conselho comunidade negra
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Publicação sobre os 26 anos do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade NegraTRANSCRIPT
Conselho de Participação e Desenvolvimento da C o m u n i d a d e N e g r a
2 6 A n o s d e H i s t ó r i a
Governo do Estado de São Paulo
Alberto Goldman
Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
Ricardo Dias Leme
Secretaria de Economia e Planejamento
Francisco Vidal Luna
Fundação Prefeito Faria Lima - Cepam
Nelson Hervey Costa
Produção editorial | Gerência de Comunicação e Marketing do Cepam
editora | Adriana Caldas, MTB 23.878
editoração de Texto e Revisão | Eva Celia Barbosa, Márcia Labres e Silvia Galles
Direção de Arte | Michelle Nascimento
Chefia de Arte | Carlos Papai
Assistência de Arte | Janaína Alves Cruz da Silva
estagiária | Simone Midori Ishihara
Tiragem | 1.500 exemplares
Coordenação-geral | Elisa Lucas Rodrigues
Texto | Antonio Carlos Malachias e Rosangela Malachias
Colaboração | José Eduardo Malheiros Jr.
Conselho de Participação e Desenvolvimento da C o m u n i d a d e N e g r a
2 6 A n o s d e H i s t ó r i a
s ã o p a u l o , 2 0 1 0
Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam
Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal
Av. Professor Lineu Prestes, 913 – Cidade Universitária
São Paulo/SP – CEP 05508-000
11 3811-0300 | Fax: 11 3813-5969
[email protected] | www.cepam.sp.gov.br
Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra
Pátio do Colégio, 148/184 – Centro
São Paulo/SP – CEP 01016-040
11 3291-2600
www.comunidadenegra.sp.gov.br | [email protected]
É recente o reconhecimento da promoção da igualdade racial como objeto de intervenção go-
vernamental, apesar da centenária presença da temática racial no debate político nacional. Basta
lembrar que o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São
Paulo, criado em 1984, no governo de Franco Montoro, é o primeiro órgão governamental surgido
após 1888 e que inspirou a formação de outros conselhos, como os de Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e também da Fundação Palmares.
No momento em que o debate sobre a questão racial ganha contornos mais abrangentes e que
a importância e o entendimento de aspectos antes secularizados são fortalecidos, a Secretaria
da Justiça e da Defesa da Cidadania lança esta publicação, em que são relatadas todas as expe-
riências e registrados os avanços promovidos pelo Conselho de Participação e Desenvolvimento
da Comunidade Negra do Estado de São Paulo. Com essa iniciativa, o conselho cumpre um dos
principais objetivos dessa gestão, publicizando, principalmente, os heróis anônimos que tanto
contribuíram para consolidar esse órgão como principal articulador das políticas públicas para a
população negra paulista.
O Estado de São Paulo, por meio de sucessivas administrações, desde o governo Franco Montoro,
conta com grande empenho do Poder Público no sentido de criar as condições necessárias para
que a população negra, com seus representantes organizados em conselhos, faça se representar
e interferir na elaboração de políticas públicas. Isso só vem comprovar o forte compromisso com a
democracia e justiça social dos governantes que estão à frente do principal Estado da nação.
Ricardo Dias Leme
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Apresentação
Apresentação
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo 9
Histórico da Criação 11
No Coração da Cidade: Ativismo e Cultura 12
Desafios e Políticas Públicas 14
1988 – Ano da Constituição Cidadã e do Centenário da Abolição 15
Democratização do Brasil – Participação e Desenvolvimento 19
Mercado de Trabalho 22
Educação 23
– Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros (Gtaab) 23
– Caderno 63 – Raça Negra e Educação 24
– Salve o 13 de Maio? 25
Sumário
A Internacionalização da Questão Racial 27
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã 31
Reestruturação 32
Direitos Humanos e a Questão Racial 33
Quilombos em São Paulo 37
Combate ao Racismo Institucional e Promoção da Igualdade 41
Programa Educando pela Diferença para a Igualdade 42
Saúde da População Negra 43
Empreendedorismo Negro 44
Selo da Diversidade do Estado de São Paulo 44
Os Presidentes do Conselho 47
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo
O Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CPDCN) foi criado em 1984
como resposta governamental às lutas empreendidas por diversas organizações negras ao longo
do século 20. Dentre os grupos em questão, destacam-se os reunidos em torno das publicações
da Imprensa Negra Paulista (1915-1950); da Frente Negra Brasileira (FNB) (1930-1937); e do Teatro
Experimental do Negro (TEN) (1944).
Já na segunda metade do século 20 – também reivindicando emancipação democrática e direitos
civis, econômicos, políticos e sociais –, destacam-se o Movimento Negro Unificado (MNU) e outras
entidades que fazem parte da construção do contexto político de surgimento do CPDCN.
Um pouco antes dessa segunda fase de surgimento de organizações negras, o País sofre o golpe
militar de 1964, que instaura por 21 anos a ditadura militar. Esses acontecimentos dão início a
E n t i d a d e s n e g r a s r e l e v a n t e s n o s a n o s 1 9 7 0 e 1 9 8 0 , p e r í o d o d e s u r g i m e n t o d o C o n s e l h o Casa de Cultura e progresso (Cacupro), Casa da Mulher Negra de santos, Centro de Cultura Afro-brasileira (Cecab), Centro de Cultura e Arte Negra (Cecan), Geledés – Instituto da Mulher Negra, Grupo Congada de são Carlos, Grupo de Teatro Evolução de Campinas, Grupo de Teatro Rebu de são Carlos, Grupo de Teatro Zumbi de santos, Instituto do Negro padre Batista (INpB), Nação Centro de Estudos e Resgate da Cultura Afro-brasileira (Cercab), Quilombhoje
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo
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um período de luta pela redemocratização do País – sobretudo após o ano de 1968, quando
do recrudescimento do regime após o fechamento do Congresso Nacional e a edição do Ato
Institucional 5 (AI-5)1.
Movimentos sociais, lideranças religiosas de várias denominações, entidades estudantis e de
trabalhadores de diferentes setores econômicos, grupos políticos progressistas somam-se à
luta pela redemocratização, que começa a surtir efeito em meados dos anos 1970 e culmina
com o fim da ditadura em 1985.
No caso específico das entidades negras, a agenda era ainda mais ampla, por incluir também o
combate ao racismo, ainda distante de ser reconhecido2 pela Nação como problema estrutural
de produção e manutenção das desigualdades no País e instrumento perpetuador da violência
contra os negros.
Em 7 de julho de 1978, uma multidão formada por pessoas negras sai às ruas do centro de São
Paulo e ocupa as escadarias do Teatro Municipal para protestar contra o assassinato do jovem negro
Robson da Luz, morto por policiais e, portanto, pelo Estado brasileiro. Os participantes repudiam
também a discriminação racial contra quatro jovens negros, atletas de voleibol vinculados ao Clube
de Regatas Tietê, impedidos de frequentar a piscina do próprio clube em que treinavam.
O ato dá início a uma nova fase na luta de combate ao racismo no Brasil e motiva a fundação
da entidade política nacional denominada Movimento Negro Unificado contra a Discriminação
Racial e Violência Policial (MNUCDRVP).
1 Em 13 de dezembro de 1968, foi editado o Ato Institucional 5, acompanhado do Ato Complementar 38. Por esses instrumentos, o Presidente da República obteve o direito de interferir nos outros Poderes da República (Legislativo e Judiciário), além de intervir nos Estados e municípios sem as limitações previstas na Constituição. O Congresso Nacio-nal foi fechado. Instaurou-se o que passou a ser conhecido na História como golpe dentro do golpe – inauguraram-se os Anos de Chumbo. 2 Somente em 1995, durante as celebrações do tricentenário do líder negro Zumbi dos Palmares, o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso discursa reconhecendo publicamente a dívida da nação brasileira para com a população afrodescendente. (Ver gestão de Antonio Carlos Arruda da Silva.)
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
O MNUCDRVP reduziria, depois, seu nome para Movimento Negro Unificado (MNU) e alguns de seus
fundadores despontam como personagens3 relevantes dos acontecimentos que culminaram com a
criação do Conselho da Comunidade Negra.
O ano de 1979 também torna-se emblemático. Em 28 de agosto, a Lei 6.683 é sancionada, concedendo
anistia aos cassados pelo regime militar e aos integrantes do governo acusados de tortura. No dia 22
de novembro, foi aprovada a lei da reforma política, que restabelece o pluripartidarismo.
Histórico da Criação
No ano de 1982, ocorre a primeira eleição direta para governador de Estado desde o golpe militar.
Em 1983, o governador eleito por São Paulo, Franco Montoro, cria o Conselho Estadual da Condição
Feminina (CECF)4, destinado a promover políticas públicas de gênero. A criação representa, naquele
momento, uma inovação, pois pela primeira vez um órgão governamental era composto com os obje-
tivos explícitos de combater as desigualdades de tratamento e de acesso às oportunidades existentes
entre homens e mulheres, além de formular e promover políticas públicas em prol da participação e
do desenvolvimento delas.
Em 1984, lideranças negras, inspiradas com a criação do CECF e convictas da necessidade iminente de
ações de combate ao racismo (cada vez mais explícito nos atos de violência policial e de discriminação
racial no acesso ao mercado de trabalho), reivindicam a criação do CPDCN. Coube às lideranças e entidades
negras a indicação da presidência e a escolha do nome, que passou a incluir as palavras Participação e
Desenvolvimento, indicando as diretrizes, atribuições, características e os objetivos do CPDCN, ou seja,
ampliar a participação democrática e promover o desenvolvimento da população negra numa sociedade
dominada pelo autoritarismo e pelas práticas individuais e institucionais de discriminação racial.
3 Ver: SANTOS, Ivair Augusto Alves dos. O movimento negro e o estado. 1983-1987. O caso do conselho de participação e desenvolvimento da comunidade negra no governo de São Paulo. Tese (Mestrado)- Unicamp, 2001.4 O Conselho Estadual da Condição Feminina foi criado pelo Decreto 20.892, de 4 de abril de 1983, e institucionalizado pela Lei 5.447, de 1o de dezembro de 1986. Assim como o Conselho da Comunidade Negra, é composto por representantes da socie-dade civil e do Poder Público e responsável pela formulação e acompanhamento das políticas públicas dos direitos da mulher.
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo
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O CPDCN foi o primeiro órgão governamental criado no País com a finalidade de combater o racismo
e promover o desenvolvimento da população negra, articulando a política governamental às ações, rei-
vindicações e à agenda político-social da população em geral e da comunidade negra em particular.
A vocação democrática do CPDCN expressa-se na composição dos seus 32 membros-conselheiros,
dos quais dez são representantes das secretarias de Estado, indicados pelo governo em exercício,
e os outros 22 são representantes da sociedade civil, indivíduos com participação em associações
comunitárias, Organizações não Governamentais (ONGs), núcleos de estudos e pesquisas, lideranças
sociais e intelectuais, todos com reconhecidos trabalhos realizados em prol da igualdade.
Ao longo de sua atuação, o CPDCN esteve na vanguarda das ações participativas e emancipatórias,
constituindo-se em órgão de referência organizativa e representativa de muitas entidades negras,
como o Coletivo de Advogados Negros do Estado de São Paulo; o Centro de Estudos das Relações
de Trabalho e Desigualdades (Ceert); o Nação Centro de Estudos e Resgate da Cultura Afro-brasileira
(Cercab); o Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros (Ceabra), entre outras
importantes agremiações e ONGs.
No âmbito público, o CPDCN inspirou e assessorou consultivamente o governo federal na criação
da Fundação Cultural Palmares, em 1988, e do Grupo de Trabalho Interministerial para Valorização
da População Negra (GTIVPN), em 1995, que teve papel relevante para a redação do Plano Nacional
dos Direitos Humanos (PNDH), principalmente no tocante às políticas afirmativas direcionadas às
populações historicamente excluídas (indígenas, negros, mulheres).
No Coração da Cidade: Ativismo e Cultura
Durante os seus 26 anos de atuação, o Conselho da Comunidade Negra sempre esteve sediado na Rua
Antonio de Godoy, 122, 9o andar, no centro de São Paulo. Coincidentemente, tem como vizinhas duas
igrejas seculares que, além de comporem um belo conjunto arquitetônico, foram erigidas para atender
escravizados, negros forros (que obtinham sua liberdade com a carta de alforria) e nascidos livres.
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
A apenas uma quadra do CPDCN, no Largo do Paissandu, está a Igreja do Rosário dos Homens
Pretos, cuja irmandade, fundada em 1711, completará 300 anos em 2011. Em frente à sede do
Conselho, no Largo Santa Ifigênia, outra igreja registra a história dos negros de São Paulo, tendo
como padroeira uma santa africana, a etíope devota de São Mateus, Ifigênia, que carrega, em suas
mãos, uma casa que simboliza sua proteção aos sem-teto.
A sede do Conselho da Comunidade Negra está próxima à Rua Xavier de Toledo, onde, na década de
1970, a juventude negra de São Paulo divulgava seus bailes black, panfletando e vendendo convites.
Esses mesmos jovens tornaram-se protagonistas do épico movimento que tomou as escadarias do
Teatro Municipal, marco inicial do denominado movimento negro contemporâneo.
Nos anos 1980, a juventude negra fica ainda mais perto do Conselho e agita a estação São Bento
do metrô paulistano, exibindo piruetas e passos geometricamente marcados e sincronizados pelas
letras do rap e pelo break dance.
Como esquecer a Galeria da 24 de Maio? Ainda hoje congrega jovens de diferentes tendências musicais,
que se encontram nas lojas e nos salões de beleza especializados em cabelos crespos, nos quais o
visual passa de um estilo a outro: do liso a tranças e frisos; dos cabelos esculpidos e desenhados ao
penteado african american style; do corte radical ao estilo pagodeiro.
A comunidade negra é plural: jovem, adulta, idosa; católica, umbandista, muçulmana, evangélica,
candomblecista; partícipe de escolas de samba, das entidades do movimento negro, de partidos
políticos. São pessoas da capital, residentes nos diferentes bairros – da Serra da Cantareira (zona
norte) ao Capão Redondo (zona sul); da Cidade Tiradentes (zona leste) ao Pico do Jaraguá (zona
oeste); das cidades interioranas, de outros Estados brasileiros e também de outros países.
Todos têm em comum a ancestralidade africana e o fato de compor o grupo etnicorracial que está,
segundo índices oficiais e pesquisas acadêmicas, entre o mais vulnerável à exclusão do sistema
educacional e, consequentemente, do mercado de trabalho, sendo vítima preferencial da violência
policial e da mortalidade juvenil.
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo
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O Conselho da Comunidade Negra tornou-se o ponto de encontro e de referência das ações de
cidadania protagonizadas por esses(as) afro-brasileiros(as), mulheres e homens negros(as) institu-
cionalmente organizados(as) em entidades do Movimento Negro e/ou como indivíduos conscientes
ou não de seus direitos à igualdade.
Desde então, o CPDCN tem se notabilizado por realizar inúmeros encontros, reuniões, seminá-
rios – estaduais, regionais, municipais e internacionais – com o firme propósito de combater o
racismo, as discriminações, o preconceito, a xenofobia e intolerância correlatas, objetivando a
equidade e a promoção da igualdade racial e justiça social.
Desafios e Políticas Públicas
Durante 26 anos, as prioridades de cada presidência do CPDCN nem sempre coincidiram, embora
tivessem em comum o desafio de introduzir temas difíceis como racismo, preconceito, discrimi-
nação e desigualdades nas esferas do governo e da sociedade.
Hélio Santos foi o primeiro presidente, empossado na administração do governador André Franco
Montoro (1983 a 1986); Ivair Augusto Alves dos Santos, seu vice-presidente e também vice durante
o início da gestão de Eduardo Joaquim de Oliveira, foi gestor do CPDCN durante os governos de
Orestes Quércia (1987-1990) e Antônio Fleury Filho (1991-1994).
O vice-presidente Ivair Augusto Alves dos Santos tornou-se o articulador político para a criação do
CPDCN e das políticas públicas elaboradas pelo órgão.
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
Antonio Carlos Arruda preside o CPDCN no período administrado por Mário Covas (1995-1998),
permanecendo no cargo quando o vice-governador Geraldo Alckmin assumiu o governo (2001-2002),
após o falecimento do titular. Ao ser reeleito (2003-2006), o governador Alckmin empossa Elisa
Lucas Rodrigues, presidenta reeleita no governo José Serra (2007-2010).
1988 – Ano da Constituição Cidadã e do Centenário da Abolição
O histórico do CPDCN evidencia que, em sua primeira fase, as reivindicações dos movimentos
negros caminham paralela e transversalmente à luta pela democratização do País, que, na perspec-
tiva da população afrodescendente, incluía denunciar a falácia da democracia racial brasileira.
O ano do centenário da abolição da escravatura, 1988, marca a mobilização empreendida pelas
mulheres negras integrantes do Movimento de Mulheres e do Movimento Feminista. Após se
sentirem preteridas da pauta principal do IX Encontro Nacional Feminista, realizado na cidade de
Ivair Augusto Alves dos Santos é doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (2009), mestre em Ciência política pela Universidade Estadual de Campinas (1991), assessor especial da secretaria de Direitos Humanos da presidência da República e secretário executivo do Conselho Nacional de Combate ao Racismo. possui graduação em Química pela Universidade Federal de são Carlos (1975). Atualmente, é voluntário da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de sociologia, com ênfase em sociologia e Direitos Humanos, Direitos Humanos e Antirracismo, políticas públicas para a população Negra, Ação Afirmativa. Foi membro fundador, conselheiro e vice-presidente do Conselho de participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra.
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo
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Garanhuns (PE), as mulheres negras decidem organizar um movimento próprio, visto que as ques-
tões alusivas às desigualdades etnicorraciais e às subjetividades do preconceito e do racismo não
foram inseridas no plano de discussões definido pelas mulheres brancas. Naquele mesmo ano, em
Valença (BA), acontece o 1o Encontro Nacional de Mulheres Negras, que reúne 450 participantes
e delibera pela organização de entidades específicas.5
A nova Carta Magna brasileira, também chamada de Constituição Cidadã, foi promulgada em 1988, 24
anos após o longínquo março de 1964, início da ditadura. Segundo Farah (2001)6, a era dos militares
foi marcada pela centralização, pelo corporativismo e assistencialismo. No período, a gestão das
políticas sociais obedecia a “uma lógica financeira de segmentação do atendimento e de exclusão
de amplos contingentes da população do acesso aos serviços públicos”.
Com a organização dos movimentos sociais, enfatiza-se a “democratização dos processos decisórios
e dos resultados das políticas públicas, reivindicando a ampliação do leque de atores envolvidos
nas decisões e a inclusão de novos segmentos da população brasileira entre os beneficiários das
políticas públicas” (FARAH, 2001, p. 50).
Seguindo o exemplo de São Paulo, o governo federal cria, em 1988, a Fundação Cultural Palmares,
instituição vinculada ao Ministério da Cultura, para formular e introduzir políticas públicas e poten-
cializar a participação da população negra brasileira no processo de desenvolvimento. Para tanto,
procura e recebe apoio técnico do CPDCN.
5 Em 1986, juntamente com outras lideranças, a conselheira do CPDCN, Vilma Lúcia Rodrigues, organiza o 1o Encontro de Mulheres Negras de São Paulo.6 FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. Estudos Feministas, 12 (1): 47-71, Florianópolis, jan./abr. 2001.
Democratização do Brasil – Participação e Desenvolvimento
A gestão de Hélio Santos (1984 a 1986), primeiro presidente do CPDCN, inaugura uma fase inédita na
história das relações raciais no Brasil, em decorrência de o conselho ser o primeiro órgão governamen-
tal do Brasil, com foco na elaboração de políticas públicas destinadas à população negra. É presidido
pela sociedade civil, mas tem competência governamental para articular propositivamente ações de
governo e da sociedade civil orientadas para o combate ao racismo e promotoras do desenvolvimento
e da participação da população negra.
O mAiS impOrtAnte é deixAr ClArO que O CpdCn nãO CAiu dO Céu. HAViA tOdO um Ambiente COnStruídO nO SentidO de O eStAdO Se pOSiCiOnAr frente à SubCidAdAniA dO negrO. iSSO Se dAriA 96 AnOS ApóS 13 de mAiO de 1888. O CpdCn quebrA eSSe SilênCiO de quASe um SéCulO. eStA A SuA impOrtânCiA eStrAtégiCA pArA tudO O que Se COnquiStOu depOiS nO brASil nO CAmpO rACiAl. Hélio Santos
Para Santos, sua gestão notabilizou-se pelo pioneirismo das ações, pois “não havia um modelo
anterior para se levar em conta”. Portanto, um dos desafios era “efetivar a participação do Estado em
atendimento às ideias e iniciativas que jamais haviam sido feitas”, o que, de certo modo, foi alcançado
rapidamente, ainda que esse desafio esteja permanentemente em curso e em renovação.
Democratização do Brasil - Participação e Desenvolvimento
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Já o segundo desafio até hoje não foi superado e consiste em combater e acabar com o racismo
institucional contido nas esferas pública e privada da sociedade brasileira.
Para obter êxito, essa gestão mobilizou-se por dotar o CPDCN de um quadro técnico competente,
recrutado ora por meio de comissionamentos no âmbito das autarquias e secretarias de governo,
ora pelo voluntarismo ativista, advindo das organizações negras detentoras de conhecimento sobre
relações raciais em diferentes áreas, como comunicação, saúde, direito, etc. Contudo, foram as
áreas de trabalho e educação que mais avançaram em proposições, produtos e resultados.
O mencionado “voluntarismo ativista” fez Vilma Lúcia de Oliveira ser lembrada por Hélio Santos
como uma das conselheiras mais atuantes.
é fundAmentAl trAnSVerSAlizAr AS AtiVidAdeS. nãO AdiAntA Ape-nAS VOntAde pOlítiCA e reCurSO finAnCeirO. SãO fundAmentAiS ideiAS, mOdelOS de geStãO, definiçãO de pOlítiCAS que têm de Ser AVAliAdAS e mOnitOrAdAS. Hélio Santos
Hélio Santos relata que essa preocupação com a competência técnica decorre da mobilização
política que envolveu a criação do CPDCN.
Vilma Lúcia de Oliveira foi conselheira da sociedade civil na gestão Hélio santos. Organizou, em 1986, o 1o Encontro de Mulheres Negras de são paulo. Membro do partido Comunista do Brasil (pCdoB) e também militante do partido do Movimento Democrático Brasileiro (pMDB), trabalhou intensamente para a criação do CpDCN. segundo o vice-presidente Ivair Augusto Alves dos santos, Vilma Lúcia “ampliou as alianças da esquerda no pMDB”.
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
em tOrnO dA CAndidAturA de frAnCO mOntOrO OrgAnizOu-Se um fOrte grupO negrO em ApOiO à SuA CAmpAnHA. em um enCOntrO HiStóriCO OCOrridO nA ruA mAdre tHeOdOrA, nOS JArdinS, CerCA de 300 peSSOAS, num dOmingO, Se enCOntrArAm COm O CAndidAtO. reSumindO: HAViA umA pAutA dO mOVimentO negrO próximO AO mdb nAquelA eleiçãO. HOuVe pArtiCipAçãO AtiVA de muitOS militAnteS. lembrAr nOmeS nãO me pAreCe AdequAdO pOrque HOuVe muitA gente AnônimA impOrtAnte. Hélio Santos
Dentre as ações pioneiras mais relevantes na gestão de Hélio Santos destacam-se:
• A questão negra na escola pública. A atuação de Rachel de Oliveira na Secretaria de Educação,
juntamente com a pesquisa da Fundação Carlos Chagas.
• Trabalho com as centrais sindicais sobre a mão de obra negra, com Cida Bento7 e Hédio Silva
Júnior8. A partir daí, a questão racial passou a compor a pauta sindical.
• Interiorização do trabalho do CPDCN para Araçatuba, Bauru, Campinas, Limeira, Lins, Marília,
Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, Sorocaba e outras cidades do Estado de São Paulo.
7 Maria Aparecida Silva Bento é diretora executiva do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (Ceert).8 Ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo e diretor executivo do Ceert.
Rachel de Oliveira é professora doutora no Laboratório de Estudos e pesquisas para a Educação das Relações Etnicorraciais da Universidade Estadual santa Cruz, em Ilhéus (BA). Foi conselheira governamental na gestão de Hélio santos; idealizadora e coordenadora do Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros (Gtaab) e de projetos de educação desenvolvidos no CpDCN.
Democratização do Brasil - Participação e Desenvolvimento
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• Trabalho feito por Antônio Carlos Arruda da Silva, com o grupo de advogados negros, que se
tornou um modelo para que Maria da Penha Lopes Guimarães9, em seguida, criasse o primeiro
grupo de advogados negros na OAB do País.
• Edição do jornal do CPDCN, com cerca de 500 mil exemplares, distribuídos em todo o País.
• Início do trabalho sobre a formação dos policiais militares e civis e sobre a violência policial.
• Criação de quatro conselhos estaduais: na Bahia, no Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais e
no Rio Grande do Sul. Nesses Estados, a atuação do presidente do CPDCN foi pessoal.
Mercado de Trabalho
O Seminário sobre Discriminação Racial no Trabalho foi o primeiro evento organizado pelo Con-
selho da Comunidade Negra logo após a sua criação.10 Dentre as resoluções finais do seminário,
realizado no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, estavam a criação, no Conselho, de uma
Comissão das Relações do Trabalho formada por profissionais e especialistas; a realização de
seminários e cursos sobre o tema, a fim de ampliar o conhecimento do problema e as possí-
veis soluções; implementação de ações conjuntas entre o CPDCN, a Secretaria de Estado das
Relações do Trabalho e os sindicatos e as organizações do movimento negro.
A comissão foi também responsável pela elaboração e lançamento da publicação O lugar do
negro na força de trabalho (1985), tendo como parceiros a Fundação Seade e o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
9 Advogada, membro da coordenação do Instituto do Negro Padre Batista (INPB). Maria da Penha foi uma das fundado-ras da Comissão do Negro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).10 O seminário aconteceu de 30 de novembro a 1o de dezembro de 1984.
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
Educação
Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros (Gtaab)
Educação sem racismo sempre foi uma das metas prioritárias do Conselho da Comunidade Ne-
gra. Nesse sentido, a criação do Gtaab foi uma vitória inclusive para a população negra. Pensado
para oferecer instrumentos reflexivos e didáticos aos profissionais da educação e sensibilizar a
sociedade, o Gtaab chega a ter 15 pessoas coordenadas por Rachel de Oliveira, então conselheira
governamental, representante da Secretaria da Educação (SE). O tema aglutina pessoas negras
e brancas, profissionais da educação, leigos e comunidade.
A crítica ao eurocentrismo e aos estereótipos vigentes na educação formal era, acima de tudo,
propositiva, e o período histórico, 1986, obrigava o questionamento sobre o real significado do
centenário da abolição, a ser celebrado em 1988, para a tomada de consciência da relevância do
currículo na perpetuação das desigualdades educacionais.
O trabalho sistemático realizado pelo Gtaab em inúmeras reuniões, seminários e estudos con-
tribui para a publicação, pela SE, da Resolução 95, de 30 de abril de 1986. O documento dispõe
que a data 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, se tornaria no calendário escolar o Dia
de Debate e de Denúncia contra o Racismo.
Essa decisão reafirma historicamente o ativismo social negro, reconhecido pelo governo no
próprio texto da Resolução 95/1986, item “c”, que considerou “a necessidade de incorporar nas
atividades da SE os anseios da comunidade negra e as sugestões do Conselho de Participação
e Desenvolvimento da Comunidade Negra”.
Democratização do Brasil - Participação e Desenvolvimento
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Caderno 63 – Raça Negra e Educação
Outra parceria relevante ocorre com a Fundação Carlos Chagas, no período 1986-87, para a
publicação de estudos de especialistas acadêmicos sobre a temática das relações raciais na
sociedade brasileira, com ênfase no sistema educacional. O Caderno 63 – raça negra e edu-
cação torna-se divisor de águas no campo da pesquisa, por apresentar dados quantitativos e
qualitativos sobre o sistema público de ensino e vários artigos inovadores.
Uma das mais impactantes constatações dessa publicação aparece no artigo da professora
doutora Fúlvia Rosemberg sobre o alunado negro na escola pública. Rosemberg conclui ocorrer
uma expulsão sistemática da criança negra da escola, motivada por diferentes razões, como
o preconceito e a discriminação inerentes ao currículo (alheio à realidade de vida das crianças
negras e pobres). A necessidade de trabalhar fora para auxiliar a renda familiar foi outro indi-
cador levantado e, apesar das dificuldades, constata-se a persistência da criança negra em
permanecer na escola, um fato evidenciado pela constante tentativa de retorno às aulas, após
abandonos anteriores, que redundam na defasagem entre a idade do aluno e a série cursada,
bem como no seu nível de aprendizado.
Em contrapartida, demonstrando resistências elaboradas pela própria comunidade negra,
apesar da preocupação de como inserir no sistema educacional e currículo novos olhares
sobre a história e cultura brasileiras, o texto da pesquisadora Petronilha Beatriz Gonçalves
apresenta experiências educacionais alternativas para o País propostas por lideranças e as-
sociações negras.
É interessante notar que, 17 anos mais tarde, a professora Petronilha torna-se conselheira do
Conselho Nacional de Educação (CNE) e uma das redatoras das Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino das Relações Etnicorraciais (2004), orientadoras da Lei 10.639/2003, que
alterou o artigo 26-A da Lei 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), mantendo
a sua conduta acadêmica teórico-propositiva.
25
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
Salve o 13 de Maio?
A questão era apropriada para o momento e deu nome a um projeto educacional que envol-
veu as seguintes fases: (1) Programa transmitido pela Rádio e TV Cultura (RTC) intitulado O
papel da escola na erradicação do preconceito racial (transmitido em 6 de maio de 1986);
(2) Mesa-redonda intitulada A discriminação racial na educação e no trabalho e exibição do
vídeo O negro no mercado de trabalho, na sede da Secretaria de Estado da Educação, em
São Paulo, no dia 12 de maio de 1986; (3) De 13 de maio a 6 de junho de 1986, realização de
atividades didático-pedagógicas nas escolas públicas, a partir da leitura do texto Salve o 13
de maio?. Tais atividades tinham por temas o sistema escravista, as condições de vida dos
escravizados, resistências, a participação africana e afro-brasileira na construção do País,
entre outros.
Em 1988, já na gestão do novo presidente, Eduardo Joaquim de Oliveira, o Gtaab e a Comis-
são contra a Discriminação do próprio conselho elaboram a revista Salve o 13 de maio?. A
publicação foi um sucesso e transformou-se em referência obrigatória dos estudos sobre o
tema Negro e Educação no País.
A coletânea de textos, majoritariamente escritos por ativistas e intelectuais negros(as),
apresenta eventos históricos e manifestações de resistência negra nos campos da cultura,
artes, academia e ciência, visando a instrumentalizar professoras(es) dispostas(os) a inseri-
los em suas aulas. A publicação comprova, ainda hoje, a ocorrência no País de uma história
oficialmente negada e omitida dos livros didáticos.
A Internacionalização da Questão Racial
A gestão de Eduardo Joaquim de Oliveira (1987 a 1994) notabilizou-se, segundo suas próprias
palavras, por três grandes ações:
• A continuidade nos avanços promovidos pela área de educação na gestão do seu antecessor,
Hélio Santos. Essa ação alcançou repercussão nacional, inclusive preenchendo certa lacuna de
publicações, artigos e metodologias sobre a temática etnicorracial existentes na época.
• A articulação entre as Secretarias da Justiça e da Segurança Pública com governos, sociedade
civil representada pelas comunidades negra, judaica e associação dos nordestinos para assessorar
a criação da Delegacia de Crimes Raciais, outra realização de repercussão nacional, inspiradora de
órgãos similares formados em outros Estados brasileiros.
• A internacionalização de ações do Conselho por meio de intercâmbio com o governo dos Estados
Unidos da América (EUA), além de efetivar a vinda a São Paulo do líder do Congresso Nacional
Africano, Nelson Mandela, em visita pelo Brasil.
O itAmArAti Já HAViA feCHAdO A prOgrAmAçãO e O dr. nelSOn mAndelA CHegAriA pelO riO de JAneirO (...) iriA pArA brASíliA, SeriA reCebidO pelO preSidente dA épOCA e tOmAriA O deStinO dA bAHiA, Sem pASSAr pOr SãO pAulO.
Aí HOuVe umA interferênCiA dA nOSSA pArte (...) fui AO pAláCiO dOS bAndeirAnteS (...) expliquei O que eStAVA ACOnteCendO (...) O gOVernO dO eStAdO ApOiOu nOSSO deSeJO de trAzê-lO pArA SãO pAulO.
A Internacionalização da Questão Racial
28
(...) diAS depOiS embArquei pArA A áfriCA dO Sul e, lá, fui reCe-bidO nA Sede dO COngreSSO nACiOnAl AfriCAnO, Onde enfAtizei A impOrtânCiA eCOnômiCA e pOlítiCA dO eStAdO de SãO pAulO deStACAndO tAmbém O fAtO dO nOSSO eStAdO COnCentrAr, em númerOS AbSOlutOS, A mAiOr pOpulAçãO negrA dO pAíS. SenSibilizAdA pelOS nOSSOS ArgumentOS e eSfOrçOS, A dire-çãO dO CnA ligOu pArA A embAixAdA dO brASil e O dr. WAlter Suzu fez A SOliCitAçãO pArA que O embAixAdOr brASileirO inCluíSSe SãO pAulO entre AS CidAdeS ViSitAdAS pelO SenHOr nelSOn mAndelA. Eduardo Joaquim de Oliveira
Vale lembrar que, nos anos 1990, Nelson Mandela era o principal nome internacional na luta contra
o racismo, pois, ao ser libertado do cativeiro, reconduziu o processo que colocou fim ao regime
do apartheid na África do Sul. Em 1992, ano em que visitou o Brasil, as leis segregacionistas
foram, finalmente, abolidas, com a sua participação decisiva e o apoio do então presidente da
África do Sul, Frederik de Klerk.
Em 1993, Mandela e de Klerk dividem o Prêmio Nobel da Paz e as primeiras eleições
multirraciais da África do Sul acontecem em clima de paz. A vitória eleitoral de Nelson
Mandela expurga as práticas racistas do Estado sul-africano e lhe rende amplo reconhe-
cimento internacional.
Afora os esforços para a vinda de Nelson Mandela, a gestão de Eduardo Joaquim de Oli-
veira desenvolve outras importantes ações, como a manutenção do Grupo de Trabalho (GT)
de Saúde, herdado da gestão anterior; a apresentação, feita pelo conselheiro e medalhista
Ademar Ferreira da Silva, de propostas para a área de esportes; a continuidade dos avanços
obtidos na área do trabalho.
29
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
Ademar Ferreira da Silva, paulistano da Casa Verde, (29/9/1927 – 12/1/2001). Bicampeão olímpico de salto triplo, recordista sul-americano e mundial. Medalha de ouro nas Olimpíadas de Helsinque, na Finlândia, em 1952, e em Melbourne, na Austrália em 1956. Formado em Educação Física, Direito e Relações públicas. Entre 1964 e 1967 é adido cultural na Embaixada Brasileira em Lagos, na Nigéria. Conselheiro na gestão de Eduardo Joaquim de Oliveira, atua nas áreas de esporte e juventude.
Theresa Santos, carnavalesca, publicitária, atriz, autora e diretora de teatro, professora. participou dos movimentos estudantil e político no Brasil. Esteve exilada em países africanos, onde lutou pela independência. Ativista do movimento negro e de mulheres, foi assessora na secretaria da Cultura do Estado de são paulo e idealizadora do evento cultural Kizomba, que reuniu em são paulo importantes nomes da cultura negra internacional durante as celebrações do centenário da abolição. Foi conselheira governamental durante cinco gestões no CpDCN, desde sua criação.
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã
A Conferência ECO-92, acontecida no Rio de Janeiro, é o evento internacional que abre a
nova década, contextualizando a questão ambiental e os novos aspectos de inserção dos Di-
reitos Humanos. Em 1994, o Movimento de Mulheres participa da Conferência de População
organizada pelas Nações Unidas na cidade do Cairo, Egito. Em 1995, acrescido pela presença
das Mulheres Negras, o Movimento de Mulheres segue para Pequim, China, para participar da
Conferência da Mulher. Nos dois eventos, as reivindicações giram em torno dos seus direitos
sexuais e reprodutivos.
O ano de 1995 também marca o tricentenário de Zumbi dos Palmares. Se o 13 de Maio não servia
mais como data celebrativa e sim de denúncia e reflexão sobre o racismo, o 20 de Novembro
ganha relevância legitimada pelo ativismo, tornando-se o Dia Nacional da Consciência Negra11.
As entidades do Movimento Negro de todo o País articulam manifestações comemorativas dos
300 anos da “imortalidade”12 do líder quilombola Zumbi dos Palmares. A mais significativa de-
las foi a Marcha a Brasília. Empreendida em 20 de novembro de 1995, durante as festividades
oficiais do tricentenário, 20 mil pessoas oriundas de todo o País entregam ao então Presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso, uma pauta de reivindicações que começaram a ser
consideradas um ano depois, quando o governo federal edita o Programa Nacional dos Direitos
Humanos, em 1996. O Presidente Fernando Henrique, como ocorrera em 1984 com o governador
paulista Franco Montoro, também reconhece oficialmente a existência de racismo no Brasil.
11 O poeta gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009) foi o idealizador do Dia da Consciência Negra – 20 de novembro. A data come-çou a ser comemorada em 1971, com o Grupo Palmares, em Porto Alegre.12 O líder quilombola Zumbi dos Palmares foi assassinado por Domingos Jorge Velho, em 20 de novembro de 1695, na Serra da Barriga, atual Alagoas. O ativismo social optou por utilizar a palavra “imortalidade” em vez de “morte” para evidenciar que o Quilombo dos Palmares continua vivo na história, como espaço de resistência negra ao escravismo.
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã
32
Reestruturação
O advogado Antonio Carlos Arruda da Silva, antigo ativista parceiro de Hélio Santos e de Ivair Augusto Alves
dos Santos na articulação política que desencadeou a criação do Conselho, recebe o convite para presidir o
Conselho da Comunidade Negra em 1995, quando Mário Covas assume o governo de São Paulo. Recém-
egresso de uma pós-graduação na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, Arruda aceita o desafio.
Novos conselhos são criados pelo governo, porém a sua vinculação institucional é alterada. O CPDCN,
inicialmente ligado ao Palácio do Governo, especificamente à Casa Civil, passa a ter vínculo institucional
com a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica. Anos mais tarde, o então governador José Serra cria
a Secretaria das Relações Institucionais (2006) e transfere para essa nova pasta a gerência dos conselhos.
Hoje, o CPDCN está vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
Arruda inicia a reestruturação do espaço físico, assim como o restauro de suas instalações e a aquisição
de equipamentos (computadores e impressoras). Em relação ao seu funcionamento político, empreende
a estratégia de ampliar e expandir o número de conselhos municipais pelo Estado, oferecendo assessoria
para tais criações.
Essa estratégia pensada por Arruda (e equipe de novos conselheiros) possibilita sua atuação junto com os
governos municipais e a sociedade civil, revigorando, em algumas cidades, entidades, agremiações esportivas
e culturais, grupos de estudos, clubes de negros e outras formas de resistência e organizações étnicas.
Ao constatar que “nem todos(as) os(as) conselheiros(as) – governamentais e da sociedade civil – eram real-
mente compromissados com o órgão”, Arruda inicia um difícil mas bem-sucedido processo de mudança.
HAViA peSSOAS indiCAdAS pelAS SeCretAriAS de gOVernO ApenAS pArA Atender àS regrAS de funCiOnAmentO dO COnSelHO; OutrAS OCupAVAm A funçãO pOr STATUS. Antonio Carlos Arruda da Silva
33
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
Arruda narra que o início de sua gestão foi um “período difícil”. Buscou o apoio da Secretaria de Governo
e Gestão Estratégica, “a princípio reticente”, e passou a empreender viagens ao interior do Estado
para reapresentar o CPDCN e ampliar a representatividade das organizações do Movimento Negro.
Simultaneamente, iniciou um “cadastramento e banco de dados reunindo indivíduos e organizações”,
dando visibilidade a um empreendedorismo econômico de diferentes níveis: empreendedores(as)
informais, formais; pequenas, médias e grandes empresas; profissionais liberais e autônomos
engrossaram a chamada “lista negra” composta em sua gestão.
Faz visitas constantes às secretarias de governo para solicitar a renovação das indicações dos(as)
conselheiros(as). “Quase sempre eu era recebido por um assessor, nunca pelo secretário”, recorda.
Porém, sua persistência rendeu frutos. Organizações e lideranças dos municípios de São Paulo
voltaram a buscar a parceria do CPDCN para a realização de eventos e políticas públicas locais; os
secretários de governo atenderam à solicitação para indicar funcionários(as) interessados(as) em
assumir o trabalho (não remunerado) de conselheiros(as).
Direitos Humanos e a Questão Racial
O Estado de São Paulo inova ao elaborar, no final dos anos 1990 e início do novo milênio, o seu
Programa Estadual de Direitos Humanos (PEDH), que prevê políticas afirmativas e de promoção
da igualdade racial.
A revisão da gestão de Antonio Carlos Arruda da Silva demanda, portanto, a consideração do im-
pacto que o Decreto 42.209 – assinado por Mário Covas em 15 de setembro de 1997 e que lança
o Programa Estadual de Direitos Humanos – causa nas ações que passam a ser empreendidas
no e pelo CPDCN. Assim como o Programa Nacional, assinado pelo então Presidente Fernando
Henrique Cardoso, o Programa Estadual comprometia-se a promover ações de valorização e defesa
dos Direitos Humanos em São Paulo. Os itens 7 e seguintes do Programa Estadual referentes à
população negra ampliam e fortalecem as atribuições do CPDCN ao se comprometer a:
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã
34
(...)
7. População Negra
7.1 Apoiar o Conselho Estadual da Comunidade Negra e incentivar a criação de
conselhos municipais da comunidade negra.
7.2 Promover o acesso da população negra ao mercado de trabalho e ao serviço
público, por meio da adoção de ações afirmativas e programas para profissio-
nalização, treinamento e reciclagem dirigidos à população negra.
7.3 Divulgar as convenções internacionais, os dispositivos da Constituição Federal
e a legislação infraconstitucional que tratem da discriminação racial.
7.4 Revogar normas discriminatórias ainda existentes na legislação infracons-
titucional e aperfeiçoar normas de combate à discriminação racial.
7.5 Apoiar políticas que promovam a comunidade negra econômica, social e
politicamente.
7.6 Desenvolver ações afirmativas para ampliar o acesso e permanência da po-
pulação negra na rede pública e particular de ensino, notadamente em cursos
profissionalizantes e universidades.
7.7 Desenvolver campanhas de combate à discriminação racial e valorização
da pluralidade étnica do Brasil.
7.8 Implementar a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial no
Ensino.
35
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
7.9 Incluir no currículo de 1o e 2o graus a história e a cultura da comunidade
negra no Brasil.
7.10 Desenvolver programas que assegurem a igualdade de oportunidade e
tratamento nas políticas culturais do Estado, particularmente na rede pública
e privada de ensino, no que se refere ao fomento à produção cultural e à pre-
servação da memória da comunidade negra no Brasil.
7.11 Mapear e promover os atos necessários ao tombamento de sítios e docu-
mentos de importância histórica para a comunidade negra.
7.12 Promover a titulação definitiva das terras das comunidades remanescentes
de quilombos, nos termos do artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da
Constituição Federal, bem como apoiar programas que propiciem o desenvol-
vimento econômico e social das comunidades.
7.13 Desenvolver pesquisas e divulgar informações sobre a violência e discri-
minação contra a população negra e sobre as formas de proteção e promoção
de seus direitos.
7.14 Incluir o quesito “cor” em todos os sistemas de informação e registro
sobre a população e bancos de dados públicos.
(...)
(Extrato do Programa Estadual de Direitos Humanos, criado pelo Decreto 42.209, de
15 de setembro de 1997, assinado pelo governador Mário Covas)
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã
36
Naquela época,
O gOVernAdOr máriO COVAS nãO fAziA nenHumA pOlítiCA rele-VAnte de gOVernO nA áreA de SegurAnçA públiCA, nA áreA de SAúde e meSmO nA eduCAçãO, Sem que nóS (CpdCn) fôSSemOS OuVidOS. O SeCretáriO de gOVernO e geStãO eStrAtégiCA, prOfeSSOr AngAritA, mudA A pOSturA retiCente dOS AnOS iniCiAiS e reSpAldA AS AçõeS dO CpdCn. Antonio Carlos Arruda da Silva
A questão dos direitos humanos aproxima o CPDCN da comunidade judaica, contribui para o in-
vestimento nos esportes (Olimpíadas Afro-brasileiras), mas, sobretudo, favorece a realização de
políticas direcionadas à Segurança Pública – pauta histórica dos movimentos negros.
No campo da religiosidade, o CPDCN abre sua sede para babalorixás e yalorixás de terreiros de
Candomblé e também para os seguidores da Umbanda, Tradições de Orixá, Vodun e Nkise reunirem-
se regularmente, com o intuito de fortalecer sua Comissão Afro, iniciada em 1997 na Assembleia
Legislativa de São Paulo, a fim de superar preconceitos e promover o diálogo inter-religioso. A
yalorixá Sandra Epega, uma das líderes da entidade, foi conselheira na gestão de Arruda, repre-
sentando a sociedade civil.
Vitória Brasília, paulistana do Tucuruvi, é advogada e a primeira mulher a se tornar coronel da polícia Militar do Estado de são paulo, onde comandou a polícia Feminina de 1997 a 2000. Conselheira durante duas gestões de Antonio Carlos Arruda da silva, de 1995 a 2002, no CpDCN.
37
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
A violência policial, sempre denunciada pelo ativismo, recebe tratamento inovador. Assessorado
por pesquisadores(as) negros(as) da Universidade de São Paulo e Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, Arruda inicia um diálogo contínuo com a Polícia Militar, objetivando sensibilizar a
instituição para a forma como sua corporação abordava pessoas negras. Cabe lembrar que, nas
gestões anteriores, a violência policial sempre foi pautada como problema a ser enfrentado;
todavia, o contexto histórico não propiciou a continuidade formativa dos agentes policiais.
Em 2000, o CPDCN estabelece parceria com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presi-
dência da República, visando à difusão, articulação e mobilização dos municípios do interior de São
Paulo nos encontros nacionais e regionais preparatórios da 3a Conferência Mundial contra o Racismo,
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, agendada para ocorrer em setembro de
2001, na cidade de Durban, África do Sul.
A psicóloga Edna Roland, fundadora da Organização de Mulheres Negras Fala Preta, promove,
na sede do CPDCN, uma reunião entre a alta comissária das Nações Unidas, Mary Robinson, e
entidades do movimento negro, com o intuito de dar visibilidade aos índices de desigualdades e
violência que afetavam os afrodescendentes. Em 2001, Roland é alçada à categoria de relatora
oficial da Conferência de Durban.
Outra ação pioneira, alusiva aos direitos humanos, enfatizada na era de Antonio Carlos Arruda,
refere-se às populações remanescentes de quilombos localizados no Estado de São Paulo.
Quilombos em São Paulo
Atendendo a reivindicações das comunidades quilombolas do Estado de São Paulo, o governador
Mário Covas assina o Decreto 40.7231/1996 criando um GT, empossado no Palácio dos Bandeiran-
tes em 14 de maio de 1996, com o objetivo de fazer proposições, dentro dos dispositivos consti-
tucionais, que contribuissem para a efetivação do direito de propriedade aos remanescentes das
comunidades de quilombos em território paulista.
Direitos Humanos e Emancipação Cidadã
38
O Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, na
gestão de Antonio Carlos Arruda, compôs esse GT juntamente com o Instituto de Terras do Estado
de São Paulo José Gomes da Silva (Itesp), representantes da Secretaria da Justiça e da Defesa
da Cidadania, da Secretaria do Meio Ambiente, da Procuradoria-Geral do Estado, da Secretaria de
Governo e Gestão Estratégica, da Secretaria de Cultura, do Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), da Subcomissão do Negro, da Comissão
de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção SP e do Fórum Estadual de
Entidades Negras.
O GT priorizou três frentes de ação: procedimentos básicos para a condução dos trabalhos; pesquisas
bibliográficas e obtenção de pareceres técnicos; divulgação dos trabalhos e chamamento à partici-
pação. Como resultado inicial, o GT publicou, em 1997, o livro quilombos em São paulo, tradições,
direitos e lutas, distribuído pelo CPDCN à população, em especial a estudiosos do tema.
Combate ao Racismo Institucional e Promoção da Igualdade
A atual presidenta do Conselho da Comunidade Negra, Elisa Lucas Rodrigues, insiste na estratégia
de investir na educação, em diferentes modalidades e áreas, para que as práticas preconceituosas
legitimadas na sociedade possam ser questionadas e combatidas. Educar para a saúde, para o em-
preendedorismo e, principalmente, para o respeito às diferenças e a promoção da igualdade. Isso
porque, segundo Elisa, o mito da democracia racial brasileira ainda paira na sociedade, a despeito
das inúmeras manifestações racistas denunciadas e constatadas. “A coragem e a vontade política
para a promoção da igualdade são fundamentais, mas o conhecimento tem o poder de quebrar
barreiras discriminatórias”, salienta.
Os conselheiros que assessoram Elisa Lucas em sua atual administração no CPDCN são os seguintes:
• Sociedade Civil: Anair Aparecida Gomes, Bernadete Maria Augusto, Carlos Augusto dos Santos,
Celso Roberto Paulo, Claudete de Sousa Nogueira, Davilson Nascimento dos Santos, Eginaldo Mar-
cos Honório, João Carlos Benicio, José Humberto Henrique Dias, Jurandir Silvestre, Marco Antonio
Batista, Marcos Antonio Costa, Marco Antonio dos Santos, Maria Cecília Galvão N. Batista, Pérola
Monteiro dos Santos, Rosangela Aparecida Manoel, Silvia Helena Seixas Alves, Sueli Aparecida
Gonçalves, Terezinha de O. Marciano Costa e Washington Lúcio Andrade.
• Governo: Antonia Maria de Assis, Aparecido Eduardo dos Santos, Débora Aparecida dos Santos,
Ionice Ferreira Dias, Eunice Aparecida Prudente, Leandro da Silva Rosa, Luis Eduardo Batista, Mar-
garette Barreto, Roberto de Almeida e Ronaldo Simões.
Em sua gestão no CPDCN, dá ênfase à formação de professores(as) e gestores(as) da rede estadual,
atingindo um número inédito. Na área da saúde, avança ainda mais, promovendo cursos, seminários
Combate ao Racismo Institucional e Promoção da Igualdade
42
e publicando o livro Saúde da população negra. Elisa destaca o apoio dos conselheiros de ambas
as áreas pelo trabalho propositivo e especializado.
Programa Educando pela Diferença para a Igualdade
Mais de 16 mil professores da rede pública, em todo o Estado de São Paulo, foram capacitados
pelo Programa Educando pela Diferença para a Igualdade (2003-2007), um dos carros-chefes da
gestão de Elisa Lucas. O programa foi criado pelo Decreto 48.328, de 15 de dezembro de 2003,
para atender à Lei 10.639/2003 (que alterou a LDB), determinando a obrigatoriedade do ensino de
História da África e da Cultura Afro-brasileira na educação básica.
Elisa Lucas salienta que a conselheira de Ribeirão Preto, professora Sílvia Helena Seixas Alves, foi
a idealizadora do programa, tendo procurado o CPDCN para concretizá-lo.
Para que o programa acontecesse, Elisa Lucas buscou o apoio da Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas (Cenp) da Secretaria Estadual de Educação e sensibilizou o governo para a importância da
lei. O CPDCN estabeleceu, então, parceria com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), responsável pela seleção e contratação da equipe de especialistas
formada por mestres, doutores e graduados de instituições públicas como a Universidade de São
Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e a própria UFSCar.
Essa equipe atuou em todas as zonas da Região Metropolitana de São Paulo e nos municípios lo-
calizados no interior do Estado, ministrando aulas em conformidade com as orientações definidas
Sílvia Helena Seixas Alves é pedagoga, idealizadora do programa Educando pela Diferença para a Igualdade. Diretora do Instituto plural de Educação e Cidadania de Ribeirão preto e conselheira do CpDCN, representando a sociedade civil.
43
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra 26 Anos de História
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino das Relações Etnicorraciais publicadas pelo
Ministério da Educação (MEC).
O impacto e a repercussão do Programa Educando pela Diferença para a Igualdade têm sido tema
de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Dentre as mais recentes pesquisas, o trabalho
de Rafael Ferreira Silva (USP, 2010) conclui que o programa promove a “articulação de políticas de
igualdade com políticas de identidade por meio da fusão entre as modalidades de educação per-
manente e a formação continuada”.
Saúde da População Negra
A promoção de eventos e políticas sobre a saúde da população negra sempre foi pauta das diferentes
gestões do CPDCN. Em 1998, na gestão de Antonio Carlos Arruda, foi desencadeada, em parceria
com a instituição Fala Preta, uma campanha de conscientização direcionada aos afrodescendentes
sobre a probabilidade de sofrerem hipertensão arterial. Esse risco agrava-se para as gestantes.
A mortalidade materna no País também é causada pela toxemia gravídica, ou seja, hipertensão
arterial não tratada no período da gravidez. O CPDCN ainda divulgou a anemia falciforme, doença
hereditária prevalente nos negros em todo o mundo.
Em 2004 e nos anos subsequentes de sua administração, Elisa Lucas também adota a Saúde
da População Negra como prioritária, contando com o apoio de um conselheiro do CPDCN, Luis
Eduardo Batista, especialista e coordenador do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do
Estado de São Paulo (2006-2007).
O conselheiro do CpDCN Luis Eduardo Batista representa o governo. possui mestrado e doutorado em sociologia pela Unesp (2002). pesquisador científico do Instituto de saúde e coordenador da área de saúde da Associação Brasileira de pesquisadores Negros (ABpN). Tem experiência na área de saúde Coletiva, com ênfase em saúde pública, atuando principalmente com os seguintes temas: desigualdades raciais e saúde, gênero, saúde reprodutiva e sexualidade.
Combate ao Racismo Institucional e Promoção da Igualdade
44
O comitê trabalhou para sensibilizar governos dos municípios do Estado e a sociedade sobre
as especificidades que afetam a população negra na área da saúde. Pesquisas acadêmicas já
demonstram que o racismo institucional está presente no atendimento prestado em postos de
saúde e hospitais. Soma-se a esse fato a ocorrência de doenças mais propensas aos negros,
como as já mencionadas, além de diabetes e miomatoses.
A introdução do quesito cor no sistema de saúde, em especial no Programa de DST/Aids do Estado
de São Paulo, é outra política importante. No interior, cidades como Igarapava, Ribeirão Preto e
outras sediaram seminários sobre o tema.
Empreendedorismo Negro
Desde o início de sua gestão, Elisa Lucas promove encontros de empresários(as) negros(as). Em
2007, o Conselho contribuiu para que empresárias afro-brasileiras participassem do encontro De
Mulher para Mulher nos Negócios, intercâmbio bicultural e profissional entre mulheres negras
norte-americanas e brasileiras. Realizado no Memorial da América Latina, no evento foi apresentado
o trabalho no qual as empresárias norte-americanas promovem assistência às pequenas e micro-
empresas no Brasil e compartilham estratégias para o crescimento de seus negócios. Teve como
parceiros as entidades The Center For Afro-Brasilian-American Cooperation; Integrare – Centro de
Integração de Negócios; o Núcleo Cultural Niger Okan e Nations Minority Suplier Development
Council Inc; e o Memorial da América Latina.
Selo da Diversidade do Estado de São Paulo
O CPDCN apoia e divulga, entre as organizações da sociedade civil, um selo, que de acordo com o
Decreto 52.080/2007, assinado pelo então governador José Serra, deve ser concedido à empresa
e/ou instituição que “valorizar a diversidade no mercado de trabalho”.
H é l i o s a n t o s ( 1 9 8 4 a 1 9 8 6 )Hélio santos é doutor em Administração e mestre em Finanças pela Universidade de são paulo (Usp), professor das Universidades de são Marcos, em são paulo, e santana, na Bahia. Foi fundador presidente do Conselho de participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de são paulo, em 1984. Desde 1996, coordena o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para a valorização da comunidade negra no Ministério da Justiça. suas ideias sobre problemas raciais e desigualdade social estão reunidas em seu livro, como proposta de caminho para o Brasil.
E d u a r d o J o a q u i m d e O l i v e i r a ( 1 9 8 7 a 1 9 9 4 )paulista nascido no bairro do Tucuruvi, ativista do Movimento Negro, em 1983 dirigiu a paulistur. Em 1987 assume a presidência do Conselho de participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e em 1991 é reeleito presidente por mais uma gestão. Eduardo Joaquim é também um dos responsáveis pelo aprimoramento do carnaval no Estado de são paulo, tendo presidido a União das Escolas de samba de são paulo entre 1984 e 1987. Condecorado com a Medalha Anchieta pela Câmara Municipal de são paulo.
Os Presidentes do Conselho
Os Presidentes do Conselho
E l i s a L u c a s R o d r i g u e s ( 2 0 0 3 a 2 0 1 0 ) Natural de Barretos (sp) é formada em Letras. Foi a primeira mulher eleita presidenta do Conselho de participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra. Integra também o Comitê de saúde da população Negra do Estado de são paulo e o Comitê de Mortalidade Materna, vinculados à secretaria Estadual de saúde, e o Conselho Consultivo da Ouvidoria da polícia Militar do Estado de são paulo. Em suas duas gestões à frente do Conselho, destacam-se a criação do projeto são paulo: Educando pela Diferença para a Igualdade (Decreto 48.328/2003), destinado à capacitação de professores para lecionar a história da África e dos afro-brasileiros, e à realização de seminários sobre diversidade etnicorracional nas escolas, em parceria com a secretaria Estadual da Educação.
A n t o n i o C a r l o s A r r u d a d a s i l v a ( 1 9 9 5 a 2 0 0 2 ) paulistano, professor universitário, ativista do movimento negro, advogado formado pela pontifícia Universidade Católica de são paulo (pUC-sp), pós-graduado em políticas públicas pela Universidade do Texas, na Lyndon Johnson Business school, foi presidente do Conselho na gestão de 1995 a 1998, e reeleito para a gestão 1999 a 2002. Tem ainda passagens pelo sOs Racismo, Geledés e pela gestão pública nos governos municipal e estadual de são paulo.
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Conselho de Participação e Desenvolvimento da C o m u n i d a d e N e g r a
2 6 A n o s d e H i s t ó r i a
Criado em 1984 pelo governo Franco Montoro, foi o pri-
meiro órgão governamental estabelecido no País para
promover o desenvolvimento da comunidade negra. Com-
posto por representantes da sociedade civil e do Poder
Público, o Conselho de Participação e Desenvolvimento
da Comunidade Negra do Estado é responsável pela for-
mulação e acompanhamento de políticas relacionadas aos
direitos sociais, econômicos, civis e políticos da população
afrodescendente de São Paulo.