contencioso administrativo

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 1 Contencioso Administrativo 1) Que operações históricas se operaram na Justiça Administrativa em Portugal? A primeira fase corresponde à época liberal, de 1832 a 1924  (associada à época francesa, com início na Revolução Francesa    1789). Ao nível local, nesta fase, o modelo era designado de judiciarista ou quase-  judicialista. Os litígios relativos à matéria administrativa foram submetidos, sucessivamente aos Conselhos de Prefeitura, Conselhos de Distrito e aos Tribunais Administrativos Distritais que eram órgãos da função administrativa que detinham uma competência decisória, funcionando praticamente como tribunais mas fora d a função decisória.  Nos períodos de 1835 a 1842 e de 1892 a 1896, adoptou -se o modelo judicialista de tribunais comuns. Ao nível central, a partir de 1845, adoptou-se um modelo administrativista mitigado do tipo de “recurso hierárquico” em processo jurisdicionalizado. O Conselho de Estado e o Supremo Tribunal Administrativo tinha aqui uma intervenção consultiva obrigatória. Em termos globais, a partir de 1832, adoptou-se um modelo misto, de  predominância administrativista, embora mitigada no que diz respeito aos recursos das decisões de 1ª Instancia para o Conselho de Estado e, mais tarde, para o Supremo Tribunal Administrati vo.  Numa segunda fase, num período autoritário-corporativo (1930/1933 até 1974/76) , desenvolveu-se um sistema de tribunais administrativos que representou um modelo quase-judicialista ou mesmo um modelo judicialista mitigado. Ao nível local, o contencioso era protagonizado pelas Auditorias Administrat ivas; Ao nível central, o contencioso era levado a cabo pelo Supremo Tribunal Administrativo. As sentenças tinham uma força executiva limitada e o Governo podia escolher a forma menos prejudicial para o interesse público. A terceira fase inicia-se com a actual Constituição de 1976 , que institui um modelo  judicialista, atri buindo competência especializada a um a ordem judicial autónoma. Desde a revisão de 1989, os tribunais administrativos e fiscais surgem como verdadeiros tribunais, integrados numa ordem judicial (art. 209.º n.º 1 al. b) CRP), com competência na jurisdição comum em matéria administrativa e fiscal (art. 212.º n.º 2 CRP).

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Contencioso Administrativo

1) Que operações históricas se operaram na Justiça Administrativa em

Portugal?

A primeira fase corresponde à época liberal, de 1832 a 1924 (associada à épocafrancesa, com início na Revolução Francesa – 1789).Ao nível local, nesta fase, o modelo era designado de judiciarista ou quase-

 judicialista.Os litígios relativos à matéria administrativa foram submetidos, sucessivamente aosConselhos de Prefeitura, Conselhos de Distrito e aos Tribunais AdministrativosDistritais que eram órgãos da função administrativa que detinham uma competênciadecisória, funcionando praticamente como tribunais mas fora da função decisória.Nos períodos de 1835 a 1842 e de 1892 a 1896, adoptou-se o modelo judicialista detribunais comuns.Ao nível central, a partir de 1845, adoptou-se um modelo administrativista mitigadodo tipo de “recurso hierárquico” em processo jurisdicionalizado. O Conselho de

Estado e o Supremo Tribunal Administrativo tinha aqui uma intervenção consultivaobrigatória.Em termos globais, a partir de 1832, adoptou-se um modelo misto, depredominância administrativista, embora mitigada no que diz respeito aos recursosdas decisões de 1ª Instancia para o Conselho de Estado e, mais tarde, para oSupremo Tribunal Administrativo.

Numa segunda fase, num período autoritário-corporativo (1930/1933 até

1974/76), desenvolveu-se um sistema de tribunais administrativos que representouum modelo quase-judicialista ou mesmo um modelo judicialista mitigado.Ao nível local, o contencioso era protagonizado pelas Auditorias Administrativas;Ao nível central, o contencioso era levado a cabo pelo Supremo TribunalAdministrativo.As sentenças tinham uma força executiva limitada e o Governo podia escolher aforma menos prejudicial para o interesse público.

A terceira fase inicia-se com a actual Constituição de 1976, que institui um modelo judicialista, atribuindo competência especializada a uma ordem judicial autónoma.Desde a revisão de 1989, os tribunais administrativos e fiscais surgem comoverdadeiros tribunais, integrados numa ordem judicial (art. 209.º n.º 1 al. b) CRP),com competência na jurisdição comum em matéria administrativa e fiscal (art. 212.º

n.º 2 CRP).

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Estabeleceu-se garantias de autonomia (art. 212.º n.º 1 e 2 CRP) e de imparcialidadedos juízes administrativos (art. 216.º CRP), bem com autonomia da magistratura,com competência para a nomeação, colocação e transferência dos juízes a um órgãode governo próprio (Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais  –  art. 217.º n.º 2 CRP).

2) Compare os dois modelos processuais de Justiça Administrativa existentes

no Continente Europeu:

Na Europa, predominou um modelo tradicional, conhecido como o modelo francêsque se desenvolveu a partir de 1789, com a Revolução Francesa, com base na

 jurisprudência do Conselho de Estado Francês (Modelo administrativista):- Baseava-se na separação de poderes, onde se exigia um contencioso especial paraactuação de direito público da Administração, subtraído aos tribunais judiciais eatribuído a tribunais administrativos (não eram considerados verdadeiros tribunais,

mas sim, quase-tribunais ou órgãos administrativos independentes, segundo umprocesso jurisdicionalizado);- No âmbito do contencioso administrativo, prescreve-se a existência de um domínionuclear de contencioso administrativo comum, constituído pelo recurso de anulaçãode decisões administrativas  – um recurso que, apesar de não judicialização, tende aser de mera legalidade, sucessivo e limitado.- Fixa-se um regime processual com natureza objectivista, que considerando-se orecurso de anulação como um processo/conflito resultante de um acto, destinado a

fiscalizar a legalidade do exercício autoritário de poderes administrativos, em que osparticulares que pretendem recorrer desempenham a função de auxiliares dalegalidade porque são interessados no resultado.

Com influências das concepções anglo-saxónicas (de protecção judicial plena eefectiva dos administrados), propôs-se um modelo subjectivista (Modelo

Judicialista), instituído no pós II Guerra Mundial na Alemanha, com raízes nomodelo sul-Alemão que se contrapunha ao modelo prussiano de cariz objectivista.

Procura-se um procedimento de fiscalização judicial da actividade administrativa noque diz respeito à limitação dos poderes discricionários:- Prevê-se a jurisdicionalização total do contencioso administrativo, isto é, ainstituição de uma verdadeira justiça administrativa, em regra, com separaçãoorgânica da jurisdição comum;- Desenvolvimento dos meios de acção de jurisdição plena, quando estejam emcausa e na medida em que sejam lesados direitos dos cidadãos, a fim de se lhesgarantir uma protecção judicial efectiva em todas as situações, deixando-se de

reconhecer o princípio da enumeração e o recurso contencioso de anulação comonúcleo essencial do sistema;

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- Acentuam-se os aspectos subjectivistas no processo administrativo, enquantoprocesso de partes, no que respeita à legitimidade, aos poderes e deveres processuaisdas partes, ao uso dos meios cautelares, aos efeitos da sentença, aos limites do caso

 julgado ou à execução das decisões judiciais.

3) Porque se pode afirmar que só a partir da revisão constitucional de 1989,

completada com a de 1997, se começou em Portugal, a alterar de forma

relevante o modelo de justiça administrativa:

De facto, com a revisão constitucional de 1989 começou-se a alterar de formarrelevante o modelo de justiça administrativa, na medida em que se iniciou uma novafase do modelo processual de justiça administrativa que culminou na Reforma de2002, aproximando-se do modelo alemão.Passou a garantir-se o direito de recurso contencioso aos titulares dos direitossubjectivos contra quaisquer actos administrativos ilegais que os lesem e não como

anteriormente que possibilitava que qualquer interessado pudesse recorrer.Também a tutela jurisdicional não era assegurada só através do recurso contra actosmas ainda em quaisquer outras circunstâncias sempre que essa tutela fossenecessária (n.º 5 art. 268.º CRP); assim, a garantia constitucional de acesso à justiçaadministrativa passou a ser direito fundamental dos administrados (protecção

  jurisdicional efectiva, análoga aos direitos, liberdades e garantias, de aplicaçãoimediata – art. 17.º e 18.º CRP).Além disso, a revisão de 89 instituiu a jurisdição administrativa como jurisdição

obrigatória (art. 211.º n.º 1 al. b) CRP), e definiu-a como jurisdição comum emmatéria de relações jurídicas administrativas (art. 214.º n.º3 CRP). É de notar queestas alterações tiveram repercussões profundas no regime do contenciosoadministrativo português:- Numa dimensão substancial, entende-se a jurisdição administrativa não apenascomo fiscalização da legalidade da administração mas como jurisdiçãoespecializada, o que implica que os tribunais possam cumprir a sua função. Aplenitude dos meios de acesso à jurisdição administrativa deixa de entender-se como

 jurisdição limitada.

- No plano processual, a consagração do princípio da protecção judicial efectivaveio permitir ou impor uma aplicação das normas processuais.Deve-se ultrapassar as limitações e os formalismos processuais, reconhecendo-seum princípio de favorecimento do processo; proporcionar um alargamento doâmbito de utilização da acção de reconhecimento (aplicação mais equilibrada dasuspensão da eficácia, admissibilidade de providências cautelares não especificadas,

uma interpretação menos restritiva das limitações ao direito de indemnização pordanos causados por actos administrativos não impugnados).

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Transforma-se o alcance do direito de recurso contencioso contra actosadministrativos por força do desaparecimento das referências à “definitividade” e

executoriedade” no n.º 4 do art. 268.º CRP.

- Numa perspectiva funcional, a jurisdição administrativa não pode ser consideradauma jurisdição diminuta, em comparação dos outros tribunais.

A decisão administrativa prévia só se mantinha como condição de acesso aostribunais se fosse imposta pela lei ou pela natureza da relação e não pusesse emcausa a tutela efectiva do administrado sendo que os juízes podiam controlar o usodos poderes discricionários em função de um conjunto de princípios jurídicosfundamentais (igualdade, proporcionalidade, boa-fé e o da racionalidade).Os tribunais administrativos passam a ter todos os poderes normais de condenação ede injunção, devendo respeitar apenas à autonomia do poder administrativo e àautoridade do acto administrativo.

Sendo assim, podemos afirmar que a revisão de 1989 foi confirmada pela revisão de1997, através das alterações ao art. 268.º CRP, impondo ao legislador que regule oprocesso administrativo de modo a assegurar as condições para a superação daslimitações ainda existentes no plano substancial, processual e funcional.Estas alterações constitucionais permitem-nos concluir que o sistema da justiçaadministrativa evoluiu no sentido do aperfeiçoamento das garantias das posições

  jurídicas substantivas dos cidadãos e que o motor dessa evolução foi a norma

constitucional.

4) Qual foi a reforma legal que se operou em Portugal após a revisão

constitucional de 1989 e 1997? Comente o art. 268.º da CRP

Foi sobretudo depois da revisão de 1989 e 1997 que surgiram os anteprojectos doETAF (Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais), do CPTA (Código deProcesso nos Tribunais Administrativos” e de um diploma sobre “Comissões de

Conciliação Administrativa.

Daqui resultou o ETAF, aprovado pela Lei n.º 13/2002, de 19 de Fevereiro e oCPTA, aprovado pela Lei n.º 15/2002, de 22 de Fevereiro, que entraram em vigorem 1 de Janeiro de 2004.Compreendeu-se um modelo projectado de justiça administrativa, alterado numsentido subjectivista, próximo do modelo alemão, embora com claras introduçõesobjectivistas. As principais reformas foram:- No que respeita ao âmbito da justiça administrativa, atribuiu-se aos tribunaisadministrativos, nos termos constitucionais, a competência para administrar a justiça

(art. 1.º e 4.º do ETAF). Ampliou-se o âmbito tradicional não apenas para actospraticados no exercício da função administrativa, mas também por actos das funçõeslegislativa e jurisdicional.

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- Consagrou-se o princípio da tutela jurisdicional efectiva (e também a cautelar),afirmando-se que compreende o direito de obter, em prazo razoável uma decisão

  judicial que aprecie com força de caso julgado, cada pretensão deduzida em juízoassim como a possibilidade de fazer executar e obter as providências cautelares,destinadas a assegurar o efeito útil da decisão (art. 2.º n.º 1 e 2 CPTA).

- Alterou-se a definição de meios processuais principais criando duas formasprocessuais: a acção administrativa comum e a acção administrativa especial. Orecurso de anulação deixa de ser considerado meio normal do contencioso a nível daacção administrativa especial (art. 46.º CPTA); na acção administrativa comum, aacção para o reconhecimento de direitos ou interesses legalmente protegidos deixade constituir um meio autónomo, desdobrado em pedidos declarativos econdenatórios (art. 37.º CPTA).

- Admite-se a cumulação de pedidos em função da mesma relação jurídica ou mamesma matéria de facto ou de direito (art. 4.º e art. 47.º CPTA);

- No que diz respeito à tramitação das acções administrativas especiais, estabeleceu-se regras uniformes (art. 35.º n.º 2 e art. 78.º e ss CPTA), com particularidadesrelativas à impugnação de actos (art. 50.º ss CPTA), à condenação à prática de actosdevidos (art. 66.º e ss), e aos processos relativos a normas (art. 72.º e ss), para além

de se estabelecerem processos principais urgentes (art. 97.º e ss);

- O conceito de legitimidade para a impugnação de actos mantém-se e alarga-se àspessoas colectivas e aos órgãos administrativos (art. 55.º e 9.º n.º 2 CPTA);

- O Ministério Público continua a ter um papel processual importante na fiscalizaçãoda legalidade (58.º n.º 2, 62.º e 73.º n.º 3-5; art. 77.º, 85.º, 104.º n.º 2; 146.º, 152.º e155.º CPTA);

- Consagra-se o princípio da igualdade de armas entre o recorrente e aAdministração, constituindo assim um verdadeiro processo de partes, no pagamentode custas pela Administração (art. 189.º n.º1 CPTA), possibilidade da suacondenação por litigância de má-fé (art. 6.º CPTA), além de se eliminarem asrestrições à prova testemunhal;

- A protecção cautelar dos administrados é alargada e abrange quaisquer

providências antecipatórias ou conservatórias para assegurar a utilidade da sentença(art. 112.º e ss CPTA);

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- Os poderes do juiz foram alvo de alargamento; aperfeiçoou-se as garantias dosparticulares e da legalidade no processo executivo e reforçando a garantia daefectividade das decisões judiciais (art. 157.º e ss CPTA).

Na realidade, o art. 268.º CRP, pretendeu apenas definir as garantias dosadministrados nas suas relações com a Administração, em especial o principio da

 justiciabilidade dos actos da Administração, assegurado por um direito fundamentalespecífico, ou seja, um direito a um procedimento.

5) Haverá através deste normativo, art. 268.º CRP, a plenitude da jurisdição

dos Tribunais Administrativos?

Pode dizer-se que existe essa plenitude desde logo pelas alterações do art. 268.ºCRP que, pela revisão de 1989 e 1997, impuseram ao legislador que este regule oprocesso administrativo de modo a assegurar as condições para a superação das

limitações ainda existentes no plano substancial, processual e funcional,confirmando-se assim a tendência para a criação de uma plena jurisdiçãoadministrativa.

A jurisdição administrativa não pode ser entendida como uma jurisdiçãodiminuída se comparada com a jurisdição de outros tribunais visto os juízespassarem a controlar o uso dos poderes discricionários em função de um conjunto deprincípios jurídicos fundamentais.

Os tribunais passaram a ter, conforme a natureza do processo, todos os poderes

normais de condenação e de injunção, devendo apenas respeitar a divisão depoderes, inerente à essência do sistema de administração executiva.

Da própria letra do art. 268.º, no seu nº 4 se consagra expressamente o princípioda tutela jurisdicional efectiva dos direitos e deveres legalmente protegidos doscidadãos, desde logo pela possibilidade de meios de acesso aos tribunais comomanifestação da tutela judicial efectiva.

Assim, verifica-se a determinação expressa da possibilidade do juiz condenar aAdministração na prática de actos administrativos, se estes forem devidos; consagra

a protecção cautelar adequada e para além disso as garantias foram ainda reforçadaspelas alterações do art. 20.º n.º 4 e 5 CRP, onde se consagra o direito a uma decisãonum prazo razoável e o direito a procedimentos céleres para defesa de direitos,liberdades e garantias pessoais.

Conclui-se assim que com estas alterações constitucionais permitiu-se oaperfeiçoamento das garantias dos cidadãos face à Administração com base nessaplenitude da jurisdição administrativa.

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6) Diga o que entende por relação jurídica administrativa

Uma relação jurídica, enquanto relação social disciplinada pelo direito, pressupõeum relacionamento entre dois ou mais sujeitos, que seja regulado por normas

  jurídicas, das quais decorrem as posições jurídicas (activas e passivas) queconstituem o respectivo conteúdo.

A relação jurídica administrativa abrange a generalidade das relações jurídicasexternas ou intersubjectivas de carácter administrativo, seja as que se estabelecementre os particulares e os entes administrativos, sejam as que ocorrem entre sujeitosadministrativos.

7) Quais são as relações jurídicas que se excluem do conceito de relação

 jurídica administrativa? Comente o art. 4.º ETAF

São excluídos do conceito de relação jurídica administrativa desde logo, asrelações internas ou intrapessoais, ou seja, as relações entre órgãos administrativosdentro da mesma pessoa colectiva; as relações entre os órgãos administrativos e osrespectivos membros ou titulares; e as relações orgânicas entre os órgãos de umainstituição e os funcionários, utentes ou sujeitos de relações especiais de direitoadministrativo ligados a essa instituição.

Excluem-se também destas relações as questões administrativas de puro direito

 privado, isto é, as decorrentes das actividades de direito privado da Administração,quer seja a que corresponde ao mero exercício da sua capacidade privada (negócios

auxiliares, administração do património, gestão de estabelecimentos económicos deconcorrência), quer se trate de actividades funcionalmente administrativasdesenvolvidas através de instrumentos jurídicos privatísticos (subvenções,fornecimento de bens e serviços, gestão privada de estabelecimentos públicos,intervenções privadas).

O art. 4.º n.º 2 do ETAF exclui ainda das relações jurídicas administrativas oslitígios relativos às actividades materialmente políticas ou legislativas; as decisões

 jurisdicionais proferidas por tribunais não integrados na jurisdição administrativa e

fiscal e actos relativos ao inquérito e à instrução criminais, ao exercício da acçãopenal e à execução das respectivas decisões.

O nº 3 do mesmo artigo exclui também a apreciação das acções deresponsabilidade por erro judiciário cometido por tribunais pertencentes a outrasordens de jurisdição bem como das correspondentes acções de regresso; afiscalização dos actos materialmente administrativos praticados pelo Presidente doSTJ; a fiscalização dos actos materialmente administrativos praticados peloConselho Superior da Magistratura e pelo seu presidente; a apreciação de litígios

emergentes de contratos individuais de trabalho, ainda que uma das partes seja umapessoa colectiva de direito público.

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8 e 9) Poderemos afirmar que a reclamação e os recursos administrativos, como

formas de controlo e fiscalização da actividade administrativa, integram a

  justiça administrativa? Comente; A quem se dirige a reclamação e o recurso

hierárquico? Justifique com o CPA.

Não se pode afirmar que a reclamação e o recurso hierárquico integrem a justiçaadministrativa pois estes são garantias graciosas, ou seja, são meios jurídicos de

defesa dos particulares que se efectivam através dos órgãos da AdministraçãoPública, aproveitando as próprias estruturas administrativas (que podem ser delegalidade, de mérito e mistas). Numa outra perspectiva, as garantias administrativaspodem ser petitórias ou impugnatórias.

As garantias petitórias não pressupõem a prévia prática de um acto administrativo(direito de petição, direito de representação, direito de denúncia, direito de oposiçãoadministrativa, direito de queixa para o provedor de justiça).

As garantias impugnatórias pressupõem sempre um comportamento

administrativo, sendo um meio de ataque a tal comportamento. Dentro das garantiasimpugnatórias temos a reclamação, o recurso hierárquico, o recurso hierárquicoimpróprio e o recurso tutelar.

A reclamação consiste no pedido de reapreciação do acto administrativo dirigidoao seu autor (art. 158.º n.º 2 al. a) CPA). (ver arts 159.º, 161.º n.º 1, 162.º 163.º n.º 2,165.º CPA e 59.º CPTA).

O recurso hierárquico consiste no pedido de reapreciação do acto administrativodirigido ao superior hierárquico do seu autor (art. 166.º CPA). (ver arts 159.º, 167.º

n.º 2, 169.º n.º2, 168.º n.º 1 e 2, 171.º, 175.º e 174.º CPA). Podemos distinguir duasespécies de recurso hierárquico: recurso necessário (quando o acto administrativoimpugnado por via administrativa o não podia ser também por via jurisdicional) efacultativo (quando a impugnação judicial era possível, constituindo a impugnaçãoadministrativa uma simples tentativa de levar a própria administração a satisfazer apretensão do interessado).

O recurso hierárquico impróprio é o pedido de reapreciação de um actoadministrativo dirigido a um órgão da mesma entidade pública a que pertence o

autor do acto recorrido e que exerce sobre este um poder de supervisão (art. 176.ºCPA). (ver arts. 159.º e 167.º n.º 2 CPA). Existem duas espécies de recursohierárquico impróprio: por natureza (decorre da existência de poder de supervisãode um órgão administrativo sobre outro  – art. 176.º n. 1 CPA) ou por determinaçãoda lei (resulta de uma outra previsão normativa que o institui – art. 176.º n.º 2 CPA).

O recurso tutelar consiste no pedido de reapreciação de um acto administrativopraticado por um órgão de uma entidade pública dirigido a um órgão de outraentidade pública que exerce sobre aquela um poder de superintendência ou de tutela

 – art. 177.º n.º 1 CPA. (ver art. 159.º e 167.º n.º 167.º n.º 2 CPA). O recurso tutelartem carácter excepcional, se se tiver presente que ele representa sempre umadebilidade da autonomia jurídica da pessoa colectiva tutelada (art. 177.º n.º 1 CPA).

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O recurso tutelar apresenta uma relação íntima com uma situação de tutelaadministrativa – art. 177.º n.º 3 e 4 CPA). O CPA determina a aplicação subsidiáriadas regras relativa ao recurso hierárquico – art. 177.º n 5.

10) Quais são os tribunais administrativos permanentes previstos na lei?

Exemplifique com o ETAF

Podemos distinguir, no conjunto dos tribunais administrativos, os tribunaispermanentes, que exercem uma competência de jurisdição compulsória e ostribunais arbitrais constituídos ad hoc por acordo das partes.Os tribunais permanentes previstos na lei são:- O Supremo Tribunal Administrativo, secção do contencioso administrativo quepode dividir-se por subsecções: funciona em dois níveis  –  em formação de três

  juízes ou em pleno (estando presentes pelo menos 2/3 dos juízes da secção), com  juiz relator após a discussão em conferência, o acórdão é decidido por maioria e

devidamente fundamentado, podendo ser formulado e publicados votos de vencidopor parte dos juízes dissidentes (art. 17.º ETAF).- Os Tribunais Centrais Administrativos (do Norte e do Sul), Secção doContencioso Administrativo que têm respectivamente sede no Porto e em Lisboa e

 jurisdição nas respectivas regiões, podem dividir-se por subsecções que funcionamem formação de três juízes, com juiz relator, decidem em conferência em termossemelhantes aos referidos para o STA – ART. 35.º ETAF.- Os Tribunais Administrativos de Círculo são tribunais locais que funcionam com

um juiz singular (que profere a sentença embora a matéria de facto seja apreciadapor um colectivo, se tal for requerido por qualquer das partes) ou em formação detrês juízes nas acções administrativas especiais de valor superior à alçada  – art. 31.ºn.º 2 al. b) do CPTA e art. 40.º ETAF.

Os tribunais administrativos arbitrais são voluntários e está consagrado no art. 180.ºe ss CPTA e art. 209.º n.º 2 CRP.

11 e 12) Comente o que entende por repartição de competência entre tribunais

administrativos; comente o que entende sobre a repartição de competências em

razão do território?

Com a reforma de 2002, a repartição de competências entre os tribunaisadministrativos tornou-se menos complexa.As competências dos tribunais administrativos podem repartir-se quanto à matéria,quanto à hierarquia e quanto ao território.O art. 5.º ETAF estabelece a fixação da competência dos tribunais de jurisdição

administrativa (fixa-se no momento da propositura da causa). O art. 13.º CPTAdispõe que o âmbito da jurisdição administrativa e a competência dos tribunais

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administrativos, em qualquer das suas espécies, é de ordem pública e o seuconhecimento precede o que qualquer outra matéria.

 Em razão da matéria:- Aos TACs é atribuída uma competência-regra, cabendo-lhes conhecer, emprimeira instância, de todos os processos do âmbito da jurisdição administrativa,

com excepção (art. 24.º n.º 1 al. e) ETAF) daqueles cuja competência estejareservada aos tribunais superiores – art. 44.º ETAF.- Ao STA compete conhecer os casos do art. 24.º n.º 1 ETAF- Os TCAs conhecem as acções de regresso por responsabilidade funcionalpropostas contra juízes dos TAC e tribunais tributários e magistrados do MP emexercício de funções junto desses tribunais (art. 37.º al. c) ETAF).- Os tribunais arbitrais julgam as questões respeitantes a contratos ou deresponsabilidade civil extracontratual de pessoas colectivas públicas mas o art. 180.º

CPTA trouxe algumas alterações importantes que implicam o alargamento doâmbito material da jurisdição material: não se restringe a contratos administrativosmas também apreciam actos administrativos relativos à respectiva execução (n.º 1al. a); quanto à responsabilidade civil extracontratual, não respeita apenas a danosdecorrentes de actos de gestão pública, mas também à gestão privada daadministração. E a maior novidade da reforma de 2002 foi que a arbitragem para asquestões relativas a actos administrativos que possam ser revogados semfundamento da sua ilegalidade, nos termos da lei substantiva (DL n.º 10/2011, de 20

de Janeiro) e que abrange os actos referidos no art. 140.º CPA.

 Em razão da hierarquia: em função do valor do processo assegura-se o duplo (ouas vezes triplo) grau de jurisdição competindo a apreciação das sentenças proferidaspelo tribunal da 1ª Instância a um tribunal superior.- Os recursos das decisões de TACs são, em regra, conhecidos pela secção docontencioso administrativo dos TCAs, salvo nos casos em que haja recurso persaltum (art. 151.º CPTA e art. 24.º n.º 2 ETAF) para o STA – art. 37.º al. a) ETAF.

- Os recursos dos acórdãos do TCAs proferidos em primeiro grau de jurisdição sãointerpostos para o STA (art. 24.º n.º 1 al. g) e n.º 2 ETAF);- Os recursos dos acórdãos proferidos em primeiro grau de jurisdição pelo STA sãoconhecidos pelo pleno da Secção – art. 25.º n.º 1 al. a) ETAF;- Quanto aos recursos das decisões dos tribunais arbitrais, estabelece a lei que osrecursos admissíveis se hão-de fazer para os TCA (funcionam como uma espécie deRelação administrativa, em paralelo com a jurisdição civil).- Cabe ao STA a uniformização da jurisprudência, quando exista contradição entre 2

acórdãos do STA ou dos TCA ou entre um acórdão do TCA e um dos STA.

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  Em razão do território: as regras sobre a distribuição da competência territorialtransitaram do ETAF para o CPTA que estabelece a regra geral da competência dotribunal da residência habitual ou sede do autor da maioria dos autores do processo(art. 16.º CPTA). Existem várias excepções, em função do tipo de processo, damatéria (quando a acção incida sobre bens imóveis, decorram junto do tribunal dolugar da situação do bem ou da ocorrência do acto) ou do objecto da acção.

13) Comente o art. 20.º do CPTA

A regra geral quanto à competência territorial é a de que o tribunal competente é otribunal da residência habitual ou sede do autor ou da maioria dos autores doprocesso (art. 16.º CPTA). Contudo, o art. 20.º do CPTA excepciona esta regra:- As acções relativas às Regiões Autónomas, Autarquias e demais entidades deâmbito local, pessoas colectivas de utilidade pública, concessionários, governadorescivis e assembleia distritais são  propostas no tribunal da área da sede da entidade

demandada (n.º 1 e 2);- Para o contencioso eleitoral, cuja competência há-de caber ao tribunal da área desede do órgão, ou para processos de intimação para a protecção de direitos,liberdades e garantias, intenta-se no tribunal da área onde deva ter lugar o

comportamento pretendido (n.º 3 e 5);- Os pedidos dirigidos à adopção de providências cautelares são julgadas pelo

tribunal competente para decidir a causa principal (n.º 6);- Os pedidos de produção antecipada de prova são deduzidos no tribunal em que a

 prova tenha de ser efectuada ou da área em que se situe o tribunal de comarca a quea diligência deve ser deprecada (n.º 7).

Resolvido por: Daniel Cordeiro, Maria Clara Sousa e Virginie Protásio