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FRANCISCO JOSÉ DE MORAES MACEDO CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO TUBÉRCULO ARTICULAR DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM EMBRIÕES HUMANOS Tese apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências. São Paulo 1998

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Page 1: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

FRANCISCO JOSÉ DE MORAES MACEDO

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO TUBÉRCULO

ARTICULAR DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM EMBRIÕES

HUMANOS

Tese apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências.

São Paulo 1998

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FRANCISCO JOSÉ DE MORAES MACEDO

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO TUBÉRCULO

ARTICULAR DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM EMBRIÕES

HUMANOS

Tese apresentada ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universi-dade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de concentração: Anatomia Funcional: Estrutura e Ultra-estrutura Orientador: Prof. Dr. Bruno König Júnior Co-orientador: Prof. Dr. Gerson Chadi

São Paulo

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1998

FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo

Macedo, Francisco José de Moraes. Contribuição ao estudo do desenvolvimento do tubérculo articular da articulação temporomandibular em embriões humanos / Francisco José de Moraes Macedo.-- São Paulo, 1998. Tese (Doutorado)--Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Pau-lo. Departamento de Anatomia. Área de concentração: Anatomia funcional : estrutura e ultra-estrutura. Orientador: König Júnior, Bruno.

Descritores:1.Articulação temporomandibular 2.Estereologia 3. Embriões huma-nos 4.Desenvolvimento 5.Músculo pterigóideo lateral 6.Tubérculo articular

ICB/SBIB-036/98

Candidato(a): FRANCISCO JOSÉ DE MORAES MACEDO.

Título da Tese: Contribuição ao estudo do desenvolvimento do tubérculo articular da articulação temporo-mandibular em embriões humanos.

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A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa da Tese de Doutorado, em sessão pública realizada a ........../........../.........., considerou o(a) can-didato(a):

( ) Aprovado(a) ( ) Reprovado(a) 1) Examinador(a) _____________________________________________ 2) Examinador(a) _____________________________________________ 3) Examinador(a) _____________________________________________ 4) Examinador(a) _____________________________________________ 5) Presidente _________________________________________________

Aqueles que não chegaram a nascer, mas que com a sua morte trouxeram luz para um maior en-tendimento da vida....

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“Por exemplo não é prova.” Ditado iídiche.

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À Selma minha esposa e às minhas filhas Juliana e Raquel, todo meu amor e carinho pelo incentivo e paciência demonstrados durante todos estes anos.

Aos meus pais, Mário e Ca-rolina, que não mediram esforços para me

proporcionar uma educação volta-da para os bons valores da vida.

Aos meus irmãos, Mário, Cássia e Luiz, ombros amigos em to-das as

caminhadas.

AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Bruno König Júnior, co-autor deste trabalho, por todo o ca-rinho, paciência, respeito humano e orientação precisa. Ao Prof. Dr. Gerson Chadi, co-autor deste trabalho, pela orientação se-gura e objetiva nas quantificações estereológicas. Ao Programa de Pós-Graduação em Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, na pessoa do atual Coorde-nador e Chefe do Departamento de Anatomia, Prof. Dr. Ii Sei Watanabe.

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Ao Prof. Dr. José Lázaro Barbosa dos Santos, mais que um exemplo pro-fissional, um pai, um incentivador às pesquisas. Ao Prof. Dr. Edy Walter de Sousa pelo incentivo no início da minha car-reira universitária. Ao Prof. Dr. Jackson Cioni Bittencourt, Chefe do Laboratório de Neuro-endocrinologia Básica, pela orientação durante as fotografias junto ao microscópio óptico comum. Ao Professor Doutor Nelson Francisco Anunciato, pelo incentivo ao iní-cio destes trabalhos. À Professora Doutora Heloísa Amélia de Lima Castro, pelo apoio duran-te o exame de seleção para o ingresso à pós-graduação. Aos amigos do Laboratório de Fatores Neurotróficos e Plasticidade Neu-ronal, pelo auxílio nas quantificações estereológicas. À Doutoranda Fonoaudióloga Vânia Canterucci Gomide, pelo compa-nheirismo e apoio durante toda esta jornada. Aos amigos Carla Araújo Carvalho, Giovaldo Serafim Correia e Maria Cristina dos Santos, funcionários da Secretaria do Departamento de Ana-tomia do ICB III da USP, pela pronta colaboração. A todos os funcionários da Biblioteca do Instituto de Ciências Biomédi-cas, em especial Carmelina de Fácio, Elza de Souza, Delza Piruna, Isabel Andrade, Maria do Socorro Rocha Bezerra, Marily Antonelli Gaeber, Priscila Ruano, Rita Ortega e Sílvio Marques, pela colaboração prestada. A todos os funcionários do Laboratório de Anatomia do ICB I, em espe-cial ao Senhor Adevair Urenha Alves pela constante e valiosa ajuda. Aos Diretores e Funcionários do Laboratório de Anatomia Patológica e Citologia de Itu, que muito me ajudaram no preparo das peças anatômi-cas e das lâminas, em especial à Sra. Maria Aparecida Costa Silveira e ao Dr. Alex Tadeu Moraes. Ao Sr. Rogério de Oliveira pelo auxílio nos cortes e preparo das lâminas. Aos companheiros de ensino: Dra. Adriana Tessitore, Dr. Cláudio Ro-

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drigues Azenha, Dr. Eduardo Massatoshi Iwamoto, Dr. Eduardo Sakai, Dra. Elizabeth Sayuri Seo Nakano, Dra. Luciana Vitória Olivier, Dra. Nise Alonso Manicardi e Dr. Waldyr Wanderley Júnior, pela paciência nos meus momentos de ausência. Aos amigos Dr. Antônio Todesco Ferraz, Dr. Guazi Ragueb Chahda, Dra. Francelita Saraiva de Novaes Ribeiro, e Ismael Guarnelli pelo va-lioso auxílio durante toda a confecção destes trabalhos. À Professora e mãe Carolina de Moraes Macedo e à Professora e tia Martha Brand de Moraes pelo auxílio nas correções ortográficas. Às secretárias Dalila Aparecida Giacomello, Isabel Cecília Giacomello e Rosimeire Santos Silva, pela colaboração constante. Ao Senhor José Cação Ribeiro Filho e família, pelo valioso auxílio na digitação e diagramação do presente trabalho. A todos os funcionários do Departamento de Anatomia do ICB III da USP, que com sua amizade estiveram sempre presentes em minha jorna-da.

SUMÁRIO Lista de abreviaturas e Símbolos Resumo Summary 1 Introdução................................................................................. 1 2 Proposição..................................................................................13 3 Material e Métodos...................................................................15 3.1 Mensuração das idades das peças......................................16 3.2 Dissecção............................................................................22 3.3 Inclusão total da peça em parafina....................................31 3.4 Divisão da peça parafinada pela linha sagital mediana...32 3.5 Divisão do conjunto cabeça–pescoço-cíngulo do mem-

bro superior, do restante do corpo.....................................34 3.6 Corte para a obtenção de um paralelismo com a fa-

ce do embrião......................................................................35

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3.7 Seccionamento....................................................................37 3.8 Orientação dos cortes.........................................................38 3.9 Método de coloração das secções......................................39 3.10 Método de leitura e estruturas analisadas.........................39 3.11 Pesquisa sobre a existência de fibras do músculo pteri-

góideo lateral no osso temporal.........................................39 3.12 Análise estereológica da localização e extensão espa-

ciais das estruturas.............................................................40 3.13 Análise estereológica do volume das estruturas com o

auxílio do computador........................................................42 4 Resultados..................................................................................45 4.1 Análise quantitativa da posição espacial das estruturas...46 4.2 Análise estereológica quantitativa do volume das es-

truturas................................................................................63 4.3 Descrição dos achados histológicos dentro de uma

sequência temporal e espacial............................................67 5 Discussão....................................................................................80 6 Conclusões.................................................................................95 7 Anexos........................................................................................98 8 Referências Bibliográficas......................................................101

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS IU intra-uterina ATM articulação temporomandibular CRL comprimento céfalo-caudal, do inglês crown-rump lenght GL maior comprimento, do inglês greatest lenght CM cartilagem mandibular, cartilagem de Meckel OM osso mandibular OT osso temporal OC osso condilar MPL músculo pterigóideo lateral MPM músculo pterigóideo medial MT músculo temporal MM músculo masseter PZ processo zigomático do osso temporal

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AC apófise coronóide do osso mandibular tab. tabela fig. figura µm micrômetro f1 primeira fração A(p) área do ponto ΣP somatória dos pontos n número de peças antômicas

RESUMO MACEDO, F.J.M. Contribuição ao estudo do desenvolvimento do tubérculo articular da articulação temporomandibular em embriões humanos. São Paulo, 1998. Tese (Doutorado) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo. O período compreendido entre a 7a e a 11a semanas de vida intra-uterina, parecem ser críticos para o desenvolvimento de determinadas estruturas da futura articulação temporomandibular. Em nossos trabalhos procura-mos pesquisar os períodos de surgimento da cartilagem mandibular (de Meckel), osso mandibular, osso temporal, osso condilar, e músculo pte-rigóideo lateral. Escolhemos estes cinco componentes estruturais da articulação tempo-romandibular, com o intuito de também pesquisar a formação de uma sexta estrutura que surge do osso temporal – o tubérculo articular. Nosso principal objetivo foi determinar a existência ou não de fibras do músculo pterigóideo lateral inserindo-se no osso temporal, antes de se inserirem no conjunto côndilo-disco-cápsula, nesta etapa de desenvolvi-mento embrionário. Para tanto trabalhamos com 10 embriões humanos com idade entre 5 e 11 semanas de vida intrauterina.

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O estudo foi desenvolvido através de quantificações estereológicas e análises temporais e espaciais, procurando relacionar a influência da a-ção muscular sobre estas estruturas. A análise quantitativa do volume das estruturas estudadas mostrou a grande massa muscular do músculo pterigóideo lateral, quando compa-rado aos volumes dos ossos temporal e condilar, o que nos leva a ter nes-tes dados, um indicativo morfológico da atividade muscular presente na época. Fibras do músculo pterigóideo lateral foram encontradas inseridas no osso temporal em embriões com 10 semanas de vida intrauterina, o que indica a sua provável participação no processo de formação do tubérculo articular do osso temporal.

SUMMARY MACEDO, F.J.M. Contribution to the study of the articular tubercle’s development of the temporomandibular joint in human embryos. São Paulo, 1998. Tesis (Ph.D) – Biomedical Sciences Institute, University of São Paulo. The period between 7th and 11th weeks of intrauterine life, seems to be critical to the development of certain structures of the future temporomandibular joint. In our works we try to research about the periods of the uprising of mandibular cartilage (Meckel’s), mandibular bone, temporal bone, condilar bone and lateral pterigoyd muscle. These five structural components were chosen in the temporomandibular joint, with the aim of including the research of a sixth structure that arises in the temporal bone, the articular tubercle. Our main objective was to determine the existence or not of the lateral pterigoyd muscle’s fibers inserting in the temporal bone, before inserting in the group condile-disc-capsule at this time of embryological development. To achieve our target we worked with 10 human embryos

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with age extending from 5 to 11 weeks of intrauterine life. The study was developed through stereologic quantification and temporal and spacial analysis, trying to relate the muscular action to these structures. The quantitative analysis of the studied structure’s volume showed the great muscular mass of the lateral pterigoyd muscle when compared to the temporal and condilar bone’s volumes, what indicates that period of time we have a morphologic indicative of the muscular activity. Lateral pterigoyd muscle’s fibers were encountered inserting in the temporal bone embryos with 10 weeks of intrauterine life, what indicates its probable participation in the formation process of the articular tubercle of the temporal bone.

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

O estudo da embriologia da articulação temporomandi-bular mostra que esta difere consideravelmente das outras articulações, devido a uma complexa história evolutiva. Enquanto a maioria das juntu-ras sinoviais completa o desenvolvimento da sua cavidade inicial por volta da 7ª semana gestacional, a articulação temporomandibular não aparece antes desta época. Além disso, ela surge de dois blastemas, um temporal e outro condilar, que apresentam direção e potencial de cresci-mento distintos (Richany et al., 1956; Moffett, 1957, 1966; Baume, 1962a; Baume & Holz, 1969; Keith, 1982; Sperber, 1989).

Com o avanço das patologias correlacionadas às dis-funções da articulação temporomandibular, aumentaram também os tra-balhos científicos, tendo essa articulação como enfoque principal. Refe-rem-se em sua maioria, ao disco articular, cápsula articular, conjunto disco-côndilo, mas ao revermos a literatura, pouco ou quase nada encon-tramos sobre o tubérculo articular do osso temporal.

Na quarta semana de vida IU (vida intrauterina), as cé-

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lulas da crista neural migram para a futura região da cabeça e pescoço. Estas células mesenquimais, representadas pelos osteoblastos e condro-blastos, virão a formar as estruturas das futuras regiões facial e cranial (Richany et al., 1956; Kitamura, 1989; Avery, 1992).

Do 1º arco branquial1 surge a cartilagem mandibular (de Meckel)2, bilateralmente. Esta, no seu limite anterior, aproxima-se da região da linha mediana, mas não se funde com a cartilagem oposta.

No seu limite posterior, ela termina num incremento de forma e volume, o martelo, o qual está em íntima relação com uma pe-quena condensação cartilagínea conhecida como bigorna. Mais longe e posteriormente a eles, temos um terceiro pequeno corpo cartilagíneo, o estribo que se origina no 2o arco branquial. Estes três corpos transfor-mam-se em ossos da orelha média (Symons, 1952; Macalister, 1955; --------------------------------------- 1- Na quarta semana de vida IU, as regiões cefálicas de um embrião humano e de um em-brião de peixe são muito semelhantes. Isto explica o uso do adjetivo branquial, do grego branchia, que significa “guelra”. Como o embrião humano não irá desenvolver estas guelras, esses arcos são chamados de arcos faríngeos. O termo recomendado na Nomina Embryologi-ca (Warwick, 1989) é “arco faríngeo”, mas cita “arco branquial” como termo alternativo reconhecido oficialmente. --------------------------------------- 2- Consultando a Nomina Histológica de 1980, verificamos que permaneceu o nome Carti-lagem de Meckel. Esta Nomina foi recomendada pela Comissão de Nomenclatura do II Con-gresso Brasileiro de Biologia Celular. Moffet, 1957, 1966; Gray, 1986; Kitamura, 1989; Avery, 1992; Ashworth, 1990; Cesarani et al., 1991; Moore & Persaud, 1993; Ögütchen-Toller & Juniper, 1993; Rodriguez Vazquez et al., 1992, 1993).

Isto é, portanto, uma boa evidência de que o contato entre o martelo e a bigorna faz as vezes da articulação primitiva da man-díbula nas primeiras semanas de vida IU, até que a segunda articulação temporomandibular, a articulação do côndilo com a fossa temporal, es-teja pronta e torne-se funcional (Symons, 1952; Macalister, 1955; Moffett, 1957, 1966; Jackson, 1993).

Por volta de 6,5 semanas de vida gestacional, temos o primeiro sinal do início da ossificação mandibular, que ocorre por uma condensação mesenquimal, lateral a cada cartilagem mandibular, na fu-tura região dos caninos. Tal condensação expande-se anteroposterior-mente e, na 7a semana IU, forma o corpo da mandíbula, ao redor da carti-lagem mandibular. Esta ossificação dá origem ao canal mandibular que alojará o nervo dental inferior, ponto de partida para a formação do osso alveolar, que abrigará os germes dentais (Macklin, 1914, 1921; Moffett, 1957, 1966).

A ossificação membranosa do corpo mandibular ocorre lateralmente à cartilagem mandibular, tomando um aspecto circular ao

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redor desta e provocando uma gradativa atrofia de suas células cartilagí-neas (Moffet, 1957). Na 16a semana IU, quando o martelo e a bigorna estão se ossificando, o segmento da cartilagem mandibular compreendi-do entre o forame mandibular e a região da futura fossa mandibular do osso temporal, transforma-se no ligamento esfenomandibular. Interna-mente à orelha média, este ligamento recebe o nome de ligamento esfe-nomaleolar (Smeele, 1988; Ashworth, 1990; Cesarani et al., 1991; Ro-driguez Vazquez et al., 1992, 1993).

Na 8a semana IU, a região do futuro ramo mandibular aparece como uma condensação mesenquimal, que apresenta uma pro-gressiva diferenciação de fibras musculares (Spyropoulos, 1977; Burdi & Spyropoulos, 1978). Tais processos de condensação mesenquimal darão origem, bem como forma, aos ramos mandibulares.

Na 10a semana gestacional tanto o osso basal mandibu-lar como seus ramos continuam a aumentar o seu volume, bem como a alterar-se seguidamente, mantendo, porém, a cartilagem mandibular co-mo orientação embriológica (Richany et al., 1956; Moffett, 1957, 1966; Baume, 1962a; Keith, 1982; Gray, 1986; Kitamura, 1989; Sperber, 1989; Avery, 1992).

A forma básica da mandíbula em seu conjunto corpo-ramo-osso condilar, já pode ser vista ao redor da 9a a 10a semanas gesta-cionais, a partir da qual continuará sofrendo modificações gradativas até o período neonatal. Tais modificações continuarão acontecendo durante toda a existência do indivíduo (Moffett, 1957, 1966; Wright & Moffett, 1974).

O blastema condilar surge da cartilagem secundária da mandíbula e irá formar o osso condilar (Moffett, 1957, 1966; Gray, 1986; Kitamura, 1989; Avery, 1992).

Ao redor da 8a semana gestacional, uma condensação mesenquimal aparece ao redor da porção posterior do ramo mandibular primitivo, com um aumento acentuado de células, como uma “acomoda-ção” celular. Esta massa celular se condensa ao redor da 9a a 10a sema-nas gestacionais, formando a cartilagem condilar (Macalister, 1955; Baume 1962a, 1962b).

O osso condilar apresenta-se então com a forma de um cone, cujo ápice é voltado para a extremidade do ramo mandibular, a que se une por volta da 12a semana gestacional. Desta época até a 20a semana de vida IU, esta massa cartilagínea se transforma em tecido ósseo, por ossificação do tipo endocondral, permanecendo a porção condilar supe-rior como tecido cartilagíneo por toda sua existência.

Nesta mesma época, entre 9 e 10 semanas gestacionais, é possível notar-se a presença de fibras musculares próximas ao ramo e região condilar, nas suas porções mediais. Estas fibras musculares dão

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origem ao músculo pterigóideo lateral (Baume, 1962b). O blastema temporal surge da cápsula ótica, compo-

nente da porção basal cranial, e formará o osso temporal (Macklin, 1914, 1921; Avery, 1992).

As porções escamosa e timpânica do osso temporal são formadas por ossificação membranosa, enquanto as porções petrosa e estilóidea desenvolvem-se a partir da ossificação endocondral de algum dos 21 centros de ossificação presentes (Macklin, 1914, 1921; Gray, 1986; Sperber, 1989; Avery, 1992). A porção escamosa é formada por ossificação intramembranosa de um centro de ossificação que surge na 8ª semana gestacional; o arco zigomático se estende a partir deste centro (Macklin, 1914, 1921; Macalister, 1955; Baume, 1962a; Furstman, 1963; Youdelis, 1966a, 1966b; Baume & Holz, 1969; Van der Linden et al., 1987). Já o anel timpânico, que envolve o meato acústico externo, ossifi-ca-se de quatro centros de ossificação diferentes, iniciando-se no 3º mês de vida IU (Gray, 1986; Sperber, 1989).

As maiores alterações da articulação temporomandibu-lar humana ocorrem entre as 7a e 11a semanas de vida gestacionais (Di-ewert, 1983, 1985; Sperber, 1992; Larssen, 1993).

A fossa mandibular é somente uma rasa depressão ao nascimento, aprofundando-se com o desenvolvimento do tubérculo arti-cular (Van der Linden et al., 1987). A ação muscular é necessária para a cavitação articular, já na fase IU (Symons, 1952; Baume, 1962b; Hoo-ker, 1954, 1958; Humprey, 1968, 1971; Spyropoulos, 1977; Burdi & Sp-yropoulos, 1978; Perry et al., 1985; Diewert, 1985; Van der Linden et al., 1987; Sperber, 1989; Sato, 1994).

Perry et al. (1985) sugeriram que a união prematura en-tre o músculo pterigóideo lateral, o blastema condilar e a cartilagem mandibular, que persiste através do desenvolvimento da articulação tem-poromandibular, pode atender à outra função, além de simplesmente re-fletir um passado filogenético em que o martelo era visto como parte da articulação mandibular (Symons 1952). Ainda segundo eles, o músculo pterigóideo lateral executa a função de pivô na histodiferenciação da ar-ticulação temporomandibular, influenciando na formação do disco arti-cular e podendo contribuir, indiretamente, por estimulação mecânica, para a diferenciação endocondral do côndilo e para a formação das cavi-dades articulares inferior e superior.

O músculo pterigóideo lateral parece estar ativo duran-te o processo da cavitação e da formação da cavidade articular, através de trações diferenciadas em suas inserções, representadas pela cabeça condilar e o martelo (Perry et al., 1985).

Youdelis (1966) considerou que a maioria dos investi-gadores dava atenção mais específica aos componentes do blastema con-

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dilar, com pouca ou quase nenhuma ênfase aos componentes do blastema temporal. Para aquele autor, o processo condilar foi o primeiro a apare-cer, desenvolvendo-se em uma direção dorsolateral e superior. O proces-so temporal surge depois, desenvolvendo-se em uma direção anterolate-ral (Youdelis, 1966).

Apesar de os componentes do processo temporal surgi-rem depois dos componentes do processo condilar, igualam-se em ter-mos de velocidade de desenvolvimento, dentro do espaço de tempo compreendido entre a 10ª e 12ª semanas gestacionais (Youdelis, 1966).

Segundo Furstman (1963), ramificações do nervo tri-gêmeo e ramos do nervo auriculotemporal estão presentes nos tecidos moles destas regiões, a partir da 12a semana IU, embora os vasos sangüí-neos já sejam visíveis ao redor da 10a semana gestacional.

Finalmente, ao redor da 18a a 20a semanas gestacio-nais, a única região que ainda apresenta vestígios da cartilagem mandi-bular, é o local da inserção do músculo milo-hióideo ao longo da super-fície medial do corpo mandibular (Richany et al., 1956; Ten Cate, 1980; Perry et al., 1985; Avery, 1987).

Estudando o nível de calcificação da mandíbula e do osso temporal em fetos humanos, com idade variando de 12 a 32 sema-nas, Sato (1994) concluiu que os diferentes estágios destas calcificações estão provavelmente relacionados com as funções musculares.

Deste modo, pudemos verificar que quase nada foi es-crito nestes últimos anos a respeito do desenvolvimento do tubérculo ar-ticular do osso temporal.

Quando do nascimento, o recém nascido está com sua articulação temporomandibular preparada para exercer funções relacio-nadas a esta etapa da vida, que inclui movimentos gerais de abertura e fechamento da mandíbula e de ordenha, que necessitam de translados condilares no sentido póstero-anterior, em que, basicamente, são os mús-culos pterigóideos laterais, os mais ativos (Torres, 1973; Planas, 1993, 1994).

A ausência de dentes na arcada, nesta idade, faz com que as únicas referências físicas que a articulação temporomandibular tem em seu trajeto póstero-anterior, sejam a presença dos tubérculos ar-ticulares dos ossos temporais (Ricketts, 1966). A forma deste tubérculo muda gradativamente, sendo praticamente raso ao nascimento, mostran-do, porém, alterações consideráveis com o desenvolvimento, fato que aumenta a complexidade dos fatores relacionados ao desenvolvimento da articulação temporomandibular (Wright & Moffett, 1974).

A parede posterior deste tubérculo articular é o limite anterior da fossa mandibular. A sua inclinação é de suma importância quando das reabilitações protéticas em Odontologia (Wadsworth, 1925;

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Bennett, 1924; Hanau, 1925; Gysi, 1931; Posselt, 1952; D’Amico, 1958, 1959; Pankey & Mann, 1963; Schuyler, 1963, 1969).

Em uma reconstrução protética, a guia incisiva, assim como os outros fatores determinantes da oclusão, na busca do equilíbrio físico-dinâmico, se interrelacionam com a inclinação da trajetória condi-lar, principalmente na reabilitação dos desdentados totais. Esta trajetória não é uma relação física entre côndilo, disco e tubérculo articular, sendo mais uma relação espacial (Angel, 1948; Ricketts, 1950; Moffett, 1962). Ela depende portanto de uma orientação que é dada pela atividade de um músculo principal, em sintonia com todos os outros músculos envolvidos no equilíbrio dinâmico-funcional da mandíbula (Pankey & Mann, 1963; Schuyler, 1963, 1969).

Assim sendo, quem determinaria a orientação destes movimentos, e quando se iniciaria a atividade muscular que poderia de-finir a morfologia deste tubérculo articular?

A análise do desenvolvimento do tubérculo articular que este trabalho se propôs a fazer, poderá trazer alguma contribuição ao entendimento deste importante fator determinante da oclusão.

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PROPOSIÇÃO

PROPOSIÇÃO

Nossa proposição foi analisar a existência ou não de fi-bras do músculo pterigóideo lateral inserindo-se na região do futuro tu-bérculo articular do osso temporal, na fase anterior à sua inserção no conjunto côndilo-disco-cápsula mandibular.

A análise se completou com a descrição da localização espacial e do volume do músculo pterigóideo lateral, bem como de sua posição relativa entre cinco estruturas topograficamente relacionadas - a cartilagem mandibular, os ossos mandibular, temporal e condilar, e o músculo pterigóideo lateral - através de quantificações estereológicas em secções seriadas e amostradas da região da futura articulação temporo-mandibular de embriões e fetos humanos.

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MATERIAL E MÉTODOS

MATERIAL E MÉTODOS

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Neste trabalho utilizamos 12 peças anatômicas, sendo 11 embriões e um feto humanos, sem distinção de sexo e raça, aparente-mente normais. Os embriões tinham idades aproximadas de 05 a 11 se-manas (figs. 1, 3 e 4) e, o feto, idade aproximada de 19 semanas (fig. 5).

As idades foram determinadas por procedimentos que descreveremos a seguir.

1) Mensuração das idades das peças

A dificuldade de se medir com precisão, o tamanho e, consequentemente, se obter idades embrionárias e/ou fetais precisas, es-timulou o desenvolvimento de técnicas especiais para tal finalidade.

Classicamente utiliza-se o Termo GL (maior compri-

mento do inglês Greatest Lenght) para embriões com menos de 28 dias de vida IU, sendo que para embriões com mais de 29 dias, utiliza-se o termo CRL (comprimento céfalo-caudal do inglês Crown-Rump Lenght). Fig. 1: Comparação entre o tamanho de um embrião com 11 mm CRL com aproximadamente 5 semanas de vida IU e um molar decíduo.

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Tabela com o tamanho e a respectiva idade dos Embriões:

Gestação Idade de fertilização CRL (mm)

1o Mês 20 - 21 dias 1 - 3 somitos 21 - 24 dias 4 - 12 somitos 24 - 26 dias 14 - 20 somitos 26 - 28 dias 26 somitos 28 - 30 dias 30 somitos 28 +/- 1 dia 4.0 - 5.0 mm

2o mês 29 dias 6.0 - 7.0 mm 31 dias 6.5 - 8.5 mm 33 dias 8.0 - 11.0 mm

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35 dias 11.0 - 13.6 mm 37 dias 14.0 - 16.0 mm 39 dias 17.0 - 20.0 mm 41 +/- 1 dia 21.0 - 23.0 mm 45 +/-1 dia 25.0 - 27.0 mm 47 +/- 1 dia 28.0 - 30.0 mm 49 +/- 1 dia 30.0 - 32.5 mm 51 - 53 dias 32.0 - 36.0 mm 54 - 56 dias 36.0 - 47.0 mm

3ºmês 57 - 60 dias 39.0 - 47.0 mm Tab. 1: Idades de fertilização e respectivos tamanhos cefalocaudais (CRL), em mm, de embriões humanos de acordo com o publicado por Streeter (1920, 1948 e 1951).

Fig. 2: Método padrão de mensuração de embriões e fetos.

Tabela com o tamanho e a respectiva idade dos Fetos:

Gestação Idade de fertilização CRL (mm) 2ºmês 8ª semana 32.0 – 40.4 mm 3ºmês 9ª semana 39.0 – 50.0 mm

10ª semana 51.0 – 60.0 mm 11ª semana 61.0 – 74.0 mm 12ª semana 75.0 – 86.0 mm

4ºmês 13ª semana 87.0 – 102 mm 14ª semana 103 – 116 mm 15ª semana 117 – 130 mm 16ª semana 131 – 142 mm

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5ºmês 17ª semana 143 – 152 mm 18ª semana 153 – 164 mm 19ª semana 165 – 174 mm 20ª semana 175 – 186 mm

6ºmês 21ª semana 187 – 196 mm 22ª semana 197 – 206 mm 23ª semana 207 – 216 mm 24ª semana 217 – 218 mm

7ºmês 25ª semana 229 – 236 mm 26ª semana 237 – 248 mm 27ª semana 249 – 256 mm 28ª semana 257 – 266 mm

8ºmês 29ª semana 267 – 274 mm 30ª semana 275 – 284 mm 31ª semana 285 – 290 mm 32ª semana 291 – 302 mm

9ºmês 33ª semana 303 – 312 mm 34ª semana 313 – 320 mm 35ª semana 321 – 330 mm 36ª semana 331 – 340 mm

10ºmês 37ª semana 341 – 350 mm 38ª semana 351 – 362 mm

Tab. 2: Idades de fertilização e respectivos tamanhos cefalocaudais (CRL), em mm, de fetos humanos de acordo com o publicado por Streeter (1920, 1948 e 1951).

As peças anatômicas da amostra não passaram pelo

método de dissecção por serem muito pequenas. Sabe-se que nesta fase de desenvolvimento embrionário, temos mais de 80% de água como vo-lume corpóreo, o que torna difícil prepará-las para os cortes histológicos.

Entretanto, realizamos a dissecção de duas peças com o intuito de nos servir de orientação e gabarito para a área em questão a ser estudada.

Padronizou-se o seguinte:

a) Realizamos as medições das peças menores, medin-do-se o comprimento cefalocaudal, CRL em mm, utilizando-se um pa-químetro da marca STARRET, modelo 125MEA. A peça com mais de 16 semanas, foi medida utilizando-se uma régua, de acordo com o traba-lho de Liberti & Adamo (1985). Nas figuras 4 e 5 podemos ver como tais medidas foram tomadas. Fig. 3: Embrião com 29 mm CRL, idade aproximada de 7 semanas IU.

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Fig. 4: Mensuração de um embrião com 23,5 mm CRL, com 6 semanas IU.

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2) Dissecção

Conforme já citado, realizamos primeiramente a dis-secção de duas das 12 peças, com o intuito de termos um padrão da área com a qual iríamos trabalhar, e para tanto começamos com o feto de 165 mm CRL, com 19 semanas gestacionais (fig. 6 a).

Decidido pelo acesso à articulação temporomandibular esquerda, iniciamos a dissecção. Incisionamos tomando como referên-cias, a linha temporal superiormente, a região pós-auricular posterior-mente, a região da base mandibular, inferiormente, e a região posterior ao globo ocular esquerdo, anteriormente. Removida a pele e o tecido subcutâneo, deparamo-nos com o músculo temporal, a glândula parótida, o músculo masseter e o arco zigomático. Removemos totalmente a glân-dula parótida, o músculo masseter e o músculo temporal, mantendo neste

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último sua inserção profunda, como podemos visualizar na figura 6b.

Fig. 5: Mensuração de um feto medindo 165 mm CRL e com idade de 19 semanas de vida IU.

Em seguida, com o auxílio de uma broca esférica car-

bide no 4, de uso odontológico, acoplada a uma peça de mão de baixa rotação, também de uso odontológico, removemos o arco zigomático em

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toda a sua extensão, incluindo nessa remoção, a parte posterior do osso zigomático para aumentarmos a área de visão. Isto feito deparamo-nos com o processo coronóide da mandíbula, já livre de sua inserção muscu-lar (músculo temporal); realizamos então uma ostectomia em “L” inver-tido, ampla, tendo como limite posterior a região condilar, ao nível da região da futura cápsula articular. Com a remoção do processo coronóide pudemos visualizar a porção profunda do músculo temporal. Esta se-qüência é mostrada na figura 6c.

Removemos a inserção profunda do músculo temporal, quando então pudemos visualizar o músculo pterigóideo lateral. Este a-cesso nos possibilitou ver bem a área de origem do músculo, no processo pterigóideo do osso esfenóide, em toda a sua extensão, bem como já nos foi possível visualizar a sua inserção, na região do conjunto cápsula-disco-côndilo, como nos mostra a figura 6d.

Fizemos então mais duas fotografias da mesma região, porém em ângulos diferentes.

Na figura 6e, pode-se ver o músculo pterigóideo lateral de uma forma mais completa, pois a foto foi tomada com o filme foto-gráfico paralelo ao músculo, não sendo mantido um paralelismo com o plano sagital mediano. Já na fotografia ilustrada na figura 6f, pode-se ver que esta foi tomada com o filme paralelo ao plano sagital mediano.

Comparando-as, podemos verificar que a orientação das fibras do músculo pterigóideo lateral é direcionada de medial para lateral, de inferior para superior e de anterior para posterior, se partirmos da origem em direção à sua inserção.

Isto para nós foi muito importante, pois o músculo pte-rigóideo lateral é o único nesta região dissecada, a apresentar uma orien-tação espacial quase paralela ao plano axial.

Na página seguinte podemos visualizar todos estes pas-sos na figura 6:

Fig. 6: Passos da dissecção do feto de 165 mm, com 19 semanas IU.

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Fig. 6: Passos da dissecção: em a, mensuração do feto; em b, início da dissecção com a remoção das estruturas dos planos superficiais; em c, remoção do arco zigo-mático e

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ostectomia em “L” invertido da mandíbula; em d, remoção da inserção pro-funda do músculo temporal e visualização do músculo pterigóideo lateral em sua origem e inserção; em e e f, duas tomadas fotográficas feitas em ângulos diferentes, com o intuito de mostrar a orientação espacial do músculo pterigóideo lateral em relação aos planos sagital e axial.

Em seguida, iniciamos a segunda dissecção, a do em-brião de 57 mm CRL, com idade de 10 semanas gestacionais. Optamos também pela articulação temporomandibular esquerda, seguindo todos os passos da dissecção anterior.

Na figura 7a, tomamos a medida do embrião para de-terminar sua idade aproximada, o que nos deu mais segurança para saber o que iríamos encontrar durante a dissecção, visto não existir nada na literatura, sobre o assunto. Na figura 7b, vê-se o embrião antes do início da dissecção.

Na figura 7c, pode-se ver a incisão realizada, tendo como limite a linha temporal superiormente, a região pós-auricular pos-teriormente, a região da base mandibular inferiormente e a região poste-rior ao globo ocular esquerdo anteriormente. Removida a pele e o teci-do subcutâneo, deparamo-nos com o músculo temporal, a glândula pa-rótida, o músculo masseter e o arco zigomático. Uma vez exposta a re-gião, com um cotonete secamos a área, pois as estruturas nesta idade não são visíveis como as estruturas da peça anterior, principalmente os músculos que ainda não se apresentam com coloração avermelhada, devido ao pequeno aporte sangüíneo existente neste estágio de desen-volvimento.

Neste caso, o que nos auxiliou na visualização, foi o ato de “secar” as estruturas musculares, que nos permitiu uma melhor avaliação da sua anatomia.

Na figura 7d, já se pode visualizar o arco zigomático e a mandíbula, sem os músculos masseter e temporal. Aqui o processo de dissecção foi feito, removendo os músculos por partes, tendo o cuidado de manter intactas as estruturas ósseas, visto serem elas, a partir deste momento, os nossos únicos pontos de referência.

Este mesmo momento da dissecção foi novamente fo-tografado, figura 7e, porém de um ângulo diferente, para que pudésse-mos ver as estruturas ramo mandibular e osso condilar presentes nesta idade, porém não unidos.

Em seguida, removemos o arco zigomático com o au-xílio de um delicado alicate de cutículas, com o intuito de preservarmos ao máximo, as estruturas abaixo dele localizadas. Aqui neste caso, man-tivemos o processo zigomático do osso temporal intacto, bem como a

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área do processo zigomático do osso malar. Estes cuidados todos, volta-mos a afirmar, foram tomados para evitar que perdêssemos os poucos referenciais anatômicos.

Este foi sem dúvida o momento mais crítico de toda a dissecção: sabíamos que nesta idade gestacional, o osso condilar ainda não está totalmente unido ao osso mandibular, então tivemos o maior cuidado para levantar o corpo mandibular e com uma pinça de microscó-pio eletrônico, removendo o osso condilar (esta segunda dissecção pode-se dizer que foi uma mesodissecção, pois foi toda ela realizada com o auxílio de uma lupa com aumento de 4X). Pode parecer estranho usar-mos o termo “levantar” o corpo mandibular, mas é que nesta idade ges-tacional, a mandíbula na realidade é formada por duas hemimandíbulas, mais precisamente, dois ossos mandibulares, que irão fundir-se na altura da linha mediana, perto do sexto mês, após o nascimento. Distalmente eles se relacionarão com os dois ossos condilares, direito e esquerdo; foi então, que deslocamos para lateral a hemimandíbula esquerda, ou seja, afastamos a sua porção distal utilizando como fulcro a sua porção mesi-al, conforme a figura 7f.

A partir deste momento, tivemos que analisar as estru-turas musculares: topograficamente, de lateral para medial nesta região, encontramos os músculos masseter, já removido, músculo temporal, já removido, músculo pterigóideo lateral, ainda presente na peça, músculo pterigóideo medial, ainda presente e topograficamente abaixo do múscu-lo pterigóideo lateral, e por último, o músculo constrictor superior da faringe, também presente, último plano muscular, antes de chegarmos ao espaço faríngeo.

Sabendo pela revisão da literatura que todos estes mús-culos já estão formados nesta idade gestacional e que é o músculo pteri-góideo lateral, o único a apresentar uma orientação de suas fibras parale-las ao plano axial, tomamos uma agulha de costura e, encostando-a deli-cadamente na face infratemporal da asa maior do osso esfenóide, com uma direção de superior para inferior, sempre escorregando na estrutura óssea citada, delicadamente separamos o músculo pterigóideo lateral dos planos musculares mais profundos, como podemos ver na figura 7g.

É importante salientarmos que o músculo pterigóideo lateral já apresenta sua origem pré-definida, qual seja o processo pteri-góideo e crista infratemporal do osso esfenoide, sendo que a sua inserção neste momento, a nosso ver, se localiza no osso temporal, pois o condi-lar, como dissemos acima, foi removido em um passo anterior, o que veio de encontro a nossas hipóteses e que será discutido posteriormente.

Os aspectos são mostrados na figura 7:

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Fig. 7: Passos da dissecção de um embrião com 57 mm CRL e com 10 semanas de vida IU.

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Fig. 7: Passos da dissecção: em a, mensuração do embrião; em b, peça antes do iní-cio da dissecção; em c, remoção da pele e planos mais superficiais; em d, visualiza-

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ção do arco zigomático e ramo mandibular; em e, mesma visão anterior, porém em um ângulo diferente, mostrando osso mandibular e osso condilar não unidos; em f, remoção do arco zigomático, osso condilar e “levantamento” do corpo mandibular, expondo o sítio do músculo pterigóideo lateral; em g, separação do músculo pteri-góideo lateral dos planos musculares mais profundos, mostrando sua origem na regi-ão do processo pterigoide do osso esfenoide e sua inserção na região temporal, visto termos no passo anterior removido o osso condilar.

Após estas dissecções feitas com o intuito de nos orien-

tar espacialmente, passamos ao seguinte:

3) Inclusão total da peça em parafina

Se seguíssemos o método tradicional de preparo das peças, ou seja, inclusão em xilol, para posterior emblocagem em parafi-na, isto iria diminuir em muito o volume corporal, devido à enorme per-da de água, o que comprometeria em muito nossos trabalhos.

Então, com a finalidade de mantermos um referencial anatômico em termos volumétricos e topográficos, todas as peças, após serem medidas, foram incluídas por inteiro, em parafina (fig. 8).

Este método diminuiu as deformações por retração, muito comum nos processos de desidratação e emblocamento histológi-cos.

4) Divisão da peça parafinada pela linha sagi-tal mediana

Na revisão da literatura classicamente encontramos:

redução da região da cabeça através de cortes inicialmente no plano sagi-tal mediano e, que eram utilizados na obtenção de cortes nos planos fron-tal e horizontal, perpendiculares ao primeiro. Esses planos não se mos-traram adequados ao nosso trabalho, assim estabelecemos um plano de orientação que utilizamos como padrão. No esquema da figura 9 pode-mos ver como são os planos clássicos, sendo que a descrição da nossa metodologia de orientação e seccionamento vem a seguir.

Fig. 8: Embrião após imersão total em parafina.

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Estando agora os embriões com suas estruturas anatô-micas mais preservadas, em termos volumétricos e espaciais, utilizando-nos de uma lâmina de aço aquecida, e tomando por referencial a linha sagital mediana, dividimos as peças em lados direito e esquerdo, como podemos ver na figura 10.

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Fig. 9: Padrão clássico dos planos de corte.

5) Separação do conjunto cabeça-pescoço-cíngulo do membro superior3, do restante do corpo

Em seguida separamos o conjunto cabeça-pescoço-cíngulo do membro superior do restante do corpo, com o intuito de dimi- ------------------------------- 3- Consultando a Nomina Anatômica de 1984, verificamos que o nome cintura es-capular passou a ser chamado de cíngulo do membro superior.

Fig. 10: Embrião dividido sagitalmente.

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nuir o volume de emblocagem em parafina; no entanto, tivemos o cuida-do de preservar o cíngulo do membro superior como mais um referencial anatômico, como podemos ver na figura 11.

6) Corte para a obtenção de um paralelismo

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com a face do embrião

A hemiface direita do embrião recebeu, antes de ser emblocada na parafina para os cortes histológicos, mais um corte, agora paralelo a uma linha imaginária paralela à tangente da face do embrião, conforme a foto da figura 12.

Fig. 11: Separação do conjunto cabeça-pescoço-cíngulo do membro superior, do restante do corpo.

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Com isto criamos um plano frontal perpendicular a um

suposto plano oclusal, muito diferente dos planos frontais perpendicula-res ao sagital mediano, encontrados nos cortes clássicos.

O posicionamento da peça direita no bloco de parafina, sempre colocada com a face occipital voltada para baixo, nos deu um plano que permitiu obter secções perpendiculares ao “plano oclusal”, importante ponto de referência na análise do músculo pterigóideo lateral.

Obviamente a hemiface esquerda, preparada para cor-tes parassagitais, foi emblocada com a sua face medial, paralela ao plano de corte.

Fig. 12: Lado direito com corte paralelo a uma linha imaginária passando pela face do embrião.

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Colocamos a foto da figura 13, que mostra lado a lado,

os dois planos de colocação das peças para os cortes.

7) Seccionamento

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Após o emblocamento da peça em parafina, os cortes com 5 µm de espessura foram feitos, amostrando rigorosa e sistematica-mente um a cada cinco cortes.

Fig. 13: Posição de inclusão das peças na parafina.

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8) Orientação dos Cortes

A orientação destes cortes pode ser vista a seguir, no esquema da figura 14: lado direito com cortes parafrontais, de posterior para anterior, respeitando uma linha imaginária paralela a face do em-brião; lado esquerdo com cortes parassagitais, de medial para lateral, pa-ralelos ao plano sagital mediano.

Fig. 14: Padrão da seqüência de cortes.

9) Método de coloração das secções

Foi feita a coloração pelo método hematoxilina-eosina. Com ele conseguimos ter os núcleos celulares e outras estruturas de na-tureza ácida, corados em azul pela hematoxilina, em contraste com es-truturas de caráter básico, como o citoplasma e o colágeno corados em diversas tonalidades de vermelho pela eosina, para posterior análise qua-litativa e quantitativa em microscópio de luz.

10) Método de leitura e estruturas analisadas

A leitura das lâminas foi feita por ordem cronológica

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crescente da idade da amostra, verificando a presença das seguintes es-truturas: cartilagem mandibular, osso temporal, osso mandibular, osso condilar e logicamente o músculo pterigóideo lateral.

11) Pesquisa sobre a existência de fibras do músculo pterigóideo lateral no osso temporal

Foi analisada a existência ou não de fibras do músculo pterigóideo lateral, inserindo-se na região do osso temporal, mais preci-samente na região do futuro tubérculo articular.

12) Análise estereológica da localização e ex-

tensão espaciais das estruturas Orientamo-nos do seguinte modo: durante a análise dos

cortes histológicos, fomos realizando a marcação de todas as estruturas encontradas em nossa leitura, numa planilha quadriculada apropriada, tomando o cuidado de sempre ter a cartilagem mandibular como referen-cial inicial. Como podemos ver na figura 15, realizamos as medições das estruturas encontradas e através dos quadriculados da planilha, estima-mos o comprimento destas, pois sabíamos serem os cortes de uma espes-sura de 5 µm, e que entre os cortes aproveitados, foram desprezados 5 deles, o que nos deu uma distância entre os cortes amostrados de 30 µm.

Avaliamos a distância entre o aparecimento do osso temporal em relação ao aparecimento da cartilagem mandibular, assim fazendo com todas as outras estruturas, e lançando os resultados na pla-nilha.

Uma vez feitas todas as marcações, transferimos os re-sultados para gráficos onde as abscissas representaram as peças anatômi-cas individuais ou por grupamentos, enquanto que as ordenadas repre-sentaram a distância entre os locais de aparecimento das estruturas, to-mando-se como referência e ponto zero, o local do surgimento da carti-lagem mandibular. Os resultados obtidos foram apresentados em µm x 6. Fig. 15: Esquema mostrando como os cortes foram lidos e colocados em uma planilha.

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Finalmente, avaliamos a presença simultânea das estru-

turas nos cortes, a que chamamos de Intersecção das Estruturas, com o intuito de se analisar a interrelação espacial delas. As intersecções tam-bém foram avaliadas na amostragem individual, por peças anatômicas e por grupamentos.

13) Análise estereológica do volume das es-truturas com o auxílio do computador

A análise estereológica foi feita com o intuito de se de-terminar o volume dos ossos condilar e temporal e do músculo pterigói-deo lateral, bem como o de uma amostra definida da cartilagem mandi-bular.

O volume total das estruturas estudadas foi obtido se-gundo o princípio de Cavalieri, através da somatória das áreas de secção transversal das mesmas, multiplicada pela distância entre elas. Toda a

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extensão das estruturas a serem medidas, e uma amostra definida da car-tilagem mandibular foi sistematicamente amostrada a cada cinco secções (f1=5). As secções foram analisadas usando o sistema CAST (Computer Assisted Stereological Toolbox) do Laboratório de Fatores Neurotróficos e Plasticidade Neuronal do Departamento de Anatomia do ICB/USP.

Um microscópio Olympus BX50 (Olympus, Dinamar-ca) foi acoplado a um computador (IBM 330-P75) e uma vídeo-câmera colorida (JAL 2040, Protec, Japão), ambos acoplados a um monitor colo-rido de alta resolução (G 70, IBM).

Um programa chamado GRID (Interactvision, Silke-borg, Dinamarca) foi utilizado para gerar molduras de contagens sobre-postas à imagem captada pelo microscópio no monitor, bem como con-trolar a mesa motorizada do microscópio que se desloca nos eixos X e Y (Lang, Alemanha). A quantificação foi realizada sob uma objetiva de 4x.

Uma moldura com pontos regularmente dispostos, com área por ponto definida, era sobreposta às áreas das imagens de secções transversais projetadas no monitor (fig. 16).

A área do ponto da moldura aplicada foi rigorosamente mantida constante em A(p) = 4300,38 µm2. Os pontos que tocavam as secções transversais das estruturas eram contados (ΣP estrutura) (Gun-dersen et al., 1988; West & Gundersen, 1990; West et al., 1991; Janson & M∅ller, 1993).

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Fig. 16: Moldura com pontos regularmente dispostos, com área por ponto definida, sobreposta sobre as áreas de secções transversais das estruturas a serem quantificadas.

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RESULTADOS

RESULTADOS

1) Análise quantitativa da posição espacial das estruturas

Analisados os cortes histológicos, pudemos observar a

presença das estruturas que compõem a articulação temporomandibular nas primeiras semanas de vida IU, porém ainda em formação, diferente-mente da maioria das articulações sinoviais, que ao redor da 7

a semana

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gestacional já completaram o desenvolvimento da sua cavidade inicial. Primeiramente foi realizada a leitura das lâminas com cortes parafrontais; para melhor entendimento dos resultados, dividimos as dez peças em 3 grupamentos a saber: Grupamento A: 3 embriões com idade aproximada entre 5 e 6 semanas gestacionais; Grupamento B: 4 embriões com idade aproximada entre 6 e 9 semanas gestacionais; Grupamento C: 3 embriões com idade aproximada entre 9 e 11 semanas gestacionais. Optamos por analisar as seguintes estruturas nos cor-tes histológicos:

Cartilagem mandibular: estrutura bastante visível, que é passível de ser vista desde a região retroauricular, estendendo-se até a região da sínfise mental embrionária.

Osso temporal: limite ósseo superior da futura fossa mandibular - é uma estrutura que já deverá estar presente a partir da 7

a

semana gestacional, tendo porém sua forma e tamanho bastante alterados com a idade.

Osso condilar: limite ósseo inferior da fossa mandi-bular - é uma estrutura que surge ao redor da 8

a semana, cujo volume vai

aumentando, e cuja forma vai alterando com o passar da idade. Músculo pterigóideo lateral: estrutura já presente ao

redor da 5a semana gestacional, que é o objetivo principal da análise des-

te trabalho. Osso mandibular: estrutura óssea distante da região

da articulação temporomandibular - foi a que confirmou os dados de ida-de da amostra, e a localização espacial das estruturas nos cortes. O aparecimento das estruturas estudadas nos cortes frontais e parassagitais dos 3 grupamentos é apresentado na tabela 03:

Peça Analisada

C.M. O. T.

O. C.

M.P.L. O. .M.

Embrião A1 - - - - - Embrião A2 + - - - + Embrião A3 + - - - + Embrião B1 + - - - + Embrião B2 + - - - + Embrião B3 + + + + + Embrião B4 + + + + + Embrião C1 + + + + +

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Embrião C2 + + + + + Embrião C3 + + + + +

Tab. 3: Presença ou ausência da cartilagem mandibular (C.M.), osso temporal (O.T.), osso condilar (O.C.), músculo pterigóideo lateral (M.P.L.) e osso mandibular (O.M.), nos embriões dos grupamen-tos A, B e C.

Constatamos a presença da cartilagem mandibular e do osso mandibular em 66% dos embriões do grupamento A e em todos os embriões dos grupamentos B e C. Os ossos temporal e condilar e o músculo pterigóideo lateral apareceram a partir do embrião B3 (8

a sema-

na gestacional), tendo sido visualizados nas secções de todos os embri-ões do grupamento C.

A análise individual por embrião das distâncias entre o local de surgimento das estruturas em relação à cartilagem mandibular, foi transferida para o gráfico da figura 17.

Nele pudemos observar a presença de 2 picos de cres-cimento entre a distância do surgimento do osso mandibular em relação ao surgimento da cartilagem mandibular, sendo o primeiro entre os em-briões A2 e B1, e o segundo entre os embriões B4 e C3.

A distância do surgimento do músculo pterigóideo la-teral em relação ao surgimento da cartilagem mandibular foi de 240 µm na peça B3, apresentando uma redução de 12,5% na peça C3. A distância entre o surgimento do osso condilar em relação à cartilagem mandibular foi de 120 µm no embrião B3, aumentando progressivamente com a ida-de das peças, chegando a estar 75% maiores no embrião C3 (fig. 17).

A distância entre o surgimento do osso temporal em relação à cartilagem mandibular aumentou paulatinamente do embrião B3 à C1, entretanto, aumentos substanciais foram observados nos embri-ões C2 e C3, sendo, respectivamente, 100% e 110% em relação a C1 (fig. 17).

Na figura 18, representando a distância entre o surgi-mento da cartilagem mandibular e as demais estruturas, agora numa a-mostragem por grupamento, vimos que, à medida que o embrião vai se desenvolvendo, também as distâncias entre as estruturas vão aumentan-do.

No grupamento A pudemos avaliar somente a distância entre a cartilagem mandibular e o osso mandibular, visto não existirem

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ainda as demais estruturas (fig. 18). Já nos grupamentos B e C, mais de-senvolvidos, foi-nos possível medi-las, quando então pudemos notar que foram aumentando com o progredir da idade dos embriões (fig. 18). Fig. 17: Gráfico mostrando a distância entre a cartilagem mandibular e as demais estruturas (OT: osso temporal; OC: osso condilar; MPL: músculo pterigóideo lateral; OM: osso mandibular).

Na análise da distância entre o surgimento do osso

mandibular em relação à cartilagem mandibular, pudemos verificar que os grupamentos B e C tiveram um aumento de 97% e 106% respectiva-mente, em relação ao grupamento A.

Na figura 19, descrevemos que a distância entre o os-

so temporal e as demais estruturas somente pôde ser medida, a partir do embrião B3, dada a inexistência destas. Ao analisarmos a distância entre o osso temporal e o osso mandibular, pudemos ver que ela sofreu um decréscimo de 8%, quando comparamos B3 e C3. Fig. 18: Gráfico mostrando a distância entre a cartilagem mandibular e as outras estruturas analisadas (por grupamento).

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Avaliando a distância entre o surgimento do osso

temporal e o músculo pterigóideo lateral, verificamos que a mesma foi de 240 µm, caindo para 120 µm no embrião B4, subindo para 180 µm no embrião C1 e não havendo distância nos embriões C2 e C3 (fig. 19).

Por último, analisando a distância entre os surgimen-tos do osso temporal e do osso condilar notamos que esta distância foi decrescendo, saindo de 120 µm no embrião B3, caindo para 90 µm e as-sim, mantendo-se nos embriões B4 e C1, quando então passou a inexistir nos embriões C2 e C3 (fig. 19). Fig. 19: Gráfico mostrando a distância entre o osso temporal e as demais estruturas analisadas (por embrião).

Page 60: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Passamos então a avaliar esta mesma distância, entre a

posição do surgimento do osso temporal e aquela das demais estrutu-ras, agora por grupamentos. Verificamos que o grupamento A não pôde ser quantificado pelo fato de que as peças A1, A2 e A3, não apresenta-vam osso temporal (fig. 20).

No grupamento B verificamos que a distância entre o osso temporal e as demais estruturas foi aumentando gradativamente (fig. 20).

No grupamento C, a distância entre o osso temporal e

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o osso condilar diminuiu 43%, em relação à mesma distância no grupa-mento B; a distância entre o osso temporal e o músculo pterigóideo late-ral também sofreu uma diminuição, se comparada com a mesma distân-cia no grupamento B, só que agora esta diminuição foi de 33% (fig. 20).

Finalmente, ao analisarmos a distância entre o osso temporal e o osso mandibular, pudemos ver que ocorreu um acréscimo de 82%, um aumento considerável desta distância, quando comparamos os grupamentos B e C (fig. 20).

Na seqüência, avaliamos a distância entre o osso con-dilar e as demais estruturas, e pelo mesmo motivo citado anteriormente, só pudemos fazê-lo a partir do embrião B3 por razões óbvias: inexistên-cia de osso condilar nos embriões A1, A2, A3, B1 e B2 (fig. 21).

Constatamos então que a distância entre os ossos condilar e mandibular foi de 240 µm no embrião B3, sofrendo uma di-minuição da ordem de 50% em B4, assim se mantendo nos embriões C1 e C3, sendo que no embrião C2, este decréscimo foi um pouco menor, na ordem de 37%. Fig. 20: Gráfico mostrando a distância entre o osso temporal e as demais estruturas analisadas (por grupa-mento).

Page 62: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

A distância do surgimento do osso condilar em rela-ção ao surgimento do músculo pterigóideo lateral mostrou-nos o seguin-te: no embrião B3 a distância calculada foi de 120 µm, a qual decresceu em 75% no embrião B4, voltando a aumentar no embrião C1 (90 µm, 25% menor em relação à B3), quando então caiu para zero nos embriões C2 e C3 (fig. 21).

Analisando-se agora a distância entre o osso condilar e as demais estruturas por grupamento, pode-se verificar que no grupa-mento B, a distância entre o osso condilar e o músculo pterigóideo lateral foi ligeiramente maior que no grupamento C (37,5 µm e 30 µm, respec-tivamente), enquanto a distância entre o osso condilar e o osso mandibu-lar foi menor no grupamento B (90 µm) em relação ao grupamento C (130 µm), como se vê no gráfico da figura 22: Fig. 21: Gráfico mostrando a distância entre o osso condilar e as demais estruturas analisadas (por embrião).

Page 63: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Finalmente partimos para a análise da distância entre

os surgimentos do músculo pterigóideo lateral e do osso mandibular (fig. 23). Fig. 22: Gráfico mostrando a distância entre o osso condilar e as demais estruturas analisadas (por grupa- mento).

Na peça B3 tivemos uma distância de 120 µm, que

decresceu 25% no embrião B4 (90 µm), atingindo o seu menor valor no embrião C1 (30 µm), aumentando seu pico no embrião C2 (150 µm), e, voltando a cair no embrião C3 (120 µm), a mesma distância encontrada no embrião B3 (fig. 23).

Page 64: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Já a análise da distância entre o músculo pterigóideo lateral e o osso mandibular, por grupamento, mostrou-nos um padrão de crescimento pois esta distância foi aumentando, de acordo com o grau do desenvolvimento. Fig. 23: Gráfico mostrando a distância entre o músculo pterigóideo lateral e o osso mandibular (por em-brião).

Page 65: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Nada pudemos obter do grupamento A, pelo fato de

não termos nesta fase embrionária o músculo pterigóideo lateral. Já o grupamento B apresentou uma distância de 52,5 µm ao passo que esta mesma distância foi de 100 µm no grupamento C, um aumento significa-tivo de 91% (fig.24).

Fig. 24: Distância entre o músculo pterigóideo lateral e o osso mandibular (por grupamento).

Page 66: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Passamos então a analisar as posições de intersecções entre as es-

truturas estudadas, primeiro através de uma avaliação individual, peça por peça, e depois por grupamento.

Analisamos três possibilidades de regiões de intersec-

ção: osso temporal - osso condilar, osso temporal – músculo pterigói-deo lateral, e osso condilar – músculo pterigóideo lateral, ou seja, com isto pretendemos avaliar por quanto tempo estas estruturas caminha-ram juntas nos cortes.

De acordo com o gráfico da figura 25, pudemos ver que analisando primeiramente a intersecção osso temporal - osso condi-lar, encontramos o seguinte: no embrião B3 elas estiveram presentes nos cortes por uma distância de 240 µm, diminuindo esta distância em 25% (180 µm) nos embriões B4 e C1, voltando a aumentar nos embriões C2 (270 µm) e C3 (300 µm).

Analisando a região de intersecção osso temporal - músculo pterigóideo lateral constatamos: em B3 esta distância foi de 120 µm, que quadruplicou, passando a 480 µm em B4 e C1, diminuindo para 240 µm em C2, e aumentando um pouco em C3, sendo o valor de 300 µm, 150% maior que aquele de B3.

Por último, na região de intersecção osso condilar -

músculo pterigóideo lateral, encontramos uma distância em B3 de 180µm, que também aumentou em B4 e C1 (480 µm), diminuiu em C2 (240 µm), voltando a aumentar em C3 (300µm), valor 67% maior em

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relação à B3 (fig. 25).

Fig. 25: Gráfico mostrando a intersecção entre as estruturas analisadas (por embrião).

Page 68: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Por último, analisando as medidas de regiões de in-

tersecções por grupamento, verificamos que só puderam ser avaliadas nos grupamentos B e C, pois no grupamento A nem todas as estruturas estiveram presentes (fig. 26).

A distância de intersecção das estruturas osso tem-poral - osso condilar no grupamento B foi de 105 µm, sendo 138% maior no grupamento C (250µm).

A distância de intersecção do osso temporal com o músculo pterigóideo lateral foi de 150 µm, aumentando em 113% no grupamento C (320 µm) (fig. 26).

Finalmente, a distância de intersecção do osso con-dilar e o músculo pterigóideo lateral aumentou 94% do grupamento B para o C, passando de 165 µm no grupamento B para 320 µm no grupa-mento C (fig. 26).

Feita a análise espacial quantitativa da posição destas estruturas nas secções, passamos então a quantificar o volume das estru-turas estudadas.

Fig. 26: Gráfico mostrando a intersecção entre as estruturas analisadas (por grupamento).

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2) Análise estereológica quantitativa do vo-

lume das estruturas A análise estereológica quantitativa mostrou-nos que a

média e o desvio padrão da média do volume da cartilagem mandibular (por volume amostrado) foram de 6 x 10

7 ± 1 x 10

7 µm

3 (fig. 27).

Fig. 27: Figura mostra o volume da cartilagem mandibular, por volume amostrado, de embriões entre 45 a 58 mm CRL. A área de secção frontal da cartilagem mandibular foi obtida através do método estereológico utilizando-se uma moldura de pontos com área definida sobreposta às imagens da secção projetadas em um monitor. O volume da cartilagem foi então calculado pelo princípio de Cavalieri. Média +/- erro padrão. n=3.

Page 70: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

A mesma análise feita para se quantificar o volume do os-so temporal nos deu uma média e um desvio padrão da média de 8 x 10

6 ± 1 x 10

6 µm

3 (fig. 28).

Fig. 28: Figura mostra o volume do osso temporal de embriões entre 45 a 58 mm CRL. A área de secção frontal do osso temporal foi obtida através do método estereológico utilizando-se uma moldura de pontos com área definida sobreposta às imagens da secção projetadas em um monitor. O volume do osso foi então calculado pelo princípio de Cavalieri. Média +/- erro padrão. n=3.

Page 71: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Já quando analisamos e quantificamos o volume do osso

condilar encontramos os seguintes valores: 3 x 107 ± 5x10

6 µm

3 (fig. 29).

Fig. 29: Figura mostra o volume do osso condilar de embriões entre 45 a 58 mm CRL. A área de secção frontal do osso condilar foi obtida através do método estereológico utilizando-se uma moldura de pontos com área definida sobrepostas às imagens da secção projetadas em um monitor. O volume do osso foi então calculado pelo princípio de Cavalieri. Média +/- erro padrão. n=3.

Page 72: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Por último, ao realizarmos a análise estereológica quanti-

tativa do volume do músculo pterigóideo lateral nos embriões do gru-pamento C, encontramos uma média e um desvio padrão da média de 8 x 10

7 ± 7 x 10

6 µm

3 (fig. 30).

Fig. 30: Figura mostra o volume do músculo pterigóideo lateral de embriões entre 45 a 58 mm CRL. A área de secção frontal do músculo pterigóideo lateral foi obtida através do método estereológico utilizando-se uma moldura de pontos com área definida sobrepostas às imagens da secção projetadas em um monitor. O volume do músculo pterigóideo lateral foi então calculado pelo princípio de Cavalieri. Média +/- erro padrão. n=3.

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3) Descrição dos achados histológicos dentro

de uma seqüência temporal e espacial De todas as estruturas analisadas, a cartilagem mandi-

bular foi por nós eleita como estrutura referencial, por vários motivos. Quando analisamos as lâminas, fizemo-lo em ordem cronológica cres-cente, sendo que o primeiro corte, onde visualizamos a cartilagem man-dibular, foi considerado o marco zero dentro de cada grupamento.

Este foi padronizado como sendo o corte em que vi-mos a cartilagem formando-se lateralmente a uma estrutura, que sabía-mos ser o início da formação da cóclea, na região da orelha interna; foi para nós um bom referencial, visto que a esta altura, a cartilagem mandi-bular se torna única, ou seja, a sua porção distal, mais precisamente os centros de ossificação dos ossículos da orelha média, martelo e bigorna, já não são mais visíveis. Neste momento iniciamos nossa marcação.

O descrito acima pode ser visualizado na figura 31, da página seguinte:

Page 74: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

A cartilagem mandibular, posteroanteriormente vinha se posicio-

nando de lateral para medial, sendo que a uma determinada altura dos cortes, já nos foi possível visualizar, lateralmente a sua estrutura, uma condensação que foi se transformando em osso, correspondente à região do corpo mandibular (fig. 32). Fig. 31: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM) e cóclea (CC) de um embrião com 6 semanas de vida IU (aumento de 40X).

Page 75: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Estas, cartilagem mandibular e osso mandibular, são as

duas estruturas que, como descrevemos anteriormente, foram visuali-zadas em nove das dez peças preparadas.

Na peça A1, encontramos um tecido mesenquimal in-diferenciado, na região da futura formação da articulação temporoman-dibular, que em determinados sítios mostrava um processo agrupamento celular.

Apesar de os cortes histológicos terem sido feitos até a região da futura sínfise mental, a análise foi feita até onde as fibras do músculo pterigóideo lateral foram visíveis, ou seja, assim que nos con-frontamos com áreas de ossificação do processo pterigóideo do osso es-fenoide, área que sabíamos ser local da origem deste músculo, paramos nossas análises.

O osso mandibular foi visto como nos mostra o corte histológico da figura 32:

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À medida que fomos avaliando os cortes em ordem

cronológica crescente, pudemos visualizar a partir do grupamento B, mais precisamente na peça B3, uma condensação mesenquimal forman-do-se lateralmente à cartilagem mandibular, que conforme dissemos, à medida que progrediam os cortes para anterior, foram se transformando em tecido ósseo, surgindo então o osso temporal. Fig. 32: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM) e osso mandibular (OM) em um embrião com 6 semanas de vida IU (aumento de 40X).

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Ela se apresentou com uma forma achatada, mais lon-

ga lateromedialmente do que superoinferiormente, sendo que na seqüên-cia da leitura dos cortes, o número de células osteoblásticas foi aumen-tando para lateral, o que constatamos ser o processo zigomático do osso temporal, em formação naquela época (fig. 33). Fig. 33: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM), osso tempo-ral (OT), processo zigomático do osso temporal (PZ), em um embrião com 8 a 9 semanas de vida IU (aumento de 80 x).

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Page 79: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Seguimos uma seqüência muito pequena de cortes e

logo nos deparamos com uma nova estrutura, que iniciou sua formação logo abaixo da condensação óssea do osso temporal: o osso condilar.

Este surgiu primeiro como uma condensação seme-lhante àquela descrita para o osso temporal, porém logo nos foi possível ver que se tratava de um tecido cartilagíneo, responsável pela formação do osso condilar; de forma semelhante a um cone, com a base voltada para cima e para lateral, e com uma discreta inclinação de seu ápice pa-ra medial (fig. 34).

O osso condilar se localizou sempre acima e mais pa-ra lateral, em relação à cartilagem mandibular. Até este momento, em todos os cortes em que encontramos o osso temporal e o osso condilar, ainda não havia sinais do osso mandibular.

Isto pode ser visto na figura 34:

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Na seqüência dos cortes seriados, pudemos ver que o

osso condilar ia pouco a pouco apresentando uma forma mais definida, enquanto o osso temporal ia “desaparecendo”, quando então, foi-nos possível distinguir uma condensação mesenquimal que se localizava na altura do polo medial do côndilo. Fig. 34: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM), osso temporal (OT) e osso condilar (OC) em um embrião com 8 a 9 semanas de vida IU (aumento de 80X).

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Page 82: Contribuição ao Estudo do Desenvolvimento do Tubérculo Articular do Osso Temporal em Embriões Humanos

Esta apresentou-se com um aspecto diferente de todas

as condensações encontradas. Este foi o primeiro sinal do músculo pteri-góideo lateral, aparecendo na análise dos cortes seriados.

Este surgiu como uma estrutura formada por fibras

musculares de forma arredondada, cuja área de secção foi aumentando e adquirindo uma forma elíptica com o seu longo eixo no sentido superoin-ferior, e estas secções foram descendo, dirigindo-se para medial, e desa-parecendo, à medida que surgiam as condensações mesenquimais do processo pterigóide do osso esfenoide, estruturas ósseas próximas a sua área de origem (fig. 35).

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Descrevemos em linhas gerais o que visualizamos em relação ao músculo pterigóideo lateral, mas logo após seu aparecimento nos cortes, entre ele e o côndilo, mais precisamente entre ele e o colo do côndilo começou a ser visto nos cortes, o osso mandibular. Isto tudo ten-do medialmente a companhia da cartilagem mandibular (fig. 36). Fig. 35: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM), osso condilar (OC), processo zigomático do osso temporal (PZ) e músculo pterigóideo late-ral (MPL), em um embrião com 8 a 9 semanas de vida IU (aumento de 80X).

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Quase ao mesmo tempo em que surgiu o osso mandi-

bular, o osso condilar não pôde mais ser visto, ficando visível somente uma estrutura óssea de área de secção circular, na altura do osso tempo-ral - o arco zigomático - que já apresentava a esta altura dos cortes, fibras do músculo masseter. Também nesta altura dos cortes, nos foi possível visualizar fibras do músculo temporal inserindo-se na região da apófise coronóide mandibular (fig. 36).

Enquanto as secções do músculo pterigóideo la-teral foram descendo e dirigindo-se para medial, em direção à sua futura área de origem, o osso mandibular foi sofrendo uma série de alterações, passando de uma forma longilínea no sentido superoinferior, para uma forma que poderíamos chamar de côncava, com a sua face interna volta-da para a cartilagem mandibular (fig. 36).

Nesta altura dos cortes, também nos foi possí-vel visualizar fibras do músculo pterigóideo medial. Continuando a se-

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qüência de cortes, enquanto o osso mandibular foi tendo a sua área de secção aumentada, a cartilagem mandibular foi tendo a sua área de sec-ção diminuída.

Quando a estrutura do osso mandibular come-çou a manter constante a sua área, e a cartilagem mandibular teve a sua área de secção aumentada, isto nos sinalizou estarmos próximos à região da sínfise mental, limite dos nossos cortes, pelo menos no que nos inte-ressava (fig. 36). Fig. 36: Corte histológico mostrando as estruturas cartilagem mandibular (CM), processo zigomá-tico do osso temporal (PZ), osso mandibular (OM), apófise coronóide do osso mandibular (AC), músculo temporal (MT), músculo masseter (MM), músculo pterigóideo lateral (MPL) e músculo pterigóideo medial (MPM) em um embrião com 8 a 9 semanas de vida IU (aumento de 40X).

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Outras estruturas foram visualizadas durante toda a

análise dos cortes, formando-se de grupamentos celulares e organizan-do-se a partir do mesênquima, porém, como escrevemos anteriormente, nosso propósito foi somente analisar a cartilagem mandibular, osso man-dibular, osso temporal, osso condilar e o músculo pterigóideo lateral.

Passamos então a descrever o que encontramos nos cortes parassagitais.

O marco zero aqui, também foi a cartilagem mandibu-lar. Analisando de lateral para medial, verificamos que nas peças do gru-pamento A, excetuando-se a peça A1, encontram-se somente a cartila-gem e o osso mandibular.

Quando avançamos na análise do grupamento B, mais precisamente a partir da peça B3, deparamo-nos com as outras estruturas de interesse: osso temporal, osso condilar e músculo pterigóideo lateral, o

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mesmo acontecendo nas peças do grupamento C. A foto da figura 37 mostra-nos um corte parassagital onde

pudemos encontrar fibras do músculo pterigóideo lateral cortadas longitudinalmente, apresentando-se em um sentido horizontal, paralelas a um plano basal, diferentemente das fibras do músculo temporal, que se apresentam numa disposição vertical e quase perpendiculares às fibras do músculo pterigóideo lateral.

A figura 37 mostra o trajeto das fibras do músculo pterigóideo lateral não direcionadas ao côndilo mandibular e sim à regi-ão do osso temporal.

Fig. 37: Corte histológico mostrando as fibras do músculo pterigóideo lateral se inserindo no osso temporal e não no côndilo mandibular, em um embrião com 10 semanas de vida IU ( cartilagem mandibular (CM), osso condilar (OC), osso temporal (OT), apófise coronóide do osso mandibular (AC), músculo temporal (MT), músculo pterigóideo lateral (MPL) ( aumento de 35X).

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DISCUSSÃO

DISCUSSÃO

Nosso principal objetivo foi estudar a presença de fi-bras do músculo pterigóideo lateral inserindo-se no osso temporal, antes de sua inserção no conjunto cápsula-disco-côndilo.

Quando revisamos a literatura, constatamos que pode-ríamos dividi-la em três partes: um período em que os pesquisadores se preocuparam em estudar as estruturas, determinando-lhes épocas para os seus surgimentos (Symons, 1952; Macalister, 1955; Baume 1962a, 1962b; Moffett, 1966; Youdelis, 1966a, 1966b); um segundo período em que se preocuparam em estudar as relações da fisiologia muscular e sua influência na determinação da forma destas estruturas, nestes precoces períodos de desenvolvimento (Hooker, 1954, 1958; Humprey, 1968, 1971; Baume & Holz, 1969; Spyropoulos, 1977; Burdi & Spyropoulos,

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1978; Perry et al., 1985; Diewert, 1983, 1985; Van der Linden et al., 1987; Sperber, 1989). E por último, mais recentemente, os trabalhos voltaram-se para a determinação das correlações existentes entre as es-truturas da articulação temporomandibular e da orelha média, além das implicações clínicas destas correlações (Smeele, 1988; Ashworth, 1990; Cesarani et al., 1991; Sperber, 1992, Rodriguez Vazquez et al., 1992, 1993; Ögütchen-Toller & Juniper, 1993; Jackson,1993).

Para tanto, analisamos as articulações temporomandi-bulares de embriões humanos com uma idade variando entre 5 e 11 se-manas de vida IU, uma época crítica no desenvolvimento destas (Maca-lister, 1955; Youdellis, 1966a; Humprey, 1968; Diewert, 1983, 1985; Gray, 1986; Van der Linden et al., 1987; Kitamura, 1989; Sperber, 1989; Avery, 1992).

As investigações sobre os componentes da articulação temporomandibular sempre estiveram voltadas para o blastema condilar, com pouca ou quase nenhuma atenção voltada ao blastema temporal (Youdelis, 1966b).

Como nossos trabalhos envolveram quantificações es-tereológicas e avaliações da distribuição das estruturas analisadas espa-cialmente, a metodologia de preparo das peças e de seu posterior corte histológico, foi de suma importância.

A peça anatômica menos desenvolvida, A1, 11 mm CRL, 5 semanas de vida IU, ainda não apresentava estruturas definidas e sim esboços do que viriam a ser a cartilagem mandibular e o osso man-dibular (Gray, 1986; Kitamura, 1989). Em sítios próximos à região de futura formação das articulações temporomandibulares, já se podia ver organizações do mesênquima, sinalizando futuras alterações teciduais.

Partindo para a análise da peça A2, 19 mm CRL, 6 se-manas de vida IU, pudemos visualizar não só a cartilagem mandibular, como também o osso mandibular, mais precisamente a região do seu fu-turo corpo, quando nos dirigimos para os cortes parafrontais mais anteri-ores (Gray 1986, Kitamura 1989). Esta mesma seqüência de análise pôde ser realizada nas peças A3, 22 mm CRL, 6 semanas de vida IU, B1, 24 mm CRL, 6 semanas de vida IU e B2, 29 mm CRL, 7 semanas de vida IU, onde pudemos visualizar tanto a cartilagem mandibular como o osso mandibular. Ao analisarmos tais estruturas nestes embriões, foi-nos pos-sível verificar modificações na distância entre elas, à medida que os em-briões foram crescendo.

Quando dividimos as peças anatômicas em três grupa-mentos, assim o fizemos para que pudéssemos analisá-las tanto em ter-mos de idade como em tamanho. Numa primeira análise, pudemos dedu-zir que a partir da 7

a semana gestacional, as estruturas de interesse deste

trabalho começaram efetivamente a surgir; o osso condilar só foi visível

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em nossa pesquisas a partir da peça B3, 8 a 9 semanas de vida IU, bem como o osso temporal (Baume, 1962a; Furstman, 1963; Moffett, 1966; Youdelis, 1966a; Baume & Holz, 1969; Spyropoulos, 1977; Keith, 1982; Larssen, 1993; Van der Linden et al., 1987; Sperber, 1989), sendo que a única diferença entre elas foi seu estágio de calcificação, fato que esteve de acordo com o que disseram Baume (1966a) e Youdelis (1966b), que as estruturas da articulação temporomandibular se originam de dois blas-temas, com direções opostas de desenvolvimento, sendo que o blastema temporal está no tempo e no espaço, atrás do blastema condilar.

Foi portanto a partir do embrião B3, 8 a 9 semanas de vida gestacional, que pudemos quantificar as distâncias entre o surgi-mento do osso temporal e as demais estruturas, tendo como marco zero o surgimento da cartilagem mandibular. Isto explica por que todas as mar-cações nos mostraram zero até a peça B3.

É importante lembrar que a cartilagem mandibular foi por nós considerada o marco zero, pois a sua presença nos cortes histo-lógicos representou um excelente referencial espacial. Este marco zero, anteriormente descrito, foi determinado a partir do momento em que não mais visualizamos nos cortes histológicos, os ossículos martelo e bigor-na, estruturas que surgem a partir do 1

o arco branquial e que se localizam

espacialmente na porção mais distal da cartilagem mandibular, na região da futura orelha média (Avery, 1992).

Como os ossos temporal e condilar são, estruturalmen-te e pelo menos nesta etapa embrionária, os principais componentes da futura articulação temporomandibular, foi interessante o que encontra-mos nas distâncias entre seus surgimentos. Na peça B3, a distância entre o surgimento do osso temporal em relação ao osso condilar foi de 120 µm, caindo para 90µm e assim se mantendo nos embriões B4 e C1, quando passou a inexistir nos embriões C2 e C3. Isto é perfeitamente explicável pois a partir da 8

a semana de vida IU, ocorre um crescimento

sagital rápido entre as posições relativas das estruturas faciais com o neurocrânio (Diewert, 1995). Em outras palavras, ocorre no complexo cranioorocervical do embrião, um enorme ganho no sentido vertical e rotacional, trazendo o osso condilar contra o osso temporal no sentido anteroposterior, ao mesmo tempo em que este osso temporal avoluma-se no sentido póstero-anterior, mais precisamente na região do futuro tubér-culo articular.

Ainda segundo Diewert (1985), nesta fase embrionária aumentam as atividades da musculatura de toda a região craniofacial (Hooker, 1954, 1958; Humprey, 1968, 1971; Baume & Holz, 1969; Spyropoulos, 1977; Burdi & Spyropoulos, 1978; Perry et al., 1985; Van der Linden et al., 1987; Sperber, 1989). O mesmo raciocínio pode ser

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aplicado, quando analisamos as distâncias entre o surgimento do osso temporal e o músculo pterigóideo lateral: a distância entre eles no em-brião B3 foi de 240 µm, caindo para 120 µm em B4, subindo para 180 µm em C1 e não havendo distância em C2 e C3. Isto nos mostra que, provavelmente, a partir dos embriões C2 e C3, as três estruturas – osso temporal, osso condilar e músculo pterigóideo lateral – estão espacial-mente em um mesmo plano, paralelo a um plano predeterminado de cor-te.

Se no corte histológico da peça B3, embrião com 8 a 9 semanas de vida gestacional, pudemos ver o músculo pterigóideo lateral aparecendo medialmente ao osso condilar (Baume, 1962b), isto nos mos-tra que ele não se insere no côndilo, mais precisamente na futura fóvea pterigóide do osso condilar, e sim, continua seu direcionamento espacial para a estrutura que está medial e posteriormente a ele, o osso temporal.

Ao analisarmos a distância entre o surgimento do osso

temporal e o osso mandibular, na análise por grupamentos, pudemos ve-rificar que houve um aumento de 82% do grupamento B (6 a 9 semanas de vida IU), para o grupamento C (9 a 11 semanas de vida IU), aumento considerável dentro de um curto espaço de tempo, fato que veio de en-contro ao exposto por Diewert (1985) sobre o crescimento sagital rápido entre as posições relativas das estruturas faciais com o neurocrânio.

Continuando a análise estereológica, ao avaliarmos a distância entre o surgimento do osso condilar em relação ao surgimento do músculo pterigóideo lateral, verificamos que a distância encontrada no embrião B3 foi de 120 µm, decrescendo em 75% no embrião B4, au-mentando para 90 µm no embrião C1, quando então caiu para zero nos embriões C2 e C3.

Já as distâncias entre o surgimento do músculo pteri-góideo lateral e o osso mandibular, nos mostraram, tanto nas análises por embriões individuais como nas análises por grupamentos, que, à medida que os embriões iam se desenvolvendo, estas distâncias iam aumentando.

Em seus trabalhos Macalister (1955) concluiu que a partir da 10

a semana de vida IU havia uma acomodação das células me-

senquimais e que entre a 10a e 12

a semanas já havia uma histodiferencia-

ção, bem como uma nova orientação mesenquimal. Isto foi por nós en-contrado quando analisamos a distância de intersecções das estruturas analisadas.

A análise individual das peças por grupamentos das es-truturas osso condilar, osso temporal e músculo pterigóideo lateral mos-traram que elas apresentaram uma distância de intersecção entre si, indi-cando que após o surgimento delas, inicia-se um processo de reorganiza-

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ção estrutural influenciado pela atividade muscular. As estruturas osso temporal – músculo pterigóideo la-

teral e osso condilar – músculo pterigóideo lateral tiveram as regiões de secções aumentadas com a progressão da idade dos embriões, sendo que houve neste desenvolvimento um pico, observado nas peças B4 e C1, com 9 a 10 semanas de vida IU. Essa idade caracteriza-se pela importân-cia dos processos de determinação da forma da cavidade articular (Van der Linden et al., 1987).

O nosso principal objetivo foi pesquisar a existência ou não de fibras do músculo pterigóideo lateral, inserindo-se no osso tempo-ral. Baume & Holz (1969) afirmaram que do blastema glenóide é que surgiam os elementos da porção superior da articulação temporomandi-bular, e que sua origem se dava em uma região onde primitivamente se uniriam os músculos masseter e temporal, com o que concordamos, pois apesar de não estarmos analisando estes músculos, foi-nos possível veri-ficar sua presença em nossas peças, próximos aos futuros sítios de dife-renciação histológica, que viriam a formar o arco zigomático (origem do músculo masseter) e o processo coronóide (inserção do músculo tempo-ral, mais precisamente o seu tendão superficial).

Em seus trabalhos, Van der Linden et al. (1987) mos-traram que já na 5

a semana de vida IU é possível a visualização de fibras

do músculo pterigóideo lateral nos cortes histológicos, o que vem de en-contro ao descrito por Baume (1962b) segundo o qual a formação mus-cular precede a ossificação intramembranosa, tanto que verificou em embriões humanos com 30 mm CRL, 8-9 semanas de vida IU, um dis-creto desenvolvimento de mioblastos imaturos, acontecendo medialmen-te ao blastema condilar, exatamente o achado por nós na peça B3, 8-9 semanas de vida IU. Nesta peça visualizamos os primeiros sinais do músculo pterigóideo lateral, localizado medialmente ao osso condilar porém, não inserido neste.

Humprey (1968) relatou ser provável que muitos dos músculos abaixadores da mandíbula já estarem funcionando com 8,5 semanas de vida IU, o que vem de encontro a nossas suposições. Ainda Humprey, em 1971, continuando os trabalhos de Hooker ( 1954, 1958) sobre a estimulação em embriões vivos, comprovou que na idade entre 8,5 e 9,5 semanas de vida IU, a abertura de boca era mais completa que a comparada ao estágio anterior, ao passo que o fechamento era eviden-temente passivo devido ao tempo gasto para realizá-lo. Estas análises vieram de encontro às nossas observações de que o músculo pterigóideo lateral com 9 semanas de vida IU se encontra medialmente ao côndilo, e que sendo ele, por excelência, o principal músculo abaixador mandibu-lar, quando o reflexo de abertura bucal ocorre, ao contrair-se, traz o conjunto côndilo–osso temporal para a frente, para baixo e para medial,

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“tracionando” a região do futuro tubérculo articular (Sperber, 1989). Isto ocorre pelo fato de que nesta época do desenvol-

vimento, a região da futura articulação temporomandibular ainda se a-presenta como uma área não diferenciada em sua totalidade, possuindo ainda um volume grande de tecido mesenquimal indiferenciado (Maca-lister, 1955; Moffett, 1966), ao passo que o músculo pterigóideo lateral bem como outros músculos abaixadores, já se formaram anteriormente (Van der Linden et al., 1987). Isto posto, parece-nos lógico que, quando um músculo contrai, ele tende a tracionar os seus pontos de origem e in-serção. Como a área de inserção ainda está se definindo, o que prova-velmente está sendo tracionado é o conjunto côndilo-osso temporal, a-través do mesênquima interposto entre estas duas estruturas. Nossa linha de raciocínio foi então mais reforçada com o que encontramos na litera-tura, a partir desta época.

Spyropoulos (1977) ao estudar as relações entre os músculos masseter e temporal com suas estruturas ósseas pertinentes, verificou que os mesmos começavam o seu desenvolvimento antes dos componentes esqueléticos, aos quais iriam se unir futuramente, com o que concordamos, pois tais músculos, como o pterigóideo lateral, já são passíveis de contração comprovada por Hooker (1954, 1958) e Humprey (1968, 1971) e com isso seriam também os responsáveis pela futura for-ma destas estruturas ósseas em desenvolvimento.

Burdi & Spyropoulos (1978) estudaram 19 embriões e fetos em uma idade de 16 a 33 semanas de vida IU, avaliando a correla-ção entre o músculo masseter e a mandíbula, em suas atividades muscu-lares, através do estudo de suas áreas de inserção mandibular, o que para nós não foi passível de discussão, pelo fato de serem nossas peças mais novas do que as utilizadas por aqueles autores em suas análises.

Keith (1982) descreveu a articulação temporomandibu-lar como sendo formada por 2 blastemas que cresciam de encontro um ao outro, com o que concordam Baume (1962a) e Larssen (1993). Além disso, o surgimento, entre estes dois blastemas, de uma terceira conden-sação celular associada ao músculo pterigóideo lateral, a qual posterior-mente se transformaria no disco articular, parece corroborar com nossas análises. Assim tudo indica que o músculo pterigóideo lateral relaciona-se ao blastema temporal através de sua inserção no osso temporal, na região do futuro tubérculo articular, bem como à região do blastema condilar, mais precisamente na altura da parede medial do osso condilar.

Encontramos fibras do músculo pterigóideo lateral in-serindo-se no osso temporal, mais precisamente na região do futuro tu-bérculo articular antes de sua inserção no conjunto cápsula–disco–côndilo. Se nesta fase, ao redor da 9ª semana de vida IU, o embrião já realiza movimentos de abertura de boca (Hooker, 1954, 1958; Humprey,

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1968, 1971; Spyropoulos, 1977), então, é provável que o músculo pteri-góideo lateral, quando contraído, possa ser responsável pela formação do tubérculo articular do osso temporal, conforme descrito por Perry et al. (1985) que sugeriram haver uma união prematura entre o músculo pteri-góideo lateral, o blastema condilar e a cartilagem mandibular, e que gra-ças a esta união, o músculo pterigóideo lateral mostrava-se funcional du-rante os processos de formação da cavidade articular, através de trações diferenciadas em suas futuras inserções.

Segundo Van der Linden et al. (1987) a primeira apari-ção do osso temporal ocorre entre 7 e 7,5 semanas de vida IU, 21 mm CRL, cuja evidência concreta só se verifica ao redor da 8ª a 9ª semanas, com que concordamos. Em nossos achados histológicos, o osso temporal começou a ser mais visível e a ter seu volume aumentado, a partir da 9ª semana de vida IU, como pudemos avaliar em nossas quantificações es-tereológicas. A fossa articular é inicialmente convexa, até a 9ª semana, sendo que a partir de então, torna-se rasa, passando a ter um formato côncavo definitivo, que combina mais com a cabeça do côndilo.

Assim, dados como a convexidade da cavidade articu-lar até a 9

a semana (Van der Linden et al., 1987), evidências de função

muscular a partir de 8,5 a 9 semanas de vida IU (Hooker 1954 e 1958, Humprey 1968, 1971; Spyropoulos 1977), a união prematura entre o músculo pterigóideo lateral, blastema condilar, cartilagem mandibular (Perry et al., 1985), os nossos achados histológicos das fibras do múscu-lo pterigóideo lateral inserindo-se na região do futuro tubérculo articular do osso temporal, a ação muscular necessária à cavitação articular (Sper-ber, 1989), levam-nos a crer que a mudança de forma da cavidade articu-lar dá-se no início dos movimentos de abertura de boca. Esses aspectos reafirmam a possibilidade de tração das fibras do músculo pterigóideo lateral, inseridas no osso temporal.

Dentro desta proposição, foi também de nosso interes-se quantificar o volume destas estruturas. Sobre isto, nada encontramos na literatura, principalmente pela forma como foram apresentadas, ou seja a distribuição temporal e espacial das estruturas, e depois uma quan-tificação volumétrica das mesmas.

Novamente utilizamos a cartilagem mandibular por vo-lume amostrado, como um referencial seguro, pois o marco zero; con-forme dissemos, foi determinado a partir do momento em que não mais visualizamos nos cortes histológicos, pontos de ossificação do martelo e bigorna. Isto nos deu segurança em termos de localização espacial pelo fato de que estes ossículos se situam na orelha média, região pertencente à cápsula ótica, que por sua vez faz parte da cápsula basal, uma das três cápsulas formadoras do condrocrânio, estrutura que surge a partir da 4

a

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semana de vida IU, dividindo a região cefálica em neurocrânio e visce-rocrânio (Diewert, 1985; Gray, 1986; Sperber, 1989; Avery, 1992).

Quantificamos então os volumes da cartilagem mandi-bular, por volume amostrado, dos ossos temporal e condilar e do múscu-lo pterigóideo lateral, sendo que nesta quantificação, trabalhamos com embriões do grupamento C, 9 a 11 semanas de vida IU, 45 a 58 mm CRL.

A análise quantitativa do volume das estruturas estuda-das mostrou a grande massa muscular do músculo pterigóideo lateral, quando comparado aos volumes dos ossos temporal e condilar, o que nos leva a ter nestes dados, um indicativo morfológico da atividade muscular presente na época.

O encontro de fibras do músculo pterigóideo lateral in-seridas no osso temporal, indica a participação do músculo pterigóideo lateral no processo de formação do tubérculo articular do osso temporal.

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CONCLUSÕES

CONCLUSÕES

Deste estudo pudemos concluir o seguinte:

As quantificações estereológicas nos mostraram que as estruturas estudadas surgem de alterações do mesênquima embrionário já se posicionando espacialmente nos seus sítios predeterminados. Elas, então, vão se desenvolvendo dentro de orientações espaciais também predeterminadas, relacionando-se dentro de um rigoroso padrão estrutu-ral. Pudemos chegar a estas conclusões porque estudamos as estruturas espacial e temporalmente.

Foram encontradas fibras do músculo pterigóideo late-ral inserindo-se no osso temporal, mais precisamente na região de for-mação do futuro tubérculo articular, em embriões com idade aproximada de 9 a 11 semanas de vida IU.

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Estes achados indicaram que a atividade muscular quando do reflexo de abertura da boca, já presente nesta etapa de desen-volvimento embrionário, é a responsável pela modificação da forma da fossa mandibular de convexa para côncava, dando origem ao tubérculo articular.

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ANEXOS

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ANEXOS Tab. 4 : Tabela mostrando as quantificações estereológicas realizadas no embrião C1 (A(p)=4300,38 µm

2; objetiva 4x).

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Tab. 5: Tabela mostrando as quantificações estereológicas realizadas no embrião C2 (A(p)=4300,38 µm

2; objetiva 4x).

Tab. 6: Tabela mostrando as quantificações estereológicas realizadas no embrião C3 (A(p)=4300,38 µm

2; objetiva 4x).

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