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EXAME DE QUALIFICAÇÃO Aluno: Johnathan Rodrigues Orientadora: Prof a . Dr a . Elena Blume PROJETO: Formulações de nitrogênio na ação de Trichoderma sp. no controle de mofo branco em tomateiro Examinador: Prof a . Dr a . Marlove F. B. Muniz 1) Organize um plano de manejo da doença "mofo branco", causada por Sclerotinia sclerotiorum em soja. A cultura da soja é uma das principais commodities agrícolas brasileira, tendo como área cultivada aproximadamente 24,6 milhões de hectares plantados em 2012. (IBGE, 2012, p. 7). No entanto, estima-se que 2,6 milhões de hectares estejam infectados pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary (MEYER, 2010), representando mais de 10% da área cultivada no Brasil. A doença mofo branco tem como agente causal o fungo S. sclerotiorum, pertencente a subdivisão Ascomycotina e a família Sclerotinaceae (AGRIOS, 1995). Os sintomas da doença são caracterizados por lesões úmidas cobertas por micélio cotonoso que pode recobrir caules, pecíolos, folhas e vagens até o ápice da planta (AGRIOS, 1995) e, geralmente, apresenta estruturas rígidas de coloração

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EXAME DE QUALIFICAÇÃO

Aluno: Johnathan Rodrigues

Orientadora: Profa. Dra. Elena Blume

PROJETO:

Formulações de nitrogênio na ação de Trichoderma sp. no controle de mofo branco em tomateiro

Examinador: Profa. Dra. Marlove F. B. Muniz

1)      Organize um plano de manejo da doença "mofo branco", causada por  Sclerotinia sclerotiorum em soja.

A cultura da soja é uma das principais commodities agrícolas brasileira, tendo

como área cultivada aproximadamente 24,6 milhões de hectares plantados em

2012. (IBGE, 2012, p. 7). No entanto, estima-se que 2,6 milhões de hectares

estejam infectados pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary (MEYER,

2010), representando mais de 10% da área cultivada no Brasil.

A doença mofo branco tem como agente causal o fungo S. sclerotiorum,

pertencente a subdivisão Ascomycotina e a família Sclerotinaceae (AGRIOS,

1995). Os sintomas da doença são caracterizados por lesões úmidas cobertas

por micélio cotonoso que pode recobrir caules, pecíolos, folhas e vagens até o

ápice da planta (AGRIOS, 1995) e, geralmente, apresenta estruturas rígidas de

coloração escura junto ao micélio, essas estruturas são denominadas de

escleródios. Esta doença quando em condições favoráveis pode apresentar a

morte de plantas desde os primeiros estádios até o final de ciclo da cultura,

acarretando em grandes perdas de produtividade.

O controle de mofo branco é um grande desafio, pois as estruturas de

resistência, os escleródios, podem permanecer por longos períodos de tempo

viáveis no solo, além de não existir variedades de soja resistente ao fungo e,

somente, cinco princípio ativos de fungicidas são registrados para a cultura, por

isso, um plano de manejo se faz necessário (AGROFIT, 2012).

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Para a elaboração do plano de manejo será considerado os Princípios

de Whetzel (KIMATI; BERGAMIN FILHO, 1995) que são exclusão, erradicação,

imunização, proteção e terapia.

O principal combate a doença mofo branco é a prevenção da entrada

dela na área de cultivo. A exclusão consiste, justamente, na prevenção da

entrada de um patógeno em uma área ainda não infestada. Nesse aspecto as

sementes têm grande importância, pois representam o principal fator de

disseminação de S. sclerotiorum (FURLAN, 2009). A disseminação pode

ocorrer pela presença de escleródios junto às sementes ou por micélio

dormente no interior da semente. O local de origem e a certificação são

fundamentais para o cultivo de soja em todas as áreas, pois garantem que as

sementes não contenham patógenos associados a elas. Outra medida é a

limpeza de maquinários de um local para o outro, não deixando restos culturais

aderidos ao maquinário, principalmente em colhedoras que coletam junto com

as plantas os escleródios, assim, recomenda-se colher por ultimo áreas com

histórico de ocorrência da doença.

A erradicação consiste na eliminação do patógeno na área em que foi

introduzido. No caso do mofo branco, essa medida é muito difícil devido ao

longo tempo de permanência no solo de forma latente e pela ineficiência e

custo elevado do controle químico de patógenos de solo em grandes áreas.

No entanto, existem técnicas de manejo que possibilitam a diminuição

do inóculo ao longo do tempo.

-Aração e gradagem

Em áreas compactadas, mal drenadas e com alta infestação de

escleródios a aração e a gradagem são indicadas para romper a camada

impermeável e, também, soterrar as estruturas do patógeno a profundidades

de 20 a 30 cm evitando a germinação carpogênica (SCHNEIDER et al, 2012),

além de proporcionar a aceleração na decomposição dos restos culturais da

soja. Porém, deve-se tomar o cuidado de não utilizar equipamentos em áreas

não infestadas sem a devida limpeza e desinfecção do maquinário.

-Manejo com palha

O manejo com palha na superfície do solo proporciona um ambiente

propício ao desenvolvimento de microrganismos antagônicos aos escleródios,

como bactérias e fungos, diminuindo assim a viabilidade e o inóculo de S.

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sclerotiorum no solo. Görgen et al (2009) observaram que capim braquiária

reduziu a viabilidade de escleródios e o número de apotécios, e quando

associado a inoculação de Trichoderma harzianum o parasitismo de

escleródios foi superior do que quando utilizou-se somente o antagonista. Além

disso, as plantas de cobertura liberam exsudatos radiculares que podem

interferir no desenvolvimento de esclerotínia, como a redução de crescimento

micelial e menor germinação de ascósporos encontrados por MONTEIRO et al

(2012), in vitro, utilizando raízes de braquiária, feijão-quandu-anão e

estilosantes.

-Controle biológico

Essa medida de controle de S. sclerotiorum é, dentre elas, a mais

promissora, pois há microrganismos que atuam tanto na degradação do

escleródio quanto no micélio do fungo. Os microrganismos utilizados como

agente de biocontrole, geralmente, são habitantes de solo, constituindo como

vantagens o baixo impacto ambiental, custo de produto e eficiência no controle

de fitopatógenos de solo. O principal antagonista utilizado no controle de S.

sclerotiorum são os fungos do gênero Trichoderma, que podem atuar

parasitando diretamente o fungo, como também as estruturas de resistência,

demonstrando eficiência no controle deste fitopatógeno de solo. No entanto,

existem outros organismos que são antagônicos ao fitopatógeno S.

sclerotiorum como bactérias (SCHENEIDE, 2012) e a espécie de fungo

Coniothyrium minitans (WESSEL; BUTZEN, 2011).

A aplicação de Trichoderma spp. deve ser realizada junto com a

semeadura próximo a semente para proporcionar melhor eficiência de controle,

pois se tratando de um organismo vivo terá de se adaptar ao solo e se

estabelecer no local tratado.

-Espaçamento entre linhas

O maior espaçamento entre linhas de soja, 50 cm ou mais, e a menor

recomendação de população de plantas das variedades por hectare são

medidas de simples adoção, mas que representam uma grande alteração no

micro clima no interior do dossel. O maior espaçamento proporciona maior

tempo de insolação e ventilação entre as linhas, aumentando a temperatura e

reduzindo a umidade relativa do ar no interior do dossel, fatores que são

contrários ao desenvolvimento de mofo branco, já que o fitopatógeno tem como

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fatores ambientais favoráveis para seu desenvolvimento temperaturas entre 15

e 25 oC e umidade relativa do ar acima de 70%, sendo que, temperaturas acima

de 29 oC inviabilizam a infecção de S. sclerotiorum na cultura da soja. Outro

fator que deve ser levado em consideração é a utilização de cultivares com

habito de crescimento determinado, porque as de habito indeterminado formam

o dossel mais denso e maior altura de plantas, dificultando o controle químico e

favorecendo o fitopatógeno pelo micro clima favorável no estrato inferior da

planta.

-Irrigação

A quantidade de água aplicado na lavoura é um fator determinante para

a ocorrência e severidade de mofo branco. A aplicação de grande quantidade

de água favorece o surgimento de mofo branco, principalmente, próximo a

floração da cultura, pois o dossel fechado e a umidade excessiva proporcionam

condição ideal para a doença. Por isso, o correto manuseio de laminas de água

se faz de fundamental importância em áreas com histórico de mofo branco.

-Rotação de culturas

A rotação de culturas com espécies não hospedeiras de mofo branco é

fundamental para a diminuição do inoculo de S. sclerotiorum em áreas

infestadas. Para a rotação de culturas recomenda-se o uso de plantas da

família Poaceae como milho, trigo, sorgo, brachiária e aveia branca (WESSEL;

BUTZEN, 2011). A rotação de culturas apesar de eficaz apresenta a dificuldade

de encontrar variedades de plantas não hospedeiras, pois o mofo branco tem

mais de 400 hospedeiros registrados (FURLAN, 2009; WESSEL; BUTZEN,

2011) e muitos desses hospedeiros são culturas de interesse agrícola.

Görgen et al (2010) testaram o sistema de plantio direto após utilização

do sistema Santa Fé, milho consorciado com braquiária, e observam a redução

do inóculo inicial de S. sclerotiorum na floração da soja. A redução de inóculo

ocorreu devido ao sistema Santa Fé estimular a germinação de apotécios na

entressafra.

-Roguing

O Roguing consiste na remoção de plantas indesejáveis, no caso é a

remoção de plantas com sintomas de mofo branco. Essa prática pode ser

adotada, principalmente, no início da identificação das primeiras plantas com

sintomas, sendo estas plantas coletadas e retiradas da lavoura. O Roguing é

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aplicável, somente, em pequenas áreas pela grande demanda de mão de obra

e pode ser realizado tanto para plantas de soja quanto para plantas daninhas

que também sejam hospedeiras de mofo branco.

A proteção tem como princípio a interposição de uma barreira protetora

entre as partes suscetíveis da planta e o inóculo do patógeno.

-Manejo com palha

O manejo com palha na superfície do solo se constitui em um importante

manejo tanto para a doença mofo branco quanto para o solo. A cobertura de

palha na superfície do solo pode constituir uma barreira física, quando esta

apresentar grande quantidade de palhada, formando assim, uma camada

espessa que recubra totalmente o solo. Esta cobertura do solo impede que o

escleródio presente na superfície ou próximo a superfície do solo ao realizar a

germinação carpogênica libere ascósporos no ar e infecte o hospedeiro. Essa

medida atua diretamente na disseminação do fitopatógeno, pois S. sclerotiorum

pode ser disseminado pelo vento através dos ascósporos, por micélio dormente

no interior das sementes e por escleródios junto às sementes colhidas.

-Época de semeadura

Em locais com estações do ano bem definidas podemos alterar a data

de semeadura para que não coincida o período de melhores condições para a

ocorrência de mofo branco com florescimento da soja. Nos anos em que temos

atuando o “El Niño”, períodos chuvosos, evitar a semeadura de culturas

suscetíveis em locais com histórico da doença, mesmo que nessa área já

esteja sendo feita o manejo adequado com rotação de culturas não

hospedeiras. Ou seja, levar em consideração para realizar a semeadura de

soja a condição climática que está prevista para o ano.

-Tratamento químico

O tratamento de sementes com fungicidas é uma ferramenta muito

eficaz, que permanece protegendo desde a semeadura até os primeiros

estádios de desenvolvimento. Recomenda-se realizar em todos os cultivos o

tratamento de sementes, pois naturalmente no solo há uma gama de fungos

que podem deteriorar a semente. No entanto, deve-se ter cuidado ao utilizar

fungicidas especificamente para o mofo branco, porque existe somente um

produto registrado para a cultura da soja (AGROFIT, 2012), e caso o uso do

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fungicida seja utilizado em cultivos sucessivos, este poderá, ao longo do

tempo, perder eficiência pela pressão de seleção.

Na parte aérea da planta o uso de fungicidas é empregado em todos os

cultivos para diversas doenças de soja, no entanto, quando se utiliza fungicidas

específicos para o controle de mofo branco o agricultor tem a sua disposição

apenas cinco princípio ativos, 14 produtos comerciais, recomendados

(AGROFIT, 2012). Isso pode representar um grande problema a médio e longo

prazo se essa ferramenta não for utilizada de forma correta. Os fungicidas

modernos (específicos) atuam de maneira a proteger a planta antes do ataque

dos fitopatógenos (preventivos), e poucos atuam com eficiência após a

ocorrência da doença (curativos). A utilização de fungicidas contra mofo branco

na soja é empregado no inicio da floração (estádio R1) para evitar a infecção

das sementes e ocorrência mais severas na cultura, porém, nesse estádio a

cultura já possui dossel denso e fechado, dificultando que o fungicida seja

aplicado em toda a planta e, principalmente, no terço inferior da planta. A

utilização de equipamento de aplicação adequado é imprescindível para o

efetivo controle de mofo branco.

A terapia visa restabelecer a sanidade de uma planta com o qual o

patógeno já estabelecera uma íntima relação com o hospedeiro.

-Tratamento químico

O tratamento químico é a única alternativa quando uma população de

plantas foi atacada pelo mofo branco. O controle efetivo é maior quando ocorre

em estádios vegetativos da cultura, isso ocorre porque a aplicação de fungicida

atinge todo o dossel, ou seja, do terço inferior da planta ao ápice. Quando

ocorre em estádios de maturação da soja, o controle torna-se difícil pela

dificuldade em atingir o alvo. Há estudos no sentido de realizar essas

aplicações via pivô de irrigação (para os que possuem tal ferramenta). O maior

volume de calda possibilita maiores chances de atingir o alvo, porém, caso o

fungicida se mostre ineficiente no controle, o ambiente poderá favorecer o

alastramento de mofo branco pela lavoura.

A imunização visa o desenvolvimento de plantas resistentes ou imunes

a doença, tanto de forma natural quanto artificial. Ainda não há disponível

cultivares de soja resistente a mofo branco (FURLAN, 2009), porém, estudos

nesse sentido estão sendo realizados (WESSEL; BUTZEN, 2011). No entanto,

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já se observou que há cultivares menos suscetíveis ao mofo branco, sendo

uma alternativa a seleção desses materiais para cultivo em áreas de risco da

doença.

Como podemos observar, não há uma única técnica de forma isolada

que possibilite o controle de mofo branco, e quando o manejo se apóia

fundamentalmente em uma ou duas técnicas de controle, este está fadado a

falhar, por isso o Manejo Integrado é a forma correta de trabalhar o controle de

doenças.

2)      Qual a relação da ação de macronutrientes  com a reação de resistência/suscetibilidade às doenças em plantas e sobre a ação de Trichoderma spp.?

As plantas necessitam de diversos nutrientes para completar seu

crescimento e desenvolvimento. No entanto, existem alguns nutrientes de são

essenciais, sem os quais a planta não sobrevive ou completa o seu ciclo.

Atualmente, são considerados 16 elementos minerais essenciais obtidos a

partir da solução do solo que são nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio,

fósforo, enxofre, silício, cloro, ferro, boro, manganês, sódio, zinco, cobre, níquel

e molibdênio, e mais, três absorvidos da atmosfera ou água, hidrogênio,

carbono e oxigênio (TAIZ; ZEIGER, 2009). Estes elementos minerais

absorvidos da solução do solo são classificados em macronutrientes e

micronutrientes, mas ao contrario do que se poderia pensar, essa classificação

nada tem haver com o tamanho dos minerais e, sim, com a quantidade na qual

eles são requeridos pelas plantas, sendo que os sete primeiros são

classificados como macronutrientes e os outros nove restantes de

micronutrientes.

Os nutrientes podem predispor as plantas ao ataque dos patógenos

atuando direta ou indiretamente; podem induzir resistência ou tolerância à

planta hospedeira; podem reduzir ou aumentar a severidade das doenças; e

afetar o ambiente que tanto pode favorecer ou desfavorecer os patógenos

(ZAMBOLIM et al, 2005).

A maioria dos elementos minerais requeridos pelas plantas

apresenta relatos de envolvimento no aumento ou redução do ataque de

fitopatógenos. Dentre os elementos minerais o nitrogênio, fósforo e potássio,

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têm sido amplamente relatados sobre os efeitos em doenças. O nitrogênio é

um elemento mineral que as plantas requerem em grande quantidade, pois

este é constituinte de muitos componentes das células vegetais. Por isso, a sua

deficiência na planta inibe rapidamente o seu crescimento, assim como o

excesso promove o rápido crescimento. A maior ou menor disponibilidade de

nitrogênio para a planta reflete diretamente no enrijecimento das paredes

celulares, porque quando há falta de nitrogênio na célula começa a ocorrer

acumulo de carboidratos que não podem ser usados na síntese de

aminoácidos ou em outros componentes nitrogenados (TAIZ; ZEIGER, 2005).

Os macronutrientes minerais estão envolvidos em todos os mecanismos

de defesa como componentes integrais ou ativadores, inibidores e reguladores

de metabolismo. Segundo Marchner (1986 apud MICHEREFF et al, 2005),

quando os elementos estão presentes de forma equilibrada na planta, a

resistência ao patógenos pode ser aumentada pela formação de barreiras

mecânicas, síntese de toxinas e alterações anatômicas das células.

No entanto, não se pode generalizar para nenhum elemento mineral que

ele favorece ou não a resistência de plantas a fitopatogenos, pois isso

dependerá da quantidade desse elemento, o momento no qual ele será

disponibilizado para a planta, o tipo de elemento mineral e qual o fitopatógeno

alvo. Como exemplo, em tomateiro a aplicação de nitrogênio na forma

amoniacal aumenta a severidade de Sclerotinia sclerotiorum, contudo, para

Sclerotium rolfsii há um decréscimo na severidade (ZAMBOLIM; COSTA,

1998).

As pesquisas realizadas com macronutrientes na relação com a

susceptibilidade ou resistência de plantas são amplamente estudadas, mas os

estudos sobre a interferência de nutrientes inorgânicos no desempenho do

agente de biocontrole Trichoderma spp. sobre fitopatógenos são escassos. O

gênero de fungo Trichoderma é amplamente estudado pela sua característica

de controlar fitopatógenos de solo e pela habilidade de promover o crescimento

de plantas. No entanto, pouco se sabe sobre a interferência de macronutrientes

sobre o agente de biocontrole. Rodrigues (2010) pesquisou o efeito de doses

de nitrogênio, fósforo e potássio sobre o crescimento, esporulação e

biocontrole de S. sclerotiorum in vitro, e observou que cada isolado de

Trichoderma sp. apresenta resposta distinta quanto a disponibilidade desses

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nutrientes, apresentando isolados que foram favorecidos no crescimento e

biocontrole nas maiores doses, isolados que diminuíram o desempenho e

isolados que forma indiferentes as doses testadas.

Menezes et al. (2009) testaram duas fontes de N (extrato de levedura e

NH4NO3) em diferentes doses in vitro e observaram que o maior crescimento

micelial ocorreu na presença de nitrato de amônio. Já Brian e Hemmining

(1949) combinaram diferentes quantidades de sulfato de magnésio, fontes de

nitrogênio (tartarato de amônio e nitrato de sódio) e fosfato para avaliar a

esporulação de Trichoderma spp. in vitro, e os isolados foram mais vigorosos

quando os níveis de nitrogênio foram baixos; altos níveis de sulfato de

magnésio favoreceram a esporulação do fungo; os níveis de fosfatos não

influenciaram a esporulação. Em experimento a campo, Kowalski et al. (1984)

observaram que, em áreas onde houve aplicação de uréia e cloreto de

potássio, houve um aumento nas populações de Trichoderma spp.

Apesar da literatura escassa sobre a influência de nutrientes sobre os

fungos do gênero Trichoderma, pode-se afirmar que os nutrientes minerais

exercem influência significativa sobre o seu desenvolvimento, crescimento e

sobre a ação de biocontrole. Ao analisar essas interações no solo devemos

considerar o hospedeiro que está envolvido nesse patossistema,

principalmente, pela liberação de exsudados radiculares e pela absorção dos

nutrientes da solução do solo, assim como, a interação dos mocrorganismo do

solo.

3)      Quais os mecanismos de ação de Trichoderma spp. como promotor de crescimento de plantas.

A atividade de Trichoderma spp. como promotor de crescimento de

plantas está ligado diretamente com a capacidade deste fungo solubilizar

nutrientes minerais e orgânicos presentes na solução do solo. Ao realizar a

quebra desses nutrientes deixando-os prontamente disponíveis para as

plantas, favorece seu crescimento mesmo em solos de menor fertilidade. Outra

característica de Trichoderma spp. é o crescimento de hifas junto as raízes e,

até mesmo, a penetração das hifas na primeira camada de células das raízes

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(epiderme). Por essa proximidade entre raízes e hifas de Trichoderma spp. os

nutrientes solubilizados são facilmente absorvidos pelas raízes.

Segundo Altomare et al. (1999), Trichoderma harzianum pode

solubilizar minerais pouco solúveis ou insolúveis envolvendo, nesse processo,

quelação e redução, mostrando que T. harzianum, isolado Rifai 1295-22,

solubilizou fosfato de rocha, óxidos de manganês (MnO2) e ferro (Fe2O3) e

zinco metálico. Ambos os mecanismos têm um papel importante na capacidade

de biocontrole de patógenos de plantas e podem ser parte de uma ação de

competências múltiplas para conseguir eficácia sob diversas circunstâncias

ambientais. Essa hipótese também é afirmada por Harman et al (2004) ao

relatarem que é possível que enzimas que atuam no controle de patógenos e

metabólicos secundários, como celulases, também possam solubilizar minerais

do solo, especialmente naqueles de menor fertilidade. Ainda, Altomare et al.

(1999) sugerem que é possível que mais de um mecanismo esteja envolvido

nesse processo de solubilização de minerais, mesmo para um único elemento.

Silva (2010) trabalhou com inoculação de Trichoderma sp. em sementes

de arroz e observou que mesmo ocorrendo a germinação das sementes sobre

papel germiteste houve incremento no crescimento de raízes quando

comparado com a testemunha, atribuindo que Trichoderma sp. pode atuar

como biostimulante do crescimento radicular, pois promove o desenvolvimento

de raízes devido à secreção de fitohormônios, o que permite, devido ao

incremento da massa radicular, uma melhor assimilação de nutrientes e água

aumentando a resistência em situações de estresse. O isolado T-22 de T.

harzianum foi efetivo na indução de formação de raízes em tomateiro, promoveu o

incremento no comprimento de raízes de soja e milho e o aumento da

produtividade de pimentão tanto quanto um hormônio comercial (HARMAN, 2000).

Segundo Harman et al (2004), a promoção de crescimento de plantas por

isolados de Trichoderma spp., também, esta relacionado com a capacidade em

colonizar a epiderme das raízes, criando uma intima relação entre o fungo e a

planta. Com isso, Trichoderma spp. ao colonizar o rizoplano das raízes promove

competição com outros organismos de solo por espaço e nutrientes, ou

mesmo, pela ação de controle biológico, o que permite apresentar raízes

saudáveis. As raízes livres de microrganismos fitopatogênicos podem

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expressar todo o potencial de crescimento, sendo isso, refletido com o

crescimento maior de parte aérea, quando comparada a outras plantas.

Outro mecanismo que se acredita estar diretamente envolvido na

solubilização de nutrientes é a capacidade quelante de metabólitos produzidos

por Trichoderma sp. Embora ainda não tenha sido demonstrada, existem fortes

evidências da atuação dela (HARMAN, 2000).

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