade em realizar um controlebotnico do produto extrativista vegetal. Como atualmente a inds-tria no pode prescindir de matria-prima devidamente qualificadapara sua utilizao como insumo nos produtos comercializados, fundamental o estabelecimento de tcnicas que permitam um rigoro-so controle da qualidade. Tambm relevante ressaltar a importn-cia do estabelecimento de uma normatizao qumica quantitativapara os produtos farmacuticos formulados com leo de copaba,auxiliando no estudo da estabilidade fsico-qumica de formulaese fornecendo suporte ao produto final vlido em sua eficcia e segu-rana. Contudo, no se encontram estudos nesta direo, j que atendncia observada, evidenciada em poucos trabalhos interdisci-plinares, tem focalizado o monitoramento farmacolgico de fraescaracterizadas apenas qualitativamente ou de constituintes individu-ais isolados do leo de copaba, como agentes responsveis pela ati-vidade em questo. Por outro lado, os inmeros estudos, relatadosna literatura convencional ou cientfica, resultam em concluses in-

  • 237Anlise Qumica Quantitativa para a Padronizao do leo de CopabaVol. 27, No. 2

    completas e comumente contraditrias quanto determinao doagente teraputico no leo de copaba.

    Porm, motivados pela presso regulatria para se desenvolverprodutos dentro de estritos padres sanitrios, alguns esforos tmsido despendidos na tentativa de relacionar as diversas atividadesfarmacolgicas do leo de copaba com sua constituio qumica.H, por exemplo, evidncia da correlao entre a atividadeantiinflamatria com os leos que apresentam maiores teores de ci-dos diterpnicos em sua composio16. Por outro lado, as fraesricas em hidrocarbonetos sesquiterpnicos tambm so reputadascomo importantes no efeito antiinflamatrio, no entanto com prov-veis efeitos sinrgicos17. A Tabela 1, compilada de dados da literatu-ra, ilustra algumas descries sobre a composio do leo e o efeitofarmacolgico descrito16-23.

    Como agravante, os leos comerciais de copaba tm sido sujei-tos a adulteraes na prpria origem, pela mistura com outros le-os24. Um produto para o mercado de fitomedicamentos, com base noleo de copaba, portanto, deve garantir a reprodutibilidade da efic-

    cia dentro do lote utilizado industrialmente. Como os testes de efic-cia implicam em um inexeqvel controle biolgico torna-se, por-tanto, necessrio que a este lote seja anexado um laudo sobre a com-posio qumica mnima para que o efeito desejado seja mantido.Nesta relao entre perfil qumico e ensaios farmacolgicos repousaa confiana do consumidor na eficcia do produto. Em todo essecontexto, a caracterizao qualitativa e quantitativa dos componen-tes do leo de copaba seria uma ferramenta apropriada identifica-o e origem das diferentes espcies botnicas de copaibeiras, po-dendo ser tambm modelada para aplicar-se ao controle de qualida-de dos leos ainda no estgio inicial de comercializao.

    O presente trabalho visa estabelecer um mtodo para a padroni-zao qumica quantitativa do leo de copaba, por intermdio danormalizao externa em cromatografia em fase gasosa de alta reso-luo com deteco por ionizao em chama (CGAR-DIC), usandoo trans-(-)-cariofileno e/ou cido coplico como padro de refern-cia e aplicando a metodologia desenvolvida em amostras do merca-do.

    Tabela 1. Ilustrao da relao entre atividades farmacolgicas e constituies qumicas do leo de copaba descritas na literatura

    Espcie Certificao Atividade Modelo farmacolgico (Dose) Fraes, substncias Resultado /botnica farmacolgica caracterizadas/isoladas Referncias

    Vrios No efetuada Antiinflamatria (i) edema de pata/carragenina -cariofileno, -cubebeno, (30-40% eficcia);espcimens (0,70-2,69 mL/kg) -bisaboleno, outros DL50 3,79 mL/kg

    (ii) granulona (doses repetidas, (18)6 dias 1,26 mL/kg)(iii) permeabilidade vascular/histamina

    8 amostras - Antiinflamatria (i) edema de pata/carragenina -bergamopteno, Inibies: 14-56% emcomerciais (30 mg/kg) -cariofileno, (i) e 37-62% em (ii)

    (ii) edema de pata/bradicinina -aromadendreno (17)(30 mg/kg) nas fraes ativas

    - - Analgsica (i) contoro abdominal por cido coplico Menos potente quecido actico indometacina(ii) difuso peritonial de azul (19)de Evans

    Copaifera No citada Antiinflamatria, (i) edema de pata/carragenina No citado (cido Menos potente quecearencis analgsica (500 mg/kg) coplico?) indometacina; dose-

    (ii) contoro abdominal dependnciapor cido actico observada(iii) difuso peritonial de azul (16)de Evans

    Copaifera No citada Antiinflamatria Edema de orelha/leo de leo bruto (OB) e frao OB eficaz emlangsdorffii crton: modelos oral e tpico voltil (FV) aplicao oral; FV

    eficaz em tpica (20)Copaifera No citada Antinociceptiva (i) contoro abdominal por leo bruto (OB) e frao Inibies (27% e 53%)langsdorffii cido actico voltil (FV) significantes em (i)

    (ii) teste da placa quente (21)(200 e 400 mg/kg)

    Copaifera Exsicata Efeito Leses gstricas induzidas por No h Eficcia no aumentolangsdorffii 24461, Herb. gastroprotetor etanol, indometacina e do suco gstrico

    Prisco Bezerra, estresse hipotrmico (22)UFCE (400 mg/kg)

    Copaifera Exsicata Cicatrizante (i) acelerao de cicatrizao 70% diterpenos, Acelerao at o 9o dialangsdorffii 24461, Herb. em feridas abertas sesquiterpenos, cidos em (i) e at o 5o dia

    Prisco Bezerra, (i) acelerao de cicatrizao caurenico e poliltico em (ii)UFCE em incises (23)

  • 238 Quim. NovaTappin et al.

    PARTE EXPERIMENTAL

    Materiais e mtodos

    ReagentesA soluo de diazometano em ter foi obtida a partir de soluo

    de Diazald (Aldrich, USA). Diclorometano grau P.A. (99,5%,VETEC, Rio de Janeiro). O padro de trans-(-)-cariofileno foi ad-quirido comercialmente (Sigma-Aldrich, USA), apresentando 99%de pureza e xido como principal contaminante.

    Padro de cido coplicoUma amostra de leo de copaba cedida pela empresa Brasmazon

    (no quantificada neste trabalho) foi submetida exaustivamente aoarraste a vapor. Aps secagem completa, 14,0 g do resduo foramfracionados em coluna de slica-gel 60, utilizando-se como eluenteuma mistura gradiente de metanol em clorofrmio (0, 1, 2, 4, 6, 10 e20% v/v) e coletando-se fraes de 15-20 mL. As fraes entre 1 e4% de metanol foram reunidas, aps verificao de similaridade dossinais em Cromatografia de Camada Fina. 100 mg desta frao fo-ram aplicadas em duas placas preparativas (slica-gel, 20 x 20 x 0,1cm; hexano:acetona 95:5 v/v como eluente), resultando em 42 mgde cido coplico (Rf = 0,79). Este foi caracterizado por CGAR-EM,infravermelho e RMN de 1H e de 13C, estando de acordo com osdados da literatura25. Aps tratamento com diazometano, o stermetlico do cido foi quantificado (95%) por CGAR-DIC.

    Solues padroCinco solues padro de trans-(-)-cariofileno em diclorometano,

    variando a concentrao de 0,99 a 10,00 mg/mL, foram preparadas einjetadas trs vezes nas condies experimentais estabelecidas. Cin-co solues padro de cido coplico metilado, com concentraesvariando de 0,98 a 9,58 mg/mL, foram preparadas em diclorometano.

    AmostrasForam analisadas 6 amostras comerciais de leo de copaba,

    coletadas em diferentes locais da Regio Amaznica ao longo doano de 1999: BA1 e BA2 (Nova Aripuan, PA, Baixo Amazonas);TA1 e TA2 (Santarm, PA, Trans-Amaznica); e BP1 e BP2 (Baado Portel, PA). Os ndices 1 e 2 referem-se s coletas efetuadas deabril a julho, e agosto a dezembro, respectivamente. Alquotas decada amostra foram pesadas em balo volumtrico. A massa dessasalquotas variou conforme a amostra, no sentido de se obterem con-centraes das principais substncias dentro da faixa de linearidadeda curva analtica. Para a quantificao com o padro trans-(-)-cariofileno, as amostras foram pesadas dentro de duas faixas de mas-sa ao redor de 40 mg para BA1 e BA2, e ao redor de 160 mg paraTA1, TA2, BP1 e BP2 sendo todas dissolvidas em 2,0 mL dediclorometano. Para a quantificao com o copalato de metila, asfaixas de massas utilizadas foram ao redor de 60 mg para BA1 eBA2, e ao redor de 75 mg para TA1, TA2, BP1 e BP2 sendo todasdissolvidas em 1,0 mL de diclorometano.

    As alquotas foram ento metiladas com diazometano, secas, esubseqentemente dissolvidas em diclorometano, avolumando-sequantitativamente a 2,0 mL. As solues foram analisadas emtriplicata por CGAR-DIC.

    InstrumentaoFoi utilizado o cromatgrafo a gs Hewlett-Packard 6890

    acoplado ao integrador Hewlett-Packard 3396A, com injetor tiposplit/splitless (200 C) com diviso de vazo de 1:20, coluna capi-lar HP-5 (30 m 0,25 mm 0,25 m de espessura do filme) e detectorpor ionizao em chama (290 C). As vazes dos gases foram de

    2 mL/min para o hidrognio como gs de arraste, e de 450, 40 e50 mL/min para ar, hidrognio e nitrognio, respectivamente, nodetector. Temperatura inicial de 110 C, 2 min de isoterma, seguidade taxa de aquecimento de 5 C/min at 140 C, ento taxa de aque-cimento de 20 C/min at 290 C. Volume de injeo de 1,0 L.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Com base na metodologia descrita na literatura para CGARacoplada espectrometria de massas, diversos leos de copaba co-merciais foram caracterizados qualitativamente quanto presenade sesquiterpenos e cidos diterpnicos26. Nas condies selecionadas,ambos os grupos de substncias so resolvidos em faixas de reten-es especficas e distintas, aps metilao. A anlise do solventedas amostras por CGAR-DIC, nas condies estabelecidas, no apre-sentou sinais no cromatograma a partir do tempo de integrao esti-pulado, podendo ser empregado satisfatoriamente para a diluio tantodas solues padro quanto das amostras.

    Para desenvolvimento do mtodo de anlise quantitativo, a pa-dronizao interna com substncias de mesma natureza qumica im-plicaria em um nmero reduzido de anlises. No entanto, ocromatograma do leo de copaba apresenta-se, em geral, muito com-plexo quanto ao nmero de sinais registrados dada a extensa varie-dade de espcies terpnicas presentes, inviabilizando o emprego domtodo de padronizao interna. Por isso, foi investigada a tcnicade padronizao externa com um padro comercial de trans-(-)-cariofileno. Este foi selecionado por ser um hidrocarbonetosesquiterpnico de presena ubqua nas amostras descritas de leode copaba (e tambm na maioria das misturas volteis de origemvegetal) e comercialmente disponvel como um padro analtico deelevada pureza. Uma vez que a resposta do detector por ionizaoem chama quasi-constante para substncias de mesma classe, prin-cipalmente aquelas de alto peso molecular27, as concentraes deoutros sesquiterpenos abundantes tambm podem ser determinadaspor intermdio do uso do trans-(-)-cariofileno. O mesmo estudo foirealizado com o padro de cido coplico isolado do leo, com ointuito de comparar os resultados obtidos pelas duas vias dequantificao.

    Linearidade e faixa de resposta do padro

    A Tabela 2 apresenta os dados relativos s curvas analticas paraos padres de sesquiterpeno e do cido diterpnico metilado, obti-das com triplicatas das injees das solues padro, com o mnimode cinco concentraes, conforme recomendado por rgos regula-dores28.

    Tabela 2. Dados da curva analtica para o trans-(-)-cariofileno e oster metlico do cido coplico

    Curva analtica trans-(-)-cariofileno cido coplicoCoeficiente de correlao 0,9992 0,9967Coeficiente angular 3,73 106 1,85 106(mV mL mg-1)Estimativa do 1,9 2,7desvio-padro relativo (%)Faixa linear (mg mL-1) 0,99 - 10,0 0,98 - 9,58Limite de quantificao 0,99 0,98(mg mL-1)Anlises realizadas em triplicatas. Os coeficientes lineares nodiferiram estatisticamente (P < 0,05) de zero.

  • 239Anlise Qumica Quantitativa para a Padronizao do leo de CopabaVol. 27, No. 2

    Dentro da faixa de concentrao estudada para os padres, foiencontrada a faixa linear de resposta do detector, a partir da qual foiestabelecido o limite mnimo em que as substncias puderam serquantificadas com exatido e preciso aceitveis (Tabela 2).

    Visto que os coeficientes lineares das curvas analticas, tanto parao cido coplico como para o trans-(-)-cariofileno no diferem esta-tisticamente de zero (P < 0,05), a quantificao de sesquiterpenos editerpenos foi realizada por normalizao e comparao direta darespectiva soluo padro com a rea do analito em questo.

    Mtodos de quantificao

    Trs mtodos para quantificao de sesquiterpenos e de cidosditerpnicos foram avaliados comparativamente: (i) a partir da res-posta do integrador (normalizao de rea de integrao), (ii) da cur-va analtica de trans-cariofileno e (iii) da curva analtica de copalatode metila. Este ltimo foi apenas aplicado para cidos diterpnicos.As quantificaes do grupo de sesquiterpenos pelos dois primeirosmtodos foram significativamente diferentes (P < 0,05) em todas asamostras analisadas. Por exemplo, a quantificao da amostra BA1resultou em teores de 40 e de 27%, respectivamente, para os doisprimeiros mtodos. A quantificao de cidos diterpnicos pelos trsmtodos resultou em diferena significativa (P < 0,05) apenas quan-do as amostras foram quantificadas a partir da curva analtica detrans-(-)-cariofileno. Como exemplo, o teor de cido coplico emTA2 foi quantificado em 6,0, 5,2 e 3,5% com normalizao pela reae a partir das curvas analticas de copalato de metila e de trans-(-)-cariofileno, respectivamente. A diferena significativa dequantificao bem representada pelos valores muito distintos doscoeficientes angulares das curvas analticas dos dois padres (Tabela2). Esses resultados evidenciam a importncia do uso dos dois pa-dres para a quantificao dos dois grupos de terpenos, mediante operfil qualitativo do leo. No entanto, do ponto de vista prtico, hque se atentar para a vantagem da disponibilidade do trans-(-)-cariofileno como padro comercializado, ao contrrio do cidocoplico e de outros cidos diterpnicos.

    Anlise de leos comerciais

    Os cromatogramas das amostras apresentaram sinais nas duasfaixas bem caractersticas de reteno, segundo as classes de subs-tncias presentes: sesquiterpnicas e diterpnicas, como usualmentecaracterizado em CGAR (Figura 1). As quantificaes dos grupos

    Figura 1. Cromatogramas das amostras de leo de copaba de diferentes procedncias: Baixo Amazonas (BA), Trans- Amaznica (TA) e Baa do Portel (BP)

    de terpenos distintos foram realizadas atravs das respectivas curvasanalticas (Tabela 3). Dada a faixa de concentrao de trabalho (rela-o entre os dois limites em cerca de 10 vezes), nem todas as subs-tncias detectadas foram quantificadas, sendo priorizadas as subs-tncias majoritrias de cada grupo de terpenos.

    Nas amostras provenientes da regio do Baixo Amazonas (BA1e BA2) predominaram os sesquiterpenos, acrescidos de um teor bas-tante reduzido de diterpenos cidos. Nestas amostras foramquantificados apenas o trans-(-)-cariofileno e mais uma segunda es-pcie majoritria, dentre os sesquiterpenos. Os dois diterpenosquantificados alcanaram apenas cerca de 6% do total da composi-o do leo.

    Tabela 3. Teor dos componentes majoritrios do leo de copabanas diferentes amostras

    Componentes Teor das amostras (% em peso de leo)Tempo de BA1 BA2 TA1 TA2 BP1 BP2Reteno (min)Sesquiterpenosa8,2 (trans-(-)-cariofileno) 27,0 24,3 -b - - -8,4 7,4 7,4 4,0 4,1 4,2 3,99,2 - - 2,2 2,2 2,3 2,19,5 - - 8,5 8,8 9,4 8,310,5 - - 1,6 1,7 1,7 1,610,8 - - 1,6 1,7 1,7 1,612,2 n.d.c n.d. 1,6 1,7 1,7 1,6Diterpenosd14,1 - - - - 2,3 1,914,2 - - 2,8 2,7 3,0 2,714,4 (copalatode metila) 3,7 3,5 5,5 5,2 5,8 5,314,5 - - 10,4 10,0 8,5 10,114,6 - - 1,4 1,4 1,5 1,414,7 - - 3,0 2,9 3,2 2,915,2 - - 3,5 3,4 3,7 3,415,8 2,5 2,3 - - - -

    Totais 40,6 37,5 46,1 45,8 49,0 46,8aA partir da curva analtica do trans-(-)-cariofileno; bdetectado abaixodo limite de quantificao; cno detectado; da partir da curva analticado ster metlico do cido coplico.

  • 240 Quim. NovaTappin et al.

    J as amostras da regio Trans-Amaznica e da Baa do Portel(TA1, BP1, TA2, BP2) apresentaram composies qumicas seme-lhantes, no apenas pelos teores totais similares dos dois grupos deterpenos, como tambm dos constituintes individuais presentes nasduas amostras. Nestas amostras, o trans-(-)-cariofileno foi detectadoabaixo do limite de quantificao, porm outras seis espciessesquiterpnicas foram passveis de quantificao. H uma alta con-centrao de diversos diterpenos nestas amostras, no sendo nenhumdeles predominante (Tabela 3).

    Os teores totais dos sinais majoritrios de todas as amostrastotalizaram pouco menos de 50% da composio do leo. Este re-sultado indica a complexidade da composio das amostras de leode copaba quanto s substncias minoritrias, detectadas, mas dedifcil quantificao.

    CONCLUSO

    A faixa linear e a repetibilidade do mtodo de quantificao com atcnica de CGAR-DIC, com padronizao externa, permitiram aquantificao de diterpenos e sesquiterpenos em leos comerciais decopaba. O padro de trans-(-)-cariofileno mostrou-se adequado paraa quantificao do teor de sesquiterpenos totais e, por conseguinte,das amostras de leo de copaba onde predominam essas substncias.Do mesmo modo, o padro de cido coplico foi adequado para aquantificao dos diterpenos. Os resultados obtidos neste caso mos-traram-se distintos daqueles em que o trans-(-)-cariofileno foi aplica-do para a quantificao dos diterpenos. Portanto, a utilizao dos doispadres seria aconselhvel para a obteno de resultados quantitativosmais fiis para os dois grupos de terpenos presentes no leo. Aplica-dos s anlises de leos de copaba comerciais de diferentes procedn-cias, foi possvel verificar semelhanas e diferenas quantitativas en-tre as amostras, em termos das substncias presentes.

    Este trabalho contribui para estabelecer uma ferramenta para asavaliaes de controle de qualidade dos leos de copaba coletados oucomercializados e para a padronizao da composio desta matria-prima vegetal, em termos de balanceamento qumico entre sesqui editerpenos. A quantificao adiciona uma informao caracterizaocromatogrfica convencional, respondendo, em parte, s necessidadesque emergem dos estudos interdisciplinares envolvendo a eficcia doleo de copaba. O leo de copaba provavelmente representa um casoonde o perfil qumico total, assim como as caracterizaes das espci-es presentes so mais importantes do que as substncias isoladas nadeterminao das possveis atividades farmacolgicas.

    Dentro do aspecto de desenvolvimento de produtos, a metodo-logia estabelecida pode preencher lacunas nos trabalhos reportadosna literatura, no sentido de fornecer base quantitativa aos trabalhosfarmacolgicos que se apiam nos diferentes perfis qumicos apre-sentados pelo leo de copaba, assim como respalda analiticamentea formulao e os estudos de estabilidade de produtos fitoterpicoscontendo este leo.

    Este estudo aponta a perspectiva de se iniciar a certificao qu-mica desta matria-prima vegetal para questes do mercado, em subs-tituio s exigncias inexeqveis de certificao botnica, dada a

    multiplicidade de ocorrncia das espcies, e a inevitvel mistura deleos de espcies diferentes durante as coletas. A resoluo desteponto constitui-se na principal alavanca para a valorizao dos pro-dutos da floresta e, portanto, para a agregao apropriada de valordentro da cadeia que gera produtos industriais a partir deste insumo.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem Coordenao de Aperfeioamento dePessoal de Nvel Superior (CAPES) pela bolsa a J. L. Mazzei.

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