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Coordenação dos Investimentos no Transporte e Produção de Electricidade Ruben Couto Costa Dissertação para a obtenção de Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Prof.ª. Doutora Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana Vogal:Prof. Doutor Pedro Manuel Santos de Carvalho Outubro de 2013

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Coordenação dos Investimentos no Transporte e

Produção de Electricidade

Ruben Couto Costa

Dissertação para a obtenção de Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof.ª. Doutora Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro

Orientador: Prof. Doutor João José Esteves Santana

Vogal:Prof. Doutor Pedro Manuel Santos de Carvalho

Outubro de 2013

ii

iii

Agradecimentos

Quero agradecer ao meu orientador, Professor Doutor João Santana, pela orientação dada ao

longo do trabalho.

Quero agradecer aos meus colegas e amigos, que de uma maneira ou de outra, me

acompanharam ao longo do meu percurso académico, em especial ao Jorge pela total

disponibilidade e ajuda.

Não podia deixar de agradecer à minha família, em especial aos meus pais por tudo aquilo que

nem é preciso explicar.

iv

v

Abstract

The liberalization process introduced several structural changes in the electricity sector. The

traditional vertical integrated companies were unbundled and competition was introduced in the

generation segment. In a deregulated structure, the transmission network is essential to the

well-functioning of the energy markets. Transmission must ensure the security and reliability of

the electric system, provide fair access to energy for all participants, mitigate the market power

and integrate the increase of decentralized production.

Due to the role of the transmission system, an efficient transmission planning becomes

fundamental. Transmission investments must enable and encourage the optimal expansion of

the electric system. In this context, economic analyses of distributional impacts of transmission

investments become very important.

This work studies some of the critical aspects of the transmission system and transmission

investments in a restructured electric industry. A framework that analyses the distribution of

benefits is applied to the Iberian electric interconnection. The results are presented and an

attemp to idenfity who benefits from a transmission investment in the Iberian interconnection is

made.

Keywords: Electric Transmission, Transmission Investment, Transmission Planning,

Cost-Benefit Analysis

vi

vii

Resumo

O processo de liberalização da indústria elétrica introduziu alterações profundas no sector. As

empresas verticalmente integradas do sector tradicional são desmanteladas e a concorrência é

introduzida na geração. Numa indústria elétrica desregulada, a transmissão desempenha um

papel fundamental no bom funcionamento do mercado de energia. A rede de transporte tem de

garantir a segurança e a estabilidade do sistema, possibilitar o livre e justo acesso à energia a

todos os participantes, mitigar o poder de mercado e integrar a crescente produção

descentralizada.

Devido às funções desempenhadas pela transmissão, o processo de planeamento da

expansão da rede é de extrema importância. Os investimentos em transmissão devem

possibilitar e incentivar a expansão eficiente do sistema elétrico. Neste contexto, uma análise

da distribuição de impactos relativos a um investimento em transmissão é um instrumento

fundamental.

Neste trabalho faz-se um estudo teórico sobre a transmissão eléctrica numa indústria

reestruturada. Um modelo de análise da distribuição de benefícios é aplicado à interligação

Ibérica. Os resultados são apresentados e é feita uma tentativa de identificar quem beneficia e

quem perde com um investimento na interligação entre Portugal e Espanha.

Palavras-chave: Transmissão Elétrica, Investimentos em Transmissão, Planeamento

da Rede de Transporte, Análise Custo-Benefício

viii

ix

Índice

Capítulo 1 - Introdução .................................................................................................................. 1

1.1. Contexto.............................................................................................................................. 1

1.2. Objetivos ............................................................................................................................. 1

1.3. Estrutura ............................................................................................................................. 2

Capítulo 2 - Transmissão Elétrica numa Indústria Liberalizada .................................................... 3

2.1. A Liberalização do Sector Elétrico ...................................................................................... 3

2.2. O Mercado de Energia ........................................................................................................ 4

2.3. Regulação ........................................................................................................................... 5

2.4. Planeamento e Expansão da Rede de Transporte ............................................................ 6

2.4.1. Planeamento Tradicional ............................................................................................. 6

2.4.2. Planeamento numa Indústria Reestruturada ............................................................... 7

2.5. Conceitos Económicos ....................................................................................................... 8

2.5.1. Lei da Utilidade Marginal Decrescente ........................................................................ 8

2.5.2. Excedente do Consumidor: .......................................................................................... 9

2.5.3. Excedente do Produtor: ............................................................................................. 10

2.5.4. Excedente Económico Social: ................................................................................... 11

2.6. Coordenação entre Investimento em Transmissão e Geração ........................................ 12

2.7. Congestionamento na Transmissão ................................................................................. 14

2.7.1. Custos de Congestionamento numa Estrutura Elétrica Tradicional .......................... 14

2.7.2. Custos de Congestionamento numa Estrutura Elétrica Restruturada ....................... 17

2.8. Investimento Regulado e Privado em Transmissão ......................................................... 22

2.9. Financiamento e Distribuição de Custos de um Investimento em Transmissão Elétrica. 26

2.9.1. Distribuição de Custos e Benefícios .......................................................................... 27

2.9.2. Estratégias de Obtenção de Capital .......................................................................... 31

2.10. O Mercado Europeu de Eletricidade .............................................................................. 38

2.10.1. O MIBEL ................................................................................................................... 39

Capítulo 3 - Análise da Distribuição de Benefícios de um Investimento em Transmissão na

Interligação Ibérica ...................................................................................................................... 41

3.1. Modelo de Análise do Impacto Económico de Investimentos em Transmissão .............. 41

x

3.1.1. Fundamentos do Modelo ........................................................................................... 41

3.1.2. Formulação do Modelo .............................................................................................. 43

3.1.3. Modelação da Interligação Ibérica ............................................................................. 44

3.1.4. Limitações do modelo ................................................................................................ 45

3.1.5. Metodologia Utilizada ................................................................................................. 47

3.2. Resultados ........................................................................................................................ 47

3.2.1. Período de Ponta de Verão ....................................................................................... 47

3.2.2. Período de Vazio de Verão ........................................................................................ 51

3.2.3. Período de Ponta de Inverno ..................................................................................... 55

3.2.4. Período de Vazio de Inverno ..................................................................................... 58

3.3. Análise dos Resultados .................................................................................................... 61

Capítulo 4 - Conclusões .............................................................................................................. 63

4.1. Trabalho Futuro ................................................................................................................ 65

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 66

xi

Lista de Figuras

Figura 2.1 – Organização do Sistema Elétrico ............................................................................. 3

Figura 2.2 – Cálculo do preço diário ............................................................................................ 5

Figura 2.3 – Utilidade de um produto ............................................................................................ 9

Figura 2.4 – Utilidade marginal .................................................................................................... 9

Figura 2.5 – Excedente do consumidor ...................................................................................... 10

Figura 2.6 – Excedente do produtor ............................................................................................ 11

Figura 2.7 – Excedente económico social .................................................................................. 11

Figura 2.8 – Sistema de dois nós interligados ........................................................................... 15

Figura 2.9 – Custos de produção nodais ................................................................................... 15

Figura 2.10 – Sistema de dois nós com limitação na transmissão ............................................ 16

Figura 2.11 – Custos de produção devido a limitação da capacidade de transmissão ............. 16

Figura 2.12 – Efeito de um investimento em transmissão nos custos de produção .................. 17

Figura 2.13 – Preço de referência no sector desregulado ......................................................... 18

Figura 2.14 – Efeito da restrição na capacidade de transmissão .............................................. 19

Figura 2.15 – Custos de congestionamento segundo o método Uplit Costs ............................. 20

Figura 2.16 – Variação de custos devido ao redespacho .......................................................... 21

Figura 2.17 – Custos da rede ..................................................................................................... 27

Figura 2.18 – Importação e exportação num sistema de dois nó .............................................. 29

Figura 2.19 – Benefícios da Expansão da Transmissão ............................................................ 29

Figura 2.20 - Agregação das Diferentes TSO's numa TSO única .............................................. 32

Figura 2.21 – Programas de Investimento .................................................................................. 34

Figura 2.22 – Aumento anual das tarifas necessário para atingir um determinado ROE

mantendo os padrões financeiros, para diferentes valores de injeção de capital externo, em

relação ao TYNDP ...................................................................................................................... 36

Figura 2.23 – Aumento anual das tarifas necessário para se atingir um determinado ROE

mantendo os padrões financeiros, para diferentes valores de dividend pay-out ratio, em relação

ao TYNDP ................................................................................................................................... 37

Figura 2.24 – Esquema representativo do operador do mercado Ibérico ................................. 39

Figura 3.1 - Ponta Verão: Preço horário do mercado diário .................................................... 48

Figura 3.2 – Ponta Verão: Utilização da capacidade de interligação ........................................ 48

Figura 3.3 – Ponta Verão: Curvas agregadas da oferta e procura Espanha ............................. 49

Figura 3.4 – Ponta Verão: Curvas agregadas da oferta e da procura Portugal ........................ 49

Figura 3.5 – Vazio Verão: Preço Horário do Mercado Diário ..................................................... 52

Figura 3.6 – Vazio Verão: Utilização da Capacidade da Interligação ........................................ 52

Figura 3.7 – Vazio Verão: Curvas Agregadas da Oferta e da Procura Espanha ..................... 53

Figura 3.8 – Vazio Verão: Curvas Agregadas da Oferta e da Procura Portugal ....................... 53

Figura 3.9 – Ponta Inverno: Preço Horário do Mercado Diário .................................................. 56

xii

Figura 3.10 – Ponta Inverno: Utilização da Capacidade da Interligação .................................. 56

Figura 3.11 – Ponta Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha ...................... 56

Figura 3.12 – Ponta Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha ....................... 57

Figura 3.13 – Vazio Inverno: Preço horário do mercado diário ................................................. 59

Figura 3.14 – Vazio Inverno: Utilização da Capacidade da Interligação .................................. 59

Figura 3.15 – Vazio Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha ....................... 59

Figura 3.16 – Vazio Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Portugal ....................... 60

xiii

Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Financial standards ................................................................................................ 32

Tabela 2.2 – Resultados obtidos através da estratégia Business as Usual ............................... 35

Tabela 2.3 - Resultados obtidos através da estratégia Issue Additional Equity ......................... 35

Tabela 2.4 - Resultados obtidos através da estratégia Shift to Growth Model ........................... 37

Tabela 3.1 – Datas selecionadas para análise ........................................................................... 45

Tabela 3.2 – Ponta Verão: Resultados com capacidade de 2100MWh ..................................... 50

Tabela 3.3 – Ponta Verão: Impacto de incrementos na capacidade de transmissão ................. 51

Tabela 3.4 – Vazio Verão: Resultados com capacidade de 500MWh ........................................ 54

Tabela 3.5 – Vazio Verão: Impacto de Incrementos na Capacidade de Transmissão .............. 55

Tabela 3.6 – Ponta Inverno: Resultados com de capacidade de transmissão de 800MWh ...... 57

Tabela 3.7 – Ponta Inverno: Impacto de Incrementos na Capacidade de Interligação .............. 58

Tabela 3.8 – Vazio Inverno: Resultados com Capacidade de 300 MWh.................................... 60

Tabela 3.9 – Vazio Inverno: Impacto de Incrementos na Capacidade de Interligação ............. 61

xiv

xv

Acrónimos ou Lista de Abreviações

ENTSO-E European Network of Transmission System Operators for Electricity

TSO Transmission System Operator

REN Redes Eléctricas Nacionais

OCDE Organisation for Economic Co-operation and Development

TYNDP Ten-year Network Development Plan

CPI Consumer Price Index

ROE Return on Equity

MIBEL Mercado Ibérico de Electricidade

xvi

1

Capítulo 1 - Introdução

1.1. Contexto

A liberalização da indústria elétrica provocou mudanças organizacionais e criou novos desafios dentro

do sector. As empresas verticalmente integradas, características do sector elétrico tradicional, foram

desmanteladas e, enquanto que o segmento de transmissão se manteve regulado, a concorrência foi

introduzida na geração de energia elétrica. Estas alterações conduziram ao aparecimento dos

mercados de energia e permitem aos consumidores escolher livremente o seu fornecedor. Segundo a

literatura, a longo prazo, a liberalização tem como objetivo o aumento da eficiência e redução de

custos do sistema elétrico.

A transmissão de energia elétrica desempenha um papel crucial num sector elétrico desregulado [1].

Os objectivos tradicionais da rede de transporte são a satisfação da procura de energia elétrica,

assim como a garantia da segurança e fiabilidade de todo o sistema [2]. Com a introdução da

concorrência na produção, a rede passou a ser responsável pelo bom funcionamento do mercado.

Tem que permitir o livre acesso à energia e mitigar o possível poder de mercado [3], [4], [5], [6].

Atualmente, é necessária uma rede flexível e robusta por forma a garantir a correta integração do

aumento de produção descentralizada [1], [7], [8].

A reestruturação do sector elétrico tornou o planeamento da expansão da rede uma tarefa mais

complicada [3], [9]. Deixou de haver um planeamento centralizado dos investimentos em geração e

transmissão, o que se traduz num aumento da incerteza. O crescimento da incerteza, em conjunto

com os novos objetivos da transmissão, são os fatores principais que aumentam a complexidade do

planeamento [10].

O desenvolvimento da rede elétrica europeia é uma peça fundamental na estratégia da União

Europeia, relativamente à indústria elétrica. Segundo a ENTSO-E, a médio e longo prazo, é

necessário um grande volume de investimentos em transmissão na rede europeia [11].

Considerando a importância da rede de transporte, o aumento da complexidade do planeamento da

expansão da mesma e as necessidades futuras de investimentos no segmento, uma análise

económica sobre um possível investimento torna-se um instrumento fundamental. É neste contexto

que se insere a presente Dissertação de Mestrado.

1.2. Objetivos

O objetivo desta dissertação é o estudo do segmento de transmissão num sector elétrico liberalizado.

Para isso, pretende-se fazer uma análise teórica de alguns dos aspetos mais importantes relativos à

transmissão elétrica. Finalmente, quer-se aplicar um modelo de análise da distribuição de impactos

relativos a um investimento em transmissão, à interligação entre Portugal e Espanha.

2

1.3. Estrutura

Esta Dissertação de Mestrado está divida em quatro capítulos. No primeiro e presente capítulo, faz-se

a contextualização do tema, definem-se os objectivos do trabalho e apresenta-se a estrutura do

mesmo.

No segundo capítulo é feito um estudo teórico sobre alguns dos aspectos mais importantes relativos à

transmissão elétrica num sector liberalizado. Este capítulo está dividido em dez secções. Nas três

primeiras secções apresenta-se o processo de liberalização, o mercado que resulta do mesmo e as

necessidades e os objetivos da regulação do segmento da transmissão. O planeamento da expansão

da rede de transmissão numa indústria desregulada é analisado na quarta secção. Alguns dos

conceitos económicos essenciais à compreensão do tema são apresentados na secção seguinte. O

tópico do congestionamento da rede é estudado na sétima secção. Na secção 8 compara-se o

modelo de investimentos regulados na rede com o modelo de investimentos privados. Na secção 9

apresenta-se um modelo de distribuição de custos de investimentos e identificam-se estratégias de

obtenção de capital por parte dos operadores dos sistemas de transmissão. Finalmente, na última

secção do segundo capítulo, estuda-se o mercado Europeu de eletricidade e o Mercado Ibérico.

No terceiro capítulo apresenta-se o modelo que se pretende aplicar à interligação Ibérica. Detalham-

se os fundamentos, a formulação e limitações do modelo, faz-se a modelação da interligação entre

Portugal e Espanha e identifica-se a metodologia utilizada. Os resultados da aplicação do modelo são

apresentados e analisados.

No capítulo quatro encontram-se as conclusões e as propostas de trabalho futuro.

3

Capítulo 2 - Transmissão Elétrica numa Indústria Liberalizada

2.1. A Liberalização do Sector Elétrico

A indústria de energia elétrica está estruturada em produção, transporte, distribuição e

comercialização [7]. Um esquema simplificado da organização da mesma está identificada na Figura

2.1.

Figura 2.1 – Organização do Sistema Elétrico [7]

Tradicionalmente, o sector elétrico baseava-se numa empresa verticalmente integrada responsável

por todas funções mencionadas anteriormente. O planeamento e desenvolvimento do parque

produtor estava fortemente relacionado e interligado com as mesmas fases da rede de transporte de

energia. Este processo era coordenado de forma a garantir que a totalidade da procura era satisfeita,

ao mesmo tempo que o sistema elétrico funcionava dentro dos limites que garantissem a segurança e

fiabilidade do mesmo [7]. As decisões sobre investimentos em transmissão eram tomadas

centralmente, em conjunto com as decisões sobre novos investimentos em geração. Com base nas

previsões da procura de energia elétrica, os governos optavam pela construção de novas centrais de

um determinado tipo ou por contratos de importação de energia. Os investimentos na rede de

transporte eram feitos de acordo com os investimentos em geração, as necessidades de importação

e a localização das cargas [12].

Nos anos 80 começou a liberalização dos sectores elétricos. A liberalização baseia-se na introdução

de concorrência na geração e comercialização de energia, passando os consumidores a poder

escolher livremente o seu fornecedor de eletricidade [13]. A reestruturação da indústria elétrica

conduziu ao desmantelamento das empresas verticais características do sector tradicional. Este

processo de desmantelamento, ou unbundling, consiste em separar os monopólios naturais, que

devem manter-se fora do âmbito da concorrência, das atividades contestáveis [14]. A concorrência foi

introduzida na produção e comercialização de eletricidade, enquanto que a transmissão permaneceu

4

um monopólio natural regulado [12]. Tratando-se de um monopólio natural, o segmento da

transmissão elétrica fica sujeito a regulação económica [13].

Neste contexto, surge a figura do operador do sistema de transmissão, TSO. O TSO é responsável

pela gestão e operação da rede de transporte. Dependendo do grau de separação do sector, este

pode ou não possuir as estruturas físicas da rede.

Segundo a literatura, a desregulação do sector tem como principais objectivos o aumento da

eficiência na gestão e operação dos recursos associados a esta atividade, o que se traduzirá numa

redução dos custos de produção, melhoria da qualidade do serviço e, finalmente, numa maior

satisfação por parte dos consumidores.

2.2. O Mercado de Energia

Estas mudanças de paradigma na organização do sector elétrico levaram ao aparecimento dos

mercados de energia elétrica [7]. Estes mercados organizados servem como plataforma para a

compra e venda de energia elétrica por parte dos produtores e consumidores [15].

Os mercados de energia, ou também denominados bolsas de energia, funcionam com base nas

curvas agregadas da oferta e da procura dos produtores e consumidores participantes nesse mesmo

mercado. As ofertas de venda de energia podem ser classificadas como complexas ou simples. As

ofertas complexas estão sujeitas a condições impostas pelos produtores. Estas condições são de

natureza física ou económica e estão normalmente associadas ao funcionamento das centrais. Cada

agente participante no mercado, quando oferece a sua proposta de compra ou venda de energia,

identifica o dia, a hora, o preço e a respectiva quantidade. Posteriormente, para uma determinada

região e data, as ofertas efetuadas por todos os consumidores são reunidas e obtém-se a curva

agregada da procura. A curva agregada da oferta é construída com base nas ofertas de energia

realizadas pelos produtores e, de forma análoga, à dos consumidores [15]. Numa indústria elétrica

reestruturada, os produtores estabelecem livremente os preços das suas ofertas de venda. Desta

forma, as curvas das ofertas substituem as curvas dos custos de produção, características do modelo

regulado. Se o mercado for competitivo, teoricamente, apesar dos geradores poderem escolher

livremente o preço das suas ofertas de energia, a curva agregada da oferta no modelo desregulado

deve aproximar-se da curva agregada dos custos de produção [16].

A intersecção das curvas agregadas da procura e da oferta permite calcular o preço de referência do

mercado para uma determinada hora. Este procedimento está representado na Figura 2.2. O preço

de referência do mercado reflete a solução que apresenta menor custo de produção e que satisfaz a

procura [15]. Este preço é aplicado a todas as unidades de energia selecionadas para venda,

inclusive as que foram oferecidas a um preço inferior ao estabelecido. Por exemplo, para os

geradores que ofereceram energia a preço zero, todas as suas unidades de energia vão ser vendidas

ao preço de mercado, recebendo estes um valor superior ao preço presente na sua oferta [13].

5

Figura 2.2 – Cálculo do preço diário [15]

A energia é negociada para cada uma das 24 horas de cada dia do ano e é transacionada no dia

seguinte à negociação. O responsável pelo bom funcionamento da bolsa de energia é um agente

independente, o operador de mercado. O operador de mercado é responsável pela recolha das

ofertas de produção e consumo de energia, estabelece as curvas agregadas da procura e da oferta e

estabelece o preço de referência do mercado [13], [17].

Outro método aplicado ao mercado desregulado baseia-se na não obrigatoriedade da bolsa de

energia. Este método confere liberdade aos intervenientes do mercado para estabelecerem, entre si,

contratos bilaterais de transação de energia não submetidos à regulação [13].

2.3. Regulação

O sector elétrico reestruturado caracteriza-se pela abertura do mercado da geração de energia

elétrica. Contudo, o segmento da transmissão elétrica mantém-se um monopólio. A existência de um

monopólio público ou privado determina a necessidade de uma ação reguladora, que deve ser

exercida pelo estado ou delegada numa entidade mais ou menos independente [13].

A liberalização da indústria elétrica tornou o trabalho da regulação mais complicado [9], [18]. O

serviço de transmissão elétrica é complexo, o que torna difícil a regulação de uma empresa do sector.

Por exemplo, a aplicação da lei de Kirchhoff à capacidade de transmissão, depende da localização

dos centros produtores e das cargas. Para além disso, para um dado investimento a maior parte dos

custos são afundados. Acrescenta-se também o aspeto da flutuabilidade da procura, que torna a

ocupação da capacidade de transmissão um problema. A longo-prazo, o maior desafio prende-se

com a otimização do investimento, que tem de incentivar a expansão eficiente da rede e minimizar os

custos dos investimentos [9].

A regulação de uma empresa da área de transmissão de energia elétrica tem que ponderar

diferentes objetivos. Estes são: garantir a viabilidade financeira da empresa regulada, estimular a

prestação justa e adequada do serviço, incitar a minimização de custos de operação, garantir a

6

existência de uma renda recolhida pelo TSO e motivar a expansão eficiente da rede. Este último é

principalmente relevante, uma vez que uma expansão ótima da rede de transporte é um fator crítico

para o bom funcionamento do modelo liberalizado do sector elétrico [19].

2.4. Planeamento e Expansão da Rede de Transporte

De acordo com a literatura, num mercado de energia elétrica reestruturado a rede de transporte

desempenha um papel fundamental. À semelhança do que acontecia numa indústria tradicional, a

transmissão é indispensável para que a procura de energia elétrica seja satisfeita pela oferta e deve

garantir a segurança e fiabilidade de todo o sistema [2]. Com a liberalização do sector, a transmissão

é também responsável pelo bom funcionamento do mercado. Uma capacidade de transmissão

eficiente garante o livre e justo acesso de todos os intervenientes à energia de baixo custo, mitiga o

poder de mercado por parte dos geradores e aumenta a competição ao nível da produção elétrica [3],

[4], [5], [6]. Mais recentemente, a rede de transporte tem que garantir a integração da crescente

produção descentralizada, principalmente eólica, que altera drástica e rapidamente os perfis de

produção de eletricidade [1], [7], [10].

A rede de transporte é um dos componentes do sistema elétrico e, como foi visto anteriormente, é de

uma importância extrema no bom funcionamento do mesmo. Contudo, o planeamento e expansão da

rede de transmissão numa indústria elétrica reestruturada torna-se mais complicado [3], [9]. A

complexidade deste processo deve-se principalmente ao facto dos investimentos em geração de

eletricidade serem feitos por empresas privadas, com base em sinais de mercado. Além disso, uma

nova linha de transmissão demora significativamente mais tempo a estar concluída que uma nova

central de produção [9].

2.4.1. Planeamento Tradicional

Num sector elétrico tradicional, o planeamento da rede é centralizado na empresa verticalmente

integrada que gere todo o sector. Os investimentos em transmissão são realizados para garantir a

segurança e fiabilidade do sistema e satisfazer o crescimento da procura. O planeamento de todo o

sistema elétrico baseia-se na redução de custos. Como os investimentos em transmissão são mais

baratos quando comparados com o preço de instalar nova capacidade de geração, em geral, o

processo de expansão é feito de forma sequencial. A instalação de nova capacidade de transmissão

segue os investimentos em geração. Em primeiro lugar, constrói-se a capacidade de geração que

resulta no custo de produção mais baixo. De seguida, é construída uma linha ou aumenta-se a

capacidade de uma já existente, por forma a potenciar ao máximo a nova capacidade de produção.

Através de estudos económicos pode-se concluir que, para determinadas situações, um investimento

em transmissão é suficiente para satisfazer o crescimento da procura, sem ser necessário instalar

nova capacidade de produção. Noutros casos os investimentos em transmissão são justificados

apenas pela garantia de segurança do sistema. Desta forma, o planeamento e expansão da rede de

transporte, e do restante sistema elétrico, é um problema de minimização de custos, cujas restrições

são a segurança e fiabilidade do sistema [3].

7

2.4.2. Planeamento numa Indústria Reestruturada

A reestruturação do sector elétrico alterou os objetivos e aumentou a incerteza do planeamento da

rede de transporte. Os objetivos a atingir através da expansão da transmissão são permitir um

ambiente competitivo e não discriminatório a todos os participantes no mercado e manter, em todos

os instantes, a estabilidade do sistema [4], [10]. Buygi em [10], concluí que a principal função deste

processo, passa pela satisfação das expectativas dos intervenientes no mercado. No mesmo

trabalho, faz a recolha literária dos objetivos esperados pelas partes interessadas relativamente a um

novo projeto na rede de transporte. Esses pontos são apresentados de seguida:

1. Incentivo e facilitação da concorrência no mercado elétrico.

2. Acesso indiscriminado a energia de baixo custo.

3. Minimização dos riscos de investimento.

4. Minimização dos custos do investimento e operação.

5. Aumento da fiabilidade da rede.

6. Aumento da flexibilidade do operador do sistema

7. Redução dos custos da rede.

8. Diminuição dos impactos ambientais.

9. Aumento do valor global do sistema.

O aumento da incerteza é outro fator que induz diferenciação entre o planeamento numa indústria

regulada e numa desregulada. No mesmo trabalho referido em cima, Buygi identifica detalhadamente

as fontes de incerteza associadas à industria desregulada. Essas fontes são:

1. Cargas.

2. Custos de produção e consequentemente as ofertas dos produtores.

3. Potência e ofertas de produtores independentes.

4. Transações de energia com outras áreas e países.

5. Colapso ou encerramento de geradores ou linhas.

6. Expansão ou recuo de produção.

7. Expansão ou recuo do consumo.

8. Instalação, encerramento ou reparação de instalações da rede.

9. Custos de expansão de transmissão.

10. Regras de mercado.

Devido aos novos desafios, mudança de paradigma e aumento da incerteza, presentes no

planeamento da rede, novos métodos e critérios foram desenvolvidos.

Em [20] é proposto um método de planeamento da rede com base em diferentes padrões de trânsito

de energia. Em [21] um plano de expansão da rede é desenvolvido combinando um trânsito de

energia probabilístico ótimo e uma tomada de decisão incerta. Um plano a médio prazo através de

programação linear é apresentado em [22]. Recorrendo a uma formulação de programação linear

mista, um plano a longo-prazo, para um mercado de eletricidade, é desenvolvido em [23]. Em [8] é

proposto um algoritmo genético para a expansão de um sistema de transmissão. Tanto em [24], como

8

em [25] são apresentados modelos de expansão baseados na segurança e fiabilidade do sistema.

Um estudo sobre os critérios económicos que devem ser considerados no planeamento da rede é

proposto em [26]. Um modelo que considera investimentos privados em transmissão e que emite

sinais de mercado para os produtores, é apresentado em [27]. Em [28] o plano de desenvolvimento

da rede realizado por uma TSO proactiva é estudado, analisando-se o caso real da TSO Italiana. Em

[9] são considerados diversos planos de expansão ao nível da geração. De entre esses, é

selecionado o que produz melhores resultados para os produtores. Para o mesmo plano de expansão

da geração, são estudados vários planos de expansão da rede, sendo selecionado o que melhor

mitiga o poder de mercado. Em [29] faz-se uma análise à evolução dos investimentos em transmissão

de um ponto de visto económico e de engenharia. Um método probabilístico para calcular a função

densidade de probabilidade dos preços nodais é apresentado em [10]. No mesmo trabalho, são

também apresentados vários modelos comerciais. Um modelo analítico de multicamadas é proposto

em [30]. Em [4] os diferentes métodos de expansão são classificados e faz-se a sumarização dos

métodos não determinísticos.

Para além do estudo técnico do sistema, é também necessária uma análise económica. Esta análise

deve ser capaz de estudar os diferentes impactos do um novo projeto em transmissão, considerando

todos os pontos de vista e obtendo informação sobre os benefícios recolhidos por todos os

participantes [3].

2.5. Conceitos Económicos

A expansão ótima da rede de transporte necessita de uma análise económica aprofundada sobre os

impactos que um novo projeto em transmissão tem na sociedade. Estes impactos são medidos com a

ajuda de conceitos económicos como o excedente do produtor, excedente do consumidor e

excedente económico social. Estes conceitos detêm elevada importância e são a base das análises

de custo-benefício, preponderantes nas tomadas de decisão sobre os diferentes investimentos em

transmissão.

2.5.1. Lei da Utilidade Marginal Decrescente

A lei da utilidade marginal decrescente expressa que, à medida que o consumo do bem aumenta, a

sua utilidade marginal diminui. Isto é, para o consumidor, as primeiras unidades adquiridas de um

determinado bem têm um valor mais elevado que as restantes. A utilidade total aumenta com o

consumo porém, a utilidade marginal, a utilidade da próxima unidade adquirida, diminui. A curva da

utilidade de um bem está representada na Figura 2.3. Já na Figura 2.4 apresenta-se a curva da

utilidade marginal de um produto. Sendo assim, a utilidade total de um bem é caracterizada por uma

taxa de crescimento decrescente. Esta Lei é a base dos conceitos apresentados de seguida [31].

9

Figura 2.3 – Utilidade de um produto [32]

Figura 2.4 – Utilidade marginal [32]

2.5.2. Excedente do Consumidor:

O excedente do consumidor é a diferença entre a utilidade total de um bem e o seu valor de mercado.

Este conceito pode ser analisado de dois pontos de vista diferentes: o excedente do consumidor de

um indivíduo isolado ou de um mercado.

10

O excedente do consumidor de um indivíduo advém da lei da utilidade marginal decrescente.

Segundo esta, à medida que o consumo de um bem aumenta, tende a diminuir a sua utilidade

marginal. Desta forma, a utilidade do consumidor é superior ao valor de mercado e é definida pelo

integral da curva da procura desse indivíduo, limitado pela reta do preço de mercado.

O excedente do consumidor de um mercado é equivalente à definição anterior mas utilizando a curva

de procura agregada de um mercado em vez da curva da procura de um único consumidor. A curva

da procura agregada quantifica o que os consumidores estão disponíveis a pagar por cada unidade

consumida. A área abaixo dessa curva, que representa a utilidade do bem, subtraída do valor de

mercado corresponde ao excedente dos consumidores [31].

Figura 2.5 – Excedente do consumidor

Em teoria, um investimento deve ser efetuado caso o excedente total do consumidor exceda os seus

custos [31].

2.5.3. Excedente do Produtor:

O excedente do produtor é a diferença entre as receitas dos produtores e os seus custos totais de

produção. Os conceitos de excedente de um produtor individual ou, excedente de produtores de um

mercado, podem ser definidos de forma análoga à do excedente do consumidor.

11

Figura 2.6 – Excedente do produtor

2.5.4. Excedente Económico Social:

O excedente económico social é definido pela soma dos excedentes dos produtores e dos

consumidores. Este conceito representa a utilidade total, gerada por uma determinada economia, que

excede os seus custos de produção totais. Uma economia diz-se eficiente, quando a partir dos

recursos disponíveis se obtém o máximo excedente económico [31].

Figura 2.7 – Excedente económico social

Na análise de investimentos em transmissão, o excedente económico social não se restringe apenas

ao excedente do produtor e consumidor. Uma terceira parcela tem de ser incluída, as rendas de

transmissão. Estas são a fonte de receitas dos detentores das linhas [33]. As rendas de transmissão

refletem o custo de transportar energia e equivalem à diferença entre o que os consumidores pagam

e o que é recebido pelos produtores [16]. O tema das rendas e custo de congestionamento é

aprofundado mais à frente neste trabalho.

12

2.6. Coordenação entre Investimento em Transmissão e Geração

Nova capacidade de transmissão pode ser vista como substituto ou complemento à capacidade de

produção de eletricidade. No entanto, um novo projeto de transmissão não pode ser considerado

exclusivamente como substituto ou complemento à produção, mas sim uma mistura das duas

características [34].

O impacto de um investimento em transmissão é diferente dependendo do ponto de vista adotado.

Tanto um gerador como um consumidor num nó importador vêm um novo projeto em transmissão

como um substituto à geração. Contrariamente ao consumidor, que beneficia do preço mais baixo da

eletricidade, que a nova capacidade de transmissão permite, o produtor sofre uma diminuição das

receitas. No nó exportador a nova capacidade de transmissão é vista como um suplemento porque

permite ao produtor exportar uma quantidade de energia maior, aumentando as suas receitas. Como

não são assumidas economias de escala ao nível da produção elétrica, o aumento da quantidade

exportada pelo gerador, traduz-se num aumento de custos de produção, que se traduzem num

aumento do preço da energia. Este aumento de preço vai diminuir o excedente dos consumidores do

nó exportador [34].

Existem duas soluções distintas para lidar com o aumento da procura ou, com o fecho de um grande

centro produtor num nó da rede. A resposta a esta alteração pode ser dada através do aumento da

capacidade de transmissão, o que permite a importação de energia mais barata proveniente de um

nó com o preço marginal mais baixo. Outra solução passa por uma empresa privada avançar com a

construção de nova capacidade de geração no nó em causa, substituindo assim a necessidade de

investimento em transmissão [34]. Para além de substituir energia cara por energia mais barata

proveniente de geradores mais afastados das cargas, o aumento da capacidade de transmissão

mitiga o poder de mercado dos produtores, que surge devido ao congestionamento das redes. O

aumento da capacidade de transmissão diminui os custos de produção de eletricidade do sistema, ao

mesmo tempo que aumenta o nível de concorrência entre produtores [35].

Uma coordenação coerente entre investimentos em geração e transmissão é necessária, não só

devido à característica de complemento e substituição dos mesmos, mas também devido à forte

interligação entre os dois segmentos da indústria elétrica. Por um lado, o congestionamento pode

influenciar os processos de operação e planeamento dos produtores, afetando a localização e

capacidade de novas centrais. Por outro lado, a expansão do parque produtor pode aumentar os

níveis de congestionamento da rede, comprometendo a eficiência dos reforços da mesma [36].

Como consequência da liberalização do mercado de eletricidade, a coordenação dos investimentos

em geração e transmissão deixou de ser feita de uma forma centralizada. Os investimentos em nova

capacidade de geração são realizados por empresas de produção privadas que têm como objetivo a

maximização dos seus lucros. Ao nível da rede de transporte, os investimentos em nova capacidade

é responsabilidade de um TSO. O objetivo deste operador do sistema de transmissão passa por

garantir a segurança da rede e maximizar o bem estar social. O desalinhamento de objectivos do

13

planeamento da rede de transporte e do planeamento do parque produtor, podem resultar num

conflito entre fatores económicos, de segurança e bom funcionamento da rede [36]. Neste contexto,

um dos desafios presentes a uma TSO é o planeamento independente da expansão da rede. A

expansão ótima da rede pode envolver investimentos em geração numa região da rede importadora,

onde exista bastante congestionamento e, onde a concorrência pode ser elevada. Como numa

indústria liberalizada, os investimentos em geração são realizados por empresas privadas que visam

maximizar os seus lucros, estas podem preferir investir num nó exportador dessa região

congestionada, prevendo que o operador tenha depois que aumentar a capacidade de transmissão

nesse local. O produtor pode avançar com a sua decisão, esperando que o TSO investimenta

posteriormente em nova capacicade de transmissão. Esta combinação de investimentos é mais cara

que a inicialmente prevista, mas considerando o investimento em geração realizado, o TSO pode ser

forçado a investir em nova capacidade de transmissão. No entanto, pode ser preferível socialmente

que não haja investimento em transmissão. Desta forma, caso o operador consiga não investir no

aumento da capacidade de transporte entre os dois nós, os preços nodais baixos do nó exportador

podem desencorajar os produtores a investir dessa forma e, levá-los a investir onde o sistema mais

precisa [1].

Os objectivos do operador do sistema de transmissão podem ser classificados em três categorias

distintas: gestão do trânsito de energia e do congestionamento a curto prazo, desenvolvimento da

rede de transporte e coordenação com sistemas adjacentes. A coordenação entre a transmissão e a

geração está mais dependente dos dois primeiros. Os dois objectivos distinguem-se em relação ao

seu horizonte temporal, o primeiro é a curto prazo, enquanto que o segundo é a longo prazo. Em [35]

identifica-se a estrutura ideal de uma TSO para atingir os dois tipos de objetivos. Essa TSO ideal

resulta da combinação de um método de preços nodais e de uma política e ação reguladora a nível

da minimização de custo de congestionamento e de investimento na rede [35].

Um sistema de preços nodais promove uma gestão eficiente da congestionamento a curto-prazo [1]

[2]. Utilizando este método, se os produtores não oferecerem as suas ofertas de forma competitiva,

pode surgir distorção, o que impede a determinação do trânsito de energia eficiente. Contudo, os

resultados promovidos pelos preços nodais, originam uma alocação fléxivel da rede o que se traduz

numa forte sensibilidade da procura. Desta forma o poder de mercado tende a ser mitigado e

consequentemente a distorção é menor que com outros métodos [1].

O planeamento e expansão da rede a longo prazo devem resolver o congestionamento desde que

seja economicamente viável. A TSO deve investir de forma a reduzir os custos da rede, através de

uma ponderação dos custos de congestionamento e de investimento, maximizando assim o bem-

estar social. As TSO’s reais caracterizam-se por várias combinações de esquemas sub-ótimos [35].

14

2.7. Congestionamento na Transmissão

A liberalização da indústria elétrica introduziu alterações aos fluxos de energia na rede. No sector

tradicional, a localização da geração era estável e fácil de prever. A possibilidade de compra e venda

de energia sem restrições, característica da reestruturação, aumenta o trânsito de energia e torna-o

mais dinâmico. Acrescenta-se o grande contributo do aumento da produção descentralizada,

principalmente a eólica, para o caracter dinâmico dos fluxo de energia na rede. Neste novo cenário,

assiste-se a um aumento significativo de congestionamento na rede [7].

O congestionamento em transmissão ocorre quando, devido aos limites de segurança das linhas, não

existe capacidade de transmissão suficiente para suportar todos os pedidos de serviço de transporte

de energia. Para garantir a fiabilidade do sistema, o operador tem que fazer um redespacho dos

geradores e, no limite, tem que negar alguns dos pedidos de transmissão para impedir que as linhas

colapsem. O custo associado ao congestionamento, assumindo que a procura é fixa e que tem de ser

satisfeita, é o custo líquido de substituir a energia que não pode ser transportada, por exemplo,

através de energia proveniente de geradores mais próximos mas com um preço marginal mais

elevado [16]. Os custos associados ao congestionamento equivalem a cerca de 3 % a 5% dos preço

total de energia [19]. Em adição ao seu custo, o congestionamento provoca a diminuição do efeito da

concorrência entre geradores e, impede o acesso a energia a baixo custo a uma parte dos

consumidores [16].

No relatório “Electricity Transmission Congestion Costs: A review of Recent Reports”, elaborado pelo

Ernest Orlando Lawrence Berkeley National Laboratory, são apresentados diferentes métodos para

lidar com o congestionamento e os seus custos. Partindo de um exemplo simples de dois nós

interligados, é analisado o impacto do congestionamento num sector elétrico vertical. Relativamente a

uma indústria elétrica reestruturada, são identificadas três formas distintas de gestão dos custos de

congestionamento, em uso nos Estado Unidos. Os diferentes métodos de gestão do

congestionamento, identificados no relatório, são apresentados de seguida.

2.7.1. Custos de Congestionamento numa Estrutura Elétrica Tradicional

O congestionamento na rede de transmissão e os seus custos associados estão presentes não só

num mercado liberalizado de energia mas, também num mercado regulado, que é caracterizado por

uma empresa que integra verticalmente todas os segmentos da indústria de energia elétrica.

Recorrendo ao exemplo prático apresentado em [16], identificam-se de seguida os custos de

congestionamento relativos ao modelo centralizado do sector elétrico e, a forma como estes são

distribuídos. O exemplo prático consiste em dois nós ligados por uma linha de transmissão. Os nós

são caracterizados por uma procura inelástica de 500MW. Em relação à linha de transmissão são

estudados dois casos, no primeiro a capacidade da linha é ilimitada, enquanto que no segundo é

limitada.

15

Figura 2.8 – Sistema de dois nós interligados [16]

Figura 2.9 – Custos de produção nodais [16]

Em cada nó, cada produtor oferece a energia ao seu custo marginal e, juntando as curvas da oferta

de cada gerador e em cada nó, definem-se as curvas agregadas de oferta nodais. Na Figura 2.9

estão representadas as curvas da oferta para cada um dos nós, sendo que a do nó A tem o

andamento da esquerda para a direita e, a do nó B o andamento inverso, da direita para a esquerda.

O despacho económico, que corresponde à solução de menor custo de produção, é calculado pela

intersecção das linhas agregadas da oferta nos dois nós. Neste contexto, e para suprir a procura em

cada nó são produzidos 700MW no nó A e 300MW no nó B. A linha de transmissão de capacidade

ilimitada permite que haja um trânsito de energia de 200MW do nó A para o nó B. Tratando-se de um

caso em que não existem restrições ao nível do transporte de energia, o preço nodal é igual nos dois

nós e tem o valor de $25.

Analisa-se de seguida o caso em que existe um limite de 100MW na capacidade de transmissão na

linha que liga os dois nós. A restrição influencia o despacho económico do sistema. Ao invés de

transitarem 200MW do nó A para o nó B, como no caso ótimo, apenas são transferidos 100MW, os

restantes 100MW necessários para satisfazer a procura no nó B terão de ser produzidos pelo gerador

localizado em B. Pela Figura 2.11 pode-se concluir que com esta limitação na capacidade de

transmissão, o custo marginal em B aumentou e o custo marginal em A diminuiu. Esta variação nos

preços marginais resultam num aumento global dos custos de produção de energia no sistema,

16

quando comparados aos custos na caso sem restrição. O custo de produção global é representado

pela área a sombreado que, por usa vez, está limitada pelas curvas agregadas da oferta dos dois

nós. Tratando-se de uma empresa vertical do sector que engloba a produção, transporte e

distribuição, este aumento nos custos é tido como o preço a pagar pela segurança do sistema e, é

distribuído pelos consumidores dos dois nós. Na Figura 2.12 pode-se observar a diminuição dos

custos de produção e o respetivo aumento do excedente dos consumidores que seria obtido através

do aumento da capacidade de transmissão.

Figura 2.10 – Sistema de dois nós com limitação na transmissão [16]

Figura 2.11 – Custos de produção devido a limitação da capacidade de transmissão [16]

17

Figura 2.12 – Efeito de um investimento em transmissão nos custos de produção [16]

A redução dos custos de produção por parte da empresa vertical não é só obtida através da

instalação de nova capacidade de transmissão, o investimento em geração no nó com o custo de

produção mais elevado pode servir de substituto ao investimento na ligação. Este valor de redução de

custos de produção obtido através da expansão da capacidade de transmissão indicado na Figura

2.12, torna-se um instrumento importante para a tomada de decisões sobre novos investimentos e

estratégias com vista a tornar o sistema mais eficiente.

Qualquer decisão de investimentos vai ter impactos distintos sobre as partes interessadas pois, como

já foi visto anteriormente, nova capacidade de geração ou transmissão têm impactos diferentes

conforme se trata de um consumidor ou produtor e do nó onde este se localiza.

Salienta-se que nesta secção apenas se estudam os métodos de gestão do congestionamento e os

seus impactos. Observando o exemplo para uma indústria tradicional verifica-se que sendo os

produtores remunerados pelos seus custos de produção, apenas os seus custos variáveis seriam

recuperados. Os custos fixos dos produtores são obtidos através do estabelecimento de contratos.

2.7.2. Custos de Congestionamento numa Estrutura Elétrica Restruturada

Analisa-se agora o caso de um mercado de eletricidade reestruturado, onde a concorrência é

introduzida ao nível da produção e a transmissão fica ao encargo de uma empresa monopolista. No

mercado liberalizado as curvas nodais agregadas da oferta são construídas com base não nos custos

marginais de produção, mas sim nas ofertas de energia realizadas pelos produtores. Se o mercado

for competitivo, as curvas de energia oferecidas pelos produtores devem-se aproximar das curvas

que representam os seus custos de produção [16].

No modelo liberalizado, introduz-se o conceito de preços marginais locais e de preço de referência do

mercado. Como foi visto anteriormente, os preços marginais locais substituem os custos marginais de

produção, nas ofertas de energia feitas pelos produtores. O preço de mercado, ou preço de

referência, é o preço pelo qual vão ser vendidas todas as unidades de energia consumidas numa

18

determinada região, que pode conter vários nós. Este corresponde ao preço ao qual foi oferecida a

última unidade de energia aceite pelo mercado e vai ser aplicado a todas as unidades de energia

aceites primeiro e oferecidas a um preço inferior [16].

A Figura 2.13 mostra as curvas agregadas da oferta para o exemplo de dois nós estudado

anteriormente. Analisa-se agora o caso de um mercado restruturado sem restrições ao nível da

transmissão entre o nó A e o nó B.

Figura 2.13 – Preço de referência no sector desregulado [16]

A Figura 2.13 representa o despacho económico efetuado neste cenário. Tal como no caso de uma

empresa verticalmente integrada, os geradores localizados no nó A produzem 700MW de energia

elétrica, enquanto que os do nó B 300MW. Por forma a suprir a procura inelástica de 500MW em

cada nó, há um trânsito de energia de 200MW do nó A para o nó B. Não havendo nenhuma limitação

na capacidade de transmissão, o preço de mercado é igual em ambos os nós e é igual a $25. Este é

também o preço de mercado e, vai ser aplicado a todas as unidades de energia vendidas. Com base

neste valor é possível calcular as receitas pagas pelas cargas aos geradores nos dois nós:

(1) 700[MW] * 25[$ / MWh] 300[MW] * 25[$ / MWh] 25000[$ / h]+ =

O valor pago a cada um dos grupos de geradores, A e B, está representado na Figura 2.13 pela área

a sombreado. Pode-se observar que este valor é maior que o custo de produção e, o excedente dos

consumidores pode corresponder à área sombreada que está acima da curva da oferta. O facto de as

receitas do produtores neste modelo serem superiores aos seus custos funciona como um incentivo

ao investimento em geração de baixo custo, o que, a longo-prazo, se traduz numa redução de custos

de produção.

Em [16] é realçado o facto de utilizando um preço de referência, o custos para os consumidores

serem bastantes superiores comparativamente ao modelo baseado no custo de produção

característico de uma industria vertical. A razão apresentada para o uso de um preço de referência,

centra-se no facto de caso este não fosse estabelecido, os produtores não teriam a tendência de

oferecer energia aos seus custos marginais. Teoricamente, os dois modelos, com e sem um preço de

19

mercado, vão obter resultados idênticos, sendo que como foi visto anteriormente, o preço de

referência conduz a um sistema mais eficiente a longo-prazo [16].

Analisando o mesmo sistema mas, sujeito a um limite de capacidade de transmissão de 100MW, o

resultado é semelhante ao obtido no caso de um mercado não liberalizado. A procura de 500MW em

cada nó é satisfeita através de 600MW e 400MW no nós A e B respetivamente. A energia

transportada é de 100MW de A para B.

Figura 2.14 – Efeito da restrição na capacidade de transmissão [16]

A diminuição de produção no nó A provoca uma diminuição do preço marginal local para $23, o

oposto acontece no nó B que sofre um aumento de preço marginal local de $25 para $30 devido ao

aumento de produção. O relatório identifica três métodos distintos para lidar com os custos de

congestionamento que são utilizados no mercado liberalizado de energia Norte-americano, Uplift

Charges, System Redispaych Payments e Congestion Revenues. Cada um deles é apresentado e

analisado de seguida.

2.7.2.1. Uplift Charges

Este método é o que mais se aproxima do caso de uma indústria elétrica vertical, apesar dos preços

marginais locais diferirem, é estabelecido um preço comum aos dois nós do sistema. Na Figura 2.15

a área a sombreado representa as receitas dos geradores que correspondem aproximadamente a :

(2) [ ]600 * 25 300 * 25 100 * 27,5 25250 $ / h+ + =

20

Figura 2.15 – Custos de congestionamento segundo o método Uplit Costs [16]

O custo associado ao congestionamento, neste método, é definido como Uplift Charges e é igual a

$250/h. O preço de mercado cobrado às cargas independentemente da sua localização é obtido

através da equação:

(3) 25250[$ / h]

25.25[$ / MWh]1000[MW]

=

Segundo os autores, o estabelecimento de um preço de referência aplicado a todos os consumidores,

na existência de congestionamento, não incentiva o investimento em nova geração onde esta é mais

necessária. Assim sendo a competitividade do mercado a longo prazo pode não ser preservada.

2.7.2.2. Sytem Redispatch Costs

Na existência de congestionamento, ao contrário do método de Uplift Charges, o System Redispatch

Costs define dois preços de referência distintos. O preço de referência em cada localização é

equivalente ao preço marginal local. Comparando com o caso em que não existe congestionamento e

considerando preços locais distintos, existe uma diminuição de custos por parte dos consumidores no

nó A e, um aumento de custos no nó B. As alterações aos encargos dos consumidores em cada

região pode ser observada na Figura 2.16.

21

Figura 2.16 – Variação de custos devido ao redespacho [16]

O aumento dos custo globais dos consumidores do sistema com uma restrição comparativamente ao

sistema sem restrições na transmissão é calculado através da seguinte expressão:

(4) 600[MW] * 23[$ / MWh] 400[MW] * 30[$ / MWh]

700[MW] * 25[$ / MWh] 300[MW] * 25[$ / MWh] 800[$ / h]

+

− − =

Este aumento de $800/MWh nos custos dos consumidores é mais elevado do que o obtido através do

método Uplift charges. Acrescenta-se ainda que o aumento dos custos, devido ao congestionamento,

não são suportados por todos os consumidores, mas sim apenas pelos consumidores do nó B.

Este método de gestão do congestionamento foi concebido principalmente para ser aplicado em

tempo real, sendo a sua utilização possível noutros horizontes temporais [7].

2.7.2.3. Congestion Revenues:

Este método denominado Congestion Revenues, ou Market Splitting, à semelhança do anterior, gere

o congestionamento definindo preços de referência distintos para cada uma das regiões afectadas.

As linhas que atingem o limite de funcionamento são identificadas e o sistema é dividido em dois ou

mais subsistemas separados por troços congestionados [37]. Os preços de referência de cada

subsistema, são definidos com base nas curvas da oferta e procura locais e correspondem ao preço

marginal local [7], [37].

Segundo este método, as receitas pagas aos geradores são independentes do local onde a energia

é consumida. Desta forma existe uma discrepância entre o que é pago pelos consumidores e o que é

recebido pelos produtores. Como foi visto anteriormente, os preço de referência dos nós A e B são

$23\MWh e $30\MWh respetivamente. O valor recebido pelos geradores pode ser calculado da

maneira seguinte:

(5) 600[MW] * 23[$ / MWh] 400[MW] * 30[$ / MWh] 25800[$ / h]+ =

22

O custo pago pelos consumidores é superior ao recebido pelos produtores, uma vez que toda a

energia consumida em cada nó é cobrada ao preço marginal local respetivo.

(6) 500[MW] * 23[$ / MWh] 500[MW] * 30[$ / MWh] 26500[$ / h]+ =

A esta diferença entre o que é pago pelas cargas e o que é recebido pelos geradores chama-se

rendas de congestionamento. As rendas de congestionamento são distribuídas pelos detentores dos

direitos de transmissão da linha congestionada [16]. Na Europa as rendas de congestionamento são

normalmente atribuídas à TSO.

Este método conduz à utilização total da capacidade de transmissão. A existência de uma renda que,

se considera como a receita da TSO, pode levar a que esta, durante o exercício das suas funções,

decida preservar a congestionamento por forma a aumentar as suas receitas. Desta forma, é

necessária uma maior ação reguladora e, em geral, as rendas de congestionamento são direcionadas

para investimentos de reforço da rede ou diminuição de tarifas. Este método produz sinais de

mercado eficientes, o que o torna na melhor solução para resolver o congestionamento a nível

estrutural [7].

2.8. Investimento Regulado e Privado em Transmissão

Num sector elétrico tradicional verticalmente integrado a transmissão elétrica era considerada um

monopólio natural que necessitava de regulação [38]. A reestruturação da indústria elétrica introduziu

a competição na produção elétrica, onde empresas privadas procuram maximizar os seus lucros

através da venda de energia elétrica. Num mercado liberalizado a transmissão elétrica continua a ser

um sector regulado. Apesar da transmissão elétrica continuar a ser regulada, têm que se distinguir

dois tipos de investimentos em transmissão, privados e regulados. Os projetos de transmissão

regulados podem ser propostos pelo regulador ou pela empresa regulada do sector de transmissão.

Nestes casos, os custos são suportados por todos ou, por uma parte dos participantes do mercado

[33]. Os investimentos privados em transmissão são propostos por empresas privadas e todos os

custos são suportados pelas mesmas, sendo remuneradas através do mercado. A remuneração dos

projetos privados é obtida através de rendas de congestionamento, enquanto que os projetos

regulados através de uma taxa fixa pelo regulador. [17].

Os economistas reconhecem problemas no modelo de transmissão regulada mas, têm pontos de

vista distintos sobre a eficiência do modelo de transmissão privada [38]. Em [39], [40], [41] são

apresentadas as condições, sobre as quais o modelo de investimento privado resulta numa expansão

eficiente da rede. O desenvolvimento da tecnologia na área da transmissão é um dos fatores que em

[42], [43], [44] faz com que a vantagem caía sobre o modelo regulado. Nesses trabalhos defende-se

que apenas e só os investimentos em grande escala sejam regulados. P. Joskow e J. Tirole, em [17]

defendem que os benefícios teóricos associados ao modelo de investimento privado se desvanecem

quando se aplicam à realidade. Segundo os autores, isso acontece porque o modelo privado não tem

em consideração as imperfeições do mercado de transmissão elétrica. Concluem ainda que os

investimentos privados não podem ser visto como substitutos dos investimentos regulados, apenas

23

como complemento mas, em pequena escala. Hogan em [33] afirma que os investimentos privados

apenas são viáveis em pequena escala e, como tal, uma expansão eficiente necessita de

investimentos regulados em transmissão. Em [1] são propostas diferentes soluções, dependendo das

circunstâncias. Na Europa o modelo privado deveria ser restrito a investimentos de expansão,

interconectores, enquanto que nos Estados Unidos, estes também se poderiam aplicar a

investimentos de melhoramento da rede. Joskow reconhece que ambos os modelos são imperfeitos,

e apresenta as falhas associadas a cada um dos modelos em [45]. Stephen Littlechild compara os

modelos, recorrendo a casos reais, na Austrália e Argentina. A identificação das falhas aos dois

modelos, assim como o estudos do caso Australiano, são efetuados mais a frente neste trabalho.

A viabilidade de um projeto de transmissão privado não pode ser analisada da mesma maneira que

um projeto de transmissão regulado. No caso de nova capacidade de transmissão regulada, onde os

custo são distribuídos por todos os participantes, o projeto é viável caso os custos totais sejam

inferiores ao benefício social criado com a nova capacidade. Por outro lado, o custo total ser inferior

ao incremento do excedente social associado ao novo projeto em transmissão, pode não ser

suficiente para tornar um investimento privado viável economicamente. Como é a empresa privada

que tem de suportar todos os custos do investimento, este só é viável caso as receitas que irão ser

recolhidas pela empresa sejam superior aos custos, ou seja, as receitas de congestionamento futuras

sejam maiores que os custos totais do projeto [33].

Os investimentos em transmissão são caracterizado por descontinuidades. Um novo projeto para

aumento da capacidade de transporte, não provoca um aumento linear da mesma, mas sim um

aumento em escalão. Segundo a literatura, este, à semelhança da não existência de economias de

escala, é o problema mais comum quando se pretende implementar um projeto privado nesta área.

Este fator é mais relevante no caso de um investimento privado, uma vez que o investidor suporta

todos os custos do projeto e vê as receitas de congestionamento drasticamente reduzidas após a

implementação do mesmo. William W. Hogan baseia-se na descontinuidade dos investimentos em

transmissão para afirmar que a expansão eficiente da rede pode necessitar de investimentos e

métodos de distribuição de custos regulados, uma vez que os preços nodais produzidos por um novo

projeto de transmissão impedem a recuperação dos custos através das receitas de congestionamento

[33].

Stephen Littlechild em [38] agrupa as potenciais imperfeições dos modelos de transmissão regulada e

privada, identificados por Joskow em [45] e que são um obstáculo a obtenção de um sistema elétrico

eficiente. As cinco potenciais imperfeições associadas ao modelo de transmissão privada e, as sete

relativas ao modelo de transmissão regulada, são apresentadas de seguida.

Os problemas que emergem num projeto privado em transmissão elétrica são os seguintes:

1. Descontinuidade. Os investimentos em transmissão elétrica são caracterizados por serem

descontínuos, ou seja, por escalões. Este facto leva a que os investimentos privados sejam

maioritariamente de baixa capacidade. Investimentos em grande capacidade de transmissão

provocam uma redução drástica da diferença de preços entre dois nós do sistema, o que

24

reduz as receitas de congestionamento e a capacidade de uma empresa privada recuperar os

custos [38], [46].

2. Poder de mercado na expansão de transmissão que se reflecte em pouca capacidade,

atrasos nos investimentos e preço elevados.

3. Informação incompleta que resulta em decisões erradas sobre quando, onde e como construir

capacidade de transmissão.

4. Custos de transacção, que conduzem a uma incapacidade de lidar com problemas de

coordenação e preferências das partes interessadas, negociação entre os participantes do

mercado, investimentos em melhoramento da rede, interação entre projetos e entidades

interdependentes e, separação de posse e controlo do bem.

5. Outros factores como a falta de mercados futuros e compromisso, falta de credibilidade a

curto-prazo , incerteza ao nível da regulação e oportunismos.

As sete falhas do modelo regulado são as seguintes:

1. Informação imperfeita, sobre a empresa regulada e os consumidores, que pode conduzir a

decisões erradas sobre como, onde e quando investir em nova capacidade de transmissão.

2. Custos burocráticos e decisões que consomem demasiado tempo.

3. Problemas com diferentes jurisdições regulatórias.

4. Conservadorismo ao nível das tecnologias usadas e, falta de incentivo à redução dos custos

de construção.

5. Grupos de interesses.

6. Influências políticas.

7. Possibilidade de falta de meios para que a regulação execute o seu trabalho, o que pode

conduzir a um excesso de confiança concedido à empresa regulada.

Stephen Littlechild, ainda em [38], apresenta e analisa o caso Australiano, como forma de

comparação entre o modelo regulado e o modelo privado no sector de transmissão. Com base em

[38], o exemplo dos interconectores privados e regulados australianos são apresentados de seguida.

Na Autrália a liberalização do sector começou em meados da década de noventa e em 1996 a

National Market Management Company, NEMMCO, foi designada como o operador da rede elétrica

nacional Australiana (NEM).

Durante os anos seguintes várias linhas reguladas e comercias foram propostas. Em 1997 foi

proposta uma linha regulada subterrânea em corrente continua com 550km de comprimento,

designada por QNI, que ligaria os estados de New South Wales e Queensland. O QNI entrou em

funcionamento em Fevereiro de 2001. Outra linha regulada foi proposta, em conjunto pelos estados

de New South Wales e South Australia, com o objetivo de interligar os dois estados. O projeto para a

construção dessa linha denominada SANI foi chumbada pelo operador da rede australiana em 1998.

Ainda em 1998 foi apresentado o projeto revisto para a linha regulada mas, desta vez só proposto

pelo estado de New South Wales, através da empresa estatal Transgrid. Este projeto tinha o nome de

SNI mas nunca chegou a entrar em funcionamento.

25

No que diz respeito a linhas de transmissão privadas, a empresa TransEnergie Australia em parceria

com a Country Energy proposeram uma linha com o nome de DirectLink que ligaria, à semelhança da

QNI, os estados de New South Wales e Queenslad. Este projeto consistia numa linha subterrânea de

alta tensão e corrente continua com o comprimento de 65km e capacidade de 180MW. A DirectLink

entrou em funcionamento em Julho de 2000. A TransEnergy Australia foi também responsável pelo

projeto de uma linha não regulada entre Victoria e South Australia, a MurrayLink. O trajeto desta linha

era praticamente equivalente ao da linha regulada SNI (Victoria e New South Wales são estados

próximos), mas ao contrário da SNI a MurrayLink entrou em funcionamento em Outubro de 2002.

Contudo os dois interconectores privados, MurrayLink e DirectLink, acabaram por se tornarem

regulados.

Stephen Littlechild tenta identificar as falhas dos modelos regulado e privados nos quatro

interconectores em estudo. O autor afirma que os dois interconectores privados sofreram apenas de

informação incorreta. Todas as outras possíveis falhas do modelo de transmissão privada, não foram

identificadas nestas duas linhas. Na realidade, os investimentos não foram caracterizados por pouca

e tardia capacidade, ao invés, surgiu o problema de a transmissão ter sido construída demasiado

cedo e em grande escala. O excesso de investimento em transmissão pode ser resultado de os

custos de um eventual blackout serem muito superiores aos de investir em demasia. Desta forma os

responsáveis por garantir a segurança e fiabilidade do sistema, neste caso os investidores privados,

são levados a errar investindo em excesso [1]. Por outro lado, todas as potenciais falhas do modelos

regulado foram identificadas nos interconectores regulados.

Stephen Littlechild concluí que acima de todas as falhas associadas aos modelos está a falta de

coordenação entre todas as partes interessadas. Quem propõe ou aprova os novos investimentos em

transmissão, têm que ter a certeza os produtores e consumidores vão utilizar eficientemente a nova

capacidade da rede, por forma a garantir retorno financeiro. Isto aplica-se não só com a decisão de

avançar ou não com uma nova linha, mas também com as decisões que têm de ser tomadas sobre

onde, como e quando vai ser construída a nova capacidade de transmissão. Da mesma forma, os

produtores que decidem investir em novas centrais de geração ou, aumentar a capacidade das já

existentes, têm que ter a certeza que vai existir capacidade de transmissão necessária para

assegurar a viabilidade do projeto. Como já foi visto anteriormente, a ausência desta coordenação

provoca a expansão ineficiente do sistema e conduz a decisões tomadas erradamente, o que leva a

que estes investimentos em transmissão não sejam sustentáveis. Os custos inerentes a essas

decisões, vão ser suportados primeiramente por quem paga os custos iniciais e, a longo prazo pelos

consumidores em geral [38].

O modelo privado é aplicado com sucesso em diversas indústrias, como por exemplo, na indústria

das companhias aéreas, fundição de alumínio, extração de ouro e produção de petróleo. Se na área

da rede de transporte de energia o mercado fosse perfeito, o modelo de investimentos privados

conduziria ao ponto onde o preço marginal da capacidade de transmissão seria igual à diferença de

preços nodais [47]. No entanto, Joskow afirma que as economias de escala, a descontinuidade nos

investimentos e a dificuldade de construir novas linhas tornam o mercado da transmissão elétrica

26

imperfeito. Dificilmente se poderá considerar o modelo de investimentos privados para uma rede de

transmissão elétrica, a quantidade de investimentos privados no sector até 2005, confirmam essa

conclusão. Ao contrário de uma empresa privada, uma empresa regulada do sector de transmissão

elétrica, tem a capacidade de lidar diretamente com os investimentos discretos, com o poder de

mercado e interação e pressões de empresas privadas [17]. Hogan refere que devido às

descontinuidades, os investimentos privados em transmissão em grande escala nunca serão

economicamente viáveis contudo, dentro do enquadramento regulatório apropriado poderão existir

investimentos privados em investimentos de pequena dimensão [33].

A Comissão Europeia reconhece que em algumas situações os investimentos privados podem ser

encarados como possíveis soluções para novos projetos em transmissão. No entanto, através do

artigo estratégico “ Medium term vision for the internal electricity market”, publicado em 2004, não

considera tal modelo adequado aos interconectores Europeus.

2.9. Financiamento e Distribuição de Custos de um Investimento em

Transmissão Elétrica

Esta secção estuda o financiamento e recuperação de custos de investimentos no sector da

transmissão elétrica. Em primeiro lugar identificam-se as necessidades atuais de investimentos na

rede de transporte europeia. De seguida analisam-se os efeitos produzidos, a longo prazo, pelos

métodos de pricing atuais e apresenta-se um modelo de alocação de custos proposto por Wiliam W.

Hogan em [33] . Por último, e com base no artigo de Arthur Henriot intitulado “Financing Investment in

the European electricity transmission network: Consequences on long term sustainability of the TSOs

financial structure”, são apresentados e analisados três métodos distintos de obtenção de capital por

parte das TSO’s Europeias.

Num sector elétrico liberalizado o bom funcionamento do mercado assim como a segurança e

fiabilidade da oferta, estão dependentes da capacidade de transmissão do sistema. Os blackouts

registados quer nos Estados Unidos quer na Europa são a prova da necessidade de investimentos no

sector [1]. A rede de transporte é também responsável pela integração da geração renovável a qual,

segundo a ENTSO-E, será responsável por 80% dos bottlenecks que ocorrerão na rede Europeia até

ao final da próxima década. Um plano a dez anos elaborado pela ENTSO-E em 2012, revela a

importância de serem investidos cerca de 104 biliões de euros, só em projetos pan-Europeus ao nível

da transmissão elétrica [11].

Em adição à urgente necessidade de investimentos em nova capacidade de transmissão surge o

facto de que os atuais métodos de princing de energia, baseados nos preços marginais de produção,

não recuperarem a totalidade custos. Teoricamente, a longo prazo e, assumindo a expansão eficiente

da rede, os preços locais marginais refletem os custos marginais da expansão da rede. No entanto, e

para além das características intrínsecas aos investimentos em transmissão, economias de escala e

as descontinuidades, existem outros fatores que não permitem a recuperação total dos custos através

27

dos preços marginais de produção nodais. Na realidade e, com recurso à simulação, é possível

estimar que a longo prazo apenas 20% a 30% dos custos são recuperados [1]. Figura 2.17, pode ver-

se a decomposição dos custos da rede.

Figura 2.17 – Custos da rede [1]

Analisando a Figura 2.17, conclui-se que através dos preços marginais locais existem serviços tais

como a fiabilidade do sistema que não são cobrados aos utilizadores da rede. Acrescentam-se ainda

os custos de perdas inerentes ao transporte de energia entre duas regiões. Estima-se que o fator de

perdas quando se transporta energia de um gerador para uma carga distante seja entre 20% a 30%

do custo média de potência transferida. Como foi visto anteriormente, a curto prazo e, segundo a

literatura, o métodos dos preços marginais nodais é eficiente, conduz à solução de menor custo de

produção e, envia sinais aos produtores sobre onde devem investir em nova geração. No entanto, a

longo prazo, este método não recupera a totalidade dos custos da rede e, têm que existir outras

estruturas de preços e de distribuição de custos que os suportem [1]. As estruturas de preços e tarifas

não são abordadas neste trabalho, apresentam-se apenas um modelo para a distribuição de custos e

três estratégias de obtenção de capital.

2.9.1. Distribuição de Custos e Benefícios

Esta subseção baseia-se em [33] e apresenta o modelo de distribuição de custos proposto por

William W. Hogan.

Um investimento em transmissão, independentemente de ser realizado por uma empresa privada ou

por uma empresa regulada, tem que ser viável. Como foi visto, o método de pricing atual não

recupera a parcela dos custos fixos. Caso seja uma empresa privada a efetuar o investimentos é a

própria que têm de suportar a totalidade dos custos, no caso de ser uma empresa regulada os custos

são suportados por todas as partes interessadas. A regulação é responsável pela justa e eficaz

distribuição dos encaros inerentes a um projeto de transmissão regulado.

28

A distribuição dos custos de um investimento em transmissão elétrica é um processo complexo

devido à grande quantidade de partes interessadas. Uma distribuição ineficiente dos custos pode

inibir os produtores e consumidores de investirem em geração onde esta é mais necessária,

impedindo a expansão eficiente do sistema [33]. Nos mercados liberalizados de energia, onde a

geração é feita por empresas privadas, frequentemente são os consumidores que se suportam a

totalidade dos custos dos novos projetos em transmissão [34]. Um método de distribuição de custos

consiste na socialização dos mesmos, ou seja, estes são distribuídos igualmente por todos os

participantes no mercado de energia elétrica. Por forma a incentivar a expansão eficiente da rede,

quer em transmissão como em geração, a alocação dos custos se deve afastar da socialização.

Outra alternativa baseia-se num método de power flow para estimar os consumos previstos após a

implementação de um projeto em transmissão. Os custos são distribuídos às cargas, na proporção do

seu consumo estimado. O método do power flow não permite estimar corretamente os benefícios

associados a um investimento em transmissão e portanto, a distribuição de custos através desse

método não é justa [33]. Segundo Hogan, a atribuição dos custos de um investimento, deve ser feita

proporcionalmente aos benefícios recolhidos por cada participante e, o mesmo autor identifica um

modelo que analisa a repartição dos mesmos. O modelo em causa e o exemplo demonstrativo

utilizados por Hogan, são apresentados de seguida, com base em [33].

Para se analisar os benefícios de um investimento em nova capacidade de transmissão, considera-se

o exemplo de um sistema simples de dois nós ligados por um linha de transmissão. Apesar de a rede

elétrica ser caracterizada por forte interação envolvendo todo o sistema e incerteza em múltiplos

períodos e em múltiplas regiões, utiliza-se um modelo simplificado para a estudar neste contexto.

No sistema considerado, um dos nós produz energia a baixo preço enquanto que o preço da energia

no outro nó é mais elevado. Assumindo uma capacidade de transmissão infinita e ignorando as

perdas, o preço de equilíbrio será igual nos dois nós devido à possibilidade de trânsito de energia

ilimitado entre os mesmos. O ponto de equilíbrio pode ser identificado na Figura 2.18, pela

intercepção entre curva da procura e a curva da oferta.

29

Figura 2.18 – Importação e exportação num sistema de dois nó [33]

Com uma capacidade de transmissão limitada, inferior à quantidade de energia transitada no caso

sem restrições, ocorre congestionamento e, consequentemente, uma diferença de preços nodais,

ocorre o Market Splitting. A Figura 2.19 retrata este cenário e, mostra os impactos de um investimento

em nova capacidade de transmissão em cada um dos grupos participantes.

Figura 2.19 – Benefícios da Expansão da Transmissão

30

A linha vertical preta corresponde à capacidade de transmissão atual, e limitada, e a linha vermelha à

capacidade obtida após um determinado investimento. A área A representa o excedente do nó

importador e a área E o do nó exportador associado à transferência de energia entre os dois nós. A

soma das áreas B, C e D correspondem às rendas de congestionamento. A nova capacidade de

transmissão cria benefícios incrementais iguais ao conjunto das áreas F, G e H. Sendo que, o

excedente do nó exportador corresponde a A + B + F e o excedente do nó exportador E + D + H.

Parte do aumento registado no excedente do nó importador é causado pela transferência da parcela

B, que pertencia aos detentores dos direitos de transmissão, para os participantes localizados nesse

nó. Esta transferência não altera os benefícios líquidos do sistema global, mas aumenta as receitas

líquidas do nó importador. Semelhante raciocínio pode ser feito com a transferência da parcela D

para os participantes do nó exportador.

A informação sobre a repartição dos benefícios de um possível investimento em transmissão, é um

instrumento importante na tomada de decisão sobre se o mesmo investimento deve ou não ser

aprovado e sobre como deve ser feita a distribuição dos custos do projeto. O valor do proveito global

do sistema adquirido após a instalação de nova capacidade de transmissão, F + G + H, é comparado

com os custos totais do projeto. O regulador aprova o investimento caso os lucros sejam maiores que

os custos totais. Este é considerado o teste de eficiência de um investimento em transmissão e pode

ser denominada de regra de ouro da regulação [33]. No caso de G ser maior que os custos totais, ou

seja, o incremento das rendas de congestionamento excederem os custos, o projeto é viável para

uma empresa privada.

Um investimento considerado eficiente, caracterizado por um aumento de excedente social superior

aos custos totais do projeto, provoca uma redução da diferença entre preços nodais. Considerando o

agregado de produtores e consumidores em cada um do nós, estes vão absorver respetivamente as

parcelas H e F do lucro global. No entanto, o aumento de capacidade poder exceder em larga escala

a capacidade dos produtores e consumidores individuais. Neste caso estes participantes do mercado,

apenas são capazes de absorver um pequena fração das áreas F e H. Caso estas percentagens de F

e H em conjunto com a área G não cubra os custos totais, o projeto pode não ser viável. Podem ser

necessários investimentos em capacidade de produção e um aumento da procura, para que os

produtores e consumidores, respectivamente possam absorver a totalidade dos benefícios criado com

a nova capacidade de transmissão.

No nó importador os lucros líquidos de um investimento são equivalentes a B + F. O projeto é

benéfico para os importadores caso a parcela dos custos que lhes for atribuída seja inferior a B + F.

Um raciocínio análogo pode ser feito para os participantes do nó exportador, cujo benefício

incremental é representado por H + D, valor que estabelece o limite superior para os custos

atribuídos. A partir deste limite, o investimento não é proveitoso para os mesmos.

O modelo para distribuição de custos proposto em [33] consiste em considerar como receitas do nó

importador os direitos de transmissão incrementais, área G. Desta forma , os custos atribuídos ao nó

31

importador são calculados através da equação 7 e os custos atribuídos ao nó exportador são obtidos

com recurso à equação 8.

(7) I

F Gs

F G H

+=

+ +

(8) E

Hs

F G H=

+ +

Segundo este modelo, dentro de cada região a distribuição de custos não é igual. Nó nó importador

os custos são encargo dos consumidores, enquanto que no nó exportador, os custos são pagos pelos

geradores. Os geradores do nó importador e os consumidores do nó exportador sofrem uma

diminuição de receitas com o novo investimentos, por forma a garantir a competitividade do mercado,

não é atribuída nenhuma parte dos custos aos participantes que não beneficiam diretamente do novo

projeto.

2.9.2. Estratégias de Obtenção de Capital

Esta subsecção apresenta e analisa três métodos de obtenção de capital propostos em [11].

Esta secção analisa o tema do financiamento das TSO’s europeias e baseia-se no artigo de Arthur

Henriot intitulado “Financing Investment in the European electricity transmission network:

Consequences on long term sustainability of the TSOs financial structure”.

O investimento regulado em transmissão elétrica e a distribuição de custos são o centro da estrutura

de um mercado elétrico reestruturado [33]. No entanto, tendo em consideração os montantes que,

segundo a ENTSO-E, precisam de ser investidos nos próximos dez anos, as TSO’s europeias têm

que ser capazes de financiar os seus projetos. Os projetos em nova capacidade de transmissão

elétrica são caracterizados por um grande investimento inicial. O retorno é recebido ao longo da

duração de vida do bem em causa que, neste segmento do sector, é aproximadamente de 40 anos.

Independentemente do método de alocação de custos, a recuperação dos mesmo é feita

posteriormente à execução do projeto. Torna-se portanto imprescindível que as TSO’s europeias

sejam capazes de obter capital para realizar o investimento inicial [11]. Tal facto torna-se mais

relevante tendo em consideração os dados apresentados pela ENTSO-E sobre a necessidade de

investimentos futuros na rede de transporte europeia. Este aumento deve-se principalmente à

liberalização dos mercados de energia elétrica. Arthur Henriot em [11] defende que, com base na

tendência de evolução das actuais tarifas de eletricidade, apenas será possível financiar metade dos

investimentos previstos. Tomando este facto como ponto de partida, o autor avalia a habilidade das

TSO’s Europeias em financiar os gastos de capital previstos até 2030 e propõe novas estratégias de

financiamento que permitam suportar os investimentos e a necessidade de capital inerente aos

mesmos. Os pontos essenciais do seu trabalho e os resultados obtidos são aqui apresentados.

32

Para realizar o estudo Arthur Henriot, considerou a existência de uma TSO europeia virtual única. As

diferentes TSOs que pertencem à ENTSO-E são assim agregadas numa só que é responsável pela

totalidade dos investimentos. A TSO única está representada na Figura 2.20.

Figura 2.20 - Agregação das Diferentes TSO's numa TSO única [11]

A metodologia para analisar a financiabilidade da TSO é a mesma utilizada pela agência Moody’s

para avaliar empresas reguladas nos sectores de redes de eletricidade e gás. Esta metodologia

baseia-se em dois índices financeiros, o Interest-Cover Ratio e o Gearing Level. O primeiro

representa a capacidade de uma empresa em pagar as suas dívidas e, corresponde à divisão do

EBIT, lucros antes de juros e impostos de renda, pelos juros. O Gearing level é calculado dividindo o

volume da dívida pelo valor da base de ativos regulados e representa a razão entre o valor do

empréstimo e o valor do bem. Com base nestes dois indicadores são definidos dois escalões, o

higher standart e o lower standart. Os requisitos para cada um dos escalões são apresentados na

tabela seguinte.

Tabela 2.1 – Financial standards [11]

Para se atingir um dos escalões, a média a três anos de cada indicador tem que estar acima do limite

mínimo imposto. Em 2009 a REN estava inserida no Lower Standart. De relembrar que manter bons

índices financeiros é essencial para uma TSO se manter financiável, ou seja, capaz de obter capital

nos mercados financeiros.

33

Identificam-se três formas de se obter o capital necessário, através de empréstimos comerciais de

bancos ou outras instituições, fontes externas de capital ou obter financiamento internamente através

da retenção dos lucros.

Considerando estas três fontes de capital, apresentam-se três estratégias de financiamento que

permitem suprir o investement gap e, ao mesmo tempo manter os indicadores financeiros dentro dos

escalões pretendidos. Estas estratégias são denominadas de Business-as-usual, Issue aditional

equity e Shift to growth model.

Considerando a estratégia denominada Business-as-usal, o capital necessário é obtido através do

aumento da dívida e recorrendo à retenção de uma pequena parte dos lucros, que não são

distribuídos como dividendos.

Issue aditional equity é um método segundo o qual, a TSO obtém capital através investidores

externos com a venda de ações, mantendo uma taxa de retorno elevada.

A última das estratégias propostas é a Shift to growth mode, onde o retorno é mais baixo e a TSO

retém os lucros para financiar as suas necessidades de capital internamente. Os investidores são

recompensados mantendo as suas ações à medida que a empresa se valoriza, vendendo-as

posteriormente a um valor mais elevado.

No referido estudo é analisada a capacidade da TSO europeia virtual de cumprir o seu programa de

investimentos, recorrendo a cada uma das três diferentes metodologias de obtenção de capital.

Na modelação do programa de investimentos da TSO única, foram tidos em consideração dois tipos

de investimento em transmissão. Os projetos podem visar a expansão da rede ou, o reforço de linhas

já existentes. Relativamente ao segundo tipo de investimentos, a International Energy Agency estima

que na OCDE, até 2015, 8% das linhas existentes tenham que ser substituídas ou reparadas. Este

valor sobe para 21% quando se refere ao período entre 2016 e 2025. De 2026 até 2035 prevê-se que

a percentagem seja 15%. Os custos totais do investimentos em melhoramento das linhas existentes,

na União Europeia para o período 2015 até 2035 está avaliado em 2010 82 biliões de dólares.

Segundo a ENTSO-E, a quantidade de quilómetros que seriam substituídos ou reparados pode ser

diminuído devido a investimentos na expansão do sistema, o que resultaria em menos 8 300 km de

linhas remodeladas.

Estabelecem-se dois programas distintos de investimentos em expansão do sistema. Um dos

programas é baseado no TYNDP 2012 e envolve 53 300km de novas linhas o que perfaz um custo

total de 104 biliões de euros entre o período de 2012 a 2030. Assumindo que o desenvolvimento se

mantém constante até 2030, os custos totais de investimento atingem os 207 biliões de euros.

O segundo programa assenta no Energy Roadmap 2050, publicado pela comissão Europeia em

2011. Este programa envolve custos de 79 biliões de euros entre 2012 e 2020 e de 76 biliões de

euros para o període de 2021 até 2030. Na modelação dos dois diferentes programas de

34

investimento, considerou-se um investimento anual constante. Os custos anuais em investimentos na

área ENTSOE estam apresentados na Figura 2.21.

Figura 2.21 – Programas de Investimento [11]

2.9.2.1. Resultados

De seguida apresentam-se os resultados obtidos para cada uma das diferentes estratégias de

financiamento da TSO única Europeia.

Quando se considera o caso em que o programa de investimentos é financiado com base nas tarifas

anuais, limita-se o aumento das tarifas ao observado entre 2009 e 2011 dentro da ENTSO-E. Através

dos dados publicados pela ENTSO-E estimou-se um aumento máximo de 1.04%.

2.9.2.1.1. Resultados quando utilizado o modelo Business as usual

Aplicando a metodologia Business as usual à TSO Europeia única e mantendo a evolução atual das

tarifas, observa-se uma degradação dos seus indicadores financeiros independentemente do

programa de investimentos considerado.

Mantendo os indicadores financeiros dentro dos padrões definidos anteriormente, apenas será

possível executar 47% dos investimentos previstos pela TYNDP e 67% dos previstos no EC

Roadmap. Em nenhum dos casos se atingirá o padrão financeiro mais elevado. Partindo dos

resultados apresentados, apenas com o aumento das tarifas será possível executar os programas de

investimento previstos.

35

Tabela 2.2 – Resultados obtidos através da estratégia Business as Usual [11]

Utilizando a estratégia Business as usual, por forma a que o volume de divida não ultrapasses os

limites impostos pelos ratios financeiros, tem que se reter uma quantidade dos lucros que permita

suprir a necessidade de capital. Uma vez que este modelo de financiamento mantém o retorno

constante, é necessário um aumento das tarifas. O aumentos das tarifas estimado é de uma taxa

anual de CPI + 3.4% para o programa TYNDP e de CPI + 2.1% para o EC Roadmap. Com este

aumentos das tarifas, para o programa TYNDP o ROE é igual a 12% e para o EC Roadmap o ROE é

igual a 8.2%. Para ambos os programas estes valores de ROE são substancialmente maiores que os

obtidos sem haver aumentos das tarifas.

2.9.2.1.2. Resultados para estratégias alternativas: Issue additional equity

A injeção de capital externo característica da estratégia Issue additional equity, permite manter a

classificação lower standart. Comparando com a estratégia business as usual, consegue-se diminuir

os custos dos consumidores e, mantendo a tendência das tarifas, executar uma percentagem maior

dos programas de investimento. No entanto, mantendo o crescimento actual das tarifas e os ratios

financeiros dentro de padrões aceitáveis, não se consegue cumprir a totalidade dos programas. Os

resultados da injeção de capital, como método de financiamento dos investimentos previstos, estão

disponíveis na tabela seguinte.

Tabela 2.3 - Resultados obtidos através da estratégia Issue Additional Equity [11]

36

O preço de injetar capital externo é mais elevado que o preço da dívida. Como se pode verificar, o

ROE diminui quanto maior for a entrada de capital externo. É necessário encontrar um ponto ótimo no

balanço entre a injeção de capital e o valor do ROE. Na Figura 2.22 está representado o aumento

anual das tarifas em função da percentagem de capital externo e de dois valores de ROE fixos: 8% e

10%. Para um ROE de 8% o ponto ótimo corresponde a uma injeção de capital de 8% das

necessidades financeiras, o que resulta num aumento anual de tarifas de 2.90%. Para se obter um

ROE igual a 10%, o aumento anual mínimo das tarifas é de aproximadamente 3.20%, que

corresponde a uma injeção de capital externo de 4%.

Figura 2.22 – Aumento anual das tarifas necessário para atingir um determinado ROE mantendo os padrões financeiros, para diferentes valores de injeção de capital externo, em relação ao TYNDP [11]

2.9.2.1.3. Resultados para estratégias alternativas: Shift to growth model

Diminuindo o retorno e, consequentemente, aumentando a o volume de lucros retidos é possível

completar uma percentagem maior dos programas de investimento. Contudo, não se consegue

financiar a totalidade dos investimentos necessários sem que exista um aumento das tarifas. Os

resultados obtidos segundo esta metodologia e mantendo o crescimento atual das tarifas, estão

apresentados na Tabela 2.4.

37

Tabela 2.4 - Resultados obtidos através da estratégia Shift to Growth Model [11]

Como era espectável, quanto menor for o pay-out, menor será o ROE. Esta estratégia baseia-se na

hipótese de o pay-out dos investidores ser obtido maioritariamente através da manutenção de ações

por um período maior de tempo. As ações são vendidas após a valorização das mesmas.

Retendo uma maior parte dos lucros é possível financiar a totalidade do programa de investimentos,

ao mesmo tempo que se restringe o aumento das tarifas e, os respetivos custos dos consumidores. À

semelhança do que acontecia na metodologia anterior, é necessário encontrar o ponto ótimo de pay-

out, que corresponde ao aumento mínimo das tarifas para um determinado valor de ROE.

Figura 2.23 – Aumento anual das tarifas necessário para se atingir um determinado ROE mantendo os padrões financeiros, para diferentes valores de dividend pay-out ratio, em relação ao TYNDP [11]

Na Figura 2.23 está representado o aumento das tarifas em função da percentagem de retorno, para

dois valores fixos de ROE. Para se atingir um ROE de 8%, a percentagem de retorno que

corresponde ao valor mínimo do aumento das tarifas é de 65%. Com um ROE de 10%, o ponto ótimo

é atingido para um retorno de 55%.

38

2.10. O Mercado Europeu de Eletricidade

A primeira Directiva Europeia (Directiva96/92/CE) para o sector da energia, aprovada pela Comissão

Europeia em 1996, marcou o início real do processo de liberalização que reestruturou a indústria

Europeia de eletricidade [12], [14]. A concorrência foi introduzida na produção, garantindo aos

consumidores o direito de escolha de fornecedores. A nova capacidade de geração passa a ser

atribuída mediante autorização ou é adjudicada por concurso [14]. Definiram-se ainda as condições

de acesso de terceiros às redes, sendo resolvida a questão do reconhecimento dos custos pelos

direitos do uso das infra-estruturas de transporte. Existe uma separação de segmentos, e o segmento

da transmissão torna-se independente ao nível da gestão, da produção e comercialização.

Em 1998 surge uma segunda Directiva (2003/54/CE) que visa uma atualização das regras

estabelecidas pela diretiva anterior. A nova capacidade de transmissão é construída mediante

autorização ou, em casos de falta de garantia de abastecimento, através de concurso. Os segmentos

do transporte e distribuição sofrem uma separação a nível jurídico, organizacional e de tomada de

decisão. A aplicação de tarifas ao acesso à rede, visa a não descriminação dos clientes do serviço.

Nos casos de insuficiência de capacidade de transmissão o operador passa a ter a possibilidade de

negar o acesso à rede [14].

Como foi visto anteriormente, a abertura do mercado e o consequente incremento nas trocas de

energia, assim como o crescimento da produção descentralizada, especialmente do aproveitamento

da energia eólica, provoca um aumento de congestionamento na rede Europeia [7]. As autoridades

Europeias reconhecem que o uso eficiente das infraestruturas existentes, assim como a expansão da

rede de transmissão trans-europeia são indispensáveis ao bom funcionamento do Mercado Interno

Europeu de Eletricidade. Apesar de as redes nacionais europeias serem robustas, estas necessitam

de estar bem interconectadas. Só assim se consegue desenvolver uma rede suficientemente robusta

e flexível que seja a base do Mercado Interno Europeu. A fraca interconexão das redes Europeias é

um problema reconhecido desde o início da liberalização. Este aspeto tem especial destaque na

Directiva (2003/54/EC) de Julho de 2004. Em 2003, a Trans-European Energy Networks, com base

na frequência e gravidade do congestionamento e da capacida de transmissão inter-países, elaborou

uma lista dos principais bottlenecks Europeus. Com base nos dados presentes nessa publicação,

conclui-se que países com pouco capacidade de interligação não são necessariamente os países que

sofrem maior congestionamento e que os países com maior capacidade de interligação não são,

necessariamente, os que apresentam valores de congestionamento mais baixos [12].

Mais recentemente, a Comissão Europeia, através de um inquérito nos sectores Europeus do gás e

eletricidade, afirma que a maior parte do congestionamento regista-se nas fronteiras entre países. A

maioria das fronteiras apresentam grau de congestionamento significativo. O mesmo estudo permitiu

idenfiticar níveis elevados de congestionamento em algumas redes nacionais [47].

39

2.10.1. O MIBEL

No final dos anos 90, a geografia Europeia, aliada à grande variedade de soluções e aos distintos

graus de liberalização já existentes dentro dos estados membros, faziam prever que a implementação

do Mercado Único de Energia Europeu não fosse simples. Partindo deste princípio, a Comissão

Europeia decidiu desenvolver o Mercado Interno Europeu com base nos mercados regionais já

existentes e em desenvolvimento. Foi neste sentido que o Governo Português propôs ao governo

espanhol, em 2000, a criação de um novo mercado regional de eletricidade, o MIBEL [14].

O Mercado Ibérico de Eletricidade permite a qualquer consumidor adquirir energia, num regime de

concorrência, a qualquer produtor ou comercializador Português ou Espanhol. Os principais objetivo

deste mercado são enumerados de seguida [14]:

1. Beneficiar os consumidores de eletricidade dos dois países;

2. Estruturar o funcionamento do mercado liberalizado;

3. Construir um preço de referência único para Portugal e Espanha;

4. Possibilitar o livre acesso ao mercado, em condições de igualdade, transparência e

objetividade;

5. Favorecer a eficiência económica das empresas do sector elétrico;

6. Promover a livre concorrência entre as mesmas;

O MIBEL entrou em funcionamento em Julho de 2006. O operador deste mercado, denominado OMI,

tem dois pólos: um em Espanha e um em Portugal. O primeiro é responsável pelo mercado diário e o

segundo é dirigido para o mercado a prazo [14]. O esquema organizativo do Operador de Mercado

Ibérico está apresentado na Figura 2.24

Figura 2.24 – Esquema representativo do operador do mercado Ibérico [14]

40

41

Capítulo 3 - Análise da Distribuição de Benefícios de um

Investimento em Transmissão na Interligação Ibérica

Num mercado liberalizado a análise dos impactos económicos associados a um novo projeto em

transmissão é um instrumento essencial no planeamento da expansão de uma rede transporte. O

objetivo deste capítulo é aplicar um dos modelos de análise de impactos económicos apresentados

por H. Chao e R. Wilson no artigo preliminar e não publicado denominado “Economic Analyses of

Distributional Impacts of Transmission Investments” [48] à interligação elétrica entre Portugal e

Espanha. O foco principal do estudo é a distribuição de benefícios e custos sobre todas e, cada um

das partes afectadas por um possível investimento em transmissão.

3.1. Modelo de Análise do Impacto Económico de Investimentos em

Transmissão

Em [48] são apresentados vários modelos que, permitem estudar o impacto económico de um

investimento em capacidade de transmissão sobre todas as partes interessadas. Para diferentes

objectivos, os modelos calculam o ponto ótimo de funcionamento do sistema elétrico. As variáveis de

otimização são os preços nodais e a capacidade de transmissão a instalar. A apresentação do

modelos e dos seus fundamentos, baseia-se no artigo referido em cima.

Os autores do trabalho, propõem vários modelos para análise de impactos de um investimento em

transmissão. Esses modelos podem ser classificados em dois grupos, que se distinguem pela

natureza dos investimentos em transmissão. De um lado tem-se os modelos que consideram que os

investimentos são realizados por empresas privadas e, por outro lado, os que consideram

investimentos regulados. O modelo escolhido para analisar a interligação Ibérica é denominado por

Efficient Transmission Planning e insere-se no segundo grupo, considera apenas investimentos

regulados.

O modelo Efficient Transmission Planning foi projetado para maximizar o bem estar social. O ponto

ótimo, obtido pelo modelo, corresponde ao excedente social bruto máximo. O excedente social é

bruto, uma vez que não se considera qualquer tipo de distribuição dos custos de investimento.

3.1.1. Fundamentos do Modelo

Os fundamentos sobre os quais assentam os modelos apresentados no artigo, inclusive o Efficient

Transmission Planning que vai ser utilizado, são apresentados de seguida.

3.1.1.1. Ambiente Estacionário

Considera-se um ambiente estacionário. São desprezadas variaçãos temporais da procura que, se

assume constante para um determinado instante. Os aspetos relativos à segurança do sistemas não

são tidos em consideração, podendo apenas estar implícitos nos custos do projeto.

42

3.1.1.2. Mercado de Energia Competitivo

O mercado é considerado competitivo. As curvas da oferta e da procura são conhecidas e, apesar

dos os produtores serem livres de escolher o preço a que oferecem a sua energia, assume-se que as

curvas da oferta correspondem ao custo marginal de produção dos geradores. Os preços nodais,

obtidos pelos diferentes modelos, podem afastar-se dos custos marginais de produção devido a

rendas de transmissão ou aos custos de congestionamento, para o caso de este existir.

3.1.1.3. Possibilidades de Investimento

Os modelos assumem apenas a possibilidade de investir em nova capacidade transmissão. Como já

foi referido, os investimentos em transmissão podem ser substituídos ou complementados por

investimentos em nova capacidade de geração porém, neste modelos, os investimentos em geração

são excluídos.

3.1.1.4. Complementaridade e Substituição

Os modelos reconhecem o facto de nova capacidade em transmissão poder ser vista como

complemento ou substituto à capacidade de geração. A transmissão complementa a geração no nó

exportador, uma vez que permite aumentar a quantidade de energia vendida através da exportação.

Por outro lado, é vista como um substituto à geração num nó importador, permite a compra de

energia a produtores externos. Devido a esta característica ambígua dos investimentos em

transmissão, para um determinado investimento, os modelos permitem a análise dos impactos

sentidos em cada nó e em todos os participantes afectados. Como foi visto anteriormente, os

impactos são distintos para cada nó e para produtores e consumidores.

3.1.1.5. Métodos de Recuperação de Custos do Investimento

O modelo Efficient Transmission Planning não considera qualquer tipo de distribuição de custos.

3.1.1.6. Medição da Distribuição dos Custos e Benefícios

As curvas agregadas da procura e da oferta para um determinado nó são conhecidas. As ofertas

efetuadas por parte dos produtores consideram-se iguais aos seus custos marginais de produção.

As receitas de uma empresa de transmissão advêm de rendas de transmissão, nomeadamente, as

rendas de congestionamento.

Em cada nó, o benefício dos produtores é medido através do excedente dos produtores. O benefício

dos consumidores é medido através do excedente dos consumidores. Em ambos os casos, o

excedente representa o benefício bruto. Só depois de atribuídos os custos da nova capacidade,

podem ser obtidos os benefícios líquidos.

O uso dos conceitos de excedente dos consumidores e excedente dos produtores, como medidores

da viabilidade de um projeto em transmissão, implica a aplicação do princípio da compensação. O

princípio da compensação, frequentemente utilizado em economia, afirma que se ao longo do tempo,

todos os projetos maximizarem o excedente social, mesmo os participantes que ficam prejudicados

num projeto em particular poderão ser beneficiados a longo prazo mediante a implementação de

43

outros projetos [48]. Como segundo os autores, não existe a garantia que essa compensação ocorra,

um dos modelos contempla o modelo de Shapley para a distribuição dos custos de um projeto.

3.1.2. Formulação do Modelo

Assume-se um sistema simples de dois nós ligados por uma linha. Não se consideram as perdas em

transmissão e, desta forma, pode-se desprezar a externalidades relativas ao trânsito de energia [49].

O bem estar social é composto pelo o excedente dos consumidores, o excedente dos produtores e as

rendas de congestionamento [33]. Analisam-se de seguida as três parcelas que integram o excedente

económico social. O excedente dos consumidores representa o valor acrescentado líquido da compra

de energia e é calculado através de (9), onde (p )l dlD representa a curva da procura do nó l em

função do preço de compra pdl .

(9) p

(p )dl

l dlD dp¥

ò

O excedente dos produtores representa a diferença entre as receitas e os custos associados à venda

e produção de energia respetivamente. Este conceito é formulado em (10). A função ( )l slS p

corresponde à curva da procura característica do nó l, definida pela quantidade de energia lS em

função do preço de venda de energia slp .

(10) 0

( )slp

l slS pò

Estes dois conceitos equivalem aos benefícios brutos deste dois grupos de participantes, uma vez

que não está considerada qualquer alocação dos custos de investimentos, relativos a nova

capacidade de transmissão. Partindo deste princípio o excedente agregado dos consumidores e

produtores é calculado através da equação (11).

(11) p 0

[ ( ) (p)dp]sl

dl

p

l ll

D p dp S¥

+ò òå

As rendas de congestionamento constituem a receita da TSO. A rendas de congestionamento são

definidas pelo produto da diferença de preços nodais, pela quantidade de energia transitada. Este

valor é representado pela equação (12):

(12) [p (p ) ( )]dl l dl sl l sll N

D p S pÎ

Os custos de investimento dividem-se em custos fixos e custos variáveis. A função dos custos de

investimentos é representada pela equação (13).

(13) ( ) *K t CF CV t= +

A função a maximizar é constituída pelas três parcelas, benefício líquido dos consumidores e

produtores, rendas de transmissão e custos de investimento. As duas primeiras parcelas são

44

positivas e, a que se refere aos custos de investimento é negativa. O problema de otimização é

definido da seguinte forma::

(14)

0, ,

[ ( ) ( ) ] [p D (p ) ( )] (t)

Sujeito a :

[ (p ) ( )] 0

(p ) ( ) t para cada nó l.

sl

dldl sl

p

l l dl l dl sl l slp

p p t l l N

l dl l sll N

l dl l sl

D p dp S p dp p S p K

D S p

t D S p

Max∞

+ + − −

− =

− ≤ − ≤

∑ ∑∫ ∫

Como se pode observar, a função de maximização está sujeita a três restrições, uma de igualdade e

duas de desigualdade. A primeira restrição garante que, dentro do sistema, a produção total iguala a

procura. Desta forma, a procura é satisfeita em todos os instantes e não há excesso de produção. O

limite da capacidade da linha de interligação é representado pelas duas restrições de desigualdade. A

capacidade de transmissão é limitada por forma a garantir a segurança e estabilidade do sistema.

Através das duas desigualdades, impede-se que o trânsito de energia, nos dois sentidos, ultrapasse o

limite estabelecido.

3.1.3. Modelação da Interligação Ibérica

O modelo é aplicado à interligação elétrica entre Portugal e Espanha. É considerado um ambiente

estacionário, um mercado de energia competitivo, assume-se apenas a possibilidade de investir em

transmissão. O efeito de complemento ou substituição é também é tido em conta e não é considerado

qualquer método de recuperação de investimento. As curvas agregadas da oferta e da procura

assumem-se conhecidas à priori.

A interligação elétrica entre Portugal e Espanha é modelada por um sistema simples de dois nós

interligados por uma linha de transmissão. O sistema elétrico português, assim como o espanhol, são

modelados como um único nó cada um. Consequentemente, agrupam-se os consumidores e

produtores individuais, localizados em cada país, em produtores e consumidores portugues e

espanhóis. As curvas da oferta e da procura, representativas do sistema ibérico, são reproduzidas

com base nos dados disponíveis no site do polo espanhol do operador do ibérico [50]. As curvas

modeladas correspondem a uma aproximação às curvas reais.

Para a análise, são escolhidos quatro dias do ano onde, por restrições ao nível de capacidade de

transmissão, se verificou congestionamento. Os quatro dias foram selecionados de forma a que cada

um represente um cenário distinto ao nível de diagrama de carga do sistema. Desta forma obtiveram-

se dados relativos à ponta e vazio no período de Inverno e à ponta e vazio no período de Verão. As

datas correspondentes estão identificadas na Tabela 3.1.

45

Tabela 3.1 – Datas selecionadas para análise

Período Carga Dia Mês Ano Hora

Inverno Vazio 13 Janeiro 2013 06

Inverno Ponta 27 Janeiro 2013 20

Verão Vazio 25 Junho 2013 04

Verão Ponta 30 Julho 2013 13

Devido à restrição ativa na capacidade de transmissão presente em todos os dias selecionados, dá-

se a separação so sistema em dois subsistemas. O market splitting faz com as curvas agregadas da

oferta e da procura sejam distintas para Portugal e Espanha.

3.1.4. Limitações do modelo

A principal limitação do modelo prende-se com o método utilizado para para estabelecer os preços de

referência nodais. Estão sempre iguais aos custos marginais de produção, independentemente de

existirem trocas de energia. Considere-se o caso em que a produção eléctrica, que satisfaz as

necessidades de consumo dos dois nós, é totalmente produzida no nó com um custo de produção

marginal inferior. Nesta situação, no nó importador não existe produção de energia, uma vez que a

procura é satisfeita pela energia proveniente do nó vizinho. Segundo este modelo, o preço da energia

no nó que importa todo o seu consumo é igual a 0 € /MWh e, no nó importador, o preço da

electricidade é igual ao preço marginal de produzir a energia que satisfaz a procura total do sistema.

Esta situação não se adequa à realidade. Num sistema real, o nó importador não recebe energia a

custo zero, não havendo limitações ao nível da transmissão o preço deveria ser igual no dois nós.

Devido a esta limitação, a maximização da função do excedente económico social produz resultados

que não se adaptam à realidade.

Outra limitação do modelo está relacionada com modelação da interligação entre Portugal e Espanha.

Agregando os consumidores de cada país no respectivo nó, despreza-se os limites da capacidade

individual dos produtores e consumidores. Pode-se dar o caso de, a capacidade de consumo ou de

produção dos consumidores e dos geradores não ser suficiente para recolher os benefícios atribuídos

ao respectivo nó. Dessa forma, só uma fração dos excedentes é de facto absorvida pelos

participantes.

Como está explícito nos fundamentos do modelo, não se consideram as externalidades relativas ao

trânsito de energia. Refere-se também que, a modelação da interligação Ibérica como um sistema de

dois nós interligados por uma linha limitada em capacidade, despreza o facto de as limitações ao

nível da transmissão poderem ser de origem interna de um sistema. A restrição pode não ser na

linha, mas sim, no sistema eléctrico de um dos nós.

46

Para melhor se analisar as limitações presentes neste modelo, recorre-se ao exemplo apresentado

em [48]. O sistema contém dois nós cujas curvas da oferta e da procura estão definidas na Tabela 3.2

Tabela 3.2 – Curvas da oferta e procura no exemplo apresentado em [48]

Curvas Nó A Nó B

Oferta 15 * preço 10 * preço

Procura 1000 – 5 * preço 2000 – 10 * preço

Inicialmente, os dois nós do sistema não estão interligados. Um investimento em transmissão é

caraterizado por um custo fixo de 5000€ e um custo variável de 10€ por MWh instalado. Com base

nas curvas da procura e da oferta e nos custo de investimento, procede-se à otimização. Os

resultados obtidos através do modelo Efficcient System Planning, para este cenário, estão

apresentados na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Resultados do Efficient System Planning para o exemplo apresentado em [48]

Capacidade de transmissão instalada Preço em A Preço em B

Resultados 400 MWh 70 €/MWh 80 €/MWh

Procede-se de seguida à simulação considerando nulos os custos variáveis e fixos do investimento.

Teóricamente, sob estas condições o ponto ótimo de funcionamento do sistema conduziria à não

existência de congestionamento e os preços nodais seriam iguais. Os resultados obtidos são os

expostos na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 – Resultados considerando custos de investimentos nulos

Capacidade de transmissão instalada Preço em A Preço em B

Resultados 2007 MWh 150 €/MWh 0 €/MWh

Esta simulação expõe as limitações do modelo. Com custos de investimentos nulos, a solução que

maximiza o excedente económico social corresponde a produzir no nó A a totalidade da energia

consumida no sistema. Para que tal seja possível, instala-se uma capacidade de interligação de 2007

MWh. A forma como os preços nodais são estabelecidos pelo modelo conduzem aos preços nodais

de 150 €/MWh para o nó A e de 0€/MWh para o nó B. Isto deve-se ao facto de como foi visto

anteriormente, os preços corresponderem aos custos de produção nodais.

47

3.1.5. Metodologia Utilizada

Devido às limitações do modelo procede-se apenas a uma análise qualitativa da distribuição dos

impactos de um investimento em transmissão. Uma vez que, como foi visto anteriormente, resolvendo

o problema de otimização sem restringir as variáveis de otimização não se obtêm resultados

conclusivos, adopta-se uma metodologia diferente. Para se analisar os perdedores e beneficiados de

um possível investimento na interligação, adoptam-se duas etapas de decisão. Na primeira,

estabelece-se a capacidade de transmissão da linha fixando-se a variável de otimização

correspondente. Numa segunda etapa resolve-se o problema de otimização mantendo as restantes

duas variáveis, que correspondem aos preços nodais, livres. Desta forma, a maximização é feita na

variável t, sendos os preços nodais o resultado da otimização. Obtém-se assim os valores dos

excedentes dos produtores e consumidores, as rendas de congestionamento, os custos de

investimento e o excedente económico social. Os valores do consumo e produção nodais de energia

também podem ser calculados.

Neste trabalho, para cada dia seleccionado, são efectuadas simulações para três capacidade de

interligação distintas. A primeira simulação estabelece o status quou do sistema, a capacidade de

transmissão é definida igual à capacidade real da interligação ibérica nesse dia. Esse valor está

disponível em [51].

Para a segunda e terceira simulação, estabelece-se um incremento de 50MWh e 100MWh na

capacidade da interligação, relativamente ao status quou. O estudo da distribuição de benefícios é

feito com base nas variações observadas, em cada nó, nos excedentes dos consumidores e

produtores, rendas de congestionamento e no excedente económico social do sistema.

Assume-se que o aumento de capacidade de transmissão não se obteve através da construção de

uma nova linha, mas sim através de investimentos na estrutura já existente da rede. Como tal, na

função dos custos de investimento ( )K t , os custos fixos são nulos e estabelece-se o valor 10€ por

MWh instalado para os custos variáveis.

Os resultados obtidos através das simulações são apresentados de seguida.

3.2. Resultados

Nesta secção são apresentados os resultados obtidos através da simulação, para cada um dos

quatros dias selecionados.

3.2.1. Período de Ponta de Verão

O dia 30 de Julho de 2013 tem um diagrama de carga característico do período de ponta de Verão. O

diagrama de carga respectivo, assim como os preços de energia em Portugal e Espanha estão

representados na Figura 3.1.

48

Figura 3.1 - Ponta Verão: Preço horário do mercado diário [51]

Na hora 13, no período de ponta, existe separação de mercados devido ao congestionamento na

interligação entre os dois países. Registam-se dois preços distintos para Portugal e Espanha que são,

respectivamente, 58.78 €/MWh e 57.75€/MWh. A energia total do mercado ibérico nessa hora é de

30601.6 MWh.

Os valores horários da capacidade de interligação estão disponíveis na Figura 3.2. Observa-se que

na hora 13, a capacidade de transmissão disponível é de 2100MWh e que, a mesma, está esgotada.

Quer isto dizer que existe um trânsito de energia de 2100 MWh na interligação ibérica, sendo que,

neste caso, o sentido é de Portugal para Espanha.

Figura 3.2 – Ponta Verão: Utilização da capacidade de interligação [51]

49

As curvas da oferta e procura referentes ao dia 30 de Julho e à hora 13 estão disponíveis na Figura

3.3 e Figura 3.4. A curva laranja representa a curva da oferta inicial que contém ofertas complexas de

energia. Como existiram condições, presentes nas ofertas complexas, que não foram cumpridas,

surgem as curvas da procura e oferta casadas. Estas últimas são as que vão servir para calcular os

preços nodais.

Figura 3.3 – Ponta Verão: Curvas agregadas da oferta e procura Espanha [51]

Figura 3.4 – Ponta Verão: Curvas agregadas da oferta e da procura Portugal [51]

Com base nos dados recolhidos, referentes à data procedeu-se à simulação do modelo. Fixou-se a

capacidade de transmissão em 2100MWh e os resultados obtidos através da otimização estão

apresentados na Tabela 3.5. Estes resultados estabelecem o status quou e vão servir como termo de

comparação para os efeitos dos incrementos na capacidade de interligação.

50

Tabela 3.5 – Ponta Verão: Resultados com capacidade de 2100MWh

Espanha Portugal

Preço [€/MWh] 73.6 40.7

Excedente dos consumidores [€] 1347065.2 459872.8

Excedente dos produtores [€] 1615009.0 120130.5

Excedente nodal [€] 2962074.2 580003.2

Benefícios globais do sistema [€] 3542077.5

Rendas de congestionamento [€] 69092.5

Investimento em transmissão [€] 0.0

Excedente económico social [€] 3611169.9

Procura [MWh] 25328.3 6604.1

Oferta [MWh] 27428.3 4504.1

Para o dia e hora em estudo, o limite da linha é de 2100MWh. A capacidade de transmissão, tal com

acontece na realidade, está completamente esgotada. Este trânsito de energia dá-se no sentido de

Espanha para Portugal. Em Portugal, o transporte de 2100 MWh, permite que a procura de 6604.1

MWh seja satisfeita com uma produção de 4504.1 MWh. O défice energético é colmatado com os

2100 MWh provenientes de Espanha. Em Espanha são produzidos 27428.3 MWh, que possibilitam

satisfazer a procura de 25328.3 MWh e ainda exportar 2100 MWh. Como o modelo estabelece os

preços nodais iguais ao preço marginal de produção em cada país, registam-se os preços de 73.6

€/MWh e 40.7 €/MWh, em Espanha e Portugal respectivamente.

Os resultados obtidos para a segunda e terceira simulações, onde se estabelece um incremento de

50 MWh e 100 MWh no limite da capacidade de transmissão, estão apresentados na Tabela 3.6.

51

Tabela 3.6 – Ponta Verão: Impacto de incrementos na capacidade de transmissão

País 2100 MWh 2150 MWh 2200 MWh

Preço [€/MWh] ESP 73,6 73,9 74,1

PT 40,7 40,1 39,4

Excedente consumidores [€]

ESP 1347065,2 0 1343189,9 -3875,3 1339317,6 -7747,6

PT 459872,8 0 462052,6 2179,8 464232,8 4360

Excedente produtores [€]

ESP 1615009 0 1622080 7070,8 1629161 14151,6

PT 120130,5 0 117234,2 -2896,3 3622442 -5760,7

Excedente social [€]

3611170 0 3616738 5568,2 3622442 11271,9

Observando os resultados pode-se concluir que os incrementos de 50 e 100 MWh no limite da linha

provocam um aumento de energia transitada. Apesar do aumento do limite da linha, regista-se, nos

dois casos, uma ocupação de 100% da interligação. A energia fluí de Espanha para Portugal e a

quantidade transportada é de 2150 e 2200 MWh.

A maior capacidade de transmissão, traduz-se num aumento da produção do lado Espanhol. Este

aumento reflete-se negativamente nos custos de produção e, consequentemente, no preço nodal

Espanhol. Por outro lado, estando disponível mais energia do lado Espanhol, no nó Português

assiste-se a uma diminuição do custo de produção e no preço.

Ao contrário do que seria espectável, em vez de observar uma diminuição da diferença nodal de

preços, esta aumenta.

Os incrementos no limite de capacidade, refletem-se no aumento do excedente económico social, o

objetivo estabelecido pelo modelo. Este aumento deve-se à variação positiva das rendas de

congestionamento, do excedente dos consumidores no nó importador e do excedente dos produtores

no nó exportador. Por seu lado, os produtores portugueses e os consumidores espanhóis sofrem uma

redução dos lucros.

3.2.2. Período de Vazio de Verão

O dia e hora selecionados para representarem o período de vazio de Verão foi o dia 25 de Junho de

2013 às 4 horas. Nesta data, existe separação de mercados e o preço português da energia é de

23.45€/MWh e o espanhol de 10 €/MWh. A energia total do sistema é de 27256.9 MWh. Estes dados

estão expostos na Figura 3.5.

52

Figura 3.5 – Vazio Verão: Preço Horário do Mercado Diário [51]

A existência de congestionamento, responsável pela separação dos sistemas, pode ser observada na

Figura 3.6. Na hora 4 a capacidade disponível era de 500 MWh e, como esperado, na presença de

congestionamento, tem uma utilização de 100%. O fluxo de 500MWh realiza-se no sentido de

Espanha para Portugal.

Figura 3.6 – Vazio Verão: Utilização da Capacidade da Interligação [51]

As curvas agregadas da oferta e da procura resultantes da separação do mercado estão

representadas na Figura 3.7 e na Figura 3.8. Sublinha-se novamente o não cumprimento das

condições estabelecidas nas ofertas complexas e as resultantes curvas casadas.

53

Figura 3.7 – Vazio Verão: Curvas Agregadas da Oferta e da Procura Espanha [51]

Figura 3.8 – Vazio Verão: Curvas Agregadas da Oferta e da Procura Portugal [51]

Para o dia 25 de Junho, o status quou é estabelecido admitindo um limite de capacidade da

interligação de 500MWh. Os resultados obtidos através da simulação estão presentes na Tabela 3.7.

54

Tabela 3.7 – Vazio Verão: Resultados com capacidade de 500MWh

Espanha Portugal

Preço [€/MWh] 7.9 10.3

Excedente dos consumidores [€] 1917760.7 415978.1

Excedente dos produtores [€] 176287.4 43193.9

Beneficios nodais [€] 2094048.1 459172.0

Benefícios brutos [€] 2553220.1

Rendas de congestionamento [€] 1195.7

Investimento em transmissão [€] 0.0

Excedente económico social [€] 2554415.9

Procura [MWh] 22283.6 4901.6

Oferta [MWh] 22783.6 4401.6

Verifica-se uma ocupação total da interligação que, se traduz numa transferência de energia de 500

MWh de Espanha para Portugal. O preços locai português e espanhol são, respectivamente, 10.3

€/MWh e 7.9 €/MWh. A procura em Portugal é de 4901.6 MWh e a oferta de 4401.6 MWh. Do lado

Espanhol, o consumo é de 22283.6 MWh e a produção de 22783.6 MWh. A energia transferida a

partir de Espanha, reflecte-se negativamente no preço de energia Espanhol.

As simulações para um aumento na capacidade de transmissão de 50 e 100MWh, produziu os

resultados expostos na Tabela 3.8. De referir que, nestas simulação, a ocupação da capacidade de

interligação se mantém nos 100%, ou seja, com o valor de 550 e 600MWh.

55

Tabela 3.8 – Vazio Verão: Impacto de Incrementos na Capacidade de Transmissão

País 500 MWh 550 MWh 600 MWh

Preço [€/MWh]

ESP 7,9 8,2 8,6

PT 10,38 9,1 7,9

Excedente consumidores [€]

ESP 1917760,7 0 1912655 -5105,7 1907554,1 -10206,6

PT 415978,1 0 419287,9 3309,8 422602,8 6624,7

Excedente produtores [€]

ESP 176287,4 0 184171,4 7884 192067,9 15780,5

PT 43193,9 0 37900,8 -5293,1 32663 -10530,9

Excedente social [€]

2554416 0 2553975 -440,6 2554319 -97,4

Nos resultados obtidos, após simulação, para o período de vazio de Verão não se observa um

aumento do bem estar social. O incremento de 50MWh no limite da interligação provoca uma

diminuição de 10530.9 € no bem estar social e, o incremento de 100MWh provoca uma diminuição de

97.4 €. A diminuição do excedente social é resultado da variação negativa do excedente dos

consumidores Espanhóis, do excedente dos produtores Portugueses e do aumento dos custos de

investimento. Como o modelo considera os preços nodais iguais ao preço marginal nodal, os

consumidores no nó exportador sofrem com o aumento da produção dentro desse nó. Por seu lado,

no nó importador, os consumidores continuam a beneficiar da reduzida produção local, que é

substituída pela energia importada. Neste caso, verifica-se até que, para um incremento de 100MWh

na capacidade, o preço nodal no nó exportador, ultrapassa o do nó importador. Repara-se ainda

numa diminuição das rendas de congestionamento, devido à aproximação dos preços nodais, que

contribuí para a redução de excedente social.

3.2.3. Período de Ponta de Inverno

O dia 27 de Janeiro de 2013, às 20 horas, é representativo do período de Ponta de Inverno. Como

em todas as datas selecionadas, existe congestionamento na interligação ibérica . Os preço nodais

de Portugal e Espanha são, respectivamente 28.29 €/MWh e 56.63 €/MWh. A energia total do

sistema são 28496.4 MWh.

56

Figura 3.9 – Ponta Inverno: Preço Horário do Mercado Diário [51]

O fluxo de energia nesta data dá-se de Portugal para Espanha. São transitados 800 MWh de energia

que ocupam totalmente a capacidade da interligação.

Figura 3.10 – Ponta Inverno: Utilização da Capacidade da Interligação [51]

As curvas agregadas da oferta e da procura, para cada país, estão representadas na Figura 3.11 e na

Figura 3.12. Como nos casos anteriores, os preços nodais foram estabelecidos com base nas curvas

casadas da oferta e da procura.

Figura 3.11 – Ponta Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha [51]

57

Figura 3.12 – Ponta Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha [51]

Procede-se à simulação, admitindo que o limite da capacidade da interligação é de 800MWh. Os

resultados estão apresentados na Tabela 3.9. Regista-se um trânsito de energia de 550MWh no

sentido de Portugal para Espanha. Neste cenário, o ponto ótimo de funcionamento do sistema não

corresponde à máxima utilização da capacidade de transmissão.

Tabela 3.9 – Ponta Inverno: Resultados com de capacidade de transmissão de 800MWh

Espanha Portugal

Preço [€/MWh] 60.9 43.7

Excedente dos consumidores [€] 1320752.6 493672.5

Excedente dos produtores [€] 1195474.6 297260.6

Excedente nodal [€] 2516227.2 790933.0

Benefícios brutos [€] 3307160.2

Rendas de congestionamento [€] 9466.4

Investimento em transmissão [€] 0.0

Excedente económico social [€] 3316626.6

Procura [MWh] 22175.5 7243.0

Oferta [MWh] 21625.1 7793.4

58

Segundo os resultados obtidos pelo modelo, o ponto ótimo não corresponde ao ponto onde os preços

nodais são iguais. Desta forma, um incremento no limite da capacidade de transmissão não influencia

o trânsito de energia. O impacto de investimentos na transmissão apenas se reflectirá no aumento

dos custos de investimento e, consequentemente, provocará uma diminuição do excedente social. Os

resultados da segunda e terceira simulação, considerando um aumento de limite de 850 e 800MWh

respectivamente, estão exposto na Tabela 3.10.

Tabela 3.10 – Ponta Inverno: Impacto de Incrementos na Capacidade de Interligação

País 800 MWh 850 MWh 900 MWh

Preço [€/MWh]

ESP 60,9 60,9 60,9

PT 43,7 43,7 43,7

Excedente consumidores [€]

ESP 1320752,6 0 1320752,6 0 1320752,6 0

PT 493672,5 0 493672,5 0 493672,5 0

Excedente produtores [€]

ESP 1195474,6 0 1195474,7 0,1 1195474,6 0

PT 297260,6 0 297260,5 -0,1 297260,5 -0,1

Excedente social [€] 3316626,6 0 3316126,6 -500 3315626,6 -1000

Verifica-se que sendo o ponto ótimo inferior ao limite da capacidade de transmissão, investimentos

em transmissão apenas aumentam os custos totais do sistema, o que resulta numa na diminuição do

bem estar social.

3.2.4. Período de Vazio de Inverno

O período de vazio de Inverno é representado pelo dia 13 de Janeiro de 2013 às 6 horas. Os preços

nodais, resultantes do congestionamento na transmissão, são de 26.38 €/MWh para Portugal e 22.10

€/MWh para Espanha. A energia total do sistema é de 23723.4 MWh. Os preços nodais e o diagrama

de carga estão representados em Figura 3.13.

59

Figura 3.13 – Vazio Inverno: Preço horário do mercado diário [51]

O limite de capacidade da interligação é de 300 MWh. Como seria de esperar, a utilização da

interligação é de 100%. O trânsito de energia é efectuado de Espanha para Portugal.

Figura 3.14 – Vazio Inverno: Utilização da Capacidade da Interligação [51]

Na Figura 3.15 e na Figura 3.16, pode-se observar as curvas agregadas da oferta e da procura de

Portugal e Espanha no dia 13 de Janeiro às 6 horas.

Figura 3.15 – Vazio Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Espanha [51]

60

Figura 3.16 – Vazio Inverno: Curvas Agregadas da Oferta e Procura Portugal [51]

Simulando o sistema com o limite de capacidade fixo nos 300MWh, obtêm-se o resultados da Tabela

3.11. Verifica-se uma ocupação total da capacidade de transmissão disponível, sendo o fluxo de

energia de Espanha para Portugal. O preço da energia em Espanha é de 21.4 €/MWh e em Portugal

de 24 €/MWh.

Tabela 3.11 – Vazio Inverno: Resultados com Capacidade de 300 MWh

Espanha Portugal

Preço [€/MWh] 21.4 24.0

Excedente dos consumidores [€] 1464771.7 414459.5

Excedente dos produtores [€] 400150.1 104611.8

Excedente nodal [€] 1864921.9 519071.2

Benefícios brutos [€] 2383993.1

Rendas de congestionamento [€] 800.1

Investimento em transmissão [€] 0.0

Excedente económico social [€] 2384793.2

Procura [MWh] 18466.7 5314.5

Oferta [MWh] 18766.7 5014.5

Admitindo investimentos em transmissão, que permitem um incremento de 50MWh e 100MWh no

limite da capacidade da linha, obtiveram-se os resultados apresentados na Tabela 3.12.

61

Tabela 3.12 – Vazio Inverno: Impacto de Incrementos na Capacidade de Interligação

País 300 MWh 350 MWh 400 MWh

Preço [€/MWh]

ESP 21,36 22,33 23,3

PT 24,02 23,2 22,4

Excedente consumidores [€]

ESP 1464771,7 0 1452035 -12736,7 1439344,2 -25427,5

PT 414459,5 0 417023,1 2563,6 419590,8 5131,3

Excedente produtores [€]

ESP 400150,1 0 418525,2 18375,1 436903,2 36753,1

PT 104611,8 0 100520 -4091,8 96465,1 -8146,7

Excedente social [€] 2384793 0 2387907 3113,9 2391676 6882,3

À semelhança do verificado no dia relativo ao período de vazio de Verão, com o aumento da

capacidade de transmissão, o preço no nó importador torna-se inferior ao do nó exportador. Neste

caso, existe um aumento do excedente social associado a novos investimentos em transmissão. Esta

variação é suportada pelo aumento do excedente dos consumidores em Portugal e do excedente dos

produtores em Espanha. Contrariamente, os consumidores localizados em Espanha, assim como os

produtores portugueses, sofrem uma diminuição de lucros. Como seria de esperar, os custos do

investimento contribuem de forma negativa para o excedente económico social. Considerando um

incremento de 50MWh, a redução da diferença de preços nodais provoca uma variação negativa de

496.2 € nas rendas de congestionamento. No entanto, quando se aumenta 100MWh à capacidade de

transmissão, a diferença nodal volta a aumentar e as rendas de congestionamento são de 372.2 €,

valor inferior ao observado no status quou.

3.3. Análise dos Resultados

Procede-se agora à analise dos resultados obtidos para as datas selecionadas.

Nas datas selecionadas registou-se a existência de congestionamento na interligação Ibérica. A

simulação do sistema, utilizando curvas de oferta e procura aproximadas às curvas reais, produziu

congestionamento em três dos dias em estudo. Teóricamente, no ponto ótimo de funcionamento do

sistema elétrico não existe congestionamento. Contudo, como foi visto na formulação do modelo, este

não procura a maximização do bem estar social através da diminuição dos custos de produção do

sistema. Por seu lado, o ponto ótimo é obtido através da maximização do excedente económico

social, a soma dos excedentes dos produtores e consumidores com as rendas de congestionamento

subtraindo os custo de investimento. Desta forma, e tendo em consideração as limitações do modelo,

a maximização do bem estar social pode ser obtida sem se extinguir totalmente o congestionamento.

62

Com base nos resultados obtidos através da simulação, faz-se uma análise qualitativa da distribuição

de benefícios associados a incrementos na capacidade de transmissão. Tal como esperado

teóricamente, verifica-se que a transmissão pode ser vista como substituto ou complemento à

geração, dependo do ponto de vista adoptado.

No dia 30 de Julho, ponta de Verão, o limite da capacidade de transmissão é de 2100MW e conduz

ao congestionamento. Neste dia e hora, Portugal importa e Espanha exporta energia. Os incrementos

na rede produzem um aumento do excedente dos consumidores em Portugal e no excedente dos

produtores espanhóis. Isto deve-se à redução do preço da energia disponível aos consumidores

importadores e ao aumento da quantidade de energia vendida pelos produtores exportadores.

Contrariamente, registou-se uma variação negativa no excedente dos produtores Portugueses e no

excedente dos consumidores do lado Espanhol. Estas variações resultam do aumento do preço nodal

espanhol, consequência do aumento da produção nesse nó, e do aumento da concorrência sentida

pelos produtores Portugueses. O excedente económico social regista um aumento de 5568.2 € e

11271.9 € associado aos incrementos de 50 e 100MWh na capacidade da interligação.

No dia 25 de Junho o trânsito de energia realiza-se novamente de Espanha para Portugal. Assim,

classifica-se Portugal como o nó importador e Espanha como o nó exportador. Nestas circunstâncias,

e à semelhança do caso anterior, os maiores beneficiários do aumento da capacidade de transmissão

são os produtores localizados em Espanha e os consumidores Portugueses. Os produtores

portugueses e consumidores espanhóis vêm os seus excedentes reduzidos. O excedente económico

social sofre uma redução de 440.6€ e de 97.4€ com os incrementos de 50 e 100MWh

respectivamente. Esta redução é explicada pelo facto do os benefícios recolhidos pelos participantes

ser menor que os custos totais dos investimentos em nova capacidade.

Para o dia característico da ponta de Inverno, como foi descrito anteriormente, o ponto ótimo não faz

uma utilização total da capacidade de interligação. Neste contexto, os incrementos de capacidade de

transmissão aumentam apenas os custos de investimento o que se traduz numa diminuição, na

mesma proporção, do excedente económico social.

Por último, no dia 13 de Janeiro às 6 horas, regista-se um trânsito de energia de 300MWh de

Espanha para Portugal. Este fluxo de energia corresponde à utilização total da capacidade da

interligação e consequentemente verifica-se congestionamento. Efectua-se um raciocínio semelhante

ao realizado para os dias de ponta e vazio de Verão, os produtores Portugueses e os consumidores

espanhóis perdem e os consumidores portugueses e produtores espanhóis ganham com o aumento

de capacidade de transmissão.

63

Capítulo 4 - Conclusões

O processo de liberalização e, a respectiva introdução da concorrência no mercado de geração

elétrica, alteraram drasticamente o paradigma do sector eletrico. As atividades de planeamento e

operação do parque produtor são efectuados por empresas privadas, que tem como principal

objectivo a maximização dos seus custos. Em geral, o segmento da transmissão mantém-se um

monopólio regulado, sendo operado e planeado por um operador do sistema de transmissão. Estas

mudanças estruturais no sistema elétrico conduziram à criação de mercados de energia. Os

mercados elétricos permitem a livre transação de energia entre produtores e consumidores.

Teoricamente, a longo prazo, a reestruturação da indústria elétrica incentiva a expansão eficiente e

redução do custos globais do sistema elétrico.

Sendo considerado um monopólio natural, o segmento da transmissão é sujeito à regulação. A

regulação de uma empresa de transmissão deve garantir a viabilidade financeira da empresa

regulada, estimular a prestação justa e adequada do serviço, incitar a minimização de custos de

operação, garantir a existência de uma renda recolhida pelo TSO e motivar a expansão eficiente da

rede.

No contexto de um sector elétrico desregulado, a transmissão elétrica desempenha um papel

fundamental. Ao tradicional exercício de assegurar a segurança e estabilidade da rede, acrescentam-

se agora novas funções. Uma rede de transporte adequada é essencial para mitigar o possível poder

de mercado dos produtores e permitir o livre e justo acesso à energia a todos os participantes. O

desempenho destas funções é indespensável ao bom funcionamento do mercado. A aumento das

trocas de energia resultantes da abertura do mercado, assim como o crescimento da produção

descentralizada, contribuem para tornar o trânsito de energia mais dinâmico e imprevisível. Para lidar

com estas alterações nos padrões de produção e consumo, a rede tem que ser flexível e robusta.

A reestruturação da indústria elétrica tem um forte impacto no planeamento da expansão da rede.

Enquanto que numa indústria tradicional as decisões sobre investimentos em transmissão e geração

são tomadas centralmente, num sector desregulado estas são independentes. Destas alterações,

resultam uma alteração de objetivos e um aumento da incerteza no planeamento da rede. As

decisões sobre a expansão do parque produtor tomadas por empresas privadas pode resultar num

conflito de interesses. Vários modelos de expansão da rede foram desenvolvidos para fazer face aos

novos desafios presentes ao regulador.

A expansão ótima da rede está fortemente interligada com a coordenação entre os investimentos em

transmissão e geração. A transmissão pode ser vista como complemento e, ou, substituto à

capacidade de geração. Sendo assim, os investimentos na rede e os preços daí resultantes

influenciam a localização, a temporalidade e tipo dos investimentos em geração. Para garantir que

nova capacidade de geração é instalada onde é mais necessária, a TSO tem ser capaz de gerir

eficientemente o congestionamento a curto prazo e, a longo prazo, expandir a rede de forma

64

adequada. O método de princing baseado nos preços marginais locais é eficaz na resolução do

congestionamento a curto prazo e envia sinais eficientes sobre os investimentos em transmissão.

Como estratégia complementar, a TSO deve investir em projetos na rede que maximizem o

excedente económico social.

Os fluxos de energia mais dinâmicos e imprevisíveis resultantes da liberalização aumentam

significativamente o nível de congestionamento da rede. O congestionamento é um obstáculo ao bom

funcionamento do mercado. Numa indústria tradicional, os custos de congestionamento são

suportados igualmente por todos os consumidores. Este custo é tido como o preço a pagar para

garantir a segurança e fiabilidade do sistema. Por outro lado, num sector desregulado são

desenvolvidas várias estratégias de gestão do congestionamento, sendo que três delas são

apresentadas neste trabalho. O método Uplift Charges gere os custos de congestionamento

estabelecendo um preço único de mercado, o que não estimula a expansão ótima do sistema uma

vez que não envia sinais de investimentos aos produtores. Os métodos System Redispatch Costs e

Congestion Revenues, também denominado Market Splitting, recorrem à diferenciação de preços

para gerir os custos de congestionamento. Este métodos distinguem-se quanto à forma de definição

dos preços. O método Congestion Revenues, ou Market Splitting, considera-se a melhor solução por

forma a resolver o congestionamento ao nível estrutural, uma vez que envia sinais de investimento

eficientes aos produtores.

A transmissão é um monopólio no entanto, em certos ambientes, são considerados investimentos

efectuados por empresas privadas. Os investimento privados são remunerados com base em rendas

e direitos de transmissão , teoricamente conduzem à expansão ótima da rede. Porém, devido ás

imperfeições do mercado de transporte de eletricidade, principalmente a descontinuidade dos

investimentos em transmissão, os investimentos privados não são sustentáveis a grande escala. Os

investimentos privados apenas são viáveis em projetos em pequena escala, que não diminuam a

diferença de preços nodais. Desta forma, a expansão da rede de transporte depende sempre de

investimentos regulados. Não são considerados investimentos privados na rede elétrica europeia.

As necessidades de investimentos ao nível da rede europeia são elevadas. Contudo, mantendo a

evolução actual das tarifas de electricidade, as TSO’s europeias não têm capacidade de financiar a

maior parte dos investimentos necessários. Apesar de os investimentos regulados terem um retorno

financeiro fixo, o investimento inicial é avultado e apenas recuperado ao longo da vida do projeto.

Business-as-usual, Shift-to-growth-model e Issue additional equity são estratégias de obtenção de

capital que, permitem às TSO financiar os custos iniciais dos seus projectos e realizar uma

percentagem maior dos seus programas de investimento.

Na década de 90 e, partindo de directivas emitidas pela Comissão Europeia, começou o processo de

liberalização da rede Europeia elétrica. Neste sentido, Portugal e Espanha criaram em conjunto um

Mercado Ibério de Energia, o MIBEL.

Através da aplicação de um modelo de análise da distribuição dos impactos resultantes de um

investimento em transmissão à interligação Ibérica, verificou-se o esperado teoricamente. O aumento

65

da capacidade de transmissão tem um impacto positivo nos produtores do nó exportador e nos

consumidores do nó importador. Contrariamente, verifica-se uma diminuição do excedente dos

consumidores no nó exportador e do excedente dos produtores no nó importador. Uma vez que

Portugal tem um saldo importador positivo, pode-se concluir que os consumidores portugueses em

conjunto com os produtores espanhóis são quem beneficia de um possível investimento na

interligação.

4.1. Trabalho Futuro

Este estudo apenas se focou em alguns dos aspectos relacionados com a transmissão elétrica. Um

estudo teórico sobre tópicos que ficaram foram do contexto deste trabalho, como por exemplo, os

contratos bilaterais, os vários métodos de pricing da energia ou as tarifas da eletricidade é

aconselhado.

Com o intuito de se fazer uma análise de distribuição de benefícios de um investimento em

transmissão, propõe-se a aplicação de um modelo mais complexo à interligação Ibérica. Um futuro

estudo sobre os impactos de investimentos na interligação entre Portugal e Espanha, deverá

maximizar a diferença entre os benefícios e os custos totais do sistema. Poderá também considerar a

possibilidade da existência de investimentos em geração como substituto à transmissão. A introdução

de factores como a elasticidade da procura e da oferta também contribuí para uma melhor análise de

investimentos. Neste contexto, destaca-se o modelo proposto por Hung-po Chao e Robert Wilson em

[34].

Outro método de se aprofundar o estudo do impacto de um investimento na interligação elétrica entre

Portugal e Espanha, consiste em modelar o sistema sob a forma de uma rede mais complexa e

detalhada, considerando, por exemplo, todos os pontos de interligação existentes.

A interligação Ibérica não apresenta níveis de congestionamento muito elevados, no entanto, a

interligação elétrica nos Pirinéus, entre Espanha e França, é considerada um dos bottlenecks da rede

Europeia. Desta forma, propõe-se que se realize o mesmo estudo introduzindo um terceiro nó que

represente a França. Assim, é possível não só analisar um futuro investimento na interligação Ibérica,

mas também na interligação dos Pirinéus e o respectivo impacto em todas as partes envolvidas.

66

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