conquista Árabe

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Conquista árabe Ver artigo principal: Invasão muçulmana do Egito Mapa detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito. Em 639, Amr ibn al-As , um general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens ataca o Egito bizantino durante o expansionismo árabe do século VII. Inicialmente toma Mênfis e toma o controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho para a capital da província, Alexandria . Após tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram pelo butim , alcançando cerca de 20 000 homens. Amr estabeleceu seu acampamento nas imediações da cidade de Heliópolis (local onde posteriormente seria fundada a cidade do Cairo ) de onde pode enviar suas tropas de assédio à cidade. Em 640 sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de 50 000 homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646. [135] Após a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe começou a materializar-se, tendo durado até aoséculo IX. Os árabes impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, o jizya . [136] No século VII d.C. os árabes começam a empregar o termo quft para descrever o povo do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos como coptas , e a Igreja Egípcia Não- Calcedônia tornou-se a Igreja Copta . Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam a língua copta , uma descendente direta do egípcio demótico falado na época romana. [137]

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Conquista a

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Page 1: Conquista Árabe

Conquista árabeVer artigo principal: Invasão muçulmana do Egito

Mapa detalhando a rota dos invasores muçulmanos do Egito.

Em 639, Amr ibn al-As, um general árabe, à frente de um exército de 4 000 homens ataca o Egito bizantino durante o expansionismo árabe do século VII. Inicialmente toma Mênfis e toma o controle das principais rotas de comunicação terrestre, o que lhe abre caminho para a capital da província, Alexandria. Após tais vitórias, seu exército recebe reforços de soldados que se interessaram pelo butim, alcançando cerca de 20 000 homens. Amr estabeleceu seu acampamento nas imediações da cidade de Heliópolis (local onde posteriormente seria fundada a cidade do Cairo) de onde pode enviar suas tropas de assédio à cidade. Em 640 sitia Alexandria. A cidade é defendida por uma força de cerca de 50 000 homens, no entanto, em 642 a força bizantina rende-se, abandonando seus postos e permitindo a dominação da cidade. Os bizantinos reocupam a cidade em 645, no entanto, são novamente repelidos em 646.[135]

Após a submissão do Egito, a resistência dos nativos perante a ocupação árabe começou a materializar-se, tendo durado até aoséculo IX. Os árabes impuseram um imposto especial aos egípcios cristãos, o jizya.[136] No século VII d.C. os árabes começam a empregar o termo quft para descrever o povo do Egito. Desta forma os egípcios passaram a ser conhecidos como coptas, e a Igreja Egípcia Não-Calcedônia tornou-se a Igreja Copta. Nos séculos seguintes, de forma gradual, os habitantes do Egito foram arabizados e islamizados, de modo que a identidade nativa e a língua egípcia sobreviveram apenas entre os coptas, que falavam a língua copta, uma descendente direta do egípcio demótico falado na época romana.[137]

Geografia

Imagem de satélite do Delta do Nilo.

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Embarcação egípcia retratada em baixo relevo.

A civilização egípcia se desenvolveu na região situada entre a primeira catarata do Nilo (Assuão) e o Delta do Nilo. O Sinai, que só pertenceu ao Egito após sua conquista no Império Novo, foi utilizado como rota de comunicação para o corredor sírio-palestino, que a rigor seria a faixa de terra litorânea que liga o Egito à Mesopotâmia. A leste do Nilo encontra-se o Deserto Oriental Africano (comumente conhecido como Deserto Oriental) que se estende até ao Mar Vermelho e a oeste fica o Deserto da Líbia (comumente conhecido como Deserto Ocidental) onde existem vários oásis dos quais se destacam os de Siuá, Kharga, Farafra, Dakhla e Bahareia. O atual território do Egito não pode ser comparada ao do Antigo Egito, pois, atualmente, o Sinai, e partes dos desertos Oriental e Ocidental estão dentro dos limites do Egito.[138] [139]

Ao sul da primeira catarata se localizava a Núbia.[138] O Nilo é formado por dois afluentes principais, o Nilo Branco (que nasce no Lago Vitória) e o Nilo Azul (que nasce no Lago Tana). Ambos os afluentes unem-se em Cartum.[140] O Nilo corre de sul para norte, desaguando no Mar Mediterrâneo e sua extensão é de aproximadamente 6 740 km.[12]

No Antigo Egito distinguiam-se duas grandes regiões: o Alto Egito e o Baixo Egito. Inicialmente o Alto e Baixo Egito eram reinos distintos que haviam se formado em torno de 3 300 a.C. No entanto, acabaram por ser unificados poucos séculos depois. O Alto Egito (Ta-chemau) era uma estreita faixa de terra com cerca de 900 km de extensão começando em Assuão e terminando em Mênfis. O Baixo Egito (Ta-mehu) foi o Delta do Nilo, a norte de Mênfis, onde o rio se dividia em vários braços. Por vezes também se distingue na geografia egípcia uma região conhecida como o Médio Egito, que é o território a norte de Qena até à região do Faium.[138]

Vale do rio Nilo

O historiador grego Heródoto (c, 484?-420 a.C.), chamou ao Egito "a dádiva do Nilo".[141] Para os egípcios, o Nilo era uma verdadeira bênção dos deuses,[142] sendo considerado sagrado e adorado como um deus, ao qual dedicavam hinos e orações. As chuvas sazonais causavam enchentes que depositavam húmus nas margens favorecendo a agricultura e pecuária; também fornecia água fresca, peixes, aves aquáticas além de servir para o transporte e comércio.[143] Como o nível do rio era inconstante os egípcios desenvolveram diques, barragens e canais de água para melhor aproveitarem as águas do rio, assim como o "nilômetro", uma construção usada para medir as enchentes.[144] Durante o período das enchentes os cidadãos eram deslocados para as cidades para trabalharem em outras tarefas.[138]

O meio mais fácil e rápido de viajar e transportar cargas pesadas era através de embarcações de diversos tamanhos que possuíam, no geral, remos presos a proa.[145] As embarcações usadas para transporte de cargas pesadas eram construídas com madeira

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do Líbano; as de transporte de pessoas, caça e pesca eram de junco; as barcaças reais e as usadas para o transporte de estatuetas de deuses possuíam cabines, e eram decoradas com muitas cores e ouro encrustado. O Nilo corre de sul para norte, mas o vento sopra geralmente de norte para sul, pelo que a navegação para para norte tem a corrente a seu favor e a navegação para sul é feita a favor do vento, o que era é aproveitado para utilizar velas. No entanto, na ausência de vento causava, a única forma de navegar para sul é remar contra a corrente.[138]

Demografia

Estereótipo egípcio.

Os antigos egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, da África Negra e da área semítica. A questão relativa à etnia dos antigos egípcios é por vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos conhecimentos da ciência falar de raças humanas revela-se um anacronismo. Até meados do século XX, por influência de uma visãoeurocêntrica, os antigos egípcios eram considerados praticamente como brancos; a partir dos anos 1950, as teorias do "afrocentrismo", segundo as quais os egípcios eram negros, afirmaram-se em alguns círculos. Importa também referir que as representações artísticas são frequentemente idealizações que não permitem retirar conclusões neste domínio.[146]

Os egípcios tinham consciência da sua alteridade: nas representações artísticas dos túmulos os habitantes do Vale do Nilo surgem com roupas delinho branco, enquanto que os seus vizinhos líbios e semitas se apresentam com roupas de lã. A língua dos egípcios (hoje uma língua morta) é um ramo da família das línguas afro-asiáticas (camito-semíticas). Esta língua é conhecida graças à descoberta e decifração da Pedra de Roseta, onde se encontra inscrito um decreto de Ptolomeu   V Epifânio  (205-180 a.C.) em duas línguas (egípcio e grego clássico) e em três escritas (caracteres hieroglíficos, escrita demótica e alfabeto grego).[147]

O número de habitantes do Antigo Egito variou ao longo da história. Durante o período pré-dinástico (4 500-3 000 a.C.) a população rondaria as centenas de milhares; durante o Império Antigo (séculos XVII-XII a.C.) situar-se-ia nos dois milhões, atingindo os

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quatro milhões por altura doImpério Novo. Quando o Egito se tornou uma província romana estima-se que a população seria cerca de sete milhões. Como atualmente, a esmagadora maioria da população habitava as terras agrícolas situadas nas margens do Nilo, sendo escassas as populações que viviam no deserto.[148] [149]

GovernoAdministração

O faraó era geralmente representado usando símbolos da realeza e de poder.

O faraó era o monarca absoluto do país e, pelo menos em teoria, exercia o controle total da terra e seus recursos.[150] Era o comandante militar supremo e chefe do governo, que contava com uma burocracia de funcionários para administrar os seus negócios. O encarregado da administração, o vizir (tjati), era o segundo no comando, e atuava como conselheiro e representante do faraó, coordenava os levantamentos fundiários, tesouraria, projetos de construção, sistema legal e depósito de documentos.[151] A nível regional, o país estava dividido em 42 regiões administrativas chamadas nomos, cada uma governada por um nomarca,[152] que era responsável pela jurisdição do vizir. Os templosformavam a espinha dorsal da economia. Eles não só eram edifícios de culto, mas também eram responsáveis por coletar e armazenar a riqueza da nação em um sistema de celeiros e tesourarias administradas por superintendentes, que redistribuíam os cereais e os bens.[153]Como não era possível para o faraó estar em todos os templos para realizar as cerimônias, ele delegava o seu poder religioso aos sacerdotes, que conduziam as cerimônias em seu nome.[154]

Sistema jurídico

A cabeça do sistema jurídico era oficialmente o faraó, que era responsável pela promulgação de leis, aplicação da justiça e manutenção da lei e da ordem, um conceito que os egípcios antigos denominavam Ma'at. Apesar de não terem chegado aos nossos dias quaisquer códigos legaisdo Antigo Egito, documentos da corte mostram que as leis egípcias foram baseadas em uma visão de senso comum de certo e errado, que enfatizou a celebração de acordos e resoluções de conflitos ao invés de cumprir rigorosamente um

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conjunto complicado de estatutos.[155]Conselhos locais de anciãos, conhecidos como Kenbet no Império Novo, eram responsáveis pela decisão em casos judiciais de pequenas causas e disputas menores.[151] Os casos mais graves envolvendo assassinato, grandes transações de terrenos e roubo de túmulos eram encaminhados para o Grande Kenbet, presidido pelo vizir ou pelo faraó. Os demandantes e demandados representavam-se a si próprios e eram obrigados a jurar que diziam a verdade. Em alguns casos, o Estado assumiu tanto o papel de acusador como o de juiz, e tinha poder para torturar os acusados com espancamento para obter uma confissão e os nomes dos co-conspiradores. Se as acusações fossem sérias, escribas da corte documentavam a denúncia, testemunhavam, e o veredicto do caso era guardado para referência futura.[156]

As punições para crimes menores envolviam imposição de multas, espancamentos, mutilações faciais ou exílio, dependendo da gravidade do delito. Crimes graves, como homicídio e roubo de túmulos, eram punidos com execução por decapitação, afogamento ou empalamento. A punição também podia ser estendida à família do criminoso.[151]A partir do Império Novo, os oráculos desempenharam um papel importante no sistema jurídico, dispensando a justiça nos processos civis e criminais. O processo consistia em pedir a deus um "sim" ou "não" sobre o que era certo ou errado num problema. O deus, transportado por um número de sacerdotes, proferia a sentença, escolhendo um ou outro, movendo-se para a frente ou para trás, ou apontando para uma das respostas escritas em um pedaço de papiro ou de óstraco.[157]

Força militar

Uma biga egípcia.

O exército egípcio antigo foi responsável pela defesa do Egito contra invasões estrangeiras e a manutenção da dominação egípcia no Antigo Oriente Próximo. No deserto havia patrulheiros que vigiavam as fronteiras e defendiam o império de expedições denômades. No Delta e no Vale do Nilo havia guardas rurais que defendiam os cobradores de impostos. No Império Novo surgiram osmedjayu, de origem núbia, que exerciam a função de patrulheiros do deserto, policiais das cidades e necrópoles, além de aplicadores das decisões da justiça.[158] O exército e a marinha egípcias eram complementares, onde os navios transportavam as tropas e os oficiais exerciam funções militares e navais. Os soldados eram recrutados entre a população em geral, mas durante e principalmente depois do Império Novo, foram contratados mercenários da Núbia e Líbia para lutar pelo Egito.[159] Prisioneiros de guerra também foram incorporados ao exército egípcio. Por volta do Império Novo os exércitos eram divididos em unidades táticas autônomas de cinco a seis mil homens.[160]

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Relevo da tumba de Horemheb.

Os exércitos empreenderam expedições militares no Sinai para proteção das minas locais durante o Império Antigo [161]  e lutaram em guerras civis durante o Primeiro e Segundo Períodos Intermediários. Foram importantes para a manutenção de fortificações ao longo de rotas comerciais importantes, tais como as encontradas na cidade de Buhen no caminho para a Núbia. Também foram construídos fortes nas fronteiras com guarnições de 50 a 100 homens, para servirem como bases militares,[160] tais como afortaleza de Sile, a qual foi uma base de operações para expedições no Levante. No Império Novo, uma série de faraós usaram o exército para atacar e conquistar o Reino de Cuche e partes do Levante.[162] Há informações que alegam que houve a prática deespionagem entre os exércitos egípcios.[163]

Os equipamentos militares típicos incluíram arcos e flechas de sílex, machados, clavas, lanças de cobre e escudos redondos feitos por estiramento de pele de animais sobre uma armação de madeira. No Império Novo, os militares começaram a usar bigas e cavalos que haviam sido introduzidos pelos invasores hicsos durante o Segundo Período Intermediário.[160] As armas e armadurascontinuaram a melhorar com a introdução do bronze: os escudos eram agora feitos de madeira sólida com uma fivela de bronze, lanças receberam pontas de bronze e o khopesh, uma espécie de espada com a extremidade curva, foi adotado a partir de modelos asiáticos.[164] O faraó foi geralmente representado na arte e na literatura andando à frente do exército e há evidências de que pelo menos alguns faraós, como Taá   II e seus filhos, o fizeram.[165]

EconomiaAgricultura

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Pintura mural de um túmulo retratando trabalhadores arando os campos, a colheita das culturas e a debulha de

cereais sob a direção de um supervisor.

Uma combinação de características geográficas favoráveis contribuiu para o sucesso da cultura egípcia, a mais importante das quais era o solo fértil resultante de enchentes anuais do Nilo. Os antigos egípcios foram, assim, capazes de produzir alimentos em abundância, permitindo que a população dedicasse mais tempo e recursos a atividades culturais, tecnológicas e artísticas. A gestão da terra foi crucial no Antigo Egito, porque os impostos foram avaliados com base na quantidade de terras em posse de uma pessoa.[166]Em teoria todas as terras pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade.[167]

A agricultura no Egito foi dependente dos ciclos de cheias do Rio Nilo. Os egípcios reconheceram três estações: Akhet (inundação),Peret (plantio) e Shemu (colheita).[168] A estação das cheias dura de julho a outubro, depositando nas margens do Nilo uma camada delodo rico em minerais para o cultivo. Após a redução do nível do rio, a estação de plantio ia de novembro a fevereiro. Agricultores aravam a terra com arados puxados por bois e plantavam as sementes, que eram irrigadas por intermédio de sistemas de diques e canais.[138] [142] O Egito recebia pouca chuva, pelo que os agricultores usavam a água do Nilo para regar as culturas.[169] De março a junho, os agricultores usavam foices para suas colheitas, que eram depois debulhadas com um mangual ou com as patas dos bois para separar a palha do grão. Os grãos eram usados para fabricar cerveja ou armazenados em sacas nos celeiros reais para posterior distribuição.[170]

Os antigos egípcios cultivaram trigo, cevada e vários outros cereais, todos usados para produção de pão, biscoitos, bolos e cerveja.[171]O linho, colhido antes da floração, foi cultivado para extração da fibra de seu caule para produção de roupas; algodão também foi cultivado. O papiro que cresce nas margens do Nilo era usado para fazer suporte de escrita.[172] Legumes (pepino, cebola) leguminosas(feijão, fava, grão-de-bico, lentilha, alfarroba), verduras (alface), condimentos (alho, alho-poró, alecrim, gergelim, orégano, tomilho) e frutas (tâmara, melancia, melão, maçã, romã, laranja, banana, limão, pêssego, figo, jujuba, uva) foram cultivadas em hortas perto das casas em solo elevado, e tiveram de ser regadas manualmente; houve produção de vinho.[173] Foi ainda evidenciada a presença do cultivo de papoula e mirto.[174] [175]

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“Assim era praticada a horticultura, sendo produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e legumes; também eram plantadas árvores frutíferas e videiras. (...) O Egito era um dos "formigueiros humanos" do mundo antigo, em virtude da sua extraordinária fertilidade renovada anualmente pelos aluviões [cheias] do Nilo. Sendo a vida agrícola inteiramente dependente da inundação, quando esta faltava ou era insuficiente ocorria a fome - apesar das reservas acumuladas pelo Estado - e morriam milhares de pessoas. Temos muitos documentos escritos (e às vezes pictóricos) que se referem a tais épocas calamitosas. Numa delas, (...) segundo parece, houve casos de canibalismo. ”