CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES CONTRATUAIS

A sociedade empresária nasce com a vontade de seus sócios – affectio societatis

Concretiza-se com a elaboração do contrato social ou estatuto.

As sociedades em nome coletivo, em comandita simples e limitada serão constituídas por contrato social.

É importante distinguir entre sociedades concretizadas por contrato ou estatuto.

As sociedades contratuais se dissolvem de acordo com o que prevê o Código Civil.

As sociedades instituídas por estatuto se dissolvem com base na lei específica que trata das Sociedades por Ações.

O contrato social é uma espécie bastante peculiar de contrato.

As regras gerais de contrato não podem ser pura e simplesmente aplicadas à disciplina do contrato social em razão de suas particularidades.

As regras atinentes à formação, inexecução ou extinção dos contratos em geral não se aproveitam integralmente aos contratos sociais.

Regra geral dos contratos, a vontade das partes são contrárias.

Exemplo: Uma parte quer dar em locação imóvel e outra quer receber em locação o imóvel.Uma parte quer vender um veículo e a outra quer comprá-lo.

No contrato social, a vontade das partes convergem para o mesmo objetivo comum, que é a constituição de sociedade empresária.

O objetivo desta constituição também se constitui de interesse comum, qual seja, exploração de atividade empresarial para obtenção de lucros.

Ainda, desta manifestação de vontade surgirá um novo sujeito de direito, que é a “sociedade empresária”.

Cada sócio terá responsabilidade com os demais sócios e ainda com a sociedade empresária por eles constituída.

Código civil:

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO SOCIAL

Para validade do contrato social, o Direito elegeu determinados requisitos.

Teremos a existência de requisitos genéricos e específicos.

A inobservância destes pode acarretar a “invalidação”.

A invalidação não será reconhecida pelos sócios ou sucessores, mas somente pelo Poder Judiciário.

O motivo será a desobediência aos comandos legais para a elaboração do contrato social.

A invalidação traz como consequência a inexistência da pessoa jurídica, caracterizando sociedade irregular.

A inexistência da pessoa jurídica traz como consequência a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, mesmo que o contrato social esteja registrado na Junta Comercial.

Neste caso, a sociedade empresária será considerada irregular não podendo o contrato social ser invocado contra terceiros, mesmo que esteja registrado na Junta Comercial.

Isso quer dizer que se o contrato social não for elaborado com os requisitos previstos pelo Código Civil, mesmo que esteja registrado na Junta Comercial, poderá ser posteriormente invalidado.

Somente terá efeitos com relação as responsabilidades entre os sócios.

DOS REQUISITOS:

Requisitos genéricos: agente capaz, objeto possível e lícito, além da forma prescrita ou não defesa em lei.

Agente capaz: relacionado a maioridade civil (capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações).

Código Civil:

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

Legalmente impedidos são aqueles que a lei proíbe de exercer atividade empresarial em razão de alguma circunstância transitória.

Os legalmente impedidos são:1. Os falidos (Lei 11.101, de 9-2-2005, artigos 102 e 181).2. Militares da ativa (Lei 6.880/80, artigo 29 – Estatuto dos Militares, exceto como acionista ou quotista, em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada.3. Leiloeiros (Decreto 21981/32. artigo 36).4. Juízes (Lei Complementar 35/79, artigo 36, I).5. Membros do Ministério Público (artigo 128,§ 5° da CF/88).6. Os condenados (nas condições do parágrafo 1º do artigo 1.011 do Código Civil).

Código Civil:Art. 1011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.§ 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

Capacidade CivilCódigo Civil:Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;III - pelo exercício de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

No Direito Empresarial há uma exceção:

É possível contratação de sociedade limitada por menor, desde que ele esteja devidamente representado ou assistido e não tenha poderes de administração e o capital social esteja totalmente integralizado.

Código Civil:Art. 974.§ 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos:I - o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;II - o capital social deve ser totalmente integralizado;III - o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;IV - os pródigos.

QUANTO AO OBJETO:

Licitude da atividade econômica explorada;Não pode ser constituída sociedade empresária para exploração do jogo do bicho.

Possibilidade de concretizar a atividade empresarial:Não pode ter como objeto proporcionar viagem de ida e volta ao sol, por exemplo.

QUANTO A FORMA:

O contrato deve ser escrito, por instrumento particular ou público.

Excepcionalmente pode ser elaborado oralmente.Não será reconhecido como “contrato social” em termos técnicos.

REQUISITOS ESPECÍFICOS:Código Civil:Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

Não pode ser objeto de cláusula do contrato social:

Dispensa de contribuição de um sócio para constituição do capital social;Excluir do sócio direito a recebimento de lucro;Excluir do sócio responsabilidade pelas perdas sociais;Indenização de sócio pelos demais em caso de falência da sociedade empresária;

Além das cláusulas com requisitos específicos, o contrato social deve prever as normas disciplinadoras da vida social.

Qualquer assunto que diga respeito aos sócios e à sociedade pode ser objeto de acordo de vontades entre os membros da pessoa jurídica empresária.

Desde que não contrarie o ordenamento jurídico, o contrato social poderá dispor sobre qualquer tema de interesse para os sócios.

Visto de advogado:

Além dos requisitos já mencionados, há necessidade de quem o contrato social tenha “visto” de um advogado para ser registrado perante a Junta Comercial.

Decreto n. 1800, de 30 de janeiro de 1996Regulamenta a Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências.

Art. 36. O ato constitutivo de sociedade mercantil e de cooperativa somente poderá ser arquivado se visado por advogado, com a indicação do nome e número de inscrição na respectiva Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.

Contrato Social elaborado oralmente.Código Civil:Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.

Não se trata de contrato social no sentido técnico, mas sim de existência de uma “sociedade empresária”, que será considerada irregular.

Alteração do contrato social

O contrato pode ser alterado, sendo irrelevante a forma com que fora elaborado (instrumento particular ou público).

A alteração não precisa seguir a forma adotada pelo contrato primitivo.Se feito por instrumento público, posso promover alteração por instrumento particular.

Altera-se quando as regras de convivência adotadas quando da constituição da sociedade não são mais satisfatórias.

Sempre deve seguir todos os requisitos previstos para o contrato social primitivo.

Via de regra a vontade majoritária dos sócios é eficaz para decidir os destinos da sociedade.

A maioria societária é definida não em função da quantidade de sócios, mas da participação de cada um deles no capital social.

O voto de cada sócio tem o peso proporcional à quota social correspondente.

O número de sócios só importa em caso de desempate.

Persistindo o empate, deve-se analisar o contrato social.

Se houver “cláusula de arbitragem”, a questão será submetida a um “árbitro”.

Se não houver, a questão deverá ser levada ao Poder Judiciário.

Decisão sempre no interesse da sociedade, prevalecendo uma das soluções dada pelos sócios.

Exceções:

Sociedade em nome coletivo e comandita simples as alterações de cláusulas essenciais se faz somente por unanimidade.

Na limitada, qualquer que seja a cláusula (essencial ou não) o quórum mínimo é ¾ do capital social.Aquele que fizer parte da minoria, pode retirar-se da sociedade. É prudente expressar na ata o motivo da saída.

Transformações:

Transformação de registro: empresário individual constitui sociedade empresária e vice-versa.

Transformação de tipo societário: Alteração do tipo da sociedade.Por exemplo, de Sociedade em Nome Coletivo para Sociedade Limitada.Obedecer as mesmas formalidades preceituadas para a constituição da sociedade do tipo resultante.

REGIME JURÍDICO DO SÓCIO NA SOCIEDADE CONTRATUAL

A relação jurídica do sócio é sui generis;

Não se aproxima de outras figuras jurídicas;

Não é correto dizer que o sócio é “proprietário da sociedade empresária”.

Embora tenha efetuado integralização do capital social, não se considera “credor” da sociedade empresária.

A sujeição do sócio com a sociedade empresária decorrerá da lei e do contrato social.

Apenas participa da formação do capital social para constituição da sociedade, o que lhe confere de participar dos resultados da atividade.

Quanto às obrigações do sócio:

Formação do capital social;

Responsabilidade pelas perdas sociais, a depender do tipo societário escolhido, e ainda, da participação nos atos que ensejarem perdas à sociedade.

O sócio que não cumpre com a sua obrigação de contribuir para a formação do capital social é denominado “remisso”.

No contrato social, o sócio pode deixar para integralizar parte do capital social em momento futuro, devendo ser fixado prazo.

Não cumprindo, os demais sócios poderão optar entre cobrar judicialmente ou excluí-lo da sociedade.

Se excluírem o sócio remisso, deverão reduzir o capital social e restituí-lo do valor das entradas já feitas.

Podem também reduzir o capital social, excluindo a parte que não fora integralizada. Neste caso, será reduzida a participação do sócio remisso.

Quanto aos direitos dos sócios:

1) Participação nos resultados sociais;

O contrato social não poderá excluir qualquer dos sócios a possibilidade dos lucros.

Poderá estipular critérios diferentes em relação à proporção das quotas que possuem na sociedade.

2) Administração da sociedade:

O sócio tem o direito de intervir na administração da sociedade;

O sócio pode ser o próprio administrador, como pode participar da escolha de um outro qualquer.

Lembrando: Administrador não precisa ser necessariamente sócio.

3) Fiscalização da administração:

Tem o direito de fiscalizar o andamento dos negócios sociais.

Para isso pode: a) Examinar, a qualquer tempo ou nas épocas contratualmente estipuladas os livros, documentos e o caixa da sociedade.b) Solicitar prestação de contas aos administradores.

4) Direito de retirada:

Pode o sócio, em determinadas condições, retirar-se da sociedade, recebendo do patrimônio líquido da sociedade, a parte equivalente à sua cota no capital social.

Sociedade com prazo indeterminado: não precisa motivos. Apenas notifica os demais sócios para em 60 dias promover alteração contratualSociedade com prazo determinado: somente se houver justa causa comprovada em Juízo.

IMPORTANTE:

Participação nos lucros da sociedade não se confunde com o pro labore.

Participação nos lucros decorre da situação de sócio;

Pro labore em razão do trabalho prestado em favor da sociedade, seja como administrador ou qualquer outra função.

DO CAPITAL SOCIAL:

Para formação da sociedade empresária é necessário a composição do capital social;

O capital social é o primeiro patrimônio da empresa e corresponde à soma das integralizações deitas pelos sócios.

Pode ser objeto de integralização pelos sócios: dinheiro, bens ou serviços.

Nas sociedades de pessoas todos os sócios respondem solidariamente pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, até 5 anos da data do registro da sociedade.

A lei não exige uma quantia mínima de capital social que as sociedades devem possuir.

Esse montante dependerá da atividade a ser desenvolvida.

Exceção:

No caso de bancos e seguradoras, há lei específica determinando o valor de capital mínimo, inclusive quanto a participação de empresas estrangeiras.