contos e contos. histÓria, estÓrias e lendas do rio de janeiro

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Este livro reúne artigos produzidos em um programa de rádio - Radio Viva Rio AM 180 - apresentados diariamente, com 3 minutos cada fala. Algumas modificações foram introduzidas, pois o modo como se apresenta no radio é diferente de como se escreve. São artigos colhidos em quase 270 dias de fala (2003/2004), onde tentei mostrar um pouco da bela história do nosso Rio de Janeiro, que não se prende somente a Copacabana, Pão de Açúcar e Corcovado.

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CONTOS E CONTOS.HISTÓRIAS, ESTÓRIAS E LENDAS DO RIO DE JANEIRO.

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CONTOS E CONTOS.HISTÓRIAS, ESTÓRIAS E LENDAS DO RIO DE JANEIRO.

JORGE MITIDIERI

Rio de Janeiro2008

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Dedicatória

De todo o coração para minha mulhere filhos, que estavam ao meu

lado nos momentos dedesespero e de depressão em

minha vida profissional, e portudo que me ensinaram nessa

nossa vida em comum.

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Uma Frase

“Passar no exame junto aos pobres”.Só depois de ter sentado no banco

Dos humildes é que se temCondições de entrar na escola dos

Doutores ”.

Leonardo Boff

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INTRODUÇÃO

Este livro reúne artigos produzidos em um programa de rádio - Radio Viva Rio AM 180 - apresentados diariamente, com 3 minutos cada fala.

Algumas modificações foram introduzidas, pois o modo como se apresenta no radio é diferente de como se escreve.

São artigos colhidos em quase 270 dias de fala (2003/2004), onde tentei mostrar um pouco da bela história do nosso Rio de Janeiro, que não se prende somente a Copacabana, Pão de Açúcar e Cor-covado.

O importante é que, talvez assim, modifiquemos a nossa maneira de encarar os nossas belezas, pois é preciso modificar nossa maneira de ver as coisas.

Passamos pelos atrativos e, na pressa de somente estarmos presos a um caminho, não vemos nada do que se nos apresenta em nosso entorno.

O Rio de Janeiro é cheio de belos atrativos históricos. Nossa his-tória é repleta de estórias e lendas, que acabam sendo mais bonitas do que a história e passam a ser mais verdade.

Apresento aqui, Contos e Contos, Histórias,Estórias e Lendas do Rio de Janeiro, um pouco fora de uma ordem determinada, mas espero que sirvam de caminho para vermos com mais carinho o que temos de belo em nossa cidade.

Aproveito para transcrever trechos do livro, escrito por Joaquim Manoel de Macedo, século XIX, UM PASSEIO PELA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, que valem como reflexão:

“Disse um escritor francês, cujo nome agora não me lembro, que entre os franceses são os parisienses os que conhecem menos Paris. No Brasil, pode-se dizer coisa semelhante, porque os provincianos, como os cariocas, desconhecem do mesmo modo a nossa boa Sebastianópolis”.

Entretanto, eu estou convencido de que se pode viajar meses intei-ros pela Cidade do Rio de Janeiro, achando-se todos os dias alimento agradável para o espírito e o coração.

Estas histórias representam uma época, que devemos relembrar e que, por vezes, nos parecem inverossímeis, mas ficam para critério verossímil de quem vier a ler.

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O RIO ERA UM CHARCO SÓ.O Rio de Janeiro, no início de sua fundação, era um terreno de bai-

xios, coberto de mangues, alagadiço, com muitas lagoas e brejos, entre o mar e a montanha, o que explica o porquê dessas terríveis enchentes que o Rio passou e ainda passa. Aos poucos foram os colonizadores ganhando a planície e aterrando essas lagoas e ganhando espaço. A primeira lagoa a ser aterrada foi a de Santo Antônio, que ia até o mar e é hoje o Largo da Carioca. Conta-se que por ocasião da construção do Teatro Municipal foram encontrados pedaços de uma nau, que possivelmente lá afundou.

A lagoa do Boqueirão, entre o Castelo e Santa Teresa, foi aterra-da e deu origem ao Passeio Público. A lagoa do Desterro foi aterrada em 1643 e é hoje a Rua dos Arcos. A lagoa da Sentinela recebeu esse nome desde a primeira invasão dos franceses (falamos sobre essa invasão mais à frente), quando lá foi colocada uma sentinela para avisar sobre novas invasões, na confluência das Ruas Riachue-lo, Frei Caneca e Senado (Mangue). Existia também a Lagoa da Carioca, no largo do Machado, entre outras.

O MORRO DO CASTElO.O Morro do Castelo é a própria história de nossa cidade, pois foi

nele, ou em suas proximidades, que nossa cidade se desenvolveu. A idéia de se deslocar à cidade do Morro Cara de Cão para o Morro do Castelo prendeu-se a fatores estratégicos, uma vez que lá de cima podia-se observar a entrada da barra e as possíveis investidas dos invasores. Estava ali instalado o Forte de São Sebastião, uma das primeiras fortificações e a Igreja de São Sebastião, que se transfor-mou em nossa primeira Catedral. Podemos dizer que nossa cidade nasceu em torno do morro do Castelo.

Quatro foram os morros que delimitaram a cidade no seu nasci-mento: Castelo, São Bento, Conceição e Santo Antônio.

As encostas do Morro do Castelo foram sendo, aos poucos, to-madas por casas, de uma maneira desordenada, parecendo que o povo procurava apoio em torno da fortificação e da Igreja, como se procurando amparo.

A idéia do arrasamento do morro surgiu no século XIX, por causa de um forte temporal que, em 1811, provocou um grande desmorona-

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mento de uma de suas encostas. O morro do Castelo foi, então, demo-lido. Como diz Ricardo Cravo Albin, em sua crônica em O Globo, de 18/09/2000: “O Morro do Castelo arrolou alguns argumentos ridículos – de resto jamais comprovados – como o da melhor aeração para o centro de cidade, especialmente para a nova Avenida Rio Branco, cuja cons-trução, aliás, já custara ao velho morro uma de suas ladeiras, onde hoje está a Biblioteca Nacional. A principal razão do bota-abaixo, contudo, foi uma reles politicagem. Carlos Sampaio, cujo mandato expiraria em novembro de 1922, queria entregar a grande obra do seu governo no dia 7 de setembro de 1922, quando se inauguraria a Exposição Mundial do Centenário da Independência. Os pavilhões começaram a ser construído nas fraldas do morro do Castelo, um prato cheio, já se vê, para encobrir negociatas e malversação de dinheiro público. O prefeito tratou de res-cindir a obra com a firma brasileira e contratou – pela soma fabulosa de 12 milhões de dólares – uma firma americana, interveniada por ban-queiros Internacionais (Dillon and Read), que emprestou a dinheirama ao governo municipal. Com isso, os custos ultrapassaram todas as ex-pectativas anteriores. Os americanos, por seu turno, substituíram o esca-vamento manual do morro pelo uso intensivo de força hidráulica, cujas mangueiras gigantescas aceleraram dramaticamente o ritmo do desmon-te, triplicando a velocidade com que a montanha ia desaparecendo aos olhos estupefatos dos cariocas”.

lADEIRA DA MISERICÓRDIA E MORRO DO CASTElO.

Juntamente com a Rua Primeiro de Março (Rua Direita), a Ladei-ra da Misericórdia é uma das primeiras e mais antigas da cidade.

Por ela subiam e desciam os moradores do Morro do Castelo, lugar onde a cidade se instalou em 1567. Era um dos acessos ao Morro do Castelo e hoje ainda é o único sinal do morro que veio abaixo em 1922 para dar lugar á Esplanada do Castelo..

Ao contrário da Primeiro de Março, que permanece importante - e era a principal ligação entre os Morros do Castelo e de São Bento - a Ladeira da Misericórdia liga a Rua da Misericórdia a lugar nenhum.

O trecho, ainda hoje preservado, foi calçado com pedras irregula-res, à maneira antiga chamada “caminho dos pés postos”.

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Do seu topo podemos observar um panorama discreto da Baia de Guanabara, com a Ilha das Cobras em destaque, e a Ponte Rio - Niterói. O morro do Castelo teve diversos nomes como Morro do Descanso, Morro de São Sebastião do Alto da Cidade, ou do Alto da Sé, e São Sebastião.

O acesso ao Morro era feito por três ladeiras, a da Misericórdia, a Ladeira da Ajuda ou Passo da Porteira e Ladeira do Cotovelo, onde hoje temos a Rua São José e a Almirante Barroso.

O desmonte desse Morro gerou grande quantidade de entulho, cerca de cinco milhões de metros cúbicos, que serviram para aterrar diversas praias, como a Praia da Lapa, Praia de Santa Luzia, Ponta do Calabouço, avançando até o mar na ilha de Villegaignon e aero-porto Santos Dumont.

Como o Rio era formado de charcos, muitos outros morros foram desbastados, como o Morro da Mangueira, que serviu para aterrar o hoje Passeio Público, que era uma lagoa suja e mal cheirosa, e que se transformou num belo jardim (contada sua história em outro local).

DE ONDE VEIO O NOME FAVElA?Como já foi dito, uma das coisas que acabou fazendo com que o

Morro do Castelo viesse a ser destruído foi a desenfreada ocupação que sofreu nas suas encostas. E por falar nisso, podemos comen-tar de onde veio o nome “favela”. Sua denominação é originária da luta de Canudos, na Bahia, quando tropas militares ocuparam um morro chamado Favela e ali permaneceram por algum tempo. Terminada a luta, voltaram para o Rio, e, como não tinham aloja-mento, foram morar no morro atrás do antigo Ministério da Guerra (Praça da República) e o nome favela parece que veio com eles. Outra história dá conta de que nesse morro tinha uma árvore cheia de favas – faveira – daí o nome!

ORIGEM E DESENVOlVIMENTO DAS FAVElAS.

A questão da origem e desenvolvimento das favelas se prendeu às grandes reformas impostas por Pereira Passos, o que provocou

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as derrubadas, indiscriminadas, de habitações coletivas, obrigando assim o desalojamento de pessoas que, sem terem para onde ir, pro-curaram abrigo nos morros. Derrubaram-se casas coletivas, cortiços e estalagens, mas não se providenciou modificações nos locais de trabalho. O trabalhador, despejado de sua casa e com um trabalho fixo, não teve condições de ir morar longe, por causa da precarie-dade de transportes coletivos. Havia bondes, mas o preço era acima das condições financeiras, o que obrigou o trabalhador a improvi-sar moradias, de modo a facilitar sua vida e trabalho. Assim sendo, obrigatoriamente, o seu local de moradia tinha que ser perto de seu trabalho, e nada melhor do que subir os morros próximos.

De início, o trabalhador escolheu o morro da Providência, Morro da Favela, perto da Central do Brasil, pois era o que mais perto fica-va do trabalho, sendo assim de fácil acesso. O certo é que o proble-ma de habitação não figurou como o mais importante nos planos da administração, pois o objetivo era derrubar para embelezar o Rio de Janeiro. Os especuladores imobiliários só tinham vistas para as áreas que tinham sido demolidas e estavam ao lado das grandes reformas. Vejam a Avenida Central – Rio Branco - a questão era derrubar, era civilizar, pouco se importando com o destino daque-les que lá residiam. E, como diria a canção: “Você que inventou o pecado, esqueceu de inventar o perdão”.

Em 1906, o prefeito da época do chamado Bota-abaixo mandou construir 120 casas operárias, na hoje Avenida Salvador de Sá (até hoje algumas ainda lá estão) e foi só. Esqueceram de que essas ca-sas abrigariam no máximo duas mil pessoas, isto representando um décimo do número de desabrigados com as demolições. Já era o começo das grandes soluções políticas.

O Rio se modernizou, mas, de outro lado, sofreu com a falta de planejamento. Hoje estamos aí com um problema quase insolúvel e, infelizmente, ainda à disposição dos políticos que sabem muito bem tirar o melhor proveito da situação.

CRESCE A NOSSA CIDADE.E o Rio começou a crescer em torno da Praça XV. Porto de en-

trada e saída, recebendo naus de todas as procedências e lugares, aonde inicialmente só chegavam pequenas embarcações lusitanas.

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a Praça XV, com a Abertura dos Portos (1808), passou a ter grande comercialização. Veio para o Rio grande número de comerciantes, cientistas e pessoas curiosas de várias partes do mundo.

Na época, existia um costume que chamava a atenção dos visi-tantes europeus: era a reclusão das mulheres das famílias ricas que permaneciam atrás das janelas e, quando saiam, estavam cobertas por um véu que escondia seus rostos. As ruas ficavam cheias de homens, brancos e negros.

Com a Abertura dos Portos, muitos países resolveram mandar seu excedente de mercadorias, principalmente a Inglaterra, e assim veio de tudo para o Rio. Sem saber o tipo de necessidade que se tinha, e por desconhecerem o lugar e o povo, eram trazidas pelos europeus coisas bem curiosas como, por exemplo, cobertores de lã, tachos de cobre para se fazer escalda-pés ( muito usado em clima frio), patins de gelo e lareiras de ferro. Sem se ter o que comprar, tudo era ven-dido rapidamente, e dentro do jeitinho carioca, tudo era comprado e sempre transformado em coisas úteis, como, por exemplo, os co-bertores foram usados na filtragem do ouro dos aluviões nos rios. As lareiras fizeram a alegria dos ferreiros que as transformaram em ferramentas para a lavoura, e os patins viraram fechaduras e facas.

Os Ingleses passaram a trazer tudo que pudessem (estoques en-calhados), os franceses passaram a trazer produtos mais finos que eram absorvidos pela alta corte.

O português trabalhavam duro, de sol a sol, querendo ficar ricos rapidamente, mas o trabalho pesado era executado pelos negros es-cravos.

A Rua do Ouvidor, Rua das Flores, Travessa do Ouvidor, Rua Nova do Ouvidor foram sendo ocupadas pelos franceses com res-taurantes, confeitarias, cafés, casas de artigos de vestiário, modistas, decoradores, barbeiros, cabeleireiros e lojas de artigos finos. Essa foi a grande força do comércio dos franceses que fez com que a Praça XV ficasse praticamente nas suas mãos.

Pharoux, um rico comerciante francês que já tinha no local um grande hotel, recebeu a concessão para modernizar e explorar o cais. Como os navios tinham que fundear ao largo, pois o cais não tinha condições de receber qualquer tipo de navio, os passageiros tinham que vir em pequenas embarcações, do navio até o cais, e podiam gozar de maior conforto hospedando-se no Hotel Pharoux.

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QUEM FOI MONSIER PHAROUX?Ninguém sabe explicar porque esse francês largou tudo na Fran-

ça e veio para o Rio de Janeiro, mas nós muito devemos a ele na criação do primeiro hotel, com aspecto de elegância e limpeza em uma cidade que muito deixava a desejar quanto à higiene. Nessa época o hotel do francês era capaz de honrar qualquer pátria estran-geira. O Hotel Pharoux ficava na Praça XV, esquina da Rua Clapp.

Era coisa bonita de se ver e apreciar. Que instalações, que as-seio, e os móveis de estilo, tudo vindo da França, todo forrado de tapeçarias e de seda! E os espelhos Florentinos, amplos, com belas molduras largas e douradas, e o gosto dos jarrões com belas flores colocadas nas mesas, com requinte, nas toalhas bordadas e alvíssi-mas! Era um requinte!

Contam que D. João, um dia, quis conhecer de perto o francês e o recebeu em seu palácio, mas não dizem se foi para pedir novas receitas de culinária francesa.

Monsier Pharoux conseguiu notável simpatia e muita populari-dade. Rico e bem casado, muito tempo depois vendeu seu hotel e foi morrer na França, isso lá pelos anos de 1868.

O seu hotel na Praça XV era um ponto de apoio para quem, por ventura, viesse a perder o horário da última barca para Niterói, e lá se hospedava com todo o requinte.

Quem hoje quiser falar do velho Largo do Paço não poderá es-quecer de falar do amigo francês, que criou o belo hotel e aqui viveu muitos anos.

VISITE A GUANABARA PElO MAR.Quem não gosta de ver a baia de Guanabara? Ela é linda. Agora

imagine que nós podemos ver o Rio lá do mar. Muitas oportunidades nos são dadas para que nós tenhamos essa condição, e uma delas, e talvez a mais fácil, seja a oferecida pelo Espaço Cultural da Marinha. Esse passeio nos reserva gratas surpresas como a ilha Fiscal, por exem-plo, não só pelas belezas que se nos apresentam, como pelas histórias que podem ser contadas, e se mostram por cada canto do mar.

As águas da Guanabara foram testemunhas de grandes momen-tos de nossa história como também palco de grandes batalhas.

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Nesse passeio são desvendadas histórias, em um programa imper-dível para quem quer saber mais um pouco desse pedaço de paraíso descoberto, há mais de quatrocentos anos, e que continua a ser in-ventado.

Esse paraíso nos é oferecido a bordo do rebocador Laurindo Pitta, um navio remanescente da 1ª Guerra Mundial, que leva o visitante, em um belo passeio de uma hora e meia de puro encantamento.

A viagem começa na Praça XV e segue em direção às praias da Zona Sul, entrecortando ilhas e construções antigas e modernas.

Chegando próximo à Urca, teremos uma grande surpresa: um vento forte anuncia o encontro das águas da baia com o Oceano Atlântico. Tudo isso emoldurado pelas fortalezas de Santa Cruz, em Niterói, e a de São João, no Rio de Janeiro, baluartes da defesa de nossa cidade das invasões de outros países, que estavam atrás de nossas riquezas. Depois a embarcação desliza lentamente rumo às praias de Niterói, passando pela ponte, e serpenteando todo o seu entorno. Quando retornamos, fica para os passageiros o gostinho de quero mais.

Outro passeio que vale a pena é uma visita à Ilha Fiscal. Impres-siona pela riqueza histórica de sua arquitetura, onde temos o prédio que serviu como posto de fiscalização alfandegária na época do Im-pério. Esse local foi escolhido devido à privilegiada visão da barra da baia de Guanabara.

O prédio, construído em estilo gótico, foi palco do Último Baile do Império, uma das mais famosas histórias de nossa cidade, pois logo em seguida à festa foi proclamada a República, e a Família Real teve que abandonar o país. O encanto é geral, não somente pelo patrimônio histórico que a ilha representa, mas também pela bela visão do Rio de Janeiro, que revela ângulos poucos conhecidos da cidade, e que tem o bom e velho mar como testemunha.

UM POUCO DA HISTÓRIA DE D. PEDRO I.

Como bom nobre, o nome de D. Pedro I era: Dom Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e

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Bourbon. Era o terceiro filho de D. João e de Dona Carlota Joaqui-na de Bourbon e foi o 1º Imperador do Brasil e o 28º de Portugal. Ele veio para o Brasil com a família real em 1808. Contraiu matri-mônio com Dona Maria Leopoldina de Habsburgo, em primeiras núpcias, em 1817, e, em 1829, casou-se em segundas núpcias com Dona Maria Amélia. Com o regresso de D. João a Portugal, tornou-se Príncipe Regente. No dia 7 de setembro de 1822, nas margens do rio Ipiranga, São Paulo, em uma atitude de desassombro e numa eloqüente demonstração de amor por nossa terra, proclamou a In-dependência do Brasil.

Nos momentos de lazer, entregava-se D. Pedro I ao convívio com as musas, e dedicava-se à apreciação das letras e ao aprimoramento das artes.

Em sua homenagem existe um belíssimo monumento na Praça Tiradentes, inaugurado em 1862, e que foi o primeiro a ser insta-lado em um logradouro público no Rio de Janeiro. As peças foram fundidas na França, em bronze, e foram armadas aqui, representan-do o imperador, fardado de general, tendo à mão direita o ato da Independência, e um pouco mais abaixo, quatro grupos de bronze guarnecendo-lhe os cantos, cada um representando um grande rio do país:

O Amazonas, representado por uma índia que tem sobre as costas uma criança adormecida, e seu companheiro descansa o pé em um jacaré. Um tigre, um ouriço caixeiro e uma ave estão ao lado.

O Rio Paraná tem um casal de indígenas, uma anta, um tatu e duas grandes aves.

O Madeira é representado por um índio armado de arco, em uma atitude de disparar uma flecha, tendo como companhia uma tartaruga, uma ave e alguns peixes.

O São Francisco, que é representado por um índio sentado junto a um tamanduá e uma capivara.

Cinco datas históricas estão inscritas em moirões na grade: O nascimento de D. Pedro I (12 de outubro de 1798), seu casamento com D. Leopoldina (06 de outubro de 1817), a Independência do Brasil (7 de setembro de 1822), sua sagração como Imperador do Brasil e seu casamento com D. Amélia.

O monumento tem seis metros de altura. Dizem que D. Pedro II não gostou quando de sua inauguração, pois ficou decepcionado

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ao notar que as feições da estátua não correspondiam às de seu pai D. Pedro I.

A BElA CORTESÃ. DOMITIlA DE CASTRO CANTO E MElO.

A conhecida cortesã Marquesa de Santos nasceu em 1797, ca-sou-se e, com o marido, teve três filhos. Por desavenças conjugais, separou-se do mesmo, desquitando-se em seguida.

Tornou-se uma grande cortesã e, por sua conduta escandalosa, perdeu a tutela dos três filhos. Para obtê-los de volta, foi se colocar à frente do Palácio Imperial, na Praça XV, uma semana antes da Proclamação da Independência, com a idéia de pedir ao Príncipe D. Pedro que a ajudasse a reaver os filhos. Segundo relato do pró-prio Príncipe tornaram-se amantes no mesmo dia. Quando da volta do Príncipe, após a proclamação da Independência, ele mandou trazer a favorita para a corte, tornando-a primeira dama da Impera-triz, Dona Leopoldina. D. Pedro e Domitila viveram escandaloso romance que perdurou por sete anos. Além de cumulá-la de muitos presentes, D. Pedro deu-lhe fabuloso palacete em São Cristóvão e uma casa em Iguaçu.

D. Pedro levava a favorita aonde fosse, indo com ela a Salvador, o que causou um escândalo nacional. Deu-lhe o título de Viscon-dessa de Santos, para logo depois torná-la Marquesa de Santos, com quem teve quatro filhos. Quando D. Pedro enviuvou, cansou-se da marquesa, tendo em vista o quanto se comentava de sua vida.

D. Pedro contraiu matrimônio com a princesa Maria Amélia, que na época tinha 17 anos.

Domitila foi desterrada para S. Paulo, e lá foi morar em um ca-sarão que hoje ainda existe, no pátio do Colégio. Ao morrer-lhe o marido, passou a viver maritalmente com um primo, com quem veio a se casar, e com quem teve seis filhos. Faleceu aos 69 anos, sendo enterrada na Consolação em São Paulo. Teve um total de 13 filhos. Recentemente, formou-se um movimento em prol de sua canonização.

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