convento carmelita. arquivo pessoal - prac.ufpb.br · experiências recentes registram exemplos de...

7
CONVENTO CARMELITA – UM REFÚGIO EM TERRA CRUA Carolina Marques Chaves (1) , Rafael Ponce de Leon (2) , Givanildo Azeredo (3) Centro de Tecnologia/Departamento de Arquitetura e Urbanismo/PROBEX Resumo Este artigo referese à elaboração de um projeto arquitetônico para o Convento Carmelita a ser edificado no município de Bananeiras, Brejo Paraibano. Sendo a religiosidade um dos símbolos locais, o futuro Complexo Religioso Carmelita atenderá não somente a comunidade local, mas também as cidades circunvizinhas, transformandose em pólo de atração turística e religiosa. O programa inclui a construção de 07 blocos: Igreja, Casa de Retiro, Moradia, Oficinas, etc., fazendo parte desta comunicação dos blocos cujos projetos já foram desenvolvidos: Igreja, Moradia, Oficinas e Administração. O material construtivo escolhido foi bloco de terra crua cuja fabricação utilizará a terra local. A terra como material empregado na construção civil apresenta um longo e bem sucedido histórico, mas sua escolha foi reforça pela tentativa de exploração de materiais outros que não o tijolo cerâmico, tentado minimizar o impacto ambiental causado pela construção civil. Dessa maneira, colocase em questão ações de responsabilidade social e ambiental, através de uma postura que ajude a atenuar a tensão homem x meio natural, ajudando a preservar este. Acreditamos que o presente projeto de extensão além de contribuir com a formação dos alunos nele engajados, vem atender as necessidades de uma parcela da sociedade através dos conhecimentos adquiridos na universidade, particularmente no curso de arquitetura e urbanismo. PalavrasChave arquitetura religiosa, blocos de terra crua, Carmelo. Introdução O presente projeto de extensão surgiu da oportunidade de exercer uma ação cidadão que pudesse auxiliar a comunidade Carmelita a adquirir um ‘lar’, à população local e circunvizinha a ter um espaço de contemplação religiosa que pudesse utilizar com qualidade e que contribuísse para as investigações a cerca da utilização de terra crua na construção civil. O que aponta a discussão no caminho da construção sustentável e um amplo trabalho de conscientização sobre o mesmo. O município de Bananeiras (ver figura 01), no Brejo paraibano, situase a 140 Km da capital João pessoa e uma das atividades que mobiliza a economia da cidade é o turismo histórico, ecológico e religioso. A religiosidade é um dos símbolos do local, que chega a polarizar cidades circunvizinhas. Porém, mudanças na Arquidiocese da Paraíba exigiram que a Comunidade Carmelita que habita em Bananeiras edificasse lugar próprio para se instalar, visto que se encontra alojada em edifício de posse da municipalidade, e não em uma edificação de tipologia religiosa. Assim, surge a necessidade da elaboração do projeto para o Convento Carmelita. Dessa maneira, este trabalho teve por foco a elaboração de projeto arquitetônico para sede do Convento Carmelita, complexo religioso que atenderá tanto à população local como a das cidades circunvizinhas. Elegendo por material construtivo principal os blocos de terra crua, esta extraída do próprio local. Figura 01: Vista de parte da cidade de Bananeiras a partir do terreno destinado à construção do Convento Carmelita. Arquivo pessoal 7CTDAPEX01 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ (1) Aluno(a)Bolsista; (2) Aluno(a) Voluntário(a); (3) Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a); (4) Prof(a) Colaborador(a); (5) Servidor Técnico/Colaborador

Upload: truongduong

Post on 07-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONVENTO CARMELITA – UM REFÚGIO EM TERRA CRUA Carolina Marques Chaves (1) , Rafael Ponce de Leon (2) , Givanildo Azeredo (3) Centro de Tecnologia/Departamento de Arquitetura e Urbanismo/PROBEX

Resumo

Este artigo refere­se à elaboração de um projeto arquitetônico para o Convento Carmelita a ser edificado no município de Bananeiras, Brejo Paraibano. Sendo a religiosidade um dos símbolos locais, o futuro Complexo Religioso Carmelita atenderá não somente a comunidade local, mas também as cidades circunvizinhas, transformando­se em pólo de atração turística e religiosa. O programa inclui a construção de 07 blocos: Igreja, Casa de Retiro, Moradia, Oficinas, etc., fazendo parte desta comunicação dos blocos cujos projetos já foram desenvolvidos: Igreja, Moradia, Oficinas e Administração. O material construtivo escolhido foi bloco de terra crua cuja fabricação utilizará a terra local. A terra como material empregado na construção civil apresenta um longo e bem sucedido histórico, mas sua escolha foi reforça pela tentativa de exploração de materiais outros que não o tijolo cerâmico, tentado minimizar o impacto ambiental causado pela construção civil. Dessa maneira, coloca­se em questão ações de responsabilidade social e ambiental, através de uma postura que ajude a atenuar a tensão homem x meio natural, ajudando a preservar este. Acreditamos que o presente projeto de extensão além de contribuir com a formação dos alunos nele engajados, vem atender as necessidades de uma parcela da sociedade através dos conhecimentos adquiridos na universidade, particularmente no curso de arquitetura e urbanismo.

Palavras­Chave ­ arquitetura religiosa, blocos de terra crua, Carmelo.

Introdução

O presente projeto de extensão surgiu da oportunidade de exercer uma ação cidadão que pudesse auxiliar a comunidade Carmelita a adquirir um ‘lar’, à população local e circunvizinha a ter um espaço de contemplação religiosa que pudesse utilizar com qualidade e que contribuísse para as investigações a cerca da utilização de terra crua na construção civil. O que aponta a discussão no caminho da construção sustentável e um amplo trabalho de conscientização sobre o mesmo.

O município de Bananeiras (ver figura 01), no Brejo paraibano, situa­se a 140 Km da capital João pessoa e uma das atividades que mobiliza a economia da cidade é o turismo histórico, ecológico e religioso. A religiosidade é um dos símbolos do local, que chega a polarizar cidades circunvizinhas. Porém, mudanças na Arquidiocese da Paraíba exigiram que a Comunidade Carmelita que habita em Bananeiras edificasse lugar próprio para se instalar, visto que se encontra alojada em edifício de posse da municipalidade, e não em uma edificação de tipologia religiosa. Assim, surge a necessidade da elaboração do projeto para o Convento Carmelita.

Dessa maneira, este trabalho teve por foco a elaboração de projeto arquitetônico para sede do Convento Carmelita, complexo religioso que atenderá tanto à população local como a das cidades circunvizinhas. Elegendo por material construtivo principal os blocos de terra crua, esta extraída do próprio local.

Figura 01: Vista de parte da cidade de Bananeiras a partir do terreno destinado à construção do Convento Carmelita. Arquivo pessoal

7CTDAPEX01

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

(1) Aluno(a)Bolsista; (2) Aluno(a) Voluntário(a); (3) Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a); (4) Prof(a) Colaborador(a); (5) Servidor Técnico/Colaborador

A contribuição da terra como material construtivo tem uma longa carga histórica e decerto conduzirá, a quem se dedicar à sua investigação, às civilizações que se desenvolveram a mais de 9000 atrás. No entanto, como o desenvolvimento de técnicas industriais que otimizassem a linha de produção na construção civil, antigas técnicas construtivas, em gerais artesanais, perderam importância.

Por outro lado, discussões atuais sobre sustentabilidade e utilização racional dos recursos naturais têm reacendido os debates a certa da construção em terra e conduzido a estudos que hão por tema ‘arquitetura em terra’. As técnicas construtivas que envolvem o uso desse material são re­estudadas a fim de colaborar com o desenvolvimento de novos processos construtivos. Engenheiros e Arquitetos se dedicam a analisar suas propriedades físicas (resistência, absorção de calor e umidade, etc.), ao estudo de argamassas que lhe sirvam e à investigação de sua capacidade construtiva.

Atualmente muito se tem feito na direção de conscientizar à população sobre as possibilidades de construção com esse material ressaltando sua durabilidade e a viabilidade comercial dessa técnica, desfazendo o preconceito que ainda impera sobre sua utilização, que em geral vem atrelada à idéia de barbeiros e bicho de pé, e seus donos passam por ‘Zeca Tatu’ ou ‘bicho­grilo’. Além de se tratar de um material cuja utilização agride bem menos o meio ambiente que a produção dos tão conhecidos tijolos cerâmicos, cuja queima gasta 1.500kW, além de poluir o ar na combustão. De fato, os resultados vistos só ajudam a ratificar a relevância do tema: sustentabilidade construtiva e conforto ambiental.

Experiências recentes registram exemplos de construção em terra demonstrando sua versatilidade de tipos arquitetônicos como um Condomínio Berna Felsenau na Suíça (1993), uma Casa de Campo em São Paulo (1996) e um Centro Educativo em Segui, Mali, (1988), apenas para citar alguns exemplos.

O Condomínio Berna Felsenau (ver figura 01), projeto de Ryszard Gorajek, é uma construção de quatro andares incorpora seis apartamentos independentes que dispõem de lugares comuns como a sala, o sótão e a pirâmide que serve como jardim de inverno. Seu esqueleto estrutural é em madeira e suas paredes, de 35 cm de espessura, foram construídas com terra argilosa extraída no local. A observação de sua planta fornece algumas dicas de como o material, terra, não limita o desenvolvimento do projeto arquitetônico à formas rígidas. A Casa de Campo em São Paulo (ver figura 02), projeto do arquiteto Paulo Montoro, que utiliza taipa de pilão na fabricação das paredes externas que têm 45 cm de espessura. Foi utilizada terra local após estabilização com cal. Tem um total de 78 m². E, por fim, o Centro Educativo em Segui (ver figura 03), projeto de Nicolas Widmer, Alain Klein, com 1600 m² de área construída, é um projeto que se caracteriza por seus espaços cobertos por cúpulas feitas em terra, mais um bom exemplo da possibilidade construtiva do material.

O barro possui algumas vantagens como material construtivo, quais como: • O barro regula a umidade ambiental – o que pode ser um grande auxílio no controle do conforto térmico de ambientes internos;

Figura 02 e 03

Figura 01: Condomínio Berna Felsneau – Suíca

• O barro economiza energia e diminui a contaminação ambiental – o uso desse material no processo de construção resulta em um canteiro de obras mais limpo e que despeja na natureza um menor número de resíduos;

• O barro é reutil izável – o que permite a reciclagem, um pouco diferente do tijolo cerâmico tradicional cuja perda com quebras ao longo da obra resulta em maiores gastos e desperdício;

• O barro economiza materiais de construção e custos de transporte – como a terra utilizada é a local, os gastos com transporte é praticamente nulo;

• O barro é apropriado para a auto­construção – é possível orientar grupos de trabalho para que produzam as peças ou blocos que serão utilizados na construção de suas casas, o que também dá autonomia aos moradores que acabam por aprender um ofício;

• O barro preserva a madeira e outros materiais orgânicos

Descrição Metodológica

Os meios e métodos para elaboração do projeto seguiram as seguintes etapas:

• Revisão do repertório sobre arquitetura religiosa e estudos sobre construções em terra (características e propriedades);

• Investigação sobre espaços litúrgicos e suas simbologias; • Estudos sobre a utilização de blocos de terra crua na construção civil; • Encontros com a comunidade Carmelita para elaboração do programa de necessidades; • Visitas para conhecer o terreno (localização, percurso de ventos, insolação, etc.) e seu entorno;

Todas as etapas acima descritas foram cumpridas a contento e permitiu, como previsto, o melhor desenvolvimento do projeto arquitetônico proposto nesse trabalho.

Resultados

Dentro do programa a ser cumprido o projeto conta com 07 blocos (Igreja, Casa de Retiro, Moradia, Oficinas, etc.). É, sem dúvidas, um projeto vultoso que tem por maior motivador sua função social. O trabalho encontra­se em andamento com o projeto de alguns blocos já concluído (Igreja, Moradia, Oficinas e Administração).

Como o barro não é um material de construção padronizado ele varia do local onde é executada a obra, que em geral utiliza terra local, o que permite uma variedade e singularidade interessante. A terra presente no local (ver figura 04) destinado à construção do Convento tem um tom variando entre vermelho e amarelo, que deu pistas de como manejar as cores aplicadas em alguns blocos.

Decerto, as características da terra, material construtivo escolhido, serviram de orientadoras para o desenvolvimento do projeto como: o barro não é impermeável, o que nos levou a projetar, sempre que possível, grandes beiras e indicar impermeabilização nas paredes expostas. Outra consideração importante foi a decisão foi a de trabalhar com alvenaria estrutura, onde os blocos de terra crua compõem grandes panos estruturais.

Os elementos de composição da simbologia religiosa guiaram a tomada de decisão na adoção do conceito do projeto arquitetônico, tais como: o círculo, que traz o significado de perfeição, harmonia, unidade; o quadrado traduz­se como a materialização do espaço a partir do encontro da Perfeição Transcendente com a perfeição criada (círculo circunscrito no

Figura 04: Amostra de terra local. Arquivo pessoa.

quadrado). Esses são os elementos são descritos por Pastro (1993) em seu livro Arte Sacra – o espaço sagrado hoje. Dessa maneira, a partir do círculo e do quadrado foram decompostas relações de proporção que conduziu às formas geométricas que compõem o projeto arquitetônico aqui exposto. É o caso da Igreja, cuja planta é definida por um arco de elipse tendo suas medidas partido da relação de proporção áurea de um quadrado (figuras 05).

Figura 05: Planta da Igreja e ilustração da relação de proporção áurea para determinação da elipse.

ALTAR NAVE

AUDITÓRIO

SACRISTIA

Figuras 06 a 08: Da esquerda para direita, Corte Longitudinal, Fachada Norte e Fachada Sul.

Outro elemento simbólico importante adotado no projeto foi o labirinto. Utilizado como elemento de meditação e peregrinação desde a Idade Média, ele elemento foi inserido no pátio que compõe o bloco da Moradia (figura 09) na tentativa de proporcionar às Carmelitas um ambiente de meditação que também lhes permitisse a prática de alguma atividade física como a caminhada.

Conhecer seus hábitos foi imprescindível para a correta adaptação do projeto à seus usurários mais constantes, as Carmelitas. As Carmelitas têm uma rotina muito forte de orações, o que é uma das regras de vida dessa comunidade cujo contato com os fiéis é raro e muito mais relacionado às orientações religiosas. Isso exigiu que o projeto traçasse com cuidado os caminhos a serem percorridos pelas freiras e pelos fiéis, os quais não deveriam se encontrar senão nos ambientes determinados para tal como a Igreja e o Centro de Espiritualidade.

O Bloco de Apoio a Moradia (ver figura 10), com 800 m 2 , concentra funções diversificadas, são elas: enfermaria, sala de fisioterapia, cozinha, sala de refeições, lavanderia, entre outras. O espaço foi projetado para oferecer total acessibilidade e segue as exigências da NBR 9050. A simplicidade e a funcionalidade nortearam as decisões projetuais. Uma ampla varanda que circunda toda a área dos quartos da enfermaria viabiliza a socialização dos enfermos que lá se encontrem.

Figura 09: Planta do bloco da Moradia. Detalhe para o desenho do labirinto (desenho de piso) ao centro do pátio.

PÁTIO PÁTIO

Figura 10: Planta do bloco das oficinas, ou Apoio Moradia.

Conclusão

A experiência vivida representa uma contribuição substancial à formação de Arquitetos e ressalta a importância da ação cidadã consciente, e responsável, ligada ao estudo investigativo de construções sustentáveis e aplicação de novos materiais como blocos de terra crua.

Foi também enriquecedor conhecer um pouco mais sobre as possibilidades construtivas da terra e a ampliação o repertório de materiais construtivos à disposição do homem, que os deve utilizar de forma racional e responsável. Contribuir para difundir esse conhecimento e trabalhar em contato íntimo com a comunidade possibilita alcança o real sentido da profissão de arquiteto e de uma postura cidadã.

Referências Bibliográficas

PASTRO, Cláudio. Arte Sacra – o Espaço Sagrado Hoje. São Paulo, Edições Loyola: 1993.

http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2004­1/arq_terra/projetos.htm ­ acessado em 29­03­ 2006.

http://www.terra.com.br/istoe/comport/155819.htm ­ acessado em 29­03­2006.

http://www.abcterra.com.br/ ­ Site da Associação Brasileira dos Construtores com Terra. Acessado em 29­03­2006.