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JULHO E AGOSTO 2011 | N.º 10 | 2ª SÉRIE EDITORIAL ENTREVISTA ARTIGOS Risk Management CONTABILIDADE & EMPRESAS HOMENAGEM a Rogério Fernandes Ferreira

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JULHO E AGOSTO 2011 | N.º 10 | 2ª SÉRIE

EDITORIAL�� ������������ ������ ������ ���� ���

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CONTABILIDADE& EMPRESAS

HOMENAGEM

a Rogério

Fernandes Ferreira

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HOMENAGENS AO PROFESSOR DOUTORROGÉRIO FERNANDES FERREIRA

No passado dia 12 de Julho, o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), de Lisboa, promoveu uma Conferência sob o título “Recordando o Professor Rogério Fernandes Ferreira” ao seu aluno, doutorado e Professor Catedrático (agregação), docente durante mui-tos anos, Professor Doutor Rogério Fernandes Ferreira, registando, desta forma, o facto de se ter completado o 1.º aniversário do seu falecimento (ver foto - da esquerda para a direita: Leonor Fernandes Ferreira, Augusto Felício e Hernâni O. Carqueja).

Como amigo e divulgador da sua obra, o ISEG convidou-me a apresentar uma comunicação, tendo abordado a importância do Professor na Normalização Contabilística em Portugal, o que, aliás, já tinha feito em artigo elaborado em Julho de 2005, sob o título “Rogério Fernandes Ferreira e a ‘Normalização Contabi-lística’”. Apesar de ter preparado a comunicação (ver artigo anexo sob o título “A Normalização Contabilística em Rogério Fernandes Ferreira”), por motivo de doença não a apresentei, o que foi gentilmente feito, a meu pedido, o que agradeço, pelo Prof. Dr. Hernâni O. Carqueja, que integrou o mesmo painel.

De notar que, no ano de 2000, o ISEG, a Ordem dos ROC e a então Câmara (atual “Ordem”) dos TOC, lançaram o “Prémio Rogério Fernandes Ferreira”, encontrando-se em curso a 6.ª edição (a primeira a título póstumo), e cujos premiados serão conhecidos no próximo dia 21 de Setembro, em conferência de homenagem promovida pela OTOC, OROC e ISEG. De notar que, até à data, foram publicados três livros contendo os trabalhos premiados.

Relembro que o Professor Rogério Fernandes Ferreira foi alvo de uma homenagem nacional através da atribuição da Ordem de Instrução Pública (Grande Oficial) pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no dia 10 de Junho de 2009, na comemoração do “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades”, na qual tive um papel interventivo através da organização de um processo de “candidatura”.

Todas as homenagens que se promovam ao Mestre são poucas para registar o importantíssimo trabalho que desenvolveu, particularmente na Contabilidade, no Direito Fiscal/Fiscalidade e na Gestão, bem como no desenvolvimento do associativismo profissional da Contabilidade. Mais uma vez, obrigado, Professor.

Neste número incluímos uma entrevista ao destacado profissional da Contabilidade e da Fiscalidade (TOC, ROC, docente/formador) Dr. António José Alves da Silva, membro honorário da OTOC e mem-bro do Conselho Superior da OTOC, na qual aborda diversos factos relacionados com a situação passada e atual da profissão de contabilista. Relembro que o Dr. Alves da Silva tem sido um dos principais entusiastas a favor da alteração da designação da OTOC para “Ordem dos Contabilistas”, indo, desta forma, ao en-contro dos meus argumentos para se atingir tal desiderato.

JOAQUIM CUNHAGUIMARÃES

[email protected]

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�� ��Novos Tempos, Novas Exigências, por Guilherme Osswald ...................... 5

� ��������António José Alves da Silva, TOC, ROC e formador ................................ 6

� �����������A Contabilidade na crise actual, por Rogério Fernandes Ferreira ............ 10Conceito de “empregado” no SNC ...................................................... 11A Normalização Contabilística em Portugal em Rogério Fernandes Ferreira,por Joaquim Fernando da Cunha Guimarães ......................................... 12Supressão da Contabilidade nas PME representa um retrocesso ............ 20Obrigatoriedade e dispensa de elaboração de contas consolidadas ......... 21

������������Governo vai avançar com os tribunais fiscais arbitrais ........................... 22DGCI esclarece processo de provisão para garantia a clientes ............... 23Conjuntura actual não permite revisão do sistema fiscal ....................... 24DGCI esclarece reinvestimento de valores relativo a entidadescom relações especiais .......................................................................... 25Regime fiscal das depreciações e amortizações ...................................... 26Circulares n.os 6 a 16 da DGCI ............................................................ 26Governo quer simplificar impostos e reforçar combate à fraude fiscal ......... 27Comissão reformula tributação dos produtos energéticos ..................... 28STA divulga acórdão sobre retroactividade da lei fiscal ......................... 28

���������Risk Management, o novo paradigma da governação empresarial e da auditoria, por Fátima Amorim ............................................................. 29

���������� � ����A longevidade das empresas e a gestão da mudança, por Agostinho Manuel dos Santos Costa ................................................................................... 34Silva Lopes defende maior controlo orçamental sobre as entidadespúblicas ................................................................................................37

������Dissolução e liquidação de sociedades, por Joaquim Alexandre de Oliveirae Silva ................................................................................................. 38

�������������OTOC apela para Tribunal da Relação no âmbito da formação ............ 49OROC apresenta projeto de Código de Ética....................................... 50OTOC quer resolver problemas relacionados com a profissão .............. 51Guia de Controlo de Qualidade da OROC .......................................... 52

��������TOC conseguem prorrogar prazos de entrega de declarações .................53Há associações que defendem interesses específicos e prejudicam os TOC ..... 53

��������Legislação fiscal desvia os já escassos fundos das empresas .................... 54

���������� ��������Revista Portuguesa de Contabilidade ................................................... 55Sítio “Justo Valor” ............................................................................... 55OTOC promoveu “2.º Encontro Mulher na Profissão” e “2.º Encontro Luso-Brasileiro de Contabilidade” ....................................................... 55XI PROLATINO e Prémio Internacional de Contabilidade ProfessorDoutor António Lopes de Sá ...................................................................... 55Homenagem do ISEG ao Professor Rogério Fernandes Ferreira ............ 55

������� �����Caso Prático n.º 12 – IMT .................................................................. 56

������Empresas Parlamento .......................................................................... 58A moda num mundo global ................................................................. 58Os diálogos interculturais .................................................................... 58

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PROPRIEDADEVida Económica - Editorial S. A.

DIRECTORJoaquim Fernando da Cunha Guimarães

COLABORADORES PERMANENTESAgostinho Manuel dos Santos CostaCristina Costa PintoGuilherme OsswaldJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesJosé Alberto Pinheiro PintoMaria José FernandesMário da Cunha GuimarãesPaulo Moura Castro

COLABORADORES NESTE NÚMEROAgostinho Manuel dos Santos CostaAntónio José Alves da SilvaFátima AmorimGuilherme OsswaldJoaquim Alexandre de Oliveira SilvaJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesRogério Fernandes Ferreira

O conteúdo dos artigos é da exclusivaresponsabilidade dos autores

PAGINAÇÃOJosé Barbosa

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO R. Gonçalo Cristóvão, 1116º Esq. 4049-037 Porto Telef.: 223 399 400Fax: 222 058 098E-mail: [email protected]

DELEGAÇÃO EM LISBOAAv. Fontes Pereira de Melo, nº 61069-106 Lisboa Telef.: 217 937 747Fax: 217 937 748

IMPRESSÃOUniarte Gráfica - Porto

Registo nº 108640 no ICS

JUL/AGO 2011 | Nº 10 - 2ª SÉRIE

Assinatura anual: 64 euros

Julho/Agosto 2011 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1407, de 12.08.2011

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ProfissãoOs TOC e os ROCterão que contar com um acréscimo de exigências.

uma regulação mais apertada e um maior controlo sobre o trabalho de-senvolvido pelos técnicos e revisores de contas. Na necessidade de ga-rantir receita, é de prever que a res-ponsabilidade subsidiária passará a estar mais presente. Por outro lado, a fiscalização será mais apertada e frequente por parte da administra-ção fiscal. Os profissionais terão que se saber proteger, pelo menos terão que manter um comportamento exemplar como tem acontecido até agora. O encerramento de em-presas vai implicar que apenas os mais competentes e competitivos permaneçam no mercado. Como muitas vezes aqui se tem feito notar, talvez seja um bom momento para se avaliar do sistema de ensino no que toca à Contabilidade. É sempre possível melhorar e criar condições de resposta mais adequadas às novas exigências do mercado.

*Editor

Novos tempos, novas exigências

GUILHERME OSSWALD*

Tem razão a Ordem dos Téc-nicos Oficiais de Contas (OTOC) ao suscitar à Secretaria de Estados dos Assuntos Fiscais uma série de esclarecimentos sobre aspectos rela-cionados com a profissão, mas que afectam directamente os contri-buintes. O país está numa fase de crise profunda e os técnicos e revi-sores oficiais de contas contam com novas oportunidades para credibili-zarem a sua profissão. No entanto, terão de contar com uma regulação mais apertada e com um nível de responsabilização mais elevado.

Entrou-se num novo ciclo polí-tico e este é o momento certo para os TOC e ROC fazerem valer os seus direitos e posicionarem-se como profissionais que estão na primeira linha da recuperação aos níveis fiscal e empresarial. A OTOC não perdeu tempo e fez notar isso mesmo junto da tutela. Os últimos tempos foram de verdadeiro calvário para estes pro-fissionais. A acumulação de trabalho e o não funcionamento dos serviços da administração fiscal levantaram toda uma série de problemas. Ora, uma vez mais, a administração fiscal não se comportou à altura. Se o sis-tema informático não dá a resposta adequada, não cabe aos profissionais exigirem uma prorrogação de prazos. É da responsabilidade do Ministério das Finanças dar as devidas explica-ções e alargar os prazos de apresenta-ção de declarações fiscais. Mais não é que uma situação de repor a verdade. Certo é que este tipo de circunstân-cias representam gastos a todos os níveis que poderiam ser evitados.

Com o país numa situação dra-mática, cabe aos técnicos e oficiais de contas darem o exemplo e mostrarem como são determinantes para o de-senvolvimento do tecido económi-co e como podem contribuir para o equilíbrio das contas públicas. Se nos últimos tempos foram bastante mal-tratados, espera-se agora que os res-ponsáveis políticos virem as atenções, no bom sentido, para as funções de-sempenhadas por estes profissionais. De uma vez por todas, é necessário criar um clima propício, o que im-plicará menos legislação avulsa – e às vezes até contraditória – e partir para a efectiva simplificação fiscal.

Mas também haverá que tomar as devidas cautelas. Não é de excluir

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C&E – O Dr. Alves da Silva é, indiscutivelmente, um dos profissionais da Contabilidade em Portugal mais reconhecidos pela sua exemplar qualidade de formador, orador e comunicador, apresentando como uma das suas “imagens de marca” o sentido de humor com que analisa e interpreta as questões contabilísticas e fiscais. Como autoavalia estas suas competências?AJAS – Se alguma competência tenho, e é reconheci-

da, é devido sobretudo ao meu trabalho e estudo com de-dicação, na minha vida profissional, e tento assim trans-mitir essa vivência para o dia-a-dia da Profissão.

C&E – A relação entre a Contabilidade e a Fiscalidade é um dos temas de sua preferência, tendo por hábito referir que as duas disciplinas terão de se entender como se se tratasse de um casamento com os seus óbvios arrufos. Como analisa historicamente essa relação? A entrada em vigor, em 1 de

Janeiro de 2010, do Sistema de Normalização Contabilística (SNC) e as consequentes alterações do Código do IRC, alteraram significativamente essa relação?AJAS – Sim, alteraram. No meu modesto entender

quanto à relação entre a Contabilidade e a Fiscalidade, que eu sempre considerei como “Um Casamento”, o SNC veio de facto interferir nesta eventual harmonia. Mas é a vida. Hoje os “Casamentos” também já não são o que eram. No entanto, esta separação não é grave, pois os Contabilistas a seu tempo descobrirão, com agrado e sa-tisfação, que o SNC é amigo da Fiscalidade.

C&E – Certamente que nestes seus mais de 60 anos de actividade profissional tem na sua memória muitos factos históricos que conduziram à afirmação da profissão de Técnico de Contas, agora designada de Técnico Oficial de Contas (TOC) e integrada na OTOC. Pode destacar alguns desses acontecimentos?

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Entrevista ao Dr. António José Alves da Silva

“… hoje não há razão para existirem outras Associações Profissionais.A OROC e a OTOC representambem os profissionais…”

O Dr. António José Alves da Silva é, indiscutivelmente, um dos profissionais mais reconhecidos pela sua incansável dedicação em prol do desenvolvimento da Contabilidade e da Fiscalidade em Portugal. Alves da Silva é ROC, TOC e excelente formador, orador e comunicador, sendo Membro-Honorário da OTOC e integrando também o seu Conselho Superior.

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AJAS – Os acontecimentos vividos por mim começa-ram logo na década de 60, mais concretamente com a pu-blicação do Código da Contribuição Industrial, em 1963. Foi nesta época que me apercebi que se iria verificar uma grande mudança na Contabilidade. De entre os muitos factos que tenho na memória penso, se ainda tiver saúde, de os compilar para os vindouros, pois lembro-me que os Contabilistas e Empresários, até esta altura, não tinham a noção de que as Amortizações eram um Custo. Para eles era uma “Aplicação dos Resultados”. Aliás, foi por causa desta situação que surgiu a primeira reavaliação, através da Portaria 20 258, de 28 de Dezembro de 1963. Ora o engraçado é que nesta época o Fisco só considerava como custo os encargos com as férias apenas no exercício do correspondente pagamento. Era o “regime de caixa” em pleno desenvolvimento e 40 anos depois volta à ribalta.

C&E – Sabemos que o Dr. Alves da Silva é um acérrimo defensor da alteração da denominação da OTOC para “Ordem dos Contabilistas”. Em que baseia este desejo e quais as perspetivas futuras da sua concretização?AJAS – A designação de “Técnico de Contas” nasceu

de facto com a publicação do Código da Contribuição Industrial e depois passou para Técnico Oficial de Con-tas. Deveria, no meu entender, ter sido nesta altura cha-mar-se Contabilista, pois este título existia na Profissão. Não existia nem existe a Profissão de Técnico Oficial de Contas. Contudo, por razões que agora não interessa aqui mencionar (estou a compilar material para escrever sobre esta temática), os Profissionais da Contabilidade, nesta época, não se entendiam e muitos deles nem se apercebe-ram de que era o futuro da Profissão. Devo esclarecer os meus leitores de que nesta época qualquer reunião entre duas pessoas era uma multidão e não se podia fazer nada. Havia muitas Capelinhas com os seus Papas Brancos, Pa-pas Vermelhos e Papas Azuis. Foi uma pena não se ter constituído uma grande e única Associação (havia na épo-ca 5 Associações). Em toda a minha carreira profissional é a única mágoa que sinto, a de não ter tido o “Engenho e Arte” de contribuir para a existência de Uma Única Asso-ciação. Hoje temos uma, a OTOC, que representa e bem a Profissão de Contabilista, é chegada a altura de mudar de nome para “Ordem dos Contabilistas”. Esta mudança, mais tarde ou mais cedo, é inevitável e gostava que fosse mais cedo, para a ver antes de morrer. Por outro lado, em toda a Europa (para não dizer em todo o mundo) não há

tradução para TOC, se quiser traduzir bem, tem se ser Contabilista. Faço notar que para muito boa gente, e aqui para nós, o Oficial causa muitos engulhos.

C&E – Dada a sua experiência, como analisa a evolução das relações da Administração Tributária com os contribuintes?AJAS – Em minha opinião, as relações entre o Fisco e os

Contabilistas são hoje mais abertas e esta abertura deve-se ao trabalho e ação dos TOC, sem esquecer o apoio da OTOC. Para dar um exemplo prático sobre o tipo de abertura que hoje existe, não esquecer de que sou ainda do tempo em que o Chefe da Repartição de Finanças não mostrava ao TOC a Declaração dos Impostos que o próprio TOC ela-borava e assinava. É justo aqui referir que a mentalidade do Fisco também mudou. Enfim, outros tempos.

C&E – Como formador, como analisa a situação actual da formação dos TOC no contexto do SNC e tendo em consideração, nomeadamente, a atividade da OTOC?AJAS – De facto, mantenho com os TOC uma rela-

ção de proximidade e de esclarecimento às questões prá-ticas que se colocam no dia-a-dia. De uma maneira geral, considero que a nossa OTOC está bem apetrechada para fazer a Formação e tem feito um grande esforço neste sen-tido. Só que a “Formação Contínua” tem que se lhe diga e a mesma não pode assentar na Pergunta e Resposta. A nossa OTOC tem hoje à sua disposição um manancial de questões que são colocadas nas “Quartas-Feiras Livres” (só conheço o caso de Lisboa) que permitem aos responsáveis ponderar sobre a Formação. Tenho-me apercebido que os Colegas na prática têm tido dificuldades em aplicar o SNC e sentem-se desprotegidos. O exemplo que posso dar, pois têm-me passado pelas mãos dezenas de casos, é a elaboração da “Demonstração das Alterações no Capital Próprio”. Os Colegas têm dificuldade e noto-lhes falta de preparação e de esclarecimentos práticos da mesma. É um assunto im-portante que carece de análise e ponderação. “A Formação Contínua”, penso eu, não pode ser dada em comprimidos, tem de ser ao longo da vida profissional ativa. Não é fácil.

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Mudança na ContabilidadeOs acontecimentos vividos por mim começaram logo na década de 60, mais concretamente com a publicação do Código da Contribuição Industrial em 1963.Foi nesta época que me apercebi que se iria verificar uma grande mudança na Contabilidade.

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C&E – Ainda no contexto da sua postura de constante disponibilidade para auxiliar os profissionais na resolução das suas dúvidas, relevamos o facto de ter sido o responsável pelo “Consultório Técnico” do extinto Jornal do Técnico de Contas e da Empresa (JTCE), que, durante 36 anos (de 1968 a 2003), foi, indiscutivelmente, uma das principais fontes de leitura e consulta dos profissionais da Contabilidade. Em preito de homenagem, refira-se p.f. a essa sua experiência e, particularmente, ao seu saudoso Director, José Luís Lopes Marques.AJAS – Sim é sempre bom recordar o passado para se

poder viver o presente. O JTCE foi uma fonte de leitu-ra sempre presente para um contacto profissional com os Contabilistas. Orgulho-me de ter colaborado e participado na “Secção Consultório” conjuntamente com eminentes colaboradores. Tenho nos meus arquivos questões que fo-ram colocadas, que nunca foram publicadas no JTCE (mas que foram respondidas), pois tratava-se de autênticas aber-rações técnico/Contabilista/fiscais. Este é um mundo ma-ravilhoso, acreditem. Ainda um dia os hei-de contar. Aliás foi deste contacto sincero e transparente que saiu, da minha cabeça, a expressão “Maçaneta”, que alguns lhe quiseram atribuir um sentido pejorativo, mas, que dito por mim, elevava o Contabilista ao mais alto grau de conhecimento, pois a resposta colhida no JTCE era segura. Foi também no JTCE que criei o título “A Contabilidade e o Fisco”.

C&E – Sendo Membro-Honorário e Membro do Conselho Superior da OTOC, como interpreta a evolução da Instituição ao longo destes quase dezasseis anos de atividade?AJAS – Tem sido uma evolução extraordinária e con-

fesso que nunca pensei que atingisse a categoria de Or-dem. É o máximo. Sem desejar menosprezar o esforço de muita gente, para mim, toda esta evolução, esforço e tra-balho deve-se, sem qualquer sombra de dúvida, ao nosso atual Bastonário, António Domingues de Azevedo. Com ele ao leme, não há já destruição possível da nossa Ordem.

C&E – As duas principais Associações que contribuíram para a constituição da OTOC, o actual IATOC e a APOTEC, e, particularmente, esta última, mantém a sua actividade. Tendo sido dirigente da então Câmara dos Técnicos de Contas (actual

IATOC), numa entrevista publicada no Boletim da CTC referiu “Associação única e forte é essencial para o futuro dos Técnicos de Contas”. Qual o papel destas duas Associações no contexto actual da profissão e no âmbito da existência da OTOC?AJAS – Por tudo o que fiz e passei, apesar de ter sido

incompreendido, hoje não há razão para existirem outras As-sociações Profissionais. A OROC e a OTOC representam bem a Profissão a nível europeu e desejo que a nível mundial. Aliás, em 1980, a Inglaterra celebrou os 100 anos da Profis-são dos Contabilistas “The New Great Profession”. Deixem estar a frase em inglês, pois se a traduzem ninguém liga.

C&E – A então Câmara dos Técnicos de Contas (atual IATOC) foi constituída em 8 de Março de 1977 e apenas uma semana depois (16 de Março) foi criada a APOTEC. Certamente que esse facto constituiu uma evidência da divisão que havia entre os técnicos de contas, que, certamente, retardou a constituição da atual associação pública OTOC. Concorda com esta perspetiva?AJAS – Concordo plenamente. Foi mais uma divisão

entre pessoas, na minha maneira de ver. No entanto, para que não surjam dúvidas, tive muito gosto e nunca me ar-rependi de ser um dos profissionais que assinou a Escri-tura da então Câmara dos Técnicos de Contas, em 1977.

C&E – No que concerne ao acesso à profissão de TOC, constatamos que, nestes últimos anos, o mesmo passou a ser mais exigente, não só através da institucionalização do estágio profissional ou a realização de disciplina/área curricular de acordo com as regras de estágio definidas pela OTOC, mas também no que tange às habilitações literárias. Podemos afirmar que essa situação tem contribuído para um melhor profissional TOC?AJAS – Estou, e sempre estive, de acordo com as exi-

gências que são feitas para o acesso à Profissão. Se tivessem começado mais cedo, e dada a nossa tradição nos domínios da Contabilidade (A Aula do Comércio de 1759 é nossa), hoje seríamos uma Profissão que dava cartas ao Mundo.

C&E – Na década de quarenta do século passado e durante um período de mais de quarenta anos, foi muito importante

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Ordem dos Contabilistas(…) é chegada a altura de mudar de nome para Ordem dos Contabilistas.

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a actividade da Sociedade Portuguesa de Contabilidade (SPC), da qual também foi dirigente. Pode destacar alguns dos factos mais importantes e, em particular, a sua actividade internacional no âmbito nomeadamente da então UEC (Unión des Experts Comptables), actualmente FEE (Fédération des Experts Comptables Européens), pois participou em várias reuniões desse Organismo?AJAS – Foi a SPC, de que fui Presidente, que me abriu

os olhos para a Profissão de Contabilista, mas foi o meu contacto na UEC (hoje FEE) e principalmente o ter sido membro efetivo na “Comissão de Formação e Aperfeiço-amento” que me deu a perspetiva que hoje tenho. Devo confessar que ainda sinto tristeza por muitos Contabi-listas (aliás, que eu considero) não terem ou não terem querido a abertura de se aperceberem do que se estava a desenrolar pelo Mundo Maravilhoso da Contabilidade. Confesso que fui eu que ganhei, mas tive pena.

C&E – Na sua qualidade de ROC, exerceu durante muitos anos essa actividade em grandes empresas. Como analisa a evolução da profissão? E o seu futuro?AJAS – Como ROC, sou o n.º 139, (ainda hoje me faz

confusão como é que 138 me passaram à frente) e exerci com intensidade a Profissão. É evidente que a mesma tem evoluído e, no meu entender, tem melhorado, mas há ain-da algumas lacunas. Nos dias de hoje há muitos problemas que a OROC tem procurado resolver, nomeadamente o di-álogo entre profissionais e a conduta Ética. Está para breve a aprovação do novo Código de ética. Vamos ver.

C&E – Temos conhecimento que também acompanhou os primeiros tempos da constituição da então Câmara (hoje “Ordem”) dos ROC, os quais foram um pouco atribulados. Quer falar-nos um pouco dessa vivência e da sua participação no desenvolvimento da profissão de ROC?AJAS – Houve de facto alguns acontecimentos na

constituição e evolução para a implantação da atual OROC de que fui participante ativo. Sem pretender, aqui e agora, referir com pormenor algumas situações, lembro apenas quando a OROC ficou sem Direção e quando houve uma tentativa de transformar os ROC em agentes do Fisco. Enfim, outros tempos.

C&E – Em alguns países, as profissõesde contabilista e de auditorencontram-se representadas numaúnica Associação, embora divididaspor dois colégios de especialidadeem função dessas categorias profissionais. Qual a sua perspectiva dessaorganização associativa? Será possívelque o mesmo possa vir a acontecertambém em Portugal?AJAS – Para Portugal e do que conheço a nível mun-

dial deve-se manter a atual estrutura:a) Ordem dos Contabilistas;b) Ordem dos Revisores/Auditores. São duas estruturas que se completam e que precisam

de diálogo e de muita cooperação entre os Profissionais e os seus Órgãos Diretivos.

C&E – Ainda como formador e docente, como interpreta a evolução do ensinoda contabilidade, fiscalidade e auditoriano ensino superior em Portugal, especialmente após o Processo de Bolonha?AJAS – Conheço muito mal na prática o “Processo

de Bolonha”. Tive, isso sim, o prazer de colaborar e de fazer palestras nas Escolas Superiores e Secundárias sobre Contabilidade e Fiscalidade. Senti nessa altura algumas dificuldades por parte dos Professores em acompanhar no terreno as constantes modificações, principalmente na Fiscalidade. Por isso advogo que a “Formação Contí-nua” também é útil para os Professores. Estamos sempre a aprender.

C&E – No seu curriculum vitaehá uma falta que registamos, dado que, até à data, ainda não elaborou/publicou qualquer livro. Será que ainda vamos ter essa agradável surpresa?AJAS – Talvez… agora que estou a chegar ao meu

“Prazo de Validade”, tenho estado a coligir apontamentos e passagens da minha vida profissional para dar à estampa e para os mais novos saberem que é ao longo da vida que se vai ensinando e aprendendo.

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Tem sido frequentemente assinalado que com as NIC, nomeadamente considerando o que se aponta na NIRF 28, que os lucros distribuídos a título de gratificação de balan-ço não devem contabilizar-se no ano a seguir ao exercício que gerou esses resultados e onde se procede à distribuição e sim no ano anterior como custos de exercício.

Pessoalmente, entende-se que o problema a ser levanta-do era outro, o da incoerência que vinha existindo em qua-lificar como custos fiscais aplicações de resultados a favor de gestores e eventualmente de trabalhadores. Isto porque aplicações ou distribuições de resultados não devem consi-derar-se custos e sim o que são – aplicações de resultados.

Lucros efectivos, obtidos que sejam, opção ortodoxa seria tributá-los em IRC na empresa que os alcançou e, de-pois, na atribuição, tributar de novo, não então como lucro empresarial auferido e sim como rendimento atribuído, a título de dividendos quando se tratar de atribuições aos sócios (rendimentos de capitais por eles auferidos no ano da atribuição de resultados) e a título de rendimentos de trabalho quando as atribuições forem a gestores e traba-lhadores.

Acontecendo como se indica, está-se perante dupla tributação económica. Esta existe, actualmente, se bem que atenuada, em casos de dividendos. É uma questão contra a qual muitos fiscalistas se têm insurgido, questão que no passado era mais pacífica. Existem, a nosso ver, boas razões para a existência de tal dupla tributação eco-nómica e há muitos decénios que justificamos que assim pode ou deve ser.

Agora, com as NIC, vem a surgir outra e nova questão, algo desconforme, ou seja, que as verbas de gratificações (de ou pós-balanço) se devem contabilizar como custos do exercício a que respeitam os resultados.

O procedimento contabilístico que se vinha seguindo antes das NIC (Normas Internacionais de Contabilidade) era não só mais lógico, mas também de mais fácil operacio-nalidade. As verbas em causa deduziam-se simplesmente no Quadro 07 da declaração mod. 22 do IRC.

O que ora se pretende é contabilizar, como custos do exercício em que os lucros se apuram, “as aplicações de re-sultados” a gestores e trabalhadores, a aprovar no ano se-guinte o que até então não acontecia. Tal é anómalo, algo peregrino. Além de incorrecto é pouco operacional, pois

tais atribuições só são feitas ou só deviam ser feitas no exer-cício seguinte, ano em que se aprovaram as distribuições de resultados.

Com esta nova prática anómala acrescerão incoerências. Contabilizar uma distribuição de resultados como um custo, em ano em que não ocorreu ainda a aprovação que, repete-se, pode não ocorrer, é contra-senso (duplo). Opera-se assim também um tratamento diferente para cada espécie de atri-buições. Os dividendos continuam a debitar-se à conta de Resultados apurados e/ou transitados do ano anterior, mas as atribuições a título de rendimentos de trabalho seguem outro logicismo.

Acentua-se que os dividendos continuam a sofrer du-pla tributação económica (embora mitigada) e as gratifi-cações, também com natureza de distribuição de resul-tados a favor de gestores e trabalhadores, continuam a não sofrer tal dupla tributação quando a natureza é igual – trata-se, em ambos os casos, de atribuições a títulos de lucros (não custos).

Retirar de lucros apurados os dividendos e não ser

A Contabilidade na crise actualROGÉRIO FERNANDES FERREIRA*

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assim igualmente para lucros distribuídos a título de gratificações a gestores e trabalhadores não é coerente.

Repete-se: contabilizar-se como custos de ano anterior gratificações que são distribuições de resultados a praticar em ano seguinte, quando isso só se aprovará, se se aprovar, em ano posterior, não é solução adequada. Ou seja: está a impor--se mais uma prática sem coerência – contabilizar como cus-to algo que não é custo e sim distribuição de resultados e em data em que tal distribuição não ocorre e não está aprovada.

A terminar, lembro ideias do nosso extremoso Mestre Lopes de Sá:

“Não é o fato de uma entidade determinar em norma que a realidade é essa ou aquela que faz disso uma verdade.

Constatei na longa prática que possuo sobre a ativida-de contábil que alguns profissionais elegeram critérios para formar as suas opiniões sem atentarem no consa-grado cientificamente, elegendo métodos baseados em arbítrios, em vez de se apoiarem na realidade dos fatos.

Como não se pode acusar a medicina pelo aborto que alguns profissionais realizam, nem denegrir o conhecimento da

física em razão da “bomba H”, sequer o direito por leis incompetentes, também não é justo imputar-se à con-tabilidade o derivado de maquilhagens e fraudes nas informações, assim como certificações de balanços como adequadas, mas de empresas que manipularam.”

A concluir: temos muita pena que os novos normaliza-dores, agora internacionais, não tomassem em conta con-siderações que com Lopes de Sá assumimos muitíssimas vezes1. Porquê? Porque não fomos legião…

1 Nomeadamente em artigos na revista TOC, no Jornal de Negócios e no li-vro (ed. da OTOC) “ Separados pelo Atlântico – Unidos pela Contabilidade”.

*Falecido em 12 de Julho de 2010. De acordo com informação da sua filha, Professora Doutora Leonor Fernandes Ferreira, este foi um dos últimos ar-tigos elaborados pelo Professor, pelo que o publicamos em sua homenagem.

A normaNão é o fato de uma entidade determinar em norma que a realidade é essa ou aquela que faz disso verdade.

Em FAQ de 19 de Maio de 2011, a CNC divulgou a seguinte pergunta/resposta (n.º 18);

Qual é o conceito de empregado a que se refere a alí-nea c) do n.º 1 do art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março, e de trabalhador empregado a que se re-fere a alínea c) do n.º 1 do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho? Nesses conceitos são incluídos, por exemplo, os sócios gerentes?

Resposta: A CNC entende que, para efeitos da verifi-cação dos limites referidos na alínea c) do n.º 1 do art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março, e na alínea c) do n.º 1 do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, deverá ser tido em conta o estabelecido no Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de Novembro, cujos artigos 2.º e artigo 5.º do respectivo anexo de seguida se reproduzem:

“Artigo 2.ºPara efeitos do presente decreto-lei, a definição de

PME, bem como os conceitos e critérios a utilizar para aferir o respectivo estatuto, constam do seu anexo, que dele faz parte integrante, e correspondem aos previstos na Recomendação n.º 2003/361/CE, da Comissão Europeia, de 6 de Maio.

Artigo 5.ºOs efectivos correspondem ao número de unidades

trabalho-ano (UTA), isto é, ao número de pessoas que tenham trabalhado na empresa em questão ou por conta dela a tempo inteiro durante todo o ano considerado. O trabalho das pessoas que não tenham trabalhado todo o ano, ou que tenham trabalhado a tempo parcial, independentemente da sua duração, ou o trabalho sazonal, é contabilizado em fracções de UTA. Os efectivos são compostos:

a) Pelos assalariados;b) Pelas pessoas que trabalham para essa empresa, com

um nexo de subordinação com ela e equiparados a assalariados à luz do direito nacional;

c) Pelos proprietários-gestores;d) Pelos sócios que exerçam uma actividade regular

na empresa e beneficiem das vantagens financeiras da mesma.

Os aprendizes ou estudantes em formação profissio-nal titulares de um contrato de aprendizagem ou de formação profissional não são contabilizados nos efectivos. A duração das licenças de maternidade ou parentais não é contabilizada.”

Conceito de “empregado” no SNC

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Em Dezembro de 2004 elaborámos um artigo de homenagem ao saudoso Professor Doutor Rogério Fer-nandes Ferreira, sob o título “Rogério Fernandes Ferreira e a Normalização Contabilística”1, pelo que este artigo2 deverá ser considerado um complemento e uma atuali-zação do mesmo, daí retomarmos alguns aspetos então evidenciados3.

O Professor Rogério Fernandes Ferreira (RFF) foi, in-discutivelmente, nos últimos 50/60 anos, o profissional, professor e consultor da Contabilidade e da Fiscalidade em Portugal que mais investigou, escreveu e dissertou so-bre essas áreas4, abordando matérias específicas de cada uma delas e ressaltando o seu carácter interdisciplinar.

A propósito destacamos os seus comentários incluídos no texto da sua Jubilação no ISEG, em 25 de Junho de 19995:“Chego ao fim de carreira, relativamente longa, de dedica-

ção empenhada às matérias de contabilidade, finanças e fiscalidade. Esse tempo de vida poderia ter tido outros destinos, mas estes estudos não me impediram e até me espevitaram para incursões por outros campos de conheci-mento. Uma conclusão tirei – tudo tem a ver com tudo.

Contabilidade e valor, finança e ética, fiscalidade e justiça, gestão e estratégia, guerra e paz, passado e futuro foram preocupações minhas. Procurei estabelecer pontes, sugerir pistas, colaborar em soluções e indicar caminhos que me parecessem viáveis.”.O presente artigo foi motivado pela comunicação que

tencionávamos apresentar6 em 12 de Julho de 2011 (dia

1 Disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu “Activida-des Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 152” e publicado no livro História da Contabilidade em Portugal - Reflexões e Homenagens, Áreas Editora, Lisboa, 2005, pp. 357-370.2 O título aparece invertido.3 Uma primeira versão deste artigo foi enviada, em 11 de Julho de 2011, à filha de RFF, Professora Doutora Leonor Fernandes Ferreira, que deu alguns ligeiros contributos, os quais foram, de uma forma geral, acolhidos nesta versão final.4 O Professor abordou também temas de Gestão, Auditoria, Economia, Finanças, Ética, Filosofia, Responsabilidade Social, Política, Direito, etc.5 O texto, sob o título “Jubilação”, foi publicado no livro “Ensaios de Ho-menagem a Rogério Fernandes Ferreira”, Ed. Instituto Superior de Econo-mia e Gestão – Universidade Técnica de Lisboa, 2001, p. 15.6 Devido a doença nesse próprio dia, não nos podemos deslocar, pelo que a nossa comunicação (diapositivos) foi gentilmente apresentada pelo Profes-sor Dr. Hernâni O. Carqueja, que publicamente agradecemos.

em que se completou o primeiro aniversário do falecimen-to de RFF), numa conferência sob o título “Recordando o Professor Rogério Fernandes Ferreira”, promovida pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)7, da Universidade Técnica de Lisboa, escola onde o Professor estudou, lecionou depois durante muitos anos, se douto-rou e prestou provas de agregação.

Este trabalho visa essencialmente efetuar uma breve descrição das publicações do Professor sobre a temática da Normalização Contabilística em Portugal e Internacional, que foi certamente a que mais se debruçou desde que, ain-da estudante, iniciou o seu apaixonado prazer de escrever.

1. PRIMEIRO PRESIDENTE DA CNC8

RFF foi o primeiro Presidente da Comissão de Nor-malização Contabilística (CNC), em representação dos interesses gerais do Estado, conforme Aviso publicado no n.º 75 da II Série do Diário da República de 31 de Março de 1983.

O mandato do Professor foi curto, tendo-se demitido, o que, muito depois, justificou a decisão9 em texto que se transcreve na íntegra por considerarmos um facto histórico no processo de normalização contabilística em Portugal:“Cada um vê pelos seus olhos, sente pela sua alma; pesam-se

as coisas e desqualifica-se o inefável.

EQUÍVOCOS DIVERSOS DIFICULTAM ACTUAÇÕES:– uns lembravam que o Presidente da CNC representava

antigo projecto de Plano de Contabilidade (contrariado pela Acção posterior de pessoas que passaram a membros da CNC);

7 O programa contou com as seguintes comunicações:– A Contabilidade e a Normalização Contabilística – Hernâni O. Car-

queja e Joaquim Fernando da Cunha Guimarães;– Gestão Financeira - Oliveira Marques e João Carvalho das Neves;– A Fiscalidade - Carlos Loureiro e Paulo Macedo.

8 O texto deste item corresponde na íntegra ao mesmo item do artigo refe-rido na nota de rodapé n.º 1 deste artigo.9 FERNANDES FERREIRA, Rogério: “A Propósito de Pedido de Exone-ração da Presidência da CNC (Comissão de Normalização Contabilística)”, Encruzilhadas, Ed. Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, Lisboa, 2002, p. 181-2 e Jornal do Técnico de Contas e da Empresa n.º 308, de Maio de 1991, p. 116.

A Normalização Contabilísticaem Rogério Fernandes FerreiraJOAQUIM FERNANDO DA CUNHA GUIMARÃES*

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Paixão pela escritaEste trabalho visa essencialmente efetuar uma breve descrição das publicações do Professor sobre a temática da Normalização Contabilística em Portugal e Internacional, que foi certamente a que mais se debruçou desde que, ainda estudante, iniciou o seu apaixonado prazer de escrever.

– outros clamavam, na altura, que a escolha do presidente fosse feita entre os membros designados para a CNC e não por iniciativa do Ministro das Finanças;

– ser economista era para alguns contabilistas veteranos mo-tivo de reacções; ser “fiscalista” acarretava (diziam outros) visão menos adequada;

– afirmava-se a particular legitimidade de quem representa-va associações profissionais;

– revelava-se enfado (?!) a sugestões do presidente, o qual, en-tre o mais, sobrelevava purismos; “um académico”, para alguns, ocupa-se de “mosquitos e bizantinices”;

– a regulamentação da CNC era imprópria; estabelecia dico-tomia entre os seus membros: dois presidentes, dois órgãos (Cons. Geral e Com. Executiva) que se sobrepunham; a um deles (Cons. Geral) dava-se aparência de poder, não meios; o órgão que deveria ser mais avisado estava menos informado e por isso votado à transigência; teria poder formal mas faltava-lhe legitimidade substancial, meios e informação sobre o que em concreto lhe era apresentado para deliberação; contava, além disso, no seu seio com a hegemonia combativa do outro órgão.

Se algo do que se aponta já passou à história, os equívocos ocasionaram “desamor” e geraram desabrida ou disfarça-da hostilidade, porventura imerecida.

Contemporizou-se em quanto se pôde.”.

2. A TESE DE DOUTORAMENTO10

O Professor doutorou-se em Organização e Gestão de Em-presas pelo Instituto Superior de Economia da Universidade Téc-nica de Lisboa, com a tese sob o título “Normalização Contabi-lística”, cujas provas públicas se realizaram em 23 de Novembro de 1983, no salão nobre daquela Universidade11, tendo sido apro-vado, por unanimidade, com distinção e louvor.

O júri, presidido pelo Vice-Reitor daquela Universidade, Professor Doutor Simões Lo-pes, integrou ainda os distintos Professores Doutores Fernan-do Vieira Gonçalves da Silva (seu Professor e considerava o

10 Este texto corresponde na íntegra ao mesmo item do artigo referido no rodapé n.º 1 deste artigo, com ligeiras alterações de redação.11 Cf. notícia, sob o título “Prof. Dr. Rogério Fernandes Ferreira, doutorou-se em Organização e Gestão de Empresas”, publicada na Revista de Con-tabilidade e Comércio n.os 187/192, Vols. XLVII/XLVIII, 1983/1984, pp. 653-654, na qual consta um breve curriculum vitae do Professor.

seu Mestre), Caetano Léglise da Cruz Vidal, Manuel Duarte Pereira, Rómulo Rodrigues e Luís Santos Fernandes.

A tese viria a ser publicada em livro com 560 páginas, Ed. Almedina, Coimbra (Fig. 1)12, tendo o Professor refe-rido no seu prefácio que a dissertação foi fruto da vivência prolongada com as questões que nela se tratam, em cuja apreciação procurou conjugar aspetos teóricos e experi-ências profissionais, pretendendo dar resposta a variadas questões em aberto na literatura contabilística nacional. Destacou ainda a obra do Professor Gonçalves da Silva, de quem se considerava discípulo.

O trabalho contém um capítulo introdutório intitula-do “Razões Prévias”, onde se salienta a irreversibilidade do processo normalizador no estrangeiro e em Portugal, bem como o contributo da normalização contabilística para a tomada de decisões adequadas, nomeadamente pelos ór-gãos de gestão das empresas.

O livro contém os nove capítulos seguintes:I – Evolução e Perspetivas Atuais da Contabilidade –

Necessidade de Conciliação com o Ideário da Nor-malização;

II – A Normalização Contabilística;III – A Normalização Contabilística em Portugal;IV – Os “Princípios” Contabilísticos – Ponto de Parti-

da de uma Normalização Contabilística;V – Enquadramento na Normalização dos Sistemas

Contabilísticos;VI – Normalização da Contabilidade Externa – Estu-

do Crítico das Contas (e Respetivas Notas Explicati-vas) do Plano Oficial de Contabilidade;

VII – Normalização da Contabilidade Interna – Su-gestões e Contributos;

VIII – Normalização dos Documentos das Sínteses Contabilísticas;

IX – Súmula de Reflexões e Conclusões.No capítulo III “Normalização Contabilística em

Portugal”, RFF faz uma resenha histórica, sublinhan-do, nomeadamente, a importância que a regulamentação

12 FERNANDES FERREIRA, Rogério: Normalização Contabilística, Ed. Livraria Arnado, Lda, Coimbra, 1984.

Fig. 1 - NormalizaçãoContabilística

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fiscal teve no desenvolvimento da Contabilidade, como se transcreve13:“Com o aparecimento da reforma fiscal da década de 1960,

mais vivamente se suscitou a necessidade de remodelação das contabilidades das empresas portuguesas, as quais, até então, tinham a maior liberdade na organização e ela-boração das suas contas e na preparação dos seus balanços e demonstrações de resultados. Por isso, não se estranhava a grande diversidade terminológica, o mau uso de certos termos, a variedade de critérios de cálculo e de procedi-mentos contabilísticos.”.

3. PARTICIPAÇÃO EM GRUPO DE TRABALHO DA DGCI

O Professor integrou um grupo de trabalho da então Direção-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI), intitulado “Comissão de Estudos do Plano”, que incluiu mais dois distintos técnicos da Administração Tributária, Henrique Quintino Ferreira e Mário Martinho Pereira. Esta Comissão apresentou, em 1973, o seu trabalho sob o título “Plano Geral de Contabilidade Anteprojecto – 1.ª Fase” (Fig. 2), que viria também a ser publicado pelo Centro de Estudos Fiscais da DGCI, Caderno de Ciências e Técnica Fiscal n.º 108, sob o título “Antiprojecto do Plano Oficial de Contabilidade” (Fig. 3)14.

Na “Justificação Prévia” do documento, descrevem-se as vantagens da normalização contabilística para a empre-sa, a profissão de técnico de contabilidade, a didática e a pedagogia, a análise macro-empresarial e a tributação.

13 FENANDES FERREIRA, Rogério: Normalização Contabilística, op. cit., p. 39.14 Na nossa biblioteca possuímos dois exemplares do documento, publica-do também no Jornal do Técnico de Contas e da Empresa n.º 102, Dezem-bro de 1973, pp. 681-707.

O Plano continha 10 Classes, relevando-se a Classe 9 – Contabilidade Analítica de Exploração e a Classe 0 – Contas de Ordem.

Após o 25 de Abril de 1974, logo em 1975, novamen-te sob a égide do Ministério das Finanças, foi apresentado um outro estudo intitulado “Normalização Contabilística – I Fase”, elaborado por uma outra Comissão, constituída por despacho de 27 de Fevereiro de 1975 do Secretário de Estado do Orçamento, António Seixas Costa Leal15, que o Professor não integrou, tendo posteriormente apresen-tado as suas críticas16, por considerar que o trabalho da Comissão ficou aquém do desejável.

RFF destacou que a Comissão começara o seu traba-lho pelo fim, ou seja, pelos documentos contabilísticos, não tendo em conta os estudos anteriores, elaborados sob a alçada do Ministério das Finanças, nomeadamente o da Comissão que integrou.

Devido ao facto de ambas as iniciativas terem sido ela-boradas sob a égide do Ministério das Finanças, foram considerados “planos fiscalistas”, suscitando críticas junto das comunidades associativa e profissional.

4. ARTIGOS PUBLICADOSO Professor publicou artigos sobre a normalização

contabilística em todas as revistas nacionais na área da Contabilidade e em jornais nacionais, sendo, como já re-ferimos, o maior publicista nacional.

Destacamos especialmente os artigos publicados na recém-extinta Revista de Contabilidade e Comércio17, e no igualmente extinto Jornal do Técnico de Contas e da Empresa, dos quais era colaborador permanente18.

Como o próprio Professor referiu, o primeiro artigo que escreveu sobre normalização contabilística foi elabo-rado quando ainda era estudante, como transcrevemos19:

“Era ainda estudante e já dedicara um artigo, em revista escolar, em defesa cheia de candura da normalização contabilística.”.

15 No item 5.4 no nosso artigo referido no rodapé n.º 1 apresentamos os principais aspetos da constituição desta Comissão que foi considerada embrionária da futura Comissão de Normalização Contabilística (CNC).16 FERNANDES FERREIRA, Rogério: “Normalização Contabilística – Comentário a um novo trabalho sob a égide do Ministério das Finanças”, Revista de Contabilidade e Comércio n.º 167, vol. XLII, de Setembro de 1976, pp. 245-263.17 O último número (n.º 240) foi publicado em Janeiro de 2011.18 Por minha solicitação, o Professor passou também a ser colaborador per-manente da revista Contabilidade & Empresas do Grupo Vida Económica, da qual sou Diretor desde Janeiro de 2010, o que, infelizmente, teve pouca duração devido ao seu falecimento menos de sete meses depois.19 FERNANDES FERREIRA, Rogério, Retrospetiva da Normalização Contabilística em Portugal, Gestão, Contabilidade e Fiscalidade, Ed. No-tícias, Lisboa, 1997, p. 114.

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Fig. 3 - Anteprojecto de Plano Geral de Contabilidade

Fig. 2 - Plano Geral de Contabilidade Anteprojecto – 1.ª Fase

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Várias foram as críticas (leia-se “no bom sentido”), su-gestões e correções do Mestre que influenciaram a norma-lização contabilística nacional.

De notar que muitos dos trabalhos do Professor resul-taram de questões que os profissionais de Contabilidade, advogados, gestores, empresários, etc. lhe colocavam no dia-a-dia, e que, por aquela via, o Professor fazia questão de partilhar/divulgar, como forma de contribuir para o debate, sempre numa postura de humildade invulgar, ca-racterística dos grandes Mestres que, tendo consciência do seu saber/conhecimento, reconhecem que muito mais é o que têm para conhecer/desvendar.

A este propósito é nosso hábito referir que “Quanto maior é o conhecimento, maior é a ignorância”.

O Professor foi (é e será) um exemplo de conhecimen-to, social/humano, humildade, afabilidade, educação, etc., para todos aqueles que gostam da Contabilidade, da Fiscalidade, da Auditoria, da Gestão e outras áreas cone-xas, que jamais será esquecido.

Através de uma pesquisa efetuada no menu “Base de Dados (Pesquisa)” do nosso Portal INFOCONTAB, em www.infocontab.com.pt, no quadro seguinte resumimos o primeiro artigo sobre normalização contabilística escri-to pelo Professor nas principais revistas da contabilidade nacionais.

TítuloRevista

Revista Número Data Páginas

A Regulamentação legal e a Normalização Técnica das Contabilidades

RCC 129 Janeiro-Março de 1966 5 a 11

Questões de Contabilidade: I - A Normalização Contabilística

JTCE 45 Maio de 1970 10

A Propósito de um Curso de Planeamento e Normalização de Contabilidade

JC 5 Agosto de 1977 1

Normalização e Evolução Contabilística Eurocontas 6 Março de 1995 10 e 11

Taxonomia Contabilística

Revistas da OROC

(Revisores & Empresas)

18 Julho/Setembro de 2002 27 a 29

Qual a Peça Contabilística Mais Relevante? TOC 31 Outubro de 2002 44

Taxonomia Contabilística Boletim APECA 109 Julho/Outubro de 2002 13 e 14

Legenda: RCC – Revista de Contabilidade e ComércioJTCE – Jornal do Técnico de Contas e da EmpresaJC – Jornal de Contabilidade da APOTECRevista da OROC – As revistas da OROC tiveram até à data 3 títulos (Boletim da Câmara dos Revisores Oficiais de Contas, Revisores e Empresas e Revisores � Auditores.TOC – Revista da Ordem dos Técnicos Oficiais de ContasBoletim APECA – Boletim da Associação Portuguesa das Empresas de Contabilidade e Administração

Fonte: Portal INFOCONTAB.

CríticasVárias foram as críticas (leia-se“no bom sentido”), sugestões e correcções do Mestre que influenciarama normalização contabilística nacional.

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5. PUBLICAÇÕESA seguir apresentamos, por

ordem cronológica, as publi-cações (livros, separatas) sobre normalização contabilística ela-boradas pelo Professor, além das duas atrás enunciadas:

5.1. A Regulamentação Legal e a Normalização Técnica das Contabilidades (1966)

Esta publicação constitui uma separata da Revista de Contabilidade e Comércio n.º 129, de Janeiro/Março de 1966, com 13 páginas (Fig. 4) e, como

tal, foi publicada nessa revista nas pp. 5-11.Nesta pequena reflexão, o Professor apresenta uma de-

finição de Contabilidade, referindo que é, em termos sim-ples, a técnica que o empresário utiliza por excelência para o conhecimento e “controle” da sua gestão, quer quanto à situação patrimonial em geral, quer quanto aos resultados das atividades desenvolvidas.

Acrescenta ainda que a contabilidade permite igualmente que se apurem elementos relativos à gestão com vista a:

– Dar cumprimento às exigências da lei comercial e fiscal;– Esclarecer os sócios e colaboradores;– Prestar informações a instituições de crédito a que se

recorreu ou a clientes e fornecedores com que se ne-goceia;

– Fornecer elementos estatísticos a organismos ou entida-des incumbidas da agregação de dados das empresas.

O Professor ressaltou, desta forma, o denominado “pa-radigma da utilidade” da Contabilidade perante os diversos utentes (utilizadores/stakeholders) da empresa, e, com base nesse pressuposto, reforça a sua importância no contexto do então Código da Contribuição Industrial (CCI) e do apu-ramento do respetivo lucro tributável, e, por consequência, a necessidade da normalização contabilística das contabili-dades das empresas.

Releva-se ainda que nesta altura o Professor definiu a Contabilidade como “técnica”, mas o seu pensamento foi evoluindo ao longo dos tempos, acabando por a considerar também como ciência, embora, diga-se em abono da ver-dade, nunca se tenha preocupado muito com esse debate, na esteira do seu grande Mestre, Professor Fernando Vieira Gonçalves da Silva, que o considerava uma “ciênciomania”.

5.2. Com Vista a uma Eventual Normalização Contabilística (Algumas Notas) – 1968

Este pequeno livro, editado em 1968 pela Sociedade Portuguesa de Contabilidade (SPC), com 23 páginas (Fig. 5), é o texto de uma comunicação que RFF apresentou na sede da SPC. Para além de alguns aspe-tos concetuais da Normalização Contabilística, o Professor des-tacou a temática das provisões, considerando a falta de unani-midade concetual, com reflexos acentuados na regulamentação profissional e no apuramento dos resultados. Referiu-se, em particular, às implicações fiscais em sede do CCI sobre a maté-ria. RFF reforçou a ideia de que uma “normalização” adequada estende-se também às regras de normalização das contas, à fixação de modelos de apresentação das cifras contabi-lísticas e de critérios uniformes, todos eles válidos para o cálculo dos custos, para a valorimetria dos stocks, para as amortizações, para as provisões, etc.

Ou seja, RFF apelou aos principais aspetos concetuais relacionados com a valorimetria do património da empre-sa e salientou também as vantagens da normalização con-tabilística para os diversos utentes/stakeholders.

O II capítulo do livro, o mais extenso, intitula-se “Provi-sões”. Nele RFF descreveu os seus principais aspetos conce-tuais contabilísticos e fiscais no âmbito do art.º 33.º do CCI.

5.3. Normalização Contabilística(Algumas Reflexões) – 1970

Sete anos antes da publicação do primeiro Plano Oficial de Contabilidade (POC/77), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro, RFF elaborou o artigo com o título supra, publicado como separata da Revista de Contabilidade e Comércio, n.º 147, de Julho/Setembro de 1970, com 60 páginas (Fig. 6), e, como tal, também, publicado na mesma revista nas pp. 261-64, e que corresponde, como consta no asterisco aposto no título, a “excertos do livro em preparação sob o título “Iniciação à Técnica Contabilística”, Ed. Ática20.

O texto inicia-se com o conceito de normalização conta-bilística entendido como todo um conjunto de terminologia, esquemas e regras de contabilização uniformemente adotadas por várias empresas de um setor ou de um país, falando-se,

20 O livro foi efetivamente publicado no ano de 1970.

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Fig. 4 - A Regulamentação Legale a Normalização Técnica

das Contabilidades

), 3 p g ( g

Fig. 5 - Com Vista a uma Eventual Normalização Contabilística

(Algumas Notas)

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assim, de normalizações seto-riais e normalização nacional, respetivamente.

Esta publicação corres-ponde à do Centro de Estu-dos Fiscais da DGCI, referida no item 3 deste trabalho.

5.4. O Plano Oficial de Contabilidade – Ensaios e Estudos Críticos (1992)

O livro “O Plano Ofi-cial de Contabilidade (En-saios e Estudos Críticos)”, Ed. Escher, Lisboa, Janeiro de 1992, com 367 páginas (Fig. 7), é uma análise crítica ao POC/89, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de Novembro, e encontra-se dividido em quatro capítulos:

Capítulo I – Introdução;Capítulo II – Princípios contabilísticos e critérios de fis-

calidade;Capítulo III – Apreciação de questões contabilísticas;Capítulo IV – Lei Fiscal e Contabilidade (POC) – com-

parações e divergências.Como resulta, essencialmente, dos títulos dos capítulos II

e IV, RFF limita as suas críticas ao POC/89, alargando-as aos aspetos fiscais, em sede do Código do IRC, relativamente a algumas temáticas de índole contabilístico-fiscal, nomeadamente as provisões (art.º 33.º do CIRC), a valori-metria das existências (art.º 25.º do CIRC), as amortizações (v.g. trespasses), a contabilização dos encargos com férias, as despesas confidenciais, as reavaliações livres do imobilizado, a contabilização dos subsídios (v.g., investimentos) e as locações financeiras.

Na verdade, não podemos esquecer que a influência da Fis-calidade na Contabilidade é um

facto indiscutível e indissociável e, nomeadamente, para o apuramento do lucro tributável do IRC e para apuramento de outros impostos, nomeadamente o IRS (especialmente a Categoria B) e o IVA.

É nesta conformidade que RFF aborda aqueles matérias na ótica contabilístico-fiscal e numa perspetiva de interdis-ciplinaridade.

Com efeito, quantos factos (operações) patrimoniais das empresas são relevados na contabilidade sem que sejam pre-viamente influenciados pela análise fiscal? Ou seja, o fator fiscal influencia muitas vezes as decisões do órgão de gestão e, como tal, apenas a posteriori se verifica o seu impacto nas demonstrações financeiras.

5.5. Separados pelo Atlântico, Unidos pela Contabilidade (2006)21

A feliz ideia da publicação deste livro foi da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, e, em particular, do seu Bastonário, António Domingues de Azevedo, tendo surgi-do na sequência de um ciclo de conferências desenvolvidas em Portugal e nas ilhas da Madeira e dos Açores pelos Professores RFF e António Lopes de Sá.

O livro, com 368 páginas, foi apresentado e distribuído aos participantes no 2.º Con-gresso dos TOC, realizado no Pavilhão Atlântico em Lisboa, nos dias 3 e 4 de Novembro de 2006 (Fig. 8).

De ressaltar que os dois sau-dosos Mestres/Professores se tra-tavam por “irmãos”, sendo que o Professor Lopes de Sá era luso-brasileiro, ou melhor, brasileiro-luso, e dizia, insistentemente, com orgulho, que era mais por-tuguês que os naturais de Por-tugal, pois ele havia optado e os naturais de Portugal não.

O livro é uma compilação de artigos elaborados pelos dois Mestres/Professores, e divide-se em duas partes. A pri-meira parte, com 113 páginas, é da autoria de RFF, sob o título “Evoluções e Inovações na Contabilidade”, sendo cons-tituída por diversos artigos críticos de análise às NIC/NIRF e ao SNC. A segunda parte, com 228 páginas, é da autoria do Professor Lopes de Sá, e apresenta um conjunto significativo de reflexões sobre a sua teoria do Neopatrimonialismo.

Como referimos, os dois Mestres/Professores, apesar dos seus constantes apelos e provocações, não tiveram companhia relevante nessa cruzada científica, ou seja, foram duas “almas” a pregar no deserto.

De notar que os dois organismos representantes dos pro-fissionais de Contabilidade de Portugal (Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas) e do Brasil (Conselho Federal de Contabi-

21 Elaborámos um artigo com este título, publicado na revista TOC n.º 129, de Dezembro de 2010, pp. 38-41, e disponível para download no Por-tal INFOCONTAB no menu “Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 323”.

Fig. 7 - O Plano Oficialde Contabilidade

(Ensaios e Estudos Críticos)

Fig. 8 - Separados pelo Atlântico, Unidos pela Contabilidade

Fig. 6 - NormalizaçãoContabilística (Algumas Notas)

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lidade), deliberaram a institucionalização do Congresso Luso-Brasileiro de Contabilidade, em memória dos dois Mestres. O primeiro realizou-se em 22 e 23 de Outubro de 2010, na cida-de de Florianópolis (Brasil), e o segundo no passado dia 11 de Julho de 2011, no Centro Cultural de Belém, sendo que am-bos assumiram o tema geral “Separados pelo Atlântico, Unidos pela Contabilidade”, precisamente o título daquele livro.

Quis o destino que os dois “irmãos” falecessem no ano de 2010 (António Lopes de Sá em 7 de Junho e RFF em 12 de Julho). Ou seja, no ano em que entrou em vigor o SNC “calaram-se” as suas duas vozes mais críticas, permanecendo os seus escritos para estudo.

Este facto levou-nos elaborar um artigo sob o títu-lo “Uma estranha e infeliz coincidência em 2010 (!) – As NIC/SNC e o falecimento dos Professores António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira”22, o que, efetivamente, nos deixa a pensar.

5.6. Normalização Contabilística Internacional – Depoimentos (2008)

Na década passada e na perspetiva da alteração do mo-delo contabilístico então em vigor (POC/89), por força, nomeadamente, das exigências da União Europeia face ao Regulamento 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Con-selho, de 19 de Julho de 2002 (conhecido pela designação “Regulamento NIC”), a CNC apresentou ao Governo, no ano de 2003, um documento intitulado “Projecto de Linhas de Orientação para um Novo Modelo Contabilístico”.

Este foi o ponto de partida, e a principal motivação para RFF desenvolver um conjunto significativo de artigos e co-municações, que, infelizmente, como o próprio Professor al-gumas vezes nos confidenciou e lamentou, não teve o devido acompanhamento pela comunidade académica ligada à Con-tabilidade, que adormeceu perante tal inevitabilidade.

Como é sabido, apesar de aquele projeto ter sido ela-borado em Janeiro de 2003 e a CNC ter definido um pro-grama de ação que cumpriu para a sua execução, o novo modelo contabilístico, designado Sistema de Normalização Contabilística (SNC), só viria a ser aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, bem como os restantes instrumentos legais complementares (Portarias e Avisos), e entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2010. Ou seja, foram sete anos de tempo perdido!...

Nessa sua cruzada de análise crítica das NIC e das Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF) que constituem a base do SNC, RFF apenas teve a prestimosa companhia do Professor luso-brasileiro, Professor Doutor António Lopes de

22 Publicado no Jornal AIMinho n.º 113, de Dezembro de 2010, p. 19 e disponível para download no Portal INFOCONTAB no menu “Atividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 313”.

Sá. Os dois foram, indiscutivelmen-te, os únicos Professores que “ousa-ram” dissertar sobre essas matérias e, assim, nos levaram a pensar (aqueles que se interessam) nos aspetos con-ceituais e terminológicos ligados ao novo modelo.

Na sequência, RFF publicou um livro de algumas das suas principais reflexões, intitulado “Normalização Contabilística In-ternacional – Depoimentos”, edi-tado pela Associação Portuguesa das Empresas de Contabilidade e Administração (APECA), com 111 páginas, (Fig. 9). O Professor, além dos mencionados aspetos conceituais e terminológicos assentes no novo pa-radigma, apresenta algumas das principais caraterísticas do SNC e um conjunto de co ntributos sobre o relatório do Grupo de Trabalho para análise do SNC criado em 5 de Maio de 2008 pela então CTOC, destacando ainda a pro-posta da sua Direção para a constituição da nova Comissão de Normalização Contabilística (CNC). RFF elogiou o tra-balho da CTOC e do seu Presidente, António Domingues de Azevedo, referindo que “é de se tirar o chapéu … revela mestria, ambição, vontade de vencer, de fazer, de alcançar, de ganhar … Dir-se-á que estamos perante um vencedor irreti-cente (…)”.

5.7. Últimos Estudos (2010)O último livro de RFF com o

título em epígrafe e 335 páginas (Fig. 10) ficou concluído prati-camente dois/três meses antes do seu falecimento e só viria a ser publicado após esse infortúnio, em Setembro de 2010, sendo uma homenagem da OTOC ao seu membro-honorário.

Não sendo um livro específico sobre a normalização contabilísti-ca, contém alguns temas, nomea-damente sobre o SNC, compilan-do artigos publicados nos últimos tempos em diversos jornais e re-vistas, encontrando-se agrupados em quatro capítulos:

I – Temas variados (ética, política e há filosofia);II – Temas de Gestão e Economia;III – Temos sobre Petróleo;IV – Temas de Contabilidade e Fiscalidade.

Fig. 9 - Normalização Contabilística Internacional - Depoimentos

Fig. 10 - Últimos Estudos

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Particularmente no último tema, RFF apresenta algu-mas reflexões sobre aspetos concetuais da contabilidade, das NIC e do SNC, do qual extraímos o seguinte texto sob o título “Tentando não discordar das NIC (reanalisar)”23:“Neste artigo prossigo comentários, não com ideia prévia de

desaprovar algo e mais com a preocupação de encontrar motivações que se reputem aceitáveis (ou não). Assim, de-claro considerar correctas e relevantes as soluções das NIC (Normas Internacionais de Contabilidade), do ponto de vista da ciência da gestão.

Ora, as NIC estão para além da prudência e do pragmatismo tradicionais. Acolhem apuramentos mais sofisticados e menos seguros, na base de valorizações de muitos activos em termos de lucros esperados, estimativas presentes relativas a anos futu-ros com as quais se afectará património, capital próprio, lucro de exercício. É passar a considerar-se que vale mais considerar ‘pássaros a voar’ do que ‘pássaros na mão’.”.

5.8. Outras PublicaçõesNoutros livros publicados, RFF compilou artigos sobre

as mencionadas áreas, nos quais inclui também trabalhos sobre a normalização contabilística24.

6. CONCLUSÕESO presente artigo surgiu na sequência de um outro sob

o título “Rogério Fernandes Ferreira e a Normalização Con-tabilística”, e no contexto de uma comunicação que prepara-mos para apresentar (não o fizemos por motivo de doença)25, em 12 de Julho de 2011, no ISEG numa Conferência de Ho-menagem ao Mestre/Professor Rogério Fernandes Ferreira.

Neste trabalho não tivemos a pretensão de efetuar uma análise sistemática e crítica da obra de RFF no âmbito da Normalização Contabilística, pois apenas nos limitamos a descrever alguns dos principais aspetos das publicações ela-boradas pelo Professor.

Destacamos que RFF foi (e ainda é), o maior publicista até à data, não só sobre essa temática, mas também, em particular, sobre Contabilidade e Fiscalidade e respetivas interdisciplinaridades.

No que tange especialmente à normalização contabilís-tica, relevamos o facto de a sua própria tese de doutoramen-to se intitular precisamente “Normalização Contabilística”, o que evidencia, desde logo, ter este sido um dos temas da sua preferência nos seus artigos, livros, comunicações e ou-tros escritos.

23 Ob. cit. p. 326.24 A lista completa das publicações consta do nosso artigo referido no roda-pé n.º 1 e no menu “Mestres-Professores/Rogério Fernandes Ferreira (1929 - 2010)” do nosso Portal INFOCONTAB.25 Ver rodapé n.º 6 deste artigo.

Repetimos, nenhum outro investigador em Portugal se debruçou tanto como RFF sobre essa temática, sendo uma das suas principais preocupações até aos últimos momentos da sua vida, como se comprova, nomeadamente, pelo seu último livro, com o sugestivo título “Últimos Estudos” (Ed. OTOC, Lisboa, Agosto de 2010).

Tivemos o privilégio de ter uma forte relação de amiza-de com o Professor. Com efeito, os nossos contatos pessoais (reuniões no seu escritório), telefonemas e correio eletrónico, bem como a participação conjunta em diversas realizações (v.g. Congressos, Jornadas), e em atividades associativas (OTOC, APOTEC e ADCES) cimentaram essa grande amizade.

Este envolvimento motivou-nos para a iniciativa de organi-zar um processo e de desenvolver um conjunto de ações sugerin-do a condecoração nacional do Professor, nomeadamente junto do Exmo. Senhor Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, do Presidente das Ordens Honoríficas, as Direções das associações de profissionais a que o Professor esteve ligado (OROC, OTOC, Ordem dos Advogados, Ordem dos Economistas, APOTEC, Associação Fiscal Portuguesa).

A iniciativa teve êxito, pois o Professor viria a ser conde-corado com a Ordem de Instrução Pública (Grande Oficial) no dia 10 de Junho de 2009 (Fig. 11). Foi um dia muito fe-liz para todos os profissionais da contabilidade e da fiscalida-de e, em particular, para nós, por aquelas razões.

Estamos convencidos que a obra do Professor continua-rá a ser objeto de estudo nas universidades, e, muito sin-ceramente, sentimos já a falta das suas ímpares análises críti-cas, dos seus pensamentos, dos seus alertas, dos seus desafios, etc., pois, como o próprio la-mentava, não há massa crítica na classe profissional dos pro-fessores, o que se pode cons-tatar, nomeadamente, pelo número reduzido de professores que elaboram artigos/tra-balhos e publicam em revistas nacionais e internacionais. Em suma, infelizmente não há uma cultura de escrita e de investigação teórica e prática a nível universitário, apesar da proliferação de mestres e doutores, que dê seguimento à iniciativa do Professor. Esperamos que este lamento possa constituir um “despertar” de consciências.

*Licenciado em Gestão de Empresas e Mestreem Contabilidade e Auditoria, ambos pela Universidade do Minho,

ROC, TOC, Docente do Ensino Superior e Director da C&[email protected]

Fig. 11 - Condecoração de RFF com a Ordem de Instrução Pública

(Grande Oficial), em10 de Junho de 2009

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A simplificação das obrigações contabilísticas que se pretende introduzir a nível europeu constitui uma séria ameaça para as empresas e os profissionais. A supressão da contabilidade nas empresas não significa um progresso, como experiências passadas demonstraram claramente, com o volume de impostos a cobrar pelo Estado a de-crescer substancialmente. Esta a opinião manifestada por Philippe Arraou, membro do conselho superior da “Or-dre des Experts Comptables” de França, numa entrevista concedida à Revista TOC.

A simplificação contabilística é uma matéria que le-vanta sérias preocupações àquele profissional. Na prática significa a supressão das obrigações contabilísticas e ad-ministrativas, como forma de poupança para a empresa, o que não é compreensível. “É uma prática que está longe de contribuir para tornar as contas mais transparentes. É antes uma ameaça para as empresas e para os técnicos de contas. Sem contabilidade faltará a ferramenta de gestão e a fonte de dados para poder gerir e conhecer a empresa. Uma empresa sem contas fiáveis é como um barco que na-vega sem rumo certo num mar alterado.” Defende que a economia moderna utiliza a contabilidade enquanto fonte de dados, registando variáveis para depois lhes dar o uso mais apropriado. Ou seja, a contabilidade é o primeiro passo para a gestão da empresa por parte do empresário.

Uma outra preocupação para Philippe Arraou é o das normas contabilísticas para PME. “Existe uma tendência de globalização que propõe utilizar as mesmas normas em qualquer país do mundo. O que pode gerar complexidade acrescida à já de si complicada aplicação das normas in-ternacionais. Nós, enquanto TOC, não podemos apoiar uma iniciativa que não está adaptada ao que é a realidade do mercado das PME”, adianta aquele dirigente associa-tivo. E não entende que as empresas não se manifestem publicamente contra este projecto.

Bruxelas não conhece a realidadedo mercado da contabilidade e da auditoria

O Livro Verde da Comissão Europeia representa a terceira grande preocupação de Phillipe Arraou. Admi-

te que por parte de Bruxelas há interesse na simplifi-cação da auditoria das PME. Ora, a forma de simpli-ficação é, uma vez mais, a supressão, decidindo-se que algumas empresas ficam à margem de qualquer tipo de controlo. O que é um erro, como explica o profissio-nal: “Mesmo que pequena, uma empresa faz parte de uma cadeia económica e ser auditada é uma forma de demonstrar utilidade para toda a comunidade em que se integra.”

Defende a necessidade de adaptar a auditoria a este tipo de empresas. Considera que por mais simples que seja a auditoria, não há quem possa ousar contestar a sua utilidade. Questionado sobre quem ataca a contabilidade e os seus profissionais, assume que não tem certezas sobre os contornos de tal processo. E adianta: “Estranho apenas que quando se pergunta às organizações das empresas so-bre os profissionais da contabilidade e da fiscalidade, o seu trabalho é sempre elogiado e considerado. Mas constato que o lobby em sentido contrário – vendo os TOC como dispensáveis – tem mais força.”

Philippe Arraou chama a atenção para o facto de as grandes empresas da profissão (as chamadas “big four”) muito poderosas e poderem influir decisivamente a nível europeu. “Se a iniciativa comunitária for para a frente, reduzindo profissionais e concentrando empresas, que vai sair favorecido são as grandes multinacionais. Aliás, a cobiçarem cada vez mais o mercado das PME, como acções concretas, como a compra de gabinetes. O apetite por mais lucros e rentabilidade é insaciável e não é com-paginável com a ética da profissão.” Admite que manda quem tem poder, dinheiro e influência. “O bloco anglo-saxónico domina os maiores organismos internacionais que contam na profissão.”

Finalmente, no que respeita às tutelas, é sua convic-ção que estas, quaisquer que sejam os países, devem ter um papel a desenvolver na defesa da profissão. “Creio que ,sempre que houver indícios de que a profissão pode estar ameaçada, os técnicos oficiais de contas e as entidades que os representam devem, em articulação com os governos, concertar uma tomada de posição com voz própria a nível nacional.”

Philippe Arraou defende

Supressão da contabilidade nas PME representa um retrocesso

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O Decreto-Lei n° 158/2009, de 13 de Julho, que aprovou o Sistema de Normalização Contabilística (SNC), revogou o Decreto-Lei n° 238/91, de 2 de Julho, que tinha transposto para o direito interno as normas de consolidação de contas estabelecidas na 7.ª Directiva da União Europeia.

Dado que o anterior regime previa, relativamente à obrigatoriedade e dispensa de elaboração de contas consolidadas regras diferentes do agora previsto no SNC e tendo surgido dúvidas sobre as situações em que existe esta obrigatoriedade e dispensa de elabora-ção de contas consolidadas no actual normativo enten-deu esta Ordem, após consulta à Comissão de Nor-malização Contabilística, emitir a seguinte clarificação sobre o assunto.

1. O Artigo 6:° do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, dispõe como regra que qualquer em-presa-mãe sujeita ao direito nacional é obrigada a elaborar demonstrações financeiras consolidadas do grupo: constituído por si mesma e por todas as suas subsidiárias nas condições aí previstas. Da-qui resulta uma diferença substancial ao referido no anterior regime que somente previa a obriga-toriedade de elaboração de contas consolidadas quando se ultrapassassem dois dos três limites lá referidos durante dois anos consecutivos (“… Quando se tenha ultrapassado ou tenha deixado de se ultrapassar dois dos limites definidos no nú-mero anterior, este facto não produz efeitos, em termos de aplicação da dispensa aí referida, senão quando se verifique durante dois exercícios con-secutivos”).

2. Sendo esta a regra no atual normativo em vigor, qualquer empresa-mãe, no ano da sua constitui-ção, está obrigada a observá-la e, como tal, a elabo-rar as contas consolidadas (no anterior normativo esta obrigatoriedade só poderia surgir no terceiro ano de actividade caso a empresa-mãe tivesse ul-trapassado nos dois anos anteriores os limites pre-vistos na lei).

3. Por sua vez, os n.os 1 e 2 do Artigo 70 do Decreto-Lei n° 158/2009 atrás citado estabelecem que uma empresa-mãe só fica dispensada de elaborar contas consolidadas quando deixem de ser ultrapassados durante dois exercícios consecutivos dois dos três li-mites ai estabelecidos (total do balanço: � 7 50 000; b) total das vendas líquidas e outros rendimentos � 15 000 000; c) número de trabalhadores emprega-dos em média durante o exercício: 250), verificados com base nas últimas contas anuais aprovadas do conjunto das entidades a consolidar.

4. Assim, a possibilidade de uma empresa-mãe ser dispensada, pela primeira vez, de elaborar contas consolidadas só poderá ocorrer a partir do terceiro exercício da sua actividade, ano em que será possí-vel assegurar as condições exigidas para a dispensa de elaboração de contas consolidadas, se nos dois exercícios anteriores, com base no conjunto das contas aprovadas das entidades a consolidar, não tenham sido ultrapassados dois dos limites previs-tos no já referido diploma.

5. Adicionalmente, e face à mesma disposição legal, no ano de constituição de uma empresa-mãe, e no ano seguinte, nunca poderão estar reunidas as con-dições exigidas para a dispensa de elaboração de contas consolidadas.

6. Se, após beneficiar da dispensa, em virtude de ter respeitado durante dois exercícios consecuti-vos dois dos limites enumerados no Artigo 7.° do supra mencionado Decreto-Lei, a empresa-mãe ultrapassar os referidos limites, cessa para esse exercício económico a aludida dispensa. Assim, a empresa-mãe está obrigada, relativamente ao exer-cício em que ultrapasse os mencionados limites, a elaborar e a apresentar as contas-consolidadas.

Chamamos a atenção dos Colegas para, a este pro-pósito, terem presente o disposto na DRA 700 quanto ao facto de a inexistência de demonstrações financeiras para examinar conduzir à emissão de uma Impossibili-dade de Certificação.

Circular n°47/11 da Ordem dos ROC

Obrigatoriedade e dispensa de elaboração de contas consolidadas

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A entrada efectiva em funcionamento da arbitragem tributária é um dos objectivos definidos no Programa de Governo. Foi publicada no site da DGAIEC a Circular nº 53/2011, Série II, com o objectivo de emitir as necessárias instruções sobre a aplicação do referido regime e a articula-ção prévia com outras entidades envolvidas. A arbitragem pretende ser uma via alternativa aos tribunais judiciais e possibilitar uma resolução dos litígios bastante mais rápida no que toca às relações entre a administração fiscal e os con-tribuintes. A decisão deve ser tomada num limite temporal de seis meses, podendo ser prorrogado por outro tanto.

Cabe aos tribunais que desenvolvem a sua actividade sob a responsabilidade do Centro de Arbitragem Admi-nistrativa (CAAD) tomarem as decisões fiscais arbitrais. Pode pronunciar-se sobre várias matérias, como retenção na fonte, declaração de rendimentos, fixação de valores patrimoniais, pagamentos por conta, entre outras. Uma das limitações tem a ver com o facto de este tribunal não ter competência para decidir em processos com um valor superior a dez milhões de euros. O que significa que há uma submissão ao valor da causa.

Importa ainda notar que apenas a Direcção-Geral dos Impostos e a Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC) estão vinculados aos tribunais fiscais arbitrais. Por exemplo, de fora fica uma entidade como a Segurança Social. O contribuinte pode ou não designar um árbitro. Se for seu desejo designar um árbitro, tal vai ter influência nas custas. Caso o contribuinte decida pela não-nomeação e o valor for superior a 60 mil euros, funcionando o tribunal com três árbitros, cabendo a sua designação ao CAAD. Os árbitros podem ser juristas ou licenciados em Economia e Gestão. Nos litígios de valor igual ou superior a 500 mil euros, o árbitro-presidente deve ter exercido funções públicas de magistratura nos tribunais tributários ou ter o grau de mestre em Direito Fiscal. Em li-tígios de valor superior a um milhão de euros, os requisitos são ainda mais exigentes.

Decisões dos tribunais fiscais arbitraisnão são recorríveis

Não é possível recorrer das decisões dos tribunais fis-cais arbitrais, de uma maneira geral. Em casos excepcio-

nais poderá haver lugar a recurso para o Tribunal Cons-titucional, para o Supremo Tribunal Administrativo, para o Tribunal Central Administrativo e, em última análise, para o Tribunal de Justiça da União Europeia. As decisões dos processos arbitrais têm o mesmo valor e os efeitos ju-rídicos das sentenças emitidas pelos tribunais administra-tivos e fiscais.

Quanto a custos, sob a designação de de taxas de arbitragem, incluem a taxa inicial e os encargos decor-rentes ao desenvolvimento do processo. Como se referiu atrás, as taxas são calculadas com base em dois pressu-postos, o valor da causa e como é designado o árbitro. O valor mínimo – no caso de árbitro designado pelo CAAD – ascende a 306 euros, para casos em que o valor seja inferior a dois mil euros. O valor máximo da tabela é perto de 4900 euros para causas até 250 mil euros. Para processos de valor superior a 275 mil euros são devidos 306 euros por cada 25 mil euros.

De salientar ainda que a designação do árbitro pelo contribuinte apenas se aplica a casos em que se verifique um tribunal fiscal colectivo, o que só sucede em causas com um valor superior a 60 mil euros. Finalmente, a le-gislação prevê um regime transitório. Ou seja, um contri-buinte com um processo pendente nos tribunal tributário há mais de dois anos pode recorrer para o tribunal arbitral fiscal, sem qualquer pagamento de custas judiciais.

Governo vai avançarcom os tribunais fiscais arbitrais

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Conhecimento do histórico

É necessário conhecer o histórico de encargoscom garantias respeitantes a vendas e prestaçõesde serviços durante os três últimos períodosde tributação.

O Código do IRC, na redacção dada pelo DL nº 159/2009, de 13 de Julho, reconhece para efeitos fiscais as provisões que se destinam a fazer face a encargos com garantias a clientes previstas em contratos de venda e prestação de serviços. Tratando-se de um preceito inova-dor surgiram dúvidas de interpretação, pelo que a DGCI optou por proceder ao esclarecimento do artigo 39º, por via da circular nº 10/2011, no âmbito da provisão para garantias a clientes.

Esclarece a administração fiscal que o montante anual da provisão é determinado pela aplicação às vendas e pres-tações de serviços sujeitas a garantia efectuadas no período de tributação de uma percentagem que não pode ser supe-rior à que resulta da proporção entre a soma dos encargos derivados de garantias a clientes efectivamente suportados nos três últimos períodos de tributação e a soma das ven-das e prestações de serviços sujeitas a garantia efectuadas nos mesmos períodos.

O segundo aspecto para o qual é chamada a atenção é que o montante anual corresponde à dotação anual – dotação da provisão reconhecida como um gasto – determinada pela aplicação da percentagem ao volume de vendas e prestações de serviços sujeitas a garantia a clientes do ano em causa e não ao montante acumula-do da provisão no fim de cada período de tributação. Este montante inclui os gastos financeiros referentes ao reforço da provisão relacionados com o efeito temporal do dinheiro e a parte da provisão que não deva subsistir, por não ter sido accionada a garantia, deve ser revertida, de acordo com os normativos contabilísticos e fiscais, sendo encarada como rendimento do respectivo período de tributação.

Adianta a DGCI que, quando a reversão da provisão incluir uma parte que foi tributada, deve, em primeiro lugar, ser considerada a provisão que anteriormente foi tributada, dando lugar à dedução desse montante. Por sua vez, na expressão “garantias a clientes previstas em contra-tos de venda e prestação de serviços” devem ser incluídas a obrigação de garantia constante de contrato escrito e celebrado entre as partes e a obrigação legal de prestação de garantia. Na expressão devem também ser incluídas as

situações em que o vendedor e/ou prestador de serviços emite uma factura de venda/prestação de serviços acom-panhada de um certificado de garantia do produto comer-cializado e/ou do serviço prestado.

Histórico de encargos com garantias

As explicações da administração fiscal vão ainda mais longe e ao pormenor no que toca a esta matéria. Assim, para efeitos do cálculo do limite que pode ser fiscalmente aceite é necessário conhecer o histórico de encargos com garantias respeitantes a vendas e prestações de serviços du-rante os três últimos períodos de tributação. A referência aos “últimos três períodos de tributação” permite consi-derar os dados do período em que se está a constituir ou a reforçar a provisão e dos dois períodos anteriores, uma vez que no final do período de tributação referido ini-cialmente são já conhecidas as vendas e as prestações de serviços desse período, bem como os encargos suportados com garantias a clientes.

No período de tributação em que se inicia a activida-de, a provisão fiscalmente aceite é aquela que corresponde aos encargos suportados nesse período com as garantias a clientes. No período de tributação seguinte, a provisão é calculada pela aplicação às vendas e prestações de serviços sujeitas a garantia da percentagem que resulta da propor-ção entre a soma dos encargos com garantias a clientes efectivamente suportados nesse período e no anterior e a soma das vendas e das prestações de serviços sujeitas a garantia efectuadas nos mesmos períodos. Idêntico enten-dimento é de aplicar às situações em que o contribuinte, no decurso da sua actividade, comece a efectuar vendas ou a prestar serviços sujeitos a garantia.

No âmbito do artigo 39º do CIRC

DGCI esclarece processo de provisão para garantias a clientes

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A conjuntura actual não permite uma revisão do sis-tema fiscal, das suas técnicas e dos seus fundamentos, já que o Estado está necessitado de receita. Mas é desejável perspectivar algumas mudanças – no sentido do Estado e da sociedade contemporânea – que representem uma evolução e não uma reforma. Esta a opinião manifestada por Jorge Neto e Diogo Leite Campos, no âmbito do livro “Empresas Parlamento”, publicado pelo grupo editorial Vida Económica.

A primeira ideia transmitida é a necessidade de ultra-passar “definitivamente” a concepção do Estado-polícia que estabelece as normas e sanciona o seu incumprimen-to. Assim, “o Estado quer-se promocional, organizador e referencial”. Promocional, tendo em conta uma actuação pelo instrumento das sanções positivas, dos incentivos, das recompensas que não visam punir directamente os actos socialmente indesejáveis, mas promover os social-mente desejáveis. Organizador, isto é, com normas de organização que visam promover a associação concerta-da entre indivíduos e organizações prosseguindo fins co-muns. E referencial, o que se traduz numa actuação cada vez menos por imposições, ordens ou castigos e “mais por associação dos indivíduos e das organizações à volta de referências comuns de carácter ético-social”.

Defendem os autores que é preciso determinar uma sólida referência social e construir os impostos sobre ela, de modo incentivador e justo. O que implica promover a realização dos direitos de personalidade de segunda e terceira gerações e transparecer para os cidadãos que a ad-ministração da justiça tributária é rápida e correcta. “A reduzida aceitação social dos impostos, a doutrina da in-justiça e a incerteza derivam da falta de técnica das leis dos impostos e de legisladores sem visão de conjunto, que logo tributam rendimentos, fortunas e despesa, seja qual for a forma sob a qual estas se apresentem.”

Audição prévia e reclamação graciosa

Perante este cenário pouco animador, são apresentadas propostas legislativas, como é o caso da audição prévia e da reclamação graciosa. Assim, o contribuinte deveria po-der usar do seu direito a ser ouvido previamente, segundo

o regime actual. “Hipótese em que se lhe manteria aberta, posteriormente, a via da reclamação graciosa ou deduzir reclamação graciosa, ficando-lhe negado o direito de nova reclamação graciosa depois de praticado o acto.” Daqui podem dec orrer dois benefícios importantes, poupanças em tempo e dinheiro e uma maior diligência por parte da administração tributária.

Uma outra proposta legislativa passa pelo direito de mera ordenação social. Consideram os dois autores que existe uma duplicação inútil entre os procedimentos de liquidação de impostos e da fixação de coimas. Também com o gasto inútil de meios humanos e materiais. A solução proposta é “a automatização da fixação de coima, quando verificada infracção do contribuinte na liquidação do im-posto, embora o contribuinte pudesse recorrer autonoma-mente”. Os benefícios são evidentes, sobretudo a libertação de meios humanos e materiais da administração tributária.

Outra proposta legislativa prende-se com a arbitragem. “Existe o preconceito de que a jurisdição dos cidadãos/arbitragem é uma jurisdição de segunda ordem perante a jurisdição do Estado. E portanto menos fiável no que se refere à rigorosa aplicação da lei, correndo o risco de colocar em causa as relações tributárias criadas e definidas pela lei.”

A solução passa pela necessidade da arbitragem entrar pela porta aberta constituída pela aceitação da arbitragem em Direito Administrativo, mas só quanto aos direitos “disponíveis”. Naturalmente, haverá uma melhor resolu-ção dos litígios.

Simplificação da determinaçãoda matéria colectável

Os dois autores defendem a simplificação da determi-nação da matéria colectável. Isto porque os mecanismos

Necessidade de receita

A conjuntura actual não permite uma revisão do sistema fiscal, das suas técnicas e dos seus fundamentos, já que o Estado está necessitadode receita.

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Conjuntura actual não permite revisão do sistema fiscal

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de fixação da matéria colectável são complexos e a sua determinação com base na contabilidade conduz à impre-visibilidade e à injustiça na forma como se reparte a carga fiscal pelas empresas. As soluções passam pelo “regresso à tributação simplificada”, cujo regime foi revogado pelo último OE, e a criação para as PME de métodos de fi-xação de matéria colectável, que passem por indicadores técnico-científicos adequados a cada sector e a cada região do país.

Os benefícios são evidentes, caso se adopte esta via. “Simplificação, certeza e segurança na tributação das PME, que hoje não são dadas pela determinação com base na contabilidade; maior previsibilidade dos fluxos contri-butivos futuros para as empresas sobre o imposto a pagar e para o Estado sobre as receitas fiscais a receber; repartição da carga fiscal de modo mais justo e igual, por não estar dependente de uma declaração dificilmente controlável.”

Não menos importante é a questão das garantias em processo e procedimento. Neste âmbito, defende-se a dis-pensa de garantia quando não haja razão fundada para se considerar que o contribuinte vai ocultar ou dissipar os seus bens, bem como o restabelecimento da regra de que a garantia prestada não se manterá por mais dois anos e que o contribuinte – no caso de obter sucesso – será indem-nizado pelos seus custos. Dois outros factores merecem destaque: o restabelecimento da norma de que a paragem

do processo por mais de um ano por facto não imputável ao contribuinte leva a retomar a contagem da prescrição, sugerindo que tal prazo baixe para seis meses; e a possibi-lidade de emissão pela sociedade da declaração da sede do beneficiário estrangeiro de rendimentos.

Sobre esta matéria concluem os autores: “Há benefí-cios pela manutenção da capacidade económica do sujeito passivo, por uma maior celeridade e justiça nos processos e procedimentos e a partilha mais equitativa do ónus en-tre o contribuinte e a administração tributária.”

Por último, Jorge Neto e Diogo Leite Campos apon-tam o procedimento extrajudicial como um factor essen-cial ao nível da fiscalidade. Acontece que o procedimen-to extrajudicial de conciliação pode ser um instrumento muito útil para múltiplas empresas, contudo, as suas de-moras, os vários organismos do Estado que intervêm e a exigência de garantias – por vezes impossíveis de prestar – têm reduzido muito a sua eficácia.

São apresentadas propostas de solução: “Concentração do PEC num só organismo, diminuição das exigências de garantias e fixação de um prazo reduzido para a decisão final (três meses), gerindo-o em termos de recuperação das empresas viáveis.” Os benefícios retirados seriam a re-dução dos custos para o Estado, através de uma melhor coordenação interna, e o aumento da acessibilidade e da conveniência deste procedimento para as empresas.

No âmbito do Código do IRC, a matéria sobre rein-vestimento dos valores de realização relativos a parte de capital transmitidas a entidade com relações especiais suscitou várias dúvidas. A DGCI reconheceu a neces-sidade de apresentar esclarecimentos, o que fez por via de um ofício circulado. Está em causa o artigo 48º, nº 4, do CIRC.

Adianta o fisco que o regime do reinvestimento – re-lativo à diferença positiva entre as mais e menos-valias realizadas mediante a transmissão onerosa de partes de ca-pital – não é aplicável quando as respectivas aquisições e transmissões sejam efectuadas com entidades com as quais existam relações especiais, quer quando estejam em causa mais-valias provenientes de alienações efectuadas a enti-

dades relacionadas, quer nas situações em que o reinvesti-mento seja concretizado através da aquisição de partes de capital a essas entidades.

Há uma excepção relativamente às operações que se destinem à realização de capital social. Nesse caso, o rein-vestimento é considerado totalmente concretizado quan-do o valor das participações de capital assim realizadas não seja inferior ao valor de mercado daquelas transmissões. Admite-se, deste modo, a aplicação do benefício em cau-sa, ficando dependente de duas condições cumulativas, que a transmissão de partes de capital tenha como destino a realização de capital social e que o valor atribuído às partes de capital recebidas não seja inferior ao valor de mercado das partes de capital transmitidas.

DGCI esclarece reinvestimento de valores relativo a entidades com relações especiais

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No passado dia 28 de Junho, foi apresentado o livro “Regime Fiscal das Depreciações e Amortizações” (ver fi-gura da capa), da autoria de André Alpoim Vasconcelos e Cristina Pinto.

O livro, com 269 páginas, Ed. Areal Editores, tem prefácio do Dr. José Alberto Pinheiro Pinto e o posfácio do Dr. Joaquim Alexandre da Silva, sendo uma análise (anotado e comentado) do Decreto-Regulamentar n.º 25/2009, de 14 de Setembro.

Na nota de apresentação é referido:“Este livro vem preencher um espaço deixado vazio com a re-

volução contabilística e fiscal ocorrida em 2009. Concilia uma vertente prática e utilitária das matérias tratadas, dando respostas e soluções para as questões levantadas pelo dia a dia dos profissionais da contabilidade e da fiscali-dade, por um lado, contendo igualmente análises mais aprofundadas e complexas em relação a matérias que o merecem, por outro.

A diversidade e a pertinência dos casos práticos apresentados ao longo do livro tornam a sua consulta mais simples, completa e percetível.

É, por isso, uma ferramenta essencial para aqueles que pre-tendem um instrumento de trabalho, bem como para professores e alunos que procuram um manual de estudo sobre estas matérias.”.Em comentário ao livro o Professor Catedrático da

Universidade de Coimbra, Professor Doutor Diogo Leite

de Campos, referiu:“O encontro entre o Direito,

a Contabilidade e a Ges-tão é de todos os dias nos trabalhos de advogados, contabilistas, consultores e gestores. Assim, este li-vro, pela sua qualidade, será de consulta diária imprescindível por todos estes.”.No que se refere à es-

trutura do livro, destaca-mos o capítulo II – Co-mentários e anotações, no qual os autores transcrevem os artigos do Decreto Regulamentar e, além dos men-cionados comentários/anotações, apresentam exemplos práticos para facilitar a sua interpretação.

Desta forma, o livro constitui um importante auxiliar para a atividade dos profissionais de contabilidade nome-adamente os TOC e os ROC, bem como para os docentes e alunos do ensino superior.

A Dr.ª Cristina Pinto é colaboradora da C&E, pas-sando, a partir deste número, a ser “colaboradora per-manente”, assumindo, desta forma, um compromisso de elaboração de maior número de artigos para publi-cação.

Regime fiscal das depreciaçõese amortizações

No passado mês de Maio, a Direcção-Geral dos Impostos (DGCI), Direcção de Serviços do Imposto sobre o Ren-dimento das Pessoas Colectivas (DSIRPC), emitiu cinco Circulares, da n.º 6 à n.º 10, esclarecendo algumas dúvidas contabilísticas e fiscais (em sede de IRC) relativamente aos seguintes assuntos:

Circular n.º Assunto Artigos

6/2011 Activos Fixos Tangíveis Artigos 21.º, 24.º, 29.º, 34.º, 35.º, 45.º, 46.º e 64.º do CIRCArtigos 2.º, 3.º e 15.º do Decreto Regulamentar n.º 25/2009, de 14/09

7/2011Sistema de Normalização Contabilística

(SNC) – Regime transitórioArtigo 5.º do Decreto-Lei n.º 159/2009, de 13/07

Artigos 22.º, alínea f) do Decreto Regulamentar n.º 25/2009, de 14/098/2011 Activos não correntes detidos para venda Artigos 29.º, 35.º, 46.º e 48.º do Código do IRC9/2011 Gastos relativos a participação nos lucros Artigo 23.º, n.º 1, alínea d) e artigo 45.º, n.º 1, alínea m) do Código do IRC

10/2011 Provisão para garantias a clientes Artigo 39.º do Código do IRC

Neste número da C&E apresentamos dois textos sobre dois daqueles temas.

Circulares nos 6 a 10 da DGCI

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O Governo prevê aumentar as receitas fiscais so-bretudo por via da simplificação dos impostos e do alargamento da base tributável, da melhoria da efi-cácia da administração fiscal e do reforço no com-bate à economia informal e à fraude e evasão fiscais. De acordo com o Programa de Governo, é possível atingir as metas propostas através da implementação de várias medidas, ainda que estas não estejam ainda quantificadas.

No âmbito do Memorando de Entendimento (troi-ka) – do qual decorre o actual programa de Governo – haverá reduções das deduções fiscais e dos regimes especiais em sede de IRC, bem dos benefícios e das deduções em sede de IRS. Por outro lado, está prevista a alteração da tributação sobre o património (IMI e IMT), reduzindo as isenções aplicáveis às habitações próprias e actualizando o valor patrimonial matricial dos imóveis para efeitos de tributação. Quanto ao IVA, as medidas apontam para a redução de isenções em sede deste imposto e a transferência de categorias de bens e serviços das taxas de IVA reduzida e intermé-dia para taxas mais elevadas.

O novo Governo vai avançar também com medi-das que pretendem promover a competitividade das empresas. Desde logo, através de uma política de “des-valorização fiscal”. Trata-se de criar emprego e promo-ver o crescimento económico, tendo à cabeça a des-cida da Taxa Social Única, com o objectivo de baixar substancialmente os custos de produção das empresas, tendo em conta o impacto nas indústrias produtoras de bens e serviços transaccionáveis. A medida será compensada – de forma a garantir a neutralidade do ponto de vista do défice orçamental – através de cortes adicionais de despesa pública e medidas na área dos impostos indirectos.

Mas vai mais longe no que toca à referida competiti-vidade das empresas. Em perspectiva está o reforço das medidas de reembolso mais rápido do IVA às empresas e a criação de um regime de caixa, no âmbito deste im-posto, para as entidades com um volume de negócios reduzido, assim como a ponderação de um regime de

caixa para todas as operações em que a contraparte seja uma entidade pública.

De igual modo, o programa refere a revisão do sis-tema fiscal – com ênfase no IRS e no IRC – promo-vendo a sua simplificação e apontando para a redução do número de escalões, das deduções e isenções, a mo-bilidade social, a internacionalização, a competitivi-dade e tornando-o sensível à dimensão do agregado familiar.

Reforço ao combateà fraude e à evasão fiscais

O Governo também se compromete a elaborar um plano estratégico abrangente para o período de 2012 a 2014 no que se refere ao combate à fraude e à eva-são fiscais. Deverá verificar-se um aumento dos recur-sos destinados à inspecção na administração tributária em, pelo menos, 30% do total dos respectivos trabalha-dores. Muito importante será a criação de um quadro penas e processual mais exigente para os crimes fiscais mais graves.

O Executivo compromete-se ainda a avançar com uma reforma da justiça tributária, de forma a reduzir as pendências judiciais. Neste caso, haverá lugar a uma revisão do funcionamento dos tribunais fiscais, de for-ma a facilitar o julgamento mais célere dos litígios fis-cais. Uma outra medida é a aplicação de juros sobre o total dos montantes em dívida durante a totalidade do procedimento judicial, utilizando uma taxa de juro su-perior à corrente no mercado e impondo um juro legal especial quando se verificar o não cumprimento de uma decisão do tribunal judicial por parte da administração fiscal. Está prevista, igualmente, a implementação efec-tiva da nova lei de arbitragem fiscal.

Para aumentar as receitas fiscais

Governo quer simplificar impostose reforçar combate à fraude fiscal

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Arbitragem fiscal

Está prevista, igualmente, a implementação efectiva da nova lei de arbitragem fiscal

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A Comissão Europeia apresentou a sua proposta para reformular regras ultrapassadas sobre a tributação dos produtos energéticos no espaço comunitário. Estas regras visam reestruturar a forma como os produtos energéticos são tributados, de modo a acabar com os desequilíbrios actuais a ter em consideração as emissões de dióxido de carbono e o teor de energia.

Os impostos sobre a energia já existentes seriam dividi-dos em duas componentes, que, em conjunto, iriam deter-minar a taxa global a que o produto é tributado. A Comis-são adianta que pretende promover a eficiência energética e o consumo de produtos menos agressivos e respeitadores do ambiente. Por outro lado, trata-se de evitar distorções da concorrência no mercado único. Um documento com uma tabela define as taxas mínimas de tributação propos-tas e compara-as com os actuais níveis de tributação. Já a apresentação explica como é que as taxas mínimas foram calculadas e como podem ser transpostas para as unidades utilizadas na Directiva da Tributação da Energia.

A tributação autónoma sobre encargos com viaturas ligeiras de passageiros e despesas de representação incide sobre a despesa, constituindo cada acto de despesa um facto tributário autónomo a que o contribuinte fica sujei-to, venha ou não a ter rendimento tributável em IRC, no fim do período respectivo.

Esta a interpretação dada por um acórdão do Supre-mo Tribunal Administrativo, no âmbito da retroactivi-dade da lei fiscal. Sendo assim, independentemente de a tributação autónoma ser devida com referência a um determinado período que coincide com o ano civil, a cada acto de despesa deve ser aplicada a taxa em vigor na data sua realização. Deste modo, sofre de inconstitu-cionalidade – por violação do princípio da não retroac-

tividade da lei fiscal consagrado no artigo 103, nº 3, da Constituição – a norma do artigo 5º da Lei nº 64/2008, de 5 de Dezembro.

Aquela determinou que o agravamento da taxa de 5% para 10% sobre despesas de representação e encargos com viaturas ligeiras de passageiros, resultante da nova redac-ção dada ao artigo 81º, nº 3, alínea a), do Código do IRC, produzisse efeitos a partir de Janeiro de 2008, uma vez que o facto tributário que a lei nova pretende regular já tinha produzido todos os seus efeitos ao abrigo da lei an-tiga, relativamente a despesas já realizadas. As novas taxas, por isso, apenas podem ser aplicada aos actos de despesa posteriores à entrada em vigor da alteração do referido artº 81º, nº 3, alínea a), do CIRC.

Comissão reformula tributaçãodos produtos energéticos

STA divulga acórdão sobre retroactividade da lei fiscal

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Risk Management,o novo paradigma da governação empresarial e de auditoria

Introdução

Numa era tão conturbada como a que vivemos ac-tualmente, onde escândalos financeiros surgem todos os dias, fruto de fraudes mais ou menos sofisticadas, a temática do Risk Management, como componente es-sencial da moderna informação financeira e de gestão, num contexto dos princípios e práticas de desenvolvi-mento sustentável, está a ganhar cada vez mais impor-tância, quer no contexto organizacional (numa óptica de gestão de negócio, onde existe ainda resistência dos gestores para abordarem e divulgarem elementos sobre esta matéria) quer no contexto contabilístico (a que não têm sido alheias as práticas contabilísticas mais ou menos conservadoras), quer ainda na relutância dos auditores em se envolverem na análise e na avaliação dos riscos de negócio. Torna-se assim primordial o es-tudo, a análise, a tomada de consciência cada vez mais tempestiva e permanente do fenómeno do controlo do risco negócio das entidades, em todas as suas vertentes e contextos. O Risk Management ganhou assim uma importância nunca antes sentida, exigindo níveis cada vez mais rigorosos de controlo e informação, numa era de evolução permanente e plenamente global, absoluta-mente acelerada e plena de incerteza.

Este trabalho tem por objectivo uma breve aborda-gem ao conceito de Risk Management (Risco de Negó-cio) e aos Novos desafios da Governação Empresarial, estabelecer uma relação entre a gestão de riscos em am-biente empresarial e a função de Auditoria, apresentan-do uma possibilidade prática de abordagem por parte dos auditores. Sendo ainda uma matéria em desenvol-vimento, pretende-se com este trabalho mostrar que, muito mais do que uma ameaça, este novo paradigma é um desafio e uma oportunidade quer para gestores e empresários, quer para os profissionais de controlo, supervisão e regulação.

1. Risk Management, o novo paradigmada governação empresarial

Risk Management, é um processo global, estrutura-do e sistematizado, de escrutínio, avaliação, controlo e informação dos riscos de negócio, tanto a nível estraté-gico como operacional, que constitui um valioso ins-trumento para apoiar e optimizar o processo de decisão e que representa um modelo inovador de boas práticas de gestão.

Ou, dito de uma forma mais simples, é o processo sistemático para identificar, medir, gerir e monitorizar os riscos existentes na empresa.

Podemos ainda referir que o âmbito do Risk Management

FÁTIMA AMORIM*

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é alargado a todo o contexto interno e externo onde se insere a entidade, e que deverá levar em linha de conta as seguintes categorias de riscos, podendo e devendo ser construídas matrizes identificativas dos:

• Riscos Externos• Riscos do Mercado• Riscos Isolados• Riscos Contratuais• Riscos em Instrumentos Financeiros• Riscos em Processos Subsidiários• Riscos no Negócio Base, podendo neste caso efec-

tuar-se uma alocação dos riscos por natureza:- Riscos relacionados com a estratégia- Riscos associados à posição financeira da enti-

dade (incluindo os relacionados com relatórios financeiros);

- Riscos relacionados com as tecnologias de in-formação utilizadas na entidade;

- Riscos operacionais, focados na integridade e consistência dos processos que suportam o ne-gócio;

- Riscos de conformidade, associados ao cum-primento de normas e regulamentos, deveres fiscais e para fiscais, normas e práticas ambien-tais e laborais;

Efectuando assim uma adequada, rigorosa e quantifi-cada identificação dos riscos de:

• Gestão• Aquisições• Produção, Tecnologias, Investigação• Vendas, Distribuição• Recursos Humanos, Formação• Finanças, Contabilidade• Informática• Enquadramento Legal e FiscalCabe assim às empresas utilizar este “novo” para-

digma de gestão e controlo (já utilizado nas grandes empresas e grupos económicos, nacionais e multinacio-nais), optimizando os seus próprios processos e aos pro-fissionais da contabilidade e auditoria e às respectivas organizações profissionais (quanto a mim com desta-que para a OROC) a importante missão de sensibilizar a comunidade empresarial e de desenvolver as compe-tências técnicas imprescindíveis ao suporte do processo operacional da gestão, relato financeiro e auditoria dos riscos de negócio.

Sendo inegável que constitui um grande desafio à gestão e à supervisão, num contexto de alguma pertur-

bação económica e financeira, é também incontestável e evidente uma panóplia de vantagens:

• Alinhar apetência para o risco e estratégia – Ape-tência para o risco é o grau de risco, num conceito alargado, que uma companhia ou outra entidade está disposta a aceitar na prossecução dos seus ob-jectivos. A gestão toma em consideração a apetên-cia da entidade para o risco, em primeiro lugar ao avaliar as estratégias alternativas, depois ao definir objectivos alinhados com a estratégia seleccionada e ao desenvolver mecanismos para gerir os riscos relacionados.

• Ligar crescimento, risco e retorno – As entidades aceitam o risco como parte da criação e preservação de valor, e esperam retorno proporcionado ao risco. O Risk Management empresarial fornece e intensi-fica a capacidade para identificar e avaliar riscos, e estabelece níveis aceitáveis de risco relativo aos ob-jectivos de crescimento e retorno.

• Intensificar as decisões de resposta ao risco – O Risk Management empresarial proporciona o rigor para identificar e seleccionar entre alternativas de resposta ao risco – evitar, reduzir, partilhar e acei-tar o risco. O Risk Management empresarial pro-porciona metodologias e técnicas para tomar estas decisões.

• Minimizar surpresas operacionais e percas – As entidades intensificam as capacidades para identi-ficar eventos potenciais, avaliar riscos e estabelecer respostas, reduzindo desta forma a ocorrência de sur-presas e dos custos ou percas com elas relacionados.

• Identificar e gerir riscos transversais – Qualquer entidade enfrenta uma miríade de riscos afectan-do diversas partes da sua organização. A gestão não necessita apenas de gerir riscos individualizados, mas também de compreender os impactes inter-relacionados.

• Proporcionar respostas integradas a riscos múl-tiplos – Os processos de negócio acarretam muitos riscos inerentes, e o Risk Management empresarial proporciona soluções integradas para gerir os ris-cos.

Paradigma de gestãoCabe assim às empresas utilizar este “novo” paradigma de gestão e controlo (já utilizado nas grandes empresas e grupos económicos, nacionais e multinacionais).

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• Aproveitar oportunidades – A gestão considera eventos potenciais, mais do que apenas riscos, e, considerando um âmbito total de eventos, ganha uma compreensão de como certos eventos repre-sentam oportunidades.

• Racionalizar o capital – Informação mais robusta sobre o risco total de uma entidade permite à ges-tão avaliar mais eficazmente as necessidades globais e melhorar a alocação de capital

A gestão do risco do negócio é um tema que tem suscitado uma atenção crescente quer no contexto organizacional, quer no contexto ocupacional dos profissionais da contabilidade e da auditoria (inter-na e externa). Cada vez mais, quer Auditores Internos quer Auditores Externos, direccionam e desenvolvem as suas metodologias de trabalho para o mapeamento (identificação) de riscos e a sua correlação com o Re-lato Financeiro.

2. A auditoria dos riscos de negócio

Os riscos não devem ser receados, mas antes enfren-tados, identificados, supervisionados e monitorizados. A eficiente gestão de riscos é cada vez mais uma vantagem competitiva e uma importante ferramenta de gestão a ser utilizada, pelo que a auditoria independente a esse processo é também em si própria uma mais-valia no sen-tido de uma credibilização “pública” e interna à própria organização.

A Auditoria deve basear-se na identificação do ris-co, estendendo e melhorando o modelo de avaliação, alterando a própria perspectiva da auditoria, encaran-do o processo de negócio como algo absolutamente intrínseco ao sistema de controlo. É o paradigma da estratégia não só de curto prazo, mas também de mé-dio e longo prazo, uma auditoria centrada sobre o Risk Management (as possibilidades de eventos futuros) acrescentará mais valor, quer ao auditor quer à entida-de auditada, do que uma auditoria mais tradicional e centrada nos controlos e factos do passado reconheci-dos pela contabilidade.

As normas e práticas de auditoria aos riscos de negó-cio centram-se em dois aspectos fundamentais: por um lado, numa maior exigência na compreensão da entidade e todo o seu contexto e, por outro, na emissão de pare-cer sobre a concordância dos relatórios de gestão com as contas do exercício, designadamente em termos de fiabilidade na divulgação da evolução dos negócios, do

desempenho e dos principais riscos e incertezas com que a entidade se defronta.

A fundamental credibilização do processo de Risk Management implica a sua validação e consequente emis-são de uma opinião sobre o respectivo relatório, por au-ditores independentes.

A. Procedimentos e orientações a considerarpelo auditor na avaliação e assurancedo processo de Risk Management

Considerando as especificidades desta área, o auditor deve efectuar uma abordagem cruzada para cada área do respectivo processo (de risco de negócio) com os sistemas de planeamento e controlo de gestão inter-relacionados, validando e mensurando o impacto nos relatórios produ-zidos pela entidade a auditar. Deve assim levar em linha de conta:

i. A cultura de risco da empresa e os conceitos fundamentais de Risk Management, averiguando o grau e tipo de apetência da entidade para o risco, verificar que tipos de estratégia de risco predomi-nam e qual a relação que existe entre as condições concretas em que são aplicadas e as condições te-óricas que lhe corresponderiam, indagar sobre os fundamentos que levaram à implementação de um processo de Risk Management, se decorreu de pres-sões externas ou de interesse genuíno dos gestores de topo, aferir se a implementação do processo de Risk Management se consubstanciou em aspectos fundamentais, tais como: criação de sistemas de controlo interno do risco de negócio, adequados fluxos de informação e relato entre os órgãos de gestão e as unidades operacionais, consolidação entre práticas de auditoria interna e de gestão do risco, incremento da cultura empresarial de consci-ência de risco, etc.

ii. O âmbito do processo de Risk Management, corroborando se o processo integra os princípios e as práticas globais da gestão empresarial e toda a estrutura organizacional, incluindo profissionais especializados, assim como instrumentos específi-cos. Deve também averiguar se o Risk Management actua transversalmente a todos os processos da en-tidade, verificando a existência de uma matriz de enquadramento do risco por categorias, com graus de amplitude alargados que permitam a inclusão das múltiplas realidades existentes em cada empresa ou grupo empresarial.

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iii. O enquadramento sistémico do Risk Mana-gement, através da verificação do sistema de pla-neamento estratégico, enquanto parte integrante do conceito de gestão estratégica e o cumprimen-to das regras fundamentais, desde a aceitação efectiva dos conceitos, passando pela adequação dos sistemas e instrumentos de trabalho, até à institucionalização de um órgão dinamizador. É importante também verificar a existência, efec-tividade, eficácia e eficiência dos sistemas de contabilidade de gestão, sistemas de informação financeira e não financeira e sistemas de controlo interno, aferindo do rigor da sua metodologia e funcionalidade. Só assim se poderá concluir pela existência substancial de instrumentos, metodo-logias e monitorização dos instrumentos de Risk Management e que em articulação com a conta-bilidade de gestão e controlo internos, impulsio-narão a existência efectiva e eficaz de um proces-so sistemático de gestão, avaliação e informação dos riscos do negócio.

iv. A implementação do Risk Management, nes-ta fase a auditoria verificará se na preparação do processo de Risk Management foram cumpridas as fases de informação e preparação dos gestores de topo, se existem especialistas internos ou externos, em gestão de riscos, se foi definida a calendarização da implementação do plano e se foi elaborado um “Manual de Risk Management”.

É também nesta fase que se analisam as acções de informação e motivação para o empenho da gene-ralidade dos colaboradores, as acções de formação dos quadros intermédios e superiores, o desenvol-vimento do projecto experimental e seus primeiros resultados e a implementação global da monitori-zação e ajustes sistemáticos.� v. A organização do processo de Risk Manage-

ment, cabe ao órgão de gestão a implementação, liderança e implementação do processo, assumindo as decisões relevantes e relatando as conclusões aos stakeholders da informação.

vi. O escrutínio dos Riscos do Negócio, verifican-do o exercício efectivo da responsabilidade de ob-servação, tempestiva e recorrente dos riscos e em todas as fases do processo de RM, assim como o escrutínio permanente de indícios do aparecimento de novos riscos. Torna-se muito relevante nesta fase uma perfeita articulação entre planeamento e aná-

lise estratégica, contabilidade de gestão e sistema de controlo interno.

vii. Medidas de gestão e controlo dos riscos do negócio, sendo fundamental validar a efectividade e adequada evidência de que todos os mecanismos de Risk Management estão a funcionar e de forma sistemática, designadamente no que respeita a:

- Ambiente de controlo;- Processo de avaliação do risco;- Sistemas de informação;- Actividade de controlo;- Monitorização de controlos.

É também fundamental verificar a evidência de um planeamento estratégico e de medidas de combate e controlo de riscos, elaborado de forma global e integrada e articulando de forma adequada quer a contabilidade e controlo de gestão quer o sistema de controlo interno.

viii. Graduação dos Riscos do Negócio, aferindo a adequada evidência de que os riscos relevantes foram considerados na determinação do risco bru-to e o suporte da graduação desses riscos quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos. Verificar se os cálculos probabilísticos e respectivo impacto financeiro estão adequadamente suporta-dos. Validar a matriz de parametrização do risco e a graduação do risco residual.

ix. Quantificação dos riscos do negócio, analisan-do a razoabilidade da aplicação de métodos empí-ricos de quantificação de riscos, da utilização de estimativas e hipóteses. Verificar a evidência de que os métodos estatístico-matemáticos utilizados são apropriados e foram correctamente aplicados (se necessário deve recorrer-se à utilização de peritos independentes).

x. Monitorização do Riscos do Negócio, verifican-do a existência de documentos específicos e por es-crito, divulgadores dos princípios e metodologias aplicadas e das conclusões retiradas, assim como das alterações existentes quer em termos de âmbito quer em termos de efeitos. Comprovar a evidência de razoabilidade e credibilidade da monitorização

Combate à fraude(…) será uma das principais ferramentasnão só de detecção mas e principalmentede combate à fraude.

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de riscos, da postura proactiva e correctiva do siste-ma de Risk Management.

xi. Relato de Risk Management, validando a exis-tência e elaboração do mapa de relato de Risk Ma-nagement, assim como efectuar a validação de todas as suas componentes. Aferir, corroborar e confirmar todos os elementos que suportam uma informação completa, relevante, clara, transparente, credível e tempestiva, sobre a avaliação e gestão dos riscos de negócio.

B. Relatórios de assurance do processo de Risk Management:

De acordo com as normas (de auditoria), designa-damente a ISAE 3000 [R], podem efectuar-se dois tipos de assurance, estabelecendo a forma como, em cada um dos trabalhos devem ser expressas as conclusões e definindo os diversos aspectos a levar em linha de conta na preparação de cada um destes dois tipos de relatórios:

- Reasonable assurance engagement – Relatório de Reasonable Assurance, onde é dada uma opi-nião pela positiva, e

- Limited assurance engagement – Relatório de Limited Assurance, onde é dada uma opinião pela negativa.

3. REFLEXÃO

Na sequência do efeito conjugado entre a evolução das normas de auditoria (especialmente as internacionais) para uma maior atenção às estratégias empresariais e de negócio, com as características próprias da matéria objecto de todo o processo de Risk Management e com o ambiente actual de menor confiança nos mercados financeiros e no meio social e político (que exige maior supervisão, regula-ção e monitorização), estarão reunidas todas as condições para que se implemente de forma plena e generalizada a auditoria dos riscos do negócio e se consubstancie o salto qualitativo na credibilização organizacional.

4. CONCLUSÃO

Como corolário deste reduzido trabalho sobre uma matéria tão vasta, rica e tão global, e ainda em fase de maturação, não posso deixar de referir que o reconhe-cimento do processo de Risk Management, como ins-trumento credibilizador da informação de gestão, será

uma das principais ferramentas não só de detecção mas e principalmente de controlo e combate à fraude. Sen-do um processo que só sobrevive e se torna eficaz com a articulação permanente e tempestiva com o controlo de gestão e com o sistema de controlo interno, tendo por base uma política estratégica de controlo do próprio órgão de gestão assente em códigos de ética, deontolo-gia e conduta pessoal e profissional, o processo de Risk Management proporcionará uma informação clara, plena e estruturada, prospectiva e técnica e documentalmente suportada, logo passível de validação por auditores in-dependentes e órgãos de supervisão e regulação. É, pois, um desafio para académicos, gestores e profissionais de contabilidade e auditoria. Todos teremos que agir de for-ma concertada e tempestiva, a montante e a jusante em todos os sectores de actividade, a título individual e or-ganizacional, estatal e privado, na substância e na forma. Todos temos que ter consciência de que o todo terá que ser necessariamente superior à soma das partes.

BIBLIOGRAFIA

BEJA, Rui. (2004) - “Risk Management – Gestão, Re-lato e Auditoria dos Riscos do Negócio”, Áreas Editora.

Ferma, (2003) – “Norma de Gestão de Riscos”Acetatos das aulas da Pós Graduação em Gestão da

Fraude – 2.ª edição

Artigos de Opinião:- SISTEMAS DE GESTÃO DE RISCOS (Risk

Management), por Pedro Aleixo Dias e Luís Jorge Monteverde

- Risk Management - Um eficaz instrumento de ges-tão, relato e auditoria dos riscos de negócio, no contexto de “Basileia II”, por Rui Beja

- A Importância da Gestão de Riscos nos Processos de Auditoria, por PWC, Paulo M. Vanca e António Cocurullo

Sites visitados:http://www.ipai.pt/fotos/gca/GRC_Deloitte.pdfhttp://www.bdo.pt/docs/publicacoes/ArtigoGestaoRis-coIII_20061215.pdfhttp://www.infocontab.com.pt/download/revInfocon-tab/2006/11/Contributos_APPCII.pdfhttp://www.oroc.pt/revista/detalhe_artigo.php?id=41

*Revisor Oficial de Contas, Licenciada em Economiapela Universidade de Coimbra

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A longevidade das empresase a gestão da mudança

«Ao longo da última década, observei o esforço de mais de cem empresas no sentido de se transformarem em competidores mais capazes. ( ) Mas em quase todos os casos, o objectivo básico era o mesmo: empreender mudanças fundamentais na gestão da empresa, a fim de enfrentarem um ambiente de mercado mais desafiador».

John Kotter

A turbulência nos mercados financeiros introduziu fac-tores de incerteza adicionais relativamente à recuperação da economia mundial.

Temos assistido a uma deterioração das condições nos mercados financeiros, com impacto nas condições de finan-ciamento da economia.

Diversos governos viram-se obrigados a mudar de uma política orçamental expansionista, para uma política de consolidação orçamental, com efeitos ao nível da procura.

Tais aspectos estão a afectar o funcionamento de todas as organizações. Como consequência, ajustamentos nas es-tratégias empresariais estão a ser feitos. Nalguns casos com significativo atraso.

Contudo, se as organizações pudes sem “ver” antecipa-damente as mudanças externas, e gerir as mudanças inter-nas de acordo com essa antecipação, seria possível evitar problemas que colocam em risco a sobrevivência de muitas delas e dessa forma aumentar a sua longevidade.

Arie de Geus, antigo responsável de planeamen to na Shell, numa conferência há alguns anos, formulou a seguin-te questão:

Das empresas que estão hoje em funcionamento, quantas terão mais de 100 anos?

Referiu, então, que um gabinete de estudos da Shell rea-lizara um trabalho de pesquisa para encontrar uma resposta a esta pergunta.

Apenas encontraram 40 empresas. Entre elas, encontra-vam-se a Dupont, a Kodak, e algumas empresas japonesas cujas origens remontavam aos séculos XVII e XVIII.

Mas será que no século XIX existiam em todo o mundo, poucas empresas, para que, 100 anos de-pois, apenas 40 dessas empresas ainda existissem?

Não. No século XIX, existiam em todo o mundo deze-nas de milhares de empresas.

Porque que razão então, apenas 40 atingiram a ida-de de 100 anos?

O grupo de estudo concluiu que as empresas que sobre-viveram tinham uma grande capacidade de adaptação às altera ções nas condições externas, fossem elas sociais, eco-nómicas, políticas ou ao nível das neces sidades dos clientes.

Mudanças no mundo exterior das empresas, reque rem mudanças na sua estrutura interna. Caso esses reajustamen-tos não ocorram, irão surgir desequilíbrios, com todos os inconvenientes que daí possam advir.

A história de cada uma dessas empresas mostra que elas souberam ler atentamente o que se estava a passar no con-texto externo. Diagnosticaram pois correctamente a situa-ção da empresa e procederam às mudanças que tal situação exigia. Não é fácil, mas os que o conseguem têm vida mais longa, como pudemos verificar.

Por exemplo: - A Dupont de NemoursComeçou por ser um fabricante de pólvora, depois, na dé-

cada de 30, tornou-se no maior accionista da General Motors. Actualmente, está sobretudo nas áreas dos químicos.

- A japonesa MitsuiO seu funda dor abriu uma loja de tecidos em Tóquio

em 1673. Mais tarde, esteve no negócio de câmbios. Poste-riormente, no século XIX, transformou-se num banco.

O que é importante reter é que estas organizações sou-beram adaptar-se às necessidades de mudança.

Noutras fontes de informação, poderemos chegar a con-clusões análogas. Vejamos:

Se lhe pedirmos para indicar o nome grandes empre-sas, sólidas, de que nomes se lembraria?

Possivelmente indicaria nomes como: - Coca-Cola- General Electric- …. No entanto, essas grandes organizações também já

sentiram a necessidade de mudança e adaptação às alterações de mercado, por vezes radicais. E se não o fizessem, o que lhes teria acontecido?

As estatísticas seguintes talvez lhe possam responder a esta questão.

AGOSTINHO MANUEL DOS SANTOS COSTA*

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Por exemplo:Sabem quantas empresa foram criadas nas 2 primei-

ras décadas do século XX, nos EUA?Cerca de duas centenas.Sabem quantas sobreviveram?Apenas 3. A GM, a Ford e a Chrysler. A revista “Fortune” costuma publicar o ranking das

maiores empresas. Sabem quantas das empresas que constavam no ranking das 500 maiores do mundo em 1970 já tinham desaparecido em 1983?

Um terço dessas empresas, segundo a lista da revista “Fortune”. Actualmente o nº dessas empresas ainda em funcionamento é de menos de 40%.

Outra informação da revista “Fortune” diz-nos o se-guinte: das 500 maiores empresas que estavam no “ranking” das maiores em 1955, apenas 13 permanecem nesse grupo.

O que nos indicam esses nºs? Dificuldades de adaptações às mudanças.O ritmo a que as mudanças se processam é hoje mais

rápido que no passado. A dificuldade em adaptação às mudanças externas pode-

rá ser indiciadora de graves problemas para muitas organi-zações. É fundamental cada organização ter uma avaliação periódica da situação da empresa. Uma espécie dum check-up geral. Sem um diagnóstico correcto, a terapia utilizada só por mera coincidência pode actuar sobre o problema.

Depois dum diagnóstico correcto, os possíveis interve-nientes na aplicação das medidas têm que compreender a importância da aplicação das soluções, para a resolução do problema. Só dessa forma as equipas poderão dar o seu má-ximo envolvimento.

Sabemos que uma parte importante da força das orga-nizações é o resultado da competência e da motivação das suas equipas.

Normalmente, as empresas levam muito tempo a proceder às mudanças necessárias: Porquê?

Possivelmente estão demasiado envolvidas na resolução dos problemas do dia-a-dia. Numa grande parte das situa-ções, as medidas tomadas não combatem as causas que ori-ginam os problemas da Organização. São uma espécie de analgésico que atenua temporariamente o problema.

Acontece também que, por vezes, os factores que le-varam ao sucesso de hoje podem provocar o fracasso de amanhã. Sempre assim procedemos e nunca tivemos pro-blemas, porque havemos agora de mudar? Este é um dos argumentos muitas vezes utilizados. O que resultou no pas-sado, pode não resultar no futuro. Porquê?

Contudo, se o mercado mudou, se a concorrência mu-

dou, se toda a envolvente externa mudou, é lógico que te-mos que nos adaptar às mudanças.

Como dizia o filósofo Romano Cícero, “a única coisa que permanece constante é a mudança”. O mundo encontra-se em constante mudança. Todos os dias, as empresas enfren-tam novos desafios. Precisamos de ter uma empresa atenta ao que se passa à sua volta e capaz de reagir rapidamente.

Mas, se o seu comportamento não for esse, o que poderá ocorrer?

Alguns exemplos poderão ajudar a melhor compreen-der as consequências de tal procedimento. Vejamos então:

O caso CanonDominava o mercado das lentes reflex até aparecer um

concorrente que invadiu o mercado, com um sistema de foco automático.

Quais as consequências que daí advieram?Inicialmente, a Canon, confiante no seu domínio nesta

área de mercado, não se preocupou com a concorrência. A sua arrogância impediu-a de ler a ameaça de novos

concorrentes, que apresentaram algumas inovações. O re-sultado foi uma queda abrupta da sua quota de mercado.

Só então percebeu que teria que agir, para, em primeiro lugar, não permitir que a situação se agravasse, e em segui-da, tentar recuperar a sua posição de liderança de mercado.

Foram pequenas as perdas que daí resultaram?Foram enormes.O caso FordNo início do século passado, Henry Ford foi o princi-

pal responsável pela criação dum automóvel barato capaz de tornar a sua aquisição ao alcance da bolsa duma grande parte da população.

Dessa forma conseguiu formar um mercado automóvel de massas. Esta estratégia originou uma produção em sé-rie, dum produto padronizado, possibilitando obtê-lo a um custo baixo, capaz de o tornar acessível a uma quantidade de pessoas muito mais ampla do que o público-alvo que até essa data constituía o mercado automóvel.

Precursor de tal estratégia, Henry Ford acabou por ga-nhar a parte de leão do merca do.

Mas será que o mercado, a partir dessa altura, se manteve inalterado?

Logicamente, não. As mudanças do mercado continua-ram e a um ritmo mais elevado do que anteriormente.

O que aconteceu então com a Ford?Ford achou que a sua estratégia era tão boa que mudar

fosse o que fosse seria um erro. Os resultados até então conseguidos pareciam confirmar a sua opinião. Mudar para quê? O sucesso do passado era a “melhor prova”.

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A sua estratégia de produzir um só modelo, em gran-des quantidades (o modelo T, em preto), foi conservada sem qualquer alteração, durante bastante tempo, como se todas as variáveis externas, existentes quando esta es-tratégia foi lançada, se tivessem mantido inalteradas (por exemplo: os gostos dos clientes, o seu poder de compra, a concorrência).

Aconteceu então que a General Motors, sua concor-rente, passou a oferecer maior possibilidade de escolha aos clientes do sector automóvel. Mas fez ainda mais do que isso. O cliente passou a poder dispor de um carro de outra cor que não o preto e ter a possibilidade de pagar de acordo com modalidades de financiamento preparadas, para tornar o pagamento da viatura em suaves prestações.

O poder de compra do mercado potencial tinha au-mentado. Havia uma componente de massa assalariada que tinha já uma fonte de rendimento, que lhes possibilitava comprar o seu carro, ou, num período posterior, trocar de carro, mas por um tipo de carro diferente. E como havia a possibilidade de pagar em suaves prestações!

Tais aspectos possibilitaram que a GM, em pouco tem-po ultrapassasse a Ford. E, nos anos cinquenta, a GM tinha o triplo do mercado Ford.

Contudo, a GM acabou por cair no mesmo erro, que a Ford tinha cometido anteriormente. Por exemplo, a GM ficou com uma estratégia de 1970 inalterada durante tempo mais que suficiente, para perder de novo a liderança para a Ford.

Para equacionarmos o futuro, temos de estar atentos a tudo o que se passa à nossa volta. As empresas precisam de estar atentas e averiguar, …:

De onde vem o perigo para o meu negócio?Como me vou preparar para o enfrentar?O exemplo da Kodak:O que se passou com a Kodak?A Kodak teve durante muito tempo o controlo signi-

ficativo do mercado da fotografia. Mas, em determinado momento, a sua hegemonia foi posta em causa pela sua concorrente Fuji. Como todas as empresas que num deter-minado momento têm uma posição dominante do merca-do, a atitude da Kodak foi uma reacção lenta. Mas o princi-pal responsável, Colby Chandler, depressa se apercebeu que tinha que ser rápido a reagir às mudanças que estavam a ocorrer no seu mercado, pois, caso contrário, poderia correr o risco de vir a perder uma significativa quota de mercado. Assim, Chandler reorganizou a empresa, concentrou-se no feedback fornecido pelos clientes e procurou introduzir no produto, modificações que fossem ao encontro das necessi-

dades dos clientes. Só em 1986 a Kodak apresentou mais de uma centena de modificações para tal efeito.

A sua estratégia empresarial mudou, em virtude dum melhor conhecimento das ameaças. A principal razão para isso tem a ver com as mudanças externas e as suas conse-quências para o futuro da empresa.

Mas o que acontece numa grande parte das nossas organizações?

É comum muitas organizações adiarem a tomada de decisões quando ocorrem mudanças externas que têm im-plicações na sua actividade. Todos os peritos são unânimes em dizer que os gestores reagem demasiado tarde quando a crise lhes toca à porta. Demasiado tarde e demasiado len-tamente. Tal facto poder-se-á constatar pelos estudos feitos sobre as análises de empresas que entraram em falência, os quais mostram que a maior parte de tais empresas já conhe-ciam as suas dificuldades financeiras há 3 a 5 anos.

Portanto, reagir quando o resulta do de exploração fica negativo é reagir tarde de mais.

Por vezes opta-se por soluções de facilidade, em vez de atacar o problema. Estas apenas poderão ajudar temporaria-mente, criando uma falsa ilusão de resolução do problema.

Como facilmente compreendemos, em situações de de-sespero, as soluções encontradas só por mero acaso serão as melhores, o que com grande probabilidade coloca a empre-sa em níveis de desempenho ineficientes.

Como tal, essas crises repetem-se. As causas per-manecem lá. A todo o momento originam nova crise. O que fazer então?

Os líderes das organizações precisam ter um conheci-mento o mais completo possível das contingências que po-derão ser obstáculos ao percurso por si idealizado, a fim de proceder previamente aos ajustamentos que se justifiquem, quer ao nível de novos produtos ou serviços, quer ao nível de introdução de novos processos com vista a melhorar o desempenho da sua organização, quer ao nível do reforço de competências das suas equipas, …

São eles que devem criar o amanhã novo «ideal» para as suas empresas. Os líderes, ao criarem um novo amanhã para a sua instituição, comunicando-o depois às suas equipas, de forma que consigam estimular o seu envolvimento, para o alcançarem, estão a criar uma das características comuns nos empreendimentos bem sucedidos.

É então fundamental: fazer um diagnóstico realista (detectar as causas da situação actual) e criativo (que pro-cure soluções para os problemas) e actuar.”

*Licenciado em Economia pela FEP, Economista e Consultor de Gestão.

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Silva Lopes defendemaior controlo orçamentalsobre as entidades públicas

Para ajustar as finanças públicas é necessário mui-to mais do que a fixação de metas para os cortes das despesas e o aumento das receitas. Para Silva Lopes, é fundamental atacar as deficiências e falhas do controlo orçamental sobre todas as entidades públicas. Isto tendo como base a Nova Lei de Enquadramento Orçamental e as condições do acordo com a “troika”. Esta perspectiva ficou clara no seminário organizado pela Associação Fis-cal Portuguesa (AFP) sob o tema “A crise económica e o controlo das finanças públicas”.

Silva Lopes chama a atenção para a necessidade de definir com a maior amplidão possível o perímetro da consolidação das contas públicas, as quais devem abran-ger todas as entidades públicas e as parcerias público-privadas (PPP). E definir de forma abrangente o que é “entidade pública”, de modo a incluir empresas públi-cas, regionais ou municipais e outras entidades, cujas receitas dependam substancialmente de financiamentos do Estado.

O economista defende a reforma do plano de contabilidade (conta de caixa e conta de gestão, in-cluindo compromissos já assumidos mas não pagos e provisões), orçamentos plurianuais a quatro anos (suficientemente detalhados) e apresentação de orça-mentos consolidados para o conjunto das administra-ções públicas e das entidades abrangidas nas contas públicas (incluindo empresas públicas, fundações, associações). Caberá ao ministro das Finanças a apro-vação desses orçamentos.

Silva Lopes vai ainda mais longe ao afirmar que é preciso evitar novas PPP, avaliar as existentes e renego-ciar aquelas em que tal seja praticável. Além disso, é es-sencial melhorar e desenvolver os relatórios anuais sobre este tipo de parcerias. Não menos importante será con-trolar e disciplinar de forma mais efectiva os pagamentos atrasados a fornecedores e os novos compromissos assu-midos por entidades do sector público. E mais, haverá que melhorar o sistema mensal de reporte e informação sobre as receitas e despesas de todas as entidades do sec-tor público.

Quatro outros aspectos são objectivos a atingir, de-signadamente metas trimestrais para as finanças públicas e medidas correctivas imediatas nos casos em que não sejam atingidas, contas trimestrais das empresas públi-cas, informação trimestral sobre os efectivos de pessoal nas administrações públicas e incluir nos orçamentos relatórios sobre os riscos fiscais e dívidas contingentes, incluindo as parcerias público-privadas e as garantias concedidas pelo Estado.

Tectos mais apertados para o endividamento

Ainda no âmbito da necessidade de combater as de-ficiências e falhas do controlo orçamental sobre todas as entidades públicas, Silva Lopes defende tectos mais apertados para o endividamento das empresas públicas, regionais e municipais e o controlo mais efectivo do res-peito sobre os mesmos. Considera necessário reforçar o sistema de controlo do Ministério das Finanças sobre os orçamentos das empresas públicas, regionais e locais e sobre a execução de tais orçamentos.

Por outro lado, apela para a introdução de normas legislativas e regulamentares para reforçar e apertar o controlo sobre a a criação e o funcionamento das em-presas públicas, regionais e locais e também de outras entidades públicas (nomeadamente fundações, associa-ções e organizações públicas ou semi-públicas similares).

Na sua intervenção, Silva Lopes avançou com a necessidade de rever os regimes de autonomia admi-nistrativa e financeira, tornando-os mais limitativos, incluindo os regimes aplicados a empresas públicas e a outras entidades que dependem substancialmente de recursos financeiros do Estado. Importante será ainda reforçar a capacidade da Direcção-Geral da Contabili-dade Pública e dos órgãos de fiscalização e auditoria. Finalmente, defende a introdução de sistemas de con-trolo interno mais efectivos, o reforço da responsabi-lidade orçamental e atribuir mais poderes ao Tribunal de Contas para aplicar sanções a quem não cumpra as suas injunções.

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As sociedades têm uma duração indeterminada, o que não significa perpétua, e daí o elegerem-se três momen-tos fundamentais da sua “vida”: constituição, dissolução e liquidação.

Em conformidade com o art. 141º do CSC, os casos de dissolução imediata de uma sociedade são os previstos no contrato e ainda:

• Pelo decurso do prazo fixado no contrato;• Pela realização completa do objecto contratual;• Pela ilicitude superveniente do objecto contratual;• Pela deliberação dos sócios;• Pela declaração de insolvência da sociedade.Nos três primeiros casos, os sócios podem deliberar,

por maioria simples dos votos produzidos na assembleia, o reconhecimento da dissolução.

Além destas ocorrências, existem causas de dissolução administrativa ou por deliberação dos sócios, sempre em facto previsto na lei ou no contrato, nomeadamente (art. 142º do CSC):

• Existência de um número de sócios inferior ao mí-nimo legal, por período superior a um ano, salvo se um dos sócios for pessoa colectivapública ou entida-de a ela equiparada por lei para esse efeito;

• Impossibilidade de continuidade do exercício da ac-tividade que constitui o objecto contratual;

• Não exercício de qualquer actividade durante dois anos consecutivos;

• Exercício de facto de actividade não compreendida no objecto contratual.

Nestes casos, podem os sócios, por maioria absoluta dos votos expressos na assembleia, dissolver a sociedade com fundamento no facto ocorrido, produzindo efeitos a partir da data da deliberação ou, no caso da deliberação ser impugnada, do trânsito em julgado da sentença.

Pode ainda verificar-se a dissolução oficiosa, por par-te do serviço de registo competente, caso ainda não ini-ciado o procedimento administrativo pelos interessados, quando (art. 143º do CSC):

• Durante dois anos consecutivos, a sociedade não tenha procedido ao depósito dos documentos de prestação de contas e a administração tributária te-

nha comunicado ao serviço de registo competente a omissão de entrega da declaração fiscal de rendimen-tos pelo mesmo período;

• A administração tributária tenha comunicado ao serviço de registo competente a ausência de activi-dade efectiva da sociedade (art. 83º do CPPT) ou a sua declaração oficiosa de cessação de actividade (n.º 6 do art. 8º do CIRC).

Os procedimentos administrativos da dissolução en-contram-se regulados em diploma próprio, não depen-dendo a dissolução da sociedade de forma especial nos casos em que tenha sido deliberada pela assembleia geral, devendo a inscrição da dissolução no serviço de registo competente ser requerida pela administração ou pelos li-quidatários (art. 145º do CSC).

Com a dissolução da sociedade, salvo quando a lei dis-ponha de forma diversa, inicia-se imediatamente a liqui-dação, consistindo esta no conjunto de actos realizados com a finalidade de dar satisfação aos direitos de terceiros e realização de activos, assim se criando as condições para atribuição aos sócios dos valores a partilhar.

O processo de liquidação conduz à extinção da socie-dade, nada impedindo que, se à data da dissolução a so-ciedade não tiver quaisquer dívidas, os sócios procedam imediatamente à partilha (n.º 1 do art. 147º do C.S.C.), o que acaba por fazer coincidir no tempo os dois momentos (dissolução e liquidação e partilha), não obstando a tal a eventual ocorrência de dívidas fiscais ainda não exigíveis à data da dissolução, ficando por elas ilimitada e solida-riamente responsáveis todos os sócios, embora reservem, por qualquer forma, as importâncias que estimarem para o seu pagamento (n.º 2 do art. 147º do C.S.C.).

As contas reportadas à data da dissolução deverão ter tratamento semelhante às contas anuais e ser aprovadas nos 60 dias seguintes à dissolução da sociedade, devendo esta, a partir da data da dissolução, passar a fazer acompa-nhar a respectiva designação social da expressão “Socieda-de em liquidação” ou “em liquidação” (n.º 3 do art. 146º do CSC).

Não sendo possível a dissolução e liquidação em si-multâneo, a liquidação deverá estar encerrada e a partilha

Dissolução e liquidação de sociedades

JOAQUIM ALEXANDRE DE OLIVEIRA E SILVA*

Aspectos formais e fiscais / Tributação dos sócios

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aprovada no prazo de dois anos a contar da data da disso-lução, sem prejuízo de prazo inferior convencionado no contrato ou fixado por deliberação dos sócios, prorrogável por um período não superior a um ano se assim for deli-berado pelos sócios (nºs 1 e 2 do art. 150º do CSC).

Decorridos os prazos referidos sem que tenha sido re-querido o registo do encerramento da liquidação, o servi-ço de registo competente promove oficiosamente a liqui-dação por via administrativa (n.º 3 do art. 150º do CSC).

No exercício em que se inicia a liquidação, haverá que proceder à separação, em termos contabilísticos, das ope-rações até à data da dissolução e das ocorridas após essa data, dada a obrigatoriedade da sua apresentação separa-da, devendo as contas finais ser organizadas de modo a discriminar os resultados das operações de liquidação e o mapa da partilha (n.º 3 do art. 157º do C.S.C.), sem prejuízo de anualmente deverem ser prestadas contas acompanhadas de relatório pormenorizado do estado da liquidação (art. 155º do C.S.C.).

Os liquidatários deverão pagar todas as dívidas da sociedade para as quais seja suficiente o activo social de-vendo em relação às dividas litigiosas ser acautelados os eventuais direitos do credor por meio de caução, presta-da nos termos do Código de Processo Civil (art. 154º do CSC), e começar por satisfazer as dívidas fiscais, sob pena de ficarem pessoal e solidariamente responsáveis pelas im-portâncias respectivas (n.º 1 do art. 26º da LGT).

Se, depois de feito o reembolso integral se registar sal-do, este deve ser repartido na proporção aplicável à dis-tribuição dos lucros, devendo, caso contrário, o activo existente ser distribuído pelos sócios, por forma que a di-ferença para menos recaia em cada um deles na proporção da parte que lhes competir nas perdas da sociedade, po-dendo excluir da partilha as importâncias estimadas para encargos da liquidação até à extinção da sociedade (art. 156º do CSC).

Após deliberação dos sócios, com indicação do de-positário dos livros, documentos e demais elementos da contabilidade, a conservar pelo prazo de 5 anos (n.º 4 do art. 157º do C.S.C.), deverá ser requerido o registo do encerramento da liquidação, após o qual a sociedade se considera extinta (art. 160º do C.S.C.).

O regime jurídico dos procedimentos administrativos de dissolução e de liquidação de entidades comerciais é regulado em diploma próprio, aprovado pelo Dec. Lei n.º 76-A/2006, de 29.03.

O encerramento da liquidação e consequente pedido de registo na Conservatória do Registo Comercial determina a

cessação da actividade para efeitos de IRC (Ofício Circulado n.º 20063, de 05.03.02, da DSIRC), conforme disposto no n.º 5 do art. 8º do CIRC, chamando-se a atenção para o facto da cessação de actividade para efeitos de IVA poder anteceder aquela data (arts. 33º a 35º do CIVA).

No caso de se estar perante uma insolvência, a respec-tiva declaração de insolvência é causa imediata de dissolu-ção da sociedade, entrando esta, por força do n.º 1 do art. 146º do CSC, em fase de liquidação do seu património, com vista à realização do activo e ao pagamento do pas-sivo.

Uma vez que a cessação da actividade apenas ocorre com o encerramento da liquidação, o exercício dos direi-tos e o cumprimento das obrigações que subsistem du-rante a fase de liquidação competem ao liquidatário ou administrador da insolvência nomeado, na sua qualidade de representante da sociedade e no âmbito dos poderes ordinários de administração que lhe estão atribuídos (n.º 10 do art. 117º do CIRC).

Neste particular, reputa-se do maior interesse, para efeitos fiscais, o conteúdo da Circular n.º 1/2010, de 02.02, da DSIRC/DSIVA que se transcreve:

“Tendo merecido concordância, por despacho de 25 de Setembro de 2009, do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (Despacho n.º 1280/2009.XVII) as instruções administrativas enunciadas no relatório do grupo de trabalho encarregue do estudo relativo às obrigações fiscais em caso de insolvência, proce-de-se à sua divulgação:

I – DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA

1. Nos termos da alínea e) do n.º 1 do artigo 141.º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), a decla-ração de insolvência é causa imediata de dissolução da sociedade, entrando esta, por força do n.º 1 do artigo 146.º do mesmo diploma, em fase de liqui-dação.

2. A dissolução da sociedade não implica a sua con-comitante extinção (a qual só se verificará quando do registo do encerramento da liquidação, de acor-do com o disposto no artigo 160.º do CSC), pelo que a necessidade de exercer os direitos e de cumprir as obrigações que, nos vários domínios, subsistem durante a fase de liquidação justifica que o n.º 2 do artigo 146.º do CSC estabeleça que “a socieda-de em liquidação mantém a personalidade jurídica e, salvo quando outra coisa resulte das disposições

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subsequentes ou da modalidade da liquidação, con-tinuam a ser-lhe aplicáveis, com as necessárias adap-tações, as disposições que regem as sociedades não dissolvidas”.

3. O perdurar da personalidade jurídica da insolvente após a dissolução, nos casos em que esta tenha como motivo a declaração de insolvência, não é posto em causa pela particular situação jurídica da insolvente delineada no Código da Insolvência e da Recupe-ração de Empresas (CIRE), já que as inibições ou limitações que tal declaração impõe não têm conse-quências nesse plano.

4. A personalidade tributária da insolvente, tal como definida no artigo 15.º da Lei Geral Tributária (LGT), não é afectada pela declaração de insolvên-cia, porquanto, inerente ao respectivo processo de liquidação, está a realização de operações abrangidas pelo campo de incidência do Imposto sobre o Ren-dimento das Pessoas Colectivas (IRC) e do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).

II – DAS OBRIGAÇÕES EM SEDE DE IRC

Da conjugação dos artigos 65.º e 268.º do CIRE, este último introduzido no Título “Benefícios Emolu-mentares e Fiscais” – que vem, aliás, confirmar a su-jeição das entidades insolventes aos impostos sobre o rendimento, pois só se pode afastar do âmbito da tributação por isenção aquilo que, a priori, está su-jeito – com os artigos 117.º a 125.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRC) resulta, para as pessoas colectivas em situ-ação de insolvência, o cumprimento de obrigações em sede de IRC, designadamente:

1. Proceder à liquidação e ao pagamento do im-posto, nos termos previstos na alínea a) do ar-tigo 89.º e no n.º 1 do artigo 104.º, ambos do CIRC;

2. Sem prejuízo do disposto no n.º 7 do artigo 118.º do CIRC, apresentar, nos termos do n.º 5 do mesmo artigo, declaração com as altera-ções verificadas, aditando-se, nomeadamente, à designação social “sociedade em liquidação” ou, simplesmente, “em liquidação”, confor-me decorre do n.º 3 do artigo 146.º do CSC. Esta declaração deve conter obrigatoriamente a identificação/assinatura do respectivo técnico oficial de contas (TOC);

3. Submeter, por transmissão electrónica de da-dos, nos termos previstos no artigo 120.º do CIRC, a declaração periódica de rendimentos a que se refere a alínea b) do n.º 1 do artigo 117.º, a qual deve conter a identificação do TOC;

4. Submeter, por transmissão electrónica de da-dos, nos termos previstos no artigo 121.º do CIRC, a declaração anual de informação conta-bilística e fiscal a que se refere a alínea c) do n.º 1 do artigo 117.º, com a identificação do TOC;

5. Estas e as demais obrigações declarativas pre-vistas no Código do IRC são da responsabili-dade do administrador da insolvência, confor-me decorre expressamente do n.º 10 do artigo 117.º do referido Código;

6. Caso o sujeito passivo não disponha de senha de acesso às declarações electrónicas, ou, sendo necessário proceder à sua recuperação, deve o Administrador da Insolvência proceder ao res-pectivo pedido, no sítio das declarações electró-nicas, conforme previsto no n.º 3 da Portaria n.º 1339/2005, de 30 de Dezembro;

7. Nos termos e condições referidas no artigo 123.º do CIRC, é obrigatório dispor de conta-bilidade organizada nos termos da lei comercial e fiscal.

III – DAS OBRIGAÇÕES EM SEDE DE IVA

Para efeitos do Imposto sobre o Valor Acrescentado (CIVA), as pessoas colectivas em situação de insolvência ficam sujeitas ao cumprimento das seguintes obrigações:

1. Apresentar, nos termos do artigo 32.º do CIVA, uma declaração de alterações, indicando no qua-dro 17 a respectiva identificação e no quadro 04 aditando à designação social a expressão “socieda-de em liquidação” ou, simplesmente, “em liquida-ção”, conforme decorre do n.º 3 do artigo 146.º do CSC. Esta declaração deve conter obrigatoriamente a identificação/assinatura o respectivo técnico oficial de contas (TOC);

2. Emitir, em conformidade com o disposto na alí-nea b) do n.º 1 do artigo 29.º do CIVA, em forma legal, uma factura ou documento equivalente por cada transmissão de bens ou prestação de serviços, tal como vêm definidas nos artigos 3.º e 4.º do refe-rido diploma;

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3. Proceder ao correcto apuramento do imposto em cada um dos períodos de tributação previstos no CIVA, recorrendo nomeadamente às regras cons-tantes dos seus artigos 19.º a 26.º e do artigo 78.º, as quais se integram no conceito de “liquidação do imposto” que o mesmo normalmente assume no Di-reito Fiscal;

4. Encontra-se ressalvada a possibilidade de exercício, por parte dos sujeitos em situação de insolvência de-clarada, do direito a dedução do imposto, nos ter-mos dos artigos 19.º a 26.º do CIVA:

5. Proceder, nos períodos de tributação em que tenha sido apurado imposto a favor do Estado, ao paga-mento do imposto que se mostrar devido, nos pra-zos legais definidos em função da periodicidade em que se encontram enquadrados;

6. Cumprir, na forma e prazos definidos na lei, as de-mais obrigações declarativas previstas no CIVA;

7. Dispor de contabilidade adequada ao apuramen-to e fiscalização do imposto, que deverá mostrar-se organizada nos termos previstos no artigo 44.º do CIVA e obedecer aos requisitos constantes dos sub-sequentes artigos;

8. Em caso de pedido de reembolso, este será solicita-do em declaração periódica, contendo a identifica-ção do técnico oficial de contas responsável, subme-tida por transmissão electrónica de dados, no prazo legal, após o que será deferido ou indeferido, con-soante se encontrem ou não reunidas as condições legais previstas no artigo 22.º do CIVA e no Des-pacho Normativo n.º 53/2005, de 15 de Dezembro (republicado em Anexo ao Despacho Normativo n.º 23/2009, de 17 de Junho);

9. Na circunstância de, no decurso do procedimen-to de insolvência, se prever, em sede de plano de insolvência, a manutenção em actividade da em-presa, na titularidade do devedor ou de terceiro, deve o sujeito passivo submeter, nos termos do artigo 32.º do CIVA, uma declaração de altera-ções, contendo:

9.1 A retirada à designação social do devedor da menção “sociedade em liquidação” ou simples-mente “em liquidação”, como decorre conju-gadamente dos artigos 141.º, n.º 1, alínea e), 146.º, n.º 1 e 161.º, todos do CSC com o arti-go 206.º, n.º 1 do CIRE;

9.2 A adopção de qualquer eventual providência a que alude o artigo 198.º do CIRE;

9.3 A identificação/assinatura do técnico oficial de contas (TOC)”.

A. Tributação em IRC

O lucro tributável das sociedades em liquidação será determinado com referência a todo o período de liquida-ção, pelo que deverão ser observados os procedimentos enumerados no n.º 2 do art. 79º do CIRC:

• Encerramento das contas à data da dissolução, com vista à determinação do lucro tributável correspon-dente ao período decorrido desde o início do exercí-cio em que se verificou a dissolução até à data desta;

• Durante o período de liquidação e até ao fim do exercício imediatamente anterior ao seu encerra-mento, haverá que, anualmente, determinar o lucro tributável respectivo, que terá natureza provisória e será corrigido face à determinação do lucro tributá-vel correspondente a todo o período de liquidação;

• No exercício em que ocorre a dissolução, o lucro tributável deverá ser determinado separadamente, contemplando o período decorrido entre o início do exercício e a data da dissolução e o período que de-corre entre esta e o termo do exercício, não obstante a entrega de uma única declaração mod. 22 respei-tante a todo o período de tributação.

Exemplo:

1.1.07 1.4.07 31.12.07 31.12.08 1.3.09 MC-3000 MC-2000 MC-5000 MC-1500 IRC-500 IRC-1250 IRC-187,51

01.04.07 – Data da dissolução01.03.09 – Data da cessação (encerramento da liquidação e consequente registo na Conservatória do Registo Comercial)

Obrigações declarativas:a) Declaração de alterações (n.º 5 do art. 118º do

CIRC):No prazo de 15 dias a contar da data da alteração

(data da dissolução) deverá ser apresentada, em qualquer serviços de finanças, uma declaração de alterações, indicando no Q. 17 a identifica-ção dos liquidatários e fazendo aditar no Q. 04 à designação social a expressão “sociedade em liquidação”, ou simplesmente, “em liquidação” (n.º 3 do art. 146º do CSC).

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Com a alteração introduzida ao art. 118º do CIRC pelo Dec.-Lei n.º 122/2009, de 21.05, sempre que as alterações sejam de factos sujeitos a registo na Conservatória do Registo Comer-cial e a entidades inscritas no ficheiro central de Pessoas Colectivas que não estejam sujeitas ao registo comercial, o contribuinte fica dispensa-do da entrega da declaração de alterações (n.º 7 do art. 118º do CIRC).

b) Declaração periódica de rendimentos (art. 120º do CIRC):

- Até ao último dia útil do mês de Maio de 2008, declaração referente ao exercício de 2007, devendo o sujeito passivo, porém, possuir elementos que per-mitam a separação e controle do disposto nas alíneas a) e c) do n.º 2 do art. 79º do CIRC.

- Até ao último dia útil do prazo de 30 dias a contar da data da cessação (01.03.09):

• Declaração referente ao exercício de 2008• Declaração (obrigatória), referente ao período

de 01.01.09 a 01.03.09 (declaração do período de cessação)

• Declaração (facultativa), referente ao período de 01.04.07 a 01.03.09 (declaração do período de liquidação)

Na declaração do período de liquidação (facultativa), a determinação da matéria colectável e cálculo do imposto fazem-se do seguinte modo:

MATÉRIA COLECTÁVEL

2007 (01.04.07 a 31.12.07).............. (1000)

2008.................................................. 5000

2009 (01.01.09 a 01.03.09)............... 1500

5500

CÁLCULO DO IMPOSTO

IRC liquidado (campo 358/Q.10):

5500 x 12,5% = 687,5

Pag. Conta (campo 360/Q. 10):

(1250 – 250) + 187,5 = 1.187,5

IRC a recuperar .................................. 500,0

A declaração do período de liquidação apenas tem interesse quando, nos períodos de liquidação provisória que o integram, com especial relevância para o último, haja descida da taxa de IRC, caso da situação em apreço, ou prejuízos fiscais que não seja possível reportar “para a frente” mas sim “para trás”.

c) Declaração anual de informação contabilística e fiscal (art. 121º do CIRC)

No caso de cessação de actividade, nos termos do n.º 5 do art. 8º do CIRC, a declaração relativa ao exercício em que a mesma se verificou deve ser apresentada no prazo referido no n.º 3 do art. 120º do CIRC, ou seja, até ao 30º dia seguinte ao da data da cessação (pedido do registo do encerramento da liquidação na Conservatória do Re-gisto Comercial), independentemente de esse dia ser útil ou não útil.

d) Processo de documentação fiscal (art. 130º do CIRC)

No mesmo prazo previsto para a entrega da declara-ção anual de informação contabilística e fiscal deve ser organizado um processo de documentação fiscal com os elementos contabilísticos e fiscais constantes da Portaria n.º 92-A/2011, de 28 de Fevereiro, nomeadamente todos os elementos relacionados com a dissolução, liquidação e partilha, com especial relevo para a informação decorren-te do disposto nas alíneas a) e c) do n.º 2 do art. 79º do CIRC e para o mapa da partilha.

e) Declaração de cessação (n.º 6 do art. 118º do CIRC)

No prazo de 30 dias a contar da data da cessação da actividade, deverá o sujeito passivo proceder à entrega da declaração de cessação, indicando a data da cessação no Q. 07 e o respectivo motivo no Q. 08, bem como de-signando um representante com residência em território nacional (n.º 4 do art. 19º da LGT).

Embora tal não resulte directamente do previsto no n.º 7 do art. 118º do CIRC, é entendimento da DSIRC que não se torna necessário proceder à entrega da decla-ração de cessação, dado que os dados relativos a essa ces-sação foram já transmitidos pelo Ministério da Justiça via web service à Administração Fiscal.

Quanto aos prejuízos fiscais anteriores à dissolução e na data desta ainda dedutíveis nos termos do art. 52º do CIRC, podem ser deduzidos ao lucro tributável corres-pondente a todo o período de liquidação, se este não ultra-passar dois anos (n.º 4 do art. 79º do CIRC).

Porém, dado que, nos termos do disposto no n.º 4 do art. 8º do CIRC, no exercício em que ocorre a disso-lução não existem dois períodos de tributação, os preju-ízos nele verificados globalmente podem ser deduzidos nos termos do disposto no n.º 1 do art. 52º do citado Código.

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Generalizando, do enquadramento fiscal referido de-correm as seguintes obrigações declarativas:

1 - Dissolução e liquidação ocorrem no mesmo exercício

• Entrega da declaração de alterações no prazo de 15 dias a contar da data da alteração (n.º 5 do art. 118º do CIRC), se dissolução e liquidação ocorrerem em datas diferentes, ainda que no mesmo exercício, obrigação esta dispensada face o disposto no n.º 7 do art. 118º do CIRC, introduzido pelo Dec. Lei n.º 122/2009, de 21.05.

• Envio de uma única declaração de rendimentos (de-claração mod. 22), a entregar até ao 30º dia seguinte ao da data da cessação, independentemente de esse dia ser útil ou não útil (alteração introduzida pelo Dec. Lei n.º 292/2009, de 13.10), sinalizando o campo 3 e indicando a data da cessação no campo 6 ambos do quadro 04.2.

Este prazo aplica-se igualmente para a apresentação da declaração de rendimentos relativa ao exercício imediatamente anterior, quando ainda não tenha decorrido o respectivo prazo legal (n.º 3 do art. 112º do CIRC).

• Envio da declaração anual de informação conta-bilística e fiscal (art. 121º do CIRC) e elaboração do processo de documentação fiscal (art. 130º do CIRC), no prazo previsto para a entrega da declara-ção do período de cessação bem como da referente ao exercício anterior no caso previsto no parágrafo precedente.

• Entrega da declaração de cessação (n.º 6 do art. 118º do CIRC), embora seja entendimento da DSIRC que tal não se torna necessário, dado que os dados relativos à cessação foram objecto de registo na CRC (n.º 7 do art. 118º do CIRC).

2 - Dissolução e liquidação ocorrem em exercícios diferentes

• Entrega da declaração de alterações (n.º 5 do art. 118º do CIRC), com a particularidade da dispensa prevista no n.º 7 do art. 110º do CIRC.

• Sem prejuízo da observância do disposto nas alíneas a) e c) do n.º 2 do art. 79º do CIRC, deverá ser enviada uma única declaração de rendimentos re-ferente ao exercício em que ocorreu a dissolução, abrangendo a totalidade do período de tributação, não devendo ser assinalado nenhum dos campos do quadro 04.2.

• Envio de uma declaração de rendimentos por cada exercício completo posterior ao da dissolução até àquele em que se verificar a liquidação, nos respecti-vos prazos legais (n.º 1 do art. 120º do CIRC).

• No exercício do encerramento da liquidação e des-de que o período de liquidação não ultrapasse dois anos, podem ser enviadas duas declarações de ren-dimentos, respeitando o prazo previsto no n.º 3 do art. 120º do CIRC, sendo a primeira (obrigatória) referente ao período decorrido entre o início do exercício e a data do encerramento da liquidação (declaração do período de cessação), sinalizando o campo 3 e indicando a data da cessação no campo 6, ambos do quadro 04.2, e respeitando a segunda (facultativa) a todo o período de liquidação (período compreendido entre a data da dissolução e a data do encerramento da liquidação), sinalizando o campo 2 do referido Q. 04.2 e indicando no campo 2 do quadro 01 o ano do encerramento da liquidação.

Nesta última declaração (período de liquidação), o imposto pago correspondente ao período entre a data da dissolução e o termo do exercício em que a mesma ocorreu bem como os pagamentos por conta e as autoliquidações efectuadas nos exercícios seguintes, deverão ser assumidos como pagamentos por conta a mencionar no campo 360/Q. 10.

Na eventualidade do período de liquidação ultrapassar dois anos, o lucro tributável determinado anualmen-te, nos termos da alínea b) do n.º 2 do art. 79º do CIRC, deixará de ter natureza provisória (n.º 3 do art. 79º do CIRC), passando a ter natureza defini-tiva e, como tal, não pode ser enviada a declaração correspondente ao período de liquidação.

• Em relação a cada um dos exercícios deve ser envia-da a declaração anual de informação contabilística e fiscal e elaborado o processo de documentação fiscal correspondente, até ao dia 15 de Julho, independen-temente de esse dia ser útil ou não útil, sendo, em relação ao exercício do encerramento da liquidação, de respeitar o referido no ponto anterior.

No caso de ser enviada declaração correspondente ao período de liquidação (facultativa), a declaração anual de informação contabilística e fiscal deve con-ter apenas os Anexos A ou B ou C.

• Entrega da declaração de cessação (n.º 6 do art. 118º do CIRC), embora seja entendimento da DSIRC que tal não se torna necessário dado que os dados relativos à cessação foram objecto de registo na CRC (n.º 7 do art. 118º do CIRC).

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• Tendo ocorrido a cessação da actividade, a parte dos pagamentos especiais por conta ainda não deduzida à colecta nos termos do n.º 1 do art. 93º do CIRC, quando existir, e que, nos termos aí referidos, possa ser recuperada (pagamentos especiais por conta efec-tuados durante o terceiro exercício imediatamente anterior ao da cessação e seguintes), será reembol-sada mediante requerimento do sujeito passivo, di-rigido ao chefe de serviço de finanças competente, apresentado nos 90 dias seguintes ao da cessação da actividade (n.º 2 do art. 93º do CIRC).

Quanto à declaração anual de informação contabilísti-ca e fiscal, cumpre referir ainda:

• No caso de a liquidação da sociedade e a data do pedido de inscrição de registo na CRC ocorrerem no mesmo ano/exercício, os valores a inscrever nos Anexos A ou B ou C da declaração anual de infor-mação contabilística e fiscal devem reflectir tam-bém as operações de liquidação, imediatamente antes da partilha, devendo a declaração ser consi-derada de cessação.

• No caso de a liquidação da sociedade e a data do pedido de registo na CRC ocorrerem em anos/exer-cícios diferentes:

- Para o(s) ano(s)/exercício(s) anterior(es) ao refe-rido registo, os valores a inscrever nos Anexos A ou B ou C da declaração anual devem reflectir as operações de liquidação, imediatamente an-tes da partilha, devendo esta ser considerada de “NORMAL”;

- Para o ano/exercício em que ocorreu o pedido de registo na CRC, aqueles anexos podem ser en-viados sem qualquer valor, devendo a declaração ser considerada de “CESSAÇÃO” (campo 2 do Q. 06 da declaração anual).

• Os restantes anexos da declaração deverão deixar de ser enviados sempre que não sejam efectuadas as operações que aí deveriam ser mencionadas.

B. Tributação nos sóciosNa determinação do resultado da liquidação, havendo

partilha dos bens patrimoniais pelos sócios, considera-se como valor de realização daqueles o respectivo valor de mercado (art. 80º do CIRC).

Quanto ao resultado da partilha, englobado para efei-tos de tributação dos sócios no exercício em que for posto à sua disposição, é dado pelo valor atribuído a cada um deles deduzido do valor de aquisição das respectivas partes sociais (n.º 1 do art. 81º do CIRC), o qual:

• Se positivo, é considerado como rendimento de apli-cação de capitais até ao limite da diferença entre o valor atribuído e o que, face à contabilidade da so-ciedade liquidada, corresponda a entradas efectiva-mente verificadas para a realização de capital, tendo o eventual excesso a natureza de mais-valia tributá-vel.

• Se negativo, é considerado como menos-valia, sendo dedutível apenas quando as partes sociais tenham permanecido na titularidade do sujeito passivo du-rante os três anos imediatamente anteriores à data da dissolução, chamando-se a atenção para o disposto no n.º 3 do art. 45º do CIRC.

A partir de 01.01.2008, a menos-valia deverá ser considerada apenas pelo montante que exceder os prejuízos fiscais transmitidos no âmbito da aplica-ção do regime especial de tributação de grupos de sociedades, sendo ainda afastada a sua dedutibilida-de quando a sociedade liquidada esteja domiciliada num país, território ou região com regime fiscal cla-ramente mais favorável (Portaria n.º 150/2004, de 13.02).

No conceito de entradas efectivamente verificadas para a realização do capital pretende-se contemplar o valor cor-respondente às aplicações dos sócios no capital da socieda-de, o que não inclui, logicamente, os eventuais acréscimos de capital em virtude de incorporação de reservas.

Exemplo: Valor da partilha ..........................15.000 Valor nominal ................................6.000 a) valor de aquisição ......................8.000 b) valor de aquisição ......................4.000

Na hipótese da alínea a), o ganho tributável será de:15.000 – 8.000 = 7.000sendo, considerado na sua totalidade rendimento de aplicação de capitais.Na hipótese da alínea b), o ganho tributável será de:15.000 – 4.000 = 11.000sendo:15.000 – 6.000 = 9.000, rendimento de aplicação de capitais6.000 – 4.000 = 2.000, mais-valia

Verificando-se as condições previstas no n.º 1 do art. 51º do CIRC, a diferença considerada rendimento de aplicação de capitais será deduzida na sua totalidade para efeitos da determinação do lucro tributável da partici-pante (eliminação da dupla tributação económica); não reunidas aquelas condições, ocorrerá a atenuação da du-pla tributação económica (n.º 8 do art. 51º do CIRC),

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mediante dedução, para efeitos da determinação do lucro tributável da participante, de 50% daquele valor (n.º 3 do art. 81º do CIRC), sendo que o n.º 8 do art. 51º do CIRC foi revogado pela Lei n.º 55-A/2010, 31.12.

A parte do resultado da partilha considerada como mais-valia ou menos-valia, concorrendo esta em apenas 50% para a determinação do lucro tributável em IRC (n.º 3 do art. 45º do CIRC), segundo entendimento admi-nistrativo, não está abrangida pelas disposições dos arts. 46º a 48º do CIRC, uma vez que o disposto no art. 81º do CIRC não se limita a qualificar a natureza do ganho mas também a definir o respectivo regime tributário, pelo que no seu cálculo não há lugar à correcção monetária do custo de aquisição das partes sociais nem será aplicável o regime do reinvestimento previsto no art. 48º do CIRC (Parecer n.º 103/96 do CEF, sancionado por Despacho do Director Geral dos Impostos de 12.03.97).

O mesmo se passará, em nossa opinião, no que se refere ao regime transitório das mais-valias e das menos--valias previsto no art. 18º-A do Dec.-Lei n.º 442-B/88, de 30.11, na medida em que este se refere à operação que lhes dá origem (transmissão de partes sociais cuja aquisi-ção tenha ocorrido antes da entrada em vigor do CIRC), não integrando como facto relevante a extinção das partes sociais.

No caso de o participante no capital da sociedade liqui-dada ser uma pessoa singular, a diferença considerada ren-dimento de aplicação de capitais, tipificada na alínea i) do n.º 2 do art. 5º do CIRS é tributada por retenção na fonte a título definitivo à taxa de 21,5%, prevista na alínea c) do n.º 3 do art. 71º do CIRS, com opção pelo englobamento nos termos do preceituado no art. 40º-A do CIRS.

Por outro lado, a diferença considerada como mais--valia encontra-se tipificada na alínea b) do n.º 1 do art. 10º do CIRS, sendo o saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias referidas:

• Se positivo, tributado à taxa de 20%, sem prejuízo do seu englobamento por opção (nºs 4 e 7 do art. 72º do CIRS);

• Se negativo, só pode ser reportado para os dois anos seguintes aos rendimentos da mesma natureza, quando o sujeito passivo opte pelo englobamento (n.º 6 do art. 55º do CIRS).

Sempre que seja exercida a opção pelo englobamento, chamando-se a atenção para o disposto nos nºs 3 e 4 do art. 119º do CIRS, fica o sujeito passivo, por esse facto, obrigado a englobar a totalidade dos rendimentos com-preendidos no n.º 6 do art. 71º e no n.º 7 do art. 72º do

CIRS e no n.º 7 do art. 81º, todos do CIRS (n.º 5 do art. 22º do CIRS), passando a retenção na fonte a ter a natu-reza de imposto por conta do imposto devido a final (n.º 7 do art. 71º do CIRS).

Porém, sendo a titularidade das partes de capital an-terior à entrada em vigor do Código do IRS, em nossa opinião, a mais-valia ou menos-valia apurada não estará abrangida pelas regras de incidência, face ao disposto no art. 5º do Dec. Lei n.º 442-A/88, de 30.11.

Quanto a retenções na fonte, a diferença considerada rendimento de aplicação de capitais, no momento do pagamento ou colocação à disposição (n.º 3 do art. 7º do CIRS), é passível de uma retenção à taxa liberatória de 21,5%, conforme resulta da conjugação do disposto na alínea a) do n.º 2 do art. 101º com a alínea c) do n.º 3 do art. 71º, ambos do CIRS, independentemente do tipo de sociedade liquidada e da natureza do sujeito passivo titular do rendimento, sendo certo que, no caso de este ser um sujeito passivo de IRC abrangido pelo disposto no n.º 1 do art. 51º do CIRC, não obstante tal não resultar directamente da letra da lei, mas sim, em nossa opinião, do seu espírito, lhe ser aplicável a dispen-sa de retenção prevista na alínea c) do n.º 1 do art. 97º do mesmo Código.

Exemplo:A sociedade Beta, SA, constituída em 1983, vai dissolver-se (2010), sendo a seguinte a composição do seu capital social:

O capital social da Sociedade Beta, SA no montante de 500.000 euros foi realizado do seguinte modo:• Em numerário e em espécie (1983) ..................... 180.000• Por incorporação de reservas ............................... 320.000• Houve prémios de emissão de (1983) .................. 120.000

Após a liquidação (2010), procedeu-se à partilha, tendo sido colocado à disposição dos sócios o valor de 800.000 euros.

SOCIEDADE BETA, SA

Soc. A Soc. B, SGPS Soc. C Soc. D X Y Z

40% 8% 6% 14% 15% 12% 5%

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Os dados respeitantes às participações de capital dos vários sócios para efeitos de tributação são os seguintes (valores em euros):

SóciosValor Nominal da Participação (1)

Custo de Aquisição (2)

Data de Aquisição (3)

Valor atribuído na Partilha (4)

Soc. A 200.000 100.000 1985 320.000

Soc. B, SGPS 40.000 40.000 1983 64.000

Soc. C 30.000 32.000 1987 48.000

Soc. D 70.000 140.000 2005 112.000

X 75.000 75.000 1983 120.000

Y 60.000 102.000 1997 96.000

Z 25.000 10.000 1985 40.000

500.000 800.000

SóciosResultado da partilha (5) =

(4) – (2)

Entradas para Realização do

capital (6)

(7) = (4) – (6)

Natureza do Rendimento

Capitais Mais-Valias Menos-Valias

Soc. A 220.000 120.000 200.000 200.000(a) 20.000 (d) -

Soc.B, SGPS 24.000 24.000 40.000 24.000 (b) - -

Soc. C 16.000 18.000 30.000 16.000 (b) - -

Soc. D (28.000) 42.000 - - - 28.000 (f)

X 45.000 45.000 75.000 45.000 (c) - -

Y (6.000) 36.000 - - - 6.000 (g)

Z 30.000 15.000 25.000 25.000 (c) 5.000 (e) -

300.000

(a) Aplicável o regime previsto no n.º 1 do art. 51º do CIRC, havendo dispensa de retenção na fonte, conforme alínea c) do n.º 1 do art. 97º do CIRC.

(b) Aplicável o regime previsto no n.º 8 do art. 51º do CIRC (atenuação da dupla tributação económica), havendo retenção na fonte à taxa de 21,5%, mesmo no caso da SGPS, dado que aos rendimentos de partilha, considerados rendimentos de capitais, não é aplicável o disposto no n.º 1 do art. 32º do EBF, uma vez que apenas de aplicar quando estejam em causa lucros distribuídos, mas antes o art. 51º do CIRC com todos os seus condicionalismos e exigências (Inf. Vinculativa no Proc. n.º 1907/2004, com despacho em 23.11.09).

O n.º 8 do art. 51º do CIRC bem como o n.º 1 do art. 32º do EBF foram revogados pela Lei n.º 55-A/2010, de 31.12.

(c) Aplicável o regime previsto no art. 40º-A do CIRS por opção, havendo retenção na fonte à taxa liberatória de 21,5%.

(d) Mais-valia tributável, não abrangida pelo regime fiscal previsto nos arts. 46º a 48º do CIRC nem pelo regime transitório do art. 18º-A do Dec. Lei n.º 442-B/88, de 30.11.

(e) Mais-valia tributável, porque tipificada na alínea b) do n.º 1 do art. 10º do CIRS, abrangida pelo disposto no art. 5º do Dec. Lei n.º 442-A/88, de 30.11 e, como tal, não sujeita a IRS.

(f ) Menos-valia dedutível para efeitos fiscais em apenas 50% do seu montante face ao disposto no n.º 3 do art. 45º do CIRC, dado as acções se encontrarem na titularidade do sujeito passivo durante, pelo menos, três anos à data da dissolução.

(g) Menos-valia dedutível, nas condições referidas no n.º 6 do art. 55º do CIRS.

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Cumpre, porém, salientar que, relativamente aos só-cios de sociedades abrangidas pelo regime da transparência fiscal, nos termos do art. 6º do CIRC, ao valor que for atribuído em virtude da partilha é abatida a parte do re-sultado de liquidação que, para efeitos de tributação, lhes tenha sido imputada, assim como a parte que lhes corres-ponder nos lucros retidos na sociedade nos exercícios em que esta tenha estado sujeita àquele regime (n.º 4 do art. 81º do CIRC).

Na realidade, os sócios daquelas sociedades já foram tributados nos exercícios em questão na sequência da im-putação prevista no nº 1 do art. 6º do CIRC, indepen-dentemente do pagamento ou colocação à disposição dos lucros realizados.

Por último, de acordo com o disposto no art. 82º do CIRC, à liquidação de pessoas colectivas que não sejam sociedades é aplicável o disposto nos arts. 79º a 81º, com as necessárias adaptações, sendo entendimen-to administrativo a respectiva extensão às Sociedades Irregulares.

Na verdade, é inequívoca a intenção do legislador de abranger nas regras de incidência subjectiva em IRC (art. 2º do CIRC) todas as sociedades comerciais afec-tadas formalmente e que não reúnam as condições de validade previstas na lei (art. 5º do C.S.C.), não se mos-trando relevante para o Direito Fiscal a circunstância de as sociedades serem ou não dotadas de personalidade ju-rídica, não se questionando a tributação das sociedades irregulares em IRC, excluindo-as, desde logo, do regi-me da transparência fiscal, porque sociedades com um

objecto comercial, mas cujo processo constitutivo está incompleto ou viciado, não se admitindo a sua qualifi-cação como sociedades civis mas tão somente a remissão para o regime destas, consagrado nos arts. 980º a 1021º do Código Civil.

Assim, o processo de liquidação das sociedades não regularmente constituídas deverá ser tratado nos termos dos arts. 1010º e seguintes do Código Civil, não obstante, do ponto de vista fiscal, embora não estejamos na presen-ça de uma entidade dotada de personalidade jurídica, se considerem aplicáveis as disposições dos arts. 79º a 81º do CIRC.

Em consequência, após a liquidação da sociedade ir-regular deverá proceder-se à partilha dos valores a atribuir aos sócios, devendo esta obedecer ao regime previsto no art. 82º do CIRC, aplicando-se, com as necessárias adap-tações, o art. 81º do mesmo Código.

Sendo não residente o titular da participação na so-ciedade liquidada, haverá que distinguir se se trata de pes-soa colectiva ou pessoa singular:

a) Pessoa ColectivaO valor atribuído aos associados em resultado da

partilha que, nos termos do art. 81º do CIRC, seja considerado rendimento de capitais, não imputável a estabelecimento estável situado em território nacional, encontra-se sujeito a retenção na fonte a título definitivo à taxa de 20% (21,5% a partir do período de tributação iniciado em ou após 01.01.2011), conforme disposto na alínea b) do n.º 3 do art. 94º do CIRC e na alínea c)

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do n.º 4 do art. 87º do CIRC, dada a remissão do n.º 5 daquele artigo.

Quanto à parte do valor atribuído qualificada como mais-valia, sendo considerada rendimento obtido em território português por força da conexão prevista na alí-nea b) do n.º 3 do art. 4º do CIRC, não se encontran-do abrangida pela isenção constante do art. 27º do EBF, dado não resultar de transmissão onerosa, tal implica a obrigação de envio da declaração de rendimentos, em conformidade com o disposto na alínea a) do n.º 5 do art. 120º do CIRC, sendo de 25% a taxa de tributação (n.º 4 do art. 87º do CIRC), sinalizando o campo 4 do Q.03.3 e indicando o NIF do representante legal, no campo 1 do Q. 05, nomeado obrigatoriamente nos termos do art. 126º do CIRC, não sendo necessária a indicação do NIF do TOC.

b) Pessoa SingularO valor atribuído aos associados em resultado de par-

tilha que, nos termos do art. 81º do CIRC, seja consi-derado rendimento de aplicação de capitais, considera-se obtido em território português, face ao previsto na alínea g) do n.º 1 do art. 18º do CIRS, encontrando-se sujeito a retenção na fonte a título definitivo à taxa de 21,5%, por força do disposto na alínea c) do n.º 3 do art. 71º do CIRS.

Quanto à parte do valor atribuído qualificada como mais-valia, sendo considerada rendimento obtido em território português por força da conexão prevista na alí-nea i) do n.º 1 do art. 18º do CIRS, não se encontran-do abrangida pela isenção constante do art. 27º do EBF, implica a entrega da declaração de rendimentos mod. 3, sinalizando o campo 4 do Q. 06 e indicando o represen-tante, nomeado obrigatoriamente nos termos do art. 130º do CIRS, e respectivo NIF (campo 5), sendo tributado à taxa de 20% (n.º 4 do art. 72º do CIRS).

A não nomeação de representante constitui infracção punível nos termos do previsto no art. 124º do RGIT.

Existindo Convenção sobre Dupla Tributação (CDT) entre Portugal e o país de residência do sujeito passivo, uma vez que o direito das convenções se sobrepõe ao di-reito interno, haverá que enquadrar os rendimentos asso-ciados à liquidação de sociedades no âmbito da mesma.

Assim, no que se refere ao valor atribuído aos associa-dos em resultado da partilha que, nos termos do art. 81º do CIRC, seja considerado rendimento de aplicação de capitais, resulta evidente (n.º 3 do art. 81º do CIRC) ter sido preocupação do legislador a opção pela sua equipa-

ração, em termos de tributação, aos lucros das entidades sujeitas a IRC colocados à disposição dos respectivos titu-lares, pelo que, no caso de CDT, haverá fixação de limites ao exercício do poder de tributação pelo Estado da fonte, caracterizada pela limitação do imposto na fonte, cumpri-dos os requisitos de fundo e de forma (art. 98º do CIRC e art. 18º do Dec.-Lei n.º 42/91, de 22.01), não se preten-dendo com tal prática servir os interesses financeiros do Estado da residência mas, antes pelo contrário, beneficiar o investidor, de forma a tornar possíveis incentivos ao in-vestimento oferecido pelo Estado da fonte.

Não obstante, sendo o titular uma pessoa colectiva residente num Estado membro da União Europeia, inde-pendentemente da existência ou não de CDT, chama-se a atenção para a isenção e nas condições previstas nos nºs 3 a 11 do art. 14º do CIRC, com a particularidade do disposto no art. 95º do CIRC.

Esta isenção é igualmente aplicável quando a partici-pante é uma sociedade residente na Confederação Suíça nos termos e nas condições referidas no art. 15º do Acor-do entre a Comunidade Europeia e a Confederação Suíça, sempre que reunidas as condições previstas nos nºs. 8 e 9 do art. 14º do CIRC, chamando-se a atenção para o disposto no art. 95º do CIRC.

Quanto à parte do valor atribuído qualificada como mais-valia , não nos parece ser de aplicar a disciplina re-lacionada com os ganhos associados à alienação de parti-cipações de capital, pelas razões já explicitadas, mas antes a prevista para a tributação de “Outros rendimentos” na CDT, pelo que, em relação a rendimentos desta natureza, será de aplicar o princípio da tributação exclusiva no Es-tado da residência, devendo o estado da fonte abster-se de qualquer tributação.

Contabilisticamente, recomendamos a leitura aten-ta da obra “A Contabilidade das Sociedades” –, de Prof. Gonçalves da Silva e Dr. Esteves Pereira, relembrando as exigências decorrentes do disposto no art. 149º do CSC e no art. 79º do CIRC, sendo certo que, finda a liquidação (realização de activos e satisfação de passivos), o Balanço de Liquidação terá, em princípio, como componentes:

No activo: - Caixa e/ou Depósitos à OrdemNo passivo: - NadaNa Sit. Líquida: - Capital - Reservas - Resultadosdevendo seguir-se a operação de partilha pelos sócios.

*Economista e Docente Universitário

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A Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas não aca-tou a decisão do Tribunal de Comércio de Lisboa e decidiu apelar para o Tribunal da Relação. Em causa está a questão da aferição de créditos no âmbito da for-mação profissional, uma fonte de receitas importante para a entidade reguladora. O processo foi desencade-ado pela APOTEC, acabando a Ordem por ter sido condenada pela Autoridade da Concorrência. O Tri-bunal de Comércio deu razão a esta última entidade, mas a Ordem pretende levar a matérias até às últimas consequências.

A realidade é que as posições entre a associação que levantou o problema de existir concorrência desleal e a Ordem se extremaram. A APOTEC é muito crítica quanto às posições assumidas pela OTOC ao longo deste já longo processo, considerando “lamentável” que tenha sido necessária a intervenção do Tribunal de Co-mércio, já que havia uma condenação anterior por parte da Autoridade da Concorrência. Por outro lado, a asso-ciação também lamenta que esteja a ser “condicionada a livre escolha e exigida a aferição de créditos no âmbito da formação, numa clara desconsideração pelas leis na-cionais e comunitárias”. Perante este cenário, a APO-TEC lamenta que a Ordem rejeite cumprir a sentença do tribunal, “abolindo a prática das infracções que tem imposto desde 2007”.

O tribunal determinou a condenação da OTOC pela prática de infracção do artigo 4º da Lei18/2003, de 11 de Junho, ao pagamento de uma coima no valor de 90 mil euros e ao pagamento das custas do processo judicial. Sendo assim, é extinta a obrigação dos TOC de aferição de 12 créditos em formação promovida ex-clusivamente pela OTOC, bem a sua exclusividade até 16 horas de formação, sendo que outras entidades pas-sam a poder promover formação profissional, indepen-dentemente da carga horária e sem estarem obrigadas ao pagamento de qualquer compensação financeira à Ordem. Ou seja, os TOC podem escolher a formação que melhor se adequa às suas necessidades, indepen-dentemente das entidades promotoras, sejam elas pú-blicas ou privadas.

OTOC garante que irá até às últimas consequências

Face ao facto de a Ordem ter apelado para o Tribunal da Relação, para já fica tudo como estava, só havendo eventuais alterações depois da decisão deste último tri-bunal. O que significa que os técnicos de contas têm que continuar a desenvolver as actividades de formação pro-fissional de acordo com o definido no Regulamento da Ordem. Domingues de Azevedo, bastonário da OTOC, admite que vai até às últimas consequências, na medida em que apoia o estipulado no Regulamento, o qual “de-fende os interesses dos profissionais”.

A Ordem pede a sua total absolvição junto do Tri-bunal da Relação de Lisboa. Domingues de Azevedo assenta a posição assumida na convicção que “o regula-mento de atribuição de créditos é legal e não viola a lei da concorrência”. Adianta ainda a possibilidade de levar a questão até ao Tribunal de Justiça das Comunidades, se tal se revelar necessário. Ou seja, se o Tribunal da Re-lação não der razão à OTOC, então esta partirá para as instâncias europeias. O que significa que o assunto ainda está para durar. Entretanto, os profissionais terão que agir em conformidade com o que está definido no Regulamento da Ordem no que toca à formação profis-sional e à atribuição de créditos, no âmbito da certifica-ção de qualidade.

Tribunal de Comércio dá razão à Autoridade da Concorrência

OTOC apela para Tribunal da Relação no âmbito da formação

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As várias disposições da oitava Directiva foram já, em grande parte, transpostas para o ordenamento jurídico e acolhidas na legislação e regulamentos da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC). Tendo em conta aquele diploma, a Ordem terá que apresentar, até ao final do ano, o novo Código de Ética, o qual substitui o Código de Ética e Deontologia Profissional, que conta já com uma década.

Está para consulta pública o Projecto de Código de Ética da OROC, que parte do princípio que “uma mar-ca distintiva da actividade dos revisores oficiais de contas/auditores é a respectiva aceitação da responsabilidade para agir no interesse público, competindo-lhe ir muito para além da satisfação das necessidades de um cliente em par-ticular”. Como tal, os auditores devem cumprir o referido código, que define os princípios éticos aplicáveis e apre-senta uma quadro conceptual para os implementar, com o objectivo de identificar ameaças ao cumprimento dos princípios fundamentais, avaliar a importância das ame-aças identificadas e aplicar as salvaguardas necessárias, de modo a eliminar as ameaças ou reduzi-las a um nível acei-tável.

Refere o projecto que “o auditor deve usar o julgamen-to profissional ao aplicar este quadro conceptual, pelo que o Código estabelece um quadro conceptual que exige que o auditor identifique, avalie e responda de forma adequa-da às ameaças ao cumprimento dos princípios fundamen-tais”. O que significa que cabe ao profissional estabelecer os controlos e procedimentos de auditoria necessários que lhe permitam identificar qualquer ameaça que possa afectar o desenvolvimento da sua prática profissional e, na medida do possível, planificar as acções convenientes para cada tipo de ameaça.

A OROC chama a atenção para uma situação que pode ocorrer e a que o profissional deverá estar particularmente atento: “Quando o auditor determinar que não estão dis-poníveis salvaguardas apropriadas ou que as mesmas não podem ser aplicadas para eliminar as ameaças ou reduzi-las a um nível aceitável, deve eliminar a circunstância ou o relacionamento que cria as ameaças ou recusar o trabalho ou renunciar ao mandato.”

Ameaças ao cumprimento dos deveres de auditoria

O projecto apresenta vários exemplos que podem criar ameaças ao cumprimento dos princípios fundamentais, bem como de salvaguarda que podem eliminar ou reduzir as ameaças a um nível aceitável. Quanto às ameaças de in-teresse pessoal, o destaque vai para uma empresa que tenha excessiva dependência dos honorários de um cliente sobre o total dos honorários, um membro da equipa de trabalho de garantia de fiabilidade que tenha negócios com o clien-te ou uma firma que esteja preocupada com a possibilida-de de perder um cliente importante. Uma outra ameaça é quando um auditor descobre um erro significativo ao ava-liar os resultados de um trabalho anterior executado por um membro da empresa desse profissional.

As ameaças de representação representam outra rea-lidade, designadamente a empresa que faça a promoção de instrumentos de capital num cliente de auditoria ou um auditor que actue como representante de um cliente de auditoria em litígios ou disputas com terceiros. Para além das relações de família, que também representam um risco, haverá que contar as ameaças de intimidação. Por exemplo, uma empresa que seja ameaçada de demissão pelo cliente ou ameaçada de litígio, uma firma que seja pressionada a reduzir de forma não apropriada a extensão do trabalho a executar, a fim de reduzir honorários ou, entre outras situações, um auditor que seja informado por um sócio da firma que uma promoção planeada não ocor-rerá a não ser que ele aceite um tratamento contabilístico não apropriado do cliente de auditoria.

A OROC dá também alguns exemplos de salvaguardas que podem eliminar ou reduzir ameaças a um nível aceitável. São os casos dos requisitos de formação profissional contínua, os regulamentos de governação das sociedades e os procedi-mentos de monitorização do exercício da actividade profis-sional estabelecidos pela ordem. Não menos importante são a supervisão e o controlo dos relatórios, declarações, comunica-ções ou informações produzidos. Os profissionais terão ainda que estar atentos às salvaguardas estabelecidas no contexto do trabalho – neste caso gerais e específicas – bem como àquelas criadas nos sistemas e procedimentos do cliente.

Para dar resposta a exigências da 8ª Directiva

OROC apresentaProjecto de Código de Ética

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Credibilidade dos TOC

Os TOC são os interlocutores credíveisentre as empresas, os empresários e o Estado,no âmbito da contabilidade e fiscalidade, pelo queas questões avançadas são de capital relevância.

Solicitadas respostas à Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais

OTOC quer resolver problemas relacionados com a profissão

A Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) quer resolver com o Governo vários problemas relacionados com a profissão. Por outro lado, Domingues de Azevedo, bastonário da OTOC, já colocou à disposição da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais a colaboração da entidade que dirige, tendo em conta que esta trabalha no terreno e conhece os problemas e as necessidades dos contribuintes.

Há questões que a OTOC gostaria de ver resolvidas o mais rapidamente possível, até para tornar a arrecadação de receita mais eficaz e atribuir uma maior funcionalidade aos deveres dos profissionais da contabilidade. Domingues de Azevedo elenca algumas dessas questões, tidas como cen-trais no desempenho das funções dos técnicos oficiais de contas. Aliás, são situações entendidas como essenciais para o reequilíbrio das contas públicas.

A primeira matéria a abordar prende-se com a análise do prazo para a entrega da Informação Empresarial Simpli-ficada (IES), relativa ao exercício passado e a entregar ainda este ano. Também deseja a reformulação da concepção, dos meios e da forma disponibilizados aos TOC para o cum-primento do dever declarativo dos contribuintes, por cuja contabilidade são responsáveis. Isto a par da reanálise dos prazos estabelecidos para o cumprimento das obrigações declarativas, “procurando a sua maior dispersão no tempo, contrariamente à elevada concentração que ultimamente se tem verificado”, explica Domingues de Azevedo.

Mas a OTOC tem ainda outras matérias em carteira que gostaria de ver debatidas e resolvidas. É o caso da fixação de um prazo para a disponibilização dos formulários electró-nicos para o cumprimento das obrigações declarativas, que “não deverá ser inferior a cinco meses da data do termo do cumprimento da obrigação, possibilitando por essa via um mínimo de familiarização dos profissionais e contribuintes com as alterações introduzidas naqueles formulários”.

Domingues de Azevedo destaca a análise dos efeitos da dissolução, liquidação e partilha de pessoas colectivas sem a intervenção dos TOC, bem como “a cooperação e a troca de informações entre a Ordem e os serviços sob a tutela da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais, com vista ao cumprimento da missão de interesse público atribuído à Ordem”. Domingues de Azevedo acrescenta sobre as maté-rias referidas: “Os TOC são os interlocutores credíveis entre as empresas, os empresários e o Estado, no âmbito da con-tabilidade e da fiscalidade, pelo que as questões avançadas são de capital relevância.”

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Guia de Controlo de Qualidadeda OROC

A Ordem dos ROC distribuiu a 2.ª edição do “Guia de Controlo de Qualidade para Firmas de Auditoria de Pequena e Média Dimensão”.

Pela sua importância no contexto do Controlo de Qua-lidade dos ROC, a seguir transcrevemos a “Mensagem do Bastonário”, Dr. António Monteiro, incluída no livro.

“MENSAGEM DO BASTONÁRIO

Desde há vários anos que a Ordem tem vindo a afectar importantes recursos e a fazer esforços significativos no sentido de promover a melhoria da qualidade do trabalho dos Revisores Oficiais de Contas.

Pese, embora, o importante contributo que tem vindo a ser dado pela Comissão de Controlo de Qualidade e pelos seus Controladores, sempre considerei que se justificava promover uma acção sistematizada dirigida aos membros da Ordem no sentido de os apoiar na implementação de um Sistema de Controlo de Qualidade.

A qualidade dos trabalhos efectuados pelos Revisores Ofi-ciais de Contas é essencial para reforçar a credibilidade dos documentos de prestação de contas postos à disposição dos accionistas, financiadores, potenciais investidores e demais utentes interessados.

Esta nobre missão de interesse público implica que a actua-ção dos Revisores Oficiais de Contas deve ter como prin-cipal preocupação a manutenção de um elevado nível da qualidade dos serviços que presta aos seus clientes, sem a qual não se respeitam suficientemente os princípios fun-damentais da ética que norteiam a nossa profissão.

Nos últimos anos temos assistido a alterações significati-vas nos mercados onde estamos envolvidos, no espectro de serviços que prestamos, nas relações profissionais com os nossos clientes, na regulação da actividade e na forma como executamos e documentamos os nossos trabalhos e reportamos as nossas conclusões.

As crescentes solicitações que nos são dirigidas no dia a dia não podem, porém, condicionar a qualidade que devemos imprimir na execução dos trabalhos realiza-dos e no adequado relato das conclusões extraídas. É da responsabilidade de cada Revisor Oficial de Contas o es-tabelecimento de sistemas de controlo de qualidade que proporcionem garantia razoável de que todo o pessoal da firma ou estrutura profissional cumpre com as normas

de auditoria e com os requisitos legais e regulamentares aplicáveis e que os relatórios que produzem são apro-priados circunstâncias.

Tais sistemas de controlo de qualidade são necessariamen-te diferentes consoante o tipo de estrutura e devem ser ajustados à realidade de cada Revisor Oficial de Contas, à dimensão da sua firma e dos seus clientes e aos recursos materiais e humanos de que dispõe.

Ciente da importância dos sistemas internos de controlo de qualidade e do seu importante contributo para se alcançar níveis de excelência, sobretudo por parte das es-truturas de pequena e média dimensão, a OROC deci-diu traduzir e colocar à disposição dos Revisores Oficiais de Contas este Guia de Controlo de Qualidade emitido pela IFAC, que, estou certo, ajudará a estabelecer e a melhorar as práticas profissionais adoptadas, constituin-do um contributo efectivo para a melhoria do sistema do controlo de qualidade que se pretende mais efectivo e mais abrangente.

Lisboa, Março de 2011”.

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TOC conseguem prorrogar prazosde entrega de declarações

Domingues de Azevedo lamenta

Há associações que defendem interesses específicos e prejudicam os TOC

Os técnicos oficiais de contas têm garantido algumas “vitórias” impor-tantes junto do poder político, mais concretamente do Ministério das Finanças. Perante vários pedidos de alargamento de prazos para entrega de declarações fiscais, a administra-ção fiscal acabou por aceder, como foi o caso, por exemplo, da IES.

De facto, depois da pressão da Or-dem e de outras entidades profissio-

nais, foi alargado o prazo para o cum-primento da obrigação declarativa da Informação Empresarial Simplifica-da, relativa ao ano passado, para 17 de Agosto. A justificação dada foi o facto de o respectivo modelo ter sofri-do profundas alterações face às novas exigências de relato, designadamente as relativas às microentidades e ao sec-tor não lucrativo. Daí o prazo ter sido prorrogado por mais de um mês.

Mas esta mudança de datas tam-bém é uma prova de que os profissio-nais têm a força necessária para susci-tarem alterações, naturalmente dentro do bom senso. Portugal continua a ter problemas crónicos, os quais também se fazem sentir nas obrigações fiscais. A documentação exigida continua a ser excessiva, demasiado complexa e com a agravante que a legislação con-tinua a chegar em catadupa.

“É tempo de nos comportarmos dentro dos padrões que são exigidos numa ordem profissional e abando-narmos o conceito de quintinha em que cada um gosta de cultivar a sua ideia de profissão.” É desta forma que Domingues de Azevedo, basto-nário da Ordem dos Técnicos Ofi-ciais de Contas (OTOC), critica de forma dura as entidades que se têm oposto às medidas e decisões toma-das pela instituição.

Em artigo de opinião publica-do na revista “TOC”, sem designar nomes das instituições ou de indi-vidualidades, lamenta a existência de associações privadas tentando competir ou contrariar, “pelo seu interesse específico”, a função da entidade reguladora. Em causa os comentários de uma associação

particular quanto ao resultado de uma impugnação que a Ordem fez relativa a uma acusação da Autori-dade da Concorrência. Domingues de Azevedo acha que na base desses comentários apenas estarão interes-ses financeiros na área da formação. “Não se justifica a necessidade de uma guerrilha permanente, pois este tipo de atitudes acaba por trans-mitir uma imagem da profissão que em nada lhe é benéfica.”

O bastonário adianta que quem ganha as eleições deve assumir a responsabilidade de concretizar as ideias apresentadas, sendo a sua ac-ção avaliada no próximo acto elei-toral. Vai mais longe ao afirmar que na profissão de técnico oficial de contas “há situações ímpares que não se vêem noutras congéneres”.

E refere ainda que há quem, numa tentativa de ganhar notoriedade do domínio social invada, invocando o nome dos TOC, as redacções dos meios de comunicação social, “pro-curando um protagonismo que não consegue conquistar através da vontade manifesta pelo voto dos profissionais”.

Quanto ao caso da formação, Domingues de Azevedo considera que a Ordem tem de ter uma função decisória, “não só no tipo de forma-ção que concorre para os objectivos pretendidos, mas também na pros-secução de uma missão que lhe está confiada no artigo terceiro do Esta-tuto e que, pela sua natureza legal, é um imperativo geral”. Apela à união em torno dos legais representantes da profissão.

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José Dionísio, presidente da Primavera BBS, critica

Legislação fiscal desviaos já escassos fundosdas empresas

A legislação fiscal obriga a uma actualização constante por parte das empresas. Acontece que as entidades, em vez de investirem os seus já escassos recursos financeiros nos respectivos sistemas de informação, “andam para o lado”, para darem resposta às exigências do legislador. Uma situação que não é aceitável nem compreensível, lamenta José Dionísio, presidente da Primavera Business Software Solutions, que apela a uma aproximação efecti-va entre o legislador e os fabricantes.

Assume que os técnicos oficiais de contas e os gabinetes de contabilidade são particularmente afectados pelo facto de o legislador alterar, com demasiada frequência, as regras fis-cais. Refere o responsável da Primavera a este propósito, na entrevista concedida à Vida Económica: “Para as empresas, em geral, o que se tem passado é que uma componente das verbas disponíveis para a evolução dos seus sistemas de in-formação, ano após ano, é gasta na actualização por motivos fiscais. Por isso, as empresas, em vez de gastarem os seus es-cassos recursos financeiros na evolução dos seus SI, acabam por satisfazer as exigências do legislador. Penso que tal não é minimamente desejável”, explica José Dionísio.

Um outro aspecto que aquele responsável encara como não tendo sido minimamente razoável foi a recente obri-gatoriedade da certificação de software se aplicar a todas as empresas nacionais. “Algo que não foi minimamente razo-ável. Exigiu-se que cerca de 300 mil empresas tenham de actualizar os seus sistemas de informação com as versões certificadas. O que realmente se pretendeu foi resolver um problema que fazia parte de 400 ou 500 restaurantes que tinham condições para promover a evasão fiscal.”

Com a agravante que o grupo de empresas que está com volumes de negócios abaixo dos 250 mil euros é pre-cisamente aquele que fica fora da aplicação da lei no pri-meiro ano. “Tivemos um final de ano terrível, assim como os nossos parceiros e clientes. Este é mais um exemplo da obrigatoriedade de investimento que o Estado faz, obri-gando a que as empresas vão no sentido da lateralização da evolução.”

Gabinetes são nicho de mercadopara o “cloud computing”

As empresas/gabinetes de contabilidade podem be-neficiar do “cloud computing”, como adianta o respon-sável da Primavera. E está a ser feito precisamente um esforço junto das empresas prestadoras de serviços de contabilidade. “Os vários gabinetes são, de facto, um nicho de mercado para o qual a cloud se aplica muito bem, porque permite integrar com grandes vantagens aquilo que é o serviço dessas empresas com todos os seus clientes. O sistema tem virtudes indiscutíveis, que têm a ver com colocar o ecossistema dessas empresas prestadoras de serviços a partilhar com os seus clientes, numa mesma plataforma e de forma integrada.”

Reconhece que este é um nicho de mercado estrate-gicamente muito importante – desde logo para os fabri-cantes de software – porque através dos gabinetes é mais simples chegar aos seus clientes. “Algo que não era tão fácil de acontecer até agora, na medida em que as áreas funcionais da contabilidade, como a gestão do imobili-zado ou o processamento de salários – eram garantidas pelo gabinete, logo não tendo essas microempresas neces-sidade de terem esses produtos. O que queremos é que a facturação e a contabilidade passem a ser utilizadas tanto pelo gabinete como pelo cliente num mesmo ambiente de trabalho.”

A realidade é que a Primavera já possui, actualmente, cerca de 2100 empresas que, directa ou indirectamente, têm as suas contas ou a sua facturação feita em ambiente cloud.” A área realmente crítica é a facturação, mas José Dionísio lembra que a internet não falha e facilmente tem redundâncias.

Aproximação(…) que apela a uma aproximação efectivaentre o legislador e os fabricantes.

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REVISTA PORTUGUESADE CONTABILIDADE

No passado mês de Maio foi publicado o primeiro número da Revista Portuguesa de Contabilidade, cujo Director é o colaborador da C&E, Professor Dr. Hernâni O. Carqueja.

SÍTIO “JUSTO VALOR”

A Dra. Cristina Pinto e o Dr. André Vasconcelos procederam ao lançamento de um novo sítio na área da Contabilidade intitulado “Justo Valor” com endereço em www.justovalor.net.

OTOC PROMOVEU“2.º ENCONTRO MULHERNA PROFISSÃO”E “2.º ENCONTROLUSO-BRASILEIRODE CONTABILIDADE”

No passado dia 11 de Julho a OTOC promoveu “2.º Encontro Mulher na Profissão” e “2.º Encontro Luso Bra-sileiro de Contabilidade”, realizados no Centro Cultural de Belém.

XI PROLATINO E PRÉMIO INTERNACIONAL DE CONTABILIDADE PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO LOPES DE SÁ

O XI PROLATINO, organização conjunta da OTOC e do organismo congénere brasileiro, Conselho Fede-ral de Contabilidade, vai realizar-se no dia 23 de Setembro no Seminário Vi-lar (Porto), cujo programa consta do sítio da OTOC.

O pai do PROLATINO é o sau-doso Professor Doutor António Lo-pes de Sá, pelo que a continuidade da sua realização constituiu uma homenagem daquelas duas instituições de profissionais de contabilidade ao Mestre.

Os primeiros seis PROLATINOS e o último (X) reali-zaram-se no Brasil (o primeiro em São Salvador da Baía), sendo que este é o terceiro realizado em Portugal com o patrocínio da OTOC (os outros dois foram os VIII e IX).

Simultaneamente, será distribuído o Prémio Interna-cional de Contabilidade Professor Doutor António Lopes de Sá.

Esperamos que a iniciativa se mantenha por muitos anos perpetuando, desta forma, o nosso Mestre Professor Doutor António Lopes de Sá.

HOMENAGEM DO ISEG AO PROFESSOR ROGÉRIO FERNANDES FERREIRA

Como referimos no editorial, o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Universidade Técnica de Lisboa, promoveu no passado dia 12 de Julho (dia em que se completou o primeiro aniversário do falecimento do saudoso Professor Doutor Rogério Fernandes Ferreira) uma conferência sob o título “Recordando o Professor Rogério Fernandes Ferreira”, na qual foram abordados os seguintes temas/autores:

- A Contabilidade e a Normaliza-ção Contabilística – Hernâni O. Carqueja - e Joaquim Fernando da Cunha Guimarães;

- Gestão Financeira - Oliveira Marques e João Carvalho das Neves;

- A Fiscalidade - Carlos Loureiro e Paulo Macedo.

No ISEG, o Professor Rogério Fernandes Ferreira foi aluno, docente durante muitos anos, obteve o douto-ramento e prestou provas de agregação (catedrático), pelo que registamos posi-tivamente a iniciativa.

Relembramos que o ISEG já tinha efetuado uma homenagem ao Profes-sor, na sequência da qual foi publicado, em 2001, o livro intitulado “Ensaios de Homenagem a Rogério Fernandes Fer-reira” (ver figura da capa).

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IMTCASO PRÁTICO NO 12*

Pergunta 1 - Quais os factos abrangidos pelo campo de incidência de IMT?Respostaa) A utilização dos bens imóveis;b) As transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade sobre bens imóveis situados no território nacional;c) As transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade sobre bens imóveis situados na União Europeia;d) As transmissões a título gratuito.

Pergunta 2 - Por quem é devido o IMT?Respostaa) Pelos alienantes;b) Pelos donatários;c) Pelas pessoas, para quem se transmitam os bens imóveis;d) Pelos herdeiros.

Pergunta 3 - Sobre que valores incide o IMT?Respostaa) Regra geral, incidirá sobre o valor constante do ato ou do contrato ou sobre o VPT, consoante o que for maior;b) Sobre o valor constante da respetiva escritura de compra e venda;c) Sobre o valor da doação;d) Sobre o valor constante do contrato promessa que vier a ser provado.

Pergunta 4 - Qual o VPT a ter em conta na liquidação do IMT?Respostaa) O que estava em vigor antes da última atualização;b) O valor dos bens imóveis inscritos nas matrizes à data da transmissão;c) O que resulta do rendimento capitalizado com o fator 15;d) O valor dos bens imóveis inscritos nas matrizes à data da liquidação.

Pergunta 5 - Regra geral, a quem pertence a iniciativa da liquidação do IMT?Respostaa) Dos serviços locais a partir das alterações matriciais;b) Dos interessados, para cujo efeito devem apresentar uma declaração modelo 1 do IMT;c) Dos serviços distritais que notificarão os devedores;d) Dos Serviços Centrais.

Pergunta 6 - Quando o comprador, notar que o VPT do prédio que vai adquirir está excessivo, o que poderá fazer?Respostaa) Pode requerer ao chefe a desconsideração do VPT;b) Pode reclamar junto do diretor distrital;c) Pode requerer a avaliação nos termos do CIMI;d) Pode fazer um requerimento ao DGCI para que o VPT não seja tido em conta.

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Pergunta 7 - Qual o prazo de pagamento do IMT quando a iniciativa da liquidação é do sujeito passivo?Respostaa) No prazo de 15 dias após a liquidação;b) No prazo de 30 dias após a liquidação;c) Regra geral o IMT deve ser pago no próprio dia da liquidação ou no 1.º dia útil seguinte;d) No prazo de oito dias após a liquidação.

Pergunta 8 - Onde pode ser pago o IMT?Respostaa) Só na Tesouraria das Finanças da área da situação dos prédios?b) Só na Tesouraria das Finanças da área do domicílio do sujeito passivo;c) Nas tesourarias e na NET;d) Nas Tesourarias de Finanças, no Multibanco, na Net, nos Correios, ou em qualquer outro local autorizado nos

termos da lei.

Pergunta 9 - Para haver transmissão fiscal é sempre necessário que exista escritura pública que titule a transmissão do imóvel?Respostaa) Sim, sem escritura pública não há transmissão;b) Bastará que, cumulativamente, se verifiquem dois requisitos: existir contrato-promessa e, com base nele, existir

tradição ou posse.c) Só com registo na Conservatória;d) Bastará que entre na posse, mesmo sem contrato.

Pergunta 10 - No caso de se considerar que existe transmissão fiscal por haver contrato promessa e tradição ou posse do imóvel, qual o prazo para solicitar a liquidação?Respostaa) Antes da data do contrato, se o adquirente já estiver usufruindo os bens, ou da data da tradição se esta se verificar

depois;b) Prazo de 30 dias a contar da data do contrato, se o adquirente já estiver usufruindo dos bens, ou da data da tradição

se esta se verificar depois;c) Prazo de 15 dias a contar da data do contrato, se o adquirente já estiver usufruindo os bens, ou da data da tradição

se esta se verificar depois;d) Prazo de 60 dias a contar da data do contrato, se o adquirente já estiver usufruindo os bens, ou da data da tradição

se esta se verificar depois.

SOLUÇÕES1 - Resposta correta b) – As transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade sobre bens imóveis situados no território nacional;2 - Resposta correta c) – Pelas pessoas, para quem se transmitam os bens imóveis;3 - Resposta correta a) – Regra geral, incidirá sobre o valor constante do ato ou do contrato ou sobre o VPT, consoante o que for maior;4 - Resposta correta d) – O valor dos bens imóveis inscritos nas matrizes à data da liquidação;5 - Resposta correta b) – Dos interessados, para cujo efeito devem apresentar uma declaração modelo 1 do IMT;6 - Resposta correta c) – Pode requerer a avaliação nos termos do CIMI;7 - Resposta correta c) – Regra geral o IMT deve ser pago no próprio dia da liquidação ou no 1.º dia útil seguinte;8 - Resposta correta d) – Nas Tesourarias de Finanças, no Multibanco, na Net, nos Correios, ou em qualquer outro local autorizado nos termos da lei;9 - Resposta correta b) – Bastará que, cumulativamente, se verifiquem dois requisitos: existir contrato-promessa e, com base nele, existir tradição ou posse.10 - Resposta correta b) – Prazo de 30 dias a contar da data do contrato, se o adquirente já estiver usufruindo dos bens, ou da data da tradição se esta se verificar depois.

*Abílio Marques, Manual de Formação Segmentada da Ordem dos TOC, sob o título “Tributação do Património (IMT/IMI/IS)”, Maio/2011, pp.51-53, com ligeiras adaptações.

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Este é um livro diferente do habitual. Resulta de um documento conjunto pro-duzido pelos diferentes grupos e que re-flecte a sua respectiva posição. Na obra são seleccionados seis sectores de actividade e dois temas transversais.

Cada sector/tema transversal é anali-sado por dois intervenientes, um deputado e um gestor ou empresário, detentores de uma experiência aprofun-dada de trabalho no sector/tema correspondente, os quais identificam três a cinco problemas que condicionam a ac-tividade económica no seu sector/tema. São igualmente

identificados os potenciais impactos des-favoráveis que a não eliminação dos pro-blemas reconhecidos pode originar num futuro próximos. São ainda propostas al-terações legislativas ao quadro normativo vigente.

As áreas abordadas são as tecnologias da informação, as telecomunicações, a saúde, a energia, as relações laborais, a fiscalidade, o turismo e a banca. Trata-se de mais uma publicação da responsabilidade do grupo editorial Vida Económica, tem 136 páginas e o preço de venda ao público é de 9,90 euros.

A obra “Diálogos Interculturais – Os Novos Rumos da Viagem” centra-se em áreas inéditas e interculturais, ao congregar autores prove-nientes de múltiplas nacionalidades e dos mais diversos contextos académicos. O livro realiza viagens interculturais no espaço, no tempo e entre os vários conceitos de cultura.

As investigações coligidas lançam luz sobre os estudos interculturais realizados em Portugal ou sobre Portugal, um território social, geo-gráfico, mental e histórico. De facto, o território cultural de Portugal é rico em velhas e novas rotas de migração,

emigração e imigração e proporciona todo um manancial de fenómenos de interculturalidade passível dos mais diversos estudos científicos. Este é um trabalho que resulta dos rumos de in-vestigação traçados pelo Centro de Estudos In-terculturais do Instituto Politécnico do Porto.

O livro está dividido em três partes, desig-nadamente representações interculturais, lin-guagens do diálogo intercultural e globalização e história intercultural. Trata-se de uma publi-

cação da Vida Económica e conta com a coordenação de Clara Sarmento. Tem 512 páginas e o preço é de 18 euros.

A moda é um fenómeno global. O livro tem como objectivo ajudar à sua compreensão nas suas variadas vertentes e numa perspectiva in-ternacional. Contém as reflexões de professores e investigadores de todo o mundo e de várias áreas do saber.

Mas a obra também dá voz a jovens investi-gadores, procurando ultrapassar as dificuldades que estes muitas vezes encontram ao tentarem publicar os resultados do seu trabalho. Este é um trabalho que se destina, em primeira instância, a gestores e

profissionais do mundo da moda que pretendam aprofundar as raízes deste fenómeno e terem uma perspectiva actual daquilo que se passa na indústria e no retalho, em termos globais.

O livro conta com a coordenação de Isabel Cantista, Francisco Vitorino Martins, Paula Rodrigues e Maria Helena Villas-Boas Alvim, sendo composto por 15 artigos escritos por 24 autores. Esta é mais uma publicação do grupo editorial Vida Económica. Tem um total de 304

páginas e está disponível ao público por 15 euros.

Empresas Parlamento

Os diálogos interculturais

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A moda num mundo global

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