CONSTITUIÇÃO E SUAS CLASSIFICAÇÕES

1. Definição

“É conceituada como sistema de normas jurídicas, produzidas no exercício do poder constituinte, dirigidas precipuamente ao estabelecimento da forma de Estado, da forma de Governo, do modo de aquisição e exercício de poder, da instituição e organização de seus órgãos, dos limites de sua atuação, dos direitos fundamentais e respectivas garantias e remédios constitucionais e da ordem econômica e social”.

1.Sentido Jurídico, Político e Sociológico

Sentido Jurídico:

Kelsen: a Constituição é a lei fundamental, a primeira imposta pelo Estado e a que vincula o modo de elaboração de todas as demais normas jurídicas. Já propunha a distinção entre Constituição no sentido material e no sentido formal.

“a Constituição é ao mesmo tempo a norma fundamental hipotética, ou seja, o fundamento lógico que antecede a própria formalização da Constituição (sentido lógico-jurídico), e a norma positiva suprema , vale dizer, a lei suprema que estabelece as diretrizes para a elaboração das demais regras do ordenamento jurídico (sentido jurídico-positivo).

A Constituição seria a lei fundamental da organização estatal.

Sentido Político:

Carl Schmitt: Define-a como a decisão política fundamental (linha decisionista) que trata da participação do povo no governo, da estrutura e órgãos do Estado, dos seus Poderes e dos direitos e garantias individuais.

A Constituição seria o produto de uma decisão política fundamental.

Sentido Sociológico:

Ferdinand Lassale: Corresponde ao somatório dos fatores reais de poder que vigoravam em um país.

“Os fatores reais de poder que atuam no seio de cada sociedade são essa força ativa e eficaz que informa todas as leis e instituições jurídicas vigentes, determinando que não possam ser, em substância , a não ser tal como elas são.”

A Constituição seria o complexo de fatores reais de poder.

2. Conceito:

FORMAL

É o instrumento fundamental, elaborado ou reformado por

processo diferenciado, através do qual são veiculadas as normas de maior hierarquia no ordenamento

jurídico.

Designa todas as normas constantes de uma dada

Constituição, independente de sua natureza.

MATERIAL

É o complexo de normas jurídicas, cujo objeto é a prescrição da divisão territorial e funcional do exercício do

poder político e a afirmação e asseguramento dos direitos

fundamentais, inclusive os fins a serem alcançados na ordem

econômica e social, as técnicas de aplicação e os meios de proteção das

normas constitucionais.

Indica o conjunto de normas constantes de uma dada Constituição.

3. Histórico:

Constituição dos Antigos: idealizada por Platão (427 a.C. – 347 a.C.), Aristóteles (384 a.C. – 322 a. C.), assim como Políbio (205 a.C. – 120 a. C.) e Cícero (106 a.C.), e inserida no campo da moral e da política, seria uma ordem ideal.

Constituição Medieval: inspirada em Thomas de Aquino (1225 – 1274) e Marcílio de Pádua (1216 – 1343), bem como John Salisbury (1115 – 1180) e Henry Bracton (1216 – 1268), e insertada no campo do Direito, seria uma ordem jurídica dada, uma vez que delimitaria a capacidade de normatização dos poderes públicos sobre o conjunto de relações sociais e políticas na sociedade, não obstante a diversidade de formas de exercício e modos de legitimação daqueles existentes nesta, a partir de duas características.

Constituição dos Modernos: é formada pela sucessão das teorias da soberania do monarca, soberania do povo e soberania do Estado, que antecederam o surgirmento das Constituições democráticas do século das Constituições democráticas do século XX.

Em primeiro lugar, a teoria da soberania do monarca, elaborada por Thomas Hobbes (1588-1679) e Jean Bodin (1529-1596), demonstra que o poder conferido ao monarca seria provido de natureza perpétua (originária) e absoluta (indivisível), de maneira que o núcleo do poder político seria subtraído do contrato social, como também não seria submetido a controle por outro poder, compreendendo a nomeação de magistrados, a instituição e majoração de tributos, entre outros atos.

Em segundo lugar, a teoria da soberania do povo, enunciada por Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778) entre outros.

4. Funções: (Constantino Mortari

– Função de Unificação: é destinada a fundamentar a validade das normas legais que integram a ordem jurídica do Estado.

– Função de Garantia: é dirigida a assegurar a estabilidade das relações na sociedade.

– Função de Identificação: designa que as finalidades do Estado, frente às mudanças da sociedade, são garantidas pela Constituição, estabelecer o ordenamento jurídico.

5. Objetivo:

Estrutura Fundamental do Estado e da Sociedade

6. Elementos:

Orgânicos: são expostos nas normas constituionais que prescrevem a divisão territorial e funcional do exercício do poder político.

Limitativos: são expressos nas normas constitucionais que prescrevem a afirmação e asseguramento dos direitos fundamentais.

Sócio-ideológicos: surgem das normas constitucionais que prescrevem os fins públicos a serem alcançados na ordem econômica e social.

Estabilização Constitucional: são externados nas normas constitucionais que prescrevem os meios de proteção das próprias normas constitucionais.

Aplicabilidade: são exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas de aplicação das próprias normas constitucionais.

7. Classificação:

7.1 Quanto á forma: é classificada em Constituição escrita e Constituição não-escrita, costumeira ou consuetudinária.

Escrita: é compediada em documento único e solene, que sistematiza a estrutura fundamental do Estado e da sociedade. (ex. Brasileira 1988).

Não escrita, costumeira ou consuetudinária: é condensada em documento único e solene, compreendendo os precedentes judiciários (case law), textos esparsos (statue law), costumes, mormente os parlamentares, e convenções constitucionais. (ex. Inglesa).

7. Classificação:

7.2 Quanto ao objeto: é classificada em Constituição Liberal e Social.

Liberal: é a que não estão inseridas normas específicas em referência à ordem econômica, na medida em que o Estado liberal é limitado às funções tradicionais de proteção e repressão, sem que houvesse a adoção de qualquer políticas de desenvolvimento social. (Ex. Norte Americana).

Social: é a que está inserida em normas específicas em relação à ordem econômica, uma vez que o Estado social, malgrado afirma e assegura a propriedade privada e a liberdade de iniciativa, condiciona o uso dos bens e a atividade na economia ao bem-estar social, pelo mecanismo da intervenção na propriedade e no domínio econômico, com a finalidade de impedir que a utilização dos bens seja efetivada de maneira anti-social e a atuação das empresas seja efetuada com abuso de poder econômico.

7. Classificação:

7.3 Quanto origem: é classificada em constituição outorgada e promulgada.

Outorgada: é exteriorizada sem a participação dos cidadãos, posto que as normas constitucionais são estabelecidas pela declaração unilateral do agente do poder constituinte. (Ex. Chinesa).

Promulgada: é externada com a participação dos cidadãos, visto que as normas constitucionais são estatuídas pela deliberação majoritária dos agentes do poder constituinte.

7. Classificação:

7.4 Quanto ao modo: é classificada em constituição dogmática e histórica.

Dogmática: é produto de elaboração por órgão constituinte, que consubstancia os valores predominantes em determinado momento histórico.

Histórica: é proveniente de evolução dos fatos sociopolíticos, que demonstra a experiência de um povo no tempo.

7. Classificação:

7.5 Quanto à dogmática: é classificada em constituição ortodoxa e eclética.

Ortodoxa: é formada por uma ideologia. (Ex. Soviética).

Eclética: é informada por ideologias conciliatórias, tendo a elaboração constitucional sido resultante do compromisso entre forças políticas diferentes.

7. Classificação:

7.6 Quanto ao Modelo: é classificada em constituição garantia e constituição dirigente.

Garantia: é a que legitima o poder transferido pela sociedade ao Estado, assim como limita o poder do Estado perante a sociedade no presente.

Dirigente: é a que legítima e limita o poder do Estado em face da sociedade, bem como define as finalidades do exercício do poder político para o futuro, mediante a instituição de normas constitucionais programáticas.

7. Classificação:

7.7 Quanto ao Sistema: é classificada em constituição principiológica e preceitual.

Principiológica: é a em que predominam os princípios, identificados como normas constitucionais providas de alto grau de abstração, consagradores de valores, pelo que é necessária a mediação concretizadora.

Preceitual: é a em que prevalecem as regras, individualizadas como normas constitucionais revestidas de pouco grau de abstração, concretizadoras de princípios, pelo que é possível a aplicação coercitiva. (Ex. Mexicana).

7. Classificação:

7.8 Quanto à Extensão: é classificada em constituição sintética e analítica.

Sintética: é a que estabelece concisamente a estrutura fundamental do Estado e sociedade, pelo instrumento de normas materialmente constitucionais.

Analítica: é a que estatui prolixamente a estrutura fundamental do Estado e sociedade, por intermédio de normas material e formalmente constitucionais.

7. Classificação:

7.9 Quanto à Estabilidade: é classificada em constituição rígida, flexível e semi-rígida.

Rígida: é a modificável por processo de reforma constitucional, em conseqüência do exercício do poder constituinte derivado reformador, de forma que os eventuais conflitos entre normas constitucionais e normas legais são solucionados pelo critério hierárquico.

Flexível: é a mudável por processo legislativo ordinário, em decorrência do exercício do poder constituído, de modo que os eventuais colisões cronológico.

Semi-rígida: esta possui uma parte rígida, modificável por processo de reforma constitucional, e outra parte flexível, mudável por processo legislativo ordinário.

7. Classificação:

7.10 Quanto à Análise Ontológica da Concordância entre as Normas Constitucionais e a Realidade Política:

Constituição Normativa: é a que em processo político é configurado pela ordem constitucional, de maneira que há concordância entre as normas constitucionais e a realidade política.

Constituição Semântica: é a que o processo político não é conformado pela ordem constitucional de sorte que não há consonância entre as normas constitucionais e a realidade política.

Constituição Nominal: é a em que o processo político não é configurado pela ordem constitucional, porém a Constituição é dotada de aspecto educativo e prospectivo. (Constituição 1824, 1891, 1934 e 1946). Portanto, política np presente, há a aspiração de que tal desiderato seja alcançado no futuro.

8. Classificação da Constituição da República Federativa do Brasil

– Escrita;– Social;– Promulgada;– Dogmática;– Eclética;– Dirigente;– Principiológica;– Analítica;– Rígida;– Normativa.