contestação do escritório rpgerio bueno advogados associados à inicial da ação movida pela...

14
Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200 55 41 3222-3388 contato@buenoegrande.com.br EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL, DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, CAPITAL DO ESTADO DO PARANÁ. Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo. Bertolt Brecht Autos nº 0012169-78.2016.8.16.0182 de Reclamação Requerentes: Érika Mialik Marena Requerido: Marcelo José Cruz Auler MARCELO JOSÉ CRUZ AULER, já qualificado nos autos em destaque, vem com o devido acato e respeito por intermédio de seu advogado ao final assinado, ofertar tempestivamente e na melhor forma de direito a presente C O N T E S T A Ç Ã O Que faz segundo os termos da inicial de constante do movimento 1.1, para tanto aduzindo e requerendo o que adiante segue.

Upload: marcelo-auler

Post on 14-Apr-2017

8.232 views

Category:

News & Politics


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL

DO FORO CENTRAL, DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE

CURITIBA, CAPITAL DO ESTADO DO PARANÁ.

Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht

Autos nº 0012169-78.2016.8.16.0182 de Reclamação Requerentes: Érika Mialik Marena Requerido: Marcelo José Cruz Auler

MARCELO JOSÉ CRUZ AULER, já qualificado nos autos

em destaque, vem com o devido acato e respeito por intermédio de seu

advogado ao final assinado, ofertar tempestivamente e na melhor forma de

direito a presente

C O N T E S T A Ç Ã O Que faz segundo os termos da inicial de constante do

movimento 1.1, para tanto aduzindo e requerendo o que adiante segue.

Page 2: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

- I - DA MATÉRIA ALEGADA PELA REQUERENTE NA EXORDIAL

Alega a Requerente em sua breve e prolixa peça, sem, no

entanto, obter êxito, ter sido vítima de calunias e difamações oriundas de

matéria jornalísticas veiculadas no blog de autoria do Requerido.

As aludidas matérias dariam conta de vazamentos à

impressa, orquestrados pela Policia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato,

bem como Representação formulada pela Requerente perante a corregedoria

do MPF, em face, à época, do então Subprocurador da República Eugênio

Aragão, ministro da Justiça do Governo Dilma Rousseff à época da veiculação

da matéria.

Com relação a ambos os fatos, a Requerente nega

peremptoriamente tê-los praticado alegando para tanto estar sendo vítima de

difamação e calunias, e que no exercício da função pública, sempre pautou

pela lisura e pela seriedade no exercício de sua função.

Afirma que o Requerido se baseou numa “fofoca” não

tendo embasamento fático algum contra a Requerente.

Alega estar sofrendo de indisposição de “natureza

espiritual” em face das reportagens produzidas pelo Requerido, lhe causando

verdadeiro mal estar.

Aduz que, pelo desgosto, proporcionado pelas

reportagens deve ser indenizada, haja vista que existem precedentes que

autorizariam o Juízo a promover a fixar indenização decorrente de abuso de

liberdade de informação.

Page 3: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

Com base no Artigo 300 do Novo CPC, a Requerente

postulou fosse retirado do ar as matérias constantes do blog, as quais julgava

ser ofensivas a sua pessoa, havendo por bem V. Excelência em conceder a

liminar, determinando fossem as matérias retiradas do ar, sob pena de multa

diária.

Ao final deduz os pedidos de praxe, notadamente a

condenação do Requerido ao pagamento de indenização, decorrente do

suposto Dano Moral infligido a sua pessoa, em grau máximo, levando em conta

a alçada deste juizado.

- II - DA VERDADEIRA ORDEM DOS FATOS

Cumpre ressaltar num primeiro momento que o Requerido

não é nenhum iniciante no Jornalismo e que por certo tem de tempo

profissional, o que a Requerente tem de vida, logo não cometeria erro

“primário” de noticiar algo não houvesse como ser provado.

Vale lembrar que o Requerido foi vencedor de dois

“Prêmios Esso” de Jornalismo, tratando-se portanto de profissional

experimentado, que ao contrário do que menciona a Requerente em sua peça,

não é devoto da ideologia de esquerda, mais sim devoto da verdade e do dever

de informar que sua condição de jornalista perante a sociedade lhe impõe.

Portanto, as matérias que foram objeto de censura prévia,

não se tratam de meras ilações ou fofocas como adjetiva a Requerente.

Tratam-se de fatos que efetivamente ocorreram,

respaldados em provas documentais que ora se passam a expor.

Page 4: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

A primeira matéria em que a Requerente coloca “reparo”

na atuação do Requerido, possui o seguinte título: “Carta aberta ao Ministro

Eugênio Aragão”.

Na referida matéria o Requerido traz à lume informação

de representação assinada pela Requerente em desfavor do então

Subprocurador da República Eugênio Aragão, direcionada a corregedoria do

MPF, na qual se apurou eventual criação de obstáculos por parte do então

Subprocurador, quando dos episódios envolvendo investigações de casos

como “Banestado” e “Mensalão” mormente no que tange a força tarefa que se

deslocou até a cidade Estado Unidense de Nova York, com o intento de buscar

cooperação fundada no “Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal” ou

em língua inglesa “MLAT - Mutual Legal Assistance Treaty”

A referida representação junto a Corregedoria do MPF foi

autuada sob nº 1.00.0021.000128/2005-11, sendo que às fls. 11 do referido

procedimento, ao ser relatado assim constou:

“Uma das subscritoras do relatório denunciante da Polícia Federal (fls. 20/24). ÉRIKA MIALIK MARENA, em depoimento perante a Comissão de Inquérito (fls. 210/213) ao explicar o significado do termo “obstaculizar” utilizado no contexto do relatório, disse referia-se a irresignação dos Policiais Federais quanto a adoção do canal MLAT e não da cooperação direta, como vinha sendo anteriormente adotado, conforme excerto adiante transcrito:

QUE ao verbo “obstaculizar” no contexto do relatório, refere-se à a não entrega direta dos documentos ao Departamento de Polícia Federal; QUE a obstaculização, a que se refere o relatório, encerra o estado que tomou conta dos Policiais Federais, quando souberam, em Nova York, que o MLAT seria utilizado na cooperação direta, pondo em risco todo trabalhos feitos até então, inclusive condenações criminais já ultimadas; QUE o risco que se refere a depoente diz respeito ao canal MLAT, que não sendo rápido, ágil não propiciaria a análise da

Page 5: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

movimentação financeira e a feitura de laudos com a brevidade exigida pelas circunstâncias; QUE não pode responder pelo Inquérito que tramita em Brasília, pois não tem atuação no Distrito Federal, entretanto, no que tange ao Inquérito que tramita no Paraná, a documentação pretendida poderia ter sido trazida na mesma semana e, em razão da adoção do MLAT, só chegou as autoridades investigantes um mês depois, aproximadamente; QUE esse período de um mês aproximadamente, a que aludiu, refere-se à chegada dos documentos em Brasília/DF; QUE no Estado do paraná, tais documentos chegaram com ,mais ou menos um mês após seu recebimento em Brasília/DF; QUE tais informações foram prestadas à depoente pelos procuradores da República, pois os documentos forma recebidos na Procuradoria e não no Departamento de Policia Federal no Estado do Paraná; QUE os documentos forma pedidos pelos Procuradores da República”

Ou seja, da análise do documento acima transcrito, e

colacionado com a presente peça, vê-se de maneira cristalina que SIM

existiu, no passado, representação da Requerente contra o então

Subprocurador Eugênio Aragão, por ocasião de coleta de provas no

exterior, mais precisamente na cidade de Nova York.

Não obstante, daí a importância de designação de

Audiência de Instrução e Julgamento, na qual, por certo, caso designada será

arrolado como testemunha a pessoa do Subprocurador Eugênio Aragão, com

vistas a aclarar se foi ou não representado pela Requerente e quais

circunstancias tais fatos se deram.

Bem como o então diretor-geral do Departamento de

Polícia Federal, Paulo Fernando Lacerda, ao qual coube, por força do cargo

que exercia, encaminhar a representação dos delegados e agentes à

Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF).

Page 6: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

E que não venha a Requerente dizer que sua

manifestação endereçada a corregedoria do MPF não se tratou de

“representação” pois com certeza tinha clara finalidade, via órgão de controle

disciplinar, de admoestar a pessoa do Subprocurador Eugenio Aragão.

O segundo fato com o qual a Requerente insurge-se diz

respeito ao fato de que a Requerente teria como estratégia de atuação no

âmbito da força tarefa da Lava Jato, o vazamento de informações sigilosas de

informações a órgão de impressa.

Assim como no fato anterior o Requerido cercou-se de

informação com respaldo, que aliás diga-se, passou inclusive a constar de

Inquérito Policial, no qual se apura os vazamentos ocorridos no âmbito a

operação lava-jato, o qual tramita sob nº 5015645-55.2015.404.7000 junto a

14ª Vara Federal de Curitiba.

No referido IP, na sequencia nº 184, consta o depoimento

do Delegado de Polícia Federal Paulo Renato de Souza Herrera, fls. 434 e

seguintes, ora colacionados aos autos, em conjunto com a presente

contestação, no qual o Ilustre Delegado salienta de maneira categórica que

sempre foi prática da Requerente o vazamento de informações a impressa,

como forma de amenizar eventuais pressões políticas, cuja transcrição dos

referidos pontos é oportuna:

Page 7: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

E continua mais além:

Trata-se portanto, de depoimento capaz de embasar

matéria jornalística, não se tratando então de mera ilação do Requerido como

prefere dizer a Requerente.

Trata-se sim de depoimento prestado por Delegado de

Polícia Federal, tal como a Requerente, no qual o mesmo explicita de maneira

Page 8: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

clara e cristalina que sim, é prática recorrente da Requerente o vazamento de

informações sigilosas, ao menos segundo sua própria visão.

- III - LIBERDADE DE IMPRESA

Ultrapassados todos esses argumentos, o que se admite

por amor ao argumento, ad cautelam, há que se considerar ainda a importância

deste caso sob a ótica da proteção a liberdade de imprensa, de se noticiar

fatos e, fatos envolvendo agente público, que, como se pode notar, é muito

poderoso, como ela mesmo admite ao falar de seu papel na Lava Jato.

Além do óbvio direito de manifestação de pensamento,

acolhido pela Constituição, a liberdade de imprensa é uma das mais relevantes

conquistas dos últimos séculos, dos últimos anos no país, apanágio das

sociedades democráticas, o mais importante instrumento de controle do poder

e dos poderosos.

Lê-se no REsp 1191875:

"A crítica que os meios de comunicação social dirigem às pessoas públicas, por mais dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos de personalidade", afirmação de Celso de Mello, relator do recurso, acompanhada por unanimidade pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal. Esse foi o fundamento do Ministro para rejeitar pedido de

indenização do desembargador aposentado Francisco de Oliveira Filho, do

Tribunal de Justiça de Santa Catarina, contra o jornalista Cláudio Humberto.

O artigo 5º da Constituição Federal afirma ser inviolável a

liberdade de manifestação do pensamento, sob a ressalva de que o

Page 9: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

manifestante seja identificado, ante a vedação do anonimato. No artigo 220 da

Constituição, vê-se que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão

e a informação são livres, observado o disposto na mesma Carta.

Em processo penal, mas que serve como parâmetro,

ajuizado contra o presidente do Conselho Administrativo da revista Veja,

Roberto Civita, requerido pelo presidente Lula, afirmou Celso de Mello:

“os jornalistas exerceram concretamente a liberdade de expressão, prevista na Constituição, que assegura, ao jornalista, o direito de expender crítica, ainda que desfavorável e exposta em tom contundente e sarcástico, contra quaisquer pessoas ou autoridades”.

Ainda da mesma origem:

“A crítica jornalística traduz direito impregnado de qualificação constitucional, plenamente oponível aos que exercem qualquer parcela de autoridade no âmbito do Estado, pois o interesse social, fundado na necessidade de preservação dos limites ético-jurídicos que devem pautar a prática da função pública, sobrepõe-se a eventuais suscetibilidades que possam revelar os detentores do poder. (...) O Estado não dispõe de poder algum sobre a palavra, as idéias e as convicções manifestadas pelos profissionais de comunicação.”.

Ensinou o Ministro Carlos Ayres Britto, do mesmo

Supremo Tribunal Federal.

“Muitas vezes há abusos e a maneira democrática de coibir os abusos não é com restrição à liberdade de imprensa, mas com mais liberdade”,

O Ministro Gilmar Mendes, também do STF, ainda

durante as últimas eleições, suspendeu acórdão do TSE que concedeu à

coligação com a Força do Povo e ao PT direito de resposta na revista Veja por

Page 10: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

causa da matéria “O PT sob chantagem”, que declarou que a legenda teria

pago propina para evitar escândalo que poderia afetar a disputa eleitoral. Disse

o Ministro que

“Esta Corte já afirmou que há um sobrevalor tutelado pela Constituição quando está em jogo a liberdade de imprensa, não só como direito individual, mas até como um direito marcante do próprio processo democrático”. (Rcl 18.735) Ensina o Ministro CARLOS AYRES BRITO:

“Os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são bens de personalidade que se qualificam como sobredireitos. Daí que, no limite, as relações de imprensa e as relações de intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras. [...] primeiramente, assegura-se o gozo dos sobre direitos de personalidade em que se traduz a ‘livre’ e ‘plena’ manifestação do pensamento, da criação e da informação. Somente depois é que se passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas um eventual desrespeito a direitos constitucionais alheios, ainda que também densificadores da personalidade humana. (...)”. Por sua vez, a Ministra Rosa Weber, do mesmo Excelso

Pretório, ao conceder uma medida liminar, destacou que a imposição de

restrições à liberdade de imprensa que, além de excessivas, se mostrem

substantivamente incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, desafia

a autoridade do parâmetro decisório emanado do STF e aniquila a proteção à

liberdade de imprensa

"na medida em que a golpeiam no seu núcleo essencial, a imposição de objetividade e a vedação da opinião pejorativa e da crítica desfavorável, reduzindo-a, por conseguinte, à liberdade de informar que, se constitui uma de suas dimensões, em absoluto a esgota”.

Page 11: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

E continua:

“Em nada contribui para a dinâmica de uma sociedade democrática reduzir o papel social da imprensa a um asséptico aspecto informativo pretensamente neutro e imparcial, ceifando-lhe as notas essenciais da opinião e da crítica. Não se compatibiliza com o regime constitucional das liberdades, nessa ordem de ideias, a interdição do uso de expressões negativas ao autor de manifestação opinativa que pretenda expressar desaprovação pessoal por determinado fato, situação, ou ocorrência.” ( Rcl 16.434)

Com relação a jornalistas, artistas, políticos famosos,

influentes, as críticas devem ser vistas com mais naturalidade ainda. A

jurisprudência é farta em ensinar a tolerância que deles se exige, pois estão

sempre sob os holofotes. Sem essa visão, o Judiciário estaria a serviço da

censura (mesmo que eduque o jornalista para a auto censura) e do

obscurantismo, estaria protegendo indiretamente o delinquente.

- IV - DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL

O que se deduz, é que não houve dano moral.

Primeiro, porque o requerido, no texto que divulgou em

seu blog limitou-se a RE POR TAR fatos que realmente ocorreram, como se

mostrou acima. Noticiou o que um delegado falou em depoimento e uma

representação que gerou um processo disciplinar contraCumpriu seu papel de

NOTICIAR aos seus leitores, da maneira mais fiel possível como fatos

ocorreram. Não qualificou, sequer emitiu opinião. Ele transcreveu, ainda que

com palavras suas, o que leu em documentos públicos.

Mas, ainda que o requerente, no exercício de sua função

profissional, emitisse alguma crítica à requerida, não estaria extrapolando sua

Page 12: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

função profissional, como demonstraram os votos de ministros do Supremo

Tribunal Federal, reproduzidos acima.

Como servidora pública, a Requerente está sujeita a

constantes críticas da imprensa, especialmente quando lida com questão tão

delicada, que remove presidentes da República.

Não é crível, MM Juiz, que a Requerente se sinta atingida

a cada uma das críticas que se faça a ele, vez que são milhares pelo país, bem

menos que elogios, também milhares.

O Requerido nada mais fez do que exercer o direito

decorrente da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão sobre

determinado tema. Trata-se de matéria positivada e tutelada no atual Estado

Democrático de Direito, no art. 5.º, incisos IV, XIII e XIV, da Constituição

Federal. Mais que direito, o requerido, data vênia, julga ter cumprido obrigação,

difícil obrigação.

Há que se ter em conta, que todos nós, seja na vida

cotidiana, ou profissional, estamos sujeitos às mais diversas opiniões sobre o

que fazemos, ou o que escrevemos e isso faz parte do regime democrático. É a

liberdade de expressão, o exercício da liberdade de imprensa. Essa liberdade

de crítica é fundamental para a convivência, para melhorar a sociedade, para

fazer distinções entre quem merece respeito e quem merece crítica.

Em que país estaríamos, que imprensa teríamos, se não

se pudesse dizer da autoridade a opinião que se tem dela? E de sua conduta

em um caso concreto? Seriam milhares de jornalistas brasileiros criminosos,

pela forma como trataram a ex-Presidente da República, ou o atual, ou

governadores e prefeitos de suas cidades, deputados, vereadores, senadores.

Por que não delegados, procuradores, magistrados?

Page 13: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

Se a cada notícia ou opinião negativa a autoridade

ajuizasse uma ação, o Judiciário estaria mais do que travado de processos

para serem analisados, direcionando a atenção dos Magistrados para excesso

de suscetibilidades e os jornais nada poderiam noticiar, nem mesmo sobre os

reis do crime, os controladores do tráfico de drogas.

Cite-se ainda conclusão do E STJ:

“Incômodos ou dissabores limitados à indignação da pessoa e sem qualquer repercussão no mundo exterior não configuram dano moral.... associar esse desconforto a um dano moral lesivo à vida e personalidade do incomodado é um excesso” . (RESP 750735) Ou seja, quando muito a notícia do Requerido, publicada

em blog, de audiência que como se conclui pela inicial, é em grande parte

petista, onde o autor não tem prestígio algum, não pode desgastar uma

servidora pública.

Leve-se em conta ainda inexistir dolo, intenção de

caluniar, nem mesmo difamar, mas como está claro, mesmo através das frases

soltas, o intuito de noticiar.

- V - DO PEDIDO

Face ao exposto requer-se:

1. Deferir os benefícios da Assistência Judiciária ao

Requerido;

2. Revogar imediatamente a liminar concedida a

Requerente, que determinou censura ao blog

mantido pelo Requerido, tendo em vista os

Page 14: Contestação do Escritório Rpgerio Bueno Advogados Associados à inicial da ação movida pela Delegada Erika

Rua João Negrão, 731 - Conjuntos 906 a 911 Centro - Curitiba - PR - CEP 80010-200

55 41 3222-3388 [email protected]

esclarecimentos/documentos trazidos na

presente peça contestatória;

3. Seja a presente ação julgada totalmente

improcedente, nos termos da argumentação

despedida na presente contestação;

4. A produção de todas as provas em direito

admitidas, notadamente prova documental, pericial

e documental, com designação de audiência de

instrução e julgamento, possibilitando ao

Requerido a juntada de documentos novos que

venham colaborar para o deslinde da presente

demanda;

Pede Deferimento

Curitiba, 29 de setembro de 2016

Rogério Bueno da Silva

OAB/PR 25.961