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Contexto científico entre 1850 e 1870 (que poderiam ter influenciado Kardec na codificação) Pesquisadores: oJuliane Lopes da Rocha oMarina M. C. Martins oMarisa Fabris Cabriano oRaul J. F. de Oliveira

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Contexto científico entre 1850 e 1870

(que poderiam ter influenciado

Kardec na codificação)

Pesquisadores:

oJuliane Lopes da Rocha

oMarina M. C. Martins

oMarisa Fabris Cabriano

oRaul J. F. de Oliveira

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 2

SBEE – Grupo de Exercício Mediúnico – Módulo 10 – Terça-feira – Sede – nov./2015

Objetivo Geral deste trabalho:

Realizar uma pesquisa sobre as práticas e descobertas científicas envolvendo

o conhecimento panorâmico da época da concepção, desenvolvimento e codificação

da Doutrina Espírita por Allan Kardec.

Objetivos Específicos identificados:

Indicar e apresentar, práticas ou descobertas científicas contemporâneas ao

período de 1850 a 1870, mas seguintes áreas do conhecimento:

Antropologia Astronomia Biologia

Economia Física Pedagogia

Sociologia

Razão da escolha das áreas de conhecimento:

Antropologia – associação direta aos conceitos de evolução mencionados em toda a

obra de Kardec.

Astronomia – descrição cosmológica em um dos capítulos da Gênese (Uranografia

Geral).

Biologia – vários desdobramentos relacionados mediunidade e reencarnação.

Economia – efeitos que o estado econômico da Europa manifestava na sociedade

local.

Física – analogias e relações mencionadas em toda a obra de Kardec para explicar

fenômenos.

Pedagogia – aspectos do conhecimento alcançado nesta área do saber, que

auxiliaram a forma e estruturação da obra espírita.

Sociologia – estado dos avanços sociais que balizaram os exemplos éticos e morais

de Kardec.

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 3

SBEE – Grupo de Exercício Mediúnico – Módulo 10 – Terça-feira – Sede – nov./2015

Apresentação

Cada área do conhecimento, ou grupo de conhecimentos ilustra uma

introdução com pontos importantes na relação do desenvolvimento que Kardec

realizou na codificação Doutrinária.

Também há a indicação da expressão do panorama que as diversas

construções do conhecimento organizado manifestavam na sociedade da época, com

suas grandes vertentes e influências, através de descobertas, práticas ou teorias

vigentes no período.

Ao final de cada contexto de conhecimento, uma breve conclusão indica as

possibilidades que a área em questão pode ter influenciado Kardec, discutindo o meio

intelectual da época, com a disposição científica que permeava as discussões dos

grandes personagens do período.

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 4

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Sumário

Áreas do Conhecimento: BIOLOGIA e ASTRONOMIA ........................................................................... 6

1 INTRODUÇÂO ................................................................................................................................... 6

2 BIOLOGIA ......................................................................................................................................... 7

2.1 MELHORIAS NA SAÚDE .............................................................................................................. 7

2.2 EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES / HEREDITARIEDADE (TRANSFERÊNCIA DE CARACTERES) ............... 9

2.3 CONHECIMENTOS EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR E FISIOLOGIA ............................... 11

2.4 ORIGEM DA VIDA..................................................................................................................... 13

3 ASTRONOMIA ................................................................................................................................ 14

4 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 16

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 17

Área do Conhecimento: ANTROPOLOGIA ............................................................................................ 19

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 19

2 ANTROPOLOGIA ............................................................................................................................. 19

2.1 O PENSAMENTO DE CHARLES DARWIN E KARL MARX E A SUA REPERCUSSÃO NOS ESTUDOS

ANTROPOLÓGICOS ENTRE 1850/1870: ......................................................................................... 22

3 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 25

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 25

Área do Conhecimento: ECONOMIA .................................................................................................... 28

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 28

2 ESTADO DA ECONOMIA ANTERIOR AO PERÍODO DE 1850-1870 ................................................. 28

3 EVENTOS E FATOS QUE ENVOLVERAM A ECONOMIA DE 1850 A 1870 ....................................... 31

4 ESCOLAS ECONÔMICAS ................................................................................................................. 33

4.1 ESCOLA CLÁSSICA (Período aproximado: entre 1735 e 1860) ................................................ 33

4.2 A REVOLUÇÃO MARGINAL (Período aproximado: entre 1865 e 1880)................................... 34

4.3 ECONOMICA NEOCLÁSSICA (Período aproximado: entre 1850 e 1970) ................................. 35

5 POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS DA ECONÔMIA SOBRE A DOUTRINA ......................................... 37

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 38

Área do Conhecimento: FÍSICA ............................................................................................................ 41

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 41

2 FÍSICA ............................................................................................................................................. 41

3 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 48

Áreas do Conhecimento: SOCIOLOGIA e PEDAGOGIA ........................................................................ 49

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 5

SBEE – Grupo de Exercício Mediúnico – Módulo 10 – Terça-feira – Sede – nov./2015

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 49

2 SOCIOLOGIA ................................................................................................................................... 49

3 PEDAGOGIA.................................................................................................................................... 52

4 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................... 57

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Áreas do Conhecimento: BIOLOGIA e ASTRONOMIA

1 INTRODUÇÂO

Esta parte do trabalho objetiva pesquisar sobre as práticas e descobertas

científicas, nas áreas de Biologia e Astronomia, envolvendo o conhecimento

panorâmico da época da concepção, desenvolvimento e codificação da Doutrina

Espírita por Allan Kardec, no período considerado.

Inicialmente, segue breve resumo sobre a vida de Allan Kardec, assim como

sobre a situação da França, país de residência de Allan Kardec na época da

codificação da doutrina (WIKIPEDIA – Allan Kardec).

Hippolyte Léon Denizard Rivail (Alan Kardec) nasceu dia 03 de outubro de 1804

em Lyon, França. Sua família tinha tradição na magistratura e advocacia, mas desde

cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia. A partir dos

quatorze anos de idade, criava cursos gratuitos para ensinar aos colegas. Aos dezoito

anos, bacharelou-se em Ciências e Letras. Aos vinte anos (em 1824) retornou a Paris

e publicou um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Dedicou-se à luta para

uma maior democratização do ensino público. Aos trinta anos (em 1834), passou a

lecionar (Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia

Comparada e Francês), publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se

membro da Real Academia de Ciências Naturais. Entre 1835 e 1840 (dos trinta e um

aos trinta e seis anos), manteve em sua residência cursos gratuitos de Química,

Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Elaborou um manual de aritmética,

adotado por décadas nas escolas francesas, e um quadro mnemônico da História da

França, que visou facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de

maior expressão e as descobertas de cada reinado do país (WIKIPEDIA – Allan

Kardec).

Em 1854 (50 anos) ouviu falar das mesas girantes, mas atribuiu ao magnetismo

animal – crença de que existe um fluido universalmente difundido que poderia ser

transmitido entre os seres humanos, principalmente com propósitos terapêuticos

(MESMER apud NEUBERN, 2007). Apenas em 1855 sua curiosidade se voltou

efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais

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fenômenos se produziam. Após dois anos de pesquisas, convenceu-se de que os

fenômenos eram causados por influência de espíritos, e assim passou a promover

novos métodos de estudo para a identificação desse e de outros fenômenos do tipo.

Mas sagrou-se principalmente a divulgar suas concepções sobre consequências

ético-morais a eles relacionadas (WIKIPEDIA - Espiritismo).

Nessa mesma época, em 1852, foi implantado o Segundo Império Francês, por

Napoleão Bonaparte III, caracterizado pela ditadura, modernização e

desenvolvimento econômico. Paris foi centro de exposições mundiais, para onde

convergiam a divulgação do progresso cultural e industrial do mundo (WIKIPEDIA –

Segundo Império Francês). Paris se transformou radicalmente, de uma cidade de

estrutura medieval, de construções antigas e insalubres, e praticamente desprovida

de grandes eixos de circulação, ela se torna em menos de vinte anos uma cidade

moderna (WIKIPEDIA – História de Paris).

2 BIOLOGIA

Devido ao número de pontos selecionados, as descobertas foram agrupadas

de acordo com os assuntos em:

Melhorias na saúde e conhecimentos sobre imunidade

Evolução das espécies e hereditariedade (transferência de caracteres)

Conhecimentos em biologia celular e molecular e fisiologia

Origem da vida

2.1 MELHORIAS NA SAÚDE

I. Em 1853, Alexander Wood (1817-1884) desenvolveu a seringa hipodérmica

para aplicação de morfina na guerra civil americana (antes ingerida de forma

oral)

Inalação, administração retal, e até infusão intravenosa (feita com pequenas

bexigas) estavam em uso quando Dr. Alexander Wood, de Edimburgo, Escócia, deu

a primeira injeção subcutânea. Dr. Alexander Wood instituiu a prática de injetar

soluções de drogas através da pele, usando uma seringa e uma agulha.

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Uma senhora idosa que sofreu por um longo período de neuralgia cérvico-

braquial, e que, incidentalmente, não podia tomar ópio de nenhuma forma sem ficar

violentamente doente, foi a paciente que permitiu Wood a sua chance desejada:

Consequentemente, em 28 de novembro de 1853, eu a visitei às 22 horas para dar o benefício opiáceo1 da noite [...] Eu inseri a seringa em um ângulo formado pela clavícula e o acrômio, e ingeri vinte gotas de uma solução de muriato2 de morfina, com uma força de aproximadamente o dobro da preparação de farmácia. (MOGEY, 1953).

Essa técnica foi um grande avanço para a medicina, a seringa foi aperfeiçoada

e é amplamente utilizada hoje em dia.

II. Em 1853, Florence Nightingale recomendou o regime de limpeza que

dramaticamente reduziu a taxa de mortalidade nos hospitais

Florence Nightingale (1820-1910) nasceu em uma tradicional e rica família

inglesa, mas recusou o tradicional papel reservado às mulheres aristocratas (educar-

se nas artes de uma boa esposa, esperar por um pretendente e tornar-se uma esposa

submissa). Estudou matemática e interessou-se por questões sociais e políticas,

principalmente as relacionadas com as condições sanitárias dos mais desfavorecidos.

Entrou em ruptura com a sua família, especificamente com a sua mãe, quando

anunciou a sua decisão de trabalhar, dedicando-se à caridade como enfermeira.

Naquela época, essa profissão era exercida por mulheres consideradas

desqualificadas (prostitutas) que, como castigo, eram obrigadas a prestar serviços de

enfermagem. Ela própria dizia que esse ato radical era um chamamento de Deus.

Estudou em diversos hospitais por toda a Europa, principalmente na Alemanha.

Conheceu múltiplas formas de prestação e de organização de cuidados. Participou da

Guerra da Crimeia (1853 a 1856), com um grupo de enfermeiras por si treinadas, para

tratar da saúde dos soldados feridos na frente de batalha. Com base em dados de

mortalidade das tropas britânicas, propôs mudanças organizacionais e na higiene dos

1 Relativo a, ou próprio do ópio 2 Designação desusada dos cloridratos e dos cloretos. F. cf. Muriático

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hospitais, que resultaram em expressiva redução no número de óbitos dos pacientes

internados. (QUEIRÓS, 2012)

2.2 EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES / HEREDITARIEDADE (TRANSFERÊNCIA DE

CARACTERES)

I. Em 1855, Wallace publicou o princípio de que espécies estão sempre em

proximidade com espécies ligadas que os precede no registro fóssil.

Wallace (1823-1913), nascido no País de Gales, foi oi um naturalista,

geógrafo, antropólogo e biólogo. Como viajante naturalista, acreditava que, desde o

início de sua formação, a superfície do planeta veio sofrendo modificações sucessivas

e graduais, e acreditava que também os seres vivos foram se modificando e que

algumas espécies se adaptaram e sobreviveram a essas modificações, enquanto

outras foram extintas. A partir das espécies adaptadas ocorreu a formação de

variedades. E as variedades que resistiram às modificações ambientais serviram de

protótipo para a produção de outras espécies (WALLACE apud CARMO et al, 2012).

Wallace considerava de um modo geral que os grandes grupos taxonômicos como as

classes e ordens, estão espalhados sobre a Terra. Em contraste, os menores, tais

como as famílias e gêneros estão frequentemente confinados a regiões mais

limitadas. Assim, a sequência natural das espécies por afinidade é também geográfica

(WALLACE apud CARMO et al, 2012).

II. Em 1859, Darwin afirmou que todas as vidas têm um ancestral comum e que a

origem das espécies era a seleção natural atuando nas variantes em uma

população e permitindo reprodução diferencial do mais adaptado.

Charles Darwin (1809-1882) nasceu na Inglaterra, em uma família rica e

pertencente à elite intelectual da época. Filho de médico, entrou para a Universidade

de Medicina, mas largou os estudos e passou a se interessar sobre assuntos

naturalistas.

Em 1831, partiu para uma expedição de 4 anos e 10 meses pela América do

Sul e Austrália, onde estudou uma grande variedade de características geológicas,

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fósseis e organismos vivos. Coletou metodicamente diversos espécimes, muitos dos

quais novos para a ciência. Isto estabeleceu sua reputação como naturalista e fez dele

um dos precursores do campo da ecologia. Com base nesses estudos, verificou a

existência da evolução dos seres vivos. Temendo tanto as críticas científicas quanto

as religiosas, Darwin passou décadas desenvolvendo as suas teorias evolutivas

quase sempre em segredo. Tentou explicar sua teoria para amigos mais próximos,

mas eles demoraram a mostrar interesse e pensavam que uma seleção exige um

selecionador divino.

Quando soube do trabalho publicado por Wallace, o qual apresentava uma

teoria similar a de Darwin, Darwin decidiu escrever seu livro, que foi lançado em 1859

com o título: Sobre a origem das espécies por meio de seleção natural. Naquela

época, o termo evolucionismo implicava criação sem intervenção divina e, por isso,

Darwin evitou usar as palavras evolução ou evoluir, embora o livro terminasse

anunciando que: "um número incontável das mais belas e maravilhosas formas

evoluíram e estão evoluindo". (WIKIPEDIA – Charles Darwin).

Nesse livro, Darwin apresenta evidências abundantes da evolução das

espécies, mostrando que a diversidade biológica é o resultado de um processo de

descendência com modificação, onde os organismos vivos se adaptam gradualmente

através da seleção natural e as espécies se ramificam sucessivamente a partir de

formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore: a árvore da vida.

(WIKIPEDIA - A Origem das Espécies).

III. Em 1866, Gregor Mendel interpretou a hereditariedade em termos de

pareamento de caracteres unitários dominante e/ou recessivo; isto é, aqueles

que poderiam na prática ser tratados como partículas indivisíveis e

independentes.

Gregor Mendel (1822-1884) foi um monge austríaco, botânico, que descobriu

os princípios básicos da hereditariedade através de experimentos com plantas. Seus

experimentos mostraram que a herança de determinados traços em plantas de ervilha

segue padrões específicos, posteriormente tornando-se a base da genética moderna

e levando ao estudo da hereditariedade.

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Naquela época, era aceito o fato de que os traços hereditários dos

descendentes de quaisquer espécies eram a mistura diluída dos traços presentes nos

pais. Mendel utilizou ervilhas em seus experimentos, devido às suas muitas

variedades distintas, e porque a prole pode ser rápida e facilmente produzida. Ele

fertilizou plantas de ervilha que tinham características claramente opostos: longos com

curtos, lisas com enrugadas, aqueles que contêm sementes verdes com aqueles que

contêm sementes amarelas, etc. e, depois de analisar os resultados, chegou a duas

de suas mais importantes conclusões: a Lei da segregação, que estabeleceu que há

traços dominantes e recessivos repassados aleatoriamente de pais para filhos, e a lei

da variedade independente, que estabeleceu que os traços foram passados

independentemente de outros traços de pais para filhos. Ele também propôs que essa

hereditariedade seguia leis de estatísticas básicas. Embora experimentos de Mendel

tinha sido conduzido com plantas de ervilha, ele estendeu a teoria de que todos os

seres vivos tinham tais características.

Mendel fez pouco para promover seu trabalho, e as poucas referências ao

trabalho daquela época indicam que tinha sido mal interpretado. A importância da

variabilidade e suas implicações evolucionárias foram largamente ignoradas. Apenas

em 1900 seus trabalhos foram redescobertos, e os estudos retomados com a devida

importância.

2.3 CONHECIMENTOS EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR E FISIOLOGIA

I. Em 1857, Albert von Kolliker descreveu o que depois foi nomeada como

“mitocôndria” nos núcleos das células musculares (organelas responsáveis

pela respiração celular – utilização de oxigênio para produção de energia)

Foram as primeiras observações da existência de “grânulos” nas células

musculares. As funções começaram a ser estudadas apenas em 1923.

II. Em 1861, Paul Broca isolou a função de linguagem e mostrou que uma lesão

no lobo cortical esquerdo causa perda na fala, ou ‘afasia’, demonstrando uma

assimetria cerebral

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Pierre Paul Broca (1824-1880) foi um cientista, médico, anatomista e

antropólogo francês. Ele foi consultado por um paciente chamado Leborgne com

múltiplos problemas neurológicos, que estava há anos sem conseguir falar. Ele

conseguia variar a entonação do som, mas não conseguia produzir palavras

reconhecíveis. Leborgne faleceu alguns dias depois e, na autópsia, foi encontrada

uma lesão na superfície do lobo frontal esquerdo. A descoberta foi recebida com

entusiasmo e tomada como suporte para a premissa de que as funções cognitivas

podiam ser localizadas em áreas específicas do cérebro.

Poucos meses depois, Broca encontrou um segundo paciente, Lelong, de 84

anos de idade, que também apresentava redução da fala, após um ter recebido uma

pancada um ano antes. Na autópsia, Lelong também possuía uma lesão em

aproximadamente a mesma região do lobo frontal lateral, como no primeiro caso, e

Broca reportou para a Sociedade Anatómico como um caso importante, a confirmação

da localização da fala para esta área.

Broca foi posteriormente apresentado com outros casos de distúrbio da fala

com lesões que englobam a terceira convolução3 do lóbulo frontal e, no prazo de

quatro anos, se deu conta de que a maioria dos casos foram lesados no lado esquerdo

do cérebro. A documentação cuidadosa de Broca foi fundamental para estabelecer a

importante ligação entre a fala e o giro frontal inferior do hemisfério cerebral esquerdo.

(DRONKERS et. al, 2007).

III. Em 1863, Otto Friedrich Karl Deiters propôs a imagem de um nervo celular que

é aceito hoje: corpo celular com seu núcleo, dendritos múltiplos, ramificados, e

um único axônio.

Otto Friedrich Karl Deiters (1834-1863), era um neuro-anatomista Alemão. Em

decorrência de melhorias na microscopia, Deiters produziu uma descrição acurada de

um nervo celular completo, com axônio e dendritos. Dieters se referia ao axônio e

dendrites como ‘cilindro axial’ e ‘processos protoplásmicos’, respectivamente.

3 Ação ou efeito de enrolar ou de se enrolar; envolvimento.

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Dieters morreu logo após completar a descrição dos nervos celulares da

medula espinhal, em 1863. Seu trabalho foi finalizado e publicado postumamente por

Max Schultze em 1865. (COSTANDI, 2006).

IV. Em 1867, Theodor Meynert mostrou que a forma laminada do córtex cerebral

era devido à distribuição em camadas paralelas de diferentes categorias de

neurônios.

Theodor Hermann Meynert (1833-1891) foi um psiquiatra austríaco. Iniciou o

estudo sistemático da estrutura cerebral. Os seus estudos estavam concentrados em

anatomia, patologia e histologia cerebral, incluindo o mapeamento topográfico de

intricadas redes neuronais. Por ter feito muitas contribuições envolvendo o estudo das

estruturas celulares cerebrais é muitas vezes considerado o fundador da citologia

cerebral. (WIKIPEDIA – Theodor Hermann Meynert).

Meynert procurou estabelecer que eventos psicológicos eram epifenômenos4

de eventos neurofisiológicos, ambos fundamentalmente dependentes de estruturas

neuroanatômicas específicas. Ele foi o primeiro cientista a perceber que o estudo do

cérebro era um projeto de pesquisa interdisciplinar reunindo a anatomia e a fisiologia.

Várias estruturas nervosas foram descritas por ele, inclusive as subdivisões

corticais, chamadas por ele de organologia, e demonstrou a laminação do córtex

cerebral (GOMES; ENGELHARDT, 2012).

2.4 ORIGEM DA VIDA

I. Em 1861, Pasteur realizou um experimento onde demonstrou a impossibilidade

da geração espontânea da vida (hipótese defendida pelos abiogenistas –

origem da vida a partir de matéria não viva), ou seja, a origem da vida somente

é possível a partir da matéria viva, de um ser vivo preexistente.

Louis Pasteur (1822-1895) foi um cientista francês. Suas descobertas tiveram

enorme importância na história da química e da medicina, seus trabalhos tornaram-se

4 Em alguns positivistas ingleses do séc. XIX (Huxley, Clifford, etc.), essa palavra designou a consciência, considerada fenômeno secundário ou acessório que acompanha os fenômenos corpóreos, mas é incapaz de reagir sobre eles

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 14

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o início do que chamamos de microbiologia. Segundo Pasteur, era necessário estudar

e identificar cada micróbio responsável por cada doença infecciosa, pois somente

assim seria possível desenvolver métodos e técnicas para combater este agente

infeccioso (ARROIO, 2006).

Em 1861, provou a teoria da biogênese, na qual a origem da vida somente é

possível a partir da matéria viva, de um ser vivo preexistente. Anteriormente,

acreditava-se que seres vivos poderiam vir a existir espontaneamente a partir de

matéria não-viva, em um processo chamado de geração espontânea. Em um de seus

experimentos, o qual ele caracterizou como “inatacável e decisivo”, ele usou o que se

tornou seus famosos frascos com pescoço de ganso para demonstrar que se o ar

atmosférico for excluído das infusões fervidas, então nenhum: “microrganismo vivo

apareceria, mesmo depois de meses de observação. No entanto, se poeira

atmosférica for introduzida, micróbios vivos apareceriam em dois a três dias. ” (SMITH,

2012).

3 ASTRONOMIA

Em 1851, Foucault (1819-1868) verificou que a oscilação de um pêndulo, visto

relativo à Terra, gradualmente muda de direção. Isso evidencia a rotação da Terra.

O hoje conhecido como pêndulo de Foucault trata-se de um instrumento

desenvolvido pelo físico francês Jean Bernard Léon Foucault para demonstrar a

rotação da Terra. Ele permite deduzir o movimento de rotação do planeta pela

observação da oscilação de um pêndulo em relação a um ponto referencial. Foucault

demonstrou essa particularidade em 1851, fixando um pêndulo no teto do Panthéon

de Paris. Observando a oscilação e a rotação do pêndulo, ele pode provar a rotação

da Terra. Verificou também que a velocidade e a direção de rotação do plano pendular

permitiam igualmente determinar a latitude do local da experiência sem precisar fazer

nenhuma observação astronômica exterior. Essa descoberta foi muito importante para

o avanço da Astronomia. (ANATALINO, 2010).

Em 1861, Anders Jonas Angström confirmou a presença de hidrogênio no Sol.

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 15

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Anders Jonas Angström (1814-1874), foi um físico sueco e um dos fundadores

da ciência da espectroscopia. O termo espectroscopia é a designação para toda

técnica de levantamento de dados físico-químicos através da transmissão, absorção

ou reflexão da energia radiante incidente em uma amostra. (WIKIPEDIA -

Espectroscopia).

Em 1861, ele iniciou o estudo do espectro solar. Sua combinação do

espectroscópio com a fotografia para o estudo do sistema solar resultou em provar

que a atmosfera do Sol contém hidrogênio, entre outros elementos (1862), e em 1868

ele publicou seu grande mapa do espectro solar, incluindo medições detalhadas de

mais de 1000 linhas espectrais. (WIKIPEDIA – Anders Jonas Angström).

Em 1863, William Huggins coletou vários espectros estrelares que mostraram

que as estrelas consistem dos mesmos gases que o Sol.

Depois que Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846) e outros cientistas foram

capazes de medir a distância das estrelas no início do século XIX, foi possível

determinar os seus brilhos, quando comparadas com o Sol. Como muitos astrônomos

suspeitavam, as estrelas não eram apenas pequenos pontos de luz, como os povos

antigos pensavam que fossem, mas pareciam como sóis distantes, cuja luz era

reduzida devido à vasta distância. Mas ainda não era possível confirmar tal informação

pela impossibilidade de comparar a composição das estrelas com a composição do

Sol, e, consequentemente, para mostrar que eles eram de fato feitos do mesmo

material. A tarefa de fazer essa conexão final, e que estabelece as bases para a

espectroscopia moderna, foi realizada por William e Margaret Huggins (1824-1910, e

1848-1915, respectivamente). Eles foram os primeiros a detectarem os mesmos

elementos nas estrelas que Kirchhoff e Bunsen encontraram no sol - demonstrando

que as estrelas são de fato Sóis, e o Sol é uma Estrela. (CARNEGIE, Timeline 1861).

Em 1866, Huggins fez as primeiras observações espectroscópicas de uma

Nova (uma nova ocorre num sistema binário em que um dos elementos é uma estrela

anã branca.).

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 16

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Continuando com suas observações espectroscópicas, em 1866 Huggins

observou uma nova, que é uma explosão nuclear cataclísmica, causada pelo

acréscimo de hidrogênio à superfície de uma estrela anã branca, o que provoca um

brilho repentino da estrela. (WIKIPEDIA - Nova).

Em 1868, Huggins observou a locomoção de estrelas.

Em 1868, anunciaram outra importante descoberta que iria ter profundas

implicações na cosmologia. Quando observaram Sirius, a estrela mais brilhante no

céu, eles observaram que as linhas espectrais se deslocavam ligeiramente em direção

do lado vermelho do espectro. Essa alteração nas linhas espectrais implicava que

Sirius estava se movendo para distante da Terra em aproximadamente 217

quilômetros por segundo. Eles mediram outras estrelas e perceberam que poucas

possuem uma alteração nas linhas espectrais em direção ao lado azul do espectro,

indicando que elas se movem em direção à Terra. Esse método é chamado de efeito

Doppler. (CARNEGIE, Timeline 1861).

4 DISCUSSÃO

O século XIX foi marcado por diversas revoluções na Europa, mudanças

sociais, políticas e econômicas. Com o avanço da industrialização, houve um grande

aumento das cidades e do progresso tecnológico. Ocorreu uma série de avanços

científicos, dentre eles as descobertas nos campos da Biologia e da Astronomia.

Na biologia, aprimoramentos nos microscópios permitiram estudos mais

detalhados das células e tecidos. Com isso, diversas descobertas aconteceram, que

permitiram não apenas ampliar os conhecimentos sobre o funcionamento dos órgãos

e tecidos, como promoveram melhorias médicas, proporcionando melhor qualidade

de vida aos enfermos e diminuindo a mortalidade causada por infecções.

Também ocorreram importantes descobertas sobre evolução e

hereditariedade, mostrando que os seres são suscetíveis a mutações, e que a

transferência de caracteres não ocorre ao acaso, mas segue leis de estatísticas

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básicas. Por fim, foi demonstrado que a vida não surge de forma espontânea, mas

apenas a partir de outra vida pré-existente.

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Área do Conhecimento: ANTROPOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa tem como finalidade apresentar o emergente

panorama científico na Europa entre as décadas de 1850 a 1870. Primeiramente, com

enfoque ás ideias que estruturavam, a ainda nascente, ciência da Antropologia. Para

posteriormente relacionar esses postulados aos princípios fundantes, da também

embrionária, Doutrina dos Espíritos, contemporaneamente codificada por Allan

Kardec; sendo ambas fomentadas pelos ecos cientificistas do Iluminismo europeu.

O iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de ação.

Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar este

mundo um lugar melhor, mediante introspecção, livre exercício das capacidades

humanas e do engajamento político-social.

Immanuel Kant (1784) como resposta à questão "O que é o iluminismo?",

descreveu de maneira lapidar a mencionada atitude:

O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do iluminismo.

2 ANTROPOLOGIA

Pela grande influência que Karl Marx e Charles Darwin exerceram sob os

pesquisadores, seus contemporâneos, esta pesquisa será estruturada em torno

destes dois grandes cientistas, e do impacto que as suas ideias causaram,

fomentando raciocínios e conclusões surpreendentes e inovadoras, agora, orientadas

pelo dinamismo continuísta de A Origem das Espécies, de Darwin, e pelo irrefutável

chamado á responsabilidade social de O Capital, de Marx.

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 20

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O cientista e naturalista inglês, Charles Darwin (1809-1882); e muitos foram

os fatos que o levaram publicar a Teoria da Evolução no livro “A Origem das Espécies”,

juntamente com Alfred Wallace, em 1859.

Um dos marcos mais importantes da sua história foi a viagem a abordo no navio

Beagle entre 1831 e 1836, quando visitou as mais diversas regiões do globo e teve

condições de perceber a relação entre os fósseis e as espécies ainda vivas, através

da pesquisa de campo.

A observação dos mecanismos de adaptação das aos seus diferentes

ambientes e modos de vida, de cada espécie, também foi primordial. Um exemplo

destas comparações foi entre as emas e avestruzes, espécies que, apesar da

semelhança, ocupam regiões geográficas distintas. Assim como os tentilhões das

Galápagos, com bicos adaptados aos alimentos daquele ambiente; e as tartarugas

gigantes do mesmo arquipélago, com detalhes no casco característicos para

indivíduos de cada ilha, também foram exemplos clássicos para os insihgts e

conclusões do cientista.

Assim, ele teve condições de, por mais de 20 anos, relacionar esses fatos e

publicar a teoria da evolução. Diz-se que a demora se refere, principalmente a uma

pressão do pensamento religioso da época, que afirmava serem as espécies fixas, ou

seja: todas as espécies que Deus criou no início do mundo seriam as mesmas, sem

nenhuma a mais, a menos, ou diferente.

Quando chegou de viagem, Darwin já era bastante conhecido, então, o também

explorador e antropólogo Alfred Russel Wallace (1823-1866) pediu a Darwin para que

lesse seus manuscritos acerca de uma descoberta que teve e desse o seu parecer.

Darwin, ao se dar conta de que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria

praticamente idêntica à sua, aquela em que vinha trabalhando, com grande sigilo, ao

longo de vinte anos - escreveu ao amigo Charles Lyell, geólogo britânico (1797-1875):

"Toda a minha originalidade será esmagada". Para evitar que isso acontecesse, Lyell

e o botânico Joseph Hooker (1817-1911); também amigo de Darwin e com grande

influência no meio científico, propuseram que ambos os trabalhos fossem

apresentados simultaneamente à Linnean Society of London (Sociedade Linneana de

Londres), o mais importante centro de estudos de história natural da Grã-Bretanha,

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em Julho de 1858. Em seguida, Darwin prontamente decidiu terminar e expor a sua

teoria. “A Origem das Espécies”, que foi publicada no ano seguinte.

O filósofo e revolucionário alemão Karl Heinrich Marx (1818-1883), nasceu em

Trèves, cidade ao sul da Prússia Renana. Estudou Direito, História, Filosofia, Arte e

Literatura na Universidade de Bonn.

Em 1836, ele vai para Berlim, onde se propagam as ideias de Hegel, destacado

filósofo e idealista alemão. Marx se alinha com os hegelianos de esquerda, radicais

nos ataques a religião e a sociedade estabelecida em valores que privilegiavam as

elites; Marx, era em princípio simpatizante dessa estratégia de ataque à cristandade

para sabotar o estabelecimento da Prússia; mas, mais tarde formou ideias divergentes

e rompeu com os jovens hegelianos.

Marx concluiu que religião não é a base do poder de estabelecimento, mas em

vez disso, é a posse do capital: terras, dinheiro, e os meios de produção, que estão

situados no coração do poder desse estabelecimento. Percebeu que a religião era um

amparo vital para o oprimido proletariado, o único conforto deles numa vida na qual

ele não estaria disposto a abandonar por não saber para onde ir. A partir desta escolha

a vida de Marx toma rumos difíceis, ele fica sujeito a extradições, prisões e

perseguições políticas onde quer que tentasse trabalhar e viver com a sua família.

Porém, ele se manteve filiado a sindicatos de operários e trabalhadores.

Friedrich Engels (1820-1895), o teórico revolucionário alemão com quem ele fundou

o chamado socialismo científico ou marxismo, foi coautor de diversas obras com Marx;

ambos em 1867 publicam O Capital, obra em que sintetizam as suas críticas à

economia capitalista; onde esboçam suas principais ideias sobre sociedade,

economia e política, falando de um conflito entre a classe social que controla os meios

de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão de obra para a produção.

Engels também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos

volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador.

É relevante lembrar que, muito se tentou relacionar diretamente pensamento

destes dois gênios; mas, as discussões não alcançam consenso:

A relação entre Darwin (e darwinismo) e o marxismo é muito mais complexa do que parece à primeira vista. Na área de influência marxista, a concepção hegemônica e mais divulgada é que as duas concepções são semelhantes e uma estaria ligada ao processo de evolução biológica enquanto que a outra seria

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expressão da evolução social. O darwinismo abordaria a luta pela sobrevivência, a evolução das espécies, enquanto que o marxismo abordaria as mudanças sociais. Darwin teria produzido uma teoria da evolução que seria um complemento e confirmação da teoria marxista e da dialética materialista, servindo, simultaneamente, para refutar as doutrinas religiosas e criacionistas e apresentar uma base biológica para a dialética. (VIANA, 2009)

2.1 O PENSAMENTO DE CHARLES DARWIN E KARL MARX E A SUA

REPERCUSSÃO NOS ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS ENTRE 1850/1870:

Podemos pensar que foi durante essas três décadas que aconteceu a eclosão

das ideias fomentadas no período iluminista. O pensar filosófico genial de Marx

decodificando o funcionamento axial da sociedade materialista; e Darwin trazendo a

mais vasta contribuição ao conhecimento feita por um único homem.

Podemos concluir também que este foi um tempo em que o brilho da

intelectualidade emergia em inúmeros pontos do Planeta, promovendo a abertura para

uma nova concepção de todas as coisas, através das mentes atentas e inquietas dos

estudiosos, curiosos e cientistas, que pareciam inspirar e ser inspirados

telepaticamente uns pelos outros:

Daniel Wilson (1816-1892), publica a Arqueologia e Anais Pré Históricos da

Escócia, introduzindo o termo pré-histórico no vocabulário arqueológico inglês;

Franz Unger (1800-1870), propõe que a diversidade das espécies vegetais

tinha origem (celular) interna e não externa;

Johann Carl Fuhlrott (1803-1877) e Hermann Schaaffhausen (1816-1893),

anunciam a descoberta do fóssil do Homem de Neandertal;

Richard Francis Burton (1821-1890), descobre a fonte do rio Nilo; e os seus

relatos de viagens e estudos etnográficos são considerados um tesouro

científico;

Herbert Spencer (1820-1903), considerado o principal representante do

evolucionismo nas ciências humanas, iniciou a publicação do que chamou de

Sistema de Filosofia Sintética.

Jacques Boucher de Perthes (1788-1868), pré-historiador francês, publica o

Discurso do Homem Antediluviano e suas Obras, concluindo que o homem foi

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contemporâneo de elefantes e hipopótamos extintos pelo dilúvio; e que houve

o clima tropical, do gelo, e um período temperado;

Louis Laurent Gabriel de Mortillet (1821-1898), lança Matériaux Pour

L'histoire Positive et Philosophique de L'homme (Materiais para a História

Positiva e Filosófica do Homem). A sua maior contribuição para a Antropologia

foi a primeira classificação cronológica do desenvolvimento cultural do homem

pré-histórico;

Lewis Henry Morgan (1818-1881), lança Systems of Consanguinity and

Affinity of the Human Family (Sistemas da Consanguinidade e Afinidade da

Família Humana), onde ele estabelece conexões de sistemas de parentesco

em escala global. Morgan é considerado o fundador da moderna antropologia

científica.

Allan Kardec, ou, o eminente pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, que,

através de O Livro dos Espíritos, é portador do convite de baluartes da humanidade,

agora no além-túmulo. Nascido em Lyon, França, em 1804, Rivail foi educado em uma

escola suíça de renome, fundada e dirigida por Johann Heinrich Pestalozzi (1746-

1827), renomado mestre pedagogo.

Por ser dotado de inteligência e disciplina notáveis e atraído para o ensino, ele

tornou-se um dos mais eminentes alunos do famoso educador; algumas vezes

substituiu-o à frente da escola. Aos quatorze anos, já ensinava seus colegas menos

adiantados.

Criado sob a influência católica e educado em um país protestante, a

intolerância religiosa marcou-o profundamente, o que o fez precocemente tentar criar

uma espécie de reforma religiosa, na qual trabalhou silenciosamente por muitos anos,

vislumbrando alcançar a unificação de todas as religiões.

Aos dezoito anos terminou seus estudos e retornou para a França diplomado

em ciências e letras. Dominava perfeitamente seis idiomas. Tornou-se membro de

várias sociedades acadêmicas. Durante cinco anos estabeleceu, em sua residência

cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia, Astronomia, etc. Após o ano de 1834,

passou a lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro

da Real Academia de Ciências Naturais.

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Elaborou inúmeros trabalhos aprovados na gestão da educação. Seus projetos

deixam claras as suas nobres intenções de contribuir para tornar o ensino acessível a

todos.

Kardec, que era um indivíduo dotado de uma natureza calma e crítica, observou

os fatos relativos a comunicação com os espíritos e de suas observações deduziu as

leis que os regiam. Ele foi o primeiro a apresentar uma teoria a respeito de

acontecimentos tidos como místicos, e a organizá-los em um corpo doutrinal,

metódico e regular. Primando por demonstrar que fatos considerados sobrenaturais,

eram, na verdade sujeitos às leis universais, e classificou-os como fenômenos da

Natureza ainda desconhecidos como tal; eliminando, assim, o último refúgio da

maravilha e da superstição ainda presentes na mente humana.

No século XIX, quando Kardec iniciou a sua observação criteriosa, esses

acontecimentos chamados sobrenaturais muito em voga na sua época, denominados

de Fenômeno das Mesas Girantes, pois, as mesas erguiam-se e giravam no espaço

para “responder” a perguntas feitas pelos curiosos ao seu redor. Por observar que tais

fenômenos demonstravam raciocínio no teor das respostas, ele pôs-se a desenvolver

métodos para esta comunicação.

Constatando que havia nas respostas, além de elevado nível intelectual, um

importante cunho científico-filosófico-moral; Kardec decidiu que todas as informações

reveladas pelos Espíritos seriam examinadas e organizadas por critérios estritamente

científicos, e que tudo seria catalogado de forma didática para ser fielmente publicado.

O Livro dos Espíritos estruturou-se a partir desses diálogos, onde os espíritos

desencarnados discorreram sobre uma incontável variedade de temas, fundamentos

de intangível relevância científica, filosófica e teológica; não apenas concernentes ao

tempo e espaço conhecidos, mas, incluindo também o eterno e o universal.

Confirmando ser irrefutavelmente mais um fruto da abundante árvore do Iluminismo,

o Espiritismo caracteriza-se especificamente por um ideal de compreensão da

realidade, que integra as três vertentes clássicas do conhecimento humano: a ciência,

a filosofia e a moral cristã; pois, segundo Kardec, cada uma delas, tomada

isoladamente, tende a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo.

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A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três,

visando à obtenção de um resultado, que a um só tempo seja mais abrangente e mais

profundo, para melhor compor a complexa realidade humana.

3 DISCUSSÃO

Podemos observar que as propostas que emergiram dessas mentes

privilegiadas, entre 1850 e 1870, ocupavam-se em desenvolver uma observação

diferenciada de todo o existente.

Havia uma atmosfera premente de renovação; a Humanidade estava

ansiosamente pronta para ir adiante com novos referenciais, reconceituando-se à

partir de si e da própria história, agora mais do que nunca próxima de uma inédita

realidade revelada pela antiga proposição grega de olhar tudo e todos através das

luzes da Matemática e da Filosofia, decompostas através do raciocínio e da lógica

presentes em cada uma das prismáticas ciências nascentes.

As mentes aptas a captar esses ideais intelectuais gregos foram naturalmente

alinhando-se á eles, e concretizando-os em achados e catalogação de fósseis de

outras eras, entre outros, promovendo uma nova visão histórica de um ser humano

menos dístico e mais humanizado, afigura-se ao simples ápice da evolução dos outros

reinos. Essas mentes capazes, foram trabalhando na descoberta e na nominação de

tudo o que o microscópio e o telescópio, assim como a lógica, a análise comparativa

e dedutiva conseguissem alcançar.

A tudo isso, foi ainda associado o surgimento de um novo e invisível Universo,

que vem manifestar-se inteligente e voluntariamente, revelando que a vida de além-

túmulo também quer ser incluída oficialmente a esse incomparável patrimônio

humano, agora sim, mais real.

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Área do Conhecimento: ECONOMIA

1 INTRODUÇÃO

Sob esta área de conhecimento, pretende-se apresentar as condições

contemporâneas à Kardec, sob as quais a codificação da Doutrina Espírita poderia

sofrer alguma influência. Note-se que em muitas passagens da codificação, o meio

cultural, filosófico e conjuntural da Europa serviu de cenário para a exemplificação,

consideração civilizatória e indicação dos avanços que as propostas dos Espíritos

manifestavam. Portanto, Kardec sofreu a influência de várias correntes filosóficas que

se disseminavam neste continente, além da grande conjuntura global dos

acontecimentos.

Contudo, as influências econômicas que se manifestavam nas instituições

mundiais, as quais poderiam ter gerado algum desdobramento sobre aspectos da

codificação, não podem apenas ser consideradas no lapso analisado (entre as

décadas de 1850 e 1870), pois o panorama de manifestação econômica se mostra

como uma continuidade de progressões e regressões de ideias, conjugando-se e

distendendo-se. Assim, são importantes as manifestações das tendências da

economia durante o período analisado. Mas para isto, torna-se necessária a

apresentação do estado do conhecimento, ou práticas econômicas, que se

manifestavam imediatamente antes destas décadas. Então, um rápido relato do que

se utilizava nas teorias, conhecimento e práticas econômicas será apresentado.

2 ESTADO DA ECONOMIA ANTERIOR AO PERÍODO DE 1850-1870

O grande cenário econômico que se constitui, anterior às décadas entre 1850

e 1870, é o da Revolução Industrial5. Período que se desenrola entre 1760 a 1840,

aproximadamente, ficou notório pelo grande desenvolvimento tecnológico de certas

5 Esta Revolução ocorre pelo fato da evolução e disseminação das máquinas, principalmente à vapor, substituindo o trabalho manual pelo mecânico. A substituição causou grandes mudanças, em vários aspectos: na aceleração da produção, portanto, na escala de produção; na distribuição da produção; na necessidade maior de matéria prima; na melhora das vias de escoamento da produção, portanto, nas estradas e ruas; na demanda; nas relações do trabalho; etc. (FERNANDES, [s.d.])

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áreas do conhecimento humano, como: as máquinas a vapor, a indústria têxtil, a

metalurgia, etc.

Estas facilidades tecnológicas deram um grande impulso produtivo nos

mercados, portanto, causaram uma época de grandes mudanças econômicas, onde

o capital6 começou a ser parte importante da cultura social. O crescimento da

economia, provocou efeitos colaterais nas sociedades onde este fenômeno se

manifestou, alterando os padrões de vida e urbanidade das cidades, o trato social

quanto ao trabalho e o crescimento demográfico de várias cidades e regiões.

Assim, se estabelece o alicerce econômico que alavancou a época anterior à

codificação da Doutrina Espírita, tendo a Europa como a grande concentradora da

riqueza, tanto produtiva, quanto monetária.

Para caracterizar as correntes de pensamento que influenciaram este período,

pode-se mencionar alguns personagens como (ONLINEMBA, 2013):

Adam Smith (1723-1790), considerado o precursor da economia moderna, que

em 1776 publica o trabalho denominado: Uma investigação sobre a natureza e

a causa da riqueza das nações; manifestando a ideia de autorregulação dos

mercados, como se houvesse uma mão invisível que atua sobre estes; a noção

de auto interesse racional de uma economia livre e o bem-estar econômico que

esta liberdade promove;

Jeremy Bentham (1748-1832), filósofo, jurista e economista, escreve em 1887

um trabalho intitulado: A Defesa da Usura; compactuando as ideias de Adam

Smith, no sentido da liberalidade econômica, defendendo, porém, a intervenção

do Estado na economia; é associado por muitos historiadores à doutrina do

utilitarismo, considerado um dos pensadores da economia do bem-estar;

Thomas Malthus (1766-1834), economista inglês, considerado o precursor

dos estudos sobre a demografia humana. Em 1803 escreveu uma obra

denominada: Segundo Ensaio; descrevendo os efeitos que as populações

causam, tanto nos costumes, quando na sua proliferação (considerando-a

6 Do Dicionário Aulete Digital, sob a rubrica econômica, tem-se que capital é: “Conjunto dos bens disponíveis, riqueza; [...] O total desses bens aplicáveis à produção e à geração de renda [...] Patrimônio de uma empresa, que se constitui de, ou pode ser convertido em dinheiro [...]” (AULETE).

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crescente em progressão geométrica), indicando a relação da oferta de

alimentos com a variação do aumento populacional. Em 1820 e 1827 publica

duas obras econômicas denominadas: Princípios de economia política e

Definições em economia política, respectivamente; associando a demanda à

sustentação da economia capitalista;

David Ricardo (1772-1823), economista inglês, publicou três importantes

obras econômicas, em 1810: O alto preço do ouro, uma prova da depreciação

das notas bancárias; em 1815: Ensaio sobre a influência de um baixo preço do

cereal sobre os lucros do capital; em 1817: Princípios da economia política e

tributação. Nas suas obras o principal assunto envolve a teoria do valor-

trabalho e a distribuição do produto gerado pelo trabalho na sociedade,

influenciando várias linhas de pensadores político-econômicos, tanto os

neoclássicos, como os marxistas. Sua teoria se opõe diretamente à demanda,

ponto de sustentação do capitalismo.

Como aspectos secundários, porém muito significativos, alguns outros eventos

também contribuíram para os avanços econômicos deste período, como:

a impressão de tabelas matemáticas via máquinas automatizadas; para tal em

1830, o inventor inglês Charles Babbage (1791-1871) criou uma espécie de

computador mecânico programável, que apresentava a qualidade de

automatizar a produção e apresentação de tabelas matemáticas

(WOLFRAMALPHA, [s.d.]);

também em 1830, o filosofo francês Auguste Comte (1798-1857), através de

sua obra Curso de Filosofia Positiva (fundando a filosofia positivista), apresenta

os pontos que sustentava serem a base para o desenvolvimento intelectual: o

teológico, em que os eventos são atribuídos a forças sobrenaturais; o

metafísico, em que os fenômenos naturais são atribuídos a forças

fundamentais; e o positivo, em que os fenômenos são explicados pela

observação, hipótese, e experimentação;

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já em 1844, Samuel Finley Breese Morse (1791-1872), um físico e inventor

americano, apresenta ao mundo o código Morse e o telégrafo com fios

(SCIENCETIMELINE, [s.d.]).

Notadamente estes últimos não são eventos disseminadores de conhecimento

ou teorias econômicas, porém, criaram dispositivos ou ideias que mais tarde

influenciaram ou contribuíram para a aceleração do desenvolvimento econômicos de

culturas que permearam o período da Codificação do Espiritismo.

Por certo, o advento das ideias positivistas de Comte, causaram um grande

marco na consideração do pensamento intelectual, científico e cultural dos centros da

Europa, influenciando de forma significativa tanto a economia, como a Codificação da

Doutrina, basta-nos observar as formas racionalmente incisivas que Kardec se utiliza

para formular as questões apresentadas aos Espíritos durante fase de elaboração do

Livro dos Espíritos (1857).

3 EVENTOS E FATOS QUE ENVOLVERAM A ECONOMIA DE 1850 A 1870

Com desdobramento muito significativos sobre o período considerado, em

1848, John Stuart Mill (1806-1873), publica uma obra denominada Princípios de

Economia Política, onde apresenta a ideia de livre mercado, no sentido de economia

democrática, opondo-se às correntes puramente capitalistas da época. Sua obra

recebeu uma forte influência do pensamento de Adam Smith e David Ricardo,

apresentando pontos que se mantiveram como a orientação da economia por muitos

anos. (ONLINEMBA, 2013).

Esta obra apresenta concepções sobre o salário, a produção e a distribuição,

desafiando a escola econômica clássica (vide explicação sobre as escolas

econômicas no item 4). Sua crítica é orientada no sentido de propor melhorias sociais,

expondo considerações desconfortáveis que priorizavam o lucro através de

concepções econômicas simplista em detrimento a vários benefícios sociais.

(WILSON, 2014).

Diferente de Mill, que propõem novos fundamentos para a teoria econômica,

Paul Julius Freiherr von Reuter (1816-1899), um jornalista e empresário da área de

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 32

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comunicações, visualizou em 1850 as partes práticas da economia, propondo a

primeira transmissão da informação de cotação de ações, entre Aachen e Bruxelas

(na Alemanha e Bélgica, respectivamente). Reuter utilizou-se de pombos para trafegar

as informações, mais tarde, seu tino comercial iria conduzi-lo a fundar a Agencia

Reuter de notícias e informações. (WOLFRAMALPHA, [s.d.]).

Em outra perspectiva prática em 1860, Robert FitzRoy (1805-1865), capitão

do famoso navio HMS Beagle (que realizou a viagem onde Charles Darwin angariou

dados para fundamentar o seu trabalho A Evolução das Espécies, em 1859), foi o

pioneiro do estudo da meteorologia, utilizando-se de uma rede de estações

telegráficas para criar os primeiros gráficos sistemáticos da previsão do tempo, que

manifestam grandes desdobramentos sobre as áreas da agricultura e do transporte

marítimo da época. (WOLFRAMALPHA, [s.d.]).

Ainda na perspectiva de ações práticas que alavancaram a economia, em 1850

o primeiro cabo submarino ligando Calais a Dover (norte da França e sul da Inglaterra,

respectivamente), foi estabelecido. Aprimorado em 1852, mostrou-se extremamente

atrativo para incrementar as perspectivas econômicas de ambos os países, ligando

as bolsas de valores de Londres e Paris. Abrindo as portas para a realização de outras

conexões de informação entre partes mais remotas do mundo. (SILVA, [s.d.]).

Já em 1857, Cyrus West Field (1819-1892), um grande negociante americano,

fez a primeira tentativa para estabelecer um cabo telegráfico entre a Europa e a

América, porém, não obteve sucesso, mantendo o contato por pouco tempo. No

entanto, em 1866, o intento foi realizado com sucesso, integrando as informações dos

dois continentes. (SCIENCETIMELINE, [s.d.]).

Além das ideias de Mill, a teoria econômica foi movimentada de forma bastante

significativa neste período com a publicação, em 1867, da obra: O Capital, de Karl

Heinrich Marx (1818-1883). A obra deste alemão, fundador do movimento marxista,

obteve desdobramentos nas mais diversas áreas de sua atuação como pensador7.

Esta obra recebeu uma forte influência da economia política da escola clássica (vide

explicação sobre as escolas econômicas no item 4). Marx estudou com bastante

profundidade os movimentos que fundamentavam a teoria econômica mais remota,

7 Marx atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista, fundando o pensamento comunista moderno.

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como a dos gregos, até as vertentes mais próximas ao seu período social. Sob forte

influência de Adam Smith e David Ricardo, suas ideias fizeram considerações sobre

o valor, o trabalho e a sociedade.

Sob o ponto de vista social, em virtude da divisão social do trabalho, sua obra

apresenta considerações sobre classes dominantes e classes dominadas, onde a

primeira, segundo ele, receberia a simpatia do Estado, representando seus interesses,

criando uma estrutura que ampararia a produção.

A análise da obra de Marx apresenta uma forte oposição à estrutura produtiva

capitalista, no entanto, só recebeu atenção por volta de 1879, quando um alemão

estudioso de Economia política (Adolph Wagner8 - 1835-1917), fez menção ao seu

trabalho. A partir daí a obra marxista tornou-se mais lida e analisada, especialmente

por movimentos iniciados por classes operárias. (ONLINEMBA, 2013).

4 ESCOLAS ECONÔMICAS

Em todas as épocas, as práticas econômicas se manifestam através de ideias

majoritárias que conduzem a teoria e suas tendências. Estas correntes, as vezes

dominantes, ou compartilhantes de diretivas preferenciais para realizarem a prática

dos meios econômicos, recebem o nome de escolas. Assim, em vários períodos da

cultura humana a influência de certos direcionamentos ou estruturas de ideias

conduziram a práxis econômica de povos ou regiões. Portanto, serão apresentadas

aqui algumas delas, cuja manifestação ocorre no período que intersectam as décadas

entre 1850 e 1870.

4.1 ESCOLA CLÁSSICA (Período aproximado: entre 1735 e 1860)

A economia clássica é amplamente considerada como a primeira escola

moderna do pensamento econômico. Os principais desenvolvedores desta corrente

8 Adolph Wagner foi um economista e político alemão socialista, influente e estudioso das finanças públicas foi grande defensor dos movimentos agrários. (WIKIPEDIA, Adolph Wagner).

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de pensamento são: Adam Smith, Jean-Baptiste Say9, David Ricardo, Thomas

Malthus e John Stuart Mill.

A teoria preconizada pelos economistas clássicos alega que os mercados se

autorregulam quando estão livres de qualquer controle. Adam Smith utiliza uma

metáfora, simbolizada por uma mão invisível, que se move no sentido do equilíbrio

natural dos mercados, sem que seja necessária qualquer intervenção externa, até

mesmo dos gestores estatais.

4.2 A REVOLUÇÃO MARGINAL (Período aproximado: entre 1865 e 1880)

Esta estrutura de pensamento ocorre da conjugação de quatro vertentes de

ideias, apresentadas a seguir:

Primeiramente devido à mudança de foco que a economia tomou no final do

século XIX, onde a orientação clássica de longo prazo, apoiada pela teoria da

população, com seu bem-estar e crescimento, inclinou-se para prazos mais

curtos. Assim, o capital e o trabalho ganharam mais destaque na produção,

bem como a utilidade e as escolhas do consumidor. Porém, esta mudança de

polarização não foi premeditada nem intencionada por nenhum pensamento

econômico, ocorrendo de forma marginal, o que chamou a atenção de

estudiosos, influenciando tendências futuras. Devido a espontaneidade do seu

surgimento, esta escola recebeu o nome de revolução marginal, pois estava à

margem de pensamentos econômicos intencionais.

Em segundo lugar, o emprego de ferramentas matemáticas começou a se

apresentar de forma mais comum para sustentar as estruturas econômicas. A

principal contribuição para esta mudança ocorre com Walras10 em seus

estudos e proposições sobre a teoria do valor, que sob a influência dos grandes

9 Jean Baptiste Say (1767-1832), economista francês, considerado o formulador da lei de Say, onde a oferta de um produto geraria a demanda por outros produtos, contudo, uma prévia fonte de oferta deveria existir. (WIKIPEDIA, Jean-Baptiste Say). 10 Marie-Esprit-Léon Walras (1834-1910) foi um matemático da área de economia, de origem francesa. Formulou a teoria marginal de valor, apoiado em cálculos matemáticos (de forma independente de William Stanley Jevons e Carl Menger, dois outros teóricos da revolução marginal), foi pioneiro do desenvolvimento da teoria geral do equilíbrio econômico. (UAEC-UFCG, Walras).

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avanços das ciências naturais, também tiveram o suporte das ciências

matemáticas. Este estudioso teria solucionado um problema apresentado por

Cournot11, demonstrando através de sistemas de equações que os preços

apresentam uma relação com os suprimentos e a demanda, para todos os

mercados simultaneamente.

Em terceiro lugar; ainda que desenvolvidas de forma independente, as novas

teorias propostas por Walras (com sua fundamentação matemática da

economia), Jevons12 (com o seu estudo sobre a utilidade) e Menger13 (com

estudos subjetivos sobre o valor) formaram um sistema, quando consideradas

em conjunto, ganhando credibilidade e aceitação, popularizando-se no meio

científico

Por fim, a geração que propôs este grupo de teorias conhecida como marginal,

foi uma das primeiras a ter um desenvolvimento educacional formal em

economia. Iniciando a introdução de fundamentos científicos no estudo e no

suporte dos profissionais da área econômica, bastante diferente das gerações

anteriores.

4.3 ECONOMICA NEOCLÁSSICA (Período aproximado: entre 1850 e 1970)

Irving Fisher14 introduziu o termo da economia neoclássica em 1900, mas o

termo foi usado posteriormente para designar as obras de escritores anteriores a esta

11 Antoine Augustin Cournot, mais conhecido como Cournot (1801-1877) foi um matemático e economista francês, propulsor das teorias marginalistas, conhecido por seus estudos sobre a oferta e a demanda nos termos da competição. Também considerou as condições para o equilíbrio com monopólio, duopólio e concorrência perfeita. Considerou o efeito dos impostos, tratados como alterações nos custos de produção, e discutiu problemas de comércio internacional. (MACTUTOR, 1996). 12 William Stanley Jevons (1835-1882), foi um economista inglês nascido em Liverpool, um dos fundadores da Economia Neoclássica e formulador da teoria da utilidade marginal, que imprimiu novo rumo ao pensamento econômico britânico, especialmente no que se refere à questão da determinação do valor. (UAEC-UFCG, Jevons). 13 Carl Menger (1840-1921), foi um economista austríaco, fundador da escola austríaca. Desenvolveu uma teoria subjetiva do valor, a teoria da utilidade marginal, ligando-a à satisfação dos desejos humanos. (KLEIN, 2008). 14 Irving Fisher (1867-1947), economista nascido nos Estados Unidos, um dos primeiros economistas neoclássicos que mais teria contribuído para aprimorar várias questões dessa escola de pensamento, como as relativas à teoria dos preços e dos juros, entre outras, e introduzir, em seu mundo econômico, elementos dinâmicos, especialmente a partir do momento, no início do século XX, em que passou a se preocupar com os efeitos da inflação sobre o ciclo dos negócios. (OLIVEIRA, 2013).

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 36

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data. O termo é um guarda-chuva para várias escolas diferentes, incluindo o

marginalismo. No entanto, exclui a economia institucional e o marxismo.

Conforme Eliot. Roy Weintraub (1943-), um matemático americano que se

inclinou para a área econômica, a economia neoclássica está sustentada por três

pressupostos (ainda que certos ramos da teoria neoclássica tenham diferentes

abordagens):

As pessoas têm preferências racionais entre os resultados que podem ser

identificados e associados a um valor;

Indivíduos maximizam a utilidade e as empresas maximizam os lucros;

As pessoas agem de forma independente com base numa informação completa

e relevante.

Alguns personagens desta escola econômica são: - Jevons; Menger; Walras;

Von Wieser15; Von Böhm-Bawerk16; Marshall17; Wicksell18; Fisher; Slutsky19 e

Pareto20.

15 Friedrich von Wieser (1851-1926), economista austríaco nascido em Viena, cuja principal contribuição foi a teoria de imputação do custo de produção relacionada ao custo oportunidade, tornou-se renomado pelo desenvolvimento da Wieser's Law, como sua doutrina foi chamada. (UAEC-UFCG, Wieser). 16 Eugen Böhm Ritter von Bawerk (1851-1914) mais conhecido como Eugen von Böhm-Bawerk, foi um economista austríaco que fez importantes contribuições para o desenvolvimento da chamada Escola Austríaca de Economia. Em seu trabalho como economista lançou o primeiro volume de sua obra, intitulado: Capital e Juro, que mais tarde foi considerada a contribuição mais eminente para a teoria econômica moderna. Böhm-Bawerk lançou as bases para o moderno imposto de renda. (MISES, 2011). 17 Alfred Marshall (1842-1924), a contribuição de Marshall ao progresso da ciência econômica é, sem dúvida, de importância histórica. Herdeiro da rica herança intelectual dos economistas e pensadores dos séculos XVIII e XIX, tanto da Grã-Bretanha quanto do resto do continente europeu, exímio matemático, versado em Ciências Naturais, Filosofia, História e clássicos da Antiguidade greco-romana, Alfred Marshall sistematizou e quantificou o material de Adam Smith e Ricardo, complementando-o e tornando seus princípios e conceitos operacionais, ou seja, na linguagem tecnológica de hoje, tornou-os computáveis.(ALFRED MARSHALL, 1996, p. 6). 18 Johan Gustaf Knut Wicksell (1851-1926), foi um economista sueco, usou o conceito natural a fim de explicar o equilíbrio de longo prazo da taxa de juros. (WIKIPEDIA, Knut Wicksell). 19 Evgeny Evgenievich Slutsky (1880-1948), foi um economista e estatístico ucraniano-russo, em 1912 publicou um texto intitulado: A Teoria da Correlação, com grande repercussão. Ficou conhecido pelo seu trabalho de derivações na popular equação de Slutsky, que é muito utilizada em microeconomia. (MACTUTOR, 2004). 20 Vilfredo Pareto, (1848-1923), economista e sociólogo, conhecido por seus trabalhos sobre a teoria da interação população com as elites, também por suas aplicações das ciências matemáticas em análises econômicas. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2014).

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5 POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS DA ECONÔMIA SOBRE A DOUTRINA

Certamente a Revolução Industrial influenciou todo o panorama cultural da

codificação da Doutrina Espírita. Contudo, a grande maioria dos promotores e

articuladores da mentalidade intelectual da época, haviam emergido com esta

influência já estabelecida, pois todo o conhecimento construído a partir desta alavanca

cultural promoveu uma interferência de ampla ordem social.

Já do ponto de vista das grandes mudanças da teoria econômica deste período,

é importante destacar a influência dos trabalhos de John Stuart Mill, propondo o

comércio mais equânime, sem as restrições impostas pela força do capital. Nesta

questão a articulação principal do trabalho de Mill visa uma abertura do comércio no

sentido da democracia, com direitos mais claros a todos que se proponham a

participar dos mercados, sem as imposições de poder das grandes indústrias.

Certamente estas ideias tem conotação mais ética nas relações de oportunidade da

prática comercial, independentemente do tamanho do empreendimento. Esta filosofia,

justamente vem de encontro com várias manifestações de igualdade que a Doutrina

Espírita propunha na sua obra básica inicial (O Livro dos Espíritos).

Do ponto de vista das tendências econômicas, a escola clássica ainda estaria

mantendo suas ideias ativas, principalmente com a proposta de autorregulação dos

mercados, o que fortalecia as questões de igualdade e oportunidade para todos, mas,

as filosofias que compuseram a escola marginal ganharam força, principalmente pela

grande ascensão dos fundamentos científicos que foram compartilhados por esta linha

de pensamento. Como a obra de Kardec estava nascendo dentro desta atualidade, o

panorama de ciências que influenciou inclusive a economia (grande componente e

influenciador da cultura em todos os âmbitos), também se traduziu dentro das

estruturas da obra de estruturação do espiritismo.

A obra de Karl Marx, poderia ter influenciado também o panorama onde a obra

espirita nascia, porém, segundo as menções históricas já manifestadas neste texto,

muito mais tarde (1879, quando Kardec já havia terminado a codificação de sua obra),

começou-se a fazer uma leitura mais analítica deste teórico da economia e política.

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Assim, sua obra nasce em meio ao período da codificação, porém, só é considerada

como provocadora de alterações nos costumes em um período subsequente.

A grande marca, porém, que se manifesta como influente na codificação

doutrinária é a evolução do âmbito científico que é fortemente utilizada com propósitos

de integração nas comunicações, com os empreendimentos como os de Reuter, com

sua agencia de notícias, apoiada na interligação proporcionada pelas linhas entre a

Inglaterra e a França, assim como, os cabos submarinos que conectaram a Europa

às Américas.

Por motivos como estes (poderiam ser mencionados outros, como os avanços

no sentido de ampliar a agricultura e a navegação, com as cartas meteorológicas

iniciadas por Robert FitzRoy, etc.), que estão circunscritos apenas à análise da área

de conhecimento econômico, pode-se entender a forte inspiração científica na

codificação do Espiritismo. Pois o anseio das comunidades em torno da ciência era

em busca da explicação mais racional aos fatos que traduziam todas as linhas de

pensamento (não excluindo a religiosa). Da mesma forma, nasceu também a grande

alcunha que o Espiritismo recebe, durante a sua primeira divulgação, com a

publicação da obra de Kardec em 1857, de uma doutrina mais cientifica que filosófica

ou religiosa. Porém, em nenhuma parte da própria codificação, observa-se uma

tendência específica para manifestar mais valor ou importância a esta tendência de

ciências, pois tanto a filosofia, como a religião tem espaço muito equilibrado,

manifestando uma coerência de ideais entre todas as vertentes. O que se notou na

época, protagonizando esta alcunha, foi apenas a influência que a cultura sofria pelo

descobrimento da organização das ideias em propósitos mais científicos, produzindo

efeitos sobre a codificação, mas não dilacerando o seu equilíbrio de propósitos, já que

antes da sua publicação, Kardec submete o seu teor completo à validação dos

próprios espíritos que a propuseram, recebendo as devidas orientações corretivas.

REFERÊNCIAS

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Área do Conhecimento: FÍSICA

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa tem como finalidade apresentar o emergente

panorama científico na Europa entre as décadas de 1850 a 1870. Primeiramente, com

enfoque ás ideias que estruturavam, a ainda nascente, ciência da Física. Para

posteriormente relacionar esses postulados aos princípios fundantes, da também

embrionária, Doutrina dos Espíritos, contemporaneamente codificada por Allan

Kardec; sendo ambas fomentadas pelos ecos cientificistas do Iluminismo europeu.

2 FÍSICA

Nascido em Paris Hippolyte Fizeau (1819-1896), foi filho de um físico e

professor de medicina, que lhe deixou uma herança considerável, permitindo que ele

se dedicasse totalmente as suas investigações científicas.

Inicialmente ele pensou em ser médico como seu pai, mas depois, escolheu

estudar astronomia com François Arago (1786-1853) no Observatório de Paris, onde

iniciou as tentativas de medir a velocidade da luz observando os fenômenos

astronômicos.

Os seus interesses científicos eram bastante variados, em 1839, ele interessou-

se pela fotografia, foi quando conheceu um cientista desta área, Jean-Bernard-Leon

Foucault (1819-1868), com quem associou-se na tentativa de desenvolver estudos e

instrumentos para fotografar os astros. Conseguiram as primeiras fotografias

detalhadas da superfície do Sol em 1845. O trabalho com Foucault inspirou Fizeau a

tentar a sua própria medição da velocidade da luz, em 1849 ele cria o seu primeiro

aparelho experimental para medir a velocidade da luz, utilizando de espelhos e uma

roda dentada.

Em 1850, Leon Foucault repetiu a experiência, com melhoras, utilizando um

espelho girante no lugar da roda dentada. Com esse equipamento, Foucault

conseguiu medir a velocidade da luz dentro de um longo tubo com água e demonstrar

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que ela é inferior a velocidade no vazio. Esses testes evidenciaram o equívoco da

teoria corpuscular da luz, de Newton (1642-1727) e Descartes (1596-1650),

confirmando a teoria ondulatória de Hooke (1635-1703) e Huyghens (1629-1695). Só

que a história ainda não estava toda contada: no início desse século, com os trabalhos

de Max Planck (1858-1947) e Albert Einstein (1879-1955), a teoria corpuscular

ressurgiu com os fótons, ou partículas de luz.

Michael Faraday (1791-1867), nasceu na Inglaterra. Destacou-se na história

da ciência como físico e químico. É considerado um dos cientistas mais influentes de

todos os tempos. As suas contribuições mais importantes e conhecidas estão

relacionadas com os fenómenos da eletricidade e do magnetismo, no entanto, ele

também contribuiu para evolução da química.

Faraday foi o melhor experimentalista na história da ciência. As suas

contribuições foram importantíssimas, tanto para a física e a química modernas, como

para a tecnologia desenvolvida atualmente, que ainda é baseada no seu trabalho. As

suas descobertas na área do eletromagnetismo constituíram a base para os trabalhos

de engenharia do fim do século XIX, por pesquisadores como Edison (1849-1931),

Siemens (1816-1892), Tesla (1856-1943) e Westinghouse (1846-1914), que

tornaram possível a eletrificação das sociedades industrializadas.

Os seus trabalhos em eletroquímica são agora amplamente usados em química

industrial. Na física, foi um dos primeiros a relacionar a eletricidade e o magnetismo.

Em 1821, logo após Oersted (1777-1851) ser o primeiro a descobrir que a eletricidade

e o magnetismo eram associados entre si, Faraday publicou o seu trabalho, a que

chamou de Rotação Eletromagnética (princípio que explica o funcionamento do motor

elétrico). Em 1831, Faraday descobriu a indução eletromagnética, o princípio do

funcionamento de um gerador elétrico e de um transformador elétrico.

As suas ideias sobre os campos elétrico e magnético, e a natureza dos campos

em geral, inspiraram trabalhos posteriores nessa área (como as equações de

Maxwell). Na área da química, ele descobriu o benzeno, produziu os primeiros cloretos

de carbono conhecidos (C2Cl6 e C2Cl4), ajudou a estender as fundações da metalurgia

e metalografia; teve sucesso em liquefazer gases nunca antes liquefeitos (dióxido de

carbono e cloro, entre outros), tornando possível métodos de refrigeração que foram

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muito utilizados. Talvez a sua maior contribuição para a eletroquímica foi a de

introduzir termos como eletrólito, ânodo, cátodo, elétrodo e íon.

Pesquisou também algumas ligas de aço e produziu vários tipos novos de

vidros. Um desses vidros tornou-se historicamente importante por ser a substância

em que Faraday identificou a rotação do plano de polarização da luz quando era

colocado num campo magnético, e também por ser a primeira substância a ser

repelida pelos polos de um íman. A constante física fundamental que representa a

carga molar elementar, recebeu o nome de constante de Faraday, devido a sua vasta

contribuição á eletroquímica.

William Rowan Hamilton (1805-1865), matemático irlandês, nascido em

Dublin, contribuiu grandemente para o desenvolvimento da ótica, dinâmica e álgebra.

Ele descobriu e desenvolveu a teoria dos quaternions (também conhecido como

Hamiltoniano, em sua homenagem, é utilizado em vários desenvolvimentos, tanto na

mecânica quântica; quanto na teoria de campos desta mecânica); também trabalhou

com a mecânica analítica.

Ensinado pelo tio reverendo, ele foi uma criança prodígio em diversas áreas

das artes e das ciências; aos cinco anos sabia latim, grego e hebraico e sânscrito.

Com treze anos era fluente em mais de uma dúzia de idiomas, e na infância já havia

demonstrado interesse em literatura matemática clássica para estudos de Newton e

La Place, entre outros. Na faculdade ele foi o primeiro em física e matemática.

Estudou profundamente o livro Mecânica Celeste, de La Place. Pesquisou

sobre ótica geométrica e emitiu a lei da menor ação da luz, dizendo que: "a ação de

um caminho de luz é a função simples do seu comprimento, e a luz viaja ao longo de

uma linha que minimiza tal ação"; criando um dos pilares de base em mecânica

ondulatória da física moderna, entre outros.

Em 1827 ele foi nomeado astrônomo real da Irlanda e professor de Astronomia

da Trinity College de Dublin. Seus estudos e teoria dos números complexos foi aceito

pela matemática moderna. Em 1843, ele descobriu e desenvolveu a teoria de

quaternions. O estudo dos quaternions tem animado muitos cientistas. Os métodos

dos quaternions motivaram, tempo depois, a introdução de análise vetorial.

James Clerk Maxwell (1831-1879), físico e matemático escocês, estabeleceu

a relação entre eletricidade, magnetismo e luz. Suas equações foram a chave para a

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 44

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construção do primeiro transmissor e receptor de rádio, para compreensão do radar e

das micro-ondas.

Aos 10 anos de idade ingressou na Edimbugh Academy. Aos 16 anos entrou

para a Universidade de Edimburgo onde já mostrava ser um matemático brilhante. Em

1850, deixou a Escócia para estudar na Universidade de Cambridge.

Ele é mais conhecido por ter dado forma final à teoria moderna do

eletromagnetismo, que une a eletricidade, o magnetismo e a óptica. Esta é a teoria

que surge das equações de Maxwell, assim chamadas em sua honra e porque foi o

primeiro a escrevê-las juntando a lei de Ampère, modificada por Maxwell, a lei de

Gauss, e a lei da indução de Faraday.

Maxwell demonstrou que os campos eléctricos e magnéticos se propagam com

a velocidade da luz. Ele apresentou uma teoria detalhada da luz como um efeito

eletromagnético, isto é, que a luz corresponde à propagação de ondas elétricas e

magnéticas, hipótese que tinha sido posta por Faraday.

Formado em 1854, permaneceu no Trinity College, realizando pesquisas.

Inventou um pião colorido para demonstrar que as três cores primárias, o vermelho,

verde e azul, poderiam produzir praticamente qualquer outra cor. Posteriormente esse

estudo serviu de base para a criação da televisão à cores. Por esse estudo recebeu a

medalha Rumford da Sociedade Real.

Seu trabalho em eletromagnetismo foi a base da relatividade restrita de Einstein

e o seu trabalho em teoria cinética de gases fundamental ao desenvolvimento

posterior da mecânica quântica.

Maxwell também realizou um trabalho importante sobre os anéis de Saturno,

que analisara matematicamente, assim como sobre os gases. Desenvolveu a teoria

da indução eletromagnética e a produção de eletricidade a partir do magnetismo.

Escreveu manuais sobre: calor, visão das cores, matemática e física.

Maxwell é lembrado como o cientista do século XIX a ter mais influência sobre

a física do século XX. Responsável por contribuições básicas nos modelos naturais,

uma ponte entre a matemática e a física. Poucos anos após a sua morte seus

trabalhos científicos foram aceitos mundialmente a partir das suas explorações sobre

eletromagnetismo. Em 1931, comemorando o centenário do nascimento de Maxwell,

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descrevendo seu trabalho Albert Einstein disse "o mais profundo e frutífero que a física

descobriu desde Newton".

Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887), nasceu em Königsberg, Prússia

(atualmente Kaliningrado, Rússia). Suas contribuições científicas foram

principalmente no campo dos circuitos elétricos e na espectroscopia. Ele é autor de

duas leis fundamentais da teoria clássica dos circuitos elétricos e da emissão térmica.

Kirchhoff e Bunsen (1811-1899) encontraram um meio de determinar a

composição das estrelas, analisando seus espectros, e com isto mostraram que o Sol

continha os mesmos elementos que a Terra, embora é claro em diferentes proporções

e em outras condições (devido a pressão, temperatura, etc.), com isto também

descobriram elementos até então desconhecidos.

Kirchhoff formulou as leis dos nós e das malhas na análise de circuitos elétricos

(Leis de Kirchhoff) em 1845, quando ainda era um estudante. Em 1854 transferiu-se

para a Universidade de Heidelberg, onde colaborou em trabalhos sobre

espectroscopia com Robert Bunsen, descobrindo juntamente com este os elementos

césio e rubídio em 1861, estudando a composição química do Sol através do seu

espectro.

Em 1857 mudou-se para Berlim, recebendo o posto de catedrático em Breslau

com 35 anos de idade. Propôs a lei da emissão de radiação térmica em 1859,

comprovando-a em 1861. Posteriormente propôs as três leis que descrevem a

emissão de luz por objetos incandescentes. A existência destas leis foi explicada mais

tarde por Niels Bohr (1885-1962), contribuindo decisivamente para o nascimento da

mecânica quântica.

A excelência de Kirchhoff como professor pode ser inferida a partir do texto

impresso de suas palestras (alguns sendo editados postumamente). Eles

estabeleceram um padrão para o ensino de física teórica clássica nas universidades

alemãs, num momento em que estas estavam tomando uma posição de liderança no

desenvolvimento da ciência. Os textos que ele escreveu também tiveram um valor

duradouro, e contribuíram para o forte desenvolvimento da física teórica na Alemanha,

durante quarenta anos após sua morte. Seu livro Vorlesungen über mathematische

Physik, Mechanik (Palestras Sobre Física atemática. Mecânica) 1897, ainda é fonte

básica de referência aos estudiosos.

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Rudolf Julius Emanuel Clausius (1822-1888), nascido na Pomerânia21, físico

e matemático alemão, considerado um dos principais fundadores da ciência

termodinâmica. Ao reafirmar o princípio de Carnot conhecido como ciclo de Carnot,

ele pôs a teoria do calor numa base sólida e verdadeira.

Em seu artigo mais importante, sobre a teoria mecânica do calor, publicado em

1850, expôs pela primeira vez as ideias básicas da segunda lei da termodinâmica.

Clausius se formou na Universidade de Berlim em 1844. Ele também estudou história

em 1847. Obteve o doutorado na Universidade de Halle sobre efeitos ópticos na

atmosfera da Terra. Ele então tornou-se professor de Física na Escola Real de

Artilharia e Engenharia de Berlim e professor na universidade de Berlim.

Em 1855 tornou-se professor na Politécnica de Zurique, o Instituto Federal

Suíço de Tecnologia, onde permaneceu até 1867. Em 1870, Clausius organizou um

corpo médico na Guerra Franco-Prussiana. Ele foi ferido na batalha, o que deixou-o

com uma deficiência permanente.

A tese de doutorado de Clausius, sobre a refração da luz, propôs que o céu é

azul durante o dia e possui várias tonalidades avermelhadas ao amanhecer e ao pôr-

do-sol (entre outros fenômenos) devido à reflexão e refração da luz.

Seu artigo mais famoso, foi publicado em 1850, sobre a teoria mecânica do

calor. Neste trabalho, ele mostrou que havia uma contradição entre o princípio de

Carnot e o conceito de conservação da energia. Clausius reformulou as duas leis da

termodinâmica para eliminar a contradição (a terceira lei foi desenvolvida por Walther

Nernst (1864-1941), entre os anos de 1906 e 1912). Este trabalho tornou-o famoso

na comunidade científica.

Ao longo do ano de 1857, Clausius refinou o modelo cinético de August Krönig

(1822-1879), introduzindo movimentos moleculares de translação, rotação e vibração.

Nesse mesmo trabalho, ele introduziu o conceito de percurso livre médio de uma

partícula.

Clausius deduziu a relação de Clausius-Clapeyron da termodinâmica. Esta

relação, que é uma forma de caracterizar a transição de fase entre dois estados da

21 Que diz respeito a Pomerânia, província da Prússia (Alemanha, antes da II Guerra Mundial, e atualmente território que em parte pertence a Polônia e em parte a Alemanha Oriental).

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matéria, como o sólido e o líquido, tinha sido originalmente desenvolvido em 1834 por

Benoît Paul-Émile Clapeyron (1799-1864).

Em 1865, Clausius forneceu a primeira formulação matemática para o conceito

de entropia, dando-lhe também esse nome. Ele usou a unidade não mais utilizada,

clausius (símbolo: Cl) para a entropia. Clausius escolheu a palavra entropia porque

seu significado, do grego en+tropein, é o conteúdo transformador ou conteúdo de

transformação.

3 DISCUSSÃO

Podemos observar que as propostas que emergiram dessas mentes

privilegiadas, entre 1850 e 1870, ocupavam-se em desenvolver uma observação

diferenciada de todo o existente.

Havia uma atmosfera premente de renovação; a Humanidade estava

ansiosamente pronta para ir adiante com novos referenciais, reconceituando-se à

partir de si e da própria história, agora mais do que nunca próxima de uma inédita

realidade revelada pela antiga proposição grega de olhar tudo e todos através das

luzes da Matemática e da Filosofia, decompostas através do raciocínio e da lógica

presentes em cada uma das prismáticas ciências nascentes.

As mentes aptas a captar esses ideais intelectuais gregos foram naturalmente

alinhando-se á eles, e concretizando-os em achados e catalogação de fósseis de

outras eras, entre outros, promovendo uma nova visão histórica de um ser humano

menos deístico e mais humanizado, afigura-se ao simples ápice da evolução dos

outros reinos. Essas mentes capazes, foram trabalhando na descoberta e na

nominação de tudo o que o microscópio e o telescópio, assim como a lógica, a análise

comparativa e dedutiva conseguissem alcançar.

A tudo isso, foi ainda associado o surgimento de um novo e invisível Universo,

que vem manifestar-se inteligente e voluntariamente, revelando que a vida de além-

túmulo também quer ser incluída oficialmente a esse incomparável patrimônio

humano, agora sim, mais real.

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REFERÊNCIAS

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Áreas do Conhecimento: SOCIOLOGIA e PEDAGOGIA

1 INTRODUÇÃO

Essa pesquisa suscita a importância dos Pensadores da época de 1850 a 1870,

com suas contribuições para a prática pedagógica e sociológica sob o

desenvolvimento humano e a Doutrina Espírita.

Ao contrário do que a princípio se pode imaginar, o surgimento do espiritismo

está intimamente ligado ao Iluminismo, movimento filosófico que teve lugar no século

XVIII na Europa. Allan Kardec, o organizador da Doutrina Espirita, como a grande

maioria dos pensadores do século XIX, era herdeiro de muitos dos valores Iluministas.

Esse trabalho buscará demonstrar que ao codificar o espiritismo, ele buscou

reconciliar a fé com a razão e reinterpretar antigos assuntos metafísicos com base em

pressupostos objetivos, de acordo com o modelo positivo em voga em sua época. Ao

analisar o chamado mundo espiritual e suas possíveis relações com o mundo dos

homens, Kardec ofereceu ao público uma doutrina espiritualista baseada em preceitos

então considerados indispensáveis aos critérios de racionalidade experimentação. Ao

buscar explicar a Sociedade através de métodos próprios das ciências naturais Comte

não apenas lançou as bases da Sociologia, por ele chamada de Física Social, mas

também consolidou a nação de progresso na História e fundamentou a ideia de que o

conhecimento social pode ser analisado empiricamente, de modo objetivo. O século

XIX esteve fortemente marcado pela ideia de progresso e pelo pensamento segundo

tudo poderia ser explicado pelo uso da razão e da experiência capazes de descortinar

as leis reguladoras do universo material e da Sociedade Humana (GIL, 2010).

2 SOCIOLOGIA

Em 1851, é publicado a Estática Social de Herbert Spencer. Apresentava uma

entusiástica defesa moral e prática dos direitos individuais que chamava “liberdade

comum”. Todos deveriam ser livres para fazer o que quiserem, insistia Spencer desde

que não interferissem na liberdade das outras pessoas. Consequentemente ele

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defendia a abolição de todas as restrições comerciais, subsídios dos pagadores de

impostos para igrejas, colônias no além-mar, licenças médicas etc. Spencer

enfatizava quão extraordinário era o progresso humano alcançado naturalmente

quando as pessoas tinham liberdade. Tendo vivido num tempo de grandes avanços

científicos, o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) foi o principal representante

do evolucionismo nas ciências humanas. Ele intuiu a existência de regras

evolucionistas na natureza antes de seu compatriota, o naturalista Charles Darwin

(1809-1882), formular a revolucionária teoria da evolução das espécies. E ele é o autor

da expressão “sobrevivência do mais apto”, muitas vezes atribuída a Darwin.

Spencer nasceu em Derby, Inglaterra. Como sua celebre frase tem-se: “A

educação deve formar seres aptos para governar a si mesmos e não para ser

governados pelos outros”. (Jim Powell, 2008).

A obra de Karl Marx (1818-1883) O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte, de

1852, é na verdade uma obra genial. Imediatamente depois do acontecimento que

surpreendeu todo o mundo político como um raio caído de um céu sereno, e que foi

condenado por uns com gritos e indignação moral e acolhido por outros como tábua

de salvação contra a revolução e como castigo pelos erros, mas que apenas

provocava o assombro de todos e não era compreendido por ninguém, logo após este

acontecimento.

Marx surgiu com uma exposição concisa e epigramática em que se explicava

na sua conexão interna todo o curso da História Francesa desde as jornadas de

fevereiro e reduzia o milagre de 2 de dezembro dia do golpe de Estado contra

revolucionário na França realizado por Louis Bonaparte e seus partidários – a um

resultado natural e necessário dessa conexão e, no processo, não era necessário

sequer tratar o herói do golpe de Estado senão com um desprezo bem merecido. E o

quadro foi lançado com tanta maestria que todas as novas revelações feitas desde

então nada fizeram senão confirmar a exatidão com que refletira a realidade.

Essa notável compreensão da história viva do dia-a-dia, essa clara apreciação

dos acontecimentos ao tempo em que se desenrolaram é, de fato sem paralelo. O

método adotado por Marx ao se propor entender o Estado Francês na época do 18

Brumário de Luís Bonaparte se faz a partir da análise histórica - sociológica do

momento vivido. Se, por um lado, o Estado pode ser visto enquanto categoria abstrata,

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 51

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ou seja, pela análise de uma ou de algumas determinações do fenômeno, por outro a

maior quantidade de determinações se aproxima de uma construção mais concreta

do mesmo Estado. (MARX, 2006)

Em 1854, Auguste Comte (1798-1857) pai da Sociologia Positiva, cria o

Sistema de Filosofia Positiva. De 1851 a 1854, Auguste Comte escreve o Sistema de

Política Positiva em 4 volumes, que é o primeiro tratado de Sociologia e postula a

separação espiritual e temporal (Igreja Independente do Estado).

Em 1857, com 59 anos, vem a falecer, depois de definir e classificar as ciências

e criar a Sociologia Positiva e a moral Positiva. Sua vida foi um modelo de

comportamento para os discípulos e suas ideias impressionaram e impressionam até

hoje os intelectuais de todos os países civilizados.

Comte partiu de uma crítica científica da teologia para terminar como profeta.

Compreende-se que alguns tenham contestado a unidade de sua doutrina. Comte

redigiu o Sistema de política positiva entre 1851 e 1854, no qual expôs algumas das

principais consequências de sua concepção de mundo não teológica e não metafísica,

propondo uma interpretação pura e plenamente humana para a sociedade e sugerindo

soluções para os problemas sociais, no volume final da obra apresentou as

instituições principais de sua religião da Humanidade.

Publicou o primeiro volume de síntese subjetiva em 1856, projetada para

abarcar quatro volumes, cada um a tratar de questões específicas das sociedades

humanas: lógica, indústria, pedagogia, psicologia. Não pode concluir a obra ao falecer,

possivelmente de câncer. Sua última casa foi adquirida por positivistas e transformada

no Museu casa de Auguste Comte.

A Filosofia de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim

como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a

consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e pesquisa suas leis

vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis. Adotando

os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia,

segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia a Física, a

Química e Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência inicialmente

chamada de física social e posteriormente de Sociologia, Comte usaria a Observação,

a experimentação, da comparação e a classificação como métodos – resumidas na

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filiação – para a compreensão (isto é, para conhecimento) da realidade social. Pode-

se dizer que o conhecimento positivo busca “ver para prever, a fim de prover”, ou seja:

conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que

o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica

caracteriza o pensamento positivo. (ESTUDO FACIL, 2015)

3 PEDAGOGIA

Em 1858, para Émile Durkheim (1858-1917), em cada aluno há dois seres

inseparáveis e distintos. Um deles seria o que chamou de individual e a caracterização

do segundo ser foi o que lhe deu projeção.

Durkheim ampliou o foco conhecido até então, considerando e estimulando

também o outro lado dos alunos, algo formado por ideias que exprimem, dentro das

pessoas, a sociedade de que fazem parte. Para Durkheim, quanto mais eficiente for o

processo educativo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola

está. Além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira

vez às normas sociais e à cultura local.

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram

a compreender o significado social do trabalho do professor, tirando a educação

escolar da perspectiva individualista.

Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará

parte do espaço público, não somente o desenvolvimento individual. Durkheim é

também considerado um dos mentores dos ideais republicanos de uma educação

pública, monopolizada pelo Estado e laica, liberta da influência do clero romano.

(FERRARI, 2008)

Por volta de 1859, John Dewey (1859-1952) colocou a atividade prática e a

democracia como importantes ingredientes da educação. Foi o nome mais célebre de

sua corrente filosófica: pragmatismo ou instrumentalismo. O princípio é que os alunos

aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados.

Influenciado pelo empirismo, Dewey criou uma escola-laboratório para testar métodos

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 53

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pedagógicos. Foi um dos primeiros a chamar a atenção para a capacidade de pensar

dos alunos.

Dewey reconhecia a necessidade da escola, onde as pessoas se encontram

para educar e serem educadas. O objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a

viver o mundo. Educar, portanto, é incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo,

preparar pessoas para transformar algo. A filosofia deweyana remete a uma prática

docente baseada na liberdade do aluno para elaborar as próprias certezas,

conhecimentos e regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo

ou do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar questões ou problemas e

jamais dar respostas ou soluções prontas. (RAMALHO, 2011)

Já em 1870, Maria Montessori (1870-1952) foi pioneira no campo pedagógico

ao dar mais ênfase à autoeducação do aluno do que ao papel do professor como fonte

de conhecimento. Individualidade, atividade e liberdade do aluno são as bases da

teoria, com ênfase para o conceito de indivíduo como sujeito e objeto do ensino. O

objetivo da escola é a formação integral do jovem, uma “educação para a vida”.

O método Montessori se inspira na natureza e acredita que nem a educação

nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais. Os objetivos individuais mais

importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho

gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar. A meta

coletiva é vista hoje por seus adeptos como a finalidade maior da educação

montessoriana. Os alunos conduziriam o próprio aprendizado e, ao professor, caberia

acompanhar o processo e detectar o modo particular de cada um manifestar seu

potencial. O método Montessori baseia-se na observação de que meninos e meninas

aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. (MACHADO, 1983)

4 DISCUSSÃO

A educação passou por uma grande evolução ao longo dos séculos, desde o

processo educativo voltado para a sobrevivência nas civilizações antigas, até os dias

de hoje onde existem diversas tendências pedagógicas vivendo o pleno

desenvolvimento humano.

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 54

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Para alcançarmos os saberes da eternidade, necessitamos ter o chamado

resguardo dos registros informacionais, que é todo o cognocional consequentemente,

toda a visão crítica das experiências que a qualquer momento poderão ser

consultados repassados por nós como se fossem uma Luz. Assim alcançamos a

reespiritualização perene, através da auto atualização e da educação permanente.

Todos nós somos componencialmente memória, portanto somos um retorno,

aquilo que já foi pensado. E nessa relação de aprender o pensado aprender a

questionar o pensado, e o registrado, fazemos um alongamento do olhar para o

interior. Quando alongamos o olhar para o interior, estamos operando com a

consciência e também aprimorando uma faculdade que é contributiva para

compreendermos melhor a realidade.

Só há Ciência se a Escola for permanente. A Sociedade será feita para a Escola

e não a Escola para a Sociedade. “Oferecer a razão razões para evoluir”

(BACHELARD, 2013).

Ao fazer uma análise sobre a vida de Allan Kardec percebe-se claramente que

ele foi enviado pela Espiritualidade maior na condição de um Espírito missionário do

Cristo, e com seu papel definido, entretanto estava sujeito de falar em sua missão

diante de uma séria de fatores da época. Naquela época na França reencarnavam

espíritos vinculados com compromissos intelectuais, sociais, filosóficos, científicos,

entretanto a França tornava-se o Centro Cultural do Mundo Ocidental e a divulgação

de uma nova Doutrina religiosa vindo daquele país iria gerar grande repercussão em

todo o mundo.

No século XIX muitos Espíritos compromissados com o Cristo reencarnavam

para auxiliar na codificação direta ou indiretamente ambos os espíritos Kardec e

Napoleão voltaram a reencarnar para levarem para a França uma Luz aquele povo.

Kardec conseguiu de forma integra seguir com seus compromissos espirituais,

codificando uma Doutrina que iria trazer um bem para toda uma coletividade.

Napoleão Bonaparte acabou desvirtuando-se de seu compromisso espiritual devido a

ganância, o poder enveredando para caminhos equivocados que não o bem.

A Revolução Francesa desenvolvendo o bem precioso da liberdade, e Kardec

codificando a Doutrina dos Espíritos fornecem a humanidade uma nova cosmovisão

Panorama sócio científico cultural do período da Codificação do Espiritismo (1850-1870) 55

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do indivíduo da sociedade e dos mundos que nos circulam, propiciando-nos o consolo

da vida após a morte, e indicando-nos o caminho para uma vivência útil e harmoniosa.

Ao buscar explicar a sociedade através de métodos próprios das ciências

naturais, Comte não apenas lançou as bases da Sociologia, por ele chamada de Física

Social, mas também consolidou a noção de progresso na História e fundamentou a

ideia de que o conhecimento social pode ser analisado empiricamente, de modo

objetivo.

A seu turno, Marx desenvolveu a noção de materialismo histórico e

fundamentou todo o modelo explicativo para a História onde não há espaço nem para

Deus e nem para a religião, vista apenas como um elemento de dominação sobre as

massas.

Marx não apenas forneceu uma explicação para o mecanismo da História e

racionalizou a esperança de um mundo melhor, mas com ele.

O Socialismo transformou-se de uma ideia muito boa e utópica para uma

expressão concreta de um movimento da História real, observável cientificamente: a

esperança ganhava também status de ciência.

O positivismo repudia toda via de ação violenta para a transformação da

sociedade, ele entende que devemos aqui pelos meios de demonstração, persuasão

e calcado na moral positiva, sobretudo.

O positivismo tem por máxima ou por fórmula sagrada: O amor por princípio e

a ordem por base, o progresso por fim, assim como manifestam alguns autores atuais:

Munidos de tal status fundante, teremos agora de avançar a análise crítica e discernir as falhas, os limites e as armadilhas do presente sistema-modelo de pensamento, particularmente o científico, que vem peando a intelecção. Teremos de aprender como libertá-la para que possamos constituir lineamentos novos que nos capacitem a transcender esse modelo pela força intuitiva do espírito. Isso significa, basicamente, colocar o pensamento em movimento no sentido inteligente para conceber a relação entre o ser contingente e a Constante por intermédio da força do conhecimento. Só o conhecimento liberta. ( MARTINS, 2012).

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REFERÊNCIAS

GIL, Marcelo Freitas. A inserção do espiritismo no universo cultural europeu: Uma análise panorâmica. Lyon, França, Contraponto 2010.

POWELL, Jim. Biografia: Herbert Spencer, 12 de dezembro 2008. Disponível em: <http://ordemlivre.org/posts/biografia-Herbert-Spencer>. Acessado em: 15/11/2015.

MARX, Karl. O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte. Editora Centauro, 2006. Disponível em: <http://www.estantevirtual.com.br/b/Karl-Marx/o-Dezoito-Brumário-de-Louis-Bonaparte/4291301481>. Acessado em: 15/11/2015.

ESTUDO FACIL. Biografia de Auguste Comte 4 de Marco de 2015. Disponível em: <www.estudofácil.com.br/Auguste-Comte-vida-influência-e-obras/>. Acessado em: 15/11/2015.

FERRARI, Marcio. Émile Durkheim, o criador da sociologia da educação. Publicado em Especial Grandes Pensadores. Outubro 2008. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formação/criador-sociologia-educacao-423124.shtml>. Acessado em: 15/11/2015.

RAMALHO, Priscila. Pedagogia John Dewey. Julho de 2011. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/John-Dewey-307892.shtml>. Acessado em: 15/11/2015.

MACHADO, Izaltina de Lourdes. Educação Montessori: de um Homem Novo para um Mundo Novo. Editoria Pioneira 1983. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formação/médica-valorizou-aluno-423141.shtml>. Acessado em: 15/11/2015.

MARTINS, Nadia Bevilaqua. À Procura do Sentido Inteligente no Movimento. JURUÁ Editora, 2012.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma mais resumida, através da análise das obras que compõem a

codificação do Espiritismo, pode-se indicar as principais vertentes que tomaram parte

na influência intelectiva e científica para que Kardec manifestasse os ensinamentos

dos Espíritos.

Assim, pode-se dizer que:

Da Antropologia vem as vertentes da evolução e, consequentemente,

existência do homem como um ramo dos mamíferos (portanto não criacionista).

Da Astronomia, vem as descobertas em relação ao Cosmos e as implicações

sobre as explicações dos espíritos em relação ao que se considerava como

científico e a multiplicidade de moradas planetárias.

Da Biologia, vem o melhor entendimento dos processos biológicos e a melhora

da saúde pública, influenciando diretamente nas discussões dos fenômenos

mediúnicos e do processo reencarnatório.

Da Economia, vem a relação do valor material e espiritual do homem quando

promove o enriquecimento social através das liberdades de escolha e auto

equilíbrio; também das virtudes e valores laborais do ser humano.

Da Física, vem os fundamentos que estruturam as questões explicativas dos

fenômenos chamados espirituais, com identificações do que é matéria e o que

é espírito; considerações sobre o períspirito; fluidos e o magnetismo animal.

Da Pedagogia, a construção do conhecimento (construtivismo), baseada na

educação do homem para ser social, com valores morais.

Da Sociologia, vem a construção social humana com grande influência da ética

e da moral, permeadas pelo valor do indivíduo.

Certamente esta pequena revisão do conhecimento humano, entre o período

de 1850 a 1870, não pretende exaurir toda a discussão sobre o meio filosófico,

religioso e científico no qual Kardec estava envolto durante a codificação do

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Espiritismo. Contudo, apresenta um pequeno cenário das construções intelectuais,

teóricas e práticas que o ideário humano desempenhava no momento.

Para o futuro, um esboço mais profundo e cuidadoso poderá identificar com

maior propriedade fatos que aqui passaram desapercebidos, objetivos que podem

fazer parte de uma pesquisa subsequente.