construção de um resumo

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Escola Secundária da Ribeira Grande Tecnologias Informáticas Ficha de apoio ANO: 10º Construção de um resumo Com o resumo, pretende-se atingir o equilíbrio entre o mínimo de palavras e o máximo da informação relevante presente no texto-fonte. Significa isto que poderemos retirar de um texto uma parte do seu material verbal, sem prejudicarmos o essencial da informação referencial, objectiva, que ele comunica. O produto obtido não é certamente um texto idêntico: é outro texto contendo a mesma informação essencial. A técnica do resumo opera mais ao nível da transformação do discurso do que ao nível da palavra. Resumir não é só dizer por outras palavras, é dizer por outras e com menos palavras, o que só se conseguirá se se modificar o discurso. Procedimentos a respeitar quando se faz um resumo Marco António Página 1 de 15

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Page 1: Construção de um resumo

Escola Secundária da Ribeira Grande

Tecnologias Informáticas

Ficha de apoio

ANO: 10º

Construção de um resumo

Com o resumo, pretende-se atingir o equilíbrio entre o mínimo de

palavras e o máximo da informação relevante presente no texto-

fonte. Significa isto que poderemos retirar de um texto uma parte

do seu material verbal, sem prejudicarmos o essencial da

informação referencial, objectiva, que ele comunica. O produto

obtido não é certamente um texto idêntico: é outro texto contendo

a mesma informação essencial.

A técnica do resumo opera mais ao nível da transformação do

discurso do que ao nível da palavra. Resumir não é só dizer por

outras palavras, é dizer por outras e com menos palavras, o que só

se conseguirá se se modificar o discurso.

Procedimentos a respeitar quando se faz um resumo

1. Conservar a ordem sequencial das ideias.

2. Salvaguardar o sistema de enunciação.

3. Reformular o discurso sem tomar posição:

3.1. retirar a maioria dos pormenores, exemplos pouco significativos, citações, breves narrativas, que servem para

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explicar ou ilustrar os dados e as opiniões, evitando, no entanto, esquematismo excessivo;

3.2. quando os textos apresentam informação quantificada, conservar somente os números mais significativos;

3.3. suprimir as repetições e tudo que se insira no estilo pessoal do autor do texto;

3.4. manter apenas as conexões que exprimem a linha de raciocínio mais importante.

3.5. Retirar as fórmulas do tipo “O autor pensa que…; mostra que…”.

4. Não copiar frases integrais do texto.

5. Respeitar o número de palavras pedido.

Caso prático

Texto:

A CASA DE CAMÕES

Se fosse um campo de futebol estaria coberto de erva

daninha e deitado ao abandono…

Em Stratford-upon-Avon, uma cidadezinha inglesa, existe

uma casa que qualquer inglês conhece: a casa de Shakespeare.

Acontece, porém, de que nessa casa tenha realmente vivido o

grande poeta e dramaturgo. Pressupõe-se que sim e os milhares de

visitantes que anualmente ali ocorrem fingem que acreditam. Todos

os anos há um festival internacional de teatro que coloca a pequena

cidade nas páginas dos jornais (ingleses) e nos ecrãs das televisões

(inglesas).

Ora, a pretensa casa de Shakespeare, pequena e de aparência

humilde, apesar dos seus quatrocentos anos, é coisa digna de ver,

não só pelo seu aspecto seguro e pela sua boa conservação, mas

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pelos objectos de museu que a compõem. Os habitantes da pequena

cidade, à custa das visitas à casa, vivem do turismo. A própria

localidade tornou-se paragem obrigatória para quem visita a

Inglaterra e são aos milhares os turistas que a visitam.

Falemos agora de um outro caso: a casa dos Camões em Vilar

de Nantes. […] Há quem diga que isso de Camões ter nascido em

Chaves é uma treta. Pois claro que é uma treta. Camões nunca

poderia ter nascido em Chaves. O grande épico, efabulador de

efeitos heróicos, ele também herói sem recompensa, que morreu

numa espelunca comido de miséria e de doença, como poderia

nascer numa cidade tão rica e tão sisuda? No entanto, está mais

que provado que a família de Camões era sem dúvida a mesma que

construiu e habitou a casa de Vilar de Nantes. É provável até que o

poeta tenha passado algumas temporadas aí, bebendo a água da

serra, ouvindo os pardais nos carvalhos, debaixo de uma cerejeira

enquanto compunha um soneto de amor.

Pois a casa, embora pequena para os nossos olhos actuais,

habituados a edifícios enormes repletos de pequenas caixas onde

vivemos entalados entre os móveis, era, há quatrocentos anos

atrás, bastante confortável. Visitem-se as aldeias em redor e deite-

se uma olhadela às casas de granito com pouco mais de cinquenta

anos que a constituem: pequenas, de uma a duas divisões e o curral

por baixo onde conviviam os porcos, a burra e uma ou duas cabras

leiteiras.

A casa dos Camões, a quem a visitar, mostra uma data na

ombreira da porta principal: 1574. Não se sabe se é a data de

construção, se é a data da restauração. Propomos a segunda

hipótese, uma vez que era costume entre fidalgos (e os Camões

eram gente fidalga) a reconstrução das habitações quando

aumentava a família ou quando a casa estava em vias de ruir. A

casa tem o rés-do-chão e o primeiro andar. No rés-do-chão

guardavam-se as cavalgaduras, os porcos e as cabras. Para isso não

faltava espaço. No primeiro andar temos uma varanda com um

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desenho típico da região e umas quantas divisões separadas por

tabiques de madeira e gesso. Havia ainda uma outra parte da casa,

e que ruiu recentemente, que tinha mais algumas divisões,

provavelmente quartos de dormir em cima e em baixo a tulha do

cereal.

Alguns perguntar-se-ão como poderia uma família de gente

fidalga viver numa casa assim. E a resposta já foi dada acima: as

casas dos nossos avós, onde ainda hoje vivem, não são melhores.

São, aliás, muito mais pequenas e menos confortáveis. Uma casa

daquelas, em 1574, corresponderia agora a uma vivenda de dois

andares com ar condicionado e piscina. Apesar de todas as obras

que se têm feito (e nisso bem hajam os senhores presidentes), a

casa teima em não aguentar os abalos do tempo. Mais dois ou três

anos, uma chuva mais forte, um vento mais impetuoso, e adeus

casa dos Camões. E ninguém se importará muito com isso. Afinal,

que ganharão os senhores presidentes com a restauração de uma

casa que nem se sabe se é de Camões? Deixá-la cair. A família

(actual e que, tanto quanto se sabe, nada tem a ver com o épico)

que meta o projecto para uma nova. Sempre se aproveitarão as

pedras para os alicerces.

José Leon Machado, “Os aduladores da gravata”, in Letras &

Letras, 1996

(674 palavras)

Observar o texto

- Trata-se de um texto jornalístico, institucional, burocrático,

ensaístico ou outro?

- Tem título? Pós-título?

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- A sua apresentação gráfica é em uma ou em várias colunas?

- Está estruturado em parágrafos?

Olhemos o texto e anotemos:

Trata-se de um texto do jornal Letras & Letras, que é um

jornal cultural.

Apresenta título: A casa de Camões; o título desperta a

curiosidade para um assunto ligado à biografia do nosso grande

épico, de ordem cultural, portanto.

Apresenta pós-título: o pós-título põe uma hipótese que

veicula uma opinião.

O texto é uma coluna e apresenta seis parágrafos.

A observação de um texto, das suas características gráficas e

da sua apresentação, pode dar-nos informação sobre a sua

natureza e levar-nos a pôr hipóteses sobre o seu assunto e sobre a

intenção do seu autor.

Fazer uma primeira leitura geral sobre o texto

Durante esta primeira leitura, podemos aperceber-nos:

- do assunto do texto;

- dos tópicos mais insistentemente focados.

Que compreendemos em termos globais?

É feita a comparação entre a atitude dos ingleses e a dos

portugueses, perante a casa de um dos escritores consagrados de

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cada uma das respectivas literaturas: os ingleses transformaram a

hipotética casa de Shakespeare num foco de desenvolvimento

turístico; os portugueses ignoram e desprezam uma “provável”

casa dos Camões.

Qual é a ideia fundamental do texto?

Os portugueses são criticados por, diferentemente dos ingleses,

não quererem nem saberem tirar proveito, em termos de turismo

cultural, de uma casa que se diz ter pertencido à família de

Camões.

Esta primeira leitura confirma-nos os resultados do nosso

primeiro olhar sobre o texto: uma curiosidade, a propósito de uma

figura literária, é o pretexto para se fazer crónica sobre a forma

como os portugueses tratam o seu património cultural.

Fazer uma leitura profunda do texto

Durante esta leitura devemos dar atenção:

1 – às palavras que remetem para as mesmas ideias e factos e que,

por isso, os repetem e neles insistem;

2 – aos conectores que encadeiam essas ideias e factos

3 – à pontuação que contribui para o seu ordenamento.

1. O material lexical

Façamos a observação de:

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- repetição de palavras;

- emprego de palavras ou expressões variadas em torno de

um mesmo tema;

- retoma de uma mesma ideia, expressa de modo diferente.

Termos em torno da referência literária

Shakespeare; Camões; grande poeta; grande épico; dramaturgo;

efabulador de feitos heróicos; teatro.

Termos em torno da referência habitacional

Casa; edifício; móveis; divisões; curral; ombreira; porta;

habitações; rés-do-chão; primeiro andar; varanda; tabiques;

quartos de dormir; tulha; piscina; alicerces.

Termos em torno da localização geográfica

Stratford-upon-Avon; Vilar de Nantes; cidadezinha; Chaves; cidade;

localidade; aldeia.

Termos em torno da ideia de aproveitamento turístico

Visitantes; visitas; turismo.

Repetições de ideias

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“está mais que provado que a família de Camões era sem dúvida a

mesma que construiu e habitou a casa de Vilar de Nantes”

“é provável até que o poeta tenha passado algumas temporadas”

“era, há quatrocentos anos atrás, bastante confortável”

“mostra uma na ombreira da porta principal: 1574”

“não faltava espaço”

“Havia ainda uma outra parte da casa”

“Uma casa daquelas, em 1574, corresponderia agora a uma

vivenda”

Através destes levantamentos pudemos tornar mais precisa a

compreensão do texto. Um grande número de palavras refere-se às

casas de dois escritores e às localidades onde se situam. Há

palavras que se referem a aproveitamento turístico. Encontramos

insistentemente expressa a possibilidade de fazer render

turisticamente “a casa dos Camões”, de tornar verosímil a

aceitação deste casa como lugar de peregrinação turística. Ao

observarmos atentamente tais palavras e tais repetições,

compreendemos bem a ideia geral:

Um casa em ruínas, possivelmente outrora pertencente à

família de Camões, deveria ser restaurada e aproveitada

turisticamente. Tal não se verifica, o que se torna lamentável,

sobretudo quando se compara com a situação da casa de

Shakespeare entre os ingleses.

A análise do material lexical e das repetições permitiu-nos

compreender melhor as ideias-chave do texto.

2. Os conectores

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A observação dos conectores ajuda-nos a compreender a linha

de pensamento presente no texto.

Verifica-se a existência de uma certa quantidade de ligações

adversativas e concessivas que indicam uma lógica de

contraposição de situações: porém, não só, mas, no entanto,

embora, aliás, apesar de.

Há também palavras conclusivas e causais que marcam o

decorrer do juízo que se vai fazendo sobre a questão: ora, pois,

uma vez que, afinal.

Há alguma preocupação com o tempo: quando, ainda, agora.

Neste caso, o encadeamento das ideias-chave do texto é a

contraposição, baseada em dados, de duas situações, de que se

extraem conclusões.

3. Pontuação

A observação da pontuação de um texto contribui para

confirmar a maneira de pensar que nele está presente.

Neste texto sublinhamos: o uso dos dois pontos abrindo

explicitações e pormenorizações; a presença de duas

interrogações que interpelam, na perspectiva crítica, própria de

uma crónica.

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Realizamos, separadamente uma por uma, as diversas

operações que conduzem à compreensão precisa de um texto; é

evidente que estas operações, com a experiência, se fazem quase

simultaneamente.

A reformulação metódica

A reformulação metódica do texto-fonte baseia-se em todas as

observações e dados da sua leitura profunda e prepara a fase final:

a redacção.

Depois da compreensão do texto, vai fazer-se, através de um

trabalho de reformulação, o registo dos elementos quais os quais

será redigido o resumo.

Num esquema constituído por duas colunas, colocaremos:

- do lado esquerdo, as palavras que contêm as informações ou

ideias essenciais;

- do lado direito, escreveremos a reformulação discursiva

dessas informações e ideias com vista à sua inserção no resumo.

Organizaremos este esquema dividindo-o por parágrafos.

Informações e ideias essenciais Reformulação

Primeiro parágrafo (linhas 1 a 8)

“que qualquer inglês conhece”

“não há qualquer certeza”

“coloca a pequena cidade nas

páginas…”

- famosa

- é duvidoso

- dá notoriedade

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Page 11: Construção de um resumo

Segundo parágrafo (linhas 9 a 16)

“coisa digna de ver”

“são aos milhares de turistas”

- aspecto impecável

- aproveitamento turístico

Terceiro parágrafo (linhas 17 a 28)

“nunca poderia ter nascido”

“está mais que provado que a família

de Camões era sem dúvida a mesma”

“bebendo a água da serra, ouvindo

os pardais…”

- não nasceu

- a casa é da família

- lá passou algumas

temporadas

Quarto parágrafo (linhas 29 a 36)

“bastante confortável” - boa

Quinto parágrafo (linhas 37 a 49)

“Propomos a segunda hipótese…”

“não faltava espaço”

- 1574, data da reconstrução

- espaçosa

Sexto parágrafo (linhas 50 a 65)

“as casas dos nossos avós, onde

ainda hoje vivem, não são melhores.”

“e adeus casa dos Camões”

“E ninguém se importará muito com

isso”

- mesmo a critérios actuais

- ruína

- indiferença

A redacção do resumo

Os habitantes de Stratford-upon-Avon tornaram famosa a

casa onde é duvidoso que tenha nascido Shakespeare, dando-lhe

notoriedade mundial. A casa apresenta um aspecto impecável e o

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aproveitamento que dela fizeram os ingleses faz com que o turismo

seja a principal actividade económica da cidade. Em Portugal, Vilar

de Nantes, Chaves, existe uma casa conhecida como casa de

Camões, onde Camões não terá, talvez, nascido, mas que pertenceu

à família do poeta e onde não é impossível que este tenha vivido

algumas temporadas e até composto alguns dos seus poemas

líricos. Não é inverosímil, pelo tamanho e divisões, que, sendo uma

boa casa, tenha pertencido a uma família fidalga, como era a de

Camões, em 1574, data que ostenta na entrada, e que poderá ser a

da sua reconstrução. É, pelo menos, como as que hoje existem na

região.

Esta casa está em ruínas, mas, em Portugal, a indiferença

perante o caso é total. As autoridades portuguesas parecem

considerar não haver nenhum proveito na reabilitação desta

pretensa casa dos Camões.

(171 palavras)

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