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Contribuições do Método Recepcional, Estética da Recepção, Teoria dos Gêneros
e Análise do Discurso da Linha Francesa no conhecimento da Literatura Paranaense
Clair Lima Vasconcelos1
Luciana Fracasse²
Resumo: - Este artigo é o resultado da Proposta PDE intitulada, “Literatura Paranaense sob o domínio da Historia Urbana”. Neste relato descritivo, a experiência da leitura valoriza o aluno leitor. Ao mesmo tempo em que instrumentaliza-o para que tenha condições de explorar e entender as várias possibilidades de sentido que um texto literário oferece ao trabalhar com o conhecimento da Literatura Paranaense. Nesse sentido, este trabalho busca marcar o traço comum da temática urbana desenvolvida nas criações literárias do Paraná e mostra uma diversidade de gêneros textuais próprios da contemporaneidade. Como suporte teórico, esta experiência fundamentou-se nas teorias complementares da Estética da Recepção de Robert Jauss e Wolfgang Iser que valorizam o leitor. Descreve a prática da leitura literária realizada nas segundas séries do ensino médio, do período da manhã do Colégio Estadual padre Chagas. Segue os passos propostos no método Recepcional de Vera Teixeira Aguiar e Maria da Glória Bordini. Estas apontam um processo que vai da historia cultural à expansão do horizonte vivencial do aluno. Vale ressaltar que ao enfocarmos o trabalho com a leitura também recorremos a pressupostos fornecidos pela Analise do Discurso, por ser uma teoria voltada à interpretação e à produção de sentidos nos textos.
Palavras – chaves: Leitura, Método, Discurso, gêneros, Literatura Paranaense.
Abstract: Contributions of the Method Recepcional, Aesthetics of Reception, Theory of Speech
Genres and Analysis of the knowledge of the French Language of Literature Paranaense. This
article is the result of the proposal EDP, "Literature Paranaense in the field of urban history." In this
study highlights the experience of reading the student reader. At the same time that
instrumentalizando - so we should be able to explore and understand the various possibilities of
meaning that a literary text offers to work with the knowledge with the knowledge of literature
Parana. Make the common thread of the theme developed in urban literary creations of Parana, and
shows a variety of genres from contemporary texts themselves. As theoretical support, this
experiment was based on theories of complementary Aesthetics of reception of Robert Jauss and
Wolfgang Iser who value the player. Describes the practice of literary reading in the footsteps of the
proposed method of Recepcional Vera Teixeira Aguiar and Maria da Gloria Bordini. These indicate
a process of cultural history that will expand the horizon of living of the student. It is worth
emphasizing that the focus on working with the reading we also review the assumptions provided
by the Speech, is one theory focused on the interpretation and production of meaning in the texts.
1. Professora Especialista em Língua Portuguesa, Literatura e Supervisão Escolar - Professora PDE, SEED. 2007. 2. Professora Orientadora Mestre em Estudos da Linguagem. Departamento de Letras, UNICENTRO, PR.
2 Key - Words: Reading, Method , the speech, genres, literature Paranaense.
Introdução
A convicção de que a linguagem literária pode trazer reflexões sobre a
identidade de determinados espaços sociais fez surgir o trabalho com a Literatura
Paranaense nas 2ª series do Ensino médio do Colégio Estadual Padre Chagas. A leitura
dos textos literários leva os sujeitos a observar o contexto: o mundo, as pessoas, os
acontecimentos, os lugares, os sentimentos, as ações dos indivíduos. A observação
desses elementos no texto literário faz com que surjam reflexões sobre o que nos rodeia.
Estabelecem-se conexões entre o que produz significado e o que se torna capaz de trazer
sentido para as outras ações comunicativas. Esse processo de questionamento faz com
que o leitor construa seu discurso o mais próximo do desejado.
O conhecimento da literatura paranaense partiu do interesse dos alunos das 2ªs
series do Ensino médio, após trabalhar com os contos de Machado de Assis. Os
questionamentos levantados como: _Porque não trabalharmos com contos de autores
nossos , mais próximos, dos escritores paranaenses. O desejo mostrava que não
conheciam a literatura do Paraná. Justificaram que nos livros só constam alguns dados de
Paulo Leminski e Dalton Trevisan. E ficou no ar a questão: - Será que eles são os únicos
representantes da literatura do nosso Estado? - E os escritores das cidades menores não
aparecem, por quê?
O que se pode constatar, ao trabalhar a leitura literária partindo do que é
significativo para o educando, seguindo o método recepcional, é que não se trata só de
escolher as obras, os escritores, os gêneros textuais, mas sim de ter a liberdade de
escolher uma leitura significativa para o aluno-leitor. Cabe aqui o registro de uma
preocupação em sair do cotidiano de uma prática tradicional, em que a abordagem
histórica, por meio do conhecimento dos períodos literários, esclarece a leitura literária.
Mas no dia-a-dia observa-se que nossos leitores jovens também valorizam a cultura
paranaense como resignificação do próprio espaço de cada um. Para conduzir essa
prática faz-se necessário buscar um método. O que coloca o leitor em constante diálogo
com o texto é o Método Recepcional de Bordini & Aguiar (1993).
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De acordo com Cereja (2005), esse método mostra que existe um sujeito
criado pelo autor que fala, um leitor que pode submeter-se ou não, a tais pistas de leitura,
entrando em diálogo com o texto. Para o autor:
não é o ensino da Literatura que faz com que os alunos mostrem-se desinteressados e com dificuldades de entender as especialidades do texto literário. O que ocorre é que por falta de desenvolver-se no país uma cultura que valorize a leitura, os alunos sentem-se despreparados diante de qualquer tipo de texto. Por isso os professores buscam alternativas de pesquisa para enfrentar essas barreiras. O caminho é compreender o processo histórico do ensino da literatura, as razões dos nossos fracassos no Ensino fundamental e Médio. E a partir dos resultados, construir uma proposta onde se contemple todas as possibilidades de melhoria do desempenho de leitura de nossos alunos (2005, p.114).
2. Fundamentação Teórica
2.1. Método Recepcional e o ensino da literatura
Nesse contexto além do método Recepcional recorremos ao suporte teórico da
Análise do Discurso de linha Francesa e a teoria dos gêneros apresentada por Bronckart.
O método Recepcional de Vera Teixeira Aguar e Maria da Glória Bordini além de refletir
sobre a leitura, literatura e a escola propõem alternativas para conciliar o ensino de
literatura com a formação do leitor (BORDINI & AGUIAR, 1993).
O professor Cláudio Mello (UNICENTRO), em seus discursos nas aulas do
Curso de Literatura PDE, faz colocações interessantes ao relatar que os educadores
apropriam-se de obras de intelectuais como Bakhtin, Benedito Nunes, Alfredo Bosi, mas
nem sempre conseguem transpor as idéias deles para as práticas cotidianas do ensino.
Preferem a sincronia e a diacronia, à abordagem supostamente estética, perspectiva
dialógica como meio de abordagem à literatura. Este enfoque favorece o diálogo entre
objetos culturais de diferentes linguagens e épocas. Para realizar essa prática, faz-se
necessário certo distanciamento das obras literárias e do método tradicional que trabalha
a Literatura como conteúdo.
Usa-se a Periodização dos movimentos literários para compreender que a
literatura é um fenômeno que está em seu contexto de produção, dobra-se as malhas da
linguagem e acaba rendendo-se à originalidade e a inventabilidade do artista.Tal leitor é
4 ao mesmo tempo múltiplo e também único, porque “como camaleão se transforma
diante dos discursos plurais que cada texto lhe impõe”. (REIS, 2008 apud CARVALHO).
À medida que o leitor se aproxima das novas leituras vai se construindo, se
transformando de maneira que não se sabe quais os limites entre o que se é e o que as
palavras dizem que somos. Segundo Zilberman (2001, p.7):
A teoria da Estética da Recepção formulada por JAUSS considera o texto literário como suporte para avaliar a recepção em comunicação. Aponta o leitor como responsável pela atualização dos textos e garante a historicidade das obras literárias. Não vê historicidade como momento da produção, mas sim das circunstâncias de serem lidas e apreciadas em diferentes épocas. O mesmo leitor
literário atravessa diferentes horizontes, mantendo sua forma.
A contribuição de Jauss esclarece que a conexão histórica que aparece numa
obra literária, não é uma sucessão fática dos acontecimentos. A recepção reelabora o
fenômeno literário quando os leitores posteriores manifestarem interesse ao conhecê-la e
na socialização atualizá-la, imitá-la, superá-la ou rebatê-la. Estas afirmações vão desde a
historia, à apropriação, à imitação, superação ou contrariedade.
Para o professor Cláudio Mello, uma obra literária acumula ideologias e
comportamentos de sujeitos de um tempo que, ao serem comparadas com a tradição, e
os elementos da sua cultura e de seu tempo, inclui-se ou não, como horizonte de
expectativas.
2.2. Contribuições da Análise do Discurso
A abordagem da Análise do Discurso provoca mudanças significativas ao
trabalhar com a leitura e as interpretações de textos. Orlandi (1999, p.15) explica a
palavra “discurso” etimologicamente, como a que tem em si, a idéia de curso, de correr
por, de movimento. Os discursos se movem em direção a outros. Nunca está só, pois é
atravessado por vozes que o antecederam, que mantém com ele constante duelo, ora a
legitimidade, ora o confrontado.
A formação de um discurso está baseada nos princípios constitutivos – os do
dialogismo. Os discursos povoam o mundo paralelo a outros discursos com os quais
dialogam. Podem estar dispersos pelo tempo e pelo espaço, mas se unem na mesma
escolha temática, mesmos conceitos, objetos, modalidades, ou acontecimentos. O
5 discurso literário pode estabelecer uma relação de similaridade, de identificação, de
semelhança para buscar um efeito, um resultado provocador de sentido.
A memória dos locais, cidades onde nasceram, ou onde vivem os escritores
paranaenses constituem tópicos que são recordações recriadas no imaginário da
Literatura paranaense. A focalização das cidades do Paraná não é mera referência a
espaços públicos nos quais vivem os sujeitos que discursam no universo literário.
Relembrando as palavras de Pêcheux (1990, p.51-52) não há discurso sem sujeito e não
há sujeitado sem ideologia. O individuo é interpretado em sujeito pela ideologia. E é assim
que a língua faz sentido.
No discurso pode-se observar essa relação entre língua e ideologia. A
professora Luciana Fracasse (UNICENTRO) em sua fala no curso PDE para professores
de Língua Portuguesa retoma Pêcheux ao enfatizar que a materialidade do discurso é a
ideologia e a materialidade especifica da ideologia é o discurso. O discurso presente na
literatura paranaense tem um fio condutor que é a ideologia do homem contemporâneo,
influenciado pelas questões da vida urbana.
Para Orlandi (2004, p.21):
como a cidade constitui um espaço de representação particular, podemos perguntar: como os sujeitos interpretam a cidade, como se interpretam na cidade, como a cidade impõe gestos de interpretação, como a interpretação habita a cidade.
A autora auxilia a compreensão desses enfoques quando explica que: “Em uma
sociedade como a nossa o sujeito é o corpo em que o capital está investido”. Num espaço
habitado de memória, de subjetividades, a história se formula na noção do eu - urbano.
“Esse sujeito, por sua vez, está produzindo sentidos na cidade, textualizando sua relação
com objetos simbólicos nesse mundo particular do urbano, o que produz uma realidade
que é estruturada de tal maneira que nos vai dar, enquanto analistas, uma imagem de
texto, do acontecimento urbano que é história e que se apresenta em seus vestígios”.
É o que Domingos Pellegrini registra quando dá vazão à memória discursiva e
deixa o passado vir à tona como imagem de ordenação do mundo, que ora é mostrada a
partir do olhar infantil e outras vezes, aponta para o escritor maduro, que registra com
vozes infantis os fatos do presente, por meio da ficção. Neste ponto a análise do discurso
6 concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade atual e
social. Procura-se compreender o homem falando.
A leitura dos contos, crônicas, poemas e romances dos escritores paranaenses
mostra o universo ficcional de Domingos Pellegrini, Miguel Sanches Neto, Greta Benitez,
Dalton Trevisan, Adélia Wholner apontando para os sujeitos na sua historia. Considera os
processos e condições de produção da linguagem. As situações da contemporaneidade,
os problemas dos crescimentos das cidades, os bairros mostram espaços onde se
produzem o discurso que relaciona a linguagem e sua exterioridade.
Orlandi (2004) fala que “o trabalho simbólico do discurso” está na base de toda
a produção humana. Desta forma, o discurso de Dalton Trevisan nos remete a uma
cidade na qual as condições de produção mostram sujeitos incomunicáveis, com relação
de sentido de sentimentos e perdas, ausências. A situação do homem moderno
confrontando às políticas e o simbólico nos contextos mais amplos sondam, revelam as
relações entre o lingüístico e o social. Esse percurso que se faz do ato da fala aos
interlocutores concretos, ocasiona uma articulação entre a linguagem e a interação social,
buscando as relações que vinculam a linguagem à ideologia. É o distanciamento entre a
coisa representada e o signo que a representa o que promove a ideologia, ou seja, uma
posição é tomada. Bakhtin afirma:
a palavra é o signo ideológico por excelência, pois é produto da interação social e
se caracteriza na plurivalência l. Por isso é o lugar privilegiado para a manifestação
da ideologia, retrata as diferentes formas de significar a realidade, segundo vozes,
pontos de vista daqueles que as empregam. Dialógica por natureza, a palavra se
transforma em arena de luta de vozes que , situadas em diferentes posições,
querem ser ouvidas por outras vozes” (apud Brandão, 2002:p.10).
Para entender essa nova modalidade de compreensão da linguagem, pode-se
recorrer a Mainguenau, que fala sobre o discurso como uma dispersão de textos cujo
modo de inscrição histórica permite definir como um espaço de regularidades
enunciativas (2005, p.15).
Convém lembrar das contribuições da análise do discurso: Pêcheux (1990) ao
afirmar que é o efeito de sentido entre os interlocutores; Foucault (2005) chama discurso
de um conjunto de enunciados que se apóia na mesma formação discursiva. Ele é
constituído de enunciados variados que se pode definir como um conjunto de existência.
7 Orlandi (1999, p.15) salienta que os discursos movimentam-se atravessados por uma
pluralidade de vozes que se interam em constante dialogo.
A formação discursiva está fundada no principio do dialogismo. Os discursos
estão em permanente diálogo e se unem numa mesma regra de aparição: uma mesma
escolha temática, mesmos conceitos, objetos, modalidades ou um acontecimento. O
discurso é uma unidade de dispersão. Trabalha-se com o discurso para entender o que
ele é. Para Orlandi ( 1986, 1994), a noção do discurso é uma questão fundadora e o fato
fundamental para esta perspectiva é uma questão aberta.
Segundo a autora, a questão aberta é discursiva e não se fecha por ser
filosófica, e este é o ponto em que a Lingüística interage com a Filosofia e com as
Ciências do Social. É preciso considerar que os processos de significação se dão em
certas condições. É assim que a Análise do Discurso trabalha a relação da língua com a
sua exterioridade, vendo nesta exterioridade o jogo das condições (2004, p.19). Ao definir
as tendências no campo dos estudos da linguagem é preciso considerar a interpretação
na teoria da análise do discurso e situá-la em relação às outras filiações. Conforme
Orlandi (1996): a) não há sentido sem interpretações; b) a interpretação joga em dois
níveis, o do analista e o do sujeito, enquanto linguagem e em enquanto tal; c) a finalidade
da analise do discurso não é interpretar, mas compreender como um texto produz sentido.
Há uma “suspensão da noção de interpretação que costumaremos utilizar para que
se opere a leitura como construção de um dispositivo teórico”. Esse dispositivo leva
em conta a materialidade da linguagem e história: a discursividade ORLANDI (2004,
p.20.).
A análise do discurso trabalha com a necessidade teórica operando com a
opacidade da linguagem. Vê, nessa opacidade, a intervenção do político, do ideológico,
ou o fato do funcionamento da língua na historia parta que ela signifique. Os elementos da
analise do discurso estão na relação linguagem/historia. Questiona a interpretação como
objeto da reflexão. Assim como o sentido é uma questão aberta (não temos acesso ao
sentido, como tal) a interpretação não se fecha. Temos a ilusão de seu fechamento
quando na verdade só temos seus efeitos.
Esta forma de considerar a interpretação, segundo Orlandi, 1990, nos permite
deslocar a ideologia de uma formação sociológica (exterior) para uma formação
discursiva. Ao trabalhar a interpretação tem-se a ilusão de conteúdo. E quando se
8 pergunta pelo sentido, o sujeito sempre nos faz um relato, conta uma historia. É a
construção discursiva do referente. O sujeito é a interpretação.
A forma sujeito do discurso não é psicológica, mas ideológica, assujeitada. O
sujeito e descentrado, permite considerar formações imaginárias, imagens que permitem
passar das situações empíricas (lugares do sujeito) para as posições de sujeito do
discurso, assim, há a imagem da posição sujeito interlocutor (quem é ele para me falar
assim, ou para que eu lhe fale assim e a imagem do objeto do discurso, (do que estou
falando, do que ele me fala?)).
Ao trabalhar com textos literários da Literatura Paranaense considerou-se que:
- Os discursos são ao mesmo tempo lingüísticos, históricos, enraizados na historia para
serem produzidos;
- As formas dos sujeitos são ideológicas, assujeitadas;
- Os sentidos dos textos produzidos pelos escritores paranaenses dependem das
condições sociais e históricas.
2.3. Descrevendo a teoria dos gêneros para entender a Literatura Paranaense
Marcuschi (2008, p.146) esclarece que o estudo dos gêneros não é novo. Desde
a tradição ocidental essa expressão esteve ligada aos gêneros literários, cuja análise se
inicia com Platão, para se firmar com Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela
idade Média, pelo Renascimento até os primórdios do século XX. Atualmente, a noção de
gênero já não se vincula apenas à literatura. Hoje se usa para referir-se a uma categoria
distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações
literárias.(apud Swaller: 1990,p.33)
Segundo Todorov, os gêneros antigos não desapareceram. Apenas são
substituídos por novos gêneros em virtude do mundo contemporâneo. Porém, na escola,
a pela expressão gêneros não está clara. Temos os gêneros discursivos ótica de Bakhtin;
e os gêneros textuais pelo enfoque de Bronckart.
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Bakhtin (1992) introduz os estudos sobre os gêneros do discurso
considerando não a classificações das espécies, mas o dialogismo do processo
comunicativo. Os gêneros discursivos em muito favorecem, porque por meio deles os
indivíduos se comunicam e materializam seu discurso.
Para Bronckart (1997), a prática discursiva, as relações sociais estão
associadas aos usos dos diferentes gêneros. Ele afirma que o texto se organiza em três
pressupostos:
a) folhado textual – infra-estrutura do texto = plano textual global.
b) mecanismos de textualização: conexões, coesão nominal e coesão verbal.
c) mecanismos enunciativos instanciam enunciativos e operações d linguagem.
O internacionalismo sócio-discursivo, segundo Bronckart (1997), compreende as
operações discursivas, resumindo-se a um composto binário:- mundo discursivo do expor
e mundo discursivo do narrar.
No mundo do expor o discurso é autônomo (teórico); já o mundo do narrar o
discurso é interativo, implicado, autônimo engloba a narração, discurso misto-interativo,
teorias comuns na exposição oral, discurso teórico, envolvendo situações históricas
presentes na monografia cientifica.
Para que a seqüência narrativa, argumentativa, descritiva, explicativa, dialogal
possa se combinar em um texto, bem como articular-se a uma gama de seqüências
diversas o que decorre da heterogeneidade com posicional do texto. O tipo de seqüência
utilizada em um texto se relaciona a sua função em determinado gênero.
Bronckart (1999) avalia as condutas humanas como: ações significantes, cujas
propriedades estruturais e ficcionais os produtos de socialização contribuem e
desenvolvem a competência discursiva. Ocorre que na escola a expressão gêneros ainda
não está clara.
Marcuschi (2002:22) apresenta duas definições:
a) Tipos textuais;
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b) Gêneros textuais;
Segundo o autor os tipos textuais são construções teóricas definidas por
propriedades lingüísticas intrínsecas, já os gêneros textuais são realizações línguísticas
concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas.
Os tipos textuais são constituídos por seqüências lingüísticas ou seqüências de
enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos; os gêneros constituem
funções em situações comunicativas. A nomeação abrange um conjunto limitado de
categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais sintáticos, relações lógicas, tempo
verbais. Os gêneros abrangem categorias ilimitadas de designações concretas
determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função.
A designação teórica dos tipos textuais são: narração, argumentação, descrição,
injunção e exposição. Os gêneros compreendem o sermão, a carta, o telefonema, aula
expositiva, romance, reunião de condomínio, listas de compras, conversa espontânea,
cardápio, receita culinária, inquérito policial, etc. Os tipos textuais são definidos por seus
traços lingüísticos predominantes: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
lógicas. Por isso um tipo textual é dado por um conjunto de traços que formam uma
seqüência e não um texto de narração, descrição ou dissertação não está nomeando um
texto, mas uma seqüência de base. Numa releitura de Bakhtin depreende-se que quando
se está numa situação de interação verbal a escolha do gênero não é completamente
espontânea, pois leva em conta a cadeia comunicativa, e coerções determinadas pela
própria situação de produção do discurso: quem fala? Com quem se fala? Com qual
finalidade?
Esses elementos condicionam-se as escolhas do locutor que, tendo ou não
consciência deles, acaba por fazer uso do gênero mais adequado àquela situação. O
trabalho sob a perspectiva dos gêneros não desconsidera os tipos textuais tradicionais: a
narração, a descrição, a dissertação. Incorpora-os numa perspectiva mais ampla a da
variedade de gêneros. Assim começa-se a buscar diferentes enfoques de estudiosos
como Bernard Scheuwly, Jean Paul Bronckart, August Pasquier entre outros, que há mais
de uma década desenvolvem pesquisas acerca da teoria dos Gêneros. Scheuwly vê os
gêneros textuais como ferramentas, ou instrumentos que permitem exercer uma ação
lingüística sobre a realidade.
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No plano da linguagem o ensino dos diversos gêneros textuais que circulam
entre nós, além de ampliar a competência lingüística dos falantes aponta-lhes inúmeras
formas de comunicação, de participação social que eles como cidadãos podem ter,
fazendo uso da linguagem.
Para Bronckart (2002) os textos se organizam em três superpostos:
Folhado textual-infra-estrutura do texto, plano textual global;
Mecanismos de textualização-conexões, coesão nominal e coesão verbal.
Mecanismos enunciativos-instâncias enunciativas, instâncias e operações de linguagem.
O desenvolvimento do trabalho com a Literatura paranaense. A abordagem dos gêneros
da Literatura Paranaense visa aproximar ainda mais a literatura do universo do aluno.
Descrição da Prática
O trabalho teve como base o Método Recepcional de Bordini & Aguiar, a teoria dos
Gêneros Textuais embasada em Marcuschi, Bronckart e outros estudiosos e a Análise do
Discurso de linha francesa com as teorias de Pêcheux e Eni Orlandi.
O momento inicial deste trabalho ocorreu com os professores. Quando pedi que
comentassem apresentação realizada com o Data show. Alguns comentaram que não
conhecem nada da Literatura paranaense. Outros até afirmaram que não gostam de
Literatura, pois não entendem a leitura literária. Também registraram que há
aproximadamente dez anos sentem a importância de trabalhar junto com os professores
de todas as disciplinas, principalmente os educadores de Língua Portuguesa.
Para determinar o horizonte de dos alunos expectativas (Bordini & Aguiar, 1993) distribui
aos alunos uma folha xerocada com questões que investiga os conhecimentos prévios
sobre a Literatura Paranaense.
Responda as seguintes questões:
Você conhece algum escritor (ª) paranaense?
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Se você respondeu sim, como ficou sabendo desse autor?
Acha importante conhecer as obras dos escritores paranaenses? Para que esse
conhecimento contribui?
Sobre leitura em geral o que você gosta de ler? Qual o gênero preferido? O que você
leu ou está lendo atualmente?
Cite romances, contos, crônicas, textos, entrevistas, reportagens que você leu e que
você lembra por ter marcado você de alguma forma.
Quantos livros você já leu?
Usa a internet para pesquisar dados sobre suas leituras?
Acha importante fazer apresentações para os colegas sobre o que lê, dando sua opinião
crítica?
9- Pense em algo que você gostaria de ler durante a próxima semana e registre as
impressões de leitura que ficam para você durante esse processo.
Essa experiência de leitura foi desenvolvida com as quatro segundas séries Para a
amostragem foram considerados os dados da segunda série A.
Dos quarenta e três alunos matriculados na segunda série A, quarenta estavam
presentes no dia 28/05/2008. Ao questionar o conhecimento prévio dos alunos, sobre a
Literatura paranaense há uma revelação de cada um para si mesmo. Compreendem que
são sujeitos que opinam e leitores que recebem todo o discurso de outras vozes
interagindo com a caminhada do autor x obra. O resultado da prévia foi:
:
1ª- Questão - Conhecimento da Literatura Paranaense:
13
Numero de alunos
1
2
3
Numero de alunos Porcentagem de resposta
08 20%
32 80%
40 alunos___________________100% ;comparecimento do dia 28/05/2008.
08 alunos responderam sim______20%
32 alunos responderam não______80%
2ª- Questão- (a importância de conhecer a Literatura paranaense)
Numero de alunos
1
2
3
Numero de alunos Porcentagem de resposta
38 95%
08 2%
38 alunos responderam sim_______95%
14
08 alunos responderam não________2%
3ª- Questão - Quanto ao gosto pela leitura.
Gosta de ler?
Numero de alunos
1
2
3
4
5
Numero de alunos Porcentagem de resposta
30 75%
02 5%
04 10%
04 10%
30 alunos responderam sim_______75%
02 alunos não gostam de ler ______ 5%
04 alunos responderam que leram porque o professor pedia tarefas de leitura.
_______10 %
04 alunos responderam que lêem sempre _______10%
15
4ª Questão - Preferência dos alunos sobre os gêneros textuais:
Numero de alunos
1
2
3
4
5
6
7
Numero de alunos Porcentagem de resposta
08 20%
02 5%
06 15%
04 10%
12 30%
08 20%
08 alunos responderam todos__________ 20%
02 alunos preferem revistas____________ 05%
06 alunos preferem leituras virtuais______ 15%
04 alunos responderam contos _________ 10%
12 alunos responderam romances________30%
08 alunos preferem auto-ajuda__________ 20%
16
5ª- Questão- O que o estimula à leitura:
Numero de alunos Porcentagem de resposta
12 30%
04 10%
24 60%
12 alunos responderam que lêem por prazer 30%
04 alunos lêem a pedido da mãe_________ 10%
24 alunos só lêem porque a professora pede 60%
6ª Questão - Usa a internet?
Numero de alunos
1
2
3
4
Numero de alunos Porcentagem de resposta
22 55% 14 35%
04 10%
Numero de alunos
1
2
3
4
17
22 alunos usam diariamente_____________ 55%
14 alunos usam só no laboratório da escola _35%
04 alunos responderam raramente ________10%
Pelas respostas, nota-se que a maioria não conhece a Literatura paranaense.
Os que responderam afirmativamente conhecem Dalton Trevisan e Helena Kolody. Um
dos alunos respondeu que conhece o escritor guarapuavano Carlos Saraff.
Quando é questionados o porquê de não ser trabalhado a cultura e a literatura
do nosso espaço, respondem que no Brasil existem os escritores consagrados e os
autores locais não tem prestígio literário. Uma aluna colocou que existe uma contra
cultura nos Pais que não valorizam a leitura e por conseqüente ainda menos a Literatura
literária.
Em contraponto, reflete-se que não há transformação social, se não
entendermos a leitura como mecanismo político de contribuição pessoal e social. Paulo
Freire ao trabalhar com as classes populares esclarecia que a leitura estabelece o
conhecimento dos artifícios que separam o sujeito de suas informações e desta forma
descobrem que palavras podem ser usadas para adicionar idéias. É a analise dos
discursos, mostrando como podem ser manipulativos.
A maioria acha importante conhecer a Literatura paranaense porque os contos e
autores, os poemas, os romances, com certeza incluirão dados do nosso espaço
deixando-os mais próximos da leitura. Os discursos desses autores são significativos,
porque sentem como os próprios sujeitos das narrativas.
Quanto ao conhecer os escritores paranaenses apontam os outros citados nos
livros teóricos e estes são Dalton Trevisan e Helena Kolody. A escola é o local onde se
produz o conhecimento e precisa estar mais aberta à cultura local e ao seu povo.
Jauss enfatiza que os conhecimentos prévios do leitor devem ser sempre
levados em consideração. A relação dialógica entre o leitor e a obra atualiza a obra,
libertando o texto dos mistérios das palavras. Já os leitores a cada nova experiência
ampliam seu campo de percepção, vislumbrando novas perspectivas da realidade.
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Quanto a pratica de leitura em geral os alunos não lêem porque falta
estimulo para que se criem hábitos de leitura. Isto porque em diálogos sobre as questões,
a maioria afirma que a presença de uma pessoa que estimule a ler e que esteja sempre
realimentando esse habito é de uma importância. Em alguns casos a mãe é um
referencial que em grande parte a influência do professor que gera muitos protestos. Só
que no decorrer do tempo essa tarefa começa a fazer parte da realidade de cada um e ao
ouvir citar obras, sujeitos e discursos é comum à procura da pesquisa na biblioteca ou nos
laboratórios de Informática.
2.3.1.Quanto aos gêneros
Preferem os gêneros da modernidade, contos, crônicas, todos os gêneros dos
suportes virtuais como blogs, chats, sites de pesquisa, entretenimento e os programas do
suporte televisão: novelas, programas de humor, filmes, etc.
Os romances são lidos a pedido da professora de Língua Portuguesa o que
consideram um dever da disciplina. Ao receberem a proposta de escolherem um livro para
lerem neste primeiro momento muitos optaram pelos livros mais comentados no momento
na biblioteca: “A Menina que roubava livros” (Marcus Zusak). A aluna K. fala sobre os
discursos da obra em que toda a composição dos elementos verbais e dos silêncios entre
uma informação e outras marcam o perfil de uma garota sofrida, às voltas com os
horrores da guerra. Perde os pais e fica por conta de uma família que a trata sem
afetividade. O primeiro livro que ela roubou, foi um a conduz à libertação da vida cheia de
opressão. Esta ideologia de ter uma vida diferente, um outro conhecimento a leitura lhe
traz. Por isso ela rouba livros; como se não fosse um direito seu viver assim de outra
forma. A aluna J. falou que já leu todos os livros de Paulo Coelho e que, “Verônica decide
morrer” (Paulo Coelho) é interessante. Mas acha que os jovens têm que ter um nível de
seleção ao ler um livro como este. Porque o sujeito central da narrativa é Verônica, uma
garota cheia de conflitos que busca a morte. A leitura transmite agonia e sensação
decisão sobre a morte ao leitor. Já o caçador de Pipas, (Khaled Hossein, 2005) mostra
uma amizade de criança convivendo com as revoluções dos países Árabes. Interessante
a leitura do aluno P. que fala da pobreza e da riqueza relacionada aos dois personagens.
Mas a bela amizade dos dois não convence o leitor de que a desigualdade não interfere
na amizade dos dois... A aluna E. leu “A mulher que escreveu a Bíblia (Moacyr Scliar,
2007)”; decidiu pela leitura deste livro porque a bibliotecária recusa-se a emprestar e
19 explica que o livro é uma contravenção, uma blasfêmia. E completa que ali se vê um
discurso feminista carregado de crítica às religiões que se afirmam na bíblia para
conservar a tradição da castidade e que condensam tudo como pecado. A maioria optou
por contos, reportagens das revistas. Também neste 1º momento orientei para a “Agenda
da Leitura”. Este trabalho consistia em ler todos os dias gêneros variados, copiar o texto
com o objetivo de refletir mais sobre o que leu. Após registrar no caderninho as
impressões deixadas após leitura. Análise de acordo com o que foi discutido em aula
sobre a análise do discurso. Enquanto faziam a 1ª leitura em casa e registravam leituras
na agenda durante 45 dias, em sala de aula discutia-se a importância de se criar hábitos
de leitura. Também foi explicado o método Recepcional e suas etapas, seus objetivos, a
“Análise do Discurso” como uma ciência inovadora, que está em estudos em vários
países do mundo e o conhecimento da “Teoria dos Gêneros Discursivos e dos Gêneros
textuais”. Após quinze dias das primeiras leituras começaram as apresentações do que
leram. É um dos momentos em que se atende ao horizonte de expectativas.
Este momento de apresentação através da oralidade é bastante difícil para os alunos.
Demonstram muita insegurança, têm dificuldades de relacionar dados dos textos, não
procuram ver a conotação do discurso, como ele faz sentido. Há que se começar a
caminhada e seguir até que essa prática torne-se conhecida. Após a prática é importante
registrar dados, pois a partir do que se faz é que se pode avaliar o que foi feito e o que
precisa mudar. Ao utilizar as construções lingüísticas dos textos, observa-se que há todo
um despreparo, e uma resistência em aplicar os conhecimentos de funcionamento da
língua nos diferentes discursos.
Impressões de leitura.
Suporte do texto: Lócus de onde foi retirado o texto - Se for de um livro, ou da internet,
jornais, etc.
- Que vozes falam no texto?
- Para quem essas vozes falam?
- Que ideologia (pontos de vista) estes discursos defendem?
-Como o gênero textual se organiza para dizer? (narração, carta, explicação,
descrição...).
20
-Quando o texto foi escrito e sobre o que fala? (É preciso observar que os dizeres do
texto não são apenas mensagens a serem interpretadas).
-Fale sobre os efeitos de sentido que atingiram você como leitor e o que você registrar
sobre as novas informações que essa leitura trouxe.
- O que você não concorda e o que ela modificou em você ou o que você gostaria de
mudar nesse texto?
- Estabeleça relações dos fatos citados no texto com fatos atuais que nós vivenciamos.
Segundo opiniões da maioria dos alunos, essa leitura foi muito gostosa porque não foi
solicitada pela professora. Todos tiveram o prazer de escolher o que queriam ler e
comentar o que leram.
No entanto com os alunos de Ensino Médio das segundas séries e terceiras do noturno
fez-se a apresentação em Data show. Distribuíram-se contos, poemas, livros de romance
de Domingos Pellegrini, Dalton Trevisan, Cristóvão Taxa, Paulo Leminski, Alice Ruiz,
Estrela Leminski, Miguel Sanches Neto, Adélia Wholner, Greta Benitez, Regina Benitez,
Edival Perrini, etc. Caminhando junto com esse conteúdo da sala de aula, a bibliotecária
interessou-se pelo assunto e montou um mural com as fotos dos escritores paranaenses
e uma prateleira com as obras deles que tem no acervo da biblioteca. Desta forma
contribuiu para que todos os que utilizassem a biblioteca iriam interessar-se pelo mural e
obter esse conhecimento. Também foi feito um mural no saguão do colégio para
conhecimento de todos os alunos e da comunidade escolar que visita a escola. O mural
foi organizado pelos alunos dos segundos anos. Neste espaço registraram os contos de
Dalton Trevisan, Domingos Pellegrini, poemas e Haicais de Alice Ruiz e de Helena
Kolody. A outra professora de Língua Portuguesa, das oitavas e primeiras séries
interessou-se pelo projeto e a partir deste montou uma oficina com os haicais de Helena
Kolody, Paulo Leminski, Alice Ruiz e a descoberta de escritores de haicais novos do
Paraná. No final os alunos produziram haicais. Apoiados no Portal Educacional,
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br, no site www.seec.pr.gov.br, sites dos escritores
paranaenses, blogs institucionais, de amigos e familiares dos autores:
www.miguelsanchesneto.com“; “http//:edivalperrini.com. Br”; “http//:germinaliteratura.com.
Br”; “http//:pauloleminski. hpg. ig.com.br. Obtiveram-se dados importantes para nossa
prática.
21
Ao iniciar o 3º momento: Rompimento do horizonte de expectativas, os alunos travam
contato com a Literatura paranaense: contos de Dalton Trevisan, contos e crônicas de
Domingos Pelegrino Jr., Greta Benitez e Miguel Sanches Neto, poemas de Estrela
Leminski, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Adélia Wholner. Cada dupla ficou responsável por
uma obra. A leitura foi feita em sala de aula em voz alta para valorizar a oralidade. Nossos
alunos em geral apresentam dificuldades na dicção por falta da prática da oralidade.
Fomos até o Laboratório de Informática e eles tiveram uma aula para pesquisar sobre a
Literatura paranaense. O contato com as ferramentas modernas da internet proporciona
rapidez, entusiasmo, resultados imediatos. E essa busca serviu para clarear a questão
dos gêneros discursivos e textuais.
Para Marcuschi (2008) Tipos textuais - Designam uma seqüência definida pela natureza
lingüística de sua composição. São observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações lógicas: Narração, Descrição, Argumentação, Injunção. E exposição. Já
os gêneros textuais São os textos materializados encontrados em nosso cotidiano. Esses
apresentam características sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
composição, conteúdo e canal. Carta pessoal, comercial, bilhete, Diário pessoal, agenda,
anotações, Romance, Resenha, Blog, E-mail ,Bate-papo (Chat), Aula expositiva, virtual ,
Reunião de condomínio, debate, Entrevista, Lista de compras, Piada, Sermão,
Cardápio,Horóscopo, Instruções de uso, Inquérito policial, Telefonema etc.
No início para amostragem de como conhecer melhor a aplicabilidade da análise do
discurso, foi trabalhado um conto de Domingos Pelegrini Jr.: “Os cinco continentes” e fez-
se um trabalho com a análise discursiva dos sujeitos presentes na narrativa, determinou-
se a importância do papel do leitor na relação com a obra, os conhecimentos prévios. E
ficou claro que a leitura literária é para ser apreciada, pela estética, pela reflexão que nos
envolve, pela transformação que ocasiona, mesmo sem ter esse caráter educativo. Mas
como está impregnada de ideologia política e social corrobora na apropriação de novos
discursos que exigem novos comportamentos sociais. Mas entender o objetivo de se
analisar os discursos é mostrar como chegar a obter todos os sentidos que os discursos
dos textos podem assumir dependendo das experiências discursivas do leitor. Merece
atenção um poema de “Alice Ruiz”
Drumundana “E agora Maria”? O amor acabou A “filha casou...”.
22
O discurso intertextual da paródia deu um diferencial ao colocar um eu - feminino com
problemas tão graves tanto quanto o José de Drummond. O título do poema
“Drumundana” traz a ideologia da mulher que vive para a família e quando cada um toma
seu rumo, sente-se ameaçada, perdida, nada resta para ela a não ser consolar-se com
medicamentos. Registraram opiniões sobre as impressões de leitura dos contos, crônicas
e poesias: apresentam as marcas da Contemporaneidade da Literatura paranaense, por
estar voltada para o espaço urbano e social; observaram que conservam o traço da
brevidade aliando-se à rapidez do mundo moderno e às novas tecnologias.
Há um conflito de gerações entre o homem mais velho, marcado pelo ativismo político e
a geração do homem mais novo, esgotado pelas utopias, pela idéia do final do sistema
político. Curitiba é um laboratório para a criação das obras literárias. Nos anos 70 houve
um direcionamento e uma tendência urbanização da literatura. Nossos escritores
participaram deste momento. E Orlandi (2004, p.11) direcionou um olhar interessado para
essa questão e afirma que “a cidade não é só um espaço geográfico, mas a visão de um
mundo enraizada. Ela não sobrevive pelo mito”. A literatura nasce da literatura. Cada obra
nova é uma continuidade por contestação das obras anteriores.
Em contos de Dalton Trevisan como: O Apelo; Com o facão dói; O Senhor meu marido;
Cemitério de Elefantes; Clínica de repouso; A Faca no Coração; Uma vela para Dario;
Noites de Curitiba, enfatizaram o discurso do narrador como um sujeito irônico que vive
no mesmo espaço dos sujeitos que vivem nas vilas, à margem da sociedade na cidade de
Curitiba e que por isso conhece-os tão bem. Faz um paralelo a Dalton Trevisan, a jovem
escritora, Greta Benitez, filha de Regina Benitez também escritora. Greta mostra os
sujeitos urbanos de Curitiba, com todos os problemas de um grande centro, a metrópole,
Curitiba; a memória discursiva de Domingos Pellegrini ao registrar as vozes sociais dos
imigrantes que povoaram o Paraná, em especial Londrina. Em Domingos Pelegrini Jr. O
interesse ficou pelo efeito de sentido da palavra vermelho em sua vida. Considera-se um
pé-vermelho, porque vive na “Terra Vermelha” que é a terra do Norte paranaense. Por
isso escreveu seu primeiro romance “Terra Vermelha”, tem uma página na internet
“http://www.terravermelha.com. Br”. Além do mais diz ter uma ideologia política de pé
vermelho, contestador, politizado, crítico. Esse traço discursivo revelador da cultura do
cidadão paranaense é uma característica de Pellegrini. Em Paulo Leminski a poesia
moderna na forma concretista se faz presente; Alice Ruiz alia-se a Paulo Leminski e
Helena Kolody, para difundir no Paraná o discurso da cultura japonesa com a criação de
23 haicais no estilo abrasileirado. Há que se voltar para Helena Kolody e sua arte literária
determinada pela simplicidade, presença da ternura, olhar voltado às inquietudes, à
natureza de Cruz Machado, sua terra natal, algo que a coloca num diálogo constante com
Mário Quintana e Cecília Meireles. Os comentários sobre as leituras realizadas pelos
alunos sobre os escritores paranaenses e suas obras colocam evidências de um traço
distintivo que se liga à memória discursiva de nossos escritores. É o discurso sobre as
cidades paranaenses, sua gente, sua cultura. Cabe neste espaço a colaboração de Bosi
(2003). “As palavras não vem do nada. Elas vêm carregadas de memória”. As opiniões
contrastavas entre leituras feitas por instrumentos de registros com os alunos,
demonstram que na primeira leitura tudo foi mais fácil. Já na segunda quando houve a
ruptura do horizonte de expectativas exigiu muito dos alunos a análise dos traços
marcantes da Literatura. E foi interessante que pensavam que por ser uma literatura do
nosso espaço seria mais fácil. Assim a compreensão da leitura literária dos escritores
paranaenses segue a mesma linha da literatura em geral, do mundo, da Literatura
portuguesa e brasileira. Entretanto todos foram unânimes ao registrar que a Literatura
paranaense contribuiu bem mais para a formação e informação do que a literatura prazer
do primeiro momento.
- No quarto momento que se dá a ampliação do horizonte de expectativas os alunos
tornaram-se escritores paranaenses e escolheram um gênero diferente para trabalhar.
Algo do qual gostam e que se refere à cultura local. Produziram contos do regionalismo
fantástico, unindo os discursos dos familiares das histórias orais contadas em roda de
conversas, quando se visitam. Alguns se limitam a narrar, porém a maioria preocupou-se
em criar histórias com recursos de linguagem que vão do poético ao humorismo trágico. E
o maior prazer ocorreu na apresentação para a turma. O que se percebe é que o Método
Recepcional valoriza o leitor colocando-o como o núcleo para o qual se volta o trabalho
com a linguagem.
Considerações finais
O desenvolvimento das atividades de leitura mostra que esses jovens leitores não estão
familiarizados com o universo literário paranaense. Com a possibilidade de seguir um
método e escolher qual obra gostariam de ler, os alunos leitores manifestaram vontade de
continuar lendo. O efeito estímulo para eles representou a oportunidade de contar para os
outros a versão que tiveram do seu texto, enquanto receptores de gêneros textuais
24 diversos. O ponto de vista do leitor demonstra uma apropriação de sentidos que
extrapola os limites do texto, A proposta de leitura literária dos diversos gêneros da
Literatura paranaense fez com que os alunos despertassem para as determinadas
situações da ficção transpondo os espaços da criação verbal para o real. Na etapa final
da ampliação do horizonte de expectativas surgiu espontaneamente a vontade de
continuar com essa metodologia e conhecer a literatura regional de outras regiões
brasileiras. É um método de trabalho que valoriza o leitor, interage com a leitura onde as
posições do texto e do leitor se modificam. O leitor descobre que pode assumir posições a
partir do reconhecimento das ideologias dos sujeitos do texto. A Literatura paranaense é
humanizadora, porque provoca reflexões sobre o comportamento social do leitor, dos
sujeitos da obra, a memória discursiva da história paranaense revelada nestes discursos,
dos sujeitos atuais que vivem no espaço Paraná construindo uma identidade cultural
própria da diversidade étnica, o espaço dos diversos gêneros textuais e discursivos que
aqui circulam. E por fim o efeito de sentido revelador do sujeito que o leitor pode vir a ser
após tomar contato com a leitura literária do seu lócus social. Esse trabalho comprovou
que precisamos trabalhar a leitura literária pela valorização do conhecimento de sua
linguagem, pelos efeitos de sentido que mostram traços e marcas da cultura do povo, do
local onde se vive e pelo desenvolvimento da capacidade de entender as situações da
vida e as diversas formas de manifestar alegria, tristeza, saudades, compreensão,
sucesso, relacionamento, amizade, amor.
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