consaúde nº 46

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Jornal do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte Distribuição gratuita REPRESENTANTES DE TODOS OS SEGMENTOS DA POPULAÇÃO AVALIAM AS POLÍTICAS DE SAÚDE DE BH E DEFINEM AÇÕES E ESTRATÉGIAS PARA OS PRÓXIMOS QUATRO ANOS + www.pbh.gov.br/cms ANO 12 / FEVEREIRO 14

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Jornal do Conselho Municipal de Saúde

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Page 1: ConSaúde nº 46

S Jornal do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte Distribuição gratuita

REPRESENTANTES DE TODOS OS SEGMENTOS DA POPULAÇÃO AVALIAM AS POLÍTICAS DE SAÚDE DE BH E DEFINEM AÇÕES E

ESTRATÉGIAS PARA OS PRÓXIMOS QUATRO ANOS

12ª CONFERÊNCIA MUNICIPAL

DE SAÚDE

+O psicólogo Arnor

Trindade fala sobre a política de redução de danos aos usuários de

crack em BH

ENTREVISTA

Con aúdewww.pbh.gov.br/cms

ANO 12 / FEVEREIRO 14#46

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Opinião

AVOZDOLEITOR

@cmsbhfacebook.com/cmsbhEnvie sua opinião ou sugestão [email protected]

Gostaria de comemorar com os conselheiros

de BH o sucesso das conferências

de saúde. Estou super feliz

com o trabalho que realizamos.

A versão digital do jornal está disponível em www.pbh.gov.br/cms

Uma pergunta recorrente sobre esse jornal é: por que as unidades de saúde

recebem tão poucos exemplares? Afinal, são muitos elogios às matérias e

informações veiculadas sobre o SUS.Parabéns ao ConSaúde.

Prezada Claudete,Os exemplares do jornal ConSaúde

destinados às unidades do SUS-BH são divididos de acordo com o número de

equipes de saúde da família, dentro da tiragem total.

EditorialExpediente

Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte Av Afonso Pena, 2336, Pilotis, Funcionários, Belo Horizonte MG Cep: 30.130-007

TELEFONES:(31) 3277-7733 FAX: (31) 3277-7814COMUNICAÇÃO:(31) 3277-5232

ConSaúde é uma publicação do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, editado por sua Assessoria de Comunicação. É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. O artigo assinado é de responsabilidade de seu autor e não expressa necessariamente a opinião do jornal.

CÂMARA TÉCNICA DE COMUNICAÇÃO

Adolpho von Randow NetoCOORDENADOR

MEMBROS: Adolpho von Randow Neto, Cleunice Coura Cou-tinho, Ednéia Miranda dos Santos, Érico Moraes Colen, Ione Martins Fortunato, Lourdes Machado, Martha Auxiliadora Ferreira Reis, Neide Vidal Costa, Oswaldo Romualdo de Paula Filho, Sara Dalia Barbosa, Simone Regina Gomes Alexandre, Wallace Medeiros Xavier, Waldomiro Ferreira Cruz

SECRETARIA EXECUTIVA

Alessandra Reis, Eleciania Tavares, Feruze Bolmene, Martha Caroline, Terezinha Santiago, Wanderson Araújo

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

Luciane Marazzi MG 14.530/JPJORNALISTA

Ana TomaselliPROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Jéssica SilvaESTAGIÁRIA

Wagner MendesESTAGIÁRIO

Santiago MartinsCHARGE

IMPRESSÃO: Rona Editora

Tiragem: 20.000 exemplares

www.pbh.gov.br/cms [email protected]

[email protected]

Ederson Alves da SilvaPRESIDENTE

Maria Cristina Teodoro PereiraSECRETÁRIA GERAL

Wallace Medeiros Xavier1ª SECRETÁRIO

Gislene Gonçalves dos Reis2ª SECRETÁRIA

MESA DIRETORA DO CMSBH

multiplique vidas. Deixe a sua marca,

Doe órgãos!

Nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2013 realizamos a 12ª Conferência Municipal de Saúde de Belo Horizonte com o tema “Acesso, qualidade e transparência na atenção à saúde em BH” e o objetivo de avaliar o Plano Municipal de Saúde que vigorou de 2010 a 2013 e propor novas diretrizes para um novo plano que irá vigorar de 2014 a 2017. De forma participativa e democrática tivemos a presença de mais de quatro mil pes-soas nas 147 conferências locais, nove conferências distritais e na Conferência Muni-cipal, onde os usuários, trabalhadores, gestores, prestadores de serviços e formadores de recursos humanos debateram a saúde pública no município, avaliando e propondo melhorias para os serviços de saúde do SUS-BH. Outra conquista do controle social no final de 2013, foi a realização do 4ª Seminário de Conselhos Hospitalares, promovido pelo Hospital Sofia Feldman, que contou com a participação de representantes de outros Conselhos de Saúde, proporcionando a troca de experiências entre eles. Nessa mesma linha, o conselho de saúde do Hospital das Clínicas realizou um seminário para renovação do seu conselho e aprovação do novo regimento. A renovação e o funcionamento dos conselhos hospitalares conve-niados ao SUS-BH é um desafio que ainda se faz presente para garantir a participação da população e a transparência da gestão. Temas contemporâneos como o enfrentamento da violência contra a mulher e o uso de crack e outras drogas foram destaques nesta edição, trazendo informações e novos apontamentos para debates e estratégias futuras. E 2014 já começa com muito trabalho e novidades. Foi convocada pelo Conselho Na-cional de Saúde, a IV Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador com o tema “Saú-de do trabalhador e da trabalhadora, direito de todos e dever do Estado”. O CMSBH participou das reuniões da Comissão Organizadora Nacional e Estadual para contri-buir na organização e na divulgação da importância da participação dos conselheiros de saúde e da população nesta atividade. Então vamos à luta e boa leitura!

12ª Conferência Municipal de Saúde

Mesa Diretora

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S Con aúde

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Em 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) pro-clamou o dia 25 de novembro como o “Dia Interna-cional para Eliminação da Violência contra Mulher”, com o objetivo de incentivar os governos e a socie-dade civil organizada a realizarem eventos anuais

para conscientizar e extinguir a violência que destrói a vida de milhares de mulheres no mundo. Para o Ministério da Saúde, a abordagem da violência é um tema de relevância em saúde pública, pois é um fenômeno que acarreta enorme impacto social sobre a saúde do indiví-duo e da sociedade. De acordo com a pesquisadora da UFMG, Elza Melo, o enfrentamento da violência exige estratégias de intervenção, envolvendo implantação de políticas que visam a promoção de “mudanças estruturais, sócio-culturais, econômi-cas e subjetivas capazes de alterar as condições que favorecem esse fenômeno.”

CONSTRUINDO ESTRATÉGIAS Diante da complexidade dos fenômenos que envolvem a vio-lência e da necessidade desta abordagem integral às mulheres e adolescentes, faz-se necessária a capacitação dos profissionais tanto dos serviços especializados, quanto dos profissionais de to-dos os pontos de atenção que funcionam como via de acesso aos serviços de saúde (unidades básicas, ambulatórios especializa-dos, portas de urgência pré-hospitalar e hospitalar). Nas diversas estratégias, necessárias para o enfrentamento da violência, nor-matizar procedimentos e protocolos não é o suficiente. É necessá-rio que a abordagem do tema aconteça em todos os serviços que atendam a mulher, seja nos serviços de saúde, assistência social, promotoria, delegacia etc. A realidade do território nacional apresenta o tema da violência como um dos mais difíceis aspectos a serem enfrentados. A atua-ção dos profissionais de saúde e as diversas redes assistenciais nos mostram uma desarticulação dos diversos atores e dos espaços que integram nesta rede. A abordagem integrada no atendimen-to à mulher vítima de violência é promovida pelo Projeto de Aten-ção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, lançado em fevereiro de 2013, na UFMG, com o Seminário “Para elas, por elas, por eles, por nós”. A capacitação de profissionais de referên-cia no atendimento às vítimas é a estrutura central do projeto, por meio de cursos e seminários em todo o país. O objetivo é formar profissionais humanizados, capazes de receber e acolher as mu-lheres, de modo que elas se sintam seguras para procurar ajuda e denunciar os casos – o que não acontece na maioria das vezes, já que cerca de um terço das mulheres denuncia atos de violên-cia sofridos. O projeto também realiza treinamentos em hospitais para o atendimento de vítimas de violência sexual. Informações sobre o projeto: http://www.medicina.ufmg.br/paraelas . Precisamos entender as formas em que se dá a concepção da violência contra a mulher e a partir deste entendimento propor mudanças no acolhimento às vítimas, verificando de que maneira que a sociedade pode contribuir para acabar com esta violência, pois esta luta é de todos, da sociedade, dos profissionais, das mu-lheres e dos homens.

Dialogando sobre a Violência Contra a Mulher

CONTEXTUALIZANDO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER A pesquisadora da Fiocruz, Cecília Minayo, diz que a violência é um fenômeno sócio histórico que acompanha a humanidade desde seus primórdios. Por afetar a saúde individual e coletiva tornou-se um problema de saúde exigindo políticas públicas e ações específicas para a sua abordagem. A violência gera aten-dimentos na rede de atenção tanto de urgência e emergência, quanto no segmento ambulatorial para tratamento das seque-las geradas, isso quando não acarreta a morte. Uma pesquisa realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abra-mo, em parceria com o SESC, mostra uma triste realidade: a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil e mais de dois milhões são espancadas por ano, sendo 175 mil por mês, quase seis mil por dia, 243 por hora, quatro a cada minuto e uma a cada 15 segundos. A cada quatro minutos uma mulher é violentada em sua própria casa e 90% dos casos de violência contra a mulher são cometidos por pessoas de seu convívio. Mais de 40% das agressões resultam em lesões cor-porais graves ou morte. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), uma em cada três ou quatro meninas é abusada sexualmente antes de completar 18 anos. A violência contra a mulher em todas as suas formas (domés-tica, psicológica, física, moral, sexual, patrimonial, institucional, tráfico de mulheres etc.) é um fenômeno que atinge mulheres de todas as classes sociais, origens, regiões, estados civis, esco-laridade ou raças.

LEI MARIA DA PENHA Apesar da criação da Lei Maria da Penha em 2006, não hou-ve uma redução significativa dos casos de violência contra a mulher no país. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (IPEA), no período de 2001 a 2006, anterior à lei, as taxas de mortalidade eram de 5,28 por 100 mil mu-lheres; de 2007 a 2011, depois da lei, a taxa registrada foi de 5,22 mortes para cada 100 mil mulheres. O enfrentamento da violência pela mulher não se rompe por lei, ela se rompe pelo empoderamento.

Mesa Diretora

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Notícias do Conselho

Doenças crônicas em pauta no Conselho

A Comissão de Saúde e Saneamento da Câmara Municipal de BH realizou no mês de dezembro uma audiência pública para discutir a falta de leitos em UTI’s neonatais. O objetivo da comissão é dar continuidade ao debate para encontrar saídas que revertam a si-tuação, apresentando melhorias no atendimento de saúde. De acordo com a comissão, os leitos são suficientes para atender a demanda de Belo Horizonte. Entretanto, a cidade recebe pacien-tes de outros municípios que não possuem este tipo de serviço, o que provoca a falta de leitos para acolher a capital. O representan-te do Hospital Risoleta Tolentino Neves, Henrique Leite, afirmou que 50% das vagas do hospital são ocupadas por moradores da região metropolitana. Ainda existem problemas como o modelo de atenção à saúde, a valorização do profissional e da gestão participativa. Durante a audiência foi apontada a necessidade de levar o serviço para per-to do cidadão e cobrar investimentos do Estado, colocando em questão as prioridades da região. Para o coordenador do Hospi-tal das Clínicas, Vitor Leite, crianças prematuras e com problemas

Audiência pública discute a falta de leitos neonatais

O Conselho Municipal de Saúde (CMSBH) aprovou, em dezem-bro de 2013, o Plano de Ações e Estratégias para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) para o período de 2013 a 2016, elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). De acordo com a Referência Técnica em Vigilância em Saúde e Informação, Lenice Ishitani, as propostas do plano estão relacionadas à abordagem de doenças do aparelho circulatório, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes, causadas por fatores de risco, como tabagismo, inatividade física, alimentação inadequada e obesidade que, de acordo com pesquisa do Minis-tério da Saúde, correspondem a 58% dos óbitos do país. Ainda de acordo com Lenice Ishitani, o plano tem a função de promover o desenvolvimento e a implementação de ações para a prevenção e o controle da DCNT e seus fatores de risco, produ-zindo uma análise de dados que aprimore os sistemas nacionais de informação, fortalecendo a vigilância e o desenvolvimento de ações assistenciais.

O CMSBH validou as propostas do plano com as recomen-dações sugeridas pelas câmaras técnicas. A SMSA deve, por-tanto, providenciar a compra da medicação para o controle do tabagismo quando houver desabastecimento por parte do Ministério da Saúde, evitando a descontinuidade do tra-tamento, e também, que a oferta deste plano seja ampliada para todas as Unidades Básicas de Saúde e CERSAM’s.

*Reduzir a taxa de mortalidade prematura*Reduzir o crescimento da obesidade em adultos*Reduzir a prevalência de tabagismo*Aumentar o consumo de frutas e hortaliças*Ampliar o número de Academias da Cidade*Ampliar a cobertura de mamografia em mulheres de 50 a 69 anos*Manter a cobertura de exame citopalógico do câncer do colo de útero em mulheres de 25 a 64 anos

METAS

Seminário discute saúde e violência contra a mulher

O plenário de Conselheiras do Conselho Municipal de Saúde promoveu no final do mês de dezembro o Seminário “Acesso, Equidade e Atenção – Direitos da Mulher”. Realizado no auditó-

rio do BDMG, o seminário abordou temas como a prevenção da Sífilis - doença que vem aumentando entre as mulheres -, o racismo institucional, a violência contra a mulher e o direito à saúde pela população negra. Entre os dados apresentados está o fato de que mais da metade das mulheres brasileiras sofrem violência verbal no parto e 60% das mortes violentas no Brasil, causadas por armas de fogo e acidentes de trânsito, envolvem pessoas com raça e cor negra. No caso das mulhe-res, a violência doméstica é um agravante. Mais de 75% das mulheres brasileiras em 15 capitais relatam já terem sofrido algum tipo de violência. Durante o seminário foram apresentadas ações que visam melhorar o atendimento às mulheres no SUS, especialmente às mulheres de raça e cor negra, como as novas estruturas de rastreamento e diagnóstico da Anemia Falciforme e o Proje-to Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência (Para elas, por elas, por eles, por nós), desenvolvido pela UFMG.

causados pelo nascimento precoce, acabam levando uma internação prolongada, inviabilizando espaço nos hospitais. A secretária geral do CMSBH, Maria Cristina Teodoro, reconhece que falta um diálogo entre os conselhos de saúde da região metropolitano no monitoramento dos atendimentos realizados na capital, equacio-nando os leitos para atender toda a demanda da região.

Atualmente, Belo Horizonte recebe pacientes de outras regiões, favorecendo a falta de leitos neonatais na capital

Seminário de Mulheres apresenta ações que visam melhorar o atendimento voltado a elas na rede SUS

Ana Tomaselli

Ana Tomaselli

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O Hospital Sofia Feldman promoveu em dezembro, o 4º Seminário de Conselhos Hospitalares, que teve como tema “Conselhos de Saúde: desafios, atribuições e gestão”. O evento contou com a participação da Mesa Diretora do Conselho Municipal de Saúde, além de outros representantes dos conselhos distritais e dos conselhos hospitalares. Atualmente, existem 33 conselhos hospitalares em Belo Horizonte, porém, apenas 11 funcionam ativamente. O encontro foi promovido para que os conselheiros trocassem ex-periências e falassem um pouco sobre o dia a dia dos seus respectivos conselhos. Os pontos mais citados estão relacionados com a falta de acessibilidade, a relação com a gestão do hospital, a participação da diretoria nas reuniões e os desafios tecnológicos.

I Fórum de Segurança do Paciente na Atenção Obstétrica e Neonatal

Con aúdeS A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) rea-lizou o I Fórum de Segurança do Paciente na Atenção Obstétrica e Neonatal de Belo Horizonte, baseado na proposta do Programa Nacional de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde. O evento aconteceu em dezembro, no auditório da Associação Médica de Minas Gerais, e teve a finalidade de informar e mobili-zar a sociedade sobre o aprimoramento da qualidade da atenção obstétrica e neonatal, e sobre a redução dos índices de morbi-mortalidade materna e infantil do município. Uma mesa redonda foi composta para discutir as diretrizes na-cionais em atenção obstétrica e neonatal e a segurança do pacien-te. Foram debatidos temas como o papel da Vigilância Sanitária, a experiência em Saúde Suplementar e a colaboração das mulheres neste processo. Os participantes puderam definir nos grupos de debate propostas que serão encaminhadas à SMSA. A secretária geral do Conselho Municipal de Saúde, Maria Cristi-na Teodoro, foi convidada para a mesa de abertura e falou sobre a importância de participar deste debate que é tão relevante para a humanização, a atenção qualificada e o cuidado à saúde materna e neonatal. “Espero que a união de diferentes atores da socieda-de que estão em busca deste objetivo possa lançar um olhar mais aguçado sobre o tema, traçando novos contornos, que proporcio-nem mais satisfação para pacientes e profissionais envolvidos”.

4º Seminário de Conselhos Hospitalares do HSF

Ana Tomaselli

Segundo a representante do conselho do Hospital da Baleia, Vitória Batistelli, os conselheiros tem que correr atrás para conseguir materiais e equipamentos, além de procurar facilitar a acessibilidade do usuário. “Estamos fazendo uma obra no anexo Antônio Mourão, que vai facilitar o acesso do usuário e que já está quase concluída”, acrescenta. A secretária geral do Conselho do Hospital Júlia Kubitschek, Marilene Salete, diz se sentir preocupada com a função do Sistema Único de Saúde e pergunta se ele realmente é para todos. De acordo com a secretária, no Conselho do Júlia não se discute mais saúde e sim sobre a terceirização dos serviços. Já o presidente da Associação Comunitária do Hospital Sofia Feldman, Jorge Nolasco, afirma que há 25 anos, a Associação procura defender o usuário. “Quando chego e vejo que o Sofia é 100% SUS é porque o controle social está fiscalizando isto”, fala. Segundo José, o hospital é o único em que a comunidade participa com a gestão para melhorá-lo e só com união é possível fazer isso. A Mesa Diretora do CMSBH realizou uma oficina em que os participantes puderam falar sobre os desafios, o papel dos conselheiros hospitalares e do relacionamento com a gestão. Ainda nesta oficina, foi possível fazer su-gestões e propostas para o Conselho Municipal de Saúde sobre melhorias nos hospitais. A Mesa Diretora se comprometeu a reunir todas as suges-tões e fazer um documento para qualificar a fiscalização nos hospitais. O presidente do CMSBH, Ederson Alves, ressaltou a importância do Con-selho do Sofia para o controle social, sendo ele uma referência para outros hospitais. “O Conselho precisa ser o agente das ações e os conselheiros precisam ajudar falando das necessidades e da realidade que encontram nos hospitais que representam”, diz.

O encontro promovido pelo Hospital Sofia Feldman teve como foco a troca de experiências entre conselhos

A secretária geral do CMSBH, Maria Cristina Teodoro, falou sobre a importância da humanização obstétrica

A Mesa Diretora do CMSBH coordenou a oficina sobre troca de experiências no controle social

Jéssica Silva

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Notícias do Conselho

No dia 14 de janeiro, membros da Câmara Técnica de Controle, Ava-liação e Municipalização realizaram uma visita ao espaço do Centro de Medicina Nuclear (INAL) na Santa Casa, para verificar uma denúncia recebida pelo CMSBH, de que a unidade não estaria atendendo aos usuários do SUS. O atendimento do INAL é especializado em Medici-na Nuclear, fundamental no diagnóstico e tratamentos em Oncologia, Nefrourologia, Mastologia e Patologia. A eficácia da Medicina Nuclear é reconhecida especialmente em tratamentos de quimioterapia. O médico e coordenador de atendimento, Álvaro Barroso, explica que a unidade vem sofrendo com a falta dos repasses financeiros re-alizados pela Santa Casa. “Com esta falta de pagamento chegamos a ficar com o serviço paralisado e quando voltamos a funcionar, muitas vezes estamos sem verbas para atender a todos os pacientes do SUS”, afirma o médico.

Os maiores agravantes são os altos custos demandados pela unidade, que envolvem a manutenção de aparelhos e da área física, contratação de funcionários especializados e compra de materiais importados, ações que dependem exclusivamente dos repasses. Álvaro Barroso relatou à câmara técnica que, por esse motivo, só estão sendo atendidos dois pa-cientes por semana. “Como a prioridade no atendimento deve ser do SUS e com a demanda crescente pelos serviços é preciso que a Santa Casa regularize essa situação, viabilizando o aumento no número de atendi-mentos e agilizando a fila de espera”, diz. O presidente do CMSBH, Ederson Alves da Silva, informou que o Con-selho deve convidar a SMSA e a Santa Casa para uma reunião na segunda quinzena de fevereiro, com o objetivo de esclarecer a situação. Com isso, depois de ouvir as duas partes, Ederson explica que o tema será discutido no plenário do Conselho.

CMS visita Centro de Medicina Nuclear

Venda Nova realiza mais um Conselho na Praça O Conselho Distrital de Saúde de Venda Nova (CODISA-VN) promo-veu a 6ª edição do projeto Conselho na Praça, realizado desta vez no bairro Lagoa, na Praça Paz Celestial. A comunidade local participou das atividades preventivas sobre doenças cardíacas e hipertensão, oferecidas pela Faculdade de Biomedicina da Faminas, que disponibi-lizou a aferição de pressão arterial e montou uma tenda didática sobre os cuidados com a dengue. A presidente do CODISA-VN, Ana Maria de Souza Mattos, ressaltou que o Conselho na Praça vem contribuindo de maneira significativa para a divulgação do controle social na região e arregimentado mais pessoas a participar. “Por isso nos mantemos a cada edição mais estimulados a continuar”, enfatiza. A aposentada Terezinha Júlia de Lima, 76, disse que participou de todas as edições do projeto. “Gosto de conversar, de interagir com as pessoas, de fazer amizades e de cuidar da saúde”, revela. Outra apo-sentada, Delci Nascimento de Souza, também acredita que o estímulo de cuidar da saúde é o que a faz sair de casa e participar. O evento contou também com atividades corporais de Lian Gong em 18 Terapias, teatro, educação ambiental e distribuição de mudas de plantas. Estiveram presentes o Conselho Municipal de Defesa da

Criança e do Adolescente e o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Ederson Alves da Silva, além dos conselheiros Adolpho von Randow Neto e Waldomiro Ferreira da Cruz.

Uma comissão de conselheiros municipais de saúde visitou as obras do Hospital Metropolitano do Barreiro, para verificar o andamento da construção, retomada no início do mês de janeiro. A empresa respon-sável pela continuação das obras é o Consórcio Novo Metropolitano, que está em fase de contratação de funcionários e implantação de espaços para escritório, almoxarifado e refeitório. De acordo com a responsável pela qualidade, meio ambiente, saúde e segurança do local, Darlene Fátima, as obras devem efetivamente começar no início de fevereiro, época em que o processo de organi-zação e planejamento devem ser concluídos. O presidente do CMSBH, Ederson Alves, afirma que a partir de ago-ra será necessário acompanhar a execução das obras com mais frequ-ência. “Vamos fiscalizar e cobrar respostas, considerando o prazo final de entrega do hospital estabelecido pela prefeitura”, disse.

Hospital Metropolitano do Barreiro

Luciane Marazzi

Conselho na Praça oferece testes de glicemia e hipertensão

Conselheiros Municipais visitam obra do Hospital Metropolitano para verificar o andamento da construção

Wagner M

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Notícias do Conselho

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Con aúdeAn

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O Conselho Municipal de Saúde (CMSBH) realizou entre os dias 28 e 30 de novembro, a 12ª Conferência Municipal de Saúde, cujo tema foi “Acesso, qualidade e transparên-cia na atenção à saúde em Belo Horizonte”. A cada dois anos, a conferência de saúde torna-se um momento de

contribuição da sociedade para definir os principais pontos a serem contemplados pela política de saúde, que será elaborada e implemen-tada nos próximos quatro anos no município. As propostas têm a fun-ção de orientar a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) na elaboração do Plano Municipal de Saúde, estabelecendo diretrizes e objetivos. Desde 2009, ano em que foi realizada a 10ª Conferência Municipal de Saúde, a população tem contribuído na construção do Plano Munici-pal de Saúde, garantindo assim a transparência e democratização do processo. A 12ª Conferência foi realizada em três etapas, sendo que a primei-ra corresponde ao nível local (centros de saúde, UPA’s e CERSAM’s), com a finalidade de elaborar as propostas de acordo com a realidade de cada comunidade e escolher os delegados para o debate a nível distrital e posteriormente, municipal. Essa metodologia ascendente vem reafirmar a importância da participação de representantes locais, garantindo assim, a construção descentralizada das propostas apro-vadas para compor o Plano Municipal de Saúde. Ao todo quatro mil pessoas participaram das três etapas e cerca de 1.300 estiveram pre-sentes na etapa municipal. O tema principal da conferência foi dividido em cinco diretrizes que envolvem questões como a gestão do cuidado à saúde; gestão de redes de atenção especializada; gestão do trabalho e do conhe-cimento; gestão e regionalização da saúde; e controle social. Devido à abrangência do tema, os delegados foram separados em grupos, que ficaram responsáveis pela avaliação e escolhas das propostas pré-aprovadas nas conferências distritais.

25 ANOS DO SUS Durante todo o processo de debate, foi possível avaliar os pontos frágeis e reconhecer os avanços dos quatro últimos anos na saúde da capital. O secretário municipal interino de Saúde, Fabiano Pimenta,

apresentou uma síntese da execução de prioridades definidas em 2009, na 10ª Conferência Municipal de Saúde. Foram revelados dados de programas importantes como o Saúde da Família (PSF), incluindo questões bastante debatidas nas etapas local e distrital, como a po-lítica de saúde mental. O secretário garantiu que grande parte dos esforços foi empregada em equipamentos de saúde que investem em ações de cuidado e prevenção, como por exemplo, o Programa Academia da Cidade e Saúde na Escola. Segundo ele, políticas como estas só podem dar certo se o comprometimento com o SUS for com-partilhado entre gestores, trabalhadores e usuários. “Nesta conferên-cia, em cada votação, os conselheiros devem manter uma frente de defesa da saúde, procurando caminhos para contornar grandes difi-culdades, como o financiamento”, acrescenta Fabiano.

POR LUCIANE MARAZZI

Especial

ACESSO,TRANSPARÊNCIA

QUALIDADE E

A 12ª Conferência Municipal de Saúde reuniu cerca de 1.300 belorizontinos para planejar e definir estratégias orientadoras

das ações do SUS-BH no período de 2014 a 2017

Conselho na Praça oferece testes de glicemia e hipertensão

O presidente do CMSBH, Ederson Alves da Silva, também apresen-tou a prestação de contas das atividades do controle social e ressaltou que é preciso planejar as ações do SUS com o compromisso de que todas as propostas serão executadas pela prefeitura e pela Secretaria Municipal de Saúde. no adianta fazer este plano se o prefeito e o sec nnA etapa municipal contou com a presença da presidente do Con-selho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, que enfatizou ser preciso pensar nos conselhos como uma esfera pública de parti-cipação direta, representante da sociedade organizada, e que precisa perceber a conferência para além de um evento e sim como um mo-mento de discussão social e política. “A maior atribuição do conselho e dos conselheiros é mobilizar a população, a classe trabalhadora, que está chegando agora, para que eles possam atuar e saber que o SUS precisa é do protagonismo da sociedade dentro da formulação de políticas públicas. Ser conselheiro não é só fiscalizar. O tema desta conferência é bastante amplo e a presença popular é uma força que nenhum gestor pode ignorar”, argumenta. Seguindo a mesma linha, o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Geraldo Heleno Lopes, acredita que “o papel dos conselhos é fundamental no apontamento de demandas e necessidades locais” e apesar dos 25 anos de existência do SUS é preciso mobilizar a co-munidade, porque muitos ainda desconhecem o funcionamento da saúde pública.

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+* Implementar ações de cuidado para a saúde do homem * Maior investimento em prevenção com acesso regionalizado* Realizar ações de prevenção de câncer de colo de útero, mama e próstata* Implantar Centros de Reabilização (CREAB) em todas as regionais * Avançar no cuidado à população em situação de rua* Aprimorar as políticas de prevenção e controle da dengue e leishmaniose

ATENÇÃO PRIMÁRIA

PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE O processo final de aprovação das propostas que irão nortear a configura-ção do Plano Municipal de Saúde revela a visão de um sistema que precisa de mais infraestrutra de trabalho e atendimento, equipes multiprofissionais e maior abrangência do PSF, mais recursos para o financiamento dos servi-ços, com ênfase no desenvolvimento da política social do SUS. Nas ações intersetoriais foi priorizado o desenvolvimento de parcerias com outras secretarias municipais, além de melhorar a interlocução com progra-mas já existentes, como por exemplo, o Saúde na Escola. A ampliação ime-diata de novas unidades da Academia da Cidade, nos locais que ainda não possuem, também foi considerada fundamental. As já existentes deverão funcionar em três turnos, expandindo o horário de funcionamento. A atenção especializada à saúde também esteve entre os pontos mais de-batidos do encontro, devido à demanda de usuários por exames laborato-riais, de imagem e de consultas com especialistas. A principal reivindicação foi a ampliação dos serviços prestados pelo município. Contudo, para os delegados, a prioridade é melhorar o acesso aos serviços especializados. como o aumento da oferta de apoio ao diagnóstico, com a consequente redução de filas e do tempo de espera entre o agendamento e a visita ao profissional.

Ana Tomaselli

Mesa de abertura da 12ª Conferência Municipal de Saúde

PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE

A atenção primária inclui parte dos serviços mais demandados pela popu-lação, sendo inclusive, a principal porta de acesso ao serviços dos SUS-BH por meio do PSF. Por esse motivo, a ampliação e qualificação da cobertura do programa para 100% da população belorizontina foi a principal reivindicação dos delegados. Como estratégia, foi sugerida a extensão da cobertura nas áreas de baixo risco de vulnerabilidade social, de acordo com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A padronização do nú-

ATENÇÃO PRIMÁRIA

Mais uma vez o plenário da conferência reafirmou seu compromis-so com o fortalecimento, a ampliação e a consolidação da rede de atenção ao cidadão em sofrimento mental e aos usuários de álcool e outras drogas, garantindo a plena integração com os demais pontos de atenção do SUS-BH. O tratamento deve ser sustentado em liber-dade, reforçando os princípios da reforma psiquiátrica, ampliando o atendimento dos Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAM), incluindo as unidades de Álcool e Drogas (CERSAM AD) e as unidades destinadas ao atendimento de crianças e adolescentes (CERSAMI). Foi aprovada a implantação dos CERSAM’s Norte e Centro-Sul, seis

SAÚDE MENTAL

morar o SUS”. Sentimento parecido é compartilhado com a trabalhadora do Centro de Especialidades Odontológicas de Venda Nova, Márcia da Sil-va, que participou do grupo que discutiu a atenção especializada, como o agendamento de consultas e exames. Entretanto, a delegada não gostou do processo repetitivo da metodologia, e disse que das 57 propostas avaliadas pelo grupo, muitas eram iguais. “Acho que devemos nos esforçar mais para que o processo de redação final seja mais qualificado”, acrescenta. Da mes-ma forma, a promotora de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, advertiu que é preciso estabelecer poucas propostas para objetivar ações mais asser-tivas. “O excesso de deliberações esvazia o trabalho da conferência”, diz. Entre as propostas discutidas nos 30 grupos, as que apresentaram pontos divergentes foram encaminhadas à plenária final para avaliação e votação. Questões como as obras de construção e reforma de unidades básicas de saúde e a Política Municipal de Saúde Mental estiveram entre os pontos mais debatidos da conferência, como enfatiza a gestora Zeila de Fátima Marques. “No relatório final, a saúde mental foi a que mais obteve solici-tação de mudanças na regulação, embora todas as propostas eleitas pelos grupos tenham sido aprovadas, apenas com retificações no texto”, observa.

mero máximo de quatro equipes por centro de saúde deverá garantir a qualidade da gestão do cuidado no território, assim como a redu-ção do número de indivíduos integrantes de cada uma das equipes para o máximo de duas mil pessoas. Foi aprovada ainda a ampliação das equipes do Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF) para a proporção de uma equipe por unidade de saúde. Os delegados solicitaram uma revisão da classificação de risco (Pro-tocolo de Manchester) para usuários que procuram atendimento nos centros de saúde, evitando a desumanização do acolhimento e do atendimento que, de acordo com o plenário da conferência, deve ser garantido em horário integral. Quanto à ampliação da rede de atendimento do SUS-BH, com a construção de novos centros de saúde, as reformas e revitalizações já foram aprovadas e discutidas exaustivamente em reuniões do CMS-BH, nos conselhos distritais e comissões locais de saúde, inclusive com a aprovação de Parcerias Público Privada (PPP). Os conselheiros vêm acompanhando todo o processo junto à Secretaria Municipal de Saúde e fiscalizando as obras por meio de visitas. Devido à morosida-de das construções e reformas, os delegados referendaram mais uma vez a necessidade de melhorar a estrutura física das unidades bási-cas, garantindo a acessibilidade e a ambiência, bem como ampliação do número de consultórios, farmácias, salas administrativas e almo-xarifados. Sobre a conclusão das obras do Hospital Metropolitano, o secretário municipal de Governo, Josué Valadão, disse, na abertura da conferência, que a prefeitura já está em fase final de renegocia-ção com as empreiteiras e as obras devem ser retomadas em janeiro deste ano.

CERSAM’s AD nas regionais que ainda não contam com esse ser-viço, um CERSAMI, além da garantia de funcionamento do Servi-ço de Urgência Psiquiátrica (SUP) nos finais de semana e feriados, com estrutura e equipe ampliadas. A política de redução de danos e cuidados direcionados aos usuários de álcool e drogas foi aprovada com propostas como o funcionamento de Consultórios de Rua em todas as regionais, ofertando cuidados básicos de saúde à população de rua. Foi res-saltado que a internação compulsória só será indicada e efetiva-da quando estiver de acordo com os parâmetros estabelecidos por Lei Federal 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais.

METODOLOGIA A usuária Marluce dos Santos é um exemplo que resume as expectativas de vários delegados quanto ao Plano Municipal de Saúde. “Esperamos que a melhora dos serviços com as emendas aprovadas nesta conferência, mas é preciso aceitar apenas propostas concretas e que de fato possam apri-

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Especial

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+SAÚDE MENTAL

*Fortalecer a intersetorialidade no acompanhamento de usuários de álcool e drogas *Ampliar as equipes de saúde mental do PSF*Garantir leitos em hospital geral para casos de abstinência e intoxicação severa*Fortalecer os centros de convivência e o Projeto Arte da Saúde *Apoiar e fortalecer a atuação da Comissão Municipal de Reforma Psiquiátrica *Aumentar o número de profissionais de saúde mental

+VIGILÂNCIA EM SAÚDE

* Garantir condições sanitárias nos centros de saúde dentro das normas da ANVISA * Implantar centros de castração de cães e gatos nas regionais não contempladas* Ampliar a ação e atuação da vigilância sanitária aos centros de saúde

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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E BUCAL

*Ampliar a lista de medicamentos padronizados*Implantar farmácia de manipulação de medicamentos *Ampliar a oferta de próteses dentárias *Instituir o serviço odontológico de urgência nas UPA’s em todas as regionais*Oferecer o serviço de Raio X odontológico

A presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, falou sobre a importância do conselheiro nas políticas públicas de saúde

30 grupos discutiram as cinco diretrizes da 12ª Conferência Muncipal de Saúde

Para intensificar a política municipal de vigilância sanitária e epide-miológica, especialmente no que diz respeito à prevenção e controle da dengue e da leishmaniose visceral, a 12ª Conferência aprovou que o pilar de sustentação deste tipo de ação está relacionado ao trabalho de mobilização social. É necessário que a população seja sistematica-mente incluída no trabalho de prevenção por meio da educação sobre o tema.

VIGILÂNCIA EM SAÚDE

O aprimoramento da entrega de medicamentos nas unidades de saúde gerou a aprovação da proposta que prevê a lotação de um far-macêutico em todos os centros de saúde com 40 horas de trabalho se-manal. Além disso, os delegados referendaram a ampliação do número de profissionais fixos e capacitados para atendimento nas farmácias, contratados por concurso público. As principais ações para melhorar o atendimento em saúde bucal no município está relacionada ao redimensionamento das equipes em relação às equipes de PSF - na proporção de uma equipe para cada equipe, além do incremento de insumos e materiais para atender à de-manda da população.

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E BUCAL

A gestão do trabalho e do conhecimento gerou a elaboração de pro-postas que buscam fortalecer e redimensionar o quadro de profissionais nas equipes de PSF, com médicos, enfermeiros, técnicos em geral e os serviços de apoio. A adequação do espaço físico dos centros de saúde, de acordo com o número de equipes, também é um fator essencial para melhorar o atendimento, oferecendo segurança e bem-estar aos funcio-nários. O cuidado preventivo e a realização de exames periódicos devem ser premissas da política de saúde do trabalhador. De acordo com a decisão da maioria dos delegados, a ampliação das equipes dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) deve acontecer por meio de concursos públicos, assim como o ingresso de fiscais sanitários. A efetivação de um cadastro de reserva para a sele-ção de Agentes Comunitários de Saúde deve ser realizada imediatamen-te por seleção pública.

GESTÃO DO TRABALHO

*Garantir direitos isonômicos a todos os trabalhadores*Efetivar a Política Nacional de Humanização do SUS *Garantia do plano de cargos, carreira e salários para ACS*Garantir que as UPA’s tenham o seu quadro de funcionários completo*Incentivar a educação permanente para todas as categorias profissionais

CONTROLE SOCIAL Um dos grandes desafios do controle social nos próximos anos é me-lhorar os mecanismos de avaliação, regulação e fiscalização, inclusive do setor privado, para garantir a prioridade no atendimento dos usuários do SUS-BH. A plenária final da conferência definiu ser fundamental investir na valorização e fortalecimento dos fóruns de participação popular e de controle social, como espaços políticos estratégicos fundamentais para o processo de debate e deliberações de diretrizes da saúde. Os conselheiros devem continuar buscando a ampliação dos recursos disponíveis para financiamento do SUS-BH, garantindo o cumprimento da Emenda Constitucional 29, com os repasses a nível federal, estadual e municipal.

GESTÃO DO TRABALHO

*Estimular a participação por meio de estratégias de divulgação em massa *Dar visibilidade às Conferências de Saúde *Criar o portal de transparência da gestão de saúde *Oferecer formação permanente e qualificação para conselheiros *Implantar comissões locais nos serviços substitutivos de saúde mental*Garantir o cumprimento das deliberações do CMSBH

CONTROLE SOCIAL

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Histórias que dariam um livro

Nascido em 1936, em Miradouro, cidade da Zona da Mata mineira, Valdir é o filho único de Vicente Clementino de Lima e Nicia Matos de Lima. Logo depois de concluir o ensino primário aos 15 anos, partiu junto com a mãe para morar em Xerém, distrito de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, junto com o pai que já se estabelecia na cidade desde 1946. Senhor Vicente era então assessor político do gabinete do prefeito e dos vereadores, na era Getúlio Vargas.

wwfrkfkrlgmfd,mg,mmkrrrkfmrkmgvrlfmgv;xdflkgv;ldxfmgvfd,fmvxkfmv;kf,mv;kfmvlf,mv;fvmfdkvrfvkfmvfkdmvkdfmvfkmvkfmVIDA PROFISSIONAL BEM-SUCEDIDA Valdir obteve sua primeira carteira profissional em fevereiro de 1950, trabalhando na Fábrica Nacional de Motores por 25 anos. Quando saiu já era chefe da oficina de fabricação, na sessão de engrenagens de caminhão e do famoso JK, automóvel produzido pela Alfa Romeu. O conselheiro relata que em 1975 passou a receber vários convites para trabalhar em outras fábricas automo-bilísticas. “Quando resolvi pedir demissão todos choraram, desde o diretor industrial, que era meu amigo, até o funcionário de cargo mais baixo”, conta. Naquela época, Valdir desfrutava de uma vida independente, era chefe de fabricação, tinha um apartamento em Copacabana, na Rua Prado Júnior, e ainda solteiro curtia as “farras” de finais de semana com o melhor amigo, Nelson Debô. Em 1975, recebeu vários convites para novos trabalhos e ao analisar as propostas, decidiu-se pela Ford, localizada na cidade de Taubaté, em São Paulo, onde chegou a chefiar um setor de fabricação de motores. “Naquele tempo eu ia e voltava do Rio em um Maverick que estava sempre de tanque cheio e era ofertado pela empresa como benefício”. Valdir não se esquece do dia em que resolveu pedir as contas e o gerente da fábrica lhe perguntou quanto custava o seu trabalho. “Como resposta respondi apenas que a decisão foi

UM HOMEMREALIZADO

POR WAGNER MENDES

Do alto de seus 78 anos, Valdir Matos de Lima tem plena consciência da importância que o “ser conselheiro de saúde” representa, afirmando que não larga o controle social, porque isso significa vida para ele. Depois de uma bem-sucedida carreira na indústria e da realização como marido, pai e avô, Valdir vem dedicando parte de seu tempo à militância no controle social da saúde e mais especificamente à capacitação de novos

conselheiros. Foi por causa da aposentadoria que ele descobriu que participar do conselho o deixava feliz. E foi o financiamento dos serviços públicos que despertou o interesse de aprender mais sobre saúde e passar para frente tudo aquilo que adquiriu como conhecimento. Valdir hoje é um dos palestrantes do Curso de Capacitação de Conselheiros por todo o estado e vê nas conversas e rodas de discussões, o caminho para

continuar sua jornada

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O impacto do

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Con aúdeS motivada por problemas pessoais”, conta sem esconder a emoção. Em seguida, por cinco mil cruzeiros – o que significava um salário muito alto, Valdir foi convidado a trabalhar na empresa sueca Sandvik, com sede no Brasil. Além de ter a oportunidade de voltar a morar no Rio, teria como benefício um carro para se locomover e seu trabalho era fazer assistên-cia técnica em indústrias automobilísticas de autopeças. “Sentia orgulho, pois com mais de 50 anos havia trabalhado em apenas três empregos”, relembra orgulhoso. Depois da aposentadoria, o conselheiro ficou doente e ao procurar por auxílio médico, recebeu a notícia de que seu problema estava relacionado à necessidade de trabalhar novamente, de ter uma vida mais ativa. Quando resolveu voltar ao trabalho, o amigo Ivo José, que era dono de uma pequena empresa em Belo Horizonte, fez um convite para traba-lharem juntos. Valdir aceitou, ficou hospedado em um hotel e satisfeito com o trabalho, decidiu se firmar na cidade, comprando um terreno no bairro Camargos. Chegou a trabalhar pouco tempo, mas foi o suficiente para planejar a construção da sua casa e voltar a descansar, dedicando-se mais à família.

CONHECENDO O CONTROLE SOCIAL Quando parou de trabalhar e com a vida mais tranquila, Valdir recebeu o convite de um outro amigo para conhecer o Orçamento Participativo (OP). “Quando entrei para o OP, havia uma professora, na região Noroeste, que era assessora do prefeito, e me disse que deveria militar na saúde, isso já no início de 2000. Estranhei a forma como fui convidado, mas como sempre gostei de novas experiências e tinha disponibilidade, decidi mi-litar na regional Noroeste, participando do Conselho Distrital de Saúde. Foi acompanhando a reforma e o embargamento das obras do Centro de Saúde Santa Maria, que aprendi a militar e finalmente entrei para o Conselho Municipal”, relembra com orgulho.

Con aúdeS

“Estranhei a forma como fui convidado, mas como sempre gostei de novas experiências e tinha disponibilidade, decidi militar na

regional Noroeste, participando do Conselho Distrital de Saúde”.

Como cidadão, Valdir sente o prazer em elaborar o curso de capacitação

FINANCIAMENTO Os anos em que esteve no Conselho Municipal de Saúde serviram para revelar a área do controle social com a qual Valdir mais se identifica enquanto conselheiro: o financiamento da saúde. Instigado pela recor-rência com que a palavra “teto” - que significa o valor máximo a ser in-vestido em ações de saúde, aparecia nas discussões, sentiu que era hora de aprofundar o conhecimento sobre o tema. Nessa época, comprou livros e foi pesquisar sobre Economia para entender como funcionava a engrenagem do SUS. Como o assunto é extremamente complexo e difícil, Valdir buscava sanar suas dúvidas com o hoje vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Geraldo Heleno, que se mostrou um gran-de incentivador, inclusive convidou-o para falar sobre o tema em uma conferência de saúde. “Não acreditava no convite que estava receben-do e achava que não iria dar certo, mas fui pressionado pela confiança que ele sentia em mim. Me aprofundei no tema, pesquisei documentos, e no final fui aplaudido novamente, só que agora como militante da saúde”, relembra. A atuação de Valdir na área do financiamento passou a ser reconhe-cida e o conselheiro começou a ministrar palestras e a participar de conferências tanto em Belo Horizonte quanto em cidades do interior do estado. Após a grande repercussão, Valdir foi então convidado pelo Conselho Municipal para falar sobre orçamento e financiamento, já que foi a área que se identificou desde o início da militância. Uma das qualidades de Valdir é sentir orgulho de si mesmo, pelo esforço que sempre teve em aprender cada dia mais. Hoje ele possui um contrato firmado com a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais e como cidadão, sente prazer em elaborar o curso de capacitação de con-selheiros de saúde, já que desde o início percebeu que era esse tipo de preparação que faltava para os colegas. Ao longo da caminhada como

militante da saúde, Valdir tem observado que o grande entrave do controle social atualmente e a falta de leitura por parte dos conselheiros. De acordo com ele, antes de fazer reclamações é necessário procurar entender o problema, para depois fazer a cobrança da forma devida. Para ele é necessário conhecer desde à atenção primária, partindo para a política de saúde e política fiscal, buscando assim um SUS de qualidade.

Valdir ao lado de Rose e as netas, Fernanda e Daniela

Fotos: Arquivo pessoal

AMOR À PRIMEIRA VISTA Com 38 anos, dono de um Fusquinha e do próprio apartamen-to, conheceu Rosemarie Koop de Lima, que segundo ele foi amor à primeira vista. “Lembro do dia em que conheci a Rose. Eu obser-vava aquela moça alta, sobrinha do Pedro Brito, diretor do clube que eu frequentava. Aproximei-me dela, nunca vou me esquecer. Depois eu a convidei para sair e ela ficou meio desconfiada por conhecer minha fama de mulherengo, mas não resistiu e aceitou o meu pedido”, relembra feliz por ter encontrado quem seria o amor de uma vida inteira. Juntos passearam muito e tiveram a oportunidade de conhecer vários lugares a bordo do Fusca, até que se casaram em 1972. Do casamento, nasceu seu único filho, Frederico Koop, em 1976. Hoje aos 37, Frederico é oficial da Polícia Militar, trabalha no CFO, está casado e tem duas filhas, Daniela, de 6 anos e Fernanda, de 5, que são os xodós dos avós. Além de sentir orgulho do filho, Valdir se declara muito bem casado e agradece todos os dias, pois Rose, além de ser sua esposa, é amiga, companheira e parceira na elaboração das aulas do curso de capacitação. “Rose me ajuda no português. Não, é para menos, afinal ela tem um currículo exem-plar e hoje está preparando um livro de Português e Ciências Exa-tas. Não tenho nada a reclamar, sempre fui um rapaz responsável, nunca soube dever a ninguém, fiz tudo dentro do meu orçamen-to e sempre tivemos uma vida tranquila. Hoje me considero reali-zado como pai, esposo e militante da saúde”, finaliza.

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Saiba Mais

Nova gestão do CMSBH

POR LUCIANE MARAZZI

O perfil do consumo de

CRACK NO BRASIL

O consumo de crack é um problema grave tanto do ponto de vista social quanto de saúde. No Brasil, os usuários regulares de crack e similares somam 370 mil pessoas nas 26 capitais e no Distrito Federal em 2012. Nas mesmas localidades estima-se que 2,28%, ou seja,

aproximadamente um milhão de pessoas usam drogas ilícitas em geral, com exceção da maconha. Os usuários de crack correspon-dem a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nas capitais do país. Essa constatação está no estudo Estimativa do número e perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil, considerado o maior já realizado sobre crack no mundo. A metodologia utilizada é inédita no país, sendo a única até o momento capaz de estimar de forma mais precisa populações de difícil acesso. A coleta de dados foi rea-lizada por meio de inquérito domiciliar de natureza indireta, ou seja, não teve como foco primário a entrevista com usuários de drogas (método NSUM - Network Scale-up Method). O método consiste na investigação das redes sociais que envolvem o usuário, sendo que o entrevistado não fala diretamente do próprio comportamento e sim sobre o comportamento de outros indivíduos com os quais ele se relaciona. Esta etapa foi realizada em 2012, com aproximadamente 25 mil pessoas, residentes nas capitais do país. As informações mais precisas obtidas na pesquisa irão facilitar a elaboração de políticas sociais, considerando as diferenças regionais e de faixa etária, como crianças e adolescentes, ainda que esta popu-lação não constitua uma parcela considerável entre os usuários de crack. Ao contrário do método tradicional que só consegue alcançar pessoas regularmente domiciliadas, o NSUM contabiliza as popula-ções que vivem nas ruas ou em abrigos, por exemplo.

NORDESTE No estudo, não foram detectadas diferenças regionais quanto aos locais de consumo do crack. Cerca de 80% dos usuários faz uso des-sa droga em espaços públicos, de interação e circulação de pessoas, onde possam ser vistos facilmente. O Nordeste concentra a maior parte de usuários no país, contrariando a ideia de que a primeira do ranking seria a região Sudeste, onde o consumo em locais públicos é mais visível, acrescido do tamanho expressivo das grandes cenas de uso conhecidas como “cracolândias”. De acordo com o estudo, no Nor-deste há aproximadamente 150 mil usuários de crack, cerca de 40% do total de pessoas que fazem uso regular da droga em todas as ca-pitais do país. O número de usuários de crack nas capitais do Sudeste é mais ele-vado do que nas capitais da região Norte (aproximadamente 115 mil para 35 mil usuários), devido à proporção populacional. As capitais da região Nordeste, mesmo com proporções similares de uso frente às ca-pitais da região Sul, foram as que apresentaram o maior quantitativo de usuários de crack, quando considerado o uso regular dessa droga, o que corresponde a cerca de 150 mil pessoas. Nas capitais da região Norte, no conjunto de substâncias consumidas, o crack é utilizado por 20% dos usuários, enquanto no Sul e Centro-Oeste o número salta para 52% e 47% respectivamente, sem considerar a maconha.

JUVENTUDE O estudo revelou também outro dado preocupante. Dos 370 mil usuários de crack e similares 14% são menores de idade, o que re-presenta aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes usuários dessa substância nas capitais do país. Entretanto, a faixa de menores

Uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que cerca de 370 mil brasileiros de todas as idades usaram regularmente crack e similares (pasta base, merla e óxi) nas principais capitais do país. O estudo também apresenta o perfil dos

usuários da droga no Brasil e será utilizado para subsidiar novas ações do Programa Crack, É Possível Vencer – plano integrado de combate ao tráfico e apoio aos usuários e famílias

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A maioria dos usuários compartilha apetrechos de uso do crack

Con aúdeS

CRACK NO BRASIL

de 18 anos inclui também grupos onde o consumo de crack é nulo, como por exemplo, bebês menores de um ano, ou praticamente nula em crian-ças de até oito anos. De acordo com a pesquisa o agravante está no fato de que, se forem excluídas todas essas crianças de idade bastante baixa, o consumo proporcional por parte de adolescentes seria mais relevante e mais elevado, ainda que menor do que o consumo por parte de adultos. Existe ainda uma variação entre as regiões do país, sendo que, mais uma vez, as capitais da região Nordeste são as que somam um maior quantita-tivo de crianças e adolescentes consumidoras de crack, correspondendo a cerca de 28 mil indivíduos. Nas capitais das regiões Sul e Norte, esse núme-ro é de cerca de três mil menores de idade, em cada uma dessas regiões.

PERFIL DO USUÁRIO Outra etapa do estudo consistiu em descrever as características socio-demográficas e comportamentais dos usuários de crack. Durante o levan-tamento, as equipes de campo da Fiocruz realizaram visitas às cenas de uso sorteadas, recrutando os usuários que consumissem a droga com re-gularidade (pelo menos 25 dias nos últimos seis meses, de acordo com a definição da Organização Panamericana de Saúde) e que tivessem 18 anos ou mais. As entrevistas eram realizadas diretamente com os usuários, nas cenas de uso ou em serviços de saúde próximos a esse local. Os participan-tes realizavam testes rápidos para HIV e Hepatite C e coletas de amostras biológicas para realização de exame para Tuberculose. No Brasil, os usuários de crack entrevistados são, predominantemente, adultos jovens – com idade média de 30 anos, do sexo masculino (78, 7%), sendo que 80% se autodeclararam “não-brancos”. Mais da metade tem pa-drão de consumo diário e o número de pedras usadas por usuário nas capi-tais é de 16 por dia e 11 nos demais municípios. Entre os usuários entrevis-tados 60,6% declarou ser solteiro e aproximadamente 40% se encontrava em situação de rua. O segundo dado não sinaliza que esse contingente, necessariamente, morava nas ruas, mas que nelas passava parte expressiva do seu tempo. A forma mais comum de obtenção de dinheiro relatada pelos usuários de crack no Brasil compreende os trabalhos esporádicos ou autônomos, o que corresponde a cerca de 65% do total. O sexo comercial é uma fonte relevante de renda nessa população e corresponde a 7,5%. Atividades ilí-citas, como o tráfico de drogas, furtos, roubos e afins, foram relatados por uma minoria dos usuários entrevistados, 6,4% e 9,0%, respectivamente. Mesmo assim, não se observou serem essas a fonte de renda principal. Os usuários de crack e similares são, basicamente, poliusuários, ou seja, é comum o uso associado a outras drogas, sendo o álcool e o tabaco as mais consumidas, compreendendo mais de 80% dos usuários no Brasil. Esse dado mostra a necessidade de se estabelecer políticas públicas que integrem ações de tratamento para o abuso de crack.

Nas capitais, o tempo médio de uso do crack e/ou similares foi aproxi-madamente oito anos, enquanto que nos demais municípios este tem-po foi de aproximadamente cinco anos, sugerindo que o uso da droga vem se interiorizando mais recentemente. Este achado, relativo ao tem-po médio de uso, contradiz as notícias comumente veiculadas de que os usuários de crack teriam sobrevida inferior a três anos de consumo.

SEXO, HIV E OVERDOSE Os episódios de intoxicação aguda nos 30 dias anteriores à pesquisa foram relatados por 7,8% dos usuários. Destes, 44,7% disseram ter sido pelo uso excessivo do crack e outros 22,4% em decorrência do abuso do álcool. De acordo com a pesquisa, esta questão é grave, especialmente pelo imenso impacto nos serviços de urgência e emergência do SUS. Entre as mulheres, cerca de 10% relataram estar grávidas no momento da entrevista. Mais da metade das usuárias já haviam engravidado ao menos uma vez desde que iniciou o uso do crack. Esse dado é preo-cupante devido às consequências da droga sobre o desenvolvimento neurológico e intelectual das crianças expostas. Quanto ao tempo mé-dio de uso, o período é mais prolongado para os homens, enquanto a mulher faz uso de forma mais intensa. As mulheres relataram consumir 21 pedras por dia e os homens 13. O tempo médio para homens é de 83,9 meses e para mulheres é de 72,8. Mais de um terço dos usuários de crack (39,5%) informaram não ter usado preservativo em nenhuma das relações sexuais vaginais no mês anterior à entrevista. Apesar do risco, mais da metade dos entrevistados (53,9%) afirmou nunca ter realizado teste para HIV. Comparados com a população brasileira, os usuários de crack apresentaram prevalência de HIV cerca de oito vezes maior do que a da população geral.

80% usam droga em local público80% dos usuários são homens80% se declararam não-brancos 60% são solteiros 40% vivem nas ruas 65% vivem de trabalhos esporádicos 80% fazem uso de outras drogas70% compartilham apetrechos de uso10% das usuárias ouvidas estavam grávidas30% das usuárias já trocaram sexo por drogasUsuários têm 8 vezes mais chances de contrair HIV50 mil são menores de idade8 anos é o tempo médio de uso nas capitaisEspaços públicos de interação atraem

a maioria dos usuários

Fotos: Divulgação da Internet

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Entrevista

ConSaúde: Na sua opinião, estamos de fato vivendo uma epidemia de crack?Arnor Trindade: Bem, é importante lembrar que para estabelecer a ocorrência de uma epidemia devemos levar em consideração alguns fatores como doença, agente patógeno, número de casos e período de tempo. Caracterizamos por epidemia o surgimento de um número muito grande de casos num curto período de tempo. Com relação ao uso de crack, não existe um agente patógeno, uma vez que o crack em si não é o causador da dependência. Embora os levantamentos mais confiáveis sobre o uso de drogas, inclusive o crack, apontem para um aumento do uso desta droga (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas - CEBRID, Levantamento Nacional de Álcool e Drogas – LENAD e Fiocruz), nenhum permite estabelecer um aumento expressivo do uso em curto período de tempo, pois embora realizados em momen-tos diferentes, não é possível uma comparação direta entre seus dados, uma vez que utilizam amostragens e metodologias distintas. Por outro lado, não podemos considerar o uso do crack em si uma doença, uma vez que é preciso alguns critérios diagnósticos para se estabelecer o uso patológico. Fala-se hoje de uma epidemia de crack muito mais em função da comoção social provocada pela cobertura da mídia em re-lação aos usuários de crack, sobretudo dos que fazem uso em cena pública. Então, não é correto afirmar, do ponto de vista epidemiológi-co, baseado em dados científicos, que existe uma epidemia de crack. Isto não quer dizer que não tenhamos um grande problema social e de saúde ligado ao consumo e comércio desta substância, mas que nem de longe é a droga que causa maiores problemas na nossa sociedade. ConSaúde: Como se estrutura a rede de saúde de Belo Horizonte para atendimento às pessoas com problemas relativos ao uso de drogas?Arnor Trindade: Como dispositivos voltados diretamente para atendi-mento aos usuários de drogas, Belo Horizonte conta atualmente com três Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) - CER-SAM AD Pampulha, Nordeste e Barreiro, quatro equipes de Consultório de Rua, que são serviços municipais, além do Centro Mineiro de To-

xicomania, que é um serviço da FHEMIG. Além disso, os usuários são atendidos em diferentes níveis da rede de atenção, que vai da atenção primária à urgência (Centros de Saúde, UPAS, SAMU, CERSAM etc), pas-sando por serviços secundários e especializados. Isto quer dizer que toda a rede de saúde deve atender pessoas com problemas relativos ao uso de drogas. ConSaúde: O que precisa melhorar? Arnor Trindade: É preciso ampliar e qualificar a rede de atenção: am-pliar o número de serviços específicos, criar novos dispositivos (UPA, PAD), já previstos na política, e habilitar e instrumentalizar os demais dispositivos da rede para prestar atendimento adequado, humanizado e eficiente, voltado para os sofrimentos causados pelo uso de drogas. ConSaúde: Quais as estratégias utilizadas nesses serviços? Arnor Trindade: Os dispositivos da saúde trabalham, ou deveriam tra-balhar, com a perspectiva da redução de danos, que é o paradigma da política do SUS para a atenção aos usuários de drogas. Isto significa dizer, em termos gerais, que eles abordam o sofrimento decorrente do uso de drogas, que pode trazer consequências físicas, psíquicas e so-ciais. O usuário tem o direito ao tratamento, queira ele ou não cessar o uso das drogas. Evidentemente, cada um dos dispositivos da saúde tem sua especificidade. O Consultório de Rua, por exemplo, aborda a pessoa na cena de uso; o CERSAM AD recebe pessoas encaminhadas ou por demanda espontânea para tratamento; as UPA´s recebem o usuário em crise de abstinência ou intoxicação grave; os Centros de Convivência para a participação em oficinas de arte e cultura etc. ConSaúde: E a rede intersetorial? Como tem sido feito esse diálogo e trabalho conjuntos, principalmente quando se fala da população em situação de rua? Arnor Trindade: Os serviços de saúde têm feito boas parcerias com os dispositivos da assistência social, como as equipes de abordagem às pessoas em situação de rua. É preciso, no entanto, caminhar para uma parceria mais efetiva, institucional, com definição de protocolos em co-

Arnor Trindade é psicólogo do Cersam álcool e drogas Pampulha,

especialista em Dependência Química e coordenador do Programa Arte

da Saúde na mesma regional. Nesta entrevista Arnor fala sobre o aten-

dimento aos dependentes em Belo Horizonte, do trabalho na perspec-tiva de redução de danos adotado

pelo SUS, do Projeto de Lei 37/13, que visa assegurar a internação como

recurso de tratamento e sobre a rea-lidade dos usuários de crack

reduzindo

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S Con aúde

DANOSmum, com uma maior sintonia das políticas destes campos. Temos uma grande dificuldade de vagas para abrigamento noturno. Com outros se-tores como cultura, educação etc, temos ainda pouca interlocução. Pen-so que o setor educação é estratégico para pensarmos a prevenção. ConSaúde: O projeto de lei 7663/10 de autoria do Deputado Osmar Terra agora já está em trâmite no Senado (PL 37/13) e visa assegurar as internações forçadas, dentre outras questões. O que você pensa a respeito? Arnor Trindade: Este projeto equivocado, se for aprovado no Senado e implementado, representará um grande retrocesso. Entre outros moti-vos, posso citar a confusão ao estabelecer como drogas “as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência”. Ora, nesta definição, extremamente ampla, podem incluir substâncias, como a cafeína, a ni-cotina ou a sacarose, a produtos como chocolates, celulares e compu-tadores, todos eles sujeitos a “causar” dependência. Assim, a partir de uma definição equivocada de droga, segue-se uma indeterminação do termo usuário. Deixa a entender que todo “usuário”, de qualquer “droga” precisa ser “tratado”, uma vez que desaprova qualquer uso de droga, “mesmo que ocasional”, o que mostra o seu caráter eminentemente moralista. O projeto, aliás, parece uma “colcha de retalhos”, propondo recomendações para saúde e educação em temas tão distintos como Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), uso de drogas e planeja-mento familiar, indicando a parceria com instituições religiosas para abordar estas questões. Há uma clara ênfase na repressão, com maior criminalização do usuário. Ele não faz nenhuma referência à redução de danos e propõe a internação como recurso universal de tratamento. Prevê, além disso, o repasse de recursos públicos para entidades priva-das mediante decisão judicial. Resumindo, é um projeto sem embasa-mento científico, moralista e anti-ético. ConSaúde: Quais aspectos você considera importantes para elaboração de políticas públicas sobre drogas?Arnor Trindade: Tenho participado de algumas conferências sobre dro-gas e tenho observado um enfoque muito grande nos casos de depen-

dência, como se a política devesse focar apenas este aspecto. O uso de drogas está difundido na cultura, na sociedade. Todo mundo faz uso de drogas, em algum momento, com mais ou menos implicação. Uma políti-ca sobre drogas deve ser para todos, deve contemplar desde o cafezinho servido na escola ao Diazepam adquirido na farmácia, do thinner usado pelas crianças de rua ao uísque usado pelo executivo. Deve contemplar aspectos da prevenção, envolver a Educação, a Cultura, o Direito, as políti-cas ambientais. As drogas não se resumem aos seus efeitos químicos, mas estão relacionadas a grupos, a modos de vida, a comportamentos sociais, a subjetividades. Uma política que não pense toda a amplitude do tema é uma política capenga. ConSaúde: Em outubro passado, alguns movimentos sociais e entidades do campo da saúde mental divulgaram a “Carta ao Secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte” em que denunciam o aumento de internações compulsórias em hospitais psiquiátricos e a situação dos Consultórios de Rua implantados através de parcerias com comunidades terapêuticas. Você poderia nos explicar melhor essa situação? Arnor Trindade: Na verdade, o que queríamos, era garantir que as con-quistas históricas do SUS e da Reforma Psiquiátrica, da participação po-pular, dos direitos e cidadania dos usuários, não fossem comprometidos pela intervenção de setores estranhos à ética da saúde pública. Também pontuamos a necessidade da garantia de boas condições de trabalho e da implantação de serviços já previstos em decretos municipais. Com relação a parcerias com comunidades terapêuticas, considero lamentável. Foi feita sem discussão com os setores dos trabalhadores e usuários. Parcerias são bem vindas, mas não há como fazer parceria com quem atua com princí-pios tão diversos. Este descompasso logo se evidenciou na prática, com os membros dessas ONG´s se recusando a distribuir preservativos, fazendo exorcismos no campo, aliciando usuários para suas internações, só para citar algumas situações. Não podia dar certo, como não deu.

Para saber mais acesse: saude-livre.blogspot.com

Ana Tomaselli

reduzindo

“Uma política sobre drogas deve ser para todos, deve contemplar desde o cafezinho servido na escola ao

Diazepam adquirido na farmácia, do thinner usado pelas crianças de rua ao uísque usado pelo executivo. Deve contemplar aspectos da prevenção, envolver a Educação, a Cultura, o Direito, as políticas ambientais. As

drogas não se resumem aos seus efei-tos químicos, mas estão relacionadas a grupos, a modos de vida, a compor-

tamentos sociais, a subjetividades. Uma política que não pense toda a amplitude do tema é uma política

capenga”

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Conta Gotas

Comitivas de conselheiros das cidades de Manaus, Porto Alegre e Cam-po Grande visitaram em 2013, o Conselho Municipal de Saúde para conhecer de perto o trabalho do controle social em Belo Horizonte, as propostas e discussões em relação à saúde. Os conselheiros Maria das Graças Feitosa, Alcides de Souza, João Bosco de Lima e Isaías Fernandes, de Manaus, aproveitaram a visita para conhecer a metodologia de reali-zação da 12ª Conferência Municipal de Saúde.

CMSBH em debate na TV Câmara

VIII Seminário do Hospital das Clínicas

O presidente do CMSBH, Ederson Alves, o 1º secretário Wallace Me-deiros, a 2ª secretária Gislene dos Reis e a conselheira local, Ângela Assis, participaram do programa “Câmara Debate”, sobre o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte e a 12ª Conferência Municipal de Saúde.

Homenagens e apresentações musicais marca-ram a comemoração dos 22 anos do Conselho Distrital de Venda Nova. O evento ressaltou o trabalho e a dedicação dos conselheiros e da comunidade. A secretaria geral do Conselho

Municipal de Saúde, Maria Cristina Teodoro e o 1º secretário, Wallace Medeiros, estavam entre

os homenageados. Foi destacado o trabalho e o legado deixado pelas várias gestões que passaram

pelo conselho distrital.

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comemora 22 anosConselho de Venda Nova

A Mesa Direitora do CMSBH participou do VIII Seminário do Con-selho de Saúde do HC, realizado no auditório do Instituto Jenny Faria, em dezembro. Durante o encontro, foi aprovado o novo regi-mento interno e eleitos os membros do Conselho para o próximo mandato. Os participantes assistiram à palestras sobre a história do Conselho, dados atuais do hospital e a importância do controle social nos hospitais universitários.

O CMSBH aprovou parcialmente, em dezembro de 2013, o Relatório Anual de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde, referente ao ano de 2012. O plenário aprovou as recomendações contidas nos pareceres das câmaras técnicas, que enumeram uma série de readequações a serem providenciadas pela Secretaria Municipal de Saúde no próximo relatório. O RAG tem a finalidade de detalhar as ações de gerenciamento da saúde e é avaliado anualmente pelo CMSBH.

Uma comitiva de conselheiros municipais de saúde participou do lan-çamento da Campanha de Defesa do SUS e fortalecimento do controle social. A iniciativa faz parte do projeto do Conselho Nacional de Saú-de que pretende buscar o apoio de toda a sociedade brasileira para defender o projeto de um SUS universal, integral e de qualidade para todos através, principalmente, do fortalecimento e visibilidade dos conselhos de saúde.

RAG Conselheiros de outros estadosvisitam o CMSBH

Adolpho van RondowAna Tom

aselli

Arquivo CMSBH

Conselheiros de saúde de Manaus em visita ao CMSBH

Assista no Youtube: tvcamarabh1

PRÓXIMA PLENÁRIA DO CMSBH06 de fevereiro às 14 horas*Ampliação de equipes do NASF* Abertura de novas turmas de residência multiprofissional INF. 3277-773

DEFESADO SUS