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LICENCIATURA EM ENGENHARIA DO AMBIENTE POLÍTICAS DO AMBIENTE 2º Semestre 2004/2005 Convenção sobre Diversidade Biológica e Protocolo de Cartagena Ana Paula Barreira Rodrigues nº 50394 Ricardo André Duarte Rodrigues nº 50424 1 CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA E PROTOCOLO DE CARTAGENA Ana Paula Barreira RODRIGUES; Ricardo André Duarte RODRIGUES RESUMO A importância da conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus elementos foi reconhecida oficialmente pela primeira vez em Junho de 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e a Humanidade, em Estocolmo. Desta preocupação por parte da comunidade internacional com a crescente perda de biodiversidade, e o reconhecimento da necessidade de partilha dos benefícios dela proveniente resultou a criação de um instrumento vinculativo legal, a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD). A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica foi finalizada em Nairobi em Maio de 1992 e aberta para assinatura na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e desenvolvimento no Rio de Janeiro a 5 de Junho de 1992 entrando em vigor a 29 de Dezembro de 1993. A Convenção fornece uma abordagem holística da conservação da biodiversidade, do uso sustentável dos recursos naturais e da necessidade de partilha equitativa dos benefícios provenientes do uso dos recursos genéticos. Na sequência do Artigo 19, parágrafo 3 da Convenção Sobre Diversidade Biológica a 29 de Janeiro de 2000 a Conferência das Partes adoptou o Protocolo sobre Segurança Biológica. Chama-se Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica em homenagem à cidade que albergou a Conferência Extraordinária das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica em 1999. O Protocolo destina-se a proteger a diversidade biológica dos potenciais riscos apresentados pelos Organismos Vivos Modificados (OVM’s) criados pela biotecnologia moderna. PALAVRAS-CHAVE Convenção sobre Diversidade Biológica, Rede Natura 2000, Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica, Organismos Geneticamente Modificados, Biotecnologia Moderna.

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LICENCIATURA EM ENGENHARIA DO AMBIENTE POLÍTICAS DO AMBIENTE 2º Semestre 2004/2005

Convenção sobre Diversidade Biológica e Protocolo de

Cartagena

Ana Paula Barreira Rodrigues nº 50394 Ricardo André Duarte Rodrigues nº 50424

1

CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA E PROTOCOLO DE CARTAGENA

Ana Paula Barreira RODRIGUES; Ricardo André Duarte RODRIGUES

RESUMO

A importância da conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus

elementos foi reconhecida oficialmente pela primeira vez em Junho de 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e a Humanidade, em Estocolmo. Desta preocupação por parte da comunidade internacional com a crescente perda de biodiversidade, e o reconhecimento da necessidade de partilha dos benefícios dela proveniente resultou a criação de um instrumento vinculativo legal, a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD).

A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica foi finalizada em Nairobi em Maio de 1992 e aberta para assinatura na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e desenvolvimento no Rio de Janeiro a 5 de Junho de 1992 entrando em vigor a 29 de Dezembro de 1993.

A Convenção fornece uma abordagem holística da conservação da biodiversidade, do uso sustentável dos recursos naturais e da necessidade de partilha equitativa dos benefícios provenientes do uso dos recursos genéticos.

Na sequência do Artigo 19, parágrafo 3 da Convenção Sobre Diversidade Biológica a 29 de Janeiro de 2000 a Conferência das Partes adoptou o Protocolo sobre Segurança Biológica. Chama-se Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica em homenagem à cidade que albergou a Conferência Extraordinária das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica em 1999.

O Protocolo destina-se a proteger a diversidade biológica dos potenciais riscos apresentados pelos Organismos Vivos Modificados (OVM’s) criados pela biotecnologia moderna.

PALAVRAS-CHAVE

Convenção sobre Diversidade Biológica, Rede Natura 2000, Protocolo de Cartagena sobre

Segurança Biológica, Organismos Geneticamente Modificados, Biotecnologia Moderna.

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Cartagena

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1 - CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA

A importância da conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus elementos foi realçada pela primeira vez em Junho de 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e a Humanidade, em Estocolmo. Nesta conferência os governantes assinaram acordos regionais e internacionais referentes a várias temáticas, como a protecção de zonas húmidas e regulação do comércio internacional de espécies em perigo. Estes acordos, juntamente com o controlo de químicos tóxicos e da poluição, ajudaram a abrandar o ritmo da destruição da biodiversidade, mas não a reverteram.

Na primeira sessão do Conselho Governamental para o novo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (1973) a importância da biodiversidade foi novamente salientada, tendo sido considerada como prioritária a “conservação da natureza, da vida selvagem e dos recursos genéticos”. Este aumento de preocupação por parte da comunidade internacional com a crescente perda de biodiversidade, e o reconhecimento da necessidade de partilha dos benefícios dela proveniente levaram à criação de um instrumento vinculativo legal, a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD).

A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica foi finalizada a 20 de Maio de l992, pelo Comité Intergovernamental de Negociação, instituído pela Assembleia-geral das Nações Unidas (Nairobi), e aberta para assinatura a 5 de Junho de 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro) tendo sido assinada nesta altura por 150 líderes governamentais. A Convenção entrou em vigor a 29 de Dezembro de 1993. Entre 1992 e 1993, 168 Estados assinaram a Convenção e actualmente já foi ratificada por 188 Estados, continuando de fora EUA, Angola e Iraque.

A Convenção fornece uma abordagem holística da conservação da diversidade biológica, do uso sustentável dos recursos naturais e da necessidade de partilha equitativa dos benefícios provenientes do uso dos recursos genéticos.

Portugal, devido à sua localização geográfica e condicionantes geofísicas, possui uma enorme diversidade biológica (possuindo 43% da fauna de vertebrados terrestres da Europa), incluindo o maior número de endemismos da Europa. A consciência da importância da biodiversidade como património natural, histórico e cultural levou Portugal a ratificar a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica através do Decreto nº 21/93, de 21 de Junho, que entrou em vigor a 21 de Março de 1994. 1.1 - Importância da Biodiversidade

Por Diversidade Biológica entende-se: a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies e dos ecossistemas. Actualmente estão identificadas 1,75 milhões de espécies e estime-se que existam 14 milhões.

Outra faceta da biodiversidade é a variedade nos ecossistemas como por exemplo os desertos, florestas, lagos, montanhas, zonas húmidas, rios e campos agrícolas, onde os seres vivos interagem entre si e com o meio envolvente formando uma comunidade.

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A extinção das espécies constitui um fenómeno natural do processo de evolução, no entanto, devido à acção do homem, que muitas vezes se mostra incapaz de promover uma utilização sustentável dos recursos biológicos, este fenómeno tem sido fortemente ampliado (50 a 100 vezes a taxa natural de extinção), encontrando-se as espécies e os ecossistemas actualmente mais ameaçados do que em qualquer outro período histórico.

As principais ameaças à variabilidade biológica têm sido: - Agricultura em monocultura – Implica o uso de um número muito reduzido de espécies; - Pecuária baseada num número muito reduzido de espécies e raças; - Alteração dos usos do solo – Expansão urbana e desflorestação; - Alterações climáticas e degradação da camada do Ozono; - Poluição; - Captura excessiva de determinadas espécies – Pesca e caça exaustivas; - Introdução de espécies exóticas. A perda de diversidade abrange uma grande parte dos seres vivos, actualmente cerca de 34000

plantas e 5200 animais correm o risco de extinção. Por exemplo as populações europeias de cotovias, abibes, verdelhas e mais 21 espécies de

aves diminuíram um terço desde 1980 devido a métodos de agricultura intensiva, segundo um estudo de membros da organização britânica Royal Society for the Protection of Birds e da Birdlife International, entre outros (Janeiro, 2004).

Embora seja a perda de espécies individuais que capta a nossa atenção, é a fragmentação, degradação e perda completa dos ecossistemas como florestas, zonas húmidas e recifes de corais que representa a maior ameaça à diversidade biológica.

A extinção das espécies tem profundas implicações, não só de natureza ecológica mas também a nível socio-económico, os recursos biológicos são a base de desenvolvimento das civilizações e actualmente cerca de 40% da economia mundial depende dos recursos biológicos.

Para além disso, quanto mais rica for a diversidade biológica mais oportunidades surgirão no âmbito da medicina, alimentação, desenvolvimento económico, e respostas adaptativas ás alterações ambientais.

A biodiversidade inclui também o conjunto dos vários ecossistemas, que disponibilizam um vasto leque de produtos e serviços, como:

- Alimentos; - Combustíveis; - Materiais de construção; - Madeira e fibras; - Purificação do ar e da água; - Decomposição de resíduos; - Estabilização e regulação do clima; - Moderação de fenómenos extremos (cheias, temperaturas, secas, etc.) - Geração e renovação da fertilidade dos solos; - Polinização das plantas; - Controlo de pestes e doenças; - Manutenção dos recursos genéticos essenciais para a variabilidade; - Benefícios estéticos e culturais (turismo); - Capacidade de adaptação ás mudanças do planeta.

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A espécie humana depende da biodiversidade para a sua própria sobrevivência e a sua conservação constituiu um seguro à continuidade da vida.

1.2 - O documento A Convenção pretende encarar a diversidade biológica não apenas em termos de protecção das

espécies ou dos ecossistemas ameaçados, mas sim introduzir uma nova forma de abordagem aliando a necessidade de conservação com a preocupação do desenvolvimento, baseada em considerações de igualdade e partilha de responsabilidades.

Pela primeira vez, no contexto da conservação da diversidade biológica, um instrumento legal internacional declara os direitos e as obrigações das suas Partes Contratantes relativamente à cooperação científica, técnica e tecnológica.

Concebida como uma ferramenta prática de tradução dos princípios da Agenda 21 em realidade, a Convenção sobre a Diversidade Biológica é um dos mais recentes e significativos instrumentos do direito internacional e das relações internacionais no âmbito do Ambiente e desenvolvimento.

1.2.1 - Objectivos

Os objectivos da CBD são os seguintes: - Conservação da diversidade biológica; - Utilização sustentável dos seus componentes; - Repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos

(Artigo 1). Para a prossecução destes objectivos gerais a CBD recomenda a criação de estratégias

nacionais e internacionais que enquadrem a adopção de medidas destinadas a promover a conservação da natureza e a utilização sustentável da biodiversidade. Assim, as Partes na Convenção devem desenvolver ou adaptar estratégias, planos e programas nacionais, bem como integrar a conservação e utilização sustentável da diversidade biológica nos seus diferentes planos, programas e políticas sectoriais ou inter-sectoriais (Artigo 6).

1.2.2 - Principais aspectos

A Convenção trata um assunto vital para a humanidade, pela primeira vez a conservação da biodiversidade é reconhecida como um interesse comum à humanidade e parte integral do processo de desenvolvimento. O acordo abrange todos os ecossistemas, espécies e recursos genéticos.

A CBD efectuou a ligação entre os tradicionais esforços de conservação com o uso sustentável dos recursos biológicos e estabelece princípios de partilha equitativa dos benefícios provenientes do uso dos recursos genéticos, em particular os que se destinam ao comércio. De acordo com o espírito da Declaração do Rio em Ambiente e Desenvolvimento (1992), a Convenção promove uma nova forma de parceria entre os países, onde a cooperação científica e técnica, o acesso aos recursos financeiros e genéticos, e a transferência de tecnologias limpas constituem as bases.

A Convenção é vinculativa, os Estados que a ratificaram são obrigados a implementar as suas medidas.

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Enquanto os esforços tradicionais de conservação da diversidade biológica eram direccionados para a protecção de uma determinada espécie ou habitats, a Convenção reconhece que os ecossistemas, espécies e genes devem ser usados para benefício da humanidade, não devendo no entanto este uso ser efectuado à custa do declínio da diversidade biológica.

A Convenção relembra os Decisores que os recursos naturais não são infinitos introduzindo uma filosofia de uso sustentável dos recursos biológicos e oferece orientação para que quando ocorra uma redução significativa na diversidade biológica, a falta de certeza cientifica não seja usada como motivo para adiar a implementação de medidas de minimização da ameaça à biodiversidade.

Alguns dos aspectos abordados na Convenção: - Medidas e incentivos para a conservação e uso sustentável da diversidade biológica; - Acesso regulado aos recursos genéticos (Artigo 15); - Acesso e transferência de tecnologia (Artigo 16); - Cooperação técnica e cientifica (Artigo 18); - Avaliação de impacte (Artigo 14); - Educação e consciencialização publica (Artigo 13); - Fornecimento de recursos financeiros (Artigo 11 e 20); - Relatórios nacionais dos esforços de implementação dos compromissos da Convenção.

1.2.3 - Órgãos

Conferência das Partes (COP) – (Artigo 23)

A autoridade máxima da Convenção é a Conferência das Partes (COP) composta pelo conjunto de todos os Governos (e organizações de integração económica regional) que ratificaram o tratado. A COP tem as seguintes funções:

- Acompanhar o progresso na perspectiva da Convenção; - Identificar novas prioridades; - Estabelecer os planos de trabalho dos Estados Membro; - Estabelecer os órgãos subsidiários; - Fazer emendas à Convenção; - Criar corpos consultivos; - Rever o progresso das nações membro; - Colaborar com outras organizações e acordos.

Órgão Subsidiado de Assessoramento Cientifico, Técnico e Tecnológico – (Artigo 25)

O Órgão Subsidiado é um comité composto por especialistas dos vários Estados Membro, possuindo um papel chave no aconselhamento da COP relativamente a assuntos científicos e técnicos.

Clearing House Mechanism É uma rede de cooperação técnica e cientifica de troca de informação assente na Internet.

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Secretariado – (Artigo 24)

O secretariado é sedeado em Montreal e tem por principais funções: - Organizar encontros; - Esboçar documentos; - Assistir Governos Membro na implementação do programa de trabalho; - Assegurar a coordenação com organizações internacionais; - Reunir e disseminar informação.

1.2.4 - Acções a nível Nacional

A Convenção da Diversidade Biológica, como um tratado internacional, identifica um problema comum, ajusta objectivos, políticas e obrigações gerais, e organiza a cooperação técnica e financeira. No entanto a responsabilidade da realização dos seus objectivos depende essencialmente dos próprios países.

Os Estados que ratificaram a Conferência têm que empreender a conservação e uso sustentável da biodiversidade, é-lhes requerido que desenvolvam estratégias e planos de acção e que os integrem nos planos nacionais para o ambiente e desenvolvimento (Artigo 6).

Entre outros, o tratado possui os seguintes compromissos: − Identificar e monitorizar os componentes importantes da diversidade biológica que necessitam de ser conservados e usados de forma sustentável (Artigo 7 e Anexo I); − Estabelecer áreas para a conservação da diversidade biológica (Artigo 8); − Reabilitar e restaurar ecossistemas degradados e promover a recuperação de espécies ameaçadas em colaboração com os residentes locais (Artigo 8); − Respeitar, preservar e manter o conhecimento tradicional de uso sustentável da diversidade biológica com o envolvimento de populações indígenas e comunidades locais; − Prever a introdução, controlar ou erradicar espécies exóticas que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e espécies (Artigo 8); − Controlar os riscos provenientes dos organismos modificados pela biotecnologia (Artigo 8); − Promover a participação pública, particularmente quando se trata de avaliar impactes ambientais do desenvolvimento de projectos passíveis de constituir uma ameaça à diversidade biológica; − Educar e consciencializar as populações para a importância da diversidade biológica e a necessidade de a conservar (Artigo 13); − Realizar Avaliações de Impacte Ambiental (Artigo 14); − Elaborar ou manter em vigor legislação necessária e/ou disposições regulamentares para protecção das espécies e populações ameaçadas (Artigo 8); − Reportar como cada país está a atingir os seus objectivos relativos à biodiversidade (Artigo 26).

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1.2.5 - Acções a nível Internacional

O sucesso da Convenção depende do esforço combinado das várias nações. A implementação da Convenção é da responsabilidade de cada Estado, estando sujeita aos interesses do país e ás pressões da opinião pública.

Os membros da Convenção procuram encontrar formas de lidar com a questão da diversidade durante o plano de desenvolvimento, promover a cooperação transfronteiriça (Artigo 5) e envolver as comunidades locais na conservação do ecossistema. A Conferência das Partes lançou alguns programas temáticos que abrangem a biodiversidade das ilhas, águas, florestas, áreas costeiras, áreas continentais e áreas agrícolas. Os temas desenvolvidos também envolvem assuntos como o controle de espécies invasivas, acesso aos recursos genéticos, alterações climáticas, áreas protegidas, transferência de tecnologia e desenvolvimento de indicadores da perda de biodiversidade.

O “Global Environment Facility” é o mecanismo financeiro que suporta as actividades relacionadas com a Convenção nos países em desenvolvimento. Este mecanismo é suportado pelo Programa das Nações Unidas, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e pelo Banco Mundial e financia projectos relacionados com a perda de biodiversidade, alterações climáticas, degradação da camada do ozono e degradação das águas internacionais (Artigo 21).

A biotecnologia tem sido promovida como uma forma de melhorar as características das culturas e dos animais, no entanto, os Organismos Vivos Geneticamente Modificados geram preocupações com os possíveis efeitos laterais na saúde humana, nos ecossistemas e na diversidade biológica. Como resposta a essas preocupações a Convenção criou o Protocolo de Cartagena para avaliar e regulamentar os movimentos transfronteiriços e libertações acidentais de Organismos Geneticamente Modificados.

A Convenção reconhece a supremacia nacional sobre os recursos genéticos, quando um microrganismo, planta ou animal é usado para aplicação comercial, o país de onde provem tem o direito ao benefício. Os benefícios podem ser dinheiro, amostras do bem em questão, participação nas investigações nacionais, transferência de equipamento biotecnológico e “know-how”, e partilha de qualquer lucro proveniente do uso dos recursos (Artigo 3, 15 e 19).

A Convenção reconhece a dependência tradicional das populações indígenas e locais nos recursos biológicos, e a necessidade de garantir que estes partilham os benefícios provenientes do uso e práticas tradicionais relacionadas com a conservação e uso sustentável da biodiversidade. Os Governos Membro promovem a preservação destas práticas e encorajam a partilha equitativa dos benefícios delas provenientes.

1.3 - Portugal e a Convenção sobre Diversidade Biológica

No caso Português a Convenção foi transposta para a Legislação Nacional pelo Decreto nº 21/93 de 21 de Junho, sendo a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ENCNB) o documento orientador fundamental para todas as políticas que interferem com a conservação da Natureza e da Biodiversidade, bem como a salvaguarda dos elementos notáveis do património geológico, geomorfológico e paleontológico.

A Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade foi adoptada pela Resolução de Concelho de Ministros n.º 152/2001, de 11 de Outubro, e elaborada para vigorar entre

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2001 e 2010, ano em que deverá ser sujeita a uma revisão global, com base num processo de avaliação e discussão pública. Esta Estratégia corresponde também a uma exigência legal fixa em Lei de Bases do Ambiente (Lei nº 11/87, de 7 de Abril).

Na Lei de Bases do Ambiente a estratégia é referida como um instrumento da política de ambiente e de ordenamento do território, tendo em vista enquadrar as políticas globais do ambiente e promover a sua integração nas políticas sectoriais, em articulação com a estratégia europeia e mundial, por forma a alcançar um ambiente propício à saúde humana, bem-estar das pessoas, ao desenvolvimento social e cultural das comunidades, bem como à melhoria da qualidade de vida.

A Estratégia assume três objectivos gerais: - Conservar a natureza e a diversidade biológica; - Promover a utilização sustentável dos recursos biológicos; - Contribuir para que os objectivos visados pelos processos de cooperação internacional na área

da conservação da natureza em que Portugal está envolvido sejam cumpridos. Para cumprir com os objectivos proposto a ENCNB formulou opções estratégicas: - Promover a investigação científica e o conhecimento sobre o património natural; - Construir a Rede Fundamental de Conservação da Natureza e o Sistema Nacional de Áreas

Classificadas, integrando nesta a Rede Nacional de Áreas Protegidas; - Assegurar a conservação e a valorização das zonas de protecção especialmente integradas na

Rede Natura 2000; - Promover a integração da política de conservação da natureza na política de ordenamento do

território e nas diferentes politicas sectoriais. A protecção da Biodiversidade já antes tinha sido considerada na Legislação Portuguesa através

da transposição da Directiva n.º 79/409/CEE (directiva aves) pelo Decreto-Lei n.º 75/91, Este diploma tem por objectivo a protecção, gestão e controlo das espécies de aves que vivem no estado selvagem, regulamentando a sua exploração. Atendendo à regressão de muitas populações de espécies de aves no território europeu (em especial das migradoras), à degradação crescente dos seus habitats e ao tipo de exploração de que eram alvo, aquela directiva prevê que o estabelecimento de medidas de protecção passa nomeadamente pela designação de Zonas de Protecção Especial (ZPE), correspondentes aos habitats cuja salvaguarda é prioritária para a conservação das populações de aves.

Seis anos mais tarde Portugal transpôs a Directiva n.º 92/43/CEE (directiva habitats) para a ordem jurídica interna através do Decreto-Lei n.º 226/97. Este diploma visa a conservação da Biodiversidade, através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens do território da União Europeia, nomeadamente mediante a criação de um conjunto de sítios de interesse comunitário, designados como Zonas Especiais de Conservação (ZEC).

Esta directiva prevê o estabelecimento de uma rede ecológica europeia de conservação, a Rede Natura 2000, que englobará as ZEC e as ZPE. A regulamentação europeia relativa à conservação da Natureza assenta pois em torno das directivas aves e habitats, de âmbito complementar e objectivos idênticos e que consubstanciam, em conjunto, o instrumento de conservação comunitário por excelência: a Rede Natura 2000.

Posteriormente, em virtude do âmbito complementar das directivas aves e habitats, da evolução do quadro jurídico comunitário nesta matéria e da necessidade de actualizar o normativo interno referente à directiva aves foi promulgado o Decreto-Lei n.º140/99 de 24 de Abril, que efectua a revisão da transposição para o direito interno das directivas aves e habitats (n.º79/409/CEE e n.º92/43/CEE).

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As primeiras ZPE’s no continente (18) foram delimitadas em 1988. Posteriormente, em 1997, foi aprovada a 1ª fase da lista nacional de sítios abrangendo 12,3% do território nacional. A 2ª fase, aprovada em 2000 estende esta área para 21,3% do território nacional. A consideração das áreas da REN (Rede Ecológica Nacional) instrumento de ordenamento do território e conservação da natureza permite que Portugal atinja uma área de protecção superior a 50%.

Actualmente a lista de sítios (Directiva habitats) para Portugal Continental engloba um total de 59 sítios estando também definidas 29 ZPE’s (Directiva aves). Nos Açores estão definidas 15 ZPE’s e na Madeira 4 ZPE’s.

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Figura 1 – Lista Nacional de Sítios

Fonte: ICN

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Figura 2 - Zonas de Protecção Especial Fonte: ICN

Há contudo ainda muito trabalho a fazer na implementação da Rede Natura. Esta Rede tem potencialidades para gerar benefícios sociais e económicos reforçando os valores recreativos, incentivando a investigação e o emprego, nomeadamente nos sectores do turismo, da agricultura e da silvicultura, em zonas frequentemente rurais e periféricas. A Rede Natura 2000 representa uma importante contribuição na conservação global da natureza, permitindo cumprir o compromisso comunitário relativamente à CBD e constitui ainda um modelo da cooperação internacional no desenvolvimento sustentável e um pilar básico do desenvolvimento rural.

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2 - PROTOCOLO DE CARTAGENA

Na sequência do Artigo 19, parágrafo 3 da Convenção Sobre Diversidade Biológica, é criado

pela sua decisão II/5, um grupo de trabalho aberto Ad Hoc sobre segurança biológica (Ad Hoc Working Group on Biosafety – BSWG) para desenvolver o esboço de um protocolo sobre segurança biológica, focando-se especificamente nos movimentos transfronteiriços de Organismos Vivos Modificados (OVM’s1) criados pela biotecnologia moderna e que representam um potencial risco para o uso sustentável e conservação da biodiversidade.

Este grupo de trabalho realizou seis reuniões entre Julho de 1996 e Fevereiro de 1999, tendo apresentado um esboço do Protocolo na 1ª Conferência Extraordinária das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (ExCOP) que se iniciou a 22 de Fevereiro de 1999 em Cartagena, Colômbia. Não tendo sido possível terminar o seu trabalho no tempo disponível a Conferência das Partes, através da sua decisão EM-I/1, suspendeu a reunião extraordinária e acordou que esta devia ser reatada tão cedo quanto possível e nunca depois da 5ª reunião da Conferência das Partes.

A reunião prosseguiu então de 24 a 29 de Janeiro de 2000 em Montreal, Canadá, tendo sido precedida por um período de consultas informais de âmbito regional e inter-regional no período de 20 a 23 de Janeiro.

A 29 de Janeiro de 2000 a Conferência das Partes, pela sua decisão EM I-3 adoptou o Protocolo sobre Segurança Biológica. Chama-se Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica em homenagem à cidade que albergou a Conferência Extraordinária das Partes (ExCOP) da Convenção sobre Diversidade Biológica em 1999.

O Protocolo foi então aberto para adesão na quinta reunião da Conferência das Partes da CBD em Nairobi, Quénia, em Maio de 2000, tendo 68 das Partes do CBD assinado o Protocolo nesta ocasião. Permaneceu depois disponível para assinatura de 5 de Junho de 2000 a 4 de Junho de 2001 na sede das Nações Unidas em Nova Iorque (totalizando até esta data 103 assinaturas).

A entrada em vigor do Protocolo deu-se noventa dias após a 50ª ratificação, a 11 de Setembro de 2003.

A nível interino, na reunião de Janeiro de 2000, foi também criado um Comité Intergovernamental Ad Hoc (ICCP – Intergovernamental Committee for the Cartagena Protocol on Biosafety) com a função de efectuar todos os preparativos para a primeira Reunião das Partes do Protocolo.

No curso da sua existência o ICCP reuniu-se por três vezes. A primeira reunião teve lugar em Montepellier, França de 11 a 15 de Dezembro 2000; a segunda em Nairobi, Quénia de 1 a 5 de Outubro 2001; e a terceira em Haia, Holanda de 22 a 26 de Abril 2002, em paralelo com a sexta reunião da Conferência das Partes.

Até 1 de Maio de 2006, 132 Partes da CBD tinham já assinado o Protocolo. Portugal assinou o Protocolo a 24 Maio 2000, ratificou-o a 30 de Setembro de 2004 e deu entrada em vigor a 29 de Dezembro de 2004.

1 OVM’s - Organismos Vivos Modificados, no âmbito deste texto é equivalente OGM’s - Organismos Geneticamente Modificados

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O Protocolo destina-se a proteger a diversidade biológica dos potenciais riscos apresentados pelos Organismos Vivos Modificados criados pela biotecnologia moderna2, actuando como instrumento regulador do comércio mundial de OVM’s.

O objectivo do Protocolo: “De acordo com a abordagem de precaução contida no Princípio n.º 15 da Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, o objectivo do presente Protocolo é contribuir para assegurar um nível adequado de protecção no domínio da transferência, manipulação e utilização seguras de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia moderna que possam ter efeitos adversos para a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana e centrando-se especificamente nos movimentos transfronteiriços.” (Artigo I).

2.1 - A questão da segurança biológica 2.1.1 - Modificações genéticas – o debate

Ao longo da história da humanidade, os agricultores têm vindo utilizar a reprodução selectiva como método de melhoramento das culturas e do gado. Através da selecção de sementes das melhores culturas para sementeiras futuras e dos melhores animais para reprodutores conseguiu-se ao longo dos anos reter características favoráveis e melhorar as raças e as culturas em parâmetros como a resistência a doenças e pragas, velocidade de crescimento, qualidade da carne, etc.

A reprodução selectiva utilizada inicialmente pelos agricultores e mais recentemente pelos especialistas em reprodução animal e vegetal baseia-se contudo no aproveitamento da variabilidade genética presente naturalmente nas populações. Estes processos de reprodução podem em certos casos ultrapassar certas barreiras naturais, com a intervenção humana a ser responsável pela obtenção de novas variedades através de cruzamentos que não ocorreriam naturalmente, como seja o caso de plantas compatíveis sexualmente mas que por razões de distribuição geográfica não se cruzariam em condições naturais e que são polinizadas com sucesso.

A modificação genética por sua vez utiliza diversos métodos para isolar genes individuais de um dado organismo e inseri-los no material genético de outro. Através dos processos de engenharia genética ocorre transferência e modificação de genes de forma impossível de ocorrer naturalmente, como por exemplo a transferência de genes entre espécies distintas ou entre animais e plantas e microrganismos. Após a introdução dos genes estes podem ser transmitidos para a descendência pela reprodução natural.

A reprodução selectiva e a modificação genética diferem em que na primeira se toma partido apenas do pool genético resultante da variabilidade natural das culturas ou animais em causa, e que permite a reprodução em busca de traços ou características determinados por conjuntos de genes ou genes individuais, além disso ocorre sempre dentro de uma espécie ou espécies muito semelhantes, não sendo efectuada qualquer alteração do material genético dos indivíduos em questão. A modificação genética por sua vez parte do isolamento de genes individuais que determinam certas

2 Significa a aplicação de: Técnicas in vitro aos ácidos nucleicos, incluindo a recombinação do ácido desoxirribonucleico

(ADN) e a injecção directa de ácido nucleico em células e organitos; ou Fusão de células de organismos que não

pertençam à mesma família taxonómica

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características, copia-os e/ou modifica-os para os voltar a inserir (juntamente com outros elementos de controlo para que funcionem no organismo alvo). Estas técnicas envolvem passos in vitro e permitem quebrar barreiras evolutivas bastante grandes, possibilitando a troca de genes entre organismos nunca tiveram contacto genético.

Embora a biotecnologia moderna surja já na AGENDA 21 como uma inovação promissora, prometendo um contributo significativo para o desenvolvimento de melhores cuidados médicos, do processamento de matérias-primas a nível industrial, das descontaminação de resíduos perigosos, e ainda permitindo uma maior segurança alimentar através de agricultura sustentável e melhoramento das reservas de água potável. Surgem contudo diversas preocupações que vão desde considerações éticas a preocupações com os riscos para a saúde humana, passando por uma série de questões do foro socio-económico.

Deste modo, do lado dos defensores da modificação genética surgem argumentos no sentido

destas poderem fornecer: - Alimento em quantidade suficiente para suprir as necessidades futuras; - Alimentos de melhor qualidade; - Alimentos sem substâncias alergéneas ou tóxicas; - Culturas energéticas para queima em unidades térmicas a biomassa ou para produção de

biocombustíveis; - Produtos químicos e químico-farmacêuticos e cosméticos; - Materiais biocompósitos, bioplásticos, dispersantes e fertilizantes; - Diminuição da emissão de poluentes na actividade agrícola e industrial. Por sua vez, os opositores referem que: - A biotecnologia transcende aquilo que os humanos deveriam fazer; - Existem até ao momento poucos dados que sustentem o aumento da produtividade agrícola

devido à utilização de culturas modificadas geneticamente; - Muitas das aplicações de modificações genéticas, amplamente promovidos, acabaram por

falhar devido a limitações inerentes à tecnologia usada ou à complexidade dos problemas com que se depararam;

- Existe um défice de informação relativa à toxicidade e/ou potencial para gerar reacções alérgicas, dos alimentos derivados de OGM’s;

- As consequências da libertação de OGM’s no ambiente serão provavelmente bastante significativas, em particular os efeitos sobre a biodiversidade;

- As alterações às práticas agrícolas e industriais, incluindo um aumento da poluição podem ser tão severas que não devem ser permitidas;

- As consequências socio-económicas podem ser graves, por exemplo provocando a ruptura da agricultura em pequena escala dominante nos países em desenvolvimento;

- O reduzido número de empresas envolvidas na “biotecnologia de agricultura” é inaceitável; - O patenteamento de organismos vivos, genes ou recursos genéticos é inaceitável; - É importante que os agricultores possam guardar as sementes para efectuar a sementeira da

próxima geração; - A reivindicação da propriedade intelectual de genes ou sequências de ácidos nucleicos sem

que tenham verdadeiramente sido uma invenção, não deve ser permitida.

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2.1.2 - Impactes sobre a biodiversidade

Neste cenário surgem preocupações crescentes com a conservação da diversidade biológica em face da crescente aplicação de modificações genéticas.

Por um lado as modificações genéticas irão levar a aumento da produtividade agrícola, reduzindo-se a necessidade de terrenos agrícolas e diminuição da pressão sobre florestas e outros ecossistema para conversão em terrenos aráveis. Beneficiando-se assim a manutenção da biodiversidade. Além disso a utilização de plantas com capacidade de produzir pesticidas irá causar uma diminuição da utilização de pesticidas químicos e a utilização de microrganismos em processos industriais (p.ex – produção de plásticos e combustíveis) deverá permitir uma redução da quantidade de químicos utilizados.

A libertação de organismos modificados geneticamente apresenta porém riscos para a biodiversidade análogos aos postos pela introdução de espécies exóticas.

Exemplos desses riscos são: - O perigo de disseminação generalizada no ambiente tornando-se invasivo ou excessivamente

competitivo com as espécies naturais; - A transferência de material genético das espécies modificadas para as espécies naturais, por

exemplo através da polinização; - Impactes potenciais em outras espécies que não o alvo, por exemplo efeito prejudicial de

plantas resistentes a pragas sobre insectos ou aves benéficas; - Efeitos negativos sobre bactérias do solo e do ciclo de azoto; - Efeitos indirectos sobre o ambiente, como por exemplo os impactes resultantes da alteração

das práticas agrícolas e não directamente das culturas geneticamente modificadas. 2.2 - Âmbito do Protocolo (Artigos 4-6)

O Protocolo abrange o movimento transfronteiriço, o transporte, a manipulação e a utilização de todos os organismos vivos modificados que possam ter efeitos adversos para a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana.

Existem no entanto determinadas categorias de OVM’s e de movimentos transfronteiriços que se encontra excluídos. Estas exclusões são limitadas em alguns casos a provisões específicas do procedimento de AIA, enquanto noutros são aplicadas a todas as provisões do Protocolo. 2.3 - Procedimento por Consentimento Prévio Fundamentado (AIA)

O Protocolo estabelece um procedimento por consentimento prévio fundamentado (Advance Informed Agreement – AIA) para garantir que os países têm acesso às informações necessárias para efectuar uma decisão fundamentada relativamente à importação deste tipo de organismos.

O procedimento de AIA aplica-se à primeira vez que um OVM coberto pelo Artigo 7 é intencionalmente movido de uma Parte para outra Parte e engloba os seguintes elementos:

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Autoridade Competente – Cada parte terá de nomear uma autoridade nacional competente que será responsável pelas funções administrativas requeridas pelo Protocolo e autorizada a responder em nome da Parte nas funções que lhe dizem respeito;

Notificação e Informação – O primeiro passo do procedimento de AIA é a notificação, por escrito,

à entidade nacional competente da Parte de importação antes do movimento transfronteiriço deliberado de um OVM. Esta notificação deverá conter determinadas informações de acordo com o especificado no ANEXO I;

Decisão da Parte de Importação – A Parte de importação acusará a recepção da notificação no prazo de 90 dias após a ter recebido do notificador.

No prazo de 270 dias após a recepção da notificação a Parte de importação comunicará a sua decisão ao notificador e ao Centro de Intercâmbio de Informação (Biosafety Clearing-House). A decisão poderá ser de:

- Aprovar a importação, com ou sem condições, - Proibir a importação, - Requerir informações adicionais, - Informar o notificador que o período de decisão será prorrogado por um período de tempo

definido. A não comunicação da sua decisão ao notificador no prazo de 270 dias não implica

consentimento da importação;

Avaliação de Riscos – A Parte de importação terá de basear a sua decisão numa análise de riscos efectuada de forma científica idónea, em conformidade com o Anexo III. A avaliação de riscos basear-se-á, pelo menos, na informação fornecida na notificação inicial assim como em outras provas científicas existentes, a fim de identificar e avaliar os possíveis efeitos adversos dos organismos vivos modificados para a conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana.

O custo da avaliação de riscos será suportado pelo notificador se a Parte de importação assim requerer.

No processo de tomada de decisão acerca da importação de OVM’s a Parte de importação poderá igualmente ter em conta o princípio da precaução e determinadas considerações socio-económicas, sendo que a ausência de conhecimento e informação científica não impede a Parte de importação de tomar uma decisão para evitar ou minimizar os potenciais efeitos adversos;

Informações Confidenciais – Ao abrigo do Artigo 21, a Parte de importação permitirá que o

notificador identifique quais as informações fornecidas ao abrigo dos procedimentos de notificação e informação que devem ser tratadas como confidenciais. A Parte de importação consultará o notificador se entender que as informações identificadas com confidenciais não justificam tal tratamento e, antes de as tornar públicas informará o notificador, apresentando as suas razões e permitindo que haja uma oportunidade de consulta e de revisão interna da decisão.

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Embora o Protocolo estabeleça um procedimento específico de AIA para importação de determinados tipos de OVM’s, permite um grau considerável de flexibilidade ao modo como as Partes o aplicam. Esta flexibilidade é no entanto condicionada à obrigatoriedade de obedecer aos objectivos do Protocolo.

O procedimento de AIA do Protocolo não se aplica ao movimento transfronteiriço de certas

categorias de OVM’s, este continuam contudo sujeitos às restantes provisões do Protocolo e nada impede que a Parte de importação sujeite todos os OVM’s a uma análise de risco antes de decidir a sua importação.

Os OVM’s em trânsito não estão sujeitos aos procedimentos específicos de AIA. Esta exclusão

ocorre no entanto sem prejuízo do direito de uma Parte de trânsito de regular o transporte de OVM’s através do seu território e de comunicar ao Centro de Intercâmbio de Informação para a Segurança Biológica as suas decisões relativamente ao trânsito através do seu território de OVM’s específicos.

De forma análoga, os OVM’s destinados a utilização confinada não estão sujeitos ao

procedimento de AIA. A definição de utilização confinada está no Artigo 3(b) do Protocolo de modo a incluir actividades nas quais os OVM’s são controlados por medidas específicas que efectivamente limitam o seu contacto com, e impactes sobre, o ambiente exterior.

Está ainda previsto o caso particular dos Organismos Vivos Modificados Destinados ao Uso

Directo na Alimentação Humana ou Animal ou na Transformação (Living Modified Organisms intended for direct use as Food or Feed, or for Processing - LMO-FFP’s) que não estando abrangidos pelo procedimento de AIA são sujeitos a medidas particulares definidas nos Artigos 11 e 18 (2)(a).

O Artigo 11, estabelece um procedimento multilateral de troca de informação relativa a LMO-FFP’s, deste modo uma Parte que tome uma decisão final referente à utilização nacional de um OVM, eventualmente sujeito a um movimento transfronteiriço, destinado ao uso directo na alimentação humana ou animal ou na transformação, deverá informar as outras Partes, no prazo de 15 dias através da Biosafety Clearing-House. Essa informação deverá conter pelo menos as informações especificadas no Anexo II.

Uma Parte pode tomar a decisão sobre a importação de LMO-FFP’s ao abrigo do seu quadro regulamentar nacional, devendo no entanto pôr estes regulamentos, leis ou orientações nacionais aplicáveis a LMO-FFP’s à disposição da Biosafety Clearing-House. No caso da Parte (países em desenvolvimento ou de economia de transição) não possuir um quadro regulamentar aplicável a LMO-FFP’s pode basear a sua decisão antes da primeira importação de LMO-FFP’s numa avaliação de riscos, dispondo de um prazo não superior a 270 dias para tomar a sua decisão. A não comunicação da sua decisão neste prazo não implica o seu consentimento ou a sua recusa quanto à importação de LMO-FFP’s.

Ao abrigo do Artigo 18, todos os LMO-FFP’s devem ser acompanhados de documentação alertando para o facto de “poderem conter” OVM’s e que não se destinam à libertação intencional no meio ambiente.

No Artigo 7(4) está prevista a possibilidade futura de excluir do procedimento de AIA,

determinados OVM’s através de decisão conjunta das Partes de que estes não são passíveis de

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ter efeitos adversos para a conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana.

Finalmente, não são sujeitos ao procedimento de AIA, OVM’s que sejam produtos

farmacêuticos destinados a seres humanos e que já estejam abrangidos por outros acordos ou organizações internacionais.

2.4 - Centro de Intercâmbio de Informação para a Segurança Biológica (Biosafety Clearing-House)

A função deste Centro é de facilitar a troca de informação técnica, científica, ambiental e legal acerca de OVM’s e assistir às Partes na implementação do Protocolo. No Artigo 20(3) são definidas certas categorias de informação que as Partes devem pôr à disposição da Biosafety Clearing-House:

- Leis, regulamentos e orientações existentes para a implementação do Protocolo; - Acordos e convénios bilaterais, regionais e multilaterais; - Resumos das avaliações de riscos e dos estudos ambientais dos OVM’s originados pelo seu

processo regulamentar; - Decisões finais sobre importação ou libertação de OVM’s.

2.5 - Capacitação

Uma das provisões do Protocolo requere que as Partes colaborem no desenvolvimento e ou no fortalecimento dos recursos humanos e capacidades institucionais em matéria de segurança biológica, dos países menos desenvolvidos.

Não estabelece contudo compromissos específicos por parte dos países desenvolvidos na capacitação dos restantes.

O mecanismo financeiro criado ao abrigo da CBD será o mecanismo financeiro do Protocolo no que toca aos recursos financeiros necessários para o implementar. 2.6 -Movimentos transfronteiriços não deliberados e movimentos transfronteiriços ilegais

No artigo 17 é estabelecido o compromisso das Partes de notificarem os Estados afectados ou potencialmente afectados pela libertação, que possa resultar num movimento transfronteiriço não deliberado, de OVM’s passíveis de ter efeitos adversos significativos.

O Protocolo através do seu Artigo 25 impõe que as Partes tomem medidas para evitar e

penalizar os movimentos transfronteiriços ilegais. Atribui ainda o direito à Parte afectada de pedir à Parte de origem que elimine a expensas próprias o OVM em causa. O Centro de Informação para a Segurança Biológica deverá ser notificado acerca de todos os casos de movimentos transfronteiriços ilegais. 2.7 - Responsabilidade civil e indemnização de danos causados por OVM’s

Não tendo sido possível resolver esta questão no decorrer das negociações, o Protocolo estabelece (Artigo 27) um prazo de quatro anos a partir da primeira reunião das Partes do Protocolo

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para a elaboração de regras e procedimentos internacionais no domínio da responsabilidade civil e da indemnização por perdas e danos resultantes de movimentos transfronteiriços de OVM’s. BIBLIOGRAFIA HENRIQUES, A. (2006). Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica. Acetatos da Cadeira de Políticas do Ambiente, Lisboa (Portugal), IST. MACKENZIE et al. (2003). Explanatory Guide to the Cartagena Protocol on Biosafety, Gland (Suíça) e Cambridge (Reino Unido), IUCN, 278 pp.. Cartagena Protocol on Biosafety to the Convention on Biological Diversity, Text and Annexes; Montreal, 2000 Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade Decreto n.º 7/2004 de 17-04-2004 Decreto n.º 21/93 de 21-06-1993 Decreto-Lei n.º 140/99 de 24-04-1999 CONFAGRI http://www.confagri.pt

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