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TERRITÓRIO, MOBILIDADE POPULACIONAL E AMBIENTE - 395 Contribuições da teoria das representações sociais para o estudo das relações entre o homem e o ambiente 1 CARLOS ALBERTO DIAS 2 ; GILVAN RAMALHO GUEDES 3 ; ALINE MARCHESI HORA 4 ; ALIZA DE OLIVEIRA BRAGA 5 ; LÍBIA GOMES MONTEIRO 6 ; MARINA MENDES SOARES 7 1. A ação humana e os problemas ambientais Os problemas ambientais que atualmente ocupam a agenda de inú- meras discussões em âmbito nacional e internacional não possuem origem no advento da produção industrial. Pode-se dizer que estes remontam às primeiras mudanças no comportamento de grupos humanos que abando- naram o estilo de vida nômade tornando-se residentes em locais fixos e produtivos. Efetivamente estes procuraram fixar-se em locais que elevassem a segurança do grupo contra os inimigos e, ao mesmo tempo, permitisse o cultivo da terra e a criação de rebanhos. Neste processo, o ambiente natural foi transformado em ambiente socialmente apropriado sendo modelado em conformidade com o desejo e as necessidades humanas. O êxodo rural ocorrido no final da Idade Média com a criação dos burgos, o advento da Revolução Industrial e o agravamento dos problemas ambientais ocorrido na segunda metade do século XX e início do século XXI, com a exploração dos recursos naturais em larga escala, agravaram um processo histórico de ocupação de espaços tornando mais evidentes 1 Trabalho apoiado pela FAPEMIG mediante apoio financeiro e concessão de BIC, Processo N°: APQ-01807-11. 2 Doutor em Psicologia Social, Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Integrada do Território da Universidade Vale do Rio Doce. 3 Professor Adjunto, Departamento de Demografia; Pesquisador, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), Universidade Federal de Minas Gerais. Email: grguedes@ cedeplar.ufmg.br 4 Bióloga. Mestranda em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce. Bol- sista do PAPG da FAPEMIG. 5 Doutor em Fitotecnia, Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Integrada do Território. 6 Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Professor Adjunto da Universidade Vale do Rio Doce. 7 Graduanda em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce. Bolsistas PIBIC/FAPEMIG.

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TERRITÓRIO, MOBILIDADE POPULACIONAL E AMBIENTE - 395

Contribuições da teoria das representaçõessociais para o estudo das relações entreo homem e o ambiente1

caRlos alBeRto dias2; Gilvan Ramalho Guedes3; aline maRchesi hoRa4; aliza de oliveiRa BRaGa5; líBia Gomes monteiRo6; maRina mendes soaRes7

1. A ação humana e os problemas ambientais

Os problemas ambientais que atualmente ocupam a agenda de inú-meras discussões em âmbito nacional e internacional não possuem origem no advento da produção industrial. Pode-se dizer que estes remontam às primeiras mudanças no comportamento de grupos humanos que abando-naram o estilo de vida nômade tornando-se residentes em locais fixos e produtivos. Efetivamente estes procuraram fixar-se em locais que elevassem a segurança do grupo contra os inimigos e, ao mesmo tempo, permitisse o cultivo da terra e a criação de rebanhos. Neste processo, o ambiente natural foi transformado em ambiente socialmente apropriado sendo modelado em conformidade com o desejo e as necessidades humanas.

O êxodo rural ocorrido no final da Idade Média com a criação dos burgos, o advento da Revolução Industrial e o agravamento dos problemas ambientais ocorrido na segunda metade do século XX e início do século XXI, com a exploração dos recursos naturais em larga escala, agravaram um processo histórico de ocupação de espaços tornando mais evidentes

1 Trabalho apoiado pela FAPEMIG mediante apoio financeiro e concessão de BIC, Processo N°: APQ-01807-11.

2 Doutor em Psicologia Social, Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Integrada do Território da Universidade Vale do Rio Doce.

3 Professor Adjunto, Departamento de Demografia; Pesquisador, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), Universidade Federal de Minas Gerais. Email: [email protected]

4 Bióloga. Mestranda em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce. Bol-sista do PAPG da FAPEMIG.

5 Doutor em Fitotecnia, Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Integrada do Território.6 Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Professor Adjunto da Universidade

Vale do Rio Doce.7 Graduanda em Psicologia pela Universidade Vale do Rio Doce. Bolsistas PIBIC/FAPEMIG.

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os resultados da ação humana sobre o ambiente. Não se pretende aqui restringir o termo ambiente aos espaços naturais. Embora estes tenham espaços privilegiados nas discussões sobre o tema, o ambiente modificado e adaptado às expectativas humanas também estão contemplados. Se por um lado florestas e rios se constituem em elementos essenciais da nature-za, por outro, as cidades, ruas e habitações constituem-se em elementos social e culturalmente estabelecidos.

Embora se procure separar didaticamente os diversos elementos da natureza facilitando sua observação e análise, na prática todos estão in-trinsecamente conectados e as alterações sofridas por um produzem signi-ficativos impactos sobre outros conforme atesta a literatura sobre o tema. Neste sentido, não há como se pensar nos problemas relacionados ao uso e processos de degradação do ambiente natural sem se debruçar sobre o comportamento humano que, por sua vez, é o responsável primeiro pelos problemas ambientais mais significativos da atualidade, tais como proces-sos de desmatamentos e desertificação, uso de áreas de preservação na-tural ou matas ciliares e assoreamento dos rios, distribuição demográfica e problemas de abastecimento e poluição dos rios e lençóis freáticos, den-tre outros. Nestes termos, deve-se entender que os estudos relacionados ao meio ambiente forçosamente constituem-se em estudos nos quais a atenção deve se voltar para as relações entre pessoa e ambiente.

Esta é a tônica deste capítulo. Procurar-se-á ao longo deste condu-zir uma reflexão cujo objetivo é explicitar algumas contribuições da Teo-ria das Representações Sociais (TRS) para o entendimento das complexas relações que se estabelecem entre o homem e o ambiente. Para tanto, como ponto de partida, será feita uma breve explanação do que seja esta teoria para, em seguida, apresentar alguns trabalhos em que o objeto am-biente tenha sido estudado sob a perspectiva desta teoria.

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica realizado em duas etapas: na primeira, foram utilizadas obras de autores de referência da Teoria das Representações Sociais, bem como de artigos que tratam do tema, identificados na base de dados Scielo a partir dos descritores: Teoria das Representações Sociais; Núcleo Central; Núcleo periférico; História. Na segunda, fez-se uma busca na base de dados Scielo relativa ao tema Representações Sociais identificando 225 artigos disponíveis. Em relação ao “Meio Ambiente”, foram encontrados 198 e Ambiente em sentido am-plo, 909. O refinamento no qual foram associados os termos “Ambiente [Assunto] and representações sociais [Todos os índices]” revelou a exis-

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tência de quatro artigos; “Meio ambiente [Assunto] and representações sociais [Todos os índices]” de três; “social representation [Assunto] and en-vironment [Todos os índices]” de três e “environment behavior [Assun-to] or social representation [Todos os índices]” também de três. Um dos artigos foi identificado em dois dos refinamentos.

2. A Teoria das Representações Sociais

2.1. História

A TRS surgiu no seio da Psicologia Social graças ao trabalho de-senvolvido por Moscovici (1961) a partir dos escritos de Durkheim sobre Representações Coletivas (RC). Para Durkheim, as RC constituem-se em um estável resultado do acúmulo e do consenso obtido no âmbito social, traduzindo-se no produto de uma cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo. Apoiando-se no estudo da religião e dos povos primitivos, entende que uma multidão de espíritos associou-se combi-nando suas ideias e sentimentos acumulando, ao longo das gerações, suas experiências e seus saberes gerando as RC. Nesta perspectiva, uma inte-lectualidade muito particular infinitamente mais rica e mais complexa do que a do indivíduo está como que concentrada nas RC (SÁ, 1995).

Moscovici entendia que as Representações Sociais mostravam, ao mesmo tempo, o resultado do acúmulo e do consenso sendo sensíveis à instabilidade do social, da diversidade de atos e de ideias presentes no mundo moderno (CAVEDON, 2005). Em sua tese La Psychanalyse, son image, son public (1961) demonstra que as RS constituem-se em modos de percepção da realidade duplamente determinados: na condição de produtos, as RS configuram-se como construções mentais determinadas pela estrutura psíquica dos indivíduos; na condição de processos sociais, as RS são determinadas pela estrutura social. Esta dupla determinação indica que os indivíduos não são receptores passivos; ao contrário, são sujeitos que procuram refazer, reorganizar a realidade que se apresenta diante deles através de um processo de transformação do novo ou dife-rente em algo conhecido e compatível com seu mundo de compreensão.

Tomando como exemplo a difusão da Psicanálise na França, demons-tra que a assimilação de um novo conhecimento na sociedade, inclusive o científico, faz-se pela via do senso comum. Neste caso, o autor rompe com a linearidade evolutiva da construção social do conhecimento, segundo a

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qual o conhecimento científico seria construído a partir ou após o conhe-cimento vulgar. Na situação apresentada, todo conhecimento, sobretudo o científico, necessita ser remodelado, reinterpretado pelo senso comum para que, uma vez compreensível aos indivíduos e sociedade, possa, enfim, ser assimilado tornando-se parte da vida ordinária. Para que o novo, o dife-rente seja incorporado no cotidiano da coletividade, dois processos básicos identificados como objetivação e ancoragem são colocados em ação por meio da comunicação e da linguagem (MOUSSATCHÉ, 1994).

Nos anos que se seguiram, esta teoria ficou limitada a estudos re-alizados pelo Laboratório de Psicologia Social da École de Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), e de alguns colegas do Sul da França como Claude Flament e Jean Claude Abric, bem como de outros dispersos na Europa. O maior interesse pelo tema surgiu na década de 1980, nota-damente com o estudo realizado por Denise Jodelet intitulado Folie et représentations sociales (ARRUDA, 2002).

Jodelet (1989) realizou um estudo na Colônia Familiar d’Ainay-le--Château, localizada na região central da França, que congregava mais de mil egressos de Hospitais Psiquiátricos inseridos em quinhentas residên-cias familiares repartidas em treze comunidades. Neste estudo, a autora procurou identificar as múltiplas representações sociais construídas sobre a loucura, de forma a responder à questão central de seu estudo formula-da nos seguintes termos: Como as representações sociais da loucura expli-cam a relação com o doente mental, figura da alteridade?8

Efetivamente, ela procura em um primeiro momento descrever a forma estrutural de uma representação na condição de resultado de uma apreensão ou de uma memorização; e, em segundo, reconstituir, a partir de sua gênese, suas funções e suas leis de organização e progressão. Para isto, conduz um estudo qualitativo e quantitativo entrevistando sujeitos de diversas classes, ocupações e status de forma a conter na amostra re-presentantes de todos os segmentos da comunidade, sobretudo famílias anfitriãs, pacientes e funcionários da saúde.

Dentre as inúmeras observações da autora, vale aqui citar ao me-nos duas. A primeira diz respeito à tentativa da comunidade em man-ter uma distância entre os doentes mentais e o modo de ser ou sobre a saúde mental dos residentes. Se por um lado a maioria da comunidade

8 Em quoi les représentatios sociales de aa folie rendent-elles compte du rapport au malade men-tal, figure de l’auterité? (Jodelet, 1989: 32)

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procurava manter o estatuto de desigualdade e exterioridade em relação aos loucos, por outro, um grupo minoritário, desviante em relação a esta expectativa, identificava-se com eles. A segunda, ao fato de que nas re-lações que os cuidadores mantêm com os pacientes, as representações sociais relativas à loucura podem ser tão nocivas quanto a própria loucura (PAREDES, 2006: 2726).

2.2. Definição

Não houve por parte de Moscovici uma preocupação em definir o que seriam as RS. Ele estava mais preocupado em conhecer o processo de formação e difusão do que defini-las, uma vez que, ao fazê-lo, pode-ria estar sendo reducionista em relação a este fenômeno. De qualquer forma, uma formulação do autor que usualmente tem sido interpretada como definição é quando diz que “A representação social é um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam a realidade física e social inteligível, inserem-se num grupo ou numa relação cotidiana de trocas, liberam o poder da sua imaginação” (MOSCOVICI, 1961, p.27-28).

Como já explicitado, Jodelet, ao aprofundar-se no estudo das RS, esboça uma definição que tem sido amplamente citada nos estudos sobre o tema. Para ela, “As representações sociais são uma forma de conheci-mento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjun-to social” (JODELET, 1994, p. 36).

Se por um lado as tentativas de definições atendem às expecta-tivas daqueles que precisam entender de forma sucinta o que sejam as RS, por outro, é a partir de uma reflexão sobre elas que se pode melhor apreender seu real significado, bem como a extensão de seu campo de aplicação. Para Moscovici (1961), as RS refletem tanto o modo como os indivíduos e os grupos formam seu conhecimento a partir de suas experi-ências na sociedade e na cultura, quanto o modo como a sociedade se dá a conhecer e constrói esse conhecimento com a participação dos indiví-duos. Neste contexto, as RS cumprem duas funções: estabelecem formas de pensamentos sempre ligados à ação e à conduta individual e coletiva; servem para estabelecer categorias cognitivas e relações de sentido, que são exigidas para o entendimento do objeto. Por este motivo considera--se que, ao serem identificadas as RS de um determinado grupo, eleva-se

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a possibilidade de compreensão das formas de interações estabelecidas entre os sujeitos e a sociedade mediadas pela comunicação, cujo intuito é construir uma realidade.

É crucial entender que as RS, sejam elas individuais ou coletivas, não são cópias, reflexos ou imagens fotográficas da realidade, mas tra-duções, versões dessa realidade, que se encontra ao alcance da com-preensão daqueles que as criam ou adotam-nas. Considera-se que as RS estão em constante transformação justamente por se tratarem de criações ou adoções necessárias ao entendimento da realidade pelos indivíduos. Não sendo possível a apreensão do objeto em si, ao serem elaboradas representações a respeito do objeto como se fossem descrições fiéis dele, cria-se a ilusão de que o próprio objeto também está em constante trans-formação. Ressalta-se que, quando o objeto em questão é um conheci-mento, esse pode efetivamente estar em transformação. Tal asserção não deve ser aplicada quando se trata de um objeto real, ou seja, de um fato ou de um fenômeno existente, independentemente do processo de co-nhecimento (MOSCOVICI, 1961).

Segundo Jodelet (1993), as RS estão na interface do psicológico e do social, do individual e do coletivo, visto que são, simultaneamente, coletiva e individual, isto é, a representação de um qualquer e de qual-quer um. No entender dessa autora, uma RS é uma forma de conheci-mento, que possui três características essenciais: é socialmente produzi-da e partilhada, constituída a partir da experiência, de informações, de saberes e de modelos de pensamento, recebidos e transmitidos através da tradição, da educação e da comunicação social; a RS organiza, es-trutura e orienta as condutas e as comunicações humanas; estabelece uma visão de mundo partilhada por um agrupamento social e cultural (JODELET, 1993, p. 22).

De forma similar, Retondar (2007) considera as RS como formas de compreensão da realidade resultantes dos valores, crenças e nor-mas que retornam aos indivíduos de forma coercitiva e externa a eles. Embora sejam produzidas pelos indivíduos em suas interações sociais e no processo de constituição da sociedade, elas os transcendem: “as representações, portanto, são a manifestação da sociedade sob a forma de atos” (RETONDAR, 2007, p. 40).

Porto (2009) considera que os ditados, os provérbios e outras fra-ses, continuamente repetidas no dia a dia pelas pessoas, tornam-se parte do imaginário popular a partir da força da repetição. Uma vez constituí-

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das como verdade, passam a ditar condutas e comportamentos a serem assumidos pelos atores sociais. Os valores e as crenças, inseridos nessas afirmações, integram-se ao conteúdo das RS. Estas, por sua vez, devem ser entendidas como noções por meio das quais os indivíduos buscam se situar no mundo, explicá-lo e apreender sua maneira de ser.

Mendes (2011) explica que as RS surgem das relações de comu-nicação entre as pessoas sendo, simultaneamente, produto e processo de uma atividade mental. Com base nas representações, os indivíduos e os grupos reconstituem o real, atribuindo-lhe uma significação específica (dimensão simbólica). Nesse processo de produção, estão implicadas va-riáveis originárias tanto da dinâmica social quanto da dinâmica psíquica. Neste contexto, as RS se configuram como modos de reconstrução social da realidade estruturando-se na própria interação social.

Em estudos que possuem por objetivo conhecer a realidade, a partir do relato das pessoas que dela fazem parte, a TRS constitui-se em um referencial teórico privilegiado para fundamentar o processo de coleta e de análise dos dados. Contudo, ao se optar por este ca-minho, o pesquisador assume automaticamente uma série de pres-supostos que fazem parte desta teoria. Trata-se de pressupostos que justificam o uso das TRS como forma adequada para o conhecimento da realidade vivenciada pelos indivíduos. A este título, Porto (2009) faz as seguintes observações:

Interrogar a realidade a partir do que se diz sobre ela, utilizan-do-se da categoria de representações sociais, significa assumir que elas: a) embora resultado da experiência individual, [...] são condicionadas pelo tipo de inserção social dos indivíduos que as produzem; b) expressam visões de mundo objetivando explicar e dar sentido aos fenômenos dos quais se ocupam, ao mesmo tempo que, c) por sua condição de representação social, parti-cipam da constituição desses mesmos fenômenos; d) em decor-rência do exposto em “b”, apresentam-se, em sua função práti-ca, como máximas orientadoras de conduta; e) em decorrência do exposto em “c”, admitem, nos termos de Michaud (1996), a existência de uma conexão de sentido (solidariedade) entre os fenômenos e suas representações sociais, que, portanto, não são nem falsas nem verdadeiras, mas a matéria-prima do fazer sociológico (PORTO, 2009, p. 15).

O emprego da TRS na análise de inter-relações homem-ambiente, ou em pesquisas fornecendo suporte teórico-metodológico aos processos

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de estudo dessa interação, possibilita a identificação do pensamento indivi-dual e coletivo em relação aos objetos em estudo, como, por exemplo, em relação a um rio, bosque ou complexo rochoso, que tenha alguma relação e significado na vivência da população. Esta forma de pensamento é o que baseia a ação dos indivíduos em relação a ocupação e manejo desses am-bientes. Os processos de formação da RS são cíclicos e dinâmicos, assim como os processos de interação com o ambiente. Se os indivíduos estão em constante interação com o ambiente, é possível que as RS que possuam em relação ao espaço que ocupam sejam alteradas. É com fundamento nestes processos de interação que ocorre a adaptação dos esquemas mentais dos sujeitos às alterações ambientais ou ao pensamento coletivo.

O interesse em adotar a TRS em estudos que tratam da relação entre o homem e o ambiente está no fato de que ela produz um conceito para trabalhar o pensamento social em sua dinâmica e em sua diversida-de, sem distanciar o sujeito social e o seu saber concreto do contexto em que estão inseridos. Neste caso, a apreensão do modo de construção do saber dos sujeitos, relativo à sua relação com o ambiente, não se apresen-ta desvinculada de sua subjetividade. A coleta de narrativas dos indivíduos a respeito de determinado assunto permite ao pesquisador apreender as RS que orientam a vida dos indivíduos em um dado contexto social. A partir do discurso dos sujeitos, torna-se possível identificar os conceitos existentes no meio social do qual fazem parte.

Através das narrativas, que permitem a verificação do senso comum e dos saberes populares – e também dos saberes nas ciências, nas religiões, nas ideologias e em outras instâncias – as representações sociais são identificadas. Ao compartilhar determinadas representa-ções, os sujeitos viabilizam a convivência e a coexistência (CAVE-DON, 2005, p.13).

3. Contribuições teóricas na formação da TRS

Moscovici (1961) não fundamentou sua teoria apenas no conceito de Representações Coletivas proposto por Durkhein. Além dele, três ou-tros pensadores forneceram contribuições significativas para a construção desta teoria, a saber: Piaget, Lévy-Bruhl e Freud.

Na perspectiva Piagetiana, tanto a Psicologia objetivista, segundo a qual todo conhecimento provém da experiência, quanto a Psicologia sub-jetivista, que preconiza que todo conhecimento é anterior à experiência,

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não são suficientes para explicar a construção do conhecimento no indiví-duo. Para este autor, o conhecimento deriva de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas de conhecimento. Para ele, o processo evolutivo do conhecimento depende de mecanismos biológicos que, por sua vez, entram em funcionamento quando o organismo age e interage com o meio ambiente - físico e social – no qual está inserido. Neste caso, no processo de construção do conhecimento existe uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer.

Mais especificamente, Moscovici toma emprestado deste autor os conceitos de assimilação e acomodação. A assimilação consiste em um pro-cesso pelo qual o indivíduo, a partir de esquemas previamente estruturados, busca retirar de um novo fato ou objeto as informações que lhe interessam descaracterizando aquelas que não são consideradas essenciais ou que não contribuem para seu entendimento ou bem-estar. A acomodação consiste no potencial de modificação da antiga estrutura mental de forma a integrar o novo objeto do conhecimento. Estes conceitos desenvolvidos por Piaget explicam como se dá o desenvolvimento do pensamento e o desenvolvi-mento do julgamento moral da criança. Tem-se que o desenvolvimento do pensamento se dá por imagens e por corte-e-cola, no qual a criança junta fragmentos que já conhece para formar uma configuração que traduza o que ela desconhece. Já quanto ao desenvolvimento do julgamento moral, este depende das regras construídas pelas crianças que, por sua vez, depen-dem inicialmente dos contatos que mantêm com os adultos e, em seguida, dos contatos mantidos com as outras crianças.

Os estudos de Lévy-Bruhl sobre o pensamento místico, encontrado em povos distantes, apontam outras formas e lógicas para pensar o mun-do, como o pensamento pré-lógico. Esta forma de pensamento aplicada à mentalidade primitiva não diz respeito à capacidade ou incapacidade de raciocinar de um indivíduo. Ela apenas indica uma categoria segundo a qual no ato de raciocinar o sujeito primitivo não faz, de forma deliberada, qualquer esforço para evitar contradições, como é próprio do pensamento ocidental. No entender deste autor, a mentalidade primitiva segue três leis de funcionamento, sendo elas: o misticismo, o prelogismo e a participação. Considerando-se que a preocupação destes é com as forças místicas dos objetos e seres, concebem a relação entre eles sob a lei de participação, não se inquietando com possíveis contradições que esta relação poderia ocasionar. Esta forma de pensamento constitui-se em um dos elementos do senso comum, responsável pelo surgimento de RS (GERKEN, 2012).

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Das pesquisas de Freud, Moscovici tomou de empréstimo as expli-cações de como as crianças elaboram as teorias que explicam o ato sexual e as internalizam. Trata-se de teorias sobre questões fundamentais para a humanidade, cuja origem parte da experiência vivida no seu grupo, na sociedade e no diálogo com outras crianças. Efetivamente, Freud (1908), ao escrever Sobre as teorias sexuais das crianças, explica que a partir da primeira grande pergunta que a criança faz a si mesma: “De onde vêm os bebês?”, para a qual recebe dos adultos respostas evasivas ou repreensões por sua curiosidade, lança-se à procura de explicações e acaba, na comu-nicação com outras crianças, a formular teorias em respostas à sua própria indagação. Segundo o autor, o próprio comportamento dos adultos leva as crianças a desconfiarem deles fazendo com que façam em segredo suas investigações. Do contexto freudiano, deve-se reter a informação de que, embora as teorias sexuais formuladas pelas crianças “cometam equívocos grotescos, cada uma delas contém um fragmento da verdade, no que se assemelham às tentativas dos adultos, que consideramos geniais, para decifrar os problemas do universo, que são tão complexos para a compre-ensão humana” (FREUD, 1976: 218).

Com base nestas contribuições, Moscovici propôs a tese de que as RS são estruturadas por meio de um processo social no qual ocorre a produção, assimilação e familiarização de uma nova ideia ou objeto que passam a integrar com os elementos de um dado contexto cultural, graças aos mecanismos de objetivação e ancoragem.

Em termos gerais, a objetivação é o processo que procura trans-formar algo que está no nível abstrato, desconhecido, para outro mais tangível, concreto e objetivo, na medida em que há uma aproximação entre o novo e os elementos que fazem parte da experiência cotidiana de uma comunidade. Pela objetivação, os novos fatos, situações ou ob-jetos que se apresentam aos indivíduos são dissecados, recompostos, transformados em algo inteligível, sendo destituídos de seus detalhes ou características. Com o processo de objetivação, o grupo social ad-quire novos dados para o seu conjunto de ideias e informações sobre a realidade. Todos os dados, novos e antigos, são assimilados e trans-formados em teorias consensuais capazes de dar sentido e orientar as ações que devem fazer parte dos repertórios dos indivíduos e grupos. Oliveira (2004) afirma que a objetivação constitui-se no processo pelo qual indivíduos ou grupos atrelam imagens reais, concretas e compreen-síveis, retiradas de seu cotidiano, aos novos esquemas conceituais que

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se apresentam e com os quais têm de lidar. Outro processo formativo da representação social é o mecanismo de ancoragem.

Este procura fazer com que os objetos representados (ideias, acon-tecimentos, pessoas, relações, ou outras) sejam incorporados ao conjunto de conhecimentos ou ao pensamento social preexistente. Dessa forma, considera-se que a ancoragem constitui-se em um sistema de classificação e denominação para que o não familiar possa se encaixar ou ajustar-se ao contexto. Por este motivo, diz-se que sua função é estabelecer uma ligação, uma ponte entre o novo transformado com algo que já faz parte do mundo representacional do sujeito ou grupo. Ela se constitui em um processo a partir do qual o novo conhecimento cria suas raízes no social e para ele retorna. Neste, ocorre uma transformação tanto daquele que é identificado como sujeito quanto daquele que assume o lugar de ob-jeto. No entender de Arruda (2002, p. 136), o processo de Ancoragem representa uma forma pela qual “O sujeito procede recorrendo ao que é familiar para fazer uma espécie de conversão da novidade: trazê-la ao território conhecido da nossa bagagem nocional, ancorar aí o novo, o desconhecido, retirando-o da sua navegação às cegas pelas águas do não familiar” (JODELET, 1994; ARRUDA, 2002).

A ancoragem e a objetivação constituem-se nos mecanismos fun-damentais do processo de construção social da realidade. Por meio deles, estabelecem-se as condições fundamentais para que sejam minimizadas as características do novo, de forma que os elementos que o tornam di-ferente do contexto possam ser compreendidos e integrados ao mundo social como se já fizessem parte da experiência pregressa dos indivíduos e grupos. Se por um lado tais mecanismos contribuem para a manutenção da ordem, seja da consciência individual seja da vida social, por outro elimina a possibilidade de que cada um, bem como o grupo se lance no alcance de algo novo de forma consciente e pró-ativa. A este título vale atentar para a asserção de Moscovici:

O processo social no conjunto é um processo de familiarização pelo qual os objetos e os indivíduos vêm a ser compreendidos e distinguidos na base de modelos ou encontros anteriores. A predominância do passado sobre o presente, da resposta sobre o estímulo, da imagem sobre a realidade tem como única ra-zão fazer com que ninguém ache nada de novo sob o sol. A familiaridade constitui ao mesmo tempo um estado das relações no grupo e uma norma de julgamento de tudo o que acontece (MOSCOVICI, 1961, p.26).

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Mudanças de comportamentos ou de atitudes, sobretudo em rela-ção ao meio ambiente, requerem mudanças de representações sociais em relação a este objeto. Eis porque Jodelet (2008) alerta para a importância e para o limite do mecanismo de ancoragem. Ao mesmo tempo em que o processo de ancoragem contribui para estabilidade das relações sociais, ele retarda possíveis mudanças que seriam benéficas a este mesmo grupo. Assim, se por um lado o processo de ancoragem contribui para o enrai-zamento de um novo conhecimento já transformado em algo familiar, por outro ele dificulta a compreensão de realidades que se apresentam distantes ou diferentes daquelas em que vive o indivíduo ou o grupo. Isto explica em grande parte as dificuldades de se obter mudanças de com-portamentos através do estabelecimento de processos educativos de curto prazo, aplicação de penalidades a comportamentos de risco que fazem parte da cultura de um grupo, dentre outros.

As representações sociais não são elaboradas tendo como foco um objeto qualquer. Elas existem para expressar algo significativo para o gru-po e, por este motivo, nascem nos ambientes em que se manifestam. Para tanto, os indivíduos não atuam como meros processadores de in-formações assimilando as normas e os valores que lhe são repassados. Ao contrário, cada membro da sociedade atua como um pensador ativo, criador de teorias com vistas a solução dos problemas cotidianos, que, por meio do processo de comunicação com o outro, convertem-se em novas representações ou, pelo menos, se unem às já existentes.

Neste processo, não existe uma subordinação entre universo reifi-cado (relativo ao conhecimento científico, que determina a forma como diferentes objetos devem ser entendidos pela sociedade) e universo consensual (relativo ao senso comum, que se refere à forma pela qual os objetos definidos pelo universo reificado devem ser incorporados ao conhecimento já existente em indivíduos e grupos na sociedade). Eles atuam simultaneamente na estruturação de nossa realidade, sendo que o primeiro tem sido na atualidade o que mais fornece a matéria-prima para o segundo. Considerando-se que o conhecimento científico é de di-fícil compreensão, sua assimilação pela sociedade passa necessariamente pelo processo social. Um dos grandes problemas daí decorrentes é a não existência de mecanismos capazes de controlar ou mesmo prever de que forma as inúmeras contribuições da ciência serão representadas e utili-zadas pelos membros de uma sociedade. Por este motivo, diz-se que, se por um lado as RS contribuem para o bom funcionamento do grupo, por

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outro, possuem o poder de construir ambientes ou realidades para a vida cotidiana, capazes também de colocar em risco a saúde das pessoas, o meio ambiente e a sociedade como um todo.

4. Correntes teóricas e metodologias de pesquisa em Representações Sociais

Se por um lado Moscovici lançou as bases da TRS, por outro, al-guns de seus orientandos, enfocando diferentes formas de investigação, trouxeram contribuições particulares para o desenvolvimento desta teo-ria. Embora cada um deles tenha criado uma abordagem particular no estudo das RS, efetivamente cada uma delas tende a atuar de forma com-plementar. Na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, Jode-let dá continuidade à proposta original privilegiando o enfoque histórico e cultural dando origem à Abordagem Culturalista em RS. Em Genebra, Willen Doise enfoca a teoria sob uma perspectiva sociológica dando ori-gem à Abordagem Societal. Na Universidade de Provence, Jean-Claude Abric enfatiza a dimensão cognitiva das RS criando a Abordagem Estrutu-ral (SANTOS; ALMEIDA, 2005).

Para a abordagem culturalista, as RS são efetivamente instrumen-tos teóricos a partir dos quais o pesquisador pode ter acesso ao modo como os indivíduos e grupos constroem e interpretam o mundo e sua própria realidade, bem como o grau de articulação entre as dimensões sociais, culturais e históricas implicadas nas construções mentais coletivas. Por considerar que o problema que mais afeta as ciências é a descrição e não a explanação, preconiza maior atenção na apreensão dos discursos, comportamentos e práticas sociais dos indivíduos e grupos, bem como o cuidadoso estudo de documentos, registros e interpretações midiáticas.

A abordagem societal busca explicar o comportamento individual a partir das dinâmicas sociais considerando quatro níveis de análise: identi-ficação do modo como os indivíduos organizam suas experiências com o meio ambiente; identificação de princípios explicativos típicos das dinâ-micas sociais; identificação das modulações das posições ocupadas pelo indivíduo na sociedade; identificação das crenças, representações e normas que, em nome de princípios gerais, dão significado aos comportamentos individuais. Metodologicamente, é proposta uma abordagem tridimensio-nal no estudo das RS envolvendo: identificação do campo comum das RS; identificação dos princípios organizadores das variações individuais; identi-ficação de processos de ancoragem das diferenças individuais.

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A abordagem estrutural preconiza que toda RS é organizada em torno de um núcleo ou sistema central, entendido como elemento de-terminante de sua significação ou organização interna. O sistema cen-tral é formado por elementos mais estáveis, coerentes, consensuais e historicamente instituídos. Alterações neste sistema poderiam eliminar ou promover alterações profundas em uma RS. As variações possíveis relativas a uma RS, que permitem alguma flexibilidade, fazem parte do sistema periférico. Abric considera a possibilidade de três tipos de transformações de uma RS: resistentes, progressivas e brutais. Para este autor, o estudo de uma RS, além de identificar seu conteúdo, estrutura e organização interna, coloca em evidência a centralidade e a hierar-quia dos conteúdos.

Em pesquisas sobre RS, os autores são unânimes em sugerir pro-cedimentos plurimetodológicos por considerarem que cada um traz contribuições significativas para uma melhor compreensão do objeto estudado, a saber:

1) Para levantamento do conteúdo das RS, sugere-se o uso de entre-vistas, questionários e análise documental.

2) Para a abordagem monográfica no estudo das RS, embora longa e difícil de ser realizada, Jodelet (1994) propõe o uso da obser-vação participante, reconstituição da história do objeto estudado, levantamento da organização e funcionamento do objeto estuda-do, recenseamento e descrição dos elementos do objeto estuda-do, e entrevista em profundidade.

3) Para levantamento da organização das RS, é proposto o uso de um questionário que permita a análise tridimensional da RS.

4) Para levantamento da estrutura interna das RS, Abric propõe a Análise de Evocações compreendendo a técnica de associação livre e triagens hierárquicas sucessivas.

5) Para identificação de RS de forma isolada ou complementar às técnicas acima, tem-se ainda a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2009).

5. Estudos sobre o Ambiente na perspectiva da Teoriadas Representações Sociais

Muitos são os estudos relacionados ao tema Representações So-ciais, bem como ao tema Ambiente. Contudo, é tímido o número de

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trabalhos disponíveis na literatura em que o objeto Ambiente ou Natureza sejam abordados sob a perspectiva da TRS.

Embora aparentemente exista um déficit de textos referente a pes-quisas envolvendo a TRS aplicada à relação que o homem estabelece com a natureza, estes números poderão surpreendentemente ser majorados quando outras bases são consultadas. Certamente uma abundância de estudos capazes de estabelecer relações entre tais objetos requer o avan-ço no campo da pesquisa interdisciplinar. Neste espaço de produção de conhecimento, só é possível o diálogo entre profissionais habituados a da-dos técnicos e normativos com aqueles cuja habilidade está na análise de dados de natureza qualitativa, quando a humildade e a vontade de apren-der com o outro servem de guia para a prática de cada um dos envolvi-dos. Efetivamente, a dificuldade está em reunir pesquisadores capazes de duvidar de seus próprios pressupostos para que, num esforço comum, sejam capazes de desenvolver metodologias nas quais as teorias do senso comum possam ser correlacionadas com as do conhecimento científico.

O Quadro 1 apresenta resumidamente o objetivo, o método e os resultados apresentados nos 12 artigos disponíveis na Scielo, que abor-dam o ambiente sob a perspectiva da Teoria das Representações Sociais. Pode-se observar que, quanto aos objetivos, a maior incidência está no in-teresse em identificar as RS de grupos específicos em relação ao Ambiente (Artigos 1,2, 5, 7 e 9). Depois deste, aparecem os estudos que, além das RS, procuram também identificar de que forma estas orientam os grupos e os sujeitos na sua relação com o Ambiente (Artigos 4, 6 e 11). Os quatro artigos restantes interessam-se em: conhecer o grau de participação da sociedade no processo de proteção do Ambiente (3), Identificar as con-tradições no processo decisório relativo à gestão das águas em São Paulo (8), Identificar as RS de universitários em relação à educação ambiental (10) e Demonstrar as possibilidades de um diálogo interdisciplinar entre Geografia e Psicologia Ambiental (12).

Excluindo-se a abordagem monográfica empregada por Jodelet e o questionário capaz de permitir uma abordagem tridimensional das RS, os artigos exemplificam os demais métodos empregados em pesquisas orien-tadas pela TRS. Em dois, foi empregada a técnica da triangulação que, por utilizar vários métodos de análise dos dados, permite ao pesquisador uma apreensão mais completa do fenômeno investigado. Tal como descrito na literatura, não deve haver uma uniformidade dos métodos a serem utilizados no processo de triangulação. Observa-se que dois dos métodos

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utilizados na pesquisa apresentada pelo artigo 6, desenhos e questionário, não foram utilizados na pesquisa apresentada pelo artigo 11. O uso das técnicas Mapa Mental, Desenho Infantil, Coleta de discursos sobre deter-minado objeto e grupo focal constitui-se em uma especificidade das pes-quisas em que foram utilizados. Já a Técnica de Associação Livre (TALP) analisada pelo Software EVOC, bem como o uso de coleta de discursos ou fragmentos analisados segundo a Técnica de Análise de Conteúdo pro-posta por Bardin (2009) são utilizadas, de forma oficial ou não, em grande parte das pesquisas sob a perspectiva da TRS.

Embora as conclusões das pesquisas, sumarizadas na Tabela 1, res-pondam diretamente aos objetivos de cada estudo, pode-se dizer que de forma global a água é considerada necessária à saúde devendo ser conservada. Quando transparente e livre de odores, chega a ser associada à pureza e elevada à categoria de elemento sagrado. Quando contami-nada e impura, é associada à morte sendo rejeitada socialmente. Devido a seu caráter utilitário, pequenos agricultores consideram os processos de gestão das águas um elemento atravancador do desenvolvimento agrário.

A predominância da visão antropocêntrica pactuada parece estar associada à influência da mídia, família e religião. Embora o meio am-biente seja habitualmente evocado como sinônimo de natureza e vida, segundo esta visão o prejuízo ao meio ambiente pode ser justificado quando existe algum tipo de benefício para o ser humano. Apesar disso, há indícios de que o pequeno produtor rural reproduza práticas de uma agricultura sustentável.

O nível de participação das populações em atividades de proteção de Áreas de Preservação é fortemente influenciado pelo grau de escolari-dade, faixa etária, estratificação social e percepção ambiental. Professores contemplam a natureza, desconsiderando que o homem é parte dela. As RS de crianças revelam preocupação com poluição, não fazendo grande distinção entre elas e a natureza. Os idosos consideram que a educação ambiental é responsabilidade da família. Sugere-se que a interdiscipli-naridade é pertinente para o estudo das relações estabelecidas entre o homem e o ambiente, por abranger uma multiplicidade de aspectos que uma única disciplina não seria capaz de alcançar.

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6. Considerações finais

A visão antropocêntrica identificada na pesquisa realizada por Júnior (2004) explica em boa parte as dificuldades encontradas pelos processos de educação ambiental em promover mudanças de comportamentos ca-pazes de favorecer a preservação do ambiente. A concepção religiosa de que o mundo e a natureza foram criados para atender as necessidades do homem, colocando-o como aquele que deve nomear e, portanto, atribuir significado a todas as criaturas e elementos da natureza, faz com que ele não seja capaz de reconhecer-se como parte deste ambiente. Como con-sequência, os diversos elementos naturais como águas, florestas, mine-rais e outros passam a ser identificados como meros recursos. Deste fato, estabelece-se com estes uma relação utilitarista, atentando-se, dentro dos limites mínimos permitidos, para os impactos que a exploração dos mes-mos gera sobre o ambiente.

Em função do caos estabelecido na natureza pelo homem, devido ao uso não sustentável de seus recursos, em 27 de abril de 1999 foi pro-mulgada a Lei N°9.795 que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. O Artigo 1°, do Capítulo I, define esta modalidade educacional como sendo “processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem va-lores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências volta-das para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. Dentre os ob-jetivos fundamentais desta modalidade educacional, destaca-se a alínea I –, segundo a qual a educação ambiental tem por objetivo “o desenvolvi-mento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múlti-plas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos”.

A expectativa que se criou a partir desta Lei foi de que a implan-tação de processos educativos orientados pelo paradigma da sustentabi-lidade e capazes de cobrir a quase totalidade da sociedade, ocorreriam mudanças de comportamento em âmbito nacional voltados à conserva-ção e/ou preservação do ambiente. Contudo, promover educação am-biental não implica a simples transmissão de conhecimentos. Sabe-se que foi em função de pressupostos e experiências vivenciadas em âmbito fa-miliar, escolar e social que o homem estruturou sua atual relação com o ambiente. A adoção e disseminação de comportamentos ambientais não

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sustentáveis é resultado de um trágico processo educativo que deverá ser desconstruído para que outro, capaz de harmonizar as relações que o homem estabelece com a natureza, possa tomar seu lugar.

Para que a Educação Ambiental possa ser implantada com orienta-ção de forma efetiva aos indivíduos e grupos humanos em direção ao uso sustentável dos recursos naturais, faz-se necessário alcançar inicialmente três objetivos: conhecer os pressupostos que orientam tais sujeitos em sua relação com o ambiente; identificar os pressupostos que devem ser mantidos, alterados e substituídos; elaborar metodologias contextualiza-das que promovam a ancoragem de pressupostos pró-ambientais criando um terreno fértil no qual atuará esta modalidade educativa. É no alcance destes três objetivos que a Teoria das Representações Sociais e os vários métodos de apreensão do conhecimento do senso comum se apresentam como ferramenta ou referencial privilegiado de investigação.

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