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L732e Lima, Sandra.A encantadora de gente: como relações públicas pode fazer a
diferença para o seu negócio e para sua vida/ Sandra Lima. Unipê: João Pessoa, 2018. 144 f
ISBN 978-85-87868-39-8
1. Relações Públicas. 2. Comunicação Social. 3. Comunicação Interna. I. Título.
UNIPÊ / BC CDU 659.4
CONSELHO EDITORIAL
PRODUÇÃO EDITORIAL
coordenação de PRODUÇÃO
projeto gráfico
Mariana de Brito Barbosa
Karina Guedes Correia
Luis Manuel Gonçalves Miranda
Filipe Carvalho de Almeida
Raiff Pimentel Félix Almeida
Núcleo de Publicações Institucionais (NPI)
Filipe Carvalho de Almeida
Raiff Pimentel Félix Almeida
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Este livro, sob vários aspectos, é bem diferente dos outros que enfocam as relações públicas. Primeiro, porque é criativo e inovador, narrando de modo fictício a atuação “real” de uma relações públicas competente, socialmente responsável e ética.
Segundo, porque evita uma abordagem excessivamente teórica, valorizando mais a prática, facilitando assim um melhor entendimento das atividades profissionais. Terceiro, porque ressalta o verdadeiro papel das relações públicas como agente de mudanças nas organizações, evidenciando uma abordagem multidisciplinar nas áreas da comunicação social.
Outrossim, discorre sobre a importância da comunicação com o público interno de modo convincente, explicitando como ela deve ser realmente processada, considerando a dimensão humana e holística do funcionário.
Sandra, explicita ainda, com muita propriedade, o “Plano de Comunicação Interna”, identificando-se com o pensamento de Idalberto Chiavenato “Saber gerenciar pessoas é um passo decisivo para uma administração participativa”
Destaca-se, sobretudo, o “Planejamento de Comunicação” quando a autora delimita com precisão os termos: diagnóstico, objetivo, meta, estratégia e tática, sem esquecer a avaliação dos resultados.
Outro ponto a salientar nessa obra é a valorização do diálogo como elemento imprescindível para as relações públicas. E a contribuição valiosa sobre o humanismo que deve nortear nossas atividades. Vivemos em um mundo que cada vez mais se individualiza, onde o TER supera o SER, onde o desenvolvimento tecnológico ameaça as relações interpessoais. Assim sendo, é gratificante conhecer pessoas que ainda acreditam ser possível quebrar paradigmas e promover mudanças utilizando as relações públicas.
A personagem Olga Frieling se identifica com a autora, tornando o livro ‘quase’ uma autobiografia. O que se justifica pela sua comprovada experiência profissional no campo da comunicação corporativa.
A leitura deste livro é indispensável para os profissionais, alunos e principalmente para os empresários que pouco, ou quase nada, conhecem Relações Públicas.
Ruth Maria G Magalhães1
1 Professora da Escola Superior de Relações Públicas de Pernambuco – a segunda mais antiga do Brasil.
FAZENDO A DIFERENÇA
AS PRIMEIRAS BATALHAS
MELHORANDO A COMUNICAÇÃO E OS RELACIONAMENTOS, INTERNAMENTE
UMA NÃO SOBREVIVE SEM A OUTRA: INTEGRANDO A COMUNICAÇÃO INTERNA, INSTITUCIONAL E MERCADOLÓGICA
REVITALIZANDO RELACIONAMENTOS: O CASO DO CLUBE
REFLETINDO UM POUCO SOBRE ALGUMAS QUESTÕES DE RELACIONAMENTO
A DESPEDIDA
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Olga já havia morado e trabalhado em vários lugares do país antes de chegar
à empresa em que eu trabalhava. Eu era secretaria executiva da Presidência, e
já havia alguns anos que estava na organização. Presenciei a chegada e a saída
de inúmeros profissionais, alguns bons, alguns ruins e alguns excelentes, que
passaram e deixaram a sua contribuição, mas Olga conseguiu fazer a diferença.
Quando eu a chamava de bruxa, ela sorria e me dizia que de modo algum
era alguém excepcional, nem um ser humano iluminado, apenas uma profissional
que exercia sua atividade com seriedade e competência. Depois de algum tempo,
e do contato com outros profissionais tão competentes quanto ela, percebi
que Olga estava certa. Não existia bruxaria, e o encantamento era fruto de um
trabalho sério, que conquistava a mente das pessoas por meio do respeito, da
consciência holística, do trabalho centrado no ser humano
Essa foi a minha grande motivação para contar a história dessa profissional
dedicada, e que pode servir de exemplo para muitas pessoas que desejam
compreender melhor o que é um Relações publicas, o que este profissional faz,
e a diferença que a sua atividade pode fazer em qualquer organização. Pode
servir também para aqueles que gostariam de saber como alguém pode fazer a
diferença entre tantos outros de sua profissão. A inteligência, a sagacidade, a
visão de mundo, as técnicas e a sensibilidade de Olga, provavelmente, poderão
inspirar outras pessoas a enxergar de outra maneira o a aplicação dos conceitos
de Relações publicas e de tantas outras atividades interligadas à comunicação,
ou que precisam fazer uso dela. Creio ainda, que pode ajudar a qualquer
profissional, de qualquer área, a melhorar suas relações profissionais e pessoais
em seu ambiente de trabalho.
Mas vocês já devem estar curiosos para saber como tudo começou, então
vamos lá.
Eu me sentava em uma grande mesa, em uma sala solitária, separada
apenas por uma porta de vidro do corredor. Tudo muito imponente e sóbrio.
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Como toda boa secretária, eu vivia envolvida com as agendas dos chefes, as
cartas, memorandos etc. Estava de cabeça baixa, quando percebi uma silhueta
elegante, parada a minha frente. Suspirei baixinho, bem baixinho, imaginando
que deveria ser alguma perua de algum diretor, querendo incomodar. Fingi não
ver, mas a mulher não se fez de rogada.
- Bom dia! – ela disse simpática.
Levantei a cabeça lentamente, tentando não dar a perceber a minha
contrariedade. Surpreendi-me ao ver aquela mulher enorme, magra, elegante, de
grandes olhos verdes e cabelos negros, sorrindo sinceramente para mim. Aquele
sorriso enorme, aquele olhar que parecia penetrar a minha alma, me desmontou
imediatamente. Senti vontade de retribuir aquele sorriso tão espontâneo.
- Bom dia! Em que posso ajudá-la?
- O Doutor Paulo Figueiredo está me aguardando. Meu nome é Olga
Cerqueira Frieling.
- De onde, por favor?
- Eu sou a candidata à vaga de Relações publicas.
- Um momento, por favor!
Interfonei para o Dr. Paulo, presidente da empresa, que autorizou a entrada
da Olga. Indiquei a porta para ela, que me agradeceu sorrindo mais uma vez.
Confesso que era estranho para mim alguém sorrir daquela forma tão espontânea
na empresa. Normalmente as pessoas estavam ou apressadas, ou estressadas,
ou mal humoradas, ou ocupadas demais para se dar ao trabalho de sorrir para
alguém. Eu, que tinha a obrigação de ser delicada e simpática com as pessoas
que procuram os diretores, já havia ensaiado o meu sorriso elegante, mas sóbrio.
Se não era dos melhores, pelo menos não me transformava em uma secretária
antipática.
Ao final da primeira meia hora que Olga havia entrado na sala do Dr.
Paulo, eu comecei a estranhar a demora. Ele costumava ser extremamente
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rápido, objetivo e sintético em suas reuniões, principalmente em se tratando de
funcionários. Aliás, não era nem um pouco comum ele realizar entrevistas com
funcionários. Tudo bem que se tratava de um cargo executivo da empresa, mas
ainda assim, era o Diretor de Recursos Humanos quem cuidava das contratações
dos executivos. Resolvi bater na porta e oferecer água e café. Surpreendi-me ao
ver Dr. Paulo conversando de maneira muito simpática com Olga, mesmo com
toda formalidade e frieza que lhe era de costume. Eu fiz o oferecimento e recebi
um sim como resposta das duas partes.
Somente ao final da primeira hora de conversa, Dr. Paulo me chamou pelo
interfone e solicitou que eu encaminhasse Olga ao departamento de Recursos
Humanos para falar com Dr. José, o diretor.
Maior ainda foi a minha surpresa ao ver que na saída Dr. Paulo devolveu
a Olga o sorriso e apertou sua mão desejando-lhe boas vindas. Estranhamente,
todas as vezes que vi Dr. Paulo se despedir de alguém que não fosse um grande
cliente ou o presidente de outra empresa, ele mal olhava para a pessoa com
quem falava. Tinha o péssimo hábito de mexer em papéis, falar ao telefone, fazer
anotações enquanto as pessoas a sua frente falavam com ele. Aliás, nada educado,
principalmente se tratando do presidente de uma grande organização.
Quem era essa mulher, e o que havia feito para que um profissional tão
fleumático, distante e frio a tratasse com tanta consideração? Ah! Mas eu ia
descobrir! Ainda mais agora que ela seria contratada.
Depois de algum tempo, Olga voltou a minha sala.
- Olá – cumprimentou-me novamente com um sorriso franco no rosto.
- Olá – respondi mais solícita desta vez.
- Como é o seu nome? – Perguntou ela.
- Daniela.
- Olá de novo Daniela. Talvez você possa me ajudar. Preciso de um lugar
para ficar. A empresa vai pagar hotel para mim, mais eu detesto morar
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em hotéis. Gostaria muito de conseguir logo uma casa ou apartamento
para morar. Você poderia me indicar algumas imobiliárias? – perguntou
animada.
- Claro, vou verificar na minha agenda – em um gesto meio automático,
abri a agenda e comecei ligar para as imobiliárias. Olga me fitava
naturalmente, como que já esperasse aquele gesto. Não havia um pingo
de surpresa em seu rosto. Tentei ficar indignada. Ora, será que aquela
mulher achava que era minha obrigação fazer aquilo para ela? Olhei para
ela fixamente enquanto o telefone chamava do outro lado da linha. Não
consegui perceber nenhum gesto de altivez em sua expressão. Apenas
naturalidade. Liguei para várias imobiliárias, mas não havia imóveis
disponíveis no momento. A cidade, além de abrigar a empresa em que
eu trabalhava, era também um pólo educacional, e nessa época do ano,
alunos e professores já haviam alugado a maioria dos bons imóveis da
cidade. Aliás, os bons e os ruins também.
- Sinto muito Olga, não há nada disponível no momento - Percebi um
imenso ar de frustração em seu rosto.
- Fazer o que? O jeito é ficar no hotel até conseguir um lugar descente
pra viver. Também, não é o fim do mundo. Já, já há de aparecer um apê
pra alugar, ou alguém que queira dividir um.
Impulsivamente, sem me dar conta do que estava fazendo, convidei Olga
para morar comigo. Nunca entendi bem como tomei tal atitude de forma tão
intempestiva.
- Você está falando sério? – Ela perguntou atônita.
- Sim. Eu vivo sozinha, e gostaria mesmo de dividir as despesas com
alguém – eu falava ainda meio sem convicção.
- Tem certeza que não vou incomodar.
- Se você incomodar, depois que estiver lá, damos um jeito para você
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arrumar outro lugar – falei.
- Então combinado, se não nos adaptarmos, encontro outro lugar – ela
falou sem nenhum constrangimento.
- Quando eu sair podemos ir até o apartamento. Você olha e se gostar,
pode ir hoje mesmo. Porém, o quarto já está mobiliado.
- Não tem problema, quem sabe mais tarde, encontro um lugar para
morar sozinha. Se não, deixo minhas coisas na casa dos meus pais. Há
bastante espaço por lá.
- Então, combinado. Te espero às 18h no portão principal da empresa.
- Combinado. Você está de carro?
- Sim, você tem um?
- Sim, mas encontro um lugar provisório para colocá-lo.
- OK. Até as seis.
- Até. E, obrigada Daniela, muito obrigada mesmo – disse sorrindo.
Depois que Olga saiu da minha sala fiquei pensando sobre quais os motivos
que havia me levado a me comportar de maneira tão impulsiva. Convidar para
morar em minha casa uma pessoa que eu mal havia conhecido? Mas o seu
olhar me passou tanta confiança. Aliás, alguma coisa naquela mulher a tornava
extremamente confiável. Será que eu tinha tomado à decisão certa? Bom, agora
o que estava feito não havia como desmanchar. E, a bem da verdade, eu não
me sentia nem um pouco inclinada a desmanchar mesmo. Sentia uma enorme
vontade de conhecer bem aquela criatura. Minha intuição falava mais alto que a
minha razão.
Uma semana depois que Olga estava morando em minha casa parecia que
tínhamos nos conhecido havia muitos anos. Não é novidade que conviver com
alguém é algo extremamente complexo. Mas, Olga, apesar de muito falante,
tinha a percepção e a inteligência para ouvir e falar na hora certa. Se me percebia
triste, por exemplo, perguntava gentilmente se estava tudo bem, se eu gostaria
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de conversar, e bastava apenas eu balançar a cabeça de leve e dizer “Obrigada,
está tudo bem” para ela se recolher e me deixar sozinha. Se eu queria falar, ela me
ouvia pacientemente, e prestava atenção a cada palavra e cada gesto meu. Não
me interrompia de forma alguma. E, o mais bacana, é que quando eu terminava
de falar, Olga não tentava me dar conselhos ou analisar a minha situação, como
normalmente ocorre. Quando eu lhe perguntava o que ela achava, ela respondia
sorrindo que o seu repertório era diferente do meu, e que os meus problemas e
sentimentos eram meus. Não adiantaria ela me aconselhar ou tentar me dizer o
que fazer porque isso dizia respeito as minhas experiências, e as soluções viriam
delas, da forma como elas se organizavam em minha mente e me faziam perceber
o mundo. “Procure dentro de você as respostas, elas estão aí”. E, foi essa agradável
convivência que me fez entender o porquê Olga conquistava as pessoas de forma
tão rápida: ela olhava todos dentro dos olhos, e sempre quando falava sua voz
firme, apesar de suave, e sua expressão revelava os seus sentimentos. A maneira
como ela evitava a falsa modéstia, a dissimulação, e os elogios exagerados, e o
seu sorriso espontâneo, verdadeiro, demonstravam a sua transparência. Quantas
pessoas, como eu, sorriam apenas dissimuladamente para atender as normas
profissionais. Um dia, eu a questionei sobre como ela se mantinha feliz para sorrir
com tanta espontaneidade e sinceridade para as pessoas, e ela me respondeu que
não era feliz as vinte e quatro horas do dia, e que também tinha seus problemas
e suas angústias profissionais e pessoais, mas que quando ela se dirigia a alguém,
tentava imaginar o quanto aquela pessoa era importante em sua vida profissional
e pessoal, e principalmente o quanto aquela pessoa merecia o seu respeito. Mas,
segundo ela, isso foi um exercício de muitos anos: procurar olhar as pessoas de
dentro para fora e não de fora para dentro. Imaginar que as posições poderiam
estar invertidas naquele momento. No entanto, o mais interessante, e que eu não
havia percebido, foi quando ela me disse que só sorria para as pessoas e esse sorriso
fosse espontâneo. A transparência, conceito básico das Relações publicas, estava
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incorporada em Olga, não servia apenas como técnica para traçar estratégias de
relacionamentos da organização com seus públicos. E, era por isso que as pessoas
confiam nela.
Mas, voltando ao dia-a-dia, a rotina dela era bastante movimentada.
Acordava bem cedo, vestia sua roupa de ginástica e caminhava durante uma hora.
Ao término da caminhada, ela ia direto para academia e malhava durante mais
uma hora. Quando chegava a casa, tomava um banho demorado, se arrumava e
tomava um café da manhã de rainha.
- Olga, se eu fizesse todo esse exercício antes de sair de casa, acho que
estaria tão cansada que não conseguiria trabalhar!
- Você que pensa Dani! Você se sentiria mais disposta! Exercício físico
faz muito bem para o corpo e para o cérebro! – respondeu Olga enfática
– Você deveria experimentar! Aliás, dona Daniela, amanhã a senhorita
começa a fazer a caminhada comigo, que tal?
- Nem pensar Olga! Não vou perder quase duas horas de sono para andar
– falei indignada.
- Deixe de ser preguiçosa! – disse as gargalhadas.
- Não vou!
- Ta bom, não sabe o que está perdendo!
Realmente, não fui naquele dia, mas a inveja da disposição de Olga me
estimulou a acompanhá-la em suas caminhadas. Confesso que passei a me sentir
muito mais revigorada durante todo o dia. Realmente a malhação era algo que
estava fora de cogitação para mim, mas caminhar me fez muito bem. Outra vitória
de Olga sobre o desânimo!
- E, então mulher, não é bom uma caminhada antes do trabalho? – me
perguntou Olga sorrindo, enquanto tomávamos café.
- Certo, você venceu! Realmente me sinto fisicamente mais disposta.
- E a cabeça? Também está mais disposta? – ela perguntou faceira.
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- Admito Olga. Tenho percebido que chego mais relaxada e disposta
mentalmente ao trabalho.
- O que você pensa enquanto caminha? – ela perguntou.
- Hum! – parei para pensar – boa pergunta. Realmente não me lembro de
tudo. Aliás, não me lembro de nada – Olga me interrompeu.
- Isso porque quando você está caminhando você se concentra em seus
passos, na sua respiração, nas pessoas que passam por você...
- É mesmo!
- Então amiga, lembre-se de não deixar de caminhar nunca. Faz bem
para o corpo e para a mente.
Mas Olga não tinha disposição apenas para ensinar bons hábitos, tinha
também disposição para aprendê-los. Isso foi o que mais me encantou. Ela
observava, perguntava, experimentava e trocava seus hábitos sem nenhum
constrangimento. Para ela, o importante era absorver o que de melhor as pessoas
pudessem lhe oferecer.
Na empresa, as pessoas começaram a perceber a diferença em mim com
menos de quinze dias que estávamos morando juntas.
- Nossa Dani, você está diferente! Parece mais animada! – Eu, no entanto,
sem querer admitir que estivesse bem melhor, tirava o sorriso do rosto
e respondia gentilmente:
- Acho que é impressão de vocês! Continuo a mesma!
- Coisa nenhuma, você está muito mais animada e gentil. Menos...
Quando fiquei sozinha em minha sala parei para refletir sobre o que estava
acontecendo realmente. Por que Olga estava fazendo a diferença na minha vida?
Não acontecia nada de mais: nem longos sermões, nem diálogos acalorados...
Porém, há muito tempo alguém não parava para me ouvir, e Olga tinha essa
extrema capacidade. Normalmente as pessoas querem te dar conselhos,
adivinhar o que você está sentindo, pensando, e sem ao menos saber o que se
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passa dentro de você, tem a dura pretensão de quere te aconselhar. Olga sabia
ouvir, e isso fazia toda a diferença. Percebi na convivência com ela, que saber
ouvir é um princípio básico para quem trabalha com pessoas, e não podemos
esquecer que organizações são compostas por pessoas. Quando se ouve, se tem a
possibilidade de conhecer anseios, opiniões, dúvidas, insatisfações, expectativas,
e grandes ideias, além de fazer com que as pessoas se conheçam também. Aprendi
também que quando falamos sistematizamos nossos pensamentos e eles ficam
mais claros para nós. Eu sempre acreditei que quando precisássemos falar com
alguém seria para receber conselhos, e não é bem assim. Na verdade precisamos
apenas falar para organizar nossos pensamentos e sentimentos. Seria bom que as
pessoas entendessem isso. Ouvir por ouvir, isso basta para fazermos uma enorme
diferença na vida de alguém.
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Não restam dúvidas que a Olga estava me fazendo muito bem, mas não
só a mim. Na empresa, os funcionários estavam mais alegres e trabalhando com
mais ânimo.
Tudo começou quando Olga convenceu a diretoria a convocar uma reunião
com os chefes de departamento e ouvir quais eram as principais queixas, anseios
e dificuldades que os funcionários tinham para executar suas tarefas. Aliás,
essa foi a primeira grande batalha de Olga. Uma batalha travada com sutileza,
insistência e muita argumentação. Eu podia ouvi-la durante longos períodos
argumentando com os diretores que não adiantava apenas pagar bons salários
para os funcionários, mas que era preciso entender a cultura deles, promover
a integração, fazer com o clima da empresa fosse agradável, e que pelo fato das
pessoas passarem mais tempo na empresa do que em suas próprias casas era
preciso que elas se sentissem bem, gostassem de estar no local de trabalho, e
sentissem prazer em realizar suas funções. Ouvi, inclusive, enquanto servia
café para os diretores, o quanto ela foi enfática quando garantiu que se isso
acontecesse à produtividade dos funcionários cresceria inacreditavelmente. “As
pessoas produzem mais e melhor quando se sentem motivadas, quando estão
satisfeitas com o que fazem, quando são ouvidas. Até para resolver problemas
elas se sentem mais seguras e mais confiantes.”- Dizia Olga enfática. Enquanto
eu servia o café, olhava para a expressão atônita de cada um dos diretores. Olga
tinha deixado todos muito perplexos. O silêncio entre eles pareceu durar uma
eternidade, e só foi rompido pelo Dr. Paulo.
- Creio que devemos dar um voto de confiança a Olga. Estamos com
problemas internos há algum tempo e não temos conseguido resolvê-los.
- O que você sugere Olga? – Arguiu Dr. César.
- Bem Doutor, eu já estou trabalhando no diagnóstico organizacional da
empresa, mas para conhecer melhor o nosso público interno, gostaria
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de realizar uma pesquisa de opinião com eles. Em primeiro lugar eu
ouviria os chefes de departamento, depois os funcionários. Daí, então,
falo com os supervisores e com a diretoria. Creio que esse é o primeiro
passo conhecer qual a percepção que os funcionários têm da empresa,
da sua imagem, como eles percebem o seu processo e o seu ambiente
de trabalho, como eles se sentem em relação à empresa, e também os
processos de comunicação interna.
- Isso seria prudente Dr. Paulo? – perguntou o diretor de produção.
- Caro Dr. César, creio que não se trata de uma questão de prudência.
Creio que ouvir nossos funcionários não nos tornará menos prudentes.
Até agora, apesar dos nossos esforços e ações a única coisa que
conseguimos foi insatisfação, rotatividade excessiva de funcionários, e
um clima organizacional que não tem sido dos melhores. Talvez o nosso
ledo engano tenha sido realmente não escutar os nossos funcionários,
conhecer as suas expectativas, seus anseios, o que eles acreditam que
seja uma boa empresa para se trabalhar. Responda-me Dr. César, por
que perdemos bons executivos para nossos concorrentes se pagamos
bons salários? – Dr. César titubeou.
- Realmente não tenho a resposta Dr. Paulo.
- Exatamente, nós não temos as respostas e precisamos delas. E, a única
maneira de obtê-las é agindo como Olga nos propõe.
- E será esse o caminho certo? – perguntou sarcasticamente o Dr. José,
diretor de RH.
- Você deveria saber melhor do que eu José – respondeu irritado o vice-
presidente
- Esse problema está mais ligado a sua área do que a minha. Por acaso José,
alguma vez você procurou saber por que um dos nossos funcionários
estaria deixando a empresa?- O homem empalideceu. Olga, gentilmente,
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interveio.
- O senhor em alguma sugestão Dr. José? – perguntou sinceramente e
gentilmente. Todos olharam para Olga e depois para o diretor de RH.
- Não Olga. Só tenho dúvidas em relação ao que você quer fazer. Será que
escutar os funcionários e deixá-los falar abertamente sobre as falhas
da empresa não será prejudicial. Talvez fosse melhor fazermos alguns
programas motivacionais.
- Dr. José, não descarto de maneira alguma essa possibilidade. Aliás,
acho excelente, mas se não ouvirmos dos funcionários o que eles
enxergam como problema, como poderemos resolvê-los? E mais Dr.
José, se a imagem que esses funcionários têm da empresa for ruim, eles
com certeza disseminaram essa imagem para outros públicos. Não
me adianta tentar fazer um trabalho de comunicação externa, junto à
imprensa, ou com propaganda, se não resolvermos nossos problemas
internos.
Eu saí da sala, mas ainda tive tempo de ver a expressão de decepção
no rosto do Dr. César, e a expressão tranquila de Olga. Apesar de estar
vencendo a batalha, em nenhum momento ela se mostrava altiva ou
arrogante.
Depois de aprovado o projeto de Olga pela diretoria, ela passou muito
tempo se reunindo com os funcionários da empresa. Mas não era só isso,
um dia Olga me aparece vestida de Jeans, camiseta e tênis para trabalhar.
- Oi Olga, não vai trabalhar hoje?
- É claro que sim! Só que hoje eu vou para o campo! Vou conversar com
os terceirizados.
- Ora, mas eles são terceirizados, não tem nada haver com a empresa
Olga!
- Você que pensa! Eles estão lá dentro. Convivem com nossos
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funcionários, desenvolvem atividades que são importantes para o bom
funcionamento da empresa, e além de tudo, convivem diretamente com
os nossos funcionários. Comem no mesmo restaurante, descansam na
mesma grama, usam os mesmos banheiros, e blá, blá, blá...
- Verdade, eu não tinha pensado nisso!
- Não teria porque amiga, não é a sua área. Nos veremos no final da tarde
– disse Olga.
- Até.
- Te encontro as cinco aqui.
- Combinado.
Olga chegou à casa sedenta por um banho. A ida ao campo havia lhe
deixado mais fatigada do que o normal. Comemos uma salada com carne e nos
sentamos no sofá da sala para relaxar.
- E então – eu perguntei – como foi no campo hoje?
- Bom, logo de início não foi fácil quebrar a resistência dos terceirizados
e fazê-los falar. Eles sempre ficam preocupados de responder algo
contra a empresa e perderem o emprego por isso. Primeiro, eu precisei
convencê-los de que as respostas eram anônimas e por isso ninguém
seria identificado. Aos poucos eles foram tomando confiança e falando.
- Me ocorreu uma coisa agora Olga. Então esse tipo de trabalho que você
está fazendo não poderia ser realizado em uma pequena empresa?
- Claro que poderia Dani.
- Ora, se existe a desconfiança em responder a essas perguntas por parte
dos funcionários de uma empresa gigante como a nossa, imagina de uma
empresa em que os funcionários lidam diretamente com seus patrões.
- Entendi seu raciocínio. É claro que se existe um clima de desconfiança o
trabalho será bem mais complexo, mas também pode ser mais simples.
- Agora eu que não estou entendendo – falei atônita.
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- Veja só, quando o proprietário de uma pequena empresa entende
que escutar seus funcionários pode fazer a diferença para os seus
negócios, ele já tem meio caminho andado. É claro que se ele agir
assim desde o primeiro momento, os funcionários se sentirão mais a
vontade para falar, opinar, dizer o que pode ser melhorado. Mas, se no
meio do caminho, apesar de nunca ter feito isso, o empresário resolve
mudar sua concepção, isso é totalmente possível, somente um pouco
mais trabalhoso. Na medida em que ele reunir seus funcionários,
periodicamente, e passar a ouvi-los com respeito e sinceridade, aos
poucos eles confiarão no patrão e opinarão também de forma sincera e
respeitosa.
- E isso funciona Olga? – perguntei desconfiada.
- Claro que funciona amiga. Conheço inúmeras situações de sucesso que
se devem ao bom relacionamento dos patrões com seus empregados.
Lembro que logo no início da carreira, quando trabalhei em uma
consultoria, um médio comerciante de distribuição de alimentos agia
exatamente dessa maneira. Os seus funcionários tinham acesso livre a
ele, e falavam normalmente sobre os problemas que enfrentavam com
os clientes, os problemas estruturais para desenvolver seu trabalho,
como achavam que poderia ser resolvido. Eles monitoravam até a
concorrência por conta própria. O patrão sabia o preço do concorrente,
as facilidades oferecidas, o jogo das vendas... Coisas que ele, sozinho,
não teria como saber se os funcionários não lhe contassem o que
acontecia na praça. Ah! Ele fazia ainda mais: todo fim de ano fazia
uma festa em conjunto com os funcionários e a família, tinha ceia e até
amigo oculto. Frequentemente, também reunia os funcionários para
um churrasquinho e, de vez em quando, no próprio estabelecimento,
levava um ou outro para tomar café no botequim da esquina e conversar
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sobre o que aconteceu na rua, ou no depósito, enfim...
- E conhecia essas técnicas de Relações publicas? – perguntei espantada.
- Não, ele era um empresário que tinha a visão de que o relacionamento
com seus funcionários era algo importante de manter e solidificar.
- Mas e quando ele precisava demitir alguém?
- Isso é o mais importante: ele raramente precisava demitir alguém. Seus
funcionários só saiam da empresa para crescer profissionalmente e eram
incentivados por ele. Quando podia aproveitá-los em funções melhores
remuneradas ele o fazia, mas quando não era possível a saída ocorria
pacificamente, sem problemas para ambas as partes. Pude perceber
também que, em sua grande maioria, os ex-funcionários se tornavam
amigos dele e de sua família.
- Uau Olga, que história!
- E não é da carochinha, é real! Ah! E esqueci-me de te dizer, ele mesmo
me contou que o negócio cresceu graças às dicas e informações que
recebia dos funcionários.
- Que visão amiga! – falei estupefata.
- Pois é. Portanto, creio que respondi a sua pergunta. É possível sim
aplicar técnicas de RP em pequenas empresas, só é preciso adequá-las
ao tamanho do negócio, a sua verba e ao tipo de atividade.
Quando chegamos à fábrica no dia seguinte, tudo parecia tranquilo,
como vinha acontecendo já havia alguns dias, foi quando o meu ramal
tocou.
- Dani – falou a recepcionista esbaforida - Cadê a Olga?
- Calma criatura! O que houve?
- Cadê a Olga, pelo amor de Deus? O pessoal do sindicato está aqui na
porta da fábrica fazendo piquete, sem deixar os nossos funcionários
entrarem! Está a maior confusão. Eu chamei a segurança, mas o clima
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está tenso! Os funcionários querem entrar e o pessoal do sindicato não
deixa! Olha, você não imagina!
- Calma criatura! Vou localizar a Olga. Ela deve estar aqui por perto!
- Pode deixar! Graças a Deus! Ela acabou de chegar! Está conversando
com o pessoal do sindicato.
- Ufa! Vou avisar ao Dr. Paulo.
Enquanto isso lá fora, Olga procurava o líder do movimento.
- Bom dia! Eu sou Olga, a Relações publicas da empresa. Podemos
conversar?
- Não! Creio que a nossa conversa será com o sindicato patronal.
- Bom, a nossa diretoria gostaria de conversar e ouvir as reivindicações
de vocês, independentemente do sindicato patronal, e quem sabe
encontrar soluções que agradem as duas partes.
- O sindicato patronal está irredutível, portanto não vamos arredar pé
daqui enquanto o sindicato patronal não atender nossas reivindicações
– replicou o sindicalista.
- Veja bem senhor, estou propondo uma conversa, independente da
negociação de vocês com o sindicato patronal. A fábrica não depende
do sindicato para tomar suas próprias decisões. A nossa diretoria se
propõe a dialogar, agora se não for assim, vou começar a pensar que
seus objetivos não são exatamente conquistar benefícios para os
funcionários.
- A senhora não entende - balbuciou o homem.
- Creio que o senhor é que não está tendo boa vontade para entender.
Estamos propondo uma negociação e o senhor se recusa. Dessa maneira,
tanto eu, quanto a imprensa e as autoridades também podemos não
entender por que o senhor se recusa a sentar-se à mesa para negociar
– Olga falava com gentileza, mas firmemente – E, como o senhor pode
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perceber – continuou ela, olhando o homem com respeito, mas de forma
intensa - nossos funcionários não estão nem um pouco declinados a
aderir à greve da categoria, o que pode transformar o piquete de vocês
em uma grande confusão.
O homem olhava para Olga, atônito. Ele virou, olhou para os companheiros
que pareciam tão ou mais confusos do que ele. Olga olhava para eles de maneira
tranquila. Parecia não ter pressa, apesar da confusão que os funcionários da
fábrica faziam para tentar entrar. Depois de alguns minutos, Olga resolveu que
já era hora dos homens tomarem uma decisão.
- E, então? O que fazemos? Conversamos ou esperamos que as autoridades
resolvam nosso impasse?- Perguntou Olga diretamente ao líder do
movimento.
- Ok, senhora, diga aos diretores que estamos dispostos a negociar.
Olga tranquilizou os funcionários dizendo que sentariam para negociar
com o sindicato, e que todos voltassem a sua rotina normalmente. Os sindicalistas
desobstruíram a passagem dos funcionários, que entraram imediatamente na
fábrica. Logo após, Olga ligou para Dr. Paulo, o presidente da empresa, e relatou
os acontecimentos. Solicitou autorização para entrar com os principais líderes
do sindicato da categoria e verificar quais eram suas principais reivindicações.
Lá dentro, na sala de reunião da diretoria, Olga acomodou os três homens
que entraram com ela. Serviu-lhes água e café. Somente então se sentou.
- Senhores, peço que me aguardem um momento. Vocês vão conversar
com o nosso porta-voz, Dr. José, diretor de recursos humanos da
empresa. Vou avisá-los que os senhores se encontram aqui.
Olga saiu da sala rapidamente e voltou acompanhada do Diretor de RH da
empresa.
- Bem, senhores, qualquer coisa que precisarem estarei à disposição.
Dr. José, quando terminar é só me chamar que eu acompanharei os
25
visitantes.
Enquanto os homens conversavam na sala, Olga desceu imediatamente
para atender a imprensa que já a aguardava. Ela entrou e os cumprimentou
gentilmente.
- Senhores, gostaria de solicitar que aguardassem um pouco mais até o
fim da reunião com o sindicato, que um dos porta-vozes da empresa já
irá conversar com vocês.
- Quem irá nos atender hoje Olga?
- Será o Dr. José, o diretor de RH. Ele está na reunião com o sindicato,
e assim que terminar poderá responder aos questionamentos de
vocês. Ele é o nosso porta-voz para assuntos dirigidos a política de
desenvolvimento humano da empresa.
- Você não poderia nos adiantar nada? – perguntou um dos jornalistas.
- Infelizmente não. Nesse caso, creio que o mais adequado será vocês
conversarem com o responsável pela negociação, que é o Dr. José.
Gostaria que se sentissem à vontade. Na mesinha ao lado temos água e
café. Se precisarem de mais alguma coisa, podem me chamar. Creio que
a reunião não se estenderá muito - Olga cumprimentou a todos mais
uma vez e se retirou da sala.
Quando a reunião terminou, Dr. José pediu à secretária que chamasse Olga.
- Pois não Dr?- falou Olga atenciosamente.
- Olga, por favor, acompanhe nossos convidados até a porta.
- Pois não. Ela respondeu.
- Aguardamos então sua resposta dentro de 48 horas, conforme o
combinado.
Dr. José confirmou a nova reunião e apertou a mão do homem.
- Dr. A imprensa o aguarda em nosso auditório – disse Olga
- Obrigado Olga. Vou falar com eles. – respondeu o homem.
26
Olga acompanhou os homens até a porta e pediu a dois seguranças da
fábrica que os acompanhassem até a saída.
- Sejam gentis – cochichou Olga ao ouvido de um deles - Não aceitem
provocações, se houver.
Olga parou em frente a minha mesa com um ar cansado.
- Estressada amiga?
- Não, só um pouquinho cansada. Esse corre pra lá e pra cá...
- Olga, agora cá entre nós, eu não sabia que o Dr. José era o porta-voz da
empresa. – falei com ar de desprezo.
- Na verdade, eu o Dr. Paulo ainda estávamos estudando o perfil dos
nossos porta-vozes, e Dr. José entrava nessa lista, mas diante da
situação, achamos por bem deixar o Dr. José assumir esse papel, ele
era o único, neste momento, que poderia assumir esse papel perante
o sindicato e a imprensa. Não havia sentido o Dr. José proceder à
negociação e colocarmos outra pessoa para atender a imprensa.
- Ele tem preparação para isso amiga?
- Boa pergunta. Não, ele não tem a preparação que deveria, mas vamos
providenciar isso. Vamos encaminhar os nossos porta-vozes a um
serviço de mídia-training.
- Você não poderia fazer isso Olga?
- Poderia, mas creio que já que somos uma grande empresa, e dispomos
de verba para isso, possamos proporcionar um treinamento que inclua
jornalistas experientes, que conhecem a imprensa e como tratar com
ela. Portanto, se contratarmos um serviço sério, os resultados são
fantásticos.
Já era quase fim da manhã quando Olga entrou no escritório de Dr. Paulo.
Toda a diretoria a aguardava. Dr. Paulo solicitou a presença de Daniela e lhe
27
pediu que anotasse o conteúdo da reunião. Olga foi a primeira a relatar os fatos
acontecidos pela manhã, logo depois foi a vez do Dr. José. Terminado o relato,
ele entregou a todos os membros da diretoria uma cópia da reivindicação do
sindicato. Todos leram atentamente, mas foi o Diretor de Produção o primeiro a
se manifestar:
- Mas isso é um absurdo, uma creche dentro da fábrica? Desse jeito as
mulheres não vão mais trabalhar! Vão querer ficar o tempo todo junto
com os filhos. Vai ser um pandemônio!
Que visão estreita desse homem, pensou Olga. Não dava para acreditar que
um homem com a experiência profissional dele, trabalhando em uma empresa
desse porte, pudesse ser tão retrógrado.
- Creio que o senhor se engana diretor. O senhor me permite?- disse Olga.
- Pois não Olga – respondeu o homem um tanto contrariado.
- Pelo número de funcionários que temos, essa é uma exigência legal.
Essa creche já deveria ter sido aberta há mais tempo. E creio que a
creche, além de atender a um requisito legal, pode se tornar algo muito
mais importante para o clima que estamos querendo construir aqui na
empresa. Se as mulheres que têm filhos em idade de creche, souberem
que seus filhos estão próximos a elas, sendo bem cuidados, protegidos,
e que elas poderão vê-los em seus horários de intervalos, fazer suas
refeições com eles, com certeza elas trabalharão muito melhor. Está
comprovado que quanto mais tranquilas e satisfeitas às pessoas estão,
melhor elas trabalham.
- Creio que Olga está certa – interveio o diretor de recursos humanos
da fábrica, meio a contragosto – nunca participei de tal experiência,
mas concordo que funcionários satisfeitos produzem mais e melhor.
Considerando-se, inclusive, que isso se transformaria em benefício
financeiro, já que muitas mulheres têm que pagar a outra pessoa
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para tomarem conta de seus filhos, ou pagar creches que não muito
confiáveis...
- E a viabilidade financeira? – questionou o diretor de produção ao
diretor financeiro.
- Claro que precisaremos fazer um estudo de viabilidade inicial, mas
não será muito complicado. Precisamos de dados sobre o número
de funcionárias que atualmente tem filhos em idade de frequentar
creches. Depois fazer mais alguns cálculos, enfim... Temos reservas
para investimentos, e creio que este poderá ser um bom investimento,
considerando-se os argumentos de Olga e de José.
- E o que mais José?
- Bem, Paulo, eu creio que a maioria das reivindicações da categoria,
em termos de benefícios, nós já oferecemos. Agora, fica a cargo dos
senhores decidirem sobre os índices de reajuste salarial, ou quem sabe,
propor uma solução alternativa.
- Alguém tem alguma sugestão? – perguntou Dr. Paulo.
- Sim, eu tenho – falou Olga. Todos olharam atônitos para ela, inclusive
Dr. Paulo. Pareciam se perguntar qual o outro coelho que ela pretendia
tirar da cartola – participação nos lucros.
- O que?- perguntou espantado Dr. César.
- Sim, quem sabe uma gratificação por produtividade? Poderia ser
outro incentivo para os funcionários. Um desafio lançado para toda
a empresa. Traçamos uma meta possível de ser atingida, melhoramos
nossa produtividade, e distribuímos os resultados financeiros com
os funcionários. A empresa não prejudica seu caixa, melhora seu
desempenho, e não deixar de realizar seus investimentos.
- Parece-me uma ideia bastante razoável. Várias empresas estão adotando
esse sistema e tem obtido excelentes resultados – apoiou Dr.César.
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- Dessa forma eu acho bastante salutar!- concordou finalmente o diretor
de produção.
- Luiz? – Dr. Paulo olhava para o diretor financeiro
- Não é uma tarefa fácil fazer essa operação! – respondeu de má vontade.
- Luiz, mas nada é fácil – fulminou Dr. Paulo – Foi quando Olga interveio.
- Dr. Luiz, com certeza o senhor terá mais trabalho no início, mas
também terá mais recursos para investir posteriormente. – disse Olga
olhando fixamente para ele – Aliás, doutor, o senhor sabe que é muito
saudável aumentarmos nosso fluxo de caixa, nossos investimentos etc.
E para aumentar esse fluxo, sem aumentarmos nossa folha, ou seja,
precisamos incentivar nossos colaboradores, despertar sua criatividade
para otimizar materiais, processos, enfim, tudo o que for possível para
produzirmos mais com há mesma hora\homem.
- Ok! Creio que vale a pena lançarmos esse desafio aos nossos
colaboradores. Todos concordam? – Os presentes balançaram a cabeça
afirmativamente, e Dr. Paulo deu por encerrada da sessão. Na saída, Dr.
José parou próximo de Olga e a cumprimentou de forma particular.
- Olga sua bruxa – sussurrou o homem ao seu ouvido - parabéns pela
vitória. Faz tempo que eu tento convencê-los sobre produtividade e
não consigo!
- Ora Doutor, mas a sementinha já estava plantada. Se não fosse
assim, teria sido muito difícil convencê-los. Ela respondeu também
sussurrando.
- Talvez, mas mesmo assim, parabéns. Aliás, onde aprendeu essas coisas,
você é Relações publicas ou administradora? – disse Dr. José em tom
sarcástico.
- Ora doutor, em Comunicação, a gente precisa conhecer os processos
administrativos de uma organização, além de observar como o bom
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administrador obtém bons resultados. Em outras empresas pude
observar como bons administradores faziam seu negócio sobreviver,
crescer e enriquecer. Sempre procurei ler muito, me informar, enfim,
estar por dentro do que os grandes homens de negócio pensam e fazem.
Dr.José fitou-a com olhar enigmático, sorriu e saiu da sala. Ficamos apenas
eu e ela.
- Olga, cuidado com esse homem! – eu disse.
- Por quê?
- Ele sempre foi ardiloso, falso. Percebi que não se conforma muito com
o sucesso dos outros.
- Imagina, ele é um diretor e eu sou a RP. Não o ameaço.
- Cuide-se Olga. Nem sempre são os cargos que interessam a esse tipo de
gente, mas sim o sucesso, o poder das palavras... Cuidado.
Olga me olhou e sorriu.
- Ok Dani, prometo que vou me cuidar amiga.
Em casa, Olga trabalhava com tanto afinco quanto na empresa. Durante
várias vezes, depois de lanchar a noite, ela se debruçava sobre o computador por
várias horas. Curiosa, não pude deixar de perguntar o que ela fazia.
- Estou trabalhando na tabulação da pesquisa de opinião. Antes de tomar
qualquer atitude importante, ou propor alguma mudança significativa,
preciso realizar dos resultados desse trabalho.
- Mas as ações que você implementou na empresa, não faziam parte de
um planejamento? – perguntei desconfiada.
- Não, foram apenas ações pontuais, baseada na conversa informal com
funcionários de alguns setores. Coisas urgentes que poderiam ser
resolvidas em curto prazo, e sem a utilização de grandes verbas ou
necessidade de recursos humanos.
- Ora, pensei que vocês só trabalhassem com planejamento.
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- Em parte sim, mas precisamos ser pragmáticos. Imagina se eu chegasse
a uma empresa e não me desse ao trabalho de resolver pequenos
problemas, pontuais, que não precisam de um planejamento para
ser resolvidos. É o caso do quadro de avisos que eu coloquei nos
departamentos da empresa. A comunicação interna era inexistente,
então, mesmo sem o programa de comunicação interna pronto, eu
precisava agilizar a comunicação entre a empresa e os funcionários e
entre os departamentos. Ações simples, mas que já vão melhorar essa
comunicação.
Não me lembro de exatamente quando foi que começou, mas Olga espalhou
um mural em cada um dos departamentos da empresa. Vazios. Logo depois
afixou um cartaz bem grande em todos eles. “Este é o seu espaço. Aqui você
pode divulgar o jogo de futebol da sua rua, avisos, um verso de ânimo para os
colegas, convites para a missa, o culto, uma notícia interessante sobre o mercado.
Entregue seu recado ao responsável pelo quadro. Aqui você também poderá
informar-se sobre o que está acontecendo na empresa. Leia todos os dias.”
Olga realizou um rodízio entre os funcionários dos diversos departamentos
da empresa e ficou combinado que a cada semana um cuidaria de afixar o material
entregue pelos colegas. Quando alguém da administração superior quisesse
afixar um recado, circular, ou qualquer tipo de informação, também enviaria à
Olga que repassaria ao responsável pelo quadro. Foi um sucesso. Os funcionários
se sentiram valorizados, importantes e responsáveis. Em todas as inspeções
que Olga realizou para observar o resultado da participação dos funcionários
e o conteúdo dos quadros, concluiu que todos tinham levado bastante a sério a
finalidade para o qual haviam sido criados.
Chegou, finalmente, o dia da apresentação do relatório de Olga para a
diretoria. Uma semana antes, ela me entregou o original para que eu providenciasse
uma cópia para cada membro. A reunião fora marcada para as 9 horas da manhã.
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Tempo suficiente para Olga preparar a sala para sua apresentação com os principais
pontos do relatório da pesquisa. A calma demonstrada por Olga me exasperava.
Como ela poderia estar tão calma sabendo que dois ou três membros daquela
diretoria estavam prontos para destroçar com suas informações, convicções e
projetos. Como ficar calma diante dos famigerados lobos, prontos a atacá-la e
comer suas vísceras. Será que eu estaria exagerando a situação, ou Olga estaria
subestimando a voracidade de seus inimigos? Será que ela tinha a consciência de
como a simples ideia de mudanças, de adoção de novos paradigmas, despertava
em alguns seres humanos um verdadeiro horror e uma resistência hercúlea? Não
me contive e interroguei-a ao seu retorno da sala de reuniões.
- Olga, você já se deu conta da guerra que você vai travar hoje nessa sala?
- Sim Dani, mas será apenas uma batalha, não decidiremos a guerra em
uma única reunião.
- E você diz isso com essa calma? Já se deu conta que os lobos estão
preparados para comer suas vísceras?
- Claro que sei que alguns membros da diretoria não apreciam o trabalho
de um RP, mas não me adianta ficar nervosa, nem angustiada, e muito
menos ansiosa. É o tipo de sentimento e emoção que não podemos
deixar nos dominar em momentos tão importantes. São em momentos
como esse, amiga, que precisamos manter o equilíbrio emocional e a
frieza necessária para defendermos nossas posições. Não se ganha
uma batalha atirando desesperadamente para todos os lados. Não é a
quantidade de tiros que vai definir o ganhador, mas a quantidade de
tiros que atingirão os alvos que vai derrotar o inimigo. Se você tem
munição suficiente para derrotá-los, e suas estratégias e táticas estão
bem planejadas, é partir para batalha. Vencer ou perder faz parte.
- Mas e se o inimigo também dispõe de tudo isso?– perguntei altiva.
- Então a batalha será mais equilibrada – Olga respondeu – Amiga,
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quando temos absoluta certeza que a nossa munição é boa e nossas
táticas bem planejadas, nos restam cautela, inteligência emocional
e frieza para atacarmos e nos defendermos no momento certo. Dani,
a minha munição é muito mais poderosa que a deles. Pense bem, a
empresa tinha graves problemas de relacionamento com seus públicos,
principalmente o interno. Todos sabiam que existia um problema, mas
nunca conseguiram diagnosticá-lo. Essa é minha principal arma. Arma
que o inimigo não tem. Por que as pessoas não gostam de trabalhar aqui
se essa é a empresa que paga os melhores salários e oferece os melhores
benefícios na região?
- E você tem alguma estratégia para disparar suas armas?- perguntei
sarcástica. Olga me olhou com ar de reprovação e respondeu:
- Sim, a principal estratégia de um bom profissional de Relações publicas:
saber ouvir.
- Han?- exclamei atônita.
- Saber ouvir é a principal estratégia de qualquer comunicador, aliás, de
qualquer profissional. Quando ouvimos, conhecemos a visão do outro,
as suas razões, as suas motivações, sua opinião sobre determinado fato
ou acontecimento, e os seus argumentos para defender as suas opiniões.
Ouvindo o que eles têm a dizer, que neste caso são as armas das quais
eles dispõem, vou poder me defender e atacar com as armas de que eu
disponho.
Quando Olga terminou de falar, confesso que me senti mal de tê-la tratado
com sarcasmo. Mais uma vez precisava concordar com ela. Muitas vezes eu
deixava a minhas emoções falar mais alto que a minha razão. Sentia-me frágil
frente a determinados tipos de situação que envolvia embate, discussão. Não
que eu fosse uma destemperada, mas a minha fragilidade pessoal por vezes me
atrapalhava em situações de conflito. A minha reação normal era me calar, fugir,
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entrar no banheiro e chorar.
- Sinto muito Olga, acho que fui rude com você.
- Tudo bem amiga, eu sei que você se preocupa comigo, mas vamos ser
racionais. Por mais que eu me preocupe com a empresa, e esta seja uma
batalha a ser vencida para que o meu trabalho tenha eficácia, não posso
tomar isso como uma guerra pessoal, um embate de vaidade. Apresento
meu relatório de pesquisa, defendo-o, e cabe a eles aceitarem ou não os
resultados e as propostas para resolver os problemas encontrados.
- E se eles não aceitarem?
- Restam-me duas saídas: a primeira é tentar reformular o plano de
acordo com a visão deles sobre o problema, e a segunda é abandonar o
barco e procurar outra empresa para trabalhar.
- Olga!- exclamei.
- Por que o espanto? Estarei aqui enquanto a empresa estiver satisfeita
comigo e eu com ela. Nós, colaboradores, não somos troncos fincados
em empresas. Somos profissionais, comprometidos com o nosso
trabalho, com as nossas convicções e satisfações pessoais.
- Olga, você me surpreende a cada dia. Pensei que você achasse que aqui
era como uma casa pra você.
- E é. Uma casa de aluguel. Enquanto eu viver nela farei tudo para que seja
agradável, confortável e alegre. Quando ela não satisfizer mais os meus
anseios, as minhas necessidades, me mudo para outra. E, do mesmo
jeito acontecerá com o proprietário da casa. Enquanto eu for uma boa
inquilina e ele estiver satisfeito comigo, ele continuará me alugando
seu imóvel, quando eu deixar de cumprir minhas obrigações, ou deixar
de ser um inquilino agradável, ele me pedirá o imóvel.
- Mas não é tão simples assim.
- Claro que é amiga. As relações de trabalho são relações de troca. Devem
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ser sempre uma boa troca, mas não podemos nos sentir donos da
empresa na qual trabalhamos e vice-versa. As relações de troca têm que
ser equitativas, agradáveis, eficazes, mas só isso. Eu não posso me sentir
a dona da empresa e nem forçá-la a agir da maneira que eu gostaria.
Defender ideias, tentar implementar projetos de melhoria dos processos
de trabalho, “vestir a camisa” enfim, é uma prática muito saudável,
desde que saibamos respeitar o direito da organização de querer ou não
aceitar as mudanças propostas. O nosso comprometimento deve ser
constante enquanto isso for bom para as duas partes. Quando deixar
de ser para uma delas é necessário que o relacionamento seja desfeito.
- Às vezes você me parece tão fria Olga!
- Não é frieza amiga, é pragmatismo, experiência profissional. Esse
sentimento paternalista e filial no ambiente de trabalho foi cultivado
durante longas décadas em empresas familiares, e em nosso país isso
ainda é uma prática bastante comum. É uma prática que na verdade
não beneficia nenhum dos lados.
- Concordo com você.
- Bom, está na hora!
- Boa reunião. Estarei torcendo por você.
- Não tenho dúvidas disso.
Algumas vezes, depois de uma conversa como essa, eu me sentia meio tola.
Porém, especificamente hoje, consegui perceber o porquê desse meu sentimento:
primeiro eu tirava minhas próprias conclusões, fazia afirmativas baseadas nessas
conclusões e somente depois eu parava para ouvir a outra parte.
Enquanto eu me perdia em pensamentos, os membros da diretoria
entravam na sala de reuniões, com seus relatórios em mãos. Na verdade, percebi
que o único que estava com “cara de poucos amigos” era o Dr. José. Claro, sempre
ele, se sentindo ameaçado por Olga.
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Peguei meu material de anotação e também me dirigi para a sala. Eu fui
convocada pelo Dr. Paulo para fazer a ata da reunião. Antes de entrar, avisei ao
Dr. Paulo que todos já haviam chegado. Quando entrei, percebi que o clima era
bom. Alguns diretores conversavam animadamente entre si. Somente o Diretor
de RH e o Diretor de Marketing estavam bastante sisudos. Com toda certeza,
vinha “chumbo grosso”. Sentei-me na cadeira ao lado da do Dr. Paulo, que iniciou
a reunião com um bom dia.
- Senhores, o motivo dessa reunião extraordinária diz respeito à discussão
o relatório e programa de comunicação interna proposto por Olga. Ela
fará a apresentação dos pontos principais do resultado da pesquisa e
da sua proposta. Olga, a palavra é sua.
- Bom dia a todos. Agradeço a oportunidade de poder expor verbalmente
os resultados da pesquisa que realizei e a proposta de um programa de
Comunicação Interna para a empresa, apesar de todos os senhores já
terem recebido o relatório e o programa anteriormente. Olga levantou-
se da cadeira e dirigiu-se para próxima a tela de projeção do Multimídia.
Objetivos da Pesquisa Identificar qual a imagem da empresa percebida pelos funcionários;
Identificar quais os principais problemas de comunicação interna na empresa, sob a visão dos funcionários.
Metodologia Pesquisa quantitativaDescritiva
Técnica - Questionário com perguntas fechadas.As questões se basearam nas primeiras discussões com os chefes de departamento e supervisores
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Universo de 250 funcionáriosAntes da distribuição dos questionários, foi ministrada uma palestra em todos os setores da empresa sobre a pesquisa e os seus objetivos. Os questionários foram colocados em locais estratégicos para que os mesmos pudessem os retirar sem a supervisão de nenhum superior. Em cada setor, foi colocada uma urna para que o funcionário pudesse entregar seu questionário respondido, sem que o mesmo se sentisse seguro em não ser identificado.
ConclusõesObtivemos 84 % (de respostas/rever termo técnico). Isso demonstra o quanto os funcionários desejavam ser escutados.
Eles consideram sua remuneração justa, e os benefícios oferecidos pela empresa como significativos. No entanto, consideram que o salário e os benefícios recebidos não são o suficiente para que se sintam satisfeitos com o ambiente de trabalho.
Eles não se sentem valorizados pela administração da empresa, já que não são escutados em nenhuma circunstância, e que normalmente todas as decisões em relação aos seus processos de trabalho são tomadas de forma unilateral.
Percebem a empresa como tradicional e conservadora, sem sinais de modernidade.
Os funcionários não se sentem parte integrante da empresa, mas apenas empregados que são pagos para realizar um trabalho.
Eles consideram que a empresa deveria se preocupar mais com o bem estar dos funcionários e proporcionar um clima mais agradável de trabalho.
Não consideram que a empresa possui preocupações com a comunidade ao seu entorno e com o desenvolvimento pessoal e profissional de seus funcionários.
Consideram que a empresa trata bem os seus clientes, mas apenas por uma preocupação em manter seus lucros.
Consideram que a empresa deveria manter programas de desenvolvimento profissional para os funcionários, e colaborar mais para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos.
Em relação à comunicação dentro da empresa, acreditam que a interação entre os funcionários é deficiente.
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Consideram que não existe um diálogo aberto entre as chefias e os seus subordinados, e que as notícias oficiais sobre as decisões da administração chegam sempre muito depois da “rádio pião”.
Eles acreditam que deveria existir um canal de comunicação mais eficaz entre a diretoria e os chefes, entre os chefes e os funcionários, e que os membros da diretoria deveriam, de alguma forma, ouvir a opinião dos funcionários, e conhecer melhor os problemas que eles têm para o exercício de suas atividades.
Gostariam também de que a diretoria ouvisse suas ideias para a melhoria dos processos de trabalho.
Ao terminar sua apresentação, Olga agradeceu mais uma vez a
oportunidade, e devolveu a palavra para o Presidente. Ele, por sua vez, abriu a
discussão do plano para a diretoria. O primeiro a falar, para nossa surpresa, foi o
Dr. César, diretor de produção.
- Caros membros desta diretoria, Olga, primeiramente, bom dia a todos.
Gostaria de dizer que pela primeira vez me sinto agradavelmente à
vontade em participar de uma reunião para deliberar sobre assuntos
de comunicação. Durante esse tempo que temos tido contato com as
ideias de Olga, confesso que me preparava para essas reuniões, sempre
pronto a refutar qualquer proposta de mudança que contrariasse
minhas convicções e paradigmas elaborados ao longo de minha vida
profissional. Pois hoje reconheço minha teimosia.
Eu olhei para Olga e ela estava tão estupefata quanto todas as outras
pessoas naquela sala. Parecia que um raio havia caído no meio da mesa. Ninguém
parecia acreditar no que estava escutando. O homem parou um minuto, respirou
fundo, e continuou.
- Quando recebi seu relatório, resolvi levá-lo para casa para ler e analisar
com calma. Num primeiro momento, a ira tomou conta de mim.
Esbravejei, joguei o relatório no chão, me destemperei. Foi quando meu
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filho, um administrador de empresas, formado pela FGV, e atualmente
trabalhando em uma Multinacional do segmento farmacêutico, entrou
em meu escritório e me perguntou o que estava acontecendo. Eu contei.
Ele me pediu para ler o relatório de pesquisa e o programa elaborado
por Olga. E, senhores, o apoio que eu esperava dele para manter minhas
convicções foram por água abaixo. Meu filho me disse que a pesquisa
continha dados extremamente relevantes e que deveríamos considerar
que tínhamos um grave problema de clima organizacional na empresa.
Que as propostas, apresentadas pela profissional de RP eram totalmente
adequadas à solução dos problemas que nós tínhamos e, que se
continuássemos administrando nossa empresa da maneira como temos
feito, nosso futuro poderia não ser tão certo. Ele me falou ainda, que
Relações publicas é uma importante ferramenta de desenvolvimento
para a empresa e que em pleno século XXI era inconcebível que ainda
não tivéssemos percebido que sem manter relacionamentos saudáveis
com os nossos colaboradores teríamos profundas dificuldades de
sobrevivência em momentos de crise. Com a globalização, assim como
as novas oportunidades de negócios, as crises que surgem em qualquer
lugar do planeta podem afetar a menor das organizações. Portanto
Olga, reavaliei seu plano com outro olhar e percebi o quanto ele pode
nos auxiliar na resolução de um problema que se tornou uma imensa
dor de cabeça para todos nós, há muito tempo.
Olga estava tão pálida que parecia prestes a desmaiar. Percebi quando ela
tomou seu copo de água quase que de uma só vez, e serviu-se de uma nova xícara
de café. Olhei para o Dr. José. Ao contrário de Olga, ele dava a impressão que iria
explodir, como uma caldeira desregulada. O Diretor de Marketing se engasgou
uma ou duas vezes durante a fala do Diretor de Produção. Dr. Paulo trazia no
canto da boca um sorriso cínico. Por vezes, parecia até debochado quando olhava
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para o Dr. José. É claro que ele também ficou atônito com as palavras do Dr. César,
pois ninguém esperava essa sua defesa do trabalho de Olga, muito pelo contrário.
Mas, o espanto não tirou o ar de triunfo do seu rosto, que sempre parecia ser
a mais forte emoção que ele deixava transparecer. Pelo que eu o conhecia, ele
sentia-se vaidoso pelo fato de ter sido iniciativa dele trazer um Relações publicas
para a empresa.
- Senhores? – disse Dr. Paulo, como que perguntando quem mais gostaria
de falar.
- Bom – começou Dr. José- Parece que agora Olga você encontrou mais
um defensor. Dr. José lançou um olhar fulminante para o diretor de
produção, que o devolveu com mais vigor ainda.
- Não se trata de ser ou não defensor José. Nós temos a responsabilidade
de gerir essa empresa, fazer com que ela sobreviva e se desenvolva. Não
se trata de vaidade, mas de objetividade.
Nesse momento, pensei que o Diretor de Recursos Humanos fosse explodir,
mas os motivos eu não sei, ele conseguiu controlar-se.
- Bom, algumas questões são extremamente complexas, como as células
de trabalho para a área de produção.
- Por que complexo José? – interveio novamente o diretor de produção –
Olga deixou claro como elas funcionarão. Sinceramente José, o que me
parece é que você, assim como alguns de nós, temos tido uma imensa má
vontade em mudarmos aquilo que sempre foi cômodo para nós. Só que
essa comodidade está nos trazendo problemas graves, principalmente
para mim.
O diretor financeiro interveio:
- Senhores, creio que estamos desperdiçando tempo desnecessariamente.
Eu concordo com o César, temos um problema, que até agora não
conseguimos resolver, e Olga está nos mostrando um caminho, que
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considero em principio razoável. Até agora, as ações pontuais realizadas
pela equipe de comunicação tem conseguido resultados satisfatórios,
então porque não aprovarmos o plano e ajustamos o que for necessário
com Olga, posteriormente?
Dr. Paulo se manifestou:
- Senhores, eu estudei atentamente o plano apresentado e assim como
César eu acredito ser de extrema pertinência a proposta da Gerencia de
Comunicação. Eu me coloco favorável a sua aprovação, mesmo porque,
me parece que não temos nenhuma outra proposta razoável, ou temos?
– questionou o Dr. Paulo olhando diretamente para o Dr. José.
Todos balançaram a cabeça em negativa a pergunta do Presidente.
- Portanto, se ninguém mais tem nada a dizer, gostaria de iniciar a votação.
Quem concorda mantenha-se como está, quem discorda levante a mão.
Dr. José não se fez de rogado, levantou a mão, votando contra a aprovação
do plano.
- Muito bem senhores, o plano foi aprovado pela maioria...
Foi quando Olga interveio.
- Dr. Paulo, com todo respeito, e sem querer pressionar, mas creio que
sem a colaboração do Dr. José não será possível realizar nosso plano
na íntegra, portanto, gostaria de recolocar o plano na próxima pauta, e
discutir um pouco mais com o Dr. José o assunto.
Dr. Paulo sorriu gentilmente para Olga e fulminou o Dr. José.
- Não se preocupe Olga, não será necessário. O Dr. José não se oporá a
decisão da maioria da diretoria. Tudo que está planejado será cumprido.
Alguém gostaria de dizer mais alguma coisa?
Todos balançaram a cabeça negativamente.
- Está encerrada a reunião.
Enquanto os membros da diretoria se levantavam da mesa, Dr. Paulo
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aproximou-se do Dr. José e sussurrou algo ao seu ouvido. Eu só soube o que era
quando vi os dois trancados na sala do presidente, minutos depois da reunião.
Enquanto os membros da diretoria se retiravam da sala, eu fingia recolher
as xícaras e copos, enquanto Olga recolhia sua apresentação lentamente. Era o
nosso sinal para permanecermos na sala. Quando todos saíram, eu explodi de
alegria.
- Olga, sua bruxa, eu não acredito! – eu era pura satisfação. Tinha vontade
de pular, gritar e saltitar.
- Daniela – disse Olga ainda meio estupefata – Eu não estou acreditando
até agora. Pensei que teria que travar uma batalha. Muni-me de
trezentas mil argumentações e não precisei abrir a boca! Santo Filho do
Dr. César! Foi o coelho tirado da cartola! E, não foi por mim! Foi tudo
totalmente inacreditável!
- Você é realmente uma bruxa Olga, até a sorte te favorece. O filho do
homem aparecer do nada e defender a sua ideia. Não, me belisca que eu
acho que estou sonhando!
- Mas, a guerra não acabou, você viu que o José vai atrapalhar.
- Olga, pelo que eu conheço do Dr. Paulo, ele não vai se atrever. Aliás,
amiga, você já se deu conta que a implicância e a inveja dele para com
você o está derrubando?
- Hoje eu tive essa impressão. Todos estavam muito irritados com ele.
- Eu conheço o Dr. Paulo e sei que a coisa ainda vai ferver, ora se vai!
- Eu não gostaria que isso acontecesse.
- Não seja tola Olga.
- Não é por ser boazinha, é porque isso influencia no meu trabalho.
Como posso querer manter um bom clima na empresa, se o Diretor de
RH me detesta, e tenta atrapalhar o meu trabalho? Se não consigo me
fazer entender por ele?
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- Olga, esse homem ainda está nesse cargo porque faz muitos anos que ele
está aqui, e porque nossa empresa, apesar de grande, é uma organização
muito tradicional. Amiga, sinceramente, já passou da hora desse homem
ser substituído. Todas as coisas boas que o RH fez aqui na empresa são
fruto do trabalho de um Gerente. Rapaz novo, competente, qualificado,
que trabalhou em outras grandes organizações e foi convidado também
pelo Dr. Paulo. O pobre não consegue fazer mais porque o homem não
deixa. E, o Dr. Paulo sabe disso. Não gosto de bola de cristal amiga,
mas estou começando a crer que a carreira de Diretor do José está se
aproximando do fim.
- Nossa! Não pensei que a coisa estivesse nesse pé.
- Mas a mim, parece que sim.
- Vamos aguardar.
- Sim, vamos.
Quando cheguei a minha sala pude escutar o final da conversa do presidente
com o Dr. José. A porta estava entreaberta e os dois homens falavam alto.
- Você não pode fazer isso Paulo, nós somos amigos há muitos anos.
- Por isso mesmo, José, estou te aconselhando a pedir a aposentadoria.
Há dois anos eu te dei esse conselho e você ignorou, mas agora você
está se tornando um entrave para a modernização da empresa.
- Não posso acreditar que você esteja me dizendo isso - gritava o homem
exasperado.
- Eu que não posso acreditar como deixei essa situação chegar a esse
ponto... – Dr. José interrompeu.
- Eu não acredito que você me destitua do meu cargo por causa de uma
mulher que chegou aqui outro dia...
Dessa vez foi Dr. Paulo quem se exasperou:
- Primeiro que eu não estou te destituindo do cargo por causa de uma
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mulher; segundo, não foi Olga quem provocou essa situação. Isso já vem
se prolongando há bastante tempo. Eu tenho sido negligente em relação
ao seu comportamento na empresa em função da nossa amizade, mas
essa situação tem que ter um fim. Pensa que eu não sei o inferno que
você promove todos os dias na vida daquele seu gerente. Por favor, José,
não torne as coisas mais difíceis. Todos na diretoria já estão cansados
dos seus entraves, e eu também. Você terá uma bela aposentadoria, e
ainda terá suas ações da empresa. Vá curtir a vida e aproveitá-la. Não
me obrigue a tomar uma decisão mais radical.
Dr. José empalideceu. Parece que pela primeira vez ele percebeu que Dr.
Paulo estava disposto a demiti-lo se fosse o caso. Ele respirou fundo, levantou a
cabeça, e respondeu áspero.
- Está certo Paulo, vou pedir minha aposentadoria, mas e enquanto isso?
- Você vai tirar férias, que já estão bastante acumuladas.
- Quer dizer que você não me quer mais aqui, de jeito nenhum? –
questionou o homem despeitado.
- Algumas decisões não devem e nem podem ser adiadas – respondeu Dr.
Paulo cético.
Não ouvi resposta por parte do outro homem. Só o vi passando pela minha
sala, fumegando. O interfone tocou.
- Pois não doutor?
- Preciso ditar uma comunicação.
- Já estou indo, um minuto só.
Dez minutos depois, antes que os boatos se espalhassem, eu havia
distribuído um comunicado entre todos os departamentos e setores da empresa,
comunicando que o Dr. José estaria se afastando do cargo, e que o Gerente de RH
assumiria interinamente suas funções. Enquanto eu distribuía o comunicado,
Dr. Paulo conversava com o gerente em sua sala. Tudo muito rápido, para evitar
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que a “Rádio Pião” fosse mais eficiente que nós, como sempre aconselhava Olga.
Foi “tiro e queda”. Os comentários que surgiram não geraram repercussão, e
apesar das poucas especulações, no dia seguinte ninguém falava mais sobre o assunto.
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No dia seguinte à reunião que culminou com a saída do Diretor de RH, Olga reuniu-se com os membros da diretoria para discutir os detalhes de implantação do Plano de Comunicação Interna da empresa. O Diretor Interino, Dr. Silvio, participou ativamente da reunião, e com o auxílio efetivo de Olga, e dos outros membros da diretoria, os processos de trabalho foram revistos. Baseados na experiência bem sucedida de uma grande construtora brasileira optaram por implantar o sistema de células de trabalho, que é uma forma de organização de trabalho em equipe, que atua de forma simples, prática e com foco em resultados, o que acaba por desenvolver profissionais polivalentes, mais criativos e mais empenhados em atingir os objetivos e metas traçados pela própria equipe. Esse sistema permitiria uma integração maior entre os líderes das células e seus liderados, à medida que todos os dias eles se reuniriam ao final de suas atividades laborais para discutir: os principais problemas ocorridos para a execução de suas tarefas; os caminhos para buscar soluções na melhoria dos processos de trabalho; ou qualquer outro assunto de interesse da equipe e da empresa. Esses líderes, por sua vez, se reuniriam com as Gerências todos os dias pela manhã, para transmitir o resultado das reuniões com seus liderados. As Gerências, por sua vez, se reuniriam uma vez por semana com as Diretorias para relatar os resultados das reuniões promovidas entre eles e os líderes das células (supervisores). Ficou decidido também, que nessas reuniões diárias de integração, os líderes e gerentes deveriam trabalhar um minuto de motivação com seus liderados. Os setores de Marketing e Relações publicas preparariam um material mensal para todos os supervisores e gerentes, com frases de estímulo e orientações para melhorar o ânimo da equipe. O RH se encarregaria de contratar um serviço de Consultoria para ministrar cursos na área motivacional para as supervisões e gerências. O resultado esperado era a melhoria da qualidade e da satisfação do trabalho dos colaboradores, e principalmente, a produção, o acúmulo e a sistematização do conhecimento produzido na solução de problemas de cada área, o que mais tarde permitira a replicação desse conhecimento acumulado. Lições Aprendidas.
Para Relações publicas, a reunião resultou em uma das principais ações da comunicação interna para o planejamento daquele ano: em parceria com o RH, e com o aval do Diretor Financeiro, ficou instituído o Prêmio Semestral “Cabeças Pensantes”. Um prêmio de criatividade para as três melhores ideias e/ou projetos mais criativos para melhoria de todo e qualquer processo da empresa. O Prêmio seria entregue em dois grandes eventos de integração que a empresa passaria a oferecer aos funcionários: na Festa do Dia do Trabalhador, e na Festa do Natal. Essas duas datas foram escolhidas justamente por privilegiarem todo
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e qualquer trabalhador da empresa. Ficou decidido que ao invés de viagens, eletrodomésticos, o próprio colaborar escolheria seu prêmio, mediante um valor máximo estipulado.
A preparação dos programas de capacitação e desenvolvimento profissional ficou sob a responsabilidade do Diretor Interino de RH, mas Olga propôs uma medida imediata para melhorar a vida dos funcionários mais desfavorecidos: contratar um pedagogo ou firmar convênio com uma instituição de ensino para montar uma sala de aula na empresa, para que assim eles pudessem concluir o ensino fundamental. Uma sala de aula dentro da empresa poderia ser um elemento motivador para que os trabalhadores que necessitassem, pudessem buscar estudar com o objetivo de melhorar sua condição profissional. As aulas poderiam acontecer antes ou após o expediente, dentro da própria empresa, visto que a grande dificuldade dessas pessoas era o deslocamento para a escola. O cansaço, a falta de estímulo e muitas vezes a falta de recursos para obtenção dos materiais didáticos, dificultavam o retorno deles para a escola. Olga já havia feito um levantamento, junto com Diretor de RH, da quantidade de funcionários que seriam beneficiados com o programa e também dos custos para a sua implantação. O diretor financeiro avaliou e aprovou. Funcionários que estudam, e são estimulados intelectualmente, seja em que nível for, são sempre mais eficazes para qualquer organização.
Outra questão importante ficou decidida na reunião: a partir da implantação das células de trabalho, os líderes iniciariam a discussão com seus liderados a missão, a visão e os valores da empresa. Isso aconteceria em todos os níveis. A diretoria seria a responsável por avaliar os conceitos advindos de todas as áreas, para formular o conceito final. Todos, em consenso.
Para melhorar a comunicação entre todos os setores e departamentos da empresa Olga elaborou o programa “Comunicação para Integração”, que previa a publicação de um boletim semanal, o “Fique por dentro”, com informações do dia-a-dia da empresa. Esse programa incluía também a divulgação de informações nos jornais murais e pela intranet. O “Não deixe pra depois” seria um sistema de fale conosco interno, que poderia ser acionada via intranet, ou deixado um recado por escrito na caixa de sugestões. Os quadros de aviso já vinham funcionando bem. Para as informações mais urgentes, seria utilizado o sistema de Fanzini, afixado nas mesas do refeitório. Olga implantaria também o “Fale com o seu Diretor, e Fale com o seu Presidente”, via caixa de sugestões, Intranet e Internet.
Olga preparou também, em parceria com o RH e sua equipe, um catálogo com o nome de todos os funcionários, seus setores, funções e a melhor forma de
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entrar em contato. Esse catálogo foi disponibilizado via intranet. O lançamento do programa “Comunicação para Integração” ficou previsto
para uma semana após a finalização e aprovação do texto da missão, da visão e dos valores da empresa, que deveria acontecer em no máximo 30 dias. Ficou resolvido que seria algo simples, mais que tivesse impacto sobre a comunidade interna: o presidente da empresa gravaria um vídeo, que seria divulgado via intranet para os funcionários da parte administrativa da empresa, e no circuito interno de TV para os funcionários da produção, durante o horário das refeições. Pela primeira vez, em longos anos de funcionamento, o presidente falaria diretamente para os funcionários.
Olga corria de um lado para o outro. Mesmo com a contratação de uma jornalista e duas estagiárias de Publicidade, ela tinha muitas coisas a fazer para organizar tudo. Parecia que quanto mais trabalhava, mais vontade ela tinha de trabalhar. Em nenhum momento Olga demonstrava sinais de cansaço ou estresse.
- Olga amiga, desse jeito você vai ficar estressada!- De jeito nenhum Dani, o que estressa alguém não é a quantidade de
trabalho mais a falta de qualidade no trabalho. Eu estou bem, todos estão colaborando, satisfeitos, e batalhando juntos. Daqui a pouco o ritmo volta ao normal.
Eu apenas sorri. No dia anterior ao lançamento do programa, Olga e sua equipe trabalharam
até tarde, para que quando os funcionários chegassem, o material publicitário estivesse afixado, e o evento totalmente preparado.
Foi um sucesso! O presidente da empresa, pela primeira vez, falava diretamente para todos os funcionários da empresa. Um gesto simples, mas que fez uma enorme diferença em relação ao sentimento de valorização dos funcionários. A verdade é que o lançamento dos programas causou um frenesi na empresa. Os funcionários não falavam em outra coisa. Até os mais pessimistas elogiaram a iniciativa do presidente.
O clima na fábrica nunca havia sido tão bom. Claro, os problemas existiam como em qualquer trabalho, mas a disposição e o ânimo das pessoas para resolvê-los tornou-se totalmente outro.
- Satisfeita amiga? – perguntei alegre à Olga, poucos dias depois do lançamento.
- Ainda não! – ela respondeu séria.- Como não?- Por enquanto estamos vivendo o momento da surpresa, da empolgação,
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da novidade. Só vou poder ficar satisfeita quando avaliar os resultados do programa a partir dos indicadores traçados por mim e pela diretoria.
- E você não acredita que vai dar certo? – questionei.- Claro que acredito, mas preciso manter os “pés no chão”. Acompanhar
o andamento do programa e fazer uma avaliação séria e consistente dos seus resultados.
- Entendi.Seis meses depois, com um constante acompanhamento das ações
planejadas, Olga inicia sua avaliação do programa. Um dos indicadores propostos seria a diminuição dos pedidos de demissão e de demissão sem justa causa. Os índices baixaram além da meta estabelecida, segundo o diretor de RH. Os “falecom”, que no início causaram certa desconfiança, com o tempo passaram a ser utilizados pelos funcionários com certa regularidade, e depois com frequência baixa. Isso porque, à medida que a reuniões nas células de trabalho mostravam-se produtivas, os funcionários não sentiam a necessidade de se dirigir diretamente aos diretores e ao presidente da empresa.
O programa de educação fundamental vinha beneficiando a vários funcionários, e acabou por estimular funcionários de outros níveis escolares a retomar seus estudos. Ainda, segundo relatório do Diretor de Produção, o nível de produtividade dos funcionários havia melhorado, e o índice de acidentes de trabalho diminuído a níveis bastante baixos. As reuniões de integração, segundo supervisores e gerentes, foram as grandes responsáveis pelas melhorias dos processos de trabalho, pois à medida que se sentiam mais comprometidos, os colaboradores tornaram-se mais participantes e criativos, e a maioria das mudanças realizadas nos setores e departamentos surgiu nessas reuniões.
O catálogo desenvolvido pela comunicação foi um dos pontos mais citados na avaliação do programa. Os funcionários perceberam que saber a quem procurar e como contatar uma pessoa, dentro de uma empresa tão grande, facilitou muito a comunicação entre os setores.
O departamento de comunicação em conjunto com o departamento de recursos humanos promovia a atualização do catálogo periodicamente, de acordo com a entrada ou saída de um os mais funcionários. Essa medida facilitou, inclusive, o atendimento ao cliente, já que agora todos sabiam com maior segurança a quem encaminhar o cliente de maneira segura, para que o mesmo obtivesse desde uma informação até a resolução de um problema.
Na reunião de avaliação do plano de comunicação, a diretoria considerou que os resultados obtidos foram melhores do que o previsto. Olga e sua equipe
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receberam um elogio público, e que foi afixado em todos os quadros de aviso da empresa.
Logo após essa divulgação, Olga reuniu sua pequena equipe em sua sala.- Agora que estão todos aqui, gostaria de dar os parabéns. O sucesso
desse programa só foi possível graças à dedicação de vocês. Joana, você foi incansável. Mostrou-se uma jornalista dedicada, preocupada em publicar um material de boa qualidade tanto em estética quanto em conteúdo. O seu respeito pelos nossos funcionários, seus leitores, que te levou a procurar pautar assuntos realmente de interesse deles, levantando controvérsias legítimas e saudáveis, de maneira responsável e imparcial, contribuiu sobremaneira para conquistarmos a credibilidade para a empresa perante os funcionários. Marisa e Sérgio, apesar de estagiários, vocês atuaram como grandes profissionais da publicidade. Nossas campanhas surtiram um efeito extremamente positivo, e sem sombra de dúvidas, foram de fundamental importância para convencer o nosso púbico interno que a empresa se preocupa e acredita no potencial deles. Enfim, creio que cumprimos uma parte de nossa missão. Agora, iremos iniciar outra etapa, a comunicação externa da empresa. Teremos duas árduas tarefas, consolidar os programas lançados, e iniciarmos outro.
- E seremos ainda nós quatro? – perguntou Joana apreensiva.- Não se preocupe Joana, provavelmente vamos contratar Marisa e Sérgio
como funcionários, e trazer mais dois estagiários para auxiliar nesse novo momento da equipe.
- Show! – gritou Sérgio animado.- Muito show Serginho.- Estagiários de que área você trará Olga?- Provavelmente um estagiário de jornalismo e outro de RP. O estagiário
de Jornalismo irá auxiliar a Joana, visto que agora a sua demanda de trabalho vai aumentar, e o de RP vai me auxiliar nas questões de eventos, visitas etc.
- Quando eles vão começar?- Em breve, vamos trabalhar no Plano de Comunicação Externa, que
tem de estar totalmente integrado com o plano de comunicação interna, assim como o plano de comunicação mercadológica que é de responsabilidade do Marketing. Os estagiários devem chegar antes de esse processo começar.
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- Show!- Parabéns, bom fim de semana e até segunda-feira.Segundo Olga, os jovens profissionais saíram da sala parecendo que haviam
ganhado na loteria. Ela sentia-se gratificada por isso.- Você adora trabalhar com jovens não é Olga?- Gosto muito – ela respondeu sorrindo- Se falta a eles a experiência e
reflexão sobre o que fazer em momentos difíceis, sobra energia, vontade e determinação. O ideal é que nas equipes de comunicação tivéssemos sempre profissionais jovens e maduros. É a mistura perfeita.
Quanto mais eu observava Olga, mas eu admirava a profissão dela.
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Como já era de se esperar, a comunicação externa da empresa também
apresentava sérios problemas, o que gerava falta de relacionamento, em todos
os sentidos. A comunicação institucional era praticamente inexiste: não havia
canais de comunicação com a comunidade, com fornecedores e até com os
consumidores. A propaganda mercadológica funcionava bastante bem, mas
comunicação mercadológica se baseava apenas no uso da propaganda. O foco do
marketing sempre foi o consumidor final, desta forma o trabalho realizado pela
agência de propaganda sempre foi focado para a marca e o produto. Sem, contudo,
existirem canais de diálogo ou outra forma de comunicação com os consumidores.
A famosa comunicação de uma via, que em nenhum momento privilegia a escuta
do consumidor. Quando se tratava de propaganda institucional, praticamente
nada havia sido feito. Portanto, agora, nesse novo momento, alguns pontos da
comunicação deveriam ser revistos, até porque, a missão, a visão e os valores da
empresa foram modernizados, e a comunicação deveria ser integrada seguindo
esses novos princípios norteadores.
A primeira dificuldade encontrada por Olga para gerar essa integração foi
com a Diretoria de Marketing. O diretor se recusava a fornecer a Olga o histórico
de comunicação da empresa, e fugia constantemente das reuniões marcadas por
ela. Cansada da maçada, e contrariando a todas as suas táticas, Olga partiu para
a ameaça. Eu estava entrando em sua sala quando a escutei falando asperamente
com o diretor ao telefone.
- Caro doutor, eu estou com meu plano atrasado por sua causa – disse
ela áspera.
- ...........
- Sinto muito, mas se não sentarmos para conversar e o senhor não me
entregar o histórico de comunicação da empresa, vou ser obrigada a
falar com Dr. Paulo sobre isso, e como o senhor sabe, não gosto de agir
assim.
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- .............
- O senhor sabe que eu não fui a responsável pela demissão do seu sogro,
e muito menos serei pela sua, só o senhor mesmo o será, se não cumprir
com suas obrigações, como está fazendo agora, e – Olga parou de
falar repentinamente. Ela afastou o telefone do ouvido e resmungou
baixinho.
- Doutor, eu não estou aqui para ouvir seus gritos pelo telefone, e também
não creio que pelo fato do senhor ser diretor eu esteja hierarquicamente
abaixo do senhor. Mantenha sua compostura, ou realmente serei
obrigada a tomar minhas providências. Um homem na sua posição
não pode se dar ao luxo de ter explosões como essa – Nesse momento
percebi o ar de vitória de Olga.
- ...................
- Creio que agora o assunto está encerrado. Ou definimos isso até amanhã
ou falarei com Dr. Paulo sobre a minha impossibilidade de realizar o
plano porque você não me fornece as informações. Boa tarde.
Olga não bateu o telefone, como eu esperava. Ela desligou suavemente e
deu um soco na mesa.
- Que sujeito insuportável! – Ela disse exasperada.
- Calma amiga, você não sabia que seria assim. Para mim, ele não quer te
entregar porque ele não tem.
- Não é possível! Agora eu te juro, que se esse homem não me entregar
esse histórico eu vou ligar para a agência de propaganda e vou pedir.
- E não vai falar com o Dr. Paulo?
- Vou, é claro que vou. Esse sujeito pode por todo o nosso trabalho
a perder. Para realizar nosso plano de integrar a comunicação é
fundamental a participação do marketing.
- Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, já to vendo tudo! – falei desanimada.
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- Pare amiga, não me desanime.
- Olga, esse homem te odeia tanto quanto o sogro dele.
- Ele pode sentir o que quiser, eu também o detesto, absolutamente o
detesto, mas temos que ser profissionais, respeitar o trabalho do outro.
O que ele está fazendo não é ético.
- Olga amiga, eu vou lhe dizer uma coisa, ética e moral a gente não
aprende na faculdade. O cinismo dele, a falsidade, a falta de caráter é
visível a todos. Não sei como o Dr. Paulo ainda não se deu conta disso.
- Sou obrigada a concordar amiga, mas o Dr. Paulo é um homem vaidoso
Esse cara é bem equivocado. Tá na cara que ele não entende nada de
Marketing, muito menos de comunicação mercadológica.
- Você é realmente gentil amiga Olga. Na verdade esse sujeito é uma
porta. E, além de tudo arrogante. Não sei como você aguenta trabalhar
com ele.
- Eu me relaciono pouco com ele, agora é que os laços devem começar a
se estreitar.
- O que você está pensando em fazer?
- Esperar e refletir amiga. Resolver uma coisa de cada vez. Primeiro
elaborar meu plano, e depois...
- Certo, mas cuidado Olga. Agora, vou lhe dizer uma coisa, creio que esse
sujeito deve ter algo de positivo ou o Dr. Paulo já o teria demitido junto
com o sogro. Sei que ele é inapto, mas tente enxergar o que o Dr. Paulo
talvez tenha enxergado. Quem sabe não melhora a sua vida.
- Obrigada amiga. Creio que você tem razão. Dr. Paulo é um homem
sagaz.
No dia seguinte, por volta das cinco da tarde, Olga solicitou uma reunião com
Dr. Paulo. Ele pediu que Olga o aguardasse alguns minutos que já iria atendê-la.
- Olga, mulher, o que você vai fazer?- eu perguntei.
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- O que um profissional de Relações publicas deve fazer: abrir os canais
de comunicação, debater, procurar uma solução para a crise. Pensei
sobre o que você me falou ontem e tive algumas ideias.
Alguns minutos depois o presidente pediu que Olga entrasse.
- Pode entrar amiga! Boa sorte!
- Tenha certeza Dani, isso não vai depender de sorte. Vai depender de
como eu consiga gerenciar essa crise.
Olga entrou rapidamente. O ramal tocou. Dr. Paulo solicitou duas águas e
dois cafés. Boa oportunidade para eu sentir como estava o clima. Quando entrei
na sala, era Olga quem estava falando.
- Então, Dr. Paulo, creio que essa situação deve-se principalmente ao fato
do diretor de marketing desconhecer a essência da atividade de relações
publicas, e por mais que eu tente esclarecer, ele parece desconfiar que
minhas intenções são outras. Gostaria de fazer uma sugestão: vamos
promover uma visita dele em algumas empresas de grande porte que
possuam departamento de marketing e comunicação. Lá ele poderá
observar como os departamentos de marketing e comunicação atuam
harmoniosamente, e como essas atividades se integram com as outras
áreas para a obtenção de bons resultados para a organização.
Dr. Paulo não respondeu imediatamente. Recostou-se na cadeira e olhou
para cima, como se fizesse uma análise da situação.
- Não estou certo de que só isso poderia resolver a situação Olga.
- Não creio que resolveria a situação Dr. Paulo, mas talvez possa ser o
primeiro passo para quebrar a desconfiança dele. Depois do ocorrido
com o Dr. José, creio que ele imagina que eu seja uma ameaça, e que
todas as minhas proposições tenham como objetivo suprimir o trabalho
dele. Como ele ainda é jovem, eu creio que colocá-lo diante do novo,
de como a atividade dele funciona harmonicamente com as outras
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áreas da empresa, e principalmente da comunicação, pode ser um bom
caminho para que ele compreenda como a integração entre os nossos
departamentos é salutar para ambos.
- Mas e depois?
- Depois que ele voltar, podemos marcar uma reunião e debater sobre
como vamos integrar os nossos departamentos, as nossas atividades.
Tentar fazer isso da melhor maneira, sem disputas e com menos
resistências.
- Que empresas seriam essas?
- Bom, creio que poderíamos escolher empresas que tivessem relação
direta e indireta com a nossa atividade. Acredito que poderíamos
contatar alguns dos nossos fornecedores, até mesmo em nível
internacional.
- Como conseguiríamos essas visitas?
- Disso eu me encarrego.
- Está certo, vou pensar na sua proposta Olga. Mas creio que só isso não
será o suficiente, e temos de resolver esse assunto das informações que
você precisa de forma mais urgente. Agora, para ser mais preciso. Ou,
você poderia esperar ele retornar para iniciar seus planos?
- Não doutor, infelizmente não. Confesso que já estou bastante atrasada.
Nossa comunicação interna vai bem. Trabalhamos com afinco para
reconstituir a identidade da empresa, e também a sua imagem interna.
Agora precisamos trabalhar nossa comunicação institucional, e
rapidamente. Trabalhamos sempre com variáveis incontroláveis, e não
podemos nos dar ao luxo de esperar mais.
- Muito bem, vamos chamar o homem aqui.
Não levou dez minutos para que o Diretor de Marketing da empresa
passasse pela minha sala como um furacão e entrasse na sala da presidência
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soltando fumaça pelo nariz.
Foi uma reunião muito conturbada. Ele inventava mil desculpas para
atrapalhar o trabalho de Olga. Insistia em dizer que a comunicação mercadológica
era um assunto que só dizia respeito ao marketing e que Olga não deveria ter
acesso àquelas informações que eram confidenciais. O diretor a acusou, ainda, de
estar se intrometendo em setores e assuntos que não diziam respeito a sua área.
Que ela deveria se ater a Relações publicas e não se meter com a propaganda.
Olga tentou se conter, mas precisou refutar as acusações do homem,
argumentando que o papel dela na empresa, agora, era integrar a comunicação,
fazendo com que os princípios determinados pela empresa em sua missão,
visão e valores perpassassem por toda a comunicação, afinando esses conceitos
para posicionar a imagem da empresa perante seus públicos, e o consumidor
era um desses públicos. Ela precisava conhecer o que havia sido feito até agora,
para traçar seu plano de comunicação institucional. Olga também deixou claro
que sua intenção não era tomar para seu departamento a responsabilidade da
comunicação de marketing, mas se realmente quisessem afinar e integrar a
comunicação da empresa, os dois precisariam sentar juntos, Relações publicas
e Marketing, para delinear os caminhos, posicionamento e conceitos da
comunicação mercadológica e institucional. Ela deixou claro ainda, que havia
mais de quinze dias que tentava sentar e discutir o assunto com o diretor, mas
que ele lhe oferecia mil desculpas para que não se reunissem, além de lhe negar
informações cruciais para o desenvolvimento do seu plano.
O homem estava pálido. A tranquilidade e a convicção com que Olga expos
o problema enfrentado por ela em relação a ele, não deixava dúvidas sobre sua
sinceridade. Dr. Paulo encarou o homem por alguns segundos e depois pediu a
Olga que se retirasse. Ele a chamaria depois.
- E daí Olga?
- Olha Dani – disse Olga angustiada – eu tentei controlar ao máximo
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para que a situação não chegasse a esse ponto, mas o que eu podia fazer?
- Nada, portanto, ele que se vire. Aprontou? Agora aguente!
- Bom, vou para minha sala, seja o que Deus quiser – sussurrou Olga
atormentada.
- Olha amiga, deixe eu lhe dizer uma coisa, eu não tenho dúvidas de que
você é uma excelente profissional, dedicada, empenhada, competente,
porém essa sua mania de “Madre Tereza de Calcutá” é péssima. Você
não vai conseguir transformar gente ruim em gente boa com a sua
comunicação!
- Dani! – exclamou Olga espantada.
- É verdade! Tem coisas que você não vai conseguir resolver como mau
caratismo, incompetência, inveja etc. Nem a comunicação de Jesus
Cristo conseguiu redimir todos os ignóbeis do mundo, que dirá a sua! –
Eu disse indignada. Algumas vezes Olga me exasperava.
Ela baixou a cabeça e saiu. Eu me senti muito mal de ter falado com ela
daquela maneira, mas confesso que já queria ter dito isso há mais tempo.
Mal Olga havia saído da minha sala, o Diretor de Marketing passou por
mim batendo os pés. O interfone tocou, era Dr. Paulo.
- Daniela venha até a minha sala, por favor, preciso ditar um ofício.
- Sim senhor – Será que lá vinha outra demissão, me perguntei.
Eu entrei devagar e parei em frete a mesa do presidente. Ele parecia
tranquilo, ao contrário do que eu imaginava. Ele fez um gesto para que eu me
sentasse. Era sempre assim quando ele queria ditar uma carta. Ele parou o que
fazia, tirou seus óculos do rosto e virou-se para mim com um ar curioso.
- Daniela, qual a impressão que você tem sobre o clima na empresa?
- Sinceramente Dr. Paulo, nunca vi um clima melhor aqui. Os funcionários
estão mais satisfeitos, mais tranquilos e até mais produtivos.
- Sim, e os resultados financeiros já começam a aparecer. Olga tem
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colaborado muito nesse processo – Ele falou um tanto pensativo.
- Olga tem sido fundamental nesse processo- disse enfática - Depois
que ela implantou o programa de comunicação interna na empresa, o
clima mudou. É perceptível o estímulo dos funcionários no exercício
de suas atividades. Até a comunicação entre os setores melhorou.
Antes, doutor, até eu que sou sua secretária, tinha dificuldades para
entender o fluxo de comunicação entre um setor e outro. Quando uma
entrega atrasava ninguém sabia o porquê do atraso, onde estava o
material, o que tinha acontecido. O financeiro não se entendida com a
produção, enfim, tínhamos problemas sérios no fluxo da comunicação
administrativa também. Olga sentou com os chefes de departamento,
verificou quais eram as principais dificuldades de cada um, e qual seria
a melhor maneira da informação caminhar de um departamento para o
outro. Feito isso, ela sentou-se com os diretores, conversou com eles,
e montou um novo fluxo para a comunicação administrativa. Ah! Ela
conversou inclusive com as secretárias da diretoria para saber quais as
dificuldades que nós tínhamos em fazer chegar às informações até os
chefes, colaboradores etc. Desde então, Dr. Paulo, as informações fluem
na empresa de forma organizada e eficaz.
- Você me parece uma grande defensora de Olga – ele disse sorrindo.
- Não sou uma defensora da pessoa de Olga doutor, mas me sinto na
obrigação de defender trabalho dela. Sinceramente eu sempre imaginei
que os profissionais de Relações publicas fossem ‘Fazedores de
festinha’, ou então um daqueles sujeitos que ficam recebendo as visitas
e sorrindo para elas o tempo todo. A verdade é que o trabalho de Olga foi
imprescindível para a melhoria das nossas condições de trabalho. Hoje,
nossas atividades se desenvolvem melhor, nosso trabalho rende mais, e
isso porque a informações chegam rapidamente ao destinatário e vice-
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versa. As respostas são rápidas, quase imediatas. A nossa comunicação
está organizada. E mais, o relacionamento entre os funcionários
melhorou. Não que todos tenhamos nos tornado uma grande família
ou sequer amigos, não é isso, mas a medida que as pessoas podem se
comunicar melhor e de forma mais eficaz, existe maior transparências
nas informações, nas decisões, enfim, o trabalho fluiu melhor. As fofocas
diminuíram, as desconfianças agora são raras. Ela conseguiu imprimir
mais transparência entre os líderes e liderados, entre a empresa e seus
funcionários.
- Eu também tenho plena consciência disso Daniela. Quando pensei em
contratar um profissional de relações publicas eu não tinha a visão do
que ele poderia realmente fazer pela empresa. Confesso que a minha
intenção era resolver o clima da fábrica, e achei que isso se resolvesse
com a realização de alguns eventos. Realmente o meu olhar sobre esse
profissional também era bastante distorcido. Enfim...
Fiquei calada, esperando que ele, talvez, continuasse a me questionar.
- Gostaria que você não comentasse sobre essa nossa conversa com Olga.
- Fique tranquilo doutor. Apesar de sermos amigas e morarmos juntas,
sabemos separar nossas atividades e o sigilo que requer cada uma delas.
Ele ditou o ofício e me agradeceu, como sempre.
- Obrigado, Daniela, pode ir. Aproveite e chame o Gerente do
Desenvolvimento Humano para mim.
Não demorou cinco minutos para que o gerente entrasse atravessasse minha
sala e entrasse na sala da presidência. Aliás, aquele foi um dia bastante movimentado.
O entra e sai na sala da presidência não parou. Ele falou com todos os diretores,
separadamente, o que não era habitual de acontecer em um único dia.
Só entendi o que havia realmente acontecido quando recebi uma mensagem
eletrônica do Departamento de Desenvolvimento Humano (assim era a nova
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nomenclatura do RH) comunicando a todos os funcionários que Olga Cerqueira
Frieling havia sido promovida a Diretora de Comunicação da empresa, e que todo
e qualquer assunto de comunicação, que envolvesse qualquer departamento ou
setor, deveria se tratado de agora em diante com ela. Não me contive e fui para a
sala de Olga.
- Você já leu a comunicação do DH?
- Não – ela disse desconfiada – do que se trata Dani? Não vai me dizer
que?
- Abra sua caixa postal e leia! – eu disse e saí.
Minutos depois ela adentrava pálida a minha sala.
- Eu estou estupefata! Quando você falou, eu pensei...
- Eu também pensei quando vi o gerente do desenvolvimento humano na
sala da presidência - disse eu interrompendo-a.
- Não sei o que pensar! – sussurrou ela como que para si mesma.
- Não deve pensar, deve agir. Foi exatamente para isso que Dr. Paulo
te promoveu. Seria péssimo ele ter de obrigar o diretor a te receber,
te fornecer informações. Agora vocês estão no mesmo nível e toda a
comunicação da empresa está sob sua responsabilidade, mesmo a
mercadológica.
- Isso é realmente positivo, pelo menos do ponto de vista da integração
da comunicação.
- Faça o que tem de fazer Olga – eu disse enfática.
- Amanhã, Dani. Hoje soaria como afronta e eu não quero isso. Amanhã
retomo essa questão.
- Talvez seja melhor assim – eu disse em tom conciliador.
- Será! Quanto àquilo que você me disse... – eu a interrompi.
- Esqueça Olga, eu não quis te chatear.
- Só quero te dizer que você tem razão! Até a comunicação tem suas
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limitações e ela não tem o poder de melhorar o caráter, a honra e a
moral das pessoas. Vou lembrar sempre disso. Já dizia minha avó, uma
maçã podre no cesto apodrece todo o resto. Espero que esse rapaz não
seja tão mau caráter quanto pensamos. Tomara que ele seja apenas mais
um “pavão” querendo mostrar seu “esplendor”.
- Taí, grande sábia a sua avó.
Olga sorriu e saiu da sala. Poucos instantes depois ela interfonou avisando
que sairia mais cedo e que nos veríamos em casa.
No dia seguinte, Olga se reuniu com o diretor de marketing da empresa,
que lhe forneceu todas as informações de que ela necessitava. Tratou-a com
distância, mas também com reverência. Ao final da reunião, ele não suportou e
destilou seu veneno contra ela.
- Satisfeita com a promoção? – perguntou ele sarcástico.
- Muito. Gostaria inclusive de lhe agradecer. Se não fosse o senhor,
talvez eu não a tivesse conquistado tão rapidamente – respondeu Olga
sorrindo e com um tom tão sarcástico quanto o dele. Ele empalideceu
e calou-se. Ele realmente não havia percebido que a sua teimosia havia
colaborado para elevar Olga ao cargo de diretora um pouco mais rápido
do que os planos da presidência.
Olga saiu e o deixou com o seu despeito.
Quinze dias depois, o diretor de marketing viajava, muito a contragosto,
para as visitas marcadas por Olga. Enquanto isso, ela e sua equipe trabalhavam
com afinco no plano de comunicação externa da empresa.
Marisa e Sérgio foram contratados, e os dois novos estagiários chegaram
antes mesmo de iniciarem a elaboração do plano. Melhor. Isso faria com que eles
participassem de todo o processo, e os tornaria mais integrados e comprometidos
com a execução do plano.
Agora, como Diretoria de Comunicação, o setor de Olga teria uma verba
65
anual para trabalhar a comunicação da empresa. Antes, essa verba só existia
para a comunicação mercadológica, mas agora seria para toda a comunicação
da empresa. Ela teria total controle sobre os investimentos de comunicação da
empresa e isso não incluía as verbas do evento para os funcionários, que vinham
do Desenvolvimento Humano, e a Diretoria de Comunicação cuidaria apenas
dos preparativos, de acordo com o investimento destinado para tal.
Olga deu a notícia para os funcionários.
- Tenho uma boa notícia – falou Olga sorridente.
- Além da sua promoção – brincou Serginho.
- Além da minha promoção, é claro – sorriu Olga.
- Na verdade, todos nós fomos promovidos. Nós agora somos diretoria
de comunicação e por isso teremos uma verba anual para trabalharmos
a comunicação da empresa.
- Uau! – exclamou Marisa – Isso é muito bom!
- Sim, é bom por que sabemos até onde podemos ir, e ruim porque não
poderemos ir além de onde a nossa verba nos deixar. Portanto, teremos
que nos virar com essa verba durante o ano.
- E a verba é boa Olga? – questionou Joana.
- É razoável! Se formos criativos e eficazes...
- Nós seremos – Urrou Serginho empolgado, como sempre. Olga sorriu.
- Se antes nossa responsabilidade era grande, agora ela será maior ainda.
Conto com todos vocês. Agora ao trabalho, precisamos terminar os
questionários de pesquisa o mais rapidamente possível. Joana gostaria
de contar com você a Suzana para entrevistarmos a comunidade ao
entorno da empresa.
- Conte comigo Olga, não terei nenhum problema em colaborar com
essa pesquisa, muito pelo contrário, tenho aprendido muito com meus
colegas aqui nesse departamento, e isso tem sido muito bom para mim
66
como profissional.
- Que bom! Joana, tenho certeza que todos estão aprendendo muito
contigo também. Fico feliz que vocês tenham realmente se transformado
em uma equipe.
- Eu também – declarou a moça.
Olga escutou os gritos de urra quando ela saiu da sala, e caminhou para o
toalete sorrindo de satisfação.
O diretor de marketing voltou das visitas e assim que chegou se reuniu
com o presidente da empresa. Eles ficaram durante muito tempo conversando.
Quando saiu, o diretor me cumprimentou cordialmente, coisa fora do habitual.
Quase ao final do expediente, o presidente pediu que eu chamasse Olga.
Ela ficou durante pouco tempo em sua sala. Na saída, perguntei a ela se estava
tudo bem.
- Creio que sim. Ele só me questionou se ao final dessas visitas, como as
que o diretor de marketing realizou, se as pessoas entendessem o que
deveriam fazer para melhorar, mas não soubessem como. Eu respondi
que quando um profissional sabe, realmente, o que fazer, o como é uma
questão de método. O mais difícil é saber o que fazer. Definir como
fazer é uma questão de estudo e de planejamento.
- Será Olga?
- É claro Dani! Você lembra a época de faculdade? A gente estava sempre
mais preocupada com o como fazer, do que com o que fazer e porque fazer.
Por isso detestávamos as aulas teóricas e adorávamos as aulas práticas.
Depois, quando chegamos ao mercado percebemos que não temos como
fazer se não soubermos exatamente o que fazer e porque fazer. O como é
a consequência e não a causa. Saber o que fazer e por que fazer é o mais
complexo, o que requer maior reflexão, conhecimento, informação. O
como fazer faz parte de um processo um pouco mais tácito, em qualquer
67
profissão. Quando você conhece a base do processo, que é o caso de
qualquer profissional com formação acadêmica, você tem a capacidade
de ajustar esse processo de acordo com as necessidades do seu objetivo.
- Não entendi.
- Veja bem, na minha área, quando eu sei que tenho que reorganizar
a comunicação de uma empresa, a primeira coisa que eu faço é um
diagnóstico da comunicação. Mas, esse diagnóstico não será realizado
da mesma maneira, com as mesmas técnicas e o mesmo método em todas
as empresas. Isso porque cada empresa tem suas particularidades, suas
especificidades e também suas necessidades. Na sua área, por exemplo,
quando você chega a uma empresa e precisa reorganizar o escritório do
seu chefe, qual a primeira coisa que você faz?
- Bom, vou procurar entender a atividade dele, os seus compromissos,
quem são as pessoas com as quais ele fala diretamente... Essas coisas...
- È sempre assim que acontece?
- Não, cada empresa tem as suas particularidades.
- Portanto, quando você chega a uma empresa tem reconhecer o que fazer
para depois estudar como seria melhor organizar os fluxos de pessoas,
agendas, circulares etc?
- Exatamente. E estou sempre procurando uma forma de melhorar a
organização, para que o meu trabalho possa ser mais eficiente.
- Muito bem! Entendeu agora?
- Com certeza Olga. É obvio que a medida que eu sei o que devo fazer, vou
procurar as melhores maneiras de executar os meus objetivos. Perfeito.
- Então. O problema do diretor de marketing em nossa empresa é que ele
não sabia o que fazer. Conhecer a experiência do outro, adquirir um novo
conhecimento, e até mesmo conhecer uma nova maneira de fazer alguma
coisa, pode auxiliá-lo a desenvolver melhor o trabalho dele.
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- Nossa Olga, eu nunca tinha parado para pensar nisso.
- A cada dia que passa, Dani, as pessoas estão cada vez mais
desacostumadas a refletir e a pensar sobre tudo. Estamos sendo
treinados somente para executar tarefas, sem refletir muito bem sobre
o que estamos fazendo, sobre o porquê estamos fazendo, e sobre o contexto
em que essas tarefas se inserem na sociedade. Os nossos currículos
prescindiram da filosofia, que é uma disciplina importantíssima, e o
que, aliás, deveria fazer parte inclusive do ensino fundamental, para
ensinar os nossos jovens a pensar. Estão nos ensinando apenas a sermos
tarefeiros. Meros executores de tarefas.
- Com certeza!
- Voltando aquele comentário sobre a faculdade, a coisa que eu mais
percebo é a ansiedade dos acadêmicos em querer fazer sem ao menos
refletir sobre o que estão fazendo é terrível! Pensar que cursos superiores
são formadores de tarefeiros, técnicos, executores de atividades, com
pouca capacidade de reflexão sobre suas atividades, sobre os processos
que envolvem suas atividades, sobre a sua atividade no contexto social,
sobre a importância da sua atividade para o desenvolvimento humano,
enfim...
- Senti-me agora no banco da universidade, e confesso, com muita culpa.
Era exatamente assim que eu agia. Odiava as aulas de sociologia e
antropologia. filosofia, então, eu queria morrer.
- Agora, também não se sinta tão culpada sozinha. Os currículos, em sua
maioria, na contemplam uma formação humanística de base para os
alunos dos cursos de bacharelado, e por sua vez, os professores das áreas
profissionalizantes, que normalmente são aqueles formados na área,
pressionam por uma maior formação técnica e uma menor formação
humanística. Outro dia eu estava vendo o currículo de alguns cursos
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de comunicação em que as disciplinas práticas são quase a totalidade
do currículo. Como formar um profissional em comunicação sem uma
sólida formação humanística. Um sujeito que não sabe refletir, só sabe
executar?
- Realmente não sei o que dizer.
- Pelo menos você admite que não sabe o que dizer! E aqueles que põem
a culpa dos males do mundo na mídia. Se nós temos uma mídia ruim
é porque temos uma sociedade ruim. Se as nossas crianças e os nossos
jovens recebessem uma educação humanística de melhor qualidade, se
aqueles que estão sentados em seus birôs em Brasília tivessem mais
preocupação com esse tipo de formação nos cursos superiores, se a
nossa população tivesse acesso a informações de melhor qualidade,
com toda certeza a nossa mídia não seria tão ruim como a acusam. A
qualidade da mídia reflete a qualidade da sociedade, e isso não é causa,
é efeito. Você acha que um indivíduo com uma boa formação passaria
sequer uma tarde de domingo na sua casa vendo os terríveis programas
de auditório que as emissoras veiculam? Que as pessoas comprariam
jornais sensacionalistas, e pouco sérios, se elas soubessem avaliar a
qualidade de uma notícia?
- Não! Tenho certeza que não! Mas você não acha que a mídia, de certa
maneira manipula a opinião pública?
- Primeiro, que o conceito de opinião pública que virou senso comum
entre a mídia, está totalmente equivocado.
- É claro que a mídia manipula a opinião pública Olga!
- Não Dani, a mídia durante muito tempo só pôde influenciar e manipular
opiniões individuais de uma massa acrítica e com pouca qualidade de
informação. E isso só aconteceu porque essa massa era formada por um
grupo de indivíduos anônimos, com um grau ínfimo de organização e sem
70
oportunidade debater as controvérsias, e formar uma corrente de opinião no
tempo e no espaço. Veja o que está acontecendo Se ao contrário, temos um
agrupamento de indivíduos organizados, com uma controvérsia definida,
recebendo informação de qualidade e principalmente oportunidade para
o debate, aí sim teremos um público e por consequência uma opinião
pública, no sentido strictu da palavra, e que tem suas origens e significados
no berço da democracia ocidental: a Grécia.
- Mas então porque essa confusão com o termo opinião pública?
- Infelizmente, o termo foi vulgarizado e vem sendo conceituado como
se fosse um conjunto de opiniões individuais, o que não é correto. O
que ocorre é que a mídia pode influenciar e até manipular a opinião de
uma massa, mas não uma opinião pública. Todavia, com o advento da
internet, já não estou tão segura disso. Mas isso fica para uma próxima
discussão... – disse Olga sorrindo.
- Uau! Olga, isso é polêmico.
- Mas do que você imagina! Aliás, o que não falta é polêmica na área da
comunicação. Existe uma guerra não declarada, por exemplo, entre
Relações publicas e Jornalistas por espaços no mercado de trabalho.
Quando eu estava na faculdade, minha professora de Técnicas de
Relações publicas nos solicitou que escolhêssemos uma empresa que
tivesse um departamento de marketing e comunicação, e fizéssemos
uma pesquisa sobre vários temas. O tema do meu grupo era Público
Misto. Liguei para a empresa e fui encaminhada para a assessora de
imprensa. Falei para ela que estava fazendo uma pesquisa sobre público
misto, e então ela me perguntou: homens e mulheres? Foi então que eu
expliquei a ela qual o conceito de público misto em Relações publicas.
- Não creio!
- Creia. Não me espanta! O conceito de público no jornalismo é outro.
71
Então eu te digo, nessa briga tola, todos perdem. Jornalistas e Relações
publicas devem atuar juntos, um precisa do outro. Entretanto,
enquanto os empresários não souberem que relações publicas em uma
empresa têm uma função e o jornalismo outra, e mais, que assessoria de
imprensa só funciona de forma eficaz quando existe um gerenciamento
da comunicação completo, todos sairão perdendo. As informações
enviadas à mídia, por um assessor de imprensa, só obterão repercussão
se a empresa tiver um bom relacionamento com seus públicos; se
for socioambientalmente responsável; se possuir uma identidade
consoante com a imagem que deseja projetar entre outras coisas.
Imagina, de que adianta a mídia espontânea e uma péssima imagem
entre os públicos? Uma organização hoje que deseja se manter no
mercado precisa pensar de forma holística, no todo, na integração da
sua comunicação, e isso é trabalho de Relações publicas. Outra coisa,
assessoria de Imprensa não é jornalismo como querem fazer acreditar
no Brasil. Na Europa e E.U.A, por exemplo, assessoria de imprensa não
é considerada jornalismo, e não se aceita que um jornalista no exercício
da profissão faça assessoria de imprensa paralelamente, porque além do
conflito de interesses, também envolve questões éticas. A bibliografia
de referencia nesses países não me deixa dúvida, mas isso eu vou deixar
pra defende na minha tese, quando eu resolver fazer um doutoramento.
- Olga, eu sei que você é muito competente, mas não acha que está
valorizando demais a sua profissão?- retruquei um pouco descrente.
- Não, pode ter certeza que não. Veja bem, quando falamos de
comunicação falamos em interação, para que haja interação é preciso
que haja relacionamentos, e para que haja relacionamentos é necessário
que haja canais de comunicação abertos, e realimentação entre a
organização e seus públicos. E o profissional da área da comunicação
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que é especialista em gerar relacionamentos entre as organizações e
seus públicos quem é ?
- Pelo que tenho visto aqui na empresa, seria o profissional de relações
publicas!
- Que bom! Espero que ao longo da minha trajetória profissional eu
consiga fazer com que os executivos entendam isso.
- Que tal um café? – perguntei. Olga olhou para o relógio e fez uma careta.
- Nossa, fica para depois. Tenho uma reunião daqui a cinco minutos. Vai
ser o tempo de imprimir alguns apontamentos que eu fiz. Beijinhos. Se
eu não aparecer para o café, te encontro no final do expediente.
- Tudo bem.
Olga saiu feito um furacão da minha sala. Fiquei pensando sobre como
as pessoas, normalmente, costumam atribuir o sucesso da sua atividade as suas
qualidades pessoais, ao seu talento, à sua coragem, enfim ao seu eu. O que valia
era o individual. O sujeito poderia ser o que fosse, com tanto que fosse ele. Olga
me fez perceber que não é só isso! Toda a atividade profissional seja ela qual for,
quando exercida na sua íntegra, é que pode fazer a diferença.
Muitas vezes as organizações subutilizam atividades e profissionais
dentro dos seus quadros, não permitindo as suas funções sejam exercidas em
sua totalidade. Eu me lembro de uma empresa para a qual fui contratada como
secretária executiva de um dos diretores. Minhas funções se restringiam a atender
telefone, anotar na agenda os compromissos que ele determinava e a servir
cafezinho. Ora, uma recepcionista daria conta perfeitamente dessas funções. Total
subutilização! Que horror! Tanto sacrifício, tantos cursos, tanta especialização,
para ao final, servir cafezinho? Não que eu ache depreciativo, mas as minhas
qualificações me permitiam ir muito além dessa tarefa. Portanto, esperei apenas
terminar o contrato de experiência e pedi demissão! Imediatamente encontrei
esse emprego, e aqui pude exercer minhas funções de secretária executiva na
73
íntegra.
O que alguns empresários não compreendem é que para um colaborador
não se trata apenas de receber um salário, mas de satisfação e crescimento
profissional. Quando se tem um profissional satisfeito, atuando na sua plenitude,
a contrapartida para a empresa significa o retorno do investimento em uma
atividade que pode colaborar para o bom andamento e o crescimento da empresa.
No mesmo dia, ao final do expediente, Olga foi procurada pelo presidente
de um tradicional clube da cidade. Apesar do aparente cansaço, e do presidente
não ter marcado hora, Olga mostrou-se receptiva e simpática ao recebê-lo. O
homem era um senhor que aparentava idade avançada, em virtude dos sulcos
profundos em sua pele ao redor dos olhos, e das várias rugas que lhe marcavam
a testa. Eu já tinha ouvido falar dele. A sua luta incessante para salvar o velho
clube, que se deteriorava, e cada vez menos se tornava atrativo para os jovens da
cidade. Algumas vezes, o homem havia procurado os diretores da empresa em
busca de apoio financeiro para manter vivo o clube, mas pelo jeito os esforços
pareciam em vão.
- Olga, esse é o Sr. Aristides, presidente do Clube de Regatas da cidade.
Olga apertou vigorosamente a mão do homem, com um largo sorriso
no rosto.
- Muito prazer, o nosso Diretor já havia me falado do senhor, e também
dos seus esforços para manter o clube.
- Muito prazer Dona Olga – falou serenamente o homem. A sua voz,
apesar da idade, demonstrava a sua força interior.
- Vamos conversar na minha sala. Os dois entraram.
Olga encaminhou o homem para um pequeno sofá, e puxou a cadeira atrás da
mesa e colocou-a em frente ao homem.
- Em que posso ajudá-lo, Sr. Aristides?
- Dona Olga há muitos anos o nosso clube vem deixando de conquistar
74
novos sócios e perdendo os que já tínhamos. Não conseguimos atrair
os jovens, e a bem da verdade, nem os mais velhos. A população da
cidade cresce e nossos sócios diminuem. Já fizemos várias tentativas,
principalmente através de mala direta, mas não funcionou. Promovemos
algumas festas, que no início deram certo, mas depois foram de
desgastando. Realmente, não sei mais o que fazer. Foi então que decidi
conversar com o seu diretor, e ele me pediu que conversasse com a
senhora. Ele acredita que a senhora possa me ajudar. O que eu devo
fazer Dona Olga.
- Bem Sr. Aristides, pode não ser difícil, mas também não é tão simples.
Veja bem, o primeiro passo será fazer um diagnóstico da situação do
clube. Vamos descobrir quais são os problemas que devemos resolver.
Precisamos descobrir o porquê dos sócios perder o interesse pelo
clube; o que as pessoas desejam ter para se associarem ao clube, enfim,
precisamos investigar e depois planejar o que vamos fazer para trazer
os associados de volta, conquistarmos mais sócios, enfim, devolver
ao clube o seu glamour de anos atrás.- Olga percebeu que o rosto do
homem se iluminou.
- A senhora acha que seria possível conseguirmos isso? – perguntou o
homem.
- Claro Sr. Aristides! Agora, como eu lhe falei, não é um trabalho simples
e nem rápido, e talvez também não seja barato, mas temos inúmeras
formas de conseguirmos isso. Demanda pesquisa, planejamento,
execução, avaliação de resultados, e muita, mas muita perseverança e
paciência. O que o senhor acha?
- Eu acho muito bom, mas ultimamente mal temos dinheiro para
manutenção do clube - respondeu com ar preocupado.
- Vamos fazer o seguinte, eu irei até o clube no sábado, e conversaremos
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com mais calma. Proponho-me a fazer o trabalho voluntário para o
clube, até conseguirmos patrocínio. O que o senhor acha? O rosto do
homem voltou a se iluminar.
- Eu acho muito bom. Quando conseguirmos patrocínio, passamos a lhe
pagar pelos seus serviços.
- Então combinado.
- Eu aguardo a senhora sábado pela manhã no clube. Disse o homem
estendendo-lhe a mão. Olga retribuiu o gesto, apertando-lhe a mão
com firmeza. Com o passar dos anos, Olga percebeu que os homens
confiam naquelas pessoas que apertam sua mão vigorosamente. Eles
encaram o aperto de mão forte e vigoroso como um gesto de sinceridade
e compromisso.
- Até sábado – disse Olga com um sorriso fraterno.
Olga acompanhou o homem até a recepção. Quando voltou, demonstrava
todo o seu cansaço.
- Tudo bem? – perguntei
- Tudo bem. Somente alguns obstáculos a serem enfrentados!
- Novamente?
- Pra variar amiga! Não é fácil contentar pessoas difíceis. – Ela piscou.
- Ih! Já sei! Posso imaginar de quem se trata. E o seu Aristides?- perguntei
curiosa.
- Que senhor tão agradável! Vou tentar ajudá-lo a revitalizar o Clube de
Regatas.
- Não acredito Olga, onde você vai encontrar tempo para isso?
- Ora, a gente sempre arruma um tempinho para auxiliar gente como seu
Aristides, e de mais a mais, o diretor me disse que se eu precisasse me
ausentar da empresa em alguns momentos para auxiliá-lo, eu estaria
autorizada.
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- Sendo assim... se precisar de ajuda, conte comigo! – falei enfaticamente.
- Contarei... e muito se você quer saber – ela gargalhou.
No dia seguinte, logo no inicio do expediente, o diretor de marketing
convidou Olga para uma conversa em sua sala.
- O que será que ele quer Olga?
- Resolver a situação, provavelmente!- ela respondeu tranquila.
- Já não era sem tempo.
- Estou indo. Depois te conto.
Olga entrou na sala do diretor, que a recebeu de maneira agradável.
- Bom dia Olga!
- Bom dia Maurício, como vai?
- Bem Obrigada.
- Bom, Olga, as informações que você me solicitou estão aqui – ele
entregou a ela uma pasta e continuou – qualquer dúvida você pode
procurar nossa agência de propaganda.
- Obrigada Maurício – disse Olga pegando a pasta e levantando-se
da cadeira – assim que eu tiver analisado as informações volto para
discutirmos nossos objetivos e estratégias da comunicação externa.
- Só um momento Olga, gostaria que você me concedesse mais um minuto
do seu tempo, prometo que serei breve.
Olga sentou-se calada e desconfiada.
- Em primeiro lugar gostaria de lhe pedir desculpas pelo ocorrido.
Ela tentou interrompê-lo mais ele fez um gesto e continuou a falar.
- Sei que atrapalhei bastante o seu trabalho, que fui mau-caráter e não agi
de forma profissional com você. E, ao contrário do que eu teria feito, ao
invés de “pedir a minha cabeça”, você sugeriu ao nosso presidente que
me enviasse para visitas técnicas. Não estou me retratando para pedir
sua amizade, apenas gostaria de colocar uma pedra sobre tudo o que
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aconteceu até agora e começássemos uma nova fase de relacionamento.
Foi então à vez de Olga falar.
- Olha Maurício, sinceramente não é possível colocarmos uma pedra em
cima de qualquer assunto, nem fingir que esquecemos o que se passou,
até porque você sabe tão bem quanto eu que relacionamento é algo que
se constrói com base em confiança, e isso eu não tenho em você. Mas,
sinceramente, eu creio que podemos ter uma convivência harmoniosa e
respeitosa. Quem sabe com o tempo possamos conquistar a confiança
um do outro.
- Eu aceito! – ele sorriu aparentando sinceridade.
- Então, vamos trabalhar e ajudar essa empresa a crescer. Ela se levantou
e ofereceu a mão para um aperto.
- Paz!
- Total – finalmente Olga conseguiu esboçar um sorriso.
Quando Olga me contou eu quase não acreditei.
- Será que isso é sincero?
- Não sei amiga, mas é bastante conveniente tanto para ele quanto
para mim. Ele quer manter o emprego e eu também. Nós temos
responsabilidades, que se entrelaçam na execução de nossas tarefas,
portanto, ou nos entendemos ou a coisa não vai andar.
- Verdade, vai ser melhor assim!
- Bom, eu vou para a minha sala estudar esses papéis. A gente se vê no
final do expediente.
No dia seguinte a retratação do diretor de marketing à Olga, ela já estava
com o material lido e estudado para uma nova reunião. Ela interfonou da minha
sala para ele e os dois se reuniram, para finalmente, discutir os objetivos e as
estratégias da comunicação da empresa para o próximo ano.
- Bom dia Olga!- cumprimentou o homem cordialmente - sente-se por
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favor.
- Obrigada Maurício – Olga sentou-se e abriu sua pasta.
- E então? – perguntou o homem.
- Bom, analisei o histórico da comunicação mercadológica da empresa
e percebi que o trabalho da agência teve como principal foco foi o
posicionamento de nossos produtos no mercado, a geração de recall
sobre a marca, o que considero altamente positivo. Porém, creio que
diante dos novos princípios da empresa, sua missão, a sua visão de
futuro, e os seus valores, deveríamos ampliar o nosso posicionamento.
- No que você está pensando Olga?
- Veja bem, a empresa agora que ser reconhecida como socioambientalmente
responsável, e já fez várias pesquisas e investimentos para transformar
seus produtos em ecologicamente corretos; investiu na melhoria dos
processos de poluição do meio ambiente, reciclagem de resíduos etc.
Creio que está na hora de refletirmos essa imagem para nossos públicos.
Maurício olhou para Olga, pensou alguns segundos, e questionou:
- Concordo com você que a empresa investiu bastante em meio-ambiente,
mas nossos programas sociais são paupérrimos. Como vamos passar
essa imagem para nossos públicos.
- Concordo com você também. Em princípio, creio que devemos ampliar
nossos projetos sociais, e já estou tratando disso com minha equipe.
- Perfeito. Mas temos que decidir como vamos investir nossos recursos.
Você está pensando em propaganda institucional?
- Sim, com certeza. Percebi que até agora só trabalhamos a propaganda
dos nossos produtos, e o fortalecimento da marca, o que foi ótimo para
atingirmos os objetivos traçados pelo marketing até então, mas agora
precisamos investir também na imagem institucional. Você já tinha
algum plano para a comunicação no próximo ano?
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- Sim, apenas alguns objetivos traçados, mas creio que podemos revê-
los. Pensei em diminuir um pouco a verba de propaganda e investir em
novas arenas, e ampliar nosso trabalho com a internet e redes sociais.
- Eu acho uma boa estratégia, mas gostaria que você pensasse em destinar
um pouco dessa verba para o patrocínio de esporte e cultura.
Os olhos do homem brilharam.
- Saiba que a diretoria nunca foi a favor desse tipo de investimento.
- Maurício lembre-se que estamos em outra fase de pensamentos e
princípios. O investimento em cultura e esporte vai de encontro
aos nossos princípios e valores, portanto é um nicho que devemos
considerar.
- Eu concordo, mas...
- Mas agora nós somos os responsáveis e responderemos pelo sucesso
ou fracasso dos investimentos. Manter o recall da marca através do
patrocínio do esporte e da cultura será estrategicamente mais eficaz
também para constituirmos a imagem que queremos para a empresa.
Outra coisa: que tal ampliarmos nossa equipe com profissionais de
marketing e comunicação na área digital. Você não acha que já é tempo
de propormos uma ampliação dos negócios no campo do digital? Só
sugestão - Olga percebeu o interesse do diretor – Estou pensando em
contratar alguém, também que transite nessa área da comunicação
digital. Acho que esse será o nosso grande calo daqui por diante...
Então, vamos lá. Vou fazer um plano estratégico para a comunicação de
acordo com os objetivos e metas que pretendemos atingir no próximo
ano e te chamo para discutirmos.
- E qual a verba que devo considerar?
- A mesma que você sempre teve para trabalhar mais os dez por cento de
reajuste concedido pela diretoria.
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- E a propaganda institucional?
- Creio que poderíamos inseri-la no meu custo, pelo menos para o
próximo ano. Acho que você vai precisar de verba para implementar
alguns programas na internet.
- Tudo bem, já que vamos redirecionar alguns esforços de comunicação
e reformular nossas estratégias, acho saudável não ter que absorver o
custo da propaganda institucional.
- Combinado então. Enquanto você trabalha nesse plano, eu vou focar a
comunicação com os outros públicos.
- Combinado então. Quando voltamos a nos reunir?
- Na próxima segunda-feira. Tudo bem?
- Tudo bem.
Olga saiu da sala do diretor de marketing e se reuniu com sua equipe.
- Joana e Raquel vocês conseguiram terminar a auditoria de opinião
junto à comunidade? Conseguiram identificar as principais lideranças
da comunidade?
- Sim Olga – respondeu Raquel – o relatório está pronto. Joana também
conversou com as principais lideranças da comunidade.
- Perfeito, me entreguem os relatórios, e preparem também uma cópia
para todos os membros da equipe. Voltamos a nos reunir amanhã no
início do expediente para traçarmos os objetivos, estratégias e táticas
do nosso plano.
Olga chegou em casa naquela noite e não desgrudou do relatório
apresentado pela sua equipe. Enquanto lia, Olga anotava freneticamente. Já era
bem tarde quando escutei a porta do quarto dela se fechar. No inicio, eu não me
conformava de Olga trabalhar o dia todo na empresa e ainda trazer trabalho para
casa. Depois, entendi que ela não transformava isso em prática cotidiana, mas
sabia que esses momentos essa dedicação eram necessários para que o andamento
81
do trabalho na empresa tivesse regularidade. Segundo ela, o estresse poderia ser
causado, justamente, se ela não conseguisse dar esse andamento regular ao seu
trabalho.
Todos já estavam sentados à mesa de reunião quando Olga entrou. Eles
conversavam animadamente e tomavam cafezinho.
- Bom dia a todos. Vejo que estão bastante animados - sorriu Olga- Isso
é muito bom. Eu mereço um cafezinho?- perguntou Olga olhando para
todos. Foi Raquel quem levantou imediatamente e serviu uma xícara
de café para Olga.
- Obrigada Raquel. Vamos lá. Antes de qualquer coisa, parabéns pelo
relatório. Claro, conciso, metodologicamente correto - As meninas
sorriram de satisfação – Bem, vamos discutir então os objetivos
pretendidos para a nossa comunicação. Está em aberto. – Foi Marisa
que se manifestou dessa vez.
- Acho que devemos focar nossos esforços em construir a imagem da
empresa perante nosso público externo.
- Eu concordo – reiterou Raquel – Nosso relacionamento com o público
externo da empresa é deficitário. Mesmo com nossos clientes, não
procuramos estreitar relacionamentos além da compra e venda. Com
a comunidade percebemos que, excetuando as famílias dos nossos
funcionários que dela fazem parte, em sua maioria, eles matem uma
posição de indiferença em relação a nós. Indiferença é uma percepção
ruim, eu considero.
- Considerou bem Raquel.
- Quando as lideranças – falou Joana – a percepção é a mesma. Eles
enxergam a empresa como uma instituição estanque da sua comunidade,
ou seja, não a considera parte dela. Crêem que seja apenas um lugar
onde se pode amanhã ou depois trabalhar para receber um salário.
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- Isso também não é positivo, concordam? – perguntou Olga dirigindo-
se a todos.
- Queremos ser percebidos como parte integrante dessa comunidade e
vamos precisar trabalhar nesse sentido.
- Quanto a pesquisa com os fornecedores Olga – falou Serginho – os
resultados não foram melhores, ao contrário, se a comunidade se
mantém indiferente em relação a nós, os fornecedores tem inúmeras
queixas sobre o tratamento dispensado à eles pela empresa.
- Eu percebi Serginho, isso é muito sério, e nós precisamos também
investir no relacionamento com esse público.
- E a imprensa Joana? – questionou Olga – o que você achou do resultado
da pesquisa?
- Olga, eu achei bom. Eles deixaram claro que antes da sua gestão
na comunicação, eles tinham bastante desconfiança em relação às
informações fornecidas pela empresa, mas agora, a nossa credibilidade
junto a eles é relativamente boa.
- Portanto, precisamos manter e estreitar ainda mais esse relacionamento
com a imprensa. Precisamos garantir eficácia e rapidez nas respostas
solicitadas, no envio de informações, sem, entretanto, estarmos
bombardeando a imprensa com informações que não sejam de interesse
do público-alvo dos veículos. A nossa credibilidade depende também
da nossa seriedade quanto ao envio de informações.
- Isso eu considero uma boa política Olga – falou Joana.
- O que você sugere Joana?
- Eu acho que nós podemos manter nossas informações atualizadas na
internet, e enviar para os jornalistas apenas as informações que possam
gerar notícia.
- Perfeito, respondeu Olga. Mas, para que o trabalho de Joana possa
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surtir efeito, temos que produzir fatos que possam gerar notícias.
Concordam? – O semblante de Joana iluminou-se.
- Perfeito! Olga, não dá pra ficar “enfeitando o pavão” e tentando
transformar em notícia um fato que não gera o interesse do público, e
consequentemente da imprensa.
- Essa então deve ser uma das nossas táticas. Se quisermos publicidade,
precisamos gerar fatos.
- Como vamos fazer isso? – questionou Serginho.
- Pense um pouco Serginho, a empresa quer ser percebida como
socioambientalmente responsável, portanto temos que implementar
ações que possam reforçar essa identidade e construir nossa imagem
perante o nosso público externo. É assim, com seriedade que vamos
gerar fatos que possam despertar o interesse da imprensa e do público.
- Eu tenho uma ideia Olga – falou Raquel excitada.
- Diga Raquel.
- Lendo o relatório da Joana, percebi que a Associação de Moradores do
Jericocó gostaria do apoio da empresa para melhorar a qualidade de
vida das crianças do bairro. A presidente falou sobre proporcionar as
crianças um espaço em que elas pudessem brincar, praticar esportes.
Daí eu pensei que...- ela começou a ficar meio hesitante.
- Fale Raquel, o máximo que pode acontecer é não ser viável, mas se você
não falar não vamos poder avaliar.
- Então, eu pensei que poderíamos pegar esse terreno baldio que fica
aqui em frente à fábrica e transformar em um espaço para as crianças.
- Boa ideia!- exclamou Olga – Você pensou em como fazer isso, o que
seria esse espaço?- Raquel se empolgou.
- Então, como o terreno é grande, poderíamos montar um campinho de
futebol e uma quadra de vôlei. A administração do espaço poderia ficar
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a cargo da Associação. Nós revitalizaríamos o espaço, e daríamos os
uniformes com a nossa logo.
- É, acho que podemos ampliar a sua ideia. Manter também dois times,
um de vôlei e um de futebol, que seriam patrocinados pela empresa.
Precisamos pensar também em recursos humanos: treinadores para
os times, e monitores que pudessem acompanhar a garotada nessas
atividades.
- Podemos tentar um convênio com o curso de Educação Física da
Universidade. Falou Marisa.
- Boa Ideia. Portanto, Raquel, faça um levantamento para ver quem é o
dono do terreno, quanto custaria para revitalizarmos o espaço, quanto
e a possibilidade de um convênio com a Universidade. Na estimativa de
custos para a revitalização do espaço, pense em vestiários, masculinos
e femininos, e também em um galpão para a realização de atividades
para as mães das crianças.
- Show Olga! Bem pensado.
- Obrigada Serginho. Eu pensei também em fazermos uma campanha de
valorização do idoso na cidade.
- Como assim Olga?
- Quem sabe pensarmos em uma parceria com algum veículo de
comunicação e promover um concurso.
- Porque não fazemos um concurso de vídeo em parceria com o curso de
Publicidade da Faculdade? – falou Serginho – Lembro que os nossos
professores sempre trabalhavam temas ligados à conscientização.
- Grande ideia Serginho, você e Marisa ficam responsáveis por entrar
em contato com a coordenação do curso de Publicidade e marcar
uma reunião para discutir o assunto com eles. Caso consigam fechar
a parceria com eles, entrem em contato com os possíveis parceiros
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do programa e marquem uma reunião. Se em um primeiro momento
houver a possibilidade de parceria, me comuniquem para montarmos
o programa de RP.
- Quando você pode?- perguntou Serginho.
- Eu não irei com vocês!- exclamou Olga – Vocês cuidarão desse assunto
sozinhos, assim como a Raquel. Vocês farão as prospecções e depois eu
elaboro os programas que farão parte do nosso plano.
- Mais alguma ideia? – perguntou Olga.
- Eu tenho uma – falou Joana.
- Diga Joana.
- Precisamos fazer algo com as escolas, porque não realizamos um
concurso de redação com um tema sobre meio-ambiente?
- Excelente! Continue.
- Bem, poderíamos também tentar uma parceria com um Jornal da
região para divulgarmos o concurso e também a publicação da redação
premiada.
- Muito bom. Então Joana, você contata os possíveis parceiros e veja a
viabilidade de fecharmos uma parceria. Você pensou na premiação? –
perguntou Olga.
- Pensei em darmos um final da semana para a família da criança em
Hotel Fazenda.
- Veja só Joana, fica complicado planejarmos um custo para isso. Pode
ser que a família da criança tenha 5 ou 7 ou 9 membros. Como vamos
mensurar isso. Creio que poderíamos pensar em premiar com um
objeto, seria mais fácil.
- Que tal um notebook - falou Marisa – as crianças das escolas públicas
normalmente não dispõe desse equipamento em casa, e mesmo que
dispusessem, um computador novo pode atender aos outros membros
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da família, ser vendido para captação de recursos da mesma, enfim...
- Acho pouco um notebook. Creio que poderíamos dar três notebooks
para os três primeiros lugares e também um prêmio em dinheiro.
- Quanto?- questionou Joana
- Precisamos verificar em nosso orçamento, mas creio que não será
problema. Bom, já temos três projetos nos quais trabalhar. Vou pensar
em mais alguma coisa, e depois falo com vocês. Espero a resposta de
vocês até o final da semana. Tudo bem?
Todos balançaram a cabeça afirmativamente e saíram em debandada
da sala deixando Olga sozinha. A equipe estava bastante motivada e isso
era muito bom. Olga olhou as anotações que fizera durante a reunião e
guardou-as em sua pasta junto aos relatórios. Precisava de um tempo para
organizar as informações dessa reunião em sua cabeça. Decidiu então me
procurar para tomar um café.
- Oi Amiga!
- Oi Olga! Tudo bem?
- Tudo ótimo – ela respondeu animada – muito trabalho por aí? Sobra
um tempinho para um café?
- Com certeza Olga! Dr. Paulo viajou e eu estou um pouco folgada hoje.
- Que ótimo, então vamos!
Resolvemos tomar um cafezinho na lanchonete que ficava próxima a
empresa. Sair um pouco, ver a rua.
- Então Olga, como estão as coisas com o Maurício?
- Bem, Dani, ele realmente parece estar colaborando e disposto a trabalhar
em conjunto.
- Na verdade, pensando com mais calma, ele deve ter sido muito
influenciado por aquele sogro dele, o que pode justificar o seu
comportamento agressivo em relação a você e ao seu trabalho. Mas não
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estou certa de que tenhamos cometido um erro de julgamento. Mesmo
influenciado pelo sogro ele deveria ter agido de maneira profissional.
- Não tenho dúvidas disso, mas propor aquela visita para ele surtiu um
efeito melhor do que eu mesma esperava. Acho que ele percebeu que
estava andando por caminhos tortuosos.
- Mas eu acho que a sua promoção foi fundamental nesse processo. Dr.
Paulo acertou em cheio.
- Eu também acho amiga, na verdade foi um golpe de mestre. Ele possuía
verba para contratar um diretor, e a hierarquia dos cargos entre mim e o
diretor de marketing dificultava a igualdade de decisões. Eu soube que
agora a Gerência de Desenvolvimento Humano está ligada a Diretoria
Financeira?-perguntou Olga curiosa.
- Sim, mas não sei se essa foi uma boa medida – eu disse.
- Eu creio que não vamos ter problemas, Dani.
- Sério? Você não acha que o fato de um departamento de recursos
humanos estar ligado a uma área preocupada com números pode
impedir alguns processos de melhoria?
- No nosso caso não. O perfil do nosso diretor financeiro é muito bom
para essa área. Ele não é conservador, portanto, estará pronto a escutar
nosso gerente. Não creio que ele vá se meter em assuntos estratégicos, e
ademais todas as decisões importantes passam pela aprovação de toda
diretoria. Nas reuniões, percebi que ele nunca barrava melhorias para
os nossos funcionários, desde que a proposta fosse viável.
- Bom, lá isso é verdade. E você, já tem previsão de quando levará o plano
de comunicação para aprovação?
- Creio que até o final deste mês. Estamos realizando algumas prospecções
para conseguirmos parcerias, depois de alinhavadas, aí podemos
elaborar os programas de comunicação que farão parte de nosso plano.
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- E o plano, já está pronto? – perguntei curiosa.
- Nãooooo!- respondeu Olga enfática – Eu precisava realizar reuniões de
com minha equipe para iniciar a preparação. Até o final da semana me
reúno novamente com o Maurício e com a minha equipe, e depois do
que eles me trouxerem os resultados que solicitei é que na próxima
semana inicio a elaboração do plano.
- Então, pelo jeito vai trabalhar no fim de semana?- perguntei.
- Nem pensar. Preciso descansar minha cabeça e fazer uma higiene
mental!
- Vamos? – chamei Olga para retornar a empresa.
- Sim vamos, ainda temos um longo dia pela frente.
- Com certeza.
Apesar da ausência do Dr. Paulo, o dia foi bastante movimentado para
mim e para Olga também. Ao final do dia parecíamos ter voltado de uma longa
viagem a pé.
O elevador parou e nós nos dirigimos para o estacionamento. Para poupar
dinheiro e cansaço, resolvemos sempre usar um carro só para nos deslocarmos
para o trabalho. Somente nos dias em que precisávamos sair sozinhas, após o
expediente, é que usávamos os dois carros. Caminhávamos tranquilas e caladas
em direção ao carro quando percebemos um homem que andava de um lado para
outro, parecendo aflito. Nós nos aproximamos e Olga o abordou.
- Olá? Podemos ajudá-lo?- ela perguntou.
- A senhora é dona Olga?- ele questionou áspero.
- Sim senhor, sou eu! – O homem olhou irritado para ela.
- Há dois dias tento falar com a senhora e não obtenho resposta!
- Sinto muito senhor, mas deve estar acontecendo algum mal entendido.
Sempre respondo as pessoas que me procuram. – respondeu Olga com
firmeza.
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- Pois então está havendo algum mal entendido, pois não consigo que a
senhora me atenda.
- Posso saber quem é o senhor, e em que posso lhe ajudar?
- Eu sou da Outbus, e gostaria de conversar com você sobre nossa
empresa.
- Sr????
- Carlos Fonseca.
- Senhor Carlos Fonseca, o senhor está tentando falar com a pessoa errada.
O senhor deve contatar diretamente a nossa agência de propaganda.
- Mas agora não é a senhora que aprova a campanha e a verba.
- Sim senhor, mas não é a mim que o senhor deve apresentar sua proposta.
Para isso nós temos uma agência de propaganda, que pesquisa, planeja,
cria, produz e distribui a verba de mídia de acordo com os nossos
objetivos, público, custo benefício etc. Essa agência, junto com nosso
marketing é quem define as estratégias de comunicação pra o mercado.
- Mas eu preferia tratar diretamente com a senhora - Olga interrompeu
o homem, gentilmente.
- Sr. Carlos entenda que a nossa agência possui um profissional
especializado em mídia, que investe a nossa verba com bastante
competência e excelentes resultados. Eu sou a diretora de comunicação
e não compro espaço publicitário, a não ser que a nossa agência nos
aconselhe. Portanto, procure a nossa agência.
- Mas ela não conhece o meu produto como eu! – Insistiu o homem!
- Provavelmente que não conhece, mas cabe ao senhor esclarecê-la melhor
então. Se isso acontecer; se ela entender que o seu veículo atingirá o
nosso público-alvo e que o seu custo benefício é bom, com certeza
ela irá inserir seu veículo em nossa programação de mídia. Agora com
sua licença, preciso ir. Meu expediente já terminou. Boa tarde. – Olga
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sorriu para o homem, abriu a porta do carro, e o deixou atônito, parado
no estacionamento.
Eu não podia acreditar no que tinha presenciado. Apesar de firme, Olga
foi paciente e tolerante com um vendedor mal educado e insistente, ou seja,
totalmente despreparado para a função. Talvez se fosse comigo eu tivesse
mandado o sujeito para aquele lugar. Mas ela não.
- Olga, por que você não deu logo um fora naquele sujeito?
- Ufa! Dani, eu confesso que por vezes sinto uma enorme vontade de
mandar um sujeito desses pro inferno, mas não é assim que devo agir.
Em primeiro lugar ele é um ser humano, e merece meu respeito... – Eu
interrompi Olga furiosa.
- Olga, o cara quase te bateu por que você não o atendeu quando ele
queria!
- Pense bem Dani, o cara vive de comissão! Ele deve ter ficado de fora de
alguma mídia planejada pela agência e pensou que poderia reverter a
situação falando comigo.
- Mas isso é problema da agência Olga, e não me parece muito profissional.
- Claro que não é! Provavelmente ele não deve ser publicitário! Deve ser
um prático, um vendedor sem conhecimento profundo do que é uma
campanha. Só entende de vender o espaço do veículo.
- Mas isso é péssimo, pra todo mundo! – falei indignada.
- Com certeza, para o mercado publicitário é mesmo. Por outro lado, ele
é um ser humano, tentando sobreviver trabalhando dignamente, e isso
a gente deve levar em consideração.
- Olhando por esse lado...
- Agora o problema está nos veículos de comunicação que preferem
contratar vendedores ao invés de publicitários e gente experiente, visto
que esses, por seu conhecimento técnico, não vão ficar por aí vendendo
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espaço publicitário como se fosse sabão em pó, que todo mundo usa, e
que todos eles servem para lavar roupa. Um atendimento publicitário
vai brigar por sua “fatia no bolo publicitário” de maneira técnica. Isso
quer dizer, vai direcionar seus esforços para inserir seus veículos na
mídia de campanhas dirigidas ao público-alvo que eles atingem.
- Mas sendo assim Olga, você não atende de nenhuma maneira os veículos
de comunicação?
- Atendo sim, mas existem casos e casos! Se eu desejo uma parceria
com determinado veículo de comunicação para fazer uma campanha,
uma promoção ou uma ação que não seja somente a compra de espaço
comercial, eu convoco o atendimento da agência e nos reunimos com
o veículo para propor a parceria, como estamos fazendo agora. Se por
outro lado, a agência solicita uma reunião minha com o atendimento
do veículo para tentarmos alguma boa negociação, eu atendo
imediatamente. O que eu não faço é negociar com veículos diretamente,
sem o conhecimento da agência.
- Claro.
- Pois é, esse contato com os veículos de comunicação é precioso, mas
mesmo quando vamos tratar diretamente com eles faço questão
da intermediação da nossa agência, por uma questão de ética,
profissionalismo e respeito.
- Nossa! Tenho aprendido tanto com você Olga!- falei agradecida.
- Eu também Dani! Mas isso é natural. Somos de duas áreas afins, mas
que executam tarefas muito diferentes. À medida que conversamos,
trocamos ideias, acabamos aprendendo uma com a outra.
- Mas tenho a sensação que aprendo mais com você do que você comigo!
- Pode ser, mas se isso ocorre é porque para você o contato com a minha
atividade é mais recente do que a sua para mim. Em quantas empresas
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você trabalhou que havia um profissional de relações publicas?
- Creio que apenas duas. E a bem da verdade, eu ainda não era secretária
executiva, e o profissional relações publicas também não exercia todas
as funções que você exerce aqui.
- É mesmo? – perguntou Olga curiosa.
- Lá tudo girava em torno do departamento de Marketing. Todo o pessoal
da comunicação era subordinado a ele. Tudo tinha que passar por ele.
Lembro que o publicitário que trabalhava junto com ele, vez por outra
vinha tomar cafezinho na cozinha e reclamava muito da situação.
- Em algumas empresas, o desconhecimento dos empresários ou
dirigentes faz com que o departamento de marketing se sobreponha
ao da comunicação. Como se a comunicação fosse subordinada ao
marketing. E isso, com certeza, é um pensamento ultrapassado.
Normalmente acontece em organizações tradicionais, que dão ênfase a
burocracia, a hierarquia autoritária, a uma pratica operacional centrada
nas tarefas, e principalmente, na estrutura de poder centralizada.
- Creio que você tem razão!
Nem bem havia terminado de falar, Olga encostou o carro na portaria do
prédio. Estranhei o fato dela não ter entrado na garagem.
- Não vai entrar companheira?
- Agora não! Tenho um encontro!- respondeu Olga, faceira. Ela
enrubesceu.
- Bah, você nunca sai sem antes dar um grau no visual!- falei maliciosa.
- Mas hoje é especial. Ricardo vai viajar mais tarde e nós combinamos
comer alguma coisa rapidinho.
- Sei - disse sorrindo enquanto saía do carro.
Ela devolveu o sorriso e me jogou um beijo.
Entrei devagar pela portaria do prédio. Chamei o elevador e enquanto isso,
93
como não fazia há muito tempo, eu observei aquele espaço. Quanta coisa havia
mudado. Sofás novos e mais elegantes, um quadro novo na parede, um belo vaso
de plantas que dava um ar mais fresco e acolhedor ao ambiente. Olhei para o
porteiro, que distraído, lia uma revista. Pensei em interromper, mas ele pareceu
ler meus pensamentos. Virou em minha direção e sorriu.
- Está tão mais agradável aqui Sr. Joran!
- Pois é Dona Daniela. Seu Carlos me disse que foi sugestão da dona
Olga! Ele é mesmo uma danada, não é? – Eu balancei a cabeça e sorri
afirmativamente.
Eu estava muito indisposta na última reunião de condomínio e pedi a
Olga que fosse em meu lugar. Ao invés de ficar contrariada, ela pareceu gostar da
sugestão. Agora entendo o porque.
O elevador chegou. Cumprimentei o porteiro e subi. Abri a porta do
apartamento e parei por um instante. Observei, como que pela primeira vez,
aquele ambiente. Conclui que até o apartamento ficou mais agradável depois da
chegada de Olga. Eu não me sentia muito estimulada à decoração, aos enfeites,
as tintas etc. Ao contrário de Olga. Ela adorava mexer, enfeitar, colocar quadros,
pintar, enfim. Meu apartamento era bastante impessoal antes dela. Ela mesma me
disse isso. Volta e meia, ela me pegava pelo braço e me levava a lojas de decoração,
móveis e plantas. Não posso negar que me sinto muito melhor no ambiente hoje
do que antes. Olhando agora, vejo o quanto ficou bonita, confortável e agradável
a nossa sala.
Entrei sorrindo. Essa Olga era mesmo uma encantadora de gente. Conseguia
tirar de nós o melhor, aquilo que muitas vezes nem nós mesmos enxergávamos.
Digo isso, porque depois dessas “injeções de ânimo”, eu comecei a ter prazer em
comprar objetos para casa, e para mim. Percebi que me fazia muito bem sair de
vez em quando e pensar em algo que eu gostaria de ter para deixar meu ambiente
mais confortável, agradável, e até bonito. Mas ela não parou por aí. Vivia dizendo
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que eu deveria incrementar meu visual, deixar aflorar a minha sensualidade,
ser mais feminina. Uma vez ela me disse categoricamente “Dani, você parece
um sargento! Trabalha de terninho, sai de terninho, come pizza de terninho!
Qual o homem que gosta de transar com uma mulher que vive de terninho?” E
sorria sonoramente. A bruxa conseguiu me convencer a sair com ela e comprar
alguns vestidos. Eu fui, muito a contragosto. Senti-me a própria personagem do
esquadrão da moda, que horror. Ela escolhia os vestidos, me empurrava para os
provadores, e depois ficava dizendo como aquela roupa valorizava isso, aquilo,
aquilo outro. E, não precisava muito para eu perceber que ela tinha razão. Minha
figura no espelho, denunciava o casulo em que eu vivia. Confesso que nem eu
imaginava que pudesse ficar tão bonita e elegante naquelas roupas. Mudei
também o cabelo e a maquiagem. E, me senti que minha atitude em relação a
vida também mudava. Sempre havia acreditado que todas as mudanças ocorrem
de dentro para fora da gente. Mas, pelo menos comigo, não foi assim. Foi preciso
que Olga dialogasse comigo, e me fizesse refletir sobre mim, minha autoestima,
para eu começar a me sentir mais bonita, mais segura, mais sexy e mais ousada.
Às vezes vivemos em um casulo, sem nos darmos conta disso. Quando rompemos
o casulo, seja sozinho ou com a ajuda de alguém, conseguimos nos transformar
em lindas borboletas.
Soltei minha bolsa no quarto e fui tomar um banho. Liguei o rádio e passei
muito tempo debaixo do chuveiro, molhando o cabelo, sentindo a água bater no
meu corpo, e pensando nos últimos meses da minha vida. Saí do chuveiro com
uma enorme sensação de prazer por estar viva, por ter um trabalho que eu gostava,
em um lugar agradável, convivendo com pessoas agradáveis. Problemas, claro,
ninguém está livre deles no cotidiano, mas tinha se tornado mais fácil resolvê-
los. Falar com Olga me fazia refletir sobre mim. Enquanto ela me escutava, eu
me escutava também. Temos sempre tão pouco tempo para escutar os outros, e
a nós mesmos.
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Quando Olga chegou, eu estava na sala, fazendo um lanche e vendo a
novela. Ela entrou, disse um oi e foi direto para o quarto. Escutei o barulho do
chuveiro. Não demorou muito para que ela viesse se juntar a mim na sala.
- Tudo bem? – perguntei.
- Tudo ótimo, a não ser pela viagem do Ricardo – ela respondeu.
- Você está caidinha por esse cara Olga!- brinquei.
- Caída é pouco, estou totalmente, alucinadamente, apaixonada por ele
- ela suspirou.
- Uau! E ele? – perguntei curiosa.
- Não posso ler o coração dele, mas acho que posso sentir. Acho que ele
também está apaixonado por mim. O jeito como ele me olha, me abraça,
me beija...
- Ah! Homem é falso, Olga!
- Não seja cética Daniela - ela me repreendeu – A gente pode até fingir
gestos, mas não emoções. Eu sinto que o coração dele bate mais forte
quando me abraça e me beija. Eu sinto que as nossas respirações se
sintonizam, tem um mesmo ritmo.
- Nossa! Parece que a coisa é séria!
- Eu não sei o futuro disso, mas no presente, tenho vontade de ficar com
ele o tempo todo, abraçadinha, acariciando seus cabelos.
- É, parece que dessa vez você foi a vítima do encantamento.
- Han! Não entendi!- ela me olhou espantada. Na verdade, Olga não sabia
que eu a chamava de encantadora de gente.
- Ah, deixa pra lá, bobagem minha. Ela sorriu e abanou com a mão.
- E você? A quantas anda a sua paixão? – perguntou Olga
- A zero. Parece que estamos andando de marcha ré. – Olga sentou mais
próxima a mim. Pôs sua mão em meu joelho.
- Por que isso companheira?
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- Não sei Olga. O Vítor está cada dia mais distante, mais frio comigo.
Eu, por outro lado, acabo me distanciando dele da mesma forma. Mal
nos falamos durante a semana, e nos fins de semana nos vemos muito
pouco – respondi desanimada – parece que o encanto acabou.
- Com certeza, em todo relacionamento, um dia o encanto acaba, mas
ficam outras coisas, às vezes mais bonitas do que o encanto – explicou
Olga, como se quisesse me animar.
- Mas parece que conosco não sobrou muita coisa.
- Vocês têm conversado sobre isso?
- Nem sobre isso, e nem sobre nada!- falei desanimada – parece que nossa
disposição de conversar acabou. Às vezes tenho a sensação de estar
junto de um estranho.
- Olha amiga, não há como conviver com alguém sem dialogar. Se nenhum
de vocês abrirem seus canais de comunicação para com o outro, vocês
não vão se entender.
- Mas como fazer isso Olga?
- Existem tantas maneiras do nos comunicarmos com quem amamos!
Um afago, um beijo, uma pergunta simples de “como foi o seu dia”, ou
“como foi sua semana”. Um simples sorriso sincero, ou mesmo, “vamos
falar sobre nós?”.
- Ah Olga, você não sabe que os homens detestam discutir a relação?
- Mas amiga, existem tantas maneira s de discutir a relação sem
precisarmos nos confrontar. Se você não disser a ele como está se
sentindo, não vai conseguir se entender com ele.
- Eu tento demonstrar isso com o meu silêncio.
- Você já viu resolvermos crise com silêncio Daniela? – perguntou Olga
exasperada.
- Não – eu sussurrei.
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- Então amiga, tente se expressar, dialogar - ela levantou de solavanco e
ficou de pé na minha frente – ou então põe um ponto final nessa história
- falou rubra.
- Estou tão confusa! Acho que tenho medo de ficar só!
- Olha amiga, sinto muito lhe dizer mais você já está só – ela falou cética.
- É verdade.
- Mas o que eu acho pior é que você está só e aprisionada. Seria melhor
que você estivesse sozinha e livre. Pense nisso – Olga me fitou com
extrema ternura – Não vale a pena sofrer sem saber nem o porquê. Vou
tomar um banho e dormir. Boa noite amiga.
- Boa noite Olga. Até amanhã.
Na manhã de sexta-feira acordei com o barulho do chuveiro e de
Olga cantando. Levantei e fui até a cozinha preparar um café. A mesa já
estava arrumada com pãezinhos, geleias e biscoitos. Pelo jeito, Olga havia
levantado bem cedo e ido a padaria da esquina. Voltei para minha suíte e
fui tomar um banho.
Quando entrei na cozinha, Olga já estava sentada à mesa, saboreando o
café com biscoitos e geleia.
- Bom dia Dani!
- Bom dia Olga!
- Acordei com uma fome de leão! – falou ela divertida, enquanto colocava
um biscoito na boca.
- Até chegar aqui, não percebi que eu estava com fome, agora, vendo
todas essas delícias, sinto que meu apetite está a mil. Olga desse jeito
nós vamos ficar umas balofas!
- Balofas felizes – ela deu uma sonora risada – Deixe de besteira mulher.
Nós somos duas magrelas!
- Bom, isso é o que você pensa!
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- Não, isso é o que nós somos. Olhe para você: um metro e sessenta e
nove de altura, 50 quilos. Olhe para mim, 1,76 de altura, 57 quilos. Duas
magrelas - ela deu outra risada sonora – E a grande vantagem disso qual
é, qual é? Podemos comer muitaaaaaaaa porcaria de vez em quando -
Não pude me aguentar e comecei a rir também. Ela parecia uma menina
sapeca, fazendo arte.
- Vamos Dani, sente aí e caia de boca!
- Olga! – Eu disse em tom de repreensão. Ela sorriu e continuou a besuntar
geleia nos biscoitos.
- Senta logo e come, não temos muito tempo para chegar à empresa.
- Já sei porque toda essa disposição! Hoje é o dia D?
- Mais ou menos. Sei que minha equipe está trabalhando com afinco.
Mesmo que não consigamos fechar todas as parcerias que pretendemos,
sempre conseguimos encaminhar alguma.
- Estou torcendo por vocês – falei enquanto saboreava um delicioso café.
Nem bem o expediente havia começado, Maurício já atravessava a porta
da diretoria de comunicação a procura de Olga. Raquel informou que ela se
encontrava na sala dela e que ele podia entrar.
- Bom dia Olga! Podemos conversar agora? – perguntou o homem.
- Claro Maurício, vamos nos sentar a mesa de reunião.
Mal se sentaram, Maurício puxou alguns papéis de sua pasta e entregou-
os a Olga.
Olga leu com atenção o plano estratégico da comunicação elaborado por
Maurício e pela agência de propaganda. Ela se deteve nos objetivos, metas e
estratégias de comunicação.
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OBJETIVOS
• Posicionar a marca e os produtos da empresa como ecologicamente corretos.• Posicionar a empresa como socioambientalmente responsável.
METAS Gerar um share of mind de 30% no período de um ano
ESTRATÉGIAS
• Desenvolver uma única campanha de propaganda para todos os produtos da empresa, associando-os a uma preocupação com a preservação ambiental.
• Desenvolver uma campanha institucional para promover a imagem da empresa como responsável social e ambientalmente.
• Gerar associação do público-alvo entre a marca dos produtos e a imagem institucional da empresa.
• Patrocinar e/ ou promover eventos culturais e esportivos que possam gerar o posicionamento pretendido para a empresa.
Olga terminou a leitura e ficou em silêncio durante alguns segundos como
se refletisse sobre o que leu. Maurício aguardava com ansiedade a reação de Olga.
- E então? – perguntou ele deixando transparecer sua angústia na voz.
- Excelente! Estamos falando a “mesma língua” pela primeira vez – o
nervosismo de Maurício parecia não deixá-lo raciocinar.
- Não entendi Olga.
- É simples, vamos finalmente conseguir integrar a nossa comunicação.
Os seus objetivos perpassam os objetivos gerais da comunicação, vão
integrá-los e complementá-los. É perfeito.
Maurício parecia não acreditar no que ouvia.
- Quantos as táticas... – Olga o interrompeu.
- As táticas ficam por sua conta e da agência. Eu só precisava que
afinássemos nossos objetivos, e finalmente conseguimos. Quando
100
iniciarmos a execução dos nossos programas e campanhas, no próximo
ano, estaremos como uma orquestra, tocando harmoniosamente, uma
só melodia com diversos instrumentos. É assim que deve ser.
- Confesso, Olga, que estou muito empolgado com este planejamento.
- Eu também. Creio que se nós continuarmos assim vamos realizar um
trabalho eficaz e digno dessa empresa.
- Nós vamos continuar assim Olga. Pelo menos da minha parte, eu
garanto.
- Obrigada Maurício. Estou aguardando uma reunião com minha equipe
hoje para decidirmos algumas questões e na próxima segunda-feira
eu inicio o meu plano de comunicação. Creio que no final do mês
poderemos apresentar nosso planejamento a diretoria.
- Combinado então.
Maurício levantou da cadeira, e pela primeira vez, Olga percebeu que
ele lhe lançou um sorriso muito sincero. Olga devolveu o sorriso, mas
olhou rapidamente para o relógio desviando o olhar. Por mais que ele se
mostrasse sincero, Olga havia aberto a guarda em relação a ele. Precisava
de mais tempo para que ele conquistasse a sua confiança.
Lá fora, os membros da equipe de Olga a aguardavam com ansiedade.
Assim que Maurício saiu da sala, Raquel entrou e perguntou se eles poderiam
se reunir agora. Olga confirmou e pediu que eles lhe aguardassem apenas mais
dez minutos, tempo necessário para organizar alguns papéis e fazer alguns
telefonemas.
Quando Olga entrou na sala de reuniões do departamento de Comunicação,
101
todos a aguardavam, ansiosos.
- Olá gente, desculpem a demora, mas hoje o dia começou agitado.
- Bom dia Olga – disseram todos quase em couro. Olga percorreu seu
olhar espantado para aqueles rostos ansiosos.
- Céus – disse ela – parece vocês que estão todos prontos a dar à luz –
gargalhou.
- Você acertou Olga, realmente vai ser um parto colocar algumas das
nossas ideias em prática.
- Um parto simples ou extremamente doloroso – brincou Olga para
descontrair.
- Na verdade, ainda não sabemos – respondeu Raquel.
- Pois bem, vamos começar por Raquel. Descobriu quem é o dono do
terreno?
- Sim Olga, a prefeitura. Tentei entrar em contato por diversas vezes
com o secretário de cultura e até mesmo com o prefeito, mas não obtive
resposta.
- Hummm – Olga tirou o celular do bolso e fez uma ligação – Alô, por
favor, o Dr. Antero está?
- ....
- Olga Frieling, Diretora de Comunicação da PROLAR . Ele não se
encontra?
- ..........
- Onde eu o encontro? Estamos tentando falar com ele há quase uma
semana e ele nunca está. Ele vai a prefeitura?
102
- ..........
- Bom, em algum lugar ele deve estar ou aparecer meu bem! Ou ele é um
secretário fantasma?
- .......
- Claro que eu estou sendo sarcástica! O assunto é sério e urgente.
Aguardo a ligação dele em meia hora.
- ........
- Não sei como você vai localizá-lo meu bem, você é a secretária dele, não
sou eu.
- ....
- Se em meia hora ele não me retornar a ligação vou direto ao prefeito.
- ....
- Não tem problema, se ele também não me retornar eu vou direto a
imprensa.
- .....
- Obrigada. Eu aguardo - Olga desligou o telefone - Eu duvido que ele
não me ligue nos próximos quinze minutos.
Todos na sala de reunião olhavam para Olga, perplexos. Não acreditavam
na dureza e firmeza de uma criatura que era absolutamente flexível com todos
eles.
Olga sorriu.
- Estão espantados não é? – ela perguntou divertida – Pois aprendam, em
certas ocasiões temos de agir com firmeza, dureza e segurança.
- Será que diante dessa pressão o Secretário não poderia atrapalhar nossos
103
planos? – perguntou Raquel preocupada.
- Poderia, mas não vai.
- Como você tem tanta certeza?- perguntou Joana.
- Aquele terreno está abandonado há anos. A prefeitura não tem um
projeto, e nem dinheiro para revitalizá-lo. Nós podemos fazer isso, e os
políticos ainda podem pegar carona na publicidade que isso vai gerar.
- Canalhas! – murmurou Joana.
- Fazer o que. Se nós queremos beneficiar essas crianças, vamos ter que
fazer esses crápulas jogarem o nosso jogo.
- Bom, Raquel, fora o terreno, o que mais você conseguiu.
- Falei com o nosso arquiteto e ele fez o projeto do Centro de Lazer.
Raquel entregou o Croqui para Olga.
- Muito bom, Raquel. E os custos? – perguntou Olga.
- Estão todos relacionados na planilha.
- Conseguiu fazer contato com o coordenador da faculdade de educação
física?
- Sim – sorriu Raquel – essa é a melhor parte. Eles se encantaram com
a ideia e topam fazer uma parceria. Podemos montar um programa de
estágio com o curso. O coordenador disse que pode fazer um projeto e
apresentar para a Universidade.
- Perfeito. Os custos para a revitalização do terreno são razoáveis e a
parceria com a faculdade pode viabilizar o projeto.
- Agora você Joana. Como foi?
- Muito bom, o Jornal da Manhã achou a ideia ótima. Porém, eles não
104
querem trabalhar toda a mídia de graça.
Olga pegou novamente o celular e ligou para o diretor de marketing da
empresa.
- Maurício, você poderia nos conceder dez minutos do seu tempo e dar
um pulinho aqui na sala de reuniões do departamento?
- .....
- Obrigada. Estamos te aguardando.
Mal desligou o telefone, ele voltou a tocar.
- Alô. Pois não.
- ....
- Sim, é Olga Frieling.
- ....
- Como vai secretário? – Olga olhou para os presentes na sala e piscou o
olho.
- ....
- Eu vou bem, obrigada.
- ....
- Não, não se incomode, não há mal estar. Só que eu precisava lhe falar
com urgência.
- ...
- Pode ser hoje, na hora do almoço?
- ....
- Perfeito. Ás treze horas no Vapor. Estarei lhe aguardando. Um abraço.
Olga desligou o telefone. Serginho olhava para ela espantado.
105
- Não compreendo.
- Compreenda Serginho, que apesar de sermos delicados, algumas vezes
temos de jogar duro, principalmente quando nossa causa é boa e justa.
Nesse momento Maurício entrou na sala.
- Sente-se, por favor, Maurício. – solicitou Olga.
- Nós somos anunciantes do Jornal da Manhã?
- Sim, eles sempre são programados em nossa mídia.
- Portanto, precisamos de um favor seu – Maurício olhou espantado para
Olga.
- Fale para o Maurício sobre o nosso programa Joana.
A moça relatou para o homem a ideia do concurso de redação e sobre a
conversa que tivera com um dos contatos do veículo.
- Em que você está pensando Olga? – perguntou o homem objetivamente.
- Estou pensando que esse jornal já fatura o bastante conosco, durante
muito tempo, e está na hora de fazer uma parceria, mas uma parceria
descente e não indecente. Nos cobrar tabela cheia, com 20% de desconto
para participar desse projeto. Ele está nos subestimando. Portanto,
acho que temos que jogar mais duro. Falar com a gerência e conseguir
uma parceria de verdade.
- O que você consideraria, nesse caso, uma parceria de verdade?
- No mínimo, 50% por cento de desconto nas veiculações. Eles entram
no restante do nosso material de divulgação.
Maurício levantou e fitou Olga.
- Não prometo nada, mas vou contatar o gerente agora. Joana, você pode,
106
por favor, me enviar por mail a proposta que você enviaram para o
jornal?
- Pois não – Joana levantou-se, foi até o micro e enviou a proposta para o
diretor de marketing.
- Tudo certo Joana? – Joana balançou a cabeça afirmativamente.
- E então Serginho e Joana? Em que pé está o programa de vocês?
- Tudo certo. O coordenador do curso abraçou a ideia, e a afiliada da TV
Globo incorporou a ideia, com a seguinte proposta: nós ficaríamos com
o patrocínio, e eles venderiam duas cotas de apoio cultural.
- Desde que não seja para nenhum concorrente nosso, fechamos – disse
Olga.
- Já decidiram o tema da campanha?
- Sim, “ Melhor idade: todos vamos chegar lá”
- Eu gostei. Todos concordam?
- Venceram por unanimidade - sorriu Olga.
- Bom, em relação aos fornecedores, precisamos melhorar nosso
relacionamento com eles, portanto pensei o seguinte: primeiro,
fazermos um workshop, com os funcionários que tratam com esse
público, para conscientizá-los sobre a importância estratégica dos
fornecedores para a empresa, e ainda treiná-los para melhorar o nível de
comunicação com eles. Pensei também em fazer um boletim eletrônico
para esse público e um canal eletrônico de comunicação com o nosso
departamento, independente do e-mail, para que eles possam sugerir,
reclamar, resolver problemas de falta de comunicação, etc.
107
- Acho boa ideia Olga – disse Raquel.
- E vocês? – todos balançaram a cabeça afirmativamente – Para o
lançamento desse programa, que seria “Estreitando os Laços”, pensei
em fazer um evento para os fornecedores e funcionários que trabalham
diretamente com eles.
- Show! – vibrou Serginho – Assim eles podem se conhecer pessoalmente,
e tornar a relação mais próxima.
- Essa é a ideia Serginho.
- Mas Olga, nossa verba será suficiente para isso? – questionou Marisa
“pé no chão”. Era assim que os outros a chamavam no departamento.
- Os nossos fornecedores, em sua maioria, são regionais. Portanto, nosso
custo para trazê-los até aqui não será alto. O evento pode acontecer
como parte de uma estratégia para revitalizar o Clube da cidade,
portanto, nosso custo não será alto. O nosso programa mais caro,
provavelmente será o do Centro de Lazer.
- O que fazemos agora? – perguntou Raquel preocupada.
- Bom, agora vou sistematizar o nosso Plano de Comunicação para
alinhar todos os programas previstos. Enquanto isso, Maurício negocia
com o Jornal e eu com o Secretário de Educação e Cultura.
- Envie-me por mail tudo o que foi discutido aqui hoje. Parabéns. Vocês
trabalharam muito bem. Estou orgulhosa de vocês.
Enquanto todos se retiravam, Olga pediu a Raquel que ficasse.
- Raquel, eu gostaria que você fizesse um mailing-list dos fornecedores
da empresa. Vamos precisar desse número para orçar nosso programa,
108
e também para o envio dos boletins.
- Está certo Olga, vou providenciar.
No final da manhã Maurício ligou para Olga relatando sua conversa com
o gerente comercial do jornal e o fechamento da parceria nos termos propostos
por Olga. Ela agradeceu e parabenizou Maurício pela atuação. Ele está se saindo
melhor do que eu esperava, pensou ela. Santas visitas! Sorriu para si mesma.
Logo depois das duas da tarde, Olga chegou esfuziante a minha sala. Ela
me contou que a reunião com o Secretário foi excelente, e que a prefeitura doaria
o terreno para a associação de moradores, e então poderíamos construir o centro
de lazer.
- Isso não vai ficar muito caro Olga?
- Que nada amiga, vai ficar mais barato do que se eu fosse usar minha
verba para fazer uma campanha institucional.
- Mas isso não estava nos seus planos?
- Está nos meus planos, mas a campanha será feita em parceria com o
Marketing. Portanto, nos sobra mais verba para essas ações.
- Olga, você me surpreende a cada dia. Quem diria que você e o Mauricio
estariam fazendo parcerias?
- Pois é amiga, está vendo como às vezes a comunicação faz milagres –
Olga gargalhou com deboche.
- Sua bruxa! – Eu sorri também.
No dia da apresentação do planejamento de comunicação para a diretoria,
até Olga parecia nervosa. Olga tinha a verba e poderia destiná-la da melhor forma
possível, mas o planejamento estratégico deveria obter a aprovação de toda a
109
diretoria. Como acontecia com a produção, o financeiro etc.
Depois que todos haviam se servido de água é café, Olga iniciou sua
apresentação.
- Bem senhores, eu vou me deter a apresentar somente os nossos objetivos,
metas e estratégias do planejamento de comunicação, para o próximo
ano, porém os senhores já o receberam na íntegra. Se houver qualquer
dúvida, eu gostaria de que os senhores interrompessem a apresentação.
110
PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Diagnóstico:A empresa possui problemas de relacionamento e imagem com três segmentos
do seu público externo: comunidade, imprensa e fornecedores.
A comunidade não possui uma opinião formada sobre a empresa, portanto
lhe é indiferente acreditando que ela é não é parte integrante da comunidade;
Os fornecedores possuem uma opinião ruim sobre a empresa. Acham que não
são tratados com respeito e consideração, e que a empresa utiliza seu poder
econômico para tratá-los dessa maneira.
A imprensa não possui uma imagem formada sobre a empresa, mas isso já tem
melhorado consideravelmente.
Quanto aos consumidores, temos várias reclamações sobre o pós-venda, sobre
as políticas de relacionamento, e a dificuldade de obterem respostas quando
necessitam.
A empresa não possui um posicionamento institucional perante seus
consumidores e a sociedade mais ampla, visto que a comunicação externa
sempre teve como foco principal somente a comunicação mercadológica de
posicionamento de produtos e marcas.
Apesar do bom posicionamento das marcas da empresa no mercado, não existe
um programa de fidelização das marcas e relacionamento com o consumidor.
Objetivos:• Posicionar a marca e os produtos da empresa como ecologicamente corretos.• Posicionar a empresa como responsável sócio ambiental.• Abrir canais de comunicação entre a empresa e os quatro segmentos de
público externo pretendidos: consumidores, comunidade ao entorno da empresa, imprensa e fornecedores.
• Projetar junto a esses públicos, a imagem da empresa de acordo com a sua
111
identidade, ou seja, uma organização comprometida com o desenvolvimento da comunidade, de seus parceiros e dos públicos a ela ligados direta ou indiretamente; transparente na divulgação de sua informações, e responsável socioambientalmente;
Metas:
• Gerar um share of mind de 30% no período de um ano, entre o público consumidor e clientes em potencial.
• Estreitar o relacionamento e modificar a opinião da comunidade ao entorno da empresa no prazo de seis meses a partir do lançamento do projeto.
• Estreitar o relacionamento com os fornecedores e modificar sua opinião sobre a empresa no período de um ano.
• Melhorar a qualidade de informações para a imprensa, tornando o processo de divulgação e respostas mais rápido e objetivo.
• Implantar todos os programas de comunicação no prazo máximo de três meses.
Estratégias
• Desenvolver uma única campanha de propaganda para todos os produtos da empresa, associando-os a uma preocupação com a preservação ambiental.
• Desenvolver uma campanha institucional para promover a imagem da empresa como responsável social e ambientalmente.
• Gerar associação do público-alvo entre a marca dos produtos e a imagem institucional da empresa.
• Patrocinar e/ ou promover eventos culturais e esportivos que possam gerar o posicionamento pretendido para a empresa.
• Desenvolver ações junto à comunidade que proporcionem a melhoria da qualidade de vida das crianças e de suas mães.
• Desenvolver ações promocionais que envolvam estudantes de vários níveis escolares sobre temas de relevância social e ambiental.
• Redirecionar os esforços de divulgação de notícias à imprensa• Promover o estreita+mento das relações interpessoais entre fornecedores,
empresa e funcionários da empresa.
112
PROGRAMAS DE AÇÃO
PROGRAMA 1 – “ESTREITANDO OS LAÇOS”
Público-Alvo: Fornecedores
Objetivo Geral: Modificar a opinião desfavorável desse público em relação à empresa, promovendo a interação entre as partes.
Objetivos Específicos:• Fazer com que os fornecedores interajam de forma agradável com a empresa, e se
sintam valorizados por ela.• Melhorar o relacionamento entre fornecedores e empresa.
Estratégias:• Abrir canais de comunicação eficazes entre a empresa e os fornecedores.• Manter os fornecedores informados sobre assuntos da empresa que possam ser de
seu interesse, fazendo com que os mesmos se sintam valorizados.• Aproximar de forma interpessoal os contatos das empresas fornecedoras e os
contatos da nossa empresa.
Táticas:• Realizar um Woorkshop para os funcionários, que lidam com os fornecedores,
sobre a importância desse público para a empresa.• Realizar um evento de aproximação entre os fornecedores da empresa e os
funcionários que lidam com os mesmos.• Elaborar um boletim eletrônico, de periodicidade mensa,l dirigido especificamente
à esse público.• Implantar uma linha direta telefônica e na internet na ouvidoria da empresa,
apenas para atendimento aos fornecedores.
Avaliação dos resultados: Os resultados serão avaliados através de pesquisa de opinião com os fornecedores.(Indicadores)Melhoria no grau de satisfação dos fornecedores para com a empresaMelhoria da imagem institucional da empresa junto à eles.
113
Programa 2 – “A Melhor Idade: Todos nós vamos chegar lá”
Públicos-alvo: Comunidade e sociedade em geral.
Objetivo Geral: Conquistar a simpatia da comunidade e sociedade em geral, promovendo a percepção do público-alvo sobre a empresa como uma organização preocupada com o bem estar dos idosos.
Objetivos Específicos:• Ser percebida como uma organização preocupada com o social, principalmente
com a melhoria da qualidade de vida da terceira idade.• Incentivar a produção de mensagens que possam colaborar para a melhoria da
qualidade de vida da população acima dos sessenta anos• Estreitar o relacionamento com o público universitário.
Estratégias: • Envolver os estudantes do curso de Propaganda da Universidade local, para que
eles construam mensagens de otimismo e defesa do direito dos idosos.• Parceria com uma emissora de televisão de amplo alcance e grande audiência
para veiculação dos filmes vencedores, e a constituição de comissão julgadora que envolva formadores de opinião da comunidade local.
Táticas: • Ampla divulgação do concurso na Universidade, em pontos estratégicos da cidade,
e também na televisão.• Entrega do prêmio em uma cerimônia na Universidade, com a participação da
presidência da fábrica, convidados e de formadores de opinião.
Avaliação dos resultados:• Auditoria de opinião.• Pesquisa de opinião
Indicadores:• Melhoria da percepção dos universitários sobre a empresa.• Melhoria da percepção sobre o público regional sobre a empresa.
114
Programa 3 – “Aprendendo brincando – Centro de Laser e Esportes da Rosa Azul”
Público-alvo – Comunidade Jericocó
Objetivo gera l- Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da comunidade ao entorno da empresa, e consequentemente o relacionamento entre ambas as partes.
Objetivos Específicos –• Proporcionar as crianças, e aos jovens da comunidade, a oportunidade de praticar
atividades que possam contribuir para sua formação como indivíduo e cidadão.• Fazer com que a comunidade ao entorno da organização a perceba como sua
vizinha, e parte integrante da comunidade.• Fazer com que a imagem da empresa melhore junto à comunidade.
Estratégia Promover atividades esportivas e culturais para crianças, adolescentes e suas mães.
Táticas • Formar parcerias com a Universidade e a Prefeitura para a criação e execução das
atividades que possam despertar o interesse das crianças e adolescentes.• Realizar pesquisa de verificação de demandas profissionais na região. • Promover cursos de qualificação e montar uma coordenação de encaminhamento
de jovens para estágios e empregos.• Conquistar o apoio e formar parcerias com empresários da região para abertura de
vagas de estágio e empregos.• Fazer uma campanha de comunicação dirigida para divulgação do projeto.• Realizar um evento de inauguração do projeto• Realizar ampla divulgação na mídia.
Avaliação dos resultados: Auditorias.(Indicadores):• Números de crianças e adolescentes atendidos pelo centro.• Número de mães atendidas pelo centro.• Percentual de Jovens atendidos pelo centro e inseridos no mercado de trabalho
formal.• Melhoria na geração de renda das famílias, cujas mulheres são atendidas pelo
centro.• A mudança de opinião da comunidade.
115
Programa 4 – “Reciclar para preservar”
Público-alvo: • Primário – Estudantes do Ensino fundamental da cidade• Secundário – Leitores do Jornal da Manhã (formadores de opinião)
Objetivo Geral: Promover a imagem da empresa como uma organização preocupada com as questões ambientais.
Objetivos Específicos:• Incentivar a reciclagem de lixo entre os alunos das escolas fundamentais;• Promover uma campanha de propaganda com a parceria do Jornal sobre a
reciclagem;• Fazer com que a população perceba a empresa como ambientalmente responsável.
Estratégias: • Incentivar os alunos do ensino fundamental da cidade a pesquisar e escrever
sobre a grave questão do lixo como poluidor ambiental, e como a reciclagem pode contribuir para a preservação do meio-ambiente.
Táticas: • Promover um concurso de redação entre os alunos do ensino fundamental da
região com o tema “Reciclar para preservar”, em parceria com o Jornal de maior circulação do estado.
• Fazer ampla divulgação do concurso nas escolas, no jornal parceiro, e também na cidade através de meios de comunicação de apoio como cartazes e outbus.
Avaliação de Resultados Indicadores:• Números de redações inscritas no concurso• Auditoria de imprensa: como a imprensa percebeu a iniciativa da empresa.
116
Programa 5 – Diálogo Eficaz
Público-alvo: Imprensa
Objetivo Geral: Melhorar a qualidade e a rapidez no atendimento a imprensa
Objetivos Específicos:• Gerar informações sobre a empresa de acordo com as demandas da imprensa e
com as demandas da empresa.• Melhorar a rapidez no esclarecimento de fatos e informações sobre a empresa.• Melhorar a credibilidade da empresa perante a imprensa.
Estratégias:• Criar um canal específico de comunicação com a imprensa, via internet, para
atender as suas demandas, evitando assim o envio desnecessário de toda ou qualquer notícia para os meios de comunicação.
• Enviar somente notícias que possam gerar o interesse do público-alvo de cada veículo de comunicação.
Táticas:• Criar no site da empresa um acesso especial para a imprensa com cadastro prévio,
que possibilite seu acesso tanto as notícias publicadas pela assessoria de imprensa quanto as dúvidas ou esclarecimentos que os jornalista queiram proceder por esse meio.
• Definir os porta-vozes da empresa e proceder ao seu treinamento.• Facilitar ainda mais o acesso da imprensa aos porta-vozes da empresa.
Avaliação dos resultados: Auditoria de Opinião/Auditoria de Imprensa
Indicadores:• Número de cadastramento e acesso ao site.• Melhoria no conteúdo positivo publicado pela Imprensa sobre a empresa.
- Bem, senhores, essas são as ações que estaremos promovendo no
âmbito da comunicação institucional. Agora nosso Diretor de
Marketing vai apresentar nossas ações de comunicação mercadológica,
que como os senhores puderam observar, constam de um único plano
117
da comunicação organizacional da empresa. Resolvemos fazer as
apresentações em separados, em virtude das especificidades de cada
área. Doutor é a sua vez.
- Obrigado Olga.
O diretor de marketing fez sua apresentação e agradeceu a atenção de
todos. Olga olhava atentamente para a expressão de cada um dos membros da
diretoria. Todos lhe pareciam tranquilos, sem angústia e nem perplexidade. O
primeiro a falar foi o presidente da empresa.
- Antes de tudo, gostaria de parabenizar os dois diretores pelo excelente
trabalho de integração da nossa comunicação. Pela primeira vez, vejo que
realmente sabemos de onde saímos e aonde queremos chegar, juntos. Agora
senhores, a palavra está em aberto.
O Diretor Financeiro foi o primeiro a se manifestar.
- Eu também gostaria de dar os parabéns ao dois diretores pelo seu
planejamento financeiro. Todos os investimentos estão especificados de
forma rigorosa, com prazos e valores já negociados, o que significa que
não teremos surpresas na execução dos planos. Isso é importantíssimo
para que possamos planejar também o nosso departamento. Parabéns
mais uma vez.
Os outros diretores balançaram a cabeça e comentaram que não tinham
nada a observar no plano. Tudo estava minuciosamente detalhado na parte
escrita, e atendia perfeitamente as diretrizes da empresa.
O presidente encerrou a reunião congratulando mais uma vez o trabalho
dos dois diretores, e de suas equipes, e disse estar orgulhoso que tenham
crescido tanto em tão pouco tempo nessa área que era tão sombria e
obscura dentro da empresa.
119
- O que você pretende fazer hoje Dani?- perguntou Olga no sábado pela
manhã.
- O Vítor ficou de ligar logo cedo – respondi apática.
- Logo cedo já foi há muito tempo. São 09h30min.
- Acho que vou esperar ele ligar.
- E se ele não ligar? – ela perguntou provocadora.
- Daí eu fico por aqui – respondi irritada.
- Você é que tem que se ligar mulher! Se ele não ligou até agora, vamos
sair. Se ele quiser te liga no celular.
- Não sei – falei indecisa.
- Daniela, você está com muita vontade de ver o Vítor? – ela perguntou
desconfiada
- Não é isso – continuei indecisa – é que ...
- Está ou não está?
- Não! Se ele ligar tudo bem, se não ligar também não vou morrer por
isso.
- Então amiga, vamos sair, passear, fazer algo que não fazemos a algum
tempo!
- Mas você não tem um encontro com o Sr. Aristides, no clube.
- Ele teve um probleminha e precisou adiar para segunda-feira. Estou
pensando em aproveitar bem esse final de semana para relaxar.
- Há muito que seu ritmo na empresa vem sendo intenso – comentei.
- Pois é amiga, aprendi a duras penas que a gente tem que saber a hora
de relaxar, se dar um tempo, nem que seja bem pouco. Isso faz toda a
diferença para a nossa mente, e também para a nossa saúde. E, hoje, é
isso que vou fazer.
Eu senti uma alegria inesperada com o convite de Olga. Muitas vezes eu
tinha a sensação que ela lia meus pensamentos, por mais que eu quisesse
120
dissimulá-los. Claro, passear era tudo o que eu queria fazer ao invés de
estar trancada dentro de um apartamento com o Vítor, preparando comida
enquanto ele ficava bebericando e vendo partidas de futebol, uma atrás da
outra. Eu parecia fazer parte do mobiliário.
- Sua bruxa, eu acho mesmo que você lê pensamentos!
- Engano seu minha amiga! Eu apenas reaprendi, assim como as crianças,
a aguçar a minha percepção. Já reparou como vivemos em um mundo
individualista? As pessoas se preocupam tanto com o tempo, com os
afazeres, com o dinheiro que tem que gastar, com os imóveis que desejam
comprar, com os objetos que desejam adquirir, e esquecem da essência
da vida: o ser humano. Sabe Dani, às vezes tenho a impressão que essa
busca pelo dinheiro, pelo poder e pelos objetos acabou por transformar
o ser humano em uma ilha, e depois da internet então... Os pais enchem
seus filhos de presentes para tentar compensar sua ausência e sua busca
material. As redes sociais substituiram as conversas, as brincadeiras
em família, o conhecimento do outro. E os vizinhos? Esses então se
tornaram figurantes em nossas vidas. Quem são essas pessoas que
dividem o mesmo espaço que nós? Como elas vivem? Do que gostam?
O que podemos aprender com elas e elas conosco? Parece que quanto
mais próximo um ser humano está de nós, menos temos vontade de nos
aproximarmos dele. Manter a individualidade e a privacidade física
virou palavra de ordem na sociedade contemporânea, enquanto isso
as pessoas se expõem cada vez mais nas redes sociais. Estranho isso
não é? Mas de que nos vale essa individualidade, essa privacidade e
essa conectividade? Estamos cada vez mais sozinhos, mas tristes, mais
deprimidos, mais assustados, mas desejosos de coisas materiais que
possam satisfazer os vazios das nossas mentes, dos nossos corações
e das nossas almas. Ficamos tentando preencher o vazio que se forma
121
em nós, com coisas. Lembra no tempo das nossas avós? O papinho
na calçada, a ajuda dos vizinhos e dos amigos para fazer a festa de
aniversário ou o casamento? E a receita da família compartilhada?
Agora, a gente pega aquilo que é compartilhado pela rede, muitas vezes
sem história, sem significado...
- O chazinho e a canja quando alguém ficava doente – falei sorrindo.
- Observe como as pessoas nas cidades pequenas são mais tranquilas,
mais leves, mais desprendidas, e quem sabe até mais felizes! Elas
parecem mais atentas ao outro, ao seu próximo.
- Você tem razão Olga. Veja como o ritmo frenético da cidade acabou
deixando as pessoas mais neuróticas e depressivas.
- Repare que nossas crianças chegam à adolescência pensando qual a
profissão mais promissora e que poderá lhe proporcionar mais carros
de luxo, apartamentos, jóias etc. Não sonham mais com o que fazer,
mas com o que podem conquistar fazendo.
- Bah! – expressei desanimada – fico triste de imaginar meus filhos assim.
- Quando poderíamos imaginar que crianças e jovens, com toda a
liberdade para viver e para ser feliz, sofreriam de depressão, angústia,
neuroses, e sei lá mais o que. Quem poderia imaginar que uma geração
tão cheia de informação e liberdade poderia se drogar tanto, cometer
tantos desatinos, e até cometer assassinatos brutais e suicídio!
- Bah Olga, o que será que está acontecendo com a humanidade?
- Não tenho essa resposta amiga, mas em minha opinião, estejamos em
um processo de “rehumanização” do ser humano! Dei-me conta disso há
bem pouco tempo atrás. Não pense que eu fui uma regra a exceção. Fui
criada para ser uma adulta bem sucedida, com uma profissão rentável e
que me proporcionasse muita grana. Ainda bem que consegui me livrar
dos desejos dos meus pais e escolher meu próprio caminho.
122
- Mas nem por isso você deixou de ser uma mulher bem sucedida!
- Claro, porque foi a consequência e não a causa. Creio que todo ser
humano pode ser o que desejar, mas não há como negar que todos
possuímos algum talento, e outras habilidades nós vamos desenvolvendo
ao longo de nossas vidas, de acordo com nossa personalidade, nosso
contexto de vida, nossos “gurus”.
- Ah! Eu também acredito nisso Olga.
- Veja o meu caso: meu pai queria que eu fosse médica. Mas, desde pequena,
sempre fui uma menina agitada, descontraída, de personalidade forte
e falante. Minha mãe me colocou aos quatro anos de idade em uma
escolinha próxima de casa onde eu despertei o gosto pela leitura. Aos
seis anos eu estava totalmente alfabetizada e lendo o que me passasse
pela frente. Meu pai e meu avô, percebendo meu gosto pela leitura, me
compravam livros, revistas em quadrinhos etc. Aos sete anos de idade,
eu já havia lido toda a obra de Monteiro Lobato.
- Meu Deus, como você era precoce!
- Não, de jeito nenhum! Essa minha paixão pelos livros e também pelo
cinema, cresceu em função da percepção de meu pai e de meu avô.
- Mas e porque seu pai queria que você fosse médica?
- Porque na verdade todos os pais querem ter um filho médico, ou
Bacharel em Direito, ou Engenheiro. Isso é cultural! São os três cursos
superiores mais tradicionais do nosso país, talvez do mundo. É difícil
entender que um filho queira ser comunicador, artista, designer etc.
Eles nem sabem o que é isso! Muitas outras profissões são vítimas do
desconhecimento dos pais e até dos empresários. Se considerarmos
que vivemos em um país em que são as pequenas empresas que mais
empregam e que em sua maioria esses empresários desconhecem
as atividades da comunicação social e o que elas podem fazer para
123
contribuir com os seus negócios...
- Mas é possível, Olga, fazer relações publicas em uma pequena empresa?
- Totalmente possível! E muitas vezes de forma mais simples, mais barata
e mais fácil. É somente uma questão de adaptação. Veja só, não é bem
mais simples eu consultar um cliente que comprou na minha loja de
roupas, depois de um ou dois dias, se ele está satisfeito com a compra,
se a roupa fez sucesso, se ele foi bem atendido pelo vendedor. Enviar um
cartão de natal ou aniversário faz com que o cliente perceba que você
não lembra dele só no momento da compra. Procurar saber o que ele
considera um bom atendimento, fazer um cartão de fidelidade, enfim...
No caso dos funcionários: realizar reuniões periódicas, saber o que eles
pensam sobre a execução das tarefas; o que a empresa poderia fazer
para melhorar a qualidade do seu trabalho, enfim... Tantas coisas que eu
levaria o dia inteiro aqui as enumerando para você. Relações Públicas
pode fazer uma imensa diferença tanto para o pequeno negócio quanto
para o grande negócio. Política de relacionamento, inclusive, é o que faz
uma pequena empresa sobreviver. Imagina em um momento de crise,
se o pequeno empresário não tiver um bom relacionamento com os
fornecedores? Lembro que naquela crise horrorosa do plano real, meu
pai foi dormir devendo cinco e acordou devendo dez, aos bancos. O que
valeu a meu pai foi o relacionamento que ele tinha com os fornecedores,
que facilitaram pagamento, esticaram prazos, continuaram fornecendo.
- Você tem razão Olga, mas creio que esse desconhecimento não se
reduz apenas aos pequenos empresários. Você viu o quanto foi difícil e
complicado vencer a resistência de alguns diretores da nossa empresa
em relação ao seu trabalho.
- Concordo e complemento, a maioria da população desconhece a
importância dos profissionais da comunicação para a sociedade.
124
Tomemos como exemplo a imprensa. Imagine quantas denúncias não
colaboraram para elucidar casos de corrupção e até crimes de morte.
Em relações publicas, por exemplo, tem um caso muito interessante
que é o do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Lembro-me de
ter conversado com a profissional de relações publicas de lá, na década
de 80, e ela me contou que foram realizados diversos programas para
promover a integração e melhoria da qualidade de vida da comunidade
ao entorno do aeroporto, já naquela época em que responsabilidade
social não tinha nenhum significado para os empresários e poder
público no Brasil. Atualmente, quantos programas sociais vêm sendo
desenvolvidos por empresas e organizações da sociedade civil, graças
ao trabalho desenvolvido por relações publicas. E a Publicidade e
Propaganda que ao divulgar produtos e serviços, ao contrário do
que muita gente diz, possibilita ao consumidor maior possibilidade
de escolha, de seleção. Sem falar que a mídia, serve também para o
entretenimento, para informar, enfim... Todas essas atividades servem
para movimentar mercados, gerar empregos, desenvolver empresas, e
gerar riquezas para o país.
- Vendo por esse lado – respondi meio incerta.
- Claro. Agora o que se escuta no senso comum é que a televisão desvirtua
a sociedade, a publicidade incentiva o consumo, a publicidade faz com
que os jovens sonhem em ter o que não podem. A mídia é o reflexo de
uma sociedade. A publicidade, por exemplo, só anuncia produtos para
o seu público-alvo, ou seja, para aqueles consumidores em potencial
do produto ou serviço do cliente. Ninguém vai jogar dinheiro fora
anunciando um produto para quem não pode comprar. A discussão
é muito superficial e deve ser aprofundada entre os membros da
sociedade mais ampla. Deve ultrapassar os muros da academia. Eu
125
creio, sinceramente, que o câncer da sociedade não é a mídia nem
as atividades que dela fazem uso, o câncer da sociedade é a falta de
educação de qualidade, de oportunidades para os menos favorecidos,
de empregos, de lazer, de melhor distribuição de renda. Qualquer
um que trabalha com comunicação sabe que para obter feedback é
necessário produzir e veicular aquilo que o público-alvo que receber. O
dia que tivermos uma educação de qualidade, que o nosso povo estiver
dotado de um senso crítico mais apurado, com certeza nós vamos ter
uma televisão melhor, um rádio melhor, uma publicidade melhor, uma
imprensa melhor, e tudo bem melhor, porque os produtores da mídia
vão ter que dar ao público algo de melhor qualidade.
- Mas você não acha que o nível do que se produz hoje na televisão é
muito ruim, e que se poderia produzir coisas melhores para começar
acostumar o nosso povo com o que é bom?
- Tomara que eu esteja dizendo besteira, mas acho isso pouco provável.
Se considerarmos que a televisão depende de audiência e de dinheiro
para manter um programa no ar, que as revistas dependem dos leitores
que as compram e da publicidade para circularem e assim acontece
com todos os veículos de comunicação comerciais, é praticamente
impossível manter no ar um programa que não seja de interesse do
público, tentando acostumar essa audiência. Vamos considerar que
temos algumas TVs educativas, em canais abertos, acessíveis a toda a
população, que veiculam programas de qualidade em nosso país. Qual
a audiência delas? Será que elas não conseguem audiência por que? Eu
creio que para melhorarmos a qualidade dos nossos programas teremos
de melhorar a qualidade da nossa da nossa audiência. Precisamos
começar um trabalho de base, com as nossas crianças. E, a escola tem
um papel fundamental nisso. Está claro que os pais deveriam ser os
126
principais responsáveis, mas como eles poderão criar uma audiência de
qualidade dentro de casa se eles fazem parte de uma grande massa que
consome determinado tipo de programação? Precisamos que a escola
assuma esse papel! Vários pesquisadores da área da educação estão
desenvolvendo pesquisas sobre o tema, e desenvolvendo metodologias
interessantíssimas para estimular o senso crítico das crianças em
relação à mídia nas salas de aula. Talvez, a partir daí, com a melhoria
da qualidade da audiência e do entendimento das atividades da
comunicação social, a nossa profissão seja mais bem compreendida,
pois a medida que nossos produtos começam a ser desvendados em sala
de aula, consequentemente a nossa atividade começará a ser melhor
compreendida.
- Olga, eu tenho acompanhado seu trabalho há algum tempo na empresa
e nós temos discutido muito sobre as Relações publicas, a sua filosofia,
as suas funções, as atividades, enfim... Mas, sinceramente, nem eu
mesma consigo definir a sua atividade. Qual a sua definição de relações
públicas?
- Eu poderia te dar várias definições, de vários autores e pesquisadores,
mas vou simplificar: relações públicas é o processo de promover a
interação entre a organização e seus públicos.
- Você falando assim não parece ser tudo aquilo que você faz na empresa!
- Porque você está esquecendo de observar com profundidade a definição.
Duas palavras chaves transformam uma frase curta, concisa, clara
e objetiva, em uma atividade complexa, que requer conhecimentos
sociológicos, antropológicos, psicológicos, comunicacionais e
administrativos.
- Que palavras são essas? – perguntei curiosa.
- Processo e interação.
127
- Não percebi – disse intrigada.
- O que é um processo Dani?
- Segundo o “Aurélio” é o modo de executar algo, ou o conjunto de
procedimentos ou operações realizadas para se executar algo – Nem
bem eu havia terminado de falar, Olga emendou outra pergunta:
- E interação? – Eu abri a gavetinha da estante, peguei o dicionário e
folheei, enquanto Olga me olhava sem piscar.
- Influência, ação recíproca – respondi lendo.
- O que vem a ser reciprocidade? – ela emendou novamente.
- Aquilo que é mútuo, que se troca.
- E, aquilo que é mútuo é comum à pelo menos duas pessoas, não é
verdade?
- Sim.
- E para termos algo que é mútuo, que é comum com alguém, do que
precisamos?
- Bom, conhecer essa pessoa, saber o que ela pensa, seus pontos de vista
sobre determinados temas, assuntos, do que ela gosta, enfim...
- Portanto, para promover a interação entre a organização e seus
públicos, temos que conhecer muito bem os nossos públicos, saber
como eles pensam, saber o que pensam sobre a empresa, para então
alinhavar os interesses entre ambos, e por aí afora. Só assim poderemos
gerar interação e relacionamentos, concorda?
- Creio que sim.
- Portanto, relações públicas é o conjunto de procedimentos ou operações
realizadas para gerar relacionamentos entre uma organização e seus
públicos.
- Desculpe-me, Olga, mas isso me parece tão aquém das tarefas que você
executa na empresa! E, sinceramente, não acredito que alguém deixe
128
de consumir um produto porque não possuí relacionamento com a
empresa que o produz - disse indignada.
- Daniela, você ainda não aprofundou o seu olhar sobre o que eu
disse. Gerar relacionamentos e procurar transformar interesses
divergentes em interesses mútuos é muito complexo, além de ser
totalmente imprescindível para a sobrevivência de uma organização
na contemporaneidade. Gerar relacionamentos requer a utilização
de inúmeras ferramentas, ações, técnicas, e é exatamente isso que
eu faço na empresa. A definição pode parecer simples, mas obter
resultados requer muito planejamento, esforço e conhecimento. E,
além disso, amiga, você está enganada quando acha que alguém deixa
de consumir um produto porque não possuí relacionamento com uma
empresa. Com a globalização, a concorrência tornou-se cada vez mais
acirrada. Os mercados hoje são disputados palmo a palmo, como em
uma guerra. Homem a homem, consumidor a consumidor. Se você
não cria relacionamentos da organização com seus consumidores,
fornecedores, vizinhos, funcionários etc, você corre o risco deles
preferirem o concorrente. O consumidor hoje não busca somente
preço, mas qualidade, atendimento, praticidade, enfim, soluções para
os seus problemas. Uma empresa hoje não vive mais de vender somente
produtos, mas também soluções. E, tem mais, está provado que os
consumidores dão preferência as empresas socioambientalmente
responsáveis, que se preocupam em realizar, patrocinar ou incentivar
programas sociais, cultura, esporte...
- Que loucura!
- Não tem nada haver com loucura, mas com a evolução do consumo,
da vida moderna, com inúmeros fatores que se somam. Por exemplo,
se você compra uma televisão, de última geração, e tem dificuldades
129
para operá-la mesmo lendo o manual, é necessário que a fábrica lhe
dê o suporte necessário para que você resolva o problema. E isso, deve
acontecer com o produto mais simples ao mais complexo. Se você é
vizinha de uma comunidade, e não se importa de nenhuma maneira
com seus problemas, com os incômodos gerados pela sua presença,
você pode gerar a antipatia dessa comunidade e ao primeiro problema
mais sério, a comunidade será a primeira a querer que você saia. Quem
quer viver ao lado de um vizinho ruim? Imagine ainda que um boato
se espalhasse sobre a empresa e que caísse nos ouvidos da imprensa,
se não houver um bom relacionamento, de confiança e seriedade, é
possível que esse boato ou uma informação distorcida seja veiculada
sem que a empresa tenha tempo para esclarecer o fato, e daí depois que
a bomba estoura e explode o prédio, fica muito mais difícil reconstruí-
lo. No caso dos fornecedores: imagine que por algum motivo, como eu
te contei antes, você precise negociar dívidas com seus fornecedores,
se não houver uma relação de confiança, como será? E, se alguma
crise ocorrer, e houver escassez de matéria prima no setor, quem você
acha que os fornecedores priorizarão? As empresas que eles confiam
e que tem um bom relacionamento, ou aquelas que só lhe compram e
lhe pagam em uma transação puramente fria e comercial? Faça uma
comparação: imagine que estourou uma guerra, e você tem duas vagas
no carro para fugir, você leva com você os vizinhos a quem você só dá
bom dia, ou os seus amigos com os quais se relaciona de maneira mais
intimamente?
- Os meus amigos, claro!
- No mercado acontece o mesmo. Quando pensamos em organização
devemos pensar que por trás de toda pessoa jurídica existem seres
humanos, pessoas comuns que possuem emoções, e por mais profissionais
130
que sejam, agem sob a influência dessas emoções, sejam elas quais forem.
Não é possível separar uma coisa da outra. E, isso, acontece em todos
os setores, com todos os públicos de uma organização. Esses públicos
são compostos por pessoas, seres humanos que carregam suas crenças,
seus valores, conhecimentos, repertório individual e cultural, e por isso
não agem ou tomam decisões baseadas somente nos manuais técnicos
e científicos. Agem baseados no diálogo entre todos esses fatores. E,
amiga, só é possível esperar que essas emoções sejam positivas a nosso
favor se realmente houver um relacionamento de confiança e seriedade
entre uma organização e seus públicos.
- E daí...
- E daí é que entra Relações publicas, com o seu conhecimento sobre
públicos, opinião pública, sobre os fenômenos comunicacionais, sobre
a adequação das ferramentas da comunicação para gerar diálogo, sobre
as ações que podem gerar resultados nesse processo de interação,
enfim...
- Bah! Olga, eu não tinha analisado sobre esse ponto de vista.
- Mas agora o fará. Até porque, todos fazem parte desse universo das
relações publicas. Aliás, amiga, eu acredito, sinceramente, que essa
deveria ser uma disciplina obrigatória em todos os cursos das ciências
sociais aplicadas, pois assim os profissionais dessa área poderiam
conhecer a atividade de relações publicas, e também a sua importância
para o crescimento e desenvolvimento e até sobrevivência de uma
organização.
- Agora eu percebo o quanto isso faria a diferença - falei enfática.
- É claro. Conhecer técnicas de RP pode auxiliar no exercício de qualquer
atividade e até na vida pessoal. Se o princípio básico das relações
publicas é promover o diálogo para gerar relacionamento, a partir do
131
conhecimento desse princípio e dos conceitos da profissão, as pessoas
podem ficar mais abertas a escutar, a tentar compreender como os outros
pensam, a entender suas motivações, desejos, pensamentos. Quando
estudamos comunicação entendemos que cada um tem sua visão sobre
os fatos, sobre o mundo, sobre os objetos, isso porque, durante a sua
vida, ele vai recebendo informações de diferentes fontes que se cruzam
com suas crenças, valores, características de sua personalidade... E, isso
vai fazer dele um ser único, particular, específico.
- Mas por que então falamos de grupos, públicos etc?
- Por que apesar de ser único todo indivíduo possuí crenças e valores
que o identificam com outros indivíduos. Como nos diz a socióloga
Maria Isaura Pereira de Queiroz “Todo indivíduo possuí uma parte
que é particularmente sua e outra que é insuflada pelo meio”. Não
podemos esquecer que a nossa sobrevivência como espécie depende
da nossa socialização, e essa socialização ocorre através dos grupos
com os quais convivemos. No convívio com esses grupos aprendemos
comportamentos, crenças e valores.
- Claro – interrompi Olga – os grupos como a família, a escola, os clubes
dos quais fazemos parte, e até mesmo nossos vizinhos.
- Então, esses grupos vão influenciar em toda a nossa formação,
principalmente nos primeiros anos de vida.
- Lembro que quando estava na faculdade, um professor de Administração
deu algumas pinceladas sobre cultura organizacional. Ele nos alertou
para o fato de que as organizações são constituídas de pessoas, e
pessoas possuem cultura. Não é possível considerar uma organização
estanque do social, do cultural. Inclusive me lembro que ele comentou
dos problemas que algumas multinacionais enfrentaram em nosso país
por não considerar as características culturais do povo brasileiro, e
132
até mesmo de um determinado estado onde se localizavam.- eu disse
animada.
- Claro.Vou te dar um exemplo, bem simples, mas que pode servir
de ilustração. Em Pernambuco as festas juninas fazem parte de uma
longa tradição popular, e nesse período a população se mobiliza para
as comemorações juninas. O que acontece é que todas as empresas
enfeitam seus ambientes de trabalho, em outras seus funcionários
vestem trajes típicos completos ou apenas peças de vestuário, sem o
menor constrangimento, e ainda existem aquelas que promovem festas
para os funcionários e seus familiares. Ah! Eles trocam até o feriado de
Corpus Cristi pelo do São João.
- Uau!
- Pois é amiga! Já foi o tempo que pensar uma empresa, era se preocupar
somente com a produção, as finanças e o mercado. Esse exemplo deveria
servir também para as pessoas.
- Como assim? – perguntei atônita, meio sem entender a proposição de
Olga.
- Quando nos preocupamos com as questões sociais, mesmo como
indivíduo, entendemos que um ser social é aquele que cultiva
relacionamentos que o permitam sobreviver em um grupo, ou em
vários. As pessoas parecem não entender a importância de cultivar
relacionamentos durante toda as sua vida. Pense bem, quem são
as pessoas com maior facilidade de arrumar emprego? Aquelas que
possuem uma rede de relacionamentos maior e mais sólida. Rede de
relacionamentos você tem que cultivar e traçar durante longos anos.
Não basta achar que vai sair por aí conhecendo gente e se aproximando
delas para se dar bem. E, outra coisa, precisa manter os laços. Um
telefonema, uma carta, um mail... É a comunicação que nos liga as
133
pessoas, mesmos quando não temos oportunidades de conviver muito
com elas, ou de estarmos longe.
Olga parou de falar e olhou para o relógio.
- E, agora, que tal fazermos uma viagenzinha curta, de uns 100 km, e
nos deliciarmos naquela maravilhosa selva de pedra, cheia de teatros,
cinemas, museus, comida gostosa e um parque maravilhoso?
- Eu topo!- exclamei esfuziante.
- E, que tal não voltarmos hoje? – perguntou Olga bem faceira.
- Sua louca! E onde vamos ficar?– exclamei sorrindo.
- Em um hotel, ora! O que não falta naquela cidade são hotéis confortáveis
e com preços razoáveis que possam abrigar duas donzelas solitárias –
Olga gargalhou sonoramente.
- Ta bom sua bruxa!
- Quero aproveitar e me inspirar um pouco para minhas próximas
atividades.
- Você é louca mesmo! Como é que pode sair para passear e achar que vai
aproveitar algo para o seu trabalho?
- Amiga, lembra da sua época do colégio quando seu professor dizia: “na
natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Pois é! Eu
passeio, faço uma boa “higiene metal”, vejo coisas novas, gente nova,
informações novas, e depois disso tudo misturado na minha cabeça,
tcham tcham tcham tcham: surgem ideias novas !!!!!!
- Olga, você não para de me surpreender! – exclamei.
- Hoje sou eu que te surpreendo amiga, amanhã será a sua vez, seja
comigo seja com outra pessoa. Se você considerar que apesar dessa tez
de pêssego, desse corpinho magro e juvenil, dessa vitalidade infantil, e
desse comportamento adolescente – A cada palavra pronunciada Olga
gargalhava - eu tenho quase dez anos a mais que você, e não é nada
134
excepcional que eu te surpreenda.
- Está bem anciã, vou me arrumar e fazer minha mochila!- eu disse
animada.
- Não esqueça de colocar uma roupinha fashion pra gente ir ao teatro à
noite.
- Deixa comigo!
Dentro do carro, enquanto a música suave rolava no rádio, eu observava os
outros automóveis que passavam por nós. Acabáramos de ultrapassar um carro
que levava uma família muito jovem. Um homem, uma mulher e duas crianças no
banco traseiro do carro. Os adultos conversavam alegremente enquanto os dois
meninos pulavam animadamente. Senti uma pontada de frustração, e ao mesmo
enorme emoção em presenciar aquela cena. Os momentos de alegria podem ser
conquistados com coisas tão simples, e muitas vezes ficamos procurando coisas
complexas e fantásticas para nos sentirmos alegre. Foi a mesma percepção que
eu tive naquele grande parque em que eu e Olga resolvemos parar antes de
encontrarmos um hotel para ficar. Enquanto crianças corriam animadas e seus
pais as observavam atentas com olhar de satisfação, jovens trocavam carícias
apaixonadas, meninos faziam peripécias em seus skates, e nós duas atacávamos
gulosamente nossos sorvetes.
- Você está tão pensativa desde que pegamos a estrada Daniela –
comentou Olga.
- Estou em estado contemplativo – brinquei.
- Não creio !!!! – brincou Olga.
- Sabe Olga, estou pensando naquilo que você me falou antes de sairmos,
e é exatamente isso que estou fazendo.
- O que?
- Limpando minha mente, me deixando receber as mais diversas
informações, observando, contemplando, enfim... Faz muito bem! Ainda
135
mais aqui, em que as pessoas vêm para se divertir, namorar, brincar, ser
feliz. Parece que esse clima acaba contagiando a todos.
Olga sorriu. Pegamos nosso sorvete e iniciamos uma longa caminhada pelo
parque.
O silêncio naqueles momentos parecia dizer mais que qualquer palavra.
Decidimos nos sentar e a continuar contemplando o movimento do parque. As
pessoas que passavam, os animais que corriam de um lado para o outro a procura
das migalhas deixadas pelos visitantes, os pássaros que nem pareciam se dar
conta de toda aquela gente. E, toda aquela gente que parecia não ser dar conta de
mais ninguém. Andavam como se fossem as únicas. Assim como nós.
O final de semana foi especialmente delicioso. Quando voltamos para casa
no domingo à noite, estávamos as duas alegres como crianças. Olga voltou cheia
de novas ideias, para a empresa e para o clube. Eu voltei disposta a conversar
com Vítor e resolver essa situação de uma vez por todas. Enfim, a segunda-feira
começaria com mais entusiasmo para nós duas.
137
Na segunda-feira pela manhã Olga reuniu-se com o presidente do Clube,
o Sr. Aristides, para um primeiro contato, que serviria para levantar informações
sobre a organização.
Na entrevista com o presidente Olga foi informada que o Clube era mais
antigo do que imaginava. Foi fundado por três famílias descendentes de italianos
que vieram para a região trabalhar nas grandes fazendas de café, em substituição
aos negros. Durante as décadas de mil novecentos cinquenta, e mil novecentos e
sessenta, o Clube atingiu seu auge, figurando como o lugar mais bem frequentado
da sociedade local. A decadência aconteceu vagarosamente durante as décadas
de setenta e oitenta, e em meados da década de noventa, o número de associados
havia diminuído, e o clube era pouco frequentado e tinha grandes dificuldades
de conquistar novos sócios. As grandes e glamorosas festas já não aconteciam
há anos, e qualquer tentativa de realizar eventos para a sociedade da cidade era
fracassada. Os adolescentes, por sua vez, mostravam pouco interesse pelo clube,
frequentando apenas as aulas de esportes, e algumas tentativas de promover
festas para esse público haviam sido mal sucedidas.
O clube sobrevivia das doações e, principalmente, das escolinhas esportivas
tais como: natação, judô, vôlei, tênis, karatê, ginástica localizada, Ioga, Futsal, e
também de outras atividades como Dança de Salão, Ioga, Sauna e Hidroginástica.
“Nem tudo estava perdido”, pensou Olga.
O Sr. Aristides levou Olga para um passeio pelo Clube. Olga observou que
as instalações do mesmo, apesar de grandes e confortáveis, necessitavam de uma
reforma, e de um aspecto mais moderno, menos decadente. Antigo não significa
decadente, e essa era a atual aparência do clube. A acústica do salão de bailes
era excelente mais a aparência não animava ninguém a promover uma bela festa
naquele local.
Olga e o presidente do clube conversaram um pouco mais. Ela fez algumas
anotações, se despediu dele, e disse que retornaria em breve para conversarem.
138
Ao chegar a empresa, Olga foi até a minha sala dar um alô e contar o que
tinha visto no clube.
- Você acha que vai dar pra ajudar amiga?- perguntei apreensiva.
- Creio que será bastante complicado e trabalhoso, mas não é impossível
– ela respondeu.
- Que bom, seria uma pena que um patrimônio da cidade, como o Clube,
fechasse suas portas.
- Amiga, só não fechou ainda graças à determinação do Sr. Aristides.
- Pois é, ainda bem que existem pessoas como ele.
- Ainda bem – ela disse sorrindo.
- Bom, só passei pra dar um alô. À noite a gente se vê. Beijoca.
- Não vai sair com o Ricardo hoje?
- Não, ele teve que adiar a volta, e só chega na sexta-feira.
Duas semanas depois, Olga marcou uma nova reunião com o Sr. Aristides
para uma nova conversa e no final do mês ela já tinha elaborado um plano de
revitalização para o Clube. Como Olga mesma confessou, ela nunca havia
trabalhado para uma Organização da Sociedade Civil, e elabora o plano para o
clube foi um grande desafio, que ela parecia ter vencido em uma primeira etapa.
Agora faltava executá-lo. Tudo dependeria da captação de recursos que ela e o
Sr. Aristides fariam. O primeiro passo seria conseguir os recursos necessários
para a revitalização da infraestrutura do clube. Olga elaborou um projeto a ser
negociado com algumas empresas da região. No projeto, Olga dividiu os vários
ambientes do clube que precisavam de melhorias, e oferecia a cada empresa a
adoção de um deles. As empresas poderiam receber alguns incentivos fiscais para
fazer a doações, e também teria uma placa da empresa com o nome do ambiente,
tipo “Salão de bailes empresa tal”, o que facilitaria bastante o trabalho.
A empresa em que eu e a Olga trabalhávamos adotou o salão de bailes.
O arquiteto da empresa fez o projeto de restauração, e acompanharia a obra
139
voluntariamente. Mais quatro empresas adotaram um local do clube para
revitalização, e o escritório modelo de arquitetura da universidade local ficou
responsável pelos projetos e pela sua execução. As obras levariam pelo menos seis
meses, tempo suficiente para que ela e o presidente trabalhassem para conquistar
outros parceiros, e também a simpatia da sociedade local para o projeto. Um
Jornal e uma televisão, locais, contatados por Olga, aderiram ao projeto. Durante
o período das obras, o jornal publicou em capítulos a história do clube, e a
televisão realizou várias matérias sobre o clube, sua história e importância para
a cidade como patrimônio cultural.
Essa parceria contribuiu, ainda, para que eles conquistassem a simpatia de
várias associações de empresários da região, que contribuíram com doações em
dinheiro. Um deles, inclusive, enviou uma carta ao clube, se comprometendo em
pagar sozinho o cachê de uma orquestra de dança para a realização da festa de
inauguração das novas instalações.
Conquistar a simpatia de alguns empresários da cidade foi fundamental
para o projeto. O Dr. Paulo foi um grande trunfo. O avô dele havia sido um dos
fundadores do clube e ele possuía um interesse sentimental em manter e melhorar
aquele espaço. Olga havia me relatado que percebeu, através do contato com o
Sr. Aristides, que manter esse tipo de organização possuía muito mais um apelo
sentimental do que empresarial, e foi por aí que Olga traçou suas estratégias.
Procurou saber quem eram os descendentes dos fundadores, e também os
principais frequentadores do clube em sua época de glórias. Com certeza, aqueles
que pudessem, iriam contribuir pelas ligações sentimentais que o clube lhes
despertava. Havia também o apelo a tradição. Hoje, muitas pessoas se sentem
sensibilizadas em relação à preservação de patrimônios de sua memória. Esse foi
outro grupo que Olga procurou, e funcionou. Um terceiro grupo de prospectos
em que Olga focou seus esforços foi o das empresas que investem em marketing
cultural, por questões óbvias.
140
O direcionamento pensado na captação de recursos para o clube foi o
fator principal do sucesso de todo o plano. O investimento de empresas sérias,
a credibilidade do Sr. Aristides, o envolvimento da universidade, e apoio da
imprensa despertaram o interesse da sociedade pela manutenção do clube.
Olga elaborou um programa de RP dirigido aos sócios do clube e as famílias
dos antigos sócios, intitulado “Aqui você tem voz”, com o objetivo de estreitar
novamente o relacionamento com esse público e escutar o que eles gostariam
que o clube oferecesse para que eles voltassem a frequentá-lo. Olga, novamente,
recrutou estagiários do curso de Propaganda na universidade local, e montou
com eles uma campanha de propaganda incentivando o público-alvo a opinar
através do telefone disponibilizado para o atendimento, e também por internet.
O resultado foi excelente e em menos de um mês de veiculação da campanha,
mais de 40% dos atuais e antigos sócios tinham entrado em contato com o clube
para fazer suas sugestões, através dos canais de comunicação disponíveis.
Além disso, Olga e o Sr. Aristides, junto com uma funcionária da
tesouraria, realizaram um amplo levantamento da ficha dos sócios inativos ou
inadimplentes do clube, para realizar uma atualização de dados, e também um
convite para que eles retomassem sua parceria com o clube. Após o levantamento,
o Sr. Aristides concluiu que vários sócios deviam muitos anos de contribuição,
e que se quisessem retomar esse relacionamento não haveria como cobrar
a dívida. Ele reuniu sua diretoria e eles deliberaram que aqueles sócios que
quisessem retomar seus títulos teriam que pagar uma taxa simbólica e reiniciar
os pagamentos a partir do mês subsequente, e aqueles que não entrassem em
acordo, teriam seus títulos renegociados com novos sócios. Novamente os
estagiários de Olga entraram em ação com uma campanha de revitalização do
título do clube. O objetivo era incentivar os sócios inadimplentes a revitalizar
seus títulos e continuar no clube. Todo o trabalho realizado em parceria com a
imprensa continuou a dar seus frutos. Um número maior do que o esperado de
141
sócios retomou o relacionamento com o clube, e os títulos dos sócios desistentes
foram negociados rapidamente por um vendedor contratado pelo Sr. Aristides.
E, também, de acordo com as informações obtidas junto aos sócios, uma nova
programação foi montada para o clube. Enfim, os resultados foram totalmente
satisfatórios, e o Clube X reconquistava seu espaço na sociedade local.
O evento de reabertura do Clube começou pela manhã, com o descerramento
das placas nos ambientes adotados, e terminou com um grande baile de gala. Os
convites foram disputadíssimos, e a sociedade da cidade compareceu em peso. A
imprensa fez uma ampla cobertura do evento, inclusive com flashes ao vivo pela
televisão parceira do projeto. O presidente do Clube fez uma linda homenagem a
todos que contribuíram para a revitalização do clube. Olga, mais uma vez, havia
provado que sua profissão era capaz de fazer a diferença.
143
Olga ficou na empresa pouco mais de dois anos. Provavelmente teria ficado
muito mais, porém Ricardo, seu namorado, recebeu um convite para atuar fora
do país, e Olga também foi convidada para trabalhar na mesma ONG que ele.
Apesar do trabalho bem sucedido que ela vinha realizando na empresa, o coração
e a oportunidade de atuar em outro nicho de mercado era um desafio para ela.
Olga não possuía experiência no trabalho com ONGs, mas o fato de ter feito um
brilhante trabalho com uma Organização da Sociedade Civil, o Clube da cidade,
facilitou a abertura dessa nova frente de trabalho para ela.
A diretoria da empresa estava apavorada. Olga, durante várias reuniões,
argumentou que o seu trabalho poderia ter continuidade com outro profissional
de relações públicas, e indicou a sua antiga estagiária, que havia terminado o
curso, e agora era Assessora de Comunicação, para assumir seu cargo. Olga
defendeu que Raquel estava totalmente integrada a diretoria e a empresa, e
vinha desenvolvendo um excelente trabalho. Exercia uma liderança nata sobre
os colegas; era muitíssimo respeitada por todos eles, e também pelos outros
funcionários da empresa. Até na sua saída, Olga venceu. Raquel assumiria a
diretoria de comunicação da empresa.
Eu demorei um pouco mais para substituir minha companheira de moradia
e minha melhor amiga durante o tempo em que ela esteve entre nós.
O momento da despedida foi muito difícil para todos. A associação dos
funcionários preparou uma grande homenagem para Olga no Clube X, com a
ajuda do Sr. Aristides, e grande parte dos funcionários compareceu, assim como
a diretoria.
Dr. Paulo, Sr. Aristides e o presidente da Associação dos funcionários da
empresa fizeram belos discursos de despedida para Olga. Ela também se despediu
de todos com belas palavras. Raquel se emocionou ao abraçá-la e chorou bastante.
E, eu lamentei por vários meses a sua ida.
144
Olga, a encantadora de gente, agora iria lutar em outras frentes, novas
batalhas, encantando outras pessoas, em algum outro lugar do mundo, com
outros propósitos, talvez até mais nobres, aproveitando sua capacidade de
ouvir, de argumentar, de planejar, de mediar conflitos, de integrar pessoas, e
de promover o entendimento através do diálogo. Em minha lembrança ficou a
imagem da profissional comprometida, lutadora, reflexiva, e crédula no potencial
da sua profissão.
Olga ensinou a muitos de nós uma lição que com certeza não esqueceremos
nunca: tanto na vida pessoal quanto na vida profissional devemos enxergar o
outro, procurar entender os seus anseios, as suas opiniões, compreender a sua
visão de mundo e a sua cultura. É exatamente aí, que vamos fazer a diferença.
Fim
145
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