constance lea - quando as nuvens passam

131
8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 1/131 Quando as nuvens passam (Nurse in New México) Constance Lea Bianca no. 118 Livros Florzinha - 1 - Novo México! Tessa nem acreditava que tinha chegado. Ia rever a irmã e passar as férias naquela terra de sonho, onde cada paisagem a transportava ao tempo das diligências e dos colonizadores. E ainda, ia ajudar Marigold, quando o bebê nascesse. Podia haver melhor começo de carreira para uma enfermeira recém-formada? Mas aquela também era uma terra de paixões violentas. Em poucos dias, Tessa descobriu isso. O destino colocou em seu caminho dois homens que a fizeram perder a cabeça e a paz. Nas veias do pintor Tony Arretino corria o selvagem sangue navajo. Nos olhos do Dr. Blair Lachlan brilhava um misto desejo e desprezo. Tessa não conseguia resistir a nenhum dos dois. Este Livro faz parte do Livros Florzinha , sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A comercialização deste produto é estritamente proibida. Digitado: Valéria Corrigido: Andréia Quando as nuvens passam Nurse in New Mexico Constance Lea

Upload: dybara

Post on 02-Jun-2018

231 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 1/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 1 -

Novo México! Tessa nem acreditava que tinha chegado. Ia rever a irmã e passar asférias naquela terra de sonho, onde cada paisagem a transportava ao tempo dasdiligências e dos colonizadores. E ainda, ia ajudar Marigold, quando o bebê nascesse.Podia haver melhor começo de carreira para uma enfermeira recém-formada? Masaquela também era uma terra de paixões violentas. Em poucos dias, Tessa descobriuisso. O destino colocou em seu caminho dois homens que a fizeram perder a cabeça ea paz. Nas veias do pintor Tony Arretino corria o selvagem sangue navajo. Nos olhosdo Dr. Blair Lachlan brilhava um misto desejo e desprezo. Tessa não conseguia

resistir a nenhum dos dois.

Este Livro faz parte do Livros Florzinha,sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A

comercialização deste produto éestritamente proibida.

Digitado: ValériaCorrigido: Andréia

Quando as nuvens passam“Nurse in New Mexico”

Constance Lea

Page 2: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 2/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 2 -

CAPÍTULO 1

O grande jato prateado mergulhava sobre a pista do aeroportocomo uma águia lançando-se agilmente sobre sua presa. Com onariz colado à janela, Tessa observava uma cidade esparramadaaté os limites dos campos de terra vermelha, cortados porestradas de concreto branco. O enorme Boeing 707 aterrissousuavemente e deslizou pela pista na direção do terminalAlbuquerque. Ela prendeu a respiração quando leu o nome doaeroporto, aquela palavra exótica pintada num grande painel, que

suas amigas em Londres achavam tão difícil de pronunciar! NovoMéxico, ela estava chegando!Tessa olhou, excitada, as instalações do aeroporto. O que teriaessa porta de entrada para o sul a lhe oferecer? Nova York eraum sem-fim de magníficos arranha-céus. Chicago, uma redeinacreditável de elevados e auto-estradas. Em Wichita, tinhavisto um xerife verdadeiro, com revólveres na cintura e aestrela, no peito. Sem duvida alguma, os Estados Unidos haviamcorrespondido às expectativas, inspiradas pelo cinema.Quando o jato parou ao lado do terminal, Tessa tirou oespelhinho de dentro da bolsa e deu um toque final nos cabelos.Marigold, a irmã mais velha, era muito elegante. Assim, todocuidado com a aparência era pouco.— Você está sabendo que precisa fazer uma conexão para chegara Santa Fé?

Surpresa, Tessa olhou para o homem que falava com ela. Final-mente, ele havia se dignado a dizer alguma coisa, aquele Adónisloiro que embarcou junto com ela no Aeroporto de La Guardiã.Esteve calado durante cinco longas horas, lendo revistas o tempotodo.Durante o vôo Tessa havia reparado em como era estranho ocomportamento das pessoas. Os passageiros tinham sidoagrupados no interior daquele colossal tubo de metal como se

fossem carneiros e ficaram sentados durante cinco horas

Page 3: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 3/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 3 -

comendo, bebendo, cochilando, lado a lado, sem ao menos trocaruma única palavra!Só agora, no momento da saída, o loiro falava com ela. Era alto,

esbelto e tinha uma aparência invejável.—  Estou sabendo, obrigada. Preciso embarcar num avião deoutra companhia, não é mesmo?—  Correto. A Zia faz a conexão até Santa Fé. Já tenho meulugar reservado- Posso acompanhá-la, se não se importar.—  Ficaria muito agradecida.  — Sorriu, aliviada. Acostumada sócom os vôos de curta duração em suas férias na Europa, tinhaachado a distância entre Londres e Nova York e entre Nova York

e Albuquerque um pouco desanimadora.Apanhou a bagagem de mão e dirigiu-se para a porta,agradecendo á tripulação antes de sair.Seu cicerone começava a descer os degraus da escada móvel eela o seguiu, notando uma leve inclinação em seu ombro esquerdoe um andar desigual. Esse era o tipo de detalhe que ela sehabituara a observar. Percebeu, também uma falha de cabelos naparte de trás da cabeça, mas desviou o olhar rapidamente,quando ele se virou para ajudá-la.Tessa sorriu e disfarçou fazendo um comentário sobre o tempo.—   Setembro é sempre tão quente por aqui? E esse céu? É o céumais azul que já vi!Ele também sorriu.—  O clima aqui é excelente, e em Santa Fé, ainda melhor.Raramente faz muito frio, ou muito calor.  — Aqueles olhos

cinzentos a avaliaram por alguns instantes.  — Você é inglesa, nãoé?—  Como é que descobriu?—  Percebi seu sotaque, quando chamou a aeromoça.Eles se dirigiram para o terminal, e Tessa percebeu que ele real-mente mancava um pouco.—  Não costumamos encontrar muitos ingleses por aqui.—   É mesmo? Bem, há pelo menos uma inglesa morando aqui:

minha irmã vive em Santa Fé. Meu cunhado tem uma galeria de

Page 4: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 4/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 4 -

arte lá. Ele é do Novo México. Ela era aeromoça antes de casar,fazia a mesma rota que acabamos de fazer. Ela e Ramon seconheceram durante um vôo.

Ele ouvia atentamente. Tessa continuou:—  Estão esperando o primeiro filho para a primeira semana dedezembro.—   Fabuloso, isso é fabuloso! E a irmãzinha mais moça fez essalonga viagem para dar apoio moral?—  Mais do que isso. Espero ajudá-los.  — Franziu assobrancelhas.—  Mas como foi que descobriu que Marigold é mais velha do que

eu?— Fácil! Ela já trabalhou durante algum tempo, e você, me des-culpe, parece muito garota para já ter uma carreira.—  Acha? Pois, tenho uma surpresa para você: sou enfermeira, eesta viagem é uma recompensa por ter conseguido meu registrono Conselho. Papai e mamãe têm uma loja e não podiam se afastarno momento; então, resolveram me mandar no lugar deles.Estavam terrivelmente preocupados com a gravidez de Marigold,não a vemos desde o casamento, há dois anos. E aqui estou eu,livre até o mês de janeiro, quando, então, cuidarei da minhacarreira. . .Terminou, sem fôlego e surpresa. Por que estaria contando todosesses pormenores para um estranho? Talvez porque sua maneiradelicada encorajasse confidências.—  Não estou aborrecendo você com toda essa conversa familiar,

estou?  — perguntou, nervosa.  — Depois de todo aquele silêncio noavião, está sendo estimulante conversar.—  Sei o que quer dizer.—Bem, vai encontrar sua gente logo que chegar a Santa Fé. Suairmã não podia ter escolhido um lugar mais agradável para viver.Eu sou de Boston, e não existe lugar como a cidade em quenascemos, mas o Novo México é fantástico. Na última vez queestive aqui, fiz boas amizades,—   Então, veio rever velhos amigos?

Page 5: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 5/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 5 -

—   Já faz algum tempo. , . muita água correu. ..Sentindo que havia tocado em uma lembrança dolorosa para ele,ainda que inadvertidamente, Tessa procurou mudar de assunto.

Começou a descrever os presentes que havia trazido para oesperado sobrinho.Guando as portas se abriram e ela entrou no terminal, ficouadmirada.—  Isso é um aeroporto?! Parece uma catedral!O edifício era recente, enorme, inteiramente iluminado: paredese vigas tinham a cor do trigo maduro, o chão brilhava como umespelho e os pilares eram decorados com figuras esmaltadas de

pássaros e animais.—   Se isso é uma amostra do Novo México, não vejo a hora de vero resto!—   O país está cheio de belezas de todos os tipos, naturais ounão, o antigo se misturando com o moderno.Quando chegaram ao guichè da Zia, souberam que o avião que oslevaria para Santa Fé estava prestes a partir. Um carregadornegro, alto e bonito, levou a bagagem deles.Um pequeno avião esperava na pista. Tessa ficou apavorada en-quanto subiam.—  Nós nunca chegaremos nisso. Parece de brinquedo,—  É. . . parece. Você tem razão. Mas não se preocupe, essesaviões de seis lugares podem parecer frágeis ao lado dosenormes jatos, mas são bastante seguros. Se o tempo não estiverbom, eles não voam. Eu, pessoalmente, gosto muito de viajar

nesses aparelhos, e até os prefiro aos jumbos. Se ficar nervosa,agarre meu braço.Aceitando o convile, ela agarrou-se ao braço dele até se sentirsegura. Zunindo e sacudindo, o pequeno aparelho ganhouvelocidade e alçou vôo.Tessa esqueceu imediatamente todos os receios. E, ao percebero ritmo do aparelho e a sensação de velocidade, sua coragemaumentou. Pela primeira vez experimentou a verdadeira emoção

Page 6: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 6/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 6 -

de voar. Sobrevoaram, à curta distância, telhados, auto-estradase campos, antes de o avião ganhar altura e mergulhar no céu azul.O companheiro de Tessa falava lenta e claramente, para poder

ser ouvido, apesar do ruído dos motores. Narrava fatoshistóricos, e na certa estava procurando deixá-la tranquila comrelação ao vôo. Teve vontade de perguntar o nome dele, mas nãoquis interrompê-lo. Apelidou-o mentalmente de Red.Nesse instante, Red apontava o vale do poderoso rio Grande e asmontanhas Ortiz, Sandia e lemez.. Contou também como os espa-nhóis, mexicanos e norte-americanos haviam se estabelecidonaquela terra, acrescentando que, apesar de ser um dos maiores

territórios dos Estados Unidos, o Novo México possuía uma dasmenores populações do país, com o gado ultrapassando o númerode habitantes. Bem no coração do velho sudoeste  — ele dizia  —ainda existem índios vivendo em povoados e vilarejos, onde só sefala espanhol, onde um homem sem seu chapéu de aba larga ebotas de cano alto está indevidamente vestido. De fato, é umoutro mundo que algumas pessoas chamam de Terra doEncantamento.Ele fez uma pausa e recomeçou, parecendo mesmo um guia deturismo:—   Por mais de vinte e cinco mil anos, o homem caminhou poressas estepes e vales. O homem primitivo procurava refúgionessa região. Depois, chegou o homem atómico, com suas armaspara exterminar os inimigos, em segredo e com segurança.  — Feznova pausa.—

 Agora você pode ver Los Alamos, a Cidade Atómica,construída durante a Segunda Guerra Mundial, Hoje em dia,graças aos recursos, ali são feitas pesquisas para cura do câncer.Como enfermeira, isso deve lhe interessar.Tessa ouvia com interesse, enquanto contemplava o magnífico ce-nário. Sentia uma alegria enorme, uma inebriante sensação deliberdade. Essa devia ser a sensação de um pássaro, ao voar.Nunca havia sentido tanto a vastidão da terra, do céu, do espaço.

Page 7: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 7/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 7 -

—  Você está chegando numa boa época do ano  —- disse Red.  — Ooutono é maravilhoso nesta região. Espere só para ver atransformação de cores das folhas das árvores. É algo

inesquecível.—  Não consigo nem imaginar. Hum... essa claridade me ofusca,mas não consigo deixar de olhar para aquelas montanhas. Sãofantásticas!Red sorriu.—  Os índios acreditam que as montanhas possuem um podermístico; e que olhar para elas elevava o espirito. Quem sabe vocênão se apaixona pelo Novo México e acaba ficando por aqui?

O avião começava a perder altura. Tessa esperava, emocionada, omomento da aterrissagem.Viu sua irmã logo que desceu do aparelho. Marigold, alta, loira,ainda esbelta, acenava vigorosamente do lado de fora.— Aquela é Mari  — disse Tessa a Red.  — Nós não somos muitoparecidas.Livraram-se logo das formalidades da alfândega, já que oaeroporto era realmente bera pequeno. Tessa estava tãoemocionada como a irmã, mas os olhos violeta, de Marigold, seencheram de lágrimas. Ela sempre tinha sido uma garota segura,despachada... Era a primeira vez que isso acontecia.—  Você fez boa viagem?  — perguntou afrouxando o abraço.  — Aescala em Nova York foi boa? Você podia ter feito escala emDállas em vez de Nova York.—  E não ver Manhattan? Oh, Mari, é tão bom estar aqui. Você

está com uma aparência ótima.  — Tessa abraçou novamente airmã.—   Acha mesmo? Até com essa barriguinha enorme? Para mim,gravidez é um grande aborrecimento, do começo ao fim! Estoupensando seriamente em criar uma nova sociedade, umasociedade dedicada a encurtar este horrível período de gestação.Coitada da fêmea do elefante! Meu médico me proibiu o esquiaquático, o golfe, e o ténis. Só me deixa nadar, mesmo assim, em

pequenas doses. Ah, e ainda me cortou o cigarro e a bebida.  —

Page 8: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 8/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 8 -

Suspirou,  — Bem, vamos indo!  — Como Tessa não se movesse, elaperguntou:  —- Está esperando alguém?Tessa estava procurando Red.—

 O homem que viajou comigo. Quero agradecer a ele: veio meciceronando desde Albuquerque.—  O rapaz de cabelos ruivos e manco? Você perdeu a oportuni-dade, Ele já passou por nós com uma pessoa que veio apanhá-lo.Estive conversando com essa pessoa, enquanto esperávamos. Erade Los Alamos.Parou de falar e olhou friamente para Tessa.—  Você gostou dele? Ah, não fique triste. Acabará cruzando com

ele na cidade.  — Segurou o braço da irmã.  — Oh, Tessa, que bomter você aqui. Fiquei contando as semanas, os dias. . . estavatãoansiosa! Santa Fé é uma cidade fantástica, mas eu gostaria quefosse mais perto da Inglaterra.Tessa esboçou um sorriso. A distância certamente haviasensibilizado a irmã! Quando trabalhava, ia muito pouco à casados pais. Agora, estava ávida por notícias.Continuaram conversando, enquanto se encaminhavam para o es-tacionamento. Diante de um Mercedes azul, Marigold balançou aschaves que tinha na mão.—  Gostou do meu carro esporte?—  É lindo.—  É meu, todo meu  — disse, com orgulho, abrindo a porta.  — Raetambém tem um Mercedes. Mas não é esporte e já tem três anos

de uso. O meu é muito melhor! Rae é um marido maravilhoso.Ela não mudou nem um pouquinho, pensou Tessa, entrando nocarro. Tudo que Mari desejava, acabava conseguindo. Seu gostoera apuradíssimo e não se contentava com nada que não custassemuito dinheiro. Sentiu inveja dela, ali, ao volante, com seuscabelos cacheados, ao vento. Beleza, personalidade, um maridomaravilhoso, um bebê a caminho. , . Marigold tinha tudo quequalquer mulher desejaria ter.

Page 9: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 9/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 9 -

—  Estou ansiosa para lhe mostrar nosso apartamento. Mas, pri-meiro, vamos olhar um pouco a cidade, para que você saiba aondeveio parar. Hoje daremos uma voltinha pequena; amanhã 

poderemos explorá-la. Mas gostaria de lhe fazer umaadvertência: estamos há dois mil metros do nível do mar e ocorpo precisa se ajustar à altitude,Marigold deu a partida.—  Santa Fé é nossa próxima parada!O belo automóvel deslizou silenciosamente pela auto-estrada.Marigold guiava com segurança. Tessa nunca havia entrado numcarro tão luxuoso e só há alguns meses é que tirara carta.

Depois da vista panorâmica do avião, aquele passeio por terradesapontou. As montanhas estavam encobertas pela bruma; agrama ao lado da estrada completamente ressequida, e algunssinais de trânsito berrantes apareciam de tempo em tempo.Mas Tessa vibrou novamente, quando entraram na cidade de St.Francis, atravessando ruelas estreitas, cercadas de casas cor-de-rosa. Pôde observar pátios encantadores, arcos graciosos,portões de ferro trabalhado e janelas em madeira, tambémtrabalhada.—  Tudo isso podia estar na Espanha! Marigold comentou:—   Não é  nem um pouco surpreendente. Afinal, quem fundou acidade foram os espanhóis. Chegaram aqui em 1610 e deixaramuma esplêndida herança.O carro entrou numa praça arborizada.—   Esta é a praça central. Aquele edifício do outro lado é o Palá-

cio dos Governadores e foi construído no ano em que eleschegaram. Está vendo aqueles índios agachados sob o pórtico?Vendem artesanato em prata.Tessa admirou o gracioso palácio. Era um edifício comprido ebaixo. Suspirou profundamente.—  Este é um lugar perfeito para se viver  — murmurou.  — Se eumorasse aqui, estaria a meio caminho do céu. Você deve adorar.—  Adoro. Santa Fé é um lugarejo indolente e muito simpático. A

vida é bastante tranquila aqui, não existe nenhum edifício com

Page 10: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 10/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 10 -

mais de quatro andares, notou? Não é permitido. Dessa forma,a cidade fica muito mais humana.—  Nós podíamos dar uma caminhada, o que acha? Gostaria de

dar uma olhada nesses portões encantadores e entrar por essasruelas.Estacionaram o carro e começaram a andar, admirando lojas ele-gantes e alguns bares. Em toda parte havia árvores, flores earbustos.O povo de Santa Fé caminhava lentamente pelas  ruas. Tessapercebeu que muitos tinham feições de índios e pele morena.—  Nós somos uma comunidade cosmopolita  — disse Marigold.

— Uma comunidade pacífica e simpática. Agora estamos entrandona rua De Vargas.Deram alguns passos, e Marigold puxou Tessa bruscamente paratrás.—  Por aqui, não. Vamos voltar. Droga! Tarde demais. Ele já nosviu.  — Abaixou a voz e continuou a falar bem baixinho:  —E o meumédico, e está vindo em nossa direcão! Eu devia estar emrepouso.O homem que se aproximava, devia ter quase dois metros dealtura e era moreno. Usava uma camisa clara aberta no peito,calça da mesma cor, botas e chapéu de couro cru. Quando chegouperto delas, Tessa percebeu uma cicatriz do lado esquerdo dorosto.— Marigold Ruiz! Posso saber o que é que você está fazendo nacidade? Não lhe ordenei repouso metódico?  — Suas palavras

foram pronunciadas com autoridade.Tessa recuou um passo, preocupada com a irmã. Olhou de relancepara ela e viu que não precisava se preocupar.Marigold esboçou um sorriso suave e olhou calmamente dentrodos olhos irados do médico.—  Blair, você acha que eu ousaria desobedecê-lo? Interrompimeu repouso hoje por uma razão muito especial. Não podia deixarde ir buscar minha irmã no aeroporto, podia? Ela está vindo da

Page 11: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 11/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 11 -

Inglaterra. Tessa, quero lhe apresentar Blair. Dr. Lachlan, estaé minha irmã Tessa.Tessa recebeu o olhar do médico com surpresa.—

  Prazer em conhecê-la, Tessa Maitland.Seu tom de voz contradizia as palavras. Apertou brevemente amão dela e dirigiu sua atenção para a paciente.—   Volte para casa imediatamente! Pense em seu bebê!Imagino que esteja pensando era dar uma festa para recepcionarsua irmã, não está?Olhou para Tessa uma segunda vez, um olhar frio e irritado,quase cruel. Ela sentiu um arrepio na espinha.

—  Você é uma pessoa perspicaz  — murmurou Marigold.  — Tessaficará conosco até o nascimento do bebê. Estou muito feliz porela ter vindo, é uma enfermeira qualificada e vai tomar conta demim.—  Você acha que ela pode? Bem, espero que consiga.  — As pala-vras exprimiam sua dúvida.  — Então, adeus.Afastou-se em seguida, enquanto Tessa continuava a observá-lo.—  Esse homenzarrão é realmente um médico? Você não estábrincando comigo? Eu diria que parece mais um vaqueiro.Marigold riu, mas pareceu um riso forçado, revelando que aquelaconversa a havia abalado um pouco.—   Bem, algumas vezes ele parece preferir cavalos a gente. Seuúnico passatempo é cavalgar; costuma visitar os pacientes acavalo.—   Uma boa ideia, se isso ajuda a melhorar o humor dele. Caval-

gar é um bom exercício.Marigold dirigiu-lhe um olhar reprovador.—   Oh, não é bem assim! Blair não é tão mau como parece. Oproblema é que ele não se interessa muito por mulheres. Imaginoque sua especialidade em ginecologia e obstetrícia diminui umpouco aatração pelo nosso sexo.  — Fez uma pausa.  — É melhor voltarmos,não gostaria de encontrá-lo novamente.

Marigold continuou a falar dele enquanto iam até o carro.

Page 12: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 12/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 12 -

—  No fundo, Blair é uma pessoa muito boa.  É difícil de acreditar,mas ele se apresentou para trabalhar no Vietnã junto comuma unidade médica voluntária. Foi lá que sofreu aquele corte no

rosto. Quando voltou, teve muitos problemas. O pai, que eramédico, morreu enquanto ele esteve fora e a clínica que herdouestava quase falida.Ela suspirou.—   Mesmo agora as coisas não estão fáceis para ele. É filho únicoe tem a mãe para cuidar. O sócio, Lázaro, é quem estáprocurando colocar tudo era ordem. Para dizer a verdade. Blairtem uma reputação considerável nos círculos médicos da região.

Tessa ficou feliz por não ser uma das pacientes do dr. Lachlan.Aquele homem a havia perturbado e não sabia exatamente arazão. Tinha ofuscado o encanto de Santa Fé, e isso a irritou. Avoz dele ainda permanecia em seus ouvidos.— O que foi que ele disse a respeito de suas necessidades derepouso?Marigold deu de ombros.— Oh, ele está preocupado com a minha pressão sanguínea. Afi-nal, é o meu médico! Muito bem, você não gostou dele, mas eugosto.  — Afastou a gola da blusa de algodão.  — Está fazendomuito calor! Estou louca para beber alguma coisa. Você também,imagino.As ruas que percorreram para chegar até o apartamento deMarigold eram arborizadas e os raios de sol atravessavam ascopas, projetando sombras sobre as casas. Ao chegar diante de

dois portões enormes, com a inscrição "Los Arboles" em umdeles, Marigold buzinou. Um homem uniformizado aproximou-seda janela do carro, inspecionou cuidadosamente as duas e, então,apertou um dos botões de seu aparelho de controle remoto. Osportões se abriram lentamente.— Tudo controlado eletronicamente -— disse Marigold,conduzindo seu carro para dentro.  — Este condomínio é um dosmelhores da cidade. Temos um excelente sistema de segurança.

Temos também nossa própria piscina, salão de festas, quadras de

Page 13: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 13/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 13 -

ténis. Adoro viver aqui, mas Rae está querendo comprar umacasa, quando o bebê chegar. Isso vai nos distanciar dos bonsamigos que tenho aqui. E, é claro, das festas.—

 Você não mudou nem um pouco, Mari. O que e que planejouexatamente para a festa desta noite?—  Oh, apenas uma modesta reunião, de boas-vindas. Algunsamigos e uns poucos vizinhos do condomínio.—  E se eu não tivesse chegado por algum "motivo qualquer? Umproblema com o avião, por exemplo.—  Nesse caso, marcaríamos uma segunda reunião, no diaseguinte. Temos festas quase todas as noites.

Los Arboles parecia um clube de campo particular, todo ajardi-nado. Marigold estacionou sob um portal e entregou as chavespara um criado, pedindo que ele descarregasse a bagagem antesde guardaro carro.Ao entrarem no vestíbulo, Tessa reparou nas palmeiras plantadasem tinas, paredes de mármore branco e preto e o chafarizsalpicando água sobre um lago com flores aquáticas. O zeladorcumprimentou Marigold de sua mesa de recepção toda dourada.—   Este é um prédio de apartamentos? Parece mais um hotel decinco estrelas  — comentou Tessa, enquanto se dirigiam para oelevador.—  Pelo que custa um apartamento, isto é mais do que um hotelde cinco estrelas.Tessa ficou deslumbrada quando entrou no apartamento da irmã.

Parecia Alice no País das Maravilhas. Tudo era perfeito. Osmóveis, em estilo escandinavo, resplandeciam; e os cristaisbrilhavam. O chão era cor de mel; as paredes cinza; as cortinas,brancas.Uma criada ern um uniforme impecável se aproximou. Tinha umaaparência amistosa, e cabelos e olhos escuros.—  Tessa, eu gostaria que conhecesse a sra. Sanchez, nossagovernanta. Wilma, esta é minha irmã, srta. Maitland. Você deve

ter se cansado de ouvir o nome dela nas últimas semanas. Wilma

Page 14: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 14/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 14 -

é o meu braço direito, Tessa. Eu não poderia sobreviver sem ela.Agora, vamos, vou lhe mostrar o seu quarto.Era uma suíte completa, decorada em cinza e branco, e havia

almofadas cor de tangerina e azul espalhadas pelos cantos. O ba-nheiro, um luxo.—  Tudo isso para mim?  — Tessa deitou num sofá.  — Você viveem grande estilo, Mari. Lembra do nosso pequeno apartamentosobre a loja de mamãe e papai? Eles iam adorar estar aqui. Elesme pediram que eu tirasse muitas fotografias, e mandaramtambém avisar que virão para cá logo que puderem. Pensam em seaposentar e vir para Santa Fé. Agora, que tal você descansar um

pouco? Marigold acendeu um cigarro e deu uma tragada.—  Tudo bem. Primeiro, quero pedir a Wilma que lhe faça umchá. Seria bom se você descansasse também, não esqueça aaltitude-Precisamos estar em forma para a festa. Os convidadoscomeçarão a chegar por volta das sete e meia e alguns ficarãoaté mais tarde.Tessa franziu as sobrancelhas.—  Você vai ficar acordada todo esse tempo? Pensei que tivesseordens de dormir mais cedo.—  Costumo dormir mais cedo, mas, pelo amor de Deus!, hoje vouabrir uma exceção. Estou cansada de recusar convites parafestas e reuniões. Uma futura mamãe não deve se isolar. Issoestá nos manuais da gestante, quanto à roupa que você deve usarhoje à noite, pense em algo não muito formal. Meu guarda-roupaestá à sua disposição, se quiser. Tudo que precisar, peça à Wilma

pelo interfone. Há uma extensão ao lado da cama.Tessa passou a meia hora seguinte arrumando suas coisas noquarto. De vez em quando, interrompia a tarefa e ia até a janelapara olhar o panorama lá fora. As montanhas púrpuras, mais aonorte, a atraíam como um imã.Depois de esvaziar as malas e colocar suas coisas nos devidoslugares, resolveu escolher uma roupa para usar à noite. Decidiu-se pelo vestido de musselina, tipo indiano, azul e dourado. Era

Page 15: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 15/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 15 -

bastante feminino, e as cores realçavam sua pele suave e seusolhos azuis.Depois de um breve descanso, encheu a banheira e tomou um

banho demorado e relaxante, imersa naquela água tépida,misturada com sais e essências perfumadas. O banheiro tinha ummagnífico vitral colorido que filtrava os raios do sol sobre o chãode mármore. Pensou no pequeno apartamento que dividia com asoutras enfermeiras, na Inglaterra. Seria capaz de descrevertodo aquele luxo quando escrevesse aos pais?Passou um bom tempo escovando os cabelos e fazendo amaquilagem. Após um minucioso exame no espelho, ficou

descontente e suspirou profundamente.Não era justo esse mundo, disse a si mesma. Por que a irmã tinhaaqueles cabelos loiros cacheados, os olhos violetas e um rostoencantador, enquanto ela não apresentava uma únicacaracterística especial? Como era possível, se eram filhas dosmesmos pais? Tessa sempre se considerou uma pessoa de belezamediana, e isso a aborrecia bastante. Longe da irmã não sentiatanto a diferença, mas quando estavam próximas, suaautoconfiança era abalada.Procurou se reanimar, sabendo que se não fosse por Marigold nãoestaria em Santa Fé, para ficar o tempo que quisesse. Resolveu,então, que iria se divertir.Algum tempo depois ouviu a campainha tocar e foi até a janela,Deviam ser os primeiros convidados chegando. Ao contemplar osúltimos raios de sol se pondo atrás das montanhas, pensou em seu

companheiro de vôo. Será que veria Red novamente?Desceu para a sala, imaginando que um bom número de convidados já havia chegado e esperando que sua entrada pudesse passardesapercebida. Para seu alívio, Marigold se aproximouimediatamente dela.  — Você está maravilhosa  — murmurouTessa.  — Esse seu vestido é deslumbrante, .— Obrigada.  — Marigold suspirou.  — Você levanta meu moral,Tessa, e é o que estou mais necessitando no momento. Sabe que

quase todos os convidados já chegaram e Rae ainda não

Page 16: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 16/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 16 -

apareceu? Aquela galeria o ocupa muito. As vezes, sinto-me comouma viúva. Vamos apanhar nossos drinques, que quero apresentarvocê às pessoas.

Marigold levou Tessa de grupo ern grupo, apresentando-acarinhosamente. A reação foi quase idêntica. Não uma, masmuitas vezes, a mesma observação: "Vocês duas são realmenteirmãs?" Por que essa pergunta? Será que as pessoas esperavamque ela fosse uma cópia exata da irmã?Tessa ficou impressionada com a elegância dos convidados. Nuncatinha visto tanto ouro e prata, a não ser em joalherias. Muitasdas pessoas às quais foi apresentada tinham fascinantes nomes

espanhóis.Durante as apresentações, Tessa experimentou um momento detensão. Uma figura enorme no meio de um grupo surgiu diantedela. O dr. Lachlan conversava com uma exuberante loira vestidade preto. Um sorriso transformava suas feições austeras.Parecia um homem diferente, amável, tranquilo.Observando-o com mais atenção, concluiu que não poderia ser umcompleto solitário. Apesar disso, não tinha o menor desejo deconversar com ele. Conduziu habilmente Marigold em díreçãooposta.Quando Ramon Ruiz chegou, a festa estava no auge. Desculpou-secom os convidados e correu abraçar a esposa e a cunhada. Rae,um palmo maior do que Marigold e dois anos mais velho do queela, era um homem magro e de aparência distinta. Tessa lembroude quando ele e a irmã haviam feito uma viagem para a

Inglaterra, quando se casaram; e Rae não havia mudado nem umpouco. Usava o mesmo bigode e cavanhaque.Quando ela e Marigold eram crianças e moravam era Sussex,tinham uma reprodução de um auto-retrato de Franz Hall, umpintor, em seu quarto de dormir. Será que isso havia influenciadoa escolha da irmã? Ramon era parecidíssimo com Franz.Quaisquer que tenham sido as razões do casamento, foramcordialmente aprovadas pela família inteira. Todos gostaram

daquele descendente de espanhóis conquistadores, cujos olhos

Page 17: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 17/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 17 -

alegres refletíam seu bom humor habitual e cujas maneirasrequintadas revelavam seu berço nobre.Rae segurou Tessa pelo braço e Ievou-a para a mesa próxima à

sacada.—  Posso lhe dizer que está encantadora? E tão jovem como hádois anos?Estendeu-lhe outro copo com sangria.—  Estou chegando muito atrasado e merecia ficar de castigo;mas Mari será indulgente comigo. Primeiro, foi um cliente que metomou bastante tempo; depois, tive que passar na casa de minhamãe para tratar de um assunto urgente. Problemas familiares. Ela

mora neste mesmo bloco de apartamento, com minha irmã.Mudaram-se para cá quando tivemos que vender a fazenda, logodepois da morte de meu pai.—   E elas não virão aqui, hoje?  —   Tessa estava desapontada.— É pena. Queria muito conhecê-las.—   Infelizmente, não poderão vir. Principalmente, por causa doestado de Rosita.O que haveria com a irmã dele?, Tessa não teve tempo de per-guntar.—  Agora, quem é que você gostaria de conhecer? Ou Mari já aapresentou à nossa centena de amigos mais íntimos? -— Havia umtom irónico em sua voz.  — Bem, é claro que não temos tantosamigos assim  — acrescentou imediatamente.  — Essa festa é maisíntima e muito especial, para uma pessoa especial. Ele baixou otom de voz.—

 Fico contente por você ter vindo. Estou me preocupando comMari. Ela está fazendo coisas demais. Sua chegada foi umgrande alívio. Será que poderia convencê-la a se acalmar umpouco? Esse bebê que estamos esperando é muito precioso paranós e para minha família. Nossos filhos serão a únicaoportunidade de perpetuar o nome da família Ruiz, já que sou oúnico filho homem. Minha mãe também está preocupada com aagitação de Mari.

Page 18: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 18/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 18 -

—  Farei o que puder  — prometeu Tessa, e observou Ramon diri-gir sua atenção para os convidados.Alguém se aproximou deles.—

 Não olhe agora —

 ele advertiu. —

 Alguém está "secando" você.—   O Romeu de pele cor de oliva que está ali parado? Eu já tinhapercebido: informal, camiseta e jeans, um rosto pouco comum. . .ele se sobressai no meio de toda essa gente. É estrangeiro?Ramon sorriu.—   O que significa ser estrangeiro aqui? No Novo México, temosgente de todas as partes do mundo. Chama-se Tony Arretino e éum de nossos pintores mais promissores. Tenho um interesse

muito especial nele, porque estou promovendo seu trabalho emminha galeria. Nós lhe emprestamos um estúdio para trabalhar. Euma pessoa muito tímida. Ah, está vindo em nossa direção. Achoque ganhou coragemagora.Ramon cumprimentou seu protegido carinhosamente.—   Que bom ver você, Tony. Gostaria de lhe apresentar minhacunhada, nossa convidada.  — Rae deu mais um tempo e seafastou.Houve uma pausa embaraçosa, um vazio. Tessa observou aquelehomem musculoso jogando para trás os cabelos que caíam sobreos ombros; apoiando-se sobre uma perna e a outra,intranqúilamente, e passando a ponta do dedo sobre a borda decopo. Até que Tessa quebrou o gelo:—  Você é pintor?—

 Ramon lhe contou?  — Ele olhou para ela fixamente.  — É difícilde acreditar...— Que sou irmã de Mari?  — interrompeu Tessa, a paciênciaquase esgotada.  — Oh, por favor, você também?! Mas sou, sim.Uma fada bondosa presenteou a primeira filha e esqueceu dasegunda. A belagarota Maitland, é assim que Mari é  chamada. E sou apenas "aoutra".

Page 19: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 19/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 19 -

Tony Arretino balançou a cabeça, os olhos ainda fixos no rostodela.— Não concordo. É verdade, a sra. Ruiz poderia ser capa de

qualquer revista, mas você tem o tipo de beleza que resiste aotempo. Uma estrutura óssea delicada, olhos grandes. Estiveobservando você durante um bom tempo, e um artista reconhecea beleza ao primeiro olhar. Sinceramente, gostaria de pintá-la.Não precisa se esconder atrás dos cabelos, srta. Maitland, nemdesdenhar sua aparência. A terra precisa do sol e da lua.Ela prendeu a respiração. Tinha ouvido perfeitamente o que elehavia dito? Ninguém jamais a achou maravilhosa antes, nem

mesmo seus pais.—  Tessa, pode me chamar de Tessa. Você é muito gentil.—   Eu digo o que sinto, nunca finjo. Seu copo, está quase vazio.Não gostaria que eu lhe servisse outra sangria?Serviu sangria para ela e refrigerante para ele.—  Procuro evitar o álcool.  — Houve uma pausa breve.  — Sabe?moro e trabalho sozinho e fico pintando o tempo todo. Estou meespecializando em retratar os navajos, uma de nossas principaistribos índias. Gosto de pintá-los no dia-a-dia, tecendo, cuidandodos carneiros, fazendo artesanato em prata, etc.Ela olhou para o bracelete com uma turquesa incrustada no pulsodele.— É a primeira vez que o uso.  — Ele sorriu e mostrou o pulso paraela.  — Aqui, os homens usam braceletes tanto quanto as mulhe-res. Ramon tem um bom estoque de objetos nativos numa loja

anexada recentemente à galeria. Você precisa conhecê-la. Masterá muita coisa para ver durante suas férias.O barulho havia aumentado na sala, chegando quase a incomodar.—  Que tal irmos até a sacada?  — ele perguntou, e Tessa pron-tamente aceitou,A noite estava estrelada e soprava um vento fresco.—  Aqui está muito melhor.  — Ele respirou fundo.  — Não suportoo agrupamento e odeio me sentir enclausurado. Imagino que fui

Page 20: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 20/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 20 -

condicionado pela minha terra.  — Começou a lhe descrever asinúmerasatraçoes do Novo México: as cidades pré-histórícas, os antigos

fortes, os lagos, as montanhas, os misteríosos vales, e os rios.Tessa ouvia entusiasmada. Sentia que Tony era tâo envolventecomo suas histórias. Sua voz bem timbrada atraía a atenção dela;e seus olhos negros a hipnotizavam. Era um homem de qualidadesexcepcionais, um homem de características exóticas. Estavafascinada por ele.O jantar foi anunciado e eles seguiram os outros convidados nadireção da sala de jantar, encontrando uma mesa fartamente

servida: carne assada em bandejas de prata, saladas emtravessas de cristal, sopeiras com feijão verde e cereais cozidos,cestos de pão com alho torrado.Durante a refeição, falaram sem parar, sobre arte e arquitetura,tanto dos Estados Unidos quanto da Inglaterra. Tony tambémexplicou que seu sobrenome era herdado de um bisavô italiano,que tinha vindo da Toscâna talhar pedras para a construção daCatedral de St. Francis.Encerrado o jantar, Wilma abriu as portas de outra sala e aspessoas começaram a dançar, ocupando até a sala de estar. Elestambém foram dançar e Tessa se abandonou, extasiada, nosbraços de Tony, enlevada com a música e os passos da dança.Fechou os olhos e esqueceu o mundo.Quando a música terminou, abriu os olhos e viu o dr. Lachlanobservando-a e, ao mesmo tempo, comentando alguma coisa com

sua companheira loira. A mulher olhou para Tessa de cima abaixo, moveu os cantos da boca e encolheu os ombros, num gestodepreciativo.Por que a censura? Muito bem, deixara se levar pela música, gos-tava do par, mas o que é que isso tinha a ver com aquele médico esua companheira arrogante?Tessa acompanhou Tony silenciosamente até a sacada.

Page 21: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 21/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 21 -

—  Você ficou um pouco abatida de repente  — disse ele,preocupado.  — Exausta por causa da viagem, talvez? Não seriamelhor ir para a cama?

Seu bom humor voltou.— Com esse barulho todo? Eu nunca conseguiria dormir.—  Então, que tal darmos uma volta pelo jardim? Ficaríamos maistranquilos. Podemos escapar pela escada de serviço.De mãos dadas, caminharam pelo gramado iluminado por uma luaprateada. Já não havia barulho, só um doce cheiro de pinho no are muita paz.Caminhavam devagarinho e conversavam quase murmurando.

Tessa estava nas nuvens. Um banhista retardatário mergulhou napiscina. O barulho do motor de um carro os alertou, e foi seguidopor outros. Os carros começavam a deixar o condomínio,—  Parece que a festa está acabando  — disse Tony.  — Vamosvoltar. Agora você conseguirá dormir. E, quem sabe, eu possaconseguir uma carona com alguém que esteja indo na mesmadireção. Não tenho carro e não dirijo.—  Então, não mora aqui em Los Arboles? A maioria dos convi-dados mora, conclui que você também.—  Um simples artista batalhador como eu? Minha casa é umpouco diferente: moro num estúdio que fica atrás da galeria deRamon. Se não fosse pela generosidade do seu cunhado eu aindaestaria vivendo numa pensão qualquer. Quando for visitar Ramon,vá me ver.Passou o braço em volta da cintura dela.—

 As pessoas estão saindo  — murmurou, trazendo-a para perto.— Que tal nos despedirmos por aqui?Beijou carinhosamente o rosto e os cabelos dela. Tessa sentiuuma onda de desejo.—  Você é uma garota maravilhosa. Normalmente, fico com a lín-gua presa em reuniões sociais, mas esta noite. .. esta noite foimaravilhosa.  — Seus lábios ardentes e úmidos tocavam os dela.

Page 22: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 22/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 22 -

Nesse instante, ouviram passos decididos vindo na direção deles.Viraram-se assustados. Uma figura bastante alta e tossindo depropósito apareceu diante deles.—

 Vocês não se incomodariam se eu apanhasse minha "latavelha"? Foi uma festa maravilhosa, Tessa Maitland. Meuscumprimentos e votos de uma excelente estada. Vejo que já estádesfrutando o Novo México e seus nativos!O médico abriu a porta do carro esporte vermelho, entrou, deu apartida e saiu.As nuvens haviam encoberto a lua, o vento começava a enregelarseu corpo e a noite perdia um pouco da magia para Tessa,

— Nós nos veremos logo  — prometeu Tony.Tessa subiu para o apartamento da irmã, entrou em seu quartosem ser percebida e se despiu lentamente. Que dia! Que diafantástico! De um continente a outro, ela cruzou uma boa partedos Estados Unidos, viu o sol sobre as planícies, luar sobre asmontanhas, apaixonou-se pela encantadora Santa Fé, conheceuum homem que a intrigou . ..Nunca tinha acontecido tanta coisa em tão pouco tempo. Nuncahavia experimentado tantas emoções, conhecido tantas pessoasinteressantes. Red, Tony, todo mundo havia sido encantador comela, exceto uma pessoa.Por que essa única pessoa, esse médico convencido a perturboutanto? O que teria feito Blair Lanchlan ser tão brusco eantipático? Do fundo do coração, Tessa desejava que a irmã tivesse escolhido um médico menos antipático.

Decidiu afastá-lo do pensamento, divagando sobre as fériasexcitantes que teria pela frente e concentrando-se em Tony.Mas, antes de adormecer, ainda lembrou aqueles olhoszombeteiros, daquele rosto marcado por uma cicatriz tãoprofunda.

CAPITULO II

Page 23: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 23/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 23 -

Marigold estava com um négligé  esvoacante lilás, e Tessa comuma camisola de algodão azul, ao sentarem na varanda na manhã seguinte, para o desjejum. Havia diante delas um bule de café.

torradas, cereais, leite, suco de laranja e uma cesta com frutas.—   Acho que todos os nossos convidados se divertiram ontem ànoite  — garantiu Marigold, colocando flocos de cereais dentro deuma tigela.—  Eu me diverti bastante. Você tem muitos amigos. Alguns, nemcheguei a conhecer. Aquela loira encantadora que estava comseu médico, quem era?—   Debra Petersen? Ela trabalha na clínica Lachlan-

Sepulveda,como assistente de Blaír.—  E é a namorada dele também?—   Pode até ser.  — Marigold fez uma pausa reflexiva.  — Ela temuma queda por ele, certamente. Acabou de se divorciar. É deDállas. Deve haver alguma coisa ... eu disse para ele trazer umaacompanhante, e ele trouxe Debra. Para mim é um mistério o fatode Blair ainda não ter casado: não faltam garotas nesta cidadetentando conquistá-lo.Tessa tomava seu suco.—  Percebi que Tony Arretino não tirou os olhos de você durantetoda a noite. Sabe, Tessa, nunca o vi demonstrar tanto interessepor uma moça antes. Esse rapaz é bastante talentoso, Rae achaque ele pode vir a ser um pintor muito famoso.—   Ele é  diferente.  — Tessa passou manteiga em sua torrada.  —

E conhece muito bem esta região.—   Nasceu aqui no Novo México, é um nativo autêntico, Queinferno! Esse sol está começando a me ofuscar. Vou colocar acadeira do outro lado.Ao levantar, suas pernas apareceram através do   négligé.Tessa franziu a testa.—  Mari . .. suas pernas! Estão muito inchadas. A irmã sentourapidamente.

Page 24: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 24/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 24 -

—   E daí? Estive muito tempo em pé ontem à noite, só isso. Nãoprecisa se preocupar.  — Fez uma pausa.  — O que é que vocêgostaria de fazer agora? Que tal irmos até a galena de Rae? Ele

está ansioso para mostrá-la a você. Depois do almoço, voudescansar, mas você poderá nadar se quiser. Hoje à noite, jantaremos com a mãe e a irmã de Rae. Elas moram no bloco aolado. É um pulinho.Tessa concordou.—  Há alguma coisa de errado com a irmã dele? Rae disse algumacoisa ontem à noite, mas não falou exatamente o quê.— Quando o pai dele morreu, há uns três anos, ela adoeceu. Nin-

guém sabe exatamente o que tem, mas é algo sério, que a deixouimobilizada.Marigoldi suspirou.—  É lamentável. Rosa tem exatamente a sua idade, Tessa, apenasvínte e dois anos. Minha sogra dedica todo o tempo à filha, issosignifica que duas vidas estão arruinadas. No entanto, Conchitatem uns cinquenta anos e é ainda muito atraente. Ela devia casarnovamente. Laz Sepulveda, o sócio de Blair, já lhe propôs maisde uma vez casamento, mas ela tem negado, porque sente queRosa precisa muito dela.O interesse de Tessa aumentou.—  Você não tem a menor ideia de qual possa ser a origem dadoença?—  Não. Suspeitou-se de esgotamento nervoso, mas isso intrigoutodos os especialistas convocados para estudar o caso. Rosa

come bem, mas não consegue caminhar e se recusa a deixar oapartamento. Como você pode imaginar, isso dificulta as coisaspara a família.Concentrada, Tessa contemplava o jardim. A lembrança de umapaciente lhe veio à mente: uma jovem sensível, cujos sintomaseram muito semelhantes aos de Rosa. A perda de uma pessoaquerida havia provocado sua paralisia. O marido, que ela amavamuito, tinha deixado a casa por dificuldades financeiras e

problemas conjugais. Logo em seguida, ela ficou incapaz de andar.

Page 25: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 25/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 25 -

Alguns meses após o internamento dessa paciente, Tessa estavafazendo compras numa loja e avistou-a atrás de um balcão decosméticos, Ao reconhecer sua antiga enfermeira, a moça contou

o que havia acontecido: o marido tinha voltado e ela recomeçouimediatamente a andar. Mudaram-se para um apartamento erecomeçaram a vida sem a interferência constante dos pais dela.— Mas que coincidência!  — disse para a irmã.  — Tive uma pacien-te com sintomas idênticos aos de Rosa. O caso foi até citadonuma revista médica como indiagnosticável. Vou lhe contar osdetalhes. Enquanto falava, Marigold ouvia atentamente; balançoua cabeça, quando Tessa parou de falar.

— Ê uma história interessante, mas tem muito pouco a ver com ade Rosa. No caso da outra havia um marido vivo que pôde voltarpara ela, auxiliando seu restabelecimento. Mas se foi a morte dopai de Rosa a causa da doença, o que é que pode ser feito? Vocêtem alguma sugestão?Marigold mudou de assunto, antes mesmo de Tessa responder.— Vamos parar de falar em doenças e hospitais. Me dá arrepios!O estranho como você pode se ocupar com doenças. Eu sentiriaverdadeira fobia!Tessa encolheu os ombros.—  Bem, somos bastante diferentes, não?Marigold sorriu.—  Agora que não sou mais aeromoça, vou lhe fazer umaconfissão: antes de cada vôo, eu costumava fazer uma precesilenciosa. Pedia para que ninguém ficasse seriamente enjoado e,

se por ventura alguémficasse, que outra aeromoça estivesse disponível naqueleinstante. Apesar de ter sido treinada para dar os primeiros-socorros, sempre procurei deixar que outras aeromoçasatendessem os casos mais sérios.  —- Fez uma pausa.  — Tudobem, então sou uma covarde. Mas o que é que posso fazer? Todomundo tem medo, imagino. Marigold estendeu a fruteira.—  Quer comer uma fruta para terminar? Ou prefere mais café?

Passe sua xícara.  — Olhou suplicante para a irmã.  — Você ficará

Page 26: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 26/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 26 -

aqui até eu ter o bebê, Tessa? Estou querendo demais ter essefilho, mas a maternidade me assusta um pouco.Tessa sorriu, afetuosamenfe.—

  Claro que ficarei. Não foi por isso que vim para cá? Estarei àsua disposição até o fim do ano, pois em janeiro devo reassumirmeu posto em Londres.Marigold olhou-a no fundo dos olhos.—  Não tem ninguém esperando por você? Nenhum namorado im-paciente?—  Nenhum namorado!  — Tessa jogou os cabelos para trás.  — Oúltimo que tive me abandonou. Arranjou um bom emprego em

Bruxelas e mudou-se para a Bélgica.—  E você achou que esse foi o verdadeiro motivo?—- Não, não foi. Ele se apaixonou por uma médica belga.Atualmente, não tenho compromisso com ninguém.—  Ora, não se preocupe. Você ainda terá muitas oportunidadespela frente. A gente raramente se casa com o primeiro ou osegundo namorado. Lembra-se de quantos namorados eu tive,antes de casar com Rae?Tessa lembrava muito bem e fez que sim com a cabeça. Oshomens cercavam sua belíssima irmã como um enxame de abelhas,enquanto ela se considerava felicíssima em seduzir um ou outrode vez em quando.Marigold passou o guardanapo delicadamente sobre os lábios.—  Nossos pais não ficaram com medo de que você arranjasse ummarido por aqui?

Tessa balançou a cabeça dizendo:—  Essa é uma hipótese que nunca deve ter passado pela cabeçadeles.—  Então devem estar ficando míopes com a idade.  — Marigoldestudava o rosto da irmã.  — Você ficou muito mais bonita nestesúltimos dois anos, Tessa. Como prova, considero a atenção queTony Arretino dedicou a você ontem à noite. Ele é uma pessoa demuito bom gosto, e não tirou os olhos de você. Só não estou

segura de que

Page 27: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 27/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 27 -

ele seja seu tipo, mas . . .Tessa refletiu sobre o que a irmã acabava de dizer e, nesseinstante, surgiu em sua cabeça a imagem de um rosto

marcado por uma linha branca.—  Aquela cicatriz do doutor Lachlan . .. Você disse que ele foiferido no Vietnam?Marígold balançou a cabeça.—  Ele teve sorte em sobreviver. Ouvi dizer que seuscompanheiros de unidade morreram todos  — disse, sentindo umcalafrio.—  E aqui estamos nós falando novamente de um assunto que me

arrepia.  — Fez uma pausa.  — Que tal um passeio? Vamosaproveitar a manhã.Quando saíram para Santa Fé, o sol estava a pino. Como navéspera, a cidade continuava encantadora. Tessa perguntou sepoderiam passar pela praça central.—  Esta praça tem uma atmosfera muito especial. Eu me sintoperfeitamente em casa.  — Parou para admirar o verde.—  Ora, vamos, Tessa. Vamos encontrar uma sombra. Este solestá muito forte. No rneu estado, não é nada bom.Olhou para a irmã e percebeu que o rosto dela estava vermelho.Havia gotas de suor em sua testa, apesar da roupa leve queusava. Ficou preocupada. Será que ela estaria suportando bem agravidez?Para distraí-la, ficou falando de todas aquelas construções eficou sabendo que eram feitas de tijolos confeccionados

manualmente, um a um, e secados ao sol. Por essa razãoproporcionavam bom isolamento. No inverno conservavam oambiente aquecido e, durante overão, refrescado.— Isso é apenas uma prova de como esse povo era habilidoso  —

concluiu Marigold.  — Esta é a galeria de Rae; chegamos.A fachada era pintada de ocre. As paredes interiores erambrancas e cobertas de telas, num perfeito arranjo estético.

Ramon apareceu e conduziu-as pelas diversas alas.

Page 28: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 28/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 28 -

— Aqui nós temos uma ala dedicada à arte popular, com objetospara turistas menos exigentes  — ele disse apontando paraalguns quadros e esculturas de animais.  — Naquela ala está a

obra de Arretino. Seus quadros são realmente muito especiais.A loja anexa à galeria estava abarrotada, do chão ao teto.Tapetes feitos à mão, mantas e toalhas rendadas forravam asparedes. Cestos, chapéus, bolsas e outras quinquilharias, além deroupas típicas da região, ocupavam os quatro cantos da loja.Havia também uma vitrina com bijuterias de todas as espécies.Uma verdadeira gruta de Ali Babá com todos os tesourosimagináveis  — essa era a definição mais próxima para a loja de

Rae.Ramon sugeriu que fossem ao estúdio de Tony. Tessa aceitou asugestão prontamente.Vestindo um avental creme sobre o jeans, ele era a própriaimagem de um artista. Olhou para Tessa com um brilho especialnos olhos, e ela sentiu uma pitada de prazer; os outros, elecumprimentou apenas com um sorriso cordial.Atendendo ao pedido de Ramon, Tony continuou timidamente seutrabalho. Tessa esqueceu imediatamente a desordem queimperava no estúdio, absorta na tela diante do artista. Os traçoscomeçavam a ganhar vida.Ela prendeu a respiração. Como era maravilhoso possuir essetalento! Olhos, nariz, lábios, ganhavam vida a cada pincelada.Admirou a obra, extasiada.Tony olhou para ela.—

 Gostou do meu trabalho? Se você gostou, terei muito prazerem pintar o seu retrato.—  Você realmente pintaria? Acha que valeria a pena?  — Ficouemocionada. Nunca havia recebido uma proposta como essa.  —Oh, eu adoraria ... Mas quanto vai custar?—  Nada. Farei, com todo prazer.Ramon deu um passo à frente nesse instante.— E as encomendas do Natal, você tem certeza de que pode

terminá-las no prazo estabelecido? Não esqueça que temos que

Page 29: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 29/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 29 -

atender a esses pedidos. Talvez seja melhor esperar um pouco,antes de começar a retratar minha cunhada.—  Mas ela ficará muito pouco tempo aqui.  — Com o corpo rígido e

o olhar fixo em Ramon, Tony mostrava sua obstinação. —

 Nãoposso esperar nem um pouco para pintá-la.Houve um silêncio, uma pausa tensa. Foi Marigold quem inter-rompeu:—  Mas, Rae, isso não poderia abrir um novo mercado aqui emSanta Fé?  — Segurou delicadamente o braço do marido.  — Tonytem se restringido a reproduzir os nativos e a fauna local. Mas,se fizer um retrato de Tessa, e você o exibir, bem isso poderá

facilmente criar uma moda. Há muita gente de dinheiro por aqui,com vontade de ter um retrato na parede.Ela exibiu um de seus brilhantes sorrisos para o artista.—  Gostaria que também pintasse o meu retrato. O maridoapontou, impaciente para o pátio.—  Qualquer dia. No ano que vem, quem sabe . - - Bem, agora pre-ciso voltar para o escritório.Ao se despedir de Tessa, Tony segurou seus dedos de leve. Elaficou arrepiada da cabeça aos pés.—  Eu avisarei você, quando puder começar  — ele murmurou. Naporta da galeria, Marigold beijou o rosto do marido.—  Procure não chegar muito tarde hoje à noite, querido. E a suamãe que iremos visitar, não se esqueça.—  A noite hoje pode ser um pouco cansativa  — ele preveniuTessa, ao se dirigirem para o carro.  — Laz Sepulveda, o sócio de

Blair Lachlan, foi convidado também. Laz é uma pessoa agradável,mas um pouco antiquada. Quanto à roupa, Conchita é uma senhoraelegante. Por isso, acho melhor você colocar um vestido longo.A mãe de Ramon causou uma forte impressão em Tessa, que pro-curou, ao mesmo tempo, ser amável, mas prudente; amistosa, masbastante formal. Uma matriarca típica, imaginou Tessa. Estavavestida com um longo grená, e um colar de diamantes cintilava emseu peito. O perfume era Chanel.

Page 30: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 30/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 30 -

Duas pessoas esperavam por eles na sala de estar. Uma jovem,que acenou de sua cadeira de rodas, e um homem corpulento, quelevantou do sofá assim que entraram. Conchita Ruíz apresentou

cortesmente Tessa à filha e ao seu médico, pedindo em seguidaque sentassem e que Ramon servisse os drinques.Tessa sentou ao lado de Rosa e pôde observar detalhadamente ainválida. Um pouco mais de cor em seu rosto, um pouco deexercício para aquele corpo, e ela seria uma beldade. A irmã deRamon eramuíto parecida com ele. Mas Tessa detectou em seus olhosamendoados um quê de resignação  — a resignação de um longo

período de sofrimento  — e, em sua voz baixa, uma ponta deaborrecimento. Sentiu pena dela. Que terrível tragédia, estarpresa a uma cadeira de rodas, assim tão jovem.O jantar foi servido à luz de velas na sala de jantar luxuosa, eestava divino. Coquete! de camarão, peixe gratinado, saladas evegetais na manteiga, tudo acompanhado por vinho da Califórnia.Foi Ramon quem animou a conversa falando do bebê prestes anascer. Conchita deixou transparecer o tempo todo a alegria quesentia em ser avó.O café e os licores foram servidos na sala de estar. SomenteMarigold e Laz Sepulveda fumavam, e Tessa percebeu que a sra.Ruiz olhava com reprovação para a nora.No decorrer da noite, Rosa foi ficando mais animada e começou aconversar com entusiasmo. Fez perguntas a Tessa a respeito daInglaterra, confessando melancolicamente que teve que cancelar

uma viagem à Europa por causa da morte do pai.Conchita tinha observado a filha atentamente e, na despedida,convidou Tessa a voltar quando quisesse, pois sentiu que acompanhia dela seria muito boa para Rosa.Tessa sentiu um interesse crescente por Rosita e, durante acaminhada de volta, perguntou a Ramon o que ele sabia a respeitoda doença da irmã.— Estou convencido de que é uma consequência da morte de

papai. Se bem que, mesmo antes disso, ela já não estivesse muito

Page 31: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 31/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 31 -

bem. Lembro bem que ela andava deprimida, quando voltei de umaviagem, por causa da doença de nosso pai. Trabalhei dois anos naEuropa, em galerias de arte, e não acompanhei o avanço da

doença. Mas, Rosa, sendo filha única, era mais ligada a papai ebastante mimada. Recebeu pessimamente a morte dele, masposso lhe assegurar que fizemos tudo o que foi possível paraajudá-la. Gastamos uma fortuna com especialistas. Tentamos atéuma peregrinação ao Santuário de Chímayo.Ele suspirou.— Se ela ficasse boa, seria uma resposta a todas as nossaspreces; seria um verdadeiro milagre e resolveria muitos dos

nossos problemas.Durante muito tempo antes de deitar, Tessa ficou parada na janelado seu quarto, contemplando as montanhas iluminadas pela luz doluar. Pensava em Rosa, no quanto sua história tinha em comumcom a daquela garota inglesa. As duas eram jovens e sensíveis, etinham sido queridas e adoradas. As duas haviam sofrido umtrauma num determinado momento de suas vidas e a incapacidadede se locomover era o efeito desse trauma, nos dois casos.Havia um único elemento diferente: a garota inglesa morava comos pais e eles não gostavam do genro. Havia discórdia entre afamília. Quando o marido que amava obsessivamente a abandonou,ela perdeu completamente o interesse pela vida. Rosa eradefinitivamente mais afortunada. Além de uma família afetuosa,tinha segurança financeira, luxo, todo o conforto possível. Bonita,

inteligente, sofisticada, tinha muito o que viver. E ainda dava aimpressão de ter caráter forte e força de vontade. Seria mesmoa perda do pai a verdadeira causa, a única causa da sua doença? Aexplicação óbvia nem sempre era a correta. Tessa haviaaprendido durante seu curso de enfermagem.Toda essa história era muito intrigante, muito enigmática. Rosanão caminhava já há três anos. Tessa sentia uma profundapiedade por ela, lembrando de tudo o que havia feito nesse

mesmo período; como havia adquirido sua posição profissional;

Page 32: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 32/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 32 -

sua independência; como havia passado suas férias, com jogos,natação, festas. Rosa, ao contrário, passou todo esse tempoentre a cadeira de rodas e a cama. Por que não poderia ter as

mesmas oportunidades, desfrutar das mesmas coisas boas que omundo tinha para oferecer?Tessa foi para a cama, determinada a fazer tudo para ajudar amoça. Era sua tarefa ajudar as pessoas, já que o destino estavasendo extremamente bondoso para com ela. E essa seria amaneira de demonstrar seu reconhecimento por estar ali,naquelas férias e, principalmente, pelas pessoas fabulosas queestava conhecendo.

Ao pensar em Tony Arretino, sua exótica beleza, seus olhosciganos, seus lábios sensuais, ficou inteiramente excitada. Seráque ele ia demorar muito para telefonar? Não via a hora de vê-lonovamente.Na manhã seguinte, ele telefonou, e o som de sua voz indolentefez o coração de Tessa palpitar.— Tem algum programa para hoje à noite? Que tal um jantarmodesto? Às oito horas, está bem? Passo para apanhá-la,chamarei pelo interfone.Tessa, contou minuto por minuto daquele dia, nem esperou queTony a chamasse, apareceu no vestíbulo do prédio bem antes dahora marcada. Às oito em ponto, Tony ainda não havia aparecido.Os minutos passavam; cinco, dez. vinte, e ela ficava cada vez maisansiosa.O que teria acontecido? Será que ele não estava bem? Teria

sofrido um acidente? Ela andava de um lado para o outro,nervosa. Ia esperar só mais dez minutos. Já estava começando aficar deprimida.Exatamente meia hora depois do combinado, um táxi parou diantedo edifício. Antes mesmo dele parar completamente, Tony jásaltava. Correu até ela, o rosto corado, uma sombra de culpa nosolhos.—  Querida, nem sei como me desculpar. Passei o dia inteiro pen-

sando no nosso encontro desta noite, contando as batidas do

Page 33: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 33/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 33 -

relógio da galeria, mas acabei me envolvendo tanto numa pinturaque perdi a noção do tempo. Tinha planejado interromper otrabalho às sete e -.. Bem, desculpe: quando estou pintando,

fico completamente absorto . . .Tessa olhou com uma certa surpresa para ele.—  Você podia usar um relógio!—  E para quê? Não sou escravo. Trabalho nas horas em que mesinto inspirado. Só em ocasiões como esta não sei o que fazer.Mas, no futuro, prometo não chegar mais atrasado.Olhou para ela tão desconsolado, que Tessa teve que perdoá-lopelo atraso. De certa forma, estava bastante aliviada por ele ter

chegado.—  Você está maravilhosa. Esse vestido combina com a cor dosseus olhos. Agora, vamos embora. O táxi está esperando .Acomodaram-se, e Tony pediu ao motorista:—  Vamos para O Trem de Carga.  — E olhando para Tessa:  — Éum lugar muito simpático, querida. Fica ao lado de uma estação detrem. Lá, servem o melhor churrasco de costelas de toda acidade. Você vai provar pratos excelentes enquanto estiver poraqui. Esse restaurante que vamos hoje é tipicamente americano.A construção de madeira era estritamente funcional, por dentroe por fora. O chão era rústico, assim como as mesas e ascadeiras; e a decoração bastanle informal.—  Primeiro venha conhecer a cozinha  — Tony disse, conduzindo-a apra uma enorme janela de vidro. Lá dentro, Tessa viu aenorme churrasqueira de um lado e do outro, costelas de boi

penduradas em ganchos. Ficou com água na boca.—  Olhe só o tamanho das peças! Vocês criam mamutes aqui? Eleriu, e seu riso foi contagiante.—  Búfalos, querida. Mas não se preocupe com o tamanho dasporções. Coma apenas o que quiser. Eles ainda servem batatafrita e salada. É uma loucura, realmente. Vamos sentar naquelamesa ali.Aquela do canto.

Page 34: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 34/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 34 -

Ao sentarem, ela olhou através da janela que dava para a estradade Ferro.—   Daqui, quase posso ouvir o barulho dos vagões, o relincho dos

cavalos, o açoite dos chicotes. Estou voltando cem anos no tempo.Ele segurou as mãos dela.—  Para mim, o presente está sendo maravilhoso. A vida estácomeçando neste momento.Comeram um delicioso churrasco com bastante salada delegumes. Quando estavam terminando a sobremesa, uma pequenaorquestra, acompanhada de um coro, começou a tocar Hello,Dolly. Tessa e Tony acrescentaram suas vozes ao coro. Algumas

pessoas começaram a batucar nas mesas, outras, sobre o enormepiano que ficava no pequeno palco ao lado da mesa em queestavam.E tudo aconteceu com uma incrível rapidez. O palco desabou e opiano escorregou na direção de Tessa.— Cuidado!  — Houve um grito de alerta.  — O palco desabou!Antes mesmo que ela pudesse pensar ou agir, para escapardaquele enorme volume que desabava, duas mãos decididasagarraram a sua cintura, puxando-a para trás. Quase no mesmoinstante, houve um baque surdo e o piano se arrebentou no chão.Seguiu-se um silêncio tenso. De repente, todos começaram afalar ao mesmo tempo e a se movimentar na mesma direção. Aspessoas perguntavam ansiosamente se Tessa estava bem.Tony a amparava nos braços e ela mal conseguia acenar que simcom a cabeça apesar do tremor que tomava conta de todo seu

corpo.—   Obrigada  — murmurou no ouvido de Tony. Ele a beijou norosto.—  Esse é o efeito devastador que você provoca. Até mesmo umpiano velho cai a seus pés.  — E caíram na risada.Durante o trajeto de volta, Tony continuou a abraçá-la.—  Num momento como este, não ter que dirigir é uma grandesorte. Não preciso prestar atenção na estrada. Eu já lhe disse

que você é maravilhosa? Sabe, vou repetir isso muitas vezes, meu

Page 35: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 35/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 35 -

bem. Não precisa invejar nem um pouquinho sua irmã, seu tipo debeleza é a que prefiro.Ela sentia prazer ouvindo essas palavras. Os olhos dele pareciam

não mentir. Ali estava um homem que a via como ela sempredesejou. Além disso, era bonito, possuía um requintado senso dehumor, inteligência e, sobretudo, mostrava um fácilrelacionamento com ela.O táxi estacionou dianfe de Los Arboles, Tony acompanhou-a atéo hall, beijou-a apaixonadamente. Ela sentiu o coração bater maisforte.—  Reserve todas as suas horas livres para mim  — ele disse, ao

deixá-la.  — Só de pensar que você vai voltar para a Inglaterra, jáfico angustiado. Só consigo viver tendo esperança dentro dopeito. Mas, quem sabe, você ainda acaba mudando de ideia ...Pousou os lábios em suas mãos.—  Esta noite foi fantástica. Promete sonhar comigo? Ligareipara você muito em breve.Ela entrou em casa radiante. Como era fascinante a vida na Terrado Encantamento! Tony era maravilhoso. Será que seu destinoera ficar no Novo México, como a irmã?Marigold parecia agitada na manhã seguinte.—  Preciso ir até a clínica para saber o resultado de algunsexames. Sei que é rotina, mas me assusta do mesmo jeito. Vocêvai comigo, não vai, Tessa? Blair marcou um horário após a siesta,às quatro horas.Tessa concordou. A primeira vista, a irmã parecia estar muito

bem de saúde, mas um exame mais detalhado revelava que suasmãos e tornozelos estavam bastante inchados. Marigold nãoconseguia usar nem a aliança, de tão inchados que estavam seusdedos. Tessa também percebeu seu abatimento e o brilhoradiante de seu rosto era mais devido aos cosméticos do que àgravidez. Além disso, ela havia se queixado de dores de cabeçafrequentes e seu cansaço era percebido nos vincos do rosto.Tessa achava que o médico dela ia prescrever, entre outras

coisas, uma dieta com menos sal.

Page 36: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 36/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 36 -

O tempo estava bom, quando se dirigiram para a cidade, e Tessaadmirou os jardins com rosas, dálias e petúnias. Marigold contou-lhe que qualquer coisa que se plantasse naquele solo fértil crescia

com facilidade, desde que fosse regado convenientemente. Poçose valas de irrigação eram usados durante o período das secas.Que não era pequeno, por sinal.— O tempo aqui pode permanecer quente e seco até o mês denovembro, com exceção de algumas tempestades tropicais  —concluiu Marigold, atravessando com seu Mercedes um enormeportão.  — Aí está. Esta é a clínica.A clínica era uma casa em estilo colonial, atrás de um lindo jardim

florido. O interior contrastava com o exterior, com móveis, bemmodernos.— Blair é um perfeccionista  — disse Marigold, ao entrarem.  —Preciso anunciar minha chegada à secretária.Debra Peterson as recebeu em sua sala indicou-lhes cadeiras e,em seguida, fez algumas perguntas a Marigold. Tessa achou amoça formal e um pouco antipática. Havia muito poucas pessoasde quem ela não gostava e, com exceção daquele olhar de desdéme desaprovação na festa de sua chegada em Santa Fé, não tinhanada contra aquela mulher. A luz do sol, atravessando as enormes janelas da sala, denunciavam os traços de uma mulher de trinta epoucos anos, e não o de uma garota. Os olhos eram frios ecalculistas e talvez fosse isso que a tornava antipática.As quatro em ponto, uma enfermeira conduziu Marigold para asala de Blair Lachlan. Tessa ficou na ante-sala, folheando algumas

revistas. Depois de um certo tempo, olhou para o relógio. O dr:Lachlan estava demorando um pouco demais para um exame derotina. O que estaria acontecendo?Levantou, impaciente, e começou a andar de um lado para o outro.A porta se abriu repentinamente e Marigold apareceu com um arpreocupado. Imediatamente, segurou os braços de Tessa.—  O que é que você acha?  — gritou.  — Blair ordenou que eu fiqueinternada aqui a partir de hoje. Disse que minha pressão está

muito alta e que devo ficar em repouso. Imagine só! Eu, neste

Page 37: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 37/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 37 -

lugar, limitada. . . Disse que, se eu não ficar, posso tercomplicações, e o bebê também.  — Fez uma pausa.  — Não devonem voltar para casa para apanhar minhas coisas. . .

Perdeu o controle, seus olhos se encheram de lágrimas e sua vozficou embargada. Tessa abraçou ternamente a irmã.—   Sei o que deve estar sentindo, Mari. Mas, se é para o seu bem.. .—   Você não pode permitir isso! Por quê? Prisioneira por três me-ses? Ficar internarda, numa cama, todo eses tempo!Estava paralisada e olhava em volta, suplicante, como uma criançaassustada.

— Oh, Tessa, você sabe perfeitamente o horror que tenhopor hospitais,—  Calma, calma  — Tessa murmurou, afagando seus cabelosloiros.  — Procure não se angustiar. Isso não vai resolver nada.  —Era estranho! Tinha sempre que proteger a irmã, apesar de serdois anos mais moça do que ela.  — Se o dr. Lachlan acha que deveficar aqui, é por alguma razão especial. Ele não disse que.. .—  Oh, pare, por favor! Minha cabeça está explodindo! Atirou-senuma poltrona, cobriu o rosto com as mãos e continuou soluçando.—   Não posso suportar a ideia de ficar internada. Por que é quenão posso ficar em casa, com você cuidando de mim?Dirigiu um olhar suplicando para Tessa.—  Oh, Tessa, não fique me olhando desse jeito. Faça algumacoisa! Entre e converse com Blair, lembre a ele que você é umaenfermeira, que cuidará de mim. . . e que vou me restabelecer

mais rapidamente. Sei que vou conseguir! E o que for bom paramim, será também para o bebê.Tessa mordeu o lábio.—  Mari, acho que ele não vai permitir. Os médicos não gostam deser questionados em seus diagnósticos.Marigold voltou a chorar copiosamente deixando escapar gemidosde lamento. Tessa afagou os cabelos da irmã.

Page 38: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 38/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 38 -

—  Está bem. Vou tentar. Farei o melhor que puder paraconvencê-lo, mas não posso garantir que vá conseguir algumacoisa.

Caminhou decididamente até a sala do médico e bateu na porta.—   Entre.  — Uma voz seca e rude chegou até seus ouvidos.Blair Lachlan estava sentado, examinando alguns raios-X. Estavatodo vestido de um branco imaculado e tinha a aparência de umexcelente profissional. Levantou o olhar e franziu assobrancelhas ao ver Tessa.—  Tessa Maitland! Não sabia que você tinha hora marcada.  —Seu tom era glacial.

—  Não tenho hora marcada, mas preciso lhe falar. O assunto éurgente. Poderia me ouvir por um minuto ou dois? O problema éMari.,. .  — Tessa tentava desesperadamente controlar os nervos.— Ela está terrivelmente transtornada. Disse que precisa ficarinternada aqui e que deverá ficar até o parto.Respirou fundo e continuou:— Provavelmente, não é de seu conhecimento, mas minha irmã tem horror a hospitais.—  Tem mesmo? Bem, ela me escolheu como médico e a minhaclínica não é um hospital comum. É uma clínica de renome,luxuosamente equipada.—  Oh, sim, isso é evidente.  — Por que aquela nota de sarcasmo etamanha ironia? Tessa estranhou, mas continuou:  — Eu apenasgostaria de saber se posso cuidar de Mari em minha casa. Elapoderia se recuperar mais rapidamente lá, Wilma, a empregada

dela, pode me ajudar.  — Fez uma pequena pausa.  — O senhorprovavelmente não lembra, mas sou enfermeira profissional.—   Não sou tão senil como você pensa. Minha memória ainda ébem aguçada! Sua irmã me disse isso antes mesmo da suachegada. Permita-me cumprimentá-la e perdoe-me não tê-lo feitoantes,A expressão dele ficou ainda mais sisuda.—  Levando-se em conta sua experiência como enfermeira,

surpreende-me vê-la questionar as ordens de um médico.

Page 39: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 39/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 39 -

Tessa estava com os nervos à flor da pele.—  Eu também acho surprendente, dr. Lachlan, o fato de o senhortransmitir sua decisão a Mari, estando ela sozinha. Por que não

pediu minha presença ou a de Ramon?—  Você me surpreende cada vez mais, senhorita, E por acaso eusabia que estava do lado de fora? Por acaso eu sugeri que elaviesse com Ramon? Está me dizendo que sua irmã estáprofundamente transtornada, mas enquanto ela esteve aquidentro de minha sala, parecia perfeitamente equilibrada. Sugerique uma das enfermeiras fosse buscar as coisas dela e Maricalmamente, recusou.

—   Dr. Lachlan, volto a insistir: por que não posso cuidar de minhairmã em sua própria casa? Se ela for internada aqui, e não seadaptar, isso não lhe fará nenhum bem.O médico levantou lentamente. Com passadas firmes, deu a voltana mesa, erguendo o braço direito. Por uma fração de segundo,Tessa pensou que fosse agredi-la. Mas ele levou a mão à cabeça,respirando profundamente.—   Ouça, e com atenção! Deixe-me explicar algumas coisas empoucas palavras: você concorda que é minha tarefa me dedicarintegralmente à sua irmã? Fazer tudo o que estiver ao meualcance para que ela tenha um parto normal e uma criançasaudável?Tessa concordou.—  Venho prevenindo Marigold já há algumas semanas sobre asaúde dela. Proibi o álcool, o fumo, e recomendei uma dieta

saudáve! e muito repouso. E o que foi que acabei constatandoesta tarde? Ela está com toxemia, hipertensão e edema. Ostestes que realizamos confirmam que precisa de observaçãoconstante e de repouso ábosluto. Se suas condições melhorarem,então, será possível reconsiderar a minha decisão. Ela vai ficaronde está agora, sob este teto, a não ser que decida procuraroutro médico que a acompanhe e faça o parto, é claro. . .

Page 40: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 40/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 40 -

Tessa havia se acalmado um pouco. A gravidade da voz dele e suaexpressão séria a convenceram. Ele tinha toda a razão. Maridevia ficar na clínica.

Olhou na direcão da porta, com receio. Como sair e enfrentarMarigold? Se ao menos ela pudesse ter um tempo para seacostumar com ideia. . . Olhou para aquele rosto bronzeado eesboçou um sorriso.—   Se o senhor pudesse permitir que Mari fosse para casa, sópara apanhar suas coisas, isso talvez ajude a aceitar a situação, Eeu também teria oportunidade de conversar com mais calma coma minha irmã, e Rae também.

Como um touro prestes a atacar, ele ergueu a cabeça.—   Não!Ela deu um passo para trás.—   Mas...  — Engoliu em seco. Tentou encontrar uma razão quepudesse persuadi-lo a autorizar que a irmã tivesse um tempínhopara respirar.  — Mas... e o carro dela iá fora? O carro dela? Eunão sei dirigir aquele modelo. Mesmo que soubesse, estouacostumada a dirigir na Inglaterra, cujas mãos de direçào são aocontrário das daqui. Além disso, Mari vai precisar de camisolas,de objetos de uso pessoal e ficará mais transtornada se nãopuder escolhê-los. O fato de ir até em casa só vai distraí-la.Ao dizer essas palavras, seus lábios tremiam, e ela foipercebendo que não tinham nenhum fundamento. Notou o desdémque havia no olhar do dr. Lachlan.Ele se aproximou e olhou-a bem nos olhos.—

 Então, você está com receio de dirigir. Bem, rainha caraenfermeira, eis aí uma boa oportunidade de aprender a dirigiraqui. E quer um conselho? Não tente convencer as pessoas damesma maneira que Marigold; você não é muito hábil. A vida desua irmã está em minhas mãos, e a do bebê também. Acha que eupermitiria que você ou qualquer outra pessoa influenciassemminha decisão?Tessa sentiu dedos de aço pressionando seus ombros.

Page 41: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 41/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 41 -

—  Agora vá, Tessa Maitland! Você já me fez perder muitotempo! Preciso atender outros pacientes. Saia do meu consultóriopara que eu possa continuar o meu trabalho!

CAPÍTULO III

A distância da clínica até Los Arboles era de exatamente trêsquilómetros. Tessa estava assustada por precisar dirigir umMercedes. Telefonou a Ramon, mas ele havia saído para visitarum cliente.

Quando finalmente sentou ao volante, ficou alguns minutosprocurando entender os instrumentos do painel. Eram numerosose estranhos, confundindo-a. Será que conseguiria dirigir?Ousaria? Estava prestes a desistir, quando percebeu uma figurapelo espelho retrovisor. O dr. Lachlan estava em pé na porta daclínica. Assim que o viu, ela ligou a ignição e engrenou a marcha.Não permitiria que aquele ditador visse sua derrota.Os olhos e os ouvidos aguçados, o coração palpitando loucamente,saiu para o trânsito com aquele carro luxuoso. E se batesse e odestruísse completamente? Estremeceu ao imaginar isso.O movimento era intenso àquela hora. Que caminho tomaria?Será que sabia mesmo voltar? O suor escorria por seu rosto epelo pescoço. Dirigir do lado contrário ao que estava acostumadaparecia uma loucura.No entanto, conseguiu chegar. Suspirou, aliviada, quando colocou

os pés no chão. E só quando viu um táxi parando em frente aoportão do condomínio é que percebeu a loucura que tinha feito.Afinal ela bem que podia ter deixado o Mercedes lá na clínica eter vindo para casa de táxi. Uma alternativa que não tinhapassado por sua cabeça.Tessa voltou para a clínica de táxi, levando várias malas queWilma havia preparado com tudo que seria necessário paraMarigold. Roeu as unhas durante o trajeto. Será que a irmã teria

Page 42: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 42/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 42 -

um parto sem problemas? O bebê sobreviveria? Como Raereceberia a notícia da hospitalização da esposa?Marigold estava instalada num quarto do andar superior, pequeno,

mas muito bem equipado. Havia um banheiro privativo e umavaranda que dava para o jardim. Teria uma enfermeira só paraela. Seu nome era Dagmar Fisher e, quando Tessa entrou, estavatomando o pulso dairmã.—  Você chegou rápido. Viu como conseguiu achar o caminho? Eusabia que conseguiria  — disse Marigold, sorrindo.  — Use o meucarro enquanto eu estiver aqui. Não vou precisar dele tão cedo. E

você precisará de um carro para vir me visitar e fazer ascompras. Gostaria que cuidasse de tudo lã em casa.—  Farei isso com muito prazer. Mas, quanto a dirigir novamenteo seu carro, bem não dirijo mesmo! Pedi ao porteiro que oguardasse na garagem e de lá não vai sair, não de preocupe.Existem ônibus e táxis e sei me locomover muito bem. Aqui estãosuas coisas. Veja se falta algo, e eu trarei amanhã.Marigold suspirou.—  Amanhã, depois de amanhã e durante pelo menos uns setentadias, você me encontrará aqui. E eu que tinha planejado mostrar avocê mil lugares atraentes no Novo México! Acabei estragandosuas férias!—  Com isso você não deve se preocupar nem um pouco. Não vimmesmo para fazer turismo. Estou mais é preocupada com o seuestado. Quanto aos nossos pais, acho melhor nem avisá-los sobre

seu internamento. Não devemos preocupá-los, eles estão tãolonge!Tessa começou a tirar as coisas da mala, enquanto a enfermeiraajudava a nova paciente a se despir, Ramon chegou um poucodepois, a ansiedade estampada no rosto, Tessa saiu do quarto,achando que era melhor deixar o casal a sós. Decidiu dar umavolta pela clinica e esperar que o cunhado a levasse de volta paracasa.

Page 43: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 43/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 43 -

O sol já se punha e uma brisa fresca começava a soprar. Tessatentava acalmar os nervos, mas a preocupação persistia. Nãoconseguia pensar em outra coisa, a não ser em Mari e no bebê.

Começou a escurecer, e Ramon não aparecia. Quanto tempo eleainda ficaria ao lado da esposa? Ao atingir a porta de entrada,deu de cara com o dr. Blair Lanchlan.— Tessa Maitland! Ainda está aqui? Por quê? Ainda não acreditaque sua irmã esteja bem conosco, não é mesmo?  — E caminhou,decidido, para o estacionamento, sem ao menos dizer boa-noite.Tessa sentiu um ódio profundo. Seu rosto estava em chamas.Porque aquele homem era tão repugnante, tão antipático? O que

teria acontecido em sua vida para torná-lo assim, tão amargo?Nas semanas seguintes, Marigold abusou da paciência de todos ede Tessa em particular. Estava constantemente ao telefone,pedindo que lhe levassem coisas, e nas horas mais impróprias.Fazia as mais estranhas exigências. Queria agulhas de tricô, lã,livros, revistas, blocos de papel para desenho, lápis de cor, etc.Além disso, Wilma tinha que preparar pratos especiais, pois Marinão gostava da comida da clínica. Chegou ao ponto de exigir roupade cama especial. Dagmar Fisher, a enfermaria particular, tinhauma enorme paciência. Tessa começou a suspeitar de que a irmã estava descarregando a tensão nos outros.Mesmo o tolerante Ramon começou a mostrar sinais de aborreci-mento, uma irritação crescente para com a esposa. Tessa teveque acalmá-lo muitas vezes.— Uma futura mamãe precisa de muita atenção  — ela falava.  —

Ainda mais, tendo todas essas complicações desagradáveis.Para Tessa, Tony era a salvação. Sua voz amável a confortava,seus braços fortes a consolavam. Saíam todas as noites e nosfins de semana, quando Marigold não precisava dela, já que tinhaa companhia de Ramon. Como um guia perfeito, Tony mostrou-lhetoda a cidade de Santa Fé. Com ele aprendeu muita coisa sobre acidade e mais ainda sobre arte. Iam a muitas galerias e museus,andavam de mãos dadas por aquela maravilhosa cidade, como duas

crianças satisfeitas.

Page 44: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 44/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 44 -

Tony tinha a simplicidade de uma criança. Tudo que fica além dolimite de sua visão ou experiência não despertava nenhuminteresse, mas as coisas que lhe eram familiares o atraíam

imensamente, e ele as explorava. Suas raízes, definitivamente,estavam no solo do Novo México, e tirava sua inspiração danatureza e dos nativos. Mas havia um mistério em tudo isso: elefalava muito pouco sobre seu passado. Tony também tinha algunspequenos defeitos que às vezes a incomodavam. Um deles era afalta de pontualidade. Raramente chegava na hora marcada; e,imerso como ficava em seu trabalho, esquecia da vida. Muitasvezes, esquecia até mesmo de comer e, quando comia, alimentava-

se mal. Sabendo disso, Tessa sugeria muitas vezes que jantassem fora; em geral, quase todos os restaurantes serviamboa comida e em porções generosas.Tony desprezava os automóveis. Dizia que o mundo estava sendoarrumado rapidamente por esses monstros mecânicos. Ele previaque muito em breve as pessoas seriam obrigadas a usar carros deboi e cavalos novamente. Falava com a convicção de um profeta eseus olhos possuíam o brilho de um visionário. Tessa via nele umhomem honesto, dedicado de corpo e alma aos seus propósitos eideias. Uma coisa era certa: a confiança que Ramon depositavaem seu protegido seria, sem dúvida, recompensada.Tessa sentia que estava aproveitando muito bem as férias, aindamais, na companhia de Tony! No entanto, seus olhos se perdiammuitas vezes nas colinas distantes e, nessas ocasiões, era tomadapor um desejo ardente de conhecer os lugares pitorescos,

além daqueles montes.As amigas de Marigold começaram a visitá-la na clínica, e era umalívio para Tessa que, aos poucos, deíxava de ser tão solicitadapela irmã. Além de economizar seu tempo e energia, corria menoso risco de se encontrar com o dr. Lachlan.Depois daquele último encontro, ela tomava cuidado para evitá-lo.Todas as vezes que entrava na clínica, olhava antes para oestacionamento e verificava se o Porsche vermelho estava lá, em

Page 45: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 45/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 45 -

seu espaço reservado. E também deixou que Ramon fizesse todosos contatos com o corpo clínico.Marigold, por sua vez, continuava insistindo em voltar para casa,

mas o dr. Lachlan permanecia intransigente em suas ordens.Com mais tempo disponível, Tessa pôde cumprir sua promessa devisitar Rosita Ruiz. Conchita nunca deixava de insistir no convite,todas as vezes que se encontravam no quarto de Marigold. A jovem inválida ficou contente em recebê-la, e as visitastornaram-se constantes. Apesar de suas limitações físicas,Rosita demonstrava um profundo interesse pelo mundo, além dasquatro paredes em que vivia. Tessa procurou saber mais a

respeito do passado dela e ficava sempre atenta. Numa certamanhã, Rosita falou de seu estado físico.—  Olhe como estão ficando flácidas!   — queixou-se, apontandopara as pernas.Tessa encolheu os ombros.—  Isso não é  nem um pouco surpreendente! Afinal, você não asexercita há um bom tempo. A fisioterapia pode ser uma boasolução, ajuda a restaurar o tõnus muscular.Rosita fez um gesto de rejeição.—  Já tentei isso. Uma fisioterapeuta esteve me visitandodurante algumas semanas. Mas. como não houve progresso algum,deixou de vir.—  Talvez vocês devessem ter insistido um pouco mais. Não tenhoexperiência nesse campo, mas já vi alguns resultadosnotáveis no meu dia-a-dia como enfermeira. Por que não pede a

opinião do dr. Sepulveda? Se ele acha que pode valer a pena umanova série.. .Tessa procurou estimulá-la ainda mais.—   Quando Mari tiver o bebê, irá precisar de ajuda. E, quando acriança começar a andar, você poderá brincar com ela.Rosita olhou para as mãos.—  Houve um tempo em que sonhei brincar com crianças, mascom as minhas, meus filhos. Estive mais ou menos comprometida

com um homem... Agora já não me preocupo muito com o

Page 46: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 46/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 46 -

futuro... procuro apenas viver o dia de hoje. Conte-me a respeitode sua irmã. Mamãe e eu estamos muito preocupadas com ela.Tessa sentiu que a mudança brusca de assunto era uma barreira

que Rosita estava impondo. Não devia insistir; iria esperar queela se abrisse numa outra ocasião. Mas, com sua experiência,suspeitou de que havia muito mais coisas atrás da história queRosita tinha romeçado a contar. Então, ela teve um amor e operdeu? Quem era ele? E por quê?Sentiu que precisava descobrir mais. Mas quem poderia ajudá-la?Talvez Conchita?Urna das principais preocupações de Marigold era que Tessa não

estava conhecendo direito a cidade e seus habitantes.— Se eu não tivesse sido obrigada a ficar nesta cama como umabaleia encalhada, você estaria saindo comigo e conhecendo muitagente.  — Em seguida, passando a mão na barriga ralhou:  — Ei,você! Está vendo em que situação me deixou? Oh, bem, não sepreocupe, Tessa. Os Emery estão voltando de férias da Europa.São os nossos amigos mais íntimos; Anna é suíça e Vance é daCalifórnia. Você vai adorá-los. Sairão com você. E espere só paraver a casa enorme em que moram; é fabulosa. Vance é milionário!Nos dias que se seguiram, Marigoid referia-se frequentemente aAnna Emery: era elegante, amável, delicada. Ao ouvir tantasqualidades, Tessa até teve receio de conhecê-la. Mas, certamanhã, lá estava ela, sentada ao lado da cama de Marigold. Alta,loira, olhos azuis e, realmente, maravilhosa. Estava se preparandopara sair, quando Tessa entrou.—

 Ah, aí está minha pobre irmã! Estava ansiosa para que vocêsse conhecessem. Anna, esta é Tessa. Anna e Vance chegaramontem a noite. Fique mais um pouco, Anna.—   Mas já faz tempo que estou aqui! Você deve estar cansada.  —Sua voz era levemente gutural.  — Que bom conhecê-ia, Tessa.Agora que voltamos, deve ir nos visitar; eu lhe telefono paramarcarmos um encontro.  — Piscou para Marigold.  — Virei visitá-lamais vezes!

Page 47: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 47/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 47 -

—  Viu que elegância?  — Marigold perguntou, quando Anna deixouo quarto.—  Gostei dela. Espero mesmo que me telefone.

Não teve que esperar muito. Numa sexta-feira à noite, otelefone tocou.—  Anna Emery, lembra? Você tem algum programa para amanhã à noite?  — A ligação não estava muito boa; a voz desaparecia àsvezes, aparecendo em seguida.  — Excelente! Gostaríamos deconvidá-la para um jantar dançante. Apanharemos você por voltadas oito.Tessa colocou o fone no gancho. Estava contente, mas sentia uma

pitada de culpa, pois aceitar o convite de Anna significava deixarde sair com Tony no sábado como era, seu hábito. Mas não foicapaz de resistir, só de imaginar as pessoas interessantes quepoderia conhecer. Decidiu usar um de seus vestidos longos.Às oito em ponto, de sábado Tessa estava sentada no banco detrás de um Cadillac branco. Seu vestido de noite tinha um decoteousado. À volta do pescoço colocou uma corrente dourada e,sobre os ombros, um xale de renda branco. Os cabelos e amaquiíagem tinham sido feitos por profissionais, naquela tarde. Operfume, de Mari, era francês.A limusine deixou-a diante de um restaurante chiquérrímo. Oporteiro uniformizado acompanhou-a até o maitre, que a levoupelo salão. O ruído de conversa misturava-se ao som da música.As toalhas das mesas eram vermelhas e, sobre elas, haviacandelabros com velas acesas. Mas ficou chocada com os

frequentadores. Pareciam estar fantasiados: os homens, vestidosde vaqueiros, e as mulheres, de índias.Segurou o braço do maitre, o coração batendo fortemente.—  Deve haver algum engano. Aqui há outro salão? Estouprocurando os Emery.O maitre sorriu,—  Estão logo ali, senhorita. Não se surpreenda. Esta é uma noiteespeciai, quando realizamos o Festival do Oeste Selvagem e as

pessoas costumam vir fantasiadas.

Page 48: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 48/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 48 -

Suas pernas tremeram. Nunca tinha se sentido tão ridícula, tãodeslocada. Pensou em sair correndo. Deu meia-volta, mas alguémtocou em seu ombro e uma voz suave soou em seus ouvidos.

Virando-se, deparou com alguém usando um bigode postiço,fantasiado de soldado.Ele sorriu.—   Tessa? Sou Vance... Vance Emery. Anna pediu que viessebuscá-la. Que bom conhecè-la! Essa banda... mal posso ouvirminha voz. Vamos para o nosso canto?O desejo de fugir continuava. Tessa fez um grande esforço parasegui-lo. Se ao menos o chão se abrisse e a tragasse! Anna correu

para abraçá-la, com um sorriso duvidoso no rosto.—  Oh, Tessa, que pena! Aquela ligação horrorosa. Acho que nãodisse a você a roupa que devia usar. Mas não se importe. Outraspessoas... bem, fique à vontade.Levou Tessa pela mão, apresentando-a aos outros convidados.Todos a receberam calorosamente, e sorrindo. Ela sentou nacadeira que Vance lhe ofereceu, no canto da mesa, e aceitou umcopo de vinho. Estava levemente deprimida.O anfitrião apontou para uma cadeira vazia ao lado dela, dizendo:—  Seu acompanhante estará aqui em breve. Alguma coisa devetê-lo atrasado.Tessa olhou para seu vestido. Esse homem, quando chegasse,como reagiria ao vê-!a? O que pensaria de sua roupa tão formal?Sentia-se mal. decepcionada, devia ter recusado o convite e nãodeixado Tony sozinho no dia em que costumavam sair. Desejou

estar com ele, em outro lugar mais tranquilo. Baixou a cabeça,desanimada, procurando um lenço na bolsa.A cadeira vazia foi puxada para trás. Ela levantou o rosto e seucoração deu um salto. O cavalheiro vestia roupas convencionais.O destino lhe sorria.Olhou para o rosto daquele homem enorme perto dela e ficouboquiaberta. Blair Lachlan olhava-a dentro dos olhos.Calados, observavam um ao outro. Tessa lembrava vividamente do

último encontro que tiveram, do ódio que sentira. E ali estava ela,

Page 49: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 49/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 49 -

condenada a passar toda uma noite com aquele médico arrogante!Sentiu uma pontada no peito.Foi ele quem falou primeiro:—

  Boa noite, srta. Tessa Maitland. —

 A vitalidade de sua vozhavia desaparecido. Sentou-se e tirou um lenço branco do bolso,passando-o na testa.  — Na segunda-feira, uma certa jovemouvirá poucas e boas por não anotar recados corretamente!Ela sentiu uma alegria fugaz nesse instante. Debra Petersen eraessa jovem; ele estava se referindo a ela!—  Bem, pelo menos, agora somos dois. Eu mesma atendi aotelefone e não prestei atenção no traje que devia usar.

—  Como é que vamos fazer? Vamos parecer dois idiotas,dançando quadrilha vestidos assim.—  Dançando o quê?  — A voz dela saíu desafinada.  — Oh, não. eunão posso. . .  — Suas mãos tremiam. Olhou em volta e viu todosaqueles rapagões fantasiados, andando de um lado para ooutro.  — Isso não ê  para mim. Quando terminar o jantar e aspessoas começarem a dançar, vou embora,— Oh, não! Não vai, não!  — Blair disse, enfático.  — Anna não iagostar. Ei, tente suavizar sua expressão. Você não está num fu-neral. Isto é uma questão de vida e morte. Confie em mim, vouimaginar alguma saída. E relaxe! Aí vem a comida.Ela comeu, mas não saboreou como devia aqueles pratosdeliciosos. Estava agitada e isso atrapalhava seu paladar.—   Já  sei!  — disse Blair no ouvido dela,  — Com um pouco de sorte,podemos escapar daqui enquanto o café for servido. Enquanto

dou uma palavrinha com Vance, você pode fingir que vai aotoalete e se encaminhar para a saída.Tessa fez exatamente o que Blair planejou.Ele chegou logo em seguida, segurou a mão dela e saíram para arua.—  Vamos, rápido! A primeira rua, à esquerda.—   Mas aonde está me levando?  — perguntou, procurando acom-panhar seus passos largos.  — Você está andando muito depressa

Page 50: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 50/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 50 -

— protestou, quase tropeçando.  — Meu vestido. . . não consigoacompanhá-lo.—  Então, segure-o e pare de reclamar!

Nesse momento, ela o comparou a um soldado: rude, implacável,determinado. Sentiu uma onda de medo. Para onde é que está melevando?A resposta lhe surgiu em seguida. Ele parou diante de uma loja eapontou para uma tabuleta na portar"Visitante leve para casa uma lembrança do Novo México.Executamos uma fotografia sua com trajes típicos".Tocou a campainha.

—  O proprietário é meu amigo, resolverá o nosso problema  —dísse Blair.E o que aconteceu foi como uma daquelas transformações instan-tâneas que acontecem no cinema e no teatro. O dr, Lachlan e asrta. Maitland entraram na loja vestidos a rigor e saíram comroupas de 1880; ele, de oficial do Exército, é ela como suaesposa.Blair Lachlan lançou um olhar de aprovação para Tessa.—  Você é a esposa do oficial  — brincou.  — Segure meu braço. Otom caloroso da voz dele animou Tessa.Quando voltaram ao restaurante, os convidados já estavam no jardim externo iluminado por lanternas. Um homem disfarçado dexerife organizava os grupos da quadrilha, e a banda tocava.Os casais começaram a dançar alegremente e batiam palmas. Anoite estava estrelada e o ar fresco. Aquecidos pela dança,

homens e mulheres começaram a tirar os chapéus, casacos, xales,desabotoando os nós das gravatas e afrouxando os colarinhos.Tessa dançava, o corpo colado ao de Blair, e sentia o calor que elelhe transmitia através da camisa, já desabotoada, deixando àmostra os pêlos do peito bronzeado. Ele dançava muito bem, e aspessoas olhavam admiradas para os dois. Envaidecida pelosolhares, Tessa adorou estar naqueles braços. Braços de umhomem que até então lhe desagradava profundamente. Fora de

Page 51: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 51/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 51 -

seu ambiente de trabalho, Blair era uma pessoa diferente,relaxante, suave e muito divertida.O tempo passou sem que ela percebesse, e logo a festa estava

terminando. As luzes diminuíram de intensidade e a bandacomeçou com os acordes da Valsa do Adeus. Envolvida poraqueles braços, Tessa sentiu mais do que nunca a solidez daquelecorpo, e o coração pulsando dentro do peito. Oh, se ao menostudo isso pudesse continuar. . . e não acabar nunca...Abriu os olhos ao ouvir os últimos acordes e deparou-se com osdele fixos nela, interrogativos.—  Desceu das nuvens?  — ele perguntou docemente.  —- Você pa-

recia estar em outro mundo, como na noite da sua chegada.Então, será que estava pensando em Tony?  — Seus lábios seabriram num sorriso.  — O que foi que a deixou em transe?Ela fez um gesto com as mãos.—  A música suave, os passos da dança. . .Blair, num impulso, encostou-a num pilar e a abraçou. Seus lábiosprocuraram os dela, e eles se beijaram ardentemente. Tessaestremeceu de desejo.—  Tessa! Tessa! Onde está você?  — A voz gutural de AnnaEmery foi ouvida naquele momento.  — Nós já vamos embora!Blair deixou escapar um murmúrio de desagrado, um longo suspiroe soltou-a.—  Que pena!Tessa engoliu em seco, ajeitou a saia e foi ao encontro de Anna.—  Ah, você está aí.  — Anna acenou para o portão que dava para a

rua.  — O carro está daquele lado. Vamos? Você se divertiu?Naquele momento, Tessa lamentou profundamente a interrupção.Em resposta, apenas acenou com a cabeça.O enorme Cadillac partiu. silenciosamente. O coração deTessa ainda batia com força. Fechou os olhos. Era inacreditável oque havia acontecido.Tocou a saia de algodão e as recordações provocaram-lhe um sor-riso nos lábios. Tinha saído com um vestido fino, de festa, e

estava voltando com outro, simples, de algodão. Uma Cinderela ao

Page 52: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 52/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 52 -

inverso! Blair tinha gostado do vestido simples. Tinha atébrincado com ela, chamando-a de esposa.Ah, se ela estivesse no Porsche vermelho em vez do Cadillac

branco, seria um final perfeito...Os Emery interromperam seus sonhos. Estavam planejando umanova festa.Quem será que iam convidar?

CAPÍTULO IV

—  Vamos, conte! Estou doida para saber tudo sobre esse jantar!— Marigold estava ávida por detalhes.—  Anna me ligou hoje cedo. Contou que você e Blair ficaram juntos o tempo todo. Ele foi bastante esperto, conseguindoaquelas roupas, não foi? O nosso dr. Lachlan não se deixaderrotar facilmente.  — Os olhos violeta cintilavam.  — Eu disseque ele não era nenhum monstro, não disse? Anna falou que hámuito tempo não o via tão à vontade.—  Ela conhece bem Blair?—  Desde o tempo de colégio. Eles se reencontraram quando Blairvoltou do Vietnam, coberto de glórias.  — Olhou para Tessa, commalícia.  — Sabe quem era para ir no seu lugar à tal festa? DebraPetersen! Ela recusou o convite no último minuto, o que atéagradou os Emery. Não gostam dela, acham que não é adequada

para Blair. Foi ele quem sugeriu que ela fosse convidada.Tessa ficou curiosa.—  E por que ela recusou?—  Tenha paciência, irmãzinha; contarei tudo.  — Marigold levan-tou uma das mãos.  — Pelo que a enfermeira Fish me disse... ei,ajeite estes travesseiros para mim. Esta maldita cama. . . nãoconsigo me ajeitar!Tessa sorriu ao arrumar os travesseiros, acomodando-a melhor.

Então, Dagmar Fisher já estava sendo chamada por Fish e havia

Page 53: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 53/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 53 -

se transformado numa fonte de informações dentro da clínica?Isso era sinal de que Marigold estava gostando da enfermeira.— Obrigada  — disse a irmã.  — Onde é que eu estava? Oh sim.

Fish disse que uma companheira dela, lá da recepção, contou queouviu Debra e Blair discutindo na sexta-feira, e que em seguidaDebra recusou o convite. E não é só isso. Hoje de manhã, houveoutra discussão violenta entre os dois, mas já se reconciliaram.Os caminhos do amor verdadeiro nunca são simples e diretos.Tessa ficou triste. As palavras de Marigold a tinham deprimido.—  Se eu fosse você, seria cautelosa com essa garota. Ela é comoum felino, é capaz de atacar, se sentir que alguém está se

aproximando de sua propriedade. É fantástico como conseguedominar Blair.Tessa sentiu uma ducha gelada nesse momento. Então, o relacio-namento entre Blair e Debra não era apenas profissional. Naquelaprimeira noite em que os viu, havia tido um indício. . . a loira erabonita, muito bonita, mas seus olhos terrivelmente frios. Seráque seriam calorosos, quando se dirigiam a Blair?Estava triste quando deixou a clínica. Precisando tirar essasideias tolas da cabeça, resolveu ir visitar Rosa.Ela também estava ávida por notícias da festa; sabia que Tessatinha sido convidada.Rosa ouviu, atenta a todos os detalhes.—   Esse é o tipo de festa de que eu gostaria de ter participado— ela interrompeu, com tristeza na voz.  — Mas ir sabendo quenunca mais poderei dançar. . . Não tem graça nenhuma ficar só

olhando os outros se divertirem.—  Não deve ser tão categórica! Como é que você sabe que nuncamais vai dançar? Sempre há uma esperança. . .Rosa sorriu.—  Foram exatamente essas palavras que Sep me disse pelotelefone. A propósito, ele está procurando uma novafisioterapeuta para mim. Acha que uma nova série de sessõespode funcionar. E, mais do que isso, disse que devia sair um pouco

de casa.

Page 54: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 54/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 54 -

—  E por que não sai? Nós poderíamos encontrar alguém com umcarro que pudesse acomodar sua cadeira de rodas.  — Tessa ficouentusiasmada com a ideia.—

 Não, não, ainda não! —

 Havia pânico na voz de Rosa. —

 Prefiroesperar mais um pouco. Faz muito tempo que não saio desteapartamento. Aqui, aprendi a conviver com minhas limitações,limitações que me deixaram inibidas lá fora. A multidão, obarulho, a correria das pessoas, mesmo nesta pequena cidade. . .só de imaginar, fíco aflita.Apontou a sala.—  Tenho tudo que preciso dentro destas quatro paredes. Os

amigos me visitam, um cabeleireiro vem todas as semanas, tenhouma costureira à minha disposição. Desse jeito, evitoaborrecimentos.Olhou para a sacada.—  Algumas vezes, sinto um desejo ardente de andar novamente.O que sinto mais falta, por incrível que pareça, é dos jardins, dapraia e, mais que tudo gostaria de ser independente. Mas, nãopassa de um sonho.Tessa virou a cabeça para esconder os olhos embaraçados. Secouuma lágrima sem que Rosa percebesse. A amiga continuavafalando, e ela precisava se concentrar. Essa podia ser umaoportunidade de descobrir mais a respeito de seu passado.—  Essa paralisia aconteceu subitamente ,ou foi progressiva?— Tessa arriscou.Rosa mordeu o lábio.—

  Não. Surgiu gradualmente. No começo, eu sentia aspernas fracas e me cansava com facilidade; depois, comecei a terdificuldade para andar. Foi um período horroroso. Primeiro,perdemos papai; depois, nossa casa. Ela pertencia a família, hámuitas gerações. Só pelo testamento soubemos que estavahipotecada e que tínhamos dívidas enormes. Perdemos nossamaravilhosa casa, os cavalos...Sua voz ficou abafada.

Page 55: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 55/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 55 -

—   Mesmo antes disso, as coisas já não iam bem. O namorado deque falei, bem, tive que afastá-lo, contando uma mentira. Minhaconsciência não me deixou mais tranquila desde então. Não estou

chateando você?Tessa aproximou a cadeira.—  Nem um pouco. Estou bastante interessada. Sou enfermeira,não esqueça, e sua amiga também. Além disso, sou boa ouvinte.Você está dizendo. . .Rosa esboçou um pálido sorriso de gratidão.—  Você é muito simpática. É um alívio poder falar disso comalguém. Fico sentada aqui, horas intermináveis, como um Buda em

contemplação. Mamãe é maravilhosa, mas tem muitas coisaspara fazer e está sempre ocupada. De qualquer maneira, eu nãogostaria de provocar-lhe lembranças dolorosas. Por isso, prefiroficar mergulhada no passado, na minha saudade, nos dias felizesque já vivi.Calou-se por um momento, olhando para o crucifixo que tinha nopescoço. Quando voltou a falar, sua voz era pouco mais que umsussurro.—   Meu namorado não era do Novo México e não tinha o mesmonível de nossa família. Não éramos iguais em nada: religião,educação, nível social. Mas nos amávamos muito. Essas diferençasnão me afetavam nem um pouco. Eu não ligava a mínima, mas meuspais sim; principalmente, papai. Nossa família sempre foi muitotradicional, e papai tinha grandes ambições a meu respeito.— Nem sempre a opinião deles é a mesma que a nossa  — inter-

rompeu Tessa.Rosa concordou:— A princípio, eu não escutava os protestos. Mas, quando eleadoeceu, me senti culpada pelo desgosto que estava lhe causando.Amando-o como o amava, não podia continuar agindo contra osdesejos dele. Aqui no Novo México, a família, os laços de sanguesão muito importantes.  — Balançou a cabeça.  — Hoje, isso pareceabsurdo, mas, naquela época, eu tinha ilusões como qualquer

moça: me apaixonar, fazer um bom casamento, uma família, ter

Page 56: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 56/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 56 -

filhos. E, num estalo, tudo terminou. Resolvi terminar o namoro,para não magoar mais ainda meu pai, e tive que inventar umadesculpa. Disse ao meu namorado que havia outra pessoa na minha

vida. Desde então, me sinto culpada por não ter contado averdade.Fez outra pausa.—  Hoje eu gostaria de saber por onde ele anda, se já casou...—  De onde ele era? O que fazia?  — Tessa ficou curiosa, maspercebeu em seguida que essas perguntas cheiravam aintromissão.Rosa encolheu-se na cadeira de rodas.

—  Outra hora eu conto. Estou muito cansada agora,A cabeça de Tessa estava girando, quando deixou a amiga. A his-tória que havia acabado de ouvir confirmava sua suspeita. Existiaum segredo no passado de Rosa. A perda do pai havia sido dura,mas a perda do namorado que amava era a razão mais provável dodesencadeamento de seus sintomas. Como a cabeça tinha poderessobre o corpo. . . Ela mesma já tinha tido muitas provas disso emseu trabalho.Sentiu pena de Rosa. Uma morte, uma perda de bens materiais euma separação; uma desgraça atrás da outra. Teria sido esseacúmulo de tristezas a causa da paralisia?Qual seria a melhor maneira de ajudá-la? De uma coisa tinha cer-teza: não era aconselhável consultar Conchita. Mas de que formairia descobrir a identidade daquele homem que havia sidorejeitado por Rosa? Por onde começar? Sim, uma aproximação!

Era isso o que ia tentar. Fazer com que eles se reencontrassem.Mas seria possível? Com toda essa confusão na cabeça, foi aoenconlro de Tony.Ele a esperava ao lado do obelisco, na praça, o lugar habitual deseus encontros. Mesmo dentro do jeans desbotado, ele pareciaexótico, e seu corpo musculoso transmitia vigor.— Há quanto tempo!— Dois dias é tanto tempo assim?  —- ela disse, enquanto se

abraçavam.

Page 57: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 57/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 57 -

Caminharam entre as árvores, e ele perguntou, com alguma relu-tância, se ela tinha gostado da festa. Tessa procurou fazergraça, contando o desastre inicial e a escapada para a troca de

roupas. Para seu espanto, ele não esboçou o menor sorriso.—  Quer dizer que o nosso médico tentou conquistá-la? Isso eunão posso permitir. Ele não vai, de modo algum, roubar minhagarota.  — Apertou-a nos braços.—   Mas ele não tentou. . . eu não disse isso.—   Não mesmo. E hoje, onde é que você esteve? O que foi quevocê fez?  —- Perguntou, com uma certa irritação.—   Primeiro, visitei Mari; depois, fui visitar a irmã de Ramon,

Rosa. você a conhece?—   Conheço. Estive uma vez mostrando uns quadros a ela. Raequeria lhe dar um de presente. Por que pergunta?— Gostaria de saber tudo que puder a respeito dela, a respeitodo que lhe aconteceu.—  Não posso ajudar em nada. Só conheci Ramon quando ele abriua galeria, há dois anos. E a única vez que conversei com Rosa, tivea impressão de que ela era triste, só isso. E também deu aimpressão de ser uma pessoa com forte determinação. Porexemplo: não aceitaria um quadro de que não gostasse.Tessa olhou para ele com admiração. Aqueles olhos ciganos,quanto enxergavam! Ela precisava urgentemente de umconfidente, e Tony era a pessoa mais indicada. Mas, comocomeçar?—  Você está querendo me dizer alguma coisa, Tessa?

Ela expôs sua teoria, suas ideias a respeito de Rosa, seu desejode encontrar o namorado.—  Acha que deve interferir? O rapaz pode estar casado. E senão estiver casado e você conseguir encontrá-lo, o reencontropode não funcionar, depois de três anos. Acho que estáassumindo o que não deve.—  Mas vale a pena tentar. Lembre-se do que está em jogo: ofuturo de Rosa. Imagine se ela conseguir andar novamente!

Page 58: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 58/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 58 -

—  Como é que você pode saber se é isso que ela realmentedeseja? Tome cuidado, Tessa. Nós doís temos coisas maisimportantes para pensar. Que tal começar a posar para o seu

quadro?Começaram na tarde seguinte. Antes de dar os primeiros traços,Tony escolheu uma poltrona e estudou várias poses.—  Ramon não está muito contente por eu iniciar seu retrato. Aúnica procupação dele é com a loja. Mas há de chegar o dia emque só pintarei o que quiser, e quando quiser.  — Olhou para ela.  —Pode conversar, desde, que não saia dessa posição.Enquanto a desenhava, Tessa observava o estúdio. Como é que

alguém podia trabalhar no meio de tamanha desordem?—  Não esqueça de vir com o mesmo vestido todas as vezes  — eledisse quando resolveu parar. Esse tom de azul combina com a corde seus maravilhosos olhos.Levantou-a carinhosamente e abraçou-a bem apertado. Numinstante, ela esqueceu a desordem e confusão daquele estúdio, ocheiro acre de terebintina e de tinta. Só sentia a proximidadereconfortante daqueles braços, o calor daquele corpo forte.—  Não preciso dizer que me apaixonei por você, preciso?  — Bei- jou-a na boca, ternamente.  — Se quiser voltar à noite. Meuestúdio não é muito confortável, mas podemos dar uma arrumada...Tessa sentiu o pulso acelerar, mas sacudiu a cabeça. À noite, agaleria estava fechada e não haveria ninguém por perto. Sozinhacom ele, no estúdio, isso seria uma tentação. ..—

 Rae pode saber e não aprovar a ideia. Não deve aborrecê-lo,logo agora. E isso pode ser um risco para você.Na verdade, Tessa só estava preocupada com o trabalho de Tony.E não demorou muilo para que Ramon demonstrasse também suapreocupação em relação à maneira com que Tony estavaempregando seu tempo.—  Não quero ser um desmancha-prazeres, mas ficaria muitocontente com a sua cooperação. Procure evitar que Tony fique o

tempo todo trabalhando no seu quadro. Há obras encomendadas

Page 59: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 59/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 59 -

que ele precisa terminar. O Natal não está muito longe. Podemosganhar um bom dinheiro, e ele consequentemente vai conseguirmais prestígio.  — Essa conversa começou durante um jantar numa

das raras vezes em que Ramon voltou cedo da clínica, onde iasempre ver Marigold.—  A vida atualmente está muito difícil  — ele disse.  — Essa infla-ção por que passamos está atingindo todos nós. E essahospitalização de Marí não estava no programa.Ramon passou a mão pela barba.—  Mas, afinal de contas, o que realmente interessa é que Mariatravesse com segurança essa fase e que tenha uma criança

saudável. Vamos deixar Tony de lado. Ele é um artista talentoso,mas, como a maior parte deles, não tem cabeça para negócios.Além disso, não é pessoa tão digna de confiança.Tessa sentiu uma súbita ansiedade. Teve vontade de dizer algopara defender Tony, mas olhou de relance para o cunhado e viudiante de si apenas um marido preocupado.— Eu tenho ainda muita despesa com Rosa  — ele continuou.  — Seela ao menos apresentasse alguma perspectiva de melhora. . . Oproblema não é o dinheiro. Gostaria que ela fosse feliz, quepudesse viver, ter algum objetivo. Já houve ocasiões, eu tenhoque admitir, em que cheguei a imaginar que ela não querrealmente se recuperar.—  Ela precisa de um estímulo para viver. Sua irmã, outro dia,mencionou um romance que teve antes de seu pai morrer. Vocêchegou a conhecer o rapaz?—

 Não, mas ouvi falar. Estava na Europa, naquela época. Sólembro que nossos pais não aprovavam. Escreveram-me arespeito. Não o consideravam um bom rapaz para Rosa. Acho quepapai sempre foi um pouco pretensioso com relação ao futuro deminha irmã. Mamãe, graças a Deus, já evoluiu muito, desde então.Felizmente, pensou Tessa; do contrário, Marigold muitoprovavelmente não teria casado com Ramon. Era apenas a filha deum lojista, não descendia de família tradicional.

Ela insistiu no assunto.

Page 60: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 60/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 60 -

—  Você não recorda nenhum detalhe a respeito do namoradodela? O nome do rapaz, o que ele fazia.—   O que ele fazia? Sim, isso eu sei. Era funcionário público do

alto escalão. Lembro que nossos pais se queixavam que ele era umhomem da política e que nós tínhamos uma tradição comofazendeiros e criadores de gado. Não conseguiam encontrar umponto em comum.Ramon olhou para o relógio do pulso.—  Ei, Tessa, já é tarde, vou me deitar.  — Levantou, curvando-secerimoniosamente, como costumava fazer.—  Boa noite, cunhada, e não esqueça do que eu lhe disse, procure

deixar Tony fazer o trabalho dele!Essas últimas palavras ficaram ecoando em seus ouvidos. Bem,pelo menos, conseguira uma boa pista. O Romeu desaparecido eraum funcionário público do alto escalão; ou seja, o tipo deprofissional fácil de ser localizado. Tudo que precisava agora eradescobrir o nome dele.Tessa não conseguia esquecer a conversa, mesmo no dia seguinte,com Ramon, quando se dirigia para a clínica. Ao entrar, deu com odr. Lachlan. Seu coração palpitou forte.—   Olá! Que bom ver você, Tessa Maitland! Já faz tanto tempoque não nos vemos! Que tal marcarmos um novo encontro? Pode-ríamos ir a um restaurante dançante qualquer dia destes. Eume diverti bastante naquela noite.Atrás deles havia uma porta entreaberta e uma mulher prestavaatenção no que ele dizia.—

 Veio ver Marigold? Ela está reagindo muito bem. Estive comela alguns minutos. Com a chegada do bebê, ela irá reclamarmenos, você vai ver.A voz de Debra Petersen interrompeu a conversa.—  Dr. Lachlan, tenho algo urgente... Ele se apressou.—  Até mais  — disse, ao entrar  —, não esqueça o meu convite.—  Que tal viajarmos até Taos, neste fim de semana?  — Tonysugeriu, quando ela o encontrou novamente.  — E um povoado de

índios que existe há seis séculos. Uma das maravilhas do Novo

Page 61: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 61/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 61 -

México e um centro de arte empolgante. Tenho amigos por lá quepoderão nos acomodar no sábado à noite.—  Taos? Maravilhoso! É um lugar que eu queria conhecer  — disse

Tessa, empolgada. —

 Mas não posso ficar fora todo um fim desemana. Mari pode precisar de mim. Não dá para irmos evoltarmos no mesmo dia?Ela preferia não dormir fora. A advertência de seu pai soava emseus ouvidos: "Antes de ir para um quarto com um homem,  é melhor que tenha uma aliança no dedo!"Tony encolheu os ombros.—  Podemos, se quiser. São apenas cem quilómetros. Pensei que

você preferisse ficar mais tempo lá.Tessa ficou contente. Até agora, Tony só havia prometido que alevaria às montanhas. Será que esse convite inesperado tinhaalgo a ver com um certo médico, com um certo jantar dançante?Taos! Estava emocionada ao pensar na viagem. Antes de chegarao Novo México, tinha ouvido falar desse antigo povoadoescondido nas montanhas Sangue de Cristo. Escritores e artistasdo mundo inteiro haviam feito peregrinação ao local. D. H.Lawrence, o autor de O Amante de Lady Chatíenley, era umdeles. Desde que chegara seu maior desejo era conhecer deperto os picos daquelas montanhas que avistava da janela de seuquarto.Pela primeira vez, Tony não chegou atrasado. Estava esperando,por ela no ponto do ônibus, que possuía teto de vidro e janelaspanorâmicas. Sentaram nas primeiras poltronas.—

- Que òníbus moderno!  — comentou Tony, segurou a mão dela eseus olhos ciganos sorriam.Tessa empolgava-se cada vez mais, à medida que subiam asmontanhas. O cenário era bonito demais para ser real, os picoscontrastando com o céu azul. Quando chegaram na antiga praçacentral de Taos, ela pensou que estava sonhando. Era como voltarao passado. Em vez das casas, imaginou estábulos e ferrarias. Emlugar da fileira de automóveis, vagões de trem, cavalos e

carruagens.

Page 62: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 62/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 62 -

—  Essas casas têm seis séculos, mesmo?  — perguntou,admirando, deslumbrada, as construções em terracota.Tony explicou que as casas não possuíam originalmente portas,

que o acesso era feito através de buracos nos telhados,alcançados por escadas que podiam ser retiradas, para que oshabitantes se protegessem contra assaltantes.Fizeram um piquenique embaixo de uma árvore, A temperaturaera mais fria do que em Santa Fé, mesmo com o sol brilhandointensamente.—  Os índios acreditam que o sol tem o poder de trazerfelicidade para a alma  — disse Tony, e ela percebeu que seu tom

de voz era mais baixo do que o habitual. Inexplicavelmente,passaram a conversar nesse tom, o tempo todo. O efeito queaquele local provocava era muito estranho. Tessa tinha umasensação de leveza; parecia flutuar.Foi durante o piquenique que Tony contou que devia se encontrarcom alguém, a pedido de Ramon. Ao saber que ele e Tessa iriam aTaos, Ramon havia pedido que fosse pagar uma certa quantia auma mulher que trabalhava para a galeria. Era uma tecelã chamada Inez, que não confiava em bancos e preferia receberem dinheiro, o pagamento por suas obras, que eram enviadasmensalmente para Santa Fé.Depois de comer e explorar bem a cidade, eles se encaminharampara a casa da tecelã. Inez os recebeu carinhosamente. Era umamulher de olhos escuros, pele pálida, gordinha e muito simpática.Em questão de minutos, estavam sentados num pequeno pátio,

refrescos nas mãos, um prato de tortilhas diante deles.Por alguns minutos, falaram sobre banalidades; então Inez eTony começaram a discutir sobre a arte local e Tessa ficououvindo atentamente. Bebericando seu suco de limão, percebeuuma certa semelhança entre a tecelã e o pintor, nas feições ecor. Seriam parentes? Com certeza eram amigos íntimos. Ineznão escondia seu afeto por Tony. Olhava-o com intensidade evárias vezes passou a mão em seu rosto. Essa atitude começou a

Page 63: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 63/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 63 -

irritar Tessa e foi a primeira a levantar, quando Inez sugeriu quefossem visitar o seu atelier.O aposento ocupava a maior parte da pequena casa, com teares

espalhados pelos cantos e uma mesa enorme de madeira nocentro. As paredes eram forradas de prateleiras repletas de lã.Inez sugeriu a Tessa que desse uma olhada na casa, enquanto elae Tony separavam alguma mercadoria que deveria ser levada paraRamon.Depois de inspecionar a casa  — um quartinho e uma cozinha pri-mitiva  — Tessa voltou à sala. Inez já havia preparado um sacoenorme com cachecóís e malhas.

O jantar! Eles devem ficar para o jantar, insistiu ela. Tonyaceitou o convite e Inez foi imediatamente para a cozinha. Logoum aroma de comida começou a se espalhar pela casa.Nesse meio tempo, a temperatura caiu e o céu ficou nublado.Tony e Tessa deixaram o pátio e entraram.A comida estava demorando muito para ficar pronta. Mas, comohavia ônibus até tarde da noite, tinham ainda muito tempo.—- Por que não passam a noite aqui?  — sugeriu a mulher.—  Não, nem pensar. Minha irmã pode precisar de mim  — Tessarecusou educadamente o convite.  — Meu cunhado vai ficarpreocupado também.O jantar finalmente foi servido, e, para desalento de Tessa, acarne estava condimentada demais e o molho picante queimavasua boca, fazendo seus olhos lacrimejarem. Inez e Tony comiamcom um apetite voraz.

Quando é  que iriam embora? A intimidade que foi obrigada apresenciar entre os dois a irritava cada vez mais. Uma rajadaforte de vento foi o que Tessa usou como desculpa paraconvencer Tony a ir embora.A alguns passos da casa, começaram a sentir pingos de chuva. Aprincípio, um leve chuvisco, que logo virou uma tempestade. Napraça central, abrigaram-se sob o toldo de um hotel e esperarampelo ônibus.

Tessa começou a tremer.

Page 64: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 64/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 64 -

—  Espero que esse ônibus não demore muito  — disse, batendo osdentes de frio.Um empregado apareceu nesse momento pensando que fossem

hóspedes. Mas, quando soube que esperavam condução, informou:—  Não há mais ônibus hoje. O último saiu há trinta minutos.—  A culpa foi sua, Tony!  — Tessa estava irritada.  — Fiquei otempo todo dizendo que deveríamos partir, mas você e suaquerida amiguinha nem me ouviram.—  Não comece a brigar! Não há nenhuma razão para ficar zan-gada.  — A voz de Tony era tranquila.  — Inez vai gostar de noshospedar. Deveríamos ter concordado de cara quando

convidou  — Procurou segurar o braço dela. Tessa se esquivoubruscamente.Fizeram o caminho de volta para a casa de Inez em profundosilêncio. A tempestade continuava forte, com trovões e raios.Tessa estava molhada da cabeça aos pés. Sua roupa e sapatosestavam encharcados. Caminhava indignada pelo barro, evitandotropeçar ou pisar nas poças. Por que é que Tony não aprendia acontrolar o tempo?Inez não ficou surpresa, quando voltaram. Apanhou algumasalmofadas e cobertores e disse que ia armar uma cama reservadapara esses imprevistos. Tony acompanhou. Tessa colocou um xalesobre os ombros e procurou uma toalha para enxugar os cabelos.Mas que lugar para passar a noite!Depois de algum tempo, Tony voltou com um ar de conspiração.Segurou o braço de Tessa e levou-a à sala de trabalho de Inez.—

 O que é que você acha?  — disse no ouvido dela.  — Inez insisteem nos ceder seu quarto e dormir aqui.—   Mas isso não é justo. Aquela cama é para duas pessoas. Eupodia dividi-la...—   Exatamente!  — Interrompeu Tony, abraçando-a.  — Nós dor-miremos na cama dela e ela aqui. Desse jeito, querida, eu podereiaquecer você, abraçá-la durante toda a noite, demonstrar oquanto a amo.  — Correu os dedos pela espinha dela.—  Ê perfeitamente natural.

Page 65: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 65/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 65 -

Por um longo momento, Tessa sentiu o calor dos braços dele en-volvendo-a. Molhada, com frio e cansada, desejava ardentementeser afagada, acariciada. Abrigada da tempestade, protegida

dentro daquela casa, por que não fazer o que tinha vontade? Masse Tony tivesse escutado os pedidos dela, agora estariam acaminho de Santa Fé. Ela poderia relaxar com um banho quente edormir em sua própria cama macia....Suspeitou, de repente, que tudo aquilo tivesse sido planejado. Emvista da adoração de Inez por Tony, de seu esforço para agradá-lo, era bem possível.Empurrou-o, furiosamente com toda sua força.

—  Tire as mãos de cima de mim, seu. .. seu casanova!—   Tessa, querida, seja razoável! Por favor. . . Volte, por favor.Mas ela já estava entrando no quarto de Inez e batendo a portaviolentamente. Tremendo da cabeça aos pés, encostou-se naporta e só abriu quando a mulher lhe garantiu que estava sozinha.Partiram cedo na manhã seguinte, sem trocar muitas palavras. Atempestade havia passado durante a noite e o céu estava azul.O sono de Tessa não havia sido nem um pouco repousante. Dividira cama com a volumosa Inez significou ouvi-la roncar a noiteinteira. E, de manhã, aborrecida pela falta de um chuveiro, deseus objetos de toalete e de roupas limpas, não sentia a mínimavontade de falar. Tony, então, com a barba por fazer, as roupasamarrotadas, o saco com os trabalhos de Inez nas costas,parecia mais um vagabundo do que um artista.Estavam na metade do caminho, quando ele segurou a mão de

Tessa e tentou puxar conversa. Havia um que de emoção em soavoz e aquele tom de súplica e de tristeza derreteu o gelo docoração dela. Inez, sem dúvida, era a única a ser censurada, elaestava convencida. A ideia de fazê-los dormir juntos devia terpartido dela. Tony era tímido demais para planejar uma coisadessas. Mas uma tentação súbita o havia levado a fazer aquelaproposta.

Page 66: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 66/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 66 -

Cansada demais para continuar pensando nisso, suspirou profun-damente e deitou a cabeça no ombro dele. Perdoar e esquecereram as únicas alternativas.

Desceram do ônibus perto da praça central. Santa Fé estavaagitada. Longas filas de veículos esperavam para cruzar os faróis.Tessa rezava para que nenhum dos amigos de Mari os vissenaquele estado.Uma cabeça loira surgiu na janela de um carro. Franziu assobrancelhas e escancarou os olhos verdes, olhando-a da cabeçaaos pés. Depois, olhou para Tony da mesma maneira.Tessa prendeu a respiração. Debra Petersen! Que azar! E quando

ela passou por eles, acenou rapidamente para Tony.Chegando a Los Arboles encontrou um bilhete de Ramon em suacama."Ligue-me quando chegar. Espero que tenha feito uma boaviagem. Mari quer vê-la."Antes de telefonar para o cunhado ela tomou um banho quente,lavou os cabelos e colocou um vestido limpo.Quando Tessa chegou, Marigold estava sentada numa poltrona noquarto.—  Olá! Onde esteve? Ramon parecia preocupado, quando me ligouhoje de manhã. Disse que você não dormiu em casa. Ficou emTaos? Com alguma amiga de Tony? E, por falar em Tony, como vainosso artista em ascensão?—   Gostaria que você não se dirigisse a ele dessa maneira. E parede fazer insinuações. Dormi no quarto de Inez e ele, no atelier

dela.—  Não estou insinuando nada, querida. Depois, quem sou eu parame preocupar com você? Mas tome cuidado com nosso Tony.Existem diferenças enormes entre vocês dois.  — Ela examinou aspróprias unhas.  — Ele é terrivelmente atraente; quanto a isso,não há dúvida. Mas seu mundo não é igual ao nosso. Ele vem deuma família muito pobre.Tessa ficou rubra. Isso era típico de Mari! O que tinha aconte-

cido, ou pudesse ter acontecido na noite anterior, não importava.

Page 67: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 67/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 67 -

Posição e dinheiro; sim. Será que ela havia esquecido suasorigens?—  Obrigada pela advertência, mas sei escolher meus amigos.

Agora, o que há de tão urgente que você precisa me dizer?—  Há algumas compras. . . Oh, Tessa, não fique zangada comigo.Se soubesse o que é ficar enclausurada aqui dia após dia, semanaapós semana! Se Blair me deixasse ao menos voltar para casa...  — Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.Tessa sentiu remorso e correu para abraçar a irmã.—  Desculpe. Essa situação vai acabar logo. Pense no maravilhosobebê que terá brevemente, que será sua recompensa. Vou

telefonar para Wilma e pedir um jantar especial para você.Depois de passar algum tempo com Marigold, Tessa saiu parafazer compras. A porta do consultório de Blaír Lachlan estavaentreaberta, e, quando passou por ela, ouviu a voz de DebraPetersen.—  E lá estavam eles, às oito e meia da manhã, parecendo doisvagabundos. 0 ônibus que vem de Taos estava parado um poucomais para trás. Eles pareciam exaustos. Aposto que passaram umindecente fim de semana juntos. Você pode chamar isso deintuição feminina ou do que bem entender, mas, desde a primeiravez que a vi, não tive dúvidas. Essa irmã de Marigold Ruiz sópodia ser esse tipo de garota!

CAPÍTULO V

—  Se eu fosse você, não daria a menor importância  — aconselhouRosa. Profundamente incomodada pelo que havia escutado,Tessa abriu seu coração a amiga.  — Afinal, quem é DebraPetersen? Nada mais do que uma secretária. Pelo pouco que o dr.Sepulveda fala a respeito da clínica, ela não é muito estimada lá.E esse tipo de fofoca não deve impressionar o dr. Lachlan. Mas o

que interessa é você estar com a consciência tranquila.

Page 68: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 68/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 68 -

Rosa pareceu subitamente uma fortaleza.—  Oh, espero que você esteja certa  — Tessa murmurou, A outramovia-se, impaciente, na cadeira,—

 Você não percebeu nenhuma mudança? Nenhuma diferença emmim?Tessa se concentrou.—  Não. . . Uma pista, se você me der uma pista. ..Como resposta. Rosa apontou para a perna, levantando-a umpalmo ou dois.—  O que acha disso hem? Notável, não acha? Não é um grandeprogresso, após apenas duas sessões? Sep encontrou um ótimo

fisioterapeuta.Como podia ser tão egoísta? Mergulhada profundamente na auto-piedade, Tessa não havia percebido o brilho nos olhos da inválida,seu ar de excitação.—  É maravilhoso, realmente maravilhoso!   — Segurou a mão deRosa.  — Que fantástico começo! Mas não deixe de fazer osexercícios.— Claro que não.Tessa percebeu que mesmo que o tratamento fosse um simplespaliativo, o esperto Sep havia contratado um homem em vez deuma mulher para as sessões de fisioterapia e isso agradava aRosa, que mostrava sinais de melhora. Mas ela devia se precaver.Era ainda muito cedo para esperar a cura total.Rosa olhou para as montanhas distantes.—  Breve, quem sabe, poderei estar lá no alto. Sep está

planejando um churrasco para algumas pessoas, e, com ele aolado, não me sentirei tão insegura. O que você acha?Antes de ouvir a resposta, continuou:—   Mas você ainda não me falou a respeito de sua viagem a Taos.Claro, ouvi a respeito de sua noite desconfortável, mas quaisforam suas impressões do local?—  É tudo maravilhoso. Pude imaginar uma aldeia de índios braviose homens morando nas fronteiras.

Rosa concordou.

Page 69: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 69/131

Page 70: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 70/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 70 -

—  Eu diria que é óbvio. Ciúme, é isso. Ela soube que Blair acom-panhou você naquele baile e que se divertiu muito. Eu a prevenisobre ela. Por falar em baile, tenho um convite para você.

Entregou um cartão a Tessa.—  É de Anna. Dessa vez, é uma reunião informal. Drinques esalgadinhos no pátio, natação depois. Os Emery mandarão umcarro para apanhá-la, como da outra vez. Espere só para ver apiscina deles. E hollywoodiana. Como você nada bem, acredito quepassara uma bela tarde.  — Parou e apoiou o queixo nas mãos.   —

Quanto tempo, meu Deus, ainda terei pela frente sem poder darum mergulho? Neste exato momento, estou me sentindo como um

saco inflado. Como a invejo! Se Blair não me libertar logo, tereique iniciar a campanha "Liberte Marigold Ruiz".Os olhos violetas fixaram-se no convite.—  E possível que você encontre Blair novamente.— Acha? Acredita realmente que Debra Petersen vai deixá-lo irsozinho?—  Terá que deixar, se não for convidada. Vamos esperar paraver.A propriedade dos Emery era um rancho em estilo espanhol queficava num vale a uns seis quilómetros de Sanla Fé. A casa eratoda cercada de roseiras, e havia uma fonte no pátio central.Alguns convidados estavam agrupados ao lado da piscina, quandoTessa chegou. Olhou de relance e sentiu-se segura. Dessa vez,estava usando a roupa correta.—   Que bom ver você, Tessa Maitland   —   disse Blair,

aproximando-se.Ela sorriu e ficou imaginando por que ele a chamava pelo nomecompleto. Achava encantador. Olhou rapidamente para asmulheres em volta. Debra Petersen não estava presente. Sentiuuma onda de alegria. A reunião ia ser maravilhosa.Comeram no terraço, mas ela nem reparou no que comeu. Conver-saram, mas guardou muito pouco do que disseram. Só tinhaconsciência da presença dele, seu tipo corpulento, seu rosto

encantador.

Page 71: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 71/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 71 -

De repente, lá estavam eles, nadando juntos ao cair da noite.Como competidores, igualavam-se. De vez em quando, saíam dapiscina e deitavam sobre os ladrilhos azuis para descansar.

Nesses momentos, seus corpos ficavam quase colados, e elasentia toda a força que ele irradiava.A noite foi caindo, e eles foram se vestir e se preparar parapartir.—  Posso acompanhá-la até em casa?Era exatamente o que ela estava esperando que perguntasse.Sentada a seu lado no Porsche, sentia-se nas nuvens. Encostou acabeça no banco e fechou os olhos, ouvindo uma canção

sentimental de Sinatra no rádio do carro. Aquela noite era umsonho . . .De repente, o carro diminuiu a velocidade e parou. Tessa abriu osolhos lentamente e levantou a cabeça. Sentiu um calafrio, ao verum bangalò cercado de pinheiros, ao invés do bloco deapartamentos de Los Arboles.—  Mas ... mas isso não é Los Arboles! Ele sorriu.—  Não! Isso é Los Pinos.—   Mas você disse . . . você disse que ia me levar para casa .. .—  Isso é correto, e eu nunca minto.  — Abriu a porta para ela.  —É exatamente o que eu estou acabando de fazer, cara TessaMaitland. Eu quis dizer à minha casa, não, à sua casa!Tessa continuou sentada, tensa e rígida. Ele saiu e deu a volta aocarro. Ela continuava imóvel. Que arrogância, que presunçãodaquele homem!—

 Você não está pensando que vou entrar em sua casa está?  —Havia indignação em sua voz.—  E por que não? Gostaria que conhecesse minha mãe e que elatambém a conhecesse. Deve estar acordada. As luzes ainda estãoacesas.Havia luzes em todas as janelas. Tessa observou a casa. Por fora,era maravilhosa. Mas como seria por dentro? E como seria a sra.Lachlan?

Ele continuava ao lado da porta do carro.

Page 72: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 72/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 72 -

— Por que essa hesitação? Está com medo?  — As grossaspestanas quase cobriam aqueles olhos de tubarão,  — Se fosseArretino que estivesse no meu lugar, você não estaria aí parada.

Ela desceu imediatamente.—  Dez minutos, então, e nem um segundo a mais! É quase meia-noite. Preciso chegar logo em casa. Devia ter me perguntando seeu queria vir.—  Eu perguntei!  — Ele riu e segurou o braço dela.  — Não foiculpa minha, se você não entendeu direito a pergunta.Entraram no bangalô. Era gracioso e muito bem decorado.—  Sua mãe não está aqui. . .

—  Deve estar lá fora.  — Ele foi até a porta.  — Lenore!  — Espe-rou alguns segundos e chamou novamente.  — Lenore!  — A casacontinuava silenciosa.—  Sente-se, enquanto eu vou dar uma olhada.  — Ele saiu. Sua vozecoava lá dentro.  — Mãe! Mãe! Lenore!  — Voltou em seguida,balançou a cabeça, e fechou a porta.—  Mamãe deve ter saído para fazer alguma coisa. Você a conhe-cerá numa outra ocasião,Caminhou na direção de uma mesa baixa.—  Café? Há uma garrafa térmica na cozinha. Você serve,enquanto eu acendo a lareira?Colocou madeira e alguns pinheirínhos na lareira. Alguns minutosapós, as chamas estavam altas e uma fragrância deliciosa tomavaconta da sala.— Agora não precisamos de todas essas luzes  — ele disse.

Apagou todas, com exceção de uma, bem fraca.Tessa havia preparado as xícaras de café e estava acomodadanum sofá de veludo. Após o cansaço da natação, aquela luz doabajur, o brilho das chamas e o calor que produziam eram muitorelaxantes. O medo que tinha sentido no começo haviadesaparecido completamente.Blair sentou-se ao lado dela.—  Esse calor está realmente muito agradável!  — Tomou um gole

de café e levantou em seguida.  — Só está faltando uma coisa:

Page 73: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 73/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 73 -

música. Debussy. você gosta de Debussy Claire de Lume, o queacha?Colocou o som em alto volume. Voltou a sentar ao lado dela nova-

mente.—  Não está muito alto?  — Tessa perguntou.—  Abaixe, se quiser. Não vou levantar novamente!Tessa foi diminuir o volume. Quando voltou, ele havia colocado aspernas na passagem dela.—  Mova-se! Quero sentar na minha almofada.—   Passe por cima.Ao saltar sobre as pernas dele, sentiu os pés presos e caiu. Mãos

firmes a agarraram.—  Uma aterissagem perfeita, Tessa Maitland! Agora, podemosnos conhecer melhor.  — Ele a apertou contra o corpo.—  Deliciosa, você é deliciosa!Colou a boca na dela. Tessa sentiu seu coração palpitando. Osbeijos-ardentes que lhe dava despertaram seu desejo, desejoque nunca havia sentido por homem algum. As mãos deleexploravam todo seu corpo. Não esboçou nenhuma resistência.Ar, ela precisava respirar. Procurou desvencílhar-se dele.  — Nãoconsigo respirar . .. Ela fastou a cabeça.— Gostou da prova? Sou um bom amante, não sou? Admita!Admita que eu sou melhor do que aquele pintorzinho. Não se façade desentendida. Não finja que não me deseja! Seus lábios adenunciaram! Você passou uma noite toda com Arretino. Eu lhepeço apenas uma hora!

Aquela arrogância! Aquela presunção.—  Você. . . você seu animal! E que me diz de Debra Petersen?Nesse momento, a porta se abriu e Lenore entrou. Tessalevantou, imediatamente.—  Blair, querido, é você? -— perguntou Lenore ao entrar.Na obscuridade, Tessa percebeu a figura esbelta aproximando-se deles.— Oh, não está sozinho .. . Desculpe!  — a sra. Lachlan se voltou e

foi para seu quarto, apressada.

Page 74: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 74/131

Page 75: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 75/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 75 -

—  Quem, eu? Acha que tenho cara de quem pertence à classe A?Eu a vi da estrada. A piscina é horrorosa e seu estilo modernocontrasta com o estilo colonial da casa. Mas o que é que você

pode esperar de gente como aquela? . .. você se divertiu?—   Sim . .. mas eu ...—  E o dr. Lachlan estava lá?— Entre outros. Isso não é nem um pouco surpreendente. Ele éamigo dos Emery.—   Oh, é  verdade! Parece que vocês dois têm se encontradobastante, ultimamente.—  Duas vezes, para ser exata. Você não precisa ser tão

desconfiado. Acho que ele é um pouco chauvinista demais para omeu gosto.Tony olhou profundamente nos olhos dela. Tessa procurou mantero olhar, calmamente.A segunda parte da sessão se desenvolveu num clima bastantetranquilo. Novamente imóvel em sua poltrona, ela começou apensar sobre o que ele havia lhe transmitido: confiança, estma,tempo disponível. Devia a Tony muito da facilidade que haviaencontrado em Santa Fé. Amável e atencioso, sempre estavadisponível, quando ela precisava. Generoso, corria o risco desofrer a ira de Ramon ao pintar o retrato dela. Não era justo quelhe provocasse ciúme. No final da sessão, estava cheia de afeto,compreensão e compaixão.—  Senti você muito mais próximo de mim nesta segunda parte.,—  Minha querida, minha adorável Tessa!  — Ele a abraçou, olhan-

do-a apaixonadamente.  — Não posso evitar. Você me conhece,conhece bem esse meu jeito. Sou homem de ter uma só garota navida.Ela se entregou às carícias dele, sentindo-se em êxtase.O mês de outubro passou rapidamente. Para alívio de todos, oestado de saúde de Marigold continuava a melhorar. O edemahavia quase desaparecido, deixando seus tornozelos e dedosnovamente delgados. A sua pressão havia voltado quase ao normal

e as dores de cabeça desaparecido. A única coísa que não tinha

Page 76: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 76/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 76 -

melhorado era a atitude dela em relação à clínica. Pelo contrário,havia piorado. Nem uma ínfima emissão era perdoada, nem umminuto de atraso, tolerado.

Menos satisfatório foi o progresso de Rosa. Suas pernas estavammenos flácidas e, sentada, ela podia levantar o pé até uma certaaltura do chão. Mas ainda não tinha confiança suficiente paraficar em pé.— Não sei se vale a pena continuar com esse tratamento  —-confidenciou a Tessa, com desânimo.  —- Será que é realmenteimportante eu voltar a andar? Tenho conseguido viverrazovelmente bem dessa maneira. Meu fisioterapeuta, no

entanto, é intransigente e quer que eu continue.isso é um bom sinal, pensou Tessa, Será que o belo fisioterapeutateria alguma razão pessoal, além da profissional, para ainsistência? Era solteiro, bem de vida e poderia vir a ser um bommarido. O fato de não provocar o mínimo interesse de Rosaconfirmava a suspeita de Tessa de que ela ainda sentia muitafalta de seu amor perdido.Se ao menos pudesse encontrar o homem . .. ainda livre eatraente, e que aceitasse Rosa no estado em que se encontrava.Quem sabe, isso não viria a ser fundamental na cura dela? E se,ao contrário, ele já estivesse casado, não seria melhor ela sabera verdade, aprendendo a se adaptar e esquecê-lodefinitivamente?No entanto, o desafio continuava presente. Como descobrir onome e paradeiro dele? A quem perguntar? Para Rosa,

certamente não, pois ela evitava perguntas diretas. ParaConchita, tampouco, já que poderia se sentir molestada. Marígoldnão sabia nada desse romance. Ramon havia revelado tudo quesabia. A quem mais poderia recorrer?Uma possibilidade ocorreu a Tessa quando, numa certa tarde,entrou na clínica para visitar Marigold. O dr. Sepulveda apareceudiante dela, perguntando como estava. Seria ele a pessoa?Conhecia os Ruiz há muitos anos. Após um momento de hesitação,

Page 77: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 77/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 77 -

Tessa fez a pergunta: Será que ele teria alguns minutos paraconversarem a respeito de um assunto pessoal?Olhou para ela com um certo espanto e acenou em direção a seu

consultório.— Venha comigo. Para jovens... jovens atraentes... sempretenho tempo disponível.Indicou uma poltrona, sentou à sua imponente mesa e tirou oestetoscópio do pescoço. Pendurada na parede atrás dele haviauma tabuleta: "NÃO FUME! FUMAR E UM PERIGO PARA ASAÚDE"! O médico olhou ironicamente para a tabuleta e, emseguida, abriu uma gaveta e tirou uma lata. Apanhou um longo

charuto, acendeu-o e sorriu. Olhou para Tessa por cima dos arosdos óculos.—  O que é que deseja saber a respeito de Rosa?—   O senhor suspeitou...  —  Aquilo foi um alívio para Tessa.Entrou logo no assunto, falando de suas ideias e de suasesperanças. Finalmente, fez a pergunta chave.Lázaro Sepulveda ouviu atentamente, movendo-se apenas parabater a cinza do charuto no cinzeiro. Não respondeu em seguida.Ao contrário, levantou e foi até o arquivo.—   Esses são os dados sobre Rosa  — disse, tirando uma pasta.  —Para refrescar minha memória.  — Colocou a mão na testa.  —Guardo a maior parte dos detalhes aqui, mas, para maiorsegurança . ..Voltou pra sua cadeira e começou a folhear a pasta.—  Ah, sim. acho que tenho o quadro todo agora. Esse homem de

quem você falou, nunca o conheci pessoalmente, mas tenhoacompanhado toda a vida de Rosa. Ê claro, fiz parte dela. Vinte eum anos, não, vinte e dois anos . . . Meu Deus. como o tempo voa.Parece impossível .. .Soltando uma baforada de fumaça, ele refletiu sobre o assunto,rodando levemente a cadeira giratória para a esquerda e para adireita.—  Onde estávamos? Ah, sim, o namorado de Rosa. Você já deve

ter sabido que só os pais dela não aprovavam o namoro. Nada

Page 78: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 78/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 78 -

contra ele, veja bem. Parece que simplesmente não estavamacostumados a lidar com gente como ele.— O nome dele! Lembra o nome dele? Onde morou? Onde

trabalhou?O médico apanhou o tefefone interno.—  Traga dois cafés para a minha sala, por favor.  — Desligou oaparelho e balançou a cabeça.  — Nunca soube o nome dele. Álvaroe Con nunca disseram e eu nunca perguntei. Um médico aprende anão fazer perguntas desnecessárias, só as essenciais. Em todocaso, esse rapaz era persona-non-grata naquela época. Onde eletrabalhava, sim, isso eu soube. Em Los Alamos. Era um

funcionário público da Cidade Atómica. Um cientista, acho.Estranho, lembro de um detalhe: ele mancava de uma perna.— Ele mancava?  — Tessa engoliu em seco. Não podia ser verdade!— Quantos anos tinha?—   Quase trinta, eu diria ... . Sim, mais ou menos oito anos maisvelho de que Rosa. Lembro que ele teve poliomielite e, por isso,mancava. Os pais de Rosa temiam que, se casasse com ela, apoliomielite pudesse ser disseminada entre os filhos. Nesseponto, eu lhes garanti que era impossível.Alguém bateu na porta. Com um movimento rápido, o médicoenfiou o charuto dentro da gaveta e fechou-a. Espalhou fumaçacom as mãos e gritou:—   Entre!—   Oh, é apenas o nosso café. Pensei que fosse meupróximo paciente.  — Suspirou, aliviado.  — Onde estávamos? Ah,

sim, o caso irónico, não é? Os pais preocupado naquela época porum pequeno defeito físico, e nossa pobre Rosa, hoje, numacadeira de rodas.  — Colocou um dedo sobre a boca.  — Tudo quelhe contei fica entre nós, É estritamente confidencial. Você quersaber mais alguma coisa?Tessa sentiu o coração batendo forte. O homem manco com quemhavia viajado desde Albuquerque era um cientista empregado emLos Alamos e parecia ter uns trinta anos. E havia díto que tinha

Page 79: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 79/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 79 -

feito alguns amigos no Novo México. As coincidências eramestonteantes.— Por acaso, ouviu dizer qual era a cor dos cabelos dele? Sabe se

era ruivo?

CAPÍTULO VI

Ao se dirigir para o quarto de Marigold, Tessa ainda estava rindointimamente da surpresa que havia provocado no dr. Sepulveda,

quando fez a última pergunta.— Cabelos ruivos? E um coxo tem necessariamente que ser ruivo?Não, nunca tinha ouvido falar na cor dos cabelos do namorado deRosa, mas íncentivou-a na investigação. E concordou inteiramentecom ela, que nada de melhor poderia acontecer à moça, queencontrar seu grande amor.Tudo parecia confirmar que o homem que Tessa havia conhecidono avião era o amado de Rosa. Mas ele ainda precisava serencontrado, ter interesse nela e, sobretudo, continuar solteiro!Não parecia casado, não havia mencionado uma esposa ou família,mas . . .Los Alamos! Tinha que ir até lá, e mais rápido possível.Entrou no quarto a irmã e parou, assustada. Algumas malas esta-vam empilhadas perto da porta e Marí não estava sentada napoltrona, mas deitada e toda coberta.

Prendeu a respiração, o que teria acontecido? Uma recaída? Emlongas passadas, alcançou a cama.—  Mari, é Tessa!  — disse, segurando as mãos da irmã.  — Vocêestá bem?Marigold se descobriu bruscamente e senfou, com um largosorriso.—  Olá! Assustou-se, não foi? Bem, você merecia. Estouesperando você há séculos! Liguei para o apartamento e Wilma

Page 80: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 80/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 80 -

disse que já tinha saído há bastante tempo. Veja, estou prontapara partir.—  Partir para onde?  — Tessa ficou boquiaberta.—

 Blair me deu alta! Fantástico, não é? Disse que já estou bem osuficiente para partir. Devo continuar em repouso, é  claro, masna minha casa.—   Divino! Tudo está entrando nos eixos. Estou contente por vocêquando parte?—  Não antes de ele lhe dar algumas instruções. Disse para falarcom ele, quando chegasse.Um preço! Sempre havia um preço a pagar para todas as coisas.

Sentiu suas pernas tremerem, ao pensar em enfrentar o médico,mas se esforçou e esboçou um sorriso.—  Então, é melhor eu ir agora e voltar em seguida.  — Tessacaminhou até a porta e virou-se.  — Que susto você me deuescondendo-se embaixo da colcha e levantando daquela maneira!—  Ora, vá logo!  — Marigold riu.  — Quero sair imediatamentedaqui. Quero chegar ao apartamento antes de Rae e fazer-lheuma surpresa. Ele merece!—  Boa tarde, srta. Maitland! Sente-se, por favor.  — A voz deleera impessoal, fria.Srta. Maitland, francamente! De quem ele estava tentandozombar? Dele mesmo, de Debra Petersen? Olhou para asecretária e ficou aliviada ao vê-la deixar a sala.— Não vou lhe tomar muito tempo  — disse o médico.  — Você jádeve estar sabendo que permiti que sua irmã fosse para casa.

Dois fatores influenciaram a minha decisão. Um é que estamoscom uma sobrecarga de casos urgentes. Depois, a melhora deMarigold foi significativa. Sua pressão está quase normal, já nãohá mais albumina no sangue e o edema diminuiu bastante. Elaestá se sentindo muito melhor.  — Fez uma pequena pausa.  —Mas só estou permitindo que vá para sua casa por uma razãomuito importante: poderá ter os cuidados e atenções de umaenfermeira altamente qualificada. Você assume essa

responsabilidade?

Page 81: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 81/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 81 -

—  É claro. Essa foi a minha sugestão, antes dela ser internada.—  Ouça, ouça com muita atenção. Marigold deve continuaracamada. Duas vezes por dia  — uma logo cedo e outra no final da

tarde —

 poderá sentar na sacada, desde que o tempo esteja bom.Você continuará com o tratamento prescrito, lhe dará osremédios na dosagem correta. Já preparei tudo.Estendeu um pacote para ela.—  A partir de amanhã, preciso de uma amostra de urina a cadadois dias para testes. Quanto a fumar, Marigold reduziu oscigarros, mas eu prefiro que os cortasse de vez. Quanto àcomida, pouca proteina e pouco sal. De vez em quando, poderá

tomar um copo de vinho. Mais alguma informação?A pergunta brusca sobressaltou-a. Como é que esse homem podiaparecer tão calmo, tão tranqiiilo? Aqueles lábios haviamrealmente beijado ardentemente os dela? Aquelas mãos friashaviam mesmo acariciado seu corpo?Levantou e endireitou os ombros.—  No momento, não. Posso lhe telefonar se houver algum pro-blema?—  É claro. E estarei em contato permanente com você. Mais umacoisa: fique atenta para que Marigold não se canse. Espero queela fique mais feliz em casa. Se você tiver algum problema, mechame imediatamente. Minha secretária lhe dará a dieta que eladeve seguir.Seus olhos a examinaram demoradamente. Por uma fração desegundo, pensou que ele fosse dizer alguma coisa mais agradável,

abandonar aquela formalidade . . .Em vez disso, caminhou até a porta e abriu-a.—  Deixo sua irmã sob sua responsabilidade, enfermeiraMaitland. Com um certo alívio, Tessa levou a irmã até Los Arbolesna limusine emprestada dos Emery e ajudou-a a se instalar nacama.—  Agora, veja bem, vou lhe fazer algumas recomendações  —disse, assumindo seu papel de enfermeira.  — Tudo que você

precisar, não importa o que, peça a mim ou a Wilma, Não deve

Page 82: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 82/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 82 -

ficar andando de um lado para o outro, e sim. repousar todo otempo. Se não seguir essas instruções, correra o risco de ficarcom pressão alta novamente e ter que voltar à clínica. Isso nos

deixará em maus lençóis com onosso médico, e é a última coisa que nós duas desejamos, não?Náo esqueça que sou responsável por você. Está claro? Marigoldconcordou.—  Farei tudo que você disse. Oh, como é bom estar em casa! Nãovejo a hora de ver a cara de Rae.De fato, ele abriu um largo soriso, quando viu sua esposa.—  Minha querida, que maravilha!  — Tomou-a nos braços, e Tessa

se apressou em deixá-los a sós, dizendo que devia ligar paraTony.Telefonou para a galeria e contou as novidades. Expôs suas novasresponsabilidades e cancelou e encontro que tinha com elenaquela noite. Preveniu-se que deviam se encontrar menos,enquanto Marigold necessitasse de sua atenção. Ele foicompreensível e atencioso como sempre.Planejou e preparou junto com Wilma um jantar especial ecolocou uma mesa ao lado da cama de Marigold.Exausta, mas feliz, Tessa deitou cedo naquela noite. O fato desua irmã estar progredindo satisfatoriamente dava-lhe umgrande alívio. Num espaço de poucas horas, o apartamento haviaadquirido uma atmosfera de felicidade, uma sensação diferente,e todos estavam contentes. Apesar de ter menos tempo livre,isso não a preocupava. Veria Tony ás noites e aos domingos,

quando Ramon estivesse em casa. As visitas a Rosa deveriam sermenos frequentes, e sua viagem a Los Alamos, adiada. O principalera cuidar de Marigold.A irmã parecia radiante na manhã seguinte. Enquanto tomavacafé. escrevia algo num bloco de papel.— Você vai ao mercado comprar frutas e vegetais, não vai?  —

perguntou a Tessa, entregando-lhe uma folha do bloco.  — Dariapara me trazer algumas coisas que anotei nessa folha?

Tessa correu os olhos sobre a lista.

Page 83: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 83/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 83 -

—  Tudo isso? A geladeira está repleta e os armários, também.Marigold fez um ar sério,—  Quero comer tudo que liver vontade. Você não esteve todo

esse tempo comendo aquela comida da clínica! A gravidez provocadesejos estranhos, sabe?Tessa demorou um tempo enorme para fazer todas as compras.Tomou um táxi para voltar; estava ansiosa para chegarrapidamente.Marigold teria seguido suas instruções e ficado em repousodurante sua ausência?Para seu grande alívio, a irmã estava recostada numa poltrona na

sacada.—  Olá! Você demorou muito para chegar. Wilma esteve telefo-nando para meus amigos, informando-os de que já estou em casa.Não esqueceu os meus cigarros?—  Sabe que deve fumar muito pouco.—  Oh, meu Deus! Preciso fazer algum coisa! Não posso fazer es-portes, andar, me divertir, jogar ... A vida fica muitoenfadonha desse jeito.  — Ela fez uma pausa.  — Estou com umproblema e espero que você me ajude a resolvê-lo. Com todosesses transtornos, quase ía me esquecendo. Sabe que dia éamanhã?—   Sexta-feira.—  Não. Amanhã é aniversário de Rae. Ele faz trinta anos. Nãocomprei nenhum presente. Ainda bem que Conchita me avisou. Elaacabou de me telefonar.  — Lançou um olhar de súplica para

Tessa.  — Daria para você dar um outro pulinho até a cidade?Prometo que depois do parto levarei você para conhecer todos osarredores do Novo México. Além de um presente, eu gostaria queele recebesse muitas flores, Você pode ir logo depois do almoço.Eu lhe darei todas as informações necessárias.Durante o almoço, ficou acertado que Tessa compraria umagravata.

Page 84: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 84/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 84 -

O sol estava se pondo, quando ela voltou da cidade. Ao chegardiante da porta do apartamento, sentiu um aroma delicioso.Wilma devia estar preparando alguma coisa especial para Ramon.

A governanta veio correndo em sua direção, limpando as mãos noavental, e parecendo perturbada.—  Srta. Tessa, ainda bem que chegou. Por favor, preciso de suaajuda. Não consigo tirar a, sra. Ruiz da cozinha. Sabe que deverepousar, mas não consigo afastá-la do fogão. Quer fazer umbolo para o marido. Por que eu não posso fazer? Será que nãosou uma boa cozinheira? Se for o caso, apanho minhas coisas evou embora!  — Sacudiu a cabeça.  — E essa festa que ela está

planejando para amanhã, eu gostaria de saber quem vai fazertodo o trabalho!Tessa encarou á irmã, séria. Marigold sentou numa cadeira.—  Não comece, Tessa!  — Procurou se defender.  — Não precisaficar desse jeito. Estou só orientando Wilma. Ela não mepermitiu ajudá-la.—  Então, o que é que está fazendo na cozinha?—   Bem. eu sempre fiz o bolo de aniversário de Rae. Não seria amesma coisa, se Wilma fizesse sozinha. Em todo caso, estouentediada de não fazer absolutamente nada. Acho que um bommarido merece algo especialmente preparado pela esposa no diade seu aniversário!—  Um bom marido merece uma boa esposa, uma esposa que obe-deça às instruções do médico. Deve ir para a camaimediatamente. Se cometer mais alguma tolice, eu embarco no

primeiro avião para a Inglaterra. E essa sua ideia de dar umafesta? Está doida?Marigold esboçou um sorriso sedutor.—  Não . . . é apenas uma pequena surpresa que estou planejandopara Rae. Nós festejamos todos os anos o aniversário dele.Telefonsi para alguns amigos e os convidei para um drinque, isso étudo. Vamos nos divertir um pouco.—  Você deve ficar em repouso absoluto, Mari! Marigold desatou

a chorar.

Page 85: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 85/131

Page 86: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 86/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 86 -

—- Minha querida esposa em casa, minha irmã e minha mãe mevisitando, minha cunhada presente, vinda da Inglaterra: o quemais posso querer?

Houve champanhe e comida em abundância, Quando o último con-vidado partiu, era quase meia-noite, A voz de Ramon estavatrémula, ao expressar sua gratidão.—  Tessa, meu anjo, nós lhe agradecemos muito  — disse e beijou-a no rosto. Levantou Marigold nos braços e foram para o quarto.Tony colocou um braço em volta da cintura de Tessa.—  Você é realmente maravilhosa.  — E beijou os cabelos dela.Sorriu para ele e desvencilhou-se.

—  Primeiro, vamos dar uma ordem em tudo e colocar as louças namáquina de levar pratos. Wilma está exausta.Ele não conseguiu disfarçar o espanto.—  Todos esses copos e pratos? Imagine ter essa quantidade decopos e pratos! O dinheiro transforma as pessoas emprisioneiras.—  Concordo com você. Quando casar, pretendo ter uma casa noestilo chinês. Meia dúzia de tijelas e uma mesma quantidade depauzinhos.Ele segurou as mãos dela.—  O que acha de termos quatro filhos? Ela sentiu o coraçãopalpitar forte.—  Preciso pensar a esse respeito, sr. Arretíno. Tentou beijá-lamurmurando:—  Quero uma recompensa por ajudar na limpeza.—

 Um beijo, e depois você vai embora.—  Como você é cruel. Nem sei como é que posso amá-la tanto!Nos braços dele, Tessa esqueceu o mundo. Só quando Tonypartiu, voltou à realidade. A festa tinha sido agradável. Tudohavia acontecido como ela esperava. Apagou as luzes e foi para oquarto.O dr. Lachlan veio visitar Marigold na manhã seguinte. Olhou emvolta, levantou a cabeça, aspirou o ar da sala,

Page 87: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 87/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 87 -

—  Houve alguma convenção de fabricantes de cigarros nestacasa?—  Olhou para as mesas ainda com restos da noite anterior,  —

Comida e vinho, também?Passou por Tessa e entrou no quarto de Marígold. Apanhou-adesprevinida indo para o banheiro.—   Mas que diabo! Volte para a cama, imediatamente, MarigoldRuiz!Como uma criança apanhada em flagrante, Marigold voltou para acama, emburrada e batendo os pés.—  Posso saber o que está acontecendo?  — perguntou o médico.

—  Quem foi que disse que você podia levantar e ficar andandopela casa? Não lhe dei ordens estritas para permanecer emrepouso?  — Dirigiu um olhar impaciente para Tessa.  — Entre efeche a porta. Tenho que examinar sua irmã, e existe umaremota possibilidade de precisar de sua ajuda.Com os nervos à flor da pele, Tessa observou-o fazer um exameminucioso, Exceto pelo som de respiração, o quarto estavasilencioso.Quando terminou e colocou o estetoscópio na maleta, ele selevantou.—  Bem, é isso! Você teve sua oportunidade, Marigold, masdesperdiçou. Vai voltar para a clínica imediatamente. Sua pressãosubiu novamente e o edema aumentou.Marigold ficou boquiaberta.—  Mas eu não fiz nada ...  — Lágrimas começaram a escorrer

pelo rosto.Blair Lachían levantou a mão direita.—  Pare de choramingar. Minha decisão é definitiva. Quando o assunto é a segurança de meus pacientes, tenho um coração depedra quanto a você, srta. Maitíand, gostaria de lhe dizeralgumas palavrinhas lá fora.Saíram, e ela se sentiu como um camundongo diante de um leão.—  Não vou desperdiçar meu tempo perguntando o que houve  —

ele disse.  — Contra a minha vontade, acabei cedendo às súplicas

Page 88: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 88/131

Page 89: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 89/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 89 -

frequentemente as queixas de Marigold, comparando-se a umpássaro engaiolado."Essa pequena criatura cantará para que você se alegre", dizia o

bilhete que o acompanhava.Na teoria, a ideia era excelente. Na prática, não funcionou. Agaiola ficava na janela e, após alguns dias, dezenas de outrospássaros se aproximavam e cantavam em coro o dia inteiro.Marigold obesrvava melancolicamente aquele cortejo.—   Eles sâo idênticos a nós, não é mesmo? A vida sem um compa-nheiro não tem significado. Cantam para seduzir o ser amado.Nesta minha gaiola, tenho percebido o quanto sou feliz por ter

Rae.  — Suspirou:  — Sinto muita falta dele, mesmo vindo mevisitar todos os dias. Sem ele, eu me sinto pela metade,  É muitobom para mim em todos os sentidos. Estar simplesmente com eleme deixa cheia de felicidade. Ainda bem que gostamos dasmesmas coisas, do mesmo tipo de brincadeira. Ele me faz rir eme dá segurança.—  E exatamente isso que acontece entre Tony e eu.—   É mesmo? Rae e eu temos pensado nisso. Você não acha queestá levando muito a sério o nosso artista?Tessa jogou os cabelos para trás.—  Não, não estou! O que é que incomoda vocês?—  As diferenças... Suas origens, em primeiro lugar, já notou queele nunca fala dos pais, irmãos, irmãs? Tentei mais de uma vezconversar a esse respeito. Tudo que sabemos dele é que passou ainfância num povoado primitivo e que, depois dos estudos

preliminares numa escola de missionários, entrou para uma escolade arte. Não me interprete mal. Sua origem não importa tantoassim, só que . .. bem, nós achamos que ele não é um bom partidopara você.Tessa estava tensa. A história de Rosa se repetia. O modelo erao mesmo..—  Não é um bom partido? Tony tem muito mais talento do queeu! De outra maneira, Ramon não o teria contratado e arranjado

Page 90: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 90/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 90 -

um estúdio para ele trabalhar. Sabe que Tony tem um grandefuturo.Marigold mordeu o lábio.—

 Talento, sim; um grande futuro, talvez . . . Mas não é isso queestá nos incomodando. Já pensou na reação de nossos pais? Elestêm preconceitos. O que acha que diriam, se você apresentasseTony como seu futuro marido?—  O que há de errado em ter ascendência italiana? Eles adorama ítália.Marigold balançou a cabeça, impaciente.—  Sua origem italiana se diluiu durante o último século. Eu diria

que ele u m índio navajo.—   É mesmo?  — Tessa ficou surpresa. Começou a visualizar seusolhos negros, sua pele escura . , . Ê claro, por que não haviapercebido isso antes? Mas seu sangue de índio não importava nemum pouco para ela.  — E daí? Ser índio ê  algum pecado? Todomundo diz que eles são pessoas fantásticas,— Minha querida Tessa, não é assim tão simples! Como explicar?—  Passou a mão na testa.  — As diferenças são muito profundas,difíceis de serem ultrapassadas. Nem todos o aceitariam. Estábem, eu e você o aceitaríamos, mas nossos pais e as pessoas coma idade deles com certeza o rejeitariam. Quando se trata deencontrar um companheiro, quanto menos disparidades, melhor.Além disso, vai demorar um bom tempo para Tony ganhar algumdinheiro. Quando ganhar, se ganhar, terá muitas dívidas parapagar. Vai precisar de um novo estúdio para se estabelecer e de

muito dinheiro para comprar um apartamento. A vida de umartista nunca é   bastante segura, E há ainda outras coisas, comopor exemplo, sua relutância em se conformar com o mundo, suaoposição ao progresso. Acredite, não é uma simplesinterferência da nossa parte. Gostamos dele, gostamos muito;senão, Rae não o estaria ajudando tanto. Ele é  amável, gentil,incomum. A grande diferença é o problema étnico. Vamos encarara verdade, Tessa: para uma inglesa, ele não é um bom partido.

Tessa sentiu uma onda de ódio.

Page 91: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 91/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 91 -

—   E o que há de tão especial com as inglesas? E nós? Somosfilhas de um lojista, não somos? Quanto à cor da pele dele, issonão me incomoda nem um pouco. Não é o exterior de uma pessoa

que interessa, mas seu interior. Estou acostumado a convivercom pessoas simples. .— E nós não estamos, isso é o que quer dizer? Vivendo aqui emSanta Fe ... você deve estar brincando! Vamos procurar nosentender. Quanto mais parecidas duas pessoas são, melhoresserão as opor-tunidades de sucesso. Água e óleo não se misturam.  — Ela fezuma pausa breve.

—  O problema é que vocês têm se encontrado demais. Rae achaque precisa aproveitar melhor seu tempo aqui. Ele não estánada contente de ver vocês juntos o tempo todo.—  Ele não está nada contente em ver Tony pintando o meuretrato, é isso que o está incomodando  — gritou Tessa.  — A únicacoisa que importa a Rae é a exposição de Natal, e ele quer queTony trabalhe como um louco. Adoro Tony e vou continuar a vê-lo.Quanto a mim, ele pode ter vindo do pólo norte ou de Timbuctoo,é a mesma coisa. Em todo o caso, por que todo esse falatóriosobre casamento? Isso não está em meus planos, por enquanto.Estaria falando a verdade? Sentiu que ficou corada.Marigold alisou o lençol.— Oh, Tessa, por favor, não vamos começar a discutir. Só queroo melhor para você.  — Lágrimas escorreram de seus olhos.Tessa sentiu vergonha. Como é que podia ser tão insensível? O

que Mari dizia era verdade. Sempre quis o melhor para si mesmae para as pessoas que amava.—   Desculpe  — murmurou  — não queria magoá-la. Devia ter sidomais sensata. Precisa ficar calma. Não devo excitá-la,Marigold enxugou os olhos.—  Tudo bem. Tessa. Vamos encerrar esse assunto, já estousofrendo demais aqui. É algo que não desejo ao meu pior inimigo.—   Não veja as coisas por esse prisma, Mari. Já imaginou quantas

mulheres não estariam contentes no seu estado, esperando um

Page 92: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 92/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 92 -

bebê, tendo um marido maravilhoso, uma casa incrível, amigosfabulosos? Agora, que tal pensar em algo de  útil, fazendo umalista para o enxoval do bebê? Aqui está uma caneta e um bloco de

papel. Rosa está tricotando algo, mas é preciso preparar umenxoval completo. Por falar em Rosa, lembra quando eu lheperguntei sobre o antigo namorado dela e você não souberesponder? Bem, encontrei alguém que pode: o dr. Sep. Aquelehomem que viajou comigo de Albuquerque, o cientista, acho quepode ser ele.Contou os detalhes, e Marigold ouviu atentamente,—  Oh, tomara que esteja certa! Um marido para ela seria a

melhor solução. É bom ir logo até Los Alamos e tentar  encontraresse homem.Tessa partiu cheia de esperanças naquela radiante manhã deoutubro. A viagem até Los Alamos foi feita num onibus deturismo e, quando chegaram, o guia reuniu o grupo para uma visitaaos museus de ciência e de história. Tessa não acompanhou ogrupo, saindo para iniciar sua busca. Foi ao escritório deinformações da Cidade Atómica, passando de funcionário afuncionário. Todos eram muito educados e eficientes, mas todavez que fazia a pergunta, demonstravam a mesma reacão:interesse e, depois, incredulidade.— Quer dizer que não sabe o nome do seu amigo? Esteve com elesó uma vez?  — O inevitável encolher de ombros.  — A menos quenos dê o nome, como poderemos identificá-lo?Tessa disse tudo que sabia, repetiu que estava procurando um

cientista por volta de trinta anos, que tinha cabelos ruivos,mancava e que havia chegado em Los Alamos no mês de setembro.A resposta era sempre a mesma.— Escreva-nos citando os detalhes. Procuraremos encontrá-lo.Voltou desanimada para Santa Fé, censurando-se durante aviagem. Havia sido muito apressada, precipitada. Uma estrangeiratentando obter informações de um estabelecimentogovernamental de alta segurança! Só podia ser uma idiota ou

Page 93: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 93/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 93 -

inocente! Era isso que os funcionários deviam estar pensandodela. Seu rosto ardia.Tony estava certo, quando a  preveniu, antes de partir.

Desapontada, desanimada, desejava ardentemente encontrá-lo.Quando foi ter com ele, Tony fez tudo para consolá-la. Nãodemonstrou nenhum sinal de descontentamento, mas deixou claroque devia abandonar as buscas.— Essa pista em que você está é muito difícil de ser trilhada. Etalvez não seja uma boa caçadora. Esse rapaz que chama de Red,se Rosa ainda o quer muito, será que não o encontrará por simesma, mais cedo ou mais tarde? Esqueça isso, querida.

Reconheça uma derrota.Marigold tinha um ponto de vista oposto. Com pouca coisa para seocupar, aceitou o desafio de encontrar Red. Ia telefonar para acompanhia de aviação na qual eles haviam viajado. Lá, teriam onome e endereços dos passageiros.Marigold, no então to, tinha obtido algumas informações queestava ansiosa para transmitir.— Anna me fez companhia enquanto você esteve em Los Alamos.Ela está em Santa Fé há muito tempo e conhece muita gente.Contou-me alguma coisa sobre o passado do meu médico.—  Verdade? O quê?—  Que ele teve uma noiva, há algum tempo atrás . .. Imagino quevocê deve estar interessada. Ele a conheceu na época do colégio.Uma beleza incrível, que veio a ser modelo. Antes dele viajar parao Viet-nam, ficaram noivos. Quando voltou, ela rompeu o noivado

por causa da cicatriz no rosto dele. Isso já o magoou bastante,mas pior foi o bilhete que ela deixou. Dizia que não podia vivercom um homem marcado. Pode imaginar a crueldade?Tessa gelou. Sentiu-se subitamente mal e caminhou lentamenteaté a janela.—  Que coisa terível ...  — murmurou.—  Não estou nem um pouco surpresa que ele tenha se desiludidocom as mulheres. Consegue entender alguém fazendo uma coisa

dessas?

Page 94: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 94/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 94 -

Tessa estremeceu. Ela não entendia . . . mas, quem tinha o direitode julgar? A moça devia ter sofrido urn choque enorme ao ver ohomem que amava profundamente voltar da guerra com aquela

cicatriz. Podia imaginar claramente a cena. Entre os parentes eamigos que o esperavam, via uma garota bonita que não tinha amenor experiência com as coisas feias da vida. Devia ter sido umverdadeiro drama! Sentia compaixão por Blair Lachlan, mas tinhatambém uma certa pena da garota.Marigold continuava tagarelando.—  Parece que ele está se dando bem com Debra Petersen. Quemsabe, essa mulher tenha seus charmes ocultos! Anna imagina

que tenha restaurado a auto-estima nele. Qualquer que seja omotivo, a competição terminou e só nos resta aclamar osvencedores. Ela esteve examinando alianças na loja de Rae. Masveja você que tipo de mulher é essa: teve coragem de dizer quenão encontrou nenhuma de que gostasse.Rosa também anunciou novidades, mas quis saber primeiro aondeela havia estado, já que fazia alguns dias que não a visitava.Tessa contou a viagem a Los Alamos.—  Você conhece?  — perguntou num impulso, e percebeu que aamiga estremeceu.—  Oh, sim. Costumava jogar ténis lá.Tessa teve uma ideia: se conseguisse convencê-la a ir a LosAlamos, quem sabe Rosa localizasse Red, ou então, ele alocalizasse.—  Conhece os museus da cidade? Se eu alugasse um carro, iria

comigo? As árvores estão com um colorido incrível!—  Mas é o que estou querendo fazer. Era isso que queria lhecontar! Sep finalmente organizou um piquenique para o próximodomingo. O grémio da igreja vai promover um churrasco, iremosaté as colinas de ônibus. -— Seus olhos brilhavam.  — Tenho umfavor a lhe pedir. Você iria comigo? Sep estipulou que cadaconvidado com deficiência física deve levar um acompanhante. Eume sentiria muito mais confiante, se você estivesse comigo.

Tessa não hesitou,

Page 95: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 95/131

Page 96: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 96/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 96 -

—  Não deve ser tão desconfiado. Eu os conheço melhor do quevocê, e não estão com essa intenção. Não deve considerá-loscomo inimigos. Nós devemos muito a eles. Se não fosse pelos

dois, não teríamos nos conhecido.—  Não vai se deixar influenciar por eles, vai?  — Encostou seuslábios nos dela.—   Não  — prometeu, saboreando aquele beijo.O restaurante era imponente, cada mesa, adornada com umcandelabro e um vaso com flores. Uma música suave pairava noar.—  Espero que goste  — disse Rae, enquanto o garçom os conduzia

até uma mesa.  — Telefonei antes e pedi para nos prepararem aespecialidade da casa.Pediu vinho e, então, segurou a mão dela.-— Mari e eu costumamos jantar fora duas ou três vezes porsemana.  — Fez uma pausa.  — Você está encantadora, Tessa.Levou a mão dela aos lábios. Muitos rostos viraram na direçãodeles.—  Precisa encontrar um homem de verdade, Tessa. Um comsangue conquistador nas veias. Assim, conhecerá o significadomaior do amor.Ela ergueu as sobrancelhas.—  Minha experiência limitada não me faz concordar inteirameniecom você.—  Estou brincando, é claro. Mas tome cuidado ao escolher seufuturo marido. Confie no que lhe é familiar; aposte mais no

conhecido do que no desconhecido. O exótico desaparece com otempo. E, nessa hora, começam as discussões.Tessa enrijeceu. O assunto era realmente relacionado a Tony.Tamborilou os dedos nervosos na mesa. Para seu alívio, a chegadado garçom interrompeu a conversa.Mas Ramon a retomou, logo em seguida.— O que está acontecendo com Tony esses dias?  — perguntou,mordiscando uma azeitona.  — Não anda trabalhando

normalmente. Estou cansado de chegar no estúdio e encontrar o

Page 97: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 97/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 97 -

mesmo bilhete na porta: "Volte dentro de meia hora". Para ondeele tem ido?Tessa encolheu os ombros.—

 Não muito longe, com certeza. Passeia pela praça, entre asárvores. Em todo caso, ele precisa tomar ar de vez em quando.Não é nada bom para ninguém ficar enclausurado o dia inteiro;especialmente, um artista. A falta de oxigénio entorpece océrebro.Esperou um momento, antes de falar novamente, enquanto Ramondegustava seu vinho branco.—  Todas as vezes que vou lá, ele está trabalhando arduamente.

Não acho justo essa suspeita.—   Você vai uma ou duas vezes por semana. E os outros dias?Nesse instante, chegou o garçom com a comida.—  Ai está nossa paella. Espero que goste.Enquanto comiam, Tessa pensava numa maneira de mudar de as-sunto. Melhor uma mudança do que uma discussão.—   Essas suas abotoaduras são navajas, não são? Como é que sãofeitas? Qual sua origem?Ele começou a descrever entusiasmado, expondo-lhe detalhes emais detalhes, Além disso, começou a falar dos negócios..Ela ouvia com atenção e de vez em quando fazia algumcomentário, dava algumas sugestões e recebia a aprovação deRamon.—  Você é uma grande garota, Tessa. Neste exato momento, Marie eu não poderíamos viver sem você. Sua ajuda tem sido muito

valiosa.—   Se não fosse por vocês, eu não estaria aqui em Santa Fé, des-frutando de toda essa beleza.Ele beijou novamente a mão dela.—  Eu não tinha um jantar assim desde que Mari foi internada. E,agora, o que vamos pedir de sobremesa? A musse de chocolateque servem aqui é uma delícia. Ou prefere um sorvete de limão?Ela preferiu o sorvete.

Page 98: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 98/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 98 -

— Garçom, por favor, dois sorvetes de limão. E traga uma seleçaode licores junto com o café, para eu escolher.Estava ficando tarde, e o restaurante esvaziava. Tessa deu uma

olhada de relance pelo salão e seu olhar se fixou num casal,sentado no fundo. Debra Petersen e Blair Lachlan! Como Santa Féera pequena!Estavam levantando e se preparando para partir. Como sesentisse que era observada, a elegante loira virou a cabeçarepentinamente e encontrou o olhar de Tessa. Esboçou umsorriso e segurou o braço de Blair com ar de proprietária. Emseguida, saíram.

Ramon pagou a conta.— Você parece cansada. Acho que a aborreci com o meu falatório.Obrigado por me dedicar seu tempo, por ter sido uma ouvinte pa-ciente. Ando muito esgotado esses dias e precisava de uma noitecomo esta.Ao se dirigirem para Los Arboles, ele continuou a falar denegócios. Tessa concordava ou sacudia a cabeça nos momentosque lhe pareciam apropriados. Seus pensamentos estavamvoltados para a cena que havia acabado de testemunhar.Por que Debra Petersen? Aquela secretária parecia tão artificialcomo seus cabelos. Odiava a maneira com que aqueles olhosverdes se dirigiam a ela. Faltava calor humano, interesse naspessoas. Não parecia a esposa ideal para um médico. Muitomenos, para um médico como Blair Lachlan.

CAPITULO VIII

Na manhã seguinte, Tessa foi visitar a irmã na clínica. Ao voltarpara casa, viu Blair LacMan perto do elevador. Sua primeirareação foi de alarme; a segunda, de alívio. Ele não estava olhandopara ela. Procurou um lugar para se esconder, mas logo a avistou

e caminhou em sua díreção,

Page 99: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 99/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 99 -

— Como vai? Não tinha visto você. E, então, divertiu-se ontem ànoite? Você não tem aparecido na clínica? Seus interesses nãoestão lhe permitindo ir mais por lá?

Aquele homem .. . Como podia ser tão seguro de si? Será quehavia esquecido o último encontro traumatízante dos dois?— Tenho ido à clínica, mas não o tenho visto.  — Ela tentou ficarcalma.  — Mari parece melhor. Você deve estar contente,Ele balançou a cabeça.— Com um pouco de sorte, espero que tenha um bom parto. Sefor necessário, faremos uma cesariana. Mas isto é algo queprefiro evitar.  — Apontou sua maleta.  — Fui chamado para ver

uma paciente no terceiro andar e aproveitei para dar uma olhadaem Rosa. Foi Sep quem sugeriu. Ela parece bastante alegre.Falou a respeito do piquenique que está sendo planejado. Você atem visto frequentemente?—  Frequentemente. Somos boas amigas.—  Foi exatamente o que ela disse.  — Ele sorriu.  —  Um ótimotrabalho, esse que você está fazendo com ela.Tessa corou. Estava intranquila com a presença dele e desejavasair dali o mais depressa possível. Mas não devia desperdiçar aoportunidade. .  — Rosa tem chances de andar novamente?—  Não sou especialista nessa área, Parece que a causa de suaparalisia não é física. Pode ter sido originada aqui.  — Bateu com amão na cabeça.  — A cabeça pode influenciar muito o corpo.  — En-colheu os ombros.—  É um caso difícil de diagnosticar. A medicina ainda está longe

de ter todas as respostas. Mas, já que estamos falando deassuntos profissionais, tenho algo a lhe pedir. Um favor. Temosum grupo de médicos que trabalha gratuitamente em algumasclínicas públicas, doando um pouco do seu tempo em intervalosregulares. Eu necessito ... Droga! O porteiro está me fazendosinal. Acho que quer que eu tire o carro do pátio. Um outro dia ....E saiu, apressado.

Page 100: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 100/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 100 -

Tessa entrou no elevador. O que é que ele ia lhe pedir? Teriamuita sorte, se pedisse para trabalhar como enfermeira, depoisdo que havia acontecido com Mari. Suspirou.

Ao sair para as compras do enxoval do bebê, Tessa teve muitasdificuldades. Entrou em diversas lojas e não conseguiu encontraro que estava na lista feita por Marigold. Já estava quasedesesperada, com vontade de desistir, quando ouviu uma voz aseu lado.—  Posso ajudar em alguma coisa?Virou-se e viu uma mulher esbelta, com seus cinquenta anos maisou menos, vestida elegantemente.

—  Talvez, se eu desse uma olhada nessa lista ...  — Estendeu umamão delgada.  — Acho, sim, acho que descobri seu problema. Háuma diferença de terminologia nessa lista. No lugar de cueiros,leia fraldas. Aqui, nesse item, peça por mamadeira, em vez degarrafa com chupeta. No lugar de algodão em rama, peçaabsorvente. Agora, deixa-me indicar-lhe onde poderá encontrartudo isso.Depois de dar as informações, sorriu graciosamente, enquantoTessa agradecia.— Muito obrigada por tudo. Posso convida-la para um café?— Aceito, com muito prazer.As duas se dirigiram para a cafeteria ao lado.—  Mas esse enxoval de bebê não é para você.  — Olhou para acintura fina de Tessa e para sua mão esquerda sem aliança.—   Não. £ para minha irmã. Ê seu primeiro bebê e ela não está

podendo fazer as compras. Marigold está internada.—  MarígoId Ruiz? É  sua irmã? Eu a conheço de vista. E muitobonita. Meu filho é o médico dela. Agora estou lembrando que elemencionou algo a respeito da sua internação. Foi meu maridoquem fundou a clínica. Sou Lenore Lachlan.A mãe de Blair! Será que a sra. Lachlan a tinha reconhecido?Após alguns instantes, sentiu um certo alívio. A mulher nãodemonstrou nenhum sinal de tê-la visto antes. Havia pouca luz

Page 101: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 101/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 101 -

naquela sala em Los Pinos, na noite fatídica em que foramflagrados por ela.—  Sou Tessa Maitland  — disse, prendendo a respiração.—

 Está passando férias aqui? Acabou de chegar?—  Sim. cheguei há  pouco tempo. A sra. Lachlan olhou-a nos olhos.—  Nunca poderia imaginar que você e a sra. Ruiz fossem irmãs.Quanto tempo ficará aqui? Três meses? Esplêndido! E o que fará,quando voltar para a Inglaterra?Ao saber, balançou a cabeça, aprovando.— Enfermeira. Você está conhecendo uma ex-enfermeira.Trabalhei como enfermeira na Segunda Guerra. O pai de Blaír

era médico do Exército naquela época. Nós nos conhecemos numbaile do hospitalonde ele trabalhava. Isso foi em Edimburgo, na Escócia, em1945. Blair nasceu um ano depois. Como o tempo voa!Tomou um gole do café, perdida em suas lembranças.  — Sólamento uma coisa: que meu querido Robert não tivesse vívidomais tempo, e que só tivéssemos tido um filho.  — Suspirouprofundamente.  — A vida nem sempre é  fácil para o filho único.Quando jovem, ele se sente solitário. Quando se torna adulto,assume sozinho a responsabilidade de cuidar dos pais. Às vezes,eu me pergunto se não sou um pouco responsável pelo fato deBlair não ter casado ainda. É claro, ele teve alguns problemasterríveis com uma sx-noiva, logo que chegou do Vietnam. Aoperder a confiança nas mulheres, procurou refúgio no trabalho.Mas, na minha opinião, entregou-se demais à profissão. Fez uma

pausa reflexiva.—  Se ele casasse, seria muito bom, mas espero que não assumaessa responsabilidade com uma mulher qualquer, a que estivermais próxima . . .Tessa tomou um gole de café. Estaria ela se referindo a DebraPetersen? Quem mais?A sra. Lachlan tirou um cartão de visitas da bolsa e entregou aTessa.

Page 102: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 102/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 102 -

—  Moro nesse endereço. Se precisar de algo, por favor, metelefone. E, quando passar perto de casa, venha me visitar.Conhece o bairro? Aproveite suas férias e tenha um bom-dia.

Partiu, deixando Tessa radiante, com a sensação de que havia en-contrado uma amiga. Era uma pena que o filho não tivesse asmaneiras delicadas da mãe.Com uma porção de pacotes nos braços, Tessa tomou a direção daclínica. O sol brilhava no céu sem nuvens. Na altura da praçacentral, olhou, ofuscada, para um vulto e prendeu a respiração.Red! Era Red, o namorado de Rosa, o homem que ela estavaprocurando há um bom tempo, sem o menor sucesso, pois a

companhia de aviação se recusou a informar sobre o passageiroruivo.—   Ei!  — gritou.  — Espere! Por favor, espere!Ele continuou caminhando e parou diante de um bar. Tessa deuuma corrida e se aproximou dele.— Lembra de mim? Albuquerque, o avião . . .Emudeceu, quando o homem se virou. O cabelo era o mesmo, maso rosto era diferente. Suas roupas provavam, se é que havianecessidade de provas, que ela havia se enganado. O colarinho dacamisa preta era circular e branco. Estava diante de um padre.Ficou embaraçada alguns segundos.—  Desculpe. Pensei que o senhor fosse alguém que conheci. Émuito parecido com ele.O padre sorriu amavelmente.—  É a cor de seus cabelos ...  — Num impulso, perguntou:   — O

senhor tem um irmão, por acaso?O padre abriu os braços.— Todos os homens são meus irmãos. Mas sou o único filho deminha mãe.  — Olhou para os pacotes nos braços dela.  —- Vocêparece um pouco sobrecarregada. Posso ajudar?— Obrigada, mas, não. Acho que vou descansar, tomar umrefresco.  — Colocou os pacotes sobre uma mesa e sentou.Ao observá-lo afastando-se, ficou furiosa consigo mesma. Como é

que pôde ser tão cega? O padre caminhava normalmente, não

Page 103: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 103/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 103 -

mancava. Tony tinha razão. Ela devía desístír. A busca de Redestava se tornando uma obsessão.Marigold se divertiu bastante, quando ouviu a história.  —

Continue assim e acabará com a polícia no seu encalço. Pensarãoque é uma vagabunda. Lembre: nesta região, isso significa prosti-tuição. É melhor ficar atenta. Enxugou as lágrimas de riso.— Imagine você! Caçando um homem de Deus! Agora posso ver oque trouxe para o meu bebé?Ocupada na inspeção das compras, Marigold não deu muitaatenção às perguntas da irmã, respondendo monossilabicamente.Desapontada e desencantada, Tessa deixou a clínica e fui para o

estúdio de Tony. Precisava de consolo.Antes mesmo de chegar perto da porta do estúdio, viu um bilhetependurado: "Volto dentro de meia hora".Onde ele teria ido? Quando mais precisava dele, nãoestava presente.A porta do estúdio se abriu num leve toque, e ela não sesurpreendeu. Ele raramente a fechava.Sentou na poltrona onde costumava posar, que, por sinal era aúnica. Intranquila e ansiosa, levantou em seguida e começou aandar entre as mesas encobertas de latas de tinta, papéis,garrafas de aguarrás, pincéis, telas. Uma camada de poeiracobria todo esse material e havia teias de aranha nas janelas.Atravessou a porta que dava para o quarto dele. Um cabo de vas-soura pendurado horizontalmente no canto de duas paredes,servia de guarda-roupa. Separado por uma parede de caixas de

madeira, havia um espaço com uma mesa rústica, cadeiras, umapia, uma geladeira velha e um pequeno fogão caindo aos pedaços.Algumas panelas enferrujadas e comida enlatada estavam jogadas num canto.Ficou horrorizada. Mas que maneira de viver! Tony precisavadesesperadamente de alguém que cuidasse dele. Essa confusãotoda devia deprímilo. Devidamente organizado, ele poderiamelhorar sua produção, cair nas boas graças de Ramon, tornar-se

Page 104: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 104/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 104 -

bem conhecido, ganhar um bom dinheiro. Ia sugerir uma limpezageral naquele covil.Olhou para o relógio. Fazia vinte minutos que tinha chegado. Por

que esperar? Por que não começar já a limpeza?Colocou o lenço de pescoço na cabeça para proteger os cabelos,enrolou um pedaço de lona em volta da cintura para servir deavental e começou a trabalhar. Apanhou uma vassoura velha evarreu o chão, colocando as coisas que ia encontrando nos seusdevidos lugares. Depois, límpou as janelas com um pano molhado.Uma hora mais tarde, havia terminado a limpeza. Estavasatisfeita com o resullado. O estúdio tinha uma nova aparência.

Ouviu o som de passos se aproximando. Tirou o lenço da cabeça eo avental, o coração acelerado. Tony estava chegando,finalmente.—  Tessa? Você aqui? Não é seu dia habitual ...  — Seus olhosciganos percorreram o estúdio espantado.  — Que diabo! O que éque está acontecendo? Não vai me dizer que você . . .—  Oh, sim, limpei seu estúdio!   — disse com orgulho.  — Não foiuma limpeza perfeita, mas, da próxima vez, será. Agora, há umlugar para cada coisa e cada coisa está no devido lugar. Você nãoprecisará desperdiçar seu precioso tempo procurando o quenecessita. Veja, as telas estão ali, os pincéis . .Ele segurou com força o braço dela. Antecipando um abraço deagradecimento, um beijo como recompensa, ela levantou a cabeça.— Oh, não!  — ele disse levando as mãos ao rosto.  — Com quedireito você fez isso? Ficou louca? Não aprendeu nada em todas

essas semanas? A poeira adere às telas. Uma pintura podedemorar semanas para secar. Por que é que acha que deixo ascoisas como estavam? Ninguém, mas ninguém mesmo, tempermissão de tocar em meu estúdio. Provavelmente, arruinoutodas essas telas que empilhou.A discussão foi intensa. Profundamente desapontada, Tessacomeçou a chorar de remorso. Tony abraçou-a enxugou aslágrimas.

Page 105: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 105/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 105 -

—  Perdão, Tessa  — murmurou, carinhosamente.  — Fiquei furiosoporque os trabalhos para a exposição de Natal estão medeixando tenso, destruindo meus nervos.  —  Beijou-a na ponta do

nariz. —

 Vamos dar uma olhada minuciosa nessas telas, para verexatamente o que aconteceu.Após um exame cuidadoso, ele teve que admitir que havia sealarmado à toa e que alguns pequenos retoques numa tela ououtra resolveriam.— O problema agora é  descobrir as coisas nessa sua arrumação,Antes, existia um caos, tudo bem; mas era um caos organizado,eu sabia onde encontrar o que precisava. Estamos num estúdio

minha querida; não numa unidade estéril de um hospital qualquer.Esse é  o problema maior nos dias de hoje. Todo mundopreocupado em limpar, organizar... até mesmo os costumes etradições estão sendo limpos, organizados, institucionalizados.Nasci num povoado onde as pessoas não têm quase nada, maspossuem seguramente uma grande virtude; o humanismo. Elasfazem as coisas para o bem comum e não pensamexclusivamente nelas mesmas.  — Ele segurou a mão dela.  —Venha, vamos tomar um refresco.Quando Tessa o deixou, constatou o quanto ele era amável e que-rido. Teve toda a razão de ficar irritado, Mas seu ódio haviadesaparecido imediatamente e a amabilidade tomado seu lugar.Haviam feito planos para o piquenique e ambos estavam ávidos emnotar a reacão de Rosa quando estivesse lá em cima, nasmontanhas.

Tony havia prometido chegar na hora certa, mas o ônibus teveque esperar por ele uns quinze minutos. Durante a viagem,caminhou por entre os passageiros, apontando os lugaresimeressantes e conversando animadamente.Sentado ao lado do motorista, o dr. Sepulveda deu uma olhada nogrupo.— Temos algumas pessoas com problemas cardíacos e algunsparaplégicos  — disse a Tessa.  — Precisamos tomar muito cuidado.

Page 106: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 106/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 106 -

A conversa entre os passageros começou em voz baixa e foisubindo aos poucos. Para pessoas acostumadas a viver entrequatro paredes e ver a vida através da televisão, a visão dos

campos abertos e as cores vividas do outono provocaram umaemoção muito grande. Rosa olhava emocionada para o cenário.— Quantas emoções tenho deixado de viver!  — murmurou paraTessa.  — É estranho, mas não estou nem um pouco amedrontada,apesar de ter ficado tanto tempo dentro de casa. Com toda essagente, e com Sep presente para qualquer eventualidade, estousegura e adorando a viagem.Ao alcançarem a área do piquenique, equipada com alguns bancos

e mesas, uma churrasqueira, banheiros, etc, Lázaro Sepulvedausou a rádio de bordo para avisar à clínica de sua localização.— Uma precaução, no caso de necessitarem de mim  — explicou.  —Blair e eu costumamos manter contato normalmente. Temos umnovo assistente e esperamos, com isso, ficar com um pouco maisde tempo livre.Sob sua eficaz direção, os deficientes foram colocados sob asárvores. As carnes para o churrasco, amontoadas ao lado dachurrasqueira. Em menos de meia hora, o aroma de carne etoucinho na brasa misturava-se ao dos pinheiros. Haviarefrigerante, cerveja e vinho. O ambiente se transformou numafesta e as pessoas estavam alegres. Ao olhar para os rostossorridentes, Tessa sentiu ura imenso respeito pelo médico. Elehavia organizado a excursão com muita sabedoria e imaginação.Após o churrasco, algumas pessoas deitaram na grama para uma

soneca, enquanto outras saíram para uma caminhada.Rosa ficou sob as árvores e Tessa permaneceu ao seu lado.Incapaz de cochilar, começou a se inquietar.—   Esse ceu tão lindo! Gostaria de subir a colina, ter uma visãomelhor. Acha que poderia me conduzir em minha cadeira?Seria emocionante olhar o vale lá de cima, tentar localizar nossaantiga casa. Tony pode nos ajudar?Tessa olhou para onde ele estava fazendo alguns esboços.

Page 107: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 107/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 107 -

—  Ele está ocupado com seus desenhos. Não vamos incomodá-lo.Não se preocupe, posso levar você com facilidade.O caminho que tomaram era suave a princípio, mas foi se

tornando íngreme à medida que subiam. Chegaram, finalmente, aum promontório que parecia se misturar com o céu azul e aimensidão do espaço.—   Este é um lugar mágico  — murmurou Rosa.  —- Olhe para aque-las árvores verdes e douradas. Parecem enfeitadas para umafesta. Pode me deixar aqui por alguns momentos e ir colhercastanhas, se quiser. Eu fico contemplando toda essa beleza.Coloque as castanhas neste saco plástico que eu trouxe.

Tessa escolheu um lugar seguro e colocou a cadeira de rodasfirmemente entre duas pedras e travou as rodas.—  Você se sentirá sozinha? Não se aborrecerá? Rosa balançou acabeça.— Me aborrecer, com o mundo a meus pés? Deve estar brincando!—  Acenou para Tessa.  — Boa colheita.Tessa sentia a brisa suave e o sol aquecia seu rosto. Havia muitapaz naquela altitude. Teve novamente a sensação de estarflutuando. Foi apanhando castanhas. Quando encheu o sacoplástico, começou a; caminhada de volta. Ao se aproximar dopromontório onde havia deixado Rosa. o sol ofuscando seus olhos,foi logo falando na direção dela.— Rosa! Apanhei todas essas castanhas! E há toneladas paraserem apanhadas...Suas palavras morreram na garganta. A cadeira estava lá,

exatamente onde a havia deixado. Mas vazia!Seu coração começou a bater loucamente, escoando em seusouvidos. Era impossível Rosa ter se locomovido sem a ajuda dealguém. Não conseguia acreditar no que estava vendo.—  Rosa! Rosita, onde você está?Será que tinha conseguido levantar e despencado colina abaixo?Oh, Deus, isso não! Seu corpo se enrijeceu por um momento.Então, começou a olhar minuciosamente para o abismo. Não havia

sinal de quedas. Mas onde. . . ?

Page 108: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 108/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 108 -

Olhou para a esquerda e percebeu um corpo no chão.— Rosa, oh, Rosa! Saiu correndo.  — Como? Por quê?Ajoelhou-se e segurou a cabeça da moça. Sentiu os dedos

umedecerem com um líquido viscoso, vermelho. Sangue! O sanguefluía de um corte profundo. Rosa deu um leve gemido.—   Tessa. . . é você? O céu. . . me fascinou, .. tinha que tentarcaminhar. Batia a cabeça em alguma coisa . . .Desmaiou.—  Rosa. Rosa, por favor, ouça!  — gritou desesperada.Era só o que faltava! Sua amiga ferida, em estado de coma. Comocoloca-la na cadeira e levá-la para baixo? Seria sensato movê-la,

naquelas circunstâncias?Sentiu pânico. Num hospital, saberia como agir e teria pessoasespecializadas ao lado. Mas. ali, no alto de uma montanha. . .Após alguns segundos de indecisão, lembrou das palavras:"Primeiro, tente estancar qualquer hemorragia". Sim, era essa aprovidência a ser tomada em primeiro lugar com qualqueracidentado. Tirou um lenço do bolso e enfaixou a cabeça ferida,usando o cinto do vestido para fixá-lo.Precisava urgentemente gritar por socorro. O dr. Sep, era ele aser avisado. Encheu seu pulmão de ar e gritou com toda a força.—  Dr. Sepulveda! Socorro! Socorro! Socorro!Uma leve brisa derrubou algumas folhas secas. Não houvenenhuma resposta. Gritou novamente, dessa vez, maisdesesperada. Se ninguém ouvisse seu apelo ou viesse ajudá-las,teria que deixar Rosa e descer correndo em busca de socorro.

Ouviu o leve murmúrio de vozes vindo lá de baixo. O murmúrio foicrescendo e, em seguida, começou a ouvir passos naquela direção.O médico, com certeza, estava chegando.— Por aqui!  — gritou, acenando.  — Rosa sofreu uma queda. Dr.Sepulveda, graças a Deus. . .Calou, espantada, ao ver Blair Lachlan.—  Você! De onde está vindo?  — perguntou, confusa.Em passadas longas, ele alcançou a garota ferida e ajoelhou-se ao

lado dela.

Page 109: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 109/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 109 -

—  Como foi que aconteceu?—  Não sei. Ela estava na cadeira, quando a deixei para apanharcastanhas, e parecia perfeitamente segura. Quando voltei. . .  —

Contou como havia encontrado a amiga.O médico examinou o ferimento.—   Além dessa sangueira horrível, que você soube muitobem estancar, não vejo nenhum sinal de problema maior. Masdevemos examiná-la cuidadosamente. Imagino que sofreu umaleve contusão ao bater com a cabeça nessa pedra. Vamos levá-lapara a clínica imediatamente. Desde que possa ir deitada noõnibus, não vejo necessidade de uma ambulância. Onde está a

cadeira dela? Apanhe-aimediatamente!—  Você segura a cabeça dela, enquanto eu empurro a cadeira  —

ordenou, conduzindo-a cuidadosamente montanha abaixo.  —Acredita que ela realmente caminhou toda essa distânciasozinha?—  E quem mais poderia ter ajudado? Não há outra possibilidade.Deve ter sido um impulso repentino.—  Não sei, não! Alguma coisa deve ter acontecido, enquanto vocêestava colhendo castanhas. Uma garota que era incapaz delevantar uma perna, de repente sai da cadeira de rodas e começaa caminhar!—  E alguém que não estava sequer no piquenique surgiu paraajudá-la.—   Quem sabe isso possa ser explicado! Eu vim para substituir

Sep.Uma das pacientes dele teve alguns problemas lá na clínica, e osparentes exigiram que ele estivesse presente. Vim com o meucarro eele o usou para voltar.  — Sorriu.  — Se bem que, com vocêpresente.não precisávamos nos preocupar tanto. Podíamos confiar em você.

Page 110: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 110/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 110 -

Sem saber ao certo se ele estava falando sério ou ironizando,Tessa decidiu ficar calada. O que importava era que Rosa haviaandado e seu ferimento não era grave.

Deitada, Rosa ocupou o banco traseiro do ôníbus, a cabeça nocolo de Tessa, Blair tinha colocado uma manta sobre o corpo dagarota.Tony sentou ao lado delas, para ajudar, mas acabou pegando nosono. Blair olhou para ele e comentou:—  O que me surpreende e esse jovem Picasso não teracompanhado você até lá  em cima, ajudando-a á empurrar acadeira. Levar Rosa lá deve ter sido uma batalha.

—  Tony compartilhou seu afeto com as pessoas desde quechegou, fazendo desenhos e retratos para dar a elas. Não quisperturbá-lo.Tony roncava nesse momento.—  Pobre rapaz!  — ele disse, com sarcasmo.  — Trabalhou tantocom desenhos e retratos, que ficou exausto!—   Isso é  injusto e pouco amável de sua parte! Deixe-o em paz!Um bom repouso é  tudo que precisa.As densas pestanas de Tony se abriram.—  Concordo plenamente com você. Um longo repouso é o que eurecomendaria para todos.

CAPITULO IX

"Piquenique nas montanhas. Garota paralítica sofre queda e ferea cabeça! Enfermeira inglesa socorre a vítima!"A manchete estava na primeira página do jornal do dia seguinte.—  Como é que eles souberam?  — Tessa perguntou a Ramon,quando entrou na sala de estar.—  Oh, há sempre alguém que fica sabendo e passa a informaçãopara os jornais em troca de algum dinheiro. Algum excursionista,

o motorista, um atendente da clínica. . . Mas, não se preocupe. O

Page 111: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 111/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 111 -

último parecer sobre o estado de Rosa é bastante otimista. Maisum ou dois dias em repouso e estará em perfeitas condições. É  oque Sep diz. O fato de ela poder andar é que o está deixando

completamenre confuso. Vai manter uma observação discreta, naesperança de ela fazer uma nova tentativa. Virá para casa dentrode uma hora e disse que gostaria de ver você.Tessa dirigiu-se para o apartamento de Conchita e encontrou-acom um buque de flores na mão."Para a senhorita Ruiz" dizia o cartão. "Desejo que se recupereimediatamente", Conchita cheirou as flores.— Não há o nome de quem as enviou, somente esses dizeres.

Quem poderia ter sido? Algum excursionista? Seria muito amávelde sua parte, se você levasse o buque para Rosa. Ela está deitadana cama. Laz disse que sofreu uma leve contusão e precisa ficarem repouso com pouca luz. Ele fez a sutura no corte da cabeça.Obrigada, querida Tessa, por tudo que fez, por ter cuidado dela.Graças a Deus, o acidente não foi tão grave. Não consigoentender como pôde acontecer. . Rosa apanhou o buque, surpresa.— isso é para mim? Tem certeza? Será que o florista nãocometeu um erro, colocando "srta." no lugar de "sra." Será quenão é para mamãe? Não tenho a menor ideia de quem possa meenviar flores: E rosas amarelas . . . é estranho! São minhasfavoritas. Houve um tempo, . . Você pode apanhar um vaso ecolocá-lo ao lado da minha cama?Enquanto Tessa arrumava o vaso, ela tocou a cabeça.— Está doendo. Não consigo lembrar o que houve lá em cima.

Tudo que sei é  que tentei me levantar da cadeira. Aquelaclaridade incrível me fez sentir flutuando. . . depois disso, há umbranco até a minha chegada na clínica.  — Fez uma pausa.  — Sepme levou até o quarto de Mari, quando estava saindo hoje, paramostrar a ela que eu estava inteira.Olhou novamente para as flores.— Quem poderia ter me mandado essas rosas?O rapaz que eslava sentado a seu lado no churrasco?  — Tessa

sugeriu.

Page 112: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 112/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 112 -

— Espero que não! Ele não tirava os olhos de cima de mim e foipor isso que pedi a você para me levar lá em cima.  — Suspirou.  —Sep me advertiu de que não devo pensar no que houve, pelo

menos, por enquanto. Vou descansar um pouco agora. Tessadeixou o quarto nas pontas dos pés.Rosa havia obviamente dado alguns passos, mas iria tentar nova-mente? Será que sua autoconfiança não tinha sido destruídapela queda e pelo corte profundo da cabeça? E se tentasse efalhasse, o que aconteceria? O que havia renovado seu desejode andar? O cenário emocionante, a sensação de estar no topo domundo, ou aquela estranha e maravilhosa luminosidade.

A todas essas especulações havia ainda um mistério adicional aser acrescentado. Quem estaria enviando flores para Rosa? Nãofoi apenas um buque, no primeiro dia. Outros continuaramchegando, todos os dias, durante a semana inteira. Eram semprerosas amarelas, enviadas anonimamente.O mistério das rosas amarelas começou a intrigar Rosa. Esperavaansiosamente todas as manhãs pelo buque. Até quando,continuariam chegando?—  Aposto que quem está enviando os buques é o rapaz queestava sentado ao lado dela no churrasco  — confessou Tessa aMarigold.  — Não há dúvida de que ele estava encantado. Marivocê não está me ouvindo. Há alguma coisa errada?  — Percebeuque sua irmã parecia longe.  — Não está se sentindo bem?  —perguntou, levemente preocupada,—  E acha que eu podia estar, depois de ouvir todos esses

rumores que circulam pela clínica, sobre você e Rae? Coloque-seno meu lugar. Como é que se sentiria, deitada nesta cama,impossibilitada de fazer qualquer coisa, e ouvindo a todo instanteo que está acontecendo?Tessa deu um passo para trás.—  Do que está falando? O que quer dizer? Marigold levantou acabeça do travesseiro.—  Estou querendo dizer que vocês dois estão se encontrando

demais. E não só em casa, mas abertamente, em público!

Page 113: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 113/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 113 -

Tessa levou a mão à cabeça.—   Nós só saímos uma vez para jantar, no La Sevilha. Isso foitudo, Mari. Com certeza não está pensando...   —   Olhou para

a irmã consternada.Marigold começou a rir e acabou dando uma gargalhada,—  Não precisa ficar tão aflita. Eu estava brincando! Confio emRae plenamente. Você pode sair com ele quando quiser.Tessa suspirou, aliviada.—  Obrigada pela confiança em mim também. Mas que inferno.. .essa fofoca maliciosa, como surgiu?—  Eu também gostaria de saber. A enfermeira Fisher me passou

a informação, mas não disse quem contou a ela. Você podeimaginar quem teria iniciado essa história?—  Debra Petersen?  — Tessa lembrou da cena do restaurante.  —Ela estava lá com Blaír, naquela noite. Mas faz tanto tempo! Porque essa história toda agora?—   Talvez essa pessoa tenha sentido inveja do seu nome naprimeira página do jornal, da sua eficiência em ajudar Rosa.—  Ninguém pode ser assim tão mesquinho. Isso é abominável, Sefor verdade...  — Tessa balançou a cabeça.— Se for verdade, é melhor você ser mais cuidadosa daqui parafrente.Tony também demonstrou pouco interesse quanto ao mistério dasrosas.—  Alguém que leu sobre o acidente no jornal  — ele sugeriu.Desde o dia do piquenique, andava meio distante. Tessa quis

saber a causa.—   Não há nada errado comigo! É você que está mudando! Oque foi que fez, quando chegamos a Santa Fé no domingo? Entroucorrendo na clínica com Rosa. Não disse uma palavra para mim,nem sequer me olhou de relance! E tínhamos combinado ir a umconcerto naquale noite.—  Oh, nem cheguei a pensar nisso. Desculpe. Estava preocupadademais com Rosa e fiquei o tempo todo ao lado dela.

Page 114: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 114/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 114 -

Tessa viu que havia algo mais interferindo, além do esquecimentodo concerto. Estaria Rae aumentando a pressão? A confirmaçãoveio em seguida.—

 Eu daria minha vida para fazer apenas o que gosto! —

 Tonyfalou subitamente.  —- Odeio ser mandado por Rae, como tenhosido. Só posso produzir o que poderá ser vendido, o que o públicocomprará com certeza. Gostaria de pintar o que gosto, sem sepreocupar se será vendido ou não. Mas não tenho alternativa, anão ser fazer o que ele quer. Desse jeito, nunca vou conseguiraperfeiçoar meu estilo.— Ora, vai sim! Você já está conseguindo! Acredito em você, e

Rae também. Ele apenas está lhe pedindo o que acha que émelhor, e conhece muito bem o mercado.Tessa o abraçou carinhosamente. .. Sem dúvida, ela o havia negli-genciado no piquenique. Ficou envergonhada ao lembrar aamabilidade que ele havia demonstrado durante toda a excursão,sua atenção solícita dirigida a todos. Tinha esquecido deagradecer por tudo aquilo. Ele nào podia ser censurado por estarmagoado.Rosa continuava recebendo flores e seu estado de espíritoera excelente. A especulação a respeito da pessoa que enviara obuque diariamente a excitava.A revelação apareceu uma semana depois, numa segunda-feira emque Tessa foi visitar a amiga. Ao chegar, a criada informou quehavia um homem com Rosita. A mãe dela estava na sala de estar.Quando entrou, um homem levantou de uma poltrona. A primeira

coisa que Tessa reparou foi que era ruivo.—  Isso nunca. . , eu não acredito!Diante dela estava Red, o homem que havia conhecido em Albu-querque, o homem que havia procurado desesperada mente.—  Também não acreditei, quando li nos jornais que a enfermeiramencionada não era outra senão minha companheira de vôo. Srta.Maitland, meu nome é Earl, Earl Windquist. Prazer em revê-la.Apertou a mão dela vigorosamente. Tessa olhou em seguida para

a sorridente Rosa. Ele acompanhou o olhar dela.

Page 115: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 115/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 115 -

—  Essa maravilhosa jovem, eu a conheci há algum tempo atrás,Você nunca acreditaria na nossa história. Estive procurando porela desde que cheguei.

Oh, sim, acreditaria, pensou Tessa. Com as pernas trémulas,sentou numa poltrona.—  Então, me conte.Earl, Rosa e Conchita começaram a contar a história ao mesmotempo. Depois, foi a vez de Earl contar como veio a descobrir suaamada, através dos jornais, depois de ter investigado, por todosos meios possíveis, desde a antiga casa onde morava até as listastelefónicas.

Como uma espectadora dedicada observando uma partida deténis, Tessa virava a cabeça da direita para a esquerda, de Earlpara Rosa. Vendo tanta felicidade naqueles rostos, ficouemocionada.—  As flores, elas foram enviadas por você?—   Foram! Eu não queria chegar de imediato, após nossa longaseparação, e provocar outro choque em Rosa. Logo que li sobre oacidente, comecei a enviar rosas. Quando nos conhecemos, eusempre mandava rosas amarelas para Rosa. Esperava que elapercebesse aos poucos que eu estava por perto novamente. Nomeio da semana, liguei para a sra. Ruiz e pedi a ajuda dela.Rosa estava feliz como nunca em toda a vida. Apontou para aspernas.—  E EarI não ficou nem um pouco desencorajado por isso. ..—  E por que me desencorajaria?  — Mostrou os braços.  — Eles

são vigorosos e meus ombros, também. Onde um carro ou umacadeira de rodas não puderem levá-la, eu a levarei!Conchita pegou um lenço e enxugou as lágrimas.—  Um noivado breve, para que vocês se certifiquem de suasemoções, nisso eu insisto. Oh, é tão maravilhoso! Quem poderiaimaginar que isso fosse acontecer?Tessa estava extasiada. Era um grande dia. Sua hipótese de queRed era o amor que Rosa havia perdido, há tempos, e agora

recuperado, havia se confirmado. Tudo que desejava era que os

Page 116: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 116/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 116 -

dois ainda tivessem a mesma afeição um pelo outro e que fossemfelizes para sempre. Rosa tinha agora um estimulo para serecuperar totalmente.

Tessa resolveu sair e deixá-los a sós, dizendo que precisavavisitar Marigold e contar as novidades.O momento não podia ter sido mais oportuno, pois encontrou airmã em estado de depressão. Sua saúde havia piorado um pouco.Mas alegrou-se ao ouvir as novidades,—  Isso é fantástico! Estou emocionada por eles. Pense nisso, Setudo correr bem, teremos um casamento e um balizado na famíliaao mesmo tempo. E, Tessa, você estará presente a ambos.

Animou-se e começou a fazer planos.—  Temos que pensar na roupa do batizado do bebê, e em quemconvidar. Farei uma lista quando minha dor de cabeça passar.Querida Rosa, quero que ela seja imensamente feliz, que viva nummar de rosas! Casando com   Earl, o caminho estará livre paraSep e Con. E o bebê terá um tio!  — Suspirou.  — Por falar embebê, que tal encontrarmos alguém para decorar o quarto dele?Tenho a sensação de que não vai demorar muito para nascer,Tessa consultou Tony a respeito de um decorador de confiança. eele a levou, numa noite, a um amigo decorador de interiores. Emseguida, sugeriu que fossem jantar tranquilamente numrestaurante.Para surpresa dela, levou-a ao imponente La Fonda, na praça cen-tral, uma taberna histórica que marcava o fim da estrada queconduzia à velha Santa Fé. Depois de admirar a fascinante

combinação de arquitetura espanhola e índia, Tessa olhouapreensiva para Tony.— Esse lugar parece muito caro. Que tal tomarmos apenas umdrinque aqui e sairmos para comer alguma coisa num lugar maismodesto?—  Não, esta noite. Hoje, vamos jantar em alto estilo. Umcoquetel, que tal um coquetel?Tomaram um drinque e observaram a socidade de Santa Fé

entrando e saindo.

Page 117: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 117/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 117 -

—  Você está maravilhosa.—  Você também  — ela retribuiu com um sorriso.Ele tinha se vestido com um cuidado todo especial. Como se esti-

vesse vendo aquele homem pela primeira vez, Tessa ficouadmirando sua pele cor de oliva, seus olhos negros, seu narizligeiramente grosso, seus lábios cinzelados, e se sentiu orgulhosapor estar a seu lado.Tantaram coquetel de camarão, seguido de filé de peixe commolho de alcaparras e um sorvete de morangos.—   Maravilha!  — disse Tessa, bebericando seu Grand Marniercom café.  — Você não devia gastar todo esse dinheiro. É o tipo

de jantar para ocasiões muito especiais.— Esta é uma.—  É mesmo? Quer dizer que estamos celebrando a volta de Earlpara os braços de Rosa? Eles têm saído constantemente decarro. É um sonho. Um sonho que se tornou realidade! Umverdadeiro caso de amor.Tony olhou para ela, pensativo.— Jamais conheci uma garota como você. A felicidade de seusamigos é a sua própria felicidade. É uma grande garota. Nuncaesqueça isso.Ao saírem para a praça, uma rajada de vento frio os atingiu.—  Parece que é o vento do norte chegando  — ele comentou.  — Oinverno deve estar próximo. Quando realmente chegar, teremosque limitar nossos encontros.—  Oh, não, isso não! ]á  estive pensando no assunto. Logo que o

bebê de Mari chegar, ela vai passar uns tempos fora com Rae,Wilma já deixou claro que não irá trabalhar regularmente. Dessamaneira, teremos um apartamento confortável para nossosencontros.—  Você pensa em tudo, querida, mas tenho minhas dúvidas deque Rae gostará da ideia.Durante todo o trajeto de volta, no táxi, ele ficou abraçado a ela,acariciando-a. Quando se separaram, beijou-a, ternamente.— Lembre que sempre amarei você  — disse.

Page 118: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 118/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 118 -

De repente, tudo começou a acontecer. Durante mais de doismeses, Tessa ficou imaginando como seria a chegada do bebê, aque horas nasceria, essas coisas.

Agora, tinha acabado de acordar com o telefone tocando. Ouviuos passos apressados no corredor e finalmente, uma batida emsua porta.— Tessa, Blair decidiu fazer uma cesariana em Mari  — disseRamon, excitado.  — Que alivio! Ele me garatiu que a cesariana é um método perfeitamente seguro. As condições de Mari nãopermitem que tenha um parto natural. O bebê deverá nascer emperfeitas condições, apesar de ter apenas oito meses de

gestação. Vou para a clínica imediatamente. Acha que podealternar comigo os períodos na clínica? Vou ter que ficar indo àgaleria para dar uma olhada nos negócios, e Mari pediu que um denós fique com ela o tempo todo.—  É claro!  — Tessa começou a colocar coisas em uma bolsa.—  Irei logo em seguida. Só vou pedir a Wílma que me faça umcafé. Quando chegou na clínica, havia um alvoroço. Ramon veio aseu encontro, a voz trémula.—  É um garoto. Pesa três quilos e trezentos gramas. Tessasentiu as lágrimas rolarem pelo rosto.—  E Mari? Ela está bem?—  Muito bem, e o garoto também. Eu o vi nascendo! Que expe-riência!Tessa sentiu um enorme alívio. Tudo havia terminado bem. Aslágrimas continuavam escorrendo por seu rosto. Mari e Rae

tinham um fílho; ela um sobrinho; seus país, um neto! A vida eramaravilhosa!—  Já escolhemos o nome: Álvaro Peter. .. os nomes dos doisavôs...  — ele continuava falando com muita emoção.Nesse momento, ouviram passos e uma voz arrastada.—  Venha comigo, meu amigo, precisamos de um repouso.Blaír Lachlan segurou o braço de Ramon e o acompanhou até aporta de saída.

Page 119: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 119/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 119 -

Para Tessa, aquela manhã foi de muita ação e excitação.Telefonou para os pais, na Inglaterra, avisou os amigos do casal,pediu flores para Mari. Ramon foi pessoalmente avisar a mãe e

Rosa, antes de dar uma passada na galeria.Completamente exausta, Tessa voltou para o apartamento nocomeço da tarde e sentou confórtavelmente num sofá. Tirou ossapatos e fechou os olhos.Um toque suave acordou-a. Ao abrir os olhos viu Ramon.—   Voltou para comer alguma coisa?   —   perguntou,surpresa.—  Devo avisar Wilma para preparar alguma coisa? Ele balançou a

cabeça, lentamente.—  Não é necessário. Tá pedi a ela que fizesse alguns sanduíches,Vim para falar ,com você.  — Assumiu uma postura de seriedade.—  Tenho que lhe contar uma péssima novidade. . . Ela levantou,tensa.—  Mari. .. sobre Mari? O bebê... alguma coisa errada?—  Não. Eles estão em boas condições. Não é nada com eles.  —Passou a mão na barba.  — Desculpe, eu devia ter colocado isso deoutra maneira. É Tony. ..—  Um acidente? Ele está ferido?  — Começou a torcer as mãos.Ele não...  — Não conseguia suportar mais.—- Não! Não! É outra coisa, acalme-se. Não foi nenhum desastre.Nem sei como lhe dizer. Talvez um drinque ajude. Vou buscardois conhaques.  — Virou-se e foi até o bar.—  Oh, não. Conte logo, por favor. Quero saber, preciso saber,

agora! O que aconteceu com Tony?—  Ele partiu, desapareceu. Ficou gelada.—  Não pode ser. .. ele não teria...   — Procurou,desesperadamente, uma razão.  — Deve ter saído por um ou doisdias para pintar alguma paisagem.. .—  Lamento lhe dizer que não é esse o caso. Ele levou todas assuas coisas e me deixou um bilhete. Disse que não  voltará mais!Estive em seu estúdio há uma hora para lhe dar a notícia do bebê.

O bilhete dizia que eu devia cuidar de você e expressava o pesar

Page 120: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 120/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 120 -

por ter que me deixar. Havia uma carta para você, também. Aquiestá. Deixe-me servir-lhe um drinque, e então, você lerá.Seus dedos tremiam, quando apanhou a carta. Escrita a lápis, as

palavras eram desiguais, quase ininteligíveis."Tessa, minha querida, Quando receber esta carta, eu estareibem longe de Santa Fé, e terei saído de sua vida para sempre.Você ê  uma garota com muitas qualidades para ficar com umhomem simples como eu. Tive consciência disso desde nossoprimeiro encontro, naquela noite. Mas foi amor a primeira vista.Ainda a amo, e é por isso que a estou deixando. Para a suafelicidade. Se tivéssemos que continuar desse jeito, você

acabaria sendo magoada com o tempo. Tentei me colocar à suaaltura. Não consegui. Não é justo tentar afastá-la dos outros, do jeito que eu estava tentando fazer; afastá-la de homensmelhores do que eu. Procure lembrar de mim com carinho. Nuncaa esquecerei. Acredite em mim. Estou me afastando para o seubem. Não tente me encontrar. De todo meu coração, desejo-lhemuita felicidade." Em letras maiúsculas, ele assinou o nome:"TONY". Ela sentiu um nó na garganta. Algumas lágrimas caíramsobre o papel da carta. Podia imaginá-lo curvado sobre uma mesarepleta de objetos, dirigindo seus olhares ciganos para a tela quetinha diante de si.inesquecível Tony! Ele havia tentado, e como havia tentado. Umaalma simples, de origem modesta, que achava o mundo muitosofisticado, estranho demais. Aquele jantar no La Fonda tinhasido seu gesto de despedida. Se ao menos, tivesse percebido,

quem sabe as coisas poderiam ter sido diferentes.As lágrimas haviam se transformado numa torrente, e os soluços,em gemidos.Ramon a abraçou, carinhosamente.—  Vou para meu quarto. Acho que você prefere ficar sozinha poralgum tempo.—  Acho que exigi demais dele  — Ramon disse, algum tempodepois, enquanto comiam os sanduíches que Wilma havia

preparado.  — Mas foi com a melhor das intenções, para o próprio

Page 121: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 121/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 121 -

bem dele. Sinto-me culpado agora, mas fiz o que achei melhor...Tempo, você deve se dar algum tempo para superar tudo isso,Tessa.

Empurrou um prato de sanduíches de atum na direção dela.— Você já experimentou esse? Nenhum? Ah. bem... eu não gos-taria de falar nisso, mas Tony nunca foi muito decidido. . . Seique é um grande desafio para uma pessoa que nasceu numpovoado, competir com artistas que nasceram numa grandecidade e estudaram. Imagino que esse foi seu grande problema.Olhou para Tessa. Ela permaneceu calada.—  Desde o princípio, estava preocupado com o relacionamento de

vocês, e me censurando por tê-lo convidado para a festa de suachegada. Mas naquele dia ele me pareceu mais solitário doque de costume. Com você ao lado, ele se tornou alegre, passou atrabalhar mais, fez um grande esforço, e comecei a acreditarnele, a achar que podia desenvolver seu considerável talento,ir em frente. Mas, ao mesmo tempo, me preocupei com oenvolvimento de vocês. Mari e eu procuramos adverti-la, mas,para alguém que ama, toda e qualquer proibição passa a ser umatentação.Tessa sentia o coração sangrando.—  O dinheiro que ele devia a você era muito?  — perguntou, nummurmúrio.—  Um ano de subsistência, apenas. Mas isso não me preocupanem um pouco. O que é a perda de dinheiro, comparada com aperda de um amor? Imagino que você esteja sofrendo muito, mas

espero que, com o tempo, volte a ser feliz. Em todo caso, comtanta coisa boa acontecendo para mim, não estou nem um poucoarrependido do dinheiro que acabei perdendo ao investir nele.Acabei de ter um filho maravilhoso, tenho uma esposa que amomuito. Rosa encontrou seu amor perdido e mamãe já começa aplanejar sua vida com Sep. A única pessoa que precisa deatenção é você. Em breve, Mari e nosso filho estarão de volta, evocê acabará se distraindo um pouco. Nesse meio tempo, conte

comigo. Quer ir até a galeria?  — Tessa recusou o convite. Ele fez

Page 122: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 122/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 122 -

nova proposta:  — Vou fechar a galeria e volto em seguida.Espere-me para irmos visitar Mari juntos e jantar fora, se vocêquiser.

Foi até a porta e virou-se.—  A propósito, a única coisa que Tony deixou foi seu retrato.Está na mesa do meu quarto. Dê uma olhada, se quiser.Ela continuou sentada, após a saída dele, fraca demais paraqualquer movimento. Seus pensamentos estavam dirigidos paraTony. Para onde teria ido? O que é que faria? Teria ido procurarrefúgio na casa de Inez?Finalmente, levantou e se dirigiu ao quarto de Marigold. Aproxi-

mou-se da mesa, cautelosamente. Lá estava ela diante de seuretrato.Experimentou uma sensação estranha, perturbadora. Era ela e,ao mesmo tempo, não era. Os olhos tinham a exata tonalidade deazul, e o rosto e a boca estavam corretamente desenhados. Onariz, perfeito. Mas, então, o que é que havia de errado? Olhoumais detalhadamente e percebeu. O retrato era idealizado. Orosto do desenho tinha uma beleza radiante que o original nãopossuía. Era tão perfeito como o rosto de uma princesa. £raassim que Tony a via como pintor e como homem.O amor é mesmo cego, pensou. Afastou-se lentamente e saiu doquarto, Ramon podia ficar com ele, vendê-lo na galeria, recuperarum pouco de sua perda. Mas e ela, como ia encontrar um meio decompensar sua perda?Foi para o quarto e se jogou na cama, deixando que as lágrimas

molhassem o travesseíro.

CAPÍTULO X

Dez dias, dez longos dias se passaram, desde que Tony haviadesaparecido, e Tessa foi aos poucos se adaptando a nova vida.

Não foi nada fácil. Não conseguia esquecer os momentos

Page 123: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 123/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 123 -

passados ao lado dele. Conscientizou-se de que havia ignoradocertas emoções, e isso a atormentava.Se fosse mais atenta e carinhosa, será que não teria ajudado

Tony de uma forma mais profunda? Não o teria ajudado aresolver seus problemas? As depressões constantes, a falta deapetite, a crescente incapacidade de trabalharsistematicamente, esses sinais e sintomas estavam todos lá, eramóbvios.A tristeza permanecia, mas a resignação havia substituído oressentimento e o desespero. Seu bilhete de despedida tinhauma ponta de verdade: havia muita diferença entre eles. Ela

tinha sido prevenida, mas não quis ouvir.— Melhor descobrir agora do que mais tarde  — Mari disse.Estranhamente, foi o retrato, mais do que qualquer coisa, mais doque qualquer pessoa, que a fez ver a realidade. Revelavaclaramente que Tony havia se apaixonado por uma ilusão. E seráque ela também não teria projetado sobre ele seu próprio idealde homem, vendo-o como queria ver e, não, como realmente era?A afeição que lhe deu era mais do tipo mãe para filho do que umamulher para um homem. Esse tipo de amor não seria o suficientecom o passar do tempo.Mas devia muita coisa a Tony. Sua admiração e sua estima por elahaviam lhe proporcionado autoconfiança, um melhorconhecimento de si mesma. Aonde estaria ele agora? Será queseu talento sobreviveria? Com a ajuda de alguém da mesmaorigem, de ínez quem sabe?

Desde aquele fatídico dia, esteve ocupada todo o tempo.Preparou o quarto para a chegada de Álvaro Peter, colocandocortinas, comprando berço e outros móveis. Wilma ajudou nascompras. Dessa maneira, Tessa conseguia afastar um pouco atristeza.Mas essa tristeza voltava de vez em quando, com toda a força.Ao observar Marigold com Ramon, Rosa com Earl, Conchíta comSep, sentia um desejo ardente de amar e ser amada por alguém.

O choque que havia sofrido levou-a a uma firme resolução. Na

Page 124: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 124/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 124 -

próxima vez, devia experimentar uma forma diferente de amar,um amor de uma mulher madura por uma homem maduro.As ruas estavam cobertas de neve e um vento gélido arrancava as

últimas folhas das árvores. Ao chegar à clínica, naquela manhã,Tessa sentiu uma forte emoção por ser sua última visita regular.No dia seguinte, Marigold voltaria para casa com o bebê. Numcerto sentido, sentia alívio; num outro, lamentava. Via alibertação de sua visita diária como uma bênção e também comouma perda. Sentiria a falta da atmosfera da clínica, porque nelase sentia verdadeiramente em casa e gostava de conversar comos funcionários, com o dr. Sep, a enfermeira Fisher, todas as

enfermeiras e também com Blair Lachlan, que era um desafioconstante para ela.As fofocas dos funcionários eram algo de que também ia sentirfalta, Naqueles seus últimos dias de visita, as fofocas giravamem torno da atenção que Debra Petersen estava dirigindo ao novomédico. De acordo com a enfermeira Fisher, a opinião geral eraque o recém-chegado estava sendo usado para provocar ciúme emBlair Lachlan e, em consequência, levá-lo ao altar. Será que Debraconseguiria?Tessa estava se dirigindo para o portão de entrada, quando viuuma ambulância parando no meio-fio.Um grito chegou até seus ouvidos. Uma mão acenava da janela daambulância. O motorista devia estar precisando de algumainformação.—  Posso lhe ser útil em alguma...  — Parou, prendendo a respira-

ção.  — Você? Mas o quê. . .Blair Lachlan sorriu.—  Não tenho tempo de explicar agora. A resposta à suapergunta é sim: preciso de uma enfermeira,  — Abriu a porta eordenou:  — Suba imediatamente. Não tenho tempo a perder.Tessa olhou para ele desorientada.—  Mas Mari. , . ela está esperando. . .—   Não, não está! já avisei a ela que ia precisar de você, quando

soube que estava vindo para cá. Não se preocupe com sua irmã.

Page 125: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 125/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 125 -

Ela receberá muitas visitas durante todo o dia. Não sentirá suafalta. Suba,eu disse!—

 E por que eu deveria entrar nessa ambulância?Ele desceu e segurou-a pelo braço e empurrou-a para dentro.—  Explico no caminho  — falou, dando a partida.  — já disse quenão podemos perder um minuto.A ambulância saiu disparando no meio do tráfego com a sireneligada.—  Quero saber agora!  — Tessa gritou furiosa,—   Hoje é meu dia de visitar um povoado e minha enfermeira não

Veio trabalhar. Isso acontece todas as vezes que um dos filhosadoece. Aquele dia em que nos encontramos em Los Arboles, eu iaperguntar a você se estaria disposta a trabalhar comigo nessasocasiões, mas o porteiro não me permitiu. Não tem nenhumencontro, nada melhor para fazer hoje, Marigold me disse. Porisso, não tente me convencer do contrário. Você não pode, comcerteza, negar um pouco de seu tempo para ajudar um navajonecessitado e os oprimidos que vivem na miséria.— E o que é que você me diz do sequestro que está cometendo? Ese eu gritasse, avisasse a um policial num cruzamento qualquer?— Grite!  — Ele estava sorrindo.  — Você não é uma criança, parecom isso! E os policiais daqui são todos meus amigos. Direi quevocê é uma passageira clandestina. Relaxe e sinta-se lisonjeadapor ser convidada. Imaginei que ficaria feliz em ter essaoportunidade. Apesar das minhas advertências, você insistiu em

desperdiçar sua habilidade cuidando daquela sua estouvada irmã.Hoje será um dia muito mais compensador para você!Pararam num farol. Ela olhou para ele com uma expressão alegre.Esse homem é um demónio, pensou.A ambulância partiu quando o farol ficou verde. Ele procuroufalar mais alto do que o barulho do motor.—  Você vai cuidar de alguns bebês, fará algumas anotações, aju-dará algumas mães a se despirem quando for necessário,

distribuirá alimentos.

Page 126: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 126/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 126 -

Ele jogou a cabeça para trás, indicando o fundo da ambulância.—  Ali está todo o equipamento necessário, bem como osalimentos doados por uma entidade da caridade. Alguma

pergunta?Tessa não tinha nada a perguntar. Sentia-se incapaz de pensarem algo. O barulho do motor a impedia de se concentrar.—  O almoço  — ela começou, após uma pausa.  — No povoado, ondeiremos comer? Devemos comprar alguma, coisa, antes de sairmosda cidade?—  Não me importo em dividir meu lanche com você!Olhou, indignada, para os dedos firmes que seguravam o volante,

evitando encará-lo.—  Aprendi a dirigir ambulância igual a essa no Vietnam  — eledisse, observando-a de relance.  — Meu melhor amigo, outromédico, sempre me acompanhava. Infelizmente, não sobreviveu auma bomba que despedaçou a ambulância, quando estávamos indosocorrer alguns feridos. Perdi um grande companheiro, e, Debra,um bom marido.—  Debra? Ela foi casada com um médico do Exército? Ele fezque sim.— Quando fomos atingidos, Tex ainda viveu algumas horas. Eleme implorou, agonizante, que eu visitasse sua esposa quandovoltasse, que a ajudasse no que fosse preciso. Prometi a ele quefaria tudo por ela. Quando voltei, Debra precisou urgentementede um emprego e eu, de uma secretária. Dessa forma, ela veiotrabalhar na clínica.

A estrada começou a ficar esburacada e o barulho do motoraumentou. Via os lábios dele se moverem-, mas não conseguiacaptar uma só palavra. De repente, ele parou de falar, sorriumeio encabulado e encolheu os ombros.Tessa estava imóvel. Por que aquela súbita confissão? Por quetodaaquela explicação? Seria uma forma de anunciar seu casamentocom

Debra Petersen?

Page 127: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 127/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 127 -

À medida que subiam, a estrada ia ficando coberta de neve.Alguns quilómetros mais adiante, chegaram a um pequeno povoadode casas de madeira. Em uma delas havia uma tabuleta: "Escola".—

 Vamos nos instalar aqui —

 disse Blair. —

 Teremos um diabastante movimentado. Olhe só o que nos espera.Uma fila de mulheres com bebês no colo esperava pacientementepela chegada do médico. A professora da escola saiu nessemomento, seguida pelos alunos, e cumprimentou os dois. Como dehábito, serviria de intérprete,Não demorou muito para que Tessa percebesse como suaassistência era necessária. Havia pelo menos uns quarenta bebês

para examinar. As mulheres hesitaram em se despir para osexames necessários e insistiam em ficar de chapéu, mesmoquando tinham que deitar. Com alguma dificuldade, Tessaconseguia reprimir o riso.Blair examinava pacientemente tanto as mães quanto os bebês,atento e sorridente. Mas foi um gesto dele, ao examinar umacriança com lábio leporino, que quase a levou às lágrimas. Com acriança no colo, ele abaixou a cabeça e tocou lentamente aquelaboca deformada. Com infinita paciência e uma amabilidadeincrível, garantiu à ansiosa mãe, que aquele defeito podia ser, eseria, corrigido por uma cirurgia.Tessa desviou o olhar e passou a manga da blusa nos olhos cheiosde lágrimas. Uma enorme emoção nasceu dentro dela. Naquelemomento, sentiu que o amava. Aquela cicatriz que ele tinha norosto e que o havia tornado supersensível, havia, também

sensibilizado o médico em relação ao sofrimento dos outros.Como pôde ter feito um mau juízo dele?Após examinarem metade das pessoas que esperavam, saírampara a varanda para comer os sanduíches que Blair havia trazido.Algumas mulheres chegaram com canecas de chocolate quente.Tessa respirou fundo. O ar fresco era como um tónico que aestimulava.—  Tome cuidado  — advertiu Blair.  — Esse frio seco é perigoso. A

temperatura está mais baixa do que você pensa.

Page 128: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 128/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 128 -

Apanhou seu casaco na ambulância e colocou-o nos ombros dela.O toque de seus dedos a arrepiou.—   Nossas pacientes não são tão obsessivas quanto nós pela

limpeza. Muitas vezes, precisam de um bom banho. Mas aprendemcom facilidade e são bastante inteligentes.  — Deu uma mordidano sanduíche.  — A dificuldade surge quando essa gente tentafazer a transição entre sua maneira de viver e a nossa. O abismoé enorme.  — Olhou-a nos olhos.  — Um artista que eu conheço nãovenceu o desafio da cidade grande e acabou abandonando-a.Ela ficou imóvel. Então, ele sabia, tinha ouvido a respeito deTony...

Ele pigarreou.—  Superficialmente, esse homem tinha muita coisa a seu favor:beleza, talento, carisma. Mas, sob tudo isso, sentia falta deconfiança em si mesmo, uma sensação de não saber quem era, denão se ajustar ao nosso modo de vida.  — Sua voz tornou-se maisbranda.  — Eu quis preveni-la naquela primeira noite, quando a vidançando e dedicando toda sua atenção a ele. Mas a ética nãopermite que um médico fale a respeito de seus pacientes.Ele acenou em direção à porta de entrada.—  Olhe quanta gente ainda falta. Vamos voltar ao trabalho,senão, não terminaremos hoje. Ação, Tessa Maítland!Quando atenderam o último paciente, já começava a anoitecer.Entraram na ambulância, acenaram e partiram.Tessa estava mais do que nunca consciente daquela figurapoderosa sentada ao lado dela, de seus braços musculosos, de seu

corpo esbelto. A emoção era tão forte, que ela quase nãoconseguia suportar. Mari tinha razão, afinal. Esse homem era umgigante no meio dos outros.Mas era um gigante com um coração de criança. Cantaroloudurante o trajeto mais acidentado, e, quando entraram na auto-estrada, começou a assobiar uma canção folclórica da região.Parou de repente e pareceu procurar alguma coisa em ambos oslados da estrada.

Page 129: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 129/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 129 -

—  Estamos chegando perto de um restaurante chamadoCatarata Murmurante, jantaremos lá. Aqueles sanduíches foraminsuficientes para matar a nossa fome. Você merece um

excelente jantar, Tessa Maitland. Ah, aí está ele!Ela segurou o braço dele.—  Mas eu preciso voltar. Mari está me esperando.—  Então., deixe-a esperar! Ao menos uma vez, pense em vocêmesma, e não, em sua irmã!—  Mas. . . mas eu preciso avisá-la.—  Você vai avisá-la, Tessa Maitland. Este é um Estado bastantecivilizado. Temos telefones até nos restaurantes! Bell os

inventou neste país, lembra? Você telefonará para Marigold e lhedirá aondeestá.Entrou no estacionamento e parou a ambulância. Desceu e foiabrir a porta para Tessa. Estendeu-lhe os braços para fora. Asmãos dele, em volta de sua cintura, a fizeram estremecer dedesejo.—   O telefone está ali. Está vendo?  — E acompanhou-a até acabine.Encostou-se num pilar, arrogantemente confiante, enquanto elafechava a porta. Excepcionalmente bonito. . . ele era fascinante,atraente. .. Como pôde ser tão cega durante todos aquelesmeses?— Tudo bem?  — ele perguntou, quando ela saiu.  — Você podechegar mais tarde? Eu também posso. Sep se encarregará do que

houver de mais urgente lá na clínica.Entraram e escolheram uma mesa de canto.—  Vou pedir champanhe. Assim, podemos celebrar.—  Celebrar? Celebrar o quê?Um sorriso malicioso esboçou-se em sua boca sensual.—  Um noivado. Um noivado que está prestes a ser anunciado. Elasentiu um calafrio.—   Mas. . , mas você não devia estar falando isso com, . . com sua

namorada?

Page 130: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 130/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

Livros Florzinha - 130 -

Ele jogou a cabeça para trás.—  Tem razão. Essa é exatamente a minha intenção!Seu coração batia feito louco e ela sentiu o rosto em chamas.—

 Eu. . . eu não estou entendendo. . . você e Debra. . . naquelanoite no La Sevilla. Não sei. . . eu pensei. ..—  Então, pensou errado! Tessa Maitland, você não deve tirarconclusões apressadas! Aquele jantar significou muito para Deb epara mim. Foi a oportunidade de agradecermos um ao outro pelaajuda que nos prestamos durante um período difícil de nossasvidas. Mas gratidão não é suficiente, não é uma base para umrelacionamento permanente.  — Segurou a mão dela.  — Não

entendeu o que eu disse, quando nos dirigíamos para o povoado?Não fui claro?Ela desviou o olhar. Ele segurou o rosto dela e fez com que oencarasse.—   É você que eu quero, Tessa Maitland. Eu a desejei desde o diaem que chegou. Percebi imediatamente, mas não cheguei aconfessar porque você esteve todo o tempo com outro homem,sendo tocada e acariciada por ele. Senti um ciúme terrível.  —Acariciou o rosto dela e os cabelos.  — Desde então, fiquei naexpectativa. Tive que esperar até que seus maravilhosos olhossurgissem detrás da névoa que os escureciam.Trouxe-a para bem junto dele e olhou para os lados.—  Não, não aqui. Há muita gente. Vamos para a varanda.Abraçando-a pela cintura, levou-a para a varanda envidraçada.Apontou para a lua cheia, amarelada, reinando naquele céu de

veludo negro.—   Eu não podia esperar por uma noite mais linda do que esta.  —Olhou-a no fundo dos olhos.  — E, então, Tessa Maitlartd? Sim ounão?—  Sim ou não, o quê?—  Sim ou não, você quer trocar seu sobrenome? Tessa Lachlan,uma maneira simples de eu jamais esquecê-la.—  Me dê uma boa razão para eu trocar meu sobrenome  — ela o

desafiou, com um sorriso nos lábios.

Page 131: Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

8/10/2019 Constance Lea - Quando as Nuvens Passam

http://slidepdf.com/reader/full/constance-lea-quando-as-nuvens-passam 131/131

Quando as nuvens pass am (Nurse in New México) Consta nce Lea

Bianca no. 118

—  Isso é o cúmulo! Meu nome não lhe agrada, mulher?  — Res-pirou fundo e abaixou a cabeça.  — Está bem. Eu admiro você,preciso de você; acho que me entende e eu a entendo, e. . . e eu

amo você. Isso é suficiente?Ele a abraçou. Seus corpos nunca estiveram tão próximos, seuscorações nunca estiveram tão unidos.—  Mais que o suficiente  — ela sorriu novamente e se entregouao calor daquele beijo, sabendo, no íntimo, que todo o tempoesperava por esse momento.

F I M