conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos

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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais     Resumo O artigo faz parte de estudos empreendidos na dissertação de Mestrado que tratará dos conteúdos presentes no currículo para a Educação Infantil. Este trabalho objetiva apontar o que os documentos oficiais publicados pelo Ministério da Educação a partir da promulgação da Lei  9394/96 (LDB) trazem como conteúdos para o currículo da educação infantil. Foram analisados oito documentos oficiais dos quais pareceres, resoluções e diretrizes que tinham como objetivo orientar as práticas pedagógicas. Os resultados que se apresentam mostram as tensões existentes em torno deste tema, pois na maioria dos documentos ele é tratado de forma superficial e de forma bastante abrangente. O documento que mais traz orientações tratase dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil publicado em 1998. As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/2009 remodelam a lógica das Diretrizes, apresentando os conteúdos a partir dos seguintes seis eixos, a saber: identidade e autonomia, matemática, natureza e sociedade, artes, movimento e linguagem oral e escrita.  Palavraschave: Educação Infantil ‐ Conteúdos ‐ Documentos Oficiais   Elisia Kasprowicz Stein Prefeitura De Massaranduba [email protected]         

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Page 1: Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais    

 

Resumo O artigo faz parte de estudos empreendidos na dissertação de  Mestrado  que  tratará  dos  conteúdos  presentes  no currículo  para  a  Educação  Infantil.  Este  trabalho  objetiva apontar  o  que  os  documentos  oficiais  publicados  pelo Ministério  da  Educação  a partir  da promulgação  da  Lei  n° 9394/96 (LDB) trazem como conteúdos para o currículo da educação  infantil.  Foram  analisados  oito  documentos oficiais  dos  quais  pareceres,  resoluções  e  diretrizes  que tinham como objetivo orientar as práticas pedagógicas. Os resultados  que  se  apresentam  mostram  as  tensões existentes  em  torno  deste  tema,  pois  na  maioria  dos documentos ele é  tratado de  forma superficial e de  forma bastante  abrangente.  O  documento  que  mais  traz orientações trata‐se dos Referenciais Curriculares Nacionais para  a  Educação  Infantil  publicado  em  1998.  As  novas Diretrizes  Curriculares  Nacionais  para  a  Educação Infantil/2009  remodelam  a  lógica  das  Diretrizes, apresentando  os  conteúdos  a  partir  dos  seguintes  seis eixos,  a  saber:  identidade  e  autonomia,  matemática, natureza e sociedade, artes, movimento e linguagem oral e escrita.  Palavras‐chave: Educação Infantil ‐ Conteúdos ‐ Documentos Oficiais  

 Elisia Kasprowicz Stein 

Prefeitura De Massaranduba [email protected] 

     

 

 

 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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Introdução 

O  presente  artigo  faz  parte  dos  estudos  empreendidos  para  dissertação  de 

Mestrado, na qual o objetivo está  sendo  fazer uma  relação entre documentos oficiais, 

literatura  e  discurso  das  professoras  a  respeito  dos  conteúdos  presentes  no  currículo 

para a Educação  Infantil. Propõe‐se a apontar o que os documentos oficiais publicados 

pelo Ministério  da  Educação  a  partir  da  promulgação  da  Lei  n°  9394/96  (LDB)  até  o 

documento mais  recente publicado, ou  seja, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a 

Educação Infantil/2009, trazem como conteúdos para o currículo da educação infantil, ou 

seja  como  este  termo  é  tratado  pelos  documentos  ou  então,  de  que  forma  estão 

apresentados.  

Ao escolher os conteúdos como  foco de pesquisa, comungo da  ideia exposta por 

Sacristán  e  Gómez  (1998,p.120),  "sem  conteúdo  não  há  ensino,  qualquer  projeto 

educativo acaba   se concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos nos sujeitos 

que se educam".  Não pretendo apresentar as discussões, que não são poucas, a respeito 

das  tensões  existentes  nesta  área,  nem  analisar  os  posicionamentos  existentes  na 

Literatura específica, apresentados por exemplo, por Suzana Schwartz(2008) e Gabriel de 

Andrade  Junqueira  Filho(2005)  ou  pela  dissertação  de mestrado  de  Bruna  dos  Santos 

Ferreira  (Conteúdos:  questões  contemporâneas/2012),  sua  orientanda.    O  objetivo  é 

mostrar  como os  conteúdos  se  apresentam nos documentos do MEC que orientam  as 

práticas pedagógicas e a constituição dos currículos para a Educação Infantil. 

A Educação Infantil constitui‐se como educação a partir do século XX e atualmente 

busca  se desvencilhar das  raízes que a constituíram: o sentimento de atendimento aos 

menos  favorecidos  socialmente  e  a  ideia  de  seguir  os moldes  do  ensino  fundamental, 

como  apresenta  Oliveira  (2011).  Foi  a  partir  da  promulgação  da  LDB  que  a  Educação 

Infantil passa a fazer parte da Educação Básica, admitindo‐se como primeira etapa deste 

nível  de  educação.  Portanto,  é  a  partir  desta  Lei  que  oficialmente  serão  encontrados 

dados  nos  documentos  oficiais  que  permitem  visualizar  a  forma  como  foi  sendo 

constituído o currículo da Educação Infantil, mais especificadamente para este artigo, os 

conteúdos. 

 

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Um rápido percurso até os documentos... 

A  Educação  Infantil  no  Brasil  é marcada  por  uma  história  de  vários  sentidos, 

movimentos sociais e lutas. Sua essência inicial e que deixou marcas até hoje possui uma 

face marcada  como  “atendimento  aos menos  favorecidos”,  a medida  que  surge  para 

"amparar"  crianças  abandonadas  ou  para  atender  filhos  de  mulheres  pobres, 

desamparadas,  que  "precisavam  trabalhar"  e  outra  face,  de  caráter  assistencial,  que 

surge  à medida  que  a  sociedade muda  e  também  o  papel  da mulher  do  século  XX,  à 

medida que esta se  insere no crescente mercado de  trabalho de um sistema capitalista 

emergente. As duas  faces se  relacionam e se complementam historicamente, deixando 

até hoje paradigmas enraizados na qual se busca o desvencilhamento.  

No  Século  XIX,  com  a  abolição  da  escravatura  no  país  e  com  o  crescimento  dos 

centros urbanos, acentuam‐se os problemas sociais, entre eles, o abandono de crianças e 

a alta taxa de mortalidade  infantil. Criam‐se  instituições que tinham como objetivo fazer 

este  acolhimento,  cuidar  das  crianças  pobres  e  cuja  preocupação  higienista  e  de 

medicalização    vão  marcar  o  atendimento  deste  período,  na  qual  o  Brasil,  país  que 

almejava  se  constituir  como  nação moderna,  “preocupava‐se”  com  as  altas  taxas  de 

mortalidade e com as crianças abandonadas.  

Os “jardins de infância”, conforme Oliveira (2011), trazidos para o Brasil num modelo 

europeu,  criaram  polêmica  entre  os  políticos.  De  um  lado,  alguns  setores  sociais  que 

acreditavam que trariam vantagens para o desenvolvimento infantil. De outro, o discurso 

de  que  “os  jardins  de  infância  tinham  objetivos  de  caridade  e  destinavam‐se  aos mais 

pobres,  não  deveriam  ser mantidos  pelo  poder  público”  (OLIVEIRA,  2011,  p.92). Desta 

forma,  os  primeiros  jardins  de  infância,  eram  de  entidades  privadas,  com  cunho 

educativo. Eis a primeira separação: o cuidar, para as classes pobres e o educar, reservado 

às classes nobres e culturalmente favorecidos1. Oliveira (2011, p.93) também aponta:  

Nesse momento  já  aparecem  algumas  posições  históricas  em  face  da educação infantil que iriam se arrastar até hoje: o assistencialismo e uma educação  compensatória  aos  desafortunados  socialmente. Planejar  um ambiente promotor da educação era meta considerada com dificuldade. 

                                                            1 Cultura aqui entendida como a cultura elitista, mantida por muitos anos como única cultura e acessível 

somente às altas classes sociais. 

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No século XX, com a intensificação dos centros urbanos e da industrialização, muda‐

se a estrutura  familiar. A mulher é absorvida como mão de obra pela  indústria, que em 

nome do desenvolvimento capitalista, explora de todas as formas o trabalhador. Uma das 

reivindicações  trabalhistas  era  a  garantia  de  um  local  para  a  guarda  dos  filhos  das 

trabalhadoras enquanto estavam na indústria, o que de certa forma foram acontecendo. 

Perante a sociedade,  isso não era bem visto: o  lugar da mulher era em casa, cuidadora 

dos  filhos  e  das  família  e  a  creche  neste  cenário,  era  encarada  apenas  como  o  lugar 

"menos  ruim"  ou  como  um  "mal  necessário"  a  servir  estas  famílias  ou  a  este modelo 

capitalista que emergia. 

Segundo  Oliveira  (2011)  só  depois  na  década  de  1950,  criam‐se  efetivamente 

instituições  governamentais  voltadas  para  o  cuidado  de  crianças,  planejadas  como 

instituições  de  saúde  ou  então,  na  forma  de  subsídios  do  governo  à  entidades  que 

ofereciam o serviço.   Porém, até a década de 60, o Estado não  tinha uma política para 

este atendimento: não havia financiamento nem plano de metas para ampliação. O que 

se  pretendia  era  apenas  resolver  um  problema  instalado  ‐  a  alta  taxa  de mortalidade 

devido às más condições de "higiene" a que estas crianças estavam submetidas  ‐ dando 

suporte para as mães necessitadas. Assim, incentivava‐se a filantropia ‐ laica ou religiosa ‐ 

bem  como,  as  escolas  maternais,  custeadas  pelas  próprias  indústrias  nas  quais 

trabalhavam as mães. Destacando novamente: as creches não foram criadas para atender 

as crianças, mas sim as mães, ou melhor, a necessidade do mercado em utilizar a mão‐de‐

obra feminina.  

A ação educativa na Educação  Infantil vem aparecer na década de 1970, quando o 

conceito  de  que  as  classes  pobres  deveriam  se  apropriar  de  “cultura”  mais  cedo, 

acreditando‐se  que  isso  auxiliaria  a  combater  o  posterior  fracasso  escolar.  Porém,  os 

métodos que surgem são precocemente escolarizantes, cujo modelo é copiado da escola 

e adaptado para a pré‐escola, num sentido de preparo para a etapa posterior.  

Com a promulgação   da Constituição de 1988 a educação em creches e pré‐escolas 

passa  a  ser  reconhecida  como  direito  da  criança  e  dever  do  Estado.  Porém,  os 

financiamentos e expansão de atendimento se deu com mais intensidade nas pré‐escolas, 

com o intuito de preparar as crianças para à escola.  

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Foi com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei no 9394/96) que 

se  efetivou  e  garantiu  o  que  já  se  previa  na  Constituição:  A  Educação  Infantil  é 

incorporada à Educação Básica. De acordo com Oliveira (2011, p. 117), a LDB “estabelece a 

educação  infantil como etapa  inicial da educação básica, conquista histórica que  tira as 

crianças pequenas pobres de  seu confinamento em  instituições vinculadas a órgãos de 

assistência social.” 

Consequentemente,  a  LDB  abriu  caminhos  para  inúmeras  pesquisas,  debates, 

fóruns,  documentos,  que  deveriam,  então,  apontar  para  uma  discussão  de  caráter 

educativo,  pela  qual  as  práticas  precisariam  assumir  a  função  pedagógica  e,  para  isto, 

veremos  quais  encaminhamentos,  diretrizes  estariam  dispostas  pelo  MEC  a  fim  de 

orientar tais preceitos. 

 

Os documentos... 

Os marcos  legais a partir da Constituição Federal de 1988 vão dando abertura aos 

processos de expansão do atendimento educacional às crianças entre 0 e 6 anos. Porém 

é  a  LDB  que  reconhece  e  legitima  esta  questão,  integrando  a  Educação  Infantil  e 

definindo como primeira etapa da educação básica. Desta forma, a partir da promulgação 

da LDB, outros documentos foram criados, no sentido de orientar as práticas educativas. 

Por meio de uma pesquisa  realizada nos documentos oficiais do MEC, através do 

site http://www.mec.gov.br, podem‐se encontrar  todos os documentos utilizados neste 

artigo na íntegra: Resoluções e Pareceres do CNE/CEB e publicações oficiais na área. 

 Entre Resoluções e Pareceres do CNE/CEB  localizaram‐se num primeiro momento 

53 (cinquenta e três) documentos que tratavam de Educação Infantil e Educação Básica. 

Porém  numa  busca  detalhada,  em  que  o  filtro  utilizado  foram  documentos  que 

trouxessem  orientações  curriculares  para  a  Educação  Infantil,  restaram  7  (sete) 

documentos, apresentados no quadro a seguir: 

Ano  Tipo  Documento  Conteúdo 

1998  Parecer  Parecer CNE/CEB nº 22/1998, aprovado em 17 de dezembro de 1998  

Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil. 

1999  Resolução  Resolução CNE/CEB n.º 1, de 7 de abril de 1999  

Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil 

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1999  Parecer  Parecer CNE/CEB nº 2/1999, aprovado em 29 de janeiro de 1999  

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. 

2009  Parecer  Parecer CNE/CEB nº 20/2009, aprovado em 11 de novembro de 2009 

Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 

2009  Resolução  Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009 

Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 

2010  Parecer  Parecer CNE/CEB nº 7/2010, aprovado em 7 de abril de 2010  

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. 

2010  Resolução  Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010 

Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica 

Quadro  síntese dos documentos oficiais que  tratam de diretrizes  curriculares para  a  educação infantil.  FONTE: http://www.mec.gov.br 

 

Além  dos  documentos  do  CNE/CEB,  a  publicação:  Referencial  Curricular Nacional 

para a Educação Infantil . v.1, v.2 e v.3, publicado em 1998, se propõe a traçar propostas, 

um  caminho,  para  as  práticas  educativas,  trazendo  de  forma  explícita  a  questão  dos 

conteúdos para a Educação Infantil. 

 

Em busca dos conteúdos... 

Neste  momento  do  artigo,  apresento  os  documentos  enunciados  no  capítulo 

anterior,  trazendo  de  que  forma  abordam  os  “conteúdos”  no  currículo  da  Educação 

Infantil.  Comecemos  com  as  resoluções  e  pareceres  do  CNE/CEB,  seguindo  a  ordem 

cronológica que  foram  construídos  e publicados.  Importante  colocar que minha busca 

ficou nas referências que o documento trazia em torno do currículo, conteúdos. E por o 

termo “conhecimentos” estar  relacionado com conteúdo, ou conforme Junqueira Filho 

(2004)  serem  “sinônimos”,  em  alguns  documentos  serão  considerados  estes  termos, 

uma vez que não utilizam o termo “conteúdo” propriamente dito. 

 

1. Parecer CNE/CEB nº 22/1998, aprovado em 17 de dezembro de 1998:  

Os pareceres do Conselho de Educação  têm o objetivo de divulgar as decisões da 

Câmara,  proferidas  em  relatos  de  processos  e  no  caso  de  uma  diretriz  curricular, 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

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precedem as Resoluções. Nos pareceres é possível verificar as discussões que emergiram 

e situam o leitor do ponto de vista histórico e ideológico.  

O  parecer  Parecer  CNE/CEB  nº  22/1998,  apresenta  as  Diretrizes  Curriculares 

Nacionais para a Educação Infantil  e aponta o lugar da Educação Infantil pós LDB na área 

da  educação.  Este  parecer  deixa  claro  que  as  Diretrizes  se  constituem  como  um 

documento  de  caráter mandatório,  na  qual  os  Conselhos municipais  e  estaduais,  bem 

como as Secretarias, deverão cumprir o que se determina. As diretrizes ficam definidas, 

inclusive, como paradigma, entendido como algo a ser seguido fielmente e num modelo 

padrão:  

Desta forma, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil contemplando o trabalho nas creches para as crianças de 0 a 3 anos e nas chamadas pré‐escolas ou centros e classes de educação  infantil para as de 4 a 6 anos, além de nortear as propostas  curriculares e os projetos pedagógicos,  estabelecerão  paradigmas  para  a  própria  concepção destes programas de cuidado e educação, com qualidade. (p.02)  

Quando  se  fala  em  currículo,  apresentam‐se  as  seguintes  colocações,  aqui 

entendidas  implicitamente como um currículo, vistas que não aparecem explicitamente, 

mas o  conteúdo  se  revela  carregado de  intenções, pois  conforme Guesser e Ranghetti 

(2011,p.18), “ o currículo é carregado de intencionalidades, de escolhas”: 

Este é, pois o grande desafio que se coloca para a Educação Infantil: que ela  constitua um espaço e um  tempo em que, de 0 a 3 anos haja uma articulação  de  políticas  sociais,  que  lideradas  pela  educação,  integrem desenvolvimento  com  vida  individual  ,  social  e  cultural,  num  ambiente onde as formas de expressão, dentre elas a linguagem verbal e corporal ocupem  lugar privilegiado, num contexto de  jogos e brincadeiras, onde famílias e as equipes das creches convivam  intensa e construtivamente, cuidando e educando.(p.07)  

Ainda falando de currículo, e agora explicitamente de práticas pedagógicas, surgem 

as seguintes colocações: 

1 – Educar e cuidar de crianças de 0 a 6 anos supõe definir previamente para que sociedade  isto será feito, e como se desenvolverão as práticas pedagógicas, para que as crianças e suas famílias sejam incluídas em uma vida de cidadania plena. Para que  isto aconteça, é  importante que as Propostas Pedagógicas de Educação  Infantil  tenham  qualidade  e  definam‐se  a  respeito  dos seguintes fundamentos norteadores: 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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a. Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b. Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; c. Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade, da Qualidade e da Diversidade de manifestações Artísticas e Culturais. (p.10)  

E, por fim, aparecem os conteúdos que são tratados como conhecimentos a serem 

integrados nas diversas  áreas, bem  como nos  aspectos da  vida  cidadã,  constituindo‐se 

como conhecimentos e valores. 

4 – Ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprias, com os demais e o meio ambiente de maneira articulada  e  gradual,  as  Propostas  Pedagógicas  das  Instituições  de Educação  Infantil devem buscar  a  interação  entre  as diversas  áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, como conteúdos básicos para a constituição  de  conhecimentos  e  valores.  Desta  maneira,  os conhecimentos  sobre  espaço,  tempo,  comunicação,  expressão,  a natureza  e  as  pessoas  devem  estar  articulados  com  os  cuidados  e  a educação  para  a  saúde,  a  sexualidade,  a  vida  familiar  e  social,  o meio ambiente,  a  cultura,  as  linguagens,  o  trabalho,  o  lazer,  a  ciência  e  a tecnologia.(p.12)  

O  texto  prossegue  sem mais  detalhamentos  sobre  esses  “conhecimentos”  ou 

“conteúdos”,  apenas  ressaltando  que  devem  ser  trabalhados  com  ludicidade,  prazer, 

num ambiente de respeito às diversidades. Que esse acesso não seja um luxo, nem favor 

às crianças menos favorecidas. Ressalta‐se que as propostas devam evitar “a monotonia, 

o exagero de atividades acadêmicas ou de disciplinamento estéril” (p.13) 

 

2. Resolução CNE/CEB n.º 1, de 7 de abril de 1999    

As Resoluções instituem as normativas. Têm força mandatória a ser cumprida pelos 

sistemas  de  ensino.  A  Resolução  CNE/CEB  n.º  1,  de  07/04/99,  institui  as  Diretrizes 

Curriculares  Nacionais  para  a  Educação  Infantil.  Trata‐se  de  um  documento  sucinto, 

incapaz de abranger as especificidades desta etapa de educação. Trata as questões de 

currículo de forma geral, na qual se podem destacar os seguintes trechos: 

I – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, devem respeitar os seguintes Fundamentos Norteadores: 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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a)  Princípios  Éticos  da  Autonomia,  da  Responsabilidade,  da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; b)  Princípios  Políticos  dos  Direitos  e  Deveres  de  Cidadania,  do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; c)  Princípios  Estéticos  da  Sensibilidade,  da  Criatividade,  da Ludicidade  e  da  Diversidade  de  Manifestações  Artísticas  e Culturais.  

A  abordagem sobre conhecimento se dá no inciso IV, do art.2º : 

As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais,  em  momentos  de  ações,  ora  estruturadas,  ora espontâneas  e  livres,  a  interação  entre  as  diversas  áreas  de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim com o provimento  de  conteúdos  básicos  para  a  constituição  de conhecimentos e valores.   

 De forma muito breve e pouco esclarecedora, apresenta‐se a ideia de interação das 

áreas do conhecimento  relacionados com a vida cidadã, permeada de conhecimentos e 

valores.  Porém  em  nenhum  momento,  apresentam‐se  as  áreas,  os  conhecimentos  e 

conteúdos. Que vida cidadã se está valorizando? Que valores?  Ficam muitas lacunas neste 

documento. Prossigamos então, na busca dos conteúdos da Educação Infantil. 

 

3. Parecer CNE/CEB nº 2/1999, aprovado em 29 de janeiro de 1999  

O  Parecer  CNE/CEB  nº  2/1999  de  29/10/99  é  bastante  sucinto,  não  trazendo 

informações de caráter teórico. O parecer aprova os Referenciais Curriculares Nacionais 

para  a  Educação  Infantil,  enfatizando  que  o  documento  tem  a  função  de  orientar  as 

práticas.  

Seu  caráter  não  mandatório  reforça  a  função  de  assessoria  e  apoio exercida pelo MEC, no âmbito de uma política nacional de educação, que visa a melhoria  e  a  qualidade  no  encaminhamento  dos  problemas  ainda presentes no cuidado e educação para as crianças de 0 a 6 anos e suas famílias. (p.01)    

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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4. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil  

O Referencial Curricular Nacional para a Educação  Infantil  foi publicado em  1998, 

com o objetivo de  integrar a série de documentos “Parâmetros Curriculares Nacionais” 

elaborados  pelo  MEC.  Foi  elaborado  para  servir  de  “guia  de  reflexão  de  cunho 

educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que 

atuam  diretamente  com  crianças  de  zero  a  seis  anos,  respeitando  seus  estilos 

pedagógicos e a diversidade cultural brasileira” (BRASIL, 1998, v.1, p.8). 

É dividido em três volumes, organizados desta forma: 

Volume 1 – Introdução 

“[...]  Apresenta  uma  reflexão  sobre  creches  e  pré‐escolas  no  Brasil,  situando  e 

fundamentando concepções de criança, de educação, de instituição e do profissional, que 

foram  utilizadas  para  definir  os  objetivos  gerais  da  educação  infantil  e  orientaram  a 

organização dos documentos de eixos de trabalho que estão agrupados em dois volumes 

relacionados  aos  seguintes  âmbitos  de  experiência:  Formação  Pessoal  e  Social  e 

Conhecimento de Mundo” (BRASIL, 1998, v.1, p.8). 

Volume 2 – Formação Pessoal e Social 

“[...] Volume relativo ao âmbito de experiência Formação Pessoal e Social que contém o 

eixo  de  trabalho  que  favorece,  prioritariamente,  os  processos  de  construção  da 

Identidade e Autonomia das crianças” (BRASIL, 1998,v.1, p.8). 

Volume 3 ‐ Conhecimento de Mundo 

“[...] Volume relativo ao âmbito de experiência Conhecimento de Mundo que contém seis 

documentos  referentes  aos  eixos  de  trabalho  orientados  para  a  construção  das 

diferentes  linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos 

de conhecimento: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza 

e Sociedade e Matemática” (BRASIL, 1998,v.1, p.8). 

Desta  forma,  vou  me  ater  às  questões  tratadas  como  conteúdos  nestes 

documentos.  

O  volume  1,  explicita  a  concepção  da  proposta  em  relação  aos  conteúdos, 

afirmando que não existe aprendizagem sem conteúdos.  Esta ideia é defendida também 

por Sacristán e Gómez (1998), “quando há ensino é porque se ensina algo ou se ordena o 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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ambiente para que  alguém  aprenda  algo”(p.120). O Referencial  concebe os  conteúdos 

como a concretização dos propósitos da instituição e também como um meio para que as 

crianças desenvolvam suas capacidades e exercitem sua maneira própria de pensar, sentir 

e ser. Apresenta a natureza dos conteúdos, que podem ser: conceituais, procedimentais e 

atitudinais. 

Os  conteúdos  conceituais  que  dizem  respeito  ao  conhecimento  de conceitos, fatos e princípios; os conteúdos procedimentais referem‐se ao “saber  fazer”  e  os  conteúdos  atitudinais  estão  associados  a  valores, atitudes e normas. Nos eixos de trabalho, estas categorias de conteúdos estão  contempladas  embora  não  estejam  explicitadas  de  forma discriminada (BRASIL, 1998, v.1, p.49).  

Os  conteúdos  são  apresentados  dentro  dos  eixos  de  trabalho,  em  blocos.  "Essa 

organização visa a contemplar as dimensões essenciais de cada eixo e situar os diferentes 

conteúdos dentro de um contexto organizador que explicita suas especificidades por um 

lado e aponta para a sua origem por outro" (p.56).  O referencial aponta que existe uma 

organização,  porém  o  professor  deve  utilizá‐los  em  seu  planejamento  como  precisar, 

integrando os conteúdos: 

Os conteúdos são compreendidos, aqui, como instrumentos para analisar a  realidade,  não  se  constituindo  um  fim  em  si mesmos.  Para  que  as crianças  possam  compreender  a  realidade  na  sua  complexidade  e enriquecer  sua  percepção  sobre  ela,  os  conteúdos  devem  ser trabalhados de forma  integrada, relacionados entre si (BRASIL, 1998,v.1, p.54).  

   Quanto  à  seleção  dos  conteúdos  fica  a  critério  do  professor,  a  medida  que 

planejará de acordo com o grupo de crianças que terá. Ficará sob sua responsabilidade o 

aprofundamento, a integração, a quantidade de vezes que optará em reutilizá‐los durante 

o ano. 

Os dois volumes (2 e 3) que seguem do referencial, organizam‐se da seguinte forma: 

Eixo                  Lista de Conteúdos (0 a 3 anos)                Orientações Didáticas                          Lista de Conteúdos (4 a 6 anos)                Orientações Didáticas  

Apesar  de  haver  discussões  e  críticas  ao  RCNEI,  referentes  à  sua  forma  de 

construção, e conforme Lopes (2001, p.69) “a prematuridade na formulação dos RCNEI e 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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as incongruências apontadas por diversos estudos” pode‐se considerar o documento que 

mais “se mostrou” tentando apontar caminhos não obscuros para o trabalho educativo 

com crianças de 0 a 6 anos. Mais adiante veremos outro documento, mais atual, mas com 

o pano de fundo já construído e mostrado pelo RCNEI. 

 

5. Parecer CNE/CEB nº 20/2009, aprovado em 11 de novembro de 2009 

Dez  anos  depois  da  implantação  da  primeira  Diretriz  Curricular  para  a  Educação 

Infantil, o parecer CNE/CEB nº 20/2009, de 11/11/09, faz uma revisão das novas Diretrizes 

Curriculares. Neste texto, aponta‐se um histórico da Educação Infantil no país, a partir da 

promulgação da Constituição Federal de 1988, bem como as discussões que constituíram 

e ajudaram a elaborar as diretrizes. 

Trazendo para o foco deste artigo, que se propôs a  levantar como os documentos 

oficiais  abordaram  o  tema  “conteúdos”,  primeiramente  cito  o  conceito  deste  parecer 

sobre currículo da Educação Infantil: 

 O  currículo  da  Educação  Infantil  é  concebido  como  um  conjunto  de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Tais práticas são efetivadas por meio de relações sociais  que  as  crianças  desde  bem  pequenas  estabelecem  com  os professores  e  as  outras  crianças,  e  afetam  a  construção  de  suas identidades (p.03)  

Sobre os conteúdos, este parecer não  faz uma abordagem utilizando este  termo. 

Porém,  o  item  9  faz  uma  reflexão  acerca  da  “organização  das  experiências  de 

aprendizagem na proposta curricular” . Neste texto, aborda questões como: acolhimento 

das  crianças,  relação positiva  com  a  instituição,  fortalecimento de  sua  auto‐estima,  no 

interesse e  curiosidade pelo  conhecimento do mundo, na  familiaridade  com diferentes  

linguagens,  na  aceitação  e  acolhimento  das  diferenças  entre  as  pessoas.  Também,  de 

forma  breve,  pontua  algumas  experiências  que  devem  ser  garantidas  às  crianças, 

relacionadas  a  linguagem, meio‐ambiente, músicas, movimentos,  com  o  grupo,  etc. O 

próximo  documento,  que  vai  apresentar  as  Diretrizes,  tratará  destas  questões 

novamente. 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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6. Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009 

Esta  resolução  (CNE/CEB  nº  5,  de  17/12/09)  institui  de  fato  as  novas  Diretrizes 

Curriculares para a Educação  Infantil. Assim, como o parecer que a precedeu, aponta o 

mesmo conceito de currículo.  O artigo 4º considera as Propostas Pedagógicas em que a 

criança é o centro do planejamento curricular e produtora de cultura – Cultura Infantil. 

As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que a criança,  centro  do  planejamento  curricular,  é  sujeito  histórico  e  de direitos que, nas  interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói  sua  identidade  pessoal  e  coletiva,  brinca,  imagina,  fantasia, deseja,  aprende,  observa,  experimenta,  narra,  questiona  e  constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.  

A  questão  “conteúdos”  não  aparece  com  este  termo  no  documento. 

Implicitamente  estão  contidos  no  artigo  9º,  uma  vez  que  pelo  texto,  as  práticas 

pedagógicas devam garantir experiências.  É possível relacionar o termo conteúdo com as 

experiências, uma vez que da forma como está colocado, ou seja, é possível subentender 

que  as  experiências  sejam  os  próprios  conteúdos  uma  vez  que  as  crianças  devem  se 

apropriar. 

Mas o que de diferente as novas Diretrizes Curriculares propõem como conteúdos 

para a Educação Infantil? Se observarmos através de outro movimento este mesmo texto 

(art.9º)nos parece  familiar a outro documento,  já produzido pelo MEC:   os Referenciais 

Curriculares  Nacionais  para  a  educação  Infantil.  Salvo  algumas  modificações, 

acrescentando‐se os recursos tecnológicos por exemplo, não visualizo alterações do que 

já se tinha como orientação. E me arrisco em dizer: os conhecimentos/conteúdos foram 

tratados de forma excessivamente abrangente.  

O quadro que se apresenta abaixo foi organizado a partir das Diretrizes Curriculares 

mas foi possível enquadrar os conhecimentos praticamente dentro dos mesmos eixos  já 

apresentados pelos RCNEI’s, a saber: Identidade e Autonomia, Linguagem Oral e Escrita, 

Matemática, Natureza e Sociedade, Artes Visuais e Movimento. 

 

 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

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7. Parecer CNE/CEB nº 7/2010, aprovado em 7 de abril de 2010  

O  parecer  CNE/CEB  nº  7/2010,  de  07/04/2010  trata  das  Diretrizes  Curriculares 

Nacionais  para  a  Educação Básica.  Por  a  Educação  Infantil  constituir‐se  como  primeira 

etapa deste nível, é conveniente levantar dados também deste documento. 

Embora  seu  objetivo  seja  “estabelecer  bases  comuns  nacionais  para  a  Educação 

Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, bem como para as modalidades com 

que  podem  se  apresentar”  e  “  o  sentido  [...]delimita  como  conjunto  de  definições 

doutrinárias  sobre princípios,  fundamentos  e procedimentos  na  Educação Básica  (...)  que 

orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no 

desenvolvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas”, foi aprovado depois das 

diretrizes da Educação  Infantil. No mínimo estranho, uma vez que esta Diretriz deveria 

orientar as modalidades que estão contempladas dentro da Educação Básica. 

Em se tratando dos conteúdos colocam que:  

Os  conteúdos  curriculares  da  Educação  Básica  observarão,  ainda,  as seguintes diretrizes: I  ‐ a difusão de valores  fundamentais ao  interesse  social, aos direitos e deveres  dos  cidadãos,  de  respeito  ao  bem  comum  e  à  ordem democrática; II ‐ consideração das condições de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento; III ‐ orientação para o trabalho; IV  ‐ promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais.  

Este  parecer  coloca  que  os  PCN’s  foram  editados  como  uma  “obrigação  de 

conteúdos a serem contemplados no Brasil inteiro, como se fossem um roteiro, sugerindo 

entender que essa medida poderia ser orientação suficiente para assegurar a qualidade 

da  educação  para  todos”  e  no  decorrer  do  texto  faz  uma  crítica  ao  rol  de  conteúdos 

rígidos,  estanques  que  algumas  propostas  fazem,  através  de  escolhas  sem  um 

movimento social participativo. Outras questões serão tratadas nas próprias diretrizes a 

serem apresentadas a seguir. 

 

 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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8. Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010 

A Resolução CNE/CEB nº 4, de 13/07/2010, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais 

para a Educação Básica. Tecidos alguns  comentários em  seu parecer que a  antecedeu, 

coloco neste momento as questões referentes aos conteúdos para a Educação Infantil. 

Reforça a ideia de interdisciplinaridade dos conteúdos e a não delimitação da grade 

de conteúdos a ser seguida fielmente. 

No  artigo  24,  sem  falar  em  conteúdos,  mas  dizendo  no  que  devem  se  apoiar, 

acredito ser interessante pontuar: 

Os objetivos da formação básica das crianças, definidos para a Educação Infantil, prolongam‐se durante os  anos  iniciais do  Ensino  Fundamental, especialmente no primeiro, e completam‐se nos anos finais, ampliando e intensificando, gradativamente, o processo educativo;  

Embora não sejam objetivos específicos para a educação Infantil, mas afirmando‐se 

que são prolongados desta etapa, é possível compreender a articulação com os eixos  já 

apresentados nas diretrizes da educação  Infantil que  também contemplam:  linguagens, 

matemática, natureza e sociedade, artes e valores sociais. 

 

Considerações 

Traçar  este  caminho  entre  os  documentos  oficiais,  compreendidos  a  partir  da 

LDB/1996 até as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/2009,  foi 

possível  levantar algumas questões evidentes e outras nem tanto a respeito de como o 

termo conteúdo apresentou‐se e como foi tratado por cada um deles. 

É possível dizer que a partir de  1996, com a promulgação da LDB, que  instituiu a 

Educação  Infantil  como  etapa  da  Educação  Básica  e,  portanto,  etapa  de  ensino  com 

objetivos voltados para este fim, inúmeras discussões surgem nesta área para o currículo 

da mesma e os documentos oficiais buscam organizar as diretrizes curriculares. 

Ao  iniciar  as  formas  de  organização  deste  currículo,  os  documentos  apontam 

questões  pedagógicas,  diretrizes  educacionais,  porém,  não  há  clareza  sobre  como  os 

“conteúdos”  devam  ser  tratados  nesta  etapa  de  ensino. Não  defendo  que  o  currículo 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

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precise  ser  pensado  a  partir  dos  conteúdos, mas  sim  a  partir  das  especificidades  das 

crianças,  conforme  colocam  Guesser  e  Ranghetti  (2011),  porém  estes  devem  ser  sim, 

utilizados a favor do desenvolvimento das crianças e serem apresentados de forma clara 

aos  professores,  que  a  partir  do  que  se  apresenta,  selecionam,  organizam,  ampliam, 

aprofundam, enfim, fazem a utilização didática conforme a especificidade de seu grupo 

de crianças.  

Também comungo com Kramer  in Moreira  (1999, p.170) que diz que uma política 

pública  deve  sim  fazer  proposições. Não modelos  rígidos  a  serem  seguidos, mas  sim, 

assumir  uma  postura:  “Uma  política  pública  deve,  sim,  propor,  mas  frequentemente 

chama‐se  de  proposta  o  que  é modelo, método  ou  grade  curricular.  É  preciso  propor 

caminhos  levantando perguntas e gerando perguntas, experimentando caminhos.” E os 

documentos oficiais, que tratam de diretrizes curriculares, são caminhos, propostas que 

fazem parte de uma política pública e que embasam uma etapa de ensino de todo o país. 

Apesar  de  haver  discussões  e  críticas  ao  RCNEI,  referentes  principalmente  à  sua 

forma de construção, pode‐se considerar o documento que mais apresentou caminhos 

não obscuros para o trabalho educativo com crianças de 0 a 6 anos. Apontou claramente 

os  conteúdos dentro das áreas do  conhecimento. Os demais vão  falar de  forma muito 

ampla  sobre  os  conhecimentos,  em  categorias  muito  amplas,  que  não  possibilitam 

compreensão  detalhada.  As  últimas  Diretrizes  Curriculares/2009  apresentam  de  outra 

forma  os  conteúdos  e  acrescentam  outros,  porém,  o  pano  de  fundo  se mostra  com 

conteúdos que se agrupados, revelam os principais eixos já apresentados pelo RCNEI em 

1998. 

A maioria dos documentos não utilizam o termo conteúdo. No meu entendimento, 

existe  outra  questão  que  envolve  esta  questão:  a  Educação  Infantil  busca  em  sua 

trajetória assumir‐se como etapa de ensino, porém, o que não se quer, é que esta etapa 

tenha  um  currículo  baseado  nos moldes  da  escola  e  o  termo  conteúdo  além  de  ser 

característico  presente  nos  currículos  das  escolas,  já  foi  utilizado  ao  longo  da  história 

como único e principal propulsor do conhecimento2. Em alguns documentos reforçam a 

                                                            2  Paulo  Freire  e  o movimento  da  escola  nova  fez  críticas  ao modelo  bancário,  tradicional,  onde  os  alunos  apenas 

recebiam os conhecimentos (conteúdos) transmitidos pelos professores, sem interação e significância dos mesmos 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

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não antecipação dos conteúdos do Ensino Fundamental. Porém, embora concorde com 

esta  questão,  no  sentido  que  a  infância  produz  sua  própria  cultura,  e  deva  ser  vivida 

enquanto fase própria da vida do ser humano e não apenas com o sentimento de incapaz, 

inacabado, alguém que virá a ser, acredito que o termo conteúdo possa ser utilizado sim 

nos currículos, propostas pedagógicas, diretrizes curriculares ou outro nome que assim 

assumir  este  objetivo, desde  que  seja  ressignificado  a  partir  deste  entendimento  e  de 

outras discussões que já existem sobre a criança e sua cultura3.  

 

Referencias  

BRASIL. Ministério da Educação. LDB ‐ Lei no 9394/96, de 20 de dezembro de 1996.Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. 

 

_____. Ministério da Educação. Parecer nº 20, de11 de novembro de 2009. Brasília: MEC. CNE/CEB, 2009. 

 

_____. Ministério da Educação. Parecer nº 22, de 17 de dezembro de 1998. Brasília: MEC. CNE/CEB, 1998. 

 

_____. Ministério da Educação. Parecer nº 7, de 7 de abril de 2010. Brasília: MEC. CNE/CEB, 2010. 

 

_____. Ministério da Educação. Parecer nº02, de 29 de janeiro de 1999. Brasília: MEC. CNE/CEB, 1999. 

 

_____. Ministério da Educação. Resolução nº 1, de7 de abril de 1999. Brasília: MEC. CNE/CEB, 1999. 

 

_____. Ministério da Educação. Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010. Brasília: MEC. CNE/CEB, 2010. 

 

_____. Ministério da Educação. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Brasília: MEC. CNE/CEB, 2009. 

 

                                                                                                                                                                                          para a vida do aluno. 

3 Aqui entendida como cultura infantil que também será diferente a partir da cultura social que está inserida. 

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 Conteúdos para a educação infantil: o que apontam os documentos oficiais  Elisia Kasprowicz Stein 

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_____. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para Educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998, volumes 1,2 e 3. 

 

FERREIRA, B. S. Conteúdos na educação infantil: tensões contemporâneas. Porto Alegre: UFRGS, 2012. 145 f. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Programa de Pós‐Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012 

 

JUNQUEIRA FILHO, G.A. Seleção e articulação de conteúdos em educação infantil no Brasil: da negação à busca da produção de sentido. Ciências & Letras: Revista da Faculdade Porto‐Alegrense de Educação, Ciências e Letras. Porto Alegre, n.36, p.105‐127, jul./dez. 2004, Disponível em _________ Acesso em 15 out. 2013. 

 

KRAMER, S. Propostas Pedagógicas ou curriculares: subsídios para uma leitura crítica. In: MOREIRA, A.F.B. Currículo: políticas e práticas. Campinas, SP: Papirus, 1999. 

 

LOPES, A. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: uma proposta integradora ou interdisciplinar? Itajaí: UNIVALI, 2011. 81f. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós‐Graduação Stricto Sensu, Programa de Pós‐Graduação em Educação, Universidade do vale do Itajaí, Itajaí, 2011. 

 

OLIVEIRA, Z.de M.R. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. 

 

RANGHETTI,D.S. GESSER, V. Currículo Escolar: Das concepções histórico‐epistemológicas a sua materialização na prática dos contextos escolares. Curitiba, PR: CRV, 2011. 

 

SACRISTÁN, J.G. e GÓMEZ, A.I.P. Compreender e transformar o ensino. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Trad.Ernani F. da Fonseca Rosa. 

 

SCHWARTZ, S. A Educação Infantil tem conteúdos? Ciências & Letras: Revista da Faculdade Porto‐Alegrense de Educação, Ciências e Letras. Porto Alegre, n. 43, p. 229‐246, jan./jun. 2008. Disponível em: < http://www1.fapa.com.br/cienciaseletras/pdf/revista43/ artigo16.pdf >  Acesso em 14 out 2013.