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Geraldine Faccio da Silveira CONSIDERAÇÕES ANATÓMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO APARELHO ESTOMATOGNÁTICO Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto 2016

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  • Geraldine Faccio da Silveira

    CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

    APARELHO ESTOMATOGNTICO

    Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

    Porto 2016

  • Geraldine Faccio da Silveira

    CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

    APARELHO ESTOMATOGNTICO

    Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Cincias da Sade

    Porto 2016

  • ii

  • iii

    Geraldine Faccio da Silveira

    CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

    APARELHO ESTOMATOGNTICO

    _________________________________________________

    Monografia apresentada Universidade Fernando Pessoa

    como parte dos requisitos para a obteno do grau de

    Mestre em Medicina Dentria

  • iv

    RESUMO

    Introduo: com o crescente aumento da expectativa de vida, o conhecimento das

    alteraes anatmicas e fisiolgicas que ocorrem no aparelho estomatogntico durante o

    envelhecimento de suma importncia para a correta avaliao do paciente idoso.

    Objetivos: descrio e abordagem das principais estruturas anatmicas do indivduo,

    adulto e idoso. Estabelece-se uma anatomia comparativa e evolutiva durante o processo

    de envelhecimento. Pretende-se contribuir para o conhecimento e reflexo sobre o tema

    em questo e demonstrar a aplicabilidade deste conhecimento em contexto clnico.

    Mtodos: realizou-se pesquisa bibliogrfica, nas bases de dados Pubmed, b-on SciElo e

    Elsevier, no perodo entre 2006-2016.

    Resultados: Maxila - ocorre reabsoro ssea, alterao no contorno do arco da maxila,

    retruso maxilar, rotao da maxila no sentido horrio, diminuio gradual e constante

    do ngulo maxilar e reduo vertical da altura maxilar. Mandbula - aumento do ngulo

    da mandbula, diminuio da densidade e volume sseo. Articulao gonfose e

    Articulao Temporo-Mandibular - pode ocorrer tanto anquilose, como perda das

    estruturas de suporte. Observa-se degenerao e/ou perfurao do disco radicular e

    alterao do formato do cndilo. Dentes - cries radiculares, fraturas dentrias e desgaste

    dentrio. Ocorrem modificaes histolgicas no esmalte, dentina e polpa dentria.

    Periodonto: reabsoro do osso alveolar, gengiva atrfica com tendncia a migrao

    apical, deposio apical das camadas incrementais e desgaste de cemento exposto,

    ligamento periodontal fino, irregular e diminuio do espao periodontal.

    Concluses: as alteraes anatmicas decorrentes do envelhecimento fisiolgico so

    mltiplas. O Mdico Dentista diante de um paciente idoso, dever conhecer e distinguir

    entre uma alterao decorrente do envelhecimento fisiolgico e uma alterao

    patolgica, para o correto diagnstico clnico e uma excelente deciso teraputica. O

    Mdico Dentista dever contribuir para o envelhecimento saudvel e para tal deve ser

    conhecedor em pleno da temtica do presente trabalho.

  • v

    Palavras-chave: odontogeriatria, anatomia, histologia, maxila, mandbula, ATM,

    periodonto, esmalte, dentina, polpa dentria

  • vi

    ABSTRACT

    Introduction: Global average life expectancy is increasing. Understanding the normal

    age-related changes in the stomatognathic system is crucial practice in Geriatric

    Dentistry.

    Goals: description and approach of the main anatomical structures of the individual, adult

    and elderly. Establishing a comparative anatomy and evolving during the aging process.

    It is intended to contribute to knowledge and reflection on the topic in question and

    demonstrate the applicability of this knowledge in clinical context.

    Methods: Literature research in the Pubmed, b-on, SciElo and Elsevier. Inclusion of

    articles published between 2006-2016.

    Results: Maxillary - bone resorption, arch contour change, maxillary retraction,

    clockwise rotation, decrease angle and height reduction. Mandible - increase of angle and

    decreased of branch height, density and bone volume reduction. Gonfose joint and

    Temporomandibular joint - ankyloses or loss of support structures, degeneration and / or

    perforation of the disk and changes in the condyle format. Teeth - root caries, fractures

    and teeth wear. Histological changes in enamel, dentin and dental pulp. Periodontium -

    alveolar bone resorption, atrophic gum to apical migration, apical deposition of

    incremental layers and wear of exposed cementum, periodontal ligament thinning and

    periodontal space decrease.

    Conclusion: anatomical changes due to physiological aging are multiple. The dentist on

    an elderly patient should know and distinguish between a change resulting from normal

    aging and pathological change and an excellent therapeutic decision. The dentist should

    contribute to healthy aging and to do so must be knowledgeable in full the theme of this

    work.

    Keywords: geriatric dentistry, anatomy, histology, maxillary bone, jaw,

    Temporomandibular joint, periodontal, enamel, dentin, dental pulp.

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Aos meus amados e queridos pais, Jos Joo e Regina Stela, responsveis pela minha

    formao pessoal e, em grande parte, pela profissional. Obrigada por tudo, por me

    ensinarem os pilares para ser um ser humano digno, honrado e bondoso; por me ensinarem

    a importncia do estudo no crescimento pessoal e intelectual; pelo apoio incondicional na

    tomada da minha deciso de embarcar numa nova aventura pessoal e profissional na

    Europa; e, principalmente pelo infinito amor que sempre demonstraram e por serem meu

    porto-seguro. Amo vocs!

    Prof. Doutora Augusta Silveira, agradeo pela confiana depositada em minha

    pessoa e apostando na minha capacidade no desenvolvimento deste projeto. Obrigada por

    sua dedicao, que muito contriburam para o meu crescimento cientfico, intelectual e

    pessoal.

    A Universidade Fernando Pessoa, na pessoa do seu Reitor, Prof. Doutor Salvato

    Trigo, e Diretora Clnica, Prof. Doutora Sandra Gavinha pela oportunidade de

    realizao do curso Mestrado Integrado em Medicina Dentria.

    Aos meus amigos, pela presena constante, apoio, incentivo e pacincia nos momentos

    que precisei. Principalmente as queridas Juliana Sfadi, Fernanda Mesquita, Ana Rita

    Oliveira, Dbora Brancaglione e a Ana Paula Gomes que fizeram este perodo muito mais

    alegre e agradvel. Obrigada!

    Aos meus preciosos irmos, Tatiana e Rodrigo, que me mostraram que a persistncia no

    estudo leva ao sucesso muito antes do que imaginamos.

    Ao meu queridos sobrinhos Guilherme e Ana Beatriz, que me relembram diariamente a

    magia e da alegria das descobertas.

    Ao meu querido Ricardo, que com muito carinho me incentivou nesta nova jornada.

    Agradeo especialmente a minha grande mestra Dr. Regina Stela Faccio da Silveira, que

    tenho o prazer de t-la como me, que me ensinou no apenas que o estudo o melhor

    caminho a ser trilhado, como tambm que a dedicao e a paixo na cincia da Medicina

    Dentria so ingredientes para a felicidade e sucesso na profisso. Minha eterna gratido!

  • viii

    NDICE

    I. INTRODUO ................................................................................................... 1

    II. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................... 5

    1. MATERIAL E MTODOS ......................................................................................... 5

    2. CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

    APARELHO ESTOMATOGNTICO ............................................................................ 6

    2.1 Maxila............................................................................................................. 6

    2.2. Mandbula .................................................................................................... 10

    2.3. Artrologia ..................................................................................................... 13

    2.3.1 Gonfose ............................................................................................... 13

    2.3.2 Articulao Tmporo-Mandibular (ATM) .......................................... 14

    2.4. Anatomia Dentria ....................................................................................... 17

    2.4.1 Aspectos macroscpicos por grupo dentrio ....................................... 17

    2.4.2 Esmalte, Dentina e Polpa Dentria ...................................................... 20

    2.5. Estruturas Periodontais ................................................................................ 24

    2.5.1 Osso Alveolar ...................................................................................... 25

    2.5.2 Cemento .............................................................................................. 26

    2.5.3 Gengiva ............................................................................................... 27

    2.5.4 Ligamento Periodontal ........................................................................ 29

    III. DISCUSSO ..................................................................................................... 31

    IV. CONCLUSO ................................................................................................... 47

    V. PERSPECTIVAS FUTURAS .......................................................................... 50

    VI. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 51

    ANEXOS ....................................................................................................................... 63

  • ix

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Alteraes da curvatura do arco maxilar (Williams, 2010). ............................ 8

    Figura 2 - Retruso maxilar (Mendelson & Wong, 2012) ................................................ 9

    Figura 3 - Tomografia computadorizada mostrando o ngulo maxilar - reduzido no

    indivduo idoso (Shaw & Kahn, 2007). ............................................................................ 9

    Figura 4 - reas de reabsoro ssea (Mendelson & Wong, 2012). .............................. 10

    Figura 5 - Alteraes da mandbula (Ghaffari, 2013). .................................................... 12

    Figura 6 - Esquema representativo dos tecidos e das interfaces da gonfose (Ho et al.,

    2007). .............................................................................................................................. 14

    Figura 7 - Anatomia da ATM boca fechada (Choi et al., 2012). ................................. 15

    Figura 8 - Disco articular - setas indicam perfurao do disco (Stratmann et al., 1996).16

    Figura 9 - Desgaste dentrio (Bartlett & Dugmore, 2008). ............................................ 19

    Figura 10 - Desgaste dentrio (Burke & McKenna, 2011). ............................................ 19

    Figura 11 - Desgaste dentrio causado por distrbio gstrico bulimia (Burke &

    McKenna, 2011). ............................................................................................................ 21

    Figura 12 - Desenho esquemtico dos tipos de danos mecnicos do esmalte (Lucas &

    Casteren, 2015). .............................................................................................................. 22

    Figura 13 - Remodelao dentoalveolar (Margveelashvili et al., 2013). ....................... 26

  • x

    ABREVIATURAS

    % - Percentagem

    ATM - Articulao Temporomandibular

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    1

    I. INTRODUO

    Segundo a definio da Organizao Mundial de Sade, o indivduo idoso aquele que

    possui 65 ou mais anos. Em 2010, cerca de 8% da populao mundial era idosa, e,

    estima-se, que este valor duplique em 2050. As taxas de longevidade mais elevadas so

    observadas nos pases desenvolvidos, representando 15,8% da populao geral. Em

    Portugal, segundo o Censo 2011, realizado pelo Instituto Nacional de Estatstica, cerca

    de 19% da populao idosa, com a regio Centro acima da mdia, com 22,4%

    (Europeu, 2010; Censo, 2012).

    Verifica-se, nos pases europeus, uma mudana na pirmide populacional, com a

    diminuio da base e alargamento do topo; decorrente da diminuio da taxa de

    natalidade e aumento da longevidade (Censo, 2012)

    A diminuio da taxa de natalidade traz diversas consequncias; sendo que, do ponto de

    vista socioeconmico, a mais importante, a reduo da populao economicamente

    ativa ao longo dos anos. Atualmente, h quatro pessoas economicamente ativas para cada

    idoso na Unio Europeia. Mantendo-se os ndices da taxa de natalidade e expectativa de

    vida nos ritmos atuais, estima-se que, na Unio Europeia, nos anos de 2060, haver dois

    indivduos economicamente ativos para cada inativo; sobrecarregando, portanto, o

    sistema previdencirio (Europeu, 2010).

    Neste mesmo contexto, o sistema de sade pblica, tambm, ver-se- sobrecarregado,

    pois, com o aumento da longevidade, as patologias crnico-degenerativas, fsicas e

    mentais, tendem a aumentar, em nmero, e, em complexidade, exigindo maior atuao

    do Sistema de Sade.

    Dessa forma, a participao do idoso na vida social indispensvel, evitando o

    isolamento, que, muitas vezes, caracteriza o indivduo nesta fase; e faz com que, muitas

    doenas, se desenvolvam, ou, no mnimo, se agravem. A presena de amigos,

    conselheiros e familiares que fazem parte da rede social do idoso fundamental em seu

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    2

    cotidiano, diminuindo, pois, a percentagem de isolamento, e, com isso, o

    desenvolvimento de doenas e do alto ndice de depresses.

    As diversas atividades culturais, tais como, teatro, cinema, espetculos musicais, que no

    apresentam limitao quanto idade, so timos para a vida e o lazer do indivduo idoso.

    importante que as expectativas pessoais, nessas reas, para msicos e todos aqueles

    que apreciam as artes e as expresses corporais, sejam mantidas at a idade mais

    provecta possvel.

    O envelhecimento resulta de uma complexa interao entre os processos celulares,

    orgnicos e sistmicos; com influncia de fatores genticos, ambientais, alimentares,

    infeciosos, fsicos, psquicos e sociais. As alteraes anatmicas e fisiolgicas so

    inevitveis, surgem de maneira normal, e atingem todos os indivduos. O processo de

    senescncia caracteriza-se pela deteriorao gradual, contnua e irreversvel das diversas

    funes celulares e dos vrios processos fisiolgicos, culminando com a alterao da

    capacidade adaptativa do organismo face s agresses a que est sujeito ao longo da vida

    e da acumulao de detritos celulares e moleculares por falncia das capacidades de

    reparo e regenerao celular (Verssimo, 2014).

    Devido ao aumento da expectativa de vida, uma etapa desafiadora compreender as

    bases biolgicas do envelhecimento, bem como as alteraes moleculares, celulares e

    morfolgicas que resultam no aparecimento de alteraes anatmicas associadas ao

    envelhecimento.

    O tema escolhido para o desenvolvimento deste trabalho na generalidade, a descrio

    das alteraes anatmicas do aparelho estomatogntico durante o processo de

    envelhecimento. O conhecimento adquirido, ao longo dos anos pela sociedade cientfica,

    nas reas da antropologia e anatomia vem contribuindo para o melhor entendimento das

    alteraes que ocorrem nos seres humanos associado ao envelhecimento. Estes

    conhecimentos tornaram-se extremamente relevantes na atualidade, uma vez que, o

    aumento crescente da expectativa de vida, tem sido uma realidade em todas as sociedades

    desenvolvidas.

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    3

    Assim, a motivao que me levou a discorrer sobre as consideraes anatmicas do

    envelhecimento do aparelho estomatogntico foi, de pronto, oferecer, ao leitor, uma

    viso clara, sobre as alteraes anatmicas ocorridas, nesta rea, na velhice; pois, exceto

    aqueles que partem prematuramente, o destino do ser humano envelhecer. O idoso no

    um jovem envelhecido, um ser humano repleto de experincias e anseios distintos

    dos seus considerados anos juvenis, seu corpo moldado com o passar dos anos, obriga-o

    a algumas adaptaes e ao convvio com algumas limitaes. Outro aspeto importante

    para a escolha do tema a minha paixo, desde os tempos de criana, pela magnfica

    mquina chamada Corpo Humano- conhecer as suas alteraes anatmicas ao

    envelhecer despertaram-me uma grande curiosidade representando a motivao para

    estudar estes aspetos do ser humano que tanto me fascinam.

    Neste contexto, extremamente relevante o conhecimento das estruturas normais do

    aparelho estomatogntico e das suas alteraes prprias decorrentes do envelhecimento,

    a fim de, primeiro, identific-las, e, posteriormente, distingui-las de alteraes

    patolgicas tambm existentes neste aparelho. Assim, a demonstrao de alguns aspetos,

    e a discusso sobre as alteraes anatmicas do envelhecimento do aparelho

    estomatogntico, podem contribuir para o conhecimento e a reflexo sobre o tema em

    questo.

    Para a produo deste trabalho, foi realizada, uma reviso de literatura, atravs de busca

    de artigos cientficos em bibliotecas virtuais, tais como: Pubmed, B-on, Scielo, Elsevier

    e Google acadmico, alm de livros publicados relacionados com o tema em estudo na

    Biblioteca da Universidade Fernando Pessoa e na Biblioteca das Cincias da Sade da

    Universidade de Coimbra.

    Este trabalho foi estruturado de forma a abordar os assuntos mais pertinentes sobre o

    envelhecimento anatmico do aparelho estomatogntico. Em princpio, neste item I, ser

    realizada a Introduo do trabalho, no qual consta, resumidamente: o objeto do trabalho,

    as motivaes pessoais e acadmicas que levaram a autora a escolher este tema, os

    objetivos do trabalho, a estrutura do trabalho.

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    4

    No item II, ser realizada a descrio, mais detalhada, dos mtodos utilizados para a

    realizao deste trabalho; bem como, sero abordadas as modificaes decorrentes do

    envelhecimento das principais estruturas do sistema estomatogntico, tais como:

    osteologia da maxila e mandbula; artrologia, com nfase para a gonfose e articulao

    tmporo-mandibular; anatomia e histologia dentria, descrevendo os aspetos

    macroscpicos por grupo dentrio e esmalte, dentina e polpa dentria; estruturas

    periodontais, tais como o osso alveolar, cemento, gengiva e ligamento periodontal. Esta

    abordagem ter carcter descritivo e ilustrativo para melhor compreenso das alteraes

    que ocorrem no corpo humano com o envelhecimento.

    A Discusso sobre as abordagens expostas, das alteraes anatmicas do aparelho

    estomatogntico no envelhecimento ser apresentada no item III. Os itens IV e V sero

    compostos pelas concluses tiradas pela autora sobre o tema exposto e consideraes

    finais acerca do envelhecimento anatmico do aparelho estomatogntico e suas

    perspetivas futuras, respetivamente.

    O item VI ser composto pelas Referncias Bibliogrficas consultadas e estudadas para

    a realizao deste trabalho.

    O objetivo deste trabalho consiste na descrio e abordagem das principais estruturas

    anatmicas do indivduo, adulto e idoso. Estabelece-se uma anatomia comparativa e

    evolutiva durante o processo de envelhecimento. Pretende-se contribuir para o

    conhecimento e reflexo sobre o tema em questo e demonstrar a aplicabilidade deste

    conhecimento em contexto clnico.

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    5

    II. DESENVOLVIMENTO

    1. MATERIAL E MTODOS

    As pesquisas foram realizadas atravs de artigos cientficos nas bibliotecas virtuais:

    Pubmed, b-on, SciELO, Elsevier e Google acadmico; alm de livros relacionados com

    o tema de estudo na Biblioteca da Universidade Fernando Pessoa do Porto e na

    Biblioteca das Cincias da Sade da Universidade de Coimbra, estes ltimos sem

    qualquer limite temporal.

    Os critrios de incluso na reviso bibliogrfica de artigos foram: limite temporal, desde

    janeiro 2006 at maro de 2016, numa primeira reviso; no entanto, numa segunda

    reviso, tornou-se pertinente a referncia a alguns artigos mais antigos, escritos em

    lnguas inglesa e portuguesa; e artigos com disponibilidade de texto na ntegra.

    Os critrios de excluso foram: assunto no diretamente pertinente para incluso do

    trabalho; artigo no disponvel na base de dados eletrnicos; artigo disponvel em lnguas

    diferentes das impostas nos critrios de incluso; e, artigos apresentados repetidamente

    nas bases de dados.

    Para a busca dos artigos cientficos usaram-se as seguintes descries/palavras-chave:

    Maxilla AND Ageing, Mandible AND Ageing, Dental arthrology, Gomphosis

    AND Anatomy AND Ageing, Temporomandibular joint AND Anatomy AND Ageing,

    Enamel AND Ageing, Dentin AND Ageing, Dental Pulp AND Ageing, Alveolar

    bone AND Ageing, Cementum AND Anatomy AND Ageing, Gingival AND Anatomy

    AND Ageing, Periodontal ligaments AND Ageing. Na Tabela 1, em anexo, encontra-

    se descrita a pesquisa bibliogrfica, com o nmero total de artigos encontrados na base

    de dados eletrnicos e os artigos includos para o desenvolvimento deste trabalho, usando

    as palavras-chave outrora mencionadas.

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    6

    Dado tratar-se de um trabalho de Anatomia descritiva entendeu-se fundamental a

    colocao de imagens para ilustrar o texto apresentado. Vale ressaltar que todas figuras

    possuem autorizao de utilizao pelo autor/editora para a reproduo nesta dissertao.

    2. CONSIDERAES ANATMICAS SOBRE O ENVELHECIMENTO DO

    APARELHO ESTOMATOGNTICO

    2.1 Maxila

    A maxila est localizada na regio central do esqueleto da face, e articula-se com os ossos

    do viscerocrnio, exceto com a mandbula. um osso par, pneumtico e apresenta-se com

    pouca densidade, possuindo maior proporo de osso esponjoso que de osso compacto.

    A sutura intermaxilar responsvel pela unio da maxila direita com a maxila esquerda

    (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

    Anatomicamente, a maxila formada por um corpo central e quatro processos. Os

    processos so denomidados: processo frontal, processo zigomtico, processo alveolar e

    processo palatino (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

    O processo frontal extende-se superiormente, articulando-se com o osso frontal por meio

    da sutura frontomaxilar (Madeira, 1998).

    O processo zigomtico articula-se com o processo do osso zigomtico, atravs da sutura

    zigomaticomaxilar. No indivduo idoso, a crista zigomtico-alveolar pode aproximar-se

    do rebordo residual (Madeira, 1998).

    No processo alveolar localizam-se os alvolos dentrios, que so responsveis pela

    insero das razes dos dentes superiores; so tambm encontradas, no processo alveolar,

    as eminncias alveolares e a eminncia canina. Localizam-se, tambm, neste processo, a

    fossa incisiva e a fossa canina, bem como, em sua base, a espinha nasal anterior. Com o

    passar dos anos, tanto o forame incisivo quanto a espinha nasal anterior, podem ser

    encontrados prximos superfcie do rebordo residual (Madeira, 1998).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    7

    O processo palatino articula-se atravs da sutura palatina mediana, com a lmina

    horizontal do osso palatino, formando o palato sseo. A sutura palatina transversa

    responsvel pela articulao dos processos palatinos das maxilas com as lminas

    horizontais dos palatinos. Anteriormente sutura palatina mediana est localizado o

    forame incisivo, que a abertura do canal incisivo, proveniente da cavidade nasal

    (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012). Durante o processo de

    envelhecimento o palato sseo torna-se plano e mais raso, deixando de apresentar o aspeto

    arqueado; pode-se formar um toro palatino (Madeira, 1998).

    Pode-se, didaticamente, dividir o corpo da maxila em quatro faces: anterior, posterior

    ou infratemporal, medial ou nasal e superior ou orbital (Madeira, 1998; Rossi, 2010;

    Paulsen & Waschke, 2012).

    Na face anterior, localizam-se, a abertura da cavidade nasal, a abertura piriforme e a

    margem infraorbital, que, junto com o osso zigomtico, delimita inferiormente a cavidade

    orbital. Abaixo da margem infraorbital, localiza-se o forame infraorbital, que a abertura

    final do sulco e canal infraorbital. A face anterior da maxila limitada lateralmente pela

    crista zigomaticoalveolar, que corresponde a rea de condensao ssea, estendendo-se

    desde o processo zigomtico da maxila at o processo alveolar, ao nvel do primeiro

    molar. A face posterior ou infratemporal est localizada na regio da fossa

    infratemporal, onde apresentam-se os forames alveolares e a tuberosidade da maxila. A

    face infratemporal da maxila articula-se com a lmina lateral do processo pterigoide do

    osso esfenoide. A fissura orbital inferior localiza-se entre a parte mais superior da face

    infratemporal da maxila e a crista infratemporal da asa maior do osso esfenide. A face

    medial ou nasal constitui a parede lateral da cavidade nasal, onde ocorre a fixao da

    concha nasal inferior. O meato nasal mdio delimitado, lateralmente, pela maxila, e,

    superiormente, pela concha nasal mdia. A face superior ou orbital forma o soalho da

    cavidade orbital. Nesta face, localiza-se o sulco infraorbital, que passa a ser o canal

    infraorbital e abre-se no forame infraorbital, localizado na face anterior da maxila

    (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    8

    No interior do corpo da maxila est localizado o maior seio paranasal, designado por seio

    maxilar (Rossi, 2010). Durante o envelhecimento, a cavidade do seio maxilar pode

    ampliar-se em decorrncia da reabsoro ssea de suas paredes, bem como, o soalho pode

    alterar-se e ficar muito prximo do rebordo residual, culminando em deiscncias

    (Madeira, 1998).

    Com o envelhecimento, ainda podem ser observadas: alteraes no contorno do arco

    maxilar (Figura 01); retruso maxilar (Figura 02); rotao da maxila no sentido horrio;

    diminuio gradual e constante do ngulo maxilar (Figura 03); reduo vertical da altura

    maxilar; reabsoro ssea, diminuio do volume e densidade ssea da maxila (Figura

    04) (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ; Shaw & Kahn, 2007; Williams SE,

    2010; Mendelson & Wong, 2012; Glowacki & Cristoph, 2013; Ilankovan, 2014; Kim, et

    al., 2015).

    Figura 1 - Alteraes da curvatura do arco maxilar. (A) Traado da curvatura do lado direto da

    face (Curvatura maxilar 1; pontos pr at ecm); Vetores do processo alveolar maxilar, vista

    superior e vista anterior; as linhas indicam a direo das alteraes (Williams, 2010).

    A

    B C

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    9

    Figura 2- Retruso maxilar. O aprofundamento da maxila culmina em um posicionamente mais

    posterior do sulco nasogeniano e do lbio superior (Mendelson & Wong, 2012).

    Figura 3- Tomografia computadorizada mostrando o ngulo maxilar - reduzido no indivduo

    idoso. Imagem da esquerda corresponde ao indivduo jovem e a imagem da direita corresponde

    ao indivduo idoso (Shaw & Kahn, 2007).

    .

    ngulo

    Glabelar: 77.1

    ngulo

    Glabelar: 77.4

    ngulo

    Piriforme: 60.5 ngulo

    Piriforme: 56.9

    ngulo Maxilar:

    64.4

    ngulo Maxilar:

    53.6

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    10

    Figura 4 - reas de reabsoro ssea. (A) Setas indicam as areas sucetveis a reabsoro ssea com o

    envelhecimento; o tamanho da seta proporcional a quantidade de reabsoro que pode ocorrer. (B)

    reas em preto so as de maior perda ssea (Mendelson & Wong, 2012).

    Vale ressaltar que, a perda dentria, causa da perda ssea acentuada na maxila e

    processo alveolar (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ; Silveira, et al., 2005;

    Ilankovan, 2014).

    2.2. Mandbula

    A mandbula o nico osso mvel do crnio, um osso mpar e, anatomicamente,

    dividido em corpo mandibular e ramos da mandbula. Apresenta maior quantidade de

    osso compacto e o osso esponjoso denso, caracterizando a mandbula com maior

    densidade ssea que a maxila (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012).

    Durante o processo de envelhecimento, foi observado por Jonasson et al., um aumento

    do espao intratrabecular; o trabeculado sseo parece ser menos mineralizado e o osso

    compacto torna-se mais fino e poroso (Jonasson, et al., 2013). Bem como, Kingsmill et

    al., em 1998, observaram que, diferentemente dos outros ossos do organismo, o osso

    A B

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    11

    mandibular parece ter a densidade ssea aumentada com o envelhecimento (Kingsmill

    & Boyde, 1998).

    No corpo da mandbula est localizado o processo alveolar, regio onde as razes dos

    dentes inferiores esto inseridas. O limite inferior do corpo denominado base da

    mandbula. Nesta base, prximo linha mediana, est localizada a fvea digstrica. Na

    face lateral so observadas as seguintes estruturas anatmicas: linha oblqua, que

    percorre o processo alveolar na zona dos molares; forame mentual, que o orifcio

    ovalado localizado abaixo das razes entre o primeiro pr-molar e segundo pr-molar

    (por este forame ocorre a sada do canal mandibular); protuberncia mentual, rea de

    forte condensao ssea, que localiza-se na regio da snfise mentual e fossa mentual,

    que a depresso localizada abaixo dos alvolos dos incisivos e do tubrculo mentual.

    A face que representa a superfcie do corpo voltada para dentro , nomeadamente, a face

    medial do corpo, e, nela, esto localizadas as seguintes estruturas anatmicas: linha

    milo-hioidea, elevao linear localizada abaixo dos alvolos dos molares; fossa

    submandibular, depresso localizada abaixo da linha milo-hioidea; fossa sublingual,

    depresso localizada acima da linha milo-hioidea e processos genianos, elevaes

    pontiagudas localizadas na linha mediana. O canal mandibular atravessa toda extenso

    do corpo da mandbula, terminando no forame mentual; por ele, passam os vasos e

    nervos alveolares inferiores; e, pode, este canal, por vezes, continuar seu trajeto

    intrasseo em direo ao mento, passando a ser denominado canal incisivo (Madeira,

    1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012; Muinelo-Lorenzo, et al., 2015). Com o

    envelhecimento a mandbula sofre inmeras alteraes anatmicas, sendo que, as mais

    observadas so: a espinha mentoniana, ou tuberculos genianos, pode apresentar-se no

    mesmo plano horizontal do rebordo residual; o forame mentoniano e o canal da

    mandbula podem localizar-se prximos ao rebordo residual, ou, at mesmo, sobre ele;

    a linha milo-hiidea e a linha oblquoa podem ficar no mesmo nvel, e, at mesmo, sobre

    o do rebordo residual (Madeira, 1998).

    A regio de interseco ente o corpo e o ramo da mandbula denominada de ngulo

    da mandbula (Madeira, 1998; Rossi, 2010; Paulsen & Waschke, 2012). Em indivduos

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    12

    idosos observa-se um aumento deste ngulo da mandbula (Figuras 05) (Merrot, et al.,

    2005; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014).

    Figura 5- Alteraes da mandbula mulher jovem (esquerda) e idosa (direita) (Ghaffari, 2013).

    Na regio superior do ramo da mandbula localizam-se: o processo condilar, salincia

    elptica que se articula, na articulao temporomandibular, com a fossa mandibular do

    osso temporal; colo da mandbula, correspondente ao estreitamento que contorna a

    cabea da mandbula; fvea pterigoide, depresso localizada na face anterior do

    processo condilar; e, o processo coronoide, salincia localizada anteriormente ao

    processo condilar, separada deste pela incisura mandibular (Madeira, 1998; Rossi,

    2010; Paulsen & Waschke, 2012). Na face lateral do ramo e ngulo da mandbula,

    localiza-se o conjunto de salincias sseas denominado tuberosidade massetrica. Na

    face medial localiza-se a tuberosidade pterigoidea; medialmente ao processo

    coronoide localiza-se a crista temporal; entre a crista temporal e a borda anterior do

    ramo encontra-se a fossa retromolar; na regio posterior, a crista temporal delimita uma

    rea conhecida como trgono retromolar. Ainda na face medial do ramo, est

    localizado o forame mandibular, que corresponde a entrada do canal mandibular;

    frente desse forame localiza-se a lngula. Imediatamente abaixo do forame mandibular

    est o sulco milo-hiodeo, depresso linear que extende-se at o corpo da mandbula

    (Rossi, 2010).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    13

    Inmeros estudos tambm demonstraram outras alteraes na mandbula, tais como:

    diminuio da altura do ramo da mandbula e diminuio da altura e comprimento da

    mandbula (Figura 05) (Brunetti & Montenegro, 2002 ; Merrot, et al., 2005; Mendelson

    & Wong, 2012; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Ilankovan, 2014; Oksayan, et

    al., 2014). No entanto, utilizando parmetros diversos, outros estudos demonstraram o

    oposto destas ltimas alteraes: Pecora et al., em 2006, demonstrou que o comprimento

    da mandbula aumenta com a idade; e, Pessa et al., em 2008, observou um aumento da

    mandbula, tanto em largura como em altura, com o aumento da idade (Pecora, et al.,

    2006; Pessa, et al., 2008).

    Um aspeto que parece no haver controvrsia entre os autores o de que, a perda dentria

    e a menopausa em mulheres, so fatores que alteram o processo de remodelao ssea

    na mandbula, favorecendo a perda ssea mandibular (Kingsmill & Boyde, 1998;

    Merrot, et al., 2005; Jonasson, et al., 2013; Chole, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014;

    Silveira, et al., 2005).

    2.3. Artrologia

    Artrologia a area responsvel pelo estudo cientfico das variaes funcionais e

    temporais das articulaes (Williams, et al., 1995).

    A unio de duas ou mais estruturas denomina-se articulao, e, so estas que permitiro,

    ou no, os movimentos livres dos ossos, cartilagens e tecidos fibrosos, de acordo com o

    tipo de tecido e as caractersticas prprias de cada articulao (Rouviere & Delmas, 2005).

    2.3.1 Gonfose

    A articulao fibrosa especializada do complexo dento-alveolar denominada gonfose;

    esta composta por osso alveolar, complexo colagenoso do periodonto e cemento

    dentrio (Figuras 06). A existncia desta articulao permite a fixao dos dentes nos

    alvolos dentrios na mandbula e na maxila (Williams, et al., 1995; Ho, et al., 2007;

    McIntosh, et al., 2002; Paulsen & Waschke, 2012); permite, tambm, a

    micromovimentao dentria, para a manuteno da normalidade em eventos fisiolgicos

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    14

    do contato dentrio. Importante mencionar que movimentos maiores que 0,12 a 0,25mm

    so considerados patolgicos (Pergoraro, 1998).

    Figura 6 - Esquema representativo dos tecidos e das interfaces da gonfose osso alveolar, ligamento

    periodontal (PDL) e cemento (Ho et al., 2007).

    No idoso, devido s alteraes metablicas, podem ocorrer diversas alteraes na

    gonfose. Estudos demonstram que existe uma diminuio das fibras periodontais e do

    contedo celular; e sua estrutura torna-se mais irregular que no indivduo jovem

    (Severson, et al., 1978; Chantawiboonchai, et al., 1999). Entretanto, com a progresso da

    doena periodontal, tambm prevalente em idosos, e outros fatores, como a presena de

    inflamao, podem ocasionar a degradao das propriedades fsicas da gonfose,

    resultando em perda de insero e facilitando a perda dentria (Ho, et al., 2007). Outro

    fenmeno, observado em animais e humanos, descrito por diversos autores, a anquilose

    dentria, caracterizada pela fuso do cemento dentrio ao osso alveolar quando o

    ligamento periodontal no se encontra presente, podendo ser influenciada pelo

    envelhecimento (Andersson & Malmgren, 1999; Gonalves, et al., 2008; Xiong, et al.,

    2013; Lim, et al., 2014; LeBlanc, et al., 2016).

    2.3.2 Articulao Tmporo-Mandibular (ATM)

    A articulao tmporo-mandibular uma articulao sinovial e apresenta-se em par,

    direita e esquerda, sendo denominada bicondilar (Williams, et al., 1995). composta pelo

    disco articular, ossos, cpsula fibrosa, lquido sinovial, membrana sinovial e ligamentos

    (Figura 07). A superfcie articular recoberta por fibrocartilagem, na qual existe uma

    predominncia de fibras colgenas (Williams, et al., 1995; Alomar, et al., 2007; Choi, et

    al., 2012).

    Osso Alveolar PDL Cemento Dentina Tubular

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    15

    Figura 7 - Anatomia da ATM boca fechada (Choi et al., 2012).

    Os movimentos mandibulares so orientados pela forma anatmica dos ossos, msculos

    e ligamentos, bem como, pela ocluso dentria (Katsavrias & Halazonetis, 2005; Alomar,

    et al., 2007).

    Durante o processo de envelhecimento, as alteraes mais frequentes so as degenerativas

    e podem ocorrer em mais de 50% dos indivduos idosos (Tour, et al., 2005). Os

    mediadores da resposta inflamatria, como a interleucina-1, parecem exercer um papel

    catablico neste processo degenerativo ocorrido na ATM. (Blumenfeld, et al., 1997).

    O disco articular a estrutura mais importante da ATM, apresenta-se como lmina oval

    de fibrocartilagem bicncava e tem seu longo eixo orientado transversalmente; localiza-

    se entre o cndilo da mandbula e o osso temporal. Sua presena divide, anatomicamente,

    a articulao em duas cmaras, superior e inferior. Sua morfologia molda-se s estruturas

    anexas; na superfcie superior cncavo-convexa, ajustando-se ao tubrculo articular e

    fossa; na superfcie inferior, de formato cncavo, h adaptao cabea da mandbula. A

    poro que permite a fixao posterior do disco articular e do cndilo composta pelos

    tecidos retrodiscais e tem ntima relao com o meato acstico externo. O disco articular

    Tuberosidade

    articular

    Banda Anterior e Posterior

    do disco articular

    Fossa mandibular do

    osso temporal

    Cabea do cndilo

    Pescoo do cndilo

    Parede posterior da

    cpsula

    Pterigideo lateral

    Processo estilide

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    16

    recebe, tambm, as foras de compresso geradas durante o ato da mastigao, triturao

    e apertamento dentrio (Williams, et al., 1995; Alomar, et al., 2007; Paulsen & Waschke,

    2012; Choi, et al., 2012). Diversos estudos, com o objetivo de estudar o comportamento

    da ATM, observaram que, com o envelhecimento, as principais alteraes macroscpicas

    foram ao nvel do disco articular; esta degenerao manifesta-se de diferentes maneiras,

    atravs de desgaste por atrito ou frico e adelgaamento e/ou perfurao (Figura 08)

    (Widmalm, et al., 1994; Stratmann, et al., 1996; Grunert, et al., 2000; Tour, et al., 2005).

    Figura 8 - Disco articular - setas indicam perfurao do disco (Stratmann et al., 1996).

    A ATM est completamente envolta por uma fina cpsula fibrosa, que se estende, em

    conformao afunilada, desde o tubrculo articular at a fissura escamotimpnica e ao

    redor das bordas da fossa e cndilo mandibular. Na cmara superior da ATM, a cpsula

    apresenta-se frouxa e com uma conformao mais densa na cmara inferior. Estas

    caractersticas da cpsula fibrosa permitem a limitao do movimento de translao do

    cndilo e, quando associado aos ligamentos externos da ATM, o movimento de abertura

    mxima da boca tambm limitado. A cpsula articular revestida pela membrana

    sinovial (Williams, et al., 1995; Paulsen & Waschke, 2012; Alomar, et al., 2007; Choi, et

    al., 2012).

    Em indivduos idosos foram observadas alteraes radiogrficas da ATM, como

    mineralizao difusa, afilamento da cortical ssea e processos de osteoartrose (eroso

    ssea, ostefitos, cistos) e variaes regionais de mineralizao do tecido sseo dos

    cndilos mandibulares. Histologicamente, diversos estudos demonstraram um afilamento

    da cartilagem, degenerao amiloide e osteoesclerose do disco articular (Castelli, et al.,

    1985; Akerman, et al., 1988; Nannmark, et al., 1990; Holmlund & Axelsson, 1994;

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    17

    Williams, et al., 1995; Stratmann, et al., 1996; Widmalm, et al., 1994; Grunert, et al.,

    2000; Tour, et al., 2005; Kim, et al., 2015).

    Diversos autores descrevem que a idade um fator de risco para o desenvolvimento de

    patologias na ATM, e que, em pacientes idosos, os sinais clnicos e radiolgicos de

    alteraes tem maior prevalncia (Roda, et al., 2007). Bem como, existe uma elevada

    prevalncia de desordem temporomandibular entre os indivduos idosos, sendo que, o

    gnero feminino, foi o mais afetado (Camacho, et al., 2014)

    2.4. Anatomia Dentria

    2.4.1 Aspectos macroscpicos por grupo dentrio

    Conforme a morfologia os dentes so divididos em quatro grandes grupos: incisivos,

    caninos, pr-molares e molares (Rossi, 2010).

    Incisivos:

    So os dentes localizados anteriormente na arcada dentria. Em nmero de oito, so

    distinguidos em, incisivo central superior direito e esquerdo (2), incisivo central inferior

    (2), incisivo lateral superior direito e esquerdo (2) e incisivo lateral inferior direito e

    esquerdo (2). Anatomicamente, apresentam o bordo incisal fino e cortante. Sua funo

    no aparelho estomatogntico o corte dos alimentos (Rossi, 2010).

    Caninos:

    So dentes tambm localizados na regio anterior das arcadas dentrias. So em nmero

    de quatro, dois superiores (direito e esquerdo) e dois inferiores (direito e esquerdo). So

    bastante volumosos e possuem uma cspide pontiaguda (Rossi, 2010).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    18

    Pr-molares:

    So dentes localizados na regio posterior das arcadas dentrias. So em nmero de

    quatro, primeiro pr-molar superior, direito e esquerdo; e segundo pr-molar inferior,

    direito e esquerdo. Sua funo no aparelho estomatogntico de triturar (Rossi, 2010)

    Molares:

    So dentes localizados na regio posterior das arcadas dentrias. So em nmero de oito

    a doze dentes. Dentre eles esto o primeiro molar superior e inferior direito e esquerdo,

    segundo molar superior inferior direito e esquerdo e terceiro molar superior e inferior

    direito e esquerdo. Dos quais, os terceiros molares podem estar ausentes e os que

    apresentam maior variao anatmica (Rossi, 2010).

    Alteraes macroscpicas da anatomia dos dentes, durante o envelhecimento, so

    decorrentes das cries, dos desgastes e das fraturas dentrias (Figura 09) (Osborne-

    Smith, et al., 1999; Borcic, et al., 2004; Kaidonis, 2008; Barlett & Dugmore, 2008;

    Huysmans, et al., 2011; Lucas & Casteren, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016). No estudo

    epidemiolgico das perdas dentrias, Rocha GNP et al., em 1997, observou que, perdem-

    se mais dentes na maxila que na mandbula, exceto em relao aos molares que

    apresentam perdas iguais nos dois maxilares. Ademais, ocorre uma maior perda dentria

    posterior quando comparado com a anterior (Rocha, 1997). Bem como, foi observado

    por Carvalho GFP et al., que a perda dentria, por grupo dentrio, ocorre, primeiro, nos

    molares (59%), seguido pelos pr-molares (24%), incisivos (13%) e por ltimo os

    caninos (4%) (Carvalho & Spyrides, 2013). A perda do primeiro molar inferior

    permanente apontada como a mais prevalente (Normando & Cavacami, 2010).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    19

    Figura 9 - Desgaste dentrio. Combinao de eroso e atrio (A); Eroso (B)

    (Bartlett & Dugmore, 2008).

    A ocorrncia de crie na coroa e raiz dentria de 65% em pacientes com idade superior

    a 65 anos (Arola & Reprogel, 2005). A prevalncia de desgaste dentrio de 17% na

    idade de 70 anos (Huysmans, et al., 2011). Alm disso, inmeros outros estudos apontam

    para o aumento gradual do desgaste dentrio e fraturas dentrias durante o

    envelhecimento (Figura 10) (Osborne-Smith, et al., 1999; Borcic, et al., 2004; Kaidonis,

    2008; Barlett & Dugmore, 2008; Burke & McKenna, 2011; Huysmans, et al., 2011;

    Lucas & Casteren, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016).

    Figura 10 - Desgaste dentrio combinao de eroso e abraso (Burke & McKenna, 2011).

    A

    B

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    20

    O rgo dentrio faz parte do aparelho estomatogntico e insere-se no osso alveolar.

    composto pelo dente, esmalte, dentina e polpa. O periodonto composto por cemento,

    ligamento periodontal, osso alveolar e gengiva (Rossi, 2010).

    2.4.2 Esmalte, Dentina e Polpa Dentria

    Esmalte:

    O esmalte a estrutura dentria que recobre a superfcie de todos os dentes, nas faces

    vestibular, mesial, distal, oclusal/incisal e palatina/lingual. composto,

    maioritariamente, por apatitas cristalinas, ocupando 96% do volume do esmalte, o que

    lhe confere uma caracterstica extremamente dura e rgida; sendo considerado o tecido

    mais duro do organismo. constituido tambm por gua (3%) e o teor de protenas

    corresponde a 1% em peso (Williams, et al., 1995; Bajaj & Arola, 2009; Yahyazadehfar,

    et al., 2016; Yahyazadehfar & Arola, 2015).

    Os cristais de hidroxiapatita esto dispostos de maneira varivel e se unem formando

    bastonetes cilndricos, nomeadamente, primas de esmalte. A orientao dos cristais varia

    espacialmente dentro do prisma. Dentro da regio cuspidal de um prisma, os cristais

    esto alinhados com o eixo longitudinal, ao passo que, aqueles na regio interprismtica,

    esto orientados obliquamente. A interface entre prismas adjacentes so separados por

    uma zona estreita, por vezes referida como bainha de prismas, e composto de cristalitas

    com orientao menos bem definida e, ligeiramente, com maior grau de contedo

    orgnico. Em geral, as protenas servem como o material de unio entre os cristalitas

    adjacentes e as interfaces dos prismas de esmalte (Williams, et al., 1995; Bajaj & Arola,

    2009; Yahyazadehfar & Arola, 2015; Yahyazadehfar, et al., 2016).

    A espessura mxima do esmalte de 2,5mm sobre as cspides e adelgaa-se nas margens

    cervicais. Ademais, durante a irrupo dentria, as clulas de formao do esmalte so

    perdidas, o que lhe confere uma inabilidade de crescimento ou reparos posteriores

    (Williams, et al., 1995).

    Inmeros estudos demonstraram que a prevalncia do desgaste dentrio aumenta com a

    idade (Barlett & Dugmore, 2008; Huysmans, et al., 2011; Yahyazadehfar, et al., 2016).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    21

    Com o decorrer dos anos, a exposio prolongada do esmalte dentrio ao meio oral,

    ingesto de uma dieta cida e/ou abrasiva, aos distrbios gstricos (Figura 11) e aos

    constantes contatos dentrios, culminam no desgaste e fraturas do esmalte dentrio.

    Figura 11 - Desgaste dentrio causado por distrbio gstrico bulimia (Burke & McKenna, 2011).

    O desgaste dentrio pode ser decorrente de fenmenos qumicos, mecnicos e pela

    associao de ambos, so nomeadamente os desgastes por atrio, abraso, eroso e

    abfrao (Burke & McKenna, 2011; Huysmans, et al., 2011; Lucas & Casteren, 2015;

    Yahyazadehfar, et al., 2016). Lucas PW, em 2015, descreve que, as macrofraturas de

    esmalte so aquelas que, iniciam-se, prximo juno esmalte-dentina, e, estendem-se,

    para fora, na direo da superfcie do dente; as mesofraturas iniciam-se na superfcie do

    dente a partir de uma indentao prxima margem do esmalte; por fim, as microfaturas

    so aquelas que resultam da perda de partculas muito pequenas na superfcie do esmalte,

    que culminam no desgaste (Figura 12) (Lucas & Casteren, 2015).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    22

    Figura 12 - Desenho esquemtico dos tipos de danos mecnicos do esmalte; incluindo a diviso

    coronria, desgaste, fratura em lasca, trica e abfrao (Lucas & Casteren, 2015).

    Dentina:

    A dentina composta, maioritariamente, por material inorgnico (70%), principalmente

    por hidroxiapatita, representada pela frmula qumica de Ca10(PO4)6(OH)2. A gua

    outro componente, correspondendo a 10% do volume da dentina. As matrizes orgnicas

    representam 20% da dentina, das quais, o colgeno o que se apresenta em maior

    quantidade; sendo o colgeno do tipo I o mais predominante, e, em menor proporo, o

    colgeno do tipo V. Os outros componentes da matriz no-colagenosa so: fosfoprotenas,

    proteoglicanos, g-carboxiglutamatos, glicoprotenas cidas, fatores de crescimento e

    lipdios (Butler, et al., 1992; Goldberg & Takagi, 1993; Kinney JH, 1996; Wang &

    Weiner, 1998; Breschi L, 2002; Kinney, et al., 2003).

    Durante o desenvolvimento dentrio formada a dentina primria; e, a dentina secundria

    aquela que se forma aps a completa formao radicular. A dentina formada nas fases

    iniciais da dentinognese, subjacente ao esmalte e cemento, denominada dentina do

    manto e possui grossas fibras de colgeno em formato de leque (Cohen & Hargreaves,

    2007).

    Dentina

    Polpa

    Gengiva

    Ligamento

    Periodontal

    Osso alveolar

    Cemento

    Lasca de esmalte (meso)

    Lamela (macro)

    Abfrao

    (meso)

    (macro)

    Esmalte

    Desgaste

    (micro) Rachadura da coroa

    (macro)

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    23

    No interior da dentina localizam-se os tbulos dentinrios, que so, em pequeno nmero,

    por unidade de rea, na dentina mais superficial do dente e, em maior nmero, na dentina

    profunda; eles contm odontoblastos. Apresentam um conformao cnica e sua poro

    mais estreita voltada para o esmalte e a poro mais larga voltada para a polpa dentria

    (Garberoglio & Brannstrom, 1976; Pashley, 1996).

    A dentina ao redor dos tbulos dentinrios a denominada dentina peritubular, apresenta-

    se altamente calcificada, com poucas fibras colgenas e alta quantidade de proteoglicanos

    e minerais sulfatados (Kinney JH, 1996; Kinney, et al., 1999; Weiner, et al., 1999). A

    dentina localizada entre os tbulos dentinrios denominada dentina intertubular,

    apresenta-se com grandes quantidades de fibrilas colgenas, esto dispostas

    perpendicularmente aos tbulos dentinrios e calcificada, o que confere resistncia a

    dentina (Kinney, et al., 2003). Com o envelhecimento, pode-se observar alteraes

    morfolgicas nas estruturas dentinrias, ocorrendo um aumento da dentina peritubular,

    esclerose dentinria e ausncia de processos odontoblsticos nos tbulos dentinrios

    (Stanley, et al., 1983; Tagami, et al., 1992; Arola & Reprogel, 2005).

    Quando ocorre obstruo parcial ou total do tbulo dentinrio por depsitos minerais, a

    dentina passa a ser esclertica, culminando na alterao da tranlucidez da dentina e na

    diminuio da permeabilidade dentinria (Pashley, 1996; Tagami, et al., 1992). Alm

    disso, conforme a dentina se torna progressivamente esclertica, ocorre a diminuio da

    sua permeabilidade (Tagami, et al., 1992).

    Polpa:

    A polpa dentria pode ser dividida por zonas morfolgicas, sendo elas: camada de

    odontoblastos, zona pobre em clulas, zona rica em clulas e polpa propriamante dita

    (Cohen & Hargreaves, 2007).

    A camada de odontoblastos localiza-se sujacentemente pr-dentina e a camada mais

    externa da polpa. constituda, principalmente, por corpos de clulas de odontoblastos,

    cincundado por capilares, fibras nervosas e clulas dentrticas (Cohen & Hargreaves,

    2007).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    24

    Logo abaixo da camada de odontoblstos localiza-se uma zona estreita e livre de clulas,

    designada por zona pobre em clulas, onde atravessam vasos sanguneos, fibras nervosas

    no-mineralizadas e processos citoplasmticos de fibroblastos (Coure, 1986).

    A zona rica em clulas possui uma grande quantidade de fibroblastos, macrfagos, clulas

    dendrticas e clulas-tronco mesodrmicas indiferenciadas. Tem sido sugerido que esta

    zona se forma pela migrao perifrica das clulas centais da polpa dentria (Gotjamanos,

    1969; Fitzgerald, et al., 1990).

    Na regio central da polpa localiza-se a polpa propriamente dita, caracterizada pela

    grande quantidade de fibroblastos e clulas da polpa, bem como, por vasos sanguneos

    mais largos e nervos (Cohen & Hargreaves, 2007).

    Com o passar dos anos, ocorre uma degenerao progressiva do complexo pulpar, bem

    como, uma diminuio do tamanho da cmara pulpar e do dimetro dos canais

    radiculares, devido contnua deposio de dentina secundria e terciria.

    Concomitantemente, ocorre uma diminuio da celularidade, principalmente, dos

    odontoblastos, e aumento no nmero e espessura das fibras colgenas, podendo levar a

    processos de calcificao pulpar (Cohen & Hargreaves, 2007; Goga, et al., 2008; Daud,

    et al., 2014; Johnstone & Parashos, 2015). Em decorrncia da deposio contnua de

    cemento na regio apical do dente, a distncia, entre o forame apical e o pice

    radiogrfico, aumenta (Johnstone & Parashos, 2015).

    Durante o envelhecimento, a quantidade de nervos e vasos sanguneos tambm diminui

    progressivamente (Espina, et al., 2003; Johnstone & Parashos, 2015). Da mesma forma,

    o indivduo idoso apresenta um aumento no tempo da resposta pulpar ao teste de

    sensibilidade pulpar ao frio (Farac, et al., 2012).

    2.5. Estruturas Periodontais

    O periodonto constitudo, essencialmente, pelo osso alveolar, cemento, gengiva e

    ligamento periodontal (Lindhe, et al., 2008; Bath-Balogh & Fehrenbach, 2012).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    25

    O periodonto o tecido responsvel pela insero e suporte do dente no tecido sseo dos

    maxilares e mantm a integridade da superfcie da mucosa mastigatria da cavidade oral.

    Com o passar dos anos, o periodonto sofre determinadas alteraes, bem como, podem

    ocorrer alteraes, ao nvel morfolgico, relacionadas com as modificaes funcionais e

    alteraes no meio bucal (Lindhe, et al., 2008).

    2.5.1 Osso Alveolar

    A hidroxiapatita o principal componente da matriz mineralizada do osso,

    correspondente a cerca de 60% do peso bruto. O osso pode ser dividido em dois

    componentes: osso mineralizado e osso medular. O osso mineralizado constitudo de

    lamelas sseas, enquanto que, o osso medular apresenta adipcitos, estruturas vasculares

    e clulas mesenquimais indiferenciadas em sua constituio (Lindhe, et al., 2008).

    O osso alveolar, mineralizado, dividido em duas pores: processo alveolar e o osso

    alveolar propriamente dito; entretanto, eles apresentam-se em continuidade um com o

    outro e variam anatomicamente conforme a regio dentria (Lindhe, et al., 2008).

    O processo alveolar formado, tanto por clulas do folculo dentrio, como por clulas

    que no esto envolvidas no desenvolvimento dentrio, e, desenvolve-se conjuntamente

    com a erupo dentria. Constitui a parte da maxila e da mandbula que formam o

    aparelho de insero dos dentes nos alvolos dentrios; sua funo principal distribuir

    e absorver as foras mastigatrias e as foras geradas pelos contatos dentrios (Figura

    41). O osso alveolar propriamente dito apresenta largura variada e reveste todo o

    alvolo dentrio na forma de uma fina lmina ssea; associado ao ligamento periodontal

    e ao cemento, responsvel pela insero dentria no osso (Lindhe, et al., 2008).

    Em busca de compensar o desgaste causado pela atrio constante dos dentes ao longo da

    vida, os dentes erupcionam, e migram em direo mesial (Figura 13). Em consequncia

    desta movimentao dentria, e das demandas funcionais, o osso alveolar, sofre um

    processo de remodelao ssea constante. O processo de remodelao consiste em

    reabsoro e neoformao das trabculas sseas. O metabolismo sseo modulado por

    inmeros fatores, como, por exemplo, dieta, drogas, hormonas e envelhecimento

    (Lindhe, et al., 2008; Bullon P, 2013; Reddy & Morgan, 2013; Margvelashvili, et al.,

    2013; Pandruvada, et al., 2016).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    26

    Figura 13 - Remodelao dentoalveolar (Margveelashvili et al., 2013).

    Inmeros estudos demonstram a associao entre a perda do osso alveolar e o

    envelhecimento, fumo, gnero, hbitos de higiene, hbitos parafuncionais, a colonizao

    bacteriana na flora gengival, diabetes, aterosclerose, deficincia de hormonas, como o

    estrgeno, e osteoporose (Lindhe, et al., 2008; Huttner, et al., 2009; Reddy & Morgan,

    2013; Panchbhai, 2013; Ruquet, et al., 2014; Shiau, et al., 2014). Esta perda ssea est

    relacionada com o desequilbrio no processo de remodelao ssea, predominando a

    reabsoro sobre a neoformao ssea. Pode-se perder osso em densidade, volume e/ou

    altura da crista alveolar. Diversos so os fatores de risco associados a essa perda ssea;

    no entanto, os estudos enfatizam para a presena de um processo inflamatrio crnico

    como fator predominante (Grzibovskis, et al., 2011; Liang, et al., 2010; Jiang, et al., 2010;

    Panchbhai, 2013; Reddy & Morgan, 2013; Bullon P, 2013; Shiau, et al., 2014; Ruquet, et

    al., 2014; Mays, 2014; Pandruvada, et al., 2016). Outros estudos ainda relatam que a

    ausncia do elemento dental, evento extremamente comum entre os idosos, acelera o

    processo de reabsoro ssea (Bodic, et al., 2012; Panchbhai, 2013).

    2.5.2 Cemento

    O cemento um tecido mineralizado que recobre a raz dentria, constituido

    principalmente por hidroxiapatita e forsfato de clcio amorfo. composto organicamente

    por colageno tipo I em sua grande marioria, nomeadamente as fibras de Sharpey. O

    cemento perfurado pelas fibras de Sharpey do ligamento periodontal e constitui o local

    de ligao para as fibras do ligamento periodontal fixando o dente ao osso alveolar

    (Williams, et al., 1995; Carranza, 2007; Pudir, et al., 2009; Huttner, et al., 2009; Mallar,

    et al., 2015).

    Desgaste dentrio

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    27

    O cemento que se forma em conjuno formao radicular e erupo dentria

    denominado de cemento acelular, apresenta-se com at 200 m de espesura e contem

    apenas fibras extrinsecas. O cemento celular forma-se aps o dente entrar em ocluso, e,

    em resposta s demandas funcionais. formado, tanto por matriz extrinseca, como por

    intrnseca, e possui cementcitos em lacunas unidos por canalculos que digirem-se para

    o ligamento periodontal. Entretando, as reas com cemento acelular ou celular podem se

    alternar na superfcie radicular. Ao longo da vida, camadas irregulares de cemento celular

    so depositadas sobre os cemento acelular para compensar o processo de movimentao

    dentria e as demanda funcionais. feito por uma camada produtora de cemento

    adjacente dentina (Williams, et al., 1995; Carranza, 2007; Pudir, et al., 2009; Mallar, et

    al., 2015).

    Os feixes de orientao, formados pelas camadas de cimento depositadas, parecem ser

    responsveis pelo efeito tico de camadas alternadas entre as bandas claras e escuras,

    observados em fotomicrografias de seces dentrias, nomeadamente, as linhas

    incrementais de cemento. Estudos demonstraram que, estas linhas alternadas esto

    relacionadas s fases de mineralizao durante o continuo crescimento de fibroblastos,

    levando mudana na orientao dos cristais mineralizados; sendo, as linhas escuras, as

    fases de paragem de mineralizao (Pudir, et al., 2009; Mallar, et al., 2015). Inmeros

    estudos, ainda, apontam que, a deposio contnua de cemento, promove o aumento em

    largura; estas camadas que se formam, as chamadas camadas incrementais de cemento,

    so marcadores da idade cronolgica do indivduo e podem alcanar a espessura de 1

    milmetro na regio apical e nas bifurcaes radiculares; sendo, inclusive, utilizado como

    padro para anlise forense (Severson, et al., 1978; Williams, et al., 1995; Pudir, et al.,

    2009; Mallar, et al., 2015).

    Durante o processo de envelhecimento, a exposio radicular um evento comum, devido

    recesso gengival, o que leva exposio do cemento e subsequente desgaste do mesmo

    (Williams, et al., 1995; Huttner, et al., 2009).

    2.5.3 Gengiva

    A gengiva faz parte da chamada mucosa mastigatria; ela recobre o processo alveolar e

    circunda a regio cervical dos dentes; constituda por uma camada epitelial e um tecido

    conjuntivo subjacente, chamado de lmina prpria. Podem ser divididas,

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    28

    anatomicamente, em gengiva livre e gengiva inserida. Entretanto, a forma e a textura

    gengival definitivas so definidas aps a completa erupo dentria (Williams, et al.,

    1995; Lindhe, et al., 2008).

    Lindhe descreve que, com o avano da idade, a gengiva possui tendncia a aumentar em

    largura; e que, este alargamento gengival parece decorrer da erupo lenta e contnua dos

    dentes aps desgaste oclusal ao longo da vida, pois tem-se demonstrado que ocorre a

    estabilidade da juno mucogengival em relao borda inferior da mandbula (Lindhe,

    et al., 2008).

    A gengiva livre apresenta-se com colorao rsea, contorno festonado, superfcie opaca

    e consistncia firme, engloba o tecido gengival vestibular e lingual ou palatina dos dentes.

    Estende-se a partir da margem gengival em direo apical at a ranhura gengival livre,

    sendo mais saliente na face vestibular dos dentes. A margem gengival livre tem forma

    arrendondada, de modo que permite a formao de uma pequena invaginao entre o

    dente e a gengiva; localiza-se na superfcie do esmalte cerca de 1,5 a 2mm e

    coronariamente juno cemento-esmalte (Lindhe, et al., 2008).

    A gengiva inserida apresenta-se com colorao rsea, com textura firme e com pequenos

    pontilhados, conferindo-lhe um aspeto de casca de laranja. Estende-se apicalmente at a

    juno mucogengival, onde torna-se contnua com a mucosa de revestimento. Por meio

    de fibras do tecido conjuntivo, a mucosa inserida encontra-se firmemente inserida no osso

    alveolar e cemento subjacente e, portanto, comparativamente imvel em relao aos

    tecidos prximos (Williams, et al., 1995; Lindhe, et al., 2008).

    Com o passar dos anos, pode ocorrer a migrao epitelial em sentido apical, causando

    retrao gengival (Figura 10) (Dvorok, et al., 2009; Andreescu, et al., 2013; Smith, et al.,

    2015)

    A mucosa alveolar ou mucosa de revestimento apresenta-se com colorao avermelhada

    mais escura e possui uma ligao frouxa com o osso alveolar subjacente, estando

    relativamente mvel em relao aos tecidos prximos; delimitada no sentido coronal

    pela juno mucogengival (Lindhe, et al., 2008).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    29

    As relaes dos contatos dentrios, largura da superfcie proximal e contato da juno

    cemento-esmalte, determinam a forma da gengiva interdentria ou tambm chamada

    papila interdental. A papila interdentria apresenta-se na forma piramidal nas regies

    anteriores da arcada dentria; e nas regies posteriores, as papilas so mais achatadas no

    sentido vestibulo lingual (Lindhe, et al., 2008).

    A anatomia microscpica da gengiva livre compreende todas as estruturas epiteliais e do

    tecido conjuntivo localizadas coronalmente ao nvel da juno cemento-esmalte. O

    epitlio que recobre a gengiva livre pode ser diferenciado da seguinte forma: epitlio

    voltado para a cavidade oral, epitlio oral; epitlio voltado para o dente, sem ficar em

    contato com a superfcie do dente, epitlio do sulco; epitlio em contato da gengiva com

    o dente, epitlio juncional. O tecido conjuntivo projeta-se no epitlio atravs das

    chamadas papilas do tecido conjuntivo, sendo separadas entre si pelas cristas epiteliais.

    Ondulaes delimitam o limite entre o epitlio oral e o tecido conjuntivo subjacente

    (Williams, et al., 1995; Lindhe, et al., 2008).

    Estudos relatam que o processo de cicatrizao gengival gravemente afetado durante o

    envelhecimento e, a defesa imunologica dos tecidos orais, pode ser comprometida com o

    avano da idade, tanto pela diminuio das clulas de Langerhans quanto pela diminuio

    dos processo apoptticos no tecido gengival (Zavala & Cavicchia, 2006; Gonzalez, et al.,

    2011).

    2.5.4 Ligamento Periodontal

    O ligamento periodontal constituido de tecido conjuntivo frouxo, ricamente

    vascularizado e celular, sendo que, as principais clulas so fibroblastos, que, por sua vez,

    so essenciais para a manuteno da homeodinmica e para a regenerao tecidual. O

    ligamento periodontal envolve todas as paredes radiculares dos dentes, e une o cemento

    radicular lmina dura ou ao osso alveolar propriamente dito, pomovendo o suporte do

    dente no alvolo dentrio (Lindhe, et al., 2008; Konstantonis, et al., 2013).

    O espao do ligamento estende-se em largura varivel de 0,2 a 0,4mm, sendo mais estreito

    ao nvel de tero mdio radicular. As foras produzidas durante a mastigao e os contatos

    dentrios, so distribudas e absorvidas pelo processo alveolar atravs do ligamento

    periodontal; permitindo, dessa forma, uma mobilidade fisiolgica dos dentes. A largura,

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    30

    altura e qualidade do ligamento periodontal est intimamente relacionada a esta

    mobilidade dentria (Pergoraro, 1998; Lindhe, et al., 2008; Grzibovskis, et al., 2011).

    Durante a erupo dentria surgem as fibras principais do ligamento periodontal;

    inicialmente, estas fibras penetram na poro mais apical do osso alveolar; sofrem

    constantes processos de remodelao. Entretando, quando existe o contato oclusal

    dentrio e o dente entra em funo, as fibras do ligamento periodontal organizam-se em

    grupos de fibras colgenas dentoalveolares bem orientadas. Os grupos principais so:

    fibras da crista alveolar; fibras horizontais; fibras oblquas e fibras apicais (Lindhe, et al.,

    2008).

    Inmeros estudos, em animais e humanos, demostraram a correlao entre o ligamento

    periodontal e o envelhecimento (Huttner, et al., 2009; Persson, 2006; Cafiero C, 2013;

    Konstantonis, et al., 2013; Lossdorfer, et al., 2010). O ligamento periodontal torna-se fino

    e irregular com a idade, decorrente da diminuio da produo de matrix inorgnica, das

    fibras e do contedo celular. Diversos autores descreveram que, durante o

    envelhecimento, comum ocorrer uma perda moderada do ligamento periodontal, e que,

    entretanto, a periodontite, doena com alta prevalncia entre os idosos, no uma

    consequncia da idade, mas que, a sua severidade pode ser pela idade agravada (Huttner,

    et al., 2009; Siukosaari, et al., 2012; Zhang, et al., 2012; Konstantonis, et al., 2013).

    Alm disso, as alteraes metablicas, decorrentes do envelhecimento, parecem

    comprometer a habilidade de manter a homeostase celular e tecidual; causando, no

    ligamento periodontal, uma diminuio do reparo tecidual de suporte e destruio dos

    tecidos de suporte dentrio, levando a um quadro de periodontite crnica e perda dentria

    (Enoki, et al., 2007; Dvorok, et al., 2009; Lossdorfer, et al., 2010; Renvert, et al., 2011;

    Toron-Arroyave, et al., 2012; Konstantonis, et al., 2013). No mesmo sentido, estas

    alteraes metablicas, influenciam a prevalncia de que periodontite, que apresenta-se

    aumentada com a idade (Renvert, et al., 2013).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    31

    III. DISCUSSO

    Com o passar dos anos, desenvolve-se o processo de envelhecimento, onde ocorrem

    alteraes metablicas inerentes, de ordem bioqumica e celular, que culminam em

    modificaes anatmicas no organismo humano; essas modificaes que caracterizam

    o indviduo idoso. No aparelho estomatogntico so observadas inmeras alteraes, das

    quais, as principais foram descritas no captulo anterior e sero discutidas adiante.

    Na maxila, durante o processo de envelhecimento, so observadas diversas alteraes.

    Madeira MC, em 1998, descreve algumas das modificaes anatmicas comumente

    encontradas em idosos, entre elas: a localizao do forame incisivo e da espinha nasal

    anterior que podem ser encontrados prximos superfcie do rebordo residual; o palato

    sseo torna-se plano e mais raso, deixando de apresentar o aspeto arqueado; pode-se

    formar um toro palatino; a crista zigomtico-alveolar pode aproximar-se do rebordo

    residual; a cavidade do seio maxilar pode ampliar-se atravs da reabsoro ssea de suas

    paredes, bem como, o soalho pode ficar muito prximo do rebordo residual e culminar

    em deiscncias (Madeira, 1998).

    Diversos autores, ainda apontam para outras alteraes, como as no contorno do arco

    maxilar; retruso maxilar; rotao da maxila no sentido horrio; diminuio gradual e

    constante do ngulo maxilar; reduo vertical da altura maxilar; reabsoro ssea,

    diminuio do volume e densidade ssea da maxila (Brunetti & Montenegro, 2002 ;

    Williams SE, 2010; Mendelson & Wong, 2012; Glowacki & Cristoph, 2013; Ilankovan,

    2014; Kim, et al., 2015).

    Williams SE et al., em 2010, em seu estudo, avaliou as alteraes de forma nas curvaturas

    dos ossos da face ocorridas com a idade, nomeadamente do arco do processo alveolar da

    maxila, entre indivduos africanos e europeus; e, observou que, no existe diferena

    estatstica significante entre as diferentes origens tnicas; mas, por outro lado, verificou

    que, ocorrem alteraes no contorno do arco maxilar, com alteraes nos vetores de

    crescimento sseo entre os indivduos jovens e idosos (Williams SE, 2010). No estudo de

    Ilankovan V et al., em 2014, sobre a anatomia da face no envelhecimento, observou-se,

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    32

    alm da alterao do contorno do arco maxiliar; a rotao, no sentido horrio, da maxila

    e reduo vertical da altura maxilar (Ilankovan, 2014). Utilizando os mesmos parmetros

    e mtodos de anlise dos trabalhos citados anteriormente, Kim SJ et al., em 2015,

    analisaram as alteraes faciais relacionadas com a idade em indivduos asiticos; e,

    embora tenham descrito que o processo de envelhecimento facial dos asiticos seja

    diferente dos indivduos caucasianos, eles observaram que, nos asiticos, tambm ocorre

    uma diminuio significativa do ngulo maxilar, tal como ocorre nos indivduos

    caucasianos (Kim, et al., 2015).

    Em 2012, Mendelson B et al., analisaram as mudanas do esqueleto facial com o

    envelhecimento; e, observaram que, ocorre reabsoro ssea maxilar associada retruso

    maxilar, culminando na diminuio acentuada do angulo maxilar; bem como, ocorre uma

    maior reabsoro ssea em reas espefcicas, sendo que, na maxila, a regio da abertura

    piriforme a mais afetada, resultando em perda do suporte da base do nariz e parte do

    lbio superior do sulco nasolabial (Mendelson & Wong, 2012). Em concordncia com

    os achados do trabalho anterior, Ilankovan V et al., tambm descreveram a diminuio

    constante do ngulo maxilar com o envelhecimento (Ilankovan, 2014).

    Glowacki J et al., em 2013, analisaram as diferenas ocorridas, com o envelhecimento,

    na maxila; e, observaram que, com a idade, ocorre uma diminuio do volume e densidade

    mineral ssea da maxila, podendo culminar em aumento do risco de fraturas por trauma

    suave (Glowacki & Cristoph, 2013).

    Diversos autores, relataram que, a perda dentria uma causa determinante de perda ssea

    acentuada na maxila e processo alveolar (Madeira, 1998; Brunetti & Montenegro, 2002 ;

    Silveira, et al., 2005; Ilankovan, 2014). Ademais, nos estudos de Bodic F et al. e Mays S

    et al., os autores descreveram, tambm, que a perda dentria acelera o processo de

    reabsoro ssea (Bodic, et al., 2012; Mays, 2014).

    Na mandbula, as alteraes anatmicas observadas, no processo de envelhecimento, so:

    a espinha mentoniana ou tuberculos genianos podem apresentar-se no mesmo plano

    horizontal do rebordo residual; o forame mentoniano e o canal da mandbula podem

    localizar-se prximo ao rebordo residual, ou, at mesmo, sobre ele; a linha milo-hiidea

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

    33

    e a linha oblqua podem ficar no mesmo nvel, e, at mesmo, sobre o rebordo residual

    (Madeira, 1998).

    Diversos autores, descreveram que, na mandbula, ocorre um aumento do ngulo da

    mandbula, diminuio da altura do ramo da mandbula e diminuio da altura e

    comprimento da mandbula (Brunetti & Montenegro, 2002 ; Merrot, et al., 2005;

    Mendelson & Wong, 2012; Chole, et al., 2013; Ghaffari, et al., 2013; Ilankovan, 2014;

    Oksayan, et al., 2014).

    Em 2012, Mendelson B et al., analisaram as alteraes do esqueleto facial com o

    envelhecimento, e, descreveram que, ocorre um aumento gradual do ngulo da

    mandbula, diminuio da altura do ramo e corpo da mandbula (Mendelson & Wong,

    2012). Os resultados obtidos por Chole RH et al., Ghaffari R et al. e Oksayan R et al.

    esto concordncia com estes achados, acrescentando que o edentulismo aumenta o grau

    de diminuio da altura do ramo e o aumento do ngulo da mandbula (Chole, et al., 2013;

    Ghaffari, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014). Merrot O et al., descreveram que, estas

    alteraes, podem ser decorrentes do desequilbrio entre os msculos elevadores e

    abaixadores da mandbula e pela reabsoro ssea (Merrot, et al., 2005). Ilankovan V et

    al., em 2014, no estudo em que analisaram a anatomia do envelhecimento facial, tambm

    observaram que, ocorre uma reduo da altura alveolar da mandbula, causada pela

    reabsoro ssea e aumento da dobra labiomentual (Ilankovan, 2014).

    No entanto, alguns estudos, contradizem os achados acima citados; Pecora et al., em 2006,

    demonstraram que o comprimento da mandbula aumenta com a idade. Pessa et al., em

    2008, observaram um aumento da mandbula, tanto em largura como em altura, com o

    aumento da idade (Pecora, et al., 2006; Pessa, et al., 2008). Entretanto, a diferena dos

    achados nos diversos trabalhos pode ser decorrente da diferena de pontos cefalomtricos

    elegidos para tal anlise.

    Jonasson G et al., em seu estudo sobre as alteraes sseas, realizado durante 24 anos,

    observaram que, ocorre um aumento do espao intratabecular, o trabeculado sseo parece

    ser menos mineralizado e o osso compacto torna-se mais fino e poroso (Jonasson, et al.,

    2013). Entretanto, anteriormente a este estudo, Kingsmill VJ et al., em 1998, observaram

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

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    que, o osso mandibular parece ter a densidade ssea aumentada com o envelhecimento,

    achado divergente aos outros ossos do organismo (Kingsmill & Boyde, 1998).

    Inmeros estudos, apontam, ainda, a perda dentria e a menopausa em mulheres, como

    fatores que alteram o processo de remodelao ssea na mandbula, favorecendo a perda

    ssea mandibular (Kingsmill & Boyde, 1998; Merrot, et al., 2005; Silveira, et al., 2005;

    Jonasson, et al., 2013; Chole, et al., 2013; Oksayan, et al., 2014).

    As alteraes observadas na articulao dento-alveolar, nomeadamente, gonfose, foram

    descritas por diversos autores. Desde o final dos anos de 1970, o comportamento anato-

    fisiolgico das articulaes tem sido foco de estudo. Severson JA et al., avaliaram as

    alteraes na gonfose com a idade, e, observaram que, ocorre um processo atrfico e

    degenerativo semelhante ao que ocorre nas suturas cranio-faciais; bem como, ocorre uma

    diminuio das fibras periodontais e do contedo celular e, sua estrutura, torna-se mais

    irregular que no indivduo jovem (Severson, et al., 1978). Em concordncia com os

    achados do estudo acima citado, Chantawiboonchai P et al., ao analisarem o efeito do

    envelhecimento sobre as fibras oxitalnicas do ligamento periodontal, observaram que,

    alm da diminuio da celularidade e das fibras colgenas, ocorre alteraes histolgicas

    nas fibras oxitalnicas de jovens e idosos (Chantawiboonchai, et al., 1999).

    Em 2007, Ho SP et al., ao analisarem o mecanismo de fixao dentria definida pela

    estrutura, composio qumica e propriedades mecnicas das fibras colgenas,

    observaram que, o carcter progressivo da doena periodontal, situao esta, com alta

    prevalente entre idosos, e a presena de processo inflamatrio crnico, podem ocasionar

    a degradao das propriedades fsicas e funcionais da gonfose, culminando na perda de

    insero e contribuindo para a perda dentria (Ho, et al., 2007).

    Diversos autores, descrevem, o processo de fuso do cemento dentrio ao osso alveolar,

    quando o ligamento periodontal no se encontra presente, nomeadamente, a anquilose

    dentria (Andersson & Malmgren, 1999; Gonalves, et al., 2008; Xiong, et al., 2013; Lim,

    et al., 2014; LeBlanc, et al., 2016). Xiong J et al., em seu estudo, sobre o papel dos restos

    epiteliais de Malassez no desenvolvimento, manuteno e regenerao dos tecidos do

    ligamento periodontal, descreveram, a existncia de evidncias que, estas clulas,

    participam do processo de manuteno do espao do ligamento periodontal, uma vez que,

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    sempre, so encontradas em reas vitais do ligamento periodontal de dentes

    reimplantados; alm disso, a ausncia de clulas de resto epitelial de Malassez no

    ligamento periodontal regenerado, est associada com a diminuio do espao do

    ligamento periodontal (Xiong, et al., 2013). Entretanto, Gonalves et al., em 2008, j

    houvesse descrito que este processo podia ser influenciado pelo envelhecimento

    (Gonalves, et al., 2008).

    Na literatura, existem inmeros estudos sobre o comportamento da ATM no

    envelhecimento. Castelli WA et al., em 1985, estudou os componentes histolgicos da

    ATM durante o envelhecimento, e, observou que, ocorre uma intensa proliferao de

    fibrocartilagem da cabea do cndilo e da eminncia articular; que ocorre mudanas

    degenerativas na neovascularizao no disco articular e proliferao da vilosidade

    sinovial, tecido sinovial e fibras musculares. Bem como, que os componentes da ATM

    frequentemente mais afetados so a cabea do cndilo (30.4%) e o disco articular (21.7%)

    (Castelli, et al., 1985). Entretanto, em 1990, Nannmark U et al., descreveram que, as

    perfuraes do disco articular so encontradas na ordem de 59% dos indivduos idosos;

    entretanto, as alteraes encontradas na cabea do cndilo (38%) parecem de forma

    semelhante ao trabalho anteriormente citado (Nannmark, et al., 1990)

    Em 1988, Akerman S et al. analisaram as alteraes macroscpicas e microscpicas na

    ATM em indivduos idosos, e, observaram que, os sinais radiolgicos de eroso foram

    fortemente associados com a destruio da superfcie articular do cndilo; bem como,

    observaram reas com esclerose do componente temporal da ATM e perfurao do disco

    articular (Akerman, et al., 1988).

    Em concordncia com os resultados obtidos por Stratmann U et al., em 1996, em estudo

    mais recente, de Tour G et al., estes avaliaram as modificaes anatmicas da ATM

    durante o envelhecimento, e, observaram alteraes degenerativa na ATM em mais de

    50% dos indivduos idosos. As principais alteraes macroscpicas observadas foram ao

    nvel do disco articular, e, degenerao manifestada atravs de desgaste por atrito ou

    frico, adelgaamento e/ou perfurao. Assim como, alteraes radiogrficas

    apresentaram-se como, mineralizao difusa e afilamento da cortical ssea e processos

    de osteoartrose (eroso ssea, ostefitos, cistos). Histologicamente, foram observadas a

    ocorrncia de degenerao amiloide e osteoesclerose do disco articular (Stratmann, et al.,

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    1996; Tour, et al., 2005). Anteriormente, em 2000, Grunet I et al., alm de descreverem

    as alteraes acima mencionadas, tambm observaram que pode ocorrer alteraes na

    forma do cndilo, e que, estas alteraes podem ser derivadas do edentulismo (Grunert,

    et al., 2000). No entanto, Holmlund A et al., em seu estudo sobre a osteoartrose da ATM,

    observou que, no existe diferena estatstica significante, entre, totalmente dentados, e

    aqueles com reduo da ocluso molar na osteoartrose (Holmlund & Axelsson, 1994).

    Adicionalmente a estas modificaes descritas que ocorrem na ATM durante o

    envelhecimento em humanos, importante descrever os achados de Blumenfeld I et al.

    de que, a interleucina-1, exerce um papel catablico no processo degenerativo ocorrido

    na ATM de ratos idosos (Blumenfeld, et al., 1997).

    No estudo de Roda RP et al., 2007, no qual apresentaram uma reviso sobre a patologia

    da ATM, os autores, descrevem que, a idade, um fator de risco para o desenvolvimento

    de patologias na ATM, e que, em pacientes idosos, os sinais clnicos e radiolgicos de

    alteraes tem maior prevalncia (Roda, et al., 2007). Do mesmo modo, Camacho JG et

    al., em 2014, observaram alta prevalncia de desordem temporomandibular entre os

    indivduos idosos (61%), sendo que, o gnero feminino, foi o mais afetado (Camacho, et

    al., 2014)

    Em 2015, Kim DG et al., ao analisarem as variaes regionais das propriedades do tecido

    sseo em cndilos mandibulares de cadveres entre 54 e 96 anos, observaram a ocorrncia

    de variaes regionais de mineralizao do tecido sseo. Os valores obtidos para o

    mdulo de elasticidade e dureza foram maiores no crtex periosteal do que na regio de

    osso trabecular do cndilo. Em contraste, o trabeculado sseo apresentou maior

    viscoelasticidade. Os autores sugerem, ainda, que estas caractersticas do tecido sseo

    podem ser funcionais para resistncia da poro cortical e a absoro e dissipao das

    cargas sobre a ATM durante a ocluso e mastigao (Kim, et al., 2015).

    Durante o envelhecimento podem ocorrer alteraes macroscpicas da anatomia dos

    dentes. Em 1999, Osborne-Smith KL et al. analisaram a etiologia das leses cervicais de

    origem no cariosa (eroso e abraso), e, observaram que, a prevalncia e severidade da

    eroso dentria pode aumentar com a idade; no entanto, a origem multifatorial e as

    alteraes cervicais podem se manifestar clinicamente de diferentes maneiras (Osborne-

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    Smith, et al., 1999). No estudo sobre a relao da idade com o processo de desgaste

    dentrio, Barlett D et al., observaram que, existe uma intima relao entre estes dois

    fatores, mas que, a sua severidade, no influenciada pela idade (Barlett & Dugmore,

    2008).

    No estudo de Borcic J et al., em que avaliaram a prevalncia de leses no cariosas na

    dentio permanente, os resultados encontrados esto de acordo com os achados de

    Osborne-Smith KL et al.; ainda descrevem que, entre as causas possveis, para maior

    prevalncia entre a populao idosa, esto, o efeito cumulativo das microfraturas que

    ocorrem ao longo da vida e a fragilidade do esmalte em idades mais avanadas (Borcic,

    et al., 2004).

    Kaidonis JA et al, em 2008, analisaram o desgaste dentrio e observaram que a

    prevalncia dos processos de atrio, abraso e eroso so maiores durante o

    envelhecimento e apresentaram uma progresso inevitvel ao longo da vida (Kaidonis,

    2008).

    Em 2011, no estudo clnico da eroso dental e desgaste erosivo, Huysmans MCDNJM et

    al., descrevem que, a prevalncia de desgaste dentrio na ordem de 17% na idade de 70

    anos, enquanto que, de 3% aos 20 anos. Ainda puderam observar que necessrio o

    desenvolvimento de novas tecnologias de diagnstico para anlise que casos no severos

    de desgaste dentrio (Huysmans, et al., 2011).

    O desgaste mecnico, nomeadamente, a fratura dentria, foi estudada por Lucas PW et

    al., e, os autores, descreveram que, a perda cumulativa de estrutura de esmalte causada

    pelas microfraturas no podem ser observadas clinicamente (Lucas & Casteren, 2015).

    Yahyazadehfar M, em 2016, analisaram a importncia da idade sobre a resistncia

    fratura do esmalte dentrio humano, e, observaram que, ocorre uma menor resistncia

    fratura, no tecido envelhecido, que no tecido jovem; sendo que, esta reduo pode ser

    atribuda diminuio do grau de dureza extrnseca do dente (Yahyazadehfar, et al.,

    2016).

  • Consideraes Anatmicas Sobre o Envelhecimento do Aparelho Estomatogntico

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    Em concordncia com os achados descritos por Luca